Nordeste-3 Nota
Nordeste-3 Nota
RESUMO
ABSTRACT
The Northeastern economy has been growing since 1960, increasingly more articulated with
the Brazilian economy, at rates that are higher than the national rates. And in the first decade of the
twenty-first century, it continues to evolve in a positive way. Recently, the income of the salary-earning
masses and of the poorer segments had a significant increase, resulting from the combination of the
growth of the regional economy, the formalization of the salary-earning workers, the actual earnings of
the minimum wage and the increase in the transfer of income. This evolution of the income was
accelerated with the arrival of new financial tools arising from bancarização (low income people’s access
to banks), from the crédito consignado (paycheque-deductible loans) and from productive microcredit.
The result is a consumption boom, with four years of positive rates, consecutive and above the national
average. The economic growth, added to the increase in the popular income and to the broader social
politics, generated another important phenomenon: the decrease in social inequalities. However, the
growth of the region, like decades ago, continues to happen, in a concentrated manner, in the metropolitan
areas of the capital cities, and the impact of the increase in popular income tends to lose its strength. In
order to keep the singularity of this decade – economic growth with decrease in inequalities – the
Northeast needs to develop a better infrastructure and keep attracting private investments at the same rate
as the last years.
NORDESTE: SINAIS DE UM NOVO PADRÃO DE CRESCIMENTO (2000/2008)
INTRODUÇÃO. Primeira região de ocupação demográfica do país, o Nordeste possui uma vasta
literatura interpretativa de seu passado de cinco séculos, na qual se revelam capítulos de uma rica história
econômica. 1 No processo da “formação do complexo nordestino”, segundo a expressão de Celso Furtado,
a cana-de-açúcar, a pecuária e o algodão ajudaram a estruturar a economia, sobretudo no período colonial.
A partir da segunda metade do século XIX, a indústria têxtil e a urbanização iniciaram um movimento de
superação dessa realidade. Décadas depois, ocorrerá a integração do Nordeste à dinâmica nacional, tendo
como centro de referência o processo de industrialização da região Sudeste.
Dentro dessa nova conjuntura, – com o país se industrializando e o mercado interno comandando
a dinâmica econômica –, as disparidades dos níveis de renda e do ritmo de crescimento entre essas duas
regiões fizeram surgir o debate sobre a “questão regional” que, na época, tinha o mesmo sentido de
“questão nordestina” (VIDAL, 2004). Numa tentativa de enfrentar essas desigualdades, um conjunto de
instituições federais foi criado: a Chesf, em 1945, para construir a infra-estrutura na oferta de energia
elétrica; o DNOCS (antigo IFOCS), também em 1945, para superar o problema das estiagens
prolongadas; a Codevasf, em 1947, para desenvolver o vale do São Francisco; o BNB, em 1952, para
apoiar a economia do semi-árido; e, por último, a Sudene, em 1959, para planejar o desenvolvimento da
região (CARDOSO, 2007).
A partir da segunda metade do século XX, com o processo de industralização comandado pela
Sudene, o Nordeste expandiu e transformou sua estrutura produtiva. Nas décadas seguintes, “o lento
crescimento que, durante muitas décadas, caracterizou o ambiente econômico nordestino, foi substituído
pelo forte dinamismo de numerosas atividades que se desenvolvem na região” (ARAÚJO, 2002, p.2). Na
análise sobre o desenvolvimento regional, desse mesmo período, Leonardo Guimarães Neto defende que
essa região conheceu quatro fases bem distintas na sua trajetória entre 1960 e 2000. Em todas essas
etapas, o desempenho de sua economia “seguiu de perto a evolução da economia brasileira, crescendo
quando esta última crescia e reduzindo a intensidade do seu nível de atividades quando a economia
nacional registrava desaceleração” (GUIMARÃES NETO, 2004, p.155).
Patrocinado pelos investimentos estatais, o movimento de integração econômica realizou a
passagem do domínio da articulação meramente comercial entre as regiões brasileiras, predominante nas
décadas anteriores, para a integração produtiva e a incorporação físico-territorial da era Sudene,
agregando a dinâmica nordestina às tendências gerais da economia nacional. Essa trajetória foi aberta
com a fase inicial de expansão, nos anos 1960, quando beneficiado, em parte, pelo planejamento regional
–, recebeu investimentos básicos, sobretudo em rodovias e energia elétrica, crescendo a uma taxa média
de 4,4%. Nos anos 1970, apoiado pelo “milagre econômico” e pelos projetos do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND) vem a fase de continuidade do crescimento, na qual os investimentos de
infra-estrutura foram complementados pelos empreendimentos produtivos, principalmente os industriais,
e a região se expande a uma taxa anual de 9,4%. Os anos 1980 correspondem à fase de desaceleração,
coincidindo com a crise fiscal e financeira, que causou um impacto negativo. A taxa média diminui,
então, para 4,3%. No entanto, nos anos 1990, o Nordeste, refletindo a instabilidade econômica e a
experiência da desregulamentação e da abertura econômica, obteve taxas menores que nas décadas
anteriores, uma média de 2,6%, configurando a fase de continuidade da desaceleração e crise (ibidem, p.
153-154).
As condições econômicas da última década desse período se distanciaram significativamente da
base produtiva nordestina dos anos 1950, alterando-a quase por completo. Um total de 3.052 projetos
foram aprovados pela Sudene no período 1974/2000, concentrados nas áreas metropolitanas das capitais
1
Sobre a formação da região Nordeste, ver: ANDRADE, Manuel Correia. A Terra e o Homem no Nordeste. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2005; GUIMARÃES NETO, Leonardo. Introdução à formação econômica do Nordeste. Recife: FJN/Massangana,
1989; OLIVEIRA, Francisco. Elegia para uma Re(li)gião, Sudene, Nordeste. 6.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000;
ARAÚJO, Tânia Bacelar. Nordeste, Nordestes: que Nordeste? Recife: Fundaj, 2002; FREYRE, Gilberto. Nordeste: Aspectos
da Influência da Cana Sobre a Vida e a Paisagem... 7.ed. Rio de Janeiro: Global, 2004; ALBUQUERQUE JR. Durval Muniz.
A invenção do Nordeste e outras artes. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2006; CARVALHO, Otomar. A economia política do
Nordeste. Secas, irrigação e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Campus, 1988; MENEZES, Djacir. O Outro Nordeste. 3. ed.
Fortaleza: UFC, 1995
dos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará. O Fundo de Investimento do Nordeste (Finor) financiou as
principais indústrias que se instalaram na região, liberando R$15,8 bilhões para projetos, que, somados a
contrapartidas, a outros empréstimos ou a recursos privados, geraram um investimento total de R$68,4
bilhões (SUDENE, 2001).
O PIB do Nordeste, entre 1960 e 1990, passou de US$ 8,6 bilhões para US$ 91,4 bilhões. Os
investimentos produtivos (públicos e privados) na região elevaram seguidamente sua participação no PIB
nacional, saltando de 12%, em 1960, para 17%, em 1990. Esse crescimento do Nordeste em relação ao
país teve outra característica importante, a radical transformação no perfil de sua estrutura produtiva. No
espaço de três décadas, o setor agropecuário – que representava 41% da riqueza regional em 1960 – ficou
reduzido a somente 14,4% dessa participação. O setor industrial, que tinha 12% do PIB regional,
alcançava 28,2%, em 1990. E o setor de serviços cresceu de 47% para 57,4% (ALMEIDA; ARAÚJO,
2004). Terminado o período de intervenção da Sudene, as atividades urbanas (indústrias e serviços)
passaram a ter muito mais importância na composição da produção nordestina que as atividades
agropecuárias.
No entanto, o crescimento econômico, ao longo de várias décadas, quase não alterou os traços
mais fortes da região: a distribuição de renda e de terra desiguais, o baixo índice de desenvolvimento
humano e a concentração espacial da indústria na faixa litorânea, localizada principalmente nas capitais
dos estados maiores. Entre 1970 e 1990, os indicadores sociais apontam avanços, mas estes a mantém
distante da média nacional, no que diz respeito aos índices de esperança de vida ao nascer, mortalidade
infantil e alfabetização. Entre 1970 e 1990, o número de pobres aumentou de 19,4 milhões para 23,7
milhões, e sua participação no total de pobres do país subiu de 43,5% para 53% (ALMEIDA; ARAUJO,
2004). Enquanto a economia crescia a taxas mais altas que a média nacional, o Coeficiente de Gini,
refletindo o modelo econômico adotado, teve um desempenho contrário ao nacional 2 .
2
Sobre as desigualdades de renda ver: BARRETO, F. A.; JORGE NETO, P.; TEBALDI, E. Desigualdades de renda e
crescimento econômico no Nordeste brasileiro. Cadernos Estudos Econômicos, n.37, julho 2001. UFC, Fortaleza. SILVEIRA
NETO, R. M.; GONÇALVES, M. B. C. Mercado de trabalho, transferência de renda e evolução da desigualdade de renda no
Nordeste do Brasil. In: XII Encontro Regional de Economia – Anpec Nordeste, 2007, Fortaleza. Anais do XII Encontro
Regional de Economia, 2007.
3
Revista Exame, N.891 (30/04/2007).
2
2005, o Nordeste obteve uma taxa média de 2,7% do Produto Interno Bruto, enquanto a nacional foi de
2,2%. Entre 1996 e 2005, o Valor da Transformação Industrial (VTI) do Nordeste teve uma elevação de
25,7%, subindo sua participação na indústria brasileira de 7,5% para 9,3% (CNI, 2008).
As informações sobre esse fenômeno recente vêm se somando ano a ano. Desde 2005, o Banco do
Nordeste, por meio da Revista BNB Conjuntura Econômica, acompanha regularmente a evolução da
economia nordestina, sistematizando as informações sobre o desempenho de cada uma das unidades
federadas e do conjunto regional. No primeiro número, a Revista destacava os resultados positivos
alcançados, nos anos 2004/2005, por todos os estados e, naturalmente, para a região (BNB, 2005). Os
números seguintes da Revista vieram a confirmar uma série de evidências sobre o crescimento do
Nordeste, agora sob um novo padrão de evolução na economia.
As informações do BNB tiveram seqüência no final de 2007. Nesse ano, o IBGE, utilizando uma
nova metodologia na pesquisa Contas Regionais, apresentou os resultados do Produto Interno Bruto de
todas as unidades brasileiras, demonstrando que a evolução da economia dos estados nordestinos no
período 2002/2005 era positiva (IBGE, 2007).
4
Revista Nordeste Econômico (Recife, Vol.6, Ano 2, fev. 2008, p. 11) “Economia do Nordeste volta a crescer mais que a do
Brasil”
5
Revista Isto É Dinheiro. n.447. (12/04/2006). “Nordeste tem a força. A região cresce acima da média nacional, atrai projetos
bilionários e pode definir a sucessão”.
6
Revista Exame. N.891 (30/04/2007) “Nordeste: onde o Brasil cresce mais rápido”.
7
Revista Veja. N.1969 (16/08/2006) “A economia do Nordeste vive uma fase dourada, com aumento chinês no consumo”.
8
Jornal Valor Econômico (18/07/2007) “Norte e Nordeste vivem ciclo de forte crescimento”.
3
Esse fenômeno de crescimento está conectado ao período anterior, os anos 1990. Nessa época, em
meio a uma fase marcada pelo processo de liberalização da economia nacional e pela ausência de uma
política de desenvolvimento industrial, com o esvaziamento da instituição coordenadora do planejamento
regional, os maiores estados nordestinos, como Bahia, Ceará e Pernambuco, iniciaram uma estratégia de
concessão de incentivos, a conhecida “guerra fiscal”. Essa política de atração de indústrias, por meio da
renúncia dos tributos, logo depois seria adotada pelos demais estados.
A iniciativa coincidiu com um período no qual indústrias do Sul e do Sudeste buscavam resolver
problemas de deseconomias de aglomeração nos grandes centros, saindo de espaços saturados para baixar
custos de produção em outras regiões. Muitas empresas intensivas de mão-de-obra, como as das
indústrias têxtil e de calçados, deslocaram-se para o Nordeste, aproveitando os salários mais baixos. Essa
estratégia, combinada à proximidade de fontes de matéria-prima, infra-estrutura local e desenvolvimento
de novos mercados, foi o fato positivo numa década de dificuldades para a economia nordestina.
Como todas as unidades federadas, mesmo fora do Nordeste, passaram a conceder incentivos
semelhantes, as facilidades foram relativizadas e, na prática, a “guerra fiscal” rapidamente foi
enfraquecendo até esgotar seu ciclo inicial. Mas a perda de importância dos mecanismos fiscais não
significou queda de dinâmica nos investimentos do Nordeste. Segundo dados do BNB, os
empreendimentos privados financiados pela instituição, concentrados nas três maiores economias,
passaram de R$ 222 milhões, em 2002, para mais de R$ 5 bilhões, em 2007 (BNB, 2008).
NORDESTE: CONTRATAÇÕES DO FNE POR ESTADO (2002/2007) (R$1000)
ESTADOS 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Bahia 76,1 272,3 745,5 1.054,0 1.098,0 1.502,0
Ceará 35,7 287,3 482,5 710,0 492,0 824,0
Pernambuco 13,0 79,4 437,4 649,0 629,4 898,0
Piauí 16,8 43,3 319,4 315,0 211,3 281,0
Rio Gr. Norte 15,5 43,2 242,6 347,0 245,4 319,0
Maranhão 21,0 91,7 225,0 477,0 240,2 352,0
Sergipe 19,4 70,3 174,8 264,0 117,1 250,0
Paraíba 11,6 63,2 171,0 362,0 253,6 349,0
Alagoas 13, 2 28,2 173,4 292,0 178,0 231,0
NORDESTE 222, 3 978,7 2.971,5 4.470,0 3.932,0 5.385,0
Fonte: BNB (2008)
4
sucroalcooleira e de alimentos e bebidas, têm continuado a receber investimentos. O Relatório da
Consultora apresenta, além disso, um levantamento econômico por Estado, registrando outra realidade
que vem transformando a economia nordestina, tornando-a mais atrativa, tanto por sua diversidade
industrial, como também pelo crescimento significativo da indústria petroquímica, do comércio de bens
de consumo, das atividades de comércio exterior e das oportunidades de investimentos em áreas como a
de biocombustíveis. No Relatório também consta que, além da melhoria na infra-estrutura portuária,
estimulando a competitividade das empresas locais e facilitando o escoamento da produção para destinos
internacionais, vários fatores contribuíram para impulsionar a região nos últimos anos, como: o contexto
macroeconômico estável, a proximidade de fontes de matérias-primas, a média salarial praticada e a
disponibilidade de incentivos fiscais que têm contribuído para a atração de investimentos estrangeiros e a
migração de indústrias de outras regiões do País (DELOITTE, 2008).
Mais recentemente, a economia nordestina vem se projetando pelo fortalecimento e/ou surgimento
de áreas com estruturas modernas que comandam a dinâmica regional: o complexo Petroquímico de
Camaçari; o pólo agro-industrial da agricultura irrigada de Juazeiro-Petrolina; o complexo minero-
metalúrgico do Maranhão; a moderna agricultura do cerrado que se estende da Bahia ao Piauí e
Maranhão; o pólo têxtil e de confecções do Ceará; o pólo de confecções do ageste pernambucano; os
pólos calçadistas espalhados por diversos estados; a área de fruticultura irrigada do Vale do Açú, no Rio
Grande do Norte; os diversos pólos turísticos implantados nas cidades litorâneas; e os pólos tecnológicos
de Campina Grande, Ilhéus e Recife.
Os benefícios iniciais gerados pela “guerra fiscal” juntamente com os investimentos em infra-
estrutura, nos anos 1990, permitiram, na década atual, o aproveitamento de uma conjuntura econômica
nacional em condições mais favoráveis que nas décadas anteriores 9 . Esse aproveitamento pode ser
constatado pelo desempenho regional, traduzido pelos dados recentes dos indicadores econômicos,
principalmente geração de emprego formal, consumo de energia elétrica, ampliação das exportações e
crescimento de setores importantes, como o turismo e o agronegócio.
Emprego. Essa etapa atual de crescimento econômico nordestino tem permitido uma ampliação
do mercado formal de trabalho, aumentando o número de assalariados com contrato de trabalho em 40%.
Entre 2000 e 2006, o Nordeste ampliou em 1,8 milhão o número de novos contratos formais de trabalho,
o que garante tanto uma presença forte na geração de emprego do país, como um aumento da renda
familiar média dos trabalhadores da região.
NORDESTE: EMPREGOS FORMAIS (2000/2006)
2000 2002 2004 2006
Extrativa Mineral 20.070 23.919 23.391 33.672
Indústria de Transformação 585.147 646.507 734.227 838.265
Serviços Industriais Públicos 58.725 63.366 65.702 65.561
Construção Civil 208.622 208.486 209.000 267.109
Comércio 628.678 712.138 827.756 974.741
Serviços 1.177.402 1.331.839 1.441.667 1.630.441
Administração Pública 1.526.055 1.677.588 1.864.022 2.133.748
Agropecuária 169.994 195.554 228.965 234.372
TOTAL 4.374.850 4.859.397 5.394.730 6.185.903
Fonte: MTE/RAIS (2008)
Segundo a RAIS/Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho, essa
evolução no mercado está marcada pelo aumento de novos postos de trabalho quase exclusivamente no
mundo urbano, a exemplo das vagas abertas na indústria de transformação (250 mil novos empregos),
comércio (346 mil novos postos), serviços (450 mil) e administração pública (600 mil).
9
Sobre as políticas de incentivos fiscais no Nordeste ver: HOLANDA, M. C.; PONTES, P. A.; VIANNA, P. J. R. A política de
atração de investimentos industriais do Ceará: uma análise do período 1995-2005. IPECE, Fortaleza, 2006; ROCHA, A. G.
T.; AMARAL FILHO, J.; MELO, M. A. C. As políticas de incentivos fiscais dos Estados da Bahia, Ceará e Pernambuco:
algumas evidências institucionais. In BERNAL, C. (org.) A economia do Nordeste na fase contemporânea. Fortaleza: UFC,
2006; LIMA, A. C.; LIMA, J. P.R. Programas de Desenvolvimento Local na Região Nordeste do Brasil: Uma avaliação
preliminar da “Guerra Fiscal” in Anais do XIII Encontro Regional Anpec/BNB, Fortaleza, 2008.
5
As exportações. O desempenho econômico no Nordeste pode também ser avaliado pela dinâmica
alcançada pelo setor exportador. Entre os anos de 2000 e 2007, as vendas externas nordestinas triplicaram
de valor, alcançando, em vários anos deste período, taxas mais elevadas que a média nacional, num ritmo
que pode ser explicado tanto pela valorização internacional das commodities presentes na pauta
tradicional (açúcar, cacau, fumo, etc.), como na ampliação da participação de novos setores industriais e
agrícolas.
O incremento no valor das exportações regionais está relacionado, principalmente, à mudança na
pauta de produtos, com maior participação daqueles de valor agregado elevado. A participação de
produtos manufaturados ou semi-manufaturados, tais como os dos setores automotivo, petroquímico,
siderúrgico, calçadista, têxtil e de papel e celulose, revela as mudanças estruturais ocorridas no perfil da
produção industrial nordestina nos últimos anos. Entretanto, não são apenas os setores industriais urbanos
que pesam nessa modificação de perfil. As indústrias do agronegócio destacam-se pela forte presença em
segmentos que vêm apresentando resultados crescentes, a exemplo da fruticultura irrigada e do complexo
da soja, localizados, basicamente, no Vale do São Francisco e Vale do Açu e no cerrado dos estados da
Bahia, Maranhão e Piauí. A tendência geral da economia nordestina é a de enviar para o exterior cada vez
menos produtos básicos. No ano passado, para um total exportado de US$13 bilhões, o Nordeste alcançou
a cifra de US$ 10,3 bilhões em produtos industrializados.
NORDESTE: EXPORTAÇÕES 1999/2007
Industrializa Semimanufa Manufatu Operações
Ano Básicos TOTAL
dos (A+B) turados (A) rados (B) Especiais
1999 545.428 2.765.602 1.322.620 1.442.983 44.475 3.355.505
2000 738.187 3.215.350 1.461.589 1.753.761 72.621 4.026.157
2001 804.741 3.307.854 1.354.615 1.953.238 75.187 4.187.781
2002 948.178 3.648.705 1.395.065 2.253.641 58.684 4.655.567
2003 1.436.565 4.618.029 1.563.227 3.054.802 57.517 6.112.111
2004 2.038.457 5.925.179 1.959.737 3.965.442 79.649 8.043.285
2005 2.560.890 7.871.911 2.481.239 5.390.672 128.339 10.561.141
2006 2.067.610 9.429.741 3.492.671 5.937.071 131.775 11.629.126
2007 2.605.318 10.303.887 4.029.620 6.274.267 177.038 13.086.243
Fonte: MDIC (2008)
Na última década, a balança comercial do Nordeste apresentou duas etapas distintas: a primeira
(1998/2002) com exportações crescentes, mas ainda com saldo negativo; e a segunda, a partir de 2003,
com elevação dos valores exportados, conseguindo saldos positivos, mas com tendência decrescente, a
partir de 2006, em função do aumento das importações.
5
4,2
4
2,8
3 2,5
1,8
2
1,3
1
0
0
-0,1 -0,2 -0,9
-1 -0,8
-2
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Gráfico1 – Nordeste - Balança Comercial 1998/2007 (US$ bi)
Fonte: MDIC (2008)
6
Na década de 1990, a região desenvolveu pólos têxteis e calçadistas. Os resultados desses
investimentos podem ser medidos pelo volume exportado nos anos mais recentes. Os produtores
nordestinos, beneficiados pela instalação de novas plantas industriais ou pela transferência de empresas
do Sul e Sudeste, contam hoje com um conjunto de cinco centenas de fábricas, e estão na disputa pela
liderança na exportação de sapatos do Brasil. O Rio Grande do Sul, que respondia por 70,7% do volume
exportado em 2001, caiu para 45,3%, em 2006. Enquanto isso, no mesmo período, os estados nordestinos
(Ceará, Paraíba, Bahia, Pernambuco e Sergipe) subiram a participação de 16,5% para 42,6% (MDIC,
2008). O Nordeste possui também um parque têxtil, instalado principalmente nos estados do Ceará,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco, que subiu sua participação na produção nacional de 13,3%,
em 1990, para 18,5%, em 2005 (EMBRAPA, 2008).
No entanto, a modernização setorial não é apenas urbana. Os novos segmentos do agronegócio
cresceram nos últimos anos. A fruticultura irrigada do Pólo Petrolina-Juazeiro permite tanto a exportação
de frutas tropicais como a existência das vinícolas competitivas. Por outro lado, Sergipe transformou-se
no segundo produtor nacional de laranja; na região dos cerrados dos estados da Bahia, Maranhão e Piauí,
o Nordeste voltou a ser a segunda região nacional produtora de algodão, e, desde 2002, a cultura da soja
ultrapassou, em área plantada, a tradicional e ainda expressiva cana-de-açúcar.
1.800
1.600
1.400
1.200
1.000 CANA
800
600
400 SOJA
200
0
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008
7
ALAGOAS/PERNAMBUCO: PRODUÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO (1999/2007)
Safra 1999/2000 Safra 2007/2008
Cana (toneladas) 32.557.440 48.360.028
Área plantada (ha) 820.000 783.000
Açúcar (sacos de 50 kg) 41.430.160 84.477.780
Álcool (m3) 890.171 1.247.074
Exportações (US$) 290.248.065 818.258.815
Fonte: Sindicato do Açúcar/AL (2008) e MDIC (2008)
Energia. Outro indicativo para a análise da atual fase da economia nordestina é o consumo de
energia elétrica. Tal como as demais regiões brasileiras, o Nordeste se viu afetado pela crise energética de
2001, reduzindo drasticamente seu consumo. No entanto, entre os anos de 2001 e 2008, a carga média
anual, medida mensalmente pela Operadora Nacional do Sistema Elétrico (ONS) cresceu quase 50%,
demonstrando uma forte reativação da economia. Para a ONS, os resultados positivos nas taxas médias
anuais da carga de energia do Subsistema Nordeste – com variações de 6,8%, em 2005; 3,3%, em 2006; e
4,5%, em 2007 – foram impulsionados, principalmente, pelas atividades econômicas voltadas para o
mercado interno, em virtude do aumento da renda da população (ONS, 2008). Segundo a Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), esse ritmo de incremento no consumo de energia elétrica residencial fez com
que, este ano, o Nordeste ultrapassasse a região Sul, que historicamente sempre foi superior.
Turismo. Um dos setores mais significativos que vem impulsionando a economia nordestina é o
turismo. Construções de hotéis e investimentos estatais em infra-estrutura, como os do Prodetur (US$ 840
milhões), resultaram num crescimento do fluxo de turistas brasileiros e estrangeiros nas cidades
nordestinas, especialmente as litorâneas. O volume de passageiros nos aeroportos da região cresceu em
90%, entre 2003 e 2007. É esse fluxo turístico que explica a realização e o anúncio de novos
investimentos pelos grupos hoteleiros e imobiliários internacionais. A soma dos projetos portugueses e
espanhóis alcança R$ 3,7 bilhões, e a previsão para os próximos anos é de R$4,9 bilhões em 66 projetos
de hotéis e resorts na região (Anuário Exame 2007/2008).
Perspectivas. O Nordeste atravessa uma fase de crescimento que pode ser analisada pelo volume
de investimentos anunciados ou em implantação. Nos estados, os empreendimentos privados e os
recursos federais, agora sistematizados sob a égide do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
apontam para a continuidade, nos próximos anos, dessa etapa de desenvolvimento. O desempenho
desigual dos estados nas décadas anteriores, analisado por Lima (2006), parece ter continuidade e, desta
vez, Pernambuco é o destino dos maiores negócios regionais (LIMA; SICSÚ; PADILHA 2008). No
entanto, os projetos de caráter regional, como a ferrovia Transnordestina, conectada aos portos de Pecém
(CE) e Suape (PE); a transposição do rio São Francisco e a duplicação da BR-101, estão vinculados aos
investimentos programados em empresas de grande porte (siderúrgica, refinaria, estaleiro, unidade de
poliester, resorts); e o desenvolvimento de projetos industriais implantados, como o automobilísitico,
químico, papel e celulose, têxteis, calçados e agronegócio, espalhando seus efeitos pelas demais unidades,
permite antever, para os próximos anos, um desempenho acima da média de outras regiões
(DOMINGUES; VIANA; OLIVEIRA, 2008).
AS RAZÕES DA RENDA. Nesta atual fase de crescimento, a economia dos estados nordestinos
vem sendo impulsionada pelos setores privados, que comandam a elevação das exportações, respondem
pelo aumento do consumo de energia, dinamizam o turismo e favorecem a geração de emprego. No
entanto, os setores privados têm um importante aliado, que são os recursos federais destinados à região
que dão um novo padrão a esse novo período. A presença federal por meio das aplicações nas atividades
permanentes, como educação e saúde, investimentos produtivos (microcrédito, Pronaf) combinada aos
recursos para os programas de transferência direta, somam valores que representam um percentual
significativo no PIB de cada uma das unidades nordestinas e de seus municípios.
A relação entre o valor da arrecadação dos impostos e das contribuições federais no Nordeste (IPI,
IR, Cide, etc.) e a soma das transferências constitucionais (FPE, Fundeb, Lei Kandir, etc.), mais os
recursos das transferências voluntárias e dos programas nacionais para a região, pode ser exemplificada
8
nas contas de 2007. Para uma arrecadação federal de 24,4 bilhões de reais no Nordeste, a União transferiu
58,6 bilhões de reais, gerando um saldo líquido de 34,2 bilhões de reais favorável à região. Para efeitos
comparativos, na última coluna do quadro abaixo, estão registrados os valores arrecadados de ICMS em
cada um dos estados. Das nove unidades, apenas Bahia e Pernambuco arrecadam mais impostos estaduais
que o saldo entre a receita federal e as transferências para os estados.
5 e + SMs
3,9%
Sem Renda
2/5 SMs
20,4%
8,5%
1/2 SMs
18,7%
até 1/2 SM
20,4%
1/2-1 SM
28,1%
Nas últimas três décadas, a região Nordeste urbanizou-se rapidamente. A migração rural e o
crescimento acelerado transformaram, majoritariamente, a população nordestina em citadina. No entanto,
apesar desse novo perfil, a população rural de 14,6 milhões de pessoas continua significativa,
representando quase metade dos 31 milhões de habitantes da área rural brasileira (IBGE, 2007).
9
35
30
25
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15
10
0
1960 1970 1980 1991 2000 2006
rural urbana
O salário mínimo. Com um perfil pobre e urbano, possui mais da metade dos trabalhadores
brasileiros que recebem o piso salarial nacional. Enquanto 35,9% dos trabalhadores do país vivem com
esse rendimento, na região, essa fatia sobe para 62,1%, de acordo com a PNAD/IBGE (2006). Portanto,
toda e qualquer elevação no valor desse piso provoca alterações no poder de compra da maioria dos seus
assalariados. Como, na última década (1999/2008), o salário mínimo no país teve um aumento nominal de
200%, com períodos de crescimento real (descontada a inflação) significativos – 20,8% entre 1999 e
2002; 25,3% entre 2003 e 2006; e 9,3%, nos dois últimos anos –, o Nordeste foi diretamente beneficiado.
No período 2001/2008, a combinação de aumentos regulares do salário mínimo mais o controle
inflacionário, redução dos preços dos produtos agrícolas e taxa de câmbio favorável às importações de
produtos de consumo popular, permitiu uma queda no valor da cesta básica em todo o país, especialmente
nessa região. Com isso, parte do dinheiro comprometido com alimentação foi liberado, aumentando,
assim, a capacidade aquisitiva dos trabalhadores assalariados e dos beneficiários da Previdência que têm
no salário mínimo sua referência de renda.
150
140
130
120
110
100
90
80
70
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Gráfico 5 – Nordeste – tempo de trabalho para a cesta básica 2000/2007 (em horas)
Fonte: DIEESE (2008)
10
7.000 6.834
6.449
5.973
6.000
5.517
5.163
5.000
3.475 3.643
4.000 3.306
2.883 3.083
3.000
2.000
1.000
0
1999 2001 2003 2005 2007
Total Rural
Entre os anos de 1999 e 2007, o valor médio dos seguros, acompanhando a elevação do salário
mínimo, teve um crescimento nominal de 130% no valor geral, 110% no benefício urbano e 140% no
valor do pagamento feito aos beneficiários do segmento rural. Esse valor é significativo para o campo
nordestino, na medida em que, embora represente apenas 28% da população brasileira, o Nordeste detém
46% da população economicamente ativa (PEA) agrícola do Brasil (IBGE, 2008).
Nos últimos anos, 6,8 milhões de segurados pelo INSS foram favorecidos pelos reajustes acima da
inflação para o salário mínimo, valor referência de 85% das aposentadorias. A Previdência apresenta
outra característica positiva à economia do Nordeste: para uma folha de pagamento anual de 36,2 bilhões
de reais (em 2007), a arrecadação na região foi de R$ 12,9 bilhões, o que significa um saldo líquido de
23,3 bilhões de reais transferidos de outras regiões para o Nordeste. A arrecadação anual nordestina para
o INSS corresponde a 35,7% dos pagamentos realizados a título de pensões e aposentadorias no mesmo
período. Os pagamentos do INSS superam o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) em 70% das
localidades, e a receita do INSS em 90% dos municípios é menor que o valor dos benefícios pagos,
caracterizando-os assim como “municípios previdenciários”. Nos anos de 2002 e 2003, o valor dos
pagamentos da Previdência representava 11% do PIB regional nordestino (INSS, 2008).
11
NORDESTE: PREVIDÊNCIA SOCIAL (2007)
ESTADOS PAGAMENTOS RECEBIDO %
Bahia 10.165.742.096,16 3.986.828.133 39,0%
Pernambuco 6.615.986.331,78 2.446.548.878 37,0%
Ceará 5.632.311.006,06 2.168.004.551 38,5%
Maranhão 3.461.721.646,98 766.730.173 22,1%
Paraíba 2.871.140.991,95 775.758.787 27,0%
Rio Grande Norte 2.288.253.501,54 956.676.676 41,8%
Piauí 1.993.078.733,51 480.830.233 24,0%
Alagoas 1.874.922.609,25 636.812.079 33,9%
Sergipe 1.289.679.662,00 693.805.465 53,7%
NORDESTE 36.192.836.579,23 12.911.994.975 35,7%
Fonte: INSS (2008)
A Previdência executa um amplo programa de transferência de renda, tanto das regiões mais ricas
para as mais pobres como também dos municípios de maior produto para os menos aquinhoados
(CAETANO, 2008). No Nordeste, sob todos os aspectos, chega a ser mais importante que o Programa
Bolsa Família (PBF): possui 1,3 milhão de beneficiários a mais que o PBF, e dos 6,8 milhões de
beneficiários, 6 milhões recebem um salário mínimo (790 mil recebem entre um e cinco salários e apenas
67 mil recebem o equivalente a cinco ou mais salários). Importa destacar que, além de pagar a
previdência rural de 3,6 milhões de beneficiários, o INSS é responsável pela operacionalização do
Benefício de Prestação Continuada (BPC) a quase um milhão de pessoas. O BPC é um direito que
consiste no pagamento de um salário mínimo a pessoas de 65 anos ou mais e a pessoas com deficiência
incapacitante para a vida independente. Em ambos os casos, a renda per capita familiar chega a ser
inferior a ¼ do salário mínimo. Na região nordestina, são 970 mil pessoas beneficiárias. Portanto, a
Previdência cobre um número maior de famílias, e os recursos anuais são quatro vezes maiores que os do
Programa Bolsa Família.
Bolsa Família. O Nordeste possui metade das famílias pobres e dos indigentes do Brasil. Por esta
razão, metade do contingente inserido no Programa Bolsa Família se encontra nos estados nordestinos.
Segundo a PNAD 2006, a região tem o percentual mais elevado (35,9%) de domicílios em que algum
morador recebeu dinheiro de programa social de transferência de renda. Uma em cada três famílias
nordestinas, de acordo com a pesquisa, recebia o PBF, em 2006. Na pesquisa anterior, referente a 2004, o
Nordeste já liderava o ranking de recebimento de benefícios por domicílio, com índice de 32% (IBGE,
2005).
12
A rede de seguridade social. A dimensão dos programas de transferências diretas de renda e da
Previdência Social no Nordeste pode ser avaliada pelo número de famílias contempladas. Admitindo que
o público-alvo de cada programa (previdenciário ou transferência direta) possui renda diferenciada e,
portanto, possui perfil distinto, pode-se afirmar, com segurança, que a combinação da rede de seguridade
social formada pela Previdência, Bolsa Família e demais programas cobre mais de dois terços das 14,5
milhões de famílias nordestinas.
A importância da rede de seguridade social no Nordeste para a formação da renda regional pode
ser compreendida por uma simples comparação entre a renda gerada na principal atividade assalariada
agrícola (corte da cana) e o pagamento do seguro desemprego, realizado pelo Ministério do Trabalho com
recursos do FAT/Fundo de Amparo ao Trabalhador. A região produz, em média, 60 milhões de toneladas
de cana por ano. A safra da cana-de-açúcar mobiliza, anualmente, cerca de 150 mil trabalhadores
assalariados nos nove estados produtores. Para cada tonelada de cana cortada, um trabalhador recebe o
valor de R$3,00, o que significa um montante de R$180 milhões por safra. O seguro desemprego, um
benefício pago ao empregado demitido sem justa causa, alcança, no Nordeste, o montante de R$2 bilhões
por ano.
O programa Bolsa Família transfere, nos dois maiores estados produtores (Alagoas e Pernambuco,
responsáveis por 48 das 60 milhões toneladas de cana), um volume anual de R$1,2 bilhão. A renda pelo
corte da cana equivale a soma de R$144 milhões. Oito vezes menos. Nenhum setor econômico nordestino
– industrial, agrícola ou serviços – produz um volume de renda tão alto, nem consegue se aproximar da
renda gerada pelos programas federais ao longo do ano.
13
consignado para assalariados e beneficiários da previdência social, e a ampliação do microcrédito
produtivo.
A bancarização. O acesso facilitado à rede bancária, por meio da abertura de uma conta
simplificada (sem comprovação de renda ou depósito mínimo) e o uso de cartão de débito cresceram
numa média mais alta que a forma tradicional de bancarização. Incorporando os chamados segmentos de
baixa renda, o sistema financeiro ampliou consideravelmente o número de pessoas com acesso a esse
serviço. O Nordeste, pelas características da população, foi a região mais beneficiada.
Numa pesquisa recente, intitulada "Indicadores do Mercado de Meios Eletrônicos de Pagamento",
o Banco Itaú demonstra que a região Nordeste liderou o aumento da circulação de cartões de crédito no
país entre 2003 e 2007. De acordo com o levantamento, esse crescimento foi, no período, de 140,9%,
enquanto a alta média no Brasil chegou a 105,5%, saltando de 10,7 milhões de cartões para 25,8 milhões;
uma taxa que supera a do Sudeste (94,3%) e a do Sul (99,6%). Em 2003, enquanto se concentrava, no
Sudeste, 63% do faturamento dos cartões de crédito, hoje a participação da região está em 56,5%; no
Centro-Oeste, subiu de 5,7% para 7,4% do total; no Norte, de 5,2% para 5,8%; no Sul, 7,3% para 8%; e
no Nordeste, essa subida foi de 18,7% para 22,4% (BANCO ITAÚ, 2008).
Crédito consignado. Outra novidade no mercado financeiro é o crédito descontado em folha. O
novo produto financeiro, com taxas de juros menores e facilidades nos prazos, encontrou terreno fértil no
Nordeste. Os trabalhadores formais – assalariados do setor privado e do funcionalismo público – formam
um contingente de 6,2 milhões de clientes em potencial. Somam-se a esse contingente, os 6,8 milhões de
segurados da previdência. A importância desse novo instrumento financeiro para a renda regional pode
ser dimensionada pela rápida ampliação do volume emprestado pelos bancos e pelas financeiras aos
beneficiários do INSS, que foi multiplicado por vinte vezes entre 2004 e 2007.
14
O consumo. A combinação entre o crescimento econômico regional, a formalização de 1,8
milhões de trabalhadores, a ampliação das transferências, os aumentos reais do salário mínimo, a queda
no valor da cesta básica e a maior facilidade de acesso ao crédito com a entrada dos novos meios
financeiros gerou uma recuperação da renda dos assalariados e dos segmentos mais pobres da população e
a conseqüente entrada de milhões de novos consumidores no mercado. O resultado disso é a elevação do
consumo popular na região Nordeste, nos anos mais recentes. Talvez esta seja uma das maiores
evidências dessa fase do crescimento regional.
Os resultados mensais da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, registraram um salto no
consumo regional que vem se sustentando desde 2004. Todos os estados nordestinos vêm obtendo os
melhores índices dessa série histórica. O Nordeste, com seus 51 milhões de habitantes, transformou-se
num atraente mercado consumidor e, por isso, vem recebendo investimentos das cadeias de
supermercados, dos grandes grupos produtores de alimentos e das imobiliárias nacionais.
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-5
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2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
BR MA PI CE RN PB PE AL SE BA
O novo padrão de consumo está centrado em itens básicos, os bens não-duráveis, sensíveis à
renda, nos setores de alimentação, vestuário, remédio e produto de higiene e limpeza. Com a renda
crescente por um período mais longo, outros produtos e serviços, como a telefonia móvel e os transportes
se incorporam à dinâmica do consumo regional. O Nordeste é hoje o mercado de maior expansão para a
telefonia celular pré-paga, saltando de 3,4 milhões de celulares, em 2001, para 27,2 milhões, em 2008
(ANATEL, 2008). Nesta mesma direção, aparecem os itens considerados fora da categoria “básica”, os
bens sensíveis ao crédito, como os meios de transporte individuais. As vendas de automóvel, e,
principalmente, de motocicletas, apontam para uma expansão da frota de automotivos no Nordeste entre
2000 e 2008, triplicando o número de motos e aumentando em 50% a quantidade de automóveis
(DENATRAN, 2008).
A REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES. O Nordeste continua sendo a região brasileira com os
indicadores sociais mais problemáticos, resultado da sua pobreza econômica, combinada com uma
estrutura fundiária carente de modernização e com disparidades na distribuição da renda. No entanto, nos
últimos anos, os índices de desigualdade social na região parecem apontar para a coincidência entre
crescimento econômico e queda das assimetrias sociais. No entanto, as mudanças ainda estão distantes do
ritmo necessário para aproximar, no curto prazo, com os níveis de renda das demais regiões.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, utilizando os dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1995 a 2005, apresentou, no ano passado, o Índice de
Desenvolvimento Social BNDES. Nessa nova forma de avaliação dos indicadores sociais para o país e
regiões, o Nordeste é a região de destaque pelo melhor desempenho na área de educação e saúde, com
evolução positiva também em sua renda. Destaque obtido “não só por ter acelerado seu desenvolvimento
15
social relativamente às outras regiões, mas porque esse desempenho permitiu subir acentuadamente todos
os indicadores parciais” (FERREIRA; NORRIS, 2007, p.14).
Recentemente, um estudo comparativo das condições sociais no Brasil, utilizando os dados da
PNAD 2006 em relação ao ano anterior, detectou o mesmo fenômeno registrado nos índices anteriores, a
diminuição da miséria no Nordeste brasileiro num ritmo que, mantido para os anos subseqüentes, poderá
alterar por completo a paisagem social da região. A pesquisa “Miséria, Desigualdade e Políticas Públicas”
(FGV, 2007) dá destaque à redução do número de miseráveis (pessoas com renda mensal inferior a 125
reais) e do aumento da renda domiciliar, entre os anos de 2005/2006.
16
BRASIL: EVOLUÇÃO DA INDIGÊNCIA E POBREZA – 2001-2005
Indigentes Indigentes Pobres 2001 Pobres
REGIÕES
2001 (%) 2005 (%) (%) 2005 (%)
NORTE 13,5 7,2 33,4 23,0
NORDESTE 21,4 13,7 45,6 34,8
SUDESTE 7,2 3,6 18,2 11,3
SUL 5,9 3,1 15,8 9,6
CENTRO-OESTE 7,9 4,6 21,8 14,3
BRASIL 12,4 7,6 28,7 20,8
Fonte: PNAD (2006) apud (SILVEIRA; FERNANDES, 2008)
Estes sinais, na década atual, da criação de um novo padrão de crescimento não negam, mas, pelo
contrário, afirmam que a questão regional permanece presente e deve ser enfrentada. O Nordeste não é
único argumento, mas é o mais importante para se defender, diante do quadro de desigualdades sociais, da
crise do federalismo, da guerra fiscal, dos impactos das mudanças tecnológicas, da abertura comercial a
“a urgente e imperiosa necessidade de se estabelecer uma nova política de desenvolvimento regional para
o país” (CAMPOLINA DINIZ, 2004:39).
E as razões atuais são muitas: o Nordeste com 28% da população tem apenas 13,1% do PIB; sua
agricultura, que possui 45% da PEA agrícola nacional, representa tão somente 14% do valor da produção;
o Semi-Árido abriga 40% da população da região e apenas 20% do PIB regional; com uma escolaridade
da população economicamente ativa de 6 anos de estudo contra 8,5 no Sudeste e 7,6 no Brasil, o Nordeste
possui apenas 16% das matrículas no ensino superior do país; diante de uma economia que se
internacionaliza, a região apresenta uma acentuada fragilidade na área de ciência e tecnologia que deixa
poucas empresas com capacidade de inovar, etc.
No entanto, a nova etapa de desenvolvimento da região parece trazer elementos para a construção do
caminho da reversão do quadro desenhado pela economista Tânia Bacelar de Araújo, em 1992, quando, de forma
sintética, apontava os traços, construídos ao longo de décadas, pelos quais o Nordeste era identificado como
“região-problema”: “Nordeste da seca e da miséria, dos homens-gabirus [...]. Nordeste, berço das "hostes errantes",
dos emigrantes que "incham" as cidades do Sul e Sudeste ou "vagam" pelas fronteiras da expansão agrícola ou dos
garimpos do Centro-Oeste e do Norte” (ARAÚJO, 1992). Quinze anos depois dessa emblemática descrição, a
pesquisa “A migração no Brasil no começo do século XXI: continuidades e novidades trazidas pela
PNAD 2004” (CUNHA, 2007) revelou um dado histórico diferente: mais nordestinos estão voltando para
a sua região de origem do que partindo para São Paulo, o principal destino dos migrantes do Nordeste nas
últimas décadas. É um fenômeno conhecido como “migração de retorno”.
Essa nova fase de crescimento, distinta das quatro décadas da anterior “era Sudene”, com
crescimento econômico e redução das desigualdades sociais, poderá se constituir num novo capítulo na
sua história (se estes indicadores se mantiveram), com outro cenário social e econômico, mais sintonizado
com os níveis de desenvolvimento registrados nas outras regiões do país; uma nova fase que, por seus
benefícios aos pobres, coloca o Nordeste numa situação mais sintonizada com a música “Volta da Asa
Branca” do que com a “Triste partida”, clássicos do cancioneiro nordestino cantados por Luiz Gonzaga.
17
CONCLUSÃO
A economia nordestina vem crescendo desde os anos 1960, de forma cada vez mais articulada à
realidade brasileira. O período 1960/2000 ficou marcado na economia nordestina pelas taxas positivas de
crescimento. As quatro décadas correspondem a etapas distintas desse período: 1960, de expansão; 1970,
de continuidade do crescimento; 1980, de desaceleração e 1990, de mais desaceleração e crise. Nos anos
1970/2000, o Nordeste obteve taxas ainda maiores que as nacionais. Esse desempenho econômico foi
decorrente de uma combinação de fatores: investimentos públicos e a presença de capitais privados que
alteraram o perfil da estrutura produtiva da região na segunda metade do século XX.
No entanto, esse crescimento de décadas seguidas quase não modificou seus traços mais fortes: a
desigual distribuição de renda e de terra, indicadores sociais negativos e a concentração espacial da
indústria na faixa litorânea. Na década de 1990, houve a diminuição da presença estatal no planejamento
e a ausência de uma política regional de desenvolvimento, que tanto permitiu a “guerra fiscal”, uma
disputa entre estados para atrair empresas por meio de incentivos fiscais, como colaborou, no final desse
período, para o esvaziamento da Sudene, extinta, em 2001, por um decreto federal.
Neste cenário pós-Sudene, o Nordeste brasileiro está obtendo taxas positivas de crescimento
econômico combinadas a mudanças em seu quadro social, apontando sinais de um novo padrão de
desenvolvimento. Por um lado, os empreendimentos privados aproveitam uma base produtiva mais
consistente, um mercado em expansão, proximidade de matéria-prima e do mercado externo e uma infra-
estrutura com mais qualidade. A região também se beneficia da sua relação financeira com a União. Os
recursos federais que chegam, por meio de investimentos em obras e de políticas permanentes como
saúde e educação e pelos programas de transferências diretas, movimentam a economia, principalmente à
vinculada aos segmentos de menor renda, influenciando, decisivamente, os resultados na área social.
Recentemente, a renda da massa assalariada e dos segmentos mais pobres teve um ritmo maior.
No Nordeste, esse fenômeno pode ser explicado pela combinação entre estabilidade financeira da
economia nacional e melhor desempenho da economia regional, formalização de um grande contingente
de trabalhadores assalariados, ganhos reais do salário mínimo e aumento das transferências de renda.
Combinados a essa evolução, os novos instrumentos financeiros decorrentes da “bancarização”,
como a conta simplificada e o cartão de débito, o crédito consignado e o microcrédito produtivo
facilitaram o potencial dessa renda. O resultado vem sendo a elevação do consumo, refletida pela
Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, que registra quatro anos de taxas positivas.
O crescimento econômico, aliado à elevação da renda dos assalariados e da população de renda
mais baixa, e às políticas sociais mais amplas, gerou um outro fenômeno importante: a diminuição das
desigualdades sociais, o traço distintivo desta nova fase de crescimento. O Nordeste obteve entre os anos
2000/2006 diminuições mais rápidas nos seus índices de pobreza e miséria do que nas décadas anteriores,
segundo as pesquisas do IBGE, IPEA, FGV, PNUD e BNDES.
No entanto, esse crescimento da região permanece, como décadas atrás, ocorrendo de forma
concentrada nas áreas metropolitanas das capitais dos grandes estados, e os efeitos dos projetos industriais
da “guerra fiscal” já foram absorvidos pela economia. Por outro lado, o impacto dos aumentos do salário
mínimo, que influencia a renda dos assalariados e dos beneficiários da previdência; a dinâmica dos novos
instrumentos financeiros e a ampliação dos programas sociais, a exemplo do bolsa-família, tende a perder
força na formação dessa renda regional. Para manter a especificidade desta década, que é a combinação
do crescimento econômico com a diminuição das desigualdades sociais, o Nordeste necessita desenvolver
sua infra-estrutura, concretizando, por exemplo, todos os investimentos agendados no Programa de
Aceleração do Crescimento; ampliar as políticas sociais e permanecer atraindo os empreendimentos
privados no mesmo ritmo dos últimos anos. Estas parecem ser as singularidades dessa nova etapa de
desenvolvimento.
18
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