0% acharam este documento útil (0 voto)
12 visualizações6 páginas

Aristóteles, Galileu e A Queda Dos Graves: C F Ej P

Enviado por

samuelsaimon250
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
12 visualizações6 páginas

Aristóteles, Galileu e A Queda Dos Graves: C F Ej P

Enviado por

samuelsaimon250
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 6

Gar. Fís.p Vol. 15, Fase.

1, 1992

Aristóteles, Galileu e a queda dos graves

Carlos Fiolhais e João Paiva


Departamento de Física da Universidade de Coimbra, 3000 Coimbra

Galileu opôs-se a Aristóteles na questão impossível; porque deve um corpo ser mais
da queda dos graves e as suas ideias sobre esse rápido do que o outro?»
tipo de movimento foram incorporadas nas Os corpos com maior peso cairiam, segundo
ciências físicas que então nasceram. É, porém, Aristóteles, no ar mais rapidamente (no tempo
notável que as opiniões de Aristóteles tenham dos gregos não havia bombas de vácuo nem
persistido durante cerca de dois mil anos sem se viajava no espaço, pelo que só no ar se
nunca terem sido alvo de qualquer crítica con­ podia observar a queda dos corpos!). A veloci­
sequente. Acontece que, apesar de ridiculari­ dade de queda, aparentemente constante, seria
zada no século XVI por. Galileu e esquecida proporcional ao peso. Hoje sabe-se que a
velocidade de queda de um corpo no ar
hoje pelos manuais escolares de física, a dou­
aumenta até acabar, eventualmente, por atingir
trina de Aristóteles apresenta o mérito de
um valor constante — e que esta velocidade é,
corresponder de certo modo a muitos dados da
realmente, tanto maior quanto maior for o peso
observação corrente. Foi essa, afinal, a grande
do corpo. Não é directamente proporcional ao
razão da sua longevidade. peso, como presumia Aristóteles, mas sim, para
Os escritos de Aristóteles sobre a queda um objecto esférico, proporcional à raiz qua­
dos corpos não são de modo algum claros. drada do peso (o peso, por sua vez, só é
Vale, porém, a pena citar uma passagem mais directamente proporcional ao tamanho se por
transparente do volume «De Caelo»: tamanho se entender o volume do corpo e não
«O movimento para baixo de uma massa qualquer dimensão linear). Não é inversamente
de ouro ou chumbo ou de qualquer outro corpo proporcional à força de resistência do meio,
dotado de peso é tanto mais rápido quanto como Aristóteles noutro passo dá a entender,
maior for o seu tamanho». mas tem, de facto, a ver com essa força.
De facto, é precisamente isto o que se A velocidade terminal é inversamente propor­
observa. Se se deixarem cair, no ar, dois corpos cional à raiz quadrada da secção transversa
maciços de igual natureza e com a mesma de um objecto esférico, que é uma medida da
forma (por exemplo, esférica), vê-se que o resistência experimentada durante o movimento
maior e, portanto, mais pesado chega primeiro no ar.
ao chão. Aristóteles tinha e tem, neste ponto Repare-se que Aristóteles acha natural que
os corpos mais pesados caiam mais rapida­
particular, razão.
mente do que os mais leves não só no ar
Numa outra sua obra, «Physica», Aristó­
como também no vazio, mas encontra logo aí
teles escreve:
uma questão: «porque deve um corpo [, no
«Vemos que corpos com maior tendência
vazio,] ser mais rápido do que o outro?». Não
de peso ou de leveza, mas semelhantes em
encontra nenhuma boa razão para tal e, com
todos os outros aspectos, se movem mais rapi­ base neste paradoxo, conclui um pouco mais
damente no mesmo espaço e isto na razão adiante que não existe vazio. É o «horror ao
que tenham entre si os valores dessas tendên­ vácuo» dos antigos! Um tal horror ajudaria
cias. Por isso mover-se-ão também no vazio de resto, segundo alguns seguidores de Aristó­
com esta razão de velocidades. Mas tal é teles, a explicar a queda dos graves no ar:

28
quando uma pedra cai tenderia a criar vazio galilaico esteja certo, isto é, as pedras de dife­
atrás de si e, como a natureza tem repulsa rentes tamanhos caem ao mesmo tempo no
pelo vácuo, o ar precipitar-se-ia rapidamente vazio e quase ao mesmo tempo do alto de
atrás da pedra, impulsionando-a na sua queda. uma torre como a de Pisa, existe nele uma
A pedra grande criaria momentaneamente um imprecisão quantitativa. Com efeito, o tempo
vazio maior caindo por isso mais depressa. de queda de qualquer pedra desde a Lua
Esta explicação está basicamente errada, mas (inclusive da própria Lua) não é 1 hora
uma pedra pesada chega ao chão primeiro do nem 100 horas mas sim 5,3 dias, isto é,
que uma pedra leve (semelhante) devido ape­ 127 horas. Para se calcular esse tempo tem
nas à diferente resistência experimentada du­ de se considerar a variação da aceleração com
rante o movimento. A pedra maior, que expe­ a distância à Terra, ao contrário do cálculo
rimenta a maior força de resistência, chega para a queda perto da Terra, no qual se toma
primeiro ao solo. Acontece que uma pedra
a aceleração constante. No «Diálogo sobre duas
maior tem maior velocidade terminal e quanto
ciências novas» (publicado em 1638), o per­
maior for a velocidade terminal mais depressa
sonagem Salviati, que se identifica com as
a pedra cai. O peso de uma esfera, que apa­
posições de Galileu, comenta uma afirmação
rece em numerador na expressão da velocidade
de Aristóteles que nunca foi efectuada na pre­
terminal, aumenta com o cubo do raio ao
cisa forma em que é referida:
passo que a secção transversa, que aparece em
denominador, aumenta tão só com o quadrado «— Simplicio — A sua discussão é deveras
do raio (ver fórmula da velocidade terminal admirável; no entanto acho difícil de acreditar
mais adiante). que uma lágrima de pomba se mova com a
Foi o italiano Galileu Galilei quem insistiu mesma velocidade de uma bala de canhão.
na afirmação de que não existe nenhum motivo — Salviati — Pode mesmo dizer um grão
válido para que um corpo no vazio seja mais de sal e uma mó de moinho. Mas, Simplicio,
rápido do que outro. Por volta de 1509, num espero que não siga o exemplo de muitos
manuscrito em latim só bastante mais tarde outros que desviando a discussão do objectivo
publicado, Galileu, sem piedade para com o fundamental atacaram uma afirmação minha
sábio grego, escreveu o seguinte: a que faltava um cabelo de verdade, e sob
«O ridículo da opinião de Aristóteles é este cabelo quiseram esconder um erro de um
mais claro do que a luz. Quem vai acreditar, outro, do tamanho de uma corda de um barco.
por exemplo, que se duas esferas de chumbo Aristóteles afirmou: uma bola de ferro de cem
forem largadas da órbita da Lua, sendo uma libras, caindo de uma altura de cem cúbitos,
cem vezes maior do que a outra, a maior chega ao chão antes que uma bola de uma
chegue à Terra numa hora, enquanto a menor libra tendo caído de um simples cúbito. Eu
leva cem horas no seu movimento? Ou se digo que chegam ambas ao mesmo tempo.
duas pedras forem lançadas ao mesmo tempo Descobre, se fizer a experiência, que a maior
de uma torre alta, tendo uma o dobro do precede a menor de dois dedos; isto é, quando
tamanho da outra, quem vai acreditar que a a maior bate no chão, a outra está ainda
mais pequena vá a meio do caminho quando acima dois dedos. Não pode meter nestes dois
a grande está a chegar ao chão?» dedos os noventa e nove cúbitos de Aris­
Galileu usa um «truque» muito do gosto tóteles».
dos físicos modernos e que consiste em exage­ O texto, desta vez escrito em italiano
rar ao extremo uma dada situação para a escorreito para toda a gente e não apenas
tentar compreender melhor. Efectua experiên­ em latim hermético para alguns, é magnífico,
cias mentais de queda das pedras desde a Lua tanto pelo sentido poético como pelo rigor da
(situada no espaço exterior, onde não há ar) invocação da experiência. Contudo, nem o
até à Terra. Embora o essencial do raciocínio exemplo preciso da «bola de ferro de cem

29
libras» se encontra em nenhuma obra de Aris- primeiro acelera e depois atinge uma veloci­
tótefes nem Aristóteles na sua «física qualita­ dade constante):
tiva» usava equações e quantidades numéricas, «(...) se observarmos um objecto não par­
pelo que a «citação» que dele faz Galileu não ticularmente pesado a cair de uma certa altura,
é literal (a técnica de colocar na boca do tal como uma bola de lã, uma pena ou algo
opositor afirmações que ele não proferiu é de semelhante, veremos que ele se move de
ainda hoje bastante usada...). Por outro lado, início lentamente, mas que pouco depois passa
Salvati manda fazer a experiência da queda a ter movimento uniforme. A razão por que
das bolas de ferro (de 100 e 1 libra, com tal acontece de forma mais clara para as coisas
1 libra 0,454 kg) da «altura de cem cúbitos» mais leves é que as coisas, quando se começam
(1 cúbito = 0,66 m) mas não é claro se Gali­ a mover, sofrem uma força contrária, de gran­
leu a fez de forma rigorosa. Pelo contrário, deza igual ao seu próprio peso. Se as coisas
é totalmente falso que Galileu tenha realizado, forem pouco pesadas então a força contrária
perante uma numerosa e distinta audiência, será pequena, sendo esta força rapidamente
uma «experiência crucial» de queda dos graves anulada; e quando é anulada, o objecto pas­
sará a andar com movimento uniforme. É mais
do cimo da Torre de Pisa (cuja altura total
é 56 m e não 100 cúbitos = 66 m). Essa his­ fácil observar a uniformidade do movimento
tória parece ter sido inventada tardiamente por de uma coisa que se mova devagar do que de
um discípulo que pretendia aumentar a glória uma coisa que cai muito rapidamente. Mas
do mestre. Não se encontrou nenhum relato uma vez que a força contrária a vencer na
contemporâneo do acontecimento, nem mesmo queda de coisas pesadas é enorme, é neces­
nos escritos do próprio Galileu. No entanto, sário um grande intervalo de tempo para a
Galileu deve ter realizado, sem assistência, anular; nesse tempo, uma vez que elas se
experiências de queda dos graves em pequena movem muito rapidamente, descerão um espaço
escala, que o levaram a concluir que é pequena grande. Como não temos à disposição os ditos
grandes espaços nos quais os corpos pesados
a diferença de tempos de queda de objectos
de tamanho diferente, traduzida nos tais «dois deviam ser largados, não admira que se uma
dedos» (1 dedo deve ser 1 polegada = 2,75 cm). pedra cair apenas da altura de uma torre
pareça acelerar durante todo o tempo até che­
Galileu não refere mas devia ter conhecimento
de experiências anteriores que consistiram no gar ao chão, uma vez que este espaço e tempo
pequenos não serão suficientes para anular
lançamento de uma certa altura de bolas de
toda a força contrária.»
diferentes pesos e cujos resultados foram devi­
É errado que a «força contrária», que tra­
damente anotados e comentados (por Simão
duz a resistência do ar, seja de início igual ao
Stevin, por exemplo).
peso. De início é nula, se o corpo partir do
Galileu defende pois que corpos desiguais
repouso; passa a ser muito pequena quando o
caem no ar quase ao mesmo tempo e consi­ corpo se passa a mover e fica igual ao peso,
dera essa invariância aproximada do tempo de sempre constante (despreza-se a variação da
queda mais importante do que a evidência aceleração da gravidade com a altura, por ser
empírica segundo a qual os corpos mais pesa­ insignificante), quando se atinge o regime de
dos demoram menos tempo a cair. Ele está, velocidade terminal. Mas o tempo que demora
de resto, bem consciente do papel desempe­ a atingir a velocidade terminal é, de facto,
nhado pela resistência do ar, que é até expli­ maior para os corpos grandes. Por isso é que
citado em «De Motu», mas pensa que esse corpos pesados, quando largados do cimo de
papel é mais acidental do que essencial. uma torre baixa, não chegam a atingir a velo­
O texto que se segue, extraído dessa obra, cidade terminal.
embora confuso, fornece uma descrição quali­ Um corpo em queda livre no ar sofre uma
tativa da queda de um grave no ar (o grave força total não nula (e, portanto, acelera) até

30
atingir a velocidade terminal, altura em que do que 3, que é uma esfera do mesmo material
passa a mover-se com velocidade constante. com 0,454 kg. x é o tempo que demora a
Na verdade, o corpo está sempre a acelerar, alcançar o regime de velocidade terminal. Éste
embora a aceleração seja cada vez menor. Não tempo é bem menor para o corpo 3. A partir
há, de facto, um instante preciso para o qual de x3 (x3 = 8,89 s) o corpo começa a compor-
se possa dizer que se estabeleceu o regime de tar-se como objecto «aristotélico» mas, se a
movimento uniforme, embora se possa indicar esfera for largada do cimo da torre de Pisa,
a ordem de grandeza de tempos para a qual chega ao solo ao fim de 3,42 s e esse regime
te dá uma certa mudança de comportamento nunca é atingido, caindo o corpo como objecto
cinemático. Numa primeira fase do movimento, «galilaico». O corpo 2, por seu lado, tem
podemos dizer que todos os corpos se com­ t2 = 19,24 s.
portam mais ou menos como no vazio, aumen­ Salientar a primeira ou a segunda fase do
tando a sua velocidade mais ou menos da movimento depende da respectiva importância
mesma maneira (a derivada da velocidade é relativa num dado contexto particular. Se lan­
praticamente a aceleração da gravidade ter­ çarmos uma pena ou um balão do cimo de
restre para todos, uma vez que a aceleração uma torre de 56 m verificamos que eles entram
devida à força de resistência do ar é compara­ passado pouco tempo (e, portanto, depois de
tivamente muito pequena). Essa é a região que percorrerem uma distância pequena) no regime
podemos denominar de «galilaica». Numa de velocidade terminal, pelo que se trata de
segunda fase do movimento, os corpos mantêm
objectos «aristotélicos» (por «pouco tempo»
velocidades constantes, conforme pretendia
e «distância pequena» entendem-se respectiva-
Aristóteles, variando essa velocidade conforme
mente tempos e distâncias muito menores que
o tamanho do corpo. Essa é a região que
os tempos e as distâncias totais observadas).
podemos apelidar de «aristotélica». A transi­
Uma tal queda pode ser filmada com uma
ção entre as duas fases é mal definida. Con­
vencionalmente, considera-se que a primeira câmara de vídeo doméstica, sendo o movi­
dura durante um tempo que é obtido dividindo mento uniforme conhecido com o auxílio de
a velocidade terminal pela aceleração da gra­ um relógio e de uma fita métrica. Uma galinha
vidade. ou uma bola de chumbo, pelo contrário, demo­
A fig. 1 pode ajudar a esclarecer o pará­ ram mais tempo a entrar no referido regime,
grafo anterior. Mostra o gráfico da velocidade podendo nem sequer chegar a entrar nele, ao
em função do tempo para três corpos 1, 2 e 3. cair de uma torre como a de Pisa, pelo que
O corpo 1 não sofre resistência do ar, ao são objectos «galilaicos». Já serão objectos
eontrário dos corpos 2 e 3. O corpo 2 é uma «aristotélicos» se forem lançados do cimo do
esfera de ferro com massa 100 vezes maior «Empire State Building» (380 m), em Nova
Iorque...
b' 4
Galileu coloca a ênfase na invariância que
(«O
/ consiste no facto de todos os corpos terem
aproximadamente a mesma aceleração quando
começam a cair — a aceleração da gravidade
determinada pela massa e tamanho do planeta
onde vão cair. A invariância que consiste no
/ facto de todos os corpos, passado o tempo
/ suficiente, caírem com velocidade aproximada­
5, mente constante é diminuída pelo facto de essa
Fig. 1 Velocidade em função do tempo para a velocidade variar de objecto para objecto.
queda de 3 esferas de ferro, 1, 2 e 3. A esfera 1,
A física, nascida com Galileu, prefere concen-
não sofre resistência do ar. As esferas 2 e 3 são de
ferro, tendo 2 uma massa de 45,4 kg e 3 uma massa trar-se nas invariâncias que têm um carácter
de 0,454 kg. mais geral.

31
É pertinente, porém, a questão de saber A simulação computacional realizada no
se uma bola de ferro 100 vezes maior do que programa PISA actualiza em cada instante t os
outra de 1 libra chega ao chão apenas dis­ valores da velocidade e da posição das bolas
tanciada de «dois dedos» quando cai do cimo a partir dos respectivos valores iniciais do
de uma torre como a de Pisa. Para isso e na seguinte modo
impossibilidade de efectuar «in loco» a expe­
riência atribuída a Galileu, podem ser úteis Vn+1 = v (tn) = vn + an At,
simulações computacionais simples. O pro­
com a„ = (g - Bv2/m) = g [1 - (v/vt)2]
grama PISA foi realizado neste espírito, des­
tinando-se a permitir que os alunos larguem *n+l = x (tn) = xn + vn+1 At
do cimo de uma torre de Pisa virtual várias
bolas, sendo duas de tamanhos diferentes sujei­ com At um intervalo de integração muito
tas à resistência do ar e uma outra, de referên­ menor que o tempo total de queda, e
cia, numa situação ideal de queda no vazio tn = tQ + nAt.
(ver Fig. 2). Esta torre computacional é, pois,
Consideremos o exemplo das 3 bolas da
Fig. 1, que corresponde à situação pensada por
Galileu. A bola 2, de 100 libras, tem massa
45.4 kg. Como a massa volúmica do ferro é
/ 7870 kg/m3, ela tem, por isso, 11,1 cm de
// raio. A bola 2 tem massa 0,454 kg e raio
/ 2.4 cm. A velocidade terminal de 2 é

Tenpo = 3.388s vt2 = 188,57 m/s, sendo vl3 = 87,22 m/s para
a esfera 3.
Fig. 2 — Ecrã do programa PISA correspondente ao
lançamento de 3 esferas 1, 2 e 3. A esfera 1, A bola 2 cai do cimo da terro de Pisa
pontual, não sofre resistência do ar. (56 m) ao fim de 3,388 s. A bola 3 cai ao
fim de 3,421 s. A distância entre as bolas
2 e 3 quando 2 chega ao chão é 1,038 m,
uma torre «mágica» de onde se podem fazer muito mais do que os «dois dedos» de Galileu,
experiências «mágicas» de física, experiências mas pequena se comparada com a altura da
que nem Galileu poderia ter feito por serem torre. A bola 1, sem resistência do ar, cai
impossíveis na prática.
da mesma altura num tempo de 3,379 s. As
Vejamos os cálculos realizados no pro­
bolas 2 e 3 são objectos «galilaicos», como
grama PISA. Para um objecto esférico não
se podia já ver na Fig. 1.
muito pequeno, tal como uma bola de ferro
Note-se que este problema a uma dimensão
de uma ou cem libras, a força de resistência
tem solução analítica conhecida
do ar (Fr) à sua queda é dada por

v = vt th (t/x)
Fr = — B v v, com B = 1/4 p ar 7x r2.
x = vt2/g log [cosh (t/x)]
A velocidade terminal desse objecto deter-
com x = vt/g, o tempo que demora a chegar
mina-se igualando os valores do peso, mg, e
o regime de velocidade terminal.
da força resistente, Bv2. Portanto,
Essa solução pode servir para verificar
neste caso a acuidade da técnica de integração
vt — t/ mg / B numérica. No entanto, a duas dimensões o
problema da queda de um projéctil com resis­
Basta dar a massa e o raio da bola para se tência do ar deixa de ter solução analítica,
obter vt . sendo inevitável o recurso ao cálculo numérico.

32
O programa PISA permite que alunos que C. Fiolhais — «Física Divertida», Gradiva, Lisboa,
ainda não têm conhecimentos especializados 3.a edição, 1992.
A. French— «Newtonian mechanics», Norton, Nova
de matemática se apercebam facilmente do
Iorque, 1971.
efeito, qualitativo e quantitativo, que tem a M. S. Greenwood, C. Hanna e J. Milton — «Air
resistência do ar, essencial ao pensamento resistance acting on a sphere: Numerical analysis,
aristoteliano, mas quase sempre ignorada nos Strobe photographs and videotapes», The Phys.
manuais escolares. Pode o aluno, em vez das Teac. Mar., 1986, 153.
W. Hubin — «The microcomputer in the undergra-
bolas de ferro, deixar cair vários outros objec-
tuate Science curriculum», Byte, Jul., 1980, 174.
tos de massa e tamanhos diferentes no com­ E. Kincanon — «Skydiving as an aid to physics»,
putador (bolas de pingue-pongue, balões de Phys. Educ., 25 (1990), 267.
ar, etc.) e descobrir objectos que sejam J. A. Lock — «The physics of air resistance», The
«aristòtélicos». Pode ainda «mergulhar» a Phys. Teac., Mar., 1982, 158.
torre de Pisa na água ou ensaiar outras proezas F. Weichman e B. Larochelle— «Air resistance»,
The Phys. Teac., Nov., 1987, 505.
que ocorram à sua imaginação.
Os textos transcritos (numa tradução que pro­
curou adoptar a linguagem moderna) foram extraí­
BIBLIOGRAFIA
dos de:
J. Bisquert, P. Ramírez, A. Barbero e S. Mafé —
«A classroom demonstration on air drag forces», L. Cooper — «Aristotle, Galileo, and the Tower of
Eur. J. Phys. 12 (1991), 249. Pisa», Kennikat Press, Port Washington, 1935.
B. Coulter e C. Adler — «Can a body pass a body
falling through air?», Am. J. Phys. 47 (1979), Que contém vários textos originais sobre a
841. queda dos graves.

Re-estruturação da Sociedade Europeia de Física

Está em curso um amplo movimento europeu miittee's response to a mandate given by Council
para a re-estruturação profunda da Sociedade Euro­ in 1991 to propose a scheme whereby aíl members
peia de Física. Pretende-se criar as condições of national societies (NS) would be direotly
financeiras, de representatividade e os novos meios affilliated to EPS. The document had already been
de acção, para que a EPS possa desempenhar um circulated for comment to the NS and to EPS
papel representativo na Europa, em consonância bodies.
com a real importância que a Física 'tem nos domí­ Council endorsed the proposaís. The executive
nios científico, tecnológico, educacional e cultural. Committee will now seek further input to bettter
O assunto foi já discutido em profundidade define some specific points, notably finances and
numa reunião alargada do Council da EPS, reali­ ways to "homogenise" items such as the categories
zada no mês de Abril em Atenas. Pela sua impor­ of NS members involved and representation of
tância e implicações futuras para as Sociedades the Divisions, NS and individual members oh
Nacionais de Física, sócios individuais da EPS e
Council and on the Executive Committee. The aim
mesmo os sócios ordinários das Sociedades Nacio­
is to develop an implementation plan for formal
nais, transcreve-se na íntegra um resumo dos pon­
approval at the '93 Council.
tos abordados na reunião de Atenas (Europhysics
News, 23, 1992):

Purpose and Role


Towards a New Structure for EPS
The main purpose of the proposed restruoturing
We give here a summary of the restruoturing is to íncrease the Society's visibility and influence
document A New EPS Structure thait was discussed by having thé roughly 55000 individual members
by Council last month. It is the Executive Com- declared at present by NS become EPS members.

33

Você também pode gostar