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CARDÁPIO

D E IDE IA S PAR A P O L ÍT ICAS


AL I M EN TA RE S NAS C IDADE S
Desde 2023, pesquisadores de diferentes universidades e instituições
de pesquisa estão articulados em um projeto que identif ica e analisa
experiências de ativismo alimentar e politização da alimentação em
capitais e regiões metropolitanas brasileiras. O projeto é f inanciado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científ ico e Tecnológico (CNPq) e
tem como objetivo produzir evidências que subsidiem gestores públicos e
lideranças sociais na produção de novas políticas e estratégias alimentares.
Este cardápio reúne algumas ideias produzidas pelo grupo com base em
experiências pesquisadas ou identif icadas na literatura. Se você tem outras
ideias ou conhece outros casos similares, compartilhe conosco acessando
@ativismos.alimentares no Instagram.

LEG ENDA S

Informações sobre a experiência citada

Textos de membros da equipe sobre o tema

Outros textos sobre o tema

F ICHA TÉC NICA

Equipe de pesquisa:

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


Abel Cassol, Ana Beatriz Lopes, Annelise Fernandez, Ângela Camana,
Arthur Saldanha, Bruna Rocha, Camila Penna de Castro, Camila Lago
Braga, Catia Grisa, Cimone Rozendo, Cristiane Cavalcante Lima, Eduarda
Paz Trindade, Eryka Danyelle Silva Galindo, Evaristo José de Lima Neto,
Fatima Portilho, Felipe Colomé, Joana Tereza Vaz de Moura, Jonatha Farias
Carneiro, Julia Menin, Juliana Tangary, Lucas Huber Rosa, Luiza Tavares,
Maiz Bortolomiol, Maycon Schubert, Marcelo Domingo Sampaio Carneiro,
Marco Antonio dos Santos Teixeira, Marília Luz David, Monique Medeiros,
Paulo Eduardo Moruzzi Marques, Paulo Niederle, Patricia Pinheiro, Renata
Campos Motta, Roberta Moraes Curan, Vitória Giovana Duarte.

Projeto gráf ico e diagramação:


Manu Raupp

Ilustrações:
Freepik
1 ENTRADAS
2 MENU DO DIA
3 NOSSAS ESPECIALIDADES
4 NOSSAS SUGESTÕES
5 PARA COMPARTILHAR
6 OPÇÕES VEGETARIANAS E VEGANAS
7 ACOMPANHAMENTOS

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


8 MENU PARA AS CRIANÇAS
9 NÃO DEIXE DE PROVAR
10 MENU INTERNACIONAL
11 NOSSO DELIVERY
12 BEBIDAS
13 OPÇÕES DE PAGAMENTO
14 COMENTÁRIOS E SUGESTÕES
1
ENTRADAS

CONSELH O M U N IC IPAL D E S EGU R ANÇA


ALI ME N TA R E N UT RICI O NA L 1 .1

Intersetorialidade e participação social são ingredientes


principais para preparar boas políticas alimentares. Portanto, a
constituição e o fortalecimento dos conselhos municipais, com
formatos adequados a cada contexto, mas garantindo sempre
uma composição plural e diversa, é uma entrada imprescindível
em qualquer cardápio de ideias para o futuro.

SECR ETA RIA M U N IC IPAL D E S EGU R ANÇA


ALI ME N TA R E N UT RICI O NA L 1.2

Capitais como Curitiba, São Paulo, São Luís e Belo Horizonte


contam com secretarias ou subsecretarias voltadas aos temas
alimentares, o que tem resultado em incremento das capacidades
estatais para atuar na construção de políticas específ icas, bem
como no fortalecimento do ativismo institucional de gestores
que atuam para que outros órgãos públicos também incorporem

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


um olhar mais atento à alimentação em políticas de educação,
saúde, meio ambiente, planejamento urbano e tantas outras.

CÂMA RA IN T E RSE TOR I AL MU NI C I PA L


DE SEG U RA N ÇA A LIME NTA R E NUT R I C I O NAL 1.3

Em âmbito nacional, a intersetorialidade da ação estatal depende,


em grande medida, da ação de uma câmara interministerial
(CAISAN) que coordena ações de diferentes órgãos. Com vistas a
fortalecer a integração federativa do sistema, cidades como Belo
Horizonte constituíram equivalentes em escala municipal. A
CAISAN-BH foi instituída pelo Decreto 15.970/2015 para articular
as políticas das secretarias ou subsecretarias de Políticas
Sociais, Saúde, Educação, Segurança Alimentar e Nutricional,
Assistência Social, Direitos de Cidadania e Meio Ambiente.
ALI ME N TAÇÃO N O PL A NO D I R E TO R DAS C I DA D E S

O Plano Diretor é o instrumento normativo que orienta os usos


dos espaços urbanos. Ele estabelece objetivos, diretrizes, ações
estruturantes, normas e procedimentos para a ação pública e
privada. Infelizmente, as questões alimentares são praticamente
ausentes nas discussões do planejamento urbano. Quando
muito, a gastronomia é incorporada apenas pela sua relevância
econômica e em articulação com o turismo. O Rio de Janeiro
é uma das poucas capitais brasileiras onde o Plano Diretor
estabelece, dentre os objetivos da política urbana, a intenção de
“contribuir, através do ordenamento territorial, para a ampliação
da produção, transformação e distribuição de alimentos na
cidade visando à segurança alimentar da população.” Ainda
que a efetivação desse objetivo dependa de instrumentos
específ icos, sua incorporação por si só já contribui para legitimar
e reforçar o ativismo das organizações e movimentos do campo
alimentar.

PARA COM PA RT ILH A R

Diversas cidades brasileiras já estão engajadas em iniciativas


colaborativas para o desenvolvimento de políticas alimentares.
Em âmbito internacional, sugerimos acompanhar as iniciativas

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


do Pacto de Milão para a Política Alimentar Urbana. No Brasil,
o Instituto Comida do Amanhã lidera o Laboratório Urbano de
Políticas Públicas Alimentares (Luppa), que tem organizado
trocas de experiências entre cidades. Dentre as iniciativas
recentes destaca-se a estratégia Alimenta Cidades do Ministério
do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à
Fome (MDS).
2
MENU DO DIA

COZI N H A S SOLIDÁ RIA S

Organizadas por associações comunitárias e movimentos


2 .1

sociais populares, as cozinhas solidárias são uma das mais


importantes inovações no combate à fome e à insegurança
alimentar da população em situação de vulnerabilidade
socioeconômica por meio da distribuição gratuita de refeições.
Os alimentos podem ser oriundos diretamente de pequenos
produtores e obtidos via doações ou compras públicas. No Rio
Grande do Sul, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) doa alimentos produzidos nos assentamentos
da reforma agrária para 38 cozinhas solidárias localizadas
majoritariamente na região metropolitana de Porto Alegre. No
Amazonas, em 2021 a ONG Gastromotiva Social f irmou parcerias
com microempreendedores, cozinheiros, lideranças locais,
organizações sociais e coletivos para implementar cozinhas
solidárias em Manaus. Além da distribuição de alimentos, a
ONG destinou uma bolsa mensal para os/as cozinheiros/as e
promoveu iniciativas de formação em cozinha social.

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


DOAÇÃO D E A LIM EN TO S PO R
ORGA N IZ AÇÕE S SOC IAI S 2.2

A doação de alimentos por entidades sociais tem uma longa


trajetória no Brasil, repercutindo as históricas campanhas de luta
contra a fome das quais a Ação da Cidadania é a mais conhecida.
No período mais recente, tais iniciativas ganharam força em
virtude do recrudescimento da insegurança alimentar em um
contexto da pandemia e desmantelamento da ação estatal.
Não obstante, essas iniciativas não precisam apenas substituir
o Estado em momentos de inação. Pelo contrário, as políticas
públicas podem fortalecer esse tipo de iniciativa por meio de
recursos para inf raestrutura, apoio à produção e aquisição de
alimentos. Dentre as inúmeras iniciativas que caminham nessa
direção, o Marmitas da Terra é um projeto do MST que combina a
produção agroecológica dos assentamentos com a distribuição
de refeições saudáveis e nutritivas para comunidades em
situação de vulnerabilidade.

SACO LÕE S P OPU L A RE S E M PAR C E R I A


CO M AG E N T E S PRIVA D O S 2.3

As cidades possuem espaços públicos com localização


estratégica para a oferta de alimentos, principalmente em
virtude do grande fluxo de pessoas. Os governos municipais nem
sempre têm recursos ou interesse político para a implantação
de estruturas públicas de comercialização nesses espaços.
Nesses casos, parcerias com agentes privados (permissionários)

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


podem ser uma alternativa, desde que as regras de utilização
pressuponham condições justas de oferta, o que também pode
envolver subsídios governamentais para compra por meio de
programas de aquisição e garantia de preços. Em Curitiba,
o Sacolão da Família é um programa por meio do qual são
comercializadas f rutas e hortaliças a preço único por quilo, que
são 40% inferiores àqueles aplicados no varejo tradicional. Os
pontos são geridos por permissionários privados que, para operar
nesses espaços, devem comercializar a um preço máximo pré-
estabelecido todos os itens de uma cesta de referência def inida
pela prefeitura. No caso dos demais produtos, eles seguem a
lógica privada de oferta e demanda sem regulação pública. Ao
todo são onze sacolões localizados em pontos estratégicos de
fácil acesso à população como terminais de ônibus.
MER CA D IN H OS D E B AI R R O 2.4

Os tradicionais mercadinhos de bairro têm enf rentado a


concorrência cada vez mais agressiva de grandes redes
varejistas e cadeias de lojas de conveniência. Além de inundar
as cidades com alimentos de baixa qualidade nutricional, esse
fenômeno contribui para a crescente concentração econômica
no setor do varejo alimentar. Reações a esse fenômeno podem
se desenvolver com suporte de políticas públicas que ampliem
a capacidade de concorrência dos empreendimentos locais,
incluindo redes regionais de pequenos varejistas. Dentre as
possibilidades de apoio estão subsídios f iscais para aqueles
mercadinhos que comercializam alimentos regionais, orgânicos
e/ou oriundos da agricultura familiar. Crédito para inf raestrutura
de transporte e armazenamento a f rio é outro mecanismo
importante para viabilizar a comercialização de certos tipos
de alimentos. Além disso, o poder público também pode atuar
como um atacadista que, mediante chamadas públicas, fornece
alimentos subsidiados para esses empreendimentos.

ARMA ZÉ M SOLIDÁ RIO 2.5

Outra opção é o investimento direto do próprio poder público na


criação de sistemas de atacarejo voltados principalmente para
segmentos sociais vulnerabilizados. Além de ampliar o acesso
a alimentos saudáveis, esse tipo de ação tem efeitos indiretos
na regulação dos preços, já que obriga os estabelecimentos

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


privados a reduzirem suas margens de lucro, que muitas vezes
são abusivas quando não há concorrentes próximos. Em São
Paulo, uma iniciativa nesta direção é o Armazém Solidário, que
comercializa produtos com valores até 30% menores do que
os praticados no comércio em geral para pessoas cadastradas
no CadÚnico. Já em Curitiba são 35 unidades do Armazém da
Família, que atende famílias com renda de até cinco salários-
mínimos. As entidades sociais que possuem programas de
doação de alimentos também podem comprar nas unidades
do Armazém da Família.
RESTAU RA N T E S P OPU L A R E S 2 .6

Esse tipo de equipamento está entre os mais antigos programas


de alimentação experimentados no Brasil, sendo que as
primeiras experiências remontam à criação do Serviço de
Alimentação da Previdência Social durante o governo Getúlio
Vargas, extinto em 1967. Depois de passarem por um período de
retração, assim como praticamente todas as políticas de cunho
mais intervencionista, os restaurantes populares voltaram a
ser incentivados em muitas cidades, ainda que com diferentes
formatos. Em Belo Horizonte, são equipamentos públicos que
comercializam refeições prontas a preços acessíveis (R$ 3,00
o almoço) para a população que se alimenta fora de casa,
prioritariamente para as pessoas em situação de vulnerabilidade.
Para os usuários cadastrados no Programa Bolsa Família é
concedido o benef ício de 50% de desconto e pessoas em
situação de rua cadastradas no CadÚnico tem acesso gratuito.
Em Curitiba, além de um modelo similar gerido pela prefeitura,
o programa Mesa Solidária inova na articulação entre o poder
público, que oferta a inf raestrutura, e organizações sociais, que
preparam e servem as refeições com seus próprios recursos e
voluntários. Nesse caso, a refeição é gratuita e qualquer pessoa
pode acessar. Contudo, falta ainda avançar na articulação com a
agricultura familiar como fornecedora dos alimentos para esses
restaurantes.

RESTAU RA N T E S PRIVAD O S PAR C E I R O S DA


AGRI CU LTU RA FA M ILI AR 2 .7

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


Os restaurantes privados também podem desempenhar um
papel importante nas estratégias de segurança alimentar
e nutricional nas cidades. A maioria dos estabelecimentos
deste setor adquire seus insumos nos estabelecimentos
tradicionais de varejo e atacado. Além do preço, logística
facilitada e regularidade da oferta também estimulam essa
relação. A criação de centrais de abastecimento da agricultura
familiar, o apoio à estruturação de redes de cooperativas e a
criação de programas de incentivo f iscal a restaurantes que
compram diretamente da agricultura familiar, incluindo uma
diferenciação para produtos orgânicos, são opções de políticas
públicas a serem consideradas pelos gestores. Cabe destacar
que esse setor atualmente já se benef icia de isenções previstas
pelo Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos
(Perse), criado em função das perdas enf rentadas durante
a pandemia, o qual não foi vinculado, contudo, a incentivos
seletivos que privilegiam a adoção de práticas sustentáveis e
saudáveis, por exemplo.
B A N CO S D E AL I ME NTO S 2 .7

Esses equipamentos têm como objetivo


principal o aproveitamento de alimentos
em condições de consumo, mas que seriam
desperdiçados. Os bancos têm diferentes
formatos, podendo ser de caráter público,
privado ou comunitário. No caso dos bancos
públicos, desde 2012 tem sido estimulada
a implantação de Bancos de Alimentos
nas Centrais de Abastecimentos (Ceasas).
Em Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro,
essa articulação permite que, por meio
de doações oriundas dos permissionários
(produtores e atacadistas) e de programas
públicos (hortas urbanas, sacolões, armazéns
etc.), sejam atendidas famílias em situação
de vulnerabilidade social, instituições
socioassistenciais e equipamentos sociais
de alimentação. Em Goiânia, além da
captação de alimentos para doação, o Banco
de Alimentos do município também é
responsável pela execução do PAA Compra
Direta Local da Agricultura Familiar. Em
Araraquara, o Banco de Alimentos repassa

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


farinha de trigo para a Padaria Solidária, a qual
produz pães que são enviados semanalmente
às entidades atendidas. Esses pães também
são enriquecidos nutricionalmente com o
subproduto da Usina de Processamento de
Leite de Soja do município.
3
NOSSAS ESPECIALIDADES

I N SERÇÃ O D E P R O D U T O S DA A G R I C ULT UR A
FAMI L IA R NO M É D IO E G R A N DE V A R E J O 3.1

Ampliar o acesso dos agricultores familiares aos mercados


constitui uma das principais estratégias contemporâneas de
desenvolvimento rural. Ao mesmo tempo em que possibilita
agregação de valor, estimula e consolida o consumo de
alimentos regionais, locais e com maior qualidade. Neste sentido,
iniciativas de incentivo tributário (redução de impostos para
os compradores) podem ser implementadas visando facilitar a
entrada dos produtos da agricultura familiar no médio e grande
varejo, sobretudo nos supermercados. Na Bahia, o Programa
Bahia Produtiva, criado em 2014, estimula esse tipo de ação por
meio de parceria com a Associação Baiana de Supermercados
(ABASE). No âmbito do programa, em 2018 foi criado o “Selo
Supermercado Amigo do Agricultor Familiar”, que identifica as
empresas com espaços exclusivos para produtos da agricultura
familiar e suas cooperativas. Embora este programa seja
estadual, as cidades podem constituir iniciativas similares.

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


CEN T R A IS D E CO M E R CI A LI Z AÇ ÃO DA
AGRI C U L T U R A F A M IL IAR E E C ON O MI A S O LI DÁR I A 3.2

Diversos movimentos sociais têm se unido para construção de


espaços urbanos de oferta de alimentos e produtos da economia
solidária. Os governos municipais contribuem principalmente
com o espaço físico, a infraestrutura e a capacitação dos
participantes. Em Natal, o Mercado da Agricultura Familiar
beneficia diretamente quarenta famílias e mais de vinte
organizações jurídicas que comercializam uma ampla
diversidade de produtos, tais como hortifrutigranjeiros, leite e
derivados, polpa de frutas, galinha caipira, carne de carneiro,
castanha de caju, mel de abelha, artesanato e alimentação
regional da agricultura familiar do Rio Grande do Norte.
LOGÍ ST ICA D E SCE NT R ALI Z ADA E I N T E G R ADA 3.3

Um dos principais desafios para ampliar o acesso a alimentos


saudáveis e sustentáveis nas cidades é fazê-lo chegar a
diferentes equipamentos públicos, privados e sociais. Abastecer
escolas, restaurantes, hospitais, feiras, pequenos mercados
de bairro e até mesmo os consumidores diretamente em
suas casas implica altos custos logísticos. O planejamento
das rotas de distribuição integrando pontos de entrega, o
compartilhamento dos fretes e dos armazéns, e a adoção de
veículos adaptados ao trânsito urbano são algumas estratégias
que podem ampliar a participação da agricultura familiar e de
pequenas empresas nesses mercados. No Rio Grande do Sul, a
Redecoop articula 52 pequenas cooperativas de 31 municípios,
as quais integram mais de 13 mil famílias de agricultores
familiares. Criada em 2017, a rede alcança semanalmente
mais de mil pontos de entrega. Neste caso, além do apoio de
políticas públicas para infraestruturas de armazenamento e
transporte, a ação governamental também pode dar suporte à
construção de sistemas de informação para a gestão integrada
dos processos logísticos e gerenciais.

P ROG R A M A S M U NICIP A I S DE
AQUI SIÇÃ O D E A L IM E NT O S 3.4

A partir da experiência de sucesso dos programas nacionais


de compras públicas da agricultura familiar, algumas cidades

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brasileiras têm desenvolvido programas municipais de
aquisição de alimentos. De maneira geral, eles funcionam por
meio da destinação de recursos municipais para a compra de
cestas de alimentos da agricultura familiar local, as quais são
então distribuídas para as famílias de servidores públicos (em
substituição ou complementação ao auxílio alimentação) ou
para populações em situação de vulnerabilidade social. Em
Porto Alegre, o programa foi lançado em 2023. As compras são
executadas pela Secretaria Municipal de Governança Local e
Coordenação Política e a distribuição ocorre em parceria com
a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, o programa
Mesa Brasil do Sesc, o Banco de Alimentos, a Emater e o Conselho
Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável.
Em Corumbá (MS), o PAA Municipal foi instituído pela Lei n.º
2.709/2019 e prevê a aquisição de alimentos com valores anuais
que podem alcançar até R$ 7.500,00 por agricultor familiar.
4
NOSSAS SUGESTÕES

LI MI TA R OS EXAG E RO S AL I ME NTAR E S
NO AM B IEN T E D E RE STAU R AÇÃO 4.1

O consumo excessivo é um dos hábitos mais dif íceis de serem


superados. Campanhas de reeducação alimentar e a regulação
de ambientes que induzem esse tipo de hábito estão entre as
possibilidades de ação pública. Uma das questões que precisam
ser discutidas com o setor privado é a pertinência de sistemas
de restauração do tipo all-you-can-eat (tudo que você consegue
comer), como é o caso dos chamados “rodízios” e “bufês livres”.
Estimulados pela lógica do preço f ixo independentemente
da quantidade, os clientes consomem muito além de suas
necessidades biológicas, o que contribui para o aumento
acelerado das taxas de obesidade e, por conta disso, uma série de
problemas de saúde. Além disso, essas opções de restaurantes
tendem a aumentar o desperdício alimentar, o que já incitou
alguns restaurantes a ameaçar a cobrança extra de clientes que
não consomem o que demandam. De outro modo, o “buffet
a kilo”, uma tecnologia social tipicamente brasileira, tende a

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limitar o consumo. Mesmo assim, estímulos (inclusive f iscais) a
opções do tipo “prato do dia” pode ser uma medida importante.
Alguns restaurantes inclusive oferecem porções reduzidas e,
caso o cliente deseje comer mais, complementam a quantidade
sem custo extra, reduzindo assim o desperdício.
COMI DA E F LUXOS U R B A NO S 4.2

Ao longo da história, a circulação da comida foi um dos fatores


mais importantes para moldar as cidades. Hoje em dia, além
de reposicionar a comida no centro dos debates sobre o
planejamento urbano, também é preciso repensar como
o acesso aos alimentos conecta-se aos fluxos das pessoas.
Garantir o acesso a alimentos adequados implica em posicionar
estrategicamente o alimento nos locais onde as pessoas
transitam. Do ponto de vista das políticas públicas, isso pode ser
feito por meio da implementação de equipamentos públicos
ou sociais em áreas públicas, ou também via mecanismos de
isenção tributária para instalação de determinados tipos de
estabelecimentos privados, por exemplo. Em Belo Horizonte,
o programa Direto da Roça oferece a agricultores familiares
da região metropolitana pontos de comercialização f ixos. As
barracas funcionam uma vez por semana em locais da cidade
com ampla circulação. Em funcionamento desde os anos 1990,
o programa requer que ao menos 75% dos produtos sejam de
produção própria dos agricultores, podendo ser in natura ou
processados como queijos, doces e biscoitos.

MO B ILIDA D E U RB A N A
E DI N Â M ICA S D E T RA B AL HO 4.3

As práticas alimentares estão integradas a outros tipos de


práticas sociais, criando arranjos complexos. Por isso, garantir
alimentação adequada também implica repensar os usos do
tempo que as pessoas possuem para suas atividades, inclusive

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o comer. Trabalho e deslocamento urbano são práticas que
demandam a maior parte do tempo nas grandes cidades. Como
pessoas que gastam três ou quatro horas por dia no trânsito
para ir trabalhar terão condições de chegar em casa e preparar
uma alimentação saudável? A opção mais conveniente acaba
sendo o fast food. Além disso, os ambientes das empresas
também não são preparados para que as pessoas se alimentem
adequadamente no local de trabalho. O custo do transporte
também dif iculta o uso de opções como restaurantes populares.
Esses problemas podem ser minimizados com melhorias nos
sistemas públicos de transporte, incluindo a gratuidade, que
já é uma realidade em 150 cidades brasileiras. Outra questão
importante é a desconcentração das atividades econômicas,
permitindo que as pessoas trabalhem em ocupações mais
próximas de suas residências. Finalmente, alterações nos
horários de trabalho podem ter importantes impactos para
o deslocamento e para a disponibilidade de tempo para as
pessoas se alimentarem adequadamente.
COMI DA D E VERDA D E NAS
R ODOVIÁ RIA S E A ERO PO RTO S 4.4

Estações rodoviárias e aeroportos são espaços estratégicos não


apenas para ampliar o acesso a alimentos saudáveis, mas também
para promover culturas alimentares locais. A concessão desses
espaços para a gestão privada fortaleceu ainda mais a monotonia
alimentar. Hoje em dia, praticamente todos os aeroportos
brasileiros possuem opções idênticas e quase nunca elas envolvem
a gastronomia regional, o que é ainda mais grave tendo em vista
que esses espaços são as portas de entrada das cidades. Além disso,
raramente há opções de alimentação saudável e, quando existem,
os preços são impeditivos para a grande maioria da população. Na
medida em que geralmente são administrados por concessionárias
privadas, as opções que o poder público tem em mãos restringe-
se basicamente aos termos dos contratos de concessão. Mas, caso
se avance nesta direção, o poder público também pode ter um
papel importante para articular a oferta de alimentos, apoiando,
por exemplo, a instalação de lojas e restaurantes geridos por
cooperativas de agricultores ou consumidores nos aeroportos e
rodoviárias.

CATER IN G E B A N QU ETI NG 4.5

Os serviços de catering e banqueting são possibilidades


praticamente inexploradas pelos empreendimentos que
oferecem opções saudáveis e sustentáveis de alimentação. Não
impressiona, portanto, que até mesmo os eventos organizados
pelos órgãos públicos sirvam biscoitos ultraprocessados e

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bebidas açucaradas. No Rio de Janeiro o buffet do projeto Maré
de Sabores gera renda para mulheres formadas nas of icinas e
oferece serviço de catering para instituições, universidades e
demandas privadas, bem como serviço de entrega programada
em domicílio e kits corporativos para presentes. Em treze anos,
o Maré de Sabores já formou mais de mil assistentes de cozinha,
80 merendeiras e outras 200 foram encaminhadas para seleção
de trabalho ou apoiadas por mentorias para seus próprios
negócios. A organização já atuou em importantes eventos
como o WOW Rio em 2018, o Pacto de Milão em 2019, a Virada
Sustentável, o Rock in Rio em 2019 e o Mundial Beach Tennis
em 2021. São pães, geleias, molhos, compotas e cardápios, com
receitas produzidas de forma artesanal, com insumos f rescos,
sem adição de aditivos químicos e com muita memória alimentar
nordestina, raiz da culinária da Maré. O lucro com a venda dos
produtos permite a independência f inanceira do coletivo de
mulheres integrantes do buffet e viabiliza a sustentabilidade
das of icinas de gastronomia.
P OLÍ T ICA S PÚ B LICA S CO NT R A A GO R D O FO B I A
E O UTROS PRECON C E I TO S 4.6

A gordofobia é o preconceito contra corpos gordos e uma


forma de discriminação. Há algumas manifestações já
reconhecidas da gordofobia, classif icadas como a gordofobia
estética, a gordofobia médica ou gordofobia na área da saúde
e a gordofobia na acessibilidade. O corpo gordo é diariamente
marcado como um corpo inexistente e que precisa passar por
diversos constrangimentos para realizar tarefas simples do
cotidiano, como acesso dif icultado ao transporte público, a
roupas que sirvam, a equipamentos para tratamento de saúde, a
cadeiras que comportem esses corpos etc. As cidades precisam
se tornar espaços menos discriminatórios para esses corpos
e, para tanto, as políticas públicas podem promover espaços
adequados de promoção da saúde (as academias podem ser
espaços fortemente estigmatizantes); campanhas de educação
alimentar; publicidades que valorizem esses corpos; formas
de acompanhamento psicológico coletivo e individualizado;
diretrizes nutricionais e médicas não estigmatizantes;
legislações que punam a discriminação em espaços públicos e
privados, dentre outros.

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


5
PARA COMPARTILHAR

EQUI PA M E N TOS P OPU L AR E S D E


MI CR O VA REJ O N A S PE R I FE R I AS 5.1

Disponibilizar alimentos saudáveis nas periferias das grandes


cidades é um dos maiores desaf ios das iniciativas voltadas à
garantia da segurança alimentar e nutricional. Preocupados com
o apartheid alimentar das periferias, indivíduos e organizações
sociais criam pontos de comercialização que operam em suas
próprias casas ou espaços coletivos de associações comunitárias.
Em parceria com movimentos e organizações de agricultores,
eles conseguem ofertar f rutas, verduras e legumes baratos e
saudáveis e até orgânicos para a população do entorno que,
em geral, não tem possibilidade de acesso a esses alimentos.
Situada na Ilha da Pintada, um dos bairros mais pobres de Porto
Alegre, a Kitanda da Bia é um ponto de comercialização criado
em 2021 com o apoio do Instituto Camélia e com alimentos
distribuídos pela RedeCoop. A quitanda opera em um espaço
conectado à casa, que também abriga um centro de cultura
af robrasileira, de tal modo que a iniciativa alimentar fortalece a

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


ancestralidade dos povos de matriz af ricana.
SI ST EM A S PA RT IC IPATIVO S D E
G AR A N T IA DA QUA LIDA D E O R GÂNI CA 5.2

A capacidade da agricultura familiar responder à expansão da


demanda por alimentos orgânicos depende em grande medida
do desenvolvimento de sistemas participativos de garantia.
Além do baixo custo, esses sistemas estimulam a cooperação
e, a partir disso, a construção de novos mercados, ampliando
o acesso para os consumidores urbanos. As prefeituras
municipais podem ter um papel decisivo no apoio à criação
e operação desses sistemas, seja por meio de assessoria
técnica, seja na viabilização da inf raestrutura para execução
dos processos de certif icação. A Associação dos Produtores da
Rede Agroecológica Metropolitana (Rama) é um Organismo
Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC) que atua há
mais de uma década na região metropolitana de Porto Alegre e
que é a principal responsável pela realização da Feira Ecológica
da Avenida José Bonifácio, a maior da cidade. Em Belo Horizonte,
esse tipo de articulação vem sendo atualmente construído pela
Associação Horizontes Agroecológicos (AHA).

REPAR AÇÃO SOC IA L PAR A


PESSOA S EM SITUAÇÃO D E R UA 5.3

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


São iniciativas de reparação social as ações e políticas destinadas
a corrigir injustiças históricas e sistêmicas sof ridas por grupos
sociais cujos corpos são subalternizados. A Amada Massa - Clube
de Pães é um projeto de reparação social em Porto Alegre cujo
objetivo é colaborar com a construção de autonomia f inanceira
por meio de um sistema de geração de renda para pessoas em
vulnerabilidade social. O projeto foi construído a partir da luta
pela garantia de direitos de pessoas em situação ou com trajetória
de rua e vulnerabilidade social, que produzem e comercializam
pães. A iniciativa também dialoga com as práticas de redução
de danos e comunicação não-violenta, além da introdução e
aplicação de princípios de justiça restaurativa.
A ANCEST RA LIDA D E P O R ME I O
DA ALIM E N TAÇÃO 5.4

A alimentação é uma prática social recheada de dimensões


culturais. Com efeito, a garantia do Direito Humano à Alimentação
Adequada (DHAA) implica na construção de políticas públicas
que valorizarem tais dimensões. Uma dessas dimensões, muito
presente nas comunidades orientadas por tradições de matriz
af ricana, é a ancestralidade. Em Porto Alegre, esse é o caso da
Crioula Curadoria Alimentar, uma empresa social que produz
conteúdos e formações para uma alimentação ecológica,
ancestral e política. No Rio de Janeiro, a Casa Omolokum
funciona como um sistema de “colab” entre empreendedoras
que trabalham a partir da cultura af ricana, inspirado na
comida de terreiro e com cardápios que incorporam alimentos
considerados sagrados para o Candomblé. Também no Rio de
Janeiro, o restaurante Angurmê foi criado pela chef Maria Júlia
Ferreira com o intuito de promover a culinária af ro-brasileira
por meio do resgate e valorização das culturas e ancestralidades
af ricanas e do combate ao racismo.

FESTIVA IS E F EIRA S G AST R O NÔ MI CAS 5.5

Comida também envolve celebração, cultura, arte e política. As


ações públicas não precisam concentrar-se apenas na dimensão

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econômica e, além do mais, muitas vezes é possível conciliar
os resultados econômicos com o reconhecimento dos valores
éticos e estéticos da alimentação. Nesse sentido, várias cidades
têm presenciado a expansão de feiras e festivais que articulam
a alimentação com outras pautas sociais, à exemplo da Feira
Vegana Vegbora e da Feira Crespa-Pretas Velhas, ambas no Rio
De janeiro, e do Festival Mulher Cervejeira, em Porto Alegre. Em
2023, Anchieta (SC) organizou o I Festival Gastronômico Milhos
Crioulos, que conecta a população a um conjunto mais amplo
de ações para a valorização das sementes crioulas. Desde
2019, uma lei municipal dispõe sobre o incentivo a sistemas de
produção agroecológicos e distribuição de sementes crioulas.
A multiplicação das sementes é alavancada por um programa
da Secretaria de Agricultura em parceria com os agricultores
ecologistas.
6
OPÇÕES
VEGETARIANAS E VEGANAS

AGRI CU LTU RA U RB A N A E PE R I U R B ANA


E HO RTA S COM U N ITÁ R I AS 6.1

A agricultura nos centros urbanos fortalece a segurança


alimentar e nutricional, gera renda às populações vulneráveis,
reduz a distância entre produtores e consumidores e gera
benef ícios socioambientais. Além disso, a ampliação de áreas
verdes nas cidades também garante maior resiliência aos
impactos das mudanças do clima. O Fórum de Agricultura
Urbana e Periurbana de Porto Alegre foi criado em 2021 com
o intuito de integrar experiências de hortas comunitárias.
Atualmente, são mais de 40 iniciativas cadastradas, dentre as
quais a Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro, criada em
2011. Esta iniciativa integra uma Área de Proteção ao Ambiente
Natural de aproximadamente quatro hectares, sendo que destes
a horta ocupa 0,7 hectares, com estufa para produção de mudas,
cozinha comunitária, cercas vivas e outros espaços coletivos
e com cultivo agroecológico e agroflorestal diversif icado,
com foco em plantas alimentícias não convencionais, plantas
medicinais, flores comestíveis e árvores f rutíferas. Seguindo o

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exemplo de outras cidades que já têm políticas consolidadas
de agricultura urbana, tais como Curitiba, Belo Horizonte e São
Paulo, em 2022 a prefeitura da capital gaúcha regulamentou
a implantação de hortas comunitárias em áreas de parques,
praças e terrários urbanos. Na ocasião, 300 áreas não urbanizadas
foram identif icadas para implantação das hortas.
R EFAU N AÇÃO D OS ES PAÇO S U R B ANO S 6.2

A restauração dos ecossistemas urbanos geralmente focaliza


o papel das áreas verdes e, a partir disso, a introdução de
espécies vegetais. Pouco se fala sobre a importância de
reintroduzir animais nas áreas urbanas, como preconizam as
iniciativas de pecuária urbana. Mais recentemente, diversas
ações têm sido pautadas pelo conceito de “refaunação”, cujo
objetivo é a restauração de algumas espécies para ajudar a

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restaurar ecossistemas degradados. Muitas dessas espécies
têm papel fundamental para a agricultura urbana e podem
estar associadas a projetos de educação ambiental e alimentar.
Nessa perspectiva, os Jardins do Mel constituem uma ação
da prefeitura de Curitiba que já distribuiu colônias de abelhas
nativas sem ferrão em 56 locais da cidade, incluindo hortas
comunitárias e parques públicos. Além da contribuição direta
das abelhas para a polinização, sua presença gerou reações
controversas na população, sobretudo devido à incompreensão
acerca da inexistência de riscos. Isso permitiu a abertura de um
diálogo mais amplo com a população sobre a importância e os
benef ícios dos serviços ecossistêmicos. Atividades de formação
são oferecidas regularmente nas escolas e tanto as crianças
quanto os agricultores urbanos tornaram-se defensores da
proteção das abelhas e do ambiente.
FEI R A S N OTU RN A S 6.3

A importância das feiras livres para o acesso à alimentação


saudável e sustentável já é de amplo conhecimento. Outrora
tratadas com um resquício do passado que desapareceria
à medida que os supermercados se expandissem, as feiras
livres voltaram a ocupar as áreas urbanas e seguem em
expansão. Mesmo assim, um dos limitantes de muitas feiras
é a incompatibilidade com os dias e horários de trabalho da
maioria das pessoas. Em muitas cidades, uma alternativa para
essa situação foi a criação de feiras noturnas, muitas das quais
acabaram se convertendo em espaços mais diversos, articulando
uma gama variada de opções gastronômicas e culturais. Na
cidade de São Luís, por exemplo, cinco feiras organizadas pela
Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Abastecimento
(Semapa) ocorrem no período noturno, ampliando o acesso
aos alimentos para a população trabalhadora. Em Curitiba,
a prefeitura gerencia 17 feiras noturnas, muitas das quais se
tornaram verdadeiros eventos gastronômicos semanais.

CO MP OST EIRA S U RB A NA S I ND IVI D UAI S ,


CO LETIVA S E PÚ B LICA S 6.4

A construção de novos sistemas alimentares vai muito além do


acesso aos alimentos. O destino adequado dos resíduos também
é um componente essencial. Ações de educação ambiental têm
estimulado a adoção de composteiras caseiras para tratamento

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do “lixo” doméstico. Outra opção que tem conquistado adeptos
é a construção de inf raestruturas coletivas articuladas a práticas
de agricultura urbana. Uma das iniciativas mais conhecidas
no Brasil, premiada internacionalmente, é a Revolução dos
Baldinhos, um projeto de gestão comunitária de resíduos
orgânicos e agricultura urbana em Florianópolis, coordenado
pelo Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo
(Cepagro). No Aglomerado da Serra, o maior complexo de vilas
e favelas de Belo Horizonte, um exemplo similar, também
inspirado pela agroecologia, é desenvolvido pelo coletivo
rastafári Roots Ativa. Já em São Paulo, destaca-se o Quebrada
Orgânica, um projeto que se propõe a minimizar os impactos
ambientais negativos e abordar novas posturas de consumo e
práticas sustentáveis na “quebrada” por meio da compostagem
de resíduos, criação de hortas e ações artístico-culturais que
levem as pessoas a refletirem sobre a temática.
7
ACOMPANHAMENTOS

RENDA B Á SICA D E C IDA DANI A ( R B C )

Programa de transferência de renda concebido a partir da


7.1

promulgação da Lei Federal 10.835/200 que institui a renda


básica de cidadania. No município de Maricá (RJ), o programa
oferece apoio econômico para compra de alimentos e outros
produtos básicos para famílias com renda de até três salários-
mínimos. Instituído pela Lei 2.448/2013, o Programa Municipal
de Economia Solidária, Combate à Pobreza e Desenvolvimento
Econômico e Social de Maricá foi expandido após a aprovação
da Lei 2.652/2015. Desde então, todos os programas de
transferência de renda foram unif icados na Renda Básica
da Cidadania, por meio do qual cada benef iciário recebe um
cartão de débito referente a sua conta bancária. O pagamento
é feito em “Mumbucas” (moeda social criada pela prefeitura)
por meio da plataforma digital e-dinheiro, e os recursos podem
ser usados em todos os estabelecimentos cadastrados, como
supermercados, hortif rutis e farmácias.

REST RIÇÕE S À PROPAGANDA D E U LT R APR O C E S S AD O S

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EM ES PAÇOS E EVE N TO S PÚ B L I CO S 7.2

Inúmeras regras impõem restrições à propaganda de produtos


que causam danos à saúde. O exemplo mais conhecido é o tabaco.
Estudos já demonstraram que alimentos ultraprocessados e/ou
com excesso de açúcares, gorduras e sódio podem ter impacto
à saúde pública. Mesmo assim, os espaços públicos, sobretudo
aqueles cedidos para gestão privada, estão repletos de anúncios
que estimulam o consumo desses alimentos. Do mesmo modo,
eventos organizados por órgãos públicos são f requentemente
ocupados pela propaganda de ref rigerantes, por exemplo, ainda
que esse produto seja reconhecido como um dos mais graves
responsáveis pelo aumento das taxas de obesidade e, portanto,
por inúmeras doenças associadas que geram altos custos para
os sistemas públicos de saúde.
APR OXIM A R CON SU M I D O R E S E PR O D UTO R E S 7.3

A aproximação entre produtores e consumidores é um preceito


básico dos circuitos curtos ou mercados de proximidade. Os
efeitos desse tipo de prática vão muito além dos benef ícios
econômicos mútuos, que se expressam em preços mais justos
para ambas as partes. As dinâmicas de reconhecimento também
geram respeito, entendimento, solidariedade e reciprocidade,
repercutindo em outras escolhas de consumo, bem como
no apoio político a pautas comuns. Há muito tempo, grupos,
associações e cooperativas de consumidores criados pelos
movimentos agroecológicos organizam visitas aos agricultores
ecologistas. Do mesmo modo, as prefeituras podem promover
visitas dos benef iciários atendidos por programas públicos aos
agricultores, bem como destes aos equipamentos nos quais
seus alimentos são servidos. Dentre os benef ícios mais diretos
dessas visitas está o próprio entendimento de como é possível
melhorar as condições de entrega (processamento) e preparo
dos alimentos para atender as necessidades dos agentes
envolvidos. Em São Paulo, o projeto Sampa + Rural criou uma
plataforma colaborativa de divulgação da produção agrícola e
demais atividades da zona rural do munícipio. Além de reunir
informações sobre quem produz e quem comercializa, a
plataforma divulga pontos de ecoturismo.

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8
MENU PARA CRIANÇAS

ZO NA S D E EXC LU SÃO
DE PR OD UTOS U LT RAPR O C E S S AD O S 8.1

Várias cidades já avançaram em legislações que proíbem a oferta


de determinados tipos de alimentos ultraprocessados e bebidas
açucaradas nas escolas. No entanto, o entorno do ambiente
escolar continua sendo área privilegiada para a venda desse
tipo de produto. Legislações mais amplas podem prever um raio
mínimo de exclusão ou de limitação de empreendimentos que
ofertam esses produtos. Em 2009, Waltham Forest foi a primeira
autoridade local inglesa a introduzir no seu planejamento
urbano medidas para restringir pontos de venda de fast-food.
A restrição aplica-se a um raio de 400 metros do entorno
das escolas de ensino médio. Desde então, outras cidades
inglesas criaram medidas similares para promover ambientes
alimentares saudáveis por meio de medidas que impedem a
abertura ou limitam a densidade de pontos de venda de fast-
food em espaços f requentados por crianças.

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EDUCAÇÃO A LIM E N TA R E HO RTA S E S CO L A R E S 8.2

Inúmeras iniciativas de educação alimentar com foco nas


crianças são desenvolvidas por cidades de todo o mundo,
haja vista que a formação inicial dos hábitos alimentares é
um elemento-chave para a reprodução de uma alimentação
saudável no futuro. Além da inclusão de temas alimentares nos
componentes curriculares, outras ações incluem o preparo dos
alimentos em cozinhas didáticas e o cultivo em hortas escolares.
Em Osasco, desde 2014 uma lei municipal (nº 4.623) estabelece
diretrizes para promoção do projeto Horta nas Escolas como
atividade pedagógica de complementação curricular. Em Belo
Horizonte, as hortas escolares também podem contribuir para o
abastecimento dos refeitórios das escolas. Em 2023 a prefeitura da
capital mineira passou a incentivar essa prática na rede municipal
de ensino por meio do Projeto Horta na Escola, que ocorre em
parceira com o projeto EcoEscola BH da Secretaria Municipal
de Educação. Já em Jundiaí o Projeto Vale Verde, parceria
entre a Prefeitura, a Escola Técnica e o Instituto Kairós, é uma
horta municipal que produz alimentos orgânicos certif icados
e, desde 2018, iniciou a produção de Plantas Alimentícias Não
Convencionais. Atualmente, a Vale Verde consegue abastecer
todas as escolas municipais e estaduais localizadas no município,
sendo responsável por aproximadamente 70% das hortaliças
servidas nessas instituições, incluindo PANCs.

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CAR DÁ PIOS A DA PTA D O S
E PR OD UTOS DA SOC I O B I O D IVE R S I DA D E
NA AL IM E N TAÇÃO ESCO L A R 8.3

A inclusão da agricultura familiar como fornecedora de


alimentos para a alimentação escolar é uma política cujos
benef ícios já são amplamente conhecidos. Mas ainda há
importantes desaf ios no sentido de ampliar a participação de
alimentos locais, agroecológicos e da sociobiodiversidade. Para
tanto, em Alto Paraíso de Goiás a prefeitura elaborou chamadas
que incorporam alimentos como a castanha do baru e o pequi,
além de preparações como o arroz com jiló e o bolo de baru.
A iniciativa também implica em oferta de capacitação para as
merendeiras. Em Santarém (PA), a prefeitura está articulada com
a Comissão de Alimentos Tradicionais dos Povos no Amazonas
(Catrapoa), criada e coordenada pelo Ministério Público Federal.
A Catrapoa tornou-se uma referência nacional pelo trabalho de
promoção da compra de alimentos produzidos localmente, por
pequenas unidades familiares, produtivas ou extrativistas, e
por comunidades indígenas, a f im de melhorar a qualidade da
alimentação escolar na rede pública.

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9
NÃO DEIXE DE PROVAR

CO OPE RAT IVA S D E CO NS U MI D O R E S

As cooperativas de agricultores contam com o apoio de


9.1

algumas políticas já consolidadas. De outro modo, as iniciativas


de consumidores ainda dependem quase exclusivamente do
investimento f inanceiro e do trabalho voluntário dos próprios
cooperados. Desde o espaço f ísico até as inf raestruturas de
transporte, comercialização e armazenamento, passando
pelo suporte à gestão e comunicação, o poder público pode
contribuir para viabilizar tais iniciativas, promovendo, deste
modo, o acesso a alimentos saudáveis e sustentáveis por preços
justos. Além disso, cabe destacar que, quando vinculados à
movimentos de economia solidária, esses empreendimentos
articulam o consumo com outras pautas, de tal modo que a
ampliação do acesso para os consumidores também reverte
em benef ícios para os agricultores que fornecem alimentos
agroecológicos, por exemplo. Esse é o caso da Ecotorres,
Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Torres
(RS), uma das experiências deste gênero mais exitosas no sul do
país, criada em 1999, vinculada à Rede Ecovida de Agroecologia,
e que conta com cerca de 150 sócios.

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PARQ U ES E PRAÇA S CO M I NFR A E ST R UTUR A
PARA A LIM E N TAÇÃO AD EQ UADA 9.2

Em vários países, os parques e as praças públicas das grandes


cidades têm sido opções cada vez mais procuradas pelos
consumidores para desf rutarem a comida preparada em casa
por eles mesmos (marmitas) ou adquirida em restaurantes
que possuem opções de takeaway. Dentre as motivações estão
a possibilidade de comer em ambientes ao ar livre, menos
tumultuados ou junto a amigos, de modo que cada um possa
se adaptar às suas opções e restrições alimentares. No Brasil,
além desse tipo de prática ainda ser estigmatizada, esses
ambientes não contam com inf raestrutura básica, tais como
mesas, água potável e banheiros. Além disso, a insegurança
é outra razão que limita esse tipo de opção. Políticas voltadas
à estruturação desses ambientes alimentares, à exemplo do
que vem sendo adotado em várias cidades com as “academias
ao ar livre”, podem contribuir não apenas para o consumo de
alimentos mais saudáveis, mas para o desenvolvimento de
práticas sustentáveis de ocupação dos espaços públicos.

ALI ME N TAÇÃO H OSPITA L A R 9.3

Hospitais são ambientes nos quais a saúde deveria vir em


primeiro lugar. No entanto, muitas vezes o foco parece ser mais
a doença do que o paciente. Quando o assunto é alimentação

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isso torna-se ainda mais impressionante, já que muitos hospitais
oferecem opções que não condizem com os preceitos de uma
alimentação saudável. Biscoitos ultraprocessados, geleias e
bebidas açucaradas e margarina são apenas alguns exemplos
de componentes recorrentes nos cardápios hospitalares. Mais
do que uma opção, essas escolhas geralmente refletem a crise
f inanceira do sistema de saúde. Entre os remédios para curar
a doença e os alimentos para promover a saúde, a prioridade
tem sido dos remédios. Mesmo assim, iniciativas recentes têm
trabalhado para alterar esse cenário, como nota-se nas ações
da Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis, que conecta
iniciativas de hospitais compromissados em articular saúde,
alimentação saudável e sustentabilidade ambiental.
MERCA D O C EN T RA L 9.4

Em muitas capitais brasileiras os mercados centrais sempre


foram instituições essenciais para a construção da própria
identidade da cidade. Ao longo do tempo, contudo, essas
instituições foram deterioradas e perderam o dinamismo
de antigamente, assim como as próprias regiões centrais de
muitas cidades perderam sua população. A retomada dos
mercados centrais e de outras áreas urbanas f requentemente
envolve grandes projetos de revitalização. No entanto, muitos
deles reconf iguram esses espaços de tal forma que eles passam
a ser utilizados mais para iniciativas de turismo gastronômico
do que como centro varejista f requentado pela população
local. Em termos de políticas públicas, a ação mais relevante
e urgente neste caso é a democratização das decisões (com
participação dos conselhos) e do próprio acesso a esse bem
público, inclusive no que tange à revisão das condições de
concessão dos espaços para a iniciativa privada. Democratizar o
acesso e estabelecer exigências no sentido de garantir a oferta
de alimentos saudáveis, sustentáveis, locais e justos é uma das
possibilidades de ação do poder público. No caso de Curitiba,
por exemplo, o poder público foi pioneiro em criar, há mais de 15
anos, um setor específ ico para a comercialização de alimentos
orgânicos no Mercado Municipal.

PERDA S E D E SPE RD ÍC I O D E A L I ME NTO S 9.5

Em todo o mundo, o tema das perdas e desperdícios alimentares


está entre aqueles que mais têm chamado a atenção das

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organizações públicas e privadas que atuam no setor alimentar.
Segundo dados da FAO, cerca de 17% dos alimentos são
desperdiçados nos níveis de varejo e de consumidor, grande
parte deles nas residências. Existem inúmeros exemplos de
ações e políticas para reduzir esse percentual. O município
de Maricá, por exemplo, possui uma fábrica de desidratação
de banana e aipim, visando garantir estabilidade de venda
e preço aos agricultores, evitar desperdício e aumentar a
durabilidade. Os alimentos desidratados são encaminhados
para os programas de alimentação escolar. No setor de varejo,
há o exemplo inovador de uma empresa espanhola que criou o
aplicativo Too Good To Go, que conecta as pessoas a locais onde
elas podem comprar comida que não foi vendida e por um preço
reduzido. Por sua vez, no Reino Unido, por meio do aplicativo
FareShare FoodCloud, os supermercados comunicam entidades
socioassistenciais cadastradas sobre alimentos disponíveis para
doação.
10
MENU INTERNACIONAL

RECU PERAÇÃO A LIM E NTAR 10.1

Todos os dias, toneladas de alimentos são descartados por


sacolões, supermercados, padarias e restaurantes. Uma parte
substancial desses alimentos está em perfeitas condições de
consumo. Grupos e coletivos que trabalham com “recuperação
alimentar” organizam-se para coletar esses alimentos para
disponibilizá-los à população em situação de insegurança
alimentar e nutricional. Ao fazê-lo, eles também contribuem
com os estabelecimentos comerciais que, de outro modo,
teriam que investir seus próprios recursos para dar destino
adequado aos alimentos não comercializados. Na cidade
de Montpellier, França, o coletivo Association des Jardins
Agroécologiques Partagés (AJAP) reúne-se nas sextas-feiras
à tarde para recolher pães, f rutas e verduras que seriam

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descartados pelas padarias e pequenos mercados do centro
da cidade. Os alimentos recolhidos por voluntários são levados
para a sede de uma organização social parceira e, na manhã do
dia seguinte, disponibilizados para acesso da população em um
parque da cidade. Qualquer pessoa pode pegar os alimentos
disponibilizados, sendo que não há intermediação no processo
de entrega para evitar a reprodução de estigmas sociais.
DOAÇÃO D E COM IDA
P OR RESTAU RA N T E S E S UPE R ME R CAD O S 10.2

Diferentemente do que muitos imaginam, não há impedimentos


legais para que restaurantes e supermercados doem alimentos
caso eles não tenham sido expostos ao consumo. O que a
legislação (Lei n° 8.137) estabelece é a responsabilidade de
qualquer doador por eventuais problemas de saúde que
possam ser originados do consumo de alimento em condição
inadequada. Há quem considere que essa situação desencoraja
a doação, acentuando o problema do desperdício de alimentos.
Assim, na esteira de países que já avançaram nesse tema,
há no Brasil um Projeto de Lei (n.º 8.874/2017) que propõe a
obrigatoriedade de supermercados, restaurantes de grande
porte e estabelecimentos similares doarem alimentos a

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entidades assistenciais, isentando-os de responsabilidade civil
e penal em caso de dano ocasionado ao benef iciário, desde que
não se caracterize dolo e negligência. Desde 2013, a França tem
estimulado um conjunto de ações públicas e privadas no âmbito
do Pacto Nacional de Luta Contra o Desperdício Alimentar.
O país estabeleceu uma lei que obriga supermercados de
grande porte a doarem alimentos que já tiveram sua data de
venda vencida (o que é diferente da validade do consumo do
produto). Os supermercados assinam contratos de doação com
instituições de caridade ou bancos de alimentos e qualquer
cidadão pode, com aprovação do Ministério da Agricultura,
criar uma associação para coletar e distribuir alimentos. Na
mesma direção, restaurantes colocaram em prática estratégias
coletivas, à exemplo de “embalagens anti-desperdício”, próprias
para que os clientes levem para casa as sobras de suas refeições.
SEGUR IDA D E SOC IA L A L I ME NTA R 10.3

Esta ideia ancora-se no conceito de democracia alimentar, que


sustenta o acesso universal a alimentos por pessoas em situações
de vulnerabilidade social, em consonância com o Direito Humano
à Alimentação Adequada. Inspirados no modelo de proteção
social f rancês, pesquisadores propuseram a criação de um
Sistema de Seguridade Social Alimentar. O objetivo é recuperar
o controle dos sistemas alimentares por parte dos habitantes,
com respostas vindas não apenas de cidadãos esclarecidos
ou ativistas, mas com participação do Estado. Na prática, com
base no modelo do sistema de saúde f rancês (Carte Vitale),
um cartão alimentar dá acesso a produtos aprovados no valor
de 150€/mês por pessoa. O acordo baseia-se principalmente
em fundos primários geridos democraticamente a nível local
e ligados a um organismo nacional composto por membros
que representam esses fundos. Assim como o sistema geral de
seguridade social, a política seria f inanciada por meio de um
sistema de contribuições sociais que garante a todos o acesso a
produtos alimentícios ou serviços de restauração provenientes
de produtores, processadores e distribuidores aprovados.

CO MÉ RC IO A M B U L A NT E
DE AL IM EN TOS SAU DÁVE I S 10.4

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Os brasileiros conhecem muito bem a imagem da carrocinha
de cachorro-quente. E se substituíssemos essas estruturas por
“carrocinhas” ou food trucks de alimentos saudáveis, in natura
ou processados, situadas nas estações de metrô e de ônibus, na
f rente de hospitais, em eventos públicos e privados de grandes
dimensões, ou qualquer outro espaço com grande circulação de
pessoas? O comércio ambulante, inclusive de f rutas e verduras,
é uma realidade em muitas capitais brasileiras. A participação
de imigrantes também é uma característica desse mercado. No
entanto, essa prática geralmente é desincentivada, quando não
criminalizada. De outro modo, em Oakland, Estado Unidos, o
programa Licensed Fruteros (Fruteiros Licenciados) trabalha
para reconhecer e prof issionalizar esses trabalhadores, em
geral imigrantes latinoamericanos. Os f ruteiros criaram uma
associação e parcerias com organizações que contribuíram para
a melhoria da sanidade dos alimentos comercializados.
11
NOSSO DELIVERY

PL ATA FORM A S COOPE R AT IVAS


E TR A B A LH O J U STO 11.1

A expansão do consumo de fast food está diretamente


associada a outro fenômeno contemporâneo, a disseminação
das plataformas virtuais de compras, que se amparam em
sistemas de entrega que exploram os entregadores. A busca por
conveniência continuará ditando as práticas de consumo de uma
parcela expressiva da população urbana, sobretudo nos grandes
centros. Portanto, além de regular as grandes plataformas, as
políticas públicas podem estimular o desenvolvimento e adoção
de sistemas alternativos de entrega, favorecendo cooperativas
ou empresas que garantem condições adequadas de trabalho
para os entregadores, à exemplo da Señoritas Courier e da Feme
Express, serviços de entrega realizados por mulheres cis e/ou
pessoas trans em São Paulo ou da Coopale e da Pedal Express em

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Porto Alegre. No Rio de Janeiro, a Junta Local também oferece
um serviço similar para os agricultores locais comercializarem
a produção.
12
BEBIDAS

ÁGUA DA CA SA 12.1

Em diversas cidades brasileiras os restaurantes, bares, padarias,


lanchonetes, hotéis e cafeterias são obrigados a oferecer água
f iltrada para os clientes. Essa prática foi regulamentada por
leis estaduais do Rio de Janeiro, Distrito Federal, Sergipe e
São Paulo. O tema foi parar no Supremo Tribunal Federal em
virtude de uma ação da Confederação Nacional do Turismo que
questiona a gratuidade do serviço em função da necessidade
de f iltragem. Seja como for, a oferta de água adequada ao
consumo não apenas nos estabelecimentos privados, mas
também nos espaços públicos como parques e praças deveria
ser uma prioridade dos governos. Além de estimular a redução
do consumo de bebidas açucaradas, o aumento do consumo de
água é uma medida importante de saúde pública.

NÃO S E RVIM OS RE F RI GE R A NT E S 12.2

Estudos recentes têm demonstrado o rápido crescimento do

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consumo de ref rigerantes e bebidas açucaradas, ao mesmo
tempo em que há uma redução no consumo de leite, por
exemplo. Além de fortalecer os programas públicos de compra
e distribuição de leite e sucos naturais, é urgente desenvolver
mecanismos que desestimulem o consumo de ref rigerantes, a
começar pela retirada dos incentivos f iscais usuf ruídos pelas
empresas do setor instaladas na Zona Franca de Manaus. Outras
medidas de regulação envolveriam a redução do tamanho das
embalagens e acordos voluntários para que os restaurantes
não adotem sistemas do tipo “all-you-can-drink”, nos quais o
cliente paga pelo copo e consome o quanto quiser. Finalmente,
a exclusão de ref rigerantes e bebidas açucaradas de todos os
equipamentos e eventos públicos é uma ação de fácil execução,
em sintonia com as recomendações de saúde pública e com
importante efeito de demonstração.
13
OPÇÕES DE PAGAMENTO

VALE A LIM E N TAÇÃO E R E F E I ÇÃO 13.1

Criado em 1976, o Programa de Alimentação do Trabalhador


(PAT) atende quase 25 milhões de pessoas e 300 mil empresas
no Brasil. Embora seu objetivo inclua a melhoria da qualidade
da alimentação, na maioria das vezes o programa é operado
por meio de empresas facilitadoras tais como Alelo, Ticket,
Sodexo e VR Benef ícios que não regulam o uso dos seus vales.
Assim, uma parcela importante dos recursos do programa –
oriundos da isenção f iscal – não estimula práticas alimentares
saudáveis e sustentáveis. Embora esse problema tenha que
ser tratado em âmbito federal, com mudanças normativas, os
governos municipais podem apoiar sistemas alternativos que,
por um lado, oferecem opções mais baratas (haja vista que
as facilitadoras cobram até 15% para intermediar o sistema) e,
por outro, estimulam o consumo de alimentos adequados. Um
exemplo nesse sentido é a empresa Papayas, criada em 2020 na
cidade de Porto Alegre. Além de baixo custo, seu serviço de Vale

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Alimentação incluía atividades de formação voltadas à melhoria
da segurança alimentar e nutricional dos trabalhadores. Para os
trabalhadores, por sua vez, ofertava opções de estabelecimentos
conveniados com “comida de verdade”, privilegiando
estabelecimentos que ofertam alimentos orgânicos e excluindo
restaurantes que trabalham com sistemas de buffet (em razão do
desperdício) ou que ofertam muitos alimentos ultraprocessados.
VALE-F E IRA 13.2

Guarapari no Espírito Santo, Franciscópolis e Serro em Minas


Gerais, Lauro Muller em Santa Catarina, Bom Retiro do Sul e
Santiago no Rio Grande do Sul são apenas alguns exemplos
de cidades brasileiras que implementaram tickets ou “vales-
feira” para o incentivo da compra de alimentos diretamente dos
agricultores familiares. Destinados a ampliar o acesso a alimentos
f rescos, saudáveis e locais, tais iniciativas têm resultado em
leis municipais com distintos formatos e características. De
maneira geral, elas buscam incentivar a produção e o consumo
local de alimentos por meio de uma bonif icação em dinheiro
aos funcionários públicos, os quais têm seus vales-refeição
complementados com valores exclusivos para consumo nas
feiras municipais. Na cidade do Goiás (GO), por exemplo, o vale-
feira é distribuído para populações em situação de insegurança
alimentar para ser usado em barracas de produtores da reforma
agrária, localizada em uma feira em bairro popular.

Cardá pio de idei as pa ra polí ti cas a li m enta res nas ci da des


RESÍ D U OS ORG Â N ICO S PO R D I NHE I R O 13.3

Na cidade de Santiago (RS) a prefeitura criou uma moeda


social chamada Pila Verde. A iniciativa articula economia
solidária e meio ambiente por meio do pagamento pela coleta
e reaproveitamento do resíduo orgânico, o qual é transformado
em adubo para o cultivo local de alimentos da agricultura
familiar. Cada 5kg de resíduo orgânico doméstico é trocado
por 1 pila (equivalente a 1 real), que pode ser utilizado nas feiras
orgânicas locais e em outros empreendimentos parceiros. A
prefeitura compra o resíduo e produz o adubo orgânico, que é
vendido aos agricultores locais por R$ 30 a tonelada, ou seja, ou
seja, R$ 60 mais barato que o valor do mercado.

CASHB AC K 13.4

Este mecanismo que permite aos consumidores recuperarem


parte do dinheiro gasto nas compras tem se generalizado no
setor privado. No Brasil, seu uso nas políticas públicas passou
a ganhar atenção a partir da inclusão do cashback no projeto
de lei sobre a reforma tributária. A proposta encaminhada

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em 2024 pelo governo federal ao Congresso, regulamenta a
devolução de uma parcela dos tributos pagos sobre o consumo
para famílias com determinado valor máximo de renda
mensal e inscritas no Cadastro Único. Essa política pode ser
expandida pelos municípios com vistas a ampliar o percentual
de devolução quando as compras ocorrem, por exemplo, em
estabelecimentos ou espaços que promovem a alimentação
saudável e sustentável.
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