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CONSERVAÇÃO PREVENTIVA E ARTE CONTEMPORÂNEA: O

MACROAMBIENTE DO ACERVO DA CASA DAS ONZE JANELAS

PREVENTIVE CONSERVATION AND CONTEMPORARY ART: THE MACRO-


ENVIRONMENT OF THE COLLECTION OF THE HOUSE OF ELEVEN WINDOWS

Bruna Maria Araújo de Melo Maranhão1


Universidade Federal do Pará

Rosangela Marques de Britto2


Universidade Federal do Pará

RESUMO
A partir do Projeto de Pesquisa e Documentação Museológica do Acervo de Artes Visuais do
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, em Belém do Pará, financiado pelo CNPq, analisam-
se os desafios presentes no macroambiente para a preservação e conservação do acervo de
artes visuais deste museu de arte contemporânea, salvaguardado na Reserva Técnica
Sistêmica de Artes Visuais e seu anexo de caráter provisório, localizado no Museu do Estado
do Pará. A pesquisa qualitativa, teórico-empírica, baseia-se na análise dos espaços das
reservas e a influência do ambiente externo nesta área. Apresentamos os dados preliminares
das condições ambientais desses espaços e um diagnóstico de conservação preventiva a
partir da pesquisa da Coleção Fundo Z.

PALAVRAS-CHAVE
Museologia. Conservação Preventiva. Museu do Estado do Pará.

ABSTRACT

From the Project of research and Museological Documentation of the Visual Arts Collection of
the Cultural Space Casa das Onze Janelas, in Belém do Pará, funded by CNPq, the
challenges present in the macro-environment are analyzed, for the preservation and
conservation of the visual arts collection of this contemporary art museum, safeguarded in the
Systemic Technical Reserve of Visual Arts and its provisional annex, located in the Museum
of the State of Pará. Qualitative, theoretical-empirical research based on the analysis of

1 Graduanda em Museologia na Universidade Federal do Pará. Bolsista de Iniciação Científica do “Projeto de


pesquisa e documentação museológica do acervo de artes visuais do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas”,
aprovado pelo CNPq, chamada nº40/2022 – Projeto em rede – políticas púbicas para promoção de cultura. E-mail:
[email protected]. Lattes ID: http://lattes.cnpq.br/1806002753863539. Belém, Brasil.
2 Docente do Programa de Pós-graduação em Arte da Universidade Federal do Pará. Pesquisadora e arte-

educadora do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Pará. Doutora em Antropologia
pela Universidade Federal do Pará. Artista Visual e Museóloga. Lattes ID: http://lattes.cnpq.br/3188863381591509.
1
reserve spaces and the influence of the external environment in this area. We present the
preliminary data of the environmental conditions of these spaces and a diagnosis of preventive
conservation from the research of the Fundo Z Collection.

KEYWORDS
Museology. Preventive Conservation. Pará State Museum.

Introdução

Em 1998, o Governo do Estado do Pará fundou o Sistema Integrado de Museus e


Memoriais (SIMM), da Secretaria Executiva de Cultura do Estado do Pará (SECULT-
PA), pelo Decreto n. 1.434, de 13 de dezembro de 2004 (SILVA, 2022, p. 8). O SIMM
parte do ponto de vista do potencial de musealização do Centro Histórico de Belém e
busca integrar a rede de museus e memoriais dessa área, por meio de programas
museológicos e gestão dessas instituições e seus acervos, quais sejam: Museu de
Arte Sacra (MAS), onde fica o corpo administrativo do SIMM; Corveta Museu
Solimões; Museu do Forte do Presépio ou Museu do Encontro; Museu de Gemas do
Pará; Memorial do Porto e Memorial da Navegação, além do Museu da Imagem e do
Som, Museu do Estado do Pará, Museu do Círio e Espaço Cultural Casa das Onze
Janelas (BRITTO; BORGES, 2010, p. 162).

Dentro dessa organização, o Sistema deu início ao processo de salvaguarda dos


acervos a partir do conceito de Reserva Técnica Sistêmica. Este conceito consiste em
uma forma de organização baseada nas tipologias de acervos e materiais, já que nem
todas as instituições ligadas ao SIMM possuem espaço adequado para o
acondicionamento de seus acervos. Em decorrência disso, o Museu do Estado do
Pará (MEP) tornou-se um local que abriga reservas técnicas e, por exemplo, os
acervos do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas (COJAN).

É sabido que a COJAN foi oficialmente inaugurada em 2002 (SAMPAIO, 2019). Foi
consolidado como um lugar de referência em arte contemporânea da Região Norte
desde a aquisição da Coleção Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), conhecida
pelo seu valor artístico e cultural (MORKAZEL, 2013). Esta comunicação objetiva
2
difundir o início do mapeamento dos desafios encontrados no espaço de salvaguarda
dos acervos da COJAN, a partir dos aspectos físicos e organizacionais, estando
vinculado ao Projeto de Pesquisa e Documentação Museológica do Acervo de Artes
Visuais do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas em Belém do Pará, financiado
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tendo
como coordenadora geral a Profa. Dra. Rosangela Britto, da Universidade Federal do
Pará (UFPA); e na área de conservação preventiva, a Profa. Dra. Sue Anne Costa
(UFPA), dentre outros pesquisadores.

O projeto prevê a otimização das ações de documentação museológica e a


conservação de acervos na Amazônia paraense, em especial as coleções
pertencentes à COJAN. Nesta comunicação nos detemos na pesquisa voltada à
Conservação Preventiva e, para tal, observamos que uma das ferramentas mais
utilizadas em museus é a Conservação Preventiva, que, de modo geral, pode ser
entendida como a somatória de ações e infraestruturas necessárias para mitigação
da ação de agentes de deterioração, tais como temperatura, umidade,
armazenamento, sob os acervos (FRONER, 2008). Assim sendo, o compartilhamento
destes resultados preliminares referentes à conservação preventiva, com foco na
coleção do Fundo Z pertencente à COJAN, busca contribuir para a produção de
conhecimentos que reflitam especificidades amazônicas na manutenção de acervos
de arte moderna e contemporânea.

Preservação do Patrimônio Artístico

A função básica do museu é preservar. Nesse sentido, Cristina Bruno (1997, p. 24)
afirma que: “Todas as outras funções devem estar subordinadas ao seu caráter
preservacionista”. Nessa perspectiva, vale destacar a notável diferença entre a
preservação de obras tradicionais de arte e de obras de arte contemporânea. Esse
breve comentário pode ser dividido em duas questões: a social e a profissional.

Primeiramente, a questão social pode ser percebida pela antiga inquietação da


Museologia, que é aproximar a sociedade do museu. Esse ponto circunda em torno
de um comentário muito pertinente de Bruno (1997, p. 24): “Cabe destacar que há um

3
certo constragimento em pensar e realizar instituições que perpetuam os objetos,
enquanto o nosso cotidiano é permeado pela onipotência dos objetos descartáves”.
Nesse sentido, atravessa a análise comparativa entre o usufruto da arte com o acesso
a direitos básicos sociais. Isso pode ser relacionado com a dificuldade da arte
contemporânea adentrar as camadas populares, apesar de ser um tema recorrente
nesse tipo de categoria.

Em segundo lugar, a questão profissional permeia a ideia de que “A própria noção do


que se entende por dano transforma-se proporcionalmente em função da proposta
conceitual de cada modalidade” (SEHN, 2012, p.138, grifo do autor). A
experimentação estética exige um esforço maior para compreender a materialidade e
a ideia da obra, que, no âmbito da arte contemporânea, são inerentes uma a outra.
Para mais, ainda há a variedade de materiais que também requisitam mais atenção
para delimitar as ações de conservação.

Posto isso, o indicado para reverter essas questões é continuar a desenvolver


processos que experimentem novos caminhos, como a comunicação museológica e
a educação em museus para a questão social. Quanto à questão profissional, a
contribuição multidisciplinar da equipe de pesquisa, como historiadores e críticos de
arte, do mesmo modo que a atuação de profissionais de Museologia e Conservação
e Restauro, devem unir a sua aplicação para contribuir com essa tipologia de acervo.

A pesquisa e os acervos

A pesquisa é qualitativa, teórico-empírica, e a observação de campo se processa nas


reservas técnicas de artes visuais situadas no Museu do Estado do Pará. A discussão
segue a metodologia de ações baseadas na teoria da conservação preventiva,
considerando a salvaguarda da Coleção Fundo Z, por meio da análise do
macroambiente, mobiliário e espaço de salvaguarda. Para este último caso foi
utilizado o instrumental de medição Datalogger, modelo HT-70, durante uma semana,
programado para coletar informações na reserva técnica de duas em duas horas.

4
O acervo da COJAN é pioneiro em arte contemporânea no Pará, com obras variadas
provenientes de doação ou aquisição. Durante os primeiros meses de duração do
projeto, a Coleção Fundo Z foi contemplada com o levantamento de dados e
higienização de acervo, assim como sua realocação no mobiliário, visando melhor
acondicionamento e localização. Devido a isso, foi selecionada para a discussão dos
resultados da análise ambiental dos espaços de salvaguarda.

A Coleção Fundo Z é uma doação feita pela Fundação Roberto Marinho em 2017, e
constituída de 58 artistas e 98 obras. O acervo é composto por variadas categorias,
tais como pintura, fotografia, instalação, fotoperformance e tridimensionais. Essa
coleção reúne obras de artistas importantes para a arte contemporânea paraense,
como Paula Sampaio, Berna Reale, Walda Marques, Nina Matos e Danielle Fonseca,
entre outros. A tipologia do acervo é outro fator que dificulta demarcar a política de
conservação, já que possui grande variedade de materiais, como é possível ver no
Gráfico 1, que mostra a ocorrência da diversidade de materiais por obra.

Gráfico 1. Gráfico de tipologia da Coleção Fundo Z, 2023. Fonte: Elaborado pela primeira autora.

5
Em exemplo disso, a obra de Osmar Pinheiro (Imagem 1) que é constituída
plasticamente por diversos materiais, como areia, pigmento, metal, dentre outros. No
decorrer do laudo de conservação desta obra, foi levantada a possibilidade de conter
cera e areia em sua constituição básica, além da colagem de outros materiais e a
madeira. Este é apenas um pequeno exemplo, que revela a variedade de tipologia de
suportes e materiais diversos que constituem as obras dessa coleção. Percebe-se
que a experimentação estética e conceitual da obra é característica da arte
contemporânea, entretanto, a ausência de pesquisa e políticas de conservação para
a pluralidade da matéria pode afetar o significado da obra (CARVALHO, 2010), pelo
seu desgaste e ausência de medidas de conservação.

Imagem 1. Fotografia da obra de Osmar Pinheiro, s/título. 1999. Fonte: Acervo Projeto CNPq, 2023.

Parte disso o desafio para a sua conservação, já que os critérios para a existência de
um material pode ser prejudicial a outro, como descrito por Carvalho:

A estabilidade e a conservação dos objetos de arte é uma meta a se


buscar, porém a diversidade de materiais e de valores semânticos
agregados aos objetos de arte cria um desafio ainda maior para o
conservador/restaurador. Não basta apenas preservar a matéria que
constitui a obra de arte; na arte contemporânea, o conteúdo simbólico
inerente a um material pesquisado por um artista é o que deve ser
mantido e preservado (CARVALHO, 2012, p. 116).
6
Em outras palavras, as especificidades das obras com materiais nada tradicionais e a
maneira que foram utilizados fazem parte do conteúdo, assim como a ideia proposta
pelo artista. O comprometimento da condição estrutural e física da obra também afeta
a proposição artística, porque a informação que chega ao receptor será diferente
(CARVALHO, 2010). O esforço da conservação preventiva diante da Arte
Contemporânea deve colaborar com alguns elementos, como o trabalho
interdisciplinar, a pesquisa e, se for possível, o diálogo com o artista para concluir qual
a melhor maneira de preservação, levando em consideração as caracteristícas únicas
de cada obra.

O espaço
Trata-se de um prédio histórico, cuja primeira notícia de sua existência foi veiculada
em 1715, com cerca de 308 anos de idade (TRINDADE, 2007). Está localizado no
bairro da Cidade Velha, em Belém do Pará, entre as ruas Dona Tomázia Perdigão e
Cel. Fontoura, próximo a duas praças arborizadas e da baía do Guajará (Imagem 2).
O prédio possui um pátio central e a organização dos compartimentos se desenvolve
nos seus arredores, de forma que alguns compartimentos só podem ser acessados
por intermédio de outros, algo que revela a circulação horizontal dependente
(TRINDADE, 2007).

7
Imagem 2. Localização do Museu do Estado do Pará, 2023. Fonte: Google Earth.

Conforme afirma Marina Ribeiro, “Os edifícios históricos de museus estabelecem um


tipo de filtro entre exterior / interior a partir das características construtivas do período
histórico em que os prédios tombados foram erguidos” (RIBEIRO, 2009, p. 403, grifo
da aultora). Por isso, não apenas as informações do clima que circunda o edíficio, mas
também os aspectos físicos dessa construção devem ser estudados, para definir a
influência na criação das condições favoráveis do ambiente interno. A autora destaca,
ainda, que a análise desse comportamento é fundamental para melhorar o
desempenho de instituições museológicas já estabelecidas (RIBEIRO, 2009).

No interior desse prédio está organizada a Reserva Técnica de Artes Visuais, espaço
que abriga o acervo da COJAN. Ao longo dos anos, os editais de fomento de Arte
Contemporânea promoveram a expansão do acervo quantitativamente, de modo que
as condições físicas de salvaguarda não conseguiram acompanhar este processo.
Concomitante a isso, em uma tentativa de solucionar essa problemática, algumas
coleções foram transferidas para um espaço temporário de armazenamento,
denominado Reserva Técnica de Artes Visuais Provisória (Imagem 3).

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Imagem 3. Desenho ilustrativo do esquema arquitetônico da Reserva Técnica de Artes Visuais
Provisória, 2023. Fonte: Elaborado pela primeira autora.

A Reserva Técnica Provisória (C) tem aproximadamente 12,35m x 7,69m, área de


101m², localizada na extremidade do edifício, mais distante das áreas arborizadas.
Com quatro janelas de madeira de moldura recortadas. O teto é dividido em três
abóbadas, já o piso é possivelmente de tijoleiro e as paredes são feitas de pedras e
tijolos maciços, unidos por argamassa histórica de cal, padrão comum nos edíficios
históricos de Belém (LOUREIRO et al., 2015).

O mobiliário

A Reserva Técnica de Artes Visuais possui um mezanino para aproveitar melhor o


espaço vertical do espaço, mas como é apresentado na Imagem 4, o
acondicionamento está no limite. O espaço é dividido em 3 ambientes que contam
com sistema de trainéis deslizantes, 3 estantes, 5 armários e 1 mapoteca.

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Imagem 4. Compilação de imagens do mobiliário da Reserva Técnica de Artes Visuais, 2023. Fonte:
elaborado pela primeira autora.

Esse limite de acondicionamento força a mudança do acervo para a Reserva Técnica


de Artes Visuais Provisória. O mobiliário deste espaço (Imagem 5) conta com sete
estantes, sendo uma delas um andaime que serve para o armazenamento de obras
grandes. Há também três mapotecas, destinadas a obras de papéis. Por fim, duas
mesas definem a área de trabalho do projeto, sendo a Mesa 1 onde ocorre o processo
de higienização e confecção de novos invólucros, com base nas necessidades de
cada obra; e a Mesa 2 serve como a sua extensão. No que diz Yacy-Ara Froner (2008),
o planejamento do mobiliário deve ser pensado no projeto arquitetônico da instituição,
mas se não for possível, adaptações são bem-vindas, seguindo as necessidades do
acervo, como: o volume e a tipologia do acervo; o espaço físico da área de Reserva
Técnica e o montante de verba disponível.

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Imagem 5. Compilação de imagens do mobiliário da Reserva Técnica de Artes Visuais Provisória,
2023. Fonte: elaborado pela primeira autora.

A climatização

Para Lia Teixeira e Vanilde Ghizoni (2012, p. 17): “Ambientes com clima quente e
úmido são extremamente favoráveis a infestações”. Certamente o ambiente externo
influencia o ambiente interno. Levando em consideração o clima tropical da região
amazônica, os cuidados precisam ser repensados para que possam ser mantidos de
forma sustentável. Em países tropicais, o controle climático é feito por ar
condicionados e desumidificadores, aparelhos questionados devido à dependência
nesse sistema, que está sujeito a defeitos (RIBEIRO, 2009). Logo, o que passa a ser
valorizado é a estabilidade das condições ambientais, ao invés de obter índices de
temperatura e umidade impreterivelmente nos parâmetros adequados, que, segundo
Souza (2008), são em torno de 20ºC e abaixo de 70%UR.

Dito isso, os aparelhos de ar condicionado apresentam mal funcionamento quase que


constantemente, algo que afeta o controle da temperatura e, por conseguinte,
sobrecarrega os desumidificadores. A média de temperatura e umidade são,
respectivamente, 24,47ºC e 76,17%UR. Esses valores são inadequados para a
conservação de acervos de tipologias mistas, como é o caso das obras que compõem
11
o acervo do Fundo Z. Essa é uma condição prejudicial ao funcionamento do museu,
por atravessar a preservação do acervo museológico e até mesmo o conforto dos
funcionários (RIBEIRO, 2009).

Diagnóstico preliminar

Em um diagnóstico preliminar, pode-se destacar os desafios a serem enfrentados,


que permeiam o espaço de salvaguarda e o acondicionamento do acervo. As
complicações do espaço podem ser percebidas em causas estruturais, como o espaço
de guarda temporária do acervo e preparação de objetos, visto que ambas são
realizadas no mesmo ambiente, a RT Provisória, cujo acervo é mantido em conjunto
com os materiais de preparação. Outro ponto é o momento de preparação, que pode
facilitar a luz como agente de deterioração dentro da RT Provisória, quando a obra é
retirada de seu invólucro, além das oscilações na temperatura e umidade da sala,
causadas pelo trânsito frequente da equipe.

Conforme afirma Mirabile (2010. p. 7): “O ambiente do local de guarda das coleções
necessita ser estável e o edifício deve apresentar inércia térmica e hidráulica que
resulte em impermeabilidade às variações externas de temperatura e umidade”. Mas
esse não é o caso de edifícios históricos com instituições museológicas previamente
estabelecidas. Como é sabido, o comportamento da edificação é influente no
relacionamento do ambinete externo com o interno, como a umidade, que pode ficar
armazenada nos materiais de construção. Isso, somado à espessura das paredes, é
um vetor de umidade tanto quanto o ar, apesar de ser pouco considerada no controle
de umidade. O material do piso também é um problema, porque é extremamente
poroso e facilmente segmentado, algo que gera muita poeira. As obras nas prateleiras
mais baixas são mais afetadas, senão pelo invólucro de TNT.

Diante disso, a temperatura e umidade sofrem bastante variação porque os


equipamentos de controle ambiental não permitem uma condição estável, como
supracitado. Essa variação da temperatura/umidade foi relacionada à presença de
microrganismos que crescem principalmente em molduras de fotografias (Imagem 5),
favorecidos pelos indíces instáveis de umidade.

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Imagem 5. Fotografia de parte da obra Fragmentos do Corpo I, de Elieni Tenório, 2013. Foto: Arquivo
Projeto CNPq, 2023.

Além disso, percebeu-se que as janelas são elementos facilitadores da entrada de


poluentes, calor e insetos, visto que a localização da RT Provisória fica em paralelo à
rua com tráfego de veículos. Apesar disso, dentre as obras investigadas, nenhuma
apresentou qualquer dano com origem relacionada à poluição do ar.

Considerações Finais

A diferença entre os museus e outras instituições culturais é, fundamentalmente, os


seus acervos, que devem ser estudados e comunicados para qualificar a sua função
social (VIAL, 2017). Entre essas ações está a preservação, relacionada aos espaços
de salvaguarda, como as reservas técnicas. De acordo com Mirabile (2010, p. 4),
cerca de 95% do acervo de museus está localizado dentro desses espaços. Portanto,
é necessário que recebam mais atenção para atender às necessidades dos acervos
da COJAN.

A conclusão de ações de conservação preventiva sob a perspectiva multidisciplinar é


essencial para o funcionamento da instituição, considerando que o museu está
organizado em torno do seu acervo (VIAL, 2017). É importante ressaltar que os
desafios apontados, como o individualismo das obras e as particularidades do clima,
13
são referências para discutir ações preventivas sustentáveis, visto que a literatura
internacional – ou até mesmo os estudos nacionais que tratam de conservação
preventiva, não compreendem as necessidades dos acervos na perspectiva do clima
amazônico.

A partir da análise do macroambiente, as condições de conservação preventiva não


são suficientes para a preservação desses acervos, como, por exemplo, a
necessidade de manutenção sistemática de equipamentos para o controle ambiental
e a ampliação e adequação do espaço e mobiliário, assim como é indicado que a
preparação de obras não ocorra na mesma sala de guarda. Estas medidas são
fundamentais para a garantia de manutenção da integridade das obras que compõem
não apenas a coleção do Fundo Z, mas o acervo total de arte contemporânea
salvaguardadas pela COJAN, pertencentes à sociedade e suas mais variadas formas
de vida.

Essa pesquisa iniciada parcialmente se desdobrará até 2024, sendo ela uma ação no
âmbito da conservação preventiva, que envolve uma equipe multidisciplinar de
pesquisadores, principalmente da área da Museologia e das Artes, visando a uma
relação de trocas de conhecimentos e saberes do campo científico-acadêmico, entre
a Universidade e a sociedade.

No caso relatado, a parceria estabelecida entre a Universidade Federal do Pará,


Instituto de Ciências da Arte e Faculdade de Artes Visuais, envolvendo docentes,
discentes e pesquisadores dos Cursos de Artes Visuais, Museologia e Multimídia, em
parceria com a Universidade da Bahia, Departamento de Museologia, Curso de
Museologia, representado pela docente-pesquisadora Anna Paula da Silva, e a
Universidade da Amazônia, com a presença do curador, artista e pesquisador,
Mariano Klatau Filho. Esta rede formada por instituições de ensino superior se uniram
em prol de um objeto comum de pesquisa, para sanar um problema concreto, com
pouca informação acerca dos acervos de arte moderna e contemporânea da COJAN,
que integra o Sistema de Museus da Secretaria de Cultura do Estado do Pará.

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Referências

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