UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
SOCIOLOGIA I
FICHAMENTO DO LIVRO
DURKHEIM, Émile
A FUNÇÃO DA DIVISÃO DO TRABALHO
P. 1-37
ISABELLA BUENO DA SILVA LUIZ
Ministrado por Dra. Maria Cristina Dadalto
e Doutorado Marciel Da Silva Cordeiro
VITÓRIA, ES 2023
Para Durkheim (1858-1917) os princípios da divisão do trabalho são mais morais
do que econômicos. São os fatores que unem os indivíduos numa sociedade, pois geram
um sentimento de solidariedade entre aqueles que realizam as mesmas funções.
Outro fator importante é que este pensador analisava a sociedade como uma
metáfora do corpo humano. Nessa ideia, a divisão social do trabalho seria responsável
por manter a harmonia deste sistema de órgãos que compõe o organismo.
P.13
”A palavra função é empregada de duas maneiras muito diferentes. Designa ora um sistema
de movimentos vitais, abstração feita de suas consequências, ora a relação de
correspondência que existe entre estes movimentos e algumas necessidades do organismo. É
assim que se fala da função de digestão, de respiração, etc.; mas diz -se também que a
digestão tem por função presidir à incorpor ação no organismo de substâncias líquidas ou
sólidas destinadas a reparar suas perdas; que a respiração tem por função introduzir nos
tecidos do animal o gás necessário à manutenção da vida, etc. É nesta segunda acepção que
entendemos a palavra. Perguntar-se qual é a função da divisão do trabalho ...” (DURKHEIM
Èmile. 1978)
Além disso, Émile afirmou que quanto maior e mais complexa for uma sociedade,
maior será a divisão social do trabalho presente na mesma. Para ele, é o crescimento
populacional o responsável pela divisão do trabalho.
P.26
“Há mais: se a divisão do trabalho não preenche outro papel, ela apenas tem caráter moral,
mas não se percebe qual razão de ser ela pode ter. Veremos, com efeito, que por si mesma a
civilização não tem valor intrínseco e absoluto; o que faz seu valor é que corresponde a certas
necessidades. Ora, está proposição será demonstrada mais adiante, estas necessidades são
consequências da divisão do trabalho. É porque esta não prossegue sem um acréscimo de
fadiga que o homem é constrangido a buscar, como aumento da restauração de forças, estes
bens da civilização que, de outra forma, seriam para ele sem interesse. Portanto , se a divisão
do trabalho não respondesse a outras necessidades além daquelas, não teria outra função
que a de atenuar os efeitos que ela própria produz, que a de curar as feridas que ela mesma
fez. Nestas condições, poderia ser necessário suportá -la, mas não haveria nenhuma razão de
querê-la, porque os serviços que ela prestaria reduzir -se-iam a reparar as perdas que ela
causa.” (DURKHEIM Èmile.1978)
Analisando a evolução das sociedades, Durkheim divide a solidariedade em
solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.
A solidariedade mecânica corresponde às sociedades tradicionais, pré-capitalistas,
marcadas por uma homogeneidade social muito grande. Nelas, os indivíduos se parecem.
As culturas tradicionais partilham de crenças e valores comuns, cujos controles e padrões
morais são fornecidos pela religião, sendo fundadas no consenso, havendo pouco espaço
para a divergência. Nessas culturas, vê-se uma baixa divisão de trabalho, diferente nas
sociedades que começam a se industrializar e urbanizar. A harmonia é possível graças à
semelhança de valores entre os indivíduos.
O processo de transição para a industrialização e urbanização trouxe o colapso da
solidariedade mecânica e, à medida que crescia a especialização das tarefas e a
diferenciação social, uma nova solidariedade nomeada de orgânica, se estabelece. A
solidariedade orgânica, portanto, é própria da sociedade capitalista. Supõe uma
complexidade social maior, em que os indivíduos são diferentes.
Durkheim está preocupado com a “coesão social”. A coesão social ou a sua
ausência é resultado da tensão entre dois conceitos: o da solidariedade e da anomia. A
solidariedade interna da sociedade, solidariedade agora qualificada como orgânica, funda-
se sobretudo na interação de cada um na divisão do trabalho social. A anomia –
manifestação, de desregramento torna precária a vida e corta laços sociais.
Na ordem capitalista, têm-se a ampliação da divisão social do trabalho, cuja função
seria produzir solidariedade e criar um sistema de direitos e deveres. A divisão do trabalho
em Durkheim parte do pressuposto de que o mesmo pode gerar consensos e ser portador
de um pacto de convivência. Os indivíduos aceitam o lugar social que lhes é dado desde
que impere
uma ordem social que leve justiça a todos os seus membros. A sociedade
durkheimiana é uma sociedade regida pela negação do conflito. Neste sentido, ela não
comporta o diferente.
No entanto, nem sempre a divisão do trabalho social é um fenômeno normal. A
divisão do trabalho pode ser fonte não somente de solidariedade, mas também de
desintegração social. O enfraquecimento da consciência coletiva é um fenômeno próprio
e normal em sociedade de solidariedade orgânica. Nem por isso pode ser considerado
patológico.
Durkheim elucida três formas de divisão do trabalho anômica. Isso ocorre porque
normalmente a divisão do trabalho produz a solidariedade social, mas há momentos em
que tem resultados totalmente diferentes ou mesmo opostos. As anomias surgem quando
a divisão do trabalho não produz contatos suficientemente eficazes entre os indivíduos
nem regulações adequadas das relações sociais.
Uma primeira forma patológica é a divisão do trabalho anômica. Num contexto de
fortes mudanças sociais, novos contextos vão surgindo e que não são regrados.
A segunda forma é a coação. Para Durkheim, a vida social se organiza com certa
espontaneidade quando os indivíduos interiorizam a sociedade e aceitam os contratos.
Quando essa espontaneidade é rompida, ocorre a coação, que necessita de um
assentimento expresso por parte dos indivíduos.
A terceira forma anormal se dá quando não há uma regularidade do trabalho. A
solidariedade depende estreitamente da atividade funcional das partes especializadas. As
funções tornam-se mais ativas quanto mais contínuas forem, dessa forma acarretando no
aumento da solidariedade.
Durkheim valoriza muito o trabalho em corporações (renovadas) [mediação entre
Estado e sociedade]. Para ele as associações de profissionais de trabalho foram capazes
de fornecer um código de ética e uma identidade corporativa aos artesãos e profissionais,
desde a era romana até a Revolução.
Embora não seja explicito, Durkheim considera que o trabalho é significante e
satisfatório unicamente quando é feito em um meio regulamentado e normativo, marcado
pela solidariedade entre os trabalhadores (associações de profissionais do trabalho). Não
se trata de estabelecer uma estrutura idêntica à das corporações e das guildas do Ancien
Régime. As novas corporações deveriam aumentar seu porte e estender a estrutura de
sua organização para se tornarem corporações nacionais.
O grupo social, ancorado na situação profissional, serve de autoridade moral que é
igualmente fonte de calor e de simpatia que refreia todo egoísmo.
Durkheim sugere ainda que as corporações poderiam servir de nova base à vida
política, visto que, no passado, elas eram a pedra angular das comunidades urbanas. O
autor dá a entender que a corporação renovada poderia estabelecer-se como a unidade
política de base do Estado moderno.