A MÍDIA E A ESFERA PÚBLICA
2.1 Contextualizando
Já se deu conta da importância dos meios de comunicação nas nossas vidas? Eles
estão presentes no nosso dia a dia, e estamos sempre consumindo mídia, ou seja,
vendo a programação da televisão, lendo jornal, ouvindo aquela emissora preferida de
rádio ou navegando pelas ondas da Internet.
O desenvolvimento dos meios de comunicação que chamamos de massa, por
causa do seu longo alcance e para um público muito grande, para milhões de
pessoas, não aconteceu rapidamente. Foram séculos, desde a impressão criada por
Gutenberg (assunto que você estudou no capítulo anterior) até os nossos dias. Por
isso, desembarcamos novamente na Europa para entendermos como tudo isso
aconteceu. Viaje novamente conosco!
Foi no continente europeu que o processo de crescimento e difusão dos
meios de comunicação se deu e se consolidou. Lá também encontramos o
surgimento do jornal e do conceito de espaço público ou esfera pública. Neste
capítulo, viajaremos também para o continente americano, onde surgiram as
primeiras teorias, algumas escolas e correntes de pensamentos no âmbito da
comunicação.
Nos Estados Unidos, mais precisamente na Universidade de Chicago, surgiram
os primeiros estudos da comunicação e experiências, como também o impacto da
recepção da informação. É o que denominamos de estudos das teorias da
comunicação de massa.
2.2 Conhecendo a teoria
2.2.1 O desenvolvimento dos meios de comunicação
Na Europa, com a abertura de novas estradas e vias de acesso, a
circulação de meios de transporte por meio da tração animal aumentou e
foram abertas rotas comerciais. Com isso, surgiu o serviço postal, os correios,
como conhecemos hoje!
Os correios nasceram das necessidades comerciais, como também das
necessidades políticas. No que se refere ao comércio, era necessário que os
mercadores estivessem a par da produção, da chegada de mercadorias e das
taxas de câmbio das diversas cidades europeias.
O comércio e os bancos contribuíram para a criação de serviços postais
regulares no início dos tempos modernos. Segundo Gontijo (2004), o rei Luís
XI (1461-1483) formou a rede dos correios reais, que, a partir de Henrique II
(1547-1589), passou a distribuir também correspondências privadas.
Além do desenvolvimento dos correios na Europa, é importante
destacarmos a periodização das notícias e a circulação dos jornais informativos.
Saber da última notícia, da fofoca, da informação oficial e das novidades do
comércio, enfim, tudo que fosse para estar bem informado, foi sempre um
desejo do indivíduo, pois ele está inserido no contexto social. A notícia pode ser
definida como uma nova informação a respeito de um assunto que possui algum
interesse público e coletivo. Eis a função da notícia: informar o público.
Durante o século XV, segundo Stephens (1993), boletins informativos
manuscritos começaram a circular pouco a pouco, por alguns caminhos pelos
quais as cópias das acta haviam seguido mais de uma dúzia de séculos antes.
O autor cita a morte do sultão Mohammed II, em 1481, que foi relatada por meio
de uma carta informativa enviada por um italiano em Constantinopla a seu
irmão, na Europa Ocidental. Parece que o cronista francês Philipe de Commynes
viu uma cópia dessa carta em Veneza; a carta foi traduzida para o francês e uma
cópia, que ainda existe, foi feita em Flandes, ao mais tardar em 1483, para
Eduardo, Príncipe de Gales.
As grandes mudanças da imprensa no mundo aconteceram nos séculos
XVIII e XIX. Os primeiros meios de comunicação, o jornal impresso é um deles, têm
uma contribuição de destaque na história. Marcondes Filho (2000, p. 48), ao fazer
uma classificação da História do jornalismo assinala as cinco etapas distintas do
jornalismo: O jornalismo Pré-histórico (1631-1789), considerado artesanal; o
primeiro jornalismo (1789-1830), de teor político-literário; o segundo jornalismo
(1830-1900), denominado como imprensa de massa; o terceiro jornalismo (1900-
1960), assinalado como imprensa monopolista e, por fim, o quarto jornalismo (1970-
até os nossos dias), sendo este o jornalismo de informação eletrônica e interativa.
O contexto histórico do jornalismo possibilita analisar e estudar, por meio
de vários enfoques, a história da sociedade. Os jornais são registros de um
tempo, de uma era. Desse modo, diversos pesquisadores se apropriam de
métodos de estudos para entender a história. Destacamos Certeau (1982)
investigando as práticas do cotidiano, do dia a dia, como também Chartier
(1990) que, por meio das práticas culturais e a maneira de identificar os
diversos lugares, consegue relatar as práticas de uma sociedade.
No Brasil, os estudos das práticas culturais, sobretudo da imprensa
brasileira, são registros importantes e que relatam a história dos impressos e a
formação do leitor. Diversos autores, segundo Barbosa (2004), são relevantes na
análise da história do Jornalismo do nosso país. Podemos destacar as obras de
Rizzini (1977), Lima Sobrinho ( 1923 ) e Sodré ( 1999), como também outros
autores que trazem uma abordagem mais recente da imprensa do Brasil como
Capelato (1994) e Mello (1973).
Os jornais, de maneira geral, registram, diariamente, a história, o
movimento da sociedade e dos cidadãos comuns, esquecidos com o passar dos
anos. Eles remetem a um passado e narram a história, localizada, periférica e
desprovida de “grandes vultos”, comum à historiografia tradicional. Esses
jornais trazem marcas e resquícios de uma época. Desse modo, a imprensa
desempenha a função de reconstituir a história de um dado lugar e de um
dado período.
Portanto, por meio dessa nova abordagem dos estudos da imprensa, os jornais até
então eram vistos apenas como um simples registros dos fatos, do dia a dia, do
factual, vinculado às estruturas macroeconômicas. No entanto, esse novo olhar deu
uma nova dimensão ao papel dos jornais como fontes históricas, segundo Barbosa
(2004).
De acordo com Capelato (1994, p. 3)
os jornais são fontes históricas,
CURIOSIDADE como também manancial dos
mais férteis para o
O primeiro jornal brasileiro foi o conhecimento do passado,
Correio Braziliense (armazém pois possibilitam ao historiador
literário - 1808), fundado por acompanhar o percurso dos
Hipólito José da Costa. Ele era homens através do tempo.
impresso na Inglaterra e tinha
Desse modo, os jornais
uma tiragem de 200 a 800 são registros históricos e
exemplares. Nas suas páginas, fontes inesgotáveis de
havia reflexões sobre a política pesquisa, pois é possível
compreendermos uma
sociedade por meio das páginas dos jornais.
Sobre os jornais como registros históricos, Barbosa (2004, p. 4) alerta que “é
preciso perceber que qualquer história é reinterpretação, reinvenção, reescritura”.
Não há possibilidade de recuperação do passado tal como ele aconteceu, pois o
regaste ou a reconstituição de um fato é uma interpretação ou visão de alguém
que está reinterpretando esse passado.
O passado é inteligível nas fímbrias das narrativas que ele mesmo
compôs. O que o historiador faz é um ato ficcional, não no sentido
de que aquilo que descreve não tenha se dado, mas considerando
sempre o grau de invenção, composição, interpretação, inserção do
sujeito pesquisador que compõe a história a ser interpretada. Não
há possibilidade de isenção diante de qualquer construção
humana (BARBOSA, 2004, p. 34)p
Foi a partir do surgimento da imprensa escrita, ou seja, do jornal, que houve a
proliferação e massificação da informação. O jornal teve um papel relevante na
propagação da informação, como também no nascimento da Publicidade.
A massificação dos meios de comunicação de massa, como o jornal, por
exemplo, fez surgir o que se denomina de esfera pública. Esses primeiros
jornais foram batizados de “jornais políticos”. Segundo Habermas (1984, p.12),
“os beneficiários das correspondências privadas, os comerciantes, não tinham
interesse em que o conteúdo delas se tornasse público”.
Com a proliferação dos jornais, a troca de informações desenvolve-se não
só em relação às necessidades do intercâmbio de mercadorias: as próprias notícias
se tornam mercadorias. Por isso, “o processo de informação profissional está
sujeito às mesmas leis do mercado, a cujo surgimento elas devem, sobretudo, a
sua existência”, disse Habermas (1984, p.13). Esse autor trouxe o conceito de
espaço público e ele assinala que foi com o estabelecimento do Estado burguês
de Direito, como também legalização de uma esfera pública politicamente
ativa, que a imprensa passou a “assumir as chances de lucro de uma empresa
comercial”. Então, o jornal assumiu o caráter de um empreendimento que
oferece anúncios como se fossem mercadorias e esses espaços tornam-se
vendáveis por meio das partes reservadas à redação.
O rádio também se tornou um espaço de debates públicos. Para
entendermos melhor a mídia rádio, convidamos você para embarcar nas ondas
do rádio, uma viagem na história desse meio de comunicação. Vamos nessa!
2.2.2 A origem do Cinema: a sétima arte
O cinema é conhecido como a Sétima Arte! Afinal, ele seduz e encanta
plateias no mundo inteiro. Quem não gosta de ver um bom filme e viajar pelas
histórias que são exibidas na sala escura? Todo mundo!
A sétima arte surgiu no final do século XX, mais precisamente em 28 de
dezembro de 1895, na cidade de Paris. De acordo com Bernardet (1993), um
homem que atuava com ilusionismo, Georges Méliès, procurou os irmãos
Auguste e Louis Lumiére, os inventores do cinema, com o objetivo de adquirir
uma máquina, o cinematógrafo, para seus espetáculos no teatro. Os irmãos
assinalaram que tal aparelho “não tinha o menor futuro como espetáculo, era
apenas um instrumento científico para produzir o movimento e só poderia servir
para pesquisas”. (BERNARDET, 1993, p.10).
O cinematógrafo é um aparelho que deu origem ao cinema e foi inspirado
na engrenagem de uma máquina de costura. Ele registrava a “impressão de
movimento”, por meio de seqüências de fotografias em movimento que
possibilitava a sensação e ilusão de uma imagem em real por meio de uma
projeção. (DALPIZZOLO, 2011).
As primeiras projeções aconteceram no Grand Café, na cidade de Paris, na
França. Foram mostrados filmes curtos sem áudio e imagens em branco e preto.
“Um em especial emocionou o público: a vista de um trem chegando na estação”.
(BERNADERT, 1999, p.12). O filme exibido assustou a platéia porque a locomotiva
surgia ao longe, no fundo da tela, e posteriormente ocupava a tela inteira, dando
a sensação que iria sair da tela e invadir o local de exibição.
Os filmes produzidos pelos irmãos Lumiére eram curtos, “possuíam
aproximadamente três minutos cada, foram apresentados para um público de
cerca de 30 pessoas”. (DALPIZZOLO, 2011). O cinema, desde então, começou a
explorar o que Bernardet (1999, p.12) denomina de “impressão da realidade”. Essa
ilusão da realidade foi provavelmente, segundo o referido autor, “a base do
grande sucesso do cinema”. Nesse cenário, a sedução e a ilusão de imagens,
como também o casamento de imagem e som atraem platéias do mundo inteiro.
O cinema é a sétima arte, a ilusão do real! Uma realidade em que viajamos e
vivemos momentos de alegria, de tristeza e de emoção.
2.2.3 A origem do rádio
O rádio surgiu no final do século XIX por causa da necessidade da
comunicação a distância. Em busca desse desejo, várias tentativas foram
realizadas com esse objetivo, sobretudo por meio da teoria eletromagnética que
permitia uma possível comunicação a longa distância. No entanto, segundo
Ortriwano (1985), foi em 1870 que um físico escocês, James Clek Maxwell,
comprovou por meio de estudos teóricos, a possibilidade de comunicação à
distância.
BIOGRAFIA No final do século
AA XIX e início do
James Clerk Maxwell nasceu em 13
Século XX, as
de junho de 1831 em Edimburgo,
teorias
cidade da Escócia. Ele é mais conhecido
eletromagnéticas
por ter dado a sua forma final à teoria foram
moderna do eletromagnetismo, que une comprovadas por
a eletricidade, o magnetismo e a óptica. meio dos estudos
Esta é a teoria que surge das Heinrich Hertz,
equações de Maxwell, um cientista
assim chamadas em sua honra. alemão. Seu
nome deu origem
à nomenclatura freqüência Modulada (FM) no rádio. Os estudos e testes
desenvolvidos pelo alemão foram importantes para o desenvolvimento do
telégrafo e posteriormente para outros meios de comunicação como o
próprio rádio e depois a televisão.
No entanto, é importante registrar os estudos e os experimentos do Padre
Roberto Landell de Moura. Ele fez teste e inventou o transmissor de ondas, o
telefone sem fio e o telégrafo também sem fio. Em 1904, nos Estados Unidos da
América ele fez o registro das suas criações. Além desses inventos, ele foi o pai
da válvula de três eletrodos, componente fundamental para o processo de
desenvolvimento da radiodifusão.
Na segunda metade do século XX, o rádio notadamente passou a se
caracterizar como um meio de comunicação de massa. Ele logo se proliferou
pelos quatro cantos do mundo. Nesse período, a telegrafia sem fio já estava
presente por meio da transmissão de telegramas entre as pessoas por meio de
sinais de ponto e a utilização do código Morse.
SAIBA QUE
O código morse é um sistema de As
representação por meio de letras,
números e sinais de pontuação,
desenvolvido por meio de um sinal
codificado enviado com interrupções.
Esse código foi desenvolvido por Samuel
Morse, em 1835, considerado o criador do
telégrafo elétrico, um aparelho que utiliza
correntes elétricas que funcionam para
emissão ou recepção de sinais.
transmissões da voz humana, como também de música, só foram possíveis por
meio do invento de Lee DeForest, americano que criou a válvula de triodo.
Graças a ele, foi possível transmitir músicas para vários lugares
(ORTRAWIANO, 1985).
Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o
desenvolvimento do rádio sofreu uma ruptura. Até então já era possível ouvir
notícias, músicas e boletins informativos. No entanto, as forças armadas dos
países em conflito logo se apropriaram do rádio com outros objetivos: usar o
rádio com fins militares e não mais como informação e entretenimento.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o rádio voltou a ser explorado, mas
no espaço doméstico, ou seja, em casa, como meio de comunicação entre
pessoas. Foi o uso do radioamadorismo, como conhecemos hoje, que possibilitou
a comunicação a distância.
No Pós-guerra, o rádio ficou sob a tutela do Estado, principalmente na
Europa. A estação British Broadcasting Corporation passou a ser chamada de
BBC, em 1926.
Nos Estados Unidos, por sua vez, as emissoras de rádios estavam sob o
poder privado. Segundo Ortriwano (1994), em 1925 já existiam nos Estados
Unidos 556 emissoras de rádio e, em 1925, 4 milhões de rádio receptores
espalhados por todo o país.
No nosso país, nesta época, surgiram clubes de radioamadores. Por meio do
Gramofone (veja a figura 4, a seguir) grupos de pessoas se reuniam para ouvir
gravações e músicas em diversos locais. Era o
SAIBA QUE
O gramofone é uma invenção de 1887,
do alemão Emil Berliner. O aparelho
reproduzia som gravado utilizando um
disco plano. Como as antigas radiolas
com seus discos de vinil. Funcionava
com cilindro giratório coberto com cera
em que são gravadas por uma agulha
as vibrações de um som emitido e
afunilado em uma corneta,
interligada a uma lâmina que
surgimento dos clubes de radiouvintes.
No tocante ao surgimento rádio no Brasil, há controvérsias acerca da primeira
estação de rádio. Vários autores divergem sobre esse fato. Alguns afirmam que a
rádio chegou no Brasil na cidade de Recife, no ano de 1919. Era a Rádio Clube
de Pernambuco. No entanto, oficialmente, destacamos a Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro, inaugurada em 1922. Porém, alguns estudiosos assinalam que foi no
Recife o berço do rádio.
A professora Gisela Ortriwano (1985, p. 34) afirma que o rádio, no Brasil,
nasceu em Recife, no dia 6 de abril de 1919, quando, com um transmissor
importado da França, foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco, por
Oscar Moreira Pinto.
Portanto, os registros históricos e diversos pesquisadores afirmam que
oficialmente o rádio começou a fazer parte da vida dos brasileiros a partir do ano de
1922, com a inauguração oficial da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, capital do
país, que transmitiu o discurso oficial do presidente do Brasil, Epitácio Pessoa.
Para esse evento foram importados equipamentos da empresa norte-
americana Westinhouse. Foram cerca de 80 receptores colocados em diversos
locais da cidade do Rio de Janeiro e um, em especial, no Alto do Corcovado com
cerca de 500 watts. Depois o equipamento foi utilizado para transmitir as óperas
realizadas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Esse cenário despertou o
interesse de artistas e intelectuais para o veículo rádio, como Edgar Roquete
Pinto. (BATISTA; BRITO; SOUZA, 2005).
SAIBA QUE Considerado o Pai do
rádio brasileiro, Roque Pinto, criou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com o
objetivo de integração nacional e disseminar a cultura brasileira, sobretudo por meio
da música e eventos na capital do Brasil.
Inicialmente um veículo de elite, logo o rádio se propagou e se alastrou pelo Brasil
inteiro, tornando-se um meio de comunicação popular e de fácil recepção. De
acordo com Ortriwano (1984), em 1932, foi permitido o uso da publicidade e,
conseqüentemente houve o barateamento da programação e difusão do meio
radiofônico pelo país.
No que se refere á sua programação, o rádio veiculava óperas, palestras e
concertos. Muitos discos eram emprestados pelos próprios ouvintes. Desse modo,
outras emissoras surgiram e se tornaram estações estatais, como a Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro..
2.2.4 A rádio MEC fazendo história
A rádio sociedade do Rio de Janeiro passou por várias crises nas suas
finanças, pois veiculava publicidade. Para continuar operando, teria que reformular
sua programação e voltar-se para o mercado, contrariando a missão de ser uma
rádio educativa e cultural.
Com fins exclusivamente artísticos, técnicos, científicos e voltada à
educação popular. Em sua fundação foi bem clara a idéia de que
a sociedade jamais se envolveria em nenhum assunto de natureza
política, profissional, industrial ou comercial (RÁDIO MEC, 2010).
Em maio de 1936, a rádio Sociedade do Rio de Janeiro, localizada na rua da
Carioca, número 45, estava funcionando sem prejuízos financeiros, por meio do
decreto de nº 20.047, que estabelecia a transformação da rádio em uma
emissora comercial, pois determinava a transformação da emissora em
companhia comercial, exploradora de publicidade, contrariando os seus
objetivos e ideais.
A solução foi cumprir o último ato dos estatutos que dizia que
na impossibilidade de continuar dentro de seu princípio básico, a
rádio seria entregue ao governo. Ficou decidido entre Roquette-
Pinto e o Ministro Gustavo Capanema, titular do Ministério da
Educação e Saúde, que a Rádio Sociedade passaria para o
controle do Ministério de Educação e Saúde e que se manteria
dentro do seu objetivo de desenvolvimento cultural, sem nenhum
ônus para o Governo (RÁDIO MEC, 2010).
Desse modo, em 07 de setembro de 1936, a rádio sociedade passava para o
controle do Governo Federal, por meio do Ministério da Educação e Saúde,
adotando como slogan em suas transmissões a frase de Roquette “Pela cultura dos
que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil”. Além da estação, foram
entregues móveis, instrumentos, arquivo musical, biblioteca e mais um terreno de
10.000 metros quadrados, próximo ao bairro de Cascadura, na cidade do Rio de
Janeiro. Surgia, então, a Rádio MEC, que funciona até hoje.
A Rádio MEC é especializada em música clássica, Jazz, Choro, Samba, Bossa Nova e
músicas regionais no geral. No Rio de Janeiro, tem duas frequências: FM 98.9 MHz
e AM 800 kHz e uma em Brasília: 800 kHz AM. Em sua sede, há o maior estúdio da
América Latina, o estúdio Sinfônico Maestro Alceo Bocchino. A programação da
emissora inclui seleções musicais, programas de música ao vivo jornalísticos e de
variedades.
Desde o ano de 1999, existe uma gravadora, o Selo Rádio MEC. A partir de 2008,
as 3 emissoras fazem parte do sistema EBC Rádios (braço da EBC que ainda inclui
as Rádios Nacional do Rio de Janeiro, Brasília e Amazônia).
2.2.5 O desenvolvimento do rádio no Brasil
No Brasil, o rádio foi se viabilizando como empresa de comunicação. O
nosso país viva o crescimento econômico e o governo de Getúlio Vargas (1934-
1937) havia decretado a permissão da publicidade no rádio como forma de
sobrevivência desse meio. Era a política também se infiltrando no meio radiofônico.
Em São Paulo, a Rádio Record foi a primeira a convidar representantes públicos
para palestras instrutivas. (BATISTA, BRITO; SOUZA, 2005).
A Voz Brasil, portanto, passa ser o programa porta-voz oficial do Governo de
Gétulio Vargas. Também nos anos de 1930, é criada pelo governo federal o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DPI). Esse órgão passa a monitorar a
programação das emissoras de rádio no Brasil, exercendo uma censura e
controle do poder do Governo de Getúlio Vargas.
Era notório o uso do rádio como instrumento político nos anos de
1930. As emissoras de rádio foram então, espaços político para a consolidação
da Ditadura Vargas e objetivava formar um pacto nacional para o
desenvolvimento e unidade do país, através de uma programação jornalística
sob a tutela do governo daquela época.
Ainda na década de 1930, um programa de noticiário radiofônico intitulado
A hora do Brasil, trazia o noticiário oficial do governo. Sua veiculação era
obrigatória nas emissoras de rádio. Nesse cenário, o lucro começou a fazer
parte das estações de rádios e programas musicais, e de entretenimento,
começaram a se destacar e a gerar receitas para os proprietários. A Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro marcou época com a exibição do programa Casé.
Aproveitando-se da importância e da penetração que o rádio possuía na
sociedade da época, o governo passou a utilizá-lo como instrumento ideológico
para consolidar uma unidade nacional necessária à modernização do país, e para
reforçar a conciliação entre diversas classes sociais. Tal ideologia utilizada no rádio
era traçada de modo a estabelecer as notícias, discursos e pronunciamentos
veiculados durante a programação radiofônica como verdade absoluta para
os diversos níveis da sociedade.
Com o crescimento e desenvolvimento do rádio, surgiram as primeiras
redes de rádio do Brasil apenas nos anos de 1970, ou seja, bem depois de vários
países que já tinham as suas rádios integradas em redes. O nosso atraso foi por
causa de forças políticas que impediu a entrada de empresas estrangeiras para
explorar e melhorar a infraestrutura para as transmissões, pois as linhas
disponíveis pela Companhia Brasileira de Telefônica tinham uma baixa qualidade
nas transmissões.
Com o avanço tecnológico e infraestrutura compatível para a integração das
emissoras de rádio no Brasil, foi possível estabelecer a primeira rede de rádio em
março de 1982, em São Paulo. A emissora pioneira foi a rádio Bandeirantes AM
por meio do radiojornal intitulado Primeira Hora, que tinha alcance nacional. A
emissora utilizava para transmitir esse noticiário o satélite Intelsat 4, que a Rede
Bandeirante de Televisão havia alugado. (ORTRIWANO, 1984).
No tocante as emissoras de rádio FM, ou seja, Freqüência Modulada, o tão
conhecido rádio FM, destacaram-se as emissoras: A Rádio Imprensa, da cidade
do Rio de Janeiro, e a
Rádio Difusa de São
A Voz do Brasil é um noticiário Paulo.
radiofônico público que vai ao ar
diariamente em, praticamente, todas Essas emissoras
as emissoras de rádio aberto do veiculavam apenas
Brasil, às 19h, horário de Brasília. É o músicas e notícias. Na
programa mais antigo do rádio. Sua
década de 1980, o rádio FM se espalhou pelo Brasil e se tornou um dos meios mais
ouvidos, principalmente para o público jovem.
Nos anos de 1990, as emissoras de rádio AM e FM se modernizam e deixam
de lado os antigos discos de vinil e utilizam o CD. Os equipamentos passaram a
ser digitais e o computador passaram a fazer parte da programação diária das
emissoras de rádio no Brasil.
2.2.6 A época de ouro do rádio
O rádio fazia parte da vida das pessoas. Era o companheiro diário da dona
de casa e o principal meio de informações e entretenimentos da população
brasileira. Nos ano de 1940 e 1950, as emissoras produziam programas de
auditório e radionovelas.
No Brasil, elas surgiram como um produto importado e, por isso, com
características latino-americanas previamente delimitadas: as donas de casa
como público-alvo e a temática do melodrama e do folhetim.
A novela de rádio era uma coqueluche, como se fosse uma
doença! Hoje, as novelas da televisão têm uma audiência muito
grande. Mas, analisando bem, podemos constatar que a
audiência das novelas de rádio era relativamente muito maior.
Isso porque ouvir novela naquele tempo era quase uma religião.
Andava-se pela rua, à noite, nas calçadas, e podia-se acompanhar
um capítulo da novela, pois as janelas das casas ficavam abertas.
Todas as casas tinham seus rádios sintonizados (MONTECLARO apud
MATTOS, 2004, p. 53).
À medida que a radionovela foi se consolidando nas rádios de todo o país,
equipes que envolviam autores, produtores e radioatores se especializavam no
estilo. Posteriormente, esses profissionais migraram para a Televisão.
Apesar de muitas novelas de rádio terem obtido êxito, a de maior sucesso foi
“O Direito de Nascer”, texto do cubano Félix Caignet, traduzido por Eurico
Silva e transmitida pela Rádio Nacional. É considerada a maior radionovela de
amor e sofrimento da história do rádio brasileiro, era absoluta em audiência no
horário e as ruas ficavam vazias durante a sua exibição.
Toda a família se reunia ao redor do rádio para ouvi-lo e, apesar de não
terem cenas reais, todas eram imaginadas na mente de cada um. Era a magia e
a época de ouro do rádio.
Muitos viajavam nas diversas histórias e tramas das radionovelas
brasileiras. Muitos astros que ainda estão na mídia iniciaram suas vidas
profissionais no rádio. A apresentadora Hebe Camargo, que ainda atua no
Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), é uma das muitas rainhas do rádio. Além do
entretenimento e lazer, o rádio também era um canal de informação. Muitos
radiojornais fizeram sucesso nas ondas desse aparelho mágico. Um deles foi o
Repórter Esso, testemunha da verdade. Esse radiojornal marcou época na
história do rádio no Brasil.
2.2.7 O repórter Esso, testemunha ocular da notícia
O repórter Esso foi o radiojornal mais popular da história do rádio
brasileiro. O programa tinha altas audiências e sua credibilidade marcou o
radiojornalismo brasileiro.
Com o bordão “Alô, Alô, Alô Repórter Esso, Alô” e os relógios marcando
12 horas e 55 minutos, no dia 28 de agosto de 1941, pela Rádio nacional do Rio
de Janeiro, entrava no ar o Repórter Esso.
Com frases que o fizeram ficar conhecido em todo o Brasil: “testemunho
ocular da história” e “o primeiro a dar às últimas”, o Repórter Esso foi um
grande sucesso e ficou cerca de 27 anos no ar. O radiojornal era patrocinado
pela empresa Esso Brasileira de Petróleo e já existia nos Estados Unidos da
América desde 1935. Só depois, o programa se estendeu para 15 países, em
cidades como Nova York (EUA), Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile),
Lima (Peru), Havana (Cuba), entre outras.
O programa era produzido no escritório de uma agência estrangeira de
Publicidade e Propaganda, sediada na cidade do Rio de Janeiro, por meio de
informações distribuídas pela agência de notícias United Press International,
conhecida com UPI.
O noticiário alcançava quase todo o país e ia ao ar de segunda a sábado,
às 18h, 12h55, 19h55 e 22h55, e, aos domingos, tinha duas edições diárias, sem
falar nas edições extras, em caso de notícias extraordinárias.
Quando estreou na Rádio Nacional, o programa não tinha um locutor
exclusivo. De1941 a 1944, vários repórteres revezaram na sua apresentação,
entre eles destacamos Rubens Amaral, Celso Guimarães, Reinaldo Costa,
Aurélio de Andrade, entre outros.
No entanto, em 1944, surgiu aquele que seria o locutor exclusivo do
Repórter Esso, seu nome era Heron Domingues (veja a Figura 2 a seguir). Era
um profissional exigente, bem informado e costumava fazer as leituras de cada
detalhe da notícia – como a pronúncia correta e elegante de nomes e palavras
estrangeiras. Costumava, por meio do ritmo das frases, valorizar ainda mais a
informação e a interpretação do texto, com a intenção de atrair o ouvinte que
se acostumou e aprendeu a confiar no estilo de locução de Heron, que era
imitado em todo o país.
Figura 2 - Heron Domingues
Fonte: Disponível em:
<http://natrilhadoradio.blogspot.com/2010/03/reporter-esso-
Consagrando o noticiário,
mudou de emissora e
passou a ser vinculado
pela Rádio Globo do Rio de
Janeiro até 31 de dezembro
de 1968.
Na última edição, a
partir das 20h25min
da noite, o radialista
Guilherme de Sousa fez a identificação da emissora e dando a
hora certa, antes de anunciar: “Alô, alô, Repórter Esso! Alô!” Ao
som das tradicionais trombetas, o locutor Roberto Figueiredo
entrou no ar, noticiando sobre as festividades do ano novo
(1969); o pronunciamento do presidente Costa e Silva sobre o
momento nacional e a instituição do AI-5, além do mesmo
assinar decretos sobre o setor financeiro; a condenação de Israel
por parte das Nações Unidas pelo atentado contra o Líbano; a
Missa de Ano Novo realizada pelo Papa Paulo VI; a previsão do
tempo nas principais cidades do país; e as principais notícias
dadas pelo Repórter Esso em 27 anos de atividade. Durante a
leitura desta última, Roberto Figueiredo emocionado começou a
chorar, chegando a um ponto em que o locutor reserva Plácido
Ribeiro, que estava no estúdio na hora do noticiário, seguiu a
leitura. Roberto tentou se recompor e, aos prantos, encerrou o
último Repórter Esso, desejando uma boa noite e um feliz ano
novo (NA TRILHA DO RÁDIO, 2010).
O repórter Esso migrou para a televisão no início dos anos de 1950 para a
TV Tupi, depois as principais capitais brasileiras contaram com o seu Repórter
Esso. O radiojornal permaneceu na TV até o dia 31 de dezembro de 1970 e sua
última edição foi ao ar pela TV Globo e depois foi substituído pelo Jornal
Nacional, que está no ar até hoje.
2.2.8 A linguagem do rádio
Como já abordamos, o rádio é um grande veículo de comunicação de
massa! Não é mesmo? Sua linguagem é fácil, rápida e direta. É um meio
de comunicação que possuí características próprias como uso da voz
(oralidade) e que atingi um grande espaço geográfico.
A mensagem radiofônica alcança todos os ouvintes, de todas as classes
sociais, independentemente da escolaridade e do grau de alfabetização.
Grande parte da nossa população, sobretudo as pessoas que vivem nas zonas
rurais utilizam do rádio para se informar e para saber o que está acontecendo
no mundo (MCLEISH, 2001).
Com o advento das novas tecnologias, é imprescindível a utilização de
equipamentos modernos para a transmissão e obtenção da informação. O
parelho celular, o telefone via satélite, o computador de mão (Tablet), como
também os modernos meio de transmissão de voz através da NET. Tais
aparelhos permitem a melhoria na transmissão da informação, como também
possibilitam a portabilidade e a cobertura dos fatos em regiões de difícil acesso.
No que se refere aos espaços geográficos, o rádio permite a rapidez da
informação e a velocidade na transmissão. Podemos classificá-lo como um dos mais
rápidos entre os meios de comunicação de massa. O rádio geralmente é o
primeiro a informar no locar do acontecimento, para isso basta apenas um
telefone móvel para fazer a conexão com a emissora seus transmissores. Isso
acontece em questões de minutos!
Podemos dizer que os sinais de rádios vencem barreiras montanhosas e
suas ondas de transmissões chegam até o fundo do mar. Essa meio de
comunicação pode também unir pessoas, mesmo distantes geograficamente. (
MCLEISH, 2001)..
Podemos destacar também como outra característica do rádio, em relação aos
demais veículos de comunicação, como a TV, exemplo, o fato do ouvinte não
precisar ficar no local diante do aparelho, a dona de casa poderá ouvir rádio
fazendo outras atividades do dia a dia. O rádio permite uma maior liberdade e
ouvimos rádio em casa, no carro, na faculdade, enfim, em qualquer local!
De acordo com Mcleish (2001, p.34), “o imediatismo e instantaneidade, são
características que dão velocidade na transmissão da informação. Essa rapidez
de informação permite ao ouvinte saber o que está acontecendo exatamente na
mesma hora do fato, diferente de outros meios de comunicação que precisam
apurar e editar ( jornais e TV) para exibir o acontecimento. Portanto, o rádio é
veloz e dinâmico!
A emissão e a recepção acontecem simultaneamente, assim, uma
mensagem radiofônica é consumida no momento da transmissão e, para ouvi-la
novamente, só utilizando um gravador que não é prático e nem corriqueiro. Já os
veículos impressos, encontram-se, neste ponto, em situação mais confortável e
prática, pois podem ser consumidos sempre que o leitor bem quiser.
Por fim, poderemos classificar o rádio como um veículo que possibilita uma
certa interatividade. No rádio, o ouvinte pode pedir uma música por telefone,
sugerir pautas, denunciar e solicitar a prestação de serviços, fazendo sugestão ou
criticando. (ORTRIWANO, 1984). Portanto, o rádio é um espaço democrático e
um companheiro diário!
2.2.9 O surgimento da televisão
A televisão está presente nas nossas vidas. Como foi o seu surgimento?
Hoje em dia, a TV é o meio de comunicação com maior penetração e importância
no mundo, mesmo com a Internet.
No nosso país, a TV é um fenômeno desde que a primeira transmissão foi
realizada, em 18 de setembro de 1950. Em 2010, de acordo com o IBOPE, quase
100% das residências do Brasil têm aparelhos de televisão. Um número
surpreendente, não é verdade?
Nossa viagem agora mergulha na história dessa caixinha mágica que
encanta milhões de pessoas em todos os cantos do mundo! Mas afinal,
como surgiu a TV? Assim como várias invenções no mundo, a televisão foi
uma ousadia de diversos pesquisadores e estudiosos ao longo de muitos anos.
De acordo com Camargo (2010), as primeiras experiências e transmissões
de caráter experimental foram realizadas por volta da década de 1920. Diversos
testes foram realizados no ano de 1926 na Inglaterra e no Japão e, em 1927, nos
Estados Unidos da América. Essas experiências iniciais marcaram o início das
transmissões de som e imagem. Eis a televisão!
Figura 4 - Primeiros
testes da TV nos Estados
Unidos
Fonte: Disponível em:
<www.corp.att.com>. Acesso
em: 24 set. 2010.
A televisão foi
desenvolvida por diversas
pessoas e em países
diferentes do mundo, por
isso, não foi exatamente um
inventor o responsável pelas
primeiras imagens, ou seja,
pelas primeiras
transmissões. No entanto,podemos afirmar que a empresa AT&T foi uma das
pioneiras ao realizar uma transmissão na cidade de Nova Iorque, no ano de
1927. Foi uma transmissão privada, apenas para algumas pessoas.
Na segunda década do século XX, os anos de 1920, as primeiras estrelas e
astros apareceram e começaram a fazer bastante sucesso. O Gato Félix,
personagem de desenho animado, criado na época dos filmes mudos, tem o
corpo preto, olhos brancos e risada característica, traço que fez dele um dos
mais conhecidos do planeta, e teve sua imagem veiculada na televisão em 1928
(CAMARGO, 2010).
A imagem do Gato Félix era utilizada para a regulagem dos aparelhos
que transmitiam imagens, visto que era preto e branco, e as primeiras imagens
foram transmitidas em branco e preto, cores consideradas perfeitas para o ajuste
da imagem da TV.
As imagens geradas e transmitidas na década de 1920 eram consideradas
de baixa resolução, com cerca de 60 linhas. Para você ter uma ideia, as televisões
de hoje, as analógicas, aquelas comuns que temos em nossas casas, têm uma
resolução de aproximadamente 480 linhas. Depois das primeiras transmissões, os
avanços da tecnologia não pararam mais. A televisão também evoluiu e a
qualidade da imagem foi ampliando, como demonstra a imagem a seguir:
1928 1936 1944
Figura 6 - A evolução da resolução da imagem do gato Félix
Fonte: Disponível em: <www.felixthecat.com>. Acesso em: 24 set. 2010.
Já na Década de 1930, por sua vez, houve o avanço da televisão. A Segunda
Guerra Mundial contribuiu de forma relevante para esse crescimento
tecnológico. As pesquisas desenvolvidas na época foram muitas, pois as grandes
emissoras também apareceram na década de 1930. Nos Estados Unidos, canais
como a BBC, CBS e CGT abriam as portas para a transmissão de programas e
eventos de esporte.
Diante disso, os aparelhos de televisão começaram a ser produzidos em grande
quantidade, mas poucas pessoas podiam comprar esses aparelhos. O rádio ainda
era um forte meio de comunicação na época. A partir da década de 1930, a Europa
e os Estados Unidos foram os países que estiveram à frente dessa tecnologia. No
ano de 1936, a coroação do Rei Jorge VI foi considerada a primeira transmissão ao
vivo da história da TV e vista por mais de cinquenta mil pessoas na cidade de
Londres, na Inglaterra (CAMARGO, 2010).
A grande massificação da televisão aconteceu, na verdade, na década de 1950,
inclusive no Brasil. Mas, na década de 1940, foi realizada a primeira transmissão em
cores, como também as transmissões esportivas e os telejornais.
Nos Estados Unidos, os eletrodomésticos estavam presentes nos lares de
grande parte da população. Ídolos, como Elvis Presley, consolidavam o jeito
americano de viver, o que denominamos de American Way of Life. Muitas casas já
tinham o aparelho de TV. No Brasil, ela chegou graças ao pioneirismo de Assis
Chateaubriand, um dos maiores empresários do ramo da comunicação do nosso
país (CAMARGO, 2010).
A Tupi foi a primeira emissora de televisão do Brasil, criada por
Chateaubriand. Ele trouxe, dos Estados Unidos, cerca de 200 aparelhos de televisão
e espalhou pela cidade de São Paulo. A popularidade da televisão no Brasil foi
observada seis anos depois da sua chegada. Em 1956, o Brasil já tinha cerca de 1,5
milhão de aparelhos nas residências.
Hoje, a televisão está presente na maioria das residências pelo Brasil afora
e não são mais analógicas. O sinal da TV também evoluiu e o sinal digital já é uma
realidade em todo o mundo.
TV Digital: de telespectador a teleinterativo
As tecnologias de informação e comunicação, denominadas de TIC,
permitem novas maneiras de propagação de informações. De acordo com a
pesquisadora Patricia Gallo, em sua pesquisa sobre a TV Digital, assinala que a
Internet, o telefone celular, os jogos e a TV Digital, são considerados novas
mídias por obterem a interatividade.
As novas mídias, também denominadas de mídia interativa, trazem o novo
paradigma da teoria da comunicação em que o receptor passa a ser também o
emissor da mensagem, segundo a pesquisadora.
No Brasil, a TV Digital foi implantada, em fase experimental, em dezembro
de 2007, em São Paulo. Segundo Gallo (2009, p.3),
muito se tem falado de qual seria o caminho a ser seguido para incluir a população
na tecnologia digital. Uma grande aposta do governo federal é a televisão comum,
que, por ser um meio massivo mais expressivo em todos os lares no nosso país,
passa por grandes transformações permitindo-nos explorá-la de outras maneiras.
A TV Digital permite qualidade de imagem chamada de high definition (alta
definição), bem como cinco ou mais canais de áudio, possibilitando a
interatividade, que somente será possível a partir da inserção de dados, em bits,
ao áudio e o vídeo, como também um canal de retorno para envio de dados do
telespectador. “Desse modo, o telefone fixo é considerado um canal simples de
retorno para a interação entre o telespectador e o conteúdo”. (GALLO, 2009,
p.3). Ao mesmo tempo em que isso se torna viável no Brasil, apenas 30% das
residências possuem uma linha desse telefone. Desse modo, o telefone móvel
passa a ser uma alternativa para acesso aos conteúdos interativos. A interação
muda a relação do telespectador com o conteúdo ou programa televisivo
oferecido.
Neste processo de produção de conteúdo televisivo interativo, a
pesquisadora identificou novos profissionais que atuam na programação dos
dados a serem exibidos para o teleinterativo. Assim, a área da Ciência da
Comunicação se integra a área da Ciência da Computação abrindo um campo
para muitos outros profissionais.
Partindo do pressuposto que a interatividade é um conceito de
Comunicação e não de informática ou computação, e neste contexto da TV
Digital, “o receptor passa a ser também o emissor da mensagem, o telespectador
deixa de ser passivo e torna-se ativo, ou seja, o teleinterativo” (GALLO, 2009,
p.4). Neste contexto, o controle remoto é acrescido de 4 botões coloridos (azul,
amarelo, verde e vermelho), estes, já reconhecidos através dos testes de
usabilidades como a maneira mais fácil de se chegar a um conteúdo interativo.
A imagem na tela da TV mostra qual o botão a ser apertado e o
teleinterativo ao acioná-lo passa a ter informações adicionais sobre o produto ou
serviço. Contando com o canal de retorno (conexão), pode ainda agendar uma
visita a loja ou mandar um recado, participar de uma pesquisa, etc. Para o atual
telespectador, “tornar-se um teleinterativo, será uma experiência totalmente
nova, já que a relação não será somente a de assistir o conteúdo, mas de intervir,
personalizar e participar ativamente”. (GALLO, 2009, p.4).
A TV Digital é uma realidade no Brasil, mas ainda é considerada distante
pelos profissionais da comunicação. Eles afirmam que a TV Digital ainda é uma
incógnita, pois, não sabem como se dará seu funcionamento, custos de produção
e interatividade, ainda estamos nos primeiros passos da TV Digital no Brasil,
segundo a pesquisadora.
Percebemos que os profissionais recém chegados ao mercado da
comunicação se encontram com maior apropriação sobre as novas mídias
interativas. “Toda nova tecnologia, de acordo com o site do grupo Gartner Group,
leva uma média de 10 anos para chegar no platô de produtividade” (GALLO,
2009, p.4). Desse modo, acreditamos que as dúvidas de hoje, quanto ao uso,
custos e produção, deixarão de existir em breve, pois a tecnologia naturalmente
passará pela “fase de expectativas, de desilusão, de esclarecimentos, para só
então se tornar uma tecnologia consolidada no mercado” (GALLO, 2009).
Portanto, podemos afirmar que os meios de comunicação começaram a
fazer parte do nosso dia a dia, do nosso cotidiano. Além dos jornais, surgiram
também depois o rádio e a televisão, a TV Digital, provocando ainda mais a
massificação da informação. Diante disso, vários estudiosos da área da
Sociologia iniciaram estudos sobre os efeitos dos meios de comunicação. Esses
estudos ficaram conhecidos como as teorias da comunicação.
Vamos agora viajar nas principais teorias da comunicação! Nosso roteiro
agora é a cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América! Vamos nessa!
Um breve panorama das teorias da comunicação
O ato da comunicação está presente na vida da humanidade desde os
tempos idos dos homens pré-históricos. Ao imitar o som da natureza, como o
cantar dos pássaros ou o som das águas, o homem estabelecia uma relação de
integração com o seu meio social.
De acordo com Santos (2003), o ato de comunicar-se pode ser comparado ao
da respiração, pois o ser humano não para de se comunicar, mas, poucas vezes,
este se dá conta disso. É um processo contínuo, complexo e multifacetado.
Ao longo do século XX, múltiplas teorias se originaram a partir dos estudos
comunicacionais. Diversas escolas e epistemologias vieram à baila com o intuito de
entender esse processo. As principais escolas teóricas estabeleceram conceitos e
paradigmas que foram rompidos com o desenvolvimento de estudos no campo
da comunicação.
a) Escola funcionalista
A Escola Funcionalista teve o seu apogeu quando o jornal impresso tornou-
se parte integrante do dia a dia dos grandes centros urbanos, ou seja, com a
massificação dos meios e a industrialização do sistema de produção, do
“aparecimento das massas nas grandes cidades e da necessidade de empregar
os meios de comunicação de massa como fatos de integração social, com vista
ao desenvolvimento” (SANTOS, 2003, p. 79).
O avanço tecnológico permitiu que a comunicação ampliasse seu alcance e se
tornou industrializada. O conceito de indústria cultural proposto por Theodor
Adorno e Max Horkheimer é um exemplo dos estudos da comunicação e sua
interface com a sociedade.
b) Escola de Frankfurt
Os dois teóricos mais destacados da chamada Escola de Frankfurt, Theodor
Adorno e Max Horkheime, reuniram-se a outros pensadores na primeira metade
do século XX para criar um corpo teórico vasto e heterogêneo em Ciências
Humanas que se consolidaria em uma Teoria Crítica da Sociedade. As pesquisas
que empreenderam visavam a uma crítica ampla e profunda das estruturas
culturais e sociais contemporâneas, cunhando o termo “indústria cultural”, que
se caracterizaria pela reprodução em larga escala de produtos culturais, de
modo a massificar gostos e escolhas. Para os frankfurtianos, “a História é sinal
de descontinuidade e seu processo está permanentemente em aberto.”
(ADORNO, HORKHEIMER, 2006, p. 45).
Para Benjamin (1994), a esfera da autenticidade, como um todo, escapa à
reprodutibilidade técnica, e, naturalmente, não apenas à técnica. Mas, enquanto
o autêntico preserva toda a sua autoridade com relação à reprodução manual,
em geral considerada uma falsificação, o mesmo não ocorre no que diz respeito
à reprodução técnica.
A cultura era vista como algo vendável e transformada em produto ou
como uma mercadoria à venda. Outra escola de destaque no contexto das
teorias da comunicação é a Escola Sociológica Europeia.
c) Escola sociológica europeia
De acordo com Santos (2003, p.93), os produtos mostrados pelos meios de
comunicação de massa “passaram no início da década de 1960, a receber atenção
da intelectualidade, por meio de estudos feitos em centros universitários ou por
obras de artistas como Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Richard Hamilton”.
Segundo o autor, as obras desses artistas exploraram o potencial dos signos da
cultura de massa, transformando-os em “ícones da arte”.
Vários teóricos europeus estudaram e investigaram o conteúdo das
mensagens da cultura de massa. Segundo Santos (2003), esses pesquisadores eram
críticos, mas não preconceituoso, e se utilizavam dos conceitos da Semiologia e
realizavam uma análise estrutural em seus trabalhos, todos eram divergentes,
tantos os frankfutianos com os da Escola Funcionalista.
A percepção de comunicação e da cultura de massa, segundo Santos (2003)
era compartilhada por pensadores da Franca como Edgar Moran, Roland
Barthes, Jean Baudrillar e Julia Kristeva, entre outros, como também por
Umberto Eco, italiano. Os estudos teóricos desses autores tiveram espaço para a
publicação, a partir de 1960, na revista Communications, órgão do Centro de
Estudos de Massa, o CECMAS, instituição criada em 1960 no interior da Escola
Prática de Altos Estudos e sob a direção de Georges Friedman. (SANTOS, 2003).
Na década de 1960, destacam-se, também, estudos do canadense Marshall
McLuhan, que fez uma abordagem inovadora e polêmica dos fenômenos da
comunicação. De maneira singular, pois os demais teóricos privilegiavam a
mensagem na análise dos processos comunicativos, McLuhan elegeu como
objeto de estudo o meio.
d) A comunicação nos dias de hoje
Na contemporaneidade, os meios de comunicação estão presentes na vida
das pessoas e chegam a ser classificados como “a terceira ocupação do homem
moderno, vindo atrás somente do trabalho e do sono” (CORNU, 1998,p. 7).
Desse modo, era inevitável que a mídia se transformasse em um espaço público
de debate social, transformando o homem e o seu meio ambiente.
Os estudos da comunicação são amplos e abarcam referenciais teóricos e
metodológicos múltiplos e diversos. Esses desafios da metodologia da pesquisa são
elementos que os pesquisadores se lançam para tentar compreender o processo
de comunicação.
Os processos comunicativos abarcam a utilização (e, muitas vezes, a
criação) de códigos, a interação dos indivíduos,
o emprego de tecnologia e a intersecção com normas culturais e
sociais. Esses processos também estão permeados de ideologias
(visões de mundo) e são fundamentais nas relações de poder
(SANTOS, 2003, p. 9).
Essas relações de poder são criadas por meio da construção da formação
dos sentidos. Os meios de comunicação de massa desempenham o papel
ideológico e têm uma parcela relevante na compreensão do mundo de uma
sociedade.
e) A indústria cultural
A indústria cultural foi o termo assinalado pelos filósofos e sociólogos
alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, pensadores da Escola de
Frankfurt, na Alemanha. Eles batizaram Indústria Cultural para definir a
transformação da cultura em mercadoria, em um produto vendável.
O conceito não se refere aos veículos (televisão, jornal, rádio...), mas ao uso
dessas tecnologias por uma parcela da classe dominante. A produção cultural
e intelectual de uma sociedade passa a ser direcionada para a possibilidade de
consumo mercadológico, ou seja, para o mercado consumidor.
Desse modo, indústria cultural é o nome dado àquelas empresas ou
instituições que desenvolvem produtos culturais direcionados para o consumo,
visando ao lucro. Sua origem se deu por meio da sociedade capitalista que
transformou a cultura em um produto a ser comercializado.
O conteúdo veiculado pela televisão, no Brasil, é considerado como produto
dessa indústria da cultura. Nós temos as telenovelas, os programa de
entrevistas e outros, que têm apenas o objetivo de vender produtos e conquistar
audiências.
Segundo os autores Adorno e Horkheimer, esse processo de
industrialização da cultura torna o cidadão um alienado, pois a cultura
passa a ser um produto vendável e sem qualidade para o enriquecimento
intelectual do público.
2.3 Aplicando a teoria na prática
Abordamos até agora neste capítulo, nessa viagem ao mundo da
comunicação, a mídia e a sua presença na esfera pública, isto é, na sociedade.
Podemos entender a comunicação como um espaço público e de debate.
O Big Brother Brasil é um exemplo de produto televisivo a ser vendável, ou
seja, indústria cultural. No programa, o telespectador pode opinar e agir de
maneira interativa ao decidir, a cada semana, quem fica e quem sai da casa. O
comportamento de cada participante do programa é avaliado pelo telespectador.
O programa é um reality show (show da vida real), desenvolvido pela
produtora da Holanda denominada de Endemol. No Brasil, o direito de exibição
é da Rede Globo, maior emissora de televisão do país e uma das maiores do
mundo. A primeira versão do programa foi realizada em 2002, mas a primeira
temporada mundial do programa foi em 1999, na Holanda.
O reality show tem como objetivo confinar, numa casa cenográfica, cerca
de 14 pessoas vigiadas por câmeras 24 horas por dia, sem contato com o mundo
exterior. Os participantes não podem se comunicar com parentes ou amigos,
nem podem ler jornais ou usar de qualquer outro meio para obter informações
do mundo externo. O objetivo do programa é eleger como celebridades pessoas
“normais”, que fazem suas inscrições por meio de vídeos enviados para a produção
daquele programa.
No Brasil, o programa, além das transmissões diárias na Rede Globo, é
exibido em pay-per-view no canal por assinatura Premiere Shows e com flashes no
canal da Multishow, das organizações Globo.
Já foram apresentadas dez temporadas do Big Brother Brasil. Apenas as
duas primeiras edições aconteceram no mesmo ano, 2002, com pouco mais de
um mês entre as duas temporadas. As outras edições passaram a ser realizadas
anualmente, entre os meses de Janeiro e começo de Abril, época que não são
veiculados os programas noturnos como A Grande Família, Casseta & Planeta
Urgente, entre outros.
No ano de 2008, a Rede Globo de televisão renovou o contrato com a
empresa holandesa Endemol para a exibição do programa até o ano de 2014.
Portanto, o programa Big Brother Brasil é um produto da indústria cultural
televisiva e se apropria dos recursos tecnológicos e interativos para que o
público opine e tenha uma interatividade com o programa. Diante do exposto,
faça uma reflexão de como esses programas se tornaram populares no Brasil e
analise como os produtos são vendidos e mostrados para o público.
Refletiu?
Então agora vamos pensar, juntos, sobre a questão. Vamos lá?
Os reality shows estão presentes na programação de TV no Brasil. Não
apenas na Rede Globo de Televisão, a maior do nosso país. Diversas emissoras
também estão veiculando esse tipo de programa, como a Rede Record, por
exemplo, que vem exibindo A Fazenda. A Rede Bandeirantes, por sua vez,
apresenta o reality show Busão do Brasil. Esse tipo de programa é ideal para a
venda de produtos, o que chamamos de Merchandising, ou seja, produtos para a
dona de casa e para o consumidor em geral.
Onde encontrar
BARBOSA, M. Os donos do Rio: imprensa, poder e público (1880
-1920). Rio de Janeiro: Vício de Leitura, 2000.
BATISTA, M. S.; BRITO, V. C. de; SOUZA, Wagner G. S. de. Boletim cidadão: você
à frente da notícia. Monografia. (Graduação em Jornalismo). Universidade Potiguar,
2005.
BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. São Paulo:
Brasiliense, 1993. (Coleção Primeiros Passos).
CAMARGO, Camila. História da televisão. Disponível em:
<http://www. tecmundo.com.br/2397-historia-da-televisao.htm>.
Acesso em: set. 2010.
CAPELATO, M. H. R. A imprensa na história do Brasil. 2. ed. São Paulo:
Contexto/EDUSP