SILVA e HENNING Natureza e Cultura REMEA 24
SILVA e HENNING Natureza e Cultura REMEA 24
Problematizando as relações
humanas com o mundo natural e seus efeitos na crise ambiental
Cíntia Gruppelli da Silva 1
Universidade Federal do Rio Grande – FURG
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4971-6822
Resumo: Este artigo tem como objetivo problematizar como as relações do humano com o mundo natural vão
acontecendo no decorrer da história, especialmente a partir do século XVI. O recorte é dado devido ao
nascimento da ciência que aí se estabelece criando outras condições para o mundo natural. São tomados alguns
acontecimentos que evidenciam o domínio humano sobre a natureza criando condições de possibilidade para a
emergência daquilo que se conhece hoje como crise ambiental. Na companhia de alguns autores como Leandro
Guimarães et al. (2009), Keith Thomas (2010), Paula Henning (2008, 2012, 2019), Juliana Coutinho (2017), Anna
Tsing (2019), Ailton Krenak (2020), Donna Haraway (2021), entre outros, foram mapeadas múltiplas narrativas
do que vem a ser natureza. Assume-se o assento teórico a respeito das verdades sobre a natureza serem
produzidas pela cultura e os modos de vida que experienciamos. A intenção do artigo é pensar em como
chegamos até aqui e quais possibilidades de outros modos de existir e conviver com a natureza, vislumbrando o
desejo de expandir a vida e compondo outros modos de existência na convivência com.
Palavras-chave: natureza, cultura, modernidade, crise ambiental, convivência multiespécies.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo problematizar cómo se dan las relaciones humanas con el mundo
natural a lo largo de la historia, especialmente a partir del siglo XVI. El corte se da debido al nacimiento de la
ciencia que allí se establece, creando otras condiciones para el mundo natural. Se toman algunos hechos que
evidencian el dominio humano sobre la naturaleza, creando condiciones de posibilidad para el surgimiento de lo
que hoy se conoce como crisis ambiental. En compañía de algunos autores como Leandro Guimarães et al. (2009),
Keith Thomas (2010), Paula Henning (2008, 2012, 2019), Juliana Coutinho (2017), Anna Tsing (2019), Ailton
Krenak (2020), Donna Haraway (2021), entre otros, fueron mapeados múltiples narrativas de lo que llega a ser
1
Técnica em Artes Gráficas – UFPel; Mestre em Educação – IFSul; Doutoranda em Educação Ambiental – FURG;
Membro GEECAF - FURG. E-mail: [email protected]
2
Doutora em Educação, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e do Programa de
Pós-Graduação em Educação Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Líder do Grupo de
Estudos em Educação, Cultura, Ambiente e Filosofia -GEECAF/FURG. Bolsista Produtividade do CNPq 2. Rio
Grande, Brasil. E-mail: [email protected]
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la naturaleza. El asiento teórico se asume sobre las verdades sobre la naturaleza que produce la cultura y los
modos de vida que experimentamos. La intención del artículo es pensar cómo llegamos aquí y qué posibilidades
hay de otras formas de existir y convivir con la naturaleza, vislumbrando el deseo de expandir la vida y
componiendo otras formas de existencia en la convivencia.
Palabras-clave: naturaleza, cultura, modernidad, crisis ambiental, convivencia multiespecies.
Abstract: This article aims to discuss how human relationships with the natural world have taken place
throughout history, especially from the 16th century onwards. The cut is given due to the birth of science that is
established there creating other conditions for the natural world. Some events are taken that show the human
dominion over nature, creating conditions of possibility for the emergence of what is known today as an
environmental crisis. In the company of some authors such as Leandro Guimarães et al. (2009), Keith Thomas
(2010), Paula Henning (2008, 2012, 2019), Juliana Coutinho (2017), Anna Tsing (2019), Ailton Krenak (2020),
Donna Haraway (2021), among others, multiple narratives of the which becomes nature. The theoretical seat is
assumed regarding the truths about nature being produced by the culture and the ways of life that we
experience. The intention of the article is to think about how we got here and what possibilities of other ways of
existing and living with nature, envisioning the desire to expand life and composing other ways of existence in
living with.
Keywords: nature, culture, modernity, environmental crisis, multispecies coexistence.
Introdução
Para início de conversa, junto com Krenak (2020) e pensando filosoficamente com
Alfredo Culleton, tomamos natureza como sendo
[...] o conjunto de tudo o que existe, o mundo, o universo, mas igualmente o que
singulariza algo existente, seu princípio ou sua essência. O radical latino, assim como
seu equivalente grego, remetem ao que nasce (nasci) e se desenvolve (fýomai,
brotar, crescer). A natureza está então do lado do vivente, do que é susceptível de
reprodução e de corrupção: o instável. Ao mesmo tempo, a natureza é o que se
mantém, o permanente, o estável, ao lado do ser e da ordem (2006, p. 43, grifos do
autor).
A partir dos filósofos e autores que estudamos, consideramos que toda a verdade é
fabricada, e nossas subjetividades produzidas por uma maquinaria tecnológica capitalística
que constantemente nos ensina como devemos perceber o mundo e como devemos nos
comportar diante da crise ambiental e da natureza, produzindo discursos engendrados na
cultura, orientando nossos modos de viver. Cabe destacar aqui, nas palavras de Henning
(2012), que entendemos a cultura como um conceito alargado, que produz sentidos nas
formas de ser e viver, significando as verdades do nosso tempo. É a partir da cultura que vamos
sendo orientados a determinado olhar sobre e em relação ao mundo. Para a autora,
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e o desenvolvimento a qualquer custo. Emerge, então, com toda força a era do Antropoceno 3:
“Uma nova ética se consolida: a ética antropocêntrica. As explicações religiosas já não dão
conta sobre os acontecimentos terrestres. É este humano que poderá, a partir do crivo
científico, explicar as coisas do mundo” (HENNING, 2019, p. 773). A natureza e o tempo são
mercantilizados. “Relações de mercado, natureza e lógica temporal antropocêntrica passam a
formar um sistema complexo de inter-relações” (GRÜN, 1996, p. 25). Esse modelo inaugura
uma nova razão em que os valores divinos vão, paulatinamente, perdendo força para os
valores humanos, dividindo cultura e natureza e impondo dicotomias: sujeito e objeto; mente
e corpo; razão e emoção, bem e mal... Viviane Mosé, filósofa contemporânea, vai corroborar:
Essa ética está intimamente ligada ao mecanicismo, na qual a natureza perde sua
concepção orgânica para se tornar algo sem vida. “A natureza de cores, tamanhos, sons,
cheiros e toques é substituída por um mundo ‘sem qualidades’. Um mundo que evita a
associação com a sensibilidade” (GRÜN, 1996, p. 27, grifo do autor). É preciso, ainda, que a
razão aprisione os instintos, emoções e paixões que possam desviar a razão humana do
controle de si mesmo e da vida. Desse modo, houve uma desconexão, um afastamento do ser
humano com seu jeito de ser natureza que aparece, principalmente, com a emergência do
Humanismo. É o advento da ciência como uma verdade universal e absoluta que vai mudando
essa relação.
O interesse por adentrar nesses acontecimentos se dá por querer perscrutar algumas
marcas que provocaram a emergência da crise ambiental, e que ecoam até os dias de hoje, se
atualizando em discursos que orientam nossas maneiras de enxergar o mundo. O desejo é de,
conhecendo o que se sucedeu na história, talvez criar vias inventivas para atuarmos como
3
Adotamos o conceito de Antropoceno com inicial maiúscula a partir dos estudos de Anna Tsing e Juliana
Coutinho. É um conceito usado pelas autoras, pelas Ciências Humanas e pelas Ciências da Natureza que se refere
aos impactos e influências da participação humana na transformação dinâmica ambiental do nosso planeta
(TSING, 2019; COUTINHO; 2017).
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pesquisadores atentos ao que acontece ao nosso redor, expandindo o desejo de viver e olhar
para outras possibilidades de viver com.
Com esse objetivo, dividimos o artigo em quatro seções. Nesta primeira,
apresentamos os contornos do estudo e as aproximações com a dicotomia que, pouco a
pouco, foi se produzindo entre humano e natureza. A próxima seção discute sobre os modos
de enxergar o humano apartado da natureza, compondo outros modos de relação que
experienciamos junto ao nascimento da ciência. Na sequência, o texto investe em
problematizar atravessamentos que foram possíveis, justo porque o nascimento da ciência se
fez imperioso; ora assumindo a potência do humano sobre a natureza, ora questionando essa
relação. Fechamos o texto discutindo sobre nossas relações com a natureza e as possibilidades
de criação e invenção que passam, inexoravelmente, pelos nossos modos de enxergar e
tensionar aquilo que somos.
4
Escolástico é o “[...] pensamento cristão da Idade Média, baseado na tentativa de conciliação entre um ideal de
racionalidade, corporificado especialmente na tradição grega do platonismo e aristotelismo, e a experiência de
contato direto com a verdade revelada, tal como a concebe a fé cristã. [...] personalidades intelectuais como
Alberto Magno (1200-1280) e Tomás de Aquino (1227-1274) seguem uma forte orientação aristotélica e supõem
a harmonia parcial entre fé e razão” (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 1206, grifos dos autores).
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Para Bacon, é a partir da técnica e do empirismo que o homem será capaz de dominar
e intervir na natureza, transformando o conhecimento em algo útil para a vida humana. Nesse
momento, em nome de uma objetividade, é que acontece um apagamento da relação do ser
humano com a natureza, ficando cada vez mais explícito, com a figura de René Descartes (logo
após, no séc. XVII), essa estreita relação entre poder e saber que emerge com a ciência como
verdade absoluta, criando, assim, uma tensão entre ciência, técnica e natureza que nos
acompanha até hoje em nossas relações com o mundo natural.
Como argumenta Henning (2019), os ditos “Saber é poder” de Bacon e “Penso, logo
existo” de Descartes constituem-se como fundamentos do pensamento moderno. “É a partir
deles e com eles que a ciência – enquanto inscrita na Modernidade – passa a existir. A
imponência do saber e a lógica cartesiana explicam as coisas do mundo. Mas não é somente
isso. Além de explicar, agem sobre ele. Um de seus objetos de domínio é a natureza” (p. 765).
Para a autora, um novo paradigma epistemológico se instaura determinando outras formas de
ver o mundo, principalmente com as descobertas da Matemática, da Física e da Astronomia
na Europa do século XVI. E ainda vai afirmar:
Muito além de uma dessacralização da natureza como obra divina, a espécie humana
submete o mundo natural em experiências científicas sem prever as consequências de suas
ações. Ao continuar com o olhar sobre a história, podemos encontrar outras evidências sobre
isso. Pensando nisso, nos encontramos com a tese A cosmopolítica dos animais, de Juliana
Coutinho (2017) em que ela discute sobre a complexidade que exprime o tema sobre os
direitos dos animais e a ética humana. A autora tensiona o quanto é difícil deixar de pensar
que os animais são coisas e que não possuem direitos, e a partir de seus comportamentos
morais, decidimos por matá-los ou não, descartando a possibilidade de pensarmos neles,
também, como seres políticos e que possuem seus agenciamentos.
O sofrimento, por mais terrível e sério que seja, retira dos animais – não só dos
animais – a sua possibilidade de agir: perguntar ‘eles podem sofrer?’ consiste em
perguntar-se ‘eles podem não poder? [...] O que mudaria caso o eixo se deslocasse,
caso se considerasse aquilo que os animais podem? O modo como respondem, agem,
criam? Em suma, que outra política se abriria para além da piedade, do poder
soberano, da inoperosidade? (IDEM, p. 121, grifos da autora).
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Precisamos debater o quanto somos responsáveis e quais argumentos temos para
escolher quem vive e quem morre; quem pode ser domesticado e quem pode ser caçado, para
servir de alimento. Nesse contexto, podemos ainda pensar com Coutinho (2017) para que
servem os zoológicos? Difícil chegar a uma conclusão ou, pelo menos, a uma solução para
dirimir os interesses políticos e econômicos quanto à escravização, ao tráfico, confinamento e
sacrifício de animais. No entanto, precisamos pensar sobre isso!
Ao voltar na história, ela nos mostra que a natureza vai ficando invisível e dissociada
do ser, e áreas de silêncio na educação moderna vão sendo criadas (GRÜN, 2006). É Descartes,
com a supervalorização das ciências matemáticas e sua objetividade (a qual nega o sensível),
que coloca o homem (branco europeu) na posição de senhor e dono da natureza, fazendo com
que perdêssemos a capacidade de pensar a crise ambiental numa dimensão histórica e ético-
política, pois fomos forçados ao esquecimento do pensamento tradicional: é preciso deixar a
emoção e os sentidos de lado e dar espaço à razão, pois esta não é suscetível a erros (GRÜN,
2006).
Desse modo, a era Antropocêntrica emerge com dois promissores projetos científicos:
de um lado um projeto para conhecer e dominar a natureza e, do outro, um projeto para a
construção e o desenvolvimento de uma suposta humanidade.
Como justificar que somos uma humanidade se mais de 70% estão totalmente
alienados do mínimo exercício de ser? A modernização jogou essa gente do campo e
da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros
urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de
origem, e jogadas nesse liquidificador chamado humanidade (KRENAK, 2020, p. 14).
Para o líder indígena Ailton Krenak (2020), enquanto a sociedade moderna criava
estruturas para uma ideia de humanidade, fomos cada vez mais nos distanciando da Terra
como um organismo vivo do qual somos parte e passamos a pensar que o humano é uma coisa
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e a natureza é outra. Esse distanciamento aconteceu enquanto uma revolução cultural
fervilhava junto com o capitalismo que ajustava suas engrenagens. Como prova desse
distanciamento, temos os interesses políticos e econômicos de uma minoria elitizada que não
veem limites em suas intervenções na Terra. Em nome do progresso e desenvolvimento a
qualquer custo, a civilização moderna, desbravadora do mundo selvagem, não previa que
inúmeros desastres ambientais pudessem ocorrer devido à apropriação e exploração da
natureza. Henning (2019, p. 767) nos lembra de vários eventos recentes que ocorreram:
Trata-se sem dúvida de colapsos. Não o “grande colapso”, um sublime big bang final,
nem um conto de ficção científica de um outro tempo e uma outra dimensão, nem
as cenas hollywoodianas do fim do mundo, acessíveis das confortáveis poltronas de
cinemas de alta tecnologia, mas desastres terrestres de larga escala, vividos e
experimentados localmente e de maneira íntima, específicos e de dimensão
universal (AZAM, 2020, p. 104, grifos da autora).
Em sua obra, a autora, num diálogo com a Terra, cita os grandes feitos humanos que
abalam desde as mais profundas camadas do solo e do mar, extraindo toda e qualquer matéria
orgânica e depositando lixo tóxico; até a poluição das camadas atmosféricas que sustentam a
vida no planeta. Entre os mais recentes estão os grandes incêndios que atingiram a Suécia,
Portugal, a Grécia, a Califórnia, a Austrália no verão de 2018; as inundações em Miami,
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Bombaim, nas Ilhas Sundarbans e em Bangladesh no verão de 2017; e a radioatividade que se
espalha pelos oceanos, oriunda de Fukushima. “O envenenamento da vida não está mais
confinado a lugares particulares e herméticos, a lugares malditos. É um evento cotidiano
universal, amplificado pela corrida louca e enlouquecedora do capitalismo global” (IDEM, p.
105).
O passado nos mostra que a colonização produzida pelos brancos europeus tinha
como objetivo tirar os povos da escuridão e levá-los à luz da civilização, estabelecendo apenas
uma forma verdadeira de habitarmos a Terra. Nesse contexto, podemos nos perguntar, junto
com Krenak (2020), se somos mesmo uma humanidade? Ou melhor: sendo animais da raça
humana (Homo Sapiens) que pensa e tem o domínio sobre o conhecimento, como inventar
outras histórias que possam incluir e construir novos mundos, ao invés de excluir e destruir o
que temos?
Para o autor, narrativas que valorizam as relações do humano com uma natureza
considerada um organismo vivo são esquecidas em função de uma narrativa global, superficial,
que conta sempre a mesma história e montam kits superinteressantes para o nosso
entretenimento. “Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em
sociedade, do próprio sentido da experiência da vida” (IDEM, p. 26). Ao nos distanciarmos da
natureza, vivemos numa civilização abstrata em que a diversidade é suprimida e a pluralidade
das formas de vida e de existência são negadas, produzindo, assim, modos de existir em que a
experiência se dá pelas estratégias do consumismo, desaparecendo qualquer relação possível
com o mundo natural (KRENAK, 2020). Por essa via de pensamento é que damos continuidade
aos estudos sobre o modo como a humanidade relaciona-se com a natureza, pelas artimanhas
do desenvolvimento do capitalismo com o foco em uma produção de uma “Terra máquina”
(AZAM, 2020, p. 22).
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A intenção não é discutir se viver aliados à técnica é bom ou ruim, longe dessa
dualidade. O que está sendo tensionado é a forma como as relações com a natureza foram
acontecendo com o surgimento da ciência e do progresso com promessas sedutoras; e quais
efeitos foram sendo produzidos para que uma suposta humanidade/civilização fosse
empreendida. Essas questões são necessárias problematizar se almejamos a invenção de
outras relações com o mundo natural, já que houve um abandono dos instintos e modos
sensíveis de ser dos indivíduos modernos, quando estes se entregaram ao mundo da razão. O
que se busca com essas indagações é identificar os vazios provocados pela visão
antropocêntrica e, talvez, criar potentes rizomas (DELEUZE; GUATTARI, 1995), inventando
outros modos de existir contemporâneos equilibrando com as necessidades do mundo
natural, principalmente, nos enxergando como parte e responsáveis pela crise ambiental.
Keith Thomas (2010), em seu livro O homem e o mundo natural, destaca que entre
1500 e 1800 novas sensibilidades emergiram em relação aos animais, às plantas e à paisagem.
Mesmo com toda a corrente de pensamento racional baconiana e cartesiana, existiam espaços
para contestações sobre o modo como o ser humano relacionava-se com os animais e plantas
e seu direito de explorar todas as espécies em benefício próprio.
Entre os séculos XVII e XVIII se debatia teologicamente sobre o bem-estar dos animais
em serem domesticados, pois estes podiam se multiplicar e serem civilizados, ao invés de
estarem à mercê de feras predadoras. Os que eram selvagens eram caçados e mortos (pois
apresentavam perigo) e, ainda, existiam os animais que eram úteis para a prática de
vivissecção 5. Além disso, começou o incentivo à criação de cavalos para o meio de transporte
e para serem empregados na guerra, na caça, na agricultura (IDEM).
Enquanto que na época medieval a taxonomia do reino animal aparecia em meio a
símbolos e significados inseridos na cultura cristã e saberes populares, no início da
modernidade os animais e as plantas eram classificados de acordo com sua aparência física,
comestibilidade, utilidade e estatuto moral, sem nenhuma relação com o ser humano e
totalmente antropocêntrico: “[...] essa nova forma de olhar a natureza teve acentuado
5
A vivissecção é o ato de dissecar um animal vivo com o propósito de realizar estudos de natureza anatomo-
fisiológica. No seu sentido mais genérico, define-se como uma intervenção invasiva num organismo vivo, com
motivações científico-pedagógicas.
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impacto sobre a percepção dos indivíduos comuns e não cientistas, terminando por destruir
muitos pressupostos populares” (THOMAS, 2010, p. 72).
No final do século XVII, após várias discussões sobre a existência dos animais e plantas
para o bem-estar e utilidade do ser humano, novas sensibilidades começaram a surgir no meio
social e na doutrina cristã, dando espaço ao pensamento de que toda a criação divina deveria
ser usada com respeito, protegida e tratada com gentileza. Esse pensamento mais acolhedor
foi estimulado, principalmente, pela transformação social industrial: “O triunfo da nova atitude
esteve estreitamente vinculada ao crescimento das cidades e emergência de uma ordem
industrial em que os animais se tornaram cada vez mais marginais ao processo de produção”
(IDEM, p. 258).
Durante este período, também houve crescente interesse em cultivar jardins e hortas
em propriedades (como passatempo nas horas livres), plantar árvores nas cidades (com cunho
estético acompanhando a arquitetura) e preservar as árvores das matas. As pessoas
apreciavam passear nos bosques e florestas, não tratando mais como uma terra inculta e
selvagem, mas como refúgio daqueles que gostavam da solidão e que fazia bem ao deleite e
ao espírito humano. Ter uma casa no campo para passar o final de semana, por exemplo, era
o desejo de refrigério e descanso de todas as classes sociais, pois viam no espaço urbano um
infatigável anseio pelo progresso.
Em contraposição à natureza como um objeto que deve ser fracionado, dividido pelo
conhecimento científico, aparece uma natureza vista como bela e inspiradora; um
refúgio para a burguesia cansada da fumaça dos centros industriais. Por outro lado,
não deixa de ser, também, uma natureza que precisa ser domada, domesticada, para
corresponder aos parâmetros estéticos almejados por tais sensibilidades: essa
deveria ser uma natureza que não oferecesse perigos e com a qual se pudesse viver
pacificamente (GUIMARÃES et al., 2009, p. 18).
Entre os séculos XIX e XX houve uma ruptura com todo esse pensamento do passado
e naturalistas, ao invés de perceber as analogias do ser humano com a natureza, começaram
a estudá-la em si própria. Ou seja, nesse período emergia uma taxonomia mais neutra e
ampliada, considerando ainda a separação entre sociedade humana e natureza, no entanto,
esta última com existência independente e ritmo próprio. Esse pensamento se deu
gradativamente e muito lento, pois “Compreender que o mundo da natureza era autônomo,
devendo ser entendido em termos não humanos, era ainda uma lição quase impossível de
entender” (THOMAS, 2010, p. 128).
A partir dos estudos de Thomas (2010), podemos inferir que existe uma grande
contradição que atravessa toda a civilização humana desde os primórdios da modernidade até
hoje: de um lado temos o conforto, bem-estar e felicidade materiais do ser humano; e, do
outro, temos uma impiedosa exploração de todas as formas de vida. Um conflito jamais
resolvido que permeia interesses políticos/econômicos/científicos em direção a um suposto
progresso e a uma suposta humanidade sublime; em conjunto com um mundo natural que
precisa ser cuidado, pois se encontra à beira de um colapso.
Nesse ínterim, coadunamos com Guimarães et al. (2009) ao entendermos a natureza
como uma produção social, cultural e histórica. Com isso, o autor não desvaloriza toda a
taxonomia das espécies biológicas construída pela ciência por todos esses séculos, no entanto,
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quando nos aproximamos dos estudos sobre a história das ciências ou dos estudos
culturais da ciência, vemos o quanto esta é moldada e influenciada pelos valores
sociais e pela cultura. Desse modo, os conhecimentos científicos sobre a natureza
foram e são produzidos em meio a negociações, confrontos de ideias e relações de
poder, os quais deixam suas marcas nas formas como esse conhecimento é
construído e divulgado (p. 12-13).
A partir desse tom é que chegamos ao século XX. Dentre os acontecimentos que
marcaram esse período, estão os movimentos contraculturais (por exemplo, hippies, ativistas
ambientais...), os quais questionavam o capitalismo desenfreado que continuava a destruição
da natureza, e outros movimentos (estudantis, feministas...) que contestavam as
desigualdades sociais, raciais e de gênero. “A partir dessas condições de possibilidade,
emergem vários movimentos – protagonizados, principalmente, pela juventude: pacifistas,
feministas, antirracistas e, também, os primeiros movimentos ecológicos” (GUIMARÃES et al.,
2009, p. 19). Depois da metade do século, abriu-se espaço para a emergência de outros olhares
em relação à natureza, até mesmo voltados a uma percepção romântica existente no passado.
Hoje, as feições que o Império do Homem assumiram atendem por nomes como
Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Mudança Climática e Sexta Grande
Extinção, entre outros. Cada um desses conceitos dá conta de um aspecto ou
dimensão de como a natureza ou as "meras coisas" responderam ao projeto de
dominação (COUTINHO, 2017, p. 62, grifo da autora).
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Há momentos na vida em que a questão de saber se é possível pensar de forma
diferente da que se pensa e perceber de forma diferente da que se vê é indispensável
para continuar a ver ou a refletir. [...] Mas o que é então a Filosofia hoje – quero dizer,
a atividade filosófica – senão o trabalho crítico do pensamento sobre si mesmo? E se
ela não consistir, em vez de legitimar o que já se sabe, em tentar saber como e até
onde seria possível pensar de modo diferente? (FOUCAULT, 2017, p. 191-192).
Não sabemos até onde é possível pensar de modo diferente, mas quando buscamos
de que forma pensar diferente nos encontramos com a “vida em ruínas” nos estudos de Anna
Tsing (2019). Nesse momento, caminhando com a autora é que trazemos alguns contornos
para, talvez, suscitar que outros modos são possíveis de habitar o planeta, considerando que
existem naturezas-culturas (e não natureza e cultura), coabitando a partir de socialidades
humanas com não humanas. A antropóloga (IDEM, 2019), em seu livro Viver nas ruínas:
paisagens multiespécies no Antropoceno, nos convida a olhar, de um jeito sensível e afetuoso,
para as novas ecologias provocadas pelo reino “feral 6”. Este reino em que, para além de toda
a perturbação e intervenção da mão humana no ambiente natural, espécies não humanas
possuem a capacidade de transformar-se, também, numa condição de vida em ruínas. Para a
autora:
Pensando nessas questões, Tsing vai além dos perigos ferais e nos mostra quais
benefícios podem surgir dessa relação. São outros valores provenientes das ações não
humanas que nos desafiam a querer aprender e, principalmente, observar na natureza outras
socializações possíveis. Por mais que tentemos explorar os recursos naturais, prever e
controlar as condições de vida do planeta (do ar, da terra, da água, do fogo, dos gases...), há
uma esfera natural que se manifesta ferozmente e nos surpreende. A autora fala de paisagens
multiespécies e multiculturais que se formam em campos abandonados ou precarizados pela
ação humana.
6
“Feral” aqui se refere a reações não projetadas de não humanos às infraestruturas humanas (TSING, 2019, p.
14). Essas reações tanto podem ser benéficas quanto maléficas ao ser humano.
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As paisagens globais de hoje estão repletas desse tipo de ruína. Ainda assim, esses
lugares podem ser animados apesar dos anúncios de sua morte; campos de ativos
abandonados às vezes geram novas vidas multiespécies e multiculturais. Em um
estado global de precariedade, não temos outras opções além de procurar vida nessa
ruína (TSING, 2019, p. 7).
7
“Por plantation quero dizer aquelas simplificações ecológicas nas quais os seres vivos são transformados em
recursos – ativos futuros –, removendo-os de seus mundos de vida. As plantations são máquinas de replicação,
ecologias evocadas para a produção do mesmo” (TSING, 2019, p. 206).
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Novamente, isso nos remete aos nossos modos de ser e realizar a nossa humanidade,
pensando de que forma a nossa vida está implicada em todo esse processo que é ético e
político nos encontros e desencontros com os animais e outros seres viventes.
E para pensar em conjunto sobre essas socialidades, sobretudo com os animais,
buscamos em Coutinho (2017) e Haraway (2021) algumas inferências para avaliarmos o
quanto é importante pensar em nossas relações com os outros seres:
Seja pela perda de habitat e modos de vida, seja por sua categorização como animais
de companhia, pestes, escravos, cobaias ou trabalhadores, nos imensos campos em
que se os mantêm confinados, pela reprodução forçada, pela morte impedida e pelo
extermínio, os animais estão implicados e são atores numerosos e potentes nas
histórias e estórias que tecemos hoje, no começo do século XXI, sob o signo do
capitalismo liberal, na época geológica chamada Antropoceno (COUTINHO, 2017, p.
13).
Reconhecer, produzir e inventar oddkin (parentes estranhos) diante uns dos outros;
interessar-se, tornar-se disponível e capaz, autorizar; entrar em fluxos
multiespecíficos, imaginativos, conceituais, em discurso e em ação são modos de
abrir portas para a criação de mundos em que animais humanos e outros-que-
humanos coexistam de um modo intensamente cosmopolítico (IDEM, p. 219,
tradução minha).
Pensando com essas autoras, que outras socialidades e alianças podemos praticar
com o outro (humano ou não) de modo a produzir algo que não está posto? Parece-nos que,
em todo esse contexto, não podemos voltar atrás e nem pensar a natureza dissociada de
qualquer forma de vida. Somos todos natureza e precisamos aprender a habitar o planeta,
cada um na sua diferença, porém, numa coletividade e socialidade harmônicas.
Considerações finais
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Essa escrita termina aqui, mas as problematizações continuam. O desejo é que nossos
pensamentos possam se aliar a outros, e produzir outras coisas com as paisagens em ruínas
de Anna Tsing; com a cosmopolítica de Juliana Coutinho; e com a alteridade significativa de
Donna Haraway. Certamente nossos autores nos inspiram a continuar pensando politicamente
o contemporâneo e a compor outras histórias em nossas relações com a natureza.
Ao concebermos a ideia de que somos múltiplos – corpo, vida, natureza, cultura,
pensamento, sensibilidade etc., um horizonte se abre com infinitas possibilidades de nos
relacionarmos com o mundo e com o outro, no esforço de superar a racionalidade que
herdamos e nos desafiando a criar outras ecologias conectadas a nossa dimensão sensível,
entendendo que esta é atravessada por vivências éticas e estéticas. Essa dimensão, então,
encontra-se com as naturezas-culturas emergentes de Dona Haraway (2021), e as socialidades
mais que humanas de Anna Tsing (2019) as quais poderão nos ajudar a problematizar as
relações contemporâneas com o mundo natural, e que foram discutidas no decorrer da escrita.
O que importa é dissolver as certezas que nos fixam no solo da representação e da linguagem
reducionista; criar deslocamentos e composições afirmativas com a vida e a natureza; partindo
do que se é, mas, também, tensionando o que somos: que outras éticas e estéticas podemos
inventar com a natureza no encontro com a vida? Cabe a nós a criação.
Referências
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