FILOSOFIA
Origens da Teoria do Conhecimento
A teoria do conhecimento desde sempre procurou responder às seguintes questões
epistemológicas:
➔ Em que consiste conhecer?
➔ Que tipos de conhecimento existem?
➔ Qual a estrutura do ato de conhecer?
➔ Será o conhecimento possível?
➔ Quais as fontes seguras do conhecimento humano?
O conflito entre conhecimento intelectual e conhecimento sensível intensificou-se com
Platão e Aristóteles. Platão defende o conhecimento pela via intelectual, enquanto
Aristóteles reconhece o papel dos sentidos na aquisição do conhecimento.
!! A ilusão de que aprendemos a realidade é um engano da maioria dos seres humanos.
Tipos de conhecimento:
I. Conhecimento por contacto - conhecimento que exige um contacto presencial entre
sujeito e objeto;
● ex: Saber que o Luís é moreno.
II. Saber-fazer - conhecimento que exige o exercício de uma habilidade prática com
pouco envolvimento intelectual;
● ex: Saber conduzir um carro.
III. Conhecimento proposicional - conhecimento que designa o conhecimento de
verdades por parte do sujeito.
● ex: Saber que Lisboa é a capital de Portugal.
Explicação Fenomenológica
➔ estuda os elementos e estruturas do fenómeno do conhecimento.
➔ sujeito e objeto são elementos indispensáveis ao conhecimento, no ato de conhecer
o sujeito e o objeto permanecem separados.
Objetivo: descrever aquilo que se passa a nível do conhecimento do sujeito e como é que o
sujeito consegue transformar objetos do mundo em objetos do conhecimento.
OBJETO REAL OBJETO IDEAL
-fora da consciência ➝ -dentro da consciência
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Conhecer: transformar objetos reais em objetos ideais
➔ sujeito e objeto têm uma relação de correlação e dá-se em oposição
(transcendentes);
➔ não são permutáveis;
➔ a consciência é sempre intencional e visa sempre um determinado objeto;
cognoscível - objeto
cognoscente - sujeito
➔ A fenomenologia mostra que no ato de conhecer o sujeito nunca fica na posse do
objeto.
CONDIÇÕES PARA QUE HAJA CONHECIMENTO:
1. Não há conhecimento sem verdade.
2. Não há conhecimento sem crença.
3. Não há conhecimento sem justificação racional.
➔ A definição tradicional defende que o conhecimento exige uma crença verdadeira
justificada.
O sujeito (S) está na posse de conhecimento (P) se e só se:
➔ P é verdadeiro.
➔ S acredita em P.
➔ S justifica racionalmente a crença em P.
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Objeções:
➔ Alguns pensadores defendem que há crenças verdadeiras que, apesar de não
estarem plenamente justificadas para o sujeito, devem ser consideradas
conhecimento.
➔ Alguns pensadores defendem que há crenças verdadeiras justificadas que não
constituem conhecimento.
Não podemos aceitar que uma justificação incorreta, ainda que corresponda a uma
crença verdadeira, faça desse saber um verdadeiro conhecimento.
➔ acreditar numa verdade justificada pelas razões erradas não pode ser
considerado um conhecimento.
Possibilidade do conhecimento
➔ Será o conhecimento possível?
➔ Quais são as fontes do conhecimento humano?
As posições mais radicais são as que assumem que não é possível conhecer - ceticismo
A posição inversa, que assume que o conhecimento não é problemático mas evidente, e
que pois essa razão, a impossibilidade de conhecer não se coloca - dogmatismo
Dogmatismo
Crença na possibilidade de conhecer a verdade de forma evidente.
O dogmatismo ignora que no ato de conhecer, o sujeito nunca se apodera do objeto.
O defensor do dogmatismo não compreende o carácter relacional do conhecimento.
crê, sem fundamento, que os objetos nos são simplesmente dados
O estudo dos valores demonstra que o dogmatismo ingénuo não faz sentido, caso contrário
os valores deveriam ser coincidentes em todas as culturas.
O dogmatismo ingénuo nega a consciência avaliadora do ser humano e atribui um papel
passivo ao sujeito cognoscente.
➔ hoje em dia a postura do dogmatismo ingénuo não é aceitável.
➔ aceitar que o conhecimento em geral é dogmático constitui uma confiança inabalável
nas capacidades racionais do ser humano (não é compatível c/ a atitude filosófica
moderna).
Ceticismo
Descrença na possibilidade de conhecer a verdade absoluta.
Sistemático: Metódico:
➔ posição cética radical que defende ➔ posição cética especial que
por sistema que o ser humano não defende a descrença provisória no
pode conhecer a realidade conhecimento como forma de
certificação e correção do erro.
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➔ O ser humano nunca consegue justificar as suas crenças, pelo que se deve abster
de julgar.
➔ Para alguns pensadores, o desacordo mostra que o ser humano não é capaz de
conhecer, caso contrário já teríamos chegado a acordo em relação a muitas
controvérsias.
CRÍTICAS
1. A posição do ceticismo radical é indefensável, dado que se para esta posição não é
possível conhecer, então também não deve ser possível saber-se que não podemos
conhecer. - Contraditório
2. O ceticismo radical é vítima de si mesmo e contradiz a percepção cognitiva que
temos da realidade.
3. No ceticismo moderado nunca podemos ter um conhecimento rigoroso, mas isso
não implica que não exista conhecimento.
ORIGENS DO CONHECIMENTO
conhecimentos a priori: (razão)
➔ independentes da experiência;
➔ são universais e necessários.
➔ não dependem dos dados da sensibilidade.
conhecimentos a posteriori: (experiência)
➔ dependem de comprovação experimental e da intervenção dos órgãos sensoriais;
➔ são contingentes;
➔ podem ser válidos em determinadas circunstâncias e inválidos noutras.
Priori - conhecimento universal e necessário, constitui-se unicamente pela via racional, não
deriva diretamente da experiência e é dedutivamente válido.
Posteriori - conhecimento contingente que resulta do raciocínio indutivo e exige
comprovação experimental.
Racionalismo
Defendem os conhecimentos a priori.
A fonte segura para o conhecimento é a razão.
A validade dos raciocínios fundados exclusivamente na razão é universal.
Postura que vê no pensamento a origem segura do conhecimento.
➔ A contingência dos juízos a posteriori leva os defensores do racionalismo a não
confiarem nos sentidos como fonte segura para o conhecimento.
Platão: a realidade sensível é transitória e enganosa, o conhecimento da verdade não pode
ser obtido pelos sentidos, só podemos conhecer a verdade pela via racional.
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Empirismo
A única fonte segura de conhecimento são os sentidos.
O conhecimento depende dos dados a posteriori.
O conhecimento não pode derivar da razão, pois esta não possui qualquer tipo de
informação.
O espírito humano não tem ideias inatas e é, por natureza vazio.
Para os empiristas, o espírito humano é como uma folha de papel em branco, onde a
experiência, através dos sentidos, inscreve a realidade.
O empirismo defende a primazia das ciências naturais e da experiência.
➔ A maioria dos pensadores empiristas defende que a matéria do conhecimento só
pode derivar da nossa sensibilidade e que, mesmo as ideias que a nossa mente
possa ter a pretensão de criar sem o recurso direto à experiência, dependem dela
indiretamente.
➔ Para os empiristas, não há ideias inatas e a mente, sem a atividade sensorial, é
vazia.
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Determinismo
O Determinismo põe em causa o uso do livre-arbítrio. Defende que o ser humano quando
age não faz um uso pleno da sua liberdade.
O Determinismo Radical defende que a ordem dos acontecimentos se rege por leis naturais,
não existe o livre-arbítrio e todos os acontecimentos estão determinados. Conhecendo o
atual estado da realidade e dominando as leis naturais é possível prever os acontecimentos
futuros.
Livre-arbítrio: capacidade de agir e de se determinar livremente; liberdade de escolha;
domínio sobre os próprios atos. Teoria/ doutrina filosófica de acordo com a qual o ser
humano tem liberdade e poder para escolher as suas próprias ações.
Segundo os deterministas, o conhecimento científico funda-se no postulado de que as leis
naturais são constantes no tempo, daí ser possível ao cientista prever o comportamento da
matéria.
Não é só o conhecimento científico que obedece aos princípios do determinismo, os nossos
relacionamentos com os outros também são até certo ponto previsíveis.
Postulado - algo que se considera como facto reconhecido, como verdade indemonstrável
mas certa e necessária, princípio que se admite sem discussão.
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➔ O determinismo é difícil de demonstrar quando aplicado à ação humana, dada a sua
complexidade.
➔ Os defensores do determinismo sustentam que a dificuldade que sentimos ao tentar
demonstrar a aplicação prática desta teoria reside no facto de desconhecermos a
totalidade das leis da natureza.
➔ Não conseguir compreender o funcionamento de todas as leis da natureza não
implica, porém, que o determinismo não exista.
Os deterministas acusam os defensores do livre-arbítrio de uma presunção contraditória:
- por um lado acham que todas as coisas se regem por leis constantes, pois só assim
se pode escolher prevendo o resultado da ação;
- por outro, acham que somos a única realidade que escapa às leis constantes do
universo.
Os deterministas defendem que o livre-arbítrio é uma ilusão, pois, dado que nenhum ser
humano é capaz de conhecer todas as leis naturais, julga que as coisas se desenrolam
em função das suas decisões.
A LIBERDADE É APENAS APARENTE
Críticas:
➔ Os deterministas partem do pressuposto que as leis são universais, ou seja, que se
aplicam a todos os casos. E se esse pressuposto não for verdadeiro?:
◆ Será que os princípios e as leis que conhecemos podem aplicar-se a
todo o universo, inclusivamente aos seres humanos, de forma
constante?
➔ Não é absolutamente necessário que as leis naturais sejam aplicáveis de forma
universal a tudo quanto existe.
➔ Não podemos estar absolutamente seguros de que as leis naturais, aplicáveis a todo
o universo, são também aplicáveis ao caso específico da ação humana.
➔ É com base no princípio da constância das leis físicas e naturais que é possível
sustentar a previsibilidade dos acontecimentos:
◆ se imaginarmos um mundo onde não é possível conhecer o funcionamento
das regras que regulam a matéria, é de todo impossível produzir
conhecimento científico seguro.
◆ qualquer tentativa de controlar ou prever fenómenos naturais estaria, à
partida, condenada, já que a ciência ganha sentido porque se parte do
princípio que as leis são constantes.
Mesmo que aceitássemos o determinismo, não poderíamos demonstrar a perenidade das
leis naturais.
Os deterministas poderiam defender que apesar de não se demonstrar que as leis naturais
funcionam para sempre e em todo o universo, é certo que funcionam por um determinado
tempo e numa determinada realidade.
Mas isso seria o equivalente a assumir que o determinismo radical não existe.
Tanto a argumentação utilizada pelos defensores do determinismo como as críticas
apontadas são limitadas, pois muito dificilmente poderão ser demonstradas.
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A maior parte das pessoas facilmente concorda com o determinismo quando este se aplica
às realidades físicas inertes. Contudo, quando o determinismo é aplicado à ação humana
não colhe a mesma aceitação.
Nada nos garante que os princípios que regem o universo inanimado são os mesmos que
regulam a ação humana.
ARGUMENTOS A FAVOR DO ARGUMENTOS CONTRA O
DETERMINISMO DETERMINISMO
Da análise do estado atual das coisas e do Não é possível demonstrar que o
conhecimento das leis da natureza é possível determinismo se aplica a todas as realidades
prever todos os acontecimentos futuros. do universo de forma constante e uniforme.
Se o determinismo é apenas parcialmente
válido, é uma teoria pouco consistente.
O livre-arbítrio é uma ilusão que resulta da
nossa dificuldade em compreender as leis da Apesar de podermos aplicar as leis
natureza que nos determinam. deterministas a todo o universo, nada garante
que estas regras sejam aplicáveis ao ser
humano
Libertismo
Esta corrente filosófica não é compatível com o determinismo, uma vez que defende que
existe liberdade de escolha e que o ser humano tem domínio sobre os seus próprios atos.
Considera que o ser humano possui livre-arbítrio.
Argumento da experiência:
Independentemente das escolhas que fazemos, temos sempre a noção de que podíamos
ter escolhido de outra forma, o que implica que a possibilidade de escolher está ao
alcance do ser humano.
Há ainda uma teoria que diz que o ser humano não pode escolher deixar de ser livre.
Está condenado a ser livre, de tal modo que,ainda que tentasse escolher não o ser, essa
seria apenas mais uma expressão da sua liberdade.
Argumento da experiência:
Os libertistas apontam uma crítica ao determinismo acerca da responsabilidade que se
coloca na cadeia causal de acontecimentos, quando consideramos que é esta que nos leva
a agir de certa forma:
➔ podemos ser responsabilizados por uma ação que não escolhemos praticar?
➔ será justo sermos castigados ou responsabilizados pela nota que tivemos num teste
se sabemos que o resultado não podia ter sido diferente?
Se aceitarmos esta teoria estamos a desresponsabilizar o ser humano pelas suas ações.
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Para os libertistas:
➔ o ser humano só não pode deixar de ser livre;
➔ se partíssemos de uma concepção determinista, podíamos atribuir toda a
responsabilidade das nossas ações à cadeia causal dos acontecimentos;
➔ o agente é sempre responsável pelas suas ações, dado que é livre;
➔ como ser responsável devo estar sempre à altura do que me acontece.
➔ o ser humano só pode exercer o livre-arbítrio se existirem possibilidades de escolha.
Deste modo, somos sempre livres e, consequentemente, sempre responsáveis.
Críticas:
1. Dizer que temos consciência de que agimos de acordo com a nossa vontade não é
o mesmo que afirmar que somos livres.
2. A liberdade pode ser apenas uma ilusão.
3. Na grande maioria das nossas ações somos condicionados por fatores internos e
externos.
4. A mera consciência de que poderíamos ter agido de outra maneira pode resultar
numa sensação aparente e ilusória de liberdade.
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Compatibilismo (determinismo moderado)
O compatibilismo defende que não é pelo facto de o ser humano estar sujeito à causalidade
natural que se anula a sua possibilidade de escolha (a sua liberdade).
Segundo os compatibilistas é possível encontrar uma série de acontecimentos onde a
liberdade coexiste com as leis que regulam o universo.
➔ A possibilidade de coexistência da liberdade com a causalidade natural não é
absurda.
➔ Segundo os compatibilistas, sem a causalidade natural a liberdade não seria
nopossível, pois o agente deixaria de conseguir prever as consequências das suas
ações.
Ao mesmo tempo que é detentor de liberdade, o ser humano não pode escapar à influência
de alguns fatores que têm um enorme peso sobre a sua escolha. Contudo, não podemos
considerar esses fatores como determinantes da ação, mas sim condicionantes.
Condicionantes da Ação Humana
➔ Muitas das escolhas que fazemos são claramente influenciadas pela forma como
fomos educados e da cultura na qual crescemos - condicionantes culturais.
➔ Cada momento histórico tem o seu ritmo e o seu modo específico de viver. Por outro
lado, há acontecimentos que mudam para sempre as nossas escolhas e
condicionam as nossas opções - condicionantes históricas.
➔ Consideram-se condicionantes físico-biológicas as características genéticas e
morfológicas que afetam as nossas escolhas.
➔ As condicionantes físicas podem ser atenuadas pelo nosso domínio das leis
naturais, mas não podem ser anuladas.
➔ Os estados psicológicos têm uma influência determinante nas decisões, o que
condiciona a liberdade.
O estado psicológico ou emocional do indivíduo tem uma enorme influência:
● na forma como este se empenha em determinada tarefa;
● nas decisões que toma;
● no seu desempenho durante a realização de tarefas.
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DETERMINISMO LIBERTISMO
Ser livre é poder agir independentemente Ser livre é poder exercer a liberdade de
da influência das cadeias causais de escolha.
acontecimentos.
Não podemos escapar à cadeia causal que Somos responsáveis por todas as nossas
nos determina. escolhas.
Logo, o ser humano não é livre. Logo, o ser humano é livre.
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COMPATIBILISMO
O ser humano é condicionado na sua liberdade.
As condicionantes da ação humana não determinam, de forma absoluta, as suas
escolhas.
Logo, o ser humano não é totalmente determinado, mas não pode libertar-se das
condicionantes que o influenciam.
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