Pequeno manual para
observar flores e frutos
no Parque do Butantan
observadores
da natureza
Os ciclos da
natureza
A nossa volta, e mesmo dentro Você já se perguntou por No inverno, quando os dias
de nós, a vida acontece em que temos sono à noite e se tornam mais curtos e frios,
ritmos cíclicos. As estações do despertamos quando a luz da aves e baleias usam estas
ano, a duração dos dias e das manhã chega? “pistas” ambientais para iniciar
noites, as mudanças na natureza sua migração, deslocando-se
são exemplos de ciclos que nos Os seres vivos, incluindo nós, para regiões mais quentes com
influenciam diretamente. possuem “relógios biológicos” alimento abundante; outros
internos que se ajustam às animais dormem por toda a
A vida urbana nos distancia condições ambientais externas estação, no que chamamos
cada vez mais da natureza e (como luz e temperatura) e ditam de hibernação.
não percebemos esses eventos os ritmos diários da vida, como o
acontecendo e a influência que as instante em que flores abrem suas Com os dias mais longos e
condições ambientais têm sobre pétalas pela manhã e fecham à quentes da primavera, baleias e
eles. Estar atento aos ciclos ao noite e o momento de acordar e aves migratórias retornam para
nosso redor é um passo importante dormir nas pessoas e animais. suas áreas de reprodução, plantas
para nos reconectar com a brotam e florescem, insetos
natureza, tornando nossa vida Como as estações do deixam seus casulos, cigarras e
mais interessante e trazendo vários ano influenciam a vida abelhas cantam e também é o
benefícios para nossa saúde. Além dos animais e plantas? momento da reprodução para
disso, apreciando e acompanhando muitos animais.
as mudanças no ambiente, Alguns ciclos da natureza não
podemos conhecê-lo melhor e são diários, mas acontecem
ajudar a conservá-lo. ao longo de períodos maiores,
como de um ano. As estações
do ano são um exemplo disso
e são acompanhadas por
mudanças como intensidade
de luz, calor, chuvas e umidade.
Estas mudanças são familiares
para os seres vivos.
Cientistas procuram padrões
nos ciclos da natureza
A ciência que estuda os ritmos O Programa Observadores Por que monitorar
da vida e sua relação com as da Natureza flores e frutos?
mudanças de estação e clima é
chamada de Fenologia. Observadores da Natureza é um O monitoramento faz com que
programa do Museu Biológico possamos saber como as plantas
Sabemos que as mudanças do Instituto Butantan, que une do parque se comportam diante
climáticas globais causadas pelo cientistas e a sociedade para das mudanças no clima e nas
homem têm causado alterações observar, utilizando métodos estações, e como os animais, que
nos ciclos da natureza. Brotos, científicos, fenômenos envolvendo dependem das flores e dos frutos,
flores e frutos de muitas plantas os animais e as plantas do reagem a estas mudanças.
vêm aparecendo fora da época Parque do Butantan. Além de
usual, afetando os animais que anotar e organizar os dados, os
se alimentam destas plantas participantes podem interagir
e que também espalham o com os cientistas nas análises,
pólen e as sementes dos frutos e na publicação e elaboração
para outros locais. de material, que explique os
resultados de forma que todos
Entender como a flora e a fauna possam compreender.
se comporta diante da variação
das estações do ano ajuda os Um dos projetos que faz parte
cientistas a prever o efeito das deste programa, do qual participa
mudanças climáticas e o aumento também o Núcleo de Difusão
ou diminuição da biodiversidade do Conhecimento, monitora os
de um local o que pode ser crucial ciclos de floração e frutificação
para nossa própria sobrevivência. de plantas do parque, o estudo da
fenologia das plantas.
Como acompanhamos as
mudanças estacionais através
das plantas?
Há épocas em que as plantas ficam Oito espécies foram selecionadas
repletas de botões florais, há época para serem alvos de uma primeira
de florescer e de frutificar. A cada etapa do estudo. Essas espécies
um destes eventos, chamamos incluem plantas nativas e exóticas,
de fases do ciclo de vida da com ampla distribuição no parque
planta. As fases se alteram ao e consumidas pelos animais,
longo do tempo, aumentando ou como aves, morcegos e insetos,
diminuindo as quantidades de por possuírem frutos carnosos ou
botões, flores e frutos que ocupam flores que os atraem.
as copas das árvores.
A cada 15 dias, cientistas
e voluntários do programa
Escala utilizada para quantificar botões, flores e frutos
Observadores da Natureza
acompanham algumas espécies
Notas Porcentagem
de plantas do parque tomando
anotações sobre a presença
0 0% (nenhum botão, flor ou fruto presente)
de frutos, flores e botões
florais nas árvores.
1 1% - 25% (botões, flores ou frutos
ocupando até ¼ da copa)
Como seria trabalhoso e pouco
prático contar quantas flores ou
2 26% - 50% (botões, flores ou frutos
frutos estão presentes em espécies
ocupando entre ¼ e ½ da copa)
arbóreas de alto porte, usamos
categorias que representam a
3 51% - 75% (botões, flores ou frutos
proporção deles nas árvores.
ocupando entre ½ e ¾ da copa)
Assim, a copa de cada árvore
recebe uma nota que vai de 0 a 4
4 76% - 100% (botões, flores ou frutos
para cada fase.
ocupando mais que ¾ da copa)
Que tal treinar antes de
começar a observar?
Plantas nativas
Quaresmeira
(Tibouchina granulosa)
Família Melastomataceae
Árvore de porte médio (8-12 m),
originária das matas de encosta
do Rio de Janeiro. Tem como
característica marcante folhas de
textura áspera e com nervuras
quase paralelas, que partem do
mesmo ponto na base da folha.
Mulungu-do-litoral
(Erythrina speciosa)
Família Fabaceae
Árvore de pequeno porte (3-5 m),
comum nas regiões sudeste e
sul do Brasil, principalmente da
planície costeira e de florestas de
restinga. Tem como característica
marcante folhas e caule
espinhentos. Suas flores vermelhas
são atrativas para beija-flores.
Pitangueira
(Eugenia uniflora)
Família Mirtaceae
Árvore de porte médio (6-12 m).
Ocorre em toda a extensão da
Mata Atlântica. Tem como
característica marcante caule
pardo que descama, assim como
muitas espécies dessa família. Seus
frutos de cor vermelha quando
maduros apresentam sementes
que são dispersas pela fauna.
Chal-chal
(Allophylus edulis)
Família Sapindaceae
Árvore de porte médio (6-20 m) e
ampla distribuição no Brasil. Tem
como característica marcante
folhas com bordas serrilhadas,
sempre agrupadas em trios.
Flores brancas pequenas e frutos
vermelhos dispostos em cachos.
Suas sementes também são
dispersas pela fauna.
Plantas exóticas
Amoreira
(Morus nigra)
Família Moraceae
Árvore de pequeno porte (3-8 m),
originária da Ásia. Tem como
característica marcante folhas com
bordas serrilhadas e os pequenos
frutos agrupados que variam em
tons de vermelho. Possui pequenas
flores brancas que são atrativas
para a fauna.
Cafeeiro
(Coffea sp.)
Família Rubiaceae
Arbusto (1,5 -3 m), planta exótica
muito cultivada, apresenta
folhas lustrosas com as margens
onduladas. As flores se agrupam
em inflorescências e são brancas.
Seus frutos são redondos e variam
em tons de vermelho, sendo muito
apreciados pela fauna.
Sibipiruna
(Poincianella pluviosa)
Família Fabaceae
Árvore de médio porte
(8-16 m), muito presente nas ruas
de diversas cidades brasileiras. Ao
contrário do que se acredita, a
sibipiruna é uma árvore exótica,
originária da Argentina.
Uva-japonesa
(Hovenia dulcis)
Família Rhamnaceae
Árvore de médio porte (6-12 m),
originária da Ásia. Seus frutos
apresentam forma peculiar e são
muito apreciados pela fauna e
também pelas pessoas.
Mapa do Parque mostrando
a localização das árvores
monitoradas no projeto
Legenda das espécies nativas Legenda das espécies exóticas
TG: Tibouchina granulosa MN: Morus nigra (amoreira)
(quaresmeira) CA: Coffea sp. (cafeeiro)
ES: Erythrina speciosa CP: Poincianella pluviosa
(mulungu-do-litoral) (sibipiruna)
EU: Eugenia uniflora (pitangueira) HD: Hovenia dulcis (uva-japonesa)
AE: Allophylus edulis (chal-chal)
Encorajando voluntários
a acompanhar as
mudanças no ambiente
O conceito de Ciência Cidadã
envolve a participação de
voluntários na produção do
conhecimento científico,
geralmente colaborando através
da coleta de dados. Essa nova
forma de pensar e fazer ciência
vem sendo utilizada por diversas
instituições de pesquisa ao
redor do mundo para observar
os fenômenos naturais. É uma
prática que aumenta muito a
capacidade de pesquisadores em
obter dados, ao mesmo tempo em
que aproxima sociedade e ciência,
trazendo benefícios para todos.
O Museu Biológico do Instituto
Butantan, desde os primórdios de
suas atividades, tem se utilizado
deste conceito para desenvolver
pesquisas com animais e plantas
no ambiente urbano de São Paulo.
Através da Ciência Cidadã,
os integrantes do Programa Para obter mais informações e
Circuito Butantan da Maior participar do projeto acesse:
Idade, organizado pelo Núcleo gabinetedecuriosidades.org
de Difusão do Conhecimento,
podem participar ativamente vivenciasetransformacoes.
do Monitoramento Fenológico, blogspot.com.br
auxiliando na coleta de
dados sobre a floração e butantan.gov.br/cultura/
frutificação das espécies de circuito-maioridade
plantas arbóreas do Parque, ao
longo do ano e das estações.
museu
biológico
Textos e Organização
Giulyana Althmann Benedicto
Luiza Teixeira-Costa
Bruno Cardoso do Amaral
Erika Hingst-Zaher
Luciano Moreira Lima
Yasmin Vidal Hirao
Amanda Viana
Imagens
Antonio da Costa
Bruno Cardoso do Amaral
Camilla Carvalho
Giulyana Althmann
Guto Carvalho
Laura Montanía
Köhler
Luciano Moreira Lima
Luiza Teixeira-Costa
Marcos Mello
Mauro Guanandi
Rodolpho Gonçalves
Design gráfico
Ilana Tschiptchin
Núcleo de Produções Técnicas
Realização
Instituto Butantan
Museu Biológico
Apoio
Fundação Butantan