Recursos Repetitivos e Incidente - Maria Cecilia-23102018
Recursos Repetitivos e Incidente - Maria Cecilia-23102018
e Incidente de R esolução de
Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à
justiça e da participação no processo
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Recursos Repetitivos
e Incidente de R esolução de
Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à
justiça e da participação no processo
Categoria:
Produção Editorial
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
________________________________________
Agradecimentos
VII
Sumário
Agradecimentos.............................................................................................. V
Índice de Tabelas........................................................................................... XI
Índice de Gráficos........................................................................................XIII
Lista de Abreviaturas e Siglas......................................................................XV
Apresentação..............................................................................................XVII
Prefácio........................................................................................................ XIX
Introdução........................................................................................................ 1
Parte I
Acesso à Justiça e o
Processo na Atualidade
1. “Acesso à Justiça” e Litigiosidade Repetitiva nas Reformas Processuais..........9
1.1. Discursos, agendas e significados ............................................................ 9
1.2. Discussões acadêmicas e apropriação legislativa do tema “acesso
à justiça” ...................................................................................................... 10
1.3. Litigiosidade e litigiosidade repetitiva.................................................... 18
1.4. Prevalência da eficiência e da segurança jurídica sobre o acesso
à justiça........................................................................................................ 24
1.5. Litigiosidade repetitiva como problema e acesso à justiça como causa......... 31
2. Ainda Faz Sentido Falar em Acesso à Justiça?........................................ 37
2.1. Uma agenda ultrapassada?..................................................................... 37
2.2. Acesso à justiça enquanto perspectiva metodológica............................ 38
2.3. Acesso à justiça como direito social...................................................... 44
2.3.1. Fronteiras dinâmicas da injustiça e distribuição do acesso.............. 44
2.3.2. Desigualdade no acesso e na justiça que se acessa.......................... 46
2.4. Litigantes repetitivos, ocasionais e os ausentes...................................... 51
Síntese conclusiva da Parte I........................................................................ 69
IX
Parte II
Participação e Representatividade no Processo Civil
3. Participação e Representatividade no Processo Civil............................. 75
3.1. Participação no processo e acesso à justiça ........................................... 75
3.1.1. Participação e distributividade no processo civil.............................. 75
3.1.2. Devido processo legal e o direito de participar no processo............. 78
3.1.3. Excepcionalidade da mitigação da participação no processo........... 86
3.2. Participação e representatividade no processo civil .............................. 98
3.2.1. Representação e substituição processual.......................................... 98
3.2.2. Representatividade adequada no processo coletivo........................101
Síntese conclusiva da Parte II......................................................................110
Parte III
Acesso à Justiça e Técnicas de Julgamento de Casos Repetitivos
4. Participação e Representatividade nas Técnicas de Julgamento
de Casos Repetitivos.....................................................................................115
4.1. Técnicas de julgamento de casos repetitivos.........................................115
4.1.1. Diferentes racionalidades processuais relacionadas a
“casos repetitivos”.....................................................................................115
4.1.2. Julgamento por amostragem x Técnica processual objetiva............117
4.1.3. “Casos repetitivos” ou “questões repetitivas”?................................ 129
4.2. Decisão proferida no julgamento de casos repetitivos e seus efeitos.... 136
4.2.1. A tese jurídica é um precedente?................................................... 136
4.2.2. Aproximações com a issue preclusion da common law................. 148
4.2.3. Participação e efeitos da tese jurídica.............................................155
4.3. Dilemas da participação nas técnicas de julgamento de
casos repetitivos.......................................................................................... 158
4.3.1. Disparidade entre litigantes repetitivos e ocasionais...................... 158
4.3.2. Representatividade dos “litigantes-sombra”....................................162
4.4. Participação na instauração do procedimento .....................................172
4.4.1. Escolha do caso paradigma nos recursos repetitivos.......................173
4.4.1.1. Critérios para afetação do recurso representativo da controvérsia...... 173
4.4.1.2. Desistência do recorrente como estratégia do litigante habitual........180
4.4.2. Instauração e admissibilidade do IRDR......................................... 184
4.4.2.1. Caso originário e iniciativa de instauração do IRDR .............. 184
4.4.2.2. Desistência da parte/recorrente e a atuação do Ministério Público... 191
4.5. Sobrestamento de processos ............................................................... 193
4.6. Há uma efetiva possibilidade de “distinguishing”?.............................. 199
4.7. Participação no julgamento do recurso repetitivo e do IRDR.............. 201
4.7.1 Partes do caso paradigma: representatividade adequada?............... 201
4.7.2. Demais interessados (“sobrestados” e “ausentes”).......................... 206
4.7.3. Ministério Público e Defensoria Pública.........................................212
4.7.4. Amicus Curiae................................................................................214
4.7.5. Audiência Pública.......................................................................... 222
4.8. Recorribilidade das decisões proferidas no incidente ou no
recurso repetitivo ....................................................................................... 232
4.9. Revisão da tese jurídica (“overruling”)................................................ 235
5. Litigantes Repetitivos e Ocasionais no STJ........................................... 239
5.1. Estudo empírico-jurisprudencial: objetivo e metodologia.................... 239
5.2. Recursos representativos da controvérsia por tribunais de origem.......241
5.3. Partes (recorrente e recorrido)............................................................. 244
5.4. Questão submetida a julgamento e teses firmadas por área do Direito........248
5.5. Tempo de tramitação entre a afetação e o trânsito em julgado........... 253
5.6. Formação da tese jurídica e favorecimento de litigantes habituais
ou ocasionais.............................................................................................. 253
5.7. Considerações sobre a análise empírico-jurisprudencial...................... 257
6. Participação e Representatividade no Recurso Especial Repetitivo:
Um Estudo de Caso..................................................................................... 259
6.1. Estudo de caso: objetivos e metodologia ............................................. 259
6.2. O caso do sistema de scoring de crédito...............................................261
6.2.1. Descrição do caso...........................................................................261
6.2.2. Partes, seus representantes e principais alegações deduzidas......... 262
6.2.3. Provas e decisões proferidas nos casos paradigma..........................271
6.2.4. Escolha do Recurso representativo da controvérsia
e sobrestamento....................................................................................... 279
6.2.5. Amicus Curiae .............................................................................. 282
6.2.6. Ministério Público e Defensoria Pública....................................... 283
6.2.7. Participação de “sobrestados” e de “ausentes”................................ 283
6.2.8. Audiência Pública......................................................................... 284
6.2.9. Julgamento, fundamentação e tese jurídica................................... 294
6.3. Considerações sobre o estudo de caso................................................. 298
Conclusão..................................................................................................... 303
Bibliografia ...................................................................................................311
Anexo – Relação dos temas julgados pelo STJ analisados
no estudo empírico-jurisprudencial............................................................329
Índice de Tabelas
1 CANÁRIO, Pedro. “Quase 110 milhões de processos passaram pelo Judiciário em 2016, segundo
CNJ”. Conjur. 4 set. 2017. Acesso em https://www.conjur.com.br/2017-set-04/110-milhoes-processos-
passaram-judiciario-2016, acesso em 20 dez. 2017; “Explosão de litigiosidade exige mudanças no
Judiciário, afirma Ricardo Lewandowski”. Notícias STF. 20 nov. 2014. Disponível em <http://www.
stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=280214>, acesso em 20 dez. 2017;
2 Em 2013, o volume de processos e recursos (“casos”) que tramitaram no Judiciário brasileiro (casos
pendentes somados casos novos) foi de 100,1 milhões. Esse número vem aumentando anualmente,
tendo atingido, em 2016, o total de 109,1 milhões, sendo destes 30,8 milhões de casos novos.
Conforme CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números 2017 (ano-base de 2016).
Disponível em <http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros>, acesso em 8 set.
2017, p. 66-68.
3 Como a criação do Conselho Nacional de Justiça, pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Vide
Capítulo 1, item 1.4.
4 Como as metas de produtividade do Conselho Nacional de Justiça, que vêm sendo traçadas desde
2009. Conforme site do CNJ, “as metas nacionais do Poder Judiciário representam o compromisso
dos tribunais brasileiros com o aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, buscando proporcionar
à sociedade serviço mais célere, com maior eficiência e qualidade” (disponível em <http://www.cnj.
jus.br/gestao-e-planejamento/metas/sobre-as-metas>, acesso em 4 jan. 2017).
1
Maria Cecília de Araujo Asperti
5 Usa-se a expressão “casos” de modo coerente com a definição do artigo 928 do Código de Processo
Civil, ou seja, para se referir conjuntamente a processos e recursos.
6 Vide Capítulo 1, item 1.4.
7 Aqui entendidos como as pessoas jurídicas de direito público interno, conforme artigo 41 do Código
Civil, ou seja, entes da administração pública direta e indireta.
2
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
8 GALANTER, Marc. “Why the haves come out ahead? Speculations on the limits of legal change”.
Law and Society Review, v. 9, n. 1, p. 95-160, 1974. Republicação (com correções) em Law and Society.
Dartmouth, Aldershot: Cotterrell, 1994, p. 165-230.
3
Maria Cecília de Araujo Asperti
4
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
5
Maria Cecília de Araujo Asperti
6
Parte I
Acesso à Justiça e o
Processo na Atualidade
7
1. “Acesso à Justiça”
e Litigiosidade Repetitiva nas
Reformas Processuais
9 Uma consulta ao aplicativo GoogleCitations demonstra que foram localizadas 2.697 citações à
tradução brasileira do relatório Access to Justice: a world survey, de Mauro Cappelletti e Bryant Garth
do Projeto Florença (Tradução em português: CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à
justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988),
desde 1995, sendo essa a obra mais citada do pesquisador Bryant Garth. As citações são atuais:
somente no ano de 2016 foram 332 citações de trabalhos acadêmicos disponíveis online. A obra
original, em inglês, conta com apenas 221 no mesmo período (acesso em <https://scholar.google.
com/citations>, acesso em 23 ago. 2017.
9
Maria Cecília de Araujo Asperti
10 SADEK, Maria Tereza. “O Sistema de Justiça”. O Sistema de Justiça. SADEK, Maria Tereza (Org.).
Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010, p. 1-23, p. 9.
11 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant, Access to Justice: a world survey, 1978.
10
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
zer, contudo, que a discussão sobre acesso à justiça no Brasil teve sua gênese no
movimento internacional de acesso à justiça registrado pela obra em questão.
Como aponta Eliana Junqueira, enquanto o estudo de Garth e Cappelletti
ocupou-se do mapeamento do acesso em um contexto de expansão do Estado
de Bem Estar social e da necessidade de se assegurar direitos sociais, no Brasil
a discussão centrava-se no acesso da população aos direitos mais básicos, in-
clusive civis, em uma sociedade marcada pela marginalização político-social
imposta pelo regime militar, pela profunda desigualdade social e pelo fortaleci-
mento de movimentos sociais que buscavam colocar suas pautas no processo de
redemocratização e reorganização social, então em curso12.
A discussão acadêmica sobre o acesso a aparatos legais estatais e não estatais
de solução de conflitos ganha importância nesse momento histórico no Bra-
sil em estudos conduzidos por pesquisadores sociologicamente orientados que
sofrem significativa influência da noção de pluralismo jurídico, desenvolvida
na tese de doutoramento de Boaventura de Sousa Santos sobre os modelos e
instâncias decisórias13 de uma comunidade na periferia do Rio de Janeiro refe-
rida, ficcionalmente, como “Pasárgada” (posteriormente revelada como sendo
a favela de Jacarezinho), que vivia à margem do sistema oficial: o “direito de
Pasárgada”, em contraposição com o “direito do asfalto”14. Discutia-se, então,
12 JUNQUEIRA, Eliane. Acesso à justiça: um olhar retrospectivo. Revista Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, n. 18, 1996, p. 390.
13 Para o estudioso do direito processual, as comparações entre o direito estatal e do “direito de
Passárgada” e reflexões sobre pluralismo jurídico são especialmente interessantes no que diz respeito
à “constituição do universo processual”, ou seja, sobre a processualidade dos modelos decisórios
de aplicação desse direito aos casos concretos. Enquanto no direito estatal há uma necessária
distância entre o objeto real e o objeto processado no litígio que se dá mediante a constituição de
uma estrutura organizativa processual rígida e necessariamente anterior ao conflito, haveria maior
precariedade e flexibilidade na fixação dessa estrutura e do próprio objeto do litígio, que é, por
si, objeto de negociação. A informalidade das interações, da linguagem e da divisão do trabalho
jurídico no “direito de Passárgada” também são elementos que levam ao questionamento de seus
correspondentes no direito oficial, o que é relevante para pensarmos em uma agenda de acesso à
justiça em que não somente o acesso seja democratizado, mas também a própria justiça, com maior e
mais efetiva participação de seus usuários.
14 Publicada originalmente na íntegra em inglês com o título Law against law: legal reasoning in Pasárgada
law” pelo Centro Intercultural de Documentación de Cuernavaca, México, em 1974. Em 1977,
Boaventura de Sousa Santos publicou um artigo com os principais resultados da pesquisa, também
em inglês (“The Law of the Oppressed: The Construction and Reproduction of Legality in Pasargada
Law”. Law and Society Review, n. 12, 5-126). A publicação em português de uma versão resumida
ocorreu somente em 1980 ( "O discurso e o Poder", Revista Forense, 272, 272, 1-40). Recentemente, o
11
Maria Cecília de Araujo Asperti
autor publicou a versão integral em português com o título O Direito dos Oprimidos: sociologia crítica
do direito, parte 1 (São Paulo: Cortez, 2014).
15 SANTOS, Boaventura de Sousa. O Direito dos Oprimidos: sociologia crítica do direito, parte 1, 2014, p.
342-344.
16 JUNQUEIRA, Eliane, 1996, op. citada, p. 393-394. A autora cita os estudos de Joaquim Falcão
sobre os conflitos urbanos em Recife (Conflito de direito de propriedade: invasões urbanas. Rio de
Janeiro: Forense, 1984) e de outros pesquisadores influenciados por essa conjugação entre a noção
de pluralismo jurídico e a busca por respostas estatais efetivas para demandas sociais emergentes na
sociedade brasileira.
17 FALCÃO NETO, Joaquim de Arruda. “Cultura Jurídica e Democracia: a favor da democratização do
Judiciário” In LAMOUNIER et al (org). Direito, Cidadania e Participação. São Paulo: T. A. Queiroz,
1980, p. 4-19.
18 FALCÃO NETO, Joaquim de Arruda, 1980, op. cit., p. 9.
12
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
13
Maria Cecília de Araujo Asperti
22 Julia Pinto Ferreira Porto descreve a influência do Projeto Florença nos estudos de processo civil e
pondera, em sentido similar ao quanto afirmado na introdução deste capítulo, que o tema “acesso
à justiça” passou a ser amplamente veiculado em trabalhos de direito processual associados a quase
todos os institutos processuais, sem que as obras discutissem o tema propriamente dito, tampouco
explicassem a que concepção de acesso o autor se refere (Acesso à justiça: Projeto Florença e Banco
Mundial. Mestrado em Direito Político e Econômico: Universidade Presbiteriana Mackenzie. São
Paulo, 2009, p. 52).
23 CUNHA, Luciana Gross. Juizado Especial: criação, instalação, funcionamento e a democratização do
acesso à justiça. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 129-134.
24 CUNHA, Luciana Gross, 2008, op. cit., p. 130.
25 CUNHA, Luciana Gross, 2008, op. cit., p. 20.
14
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
26 Kazuo Watanabe descreve a litigiosidade latente, ou contida, como aquela expressada por “conflitos
que ficam completamente sem solução, muitas vezes até pela renúncia total do direito do prejudicado”
e que, por falta de via adequada e em virtude dos custos do processo judicial, acabavam sendo
solucionados “de modo inadequado, em Delegacias de Política, ou pela atuação de ‘justiceiros’ ou
mesmo pela prevalência da lei do mais forte, etc.” (“Filosofia e características básicas do Juizado
Especial de Pequenas Causas” In WATANABE, Kazuo” (Org.). Juizado Especial de Pequenas Causas
(Lei 7.244, de 7 de novembro de 1984). São Paulo: RT, 1985. p. 2).
27 Léslie Shérida Ferraz diferencia a litigiosidade latente da contida e da estimulada. A litigiosidade
latente seria aquela em que o cidadão desconhece o direito e, por isso, acaba não agindo diante de
uma violação. Já na contida, o cidadão conhece o direito, porém não acessa o sistema de justiça
por não crer na capacidade deste de responder adequadamente a sua demanda, ou enfrenta óbices
financeiros, sociais, culturais e psicológicos. A litigiosidade estimulada seria aquela que ingressa no
sistema e é incentivada pelo conhecimento, pelas partes, das deficiências e da lentidão do Judiciário
(Acesso à justiça: uma análise dos Juizados Especiais Cíveis no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010,
p. 89-90). A facilitação do acesso pela via dos juizados ou de outros meios de solução de conflitos,
como a mediação e a conciliação, visaria lidar, justamente, com a litigiosidade contida.
28 WATANABE, Kazuo, 1985, op. cit., p. 2.
29 Exposição de motivos do Anteprojeto da Lei de Ação Civil Pública. 4 de fevereiro de 1985.
30 Sobre os debates legislativos que motivaram as reformas processuais desde os anos 80, em especial
com a Lei de Ação Civil Pública, a Lei dos Juizados de Pequenas Causas e a Constituição Federal,
passando pela Reforma do Judiciário e pela Emenda Constitucional nº 45/2004 até chegar ao Código
15
Maria Cecília de Araujo Asperti
de Processo Civil para refletir sobre a (in)visibilização da pauta de acesso à justiça, confira-se em
ASPERTI, Maria Cecília de Araujo; COSTA, Susana Henriques da; GABBAY, Daniela Monteiro.
“Acesso à justiça no Brasil: reflexões sobre escolhas políticas e necessidade de construção de uma
nova agenda”. 2017. No prelo.
31 ARANTES, Rogério Bastos. “Direito e Política: o Ministério Público e a defesa dos direitos
coletivos”. Revista brasileira de ciências sociais, v. 14, n. 39, p. 83-102, 1999.
32 ARANTES, Rogério Bastos,1999, op. cit. p. 96.
33 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant, Access to Justice: a world survey, 1978, p. 6.
34 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. “Access to Justice: The Newest Wave in the Worldwide
Movement to Make Rights Effective”. Buffalo Law Review, 27, n. 181, 1978, p. 181-292, p. 195
35 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant, Access to Justice: a world survey, 1978, p. 10.
16
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
17
Maria Cecília de Araujo Asperti
40 Algumas falas extraídas das atas das comissões da Constituinte são expressivas, como a Sra. Suely
Pletz Neder, então Defensora Pública na Bahia e depoente na Comissão da Organização e Sistema
de Governo e na Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público, quando discorre sobre
a necessidade de organização da carreira da Defensoria Pública, refletindo a importância conferida
ao acesso à justiça no debate e a sua associação com a efetivação dos direitos a serem previstos na
Constituição Federal: “O acesso à Justiça é instrumento indispensável para assegurar as conquistas
que a sociedade pretende ver insertas na Carta Constitucional. Se não estabelecermos o instrumental
de acesso de 80% do povo brasileiro ao Poder que decide os litígios, à tutela jurisdicional, tudo que se
fizer hoje na Assembléia Nacional Constituinte irá, na melhor das hipóteses, beneficiar apenas 20%
do povo brasileiro” (BRASIL. Ata da 4ª Reunião Ordinária, realizada em 15.04.1987, da Comissão
da Organização e Sistema de Governo. Assembléia Nacional Constituinte (Atas de Comissões).
Disponível em http://www.senado.leg.br/publicacoes/anais/constituinte, acesso em 1 set. 2017).
41 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça, 1988, p. 5.
42 WATANABE, Kazuo. “Acesso à Justiça e Sociedade Moderna” In GRINOVER, Ada Pellegrini;
DINAMARCO, Cândido Rangel; WATANABE, Kazuo, (coords.). Participação e Processo. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1988.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
mica, política e social43, ao passo que juízes e tribunais exercem cada vez mais
funções simbólicas e políticas de maior impacto44.
Os fatores que fincaram as bases para essa centralidade da justiça estatal
perpassam, como já discutido, pelo reconhecimento de direitos sociais e co-
letivos pela Constituição Federal e por outros importantes diplomas, como o
Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990, CDC); pela estruturação
de novos mecanismos processuais, como a já mencionada ação civil pública; e
por mudanças institucionais, como no fortalecimento da Defensoria Pública
e do Ministério Público e a implementação dos juizados de pequenas causas.
Além disso, é possível mencionar a própria conformação do sistema presiden-
cialista, calcado na noção de separação de poderes e de freios e contrapesos45,
o que compreende, no caso brasileiro, uma sistemática própria de controle de
constitucionalidade que permite que o Judiciário se debruce sobre importantes
questões políticas, econômicas e sociais.
Segundo Boaventura de Sousa Santos, se essa construção jurídico-institu-
cional tinha como intuito, ao menos em teoria, mitigar a desigualdade e a mar-
ginalização social e concretizar os direitos então reconhecidos, os anos 1990
foram marcados pela incapacidade do Estado brasileiro de prover as políticas
públicas necessárias para a efetivação desse arcabouço de direitos46, na medida
em que o modelo desenvolvimentista de Estado foi, na realidade, sucedido por
políticas próprias de um modelo neoliberal47, sem que as políticas públicas ne-
cessárias para concretização dos direitos sociais prometidos pela Constituinte
fossem, de fato, implementadas. A consequência seria o deslocamento da de-
manda social da arena política para o Judiciário, com a crescente judicialização
desses direitos, em ações judiciais manejadas pelos cidadãos ou por entes legiti-
mados contra o Poder Público48.
43 SADEK, Maria Thereza. “Judiciário e arena pública: um olhar a partir da ciência política” In
GRINOVER, Ada P.; WATANABE, Kazuo (coord). O Controle Jurisdicional de Políticas Públicas.
São Paulo: GEN, 2013, p. 2-3.
44 SANTOS, Boaventura de Souza, Para uma revolução democrática da justiça. Coimbra: Almedina,
2015, p. 22-23.
45 SADEK, Maria Thereza, 2013, op. cit., p. 4-5.
46 SANTOS, Boaventura de Souza, 2015, op. cit., p. 22.
47 SANTOS, Boaventura de Souza, 2015, op. cit., p. 14-15.
48 É interessante o ponto de vista sustentado por Mauro Cappelletti sobre a acessibilidade das
instâncias decisórias dos demais poderes no regime democrático. Para o autor, ainda que os
19
Maria Cecília de Araujo Asperti
obstáculos identificados para o “efetivo acesso à justiça” sejam complexos e de difícil superação,
o acesso ao processo judicial ainda é menos árduo do que o acesso ao processo legislativo e à
administração: “Como está dito, ‘a chave para abrir a porta de um tribunal é um simples ato de
demanda’; entretanto, bem poucos são aqueles que estão próximos àquilo que chamamos de acesso
à branche legislativa e administrativa; o processo jurisdicional é, em suma, uma linha de máxima,
mais acessível, ou ao menos digamos menos inacessível, ao cidadão comum do processo legislativo e
administrativo, nos quais é raro que o homem da entrada esteja em grau de fazer sentir a sua própria
voz” (“Constitucionalismo moderno e o papel do Judiciário na sociedade contemporânea”. Revista de
Processo. v. 15, n. 60, out./dez., 1990, p. 110-117, p. 115).
49 Sobre a litigância acerca da tarifa de telefonia, vide o relatório de pesquisa realizada pela Secretaria
de Reforma do Judiciário, com apoio do Centro Brasileiro de Pesquisas Judiciais (CEBEPEJ) e do
Banco Mundial, sobre ações coletivas em que o estudo de caso versa sobre “o contencioso das tarifas
básicas de assinatura de telefonia no Estado de São Paulo” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Tutela
Judicial dos Interesses Metaindividuais Ações Coletivas. Brasília: 2007).
50 Outro importante marco foi a declaração de constitucionalidade da aplicação do Código de Defesa
do Consumidor, a prestação de serviços bancários, conforme previsito no artigo 3º, parágrafo 2º
(STF, Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2591, julgada em 07.06.2006).
51 Sobre as causas do aumento da litigiosidade no Brasil, em especial da litigância repetitiva e de
seus impactos em termos de morosidade, confira-se o já citado estudo CUNHA, Luciana Gross;
GABBAY, Daniela Monteiro (Coords.). Litigiosidade, morosidade e litigância repetitiva: uma análise
empírica, 2013.
52 São, em 2016, 1.054.127 milhões de advogados habilitados pela Ordem dos Advogados do Brasil,
conforme dados obtidos no site do Conselho Federal da OAB. Disponível em <http://www.oab.org.
br/institucionalconselhofederal/quadroadvogados>, acesso em 7 jul. 2016.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
53 Segundo dados de 2010, havia, então, no Brasil 1.240 cursos de Direito, ao passo que em países
da Europa, nos Estados Unidos e na China, conjuntamente, 1.100 cursos. Disponível em <http://
g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/brasil-tem-mais-faculdades-de-direito-que-china-
eua-e-europa-juntos-saiba-como-se-destacar-no-mercado.ghtml>, acesso em 26 ago. 2017. Dados
levantados pelo Observatório do Ensino do Direito, da FGV DIREITO SP, apontam que em 2013
o curso de Direito contava com o segundo maior em quantidade de matriculados, com 769.889
alunos, o que correspondia a 10,5% do total de 7.305.977 alunos então matriculados em cursos de
ensino superior. FARIA, Adriana Ancona; GHIRARDI, José Garcez; FEFERBAUM, Marina. “O
financiamento estudantil federal nos cursos jurídicos brasileiros”. Observatório do Ensino do Direito.
Vol. 2, n. 2. São Paulo: FGV, 2015. Disponível em http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/
arquivos/relatorio_observatorio_do_ensino_do_direito_-_vol__2_n__2.pdf, acesso em 26 ago. 2017.
54 É sintomático, por exemplo, que mesmo diante da possibilidade de se litigar sem representação
jurídica nos juizados especiais cíveis em demandas de até 20 salários mínimos, que no Rio de Janeiro,
por exemplo, os autores se fazem representar por advogados particulares em 78,42% das demandas
(INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Diagnóstico sobre os Juizados Especiais
Cíveis. Brasília: 2013, p. 21).
55 A Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro noticia, por exemplo, o trabalho dos advogados
“audiencistas”, que cobram entre R$ 30,00 e R$ 40,00 por audiência e dedicam-se quase que somente à
realização destas. Trata-se de opção de ingresso no mercado de trabalho daqueles que não conseguem
se inserir em escritórios, realidade esperada em um país com mais de 1.100 faculdades de direito
(FRAGA, Vitor. “Remuneração irrisória de audiencistas será pauta de debates no dia 21”. Tribuna
do advogado. Out/2013. Disponível em <http://www.oabrj.org.br/materia-tribuna-do-advogado/17876-
Remuneracao-irrisoria-de-audiencistas-sera-pauta-de-debates-dia-21>, acesso em 14 jul. 2017).
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
63 Os dados analisados pela autora, coletados em 2006 pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Judiciárias
(Cebepej), demonstram que 37,2% dos processos dos juizados no Brasil tratavam de temas de direito
do consumidor, sendo que essa média atingia 50,8% nos juizados de São Paulo 79% nos do Rio de
Janeiro (FERRAZ, Leslie Shérida, 2010, op. cit., p. 120-121).
64 Interessante notar a parcela ínfima de conflitos de vizinhança: Amapá com 1,1%, Ceará com 5,5%
e Rio de Janeiro com 0,79% (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2013, op.
cit., p. 19-20).
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Maria Cecília de Araujo Asperti
65 Confira-se, nesse sentido, trecho do estudo realizado em 2005 pela Consultoria Legislativa da
Câmara dos Deputados sobre a Emenda Constitucional nº 45/2004, em que se associa “acesso à
justiça” com a duração razoável do processo e com a maior eficiência das instituições judiciárias:
“Com efeito, o princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário consagrado no art. 5º, inciso XXXV,
já vinha sendo interpretado para abranger não somente o acesso ao Judiciário, com a garantia da
ação e dos meios de defesa adequados, mas também para assegurar que a tutela jurisdicional se
desse de forma efetiva, adequada e tempestiva. O princípio é, agora, com a aprovação da Emenda
Constitucional nº 45, de 2004, tornado expresso pelo Constituinte derivado, denotando a maior
importância dada ao tema. Dele decorre a celeridade de cada ato do processo, eis que a presteza na
realização de um ato processual acarreta a duração razoável do conjunto de atos que se sucedem para
assegurar a tutela jurisdicional” (BANDEIRA, Regina Maria Groba. A Emenda Constitucional nº 45,
de 2004: o novo perfil do Poder Judiciário brasileiro. Brasília: Câmara dos Deputados, 2005. Disponível
em http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/1587, acesso em 8 set. 2017).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
66 “No que diz respeito à atividade judicial, o debate sobre a relação entre Judiciário e economia se
sustenta em estudos realizados no final da década de 1990 e primeira metade dos anos 2000. Tais
estudos partem do pressuposto de que o Judiciário, como prestador de serviço, deve ser imparcial,
eficiente e eficaz, a fim de promover o desenvolvimento e crescimento econômico. Nesse sentido,
o objeto de análise de tais trabalhos é o funcionamento do ordenamento jurídico nacional, os
números referentes às atividades das instituições do sistema de justiça e as pesquisas realizadas
por meio do cruzamento de dados relativos ao crescimento econômico e surveys aplicados com
empresários e magistrados. Nessa linha, é possível citar os trabalhos de Armando Castelar Pinheiro,
as Notas Técnicas do Banco Central – em especial a NTBC nº 35 de maio de 2003 – e os estudos
da Secretaria de Reforma do Judiciário, órgão do Ministério da Justiça” (ALMEIDA, Frederico de;
CUNHA, Luciana Gross; “Justiça e desenvolvimento econômico na reforma do judiciário”. Trabalho
apresentado no evento Direito e Desenvolvimento: um diálogo entre os BRICs. São Paulo: DIREITO
GV, Universidade de Winsconsin e ABDI, nov. 2010).
67 É nesse sentido, por exemplo, que se desenvolve a metodologia de coleta e análise de dados do
relatório anualmente emitido pelo Banco Mundial, denominado “Doing Business in Brazil”,
publicado desde 2004, com foco no estudo da regulação local pertinente para fins de investimento e
de empreendedorismo, rankeando os países e suas instituições de acordo com o nível de burocracia,
custos, tempo e previsibilidade das decisões: “Economic activity requires sensible rules that encourage
firm start-up and growth and avoid creating distortions in the marketplace. Doing Business focuses
on the rules and regulations that can help the private sector thrive—because without a dynamic
private sector, no economy can provide a good, and sustainable, standard of living for people. Doing
Business measures the presence of rules that establish and clarify property rights, minimize the cost
of resolving disputes, increase the predictability of economic interactions and provide contractual
partners with core protections against abuse” (WORLD BANK. “About Doing Business”. Doing
Business 2016. World Bank: 2016, p. 19. Disponível em http://www.doingbusiness.org/reports/
global-reports/~/media/GIAWB/Doing%20Business/Documents/Annual-Reports/English/DB16-
Chapters/DB16-About-Doing-Business.pdf, acesso em 7 de jul. 2016).
68 São referências dessa agenda de pesquisa os estudos coordenados pelo economista Armando
Castelar Pinheiro, que enfatizam os impactos da morosidade e da imprevisibilidade no Judiciário
no crescimento econômico no ambiente de mercado e que propagam a necessidade de reformas
nos moldes defendidos por esses organismos internacionais que, por sua vez, defendiam a maior
eficiência e segurança jurídica dos sistemas de justiça dos países em desenvolvimento: “Os problemas
decorrentes do mau funcionamento do judiciário tornam-se gritantes à medida que a economia
é liberalizada e uma parcela maior da responsabilidade pela alocação de recursos na economia é
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Maria Cecília de Araujo Asperti
transferida para o mercado. Vale dizer que, na medida em que as economias em desenvolvimento
adotam políticas voltadas para o mercado, por exemplo, liberalizando o comércio e recorrendo a
privatizações, muitas das transações que antes se processavam no interior de grandes organizações
estatais ou sob a coordenação do setor público são transferidas para o mercado. Essa mudança põe
em relevo a importância do sistema judicial, do qual dependem, em última instância, a proteção e a
garantia dos direitos e contratos. É dentro desse contexto que instituições como o Banco Mundial
e o BID preconizam uma nova onda de reformas, na qual a reforma do judiciário ocupa um papel
de destaque” (PINHEIRO, Armando Castellar (org). Judiciário e Economia no Brasil. Rio de Janeiro:
Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009, p. VI).
69 FREITAS, Graça Maria Borges. “Reforma do Judiciário, o discurso econômico e os desafios da
formação do magistrado hoje”. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. Belo Horizonte,
v.42, n.72, jul./dez.2005, p. 31-44, p. 34.
70 DAKOLIAS, María, The Judicial Sector in Latin America and in the Caribbean: elements of reform.
Documento Técnico para o Banco Mundial n. 319S. Washington D.C: World Bank, 1997.
71 “The objective of these projects today is to provide a service that is efficient and equitable as well
as respected and valued by the community. In a market economy, an effective judicial system
is expected and needed by citizens, the government and the private sector in order to resolve
conflicts and order social relationships. As markets become more open and transactions more
complex, formal and impartial judicial institutions will be essential. Without such institutions,
private sector development as well as public sector modernization will not be complete. Similarly,
such institutions contribute to the economic efficiency and lead to growth which in turn alleviates
poverty. Judicial reform should especially be considered in tandem when contemplating any legal
reform because without a functioning judiciary, laws cannot effectively be enforced. As a result,
comprehensive judicial reform can have a tremendous impact on the success of the modernization
of the state as well as make an important contribution to the overall development process”
(DAKOLIAS, María, 1999, op. cit., p. xvi).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
72 É o que se extrai do preâmbulo do I Pacto Republicano: “Poucos problemas nacionais possuem tanto
consenso no tocante aos diagnósticos quanto à questão judiciária. A morosidade dos processos
judiciais e a baixa eficácia de suas decisões retardam o desenvolvimento nacional, desestimulam
investimentos, propiciam a inadimplência, geram impunidade e solapam a crença dos cidadãos
no regime democrático” (BRASIL. “Pacto de estado em favor de um judiciário mais rápido e
republicano”, dez. 2004).
73 KOERNER, Andrei. “O debate sobre a reforma judiciária”. Novos Estudos. N. 54. jul.1999. São Paulo:
CEBRAP, 1999, p. 11-26.
74 KOERNER, Andrei, 1999, op. cit., p. 18.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
por um “processo moroso, custoso e com incentivos para ação protelatória por
qualquer uma das partes”75. Em sentido similar, o relatório “Judiciário e Econo-
mia”, divulgado em 2005 pela extinta Secretaria de Reforma do Judiciário, do
Ministério da Justiça, trazia dados sobre a visão dos empresários acerca do Judi-
ciário, taxas de litigiosidade e congestionamento, custos e prazo estimado para
recuperação de créditos via ação judicial76. Ao retratar os impactos econômicos
da atuação do Judiciário77, esses estudos foram utilizados para justificar mudan-
ças estruturais e a introdução de mecanismos processuais que contribuíssem
para uma “Justiça mais célere e eficiente” 78.
Como resultado, o texto final da Emenda Constitucional nº 45/2004 prevê,
dentre outras disposições, a inserção do princípio da duração razoável do pro-
cesso no texto constitucional; a criação do Conselho Nacional de Justiça (artigo
103-B)79 e da Súmula Vinculante (artigo 103-A, caput), como medidas voltadas
à promoção da eficiência e transparência do Judiciário e uniformização e segu-
rança jurídica em suas decisões80.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
crença dos cidadãos no regime democrático” (BRASIL, “I Pacto Republicano de Estado por um
Sistema de Justiça mais acessível, ágil e efetivo”, 2004).
81 Demonstrando alinhamento com a posição expressada pelo Legislativo, o relatório do Ministério da
Fazenda sobre Reformas microeconômicas e crescimento de longo prazo já mencionado, também discorre
sobre a súmula vinculante em sentido similar: “merece atenção especial o conjunto de medidas a
respeito do efeito condicionante das súmulas do Supremo Tribunal Federal, que visam equacionar
o excesso de recursos que, desnecessariamente, congestionam esses tribunais argüindo matérias já
tratadas em decisões sumuladas. Objetiva-se com isso dar maior poder efetivo à jurisprudência ao
condicionar, ou mesmo impedir, recursos aos Tribunais Superiores em temas já sumulados, evitando-
se, com isso, o desperdício de tempo e recursos de todas as partes envolvidas” (MINISTÉRIO DA
FAZENDA, 2004, op. cit., p. 74).
82 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes Obrigatórios. 4ª Edição. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016a, p. 309.
83 Ao se falar aqui em uma dimensão gerencial, quer se afirmar que os institutos referidos são
essencialmente pautados por uma lógica de eficiência e voltados para o aprimoramento da
administração da justiça. Não se trata de uma concepção mais ampla de práticas de gerenciamento,
que incluem práticas informais do juízo, mecanismos de resolução de conflitos variados, organização
diferenciada de servidores e ritos processuais diferenciados, como para Paulo Eduardo Alves da Silva
(Gerenciamento de processos judiciais. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 33).
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Maria Cecília de Araujo Asperti
84 BRASIL, Congresso. Câmara dos Deputados. Parecer da Comissão Especial da Câmara dos
Deputados ao Substitutivo apresentado à PEC 96-B/92. 14 dez. 1999, p. 454.
85 Importante somente pontuar a imprecisão do conceito de “demandas idênticas”, aqui veiculado, e
que também aparecia no texto do artigo 285-A, do CPC/1973, visto que não se referem, em nenhum
dos casos, a demandas em que haja identidade entre os seus elementos, mas apenas uma similitude
na argumentação fática e jurídica a justificar a aplicação de técnicas processuais de padronização
decisória. Especificamente no tocante à interpretação da expressão “casos idênticos”, do artigo 285-
A do CPC/1973, confira-se CUNHA, Leonardo José Carneiro da, “Primeiras impressões sobre o art.
285-A do CPC - julgamento imediato de processos repetitivos: uma racionalização para as demandas
de massa”. Revista Dialética de Direito Processual. n 39, jun-2006, p. 93-104, p. 96).
86 Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido
proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação
e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada”.
87 Art. 543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário, quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos
termos deste artigo.
88 Art. 518. “Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao
apelado para responder. § 1º O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em
conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal”.
89 Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a
análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, observado o disposto neste artigo”.
90 Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de
direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo”.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
semelhantes, cuja proliferação passa a ser vista como uma problemática a ser
enfrentada pela via do processo.
Como se vê, a litigiosidade é colocada como uma das principais causas do
congestionamento judicial e dos consequentes impactos negativos na economia
e no mercado de crédito. É nítida a mudança de perspectiva entre a necessida-
de de se absorver a “litigiosidade latente” e a problematização da litigiosidade
como causa da morosidade, em especial da litigiosidade repetitiva, objeto deste
trabalho. Há, em alguns documentos, um questionamento sobre se realmente
essa litigiosidade identificada é resultado das mudanças legislativas do período
anterior para facilitação do acesso e se, de fato, refletem uma democratização
das instâncias judiciárias91. No entanto, as preocupações mais fundantes da re-
forma, em especial no que diz respeito à litigiosidade repetitiva, são no sentido
de se assegurar maior segurança jurídica e eficiência a atores do mercado que
litigam em juízo para assegurar o cumprimento de contratos e a cobrança de
dívidas, revelando que a visão de acesso à justiça associada à tutela de direitos
excluídos e usuários marginalizados não havia prevalecido.
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92 BRASIL. Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil. Projeto de Lei n. 8.046, de 2010, do
Senado Federal, que trata do Novo Código de Processo Civil. Brasília: 2010. Disponível em <https://
www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>, acesso em 23 ago. 2017.
93 BRASIL, Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, 2010, p. 7-8.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
“O acesso à justiça foi muito facilitado nos últimos anos; o progresso eco-
nômico, com a incorporação de uma massa de consumidores, antes alheia
à economia, repercutiu diretamente no exercício da função jurisdicional,
com um aumento exponencial do número de processos em tramitação.
94 BRASIL, Congresso. Câmara dos Deputados. Parecer da Comissão Especial da Câmara dos
Deputados ao Projeto de Lei n. 6.025, de 2005, ao Projeto de Lei n. 8.046, de 2010, ambos do Senado
Federal, e outros, que tratam do “Código de Processo Civil” (revogam a lei no 5.869, de 1973).
Brasília: 2012, p. 11.
95 Ainda no relatório da comissão especial para a Câmara dos Deputados, extrai-se essa visão de que o
código estaria refletindo uma agenda contemporânea do direito processual que valoriza a eficiência
enquanto princípio central: “O Código de Processo Civil deve espelhar o atual momento da ciência
jurídica brasileira. Os vários projetos em tramitação mostram que a Câmara dos Deputados sempre
esteve atenta para a necessidade de aprimorar as regras que impõem motivação adequada na
aplicação dos princípios jurídicos. Além disso, a Câmara dos Deputados tem discutido a possibilidade
de consagrar, em enunciados expressos, princípios processuais imprescindíveis para a construção
de um modelo de processo civil adequado à Constituição Federal, como os princípios da boa-fé
processual e da eficiência” (BRASIL, Congresso. Câmara dos Deputados, 2012, p. 10).
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
99 SALLES, Carlos Alberto de. “Entre a eficiência e a equidade: bases conceituais para um direito
processual coletivo”. Revista de Direitos Difusos. Vol. 36. Direito Processual Coletivo I, mar./abr. 2006,
p. 13-31, p. 17-22.
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2. Ainda Faz Sentido Falar
em Acesso à Justiça?
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
tentam mensurar o acesso à justiça e como essa abordagem lida com questões
relacionadas a desigualdades não só sociais, mas também de raça e gênero104.
Para a autora, a perspectiva metodológica do acesso à justiça representa-
ria, em si, um grande desafio às ciências sociais, dado o impulso normativo
característico de um momento histórico de grande otimismo acerca da ca-
pacidade do direito de superar desigualdades e concretização de ideiais de
justiça social. Buscando uma objetividade e imparcialidade na mensuração
do acesso à justiça, os variados estudos que trabalhavam com a ideia de
justiça subjetiva105, esta em si essencialmente normativa, partiriam ora da
investigação do comportamento dos indivíduos diante de eventos da justiça
civil (“behavioral approach”), ora das avaliações subjetivas destes de suas
experiências com atores e instituições do sistema (“perceptual approaches”).
Sandefur associa precipuamente a perspectiva metodológica do acesso à
justiça com a experiência do usuário no sistema, muito embora seu olhar
também se volte aos resultados ou a permeabilidade do sistema face a sua
utilização pelos diversos grupos de interesse.
Os estudos mapeados pela autora apontaram fatores diversos que repercu-
tiriam desigualdades nas experiências dos usuários na justiça. Ela pontua que
a disparidade na distribuição de recursos, informações, e conexões sociais afe-
taria o comportamento de potencial litigantes, assim como suas orientações
subjetivas e crenças sobre a legitimidade e efetividade do direito. Os diferentes
graus de institucionalização de interesses (a proteção legal de um direito ou de
uma ofensa) também impactariam a mobilização de grupos de indivíduos e a
resposta conferida ao sistema às suas demandas. Faltariam, contudo, estudos
mais direcionados, que efetivamente enfrentassem a questão da perpetuação de
desigualdades raciais, de classe e de gênero pelo sistema de justiça, sendo esta
uma preocupação fundamental que deveria permear estudos relacionados ao
104 Rebecca L. Sandefur pontua que as desigualdades de classe, raça e gênero, embora não sejam
certamente as únicas, são as principais vertentes identificadas por sociólogos que estudam sociedades
modernas complexas (2008, op. cit, p. 340). Acrescentaríamos aqui, também, as desigualdades
decorrentes de orientação sexual e, ainda no aspecto de gênero, as desigualdades enfrentadas pela
população transgênero. A esse respeito, confira-se ASPERTI, Maria Cecilia de A; GARROTE,
Marina G.; TOCANTINS, Matheus C. “The tortuous path for changing name and gender: the
challenges faced by transgender people in Brazilian Courts”. Artigo apresentado na conferência Law
and Society em junho de 2017. No prelo.
105 A idéia de justiça subjetiva ou substantiva é retomada no Capítulo 3, no item 3.1.3.
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111 Marc Galanter discute o discurso da “explosão de litigiosidade” a partir daquilo que chama de
uma visão preconceituosa do Judiciário (“jaundiced view”), segundo a qual essa “explosão” teria
efeitos nocivos para o tecido social e para a economia e seria causada por um uso indiscriminado
do processo por demandantes oportunistas, auxiliados por advogados gananciados e incentivados
por juízes ativistas e jurados tendenciosos, que decidem por condenar empresas inocentes ao
pagamento de imensas somas de dinheiro. Essa visão reforçaria estratégias para evitar o julgamento,
aumentando-se, com isso, o uso de outros meios de solução de disputas e a promoção do acordo
por juízes (“The Hundred Year Decline of Trials and the thirty years war”. Stanford Law Review,
v. 57, n. 1255, Stanford University Press: 2005, p. 1.266/1.267. Também a esse respeito, confira-se
GALANTER, Marc. “The Vanishing Trial: an examination of trials and related matters in Federal
and State Courts”. Journal of Empirical Legal Studies, v. 1, n. 459, 2004).
112 RHODE, Deborah L. Access to justice. New York: Oxford University Press, 2004, p. 28-29.
113 RHODE, Deborah L., 2004, op. cit., p. 39-41.
114 Ela cita, por exemplo, o discurso de George W. Bush que, conquanto ironicamente devesse seu
mandato a uma ação judicial, lamentava que: “We’re a litigious Society; everybody is suing, it
seems like. There are too many lawsuits in America”, e que seu pai também sustentara em debates
presidenciais que “Americans are suing each other too much and caring for each other too little”
(RHODE, Deborah L., 2004, op. cit., p. 26-27).
115 No. CV-93-02419, 1995 WL 360309 (N.M. Dist. Aug. 18, 1994). Um interessante relato sobre o caso
e uma análise crítica de sua repercussão pode ser conferido no documentário Hot Coffee, dirigido por
Susan Saladoff, que discute os impactos da tort reform no sistema judicial norte-americano (EUA, 2011).
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
116 Sobre essa retratação da mídia à época, Marc Galanter traz trechos de reportagens veiculadas em
diferentes jornais, como nesse excerto do editorial do Oakland Tribune de 5 de maio de 1995: “Is
there any doubt in anyone's mind that our legal system is being badly abused? Greedy lawyers, victims
out to make a buck, and a culture that encourages people to sue instead of accepting their own
responsibility or working things out, have clogged courts with cases that don't belong there. Add
a growing public belief in ‘deep pockets’ - the notion that corporations and public agencies have
bottomless pits of money, so why not sue? - and you have a nation of victims who see going to court
as tantamount to buying a lottery ticket. You have nothing to lose, and may win big” (“A nation of
lawyers”, p. 14 apud GALANTER, Marc. “An Oil Strike in Hell: Contemporary Legends about the
Civil Justice System”. Arizona Law Review. Vol. 40, 1998, p. 717-752, p. 732-733).
117 CAIN, Kevin G. “The McDonald’s Coffee Lawsuit”. Journal of Consumer & Commercial Law, v. 11,
n. 1, 2007.
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de vida sem liberdade é até fácil de fazer. A justiça torna-se um problema só se a dominação, a
exploração e a discriminação forem males a se evitar. Se dominação, exploração e discriminação
forem aceitas em nome da produção material da vida – seja qual for a justificativa ideológica que se
dê à procedência da vida sobre a pessoa humana -, a justiça torna-se um não-problema” (LOPES, José
Reinaldo de Lima. “Justiça e Poder Judiciário ou a virtude confronta a instituição”. Direitos Sociais:
teoria e prática. São Paulo: Método, 2006, p. 119-139, p. 127).
126 FRASER, Nancy. “Social Justice in the Age of Identity Politics: Redistribution, Recognition, and
Participation”. The Tanner Lectures on Human Values. Stanford University: 1996, p. 7.
127 KOMESAR, Neil. Imperfect Alternatives: choosing institutions in law, economics, and public policy.
Chicago: University of Chicago Press, 1994.
128 “Each social goal requires difficult social determinations – often balancing or integrating aggregate
social impacts. Defining, realizing, and implementing these goals requires the operation of complex
and imperfect social decision-making processes or systems like the market, the courts, and the
political process” (KOMESAR, Neil, 1994, op. cit., p. 30).
129 KOMESAR, Neil, 1994, op. cit., p. 5.
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cialmente, da ação política, etc.) decorrentes, o que também deve ser analisado
de modo comparativo130.
Especificamente com relação ao Judiciário, Komesar afirma que existem três
importantes características a serem levadas em consideração para compreensão
dos fatores que influenciam a participação dos atores e grupos sociais: (i) a
necessidade de requerimentos formais para a participação dos litigantes (a for-
mulação da demanda), o que, em tese, implica em maiores custos (em sentido
amplo) de acesso do que para o consumidor acessar o mercado ou o cidadão
participar do processo político; (ii) uma dimensão e estruturas reduzidas, se
comparadas com as do mercado e do processo político; e (iii) uma maior inde-
pendência dos juízes do que dos agentes políticos ou de mercado, o que, por sua
vez, acarreta maiores custos e limitações no sistema (afinal, há um custo em se
manter uma estrutura com agentes independentes e imparciais)131.
Desses elementos extrai-se que o atingimento de qualquer objetivo social a
ser realizado pelo Judiciário tem como pressuposto a ação de partes litigantes,
que devem romper com a inércia da jurisdição e arcar com os custos de pro-
vocar a Justiça para enfrentamento das questões propostas. Esses fatores pro-
vocam o afunilamento das questões que são levadas ao sistema, que acaba só
tendo contato com as matérias para os quais os grupos de interesse conseguiram
superar os custos para demandar em juízo. Em outras palavras, a concretização
de determinado objetivo social pelo Judicíario pressupõe o acesso à justiça e
efetiva participação dos grupos afetados, o que tem como ponto de partida a
capacidade destes de arcar com os custos desse acesso.
A despeito das desvantagens e custos associados à escolha do Judiciário
como instituição que pretenda efetivar o objetivo social de superação de
desigualdades, há vantagens comparativas que merecem ser consideradas.
Komesar argumenta que, conquanto no processo judicial se está adstrito aos
pleitos e argumentos das partes (o que reduziria o escopo de atuação insti-
tucional), há maior equilíbrio e paridade na apreciação desses argumentos
pelo julgador. Em virtude de sua independência, juízes seriam menos susce-
130 “Each social goal requires difficult social determinations – often balancing or integrating aggregate
social impacts. Defining, realizing, and implementing these goals requires the operation of complex
and imperfect social decision-making processes or systems like the market, the courts, and the
political process” (KOMESAR, Neil, 1994, op. cit., p. 30).
131 KOMESAR, Neil, 1994, op. cit., p. 8.
48
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
132 “By contrast, judges and juries stand aloof. They depend on others to convince them by evidence and
reason, but they do not depend on these others for their jobs and livelihood. The adversarial process
attempts to equalize the representation of positions and the delivery of information by assuring that
both positions are at least formally represented and that information reaching judge and jury are
confined to that brought them by opposing advocates” (KOMESAR, Neil, 1994, op. cit., p. 141).
133 SANTOS, Boaventura de Souza, 2015, op. cit., p. 34.
134 SANTOS, Boaventura de Souza, 2015, op. cit., p. 36-37.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
Faz sentido que se tome como ponto de partida uma nova concepção
do acesso ao direito e à justiça. Na concepção convencional busca-se
o acesso a algo que já existe e não muda em consequência do acesso.
Ao contrário, na concepção que proponho, o acesso irá mudar a justiça
a que se tem acesso. Há aqui um sistema de transformação recíproca,
jurídico-política, que é preciso analisar135.
50
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
1. “Os JHs [jogadores habituais], por já terem feito isso antes, têm co-
nhecimento prévio. Eles são capazes de estruturar a transação se-
guinte e construir um registro. O JH é aquele que redige o modelo
do contrato, que exige o depósito de garantia e assim por diante”.145
2. “JHs desenvolvem expertise e têm pronto acesso a especialistas.
Eles desfrutam de economias de escala e têm baixos custos ini-
ciais em qualquer caso”.146
Pondera-se, nesse ponto, que litigantes repetitivos (ou jogadores habituais)
conseguiriam atuar de forma mais estratégica tanto no litígio, quanto preven-
tivamente, possuindo recursos e incentivos para contratação de especialistas
(jurídicos e não jurídicos).
Humbert M. Kritzer Susan Silbey (Stanford: Stanford University Press, 2004), traz estudos de autores
diversos que justamente se propõem a testar, em diferentes contextos, a hipótese central de Galanter
de se aqueles que têm realmente saem na frente. O trabalho apresentado como requisito para
obtenção do título de mestre na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo também utilizou
esse referencial, porém para questionar como as disputas repetitivas impactam os programas judiciais
de conciliação e mediação, considerando suas características próprias, em especial a contraposição
entre litigantes repetitivos e habituais (ASPERTI, Maria Cecilia de Araujo. Meios consensuais de
resolução de disputas repetitivas: a conciliação, a mediação e os grandes litigantes do Judiciário. São Paulo:
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2014).
144 Para um maior aprofundamento da contextualização da obra de Galanter para o caso brasileiro,
confira-se ASPERTI, Maria Cecília de Araujo; COSTA, Susana Henriques da; GABBAY, Daniela
Monteiro; SILVA, Paulo Eduardo Alves da; “Why the 'Haves' come out ahead in Brazil? Revisiting
speculations concerning repeat players and one-shotters in the Brazilian litigation setting”. FGV
Direito SP Research Paper Series No 141. Jan./2016. São Paulo: FGV, 2016.
145 GALANTER, Marc, 2014, op. cit. (trad.), p. 25.
146 GALANTER, Marc, 2014, op. cit. (trad.), p. 25.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
147 BERTÃO, Naiara. “Funções típicas de advogados já são feitas por softwares e robôs”. Exame. 20 jan.
2017. Disponível em https://exame.abril.com.br/revista-exame/deixa-que-o-robo-resolve/#, acesso
em 25 set. 2017; OLIVEIRA JR., Paulo Silvestre de. “Inteligência artificial é uma realidade e já afeta
a área jurídica”. Conjur. 15 set. 2017. Disponível em <http://www.conjur.com.br/2017-set-15/chiesi-
filho-inteligencia-artificial-afeta-area-juridica>, acesso em 25 set. 2017.
148 Alguns exemplos são bastante expressivos das possíveis vantagens estratégicas e econômicas de
escala que os litigantes que tiverem acesso a essas inovações tecnológicas poderão usufruir. O site de
tecnologia Tecmundo noticia, por exemplo, o lançamento de um assistente de inteligência artificial
habilitado para falar português e que seria capaz de reconhecer a responder, por meios diversos, a
demandas com clientes: “Nos escritórios de advocacia, o novo assistente de inteligência artificial é
capaz de atender e responder 70% da comunicação dos clientes por meio de telefone, e-mail, chat e
redes sociais, com eficiência e rapidez, considerando as mudanças de comportamento da sociedade.
Ele está apto para fazer o primeiro atendimento com um cliente, marcar reuniões, dar informações
processuais e responder a questões diversas, de acordo com a especialidade da banca” (VIEIRA,
Douglas. “BOT: conheça o robô-advogado que atende clientes em português”. Tecmundo. 14 set.
2017. Disponível em <https://www.tecmundo.com.br/software/122052-bot-conheca-robo-advogado-
atende-clientes-portugues.htm>, acesso em 25 set. 2017).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Como visto quando da análise dos dados de pesquisas sobre os maiores liti-
gantes do Judiciário brasileiro, certos atores do setor público e privado continu-
am sendo os principais “clientes” do sistema, o que faz com que sejam conheci-
dos por todos os seus agentes, mantendo uma reputação que pode lhes facilitar
o diálogo, tanto com julgadores quanto com os demais servidores da justiça.
Ainda que a crescente informatização dos processos tenha reduzido os con-
tatos informais entre partes e advogados e os agentes das burocracias judiciais,
é inegável que, com o aumento no volume de processo e recursos, esses agentes
– escreventes, escrivãos e assessores de desembargadores e ministros dos tribu-
nais superiores –, são, cada vez mais, os responsáveis pela análise dos autos e
elaboração de decisões judiciais nas variadas instâncias e foros do Judiciário.
Advogados e prepostos de grandes litigantes interagem com frequência com
esses atores, não só nos cartórios, mas em sustentações orais, audiências de
conciliação e de instrução e julgamento, audiências públicas, etc.
Isso é especialmente pertinente quando tratamos das técnicas de julgamento
de casos repetitivos, que deslocam o poder decisório para formulação da tese ju-
rídica para os órgãos de cúpula e para os tribunais superiores. Os litigantes habi-
tuais têm um acesso facilitado a essas instâncias, até pelo fato de poderem contar
com advogados atuantes nas capitais e em Brasília, os quais, muitas vezes, são
figuras conhecidas dos julgadores das instâncias superiores, por despacharam e
sustentarem oralmente, com frequência, em assuntos similares. É natural que haja
laços de informalidade que facilitem o acesso desses atores e de seus representan-
55
Maria Cecília de Araujo Asperti
tes legais aos agentes responsáveis pela tramitação e pela tomada de decisão, o
que, sem dúvida, representa uma vantagen estratégica a ser considerada.
Ainda sobre vantagens estratégicas, desssa vez relacionadas com o poder de
barganha do litigante repetitivo e de sua capacidade de adotar estratégias que
impliquem em perdas imediatas, porém em ganhos de longo prazo, Galanter
assinala que:
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
152 Esse é o caso típico dos acordos firmados pelo INSS na Justiça Federal e nos Juizados Especiais.
Identificando a probabilidade de perda, seja pela procedência da tese jurídica invocada, seja pelo
resultado da perícia realizada judicialmente, o INSS costuma oferecer propostas de acordos para
ativamento do benefício e recebimento de parte dos atrasados (em geral, 80%), o que implica em uma
renúncia de direitos por parte do segurado, com ganhos de longo prazo para a autarquia.
153 Vide Capítulo 1, item 1.3.
154 Veja, nesse sentido, o relato sobre a forma de trabalho no escritório JBM Advogados, apelidado pela mídia
de “salsicharia do direito”, em que 420 advogados cuidavam de 360 mil processos em 2016, contando
com um aparato tecnológico de ponta para elaboração de peças processuais e gestão de processos:
“Além disso, de acordo com o tipo de matéria que o processo discute, existe o robô que foi apelidado de
“clicador”. Ele é usado para casos repetitivos, em que a defesa costuma ser muito semelhante. Imagine
um caso clássico de pedido de indenização de um cliente que ficou mais de 30 minutos na fila de um
banco. Substituindo o ‘copia e cola’ das petições, ao identificar o cadastro (feito por outro robô), o
programa já monta uma defesa, preenchendo espaços com os dados daquele processo específico, com
os argumentos de defesa que o escritório usa. Cabe ao advogado simplesmente clicar nos trechos que
serão aproveitadas na peça em questão e dar o ‘ok’, gerando uma assinatura e enviando a peça ao sistema”
(CARDOSO, Maurício; VASCONCELLOS, Marcos de. “Com robôs, escritório atua em mais de
360 mil processos com 420 advogados”. Conjur. 5 mar. 2016. Disponível em https://www.conjur.com.
br/2016-mar-05/robos-escritorio-atua-360-mil-processos-420-advogados, acesso em 10 out. 2017)
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
159 Na Defensoria Pública de São Paulo, os núcleos atuam nas seguintes especialidades: As áreas
previstas de atuação são (i) interesses difusos e coletivos; (ii) cidadania e direitos humanos; (iii)
infância e juventude; (iv) consumidor e meio ambiente; (v) habitação e urbanismo; (vi) situação
carcerária; (vii) segunda instância e Tribunais Superiores, conforme artigo 52, Parágrafo Único, da
Lei Estadual Complementar nº 988/2006. Vide relação de núcleos especializados conforme áreas e
usuários, conforme descrito, em </www.defensoria.sp.def.br>, acesso em 10 out. 2017.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
instituição”. A vocação para uma atuação mais estratégica dos núcleos decorre,
ainda, de suas atribuições previstas na referida lei, dentre estas, a compilação
de informações técnico-jurídicas (ainda que sem caráter vinculativo) e a arti-
culação entre membros da instituição e outros entes para elaboração e unifor-
mização de teses jurídicas institucionais e a propositura (isoladamente ou em
conjunto com outros membros) de medidas judiciais e extrajudiciais para tutela
de direitos coletivos, bem como a atuação perante o Sistema Interamericano
dos Direitos Humanos e demais Cortes Internacionais.
Isso permite que a Defensoria Pública consiga atuar de modo mais eficiente
tanto nos litígios individuais repetitivos, quanto por meio do uso de práticas
associadas ao litígio estratégico de interesse público160, especialmente nas ações
coletivas manejadas pela instituição161. A advocacia issue-oriented ou policy-
-oriented, própria do litígio estratégico de interesse público, pressupõe que o
objetivo maior pode ser a mobilização social e política em torno do tema, e não
necessariamente o ganho do caso individual162. Ou seja, tal como a advocacia
do litigante repetitivo, o litígio estratégico pode se ocupar com a mudança das
regras e do direito mais do que com os ganhos e perdas individuais.
No entanto, é necessário questionar se a defesa de interesses pela Defensoria
Pública é realmente capaz de alçar os litigantes ocasionais ao status de litigantes
repetitivos, usufruindo das vantagens estratégicas por estes aproveitadas.
160 Sobre o conceito de litígio estratégico de interesse público, ainda que focado no sistema internacional
de direitos humanos, confira-se o artigo de Evorah Cardoso, entitulado “Ciclo de vida do Litígio
Estratégico no Sistema Interamericano de Direitos Humanos: dificuldades e oportunidades para
atores não estatais” (Revista Electrónica del Instituto de Investigaciones Ambrosio L. Gioja. Año V.
Número Especial, 2011, p. 363-378). A autora explica que o litígio estratégico se contrapõe à forma
tradicional de advocacia, na medida em que adota uma abordagem issue-oriented ou policy-oriented (e
não client-oriented), em que se “busca o impacto social que o caso pode trazer, como o avanço jurídico
em um determinado tema” (op. cit., p. 366). Essa atuação issue-oriented demanda a escolha prelminar
de um caso paradigmático, realizada a partir de uma análise de seu potencial de impacto social e dos
temas que sejam prioritários para a entidade para que, a partir de então, sejam utilizadas “técnicas
legais, políticas e sociais” que têm como destinatários não somente os agentes do Judiciário, mas
também “os tomadores de decisão (decision makers), os formuladores de políticas públicas (policy
makers) e a sociedade em geral” (op. cit., p. 367).
161 Para uma descrição das ações coletivas manejadas pelas defensorias públicas estaduais em temas
considerados socialmente relevantes, vide o II Relatório Nacional de Atuações Coletivas da
Defensoria Pública, organizado por Adriana Britto e publicado pela Associação Nacional de
Defensores Públicos (ANADEP) em 2015. Disponível em https://www.anadep.org.br/wtksite/
Preview_Livro_Defensoria_II_Relat_rio(1).pdf, acesso em 11 out. 2017.
162 CARDOSO, Evorah, 2011, op. cit., p. 368.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
164 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido
Rangel. Teoria Geral do Processo. 30ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 83-85, 152-154, 389-392.
165 GALANTER, Marc, 1974, op. cit., p. 119-122.
166 Em artigo de fundamental importância para o estudo de meios consensuais de solução de disputas e
sobre o papel da adjudicação estatal, Owen Fiss traz um contundente argumento contra a promoção
do acordo pelo Judiciário baseado, justamente, na disparidade de recursos entre as partes e no ônus
do tempo do processo, mais gravoso para a parte mais pobre do que para a parte com mais recursos:
“A disparidade de recursos entre as partes pode influenciar o acordo de três formas. Primeiro, a
parte mais pobre pode ser menos passível de reunir e analisar as informações necessárias à previsão
da decisão do litígio, o que a deixaria em desvantagem no processo de negociação. Segundo, pode
necessitar, de imediato, da indenização que pleiteia e, desse modo, ser induzida à celebração de um
acordo como forma de acelerar o pagamento, mesmo ciente de que receberá um valor inferior ao
que conseguiria se tivesse aguardado o julgamento. Todos os autores de ações judiciais querem suas
indenizações imediatamente, mas um autor muito pobre pode ser explorado por um réu rico, pois sua
necessidade é tão grande que o réu pode compeli-lo a aceitar uma quantia inferior àquela a que tem
direito. Terceiro, a parte mais pobre pode ser forçada a celebrar um acordo em razão de não possuir
os recursos necessários para o financiamento do processo judicial, o que inclui tanto as despesas
previstas como, por exemplo, honorários advocatícios, quanto aquelas que podem ser impostas por
seu oponente por meio da manipulação de mecanismos processuais, como o da instrução probatória.
Aparentemente, o acordo beneficia o autor da ação, permitindo-lhe evitar os custos do processo
judicial, mas isso não é verdade. O réu pode calcular as despesas que o autor teria se o caso tivesse
ido a julgamento e diminuir sua proposta no valor dessa quantia. O autor muito pobre é uma vítima
dos custos do processo, mesmo quando aceita fazer o acordo” (“Contra o Acordo”. Direito como Razão
Pública: processo, jurisdição e sociedade. Coord. trad. Carlos Alberto de Salles. Trad. Daniel Porto
Godinho; Melina de Medeiros Rós. Maria Cecilia de Araujo Asperti. 2ª Ed. revista e atualizada. São
Paulo: Juruá, 2017, p. 143-150, p.135-136).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
169 “Setores público e privado discutem Estratégias de Não Judicialização de conflitos”. Site do Ministério
da Justiça e Segurança Pública. 7 dez. 2016. Disponível em <http://www.justica.gov.br/noticias/
lancamento-da-estrategia-de-nao-judicializacao-de-conflitos-reune-setores-publico-e-privado>,
acesso em 11 out. 2017. “Setor do Varejo discute metas para diminuir processos na Justiça”. Site
do Ministério da Justiça e Segurança Pública. 1 jul. 2015. Disponível em http://www.justica.gov.br/
noticias/setor-do-varejo-discute-metas-para-diminuir-processos-na-justica, acesso em 11 out. 2017.
170 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Estratégia nacional de não judicialização: 1º Relatório 2014-2015.
Brasília: Secretaria e Reforma do Judiciário, 2016.
171 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2016, op. cit., p. 15-17.
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172 O termo cipoal normativo é bastante expressivo quando tratamos de serviços públicos, beneficíos
assistenciais e mercados regulados, em que divergências entre a regulamentação administrativa
e a interpretação judicial da lei ou da Constituição Federal dão margem a longas discussões
jurisprudenciais e ao aumento da litigiosidade repetitiva. Vide CUNHA, Luciana Gross; GABBAY,
Daniela Monteiro, 2012, op. cit., p. 53-103, p. 66.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Fonte: Elaboração própria, adaptando-se a “tabela 3” do texto “Why the Haves Come Out
Ahead?: Speculations on the Limits of Legal Change” (“Por que quem tem tende a sair na frente”)
com as particularidades do contexto brasileiro atual173
Discutidas as vantagens conjecturadas por Galanter, é importante ressaltar
que, como ele próprio admite, a tipologia proposta e aqui adotada é uma simpli-
ficação que compreende nesses “tipos ideais” litigantes que se inserem ao longo
de um espectro, com suas respectivas particularidades.
Pode se questionar, por exemplo, se é adequado conceber o Ministério Pú-
blico como um litigante capaz de atuar de forma coordenada em casos simila-
res, em razão da independência funcional de seus membros (artigo 127, §2º, da
Constituição Federal), o que permite que as promotorias adotem estratégias
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Maria Cecília de Araujo Asperti
174 Nesse sentido, Dicken William Lemes Silva comenta que o engajamento do Ministério Público em
uma atuação estratégica em conflitos de interesse público exige uma resignificação do princípio da
independência funcional, que deve ser entendido como um princípio instrumental e relativo que
deve coexistir com demais princípios de observância obrigatória para o Ministério Público, como
os princípios da unidade e da indivisibilidade da instituição, de forma a se viabilizar a realização
das atividades necessárias para concretização de seu “poder/dever irrenunciável direcionado à
transformação da realidade social, no contexto da concretização dos valores do Estado Democrático
de Direito” (“Litígio Estratégico de Interesse Público e Ministério Público: Reflexões sobre a
Natureza Instrumental da Independência Funcional”. Revista do Ministério Público do Distrito Federal
e Territórios. N. 7. Brasília: MPF, 2013, p. 73-108, 2013).
175 Analogamente, Marc Galanter menciona o public prosecutor como um típico exemplo de litigante
repetitivo, juntamente com seguradoras e instituições financeiras (1974, op. cit., p. 97).
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limitar algumas ponderações que serão retomadas nos capítulos seguintes para
desenvolvimento do objeto de pesquisa proposto:
70
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Parte II
Participação e Representatividade
no Processo Civil
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3. Participação e Representatividade
no Processo Civil
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180 “Eu gostaria de propor algumas conjecturas sobre o modo pelo qual a arquitetura básica do sistema
jurídico cria e limita as possibilidades de ele ser usado como um meio de transformação redistributiva (isto
é, sistemicamente equalizadora). Minha questão específica é a de saber sob quais condições a litigância
pode ser redistributiva, tomando litigância no sentido mais amplo de apresentação de demandas a serem
decididas pelos tribunais (ou órgãos equivalentes) e toda a penumbra de ameaças, subterfúgios e demais
circunstâncias que envolvem tal apresentação” (GALANTER, Marc, 2014, op. cit., p. 22).
181 Galanter trata bastante também do papel do advogado nessa transformação, defendendo uma
reorganização da cultura e da profissão jurídica para que a “alavancagem” distributiva que o processo é
capaz de gerar seja potencializada por uma atuação jurídica que transcenda os tribunais, compreendendo
também outras atividades por parte do profissional do direito, tais como o lobby legislativo e a mobilização
em prol dos interesses de litigantes ocasionais. Paradoxalmente, ele aduz, são os advogados dos litigantes
repetitivos os mais cotados para serem esses “agentes de mudança”, dado que já têm maior liberdade para
se identificar com o seu cliente e com suas “causas” e já atuam mediante uma definição menos estrita do
que vem a ser atividades profissionais do advogado (GALANTER, Marc, 2014, op. cit., p. 80).
182 GALANTER, Marc, 2014, op. cit., p. 79.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
189 Nenhum homem livre deverá ser deve ser levado ou encarcerado ou morto ou exilado ou de qualquer
forma destruído, nem iremos contra ele tampouco a sua busca, exceto por meio de um julgamento
realizado nos termos da lei por seus pares ou pela lei da terra (trad. livre).
190 Como explica Edilson Vitorelli a partir de análise da Apologia de Sócrates, de Platão, há no
julgamento do filósofo claras noções hoje associadas com o devido processo legal: o procedimento é
iniciado por um cidadão, e não de ofício; há regras preexistentes acerca da composição do tribunal
e Socrátes é cientificado da acusação feita contra si e tem a oportunidade de apresentar sua defesa
àqueles que irão lhe julgar (O devido processo legal coletivo: dos direitos aos litígios coletivos. São Paulo:
RT, 2016, p. 122).
191 VITORELLI, Edilson, 2016, op. cit., p. 123.
192 “No person shall be held to answer for a capital, or otherwise infamous crime, unless on a presentment
or indictment of a Grand Jury, except in cases arising in the land or naval forces, or in the Militia,
when in actual service in time of War or public danger; nor shall any person be subject for the same
offence to be twice put in jeopardy of life or limb; nor shall be compelled in any criminal case to be
a witness against himself, nor be deprived of life, liberty, or property, without due process of law; nor
shall private property be taken for public use, without just compensation”.
193 “Section 1. All persons born or naturalized in the United States, and subject to the jurisdiction
thereof, are citizens of the United States and of the State wherein they reside. No State shall make or
enforce any law which shall abridge the privileges or immunities of citizens of the United States; nor
shall any State deprive any person of life, liberty, or property, without due process of law; nor deny to
any person within its jurisdiction the equal protection of the laws”.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
where recipients have challenged proposed terminations as resting on incorrect or misleading factual
premises or on misapplication of rules or policies to the facts of particular cases” (397 U.S. 254
(1970), voto do Justice Brennan).
197 “It is not enough that a welfare recipient may present his position to the decisionmaker in writing
or second-hand through his caseworker. Written submissions are an unrealistic option for most
recipients, who lack the educational attainment necessary to write effectively and who cannot
obtain professional assistance. Moreover, written submissions do not afford the flexibility of oral
presentations; they do not permit the recipient to mold his argument to the issues the decisionmaker
appears to regard as important. Particularly where credibility and veracity are at issue, as they
must be in many termination proceedings, written submissions are a wholly unsatisfactory basis
for decision. The second-hand presentation to the decisionmaker by the caseworker has its own
deficiencies; since the caseworker usually gathers the facts upon which the charge of ineligibility
rests, the presentation of the recipient's side of the controversy cannot safely be left to him.
Therefore, a recipient must be allowed to state his position orally. Informal procedures will suffice;
in this context, due process does not require a particular order of proof or mode of offering evidence”
(397 U.S. 254 (1970), voto do Justice Brennan).
198 “Finally, the decisionmaker’s conclusion as to the recipient’s eligibility must rely solely on the legal
rules and evidence adduced at the hearing … To demonstrate compliance with this elementary
requirement, the decisionmaker should state the reasons for his determination and indicate the
evidence he relied on…though his statement need not amount to a full opinion or even formal
findings of fact and conclusions of law. And, of course, an impartial decisionmaker is essential” (397
U.S. 254 (1970), voto do Justice Brennan).
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
tação das decisões judiciais, todas estas também associadas a noção de devido
processo legal (artigo 5º, incisos LV, LIII, LVI, LX e artigo 93, IX).
Essa compreensão do direito ao contraditório na doutrina processual brasi-
leira é influenciada pelo pensamento processualista italiano, que considera este
um elemento fundamental à garantia constitucional a um “processo justo”202.
Nesse sentido, a conhecida conceituação de Elio Fazzalari coloca a participa-
ção dos destinatários do provimento jurisdicional, em contraditório, como ele-
mento essencial, ou ratio distinguendi, do processo203. Fazzalari argumenta que a
distinção entre o processo e um procedimento reside na possibilidade de partici-
pação de todos destinatários dos efeitos do ato final204 do processo, por meio de
uma estrutura dialética em que se assegure a paridade simétrica das posições dos
sujeitos e a influência de seus atos na tomada de decisões pelo julgador205.
Essa importância conferida à noção de contraditório e à participação dos
destinatários do provimento jurisdicional como elemento de legitimação do
processo e da atividade jurisdicional fez com que parte da doutrina passasse a
falar em efetivo contraditório, ou efetiva “participação” no processo, para sus-
tentar que o termo “contraditório”, por si próprio, não seria capaz de abarcar a
importância conferida ao direito das partes e dos interessados de influir signifi-
cativamente na atividade jurisdicional.
202 Conforme artigo 111 da Constituição Italiana, que também provê pela duração razoável do processo,
alçado a direito constitucional no Brasil pela Emenda Constitucional nº 45/2004, como visto no
Capítulo 1. O texto do dispositivo constitucional italiano assim dispõe: “La giurisdizion si attua
mediante il giusto processso regolato dalla legge. Ogni processo si svolge nel contraddittorio tra le parti,
in condizione di parità, davanti a giudice terzo e imparziale. La legge ne assicura la ragionevole durata”.
203 “Il ‘processo’ è um procedimento in cui partecipano (sono abilitati a partecipare) coloro nella cui
sfera giuridica l’atto finale à destinato a svolgere effetti: in contraddittorio, e in modo che l’autore
dell’atto non possa obliterar le loro attività” (FAZZALARI, Elio. Istituzioni di diritto processuale.
Padova: CEDAM, 1994, p. 82).
204 O autor chama de “ato final” o provimento jurisdicional como a determinação judicial que será
emanada no processo, ainda que não seja, temporalmente, seu último ato: “In non pochi casi,
il provvedimento non è l’ultumo atto del procedimento dal punto di vista temporale: talvolta il
procedimento si divide in più fase che sfociano, ciascuna, in um provvedimento (si pensi, ad
esempio, ala promulgazione dela legge). Anche in queste ipotese, il provvedimento resta l’atto cui
il procedimento cospira: in questo senso, può convenirsi di designarlo ancore come ‘atto finale’”
(FAZZALARI, Elio, 1994, op. cit., p. 79). A esse respeito, Carlos Alberto de Salles também explica
que “a idéia de um ‘provimento’, isso é, uma disposição imperativa por parte de um órgão estatal, é,
de fato, elemento essencial à caracterização de qualquer processo, judicial ou não” (Arbitragem em
Contratos Administrativos. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 100).
205 FAZZALARI, Elio, 1994, op. cit, p. 83.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
206 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. “O processo civil na perspectiva dos direitos fundamentais”.
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS. N. 22. Porto Alegre: UFRGS, 2002, p. 31-42. Disponível em
<http://seer.ufrgs.br/index.php/revfacdir/article/view/72635/41107>, acesso em 9 out. 2017, p. 39-42.
207 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. “A Garantia do Contraditório”. Revista da Faculdade de
Direito da UFRGS. N. 15. Porto Alegre: UFRGS, 1998, p. 7-20. Disponível em <http://www.seer.
ufrgs.br/index.php/revfacdir/article/view/70385/39893>, acesso em 12 out. 2017.
208 “L’essenza stessa del contraddittorio esige che vi partecipino almeno due soggetti, un ‘interessado’
e un ‘contrainteressado’: sull’uno dei quali l’atto finale à destinato a svolgere effetti favorevoli e
sull’altro effetti pregiudizievoli” (FAZZALARI, Elio, 1994, op. cit., p. 86).
209 GRECO, Leonardo. “Garantias fundamentais do processo: o processo justo”. Novos estudos jurídicos,
v. 7, n. 14, 2008, p. 13.
210 GRECO, Leonardo, 2008, op. cit., p. 11-13.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
211 MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo. 3ª Ed. São Paulo: RT, 2009, p. 408-409.
212 THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Vol. I. 56ª Edição. Rio de Janeiro:
Forense, 2015, p. 85-86.
213 Camilo Zufelato trata desse equilíbrio processual como sendo uma igualdade em sentido substancial,
o que implica também em se realizar “discriminações positivas” ao longo do processo, como no
caso da distribuição dinâmica do ônus da prova (“O princípio do contraditório no Projeto de Novo
CPC”. Jornal Carta Forense. 3 out. 2013. Disponível em <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/
artigos/o-principio-do-contraditorio-no-projeto-de-novo-cpc/12140> acesso em 12 out. 2017).
214 THEODORO JR., Humberto, 2015, op. cit., p. 86.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
216 A obra seminal sobre justiça procedimental – ou procedural justice –, frequentemente citada por
teóricos norteaericanos, é o livro Procedural Justice: a Psychological Analysis, de John Thibaut e
Laurens Walker (Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum Associates, 1975). A obra posterior de Edgar
Allan Lind e Tom R. Tyler denominada The Social Psychology of Procedural Justice (Nova York:
Prelum Press, 1988), também é uma importante referência sobre o tema.
217 “Objective procedural justice concerns the capacity of a procedure to conform to normative standards
of justice, to make either the decisions themselves or the decision-making process more fair by,
for example, reduzing some clearly unacceptable bias or prejudice. Subjective procedural justice
concerns the capacity of each procedure to enhance the fairness judgments of those who encounter
procedures” (LIND, Edgar Allan; TYKER, Tom R., 1988, op. cit., p. 3).
218 LIND, Edgar Allan; TYKER, Tom R., 1988, op. cit, p. 3-5.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
222 Como afirma Cândido Rangel Dinamarco, a idéia de eventualidade do contraditório, embora possa
ser discutível no plano dos direitos indisponíveis (como no processo-crime), é plenamente cabível
quando tratamos de direitos patrimoniais disponíveis, especialmente no âmbito da execução civil.
Afirma, ainda, que “é inevitável reconhecer que a participação será de intensidade sempre variável
e que, sem descer abaixo da linha representativa do mínimo tolerável, ela terá satisfeito às exigências
do contraditório” (Execução civil. 7ª Edição, São Paulo: Malheiros, 2000, p. 171).
223 Humberto Theodoro Jr. dá também outros exemplos de legítima mitigação do contraditório, tais
como a possibilidade de ser relegado a um momento posterior quando do indeferimento da petição
inicial (artigo 330) ou da rejeição liminar do pedido (artigo 332), em que as partes terão oportunidade
de realizar o debate em contraditório em sede recursal. Menciona, ainda, as medidas liminares
inaudita altera parte em ações de procedimento especial, como nas possessórias (artigo 562) e nos
embargos de terceiro (artigo 678), defendendo que em todas essas hipóteses haveria uma ponderação
entre o contraditório e a efetividade jurisdicional em que esta teria prevalência (2015, op. cit., p. 88).
89
Maria Cecília de Araujo Asperti
224 CAPPELLETTI, Mauro. “Os métodos alternativos de solução de conflitos no quadro do movimento
universal de acesso à justiça”. Revista de Processo, vol. 74 (abril-junho de 1994), p. 82-97, p. 84-85.
225 CAPPELLETTI, Mauro. “Formações sociais e interesses coletivos diante da justiça civil”. Trad.
CAMPOS, Nelson Renato Palaia Ribeiro de. Revista de Processo, v. 2, n. 5, jan./mar., 1977, p. 128-
159, p. 129-135.
226 GRINOVER, Ada Pellegrini. “Direito processual coletivo”. GRINOVER, Ada Pellegrini; MENDES,
Aluisio Gonçalves de; WATANABE, Kazuo. Direito Processual Coletivo e o Anteprojeto do Código
Brasileiro de Processos Coletivos. São Paulo: RT, 2007, p 11-15.
227 “Há, assim, no processo coletivo, em comparação com o individual, uma participação maior pelo
processo, e uma participação menor no processo: menor, por não ser exercida individualmente, mas a
90
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
única possível num processo coletivo, onde o contraditório se exerce pelo chamado ‘representante
adequado’ (GRINOVER, Ada Pellegrini, 2007, op. cit., p. 13).
228 “Na década de 1980, o processo coletivo conseguiu, não sem dificuldades, se estruturar no Brasil,
com inegável pioneirismo em um país de civil law. A modificação do cenário processual colocada em
marcha pelo novo regime foi tamanha que, já nos anos 90, o governo federal tentaria, por intermédio
de medidas provisórias, dificultar o seu exercício, exigindo, por exemplo, autorização assemblear
para o ajuizamento de ações coletivas pelas associações, com nomes e endereços dos associados.
Assim, os processualistas que defendiam o instituto se viam na contingência de não problematizá-lo
exageradamente, sob pena de, em um primeiro momento, impedir que ele fosse adotado e, em um
segundo, legitimar a mal-intencionada investida do Poder Executivo” (VITORELLI, Edilson, 2016,
op. cit., p. 120-121). Sobre as restrições impostas pela Medida Provisória nº 1.984-20, de 28 de julho
de 2000, e pela Medida Provisória nº 1.984-21 de 28 de agosto de 2000 (reeditadas pela Medida
Provisória nº 2.180-35, de 24 de agosto de 2001), em particular a restrição ao uso da ação civil
pública em matéria tributária, previdenciária, relativa ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) e “outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados” (artigo 1º, Parágrafo Único, da Lei nº 7.347/1985), confira-se BUENO, Cassio
Scarpinella. “Réquiem para a ação civil pública”. Disponível em http://www.scarpinellabueno.
com/cat-para-ler/62-25-requiem-para-a-acao-civil-publica.html, acesso em 31 ago. 2017. Publicado
originalmente em FIUZA, César Augusto de Castro; DE SÁ, Maria de Fátima; DIAS, Ronaldo
Brêtas C. (coord.). Temas atuais de direito processual civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 49-72.
229 VITORELLI, Edilson, 2016, op. cit., p. 32.
230 Como no julgamento do Recurso Extraordinário nº 573.232/SC, mencionado no item 3.2.1., a seguir,
em que apenas os associados que expressamente autorizarem o ajuizamento da ação civil pública
poderão executar individualmente a sentença coletiva (Relator Ministro Ricardo Lewandovski,
Redator do acórdão Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, Julgamento em 14.05.2014).
91
Maria Cecília de Araujo Asperti
231 À exemplo, vide MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; SILVA, Larissa Clare Pochmann da. “A
legitimidade ativa do indivíduo nas ações coletivas” In GRINOVER, Ada Pellegrini (org.) et al.
Processo coletivo: do surgimento à atualidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 1243-1254.
232 Para citar alguns exemplos de grande repercussão na mídia, tem-se as ações populares relativas ao
aumento as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, incidentes sobre a importação
e a comercialização de gasolina, óleo diesel, gás liquefeito de petróleo (GLP), querosene de aviação e
álcool (como o Processo nº 1007839-83.2017.4.01.3400, da 20ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Distrito Federal); a ação popular que questionou a validade da Resolução nº 1/1990, do Conselho
Federal de Medicina, sobre a “atuação de psicólogos em relação à questão da orientação sexual”
(Processo nº 1011189-79.2017.4.01.3400, da 14ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal)
e a ação popular contra a nomeação dos ex-presidente Lula ao cargo de Ministro Chefe da Casa Civil
(como no Processo nº 0016542-54.2016.4.01.3400, da 4ª Vara Federal do Distrito Federal, no qual foi
proferida a primeira decisão liminar sobre o tema).
233 Para um estudo mais aprofundado sobre o desastre ambiental e suas consequencias econômicas,
sociais e jurídicas, confira-se SALINAS, Natasha Schmitt Caccia. “Caso Samarco: implicações
jurídicas, econômicas e sociais do maior desastre ambiental do Brasil” In FALCÃO, Joaquim;
PORTO, Antonio José Maristrello; ALCÂNTARA, Paulo Augusto Franco de. Depois da lama:
Mariana e as consequencias de um desastre ambiental construído. Belo Horizonte: Letramento,
2016, p. 197-233.
234 Processos n. 0039891-33.2015 e n. 0400.15.004335-6, distribuídos para a 2ª Vara da Comarca de
Mariana.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
o Ministério Público Federal focou sua atuação na defesa dos danos ambientais,
propondo medidas de urgência, para conter o avanço da lama, e tutelas conde-
natórias para indenização e reparação dos incomensuráveis prejuízos ambien-
tais decorrentes do evento235. De outra parte, a União, os estados de Minas
Gerais e Espírito Santo ajuizaram ação coletiva, veiculando uma ampla causa de
pedir que contemplava tanto reformas socioambientais, quanto a reconstrução
das comunidades e indenização dos afetados236.
Foi nesta última ação que se firmou, inicialmente, um extenso acordo pelo
qual a empresa Samarco e suas principais acionistas, Vale e a BHP Billiton,
comprometeram-se a adotar uma série de medidas, dentre estas a elaboração
e implementação de planos de reconstrução socioeconômica e ambiental das
áreas afetadas e de programas de indenização individual das vítimas237.
Era colocada, com isso, a discussão sobre a legitimidade desse acordo, que
não teria contado com a participação das comunidades e grupos afetados238. É
o que ressaltou a Desembargadora Diva Malerbi, então convocada pelo STJ,
quando do julgamento de decisão liminar proferida na Reclamação suscitada
pelo Ministério Público Federal contra a juíza coordenadora do Núcleo Central
93
Maria Cecília de Araujo Asperti
239 Reclamação nº 31.935-MG, Rel. Diva Malerbi (desembargadora convocada do Tribunal Regional
Federal da Terceira Região), Decisão liminar proferida em 30 jun. 2016.
94
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
241 Isso é especialmente verdadeiro em processos em que se visa algum tipo de reforma estrutural, em
que a articulação dos diversos atores políticos e sociais demanda tempo e recursos, fazendo com que a
prolação de uma decisão e, principalmente, a sua efetivação, envolvam procedimentos participativos
complexos. Sobre o conceito de reforma estrutural, Owen Fiss comenta: “Essa nova forma de
adjudicação é definida fundalmentalmente por duas características. A primeira é a consciência
de que a principal ameaça aos valores constitucionais norteamericanos não é proveniente de
indivíduos, mas das operações das organizações de grande porte, as burocracias do Estado moderno.
Em segundo lugar, esse novo modo de processo judicial reflete a compreensão de que, a menos que
as referidas organizações sejam reestruturadas, tais ameaças não podem ser eliminadas (...). Esse
novo modo de processo judicial, o qual eu chamo de reforma estrutura, representa um importante
avanço para a compreensão da sociedade moderna e do papel da adjudicação” (FISS, Owen. “As
bases políticas e sociais da adjudicação”. Direito como Razão Pública: processo, jurisdição e sociedade.
Coord. trad. Carlos Alberto de Salles. Trad. Daniel Porto Godinho; Melina de Medeiros Rós. Maria
Cecilia de Araujo Asperti. 2ª Ed. revista e atualizada. São Paulo: Juruá, 2017, p. 81-93, p. 82-83).
Confira-se também ARENHART, Sérgio Cruz. “Decisões Estruturais no Direito Processual Civil
Brasileiro”. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil. v. 10, n. 59, mar./abr. 2014. Porto
Alegre, 2017, p. 67-85,).
242 RESNIK, Judith, 2008, op. cit., p. 499-500.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
243 Para Georges Abboud e Marcos de Araújo Cavalcanti, a falta de controle de representatividade
adequada no IRDR consiste em violação ao princípio do contraditório do qual decorre a
inconstitucionalidade do dispositivo legal: “Para que a decisão de mérito desfavorável proveniente
do IRDR seja aplicada vinculativamente aos processos repetitivos, é preciso que o sistema processual
brasileiro assegure o devido processo legal e, por consequência, o princípio do contraditório aos
litigantes abrangidos pelo incidente processual coletivo. E a única forma de garantir a observância
desses princípios constitucionais é permitir o controle judicial da adequação da representatividade
dos interesses do grupo. A adoção dessa técnica processual nada mais é do que um método de
adaptação do princípio constitucional do contraditório ao devido processo legal social ou coletivo”
(“Inconstitucionalidade do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) e os riscos ao
sistema decisório” In Revista de Processo, vol. 240, fev./2015, 2015, p. 224). No presente trabalho, a
participação dos litigantes ocasionais e dos “ausentes” no âmbito das técnicas de julgamento de casos
97
Maria Cecília de Araujo Asperti
repetitivos é o tema do Capítulo 4 e do estudo empírico descrito nos capítulos 5 e 6, a partir das
premissas estabelecidas nas partes I e II.
244 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 18ª Ed. Salvador: Juspodium, 2016, p. 358.
245 DINAMARCO, Cândido Rangel, 2017, op. cit., p. 138-139.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
249 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Jurisdição coletiva e coisa julgada: teoria das ações coletivas. 3ª Ed.
São Paulo: RT, 2012, p. 298.
250 “Representação – Associados – artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal. Alcance. O disposto
no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando
previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados. Título
Executivo Judicial – Associação – Beneficiários. As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em
ação proposta por associação, é definida pela representação no processo de conhecimento, presente
a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial” (Recurso Extraordinário nº
573.232/SC, Relator Ministro Ricardo Lewandovski, Redator do acórdão Ministro Marco Aurélio,
Tribunal Pleno, Julgamento em 14.05.2014).
251 “Creio, e por isso disse que a situação sequer é favorável a elucidar-se a diferença entre representação
e substituição processual, a esclarecer o alcance do preceito do inciso XXI do artigo 5º, que trata
da necessidade de a associação apresentar autorização expressa para agir em Juízo, em nome dos
associados, e o do preceito que versa o mandado de segurança coletivo e revela o sindicato como
substituto processual. Nesse último caso, a legitimação já decorre da própria Carta – representação
gênero – e também da previsão do artigo 8º, do qual não me valho. Estou-me valendo apenas daquele
referente às associações” (Voto Ministro Marco Aurélio, p. 19).
252 Ainda que este não seja o objeto de discussão do presente trabalho, insta observar que esse
entendimento representa inegável retrocesso em termos do alcance da tutela coletiva e de sua
capacidade de efetivamente promover a reorganização de litigantes ocasionais para defesa, em juízo, de
direitos transindividuais e individuais homogêneos. Como já comentado, o processo coletivo partiu de
uma aposta em incentivos para mobilização e reorganização da sociedade civil para que articulasse, por
meio de associações representativas de seus interesses, demandas coletivas relativas a direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos. Com a exigência da autorização expressa e individualizada dos
100
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
A autora também argumenta que haveria uma profunda relação entre o re-
gime da coisa julgada e a legitimação para a causa, na medida em que a coisa
membros da associação, cria-se mais um obstáculo para efetividade dessa via de acesso à justiça, além
de um desincentivo para atuação judicial de entidades sérias, que muitas vezes tem de fazer frente a
grandes litigantes ou ao próprio Poder Público em ações coletivas custosas e complexas.
253 GRINOVER, Ada Pellegrini. “As garantias constitucionais do processo nas ações coletivas”, Revista
de Processo, v. 11, n. 43 (jul./set. 1986), p. 24/25.
101
Maria Cecília de Araujo Asperti
julgada erga omnes ou ultra partes demandaria uma representação adequada dos
interesses daqueles afetados254. Segundo ela, a representatividade adequada teria
um fundamento constitucional, enquanto forma de se assegurar que os membros
do grupo (ausentes no processo) tiveram seus interesses plenamente representa-
dos em juízo, com o amplo exercício das garantias constitucionais à ampla defesa
e contraditório pelo ente legitimado. Em sentido similar, Susana Henriques da
Costa observa que a representatividade adequada é a garantia de que a coletivi-
dade tenha sido “satisfatoriamente ouvida e defendida”, o que se revela essencial
para legitimação da sentença e dos efeitos da coisa julgada coletiva255.
Há, portanto, uma importante relação entre as oportunidades de participação,
a adequação da representatividade e os efeitos e a imutabilidade da decisão judicial.
Aprofundando-se um pouco nesse ponto, verifica-se também que a sistemá-
tica brasileira de tutela coletiva se ancora na preservação do direito individual
de ação, estabelecendo a possibilidade de o sujeito de direitos (ou parte em sen-
tido material) continuar litigando ou demandar individualmente na hipótese de
uma decisão coletiva desfavorável.
Tal como nas ações individuais, o trânsito em julgado das sentenças coleti-
vas abarca seu efeito declaratório, que se torna imutável em face da relação jurí-
dica exposta no pedido com relação aos legitimados extraordinários, que podem
expor em juízo apenas uma única relação jurídica material, salvo no caso de
improcedência por insuficiência de provas256. A esse respeito, José Ignácio Bo-
254 [pela cláusula de representatividade adequada] a parte ideológica leva a juízo o interesse meta-
individual, ‘representando’ concretamente o grupo titular do interesse, que terá exercido seus direitos
processuais, através das garantias da defesa e do contraditório asseguradas ao ‘representante’. O
mecanimo baseia-se na concepção de que o esquema representativo é apto a garantir aos membros da
categoria a melhor defesa judicial, a ponto de afirmar-se que, nesse caso, o julgado não atuaria somente
ultra partes, nem significaria real exceção ao princípio dos limites subjetivos da coisa julgada, mas
configuraria antes um novo conceito de ‘representação substancial e processual’, adaptado às novas
exigências emergentes na sociedade” (GRINOVER, Ada Pellegrini. “As garantias constitucionais do
processo nas ações coletivas”. Revista de Processo, v. 11, n. 43, jul./set. 1986, p. 24/25).
255 COSTA, Susana Henriques da. “A representação adequada e litisconsórcio – o Projeto de Lei n.
5.139/2009” In GOZZOLI, Maria Clara (coord.). Em defesa de um novo sistema de processos coletivos:
estudos em homenagem a Ada Pellegrini Grinover. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 627-628.
256 “O que se torna imutável e indiscutível não é a sentença, mas apenas a sua conclusão (art. 469), o
seu elemento declaratório. A imutabilidade e indiscutibilidade operam apenas em relação às partes
perante as quais a sentença foi pronunciada, não beneficiando nem prejudicando terceiros (art. 472)”
(MESQUITA, José Ignácio Botelho de. “Coisa Julgada no Código do Consumidor”. In Coisa Julgada.
Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 23). Cumpre assinalar que, no CPC de 2015, o artigo 506 dispõe
apenas que a coisa julgada não prejudicará terceiros, o que deu espaço para interpretações no sentido de
102
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
telho de Mesquita explica que, com relação aos membros da coletividade, são os
efeitos da sentença coletiva (e não os limites subjetivos da coisa julgada) que são
erga omnes ou ultra partes, dado que o indivíduo membro da coletividade sequer
possui legitimidade para rediscutir a matéria pela via coletiva257. É resguardado
a este o direito individual de ação, com exceção do litigante individual que
tenha optado por atuar como litisconsorte em ação coletiva que verse sobre
direitos individuais homogêneos (artigo 103, §2º, do CDC)258.
Desse modo, a sentença coletiva transitada em julgado, em regra, apenas beneficia
os membros da coletividade (partes materiais ou substituídos) representados pelo le-
gitimado extraordinário (ou a parte processual), resguardando-se o direito individual
de ação tanto antes do trânsito em julgado, conforme prevê o artigo 104 do CDC no
tocante à litispendência, quanto após este, ressalvada a exceção já mencionada259. A
que seria possível beneficiar terceiros que não participaram diretamente do processo em que se formou
a coisa julgada (conforme DESTEFENNI, Marcos. “Eficácia expandida da coisa julgada individual”.
Disponível em <http://estadodedireito.com.br/eficacia/>, acesso em 10 de maio de 2017).
257 MESQUITA, José Ignácio Botelho de. “Coisa Julgada no Código do Consumidor”, p. 34-42.
258 Como afirma José Ignácio Botelho de Mesquita, essa disposição chega a ser inútil: “Essa norma [do
artigo 103 do CDC] segue o sistema do Código de Processo Civil e era desnecessária. A conclusão
de que qualquer sentença só se torna imutável e indiscutível com relação ao pedido, identificado
pelo objeto e pela causa de pedir. As ações fundadas nos direitos e ações individuais terão sempre
objeto e causa de pedir distintos dos das ações coletivas. Nunca poderiam ser por elas prejudicadas
(MESQUITA, José Ignácio Botelho de, 2004, op. cit., p. 37-38).
259 Não se ignora aqui toda a discussão atinente à existência de conexão ou de prejudicialidade entre
ações individuais e coletivas, discutida no STJ quando do julgamento do caso da cobrança das tarifas
telefônicas no Conflito de Competência nº 47.731/DF, em 2005, em que voto vencedor do Ministro
Teori Zavaski consagrou entendimento contrário à reunião ou suspensão das ações individuais
para julgamento de demandas coletivas acerca da mesma matéria (“o pedido de suspensão das
ações individuais até o julgamento das ações coletivas, além de estranho aos limites do conflito de
competência, não pode ser acolhido, não apenas pela autonomia de cada uma dessas demandas,
mas também pela circunstância de que as ações individuais, na maioria dos casos, foram propostas
por quem não figura como substituído processual em qualquer das ações coletivas. Suspender o
curso dessas ações significa, portanto, negar, na prática, acesso ao Judiciário”). Esse entendimento
foi revisto pelo STJ, em 2011, quando do julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.110.549/
RS, no caso “Projeto Poupança”, em que juízes e desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul decidiram suspender todas as ações individuais relativas a expurgos inflacionários de
planos econômicos para julgamento das ações coletivas atinentes à matéria. Em seu voto vencedor,
o Ministro Sidnei Benetti argumenta pela necessidade de contextualizar a interpretação das
regras processuais que regulamentam o processo coletivo a partir das reformas processuais e dos
mecanismos de julgamento de casos repetitivos, que priorizam a efetividade e a segurança jurídica
por meio da agregação de julgamentos em casos similares (“O enfoque jurisdicional dos processos
repetitivos vem decididamente no sentido de fazer agrupar a macro-lide neles contida, a qual em
cada um deles identicamente se repete, em poucos processos, suficientes para o conhecimento e a
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Maria Cecília de Araujo Asperti
eficácia dessa decisão se opera secundum eventum litis260, favorecendo, e nunca prejudi-
cando os membros da coletividade.
Enquanto o modelo brasileiro de tutela coletiva se relaciona com as possibili-
dades “2” e “3” descritas por Grinover, o sistema da class action norteamericana
pode ser associado com a hipótese de legitimação concorrente (“1”), na medida
em que permite que o indivíduo ajuize a ação em nome da classe, cabendo às
cortes a apreciação de sua representatividade adequada. Trata-se, como explica
Owen Fiss, de uma hipótese verdadeiramente excepcional de autonomeação do
representante, elemento que conferiria um caráter quase que revolucionário à
“criação processual” da class action261.
O controle da representatividade adequada nesse modelo é feito judicial-
mente (ope judicis), cabendo ao julgador o exame das condições técnicas, ex-
periência e capacidade de exercer plenamente o contraditório e representar os
interesses de todos os membros da coletividade que poderão ser afetados pela
sentença coletiva. No âmbito federal, tal controle é balizado pelos requisitos
da conhecida Rule 23, da Federal Rules of Civil Procedure, editada em 1937 e
emendada substancialmente em 1966262 e 2003. No item 23(a), que trata dos
decisão de todos os aspectos da lide, de modo a cumprir-se a prestação jurisdicional sem verdadeira
inundação dos órgãos judiciários pela massa de processos individuais, que, por vezes às centenas de
milhares, inviabilizam a atuação judiciária”). Esses casos são discutidos no Capítulo 4, no item 4.3.2.
260 José Ignácio Botelho de Mesquita também afirma que há uma restrição dos limites subjetivos da
coisa julgada no âmbito coletivo, porquanto, diversamente do que ocorre entre titulares de ações
individuais concorrentes, a improcedência de mérito para o caso de ações calcadas em direitos
difusos ou coletivos cercearia a possibilidade de tutela por outros legitimados, mesmo aqueles que
não foram parte (MESQUITA, José Ignácio Botelho de, 2004, op. cit., p. 36-37).
261 “A class action é, de fato, uma ação judicial de representação – como já foi notado, o autor identificado
está ingressando com uma ação judicial em favor de todos os membros não identificados da classe -,
mas ela emprega um conceito peculiar de representação: autonomeação. Contrariamente à situação
em que nomeio alguém como meu procurador; na class action o autor identificado nomeia a si mesmo
como representante da classe (...). Até agora, não há negação de que a autonomeação seja uma
forma anômala de representação, apenas uma forma justificada, se o for completamente, pelas mais
excepcionais circunstâncias. Seu uso na class action revela o caráter verdadeiramente excepcional –
talvez até mesmo revolucionário – dessa criação processual”. (“A teoria política das ações coletivas”
In Direito como Razão Pública: Processo, Jurisdição e Sociedade, p. 185-198, p. 191).
262 Sobre os termos das mudanças, que incluem definição mais clara das regras de notificação dos
membros da class e da aplicação dos efeitos do julgamento, favorável ou não, a todos, vide notes of the
advisory committee às Federal Rules of Civil Procedure Disponível em <https://www.law.cornell.edu/
rules/frcp/rule_23>, acesso em 29 out. 2017.
104
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
105
Maria Cecília de Araujo Asperti
assevera que nem os autores e tampouco os réus da class action anterior havia
atuado ou se colocado como efetivos representantes dos moradores contrários
à convenção, de modo que aplicar o entendimento firmado em tal demanda
ao caso individual subsequente seria conferir às partes da ação coletiva um
poder e uma responsabilidade que estas não se propuseram a assumir e que
não parecem ser aptos a exercer266.
Já com relação à capacidade técnica do autor da class action e de seu advo-
gado para representar de forma justa e adequada os interesses das partes (item
“4”), André Roque Vasconcelos explica que, por ser o advogado o principal
responsável pela tomada das principais decisões e, notadamente, pelo custeio
das despesas processuais atinentes à litigância coletiva, a aferição do critério de
capacidade acaba se voltando muito mais para o causídico do que para a parte
em si267. A esse respeito, a Rule 23 também passou a definir em sua alínea (g),
a partir da emenda de 2003, os critérios pertinentes à designação do advogado
que atuará em nome do representante da classe (class counsel), estabelecendo
que para aprovação do class counsel, o julgador deverá levar em consideração o
trabalho investigativo já realizado, a experiência em outras class actions simila-
res, o conhecimento da lei aplicável e o acesso a recursos a serem utilizados para
representação da classe268.
266 “In seeking to enforce the agreement, the plaintiffs in that suit were not representing the
petitioners here whose substantial interest is in resisting performance. The defendants in the first
suit were not treated by the pleadings or decree as representing others or as foreclosing by their
defense the rights of others, and, even though nominal defendants, it does not appear that their
interest in defeating the contract outweighed their interest in establishing its validity. For a court
in this situation to ascribe to either the plaintiffs or defendants the performance of such functions
on behalf of petitioners here is to attribute to them a power that it cannot be said that they had
assumed to exercise, and a responsibility which, in view of their dual interests it does not appear
that they could rightly discharge”.
267 ROQUE, André Vasconcelos. “O que significa representatividade adequada? Um estudo de direito
comparado”. Revista Eletrônica de Direito Processual. Vol. IV. N. 4, 2009, p. 171-198, p. 190.
268 “(g) Class Counsel.
(1) Appointing Class Counsel. Unless a statute provides otherwise, a court that certifies a class must
appoint class counsel. In appointing class counsel, the court:
(A) must consider:
(i) the work counsel has done in identifying or investigating potential claims in the action;
(ii) counsel's experience in handling class actions, other complex litigation, and the types of claims
asserted in the action;
(iii) counsel's knowledge of the applicable law; and
(iv) the resources that counsel will commit to representing the class;
106
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
(B) may consider any other matter pertinent to counsel's ability to fairly and adequately represent
the interests of the class;
(C) may order potential class counsel to provide information on any subject pertinent to the
appointment and to propose terms for attorney's fees and nontaxable costs;
(D) may include in the appointing order provisions about the award of attorney's fees or nontaxable
costs under Rule 23(h); and
(E) may make further orders in connection with the appointment.”
269 (3) Judgment. Whether or not favorable to the class, the judgment in a class action must:
(A) for any class certified under Rule 23(b)(1) or (b)(2), include and describe those whom the court
finds to be class members; and
(B) for any class certified under Rule 23(b)(3), include and specify or describe those to whom
the Rule 23(c)(2) notice was directed, who have not requested exclusion, and whom the court finds
to be class members.”
270 Importante consignar que, como visto nos comentários sobre o julgamento de Hansberry v. Lee,
a aferição da existência de coisa julgada sobre a matéria decidida em ação coletiva é realizada em
eventual demanda posterior em que se busque discutir os mesmos assuntos.
271 “
(b) Types of Class Actions. A class action may be maintained if Rule 23(a) is satisfied and if:
(1) prosecuting separate actions by or against individual class members would create a risk of:
(A) inconsistent or varying adjudications with respect to individual class members that would
establish incompatible standards of conduct for the party opposing the class; or
(B) adjudications with respect to individual class members that, as a practical matter, would be
dispositive of the interests of the other members not parties to the individual adjudications or would
substantially impair or impede their ability to protect their interests;
(2) the party opposing the class has acted or refused to act on grounds that apply generally to the
class, so that final injunctive relief or corresponding declaratory relief is appropriate respecting the
class as a whole; or (…)”
107
Maria Cecília de Araujo Asperti
272 COSTA, Susana Henriques. “O controle judicial da representatividade adequada: uma análise dos
sistemas norte-americano e brasileiro” In SALLES, Carlos Alberto de. As grandes transformações do
processo civil brasileiro: homenagem ao Professor Kazuo Watanabe. São Paulo: Quartier Latin, 2009, p.
953-978, p. 961-962.
273 COSTA, Susana Henriques da, 2009b, op. cit., p. 953-978.
274 Constitucional e Processual Civil. Ação Civil Coletiva. Direitos Transindividuais (Difusos e
Coletivos) e Direitos Individuais Homogêneos. Distinções. Legitimação do Ministério Público. Arts.
127 e 129, iii, da CF. Lesão a direitos individuais de dimensão ampliada. Comprometimento de
interesses sociais qualificados. Seguro Dpvat. Afirmação da Legitimidade Ativa (...). No entanto,
há certos interesses individuais que, quando visualizados em seu conjunto, em forma coletiva
e impessoal, têm a força de transcender a esfera de interesses puramente particulares, passando
a representar, mais que a soma de interesses dos respectivos titulares, verdadeiros interesses da
comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba não apenas atingindo a
esfera jurídica dos titulares do direito individualmente considerados, mas também comprometendo
bens, institutos ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior
de pessoas. Em casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de interesse social
qualificado, o que legitima a propositura da ação pelo Ministério Público com base no art. 127 da
Constituição Federal. Mesmo nessa hipótese, todavia, a legitimação ativa do Ministério Público se
limita à ação civil coletiva destinada a obter sentença genérica sobre o núcleo de homogeneidade
dos direitos individuais homogêneos. 6. Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas funções
institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos individuais homogêneos compromete
também interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior controle jurisdicional a respeito.
108
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Cabe ao Judiciário, com efeito, a palavra final sobre a adequada legitimação para a causa, sendo que,
por se tratar de matéria de ordem pública, dela pode o juiz conhecer até mesmo de ofício (CPC, art.
267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e § 4.º)”. (RE nº 631111, Relator Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno,
julgado em 07.08.2014).
275 “Ação Direta de Inconstitucionalidade. Legitimidade Ativa da Defensoria Pública para ajuizar Ação
Civil Pública (art. 5º, inc. II, da Lei n. 7.347/1985, alterado pelo art. 2º da Lei n. 11.448/2007). Tutela
de interesses transindividuais (coletivos strito sensu e difusos) e individuais homogêneos. Defensoria
Pública: instituição essencial à função jurisdicional. Acesso à Justiça. Necessitado: definição
segundo princípios hermenêuticos garantidores da força normativa da Constituição e da máxima
efetividade das normas constitucionais: art. 5º, incs. XXXV, LXXIV, LXXVIII, da Constituição da
República. Inexistência de norma de exclusividade do Ministério Público para ajuizamento de Ação
Civil Pública. Ausência de prejuízo institucional do Ministério Público pelo reconhecimento da
legitimidade da Defensoria Pública. Ação julgada improcedente (ADI 3943, Relatora Min. Cármen
Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 07.05.2015).
276 “1. O Ministério Público Estadual não possui legitimidade para a propositura de ação civil pública,
objetivando a tutela de bem da União, porquanto atribuição inserida no âmbito de atribuição do
Ministério Público Federal, submetida ao crivo da Justiça Federal, coadjuvada pela impossibilidade
de atuação do Parquet Estadual, quer como parte, litisconsorciando-se com o Parquet Federal, quer
como custos legis (...). STJ, REsp 876936-RJ, Primeira Turma, Relator Ministro Luiz Fux, julgamento
em 21.10.2008).
277 A esse respeito, confira-se BURGO, Vitor. “Em busca da legitimação perdida: a exclusão da pessoa
física do rol de legitimados do PL 5.139/2006” In GOZZOLI, Maria Clara (coord.). Em defesa de um
novo sistema de processos coletivos: estudos em homenagem a Ada Pellegrini Grinover. São Paulo: Saraiva,
2010, p. 679-704 e LANGENEGGER. Natalia. Legitimidade ativa de pessoas físicas em ações coletivas:
incentivos e desincentivos institucionais. Dissertação de mestrado defendida na Escola de Direito da
Fundação Getulio Vargas. São Paulo: 2014.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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112
Parte III
Acesso à Justiça e Técnicas de
Julgamento de Casos Repetitivos
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4. Participação e Representatividade
nas Técnicas de Julgamento
de Casos Repetitivos
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
278 MOREIRA, José Carlos Barbosa. “Súmula, jurisprudência, precedente: uma escalada e seus riscos”.
Revista Dialética de Direito Processual. V. 27, 2005, n. 4, p. 49-58.
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279 MENDES, Gilmar. “Novos aspectos do controle de constitucionalidade brasileiro”. Direito Público,
v. 6, n. 27, 2009, p. 40
280 TALAMINI, Eduardo. “A dimensão coletiva dos direitos individuais homogêneos” In DIDIER
JR., Fredie (coord.). Julgamento de Casos Repetitivos. Col. Grandes Temas do Novo CPC. Salvador:
Juspodium, 2017, p. 139-166, p. 157.
281 Art. 328. Protocolado ou distribuído recurso cuja questão for suscetível de reproduzir-se em múltiplos
feitos, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a), de ofício ou a requerimento da parte interessada,
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
comunicará o fato aos tribunais ou turmas de juizado especial, a fim de que observem o disposto no
art. 543-B do Código de Processo Civil, podendo pedir-lhes informações, que deverão ser prestadas
em 5 (cinco) dias, e sobrestar todas as demais causas com questão idêntica.
Parágrafo único. Quando se verificar subida ou distribuição de múltiplos recursos com fundamento
em idêntica controvérsia, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a) selecionará um ou mais
representativos da questão e determinará a devolução dos demais aos tribunais ou turmas de juizado
especial de origem, para aplicação dos parágrafos do art. 543-B do Código de Processo Civil.
282 BRASIL, Congresso. Justificativa ao Projeto de Lei nº 1.213/2007, submetido pelo Ministério da
Justiça à Câmara dos Deputados em 28 de maio de 2007.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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284 CABRAL, Antonio do Passo. “A escolha da causa-piloto nos incidentes de resolução de processos
repetitivos” In DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Julgamento de casos Repetitivos.
Coleção Grandes Temas do Novo CPC. Vol. 10. Salvador: JusPodium, 2017, p. 37-64.
285 Também utilizam essas expressões Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha (2017, op. cit, p.
593-594) e André Vasconcelos Roque (“Ações coletivas e procedimentos para a resolução de casos
repetitivos” In DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Julgamento de casos Repetitivos.
Coleção Grandes Temas do Novo CPC. Vol. 10. Salvador: JusPodium, 2017, p. 15-36.
286 CABRAL, Antonio do Passo, 2017, op. cit., p. 38-39.
287 Civil Procedure Rules Part 19, Section III. A definição está prevista no item 19.10: “A Group
Litigation Order (‘GLO’) means an order made under rule 19.11 to provide for the case management
of claims which give rise to common or related issues of fact or law (the ‘GLO issues’)”.
288 Sobre o Group Litigation Order, e propondo uma distinção entre esse mecanismo e as técnicas
representativas (em especial a class action), vide ANDREWS, Neil. “Multi–Party Proceedings in
England: Representative and Group Actions”. Duke Journal of Comparative & International Law.
Vol. 11, n. 2, 2001, p. 249-267. O autor afirma, inclusive, que a forma mais comum de instauração
desse procedimento é por iniciativa conjunta dos advogados (solicitors) dos processos que serão
122
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
123
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Adonias Aguiar. “Situações jurídicas homogêneas: um conceito necessário para o processamento das
demandas de massa”. Revista de Processo. n. 186, v. , 2010, p. 87-107.
293 CABRAL, Antonio do Passo, 2017, op. cit., p. 39-40.
294 Sobre a criação do Musterverfahren na Alemanha e principais aspectos normativos, confira-
se BAETGE, Dietmar. “Germany”. Class Actions, Group Litigation & Other Forms of Collective
Litigation. v. 15, 2014. Disponível em <http://www. law. stanford. edu/display/images/dynamic/
events_media/Germany_National_Report. pdf>, acesso em 07 dez. 2017.
295 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. 13ª
Ed. Salvador: 2017, p. 593-594. Os autores utilizam a expressão “causa modelo” (e não “processo
modelo”), porém com o mesmo significado.
124
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
296 Utilizaremos essa expressão “caso paradigma” para que não haja confusão com as conceituações de
causa-piloto ou processo-modelo mencionadas.
297 CABRAL, Antonio do Passo, 2017, op. cit., p. 41-42. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo
Carneiro. 2017, op. cit., p. 615-616.
298 TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. 2ª Ed. Salvador: Juspodium, 2017, p.
65-89.
299 TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 80.
125
Maria Cecília de Araujo Asperti
300 “O incidente será instaurado a partir de alguns casos concretos, nos quais haja discussão sobre a
questão de direito. Tais ‘causas’, apesar de servire como substrato para o incidente, com ele não se
confudem. Instaurado o incidente, há uma separação em relação aos casos concretos, já que não há
no IRDR a resolução do conflito subjetivo. Essa separação é essencial para garantir a qualidade da
cognição operada no incidente, que deve analisar a controvérsia sem se vincular demasiadamente às
peculiaridades do caso concreto, de modo a estabelecer uma tese que possa ser usada como padrão
decisório” (TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 73-78).
301 TEMER, Sofia, 2017, op. cit.,, p. 75.
302 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro, 2017, op. cit., p. 105-106.
126
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
303 “Há, portanto, uma cisão cognitiva ainda que virtual e não física, firmando-se a tese jurídica
no procedimento incidental em que haverá se reproduzido o ‘modelo’ que melhor represente a
controvérsia jurídica que se repete em dezenas ou milhares de pretensões. A tese jurídica será aplicada
em seguida às demandas repetitivas, por ocasião do julgamento propriamente dito da causa perante o
juízo em que tramitar o processo, momento este em que será feita também a análise e julgamento das
questões éticas e das questões jurídicas não comuns pelo juízo competente, esgotando-se a análise da
pretensão ou demanda propriamente dita (MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. “O incidente de
resolução de demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil”. Revista de Processo. V. 243,
maio/2015, p. 290). Também nesse sentido, quanto à cisão decisória, Sofia Temer assevera que “não
há, no IRDR, julgamento da causa, mas sim uma cisão decisória, que faz com que o tribunal aprecie,
no incidente, apenas a controvérsia de direito (num misto de abstração e concretude), sem julgar
nenhum conflito subjetivo. O tribunal, como órgão superior, responsável (também) por uniformizaçr
a aplicação do direito, exerce sua função de fuxar um entendimento sobre a mesma questão de direito
que se repete em diversos processos” (TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 111).
127
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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309 MARINONI, Luis Guilherme. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas: decisão de questão
idêntica x precedente. São Paulo: RT, 2016b, p. 51-52.
310 GUIMARÃES, Amanda de Araújo. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. São Paulo:
Dissertação de Mestrado. Faculdade de Direito USP: 2017, p. 150-154.
311 GUIMARÃES, Amanda de Araújo, 2017, op. cit., p. 154.
312 Nesse sentido: TEMER, Sofia, 2017, op. cit.; DIDIER JR., Fredie; DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR.,
Hermes. “Ações coletivas e o Incidente de Julgamento de casos repetitivos” In DIDIER JR., Fredie
(coord.). Julgamento de Casos Repetitivos. Col. Grandes Temas do Novo CPC. Salvador: Juspodium,
2017, p. 181-191; MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; RODRIGUES, Roberto de Aragão
Ribeiro. “Reflexões sobre o incidente de resolução de demandas repetitivas previsto no projeto de
novo Código de Processo Civil”. Revista de Processo. Vol. 211. Set/2012, versão digital.
130
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
313 Muito embora esses institutos tenham sido inseridos no ordenamento jurídico brasileiro em
contextos bastante diversos e tenham sido embasados em discursos também distintos, como visto
no Capítulo 1. Também nesse sentido, André Vasconcelos Roque comenta: “Ao contrário do que
se poderia imaginar, o IRDR e a sistemática dos recursos repetitivos disciplina no novo CPC não
afastarão a necessidade de adequada tutela coletiva no Brasil. Isso porque os objetivos perseguidos
pelas ações coletivas são mais amplos que os almejados pela resolução de casos repetitivos. Tais
procedimentos têm por finalidade evitar a multiplicação de processos, proporcionando isonomia,
celeridade e segurança jurídica. Não está entre suas finalidades, todavia, promover o acesso à justiça,
nem assegurar a tutela de direitos ontologicamente coletivos e insuscteíveis de fracionamento – ou
seja, difusos e coletivos stricto sensu” (2017, op. cit., p. 31).
314 TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 63.
315 “Então, apesar de a lei empregar o termo demandas repetitivas, o que se verifica é que há utilização
não técnica do termo ‘demanda’, nesse contexto. Isso porque, a rigor, ao falar em demandas
repetitivas deveríamos nos refereir a pretensões homogênas, relativas a relações-modelo. Ou seja,
atos de postulação constituídos de causa de pedir e pedidos similares, porque referentes a situações
análogas. Afinal, o termo demanda, apesar de ser empregado em contextos diversos, significa o ato
de postulação, relativo a uma relação jurídica material, o qual é identificado pelo pedido e causa
de pedir referentes a determinadas partes. Não obstante, para o sistema processual do CPC/2015,
demandas repetitivas também compreendem demandas que não se referem a relações substanciais-
modelo, não contêm causas de pedir e pedidos similares (demandas heterogênas, portanto), mas
possuem áreas de homogeneidade, relativas a uma ou algumas das questões discutidas em juízo. As
demandas são caracterizadas como repetitivas mesmo nos casos em que apenas algumas questões
nelas debatidas o sejam” (2017, op. cit., p. 61).
316 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes, 2017, op. cit., p. 182-183.
131
Maria Cecília de Araujo Asperti
da possibilidade de seu tratamento pela via da ação coletiva317, que teria lugar
quando houvesse prevalência de questões comuns às particularidades de cada
caso318. Dessa forma, o objeto do IRDR não se confundiria, tampouco poderia
ser definido, a partir dessa categoria, havendo aproximações apenas circunstan-
ciais entre o instituto e a ação coletiva em situações em que há similitude com
relação às pretensões substanciais.
A esse respeito, e em sentido diverso do que sustenta Sofia Temer, Fredie
Didier Jr. e Hermes Zanetti Jr. argumentam que tanto as ações coletivas quan-
to os instrumentos de julgamento de casos repetitivos podem ser considerados
“processos coletivos”, visto que em ambos a relação jurídica litigiosa envolve,
em um de seus polos, um grupo (comunidade, categoria, classe, etc.), e se vei-
cula uma discussão acerca de uma “situação jurídica coletiva” comum a esse
grupo319. Na ação coletiva, esta “situação jurídica coletiva” seria o seu próprio
objeto, enquanto no julgamento de casos repetitivos, consistiria no direito à
“certificação da questão repetitiva”320. Admite-se, portanto (e aqui de forma
mais alinhada ao posicionamento da autora mencionada), o uso do IRDR e dos
recursos repetitivos mesmo em casos nos quais o objeto litigioso seja diverso
(“processos heterogêneos”), sendo comum apenas as questões jurídicas que, se-
gundo os autores, seriam normalmente de cunho processual.
Também discutindo a relação entre as técnicas de julgamento de casos repe-
titivos e as ações coletivas, André Vasconcelos Roque expressa entendimento
similar ao afirmar que os procedimentos de resolução de casos repetitivos têm
por objeto a solução de questões comuns (ele fala em “questões incidentais”),
que podem ser extraídas tanto de demandas que veiculam direitos individu-
ais homogêneos, quanto de demandas consideradas heterogêneas, ou seja, nas
quais as questões de mérito não são necessariamente similares321. O autor afirma
haver sobreposição entre os escopos das ações coletivas e das técnicas de julga-
mento de casos repetitivos, precisamente no tocante a apreciação de questões
comuns em demandas que tenham por objeto direitos individuais homogêneos.
132
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
322 Eduardo Talamini dá como exemplo o caso em que seccionais da OAB de diferentes unidades da
Federação ajuizassem ações coletivas visando ao reconhecimento de determinado direito da classe
dos advogados (2017, op. cit., p. 160-162).
323 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. “Distinção entre questão de fato e questão de direito para fins de
cabimento de recurso especial”. Revista de Processo. v. 23, n. 92, out./dez., 1998, p. 52–70, p. 53.
324 Assim, fica evidente a conotação problemática da “questão unicamente de direito”, do artigo 976, I,
do CPC/2015, e outrora inserida no artigo 285-A no CPC/1973 (conforme BRESOLIN, Umberto.
“Considerações sobre o Artigo 285-A do Código de Processo Civil” In CARMONA, Carlos Alberto.
133
Maria Cecília de Araujo Asperti
Reflexões sobre a Reforma do Código de Processo Civil – Estudos em homenagem a Ada Pellegrini
Grinover, Cândido Rangel Dinamarco e Kazuo Watanabe. São Paulo: Atlas, 2007).
325 GUIMARÃES, Amanda de Araújo, 2017, op. cit., p. 129. Essa já era a definição adotada pela autora
deste trabalho em sua dissertação de mestrado, conforme ASPERTI, Maria Cecilia de Araujo. 2014,
op. cit., p. 45.
326 GUIMARÃES, Amanda de Araújo, 2017, op. cit., p. 246-247.
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331 “A segurança jurídica, postulada na tradição do civil law pela estrita aplicação da lei, esta a exigir o
sistema de precedentes, há muito estabelecido para assegurar essa mesma segurança no ambiente do
common law, em que a possibilidade de decisões diferentes para casos iguais nunca foi desconsiderada
e, exatamente por isso, fez surgir o princípio, inspirador do stare decisis, de que os casos similares
devem ser tratados do mesmo modo (treat like cases alike)” (MARINONI, Luiz Guilherme, 2016a, op.
cit., p. 80).
332 “Por diversos motivos, que compreendem questões históricas, culturais e opções legislativas claras, o
“sistema de precedentes” do Novo Código não é idêntico – e talvez não seja nem parecido – com aquele
construído e desenvolvido sobretudo no common law. Apesar de concordarmos com a necessidade
de amadurecimento e reflexão sobre tal sistema à luz das conquistas dos países como Estados Unidos
e Inglaterra, parece não ser possível ignorar os aspectos em que há distinções substanciais, sob pena
de criticarmos um instituto pelo que ele não é, nem pretende ser” (TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p.
213-214).
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Maria Cecília de Araujo Asperti
333 SALLES, Carlos Alberto de. “Precedentes e jurisprudência no Novo CPC: Novas técnicas decisórias”.
In GRINOVER, Ada Pellegrini [et al.]. O Novo Código de Processo Civil – Questões controvertidas.
São Paulo: Atlas, 2015, p. 77-88.
334 SALLES, Carlos Alberto de, 2015, op. cit., p. 81.
335 Também no sentido de que são as decisões posteriores que reconhecem um precedente como tal, vide
José Rogério Cruz e Tucci: “Seja como for, é certo que em ambas as experiências jurídicas [da common
law e da civil law] os órgãos judicantes, no exercício regular de pacificar os cidadãos, descortinam-se
como celeiro inesgotável de atos decisórios. Assim, o núcleo de cada um destes pronunciamentos
constitui, em princípio, um precedente judicial. O alcance deste somente pode ser depreendido aos
poucos, depois de decisões posteriores. O precedente então nasce como uma regra de um caso e, em
seguida, terá ou não o destino de tornar-se a regra de uma série de casos análogos” (Precedente judicial
como fonte do direito. São Paulo: RT, 2004, p. 11-12).
336 MOREIRA, José Carlos Barbosa, 2005, op. cit, p. 50.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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empobrecer o discurso jurídico?”. Consultor Jurídico. Edição de 06 ago. 06. Disponível em http://www.
conjur.com.br/, acesso em 28 mar. 2015).
342 MARINONI, Luiz Guilherme, 2016a, op. cit., p. 284-288.
343 MARINONI, Luiz Guilherme. “Elaboração dos conceitos de ratio decidendi (fundamentos
determinantes da decisão) e obiter dictum no direito brasileiro”. Instituto de Processo Comparado –
Núcleo de Direito Processual Comparado. Set-2012. Disponível em http://institutodeprocesso.com.br/
marinoni-elaboracao-dos-conceitos-de-ratio-decidendi-fundamentos-determinantes-da-decisao-e-
obiter-dictum-no-direito-brasileiro/, acesso em 28 mar. 2015.
344 “No atual direito estadunidense, além de existir grande profusão de leis, os precedentes passaram a
interpretar normas e, em especial, princípios, inclusive de natureza constitucional (...). Atualmente,
em virtude do impacto do constitucionalismo, não só há nítida aproximação entre as funções dos
juízes de common law e civil law, como visível proximidade entre os precedentes ditos de criação do
direito e os interpretativos. Mais do que tudo, esta proximidade permite evidenciar a importância
dos precedentes no sistema judicial brasileiro, em que os precedentes têm e terão nítida feição
interpretativa” (MARINONI, Luiz Guilherme, 2012, op. cit., p. 2).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
345 “Não é o momento de definir a natureza dos precedentes formados nestas hipóteses, se persuasiva - e
em que grau - ou obrigatória. Quer-se apenas deixar claro que tais precedentes não são estruturados
a partir dos fatos, como comumente sucede no âmbito do common law. Embora as decisões proferidas
em recurso especial e recurso extraordinário sejam tomadas em casos concretos, estes recursos são
restritos à valoração de questões de direito ou de teses jurídicas, o que confere a estes precedentes
natureza genuinamente interpretativa” (MARINONI, Luiz Guilherme, 2012, op. cit., p. 4-5).
346 MARINONI, Luiz Guilherme, 2016a, op. cit., p. 284-288.
347 Marinoni cita o julgamento da Reclamação nº 1.987, em que se decidiu que o ato impugnado estaria
“em confronto com os motivos determinantes” da decisão proferida na ADI nº 1.662, aplicando-se,
com isso, o entendimento consolidado da ratio decidendi da ação de controle de constitucionalidade
sobre o mesmo thema decidendum, qual seja, sobre as situações que justificam o sequestro de verbas
em caso de não pagamento de precatório judicial (Reclamação nº 1.987, Tribunal Pleno, Relator
Ministro Maurício Corrêa, julgamento em 01.10.2003).
348 “(...) a ratio decidendi ou os fundamentos determinantes de uma decisão espelham não apenas uma
tese de direito, mas, mais propriamente, a racionalidade da tese em face de determinada moldura
fática. Uma súmula obviamente não tem condições de refletir a racionalidade da argumentação
própria de um precedente. Pode, com alguma dificuldade, resumir a tese de direito sustentada numa
decisão” (MARINONI, Luiz Guilherme, 2016a, op. cit., p. 287). Marinoni também pondera que a
redação do §2º do artigo 926 deixaria clara a distinção entre súmulas e precedentes, ao prever que “ao
editar enunciados de súmulas, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes
que motivaram a sua criação”. Ou seja, o precedente seria a decisão cuja racionalidade argumentativa
estaria, de algum modo, registrada no enunciado da súmula, ainda que – a seu ver – de forma
insuficiente para compreensão de seus fundamentos e da articulação destes com os aspectos fáticios
dos quais foram extraídos, o que seria fundamental para uma aplicação futura da ratio decidendi.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
349 O autor também afirma que o requisito de que a controvérsia objeto da súmula acarrete a
“multiplicação de processos” expressada pelo artigo 103-A (como comentamos no Capítulo 1) não
consiste em uma preocupação direta do sistema de precedentes, o que seria mais um elemento
distintivo a ser considerado.
350 MARINONI, Luiz Guilherme, 2016b, p. 19-20.
351 “Retenha-se o ponto: os precedentes formados em recursos extraordinário e especial repetitivos
devem ser respeitados por constituirem rationes decidendi elaboradas pelas Cortes Supremas e
não por constituirem resoluções de casos que derivam de recursos em massa” (MARINONI, Luiz
Guilherme, 2016a, p. 332).
352 “É óbvio que a resolução única da questão incidente nos casos repetitivos nada mais é do que uma
decisão que produz coisa julgada sobre a questão que interessa a todos os litigantes dos processos
pendentes. Significa que se está diante de coisa julgada que se estende a terceiros” (MARINONI,
Luiz Guilherme,, 2016a, p. 323).
353 Sobre essa mudança paradigmática, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes afirma que a jurisprudência
e os precedentes representariam estágios de um movimento de fortalecimento do pronunciamento
judicial, que deixaria de ter uma importância apenas para fins de resolução de casos concretos para
também fixar “padrões de conduta” (MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro, 2017, op. cit., p. 79-82).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
354 MELLO, Patrícia Perrone Campos. BARROSO, Luís Roberto. “Trabalhando com uma nova lógica:
a ascensão dos precedentes no direito brasileiro”. Revista da AGU, Brasília, v. 15, n. 03, p. 09-52, jul/
set. 2016, p. 22-23.
355 É contundente a crítica de Lenio Luiz Streck e Georges Abboud ao artigo de Mello e Barroso,
apontando contradições na tese proposta, embasada, a seu ver, em “chavões” como uma pretensa
aproximação do sistema brasileiro do common law e uma apologia aos mecanismos vinculatórios
do direito brasileiro, que a seu ver não poderiam ser chamados de precedentes, cuja aplicação não
é forçada, mas contingencial. Criticam, assim, o “fetiche pelo precedente” da chamada nova “era
precedentalista” e fazem questão de distinguir súmula (que sequer é uma decisão) de precedente
(aqui considerado o “genuíno” precedente, do sistema de common law) e do julgamento de questões
repetitivas (que é imposto, e não aplicado contingencialmente pelo julgador). Conclui que a leitura
não respeita a Constituição, na medida em que a “lei ordinária não pode alterar o exercício da
jurisdição”, criando precedentes vinculantes, concluindo não existir um “sistema de precedentes”
no Brasil (“O solilóquio epistêmico do ministro Roberto Barroso sobre precedentes”. Conjur, 3
nov. 2016. Disponível em <http://www.conjur.com.br/2016-nov-03/senso-incomum-soliloquio-
epistemico-ministro-barroso-precedentes>, acesso em 15 mai. 2017).
356 MELLO, Patrícia Perrone Campos. BARROSO, Luís Roberto, 2016, op. cit., p. 19-20 e 22-23.
Seguindo-se a lógica dos autores, seriam precedentes as súmulas vinculantes, julgados produzidos
em controle concentrado de constitucionalidade, acórdãos proferidos em julgamento de repercussão
geral ou Recurso Extraordinário ou Especial repetitivos (lembrando que a reclamação aqui só é
cabível após o esgotamento das instâncias recursais), orientações oriundas do julgamento de
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas e Incidente de Assunção de Competência.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
357 Conforme Enunciado n. 318 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “Para os autores, os
fundamentos prescindíveis para o alcance do resultado fixado no dispositivo da decisão (obiter dicta),
ainda que nela presentes, não possuem efeito de precedente vinculante”.
358 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito
processual civil, Vol. 2. 11ª Ed., Salvador: Juspodium, 2016, p. 466.
359 A gradação proposta contempla os seguintes tipos de precedentes: (i) vinculante ou obrigatória
(art. 927, CPC), devendo ser aplicados de ofício e mediante contraditório por todos os julgadores;
(ii) obstativa da revisão de decisões (art. 496, §4º, e art. 932, IV, do CPC, art. 105, III, c da CF),
na medida em que permitem negar provimento ou seguimento a recurso ou dispensar a remessa
necessária; (iii) autorizante (art. 311, II, e art. 932, V), sendo determinante para a admissão ou
acolhimento de ato postulatório (recurso, demanda ou incidente); (iv) rescindente/deseficatizante
(art. 525, §§12, 13 e 14 e art. 535, §§5º e 6º), em que reputam inexigível decisão judicial que se lastreie
em lei ou em ato normativo tidos pelo STF como inconstitucional; (v) de revisão da coisa julgada
(art. 505, I e art. 525, §15º), em que há uma relação jurídica sucessiva (precedentes em geral) e em
controle de constitucionalidade concentrado ou difuso e, ainda, a eficácia persuasiva, inerente ao
precedente judicial (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de,
2016, op. cit., p. 467-476).
360 Para Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, os provimentos jurisdicionais previstos no artigo 927
seriam precedentes com efeitos vinculativos, com a diferença de que esta qualificação lhes teria seria
atribuída por lei, o que não ocorre, necessariamente, no direito constumeiro: “Com a edição do Novo
Código de Processo Civil, pode-se dizer que há um sistema de pronunciamentos qualificados, ou de
jurisprudência e de precedentes definido legalmente e que, nestes termos, não pode ser considerado
como um regime típico de stare decisis, ou seja, que os precedentes em geral passam a ter um caráter
inculativo no sentido vertical e horizontal. Mas, por outro lado, não existe apenas um mero efeito
persuasivo nas hipóteses indicadas nos cinco incisos do art. 927” (2017, op. cit., p. 97).
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
366 Vide informações sobre os temas julgados em sede de IRDR no TJSP em <http://www.tjsp.jus.br/
Nurer/Nurer/Irdr>, acesso em 30 nov. 2017.
367 “No entanto, tal fenômeno de um ‘common law à brasileira’ se dá sem a preocupação científica de
consolidação de uma ‘teoria dos precedentes’ para nosso país. Isso porque, no Brasil, a referência às
súmulas e mesmo a processos anteriormente julgados se dá de forma desconectada com as questões,
debates e teses que lhes deram origem. Assim, ao se invocar certa súmula, esta é autônoma frente
à discussão subjacente – diferentemente do que ocorre com os precedentes dos países de stare
decisis” (THEODORO JR., Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre. “Breves considerações
sobre a politização do Judiciário e sobre o panorama de aplicação no direito brasileiro – Análise da
convergência entre o civil law e o common law e dos problemas da padronização decisória”. Revista de
Processo. v. 35, n. 189, São Paulo: RT, 2010, p. 9-52, p. 41).
147
Maria Cecília de Araujo Asperti
participação das partes e daqueles que serão afetados pela tese368. Levanta-se
a importância de se assegurar o direito de participação daqueles que terão de
aguardar a definição da tese jurídica com seu processo suspenso, ou que não po-
derão discutir judicialmente determinadas questões que já foram decididas pela
tese jurídica, a qual poderá ser “automaticamente incorporada” ao seu caso.
Pode se discutir, ainda, se os diferentes atores podem atuar estrategicamente
para provocar (ou evitar a provocação) da formação de uma tese jurídica em
uma temática que lhes seja relevante. Esses pontos serão ainda aprofundados
nos itens que se seguem.
368 Em sentido diverso, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes argumenta que a crítica acerca da mitigação
da participação das partes interessadas no procedimento do IRDR não teria cabimento justamente
por essa sistemática aproximar-se com àquela dos precedentes: “nunca se exigiu, nos precedentes,
até porque esta característica somente é revelada no futuro e não previamente, a representatividade
adequada ou outros requisitos tópicos de processos coletivos” (2017, op. cit., p. 127).
369 “O NCPC, a par do preceito geral estabelecido no art. 927, utiliza-se, basicamente, de dois
mecanismos processuais para dotar os precedentes desses casos de especial eficácia, o julgamento
de improcedência liminar e a decisão monocrática pelo relator, dando ou negando provimento ao
recurso. O legislador pretendeu, nos dois casos, uma sumarização do procedimento, de forma a
levar a um julgamento conforme ao que foi decidido naqueles incidentes ou na modalidade recursal
repetitiva” (SALLES, Carlos Alberto de, op. cit., 2015, p. 84-85).
148
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
370 Adotando-se aqui uma das faces do fenômeno processual da preclusão, como conceitua Heitor Vitor
Mendonça Sica, que além de fulminar o direito da parte à prática de determinado ato processual,
também “torna imutável questão incidental individualmente decidida” (Preclusão processual civil.
Col. Atlas de Processo Civil. 2ª Edição. São Paulo: Atlas, p. 280)
371 MARINONI, Luiz Guilherme, 2016a, op. cit., p. 323-326; 2016b, op. cit., p. 21-25.
372 Segundo Lewis A. Grossman, o termo “collateral estoppel” é mais tradicional, tendo sido utilizado
no documento original do “Restatements of Judgments” (um importante compilado de tratados
organizado pelo American Law Institute sobre princípios gerais da common law) enquanto a tendência
mais recente, demarcada pelo “Restatements (Second) of Judgments seria de utilizar o termo issue
preclusion, que será também adotado neste trabalho (GROSSMAN, Lews A. “The Story of Parklane:
the litigation crisis and the efficiency imperative” In CLERMONT, Kevin M. (ed.). Civil Procedure
Stories, 2008, p. 405-443, p. 407)
373 MARINONI, Luiz Guilherme, 2016a, op. cit., p. 321-323.
374 Essa é a definição que pode ser extraída do Restatement (Second) of Judgements: “When an issue of
fact or law is actually litigated and determined by a valid and final judgment, and the determination
is essential to the judgment, the determination is conclusive in a subsequent action between the
parties, whether on the same or a different claim” (Section 27, §68).
149
Maria Cecília de Araujo Asperti
375 Marinoni também assinala ser esta uma importante diferença entre o non mutual issue preclusion
e o sistema de precedentes, ao dizer que a preclusão decorre de um mesmo conflito de interesses,
colocado tanto no primeiro caso quanto no subsequente, em que uma questão jurídica referente a
esse conflito é resolvida. Não se trata, assim, de se afirmar o modo de ser do direito a partir de uma
ratio decidendi, mas de decidir uma questão de fato ou de direito propriamente dita, que pode ser
invocada em diversos casos ainda não julgados, em que uma das partes seja a mesma (MARINONI,
Luiz Guilherme, 2016a, op. cit., p. 325-326).
376 Supreme Court of California, 19Cal2d 807, 122 P2d 892, 1942.
377 402 U.S. 313 (1971).
378 “In determining the validity of a plea of res judicata three questions are pertinent: Was the issue
decided in the prior adjudication identical with the one presented in the action in question? Was
there a final judgment on the merits? Was the party against whom the plea is asserted a party or
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
in privity with a party to the prior adjudication?” (Supreme Court of California, 19Cal2d 807,
122 P2d 892, 1942)
379 “Since the issue as to the ownership of the money is identical with the issue raised in the probate
proceeding, and since the order of the probate court settling the executor's account was a final
adjudication of this issue on the merits (Prob. Code, sec. 931 [formerly Code Civ. Proc., sec. 1637];
see cases cited in 12 Cal.Jur. 62, 63; 15 Cal.Jur. 117, 120), it remains only to determine whether the
plaintiff in the present action was a party or in privity with a party to the earlier proceeding. The
plaintiff has brought the present action in the capacity of administratrix of the estate. In this capacity
she represents the very same persons and interests that were represented in the earlier hearing on the
executor's account. In [19 Cal. 2d 814] that proceeding plaintiff and the other legatees who objected
to the executor's account represented the estate of the decedent. They were seeking not a personal
recovery but, like the plaintiff in the present action, as administratrix, a recovery for the benefit of
the legatees and creditors of the estate, all of whom were bound by the order settling the account?”
(Supreme Court of California, 19Cal2d 807, 122 P2d 892, 1942).
380 University of Illinois Foundation v. Winegard Co., 271 F.Supp. 412, 419 (SD Iowa 1967).
381 O caso foi remetido novamente para a Court of Appeals para que a Blonder-Tongue deduzisse um
pedido de preclusão da matéria, abrindo-se o contraditório para a Foundation, sob o argumento
de que a preclusão não mutual, que não foi alegada pela recorrente e tampouco contestada pela
recorrida, não poderia ser reconhecida de ofício pela Suprema Corte: “Petitioner should be allowed
to amend its pleadings in the District Court to assert a plea of estoppel. Respondents must then be
permitted to amend their pleadings, and to supplement the record with any evidence showing why
an estoppel should not be imposed in this case. If necessary, petitioner may also supplement the
record. In taking this action, we intimate no views on the other issues presented in this case. The
judgment of the Court of Appeals is vacated and the cause is remanded to the District Court for
further proceedings consistent with this opinion”.
382 Como se vê, a interpretação da ratio decidendi de um precedente, ainda que relativo a matéria
processual, exige o conhecimento dos fatos concretos do caso decidido, a partir do qual a
racionalidade argumentativa do julgado pode ser efetivamente compreendida para aplicação em
casos subsequentes, algo bastante diferente do que ocorre com os enunciados normativos abstratos
das súmulas e do julgamento de casos repetitivos no Brasil.
151
Maria Cecília de Araujo Asperti
383 “A second argument against offensive use of collateral estoppel is that it may be unfair to a defendant.
If a defendant in the first action is sued for small or nominal damages, he may have little incentive
do defend vigorously, particularly if future suits are not foreseeable (…). Allowing offensive collateral
estoppel may also be unfair to a defendant if the judgment relied upon as a basis for the estoppel
is itself inconsistent with one or more previous judgments in favor of the defendant. Still another
situation where it might be unfair to apply offensive estoppel is where the second action affords the
defendant procedural opportunities unavailable in the first action that deadily cause a different
result” (439 U.S. 322, 1979).
384 “Under the doctrine of res judicata, a judgment on the merits in a prior suit bars a second suit
involving the same parties or their privies based on the same cause of action. Under the doctrine
of collateral estoppel, on the other hand, the second action is upon a different cause of action and
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Como se vê, há, em todos esses precedentes, uma clara preocupação com
o exercício do devido processo legal pela parte que será impedida de relitigar
a questão decidida no julgamento subsequente, assim como com a impossibi-
lidade de se aplicar a preclusão para aqueles que não foram parte na ação an-
terior385. Fala-se em oportunidade ampla e efetiva (“full and fair opportunity”)
de participação, pelo o que se faz necessário aferir se no processo em que a
questão fora decidida a parte prejudicada pôde se valer de todos os expedientes
processuais cabíveis, e que não seria possível usufruir de um contraditório mais
amplo no segundo processo. À parte (ou à sua sucessora) também deverá ser
assegurada a oportunidade de se defender contra a aplicação da issue preclusion,
demonstrando, inclusive, que não teve essa oportunidade de participação ampla
e efetiva no caso em que a questão foi decidida.
Partindo das disposições do artigo 985 e do artigo 1.040, do CPC/2015, é
possível dizer que a aplicação da questão jurídica decidida no IRDR e no jul-
gamento de casos repetitivos aos casos pendentes e futuros386 implica em uma
restrição a possibilidade de se rediscutir a matéria versada pelos litigantes desses
casos, assim como na issue preclusion da common law.
Há, no entanto, uma diferença fundamental, que é o fato de o non mutual issue
preclusion somente poder beneficiar o terceiro que não participou do julgamento,
e nunca prejudicá-lo. Esse terceiro conserva seu direito de discutir a questão que
eventualmente já tenha sido decidida em processo anterior do qual não foram par-
the judgment in the prior suits precludes relitigation of issues actually litigated and necessary to the
outcome of the first action” (439 U.S. 322, 1979).
385 “Some litigants - those who never appeared in a prior action - may not be collaterally estopped
without litigating the issue. They have never had a chance to present their evidence and arguments
on the claim. Due process prohibits estopping them despite one or more existing adjudications of the
identical issue which stand squarely against their position” (402 U.S. 313, 1971, trecho do voto do
Justice White).
386 É relevante também o que dispõe o Regimento do STJ, em seu artigo 256-R do Regimento Interno
do STJ, pelo qual a tese jurídica deverá ser aplicada aos recursos especiais pendentes, ainda que
não tenham sido sobrestados: “Art. 256-R. O acórdão proferido no julgamento do recurso especial
repetitivo gerará as seguintes consequências nos demais recursos especiais fundados em idêntica
questão de direito:
I - se já distribuídos e não devolvidos à origem por trazerem outras questões além da afetada, serão
julgados pelo relator, observada a tese firmada no julgamento de mérito do respetivo tema;
II - se ainda não distribuídos e não devolvidos à origem, serão julgados pelo Presidente do STJ;
III - se suspensos nas instâncias de origem, aplicam-se os arts. 1.040 e 1.041 do Código de Processo Civil.
Parágrafo único. O disposto no inciso III aplica-se a todos os processos que tratem de idêntica
questão de direito, mesmo que não tenham sido objeto de suspensão”.
153
Maria Cecília de Araujo Asperti
387 É o que Luiz Guilherme Marinoni afirma como sendo a “coisa julgada sobre questão, inclusive em benefício
de terceiro”, consignando a diferença entre esta e o efeito obrigatório dos precedentes: “Quer isso dizer que
a coisa julgada em benefício de terceiros não pode ser confundida com o efeito obrigatório dos precedentes
das Cortes Supremas. Os precedentes obviamente não têm qualquer relação com terceiros nem com as
partes. Apenas orientam os jurisdicionados e vinculam os juízes dos casos futuros, sem que precisem ter
sido discutidos pelas partes dos novos processos, mesmo quando as prejudicam” (“Coisa julgada sobre
questão, inclusive em benefício de terceiro”. Revista de Processo. Vol. 256, set/2016, p. 97-116, p. 13, versão
digital). Em sentido similar, em sua obra especificamente dedicada ao IRDR, o autor também cuida de
distinguir a preclusão sobre questão e a issue preclusion (ou collateral estoppel) do stare decisis: “Ora, se
o stare decisis objetiva resguardar a coerência do direito, a igualdade e a segurança jurídica, é certo que
impedir a busca de uma decisão diferente acerca de uma mesma questão diante de outro litigante tutela os
mesmos valores, embora, como é óbvio, com uma intensidade distinta (...). Porém, o collateral estoppel tem
grande particularidade em relação ao stare decisis. O collateral estoppel apenas pode prejudicar os litigantes
que participaram do processo em que a decisão foi proferida, ao passo que o stare decisis vincula todos os
juízes e tribunais, afetando todos os jurisdicionados” (2016b, op. cit., p. 31).
388 Tema nº 24: “As instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios
estipulada na Lei de Usura (Decreto 22.626/33), Súmula 596/STF”.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
389 “The epistemological grounds for preclusion as to issues of law are stronger than those for preclusion
as to issues of fact. In resolving issues of fact, the court endeavors to portray for itself a historical
transaction in the outside world of events. Its method is to infer an image of reality - a scenario
- from conflicting evidence. (If the evidence were not in conflict, there would not be an issue to
decide). In deciding fact questions the court necessarily works through the medium of extrajudicial
resources, for example, evidence from witnesses. That dependency on outside resources entails a
possible discrepancy between what the court believes was the fact and what actually was the fact. By
contrast, in the resolution of issues of law the court constructs a verbal formulation from materials
of which the court has direct knowledge. These materials include the relevant legal documentary
sources, such as precedents and statutes. They also include the general view of reality in which those
verbal materials take on meaning” (HAZARD JR., Geoffrey C. “Preclusion as to Issues of Law: The
Legal System's Interest”. Iowa Law Review, n. 70, v. 87, 1984-1985, p. 88).
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Mesmo diante de todos esses paradoxos, parece claro que a tese jurídica, por
ser formulada como um enunciado de natureza sumular e aplicada de forma
padronizada aos casos pendentes e futuros, acaba obstando a rediscussão das
questões decididas, a menos que a parte demonstre que não se tratam das mes-
mas questões. Nesse sentido, aproxima-se de um efeito preclusivo que se estende
a terceiros, como na issue preclusion, com a fundamental diferença de que essa
vedação a relitigação da questão se dá, inclusive, em prejuízo àqueles que não
participaram do seu julgamento original. Além disso, é possível dizer que esse
efeito preclusivo da tese jurídica suscita as mesmas, ou mais graves390 preocupa-
ções em termos de devido processo legal e de participação daqueles que ficarão
impedidos de relitigar a questão decidida, do que a eficácia preclusiva inerente
à coisa julgada coletiva, conforme já discutido.
Ainda que não seja objeto deste trabalho esgotar a discussão sobre a na-
tureza da tese jurídica e de seus efeitos, o exame aqui realizado ratifica a im-
portância da participação dos destinatários de decisão judicial que culmina na
formulação da tese jurídica,
390 Na verdade, preocupações até mesmo mais graves, dado o fato, já discutido, de que na ação
coletiva o direito individual de ação é preservado, enquanto a tese jurídica é aplicada a todos
independentemente de sua orientação. Nesse sentido, são relevantes as preocupações levantadas
por Heitor Sica ao comparar as técnicas de julgamento de casos repetitivos com o que ele chama de
“tratamento coletivo de demandas individuais repetitivas”: “(a) lida-se com o efeito (multiplicidade
de processos) e não com a causa (litígios de massa originalmente levados ao Poder Judiciário de
maneira atomizada, em processos individuais, tal como o médico que combate apenas a febre, em
vez de tratar da infecção); (b) o foco desses mecanismos de aglutinação é a solução do problema
do Poder Judiciário (e não do conflito de massa, que pode ter sido judicializado apenas por uma
ínfima parte dos indivíduos atingidos); (c) compromete-se a representatividade adequada da
coletividade a ser atingida pela decisão proferida no ‘caso-piloto’, no qual há o combate desigual
do litigante individual eventual versus litigante habitual; (d) ordenamento não estabelece critérios
para escolha dos ‘casos-piloto’; (e) a decisão proferida no âmbito dos incidentes de aglutinação
se aplicam pro et contra a pluralidade de sujeitos titulares de direitos individuais homogêneos
(contrariando uma escolha que havia sido feita no CDC no tocante à ação coletiva de tutela dos
direitos individuais homogêneos e, portanto, instaurando uma evidente contradição no sistema);
(f) ao julgar o incidente de aglutinação, o tribunal considerará as circunstâncias fáticas presentes
no ‘caso-piloto’ para resolver a questão jurídica de modo que sem uma adequada e profunda
fundamentação, haverá uma enorme dificuldade de replicar a decisão nos casos sobrestados; (g) o
incidente não elimina o trabalho dos magistrados perante os quais haja processos sobrestados, que
deverão aplicar a decisão e expor-se a meios de impugnação quanto a essa operação” (SICA, Heitor
Vitor Mendonça. “Brevíssimas reflexões sobre a evolução do tratamento da litigiosidade repetitiva
no ordenamento brasileiro, do CPC/1973 ao CPC/2015”. Revista de Processo. RT: São Paulo, v. 41,
n. 257, jul. 2016, p. 269-281, p. 279-280).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
entendem terem sido lesados pela conduta (omissiva ou comissiva) destes entes.
A autora destaca três tipos característicos de litígios dessa natureza:
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Maria Cecília de Araujo Asperti
te para que possam ser solucionadas suas causas”395. A seu ver, a resposta seria
negativa, havendo, nesse tocante, violações das garantias do contraditório e da
ampla defesa, em particular do corolário da paridade de armas396.
Além disso, argumenta que, enquanto na tutela coletiva há a preocupação
de se preservar o direito individual de ação, com a coisa julgada apenas alcan-
çando os indivíduos para beneficiá-los (e nunca para prejudica-los), no julga-
mento por amostragem a tese jurídica é aplicada a todos os processos individu-
ais e coletivos que versem sobre a questão jurídica decidida397:
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
em suas demandas individuais, sua identidade e as especificidades de seu caso individual, sendo
uma verdadeira parte, e não uma “parte-substituída”. Para o autor, as técnicas de julgamento de
casos repetitivos não podem ser consideradas como sucedâneos dos mecanismos de tutela coletiva,
mas sim como “meios concorrentes”, ou “armas que se somam ao arsenal” que pode ofertar ao
jurisdicionado opções para resolver os problemas de representatividade decorrentes do sistema de
legitimação extraordinária (CABRAL, Antonio do Passo. “A causa de pedir nas ações coletivas”.
In SOUSA, José Augusto Garcia de. (coord.) A Defensoria Pública e os Processos Coletivos. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 138). A esse respeito, é necessário ponderar se de fato os problemas de
representatividade são superados pelo IRDR e pelos recursos repetitivos, e se a ampla participação
dos indivíduos dos casos pendentes realmente ocorre ou se, na prática, as partes do caso paradigma
acabam representando, de forma “improvisada” e insuficiente, os interesses dos “sobrestados” e dos
“ausentes”. Essa discussão é aprofundada ao longo de todo esse capítulo, mas de forma mais direta
nos itens 4.7.1 e 4.7.2.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
sobre tutela coletiva, orientando os modelos de controle ope legis e ope judicis da
representatividade adequada e a própria formatação da substituição processual
e legitimação extraordinária do processo coletivo brasileiro. O confronto entre
a proteção ao devido processo legal e ao direito de participação dos afetados
pela decisão judicial e a promoção da efetividade da tutela – que justificaria
(ou não) a mitigação dessa participação – está no cerne de qualquer modelo
processual representativo.
É possível perceber, no entanto, que essa discussão ganha novos contornos
na medida em que a tutela coletiva é colocada lado a lado com as técnicas de
julgamento de casos repetitivos como vias de “enfrentamento” da litigiosidade
repetitiva ou de massa. Há alguns importantes julgados do STJ que expressam
mudanças no entendimento sobre esse tema.
Um julgado bastante rememorado no estudo da tutela coletiva é o acór-
dão do Conflito de Competência nº 47.731/DF, julgado em 14.09.2005406
pela Primeira Seção do STJ, e que fora suscitado pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) para apreciar se as diversas ações individuais
e coletivas em trâmite ao redor do país referentes à cobrança de tarifa de
assinatura básica de Serviço de Telefonia Fixo Comutado (STFC) deveriam
ser reunidas para julgamento conjunto em juízo prevento (ao qual fora dis-
tribuída a primeira ação coletiva).
O caso da assinatura básica de telefonia é um dos mais paradigmáticos para
compreensão dos contornos da litigiosidade repetitiva, suas causas e dificulda-
des de gestão processual. Foram mais de 94 mil ações individuais tramitando
apenas no Estado de São Paulo versando sobre a matéria407 e 26 ações cole-
tivas408, o que suscitou uma série de questionamentos processuais sobre a in-
406 “Processo Civil. Conflito de Competência. Demandas Coletivas e Individuais promovidas contra a
Anatel e Empresas Concessionárias de Serviço de Telefonia. Controvérsia a respeito da legitimidade
da cobrança de tarifa de assinatura básica nos serviços de telefonia fixa. Conflito não conhecido.
(...)”. (Conflito de Competência nº 47.731/DF, Rel. Ministro Francisco Falcão, Rel. p/ Acórdão
Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, julgado em 14.09.2005)
407 “Processos podem se sobrepor”, edição de 13 de janeiro de 2005. Disponível em <http://www1.folha.
uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1301200515.htm>. Acesso em 30 abr. 2016.
408 “Em 31 de maio de 2004, perante a Comarca de Bauru, foi ajuizada pelo Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor e do Contribuinte uma ação coletiva, cujo pedido consistia na suspensão da
cobrança de tarifa de assinatura por parte da ré naquele processo, a empresa Telecomunicações de
São Paulo S/A (Telesp). Essa foi a primeira de uma série de outras 25 ações de idêntico objeto a serem
propostas contra a mesma empresa em virtude da cobrança de tarifas de assinatura na telefonia local,
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Maria Cecília de Araujo Asperti
“uma [das ações coletivas] chegou a ser remetida de um juízo para outro
quatro vezes, tendo sido determinada, mas ainda não cumprida, mais
uma remessa. Dois casos foram remetidos três vezes e três casos foram
remetidos duas vezes. Em cinco casos houve duas remessas e há, pendente
de cumprimento, decisão ordenando mais uma remessa. Em dois
casos houve uma remessa, estando pendente de cumprimento decisão
ordenando mais uma remessa. Em dois casos ainda não houve remessa
alguma, mas já há decisão determinando nesse sentido. Finalmente,
em apenas 11 dos casos analisados, o juízo atualmente encarregado do
feito é o mesmo ao qual ele foi originalmente distribuído, sem qualquer
remessa a juízo distinto411”.
sendo a última dessas ações proposta em São Paulo em 1o de janeiro de 2006” (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, Tutela Judicial dos Interesses Metaindividuais - Ações Coletivas. Brasília, 2007, p. 62).
409 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Tutela Judicial dos Interesses Metaindividuais - Ações Coletivas. Brasília: 2007.
410 O estudo do Ministério da Justiça contextualiza a litigância das tarifas telefônicas em um cenário
mais amplo de “rediscussão e redefinição do modelo de remuneração e estruturação tarifária do
serviço de telecomunicações resultante da reorganização geral promovida previamente à própria
privatização” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, op. cit., p. 59-78).
411 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, op. cit., p. 64-65.
412 Conflito de Competência nº 47.731/DF. Relatório do Voto-vista do Ministro Teori Zavascki, p. 5.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
413 “Podem, portanto, as ações individuais tramitar independentemente das ações coletivas. Ao depois,
vale realçar que o Código de Defesa do Consumidor veio para inovar, para proteger o direito do
consumidor, hipossuficiente, e, assim sendo, não se afigura razoável, pelo ângulo lógico e prático,
que seja o consumidor, pessoa física ou jurídica, obrigado a se deslocar de seu domicílio para litigar
com a concessionária de serviço público. Isso seria o mesmo que lhe negar acesso à Justiça, ao direito
de ação constitucionalmente assegurado” (Conflito de Competência nº 47.731/DF. Decisão proferida
pelo Ministro Edson Vidal, p. 6-7).
414 “O pleito está gravado no sentido de extender a liminar concedida para o sobrestamento das ações
coletivas e juízos federais suscitados, também em relação às ações individuais e demandas em curso
perante a justiça comum. Tendo em vista as circunstâncias factuais inerentes à hipótese versada,
envolvendo cerca de 15 mil ações individuais e o risco de decisões contraditórias e ainda, considerando
o princípio da segurança jurídica, defiro o pleito da requerente para determinar o sobrestamento das
ações individuais e outras demandas nos juízos federal e estadual, em conformidade com a relação
de processos constantes dos docs. 2 a 4 da petição de fls. 2.679. Determino também a suspensão das
tutelas urgentes concedidas, e designo, para resolver as medidas urgentes, em caráter provisório,
o MM. Juízo da 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal” (Decisão interlocutória
proferida no Conflito de Competência nº 47731/DF em 10.03.2005).
415 “Não obstante tais considerações, ainda assim não estaria de todo afastado o risco de serem
prolatadas decisões conflitantes entre si, ameaçando a segurança jurídica. Assim sendo, levando
em conta os efeitos erga omnes resultantes do julgamento de mérito das ações coletivas já ajuizadas
e a possibilidade legal de que haja a suspensão de processos caso a sentença de mérito dependa do
julgamento de outra causa, conforme reza o art. 265, IV, 'a', do Código de Processo Civil, entendo
pela necessidade, in casu, de que as ações individuais ajuizadas sejam sobrestadas até o julgamento
das ações coletivas. A possibilidade de tal suspensão pode ser reforçada igualmente quando se
constata a previsão do Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 104, de que os autores das
ações individuais, caso queiram beneficiar-se dos resultados advindos de ações coletivas, requeiram a
suspensão das ações por eles ajuizadas. Posto isso, declaro competente o Juízo da 2ª Vara Federal da
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Maria Cecília de Araujo Asperti
Seção Judiciária do Distrito Federal para as ações coletivas e, em observância à segurança jurídica,
determino o sobrestamento das ações individuais ajuizadas, aí se incluindo as dos Juizados Especiais
Federais” (Conflito de Competência nº 47.731/DF, Voto-vencido do Ministro Francisco Falcão, p. 9).
416 Conflito de Competência nº 47.731/DF, Voto do Ministro Teori Zavascki, p. 8.
417 Conflito de Competência nº 47.731/DF, Voto do Ministro Teori Zavascki, p. 9.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
418 Muito embora a discussão sobre acesso à justiça e efetividade também já permeasse os votos vencidos.
À exemplo, em trecho de seu voto, Luiz Fux, então Ministro do STJ, afirmou que: “Esta é uma ação
coletiva, que versa e que interessa a todos. Uma ação dessa tem gerado a repetição de inúmeras ações.
Nossa opção na vida é: ira ou amor. Temos que fazer uma opção. Vamos receber cem mil ações,
cada uma com uma decisão diferente e vamos bater no peito que somos um tribunal da cidadania,
mas violando a isonomia, ou daremos uma solução para essa questão, que é nacional?” (Conflito de
Competência nº 47.731/DF, p. 44).
419 “Recurso repetitivo. Processual civil. Recurso especial. Ação coletiva. Macro-lide. Correção de saldos
de cadernetas de poupança. Sustação de andamento de ações individuais. Possibilidade. 1.- Ajuizada
ação coletiva atinente a macro-lide geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações
individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva. 2.- Entendimento que não nega vigência aos
aos arts. 51, IV e § 1º, 103 e 104 do Código de Defesa do Consumidor; 122 e 166 do Código Civil;
e 2º e 6º do Código de Processo Civil, com os quais se harmoniza, atualizando-lhes a interpretação
extraída da potencialidade desses dispositivos legais ante a diretriz legal resultante do disposto no
art. 543-C do Código de Processo Civil, com a redação dada pela Lei dos Recursos Repetitivos (Lei
n. 11.672, de 8.5.2008).3.- Recurso Especial improvido” (Recurso Especial Repetitivo nº 1.110.549/
RS, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Segunda Seção, julgado em 28.10.2009).
420 “O enfoque jurisdicional dos processos repetitivos vem decididamente no sentido de fazer agrupar
a macro-lide neles contida, a qual em cada um deles identicamente se repete, em poucos processos,
suficientes para o conhecimento e a decisão de todos os aspectos da lide, de modo a cumprir-se a
prestação jurisdicional sem verdadeira inundação dos órgãos judiciários pela massa de processos
individuais, que, por vezes às centenas de milhares, inviabilizam a atuação judiciária” (Recurso
Especial Repetitivo nº 1.110.549/RS, voto do Ministro Relator Sidnei Beneti, p. 4).
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421 Recurso Especial Repetitivo nº 1.110.549/RS. Voto do Ministro Relator Sidnei Beneti, p. 6.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
422 Conforme previsto nos artigos 12 (“Compete às Seções processar e julgar: (...) VII - as questões
incidentes em processos da competência das Turmas da respectiva área de especialização, as quais
lhes tenham sido submetidas por essas”) e 127 (“Quando convier pronunciamento da Corte Especial
ou da Seção, em razão da relevância da questão jurídica, ou da necessidade de prevenir divergências
entre as Turmas, o relator, ou outro Ministro, no julgamento de qualquer recurso, poderá propor a
remessa do feito à apreciação da Seção respectiva, ou da Corte Especial, se a matéria for comum às
Seções”) do Regimento Interno do STJ.
423 Recurso Especial nº 911.802/RS, Relatório do Ministro Relator José Delgado, p. 13.
424 “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DIREITO DO CONSUMIDOR. ASSINATURA
BÁSICA MENSAL. TELEFONIA FIXA. Abusividade da exigência de contraprestação por serviço
não prestado. Nulidade absoluta em face da qual não se fala em ato jurídico perfeito. Condicionamento
quantitativo indevido; nulidade - CPC, 39, I. Ausência de previsão legal à cobrança e prevalência
das disposições da Lei 8078/90, de ordem pública. Devolução na forma simples. Prequestionamento
inviável. Demanda procedente. APELO PROVIDO. UNÂNIME” (Apelação nº 70015466048, 19ª
Câmara Cível, julgamento em 08.08.2006).
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425 “Recurso Especial. Ação Anulatória C/C Repetição de Indébito. Serviço de telefonia. Cobrança de
‘Assinatura Básica Residencial’. Natureza Jurídica: Tarifa. Prestação do Serviço. Exigência de Edital
de desestatização das empresas federais de telecomunicações MC/BNDES n. 01/98 contemplando a
permissão da cobrança da tarifa de assinatura básica. Contrato de Concessão que autoriza a mesma
exigência. Resoluções n. 42/04 e 85/98, da Anatel, admitindo a cobrança. Disposição na Lei n.
8.987/95. Política Tarifária. Lei 9.472/97. Ausência de ofensa a normas e princípios do Código de
Defesa do Consumidor. Precedentes da Corte admitindo o pagamento de tarifa mínima em casos
de fornecimento de água. Legalidade da cobrança da assinatura básica de telefonia. Provimento do
Recurso Especial (...)” (Recurso Especial nº 911.802/RS, Relator Ministro José Delgado, Primeira
Seção, julgado em 24.10.2007).
426 Súmula nº 356: “É legítima a cobrança de tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia
fixa”. (Referências: REsp 911.802/RS , REsp 870.600/PB , REsp 994.144/RS , REsp 983.501/RS e
REsp 872.584/RS)
427 “Administrativo. Processual civil. Serviços de telefonia. Demanda entre usuário e concessionária.
Anatel. Interesse jurídico. Litisconsórcio passivo necessário. Inexistência. Tarifa de assinatura
mensal. Legitimidade da cobrança. Súmula 356/STJ. 1. Pacificou-se a jurisprudência das Turmas
da 1ª Seção do STJ no sentido de que, em demandas sobre a legitimidade da cobrança de tarifas
por serviço de telefonia, movidas por usuário contra a concessionária, não se configura hipótese
de litisconsórcio passivo necessário da ANATEL, que, na condição de concedente do serviço
público, não ostenta interesse jurídico qualificado a justificar sua presença na relação processual. 2.
Conforme assentado na Súmula 356/STJ, ‘é legítima a cobrança de tarifa básica pelo uso dos serviços
de telefonia fixa’. 3. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC
e da Resolução STJ 08/08” (Recurso Especial nº 1.068.944/PB, Relator Ministro Teori Zavascki,
Julgamento em 12.11.2008). Foi então fixado o tema nº 77: “É legítima a cobrança de tarifa básica
pelo uso dos serviços de telefonia fixa.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
O Ministro afirma em seu voto que o caso em questão trouxe à tona uma
verdadeira “perplexidade político-processual”428, na medida em que se permitiu
que uma ação individual, pela via de um expediente interno do Tribunal “de
natureza pragmática” pudesse ter na prática a eficácia erga omnes da sentença
coletiva em um caso de grande complexidade e cujo desfecho afetaria direta-
mente mais de 30 milhões de consumidores.
Aponta o que seria, a seu ver, um paradoxo: enquanto ao consumidor é
defeso postular coletivamente por falta de legitimidade ativa, aceita-se que uma
demanda individual venha a cumprir “o papel de ação civil pública às avessas”,
em um ambiente mais favorável “à prevalência dos interesses do sujeito hiper-
poderoso”, com maiores chances de obter um posicionamento que lhe favoreça
e que sirva para acabar com as milhares de demandas similares (individuais e
coletivas) contra este manejadas.
Ao se referir aos consumidores afetados pela decisão, o Ministro Herman
Benjamin utiliza-se da expressão “litigantes-sombra”, arguindo que a sua ausên-
cia nos debates que culminaram na formação deste precedente representaria
uma violação ao princípio do acesso à justiça, em especial diante da constatação
da falta de condições da parte autora do caso individual afetado de fazer frente
aos argumentos trazidos pelas empresas de telefonia durante o julgamento429.
Isso porque a escolha do caso paradigma pelo STJ teria relegado a represen-
tação dos interesses desses “litigantes-sombra” a uma litigante individual “tri-
plamente vulnerável” (consumidora, mulher e negra), incapaz de fazer frente às
vantagens da parte contrária no processo, que sequer teria conseguido compa-
recer na sessão de julgamento, ao passo que as empresas de telefonia teriam sido
representadas pelos “melhores escritórios de advocacia do país”, que cuidaram
de apresentar memoriais, realizar sustentações orais e visitas aos gabinetes dos
ministros da Primeira Seção.
428 A que ele denomina de “Uma perplexidade político-processual inicial: a solução de conflitos coletivos
pela via de ação civil individual e a mutilação reflexa do direito de acesso à justiça de milhões de
consumidores” (Recurso Especial nº 911.802/RS. Voto-vista do Ministro Herman Benjamin, p. 8).
429 “Não lastimo somente o silêncio de D. Camila Mendes Soares, mas sobretudo a ausência, em
sustentação oral, de representantes dos interesses dos litigantes-sombra , todos aqueles que serão
diretamente afetados pela decisão desta demanda, uma gigantesca multidão de brasileiros (mais de
30 milhões de assinantes) que, por bem ou por mal, pagam a conta bilionária da assinatura-básica
(lembro que só a recorrente, Brasil Telecom, arrecada, anualmente, cerca de três bilhões e meio de
reais com a cobrança dessa tarifa - cfr. www.agenciabrasil.gov.br, notícia publicada em 8.6.2007)”
(Recurso Especial nº 911.802/RS. Voto-vista do Ministro Herman Benjamin, p. 10).
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Conclui esse ponto de sua argumentação afirmando que a vitória das em-
presas de telefonia seria sobretudo estratégica, violando-se o princípio do acesso
à justiça e mitigando o contraditório dos consumidores afetados pela decisão:
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
431 Lembrando o posicionamento do autor quanto ao recurso especial e extraordinário repetitivo ser um
procedimento de “causa-piloto”, como visto no item 4.1.3.
432 CABRAL, Antonio de Passo, 2017, op. cit., p. 47.
433 CABRAL, Antonio de Passo2017, op. cit., p. 48-49.
434 CABRAL, Antonio de Passo, 2017, op. cit., p. 50-51.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
órgão prolator da decisão: “Isso significa que, a partir desse momento histórico, os diversos processos
coletivos repetitivos de âmbito local que ainda possam existir serão absorvidos pelo processo coletivo
de âmbito nacional ou regional, em face do fenômeno processual da continência (aplicável aos
processos coletivos)” (“A coletivização de ações individuais após o veto” In MILARÉ, Édis (coord.).
Ação civil pública após 30 anos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 19-24, p. 23).
439 Recurso Especial nº 1.061.530/RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgamento e
em 22.10.2008).
440 “
Tenho que reconhecer, outrossim, que, no caso em espécie, não fomos felizes na escolha do processo
tipo, ou seja, aquele afetado a julgamento da Seção nos termos do art. 543-C do Código de Processo
Civil. Com efeito, dois temas importantes não poderão ser analisados – quais sejam, capitalização de
juros e comissão de permanência –, pois, diante das peculiaridades do caso em concreto, afigura-se
impossível transpor a fase do conhecimento para analisar tais questões, que integram o núcleo do
mérito recursal. O que restou então para ser analisado? As teses relativas: a) às ‘disposições de ofício’;
b) ao limite dos juros remuneratórios; c) à configuração da mora – e, nesse ponto, parece-me termos
um problema de ordem técnica –; e d) à inscrição do nome do devedor no cadastro de inadimplentes”
(Recurso Especial Repetitivo nº 1.061.530/RS. Voto do Ministro João Otávio de Noronha, p. 51).
441 Processo nº 022/1.07.0000246-5, 1ª Vara Cível de Pelotas. Julgamento em primeiro grau em
16.04.2007.
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442 “Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE a presente ação para reduzir a 1% ao mês a taxa de juros
no contrato de financiamento firmado entre as partes, afastando a cobrança da comissão de
permanência, que deverá ser substituída pelo IGPM, e determinando a capitalização anual dos
juros” (Processo nº 022/1.07.0000246-5, 1ª Vara Cível de Pelotas. Julgamento em primeiro grau em
16.04.2007).
443 Apelação nº 70021397559 / 0008243-79.2007.8.21.7000, 14ª Câmara Cível, Relator Desembargador
Dorval Braulio Marques, julgamento em 22.11.2007.
444 Discutiu-se a legalidade da tarifa de emissão de boleto bancário (“A emissão de qualquer carnê ou
boleto para pagamento é obrigação do credor não devendo ensejar ônus algum ao devedor, já que os
arts. 319 do Código Civil/2002 e art. 939 do Código Civil/1916, não trazem no seu bojo a condição
de pagamento em dinheiro para ele receber o que lhe é de direito. Disposição de ofício”) e da taxa
de abertura de crédito (“Além de atender interesse exclusivo do mutuante, essa cláusula contratual
contraria o disposto no art. 46, parte final, do Código de Defesa do Consumidor, pois não fornece ao
mutuário todas as informações sobre sua finalidade e alcance. Disposição de ofício”).
445 “A minha divergência, contudo, está em que o recurso não pode ser conhecido porque o enfrentamento
da questão deu-se com base em fundamento constitucional, ou seja, o acórdão está respaldado em
norma constitucional; tanto é que o recorrente também aviou recurso extraordinário – inclusive
causou-me perplexidade o fato de esse recurso não ter sido admitido na origem, tendo em vista o
prequestionamento explícito da norma constitucional (...) Esta Corte teria condições de conhecer
da matéria se, no recurso especial, a questão da violação dos artigos 481 e 482 do CPC tivesse sido
agitada no acórdão recorrido. Como não foi, entendo que não temos como enfrentá-la, uma vez
que matérias que não foram prequestionadas não podem ser apreciadas por este Tribunal ante a
incidência das Sumulas ns. 282 e 356 do Colendo STF (Recurso Especial Repetitivo nº 1.061.530/
RS. Voto do Ministro João Otávio de Noronha, p. 51-52).
446 “A Segunda Seção, por maioria, deixou de conhecer do recurso especial quanto à comissão
de permanência, por considerar o recurso deficientemente fundamentado quanto à alínea ‘a’ do
permissivo constitucional e pelo fato de o dissídio jurisprudencial não ter sido comprovado, mediante
a realização do cotejo analítico entre os julgados tidos como divergentes. Quanto a este aspecto, fiquei
vencida juntamente com i. Desembargador Convocado Carlos Fernando Mathias, pois consideramos
que o especial neste ponto poderia ser apreciado em razão da notoriedade do dissídio jurisprudencial,
notadamente por se tratar de matéria repetitiva, objeto de questionamento em milhares de recursos
que ingressam neste STJ” (Recurso Especial Repetitivo nº 1.061.530/RS. Voto da Ministra Nancy
Andrighi, p. 42).
178
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
447 Conforme consta na sentença: “Pede a procedência da ação, com as cominações legais, e o benefício
da justiça gratuita. Juntou documentos (fls. 13/16). Foi deferida a gratuidade processual e concedida
em parte a antecipação de tutela (fls. 17)”.
448 “A lei permite ao relator ouvir terceiros interessados, vale dizer, pessoas que, embora não se submetam
à eficácia da coisa julgada que derivará do acórdão no caso concreto, têm legítimo interesse na defesa
da tese apreciada, tendo em vista a repercussão que dela se extrairá para futuros julgamentos de
outros recursos. No caso, os terceiros interessados foram ouvidos e se manifestaram por escrito.
Portanto, penso que, para manter a boa ordem, deve-se cumprir o que ficou estabelecido nesta Seção
em julgamento anterior: a sustentação oral deverá ficar reservada apenas para as partes” (Recurso
Especial Repetitivo nº 1.061.530/RS. Voto do Ministro João Otávio Noronha, p. 50).
179
Maria Cecília de Araujo Asperti
449 São os temas nº 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35 e 36.
450 “Responderam aos ofícios expedidos com base no art. 3º, I, da Resolução 08/08 do STJ, as seguintes
entidades: (i) a Ordem dos Advogados do Brasil (fls. 286); (ii) o Banco Central do Brasil (fls. 288); (iii)
a Febraban – Federação Brasileira de Bancos e (iv) o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor –
IDEC, que trouxe pareceres de Cláudia Lima Marques e Cristiano Heineck Schmitt. Manifestaram-
se espontaneamente: (i) a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro; (ii) a Fundação de
Proteção e Defesa do Consumidor – Procon/SP; (ii) o Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa
do Consumidor – FNECDC; (iii) a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e
Poupança – ABECIP; (iv) a Serasa S/A, trazendo parecer de Luiz Rodrigues Wambier e José Miguel
Garcia Medina; (v) a Defensoria Pública da União, cujas manifestações foram juntadas, por linha, ao
processo e (vi) os professores Romualdo Wilson Cançado e Orlei Claro de Lima” (Recurso Especial
Repetitivo nº 1.061.530/RS. Trecho do relatório do voto da Ministra Nancy Andrighi, p. 11).
180
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
gerar indenização por dano moral”451 em que, quando da afetação pelo TJRS de
recursos de apelação das quatro empresas prestadoras do referido sistema, todas
desistiram de seus recursos quase que simultaneamente452.
A discussão sobre a possibilidade de o recorrente desistir do recurso já afe-
tado para julgamento foi suscitada no julgamento dos recursos especiais re-
petitivos nº 1.058.114/RS e 1.063.343/RS, afetados para discussão da questão
sobre “a legalidade da cláusula que, em contratos bancários, prevê a cobrança
da comissão de permanência na hipótese de inadimplência do consumidor”.
Os dois casos tinham como recorrente o Banco Volkswagen453 e como recorri-
das pessoas físicas, que haviam obtido decisões favoráveis no julgamento pelo
TJRS454. Os recursos da instituição financeira foram afetados para julgamento,
em 22.08.2008, pelo procedimento do então vigente artigo 543-C do CPC/1973.
Pouco tempo depois, os recursos foram incluídos na pauta para julgamento do
dia 26.11.2008 (conforme publicação de 19.11.2008). O Banco Volkswagen, em
21.11.2008, apresentou pedidos de desistência nos dois casos, o que levou a 2ª
Seção, por maioria de votos, a remeter à Corte Especial a Questão de Ordem re-
451 Tema nº 710. O caso em questão é analisado pelo método do estudo de caso no Capítulo 6, em
que são analisados integralmente os autos dos processos dos quais foram extraídos os recursos
em questão.
452 Boa Vista Serviços S/A, o Serasa S/A e a CDL, conforme item 6.2.4.
453 Importante pontuar que o Banco Volkswagen aparece em 40º lugar na lista dos 100 Maiores Litigantes
da justiça estadual, federal e do trabalho, referente ao ano de 2011 (CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA, 2012, op. cit., p. 18).
454 No Recurso Especial nº 1.058.114/RS, a recorrida Luciana Gonçalves da Costa havia obtido sentença
favorável em ação revisional de contrato de financiamento com alienação fiduciária em garantia, a
qual foi mantida pelo TJRS, condenando-se o Banco Volkswagen a “i) limitar os juros remuneratórios
em 12% ao ano; ii) afastar a cobrança da comissão de permanência; iii) fixar o IGP-M como índice
de correção monetária do contrato e iv) permitir a repetição/compensação de valores” e, de ofício,
o TJRS afastou ainda “a Tarifa de Abertura de Conta e considerou ilegal a forma de cobrança do
Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF) prevista contratualmente” (conforme
trecho do Relatório do acórdão, p. 8-9). Já no Recurso Especial nº 1.063.343/RS, a recorrida Luciana
Maluche havia sido vencida em primeiro grau, mas teve seu apelo parcialmente provido, com a
condenação do Banco Volkswagen a “i) reduzir os juros remuneratórios a 12% ao ano; ii) proibir a
capitalização de juros em qualquer periodicidade; iii) afastar a comissão de permanência; iv) fixar
a multa moratória em 2% sobre o valor da prestação efetivamente em atraso; v) impedir a cobrança
de encargos moratórios; vi) definir o IGP-M como índice de correção monetária do contrato; vii)
determinar a repetição simples do indébito; e viii) declarar a nulidade da taxa de abertura de crédito
e tarifa de cobrança. Eis a ementa do julgado em comento” (Relatório do acórdão, p. 11-12).
181
Maria Cecília de Araujo Asperti
455 Nessa oportunidade, o Ministro Aldir Passarinho sustentou que a conduta da parte e de seu litigante
seria atentatória aos deveres de lealdade e boa-fé processual, pelo o que caberia, até mesmo a sua
condenação em perdas e danos e a representação do patrono por violação ética: “Sra. Presidente,
isso, lamentavelmente, tem ocorrido, repetidamente, aqui na Seção. Entendo a posição da Sra.
Ministra Nancy Andrighi e quero propor uma coisa intermediária, ou melhor, votarei no sentido de
algo intermediário. Entendo que podemos deliberar sobre isso na própria Seção. Entendo que esse
procedimento vai contra a boa ordem da aplicação da justiça, e enquadro essa questão no art. 14 do
Código de Processo Civil, que diz: ‘São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma
participam do processo: (...) II - proceder com lealdade e boa-fé’. No caso dos autos, uma desistência
à última hora de um processo repetitivo em que há interesse público, sem dúvida, está caracterizada,
no meu entendimento, a falta de boa-fé e de lealdade da parte, com a máxima vênia. O que eu
vejo é que podemos fixar perdas e danos em função desse procedimento, e igualmente em relação
ao advogado que pratica, conscientemente, o ato. De modo que eu proporia, em primeiro lugar,
mandar oficiar a OAB, com cópia do processo, para que se investigue o procedimento do advogado
que sugere ou endossa um comportamento dessa natureza; em segundo lugar, aplicar à parte uma
penalidade nos termos dos arts. 14 e 17 do Código de Processo Civil. Realmente, é intolerável. Há
o tempo, o trabalho e o desgaste que existe na construção de um processo repetitivo que envolve
envio para o Ministério Público, as manifestações de instituições como amicus curiae, sobrelevando
o interesse do Tribunal nacional e do Poder Judiciário como um todo. Portanto, o comportamento do
advogado e da parte é nocivo e deve ser penalizado.” (Recurso Especial Repetitivo nº 1.058.114/RS,
Voto do Ministro Aldir Passarinho, p. 5-6).
456 “Processo civil. Questão de ordem. Incidente de Recurso Especial Repetitivo. Formulação de
pedido de desistência no Recurso Especial representativo de controvérsia (art. 543-C, § 1º, do
CPC). Indeferimento do pedido de desistência recursal. - É inviável o acolhimento de pedido
de desistência recursal formulado quando já iniciado o procedimento de julgamento do Recurso
Especial representativo da controvérsia, na forma do art. 543-C do CPC c/c Resolução n.º 08/08
do STJ. Questão de ordem acolhida para indeferir o pedido de desistência formulado em Recurso
Especial processado na forma do art. 543-C do CPC c/c Resolução n.º 08/08 do STJ” (Questão de
Ordem no Recurso Especial nº 1.063.343/RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Seção Especial,
julgamento em 17.12.2008).
457 “
Entender que a desistência recursal impede o julgamento da idêntica questão de direito é entregar
ao recorrente o poder de determinar ou manipular, arbitrariamente, a atividade jurisdicional que
cumpre o dever constitucional do Superior Tribunal de Justiça, podendo ser caracterizado como
verdadeiro atentado à dignidade da Justiça. A todo recorrente é dado o direito de dispor de seu
interesse recursal, jamais do interesse coletivo. A homologação do pedido de desistência deve ser
deferida, mas sem prejuízo da formulação de uma orientação quanto à questão idêntica de direito
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
e aplicada aos demais processos pendentes e futuros462. Ele coloca, com relação ao
IRDR, as mesmas proposições mencionadas para o julgamento por amostragem,
entendendo que o incidente deverá ser instaurado a partir de um caso paradigma
em que haja amplitude do contraditório e pluralidade e representatividade dos
interesses daqueles que serão afetados pelo julgamento da tese jurídica.
Sobre a legitimação para instauração e participação das partes do incidente,
Cabral ressalta o fato de que os litigantes habituais, por conhecerem o cenário
da litigância repetitiva, conseguem agir estrategicamente para provocar a instau-
ração do incidente em um caso em que seus interesses possam prevalecer – por
exemplo, em um processo em que os argumentos da parte contrária não estejam
integralmente ou adequadamente colocados463-464. Mais uma razão pela qual seria
necessário cuidar para que sejam selecionados mais de um “processo-modelo”, ou
um com pluralidade de partes, ou, ainda, uma ação coletiva ajuiada por um legi-
timado extraordinário, de modo que haja maior pluralidade e representatividade
no julgamento da tese jurídica.
Marinoni expressa também uma preocupação com o papel dos legiti-
mados e das partes do caso originário, sugerindo ser necessário “resgatar a
força da representatividade adequada”465 e conferir aos legitimados extraor-
dinários à tutela de direitos individuais homogêneos o dever de represen-
tação dos excluídos do incidente466. Para ele, o controle da adequação da
representatividade da parte que atuará em favor dos interesses dos litigantes
excluídos no IRDR é ainda mais relevante do que na ação coletiva, em que
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
477 “Também por isso, não enxergamos óbice para que os sujeitos condutores sejam nomeados a partir
de processos distintos. Não havendo a polaridade típica do processo civil individual, não havendo
conflito de interesses sobre direitos subjetivos específicos e não havendo defesa direta de relações
jurídicas substanciais, não parece haver razão para que os sujeitos eleitos para conduzir os debates
sejam autor e réu do mesmo processo” (TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 170).
478 A própria autora referencia que o termo “representatividade argumentativa” teria sido empregado
por Marinoni, porém para se referir à representação exercida pelos amici curiae e pelos demais
interessados nas audiências públicas (MARINONI, Luis Guilherme. “Comentários ao artigo 928” In
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et.al (coord). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil.
São Paulo: RT, 2015, p. 2.082).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
por pessoas jurídicas; 25% pelo Ministério Público ou pela Defensoria e ape-
nas 5% por pessoas físicas481.
Esses dados colocam a problematização sobre o uso estratégico do IRDR por
entes artificiais (dentre estes, os litigantes habituais), que conseguem, de modo
bem mais efetivo, provocar a instauração de incidentes para discussão de teses
jurídicas que lhes interesse. Ratificam, portanto, a premissa de que uma inter-
pretação das técnicas de julgamento de casos repetitivos a partir da perspectiva
metodológica do acesso à justiça não pode ignorar a dinâmica entre os litigantes
ocasionais e habituais, e corroboram a hipótese de que estes conseguem aferir
vantagens estratégicas mediante o uso de tais instrumentos processuais.
Nesse sentido, os estudos empíricos realizados nos capítulos 5 e 6, embora
focados no julgamento de recursos repetitivos, também são úteis para embasar
as reflexões sobre o papel exercido pelas partes do caso paradigma e pelos de-
mais intervenientes – amicus curiae, Ministério Público e Defensoria Pública
– na definição da tese jurídica. Como se verá, as vantagens estratégicas dos liti-
gantes habituais se fazem sentir em diversas etapas do processo e do julgamento,
o que levanta questionamentos sobre a paridade participatória das partes do
caso paradigma (ou que sejam de alguma forma escolhidas para representar
os interesses dos ausentes) e sobre os critérios da discutidos pela doutrina para
controle da representatividade nas técnicas de julgamento de casos repetitivos.
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483 Confira-se o estudo de caso do Capítulo 6, em que os litigantes habituais a Boa Vista Serviços S/A,
o Serasa S/A e Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL) adotaram referida estratégia
quando da afetação de recursos especiais para julgamento de tese jurídica sobre a legalidade do
sistema de scoring de crédito.
484 TEMER, Sofia, 2017, op. cit. p. 197-198.
485 MARINONI, Luiz Guilherme, 2016b, op. cit., p. 48-50, 84.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
486 “No IRDR, não será relevante perquirir a ‘vontade’ do grupo, porque sequer é possível (ou mesmo
necessário) identificar um grupo, já que a autonomia individual, que se liga a posições subjetivas e
disposições de direitos, tem pouca (ou nenhuma) influência para dirimir a controvérsia jurídica. Em
realidade, sequer se exige a existência de uma classe propriamente dita, o que é consequencia do
afastamento dos conflitos subjetivos e da aproximação do objetivo de se fixar uma tese. Também o
requisito da ausência de conflito entre os ‘ausentes’ (que, no caso, seriam os sobrestados) – requisito
este necessário para a escolha do rperesentante adequado no sistema estadunidense – é inviável, na
prática, porque sequer parece possível agrupar todos os sujeitos dos processos repetidos em ‘polos’
homogêneos, o que justifica a estrutura multipolarizada já defendida anteriormente” (TEMER, Sofia,
2017, op. cit., p. 176).
193
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487 “Igualmente importante é o fato de que em respeito ao direito constitucional de ação a tutela
individual homogênea por meio da ação civil pública é um plus em relação à tutela individual, ou
seja, a coisa julgada pro e contra e apenas para beneficiar o titular do direito individual demonstra o
respeito do legislador pelo direito que o indivíduo tem de buscar, ele mesmo, a proteção de seu direito.
Não é o que se passa nas TIRC [técnicas individuais de repercussão coletiva], pois a ‘coletivização
de uma demanda/causa ou recurso individual’ lhe é imposta, e, nem mesmo pode ele decidir sobre a
suspensão da sua demanda individual” (RODRIGUES, Marcelo Abelha, 2015, op. cit., p. 564)
488 Essa foi uma preocupação levantada durante a tramitação do Projeto de Lei nº 1.213/2007, na Câmara
dos Deputados, quando então o Deputado Regis de Oliveira levantou o questionamento sobre
eventual “denegação da jurisdição” àquele que teve seu processo suspenso por ocasião do julgamento
do recurso repetitivo. O parlamentar conclui em seu parecer que não haveria inconstitucionalidade,
visto ser a suspensão temporária e justificável ante a possibilidade de economia de custos e
racionalização da atividade jurisdicional (Voto em separado à Comissão de Constituição e Justiça e
de Cidadania da Câmara dos Deputados, 02.10.2007).
489 Conforme artigo 982, inciso I, para o IRDR, e artigo 1.037, II, para os recursos especial e extraordinário
repetitivos.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
490 Aluisio Gonçalves de Castro Mendes adverte, contudo, que embora o regime estabelecido seja de opt
in, as possibilidades de vinculação do julgamento da GLO são amplas, podendo atingir processos que
forem registrados após o julgamento da questão de fato ou de direito em comum, se a management
court assim determinar (2017, op. cit., p. 60).
491 Dados obtidos no site do STJ. Disponível em http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Processos/
Repetitivos-e-IAC/Saiba-mais/Processos-suspensos, acesso em 7 jul. 17. Dados disponibilizados em
diferentes datas por cada tribunal, em um período entre julho de 2016 e junho de 2017.
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492 Tema nº 169: “Questão referente à incidência do imposto de renda sobre verba paga a título de ajuda
de custo pelo uso de veículo próprio no exercício das funções profissionais”.
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497 “A identificação das hipóteses de subsunção não é uma atividade mecânica, mas, sim, cognitiva,
no sentido de comparar a questão submetida ao IRDR com a existente no processo em tramitação”.
(MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro, 2017, op. cit., p. 192).
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499 Art. 983. O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades
com interesse na controvérsia, que, no prazo comum de 15 (quinze) dias, poderão requerer a
juntada de documentos, bem como as diligências necessárias para a elucidação da questão de direito
controvertida, e, em seguida, manifestar-se-á o Ministério Público, no mesmo prazo.
500 Vide mais a esse respeito no item 4.7.4, abaixo.
201
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501 TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 168. Vide item 4.4.2.1., acima.
202
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502 FISS, Owen. “A teoria política das ações coletivas” In Direito como Razão Pública: Processo, Jurisdição
e Sociedade, 2017, op. cit., p. 191.
503 É interessante a crítica colocada por Edilson Vitorelli, fazendo menção aos conflitos intraclasse,
denotando uma perspectiva mais realista quanto à máxima de que, no Brasil, a sentença coletiva
apenas beneficia o membro da classe: “Se o processo coletivo ignora as posições dos ausentes, ele
corre o risco de assumir uma perspectiva paternalista ou mesmo autoritária, presumindo que o
autor da ação sabe o que é melhor para a sociedade e pode lhe impor essa solução. Mais do que
isso, a experiência vem demonstrando que a desconsideração das diferentes situações dos ausentes
é capaz de provocar graves consequencias sociais, prejudicando, com isso a qualidade da decisão e o
bom propósito que anima a tutela coletiva. O aperfeiçoamento do modelo representativo passa pela
criação de salvaguardas em favor dos ausentes, mas também pelo reconhecimento e tratamento dos
conflitos sociais subjacentes ao litígio” (2015, op. cit., p. 382).
504 Reitera-se, aqui, os argumentos pelos quais se entende que a tese jurídica não pode ser entendida
como um precedente, tanto no que diz respeito à sua formação quanto aplicação, conforme explanado
no item 4.2.1. deste capítulo.
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505 Veja-se, apenas à título de exemplo, que no já mencionado julgamento sobre a legalidade da cobrança
da taxa de assinatura de tarifa de telefonia, as empresas de telecomunicações arguiram, perante o
STJ, que “A tarifa mensal de assinatura básica, incluindo o direito do consumidor a uma franquia
de 90 pulsos, além de ser legal e contratual, justifica-se pela necessidade da concessionária manter
disponibilizado o serviço de telefonia ao assinante, de modo contínuo e ininterrupto, o que lhe
exige dispêndios financeiros para garantir a sua eficiência” (REsp nº 911.802/RS, Relator Ministro
José Delgado, julgamento em 24.10.2007). Também foi nesse sentido a argumentação das empresas
mantenedoras de cadastros de inadimplência para defender o sistema de scoring de crédito, conforme
se abordará em maior profundida no estudo de caso descrito no Capítulo 6.
506 Vide outro exemplo da capacidade dos grandes litigantes de suscitar implicações socioeconômicas
do julgamento da tese jurídica, para fins de convencimento do julgador, no item 4.7.5, abaixo, em
que tratamos da audiência pública, em que tratamos do caso em que o STJ discutiu a “(i) prescrição
da pretensão de restituição das parcelas pagas a título de comissão de corretagem e de assessoria
imobiliária, sob o fundamento da abusividade da transferência desses encargos ao consumidor; e
quanto à (ii) validade da cláusula contratual que transfere ao consumidor a obrigação de pagar
comissão de corretagem e taxa de assessoria técnico-imobiliária (SATI).” (Tema nº 938, REsp
nº 1599511/SP e REsp nº 1551956/SP, 2ª Seção, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
Julgamento em 24.08.2016).
507 Critério esse próprio da representatividade adequada das class actions norteamericas, como visto
no Capítulo 3, item 3.2.2., e também suscitado por Sofia Temer para defender a representatividade
argumentativa do sujeito condutor do IRDR: “o bom advogado, com formação acadêmica relevante,
atualizado e especializado na matéria em discussão, pode ser um dos fatores essenciais para evitar
distorções que possam decorrer do mau uso da linguagem técnica. A especialização do advogado
pode ser, então, mais um dos fatores que pode auxiliar na escolha dos condutores” (TEMER, Sofia,
2017, op. cit., p. 169).
205
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508 Representação aqui entendida em um sentido mais amplo – falar em nome de, ou representar os
interesses de – e não no sentido estritamente processual, como já discutido no Capítulo 3.
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509 Antonio Adonias Aguiar Bastos sustenta que o interesse desses sujeitos seria direto e residiria
no estabelecimento de uma tese favorável: “Ocorre que, instaurado e admitido o incidente, resta
configurado o interesse público primário no estabelecimento de um posicionamento jurisprudencial,
que atingirá diretamente os processos que estejam pendentes e que versem sobre idêntica questão
jurídica, em determinado âmbito de competência territorial, nos termos do artigo 938 do NCPC
[artigo 976]. Assim todos os sujeitos que figuram como partes em feitos que tramitam em primeiro
e em segundo grau de jurisdição, dentro da competência territorial do tribunal no qual tramita o
incidente, possuem interesse direto na fixação da tese. Em outras palavras, embora não figurem
como partes no processo/recurso que deu origem ao incidente, serão considerados desta maneira
no incidente” (BASTOS, Antonio Adonias Aguiar. O devido processo legal nas demandas repetitivas.
Tese de Doutorado. Universidade Federal do Estado da Bahia: 2012, p. 173). Assinale-se que o
amicus curiae também é um interessado, cujo interesse é qualificado como institucional, conforme
se discutirá no item 4.7.4, abaixo.
510 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da, 2016, op. cit., p. 607-609. Lembrando que,
para esses autores, o procedimento do IRDR seria uma técnica de causa-piloto, na qual a tese é fixada
a partir dos elementos do caso paradigma, como visto no item 4.1.2.
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511 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da, 2016, op. cit., p. 608.
512 TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 171-177.
513 TEMER, Sofia, 2017, op. cit., p. 177.
514 Concordamos com Cassio Scarpinella Bueno quando este afirma que o conceito tradicional de
interesse juridico é calcado na forma espefícia do litígio individual, daí ser definido como um
vínculo ou uma intersecção entre relações jurídicas individuais. Entende-se, assim, que o interesse
jurídico seria aquele reconhecido expressamente na lei como causa da intervenção e que, por
definição, transcende um interesse privado, subjetivado, individualizado (BUENO, Cassio
Scarpinella. Amicus curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático. 3ª Edição. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 426-429).
208
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Com isso, deverá ser assegurado aos interessados o direito de ser intimado
(caso possua um processo em andamento) ou cientificado (mediante a ampla
divulgação da instauração do IRDR ou da afetação do recurso representativo
da controvérsia) do julgamento da tese jurídica e de intervir em todas as etapas
do procedimento, desde a sua instauração até o julgamento, inclusive com a
legitimidade para recorrer da decisão proferida ao final.
Tratando, especificamente, do direito de intimação e da oportunidade de
manifestação no IRDR, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes defende, no caso
do IRDR, que a intimação e a oportunidade de intervenção no julgamento do
incidente são direitos subjacentes daqueles que ficarão vinculados pela tese ju-
rídica515. Essa participação incluiria a possibilidade de aditar argumentos, apre-
sentar peças e documentos, e de todo modo influir na formação da convicção
dos julgadores quanto aos fundamentos e interesses atinentes à questão jurídica
a ser apreciada. Mendes defende, inclusive, que a falta de notificação pode con-
duzir à ineficácia do efeito vinculativo da tese jurídica com relação à parte não
comunicada, similarmente ao que ocorre nas class actions, em que a notifica-
ção é necessária para possibilitar o exercício do direito de opt-out, podendo ser
avaliada, pelo julgador, a melhor forma e a extensão dessa notificação diante
de elementos do caso concreto516. Sua visão, portanto, sobre o direito de parti-
cipação direta é que esta consiste em elemento fundamental para a legitimação
do IRDR e da aplicação posterior da tese jurídica517.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
520 Como se viu no item 2.3.2 do Capítulo 2, com o referencial de Neil Komesar (1994, op. cit.).
521 Conforme DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da, 2016, op. cit., p. 609-610.
522 RESNIK, Judith, 2008, op. cit., p. 499-500. Vide Capítulo 3, item 3.1.3.
523 No julgamento do já mencionado IRDR em que foram discutidas questões relacionadas ao atraso
na entrega de unidades autônomas, foi retumbante a ausência não só de interessados, mas mesmo
das partes do caso originário e até mesmo de quaisquer amicus curiae que falasse em nome dos
promitentes compradores, ainda mais em se considerando a enorme repercussão econômica e social
da decisão tomada neste incidente (IRDR nº 0023203-35.2016.8.26.0000, Desembargador Relator
Francisco Loureiro, admissão em 18.08.2016, julgamento em 31.08.2017).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
tratégica desta instituição, para que não se aposte que a sua intervenção, por si
só, poderá garantir a paridade estratégica entre litigantes habituais e ocasionais
no julgamento de casos repetitivos.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
527 Como na Lei nº 6.385/1976 (intervenção da Comissão de Valores Mobiliários – CVM – em processos
judiciais que versem sobre matéria relativa a sua competência); Lei nº 9.279/96 (intervenção do
Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI – em ações de nulidade de patente); e Lei nº
8.884/1994 e Lei nº 12.529/2011 (intervenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica –
CADE – em processos em que a legilsção de defesa da concorrência seja aplicada).
528 Art. 7º § 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes,
poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a
manifestação de outros órgãos ou entidades.
529 ALMEIDA, Eloisa Machado. Amicus Curiae no Supremo Tribunal Federal. Tese de Doutorado.
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2015.
530 Essa tendência já havia sido pontuada pela autora em pesquisa anterior, conforme ALMEIDA, Eloisa
Machado. Sociedade civil e democracia: a participação da sociedade civil como amicus curiae no Supremo
Tribunal Federal. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006.
531 Art. 543-A (...) § 6º. O Relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação
de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal.
532 Defendendo uma interpretação extensiva desse dispositivo para o julgamento de recursos repetitivos,
vide BASTOS, Antonio Adonias Aguiar, 2012, op. cit., p. 184-185.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
essa lacuna, contribuindo para que a tese jurídica fosse formulada a partir de
um debate plural e participativo.
No entanto, não é colocada a preocupação (central ao presente trabalho)
com as diferentes capacidades daqueles que figuram em polos contrapostos, ou
cujos interesses estão em contraposição, nos casos repetitivos. Tampouco se
analisa se esses intervenientes conseguem, de fato, reequilibrar o debate, espe-
cialmente quando há questões de grande repercussão socioeconômica envolvi-
das. A compreensão dessa dinâmica é essencial para se entender quem pode
ser (e quem efetivamente é) amicus curiae e o papel que pode ser exercido (e o
papel que é de fato desempenhado) no julgamento de casos repetitivos.
Pensando, primeiramente, em quem podem ser os amici curiae no IRDR e
nos recursos repetitivos, tem-se que o artigo 138 do CPC/2015 estabelece um
juízo de admissibilidade da intervenção deste terceiro que levará em considera-
ção: (i) a relevância da matéria; (ii) a especificidade do tema objeto da deman-
da; (iii) a repercussão social da controvérsia; (iv) a especialidade da atuação do
órgão e entidade e; (v) sua “representatividade adequada”536.
Similarmente, a Lei nº 9.868/1999, em seu artigo 7º, §2º, também dispõe sobre
os critérios legais da relevância da matéria e da representatividade dos postulantes
que desejam intervir no julgamento de ações diretas de constitucionalidade.
Referidos critérios de representatividade e de especialidade também deve-
riam ser interpretados a partir da compreensão do interesse institucional do
amicus curiae, e da sua imparcialidade, ou seja, da ausência de um interesse
próprio ou subjetivo e um legítimo propósito de contribuir com a qualidade
do julgamento537. A intervenção do amicus, seja espontânea ou provocada pelo
julgador, somente terá legitimidade e credibilidade se verificado que ele não
536 Similar provisão esta inserta no Regimento Interno do STJ: “Art. 256-J. O relator poderá solicitar
informações aos Tribunais de origem a respeito da questão afetada e autorizar, em decisão
irrecorrível, ante a relevância da matéria, a manifestação escrita de pessoas naturais ou jurídicas,
órgãos ou entidades especializadas, com representatividade adequada, a serem prestadas no prazo
improrrogável de quinze dias”.
537 “A ‘imparcialidade’ do amicus curiae é uma necessidade do sistema jurisdicional. Não deriva de um
específico artigo de lei, ao contrário do que, para o nosso sistema jurídico, dá-se com relação ao
perito (art. 138, III, do Código de Processo Civil). Não há, contudo, como desconsideração que suas
alegações serão tanto mais críveis e, consequentemente, levadas em conta pelo magistrado na exata
proporção em que ele, amicus curiae, mostrar-se ‘confiável’, ‘idôneo’, ‘imparcial’, ‘neutro’, ‘respeitado’
no seu específico ramo de atividade, seja por entidades privadas ou públicas”. (BUENO, Cassio
Scarpinella, 2012, op. cit., p. 378).
217
Maria Cecília de Araujo Asperti
538 BUENO, Cassio Scarpinella, 2012, op. cit., p. 490-491. O autor assevera, ainda, que a aferição
do interesse institucional se aplica, inclusive, quando a União interfere nessa condição em
processos em que figurem como partes autarquias, fundações públicas, sociedades de economia
mista e empresas públicas federais, consoante o quanto disposto pelo artigo 5º, Parágrafo Único,
da Lei nº 9.469/1997. Ainda que referido dispositivo fale em reflexos de “natureza econômica” a
justificar a intervenção da União, Bueno entende que não se trataria de um interesse econômico
propriamente dito, mas de um interesse público primário por parte do ente federativo que tenha
eventuais reflexos indiretos econômicos.
539 ALMEIDA, Eloísa Machado. “O amicus curiae na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal”. Revista
Brasileira de Estudos Constitucionais”. Nº 24, Belo Horizonte: Forum, 2012, pp. 1073-1098, p. 1.078.
540 “Esse caso é exemplo das idiossincrasias que envolvem a figura dos amicus curiae e de como o
entendimento de cada um dos ministros influencia no alcance que este instrumento pode ter na
jurisdição constitucional” (ALMEIDA, Eloisa Machado, 2015, p. 91-92).
218
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
541 BANNER, Stuart. “The myth of the neutral amicus: American courts and their friends”, 1790-
1890. Constitucional Commentary, v. 20, p. 111, 2003. Referido autor classifica os amici curiae de
“partidários”, se sua atuação é representativa dos interesses de uma das partes ou de alguma entidade,
e de “neutros”, se não estivesse representando ninguém ou tampouco defendendo os argumentos de
nenhum dos lados em disputa (2003, op. cit., p. 116).
542 KRISLOV, Samuel. “The amicus curiae brief: from friendship to advocacy”. The Yale Law Journal, v.
72, n. 4, p. 694-721, 1963.
543 Stuart Banner que essas mudanças têm a ver como uma transição de uma prática jurídica
essencialmente oral e em menor escala, em que as cortes dependiam também do registro e da
memória de advogados atuantes quanto aos precedentes julgados (e nem sempre registrados) em
julgamentos futuros, para uma tradição mais calcalda em expedientes escritos e com largo acesso a
informações, na qual o papel do amicus curiae passa a ser muito mais o de fornecer subsídios factuais
ao julgamento, o que acaba sendo feito por aqueles que têm um interesse mais claro e direto no
desfecho do caso (BANNER, Stuart, 2003, op. cit., p. 121-122).
544 “Most relevant, the twentieth century saw the birth of amicus briefs filed to educate the Court on non-
legal matters. It is this role of the amicus—as factual experts —that has flourished in modern times and
is applauded by many scholars and jurists as the most valuable function an amicus can perform. Indeed
it is this role that is actually encouraged by the modern Supreme Court rules, which explicitly call for
amici to supplement information the parties provide (LARSEN, Allison Orr. “The Trouble with Amicus
Facts”. Virginia Law Review, p. 1757-1818, 2014, p. 1769).
219
Maria Cecília de Araujo Asperti
Assim, é de se esperar que os amici curiae exerçam, também, esse papel, que se
mostra extremamente relevante na conformação da tese jurídica.
Deste modo, e pensando especificamente no amicus curiae que pode intervir
no julgamento de casos repetitivos545, tem-se que, novamente, os litigantes ha-
bituais podem aferir significativas vantagens por meio da intervenção de amici
curiae no julgamento de teses repetitivas546.
Como já discutido, esses atores têm mais fácil acesso à especialistas tanto no
meio jurídico quanto não jurídico, bem como recursos para financiar levanta-
mento de informações (econômicas, técnicas, estatísticas, etc.) que poderão ser
apresentadas por eles mesmos ou por entidades que representem seus interes-
ses, como associações profissionais, sindicatos, institutos e órgãos de classe em
geral547. Logo, se o critério da especialidade for preponderante, tanto do ponto
de vista jurídico quanto fático, temos que os litigantes habituais terão maiores
545 Não levantamos no presente trabalho os dados sobre todos os amici curiae que interviram no
julgamento de casos repetitivos no STJ (estudo empírico-jurisprudencial) que será descrito no
Capítulo 5, a seguir, em razão da dificuldade e na não confiabilidade dos dados disponibilizados
pelo sistema do tribunal. Pudemos verificar, na análise dos casos, que nem sempre essa informação
constava no andamento do recurso, podendo ser extraída, de forma casuísta, do teor dos acórdãos
do julgamento dos casos paradigma. No estudo de caso descrito no Capítulo 6, discutimos em
profundidade quem foram e o qual o papel exercido pelos amici curiae no julgamento da questão
relativa à legalidade do scoring de crédito.
546 “Esclareça-se que os entes que podem intervir como interessados não necessitam estar do lado da
grande massa de litigantes excluídos, ou seja, daqueles que afirmam que seus direitos foram lesados.
Também cabe a intervenção de interessados na vitória daqueles que se colocam como adversários dos
litigantes que sustentam que os seus direitos foram violados nas várias demandas, especialmente par
aa formaçaõ de jurisprudênci ou precedente favorável (MARINONI, Luiz Guilherme, 2016b, p. 97).
547 Sobre o uso de pesquisas financiadas pelos próprios amicus que, por sua vez, são entes considerandos
“partidários”, ou seja, com interesses diretos no desfecho do julgamento ou alinhados com uma das
partes da disputa, Alisson Orr Larsen comenta: “In fact, a quick look at the tables of authorities in
the amicus briefs filed in the 2012–2013 Term reveal that it is not at all rare for an amicus to cite
a study it funded or conducted itself. Examples include: the Generic Pharmaceutical Association
presenting a study it sponsored on the money saved through generic drugs, the National Venture
Capital Association describing a study it funded about how investment drives medical innovation,
and a statistical survey about the erosion of the criminal intent requirements in federal law, co-
authored by an employee of the National Association of Criminal Defense Lawyers and then
presented to the Court by the same organization” (LARSEN, Allison Orr, 2014, op. cit., p. 1790-
1791). Para a autora, o fato de as pesquisas serem financiadas não seria, em si, um problema,
mas certamente a forma de apresentação dos dados não se dará de forma neutra (como em um
estudo independente), mas com intuito persuasivo, o que pode ser problemático, considerando,
especialmente, o peso que vêm sendo conferido pelas cortes americanas aos elementos fáticos
(técnicos, econômicos, estatísticos) em seus julgamentos.
220
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
221
Maria Cecília de Araujo Asperti
552 De acordo com a previsão inserta na Resolução nº 001/1986 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), em seu artigo 11, §2º: “Ao determinar a execução do estudo de impacto
ambiental e apresentação do RIMA, o estadual competente ou o IBAMA ou, quando couber o
Município, determinará o prazo para recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos
públicos e demais interessados e, sempre que julgar necessário, promoverá a realização de audiência
pública para informação sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do RIMA”.
553 Art. 20. § 1o Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato
ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar
informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a
questão ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência
e autoridade na matéria.
554 A esse respeito, vide, apenas à título de exemplo: MOREIRA, Diogo Rais Rodrigues. Audiência
Pública no Supremo Tribunal Federal. Dissertação de Mestrado em Direito. Pontifícia Universidade
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Católica de São Paulo. São Paulo: 2012. DANTAS, Karoline Tarciane de Barros Campos. Jurisdição
Constitucional e Audiências Públicas: um instrumento a favor da democracia? Dissertação de Mestrado.
Universidade Católica de Pernambuco. Recife, 2014. TUSHNET, Mark. “New institutional
mechanisms for making Constitutional Law”. Social Science Research Network. Rochester: NY, 2
abr. 2015. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/abstract=2589178>. Acesso em 11 dez. 2017;
SOMBRA, Thiago Luís Santos. “Supremo Tribunal Federal representativo? O impacto das audiências
públicas na deliberação”. Revista Direito GV. V. 31, n. 1, jan-abril 2017, FGV: São Paulo, p. 236-273.
555 MOREIRA, Diogo Rais Rodrigues, 2012, op. cit., p. 11-12.
556 Conforme redação do artigo 7º, inciso XVII, e do artigo 20, inciso XVII, do Regimento Interno do STF.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
557 “Consideramos, todavia, que as audiências públicas têm funções ainda mais importantes.
Primeiramente, elas reduzem o isolamento do Tribunal, promovendo sua aproximação com a
sociedade civil e com a comunidade científica. Segundo, e tendo em vista inegáveis limitações no
que tange às capacidades institucionais da corte, as audiências reduzem as chances de decisões
equivocadas e mitigam o déficit de expertise dos ministros em questões de profundo conhecimento
técnico, já que, como agentes humanos, possuem eles limitações de conhecimento e também de
tempo, com prazos e questões formais envolvidas em suas atividades” (MEDINA, José Miguel Garcia;
FREIRE, Alexandre; FREIRE, Alonso. “Audiência pública tornou-se instrumento de legitimidade”.
Conjur. Edição de 4 jul. 2013. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2013-jul-04/audiencias-
publicas-tornaram-stf-instrumento-legitimidade-popular>, acesso em 11 dez. 2017).
558 SOMBRA, Thiago Luís Santos, 2017, op. cit., p. 238-240.
559 SOMBRA, Thiago Luís Santos, 2017, op. cit., p. 239.
560 SOMBRA, Thiago Luís Santos. “Supremo Tribunal Federal representativo? O impacto das
audiências públicas na deliberação”, 2017, p. 245. Também nos estudos de caso realizados por Diogo
Rais Rodrigues Moreira é possível verificar a problemática da ausência dos ministros durante as
audiências públicas estudadas (MOREIRA, Diogo Rais Rodrigues, 2012, op. cit., p. 67-108).
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
561 ADI nº 3.937, audiência realizada em 24 a 31 de agosto de 2012, Relator Ministro Marco Aurélio.
562 RE nº 586.224/SP, audiência realizada em 22 de abril de 2013, Relator Ministro Luiz Fux
563 SOMBRA, Thiago Luís Santos, 2017, op. cit., p. 250, 258-259.
564 “As audiências públicas, embora destinadas a esclarecer questões técnicas, administrativas,
políticas, econômicas e jurídicas, tornaram-se, de acordo com orientação hoje preponderante no
Tribunal, instrumento de legitimidade, menos por força dos argumentos colhidos em tais audiências
(muitas vezes desprezados, quando do julgamento da ação pelo Tribunal), e mais por propiciar
a participação de pessoas e entidades que, de algum modo, representariam a sociedade (ou os
destinatários da decisão a ser proferida pelo STF) na criação da solução jurídica no processo de
controle de constitucionalidade” (MEDINA, José Miguel Garcia; FREIRE, Alexandre; FREIRE,
Alonso, 2013, op. cit.).
225
Maria Cecília de Araujo Asperti
565 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro, 2016, op. cit., p. 610.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
567 O Ministro Paulo de Tarso Sanseverino foi presidente da Comissão Temporária Gestora de
Precedentes, conforme Portaria STJ/GV n. 475 de 11 de novembro de 2016. A Portaria STJ/GV
n. 299 de 19 de julho de 2017 altera a composição da comissão, porém mantém o ministro como
seu presidente.
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568 A análise dos participantes da referida audiência pública é pormenorizada no Capítulo 6, no item 6.2.8.
569 “No tocante ao perfil, a pesquisa revelou que o número de participantes selecionados que se
manifesta em favor de um posicionamento ou de outro é bem distribuído e equilibrado pelos
próprios relatores antecipadamente, o que evidencia uma preocupação de paridade de armas. (...)
Ademais, os dados disponíveis não autorizam a conclusão em torno da existência de qualquer
situação de predomínio de poder econômico de alguns participantes em relação a outros. E, dentre
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
572 Concordamos com Luiz Guilherme Marinoni quando este afirma a decisão que admite o IRDR deve
ser sujeita a recursos, inobstante o artigo 987 falar no cabimento de recurso especial e extraordinário
“do julgamento do mérito”: “Portanto, a norma constitucional atribui ao Superior Tribunal de
Justiça, mediante recurso especial, a incumbência de definir o sentido da lei federla e a intepretação
que deve prevalecer em caso de divergência entre tribunais é clara evidência de que uma norma do
Código de Processo Civil não pode graciosamente afirmar que, proferida uma decisão em processo
de larga importância, como o incidente de resolução de demandas repetitivas, não é possível tentar
discutir, mediante especial, decisão de caráter processual” (2016b, op. cit., p. 122).
573 DINAMARCO, Cândido Rangel, 2017, op. cit., p. 457-458.
574 DINAMARCO, Cândido Rangel, 2017, op. cit., p. 457.
233
Maria Cecília de Araujo Asperti
adotada a esse respeito, não há como negar o interesse recursal desse terceiro
que terá sua pretensão atingida pela tese jurídica a ser firmada.
Tal entendimento é convergente com a Enunciado nº 94 do Fórum Perma-
nente de Processualistas Civis, que, ao interpretar o artigo 982, §4º, e o artigo
987, consignou que “a parte que tiver o seu processo suspenso nos termos do
inciso I do art. 982 poderá interpor recurso especial ou extraordinário contra o
acórdão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas”. Entende-
-se, apenas, que essa legitimidade não é condicionada a intervenção anterior do
interessado na condição de assistente, tampouco ao sobrestamento do processo
em que o interessado seja parte ou, sequer ao fato deste já estar envolvido em
uma demanda em trâmite. Como se viu, a legitimidade e interesse de recorrer
decorre, nesse caso, da possibilidade de a tese jurídica afetar ou atingir “direito
de que se afirme titular” – ou seja, não há a necessidade de já haver uma de-
manda em trâmite ou de o terceiro já ter de algum modo intervido no procedi-
mento de julgamento de casos repetitivos575.
Também se evidencia que, caso se discuta uma questão de direito oriunda
de conflitos considerados coletivos, os legitimados para ação coletiva terão tam-
bém legitimidade para recorrer das decisões, na condição de substitutos proces-
suais576. Do mesmo modo, a legitimidade recursal é conferida ao amicus curiae,
como já discutido no item 4.7.5, dada a disposição expressa do artigo 138, §3º577,
do CPC/2015. É nesse sentido que Aluisio Gonçalves de Castro Mendes atribui
a legitimidade recursal, no âmbito do IRDR, ao Ministério Público e à Defen-
soria Pública (desde que existam interessados hipossuficientes); às partes dos
processos que deram origem ao IRDR; aos amici curiae; e aos demais interessa-
575 Sofia Temer também discute a peculiar hipótese de uma parte em outra demanda em que se discuta
a tese jurídica interpor um recurso (ou aquilo que poderia ser entendido como um requerimento”)
para estender a tese firmada em IRDR para o âmbito nacional, e sustena que poderia haver nesse
caso uma peculiar interpretação do interesse e da legitimidade recursal, calcadas no interesse de se
ver a tese firmada em determinado tribunal estadual ou regional sendo aplicada em âmbito federal,
consoante o disposto no artigo no artigo 982, §3º (2017, op. cit., p. 264-266). Mais uma razão, a
nosso ver, para se entender que os interessados possuem legitimidade recursal também quando a tese
jurídica atinge seu direito.
576 MEIRELES, Edilton. “Do incidente de resolução de demandas repetitivas no processo civil brasileiro”
In DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Julgamento de casos Repetitivos. Coleção
Grandes Temas do Novo CPC. Vol. 10. Salvador: JusPodium, 2017, p. 65-138, p. 130.
577 Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha acrescentam que a legitimidade recursal do amicus
curiae não ficaria restrita à decisão proveniente do IRDR, devendo também ser aplicada em caso de
decisão que julgue recurso repetitivo (2016, op. cit., p. 613).
234
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
dos, que seriam, a seu ver, as partes dos processos “que estejam dependendo da
resolução da questão controversa a ser decidida no IRDR” e “todos os titulares
de direito, deveres ou obrigações que possam depender da resolução da questão
posta a ser elucidade no incidente”578.
A despeito desses sólidos posicionamentos a favor de se conferir legitimidade
recursal aos intervenientes, aos “sobrestados” e aos ausentes, verifica-se, na prá-
tica, certa resistência dos julgadores às intervenções dos interessados, especial-
mente no tocante à recursos interpostos ao longo da tramitação do incidente
ou do recursos repetitivo. À exemplo, no caso sobre cobrança de taxa de corre-
tagem e taxa SATI, o ministro relator indeferiu a intervenção de pessoas físicas
que não fossem consideradas especialistas e negou conhecimento a recursos
apresentados por indivíduos (promitentes compradores579) no processo, sob o
argumento de que não seriam parte ou teriam a representatividade adequada
para figurar como amicus curiae no feito.
235
Maria Cecília de Araujo Asperti
580 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da, 2017, op. cit., p. 614.
581 MARINONI, Luiz Guilherme, 2016a, op. cit., p. 251-252.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
precisa ser revisto, seja por estar superado, seja por um manifesto equívoco no
raciocínio que conduziu a sua elaboração582.
Daí porque, ao se raciocinar pela lógica do overruling, causa estranhamento
que as partes de um processo futuro não possam suscitar um debate sobre a
necessidade de revogação ou de superação do precedente no caso concreto,
demonstrando sua incongruência com os valores vigentes ou um equívoco em
sua formulação. E mais: que ao Ministério Público e à Defensoria Pública seja
assegurada essa prerrogativa, com fulcro em um interesse institucional, mas não
às partes, que possuem um interesse subjetivo na revisão da tese, como se esta
não fosse afetar concretamente a parte do processo em que é aplicada583.
Deste modo, a previsão do artigo 986 (e partindo-se aqui o entendimento
de que essa previsão pode ser aplicada também aos recursos repetitivos) parece
desafiar a lógica do sistema de precedentes, ao estipular que apenas os julgado-
res, o Ministério Público e a Defensoria Pública possam suscitar a necessidade
de revisão da tese jurídica.
Por óbvio que a análise da pertinência da revisão da tese jurídica cabe unica-
mente ao órgão que a firmou, mas a iniciativa de se provocar a revisão não pode
ficar restrita a esses órgãos. Veja-se, ainda, outra incoerência: o Ministério Público
e a Defensoria Pública, em tese, participaram do procedimento em que a tese ju-
rídica foi firmada, e mesmo assim detêm a prerrogativa de incitar a sua revisão, ao
passo que as partes de processos futuros não poderiam fazer o mesmo584.
Assim, retomando-se o entendimento pelo qual a tese jurídica aproxima-se
de uma eficácia preclusiva face às questões jurídicas decididas, parece claro que
a iniciativa de provocação de sua revisão ou superação não pode ficar restrita
237
Maria Cecília de Araujo Asperti
585 Luiz Guilherme Marinoni também defende que as partes de processos futuros (ou seja, os ausentes)
possam instigar a revisão da tese jurídica firmada em IRDR, mas assevera que essa oportunidade
estaria aberta somente àqueles que não participaram diretamente ou indiretamente (mediante a
representação de algum legitimado para tutela coletiva, como ele propõe) no julgamento do incidente.
Para o autor, que entende que a tese jurídica produz coisa julgada quanto às questões prejudiciais
decididas, somente quem não participou do IRDR poderá arguir fundamentos que não tenham
sido discutidos e decididos durante o julgamento do IRDR. Os titulares de direitos que ajuizarem
demandas futuras (“processos futuros”, conforme locução do artigo 986 do CPC/2015) poderiam,
certamente, instigar a revisão da tese jurídica, não lhe sendo oponível a eficácia preclusiva da coisa
julgada quanto a matéria dedutível (artigo 508 do CPC/2015) (MARINONI, Luis Guilherme, 2017,
op. cit., p. 117).
238
5. Litigantes Repetitivos
e Ocasionais no STJ
239
Maria Cecília de Araujo Asperti
a) Número do tema;
b) Número do Recurso Representativo da Controvérsia (“RRC”);
c) Tribunal de Origem
d) Recorrente;
e) Recorrido;
f) Questão submetida a julgamento;
586 O banco de dados do STJ sobre recursos repetitivos está disponível no link: http://www.stj.jus.br/
repetitivos/temas_repetitivos/. Acesso em 31 mar. 2017.
587 A cada questão jurídica decidida em sede de recurso repetitivo é atribuída uma numeração de tema, o
que ratifica a percepção de que as teses jurídicas conformam enunciados normativos abstratos, sendo
assim mais próximas das súmulas do que de precedentes, com a diferença de que as súmulas em tese
refletem uma jurisprudência consolidada, enquanto a tese jurídica é formulada de forma provocada
e direcionada em um julgamento específico no qual pode ocorrer, inclusive, uma “guinada” no
entendimento outrora sustentado pela corte (vide mais a esse respeito no Capítulo 4, item 4.2).
240
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
g) Data de afetação;
h) Data de julgamento;
i) Data do trânsito em julgado;
j) Informações sobre eventual audiência pública; e
k) Tese firmada.
241
Maria Cecília de Araujo Asperti
mento dos fatos do processo futuro com aqueles do caso do qual a tese jurídica
emanou, como no sistema de precedentes norteamericano.
A partir dessas escolhas, foi possível verificar que, dos 657 temas julgados
entre 2008 e março de 2017, 287 (43,68%) partiram da afetação de recursos
representativos da controvérsia nos tribunais de origem e 370 (56,32%) foram
afetados no próprio STJ. Há, portanto, um volume maior de teses cuja consoli-
dação partiu da iniciativa do STJ, a partir da verificação, pelo tribunal superior,
da multiplicidade de recursos versando sobre uma mesma matéria de direito.
Considerando o tribunal de origem do primeiro (e muitas vezes único) RCC
afetado para cada caso, tem-se o seguinte cenário:
Gráfico 2 – Percentual de teses jurídicas firmadas a partir de recursos representativos
da controvérsia por tribunal de origem (considerando o primeiro RRC afetado)
242
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
588 O Sudeste corresponde a 55,2% do PIB, enquanto o Sul representa 16,2%, conforme levantamento
das contas regionais feito pelo IBGE em 2012. Os seis estados com mais RRCs afetados também
correspondem aos seis estados com maior PIB no Brasil (disponível em https://ww2.ibge.gov.br/home/
estatistica/economia/contasregionais/2012/default_xls_1995_2012.shtm, acesso em 14 dez. 2017).
589 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2016, op. cit., p. 34.
590 Só para se ter uma base comparativa, no TJSP, que é o maior tribunal estadual do país, havia
25.943.503 processos tramitando em 2017, ou seja, 5,8 vezes mais processos do que o TJRS
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2016, op. cit., p. 34).
243
Maria Cecília de Araujo Asperti
tribunal, enquanto 85 foram afetadas pelo STJ591. Destas teses, 45 (46,39%) são
relativas a questões consumeiristas, contra uma média total de 14,16% de ques-
tões relativas a direito do consumidor dentre todos os temas julgados.
Esses dados levam a crer que o TJRS seja um tribunal com um contingente
particularmente expressivo de demandas decorrentes da litigiosidade repetitiva
(a ponto de chamar a atenção do STJ) caracterizada como litígios de múltiplos
sujeitos592, ou seja, em que o litigante habitual é réu em ações que questionam
sua conduta com base na legislação de direitos do consumidor.
591 O que torna menos provável a hipótese de ser este um tribunal em que se tem mais presente a prática
de utilizar a técnica de julgamento de recurso repetitivos: na realidade, a repetição é aferida, mais
usualmente, pelo próprio STJ.
592 Como se viu no Capítulo 4, item 4.3.1, e de acordo com GUIMARÃES, Amanda de Araújo, 2017,
op. cit., p. 92-107.
593 GALANTER, Marc, 1974, op. cit., p. 97-98.
594 Retomam-se, aqui, todas as colocações explicadas no Capítulo 2, no item 2.4, sobre os tipos ideais de
litigantes repetitivos e ocasionais e as particularidades dessa tipologia aplicada ao contexto brasileiro atual.
244
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
595 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012. op. cit. Outras classificações tiveram de ser
acrescidas, dado que em alguns casos os recorrentes não se encaixam em nenhuma das categorias
utilizadas para classificar os maiores litigantes.
245
Maria Cecília de Araujo Asperti
246
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
247
Maria Cecília de Araujo Asperti
Recorrente Recorrido
596 Recurso Especial nº 1.114.398/PR, Ministro Relator Sidnei Beneti, 2ª Seção, julgamento em
08.02.2012.
248
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Assim, com relação à questão da legitimação ativa, não foi travada uma
discussão abstrata sobre o instituto de direito processual, mas sim proferida uma
decisão plenamente vinculada ao conflito coletivo599. Por se entender, então,
que a tese jurídica entao firmada versa sobre a responsabilidade e sobre os danos
decorrentes do evento, a classificação atribuída foi em “Direito Civil”, na qual
estão incluídas discussões sobre responsabilidade civil e danos ambientais.
De outra parte, desse mesmo julgado decorreu a discussão sobre a possibili-
dade de julgamento antecipado da lide ante a existência de prova documental
tida por suficiente pelo julgador (Tema nº 437). Nesse ponto, a questão jurídica
processual foi trabalhada abstratamente, cabendo sua aplicação a casos futuros
que não sejam necessariamente relacionados com o contexto fático do acidente
ambiental600. Daí a sua classificação como “Direito Processual Civil”.
597 SOARES, Ricardo. “Navio da Petrobras derrama nafta no Paraná”. Folha de São Paulo. 19 out. 2001.
Caderno Cotidiano. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1910200111.htm>,
acesso em 16 dez. 2017.
598 Recurso Especial nº 1.114.398/PR, Ministro Relator Sidnei Beneti, 2ª Seção, julgamento em
08.02.2012, p. 21.
599 Trata-se, em verdade, de um claro exemplo de casos repetitivos em que são discutidos direitos
individuais homogêneos, passíveis de serem tutelados coletivamente.
600 Confira-se trecho do acórdão, em que o Ministro Relator Sidnei Beneti transcreve trecho do acórdão
recorrido para reafirmar a interpretação do TJPR sobre a questão de o julgamento antecipado não
implicar cerceamento de defesa ante a existência de prova documental: “O cerceamento de defesa
ocorre quando, havendo a necessidade de produção de provas, estas são ilegalmente indeferidas. No
caso em tela, não havia a necessidade de produção de provas, uma vez que os elementos constantes
249
Maria Cecília de Araujo Asperti
nos autos foram suficientes para a apreciação das alegações das partes. Assim, em sendo desnecessário
maior embate probatório, não restou dúvidas ao diligente Magistrado em relação à solução a ser dada à
lide, inexistindo qualquer cerceamento de defesa pelo julgamento antecipado. A solução dada à lide é
legítima, se os aspectos decisivos da causa estão suficientemente maduros para embasar o convencimento
do magistrado. Sendo o juiz o destinatário das provas, é óbvio que lhe cabe aferir a necessidade ou não
de outros elementos probatórios a serem colhidos” (Recurso Especial nº 1.114.398/PR, Ministro Relator
Sidnei Beneti, 2ª Seção, julgamento em 08.02.2012, p. 12). Como se vê, a fundamentação que embasa
a tese jurídica relativa a essa questão não está vinculada ao conflito fático, ou à litigância repetitiva,
sendo aplicável a casos em que se suscite alegação de cerceamento de defesa em julgamento antecipado
sem qualquer relação com a colisão do Navio N-T Norma no Porto de Paranaguá.
250
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
representam 59% dos temas discutidos pelo STJ em sede de recurso especial
repetitivo no período analisado.
Dentre as questões classificadas como “Direito Tributário”, chamou a aten-
ção a quantidade de temas relativos a aspectos processuais específicos das
execuções fiscais, o que motivou a extração de uma sub-categoria específica.
Verificou-se, com isso, que 40 dos 208 temas relacionados a Direito Tributá-
rio versavam sobre questões relativas a execuções fiscais, o que corresponde a
6,09% do total de temas.
No âmbito do “Direito Administrativo”, o assunto mais expressivo foi o “reajuste
de remuneração, soldo, proventos ou pensão de servidor público”, que correspondeu
a 36 dos 141 temas nessa classificação, ao lado das discussões relativas à “prestação
de serviço público”, inclusive sobre valor de tarifas e restituição de empréstimo com-
pulsório sobre cobrança de energia elétrica, presente em 33 temas.
Além dos temas relacionados aos aspectos processuais específicos das execuções
fiscais, chamou atenção o volume de temas relacionados a questões de Direito Pro-
cessual Civil, que corresponderam a 18% do total. Uma análise pormenorizada dessa
categoria também trouxe à tona um percentual significativo de temas relacionados à
fase executiva do processo, em eram debatidos assuntos como ordem de penhora e pe-
nhorabilidade, multa cominatória em caso de descumprimento de obrigação de fazer,
não fazer e de entrega de coisa, defesas do executado, execução individual de sentença
coletiva, dentre outras matérias. Dentre os 120 temas de Direito Processual Civil, 49
teses relacionavam-se com atos executivos em geral (7,46% do total).
No âmbito do Direito do Consumidor (14%), de um total de 93 temas, 50
envolviam bancos e instituições financeiras, tais como a cobrança de juros em
contratos bancários, revisão de cláusulas contratuais, questões referentes aos
contratos do Sistema Financeiro de Habitação e cobrança de expurgos inflacio-
nários. Houve também temas relacionados à prestação de serviços de telefonia,
seguros, previdência privada, consórcio, dentre outros.
As teses relacionadas a Direito Civil (afora às relações de consumo)
equivaleram a 7% do total analisado, com temas diversos relacionados a
contratos em geral, títulos de crédito, direito de família e teses discutidas
no âmbito do DPVAT601.
251
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
Tem-se, com isso, que os litigantes habituais estavam sendo vencidos nos
tribunais estaduais e federais quando então a questão foi levada ao STJ.
No embate que culmina com a fixação da tese jurídica, esses atores litigam,
na maior parte das vezes, contra pessoas físicas que, por seu turno, estavam
obtendo êxito até então, ao menos no que tange a questão jurídica levada a
julgamento pela via do recurso especial.
Quando se apura o resultado do julgamento, verifica-se que no cômputo
geral e em todas as áreas específicas, os litigantes habituais obtiveram enten-
dimentos favoráveis na maioria dos casos.
Poder-se-ia aduzir que a diferença percentual dos casos em que os litigantes
habituais obtêm uma tese jurídica favorável (56%) não é tão marcante, ou tão
discrepante. No entanto, tendo-se em mente que eles são, na maior parte dos
casos, a parte recorrente, é possível inferir que esses litigantes conseguem,
satisfatoriamente, reverter entendimentos que não eram favoráveis a seus
interesses nas instâncias inferiores (tanto assim que recorreram ao STJ).
Um estudo empírico de cunho essencialmente quantitativo não nos permite
aferir conclusões mais aprofundadas sobre as constatações aqui levantadas. Por
isso, parte-se para a segunda etapa da pesquisa empírica, em que será possível
estudar como os litigantes habituais e ocasionais participam efetivamente do
julgamento de teses jurídicas pela via do recurso especial repetitivo.
258
6. Participação e Representatividade
no Recurso Especial Repetitivo:
Um Estudo de Caso
259
Maria Cecília de Araujo Asperti
605 Até a data da pesquisa (31.03.2017), não havia ocorrido o trânsito em julgado do Tema nº 938, a
respeito da cobrança de taxa de corretagem e taxa SATI.
606 O julgamento do Tema nº 898, referente à atualização monetária da indenização do DPVAT, se deu
a partir da afetação de apenas um recurso representativo da controvérsia.
260
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Participação de "sobrestados" e de Alguma parte de casos sobrestados ou de um processo futuro ("ausente") participou do processo em
"ausentes" algum momento? Via manifestação escrita? Memoriais? Na audiência pública?
Quem participou da audiência pública? Qual o perfil do participante?
Audiência Pública Qual o posicionamento defendido por cada participante?
Qual a repercussão dos debates da audiência pública no julgamento do caso?
Quais os principais argumentos do voto vencedor?
Julgamento (influência da Foram discutidos elementos fáticos extraídos dos recursos representativos da controvérsia?
participação das partes e dos Quais argumentos mais repercutiram na formação da convicção dos julgadores? Qual a origem desses
interessados) argumentos (suscitado pelas partes? Em julgados anteriores? Pelos amici curiae? Na audiência pública?
Por algum interveniente?)
Há notícia quanto a quantos recursos foram sobrestados?
Impactos do julgamento
Qual a repercussão na mídia do caso?
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Maria Cecília de Araujo Asperti
607 Trecho da ementa do acórdão prolatado por ocasião do julgamento dos RRCs mencionados.
608 Disponível em https://www.boavistaservicos.com.br/score-credito/, acesso em 17 dez. 2017.
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
609 Segundo informações de seu site, a base de dados do SCPC contém de 200 milhões de consultas por mês
e que armazena mais de 350 milhões de informações comerciais sobre seus consumidores. Disponível
em <https://www.boavistaservicos.com.br/sobre-a-boa-vista-scpc/>, acesso em 18 dez. 2012.
610 Dados atualizados até 18.12.2017. Disponível em http://www.tjrs.jus.br.
611 Dados atualizados até 18.12.2017. Disponível em https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
614 “Em suma, O SCPC SCORE CRÉDITO, além do método kafkaniano de julgamento da credibilidade
do consumidor, da forma como é disponibilizado, sequer se mostra um cadastro positivo, mas sim
se revela um cadastro com caráter desabonatório muito mais danoso que os registros negativos
tradicionais (por inadimplência), que são de fácil compreensão, podem ser consultados sem
dificuldade e, após o prazo de 5 anos, adimplemento da obrigação ou ordem judicial, são cancelados,
ao contrário do SCPC SCORE CRÉDITO, que restringe o crédito sem critérios conhecidos pelo
consumidor, atribuindo juízo negativo de valor ao mesmo injustamente, induzindo comerciante
que consulta-o a negar crédito mesmo ao consumidor que está com o ‘nome limpo’” (Processo nº
001/1.12.0110621-5, 10ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre, trecho da petição inicial, fls. 3).
615 “O serviço de consulta prestado pelo requerido limita-se a duas situações específicas: a) informar
ao comerciante a existência de atuais restrições financeiras em nome do solicitante do crédito e, b)
realizar a análise de crédito do consumidor mediante aplicação de critérios obietivos, posto que dita
análise parte justamente dos dados informados pelo próprio consumidor no momento em que solicita
o crédito (apenas quando solicitado pelo estabelecimento comercial). (...) Nessa medida, o mesmo
consumidor pode ter seu crédito analisado em dois estabelecimentos comerciais distintos, no mesmo
dia, e obter crédito em ambos, ou em apenas um deles ou em nenhum. As informações prestadas pelo
demandado ao comerciantesao as mesmas, contudo, a avaliação destes dados é restrita ao responsável
pela concessão do crédito, de acordo com sua política de vendas.” (Processo nº 001/1.12.0110621-5,
10ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre, trecho da contestação, fls. 46-48).
616 “Ocorre Excelência, que os dados dos quais o aludido sistema estatístico se utiliza para formar o
perfil cadastral do consumidor são públicos, tais como, existência ou não de ações judiciais em
face do solicitante do crédito, títulos protestados, etc. ou ainda, dados de que dispõe o próprio
demandado, como por exemplo, o histórico de inadimplência, jamais superior a cinco anos, bem
como e principalmente, as informações prestadas pelo próprio consumidor quando solicita crédito,
a exemplo do valor de renda mensal, etc.” (Processo nº 001/1.12.0110621-5, 10ª Vara Cível do Foro
Central de Porto Alegre, trecho da contestação, fls. 49).
265
Maria Cecília de Araujo Asperti
dados públicos e dados informados pelo próprio consumidor para gerar a esta-
tística do score (seria este apenas um serviço de análise de informações); (iii)
ausência de prova acerca da negativa de crédito, ônus este que competia à parte
autora; e (iv) inexistência dos requisitos de configuração do dever de indenizar
(arts. 186 e 927 do Código Civil).
Ainda na contestação, a conduta do autor e dos demais litigantes que ques-
tionam judicialmente o sistema de scoring é criticada pela ré e taxada de opor-
tunista e de representativa da “indústria do dano moral”617.
A ação civil pública da qual se originou o segundo RRC afetado foi manejada
com base em elementos coletados no Inquérito Civil nº 157/2010. Este, por seu
turno, fora instaurado a partir de elementos do processo nº 001/1.09.0233781-9,
encaminhado pela 3ª Vara Cível do Foro Central da Comerca de Porto Alegre
ao Ministério Público618.
Concluído o Inquérito Civil, o Ministério Público ajuizou ação civil pública
contra a CDL pleiteando, em síntese: (i) a suspensão liminar do “Crediscore”
enquanto não este não se adequar ao quanto disposto na Lei nº 12.414/2011,
especialmente no que tange aos critérios de formação do banco de dados, acesso
destes ao consumidor e autorização prévia para cadastramento, excluindo-se
617 Conforme trecho da contestação em que a ré afirma que esta seria “mais uma medida característica
da indústria do dano moral, na qual se procuram brechas no sistema empresarial para obter vantagens
indevidas junto ao Judiciário” (Processo nº 001/1.12.0110621-5, 10ª Vara Cível do Foro Central de
Porto Alegre, trecho da contestação, fls. 51).
618 A ação em questão fora ajuizada por Carla de Deus Vieira contra a Câmara de Dirigentes Lojistas
de Porto Alegre - CDL e a Companhia Zaffari Bourbon, na qual a autora sustenta que não teria
conseguido obter crédito em razão de dados do sistema “Crediscore”. A autora dessa demanda foi
representada pelo mesmo advogado que representou os interesses do recorrido/autor do Recurso
Especial nº 1.419.697/RS (Dr. Lisandro Moraes), suscitando uma argumentação semelhante para
pleitear, também, o acesso aos dados do “Crediscore” e o pagamento de indenização por danos
morais. Importante pontuar que a despeito de serem suscitadas praticamente as questões jurídicas,
a narrativa dos fatos desse caso não se confunde com a da ação individual ajuizada em nome de
Anderson Guilherme Prado Soares. Nesse processo, explica-se como a autora tomou conhecimento
do sistema de Crediscore, mantido pela CDL, e quais as restrições que lhe foram aplicadas a partir
de sua pontuação. Narra-se, por exemplo, a informação obtida de que estabelecimentos que utilizam
o Crediscore apenas reavaliam o consumidor rejeitado 6 meses após a primeira análise, e somente se
houver alguma mudança nos dados avaliados. Novamente, se traz à tona o caráter confidencial da
pontuação e a tentativa da autora de obter informações a respeito (Processo nº 001/1.09.0233781-9,
3ª Vara Cível de Porto Alegre, fls. 2-7).
266
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
todos os dados existentes, sob pena de multa diária por descumprimento; (ii)
a confirmação da tutela concedida liminarmente; (iii) indenização ao paga-
mento de danos morais e materiais causados aos consumidores individualmente
considerados, na forma dos artigos 6º, VI, 91 e 95, do CDC; (iv) indenização
por danos difusos, no valor de R$ 300.000,00, a ser destinado ao “Fundo de
Reconstituição de Bens Lesados”, conforme previsto pelo artigo 13 da Lei nº
7.347/1985; e (v) cumprimento de obrigação de fazer consistente em publicar,
após o trânsito em julgado, uma mensagem em jornais de grande circulação
acerca da sentença proferida para que os consumidores possam postular a re-
composição individual pelos danos sofridos (Processo nº 001/1.12.0109378-4
– 15ª Vara Cível da Comarca de Porto Alegre).
A ação coletiva foi ajuizada pelo Ministério Público, pela Promotoria de Jus-
tiça Especializada de Direito do Consumidor. A ré, por sua vez, é uma associa-
ção comercial estabelecida em Porto Alegre que realiza serviços de consultoria
de negócios e de crédito, em parceria com a SCPC. Foram 5.890 recursos em
trâmite perante o STJ619 envolvendo a CDL.
Tanto o Ministério Público quanto a CDL podem ser considerados liti-
gantes repetitivos, assinalando-se a particularidade dessa tipologia aplicada
ao Ministério Público620 que, em realidade, atua nesse caso como substituto
processual e legitimado extraordinário para defesa de direitos de consumido-
res que tivessem restrições ou negativas de crédito em razão da pontuação do
sistema de score de crédito.
Quanto aos advogados das partes, tem-se, no polo ativo, a atuação de
uma promotoria especializada do Ministério Público e, representando a
CDL, o escritório Freitas, Macedo e Dalcin Advogados621, que elaborou a
contestação, e o escritório Frabris, Sittoni e Terra Advogados622, que passou
267
Maria Cecília de Araujo Asperti
a atuar a partir do recurso. Pelo site das referidas bancas, pode se extrair que
enquanto a primeira possui um perfil full service, com atuação em diversas
áreas do Direito, a segunda poderia ser entendida como uma boutique de
serviços jurídicos623, tendo como um de seus dois sócios um professor de
prestigiosas universidades gaúchas.
Nesse caso, podemos afirmar que tanto no polo ativo, quanto passivo, atu-
aram promotores/advogados especializados de acordo com a matéria (con-
sumidor/empresarial) e com o perfil da clientela (consumidores/empresas
prestadoras de serviços).
Analisando-se as principais alegações deduzidos pelas partes, tem-se que
o Ministério Público sustenta que, após ter contato com o processo judicial
encaminhado à Promotoria, averiguou informações a respeito do sistema de
“Crediscore” da CDL, inclusive o teor do contrato firmado entre a associação
e as empresas que contrataram tal serviço, que consistiria em um “fornecimen-
to de dados de um consumidor, por meio de seu CPF”, para obtenção de três
pontuações: uma estimativa de adimplência, a probabilidade de o consumidor
ser negativado nos próximos seis meses e uma pontuação que avalia o risco da
transação diante da média do mercado624. Conclui, a partir dessas informações,
que o sistema é utilizado para subsidiar a concessão ou extensão de crédito a
partir de dados de comportamento do consumidor, pelo o que deverá estar su-
bordinado à Lei nº 12.414/2011.
Assim, a partir desse arcabouço fático, o Ministério Público alega que a
CDL estaria violando: (i) os critérios estabelecidos pela Lei nº 12.414/2011,
em seu artigo 3º, pois o sistema Crediscore possuíria critérios “obscuros”, na
medida em que, conforme seu próprio informativo, são analisadas “400 va-
riáveis comportamentais” e “126 variáveis relacionadas ao comportamento
do cheque”; (ii) ao artigo 43, §4º, do CDC, que estabelece que os bancos de
dados do consumidor são entidades de caráter público e que, portanto, não
podem armezenar informações que não possam ser compartilhadas com o
623 Sobre o perfil de prestação de serviços advocatícios conhecido como full service e boutique,
confira-se GABBAY, Daniela Monteiro; RAMOS, Luciana; SICA, Lígia Pinto. “Corporate Law
Firms: The Brazilian Case”. Paper apresentado no evento The Brazilian Legal Profession in the Age of
Globalization. 10 nov. 2015. Disponível em http://direitosp.fgv.br/evento/brazilian-legal-profession-
age-globalization, acesso em 19 dez. 2017.
624 Processo nº 001/1.12.0109378-4, 15ª Vara Cível da Comarca de Porto Alegre, fl. 3.
268
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
625 “Ademais, o sistema tem caráter mais do que sigiloso; é secreto, conforme mencionou o magistrado na
sentença que acolheu o pedido da reclamante (fl. 142). O contratante desse sistema não poderia sequer
informar sobre a celebração do contrato (item 6.5., fl. 71). Ao consumidor igualmente é subtraído o
direito à informação, conforme se lê na cláusula 6.4 (fl. 70)” (Processo nº 001/1.12.0109378-4, 15ª
Vara Cível da Comarca de Porto Alegre, trecho da petição inicial, fl. 3).
626 Súmula nº 359: “Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação
do devedor antes de proceder à inscrição” (editada em 13.08.2008). Referido entendimento
também foi ratificado em julgamento de Recurso Especial Repetitivo, conforme Tema nº 40:
“A ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição do seu nome em cadastros de
proteção ao crédito, prevista no art. 43, § 2º, do CDC, enseja o direito à compensação por danos
morais” (julgamento em 10.12.2008).
269
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627 Há uma diferença essencial entre a causa de pedir dessa ação coletiva ajuizada pela AGDICC e a
ação proposta pelo Ministério Público: na primeira (Processo nº 001/1.10.0244810-8) a causa de
pedir se orienta, essencialmente, pela aplicação do CDC e para compreensão do score de crédito
como um cadastro de proteção ao crédito, enquanto na segunda (Processo nº 001/1.12.0109378-4),
argumenta-se pela aplicação da Lei de Cadastro Positivo, descrevendo-se o Crediscore como um
sistema que avalia o comportamento do consumidor, sendo, assim, aplicável os dispositivos atinentes
à lei em comento, inclusive quanto à clareza e objetividade das informações, consentimento prévio
do consumidor e acessibilidade das informações a seu respeito. Na ação da AGDICC, não havia
sido pleiteado, inicialmente, o reconhecimento da ilegalidade do Crediscore, mas somente que a
CDL providenciasse o acesso, aos consumidores, aos dados a seu respeito e que somente inserisse
novos dados após a notificação destes. O juízo da 16ª Vara Cível de Porto Alegre determinou que a
AGDICC emendasse a inicial para incorporar, efetivamente, a “macrolide” atinente ao Crediscore,
de modo que fosse também discutida nessa sede a questão da legalidade em si do sistema (decisão
proferida em 15.04.2013), porém tornou sem efeito referida determinação após constatar a existência
desta ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público. Também pelos autos do inquérito civil,
verifica-se que havia, ainda, outra ação coletiva também ajuizada pelo Ministério Público (Processo
nº 001.11.0164638-2) antes da ação afetada como RRC, na qual, do mesmo modo, a argumentação
e pedidos restringem-se à aplicação do CDC (sem mencionar a Lei do Cadastro Positivo). Nesta,
também foi deferida uma medida liminar para que os consumidores cujos dados estivessem
cadastrados no sistema fossem notificados, excluíndo-se os demais. Foram identificadas, portanto,
três ações coletivas ajuizadas contra a CDL referente ao Crediscore, sendo a afetada aquela que
contém uma argumentação mais completa.
628 Importante anotar que, com relação ao pedido indenizatório da ação coletiva da AGDICC, seriam
beneficiados apenas os seus associados, conforme artigo 2-A da Lei nº 9494/97 e de acordo com
decisão proferida pelo juízo da 16ª Vara Cível de Porto Alegre em 23.10.2010.
629 Argumenta-se serem avaliadas não só as características do consumidor, mas também do lojista, do
perfil do seu negócio, de sua carteira de crédito, etc. (Processo nº 001/1.12.0109378-4, 15ª Vara Cível
da Comarca de Porto Alegre, fl. 335).
270
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
630 “O sistema oferecido pela ré, verdadeiramente, é uma ferramenta de análise comportamental
de crédito do consumidor, que tem por objetivo possibilitar à empresa associada, através de uma
pontuação de crédito, identificar dentre os pretensos clientes aqueles que se encaixam em um
quadro de maior risco para contratação. Trata-se sim de um cadastro oculto realizado em nome
do consumidor, o qual mantém dados armazenados sobre determinada pessoa sem que esta tenha
conhecimento das informações, e, ainda, sem que a mesma possua qualquer restrição nos órgãos
de proteção ao crédito. O produto em questão, salvo melhor juízo, nada mais é do que uma análise
de “risco” da empresa contratante a disponibilizar crédito ao consumidor, utilizando-se de diversas
variáveis comportamentais elaboradas em nome do consumidor, tais como cadastros negativos
anteriormente realizados, cheques sem fundos devolvidos, demandas judiciais ajuizadas contra
empresas, etc. Ou seja, criou o CDL um mecanismo do qual empresa que adquirem o produto se
baseiam a fim de conceder ou não os créditos aos consumidores, sendo estes critérios subjetivos
e sigilosos, atitude esta que viola os princípios da Constituição Federal e do Código de Defesa do
Consumidor, especialmente o princípio da informação previsto no artigo 6º, inciso III, a qual deve
ser clara e adequada sobre os diferentes produtos com especificação correta de suas características.
O CREDISCORE, como frisado, nada mais é do que um banco de dados aberto em nome do
consumidor, sem observância, entretanto, daquilo que disposto no art. 43, do Código de Defesa
do Consumidor” (Sentença da ação da AGDICC contra a CDL, Processo nº 001/1.10.0244810-8,
proferida em 24.06.2013).
271
Maria Cecília de Araujo Asperti
631 O autor argumenta em alegações finais orais não ter tido a oportunidade de se manifestar a respeito
do documento apresentado pela SCPC: “Em tese a documentação foi constituída de forma unilateral,
sem possibilitar a ampla defesa, o contraditório a respeito, violando a própria defesa do consumidor.
As informações que aqui estão são posteriores a data da negativa do crédito, consequentemente
não faz alusão no case, dessa forma peço a impugnação dessa documentação” (Processo nº
001/1.12.0110621-5, 10ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre, fls. 93).
632 Conforme transcrição da audiência:
Juiz: O consumidor tem acesso aos dados do Score, ele diretamente?
Preposta: Não existe um banco de dados.
Juiz: Como é que fica registrado no Score, o que é o Score?
Preposta: É uma ferramenta estatística.
Juiz: E esses dados estatísticos o consumidor tem acesso?
Preposta: Não sei lhe informar.
Juiz: A senhora tem que saber, o art. 345 do Código de Processo Civil lhe coloca esse ônus, a senhora
vem como preposta, tem que saber responder, se não eu lhe aplico a pena de confissão agora! Eu vou
lhe refazer a pergunta e vou lhe dar uma chance de responder, a senhora já advertida, depois eu não
vou advertir de novo! O consumidor tem acesso a esses dados do Score?
Preposta: Sim.
Juiz: Como ele faz para acessar esse dado, ele pode entrar pelo site, ele tem alguma senha que vocês
fornecem, ele vai até a sede do local e pede essa informação?
Preposta: Sim, na sede do local.
Juiz: Ele teria acesso a esses dados estatísticos?
Preposta: Sim.
Juiz: Como ele fica sabendo disso, pela página da internet?
Preposta: Fica sabendo do que?
Juiz: Que tem esses dados estatísticos? A senhora disse que são dados estatísticos, como ele sabe que
tem os dados estatísticos, ele vai numa loja e negam o crédito, aí ele é informado que é no Crediscore
tem dados a teu respeito, é isso que acontece?
Preposta: Não.
Juiz: Então como ele sabe que os dados estão lá?
Preposta: Eu não entendi a sua pergunta, desculpa.
Juiz: Como o consumidor fica sabendo que existem dados no Crediscore a respeito dele?
Preposta: Eu não entendi.
272
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
273
Maria Cecília de Araujo Asperti
a Desembargadora, o dano moral gerado nesse caso seria in re ipsa, não havendo
necessidade de sua comprovação no caso concreto. Considera, portanto, referi-
do sistema abusivo pela sua falta de transparência e de clareza.
Contra referida decisão monocrática, a Boa Vista Serviço S/A interpôs agra-
vo interno, ao qual a 9ª Câmara Cível negou provimento. Há, contudo, voto
vencido da Desembargadora Helena Medeiros Nogueira no sentido de que o
dano moral dependeria de comprovação da negativa de crédito, que configura-
ria o descumprimento do dever de informação e transparência, não podendo se
concluir pela existência de dano moral in re ipsa635.
Foram opostos embargos de declaração, que foram rejeitados, tendo o Re-
curso Especial sido interposto em 10.07.2013, por alegada violação ao artigo
535, I e II, (omissão e contradição no acórdão recorrido), ao artigo 267, VI (ile-
gitimidade passiva) e ao artigo 333, II (ônus do autor de comprovação de fatos
constitutivos de seu direito), do CPC/1973. Também alega inexistência de rela-
ção entre o score e o cadastro positivo, na medida em que aquele é apenas um
sistema estatístico que trabalha com dados fornecidos pelo próprio consumidor
e informações de acesso público.
A análise da sentença e do acórdão revela que a questão fulcral no julga-
mento do caso, até então, era a acessibilidade dos dados pelo consumidor,
que teria o direito de conhecer quais dados são armazenados a seu respeito
para fins de ranqueamento e concessão de crédito. Foi esse o objeto central da
instrução probatória conduzida pelo juízo de primeiro grau e da fundamentação
da decisão monocrática prolatada em sede de apelação.
Também pode se perceber que questões fáticas foram relevantes para o
julgamento do caso, em especial as negativas de crédito embasadas na pontua-
não é um mero serviço ou ferramenta de apoio e proteção aos fornecedores, como quer fazer crer
a demandada, mas uma forma de burlar direitos fundamentais, afrontando toda a sistemática
protetiva do consumidor, que inegavelmente se sobrepõe à proteção do crédito” (Apelação Cível nº
70053783122, 9ª Câmara Cível, fls. 139).
635 “Entrementes, no que tange ao pedido de indenizaçao por danos morais amparado na mera existência
e manutenção do nome da parte autora no serviço, entendo não deve prosperar a pretensão. Isso
porque, ainda que configurada a ilicitude do serviço nos moldes em que apresentado nos autos e a
caracterização do dano moral pelo descumprimento do dever de informação e transparência, não se
denota a configuraçõ do dano moral reclamado pela parte autora pela mera existência e manutenção
de seu nome no referido serviço, mormente porquanto sequer se vislumbra, no caso dos autos, tenha
efetivamento havido abalo de crédito conforme alegado em sua petição inicial, prova plenamente
cabível de produzir e ônus que lhe incumbia nos termos do artigo 333, I, do Código de Processo Civil”
(Apelação Cível nº 70053783122, 9ª Câmara Cível, fls. 136).
274
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
636 Frise-se que todos os processos individuais cujas cópias foram juntadas na ação coletiva foram
ajuizados pelo Dr. Lisando Moraes, tal como na ação individual afetada para fins de julgamento de
recurso especial repetitivo.
637 “Dado o exposto, nos termos do art. 273, caput c/c § 1º, do Código de Processo Civil, defiro o
pedido de antecipação de tutela para: (a) Determinar que a ré efetue no prazo máximo razoável de
30 (trinta) dias, a suspensão do sistema Crediscan/Crediscore para a inclusão de novos cadastros
enquanto o mesmo não se adequar exatamente às imposições previstas na Lei nº 12.414/2011,
especialmente, mas não só relacionadas à formação do banco de dados (art. 3º, § 1º), inscrição
(art. 4º, caput) e divulgação das informações (art. 5º e 6º); (b) que exclua todos os registros dos
consumidores inscritos no sistema CREDISCAN/CREDISCORE, que não requereram a inclusão no
sistema; (c) se abstenha de prestar informações aos seus conveniados, sobre consumidores inscritos
em bancos de dados, enquanto não proceder à regularização referida no item ‘a’. (d) para o caso de
descumprimento das alíneas acima referidas, aplico multa no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais)
por hipótese de descumprimento, devendo eventual valor ser revertido ao Fundo de Reconstituição
dos Bens Lesados, de acordo com o artigo 13 da Lei nº 7.347/85 (Processo nº 001/1.12.0109378-4, 15ª
Vara Cível da Comarca de Porto Alegre, fls. 363-364).
275
Maria Cecília de Araujo Asperti
638 A julgadora cita trecho do voto da Apelação Cível nº 70040483265 em que se considerou que “o SPC
Crediscore tem como objetivo definir um perfil de consumidor conforme a capacidade de crédito e/
ou contrair dívida, não se tratando de um registro negativo, mas sim uma ferramenta de análise do
comportamento do consumidor no mercado" (Processo nº 001/1.12.0109378-4, 15ª Vara Cível da
Comarca de Porto Alegre, fl. 399).
639 “Concentre Scoring é um produto baseado em modelos estatísticos de pontuação de crédito.
Fortemente apoiado em informações negativas, o produto compreende diversos modelos estatísticos,
cada um deles direcionado para um determinado perfil de histórico de crédito. Os modelos fornecem
uma pontuação que representa a probabilidade de um proponente de crédito tornar-se inadimplente
no mercado em um período de 12 meses. Por considerar informações tão abrangentes, o Concentre
Scoring agrega valor aos processos de gestão de risco, mesmo para empresas que já possuem modelos
internos de escoragem de crédito. A utilização conjunta de modelos internos com o Concentre
Scoring permite a otimização do uso das informações nas avaliações de risco de crédito (http://
www.serasaexperian.com.br/solucoes/concentre/concentre_concentrescoring.htm#ixzz1fsNLJJ00)”
(Processo nº 001/1.12.0109378-4, 15ª Vara Cível da Comarca de Porto Alegre, fl. 398).
640 “O Cadastro Positivo é um banco de dados no qual são registrados os compromissos financeiros
e de pagamentos relativos às operações de crédito e obrigações de pagamento liquidadas ou em
andamento por pessoa natural ou jurídica. Com isso, o consumidor cadastrado pode ser acompanhado
também pelo histórico de pagamentos que faz, tornando o processo de concessão de crédito mais
completo e eficaz (https://www2.boavistaservicos.com.br/consumidorpositivo/cadastro-positivo.
php). O Cadastro Positivo é um banco de dados com informações de consumidores que têm histórico
favorável de pagamento (http://www.spcbrasil.org.br/consumidor/cadastro-positivo)” (Processo nº
001/1.12.0109378-4, 15ª Vara Cível da Comarca de Porto Alegre, fl. 399).
276
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
641 “Outro ponto que cabe destacar é que, se há banco de dados relativo aos consumidores, é dever
informar a estes quais os critérios utilizados para a divulgação dos dados registrados naquele, bem
como os parâmetros estabelecidos para a classificação e pontuação atribuída a cada consumidor para
o fim de cálculo de probabilidade de risco, sob pena de atentar ao direito de retificação” (Apelação
nº 70056228738, trecho do voto do Relator Ministro Jorge Luiz Lopes do Canto).
642 “(...) merece guarida em parte a pretensão de suspensão do sistema de avaliação de crédito em
questão, também denominado de “Crediscore”, e exclusão dos consumidores do referido cadastro
ou banco de dados, o qual poderá ser utilizado se houver comunicação previa, demonstrando os
critérios para auferir a pontuação atribuída a cada consumidor, especificando, ponto a ponto, os
itens considerados para chegar ao resultado final da avaliação, que deverá ser informada de maneira
clara, objetiva e adequada. Este dever legal ser para que não gere qualquer dúvida e possibilite a parte
hipossuficiente, em termos técnicos jurídico-econômicos, apresentar eventual discordância quanto
a determinado fator de risco ponderado na média que lhe foi atribuída” (Apelação nº 70056228738,
trecho do voto do Relator Ministro Jorge Luiz Lopes do Canto).
643 Ressalte-se, ainda, que a mera falta de interesse de dados titulares dos direitos individuais homogêneos
em buscar a tutela por meio da ação coletiva não pode implicar a violação dos princípios da isonomia,
da celeridade e da economia processual, acarretando a paralisação do Judiciário na solução de questões
que demandam decisão uniforme, quando eles somente poderão ser beneficiados pela decisão”
(Apelação nº 70056228738, trecho do voto do Relator Ministro Jorge Luiz Lopes do Canto).
644 “Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A liquidação e a execução individual de sentença genérica
proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domicílio do beneficiário, porquanto os
efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos
e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a
277
Maria Cecília de Araujo Asperti
qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474, CPC e 93 e 103,
CDC)” (Recurso Especial nº 1.243.887/PR, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial,
julgamento em 19.10.2011).
645 Os recorrentes foram Carla de Deus Vieira Silveira (representada pelo Dr. Lisandro Goularte Moraes,
advogado também de Anderson Guilherme Prado Soares e de diversos autores de ações individuais);
Acivaldo Roger Pereira Ferreira e Geni Maria Teixeira Fermiano.
278
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
279
Maria Cecília de Araujo Asperti
646 Conforme números atribuídos pelo TJRS: 70053228185, 70053556668, 70053502068, 70053539201,
70053239364, 70052441151, 70052731254, 70053223095, 70052711470, 70053243234, 700527843119,
70052773041, 70053243119, 70053170486, 70053225454.
647 Evani Pereira vs. CDL (Processo originário nº 001/1.11.0091605-0).
648 “Todavia, nos aludidos recursos foram deduzidos pedidos de desistência - já acolhidos -, e remanesce
na Corte Superior, como representativo da controvérsia, apenas o Recurso Especial n. 1.378.138-RS,
que aguarda julgamento. No entanto, mesmo não mais subsistindo os recursos especiais ofertados
como representativos da controvérsia, esta permanece, razão pela qual, por cautela, se mostra
conveniente a admissão do presente recurso, porém sem lastro no 1º do artigo 543-C do Código
de Processo Civil (...).Nesse contexto, considerando a peculiaridade da tese ora examinada - e não
havendo entendimento consolidado da Corte Superior sobre a tese -, razoável se mostra submetê-la
à análise da Corte Superior, viabilizando, assim, a melhor análise da matéria debatida” (Recurso
Especial nº 1.419.697/RS, fls. 277-279 do e-STJ).
649 A Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL) é acionista da Boa Vista Serviços S/A,
conforme informações disponíveis no site desta: <http://www.boavistaservicos.com.br/quem-somos/
acionistas/>, acesso em 12 jul. 2016.
280
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
650 “Tendo em vista as informações prestadas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,
no sentido de, atualmente, estarem pendentes de distribuição - somente no Foro Central da Capital
- 36.724 ações que versam sobre a mesma matéria vertida no presente recurso especial, a exemplo do
decidido nos Recursos Especiais 1.060.210/SC (Rel. Min. Luiz Fux) e 1.251.331/RS (Rel. Min. Maria
Isabel Gallotti), cumpre esclarecer que: a) a suspensão abrange todas as ações em trâmite e que ainda
não tenham recebido solução definitiva; b) não há óbice para o ajuizamento de novas demandas, mas
as mesmas ficarão suspensas no juízo de primeiro grau; c) a suspensão terminará com o julgamento
do presente recurso repetitivo”.
281
Maria Cecília de Araujo Asperti
651 “Tal particularidade, a rigor, parece tornar ainda mais abrangente e aprofundado o debate travado
nos presentes autos da ação coletiva, a autorizar entendimento de que se diferencia daquelas
demandas individuais em que comumente se aplica a suspensão no aguardo do julgamento do mérito
do REsp. n. 1.419.697/RS, destacando-se, aliás, que este versa ação indenizatória cumulada com
declaratória. Nesse contexto, em que pese a relação existente entre o caso dos autos (mormente
quanto à natureza do scoring) e o relativo ao Recurso Especial paradigmático n. 1.419.697/RS, penso
que não se justifica a suspensão do presente feito. Some-se a isso o fato de que, em razão da decisão
ora recorrida, outras demandas em tramitação neste Tribunal de Justiça, envolvendo a discussão
em tela, restaram atingidas pelos seus efeitos, não sendo demais acrescentar que o próprio REsp. n.
1.419.697/RS já identificara a multiplicidade de recursos versando a natureza dos sistemas de escore.
Assim, e também considerando que a análise dos recursos admitidos nos presentes autos poderá
propiciar subsídios ao julgamento, sob a sistemática dos Recursos Repetitivos, do REsp. n. 1.419.697/
RS, entendo, pelas razões expendidas, de prudência afastar a incidência da suspensão aos presentes
autos” (Processo nº 001/1.12.0109378-4, fls. 997-997v).
652 É possível que tenham sido apresentados memoriais escritos diretamente aos ministros, porém não
havia registros nos autos do processo, diferentemente dos memoriais apresentados pela Defensoria
Pública do Rio de Janeiro, por exemplo, que se encontra devidamente juntada aos autos.
282
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
653 “O sistema em debate, nos moldes atuais, constitui verdadeira ‘caixa-preta’ já que capta informações
de vários sistemas, cujos dados não estão acessíveis nem aos usuários do sistema (empresas associadas),
nem aos consumidores cujos dados são analisados para a concessão de crédito e cujas variáveis ou
riscos não são informados aos consumidores (...). Assim, manifesta-se o Ministério Público Federal
pela aplicação dos artigos 4º, 5º e 6º da Lei do Cadastro Positivo e do artigo 43 do Código de Defesa
do Consumidor para que seja assegurado ao consumidor amplo acesso às informações do Crediscore
que lhe dizem respeito, para que possa saber de quais bancos de dados são retiradas as informações, o
peso de cada variável utilizada no cálculo, qual seu score, e ainda que seja a ele possibilitado corrigir
eventuais dados incorretos” (Parecer do Ministério Público Federal, e-STJ 1.461-1.462).
283
Maria Cecília de Araujo Asperti
654 Importante anotar que dentre esses sete indivíduos, quatro são advogados (Emerson, Pedro, Eduardo
e Natani).
284
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Dr. José Levi Mello do Amaral Jr (advogado) Amicus curiae Sim
Presidência de República - SMPE/PR
Federação Brasileira de Bancos - FEBRABAN Dr. Marcos de Barros Lisboa (advogado) Amicus curiae Sim
Instituto Brasileiro de Política e Direito do Dr. Bruno Miragem (advogado) Amicus curiae Sim, desde que dentro dos
Consumidor - BRASILCON parâmetros do CDC e da Lei
do Cadastro Positivo
Banco Central do Brasil Dr. Isaac Menezes Sidney Ferreira (procurador) e Amicus curiae Sim
Sr. Aílton de Aquino Santos (contador e auditor
do Banco Central)
Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional do Dr. Leandro Amaral Provenzano (advogado) Amicus curiae Não
Mato Grosso do Sul
Confederação Brasileira de Aposentados, Dr. Antonio Celso Nogueira Leiria (advogado) Amicus curiae Não
Pensionistas e Idosos - COBAP
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor Dr. Raphael Atherino dos Santos (advogado) Amicus curiae Não
Bancário - IBDConb
Associação dos Poupadores da Caderneta de Dr. Josafar Augusto da Silva Guimarães Amicus curiae Não
Poupança e Assistência a Vítimas de Acidente de (advogado)
Trânsito - PROCOPAR
PROTESTE Associação de Consumidores Dra. Maria Inês Dolci (advogada) Amicus curiae Não
SPC/SC Dr. Rodrigo Titericz (advogado) Interessado Sim
Serasa Experian S/A Dr. Fabiano Robalinho Cavalcanti (advogado) e Interessado Sim
Sr. Vander Nagata (superintendente de
informações sobre consumidores da Serasa
Experian)
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas - Dr. Nival Martins da Silva Júnior (advogado) Interessado Sim
CNDL
Acivaldo Roger Pereira Ferreira (parte) Fabiano Garcia Severgini (advogado) Interessado Não
Ministério Público Federal Dr. José Eleares Marques Teixeira (procurador) Interveniente Sim, desde que haja
transparência para o
consumidor quanto à origem
dos dados e metodologia
utilizada
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro Dra. Larissa Davidovich e Dr. Fábio Ferreira da Interveniente Não
Cunha (defensores)
Ministério Público do Distrito Federal e Dr. Leonardo Roscoe Bessa (promotor) Interveniente Sim, desde que observados os
Territórios critérios de transparência para
o consumidor
Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Dra. Josane de Almeida Heerdt (defensora) Interveniente Não
Sul
Anderson Guilherme Prado Soares Dr. Lisandro Goularte Moraes (advogado) Parte Não
Boa Vista Serviços S/A Dr. Flávio Pereira Lima (advogado) Parte Sim
Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre - Dr. Fernando Smith Fabris (advogado) Parte Sim
CDL/RS
285
Maria Cecília de Araujo Asperti
655 “Trata o Scoring de um software, jamais de um cadastro. Temos, inclusive, ações movidas por pessoas
que sequer têm um cadastro aberto. No nosso caso, no SPC, a pessoa entra com uma ação, você vai
fazer uma consulta no banco de dados, cadastro inexistente, ela jamais esteve no mercado, jamais se
foi possível construir qualquer avaliação sobre ela e, mesmo assim, ela demanda, porque ela ouviu
falar que existe um Scoring, e ela acha que está incluída nesse banco de dados”. (Dr. Rodrigo Titericz,
Representante do SPC S/A, Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl. 301).
656 “Um Sistema Scoring de Crédito é um modelo da estatística. Ele não é uma base de dados, não é
um cadastro. Ele utiliza informações de cadastros fornecidos ou de fontes públicas, como o IBGE,
ou de outras bases de dados, ou cadastro fornecido pelo próprio cliente, enfim, procura agregar as
informações para estimar qual é o risco de um cliente ou de uma operação de crédito. Este ponto
é particularmente importante: muitas vezes o que o Scoring de crédito avalia não é o cliente”
(Dr. Marcos de Barros Lisboa, representante da Febraban, Apenso de materiais e transcrição da
audiência, e-STJ fl. 305).
657 “Não se tratando de armazenar dados, mas de efetuar cálculos que mudam, como bem dito
anteriormente pelo meu antecessor, a cada participação do consumidor no mercado, não há que se
falar em comunicação prévia, pois literal e formalmente não se trata de cadastro, portanto não afeto
ao CDC ou à própria lei que regulamenta o cadastro positivo” (Dr. Rodrigo Titericz, Representante
do SPC S/A, Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl. 303)
658 “As informações que são trazidas são as informações negativas, com base nas regras que regem o Cadastro
Negativo; as informações - e isso é muito importante - trazidas pelo próprio pleiteante do crédito. Ao
assinar uma ficha de cadastro, a pessoa indica quanto ela ganha, indica a escolaridade, os seus documentos
e autoriza, em muitos casos, que esses dados sejam utilizados em transações futuras. Então, o ingresso dos
dados no banco de dados é regido por uma legislação. A utilização dessas informações é livre por parte
daqueles que queiram conceder crédito, porque justamente o erro na concessão implica uma situação de
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
risco diferente daquela combinada”. (Dr. Flávio Pereira Lima, representante da Boa Vista Serviços S/A,
Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl. 334).
659 Foi usado como exemplo para análise do score o autor da ação individual, Anderson Guilherme
Prado Soares (Slides da Boa Vista S/A, Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl.
137-138).
660 Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl. 335.
287
Maria Cecília de Araujo Asperti
661 Texto do slide da Febraban, Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl. 81.
662 “Isso aqui é um pouco o impacto sobre os clientes. Este é o ponto importante. A escoragem
permite que mais crédito sejam concedidos, esses são dados internacionais e dados do Brasil. O
que a escoragem tem é um benefício para a sociedade como um todo. Ela amplia a concessão de
crédito. Esses são dados internacionais de trabalhos acadêmicos, sistematizados pela IFC. E elas
reduzem a inadimplência. A inadimplência é um custo para a sociedade. Todos nós pagamos o
custo da inadimplência. A inadimplência é um custo de produção de crédito. Isso gera maiores
spreads, menores inadimplências, operações de crédito com menor inadimplência são as operações
de crédito com menores taxas de juros para os clientes finais. Então, este não é um debate clientes
x escoragem de crédito. Este é um debate melhor mercado de crédito, com menores taxas de juros
e maior amplidão da oferta de crédito, ou mercado de crédito com maiores taxas de juros e menor
oferta de crédito”. (Dr. Marcos de Barros Lisboa, representante da Febraban, Apenso de materiais e
transcrição da audiência, e-STJ fl. 307).
663 Observações contundentes, ainda que não relacionada diretamente às questões em debate, foram
feitas pela Boa Vista Serviços S/A e pela Serasa Experian, que apresentaram na audiência pública
dados sobre a atuação dos escritórios do Rio Grande do Sul que estariam ajuizando ações similares
que, pela sua coleta, seria 120 mil ações judiciais concentradas em cinco escritórios, que realiza a
consulta ao score diretamente.
Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl. 168 e 176.
664 A empresa apresenta slide com o título “Oportunismo em Números”, e um gráfico com o volume de
ações relativas à matéria no TJRS (Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fl. 99).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
665 Sobre a falta de transparência de critérios, a Defensora Pública Dra. Larissa Davidovich narra o
seguinte exemplo: “A título de exemplo, conto uma experiência prática de uma Defensora Pública
de um determinado estado. Ao tentar contrair crédito, sendo ela uma funcionária pública, com
renda, sem jamais ter sido ‘negativada’, não conseguiu obter aquele crédito. Depois de muito
insistir, por conta de ser amiga de sua gerente, depois de muito tempo, a gerente lhe confidenciou,
morrendo de medo de perder o seu emprego, que existiam muitas ações judiciais propostas pela
Defensora. O que é cômico, porque ela de fato patrocina o interesse de diversos assistidos. Todas
aquelas ações judiciais eram interpostas por terceiros, mas constava o nome dela. Então, nesse
sistema, injustiças acontecem. Sabemos também que não é pouco comum que a negativação é
indevida. Eu, enquanto Defensora Pública, vejo isso todos os dias, pessoas sendo ‘negativadas’
indevidamente. Deve chegar também a este Tribunal esse tipo de coisa. Então, essa consumidora
foi penalizada por um sistema equivocado, violando todas as premissas” (Apenso de materiais e
transcrição da audiência, e-STJ fl. 266).
666 “A impossibilidade de acesso às informações pode fomentar a discriminação e o ilícito criminal (art.
73 do CDC), pois o sigilo impede que os consumidores afetados saibam se os critérios subjetivos
adotados resultam de comparações puramente objetivas ou se há critérios meramente subjetivos (em
nosso entender, ilegais), como questões raciais ou de compras passadas, em que o scoring considera
o objeto de consumo (tipo de carro, bebidas alcoólicas, fumante) para traçar o perfil do consumidor
ideal (...). É inaceitável, contudo, o uso de informações de natureza íntima do consumidor para
fomentar tais regras. A eficácia do mercado não pode se sobrepor aos valores de dignidade da pessoa
humana, previstos constitucionalmente (art. 1º, inciso III da Constituição Federal)” (Slide da
PROTESTE, Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fls.196-196).
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Maria Cecília de Araujo Asperti
“Quem sabe somos nós, quem sabe são as pessoas que entraram com o
processo, que hoje seriam cem mil processos, mas o restante dos quase
duzentos milhões de habitantes do Brasil eles não sabem da existência.
Por que eles não sabem da existência? Exatamente porque a ferramenta é
oculta. Portanto, a ilegalidade do sistema de pontuação parte da afronta
a princípios básicos da Constituição Federal, pois ela é discriminatória e
preconceituosa, gerando juízo de valor sobre os consumidores e induzin-
do as empresas a negarem crédito, mesmo para quem está com o nome
limpo”
(Fala do Dr. Lisandro Goularte Moraes, advogado do autor Anderson
Guilherme Prado Soares)669.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
291
Maria Cecília de Araujo Asperti
Com relação aos critérios para indenização por danos morais, a única fala
que abordou esse ponto mais detidamente foi a do representante da Associação
Nacional de Informação e Defesa do Consumidor – ADICON, que ressaltou
que duas questões foram dirimidas na ação coletiva afetada: a discussão sobre a
ilegalidade do cadastro, que teria sido enfrentada exaustivamente pelo acórdão
recorrido676, e a questão atinente ao dano moral, ponto em que, a seu ver, o
tribunal teria sido contraditório ao determinar a indenização in re ipsa, porém
condicionada à comprovação da negativa do crédito677. Seria, na visão da as-
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
sociação, uma prova negativa complexa que acabaria por inibir seu direito de
questionar a idoneidade da sua pontuação:
proposta pelo Ministério público em desfavor da CDL, no mesmo sistema Credit Score, a questão
é idêntica, determinou a extinção das ações individuais, o que foi objeto de recurso e V. Exa. vai
decidir. (...) A outra situação é o dano moral. (...) Lá S. Exa. também inovou em relação ao dano
moral. E por quê? Porque criou condicionantes à fixação desse dano, muito embora, rogando a
máxima vênia ao Tribunal gaúcho, revelou uma contradição (Apenso de materiais e transcrição da
audiência, e-STJ fl. 276).
678 Apenso de materiais e transcrição da audiência, e-STJ fls. 277.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
680 “O fato de se tratar de uma metodologia de cálculo do risco de concessão de crédito, a partir de
modelos estatísticos, que busca informações em cadastros e bancos de dados disponíveis no mercado
digital, não afasta o dever de cumprimento desses deveres básicos, devendo-se apenas ressalvar dois
aspectos: De um lado, a metodologia em si de cálculo da nota de risco de crédito “credit scoring)
constitui segredo da atividade empresarial, cujas fórmulas matemáticas e modelos estatísticos
naturalmente não precisam ser divulgadas (art. 5º, IV, da Lei 12.414/2011: ..."resguardado o segredo
295
Maria Cecília de Araujo Asperti
empresarial”). De outro lado, não se pode exigir o prévio e expresso consentimento do onsumidor
avaliado, pois não constitui um cadastro ou banco de dados, mas um modelo estatístico” (Recurso
Especial nº 1.419.697/RS, voto do Ministro Relator, fl. 37).
681 “Assim, essas informações, quando solicitadas, devem ser prestadas ao consumidor avaliado, com
a indicação clara e precisa dos bancos de dados utilizados (histórico de crédito), para que ele possa
exercer um controle acerca da veracidade dos dados existentes sobre a sua pessoa, inclusive para
poder retificá-los ou melhorar a sua performance no mercado” (Recurso Especial nº 1.419.697/RS,
voto do Ministro Relator, fl. 38).
682 “A simples circunstância, porém, de se atribuir uma nota insatisfatória a uma pessoa não acarreta,
por si só, um dano moral, devendo-se apenas oportunizar ao consumidor informações claras acerca
dos dados utilizados nesse cálculo estatístico. Entretanto, se a nota atribuída ao risco de crédito
decorrer da consideração de informações excessivas ou sensíveis, violando sua honra e privacidade,
haverá dano moral “in re ipsa”. No mais, para a caracterização de um dano extrapatrimonial, há
necessidade de comprovação de uma efetiva recusa de crédito, com base em uma nota de crédito
baixa por ter sido fundada em dados incorretos ou desatualizados” (Recurso Especial nº 1.419.697/
RS, voto do Ministro Relator, fl. 39).
296
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Percebe-se, pois, que restou vencedora a tese de que o sistema de score consiste
em mera metodologia de cálculo que se usa de dados publicamente disponíveis,
do que seria descabida a arguição de sua ilicitude. Nesse sentido, prevaleceram
os argumentos técnicos apresentados pelas empresas mantenedoras de cadastros.
Muito embora não tenha sido objeto de ampla discussão na audiência pú-
blica, é de grande repercussão o entendimento formulado no caso quanto à ne-
cessidade de o consumidor comprovar a “recusa indevida de crédito pelo uso de
dados incorretos ou desatualizados”683. Não houve contraditório efetivo sobre
683 “Merece acolhida a alegação de inocorrência de dano ‘in re ipsa’ se não houver prova da negativação
do crédito do consumidor consultado, conforme já aludido na primeira parte do voto, no sentido de
que ‘o desrespeito aos limites legais na utilização do sistema ‘credit scoring’, configurando abuso no
exercício desse direito (art. 187 do CC), .... pode ensejar a ocorrência de danos morais nas hipóteses
de utilização de informações excessivas ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011),
bem como nos casos de recusa indevida de crédito pelo uso de dados incorretos ou desatualizados’.
No caso, não tendo sido afirmada pelas instâncias ordinárias a comprovação de recusa efetiva do
crédito ao consumidor recorrido, não é possível o reconhecimento da ocorrência de dano moral.
297
Maria Cecília de Araujo Asperti
Assim, deve-se reconhecer a violação pelo acórdão recorrido, nesse tópico, do disposto no art. 333,
II, do CPC, provendo-se o recurso especial para julgar improcedente a demanda indenizatória, com
inversão dos encargos sucumbenciais, ressalvada a concessão na origem do benefício da assistência
judiciária gratuita” (Recurso Especial nº 1.419.697/RS, voto do Ministro Relator, fls. 42).
684 “
Fico perplexo quando tomo conhecimento da existência de milhares de ações contra essa metodologia
de cálculo, com potencial para gerar milhões de reais de indenizações por danos morais. Acredito
que não podemos congestionar, mais uma vez, o Poder Judiciário. Temos noventa e dois milhões de
demandas em curso no país. E vamos chegar, daqui a pouco, a um bilhão se continuarmos a alimentar
esse tipo de indústria de ações de dano moral simplesmente porque foi feito um cálculo para estimar
limites de crédito. Como bem lembrado pelo eminente relator, nada impede que o cidadão compareça
ao banco ou ao cadastro e peça a retificação de seus dados se estiverem errados. Mas isso ele não quer.
Deseja a indenização por dano moral. Não busca o conserto da informação, e sim a indenização, a
quantificação monetária. Nós, julgadores, temos de medir a repercussão das nossas decisões judiciais
e não estaremos colaborando para a recuperação deste país de capital curto, embaraçando o sistema
de crédito, encarecendo-o, porque o custo dessas indenizações todas, no final, recairá sobre o próprio
consumidor” (Recurso Especial nº 1.457.199/RS, voto do Ministro João Otávio de Noronha, p. 59).
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
Com relação à escolha dos casos paradigmas, não foram declinados critérios
claros, o que poderia ser considerado, com o CPC/2015, como uma violação ao
dever de fundamentação do artigo 489, §1º.
Ainda que o contraditório exercido no caso individual tenha sido satisfató-
rio, é inegável que a ação coletiva encontrava-se melhor instruída, com maior
riqueza de argumentos fáticos e jurídicos.
Verifica-se, contudo, que os elementos fáticos discutidos nos casos pa-
radigmas, apesar de relevantes às decisões proferidas antes de sua afetação,
foram ignorados no julgamento do recurso repetitivo, em que foram ado-
tadas as informações prestadas na audiência. Evidências sobre o funciona-
mento do score, sua acessibilidade e dados utilizados não foram avaliados
durante o julgamento do recursos repetitivo, em que esses pontos foram
discutidos abstratamente.
Nesse sentido, foram deixados de lado as provas documentais e argumentos
deduzidos pelas partes quanto ao uso, pelo score, de informações sobre pendên-
cias financeiras anteriores a cinco anos, ou já excluídas dos bancos de dados.
Esse ponto, que havia sido de grande relevância nos casos paradigma, não foi
devidamente enfrentado no julgamento do recurso repetitivo.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
defendida pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, e foi sustentada por
apenas um dos amici curiae.
Note-se que a participação desses interessados foi admitida dentro do rito
do processo coletivo, e não do julgamento de casos repetitivos. Importaria
refletir se a intervenção teria sido obstada caso não houvesse, dentre os casos
paradigma, uma ação coletiva.
301
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685 “Alega-se, todavia, que os dados utilizados para o cálculo da pontuação do escore são sigilosos, e
englobariam informações a respeito de ações judiciais prescritas e registros já excluídos dos cadastros
restritivos, dentre outras, o que é negado pela recorrida e não enfrentado pelo acórdão recorrido.
Neste ponto, tenho por cabível a aplicação analógica do art. 43, § 5º, do CDC, segundo o qual
"consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos
respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar
novo acesso ao crédito junto aos fornecedores” (Recurso Especial nº 1.457.199/RS, fl. 67).
302
Conclusão
303
Maria Cecília de Araujo Asperti
ou, em outras palavras, para assegurar acesso a quem não tem (ou pouco tem),
ainda que isso implique em reduzir o acesso a quem já muito o tem.
Adotando-se a noção de acesso à justiça enquanto direito social e aborda-
gem metodológica para estudar uma técnica processual, tem-se por necessário
investigar as formas de participação e a experiência dos diferentes sujeitos, bem
como os impactos de sua aplicação. A partir do referencial teórico de Marc
Galanter e da tipologia de litigantes habituais e ocasionais687, foi possível apro-
fundar no estudo das vantagens estratégicas atribuídas àqueles que utilizam o
sistema de justiça de forma mais recorrente e em ações similares, algo próprio
da dinâmica da litigiosidade repetitiva.
Não se pode afastar a importância da participação das partes do caso
paradigma ou, ainda, dos interessados, sob o argumento de que a tese jurídi-
ca conformaria, em verdade, um precedente. As técnicas de julgamento de
casos repetitivos acarretam uma formação provocada de uma tese jurídica,
com o intuito de otimizar a prestação jurisdicional, o que é marcadamente
diferente do precedente, que surge naturalmente em decorrência da autori-
dade de sua ratio decidendi. Justamente em razão do intuito gerencial dessas
técnicas, a tese jurídica consiste em um enunciado normativo autônomo,
a ser aplicado de forma padronizada, e não a partir da aproximação do
arcabouço fático do caso paradigma (os quais sequer estão registrados no
enunciado) e aqueles do caso concreto.
Esse direito de participação não é, em verdade, absoluto, sendo colocado
em constante conflito com outros valores, como a própria duração razoável do
processo. Ainda assim, limitações ao seu exercício devem ser excepcionais, dada
a sua essencialidade tanto como elemento de legitimação da atividade jurisdi-
cional, quanto de seus resultados. Do ponto de vista da efetivação do direito de
acesso à justiça, uma mitigação ao direito de participar somente se justificaria
diante de uma efetiva possibilidade de se desestabilizar a desigualdade entre as
partes, realizando-se, com isso, o potencial distributivo do processo.
Nesse sentido, é necessário problematizar como se dá a participação dos des-
tinatários da tese jurídica considerando as suas diferentes capacidades de influir
na sua formação. Isso porque a definição da tese se dá em um julgamento de
casos paradigmas em que se tem, de um lado, um ou alguns litigantes habituais,
com mais recursos e vantagens estratégicas e, de outro, litigantes ocasionais,
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Anexo
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26 Discussão acerca dos juros São inaplicáveis aos juros remu- REsp 1061530/RS 22/10/2008
remuneratórios em ações que neratórios dos contratos de mú-
digam respeito a contratos tuo bancário as disposições do
bancários. art. 591 c/c o art. 406 do CC/02.
27 Discussão acerca dos juros É admitida a revisão das taxas REsp 1061530/RS 22/10/2008
remuneratórios em ações que de juros remuneratórios em si-
digam respeito a contratos tuações excepcionais, desde que
bancários. caracterizada a relação de consu-
mo e que a abusividade (capaz de
colocar o consumidor em desvan-
tagem exagerada (art. 51, §1 º, do
CDC) fique cabalmente demons-
trada, ante às peculiaridades do
julgamento em concreto.
28 Discussão acerca dos juros re- O reconhecimento da abusivida- REsp 1061530/RS 22/10/2008
muneratórios, da capitalização de nos encargos exigidos no pe-
de juros e da mora em ações ríodo da normalidade contratual
que digam respeito a contratos (juros remuneratórios e capitali-
bancários. zação) descaracteriza a mora.
29 Discussão acerca da mora em A simples propositura da ação de REsp 1061530/RS 22/10/2008
ações que digam respeito a revisão de contrato não inibe a
contratos bancários. caracterização da mora do autor.
30 Discute matérias, quando Nos contratos bancários, não- REsp 1061530/RS 22/10/2008
ativadas em ações que digam -regidos por legislação específica,
respeito a contratos bancários: os juros moratórios poderão ser
a) juros remuneratórios; b) ca- convencionados até o limite de
pitalização de juros; c)mora; d) 1% ao mês.
comissão de permanência; e)
inscrição do nome do devedor
em cadastros de proteção ao
crédito; f) disposições de ofício
no âmbito do julgamento da
apelação acerca de questões
não devolvidas ao tribunal.
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36 Discute matérias, quando Nos contratos bancários, é veda- REsp 1061530/RS 22/10/2008
ativadas em ações que digam do ao julgador conhecer, de ofí-
respeito a contratos bancários: cio, da abusividade das cláusulas.
a) juros remuneratórios; b) ca-
pitalização de juros; c)mora; d)
comissão de permanência; e)
inscrição do nome do devedor
em cadastros de proteção ao
crédito; f) disposições de ofício
no âmbito do julgamento da
apelação acerca de questões
não devolvidas ao tribunal.
37 Discussão sobre indenização Os órgãos mantenedores de ca- REsp 1061134/RS 10/12/2008
por danos morais decorrente dastros possuem legitimidade
de inscrição do nome do deve- passiva para as ações que buscam
dor nos cadastros de restrição a reparação dos danos morais e
ao crédito com ausência de materiais decorrentes da inscri-
comunicação prévia, em espe- ção, sem prévia notificação, do
cial nos casos onde o devedor nome de devedor em seus cadas-
já possua outras inscrições nos tros restritivos, inclusive quando
cadastros de devedores. os dados utilizados para a ne-
gativação são oriundos do CCF
do Banco Central ou de outros
cadastros mantidos por entidade
diversas.
38 Discussão sobre indenização Os órgãos mantenedores de ca- REsp 1061134/RS 10/12/2008
por danos morais decorrente dastros possuem legitimidade
de inscrição do nome do deve- passiva para as ações que buscam
dor nos cadastros de restrição a reparação dos danos morais e
ao crédito com ausência de materiais decorrentes da inscri-
comunicação prévia, em espe- ção, sem prévia notificação, do
cial nos casos onde o devedor nome de devedor em seus cadas-
já possua outras inscrições nos tros restritivos, inclusive quando
cadastros de devedores. os dados utilizados para a ne-
gativação são oriundos do CCF
do Banco Central ou de outros
cadastros mantidos por entidade
diversas.
39 Questão referente à reivindi- A mera existência de ação tendo REsp 990507/DF 10/11/2010
cação e posse das terras que por objeto a declaração de nuli-
o Espólio de Anastácio Perei- dade de registro imobiliário não
ra Braga e Outros alegam ser é suficiente para se concluir pela
de sua propriedade e que hoje ilegitimidade ativa daquele que,
formam o Condomínio Porto com base nesse mesmo registro,
Rico, em Santa Maria no Dis- ajuíza ação reivindicatória.
trito Federal.
40 Discussão sobre indenização A ausência de prévia comunica- REsp 1062336/RS 10/12/2008
por danos morais decorrente ção ao consumidor da inscrição
de inscrição do nome do deve- do seu nome em cadastros de pro-
dor nos cadastros de restrição teção ao crédito, prevista no art.
ao crédito com ausência de 43, § 2º, do CDC, enseja o direito
comunicação prévia, em espe- à compensação por danos morais.
cial nos casos onde o devedor
já possua outras inscrições nos
cadastros de devedores.
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48 Questão referente à legalidade Nos contratos celebrados no âm- REsp 1070297/PR 09/09/2009
do Sistema Francês de Amor- bito do Sistema Financeiro da
tização, também conhecido Habitação, é vedada a capitaliza-
com Tabela Price, em contrato ção de juros em qualquer perio-
celebrado no âmbito do Siste- dicidade, mas não cabe ao STJ,
ma Financeiro de Habitação. todavia, aferir se há capitalização
de juros com a utilização da Ta-
bela Price, por força das Súmulas
5 e 7.
49 Questão referente à limitação O art. 6º, e, da Lei n. 4.380/1964 REsp 1070297/PR 09/09/2009
dos juros remuneratórios ao não estabelece limitação aos ju-
percentual de 10% a.a., com ros remuneratórios nos contratos
base no art. 6º, "e", da Lei n. vinculados ao SFH.
4.380/64, em contrato cele-
brado no âmbito do Sistema
Financeiro de Habitação.
52 Questão referente à legalidade A cobrança de comissão de per- REsp 1058114/RS 12/08/2009
da cláusula que, em contratos manência - cujo valor não pode
bancários, prevê a cobrança da ultrapassar a soma dos encargos
comissão de permanência na remuneratórios e moratórios pre-
hipótese de inadimplência do vistos no contrato - exclui a exigi-
consumidor. bilidade dos juros remuneratórios,
moratórios e da multa contratual.
53 Questiona-se a substituição da No âmbito do Sistema Financei- REsp 969129/MG 09/12/2009
Taxa Referencial - TR - pelo ro da Habitação, a partir da Lei
Índice Nacional de Preço ao n. 8.177/1991, é permitida a utili-
Consumidor - INPC/IBGE -, zação da Taxa Referencial (TR)
como índice de atualização como índice de correção monetá-
monetária do saldo devedor. ria do saldo devedor, que também
será cabível ainda que o contrato
tenha sido firmado antes da Lei
n. 8.177/1991, mas desde que haja
previsão contratual de correção
monetária pela taxa básica de re-
muneração dos depósitos em pou-
pança, sem nenhum outro índice
específico.
54 Questiona-se a obrigatorieda- O mutuário do SFH não pode ser REsp 969129/MG 09/12/2009
de da contratação de Seguro compelido a contratar o seguro
Habitacional diretamente com habitacional obrigatório com a
o agente financeiro ou por se- instituição financeira mutuante
guradora por este indicada. ou com a seguradora por ela in-
dicada.
338
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
75 Questão referente ao emprésti- Considerando que a taxa SELIC, REsp 1003955/RS 12/08/2009
mo compulsório sobre energia em sua essência, já compreende
elétrica, no qual se discute: juros de mora e atualização mo-
a) prescrição - termo a quo; netária, a partir de sua incidência
b) correção monetária plena não há cumulação desse índice
sobre o principal (a partir da com juros de mora.
data do recolhimento até a
data do efetivo pagamento de
juros e de 31 de dezembro até
a data da assembléia de con-
versão), bem como o reflexo
dos juros de 6% ao ano sobre a
diferença de correção monetá-
ria; c) juros remuneratórios de
6% ao ano; d) taxa SELIC; e e)
juros moratórios.
76 Questona-se a existência ou Em demandas sobre a legitimi- REsp 1068944/PB 12/11/2008
não, de legitimidade ou não da dade da cobrança de tarifas por
cobrança da tarifa de assinatu- serviço de telefonia, movidas por
ra mensal relativa à prestação usuário contra a concessionária,
de serviços de telefonia, de li- não se configura hipótese de li-
tisconsórcio passivo necessário tisconsórcio passivo necessário da
entre a empresa concessioná- ANATEL.
ria de telefonia e a ANATEL.
77 Questiona-se a legitimidade É legítima a cobrança de tarifa REsp 1068944/PB 12/11/2008
ou não da cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de
de assinatura mensal relativa telefonia fixa.
à prestação de serviços de te-
lefonia.
78 Questão referente ao emprésti- Cabível a conversão dos créditos REsp 1028592/RS 12/08/2009
mo compulsório sobre energia em ações pelo valor patrimonial
elétrica, no qual se discute: e não pelo valor de mercado, por
a) prescrição - termo a quo; expressa disposição legal (art. 4º
b) correção monetária plena da Lei 7.181/83).
sobre o principal (a partir da
data do recolhimento até a
data do efetivo pagamento de
juros e de 31 de dezembro até
a data da assembléia de con-
versão), bem como o reflexo
dos juros de 6% ao ano sobre a
diferença de correção monetá-
ria; c) juros remuneratórios de
6% ao ano; d) taxa SELIC; e e)
juros moratórios.
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Maria Cecília de Araujo Asperti
346
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
347
Maria Cecília de Araujo Asperti
90 Questiona-se, tendo em vista Por força da isenção concedi- REsp 760246/PR 10/12/2008
a Lei 7.713/88, a cobrança de da pelo art. 6º, VII, b, da Lei
imposto de renda sobre valores 7.713/88, na redação anterior à
recebidos em decorrência do que lhe foi dada pela Lei 9.250/95,
rateio do patrimônio de enti- é indevida a cobrança de imposto
dade de previdência privada. de renda sobre o valor da com-
plementação de aposentadoria
e o do resgate de contribuições
correspondentes a recolhimen-
tos para entidade de previdência
privada ocorridos no período de
1º.01.1989 a 31.12.1995. A quan-
tia que couber por rateio a cada
participante, superior ao valor das
respectivas contribuições, consti-
tui acréscimo patrimonial (CTN,
art. 43) e, como tal, atrai a inci-
dência de imposto de renda.
91 Questiona-se a incidência do As operações de composição grá- REsp 1092206/SP 11/03/2009
ICMS na operação de forneci- fica, como no caso de impressos
mento de embalagens sob en- personalizados e sob encomenda,
comenda associada ao serviço são de natureza mista, sendo que
de composição gráfica. os serviços a elas agregados estão
incluídos na Lista Anexa ao De-
creto-Lei 406/68 (item 77) e à LC
116/03 (item 13.05). Consequen-
temente, tais operações estão
sujeitas à incidência de ISSQN (e
não de ICMS). Confirma-se o en-
tendimento da Súmula 156/STJ:
'A prestação de serviço de com-
posição gráfica, personalizada e
sob encomenda, ainda que envol-
va fornecimento de mercadorias,
está sujeita, apenas, ao ISS.
92 Questão referente às OBRI- As OBRIGAÇÕES AO PORTA- REsp 1050199/RJ 10/12/2008
GAÇÕES AO PORTADOR DOR emitidas pela ELETRO-
emitidas pela ELETROBRÁS BRÁS em razão do empréstimo
na forma da Lei 4.156/62 compulsório instituído pela Lei
(com a redação dada pelo DL 4.156/62 não se confundem com
644/69), em que pleiteia a res- as DEBÊNTURES e, portanto,
tituição dos valores cobrados não se aplica a regra do art. 442
a título de empréstimo com- do CCom, segundo o qual pres-
pulsório sobre energia elétrica, crevem em 20 anos as ações fun-
acrescidos de correção mone- dadas em obrigações comerciais
tária plena e juros. contraídas por escritura pública
ou particular. Não se trata de
obrigação de natureza comercial,
mas de relação de direito admi-
nistrativo a estabelecida entre
a ELETROBRÁS (delegada da
União) e o titular do crédito,
aplicando-se, em tese, a regra do
Decreto 20.910/32.
348
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
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Maria Cecília de Araujo Asperti
114 Questiona-se se o executado O art. 166 do CTN tem como REsp 1110550/SP 22/04/2009
é parte ilegítima para pleitear cenário natural de aplicação as
a redução da alíquota, além hipóteses em que o contribuinte
de negar a existência de de- de direito demanda a repetição do
núncia espontânea, em caso indébito ou a compensação de tri-
de cobrança da majoração da buto cujo valor foi suportado pelo
alíquota do ICMS de 17% para contribuinte de fato.
18% no Estado de São Paulo.
115 Questão referente à necessi- Mostra-se suficiente para autori- REsp 1111003/PR 13/05/2009
dade da juntada dos compro- zar o pleito repetitório a juntada
vantes de pagamento da taxa de apenas um comprovante de
de iluminação pública junta- pagamento da taxa de ilumina-
mente com a petição inicial da ção pública, pois isso demonstra
ação de repetição de indébito que era suportada pelo contri-
tributário. buinte uma exação que veio a
ser declarada inconstitucional.
A definição dos valores exatos
objeto de devolução será feita por
liquidação de sentença, na qual
obrigatoriamente deverá ocorrer
a demonstração do quantum re-
colhido indevidamente.
116 Questão referente à notifica- A remessa do carnê de paga- REsp 1111124/PR 22/04/2009
ção do contribuinte acerca mento do IPTU ao endereço do
do lançamento do IPTU que contribuinte é ato suficiente para
pode dar-se por quaisquer atos a notificação do lançamento tri-
administrativos eficazes de co- butário.
municação, cabendo-lhe com-
provar que não possuía ciência
quanto ao lançamento do im-
posto pelo Município.
117 Questão referente à inaplica- O art. 29-C da Lei 8.036/90, in- REsp 1111157/PB 22/04/2009
bilidade do art. 29-C da Lei troduzido pela Medida Provisória
8.036/90, à execução de valo- 2.164-40/2001 (dispensando a
res correspondentes a honorá- condenação em honorários em
rios advocatícios. demandas sobre FGTS), é norma
especial em relação aos arts. 20 e
21 do CPC e somente se aplica às
ações ajuizadas após a sua vigên-
cia, que se deu em 27.07.2001.
118 Questão referente à compen- É necessária a efetiva comprova- REsp 1111164/BA 13/05/2009
sação de créditos provenientes ção do recolhimento feito a maior
do pagamento indevido de ou indevidamente para fins de
contribuição ao PIS e ao FIN- declaração do direito à compen-
SOCIAL com parcelas venci- sação tributária em sede de man-
das e vincendas dos mesmos dado de segurança.
tributos.
352
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
119 Questiona-se o índice dos ju- Incide a taxa SELIC na repetição REsp 1111189/SP 13/05/2009
ros moratórios em demanda de indébito de tributos estaduais
objetivando a restituição de a partir da data de vigência da lei
contribuição previdenciária de estadual que prevê a incidência
servidor público inativo. de tal encargo sobre o pagamento
atrasado de seus tributos e, rela-
tivamente ao período anterior,
incide a taxa de 1% ao mês, nos
termos do art. 161, § 1º, do CTN,
observado o disposto na súmula
188/STJ, sendo inaplicável o art.
1º-F da Lei 9.494/97.
120 Questiona-se a inadmissibili- A Fazenda Pública pode recusar REsp 1090898/SP 12/08/2009
dade da substituição de penho- a substituição do bem penhorado
ra já realizada por precatórios por precatório.
emitidos pela Fazenda do Esta-
do exequente.
121 Estabelecer se incide imposto São isentas de imposto de renda REsp 1111223/SP 22/04/2009
de renda sobre férias propor- as indenizações de férias propor-
cionais indenizadas e o respec- cionais e respectivo adicional.
tivo adicional.
122 Questão referente à possibili- 1-Tanto o promitente comprador REsp 1111202/SP 10/06/2009
dade de responsabilização do (possuidor a qualquer título) do
promitente vendedor e/ou do imóvel quanto seu proprietário/
promitente comprador pelo promitente vendedor (aquele
pagamento do IPTU na execu- que tem a propriedade registra-
ção fiscal, diante da existência da no Registro de Imóveis) são
de negócio jurídico que visa à contribuintes responsáveis pelo
transmissão da propriedade pagamento do IPTU; 2-cabe à
(contrato de compromisso de legislação municipal estabelecer o
compra e venda). sujeito passivo do IPTU.
123 Discute se é legítima a exigên- É lícito à autoridade administra- REsp 1104775/RS 24/06/2009
cia do pagamento de multa e tiva condicionar a liberação de
demais despesas decorrentes veículo, quando aplicada a pena
do recolhimento do veículo de apreensão, ao pagamento das
em depósito quando válida e multas regularmente notificadas
eficaz a autuação da infração e já vencidas.
de trânsito.
124 Discute se é legítima a exigên- É legal a exigência de prévio paga- REsp 1104775/RS 24/06/2009
cia do pagamento de multa e mento das despesas com remoção
demais despesas decorrentes e estada no depósito para libera-
do recolhimento do veículo ção de veículo apreendido, sendo
em depósito quando válida e que as taxas de estada somente
eficaz a autuação da infração poderão ser cobradas até os 30
de trânsito. primeiros dias.
125 Possibilidade de extinção de As execuções fiscais relativas a REsp 1111982/SP 13/05/2009
ofício de execução fiscal por débitos iguais ou inferiores a R$
carência de ação (interesse de 10.000,00 (dez mil reais) devem
agir) quando o valor excutido ter seus autos arquivados, sem
não superar o valor de alça- baixa na distribuição.
da previsto no art. 20 da Lei
10.522/2002.
353
Maria Cecília de Araujo Asperti
126 Questão referente à ação de Nas ações de desapropriação, os REsp 1111829/SP 13/05/2009
desapropriação por utilidade juros compensatórios incidentes
pública, em que o acórdão re- após a Medida Provisória n. 1.577,
corrido decidiu que os juros de 11/06/1997, devem ser fixados
compensatórios correspondem em 6% ao ano até 13/09/2001 e, a
a 6% ao ano a partir da imissão partir de então, em 12% ao ano,
na posse do imóvel. na forma da Súmula n. 618 do Su-
premo Tribunal Federal.
127 Questão referente à obrigação A responsabilidade pela apre- REsp 1108034/RN 28/10/2009
da Caixa Econômica Federal sentação dos extratos analíticos
em apresentar em juízo os ex- das contas vinculadas do FGTS
tratos analíticos das contas do é exclusiva da Caixa Econômica
FGTS anteriores à centraliza- Federal, inclusive com relação aos
ção, para fins de atualização extratos anteriores à migração
dos saldos. das contas que não tenham sido
transferidas à CEF.
128 Discute-se a possibilidade de Os honorários advocatícios não REsp 1108013/RJ 03/06/2009
condenar a municipalidade são devidos à Defensoria Pública
em honorários advocatícios quando ela atua contra a pessoa
quando a parte, representada jurídica de direito público à qual
por defensor público, restar pertença.
vencedora na demanda. O
julgado recorrido afastou a
ondenação por reconhecer a
existência de confusão entre
credor e devedor.
129 Discute-se a possibilidade de Reconhece-se à Defensoria Pú- REsp 1108013/RJ 03/06/2009
condenar a municipalidade blica o direito ao recebimento
em honorários advocatícios dos honorários advocatícios se
quando a parte, representada a atuação se dá em face de ente
por defensor público, restar federativo diverso do qual é parte
vencedora na demanda. O integrante.
julgado recorrido afastou a
condenação por reconhecer a
existência de confusão entre
credor e devedor.
354
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
130 Possibilidade de prossegui- O Supremo Tribunal Federal de- REsp 1111099/PR 25/08/2010
mento de ações ajuizadas para feriu medida cautelar na ADI nº
repetição de valores referentes 2.189-3 para suspender as nor-
ao pagamento de contribuição mas contidas na Lei Estadual
previdenciária estadual a pen- nº 12.398/98, que dispõe sobre
sionistas e servidores inativos as contribuições dos inativos e
diante da determinação do pensionistas para o fundo de pre-
STF de suspensão cautelar da vidência dos servidores públicos
norma estadual que estabelece do Estado do Paraná, sem, no
seu pagamento. entanto, atribuir-lhe efeito retro-
ativo. A cautela assim deferida
não impede o prosseguimento
dos processos visando justamente
afastar a aplicação da lei ou do ato
normativo suspenso em decisão
provida de eficácia erga omnes,
tampouco o ajuizamento de novas
ações que tenham por fundamen-
to a restituição dos valores cobra-
dos em virtude da norma excluída
do mundo jurídico, ainda que em
caráter precário.
131 Questão referente ao termo O termo inicial para a oposição REsp 1112416/MG 27/05/2009
inicial do prazo para ofereci- dos Embargos à Execução Fiscal
mento dos embargos à execu- é a data da efetiva intimação da
ção fiscal, quando a garantia penhora, e não a da juntada aos
consiste na penhora de bens autos do mandado cumprido.
ou de direitos.
132 Questão referente à possibili- É legítima a incidência de ISS REsp 1111234/PR 23/09/2009
dade de utilização de interpre- sobre os serviços bancários con-
tação extensiva dos serviços gêneres da lista anexa ao DL n.
bancários constantes da Lista 406/1968 e à LC n. 56/1987.
Anexa à Lei Complementar
116/2003 e, para os fatos ju-
rídicos que lhe são pretéritos,
da Lista Anexa ao Decreto-lei
406/68.
133 Questão referente à ausência A autenticação de cópias do Agra- REsp 1111001/SP 04/11/2009
de declaração de autenticidade vo de Instrumento do artigo 522,
das cópias pelo advogado. do CPC, resulta como diligência
não prevista em lei, em face do
acesso imediato aos autos princi-
pais, propiciado na instância local.
A referida providência somente se
impõe diante da impugnação es-
pecífica da parte adversa.
355
Maria Cecília de Araujo Asperti
134 Questão referente às provi- Em execução fiscal, a prescrição REsp 1100156/RJ 10/06/2009
dências indicadas no § 4º do ocorrida antes da propositura da
art. 40 da Lei 6.830/80 que ação pode ser decretada de ofício
somente se aplicam em caso (art. 219, § 5º, do CPC).
de prescrição intercorrente,
razão pela qual se revela pos-
sível a decretação de ofício da
prescrição verificada antes do
ajuizamento, com base no § 5º
do art. 219 do CPC.
135 Questão referente ao prazo É de cinco anos o prazo prescricio- REsp 1105442/RJ 09/12/2009
prescricional aplicável quando nal para o ajuizamento da execu-
o crédito fiscal for decorrente ção fiscal de cobrança de multa de
de multa administrativa. natureza administrativa, contado
do momento em que se torna exi-
gível o crédito, com o vencimento
do prazo do seu pagamento.
136 Questiona-se se é cabível o É cabível a interposição de agravo REsp 1101740/SP 04/11/2009
agravo de instrumento contra de instrumento contra decisão de
decisão concessiva ou dene- magistrado de primeira instância
gatória de liminar em sede de que indefere ou concede liminar
mandado de segurança. em mandado de segurança.
139 Questão referente à aplicação As verbas concedidas ao empre- REsp 1102575/MG 23/09/2009
por analogia do enunciado da gado por mera liberalidade do
Súmula 215 do STJ para abar- empregador, isto é, verba paga
car também as hipóteses de na ocasião da rescisão unilate-
indenizações pagas por libe- ral do contrato de trabalho sem
ralidade ao empregado, já que obrigatoriedade expressa em lei,
estas não possuem natureza convenção ou acordo coletivo,
indenizatória. implicam acréscimo patrimonial
por não possuírem caráter inde-
nizatório, sujeitando-se, assim, à
incidência do imposto de renda.
140 Questão referente à possibili- É imprescindível para a validade REsp 1107460/PE 12/08/2009
dade de comprovação, por ou- da extinção do processo em que se
tros meios idôneos, da existên- discute complementação de corre-
cia de acordo celebrado entre ção monetária nas contas vincula-
o FGTS, com intervenção da das de FGTS a juntada do termo
Caixa Econômica Federal - de adesão devidamente assinado
agente operador, e o titular de pelo titular da conta vinculada.
conta vinculada, para reaver
expurgos inflacionários ocor-
ridos entre dezembro de 1988
e fevereiro de 1989 (16,64%) e
abril de 1990 (44,08%).
141 Questão referente à movimen- O titular da conta vinculada ao REsp 1110848/RN 24/06/2009
tação de valores depositados FGTS tem o direito de sacar o sal-
em conta do FGTS e devolvi- do respectivo quando declarado
dos ao Município pela CEF, em nulo seu contrato de trabalho por
virtude de contrato de traba- ausência de prévia aprovação em
lho declarado nulo por ausên- concurso público.
cia de concurso público.
356
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
142 Questão referente ao termo O prazo de prescrição quinquenal REsp 1110578/SP 12/05/2010
inicial do prazo prescricional para pleitear a repetição tributá-
para ajuizamento de ação de ria, nos tributos sujeitos ao lan-
repetição de tributo instituído çamento de ofício, é contado da
por norma legal declarada in- data em que se considera extinto
constitucional pelo STF. o crédito tributário, qual seja, a
data do efetivo pagamento do tri-
buto. A declaração de inconstitu-
cionalidade da lei instituidora do
tributo em controle concentrado,
pelo STF, ou a Resolução do Se-
nado (declaração de inconstitu-
cionalidade em controle difuso)
é despicienda para fins de conta-
gem do prazo prescricional tanto
em relação aos tributos sujeitos
ao lançamento por homologação,
quanto em relação aos tributos
sujeitos ao lançamento de ofício.
143 Questão referente à contra- Em casos de extinção de execu- REsp 1111002/SP 23/09/2009
riedade aos artigos 535, I e II, ção fiscal em virtude de cancela-
do CPC, por entender não ter mento de débito pela exequente,
sido apurada a culpa do insu- define a necessidade de se perqui-
cesso da execução fiscal; art. rir quem deu causa à demanda a
26, da Lei n. 6.830/80, que fim de imputar-lhe o ônus pelo
prevê a extinção da execução pagamento dos honorários advo-
antes da decisão de primeira catícios.
instância sem qualquer ônus
para as partes; e art. 1º-D, da
Lei n. 9.494/97, que considera
indevidos os honorários advo-
catícios pela Fazenda Pública
também nas execuções fiscais
não embargadas. Considera
inaplicável ao caso a Súmula
n. 153, do STJ.
144 Questão referente à incidência Os descontos incondicionais REsp 1111156/SP 14/10/2009
do ICMS sobre produtos dados nas operações mercantis não se
em bonificação. incluem na base de cálculo do
ICMS.
357
Maria Cecília de Araujo Asperti
145 Questão referente aos períodos Aplica-se a taxa SELIC, a partir REsp 1111175/SP 10/06/2009
de aplicação da Taxa Selic nos de 1º.1.1996, na atualização mo-
juros de mora incidentes sobre a netária do indébito tributário,
repetição de indébito tributário. não podendo ser cumulada, po-
rém, com qualquer outro índice,
seja de juros ou atualização mo-
netária. Se os pagamentos foram
efetuados após 1º.1.1996, o termo
inicial para a incidência do acrés-
cimo será o do pagamento indevi-
do; havendo pagamentos indevi-
dos anteriores à data de vigência
da Lei 9.250/95, a incidência da
taxa SELIC terá como termo a
quo a data de vigência do diplo-
ma legal em tela, ou seja, janeiro
de 1996.
146 Cinge-se a controvérsia sobre É de cinco anos o prazo para a REsp 1112577/SP 09/12/2009
o prazo prescricional para co- cobrança da multa aplicada ante
brança de multa por infração à infração administrativa ao meio
legislação ambiental. ambiente, nos termos do Decreto
nº 20.910/32, o qual que deve ser
aplicado por isonomia, à falta de
regra específica para regular esse
prazo prescricional.
147 Cinge-se a controvérsia sobre Em se tratando de multa admi- REsp 1112577/SP 09/12/2009
o prazo prescricional para co- nistrativa, a prescrição da ação
brança de multa por infração à de cobrança somente tem início
legislação ambiental. com o vencimento do crédito
sem pagamento, quando se tor-
na inadimplente o administrado
infrator.
148 Questão referente à restrição O Plano de Benefícios da Pre- REsp 1112574/MG 26/08/2009
do valor do benefício previden- vidência Social - PBPS, dando
ciário de prestação continuada cumprimento ao art. 202, caput,
ao limite máximo do salário- da Constituição Federal (redação
-de-benefício na data de início original), definiu o valor mínimo
do benefício. do salário-de-benefício, nunca
inferior ao salário mínimo, e seu
limite máximo, nunca superior
ao limite máximo do salário-de-
-contribuição.
149 Questão referente à possibi- É cabível a fixação de multa - de REsp 1112862/GO 13/04/2011
lidade de imposição de multa forma proporcional e razoável
diária prevista no art. 461 do - pelo descumprimento de obri-
CPC, pelo não-cumprimento gação de fazer (astreintes), nos
da obrigação de fazer, qual termos do art. 461, § 4º, do CPC,
seja, correção de contas vincu- no caso de atraso injustificado
ladas do FGTS. no fornecimento em juízo dos
extratos de contas vinculadas ao
FGTS.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
150 Discute que as verbas recebi- As verbas concedidas ao empre- REsp 1112745/SP 23/09/2009
das a título de "compensação gado, por mera liberalidade do
espontânea" e "gratificação empregador, quando da rescisão
não habitual", independente- unilateral de seu contrato de tra-
mente no nome que possuem, balho sujeitam-se à incidência do
são decorrentes de Programa Imposto de Renda.
de Demissão Voluntária -
PDV, havendo que ser aplicado
o enunciado da Súmula 215 do
STJ, que reconhece a não in-
cidência do imposto de renda
nessas hipóteses.
151 Discute que as verbas recebi- A indenização recebida pela ade- REsp 1112745/SP 23/09/2009
das a título de "compensação são a programa de incentivo à de-
espontânea" e "gratificação missão voluntária não está sujeita
não habitual", independente- à incidência do imposto de renda.
mente no nome que possuem,
são decorrentes de Programa
de Demissão Voluntária -
PDV, havendo que ser aplicado
o enunciado da Súmula 215 do
STJ, que reconhece a não in-
cidência do imposto de renda
nessas hipóteses.
152 Questão referente aos maiores Para efeito de apuração de sucum- REsp 1112747/DF 24/06/2009
índices expurgados do FGTS bência, em demanda que tem por
para fins de apuração de su- objeto a atualização monetária
cumbência. de valores depositados em con-
tas vinculadas do FGTS, 'deve-se
levar em conta o quantitativo de
pedidos (isoladamente conside-
rados) que foram deferidos em
contraposição aos indeferidos,
sendo irrelevante o somatório dos
índices'.
153 Questão referente ao reconhe- É legítima a cobrança da tarifa REsp 1113403/RJ 09/09/2009
cimento da inexigibilidade da de água fixada de acordo com as
tarifa cobrada pelo forneci- categorias de usuários e as faixas
mento de água e tratamento de consumo.
de esgoto, em que o Tribunal
de origem decidiu que (a) é
legítima a cobrança progres-
siva da tarifa de água e (b) a
prescrição aplicável ao caso é
qüinqüenal, nos termos do art.
27 do Código de Defesa do
Consumidor.
359
Maria Cecília de Araujo Asperti
154 Questão referente ao reconhe- A ação de repetição de indébito REsp 1113403/RJ 09/09/2009
cimento da inexigibilidade da de tarifas de água e esgoto sujeita-
tarifa cobrada pelo forneci- -se ao prazo prescricional estabe-
mento de água e tratamento lecido no Código Civil.
de esgoto, em que o Tribunal
de origem decidiu que (a) é
legítima a cobrança progres-
siva da tarifa de água e (b) a
prescrição aplicável ao caso é
qüinqüenal, nos termos do art.
27 do Código de Defesa do
Consumidor.
155 Questão referente ao reconhe- A ação de repetição de indébito REsp 1113403/RJ 09/09/2009
cimento da inexigibilidade da de tarifas de água e esgoto sujeita-
tarifa cobrada pelo forneci- -se ao prazo prescricional estabe-
mento de água e tratamento lecido no Código Civil.
de esgoto, em que o Tribunal
de origem decidiu que (a) é
legítima a cobrança progres-
siva da tarifa de água e (b) a
prescrição aplicável ao caso é
qüinqüenal, nos termos do art.
27 do Código de Defesa do
Consumidor.
156 Questão referente à alegação de Será devido o auxílio-acidente REsp 1112886/SP 25/11/2009
impossibilidade de condiciona- quando demonstrado o nexo de
mento da concessão do benefí- causalidade entre a redução de
cio acidentário à irreversibilida- natureza permanente da capa-
de da moléstia incapacitante. cidade laborativa e a atividade
profissional desenvolvida, sendo
irrelevante a possibilidade de re-
versibilidade da doença.
157 Discute-se a aplicação do prin- DESCAMINHO. Incide o princí- REsp 1112748/TO 09/09/2009
cípio da insignificância, tendo pio da insignificância aos débitos
em vista o valor dos tributos tributários que não ultrapassem o
devidos, nos termos da Lei nº limite de R$ 10.000,00 (dez mil
10.522/02. reais), a teor do disposto no art.
20 da Lei nº 10.522/02.
158 Questão referente à averigua- Também com relação ao recebi- REsp 1111177/MG 23/09/2009
ção da incidência do imposto mento antecipado de 10% (dez
de renda sobre os valores re- por cento) da reserva matemática
cebidos a título de antecipação do Fundo de Previdência Privada
("Renda antecipada") de 10% como incentivo para a migração
da "Reserva Matemática" de para novo plano de benefícios,
Fundo de previdência privada, deve-se afastar a incidência do
como incentivo para a migra- imposto de renda sobre a parce-
ção para novo plano de benefí- la recebida a partir de janeiro de
cios da entidade. 1996, na proporção do que já foi
anteriormente recolhido pelo
contribuinte, a título de imposto
de renda, sobre as contribuições
vertidas ao fundo durante o perí-
odo de vigência da Lei 7.713/88.
360
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
159 Questão referente à possibi- A ficção jurídica prevista no ar- REsp 860369/PE 25/11/2009
lidade de compensação dos tigo 11 da Lei nº 9.779/99, não
créditos de IPI relativos à aqui- alcança situação reveladora de
sição de matérias-primas, insu- isenção do Imposto sobre Produ-
mos e produtos intermediários tos Industrializados - IPI que a
tributados à alíquota zero, nos antecedeu.
moldes dos artigos 11 da Lei
9.779/99.
160 Questão referente à inclusão O valor do frete (referente ao REsp 931727/RS 26/08/2009
do valor do frete na base de transporte do veículo entre a
cálculo do ICMS nas vendas montadora/fabricante e a con-
sujeitas à substituição tributá- cessionária/revendedora) integra
ria (artigo 13, § 1º, II, "b", da a base de cálculo do ICMS inci-
Lei Complementar 87/96). dente sobre a circulação da mer-
cadoria, para fins da substituição
tributária progressiva ("para fren-
te"), à luz do artigo 8º, II, "b", da
Lei Complementar 87/96.
161 Questão referente à inclusão Nos casos em que a substituta tri- REsp 931727/RS 26/08/2009
do valor do frete na base de butária (a montadora/fabricante
cálculo do ICMS nas vendas de veículos) não efetua o trans-
sujeitas à substituição tributá- porte, nem o engendra por sua
ria (artigo 13, § 1º, II, "b", da conta e ordem, o valor do frete
Lei Complementar 87/96). não deve ser incluído na base de
cálculo do imposto.
162 Questão referente à legalidade A tributação isolada e autônoma REsp 939527/MG 24/06/2009
da sistemática prevista nos ar- do imposto de renda sobre os ren-
tigos 29 e 36 da Lei 8.541/92, dimentos auferidos pelas pessoas
que determinam a incidência jurídicas em aplicações financeiras
do imposto de renda na fonte, de renda fixa, bem como sobre os
de forma autônoma e isolada, ganhos líquidos em operações re-
nas aplicações financeiras das alizadas nas bolsas de valores, de
pessoas jurídicas, inobstante a mercadorias, de futuros e asseme-
ocorrência de prejuízos. lhadas, à luz dos artigos 29 e 36,
da Lei 8.541/92, é legítima e com-
plementar ao conceito de renda
delineado no artigo 43, do CTN,
uma vez que as aludidas entradas
financeiras não fazem parte da
atividade-fim das empresas.
163 Questão referente ao termo ini- O prazo decadencial quinquenal REsp 973733/SC 12/08/2009
cial do prazo decadencial para para o Fisco constituir o crédito
a constituição do crédito tribu- tributário (lançamento de ofício)
tário pelo Fisco nas hipóteses conta-se do primeiro dia do exercí-
em que o contribuinte não de- cio seguinte àquele em que o lan-
clara, nem efetua o pagamento çamento poderia ter sido efetuado,
antecipado do tributo sujeito a nos casos em que a lei não prevê o
lançamento por homologação. pagamento antecipado da exação
ou quando, a despeito da previ-
são legal, o mesmo inocorre, sem
a constatação de dolo, fraude ou
simulação do contribuinte, inexis-
tindo declaração prévia do débito.
361
Maria Cecília de Araujo Asperti
164 Questão referente à possibi- É devida a correção monetária REsp 1035847/RS 24/06/2009
lidade de correção monetá- sobre o valor referente a créditos
ria de créditos escriturais de de IPI admitidos extemporanea-
IPI referentes à operações de mente pelo Fisco.
matérias-primas e insumos
empregados na fabricação de
produto isento ou beneficiado
com alíquota zero.
165 Questão referente à legalidade É ilícita a exigência de nova cer- REsp 1041237/SP 28/10/2009
da exigência de Certidão Ne- tidão negativa de débito no mo-
gativa de Débito - CND, para mento do desembaraço aduaneiro
o reconhecimento do benefício da respectiva importação, se a
fiscal de drawback no "momen- comprovação de quitação de tri-
to do desembaraço aduaneiro". butos federais já fora apresentada
quando da concessão do benefício
inerente às operações pelo regime
de drawback.
166 Questão referente à possibili- A Fazenda Pública pode subs- REsp 1045472/BA 25/11/2009
dade de substituição da CDA tituir a certidão de dívida ativa
antes da sentença de mérito, (CDA) até a prolação da senten-
na forma do disposto no § 8º, ça de embargos, quando se tratar
do artigo 2º, da Lei 6.830/80, de correção de erro material ou
na hipótese de mudança de formal, vedada a modificação do
titularidade do imóvel sobre o sujeito passivo da execução.
qual incide o IPTU.
167 Questão referente à incidência Incide imposto de renda sobre a REsp 1049748/RN 24/06/2009
do imposto de renda sobre as verba intitulada 'Indenização por
verbas pagas pela PETRO- Horas Trabalhadas' - IHT, paga
BRÁS a título de "indenização aos funcionários da Petrobrás,
por horas trabalhadas" - IHT. malgrado fundada em acordo co-
letivo.
168 Questão referente à possibili- A aquisição de bens integrantes REsp 1075508/SC 23/09/2009
dade de creditamento de IPI do ativo permanente da empresa
relativo à aquisição de ma- não gera direito a creditamento
teriais intermediários que se de IPI.
desgastam durante o processo
produtivo sem contato físico
ou químico direto com as ma-
térias primas (bens destinados
ao uso e consumo).
169 Questão referente à incidência O auxílio condução consubstan- REsp 1096288/RS 09/12/2009
do imposto de renda sobre ver- cia compensação pelo desgaste do
ba paga a título de ajuda de cus- patrimônio dos servidores, que
to pelo uso de veículo próprio utilizam-se de veículos próprios
no exercício das funções profis- para o exercício da sua atividade
sionais (auxílio-condução). profissional, inexistindo acrésci-
mo patrimonial, mas uma mera
recomposição ao estado anterior
sem o incremento líquido neces-
sário à qualificação de renda.
362
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
170 Questão referente à possibi- Sob a égide do Convênio ICMS REsp 977090/ES 25/11/2009
lidade de creditamento de 66/88 (antes, portanto, da entra-
ICMS incidente na energia da em vigor da Lei Complementar
elétrica consumida em estabe- 87/96) não havia direito do contri-
lecimento comercial. buinte ao crédito de ICMS recolhi-
do quando pago em razão de opera-
ções de consumo de energia elétrica.
171 Questão referente à aplicação A retenção da contribuição para REsp 1112467/DF 12/08/2009
às empresas optantes pelo SIM- a seguridade social pelo tomador
PLES do art. 31 da Lei 8.212/91, do serviço não se aplica às empre-
segundo o qual a empresa con- sas optantes pelo Simples.
tratante de serviços executados
mediante cessão de mão de
obra, inclusive em regime de
trabalho temporário, deverá
reter 11% (onze por cento) do
valor bruto da nota fiscal ou
fatura de prestação de serviços.
172 Questão referente à fixação da Demanda envolvendo questões REsp 1111159/RJ 11/11/2009
competência da justiça federal referentes ao empréstimo com-
ou estadual para apreciar de- pulsório sobre energia elétrica
mandas referentes ao emprés- proposta unicamente contra a
timo compulsório estabelecido Eletrobrás, perante a justiça es-
em favor da eletrobrás, nos ca- tadual. (...) O pedido de inter-
sos em que a União manifesta venção da União realizado após
seu interesse no feito apenas a prolação da sentença enseja
após a prolação da sentença. tão somente o deslocamento do
Para tanto, a recorrente alega, processo para o Tribunal Regio-
além do dissídio jurispruden- nal Federal, para que examine o
cial, violação aos artigos 50, e requerimento de ingresso na lide
535, I do CPC, bem como ao e prossiga (se for o caso) seu jul-
artigo 5º da Lei 9469/97. gamento, sem a automática anu-
lação da sentença proferida pelo
juízo estadual.
173 Questão referente à legitimida- O 'contribuinte de fato' (in casu, REsp 903394/AL 24/03/2010
de ativa ad causam do substitu- distribuidora de bebida) não de-
ído (contribuinte de fato) para tém legitimidade ativa ad causam
pleitear a repetição de indébito para pleitear a restituição do in-
decorrente da incidência de IPI débito relativo ao IPI incidente
(tributo indireto) sobre os des- sobre os descontos incondicio-
contos incondicionais. nais, recolhido pelo 'contribuinte
de direito' (fabricante de bebida),
por não integrar a relação jurídica
tributária pertinente.
174 Questão referente à incidência Não incide IPTU, mas ITR, sobre REsp 1112646/SP 26/08/2009
de IPTU sobre imóvel em que imóvel localizado na área urbana
há exploração de atividade do Município, desde que compro-
agrícola, à luz do Decreto-Lei vadamente utilizado em explora-
57/1966. ção extrativa, vegetal, agrícola,
pecuária ou agroindustrial (art.
15 do DL 57/1966).
363
Maria Cecília de Araujo Asperti
175 Questão referente ao cabimento Seja porque o art. 530 do CPC REsp 1113175/DF 24/05/2012
de embargos infringentes relati- não faz restrição quanto à nature-
vamente a questões acessórias, za da matéria objeto dos embargos
a exemplo da fixação de verbas infringentes - apenas exige que a
honorárias, que tenham sido sentença de mérito tenha sido
decididas por maioria de votos. reformada em grau de apelação
Para tanto, alega-se violação ao por maioria de votos -, seja por-
artigo 530 do CPC, bem como que o capítulo da sentença que
dissídio jurisprudencial. trata dos honorários é de mérito,
embora acessório e dependente,
devem ser admitidos os embargos
infringentes para discutir verba
de sucumbência.
176 Discute-se se há, ou não, vio- Tendo sido a sentença exequenda REsp 1112743/BA 12/08/2009
lação à coisa julgada e à norma prolatada anteriormente à en-
do art. 406 do novo Código trada em vigor do Novo Código
Civil, quando o título judicial Civil, fixado juros de 6% ao ano,
exequendo, exarado em mo- correto o entendimento do Tri-
mento anterior ao CC/2002, bunal de origem ao determinar a
fixa os juros de mora em 0,5% incidência de juros de 6% ao ano
ao mês e, na execução do jul- até 11 de janeiro de 2003 e, a par-
gado, determina-se a incidên- tir de então, da taxa a que alude o
cia de juros pela lei nova (CC art. 406 do Novo CC, conclusão
de 2002). que não caracteriza qualquer vio-
lação à coisa julgada.
178 Questão referente à aplicação As diferenças de correção mone- REsp 1112413/AL 23/09/2009
dos expurgos inflacionários no tária resultantes de expurgos infla-
cálculo da correção monetária cionários sobre os saldos de FGTS
dos saldos de conta vinculada têm como termo inicial a data em
do FGTS, reconhecendo que que deveriam ter sido creditadas.
não restou configurado o ex-
cesso de execução, pois o valor
devido deve ser atualizado a
partir da data em que deve-
riam ter sido pagas as diferen-
ças cobradas.
179 Questão referente à alegada A perda da pretensão executiva REsp 1102431/RJ 09/12/2009
impossibilidade de decretação tributária pelo decurso de tempo
de prescrição intercorrente é consequência da inércia do cre-
nos casos de demora na cita- dor, que não se verifica quando a
ção, por motivos inerentes ao demora na citação do executado
mecanismo da justiça. decorre unicamente do aparelho
judiciário.
180 Questão referente à possibi- Inexiste qualquer ilegalidade/ REsp 1113159/AM 11/11/2009
lidade de dedução do valor inconstitucionalidade na deter-
referente à CSLL da base de minação de indedutibilidade da
cálculo da própria contribui- CSSL na apuração do lucro real.
ção para apuração do lucro
real e do Imposto de Renda
(discussão acerca das bases de
cálculo do IRPJ e do CSLL,
previstas nos artigos 43 do
CTN, 47 da Lei 4.506/64 e 1º
da Lei 9.316/96, além das Leis
6.404/76 e 7.689/88).
364
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
181 Questão referente à possibi- O farmacêutico pode acumular a REsp 1112884/MG 26/08/2009
lidade de acumulação, por responsabilidade técnica por uni-
farmacêutico, de responsabi- dade farmacêutica e por unidade
lidade técnica por drogaria e de drogaria, bem como a respon-
farmácia, à luz do que dispõe sabilidade por duas drogarias, es-
o art. art. 20 da Lei 5.991/73 e pécies do gênero 'farmácia'.
art. 15 da Lei 5.991/73.
182 Discussão acerca da exibilidade É dispensado o curador especial REsp 1110548/PB 25/02/2010
do depósito prévio para o co- de oferecer garantia ao Juízo para
nhecimento dos embargos apre- opor embargos à execução.
sentados pelo curador especial.
183 Questão referente à incidência O ICMS incide sobre o preço to- REsp 1106462/SP 23/09/2009
de ICMS sobre os encargos fi- tal da venda quando o acréscimo
nanceiros nas vendas a prazo. é cobrado pelo próprio vendedor
(venda a prazo).
184 Discute-se a fixação da verba O valor dos honorários advoca- REsp 1114407/SP 09/12/2009
honorária em 10% a recair so- tícios em sede de desapropriação
bre a diferença entre a oferta e deve respeitar os limites impostos
o montante fixado a título de pelo artigo 27, § 1º, do Decreto-
indenização. -lei 3.365/41 - qual seja: entre
0,5% e 5% da diferença entre o
valor proposto inicialmente pelo
imóvel e a indenização imposta
judicialmente.
185 BENEFÍCIO ASSISTEN- A limitação do valor da renda REsp 1112557/MG 28/10/2009
CIAL. POSSIBILIDADE DE per capita familiar não deve ser
DEMONSTRAÇÃO DA considerada a única forma de
CONDIÇÃO DE MISERA- se comprovar que a pessoa não
BILIDADE DO BENEFICIÁ- possui outros meios para prover
RIO POR OUTROS MEIOS a própria manutenção ou de tê-
DE PROVA, QUANDO A -la provida por sua família, pois
RENDA PER CAPITA DO é apenas um elemento objetivo
NÚCLEO FAMILIAR FOR para se aferir a necessidade, ou
SUPERIOR A 1/4 DO SALÁ- seja, presume-se absolutamente a
RIO MÍNIMO. miserabilidade quando compro-
vada a renda per capita inferior a
1/4 do salário mínimo.
186 BENEFÍCIO CONCEDIDO É incabível a correção monetária REsp 1113983/RN 28/04/2010
ANTES DA CONSTITUI- dos salários de contribuição con-
ÇÃO FEDERAL VIGENTE. siderados no cálculo do salário de
SA L Á R IO -DE - C ON T R I- benefício de auxílio-doença, apo-
BUIÇÃO. CORREÇÃO MO- sentadoria por invalidez, pensão
NETÁRIA. ou auxílio-reclusão concedidos
antes da vigência da CF/1988.
187 APOSENTADORIA POR É incabível a correção monetária REsp 1113983/RN 28/04/2010
INVALIDEZ. BENEFÍCIO dos salários de contribuição con-
CONCEDIDO ANTES DA siderados no cálculo do salário de
CONSTITUIÇÃO FEDE- benefício de auxílio-doença, apo-
RAL VIGENTE. SALÁRIO- sentadoria por invalidez, pensão
-D E - C O N T R I B U I Ç ÃO. ou auxílio-reclusão concedidos
CORREÇÃO MONETÁRIA. antes da vigência da CF/1988.
365
Maria Cecília de Araujo Asperti
366
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
194 Questão referente à impos- Opostos embargos declaratórios REsp 1049974/SP 02/06/2010
sibilidade de os embargos de de decisão colegiada, o relator
declaração opostos contra de- poderá negar seguimento mono-
cisão de órgão colegiado terem craticamente, com base no caput
seu seguimento obstado mono- do artigo 557 do CPC.
craticamente, ex vi do artigo
537 do CPC.
195 Questão referente à possibili- Os honorários advocatícios de- REsp 963528/PR 02/12/2009
dade de compensação de ho- vem ser compensados quando
norários, nos termos do art. 21 houver sucumbência recíproca,
do CPC, quando da ocorrên- assegurado o direito autônomo
cia de sucumbência recíproca, do advogado à execução do saldo
sem implicar violação ao art. sem excluir a legitimidade da pró-
23 da Lei 8.906/94 - Estatuto pria parte.
da Advocacia.
196 Questão referente à incidência A Contribuição para Financia- REsp 929521/SP 23/09/2009
de COFINS sobre as receitas mento da Seguridade Social - Co-
auferidas com as operações de fins incide sobre as receitas prove-
locação de bens móveis. nientes das operações de locação
de bens móveis.
197 Questão referente à tese de Os juros de mora na indenização REsp 1098365/PR 28/10/2009
que o termo inicial dos juros de do seguro DPVAT fluem a partir
mora, em ação a versar sobre o da citação.
pagamento de indenização re-
ferente ao seguro DPVAT, é o
da data da citação na ação de
cobrança.
198 Questão central trata da Em se tratando de construção REsp 1117121/SP 14/10/2009
competência tributária para a civil, antes ou depois da lei com-
cobrança de ISS, quando da plementar, o imposto é devido no
realização de serviço de enge- local da construção (art. 12, letra
nharia consultiva. O acórdão "b" do DL 406/68 e art. 3º, da LC
impugnado firmou entendi- 116/2003).
mento no sentido de que a
competência tributária para a
cobrança do sobredito imposto
é do município onde se situa o
estabelecimento do prestador.
199 Questão referente à utilização A Taxa SELIC é legítima como REsp 879844/MG 11/11/2009
da taxa SELIC como índice de índice de correção monetária e
correção monetária e de juros de juros de mora, na atualização
de mora, na atualização dos dos débitos tributários pagos em
débitos tributários pagos em atraso, diante da existência de Lei
atraso, diante da existência de Estadual que determina a adoção
Lei Estadual que determina a dos mesmos critérios adotados na
adoção dos mesmos critérios correção dos débitos fiscais.
adotados na correção dos débi-
tos fiscais federais.
367
Maria Cecília de Araujo Asperti
200 Questão referente à nulida- Estão revestidas de legalidade as REsp 1102578/MG 14/10/2009
de do auto de infração, por normas expedidas pelo CON-
considerar insubsistente mul- METRO e INMETRO, e suas
ta fundada em Resolução do respectivas infrações, com o obje-
CONMETRO, com conteúdo tivo de regulamentar a qualidade
material não previsto na nor- industrial e a conformidade de
ma regulamentada. produtos colocados no mercado
de consumo.
201 Questão referente à necessida- Conforme o disposto no artigo REsp 1120616/PR 25/11/2009
de de publicação do editais nos 605 da Consolidação da Leis do
moldes previstos no art. 605 da Trabalho, em respeito ao princí-
CLT para fins de cobrança da pio da publicidade, a publicação,
contribuição sindical rural. em jornais de grande circulação
local, de editais concernentes ao
recolhimento da contribuição
sindical é condição necessária à
eficácia do procedimento do re-
colhimento deste tributo, matéria
que consubstancia pressuposto
para o desenvolvimento regular
do processo e pode ser apreciada
de ofício pelo Juiz.
203 Questão referente aos índices No tocante à correção monetá- REsp 1111201/PE 24/02/2010
de reajuste das contas vincu- ria incidente no mês de fevereiro
ladas ao FGTS (fev/89, jun/90, de 1989, o Superior Tribunal de
jul/90, jan/91 e mar/91). Justiça firmou entendimento de
que deve ser calculada com base
na variação do IPC, ou seja, no
percentual de 10,14%. [...] Em
relação aos demais índices postu-
lados, firmou-se a jurisprudência
desta Corte no sentido de que
a correção dos saldos deve ser
de 9,61% em junho/90 (BTN),
10,79% em julho/90 (BTN),
13,69% em janeiro/91 (IPC) e
8,5% em março/91 (TR).
204 Discute-se a ilegitimidade Nas demandas que tratam da atu- REsp 1112520/PE 24/02/2010
passiva da Caixa Econômica alização monetária dos saldos das
Federal em ações ajuizada para contas vinculadas do FGTS, a le-
requerer a aplicação dos índi- gitimidade passiva ad causam é ex-
ces de atualização monetária clusiva da Caixa Econômica Fede-
dos saldos das contas vincula- ral, por ser gestora do Fundo, com
das ao FGTS. a exclusão da União e dos bancos
depositários (Súmula 249/STJ).
205 Discute-se a obrigatoriedade Nas demandas que tratam da atu- REsp 1112520/PE 24/02/2010
do litisconsórcio passivo ne- alização monetária dos saldos das
cessário da União em ações contas vinculadas do FGTS, a le-
ajuizada para requerer a aplica- gitimidade passiva ad causam é ex-
ção dos índices de atualização clusiva da Caixa Econômica Fede-
monetária dos saldos das con- ral, por ser gestora do Fundo, com
tas vinculadas ao FGTS. a exclusão da União e dos bancos
depositários (Súmula 249/STJ).
368
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
206 Discute-se a obrigatoriedade Nas demandas que tratam da REsp 1112520/PE 24/02/2010
de litisconsórcio passivo ne- atualização monetária dos saldos
cessário dos bancos depositá- das contas vinculadas do FGTS,
rios em ações ajuizada para re- a legitimidade passiva ad causam
querer a aplicação dos índices é exclusiva da Caixa Econômica
de atualização monetária dos Federal, por ser gestora do Fundo,
saldos das contas vinculadas com a exclusão da União e dos
ao FGTS. bancos depositários (Súmula 249/
STJ).
207 Discute-se o prazo prescrional É trintenária a prescrição para REsp 1112520/PE 24/02/2010
para cobrança de correção mo- cobrança de correção monetária
netária de contas vinculadas de contas vinculadas ao FGTS,
ao FGTS. nos termos das Súmula 210/STJ.
208 Estabelecer os índices aplicá- Os acréscimos monetários nas REsp 1112520/PE 24/02/2010
veis para correção monetária contas vinculadas ao Fundo de
de contas vinculadas ao FGTS Garantia do Tempo de Serviço,
nos meses de junho/1987, janei- nos meses de junho/87, janeiro/89,
ro/1989, abril/1990, maio/1990, abril e maio/90 e fevereiro/91 são,
julho/1990, e fevereiro/1991. respectivamente, 18,02% (LBC),
42,72%, 44,80% (IPC), 5,38
(BTN) e 7% (TR). Enunciado da
Súmula 252/STJ.
209 Questão referente à legitimi- O promitente vendedor é parte REsp 1073846/SP 25/11/2009
dade de ex-proprietário de legítima para figurar no pólo pas-
imóvel rural para integrar o sivo da execução fiscal que busca
pólo passivo de execução fis- a cobrança de ITR nas hipóteses
cal, que visa a cobrança de em que não há registro imobiliário
créditos tributários relativos do ato translativo de propriedade.
ao ITR, sendo certa a inexis-
tência de registro no cartório
competente a comprovar a
translação do domínio.
210 Questão referente à ação de O termo inicial dos juros morató- REsp 1118103/SP 24/02/2010
desapropriação por utilidade rios em desapropriações é o dia 1º
pública, em que o acórdão re- de janeiro do exercício seguinte
corrido decidiu que (a) os juros àquele em que o pagamento deve-
moratórios são incidentes a ria ser feito.
partir do trânsito em julga-
do; (b) a cumulação dos juros
compensatórios e moratórios
não implica em anatocismo
vedado pela Lei de Usura.
211 Questão referente à ação de Os juros compensatórios, em de- REsp 1118103/SP 24/02/2010
desapropriação por utilidade sapropriação, somente incidem até
pública, em que o acórdão re- a data da expedição do precatório
corrido decidiu que (a) os juros original (...), não havendo hipótese
moratórios são incidentes a de cumulação de juros moratórios
partir do trânsito em julga- com juros compensatórios.
do; (b) a cumulação dos juros
compensatórios e moratórios
não implica em anatocismo
vedado pela Lei de Usura.
369
Maria Cecília de Araujo Asperti
212 Questão referente à pretensão A extinção das ações de pequeno REsp 1125627/PE 28/10/2009
executória concernente aos ho- valor é faculdade da Administra-
norários advocatícios de valor ção Federal, vedada a atuação ju-
abaixo do estipulado no art. 1º dicial de ofício.
da Lei nº 9.469/97, porque se
configura a "ausência de inte-
resse de agir" do autor "para a
cobrança de verba honorária em
valor ínfimo, que sequer cobriria
as despesas com a execução".
213 AUXÍLIO-ACIDENTE. ART. Para a concessão de auxílio- REsp 1108298/SC 12/05/2010
86 DA LEI 8.213/91. REQUI- -acidente fundamentado na perda
SITO PARA A CONCES- de audição (...), é necessário que
SÃO DO BENEFÍCIO. ALE- a sequela seja ocasionada por
GAÇÃO DE NECESSIDADE acidente de trabalho e que acar-
DE COMPROVAÇÃO DA rete uma diminuição efetiva e
EFETIVA REDUÇÃO DA permanente da capacidade para
CAPACIDADE LABORATI- a atividade que o segurado habi-
VA DO SEGURADO. tualmente exercia.
214 REVISÃO DA RENDA Os atos administrativos praticados REsp 1114938/AL 14/04/2010
MENSAL INICIAL. INCI- antes da Lei 9.784/99 podem ser re-
DÊNCIA DO PRAZO DE vistos pela Administração a qual-
DECADÊNCIA INSTITUÍ- quer tempo, por inexistir norma
DO PELO ART. 103 DA LEI legal expressa prevendo prazo para
8.213/91, COM A REDAÇÃO tal iniciativa. Somente após a Lei
DADA PELA LEI 9.528/97, 9.784/99 incide o prazo decaden-
AOS BENEFÍCIOS CONCE- cial de 5 anos nela previsto, tendo
DIDOS EM DATA ANTE- como termo inicial a data de sua
RIOR À SUA VIGÊNCIA. vigência (01.02.99). (...) Antes de
decorridos 5 anos da Lei 9.784/99,
a matéria passou a ser tratada no
âmbito previdenciário pela MP
138, de 19.11.2003, convertida na
Lei 10.839/2004, que acrescentou
o art. 103-A à Lei 8.213/91 (LBPS)
e fixou em 10 anos o prazo deca-
dencial para o INSS rever os seus
atos de que decorram efeitos favo-
ráveis a seus beneficiários.
215 Questão referente à forma de Sob a égide da Lei n.º 8.212/91, é REsp 1066682/SP 09/12/2009
cálculo da contribuição pre- ilegal o cálculo, em separado, da
videnciária incidente sobre a contribuição previdenciária sobre
gratificação natalina. a gratificação natalina em relação
ao salário do mês de dezembro.
216 Questão referente à forma de A Lei n. 8.620/93, em seu art. 7.º, REsp 1066682/SP 09/12/2009
cálculo da contribuição pre- § 2.º autorizou expressamente a
videnciária incidente sobre a incidência da contribuição previ-
gratificação natalina. denciária sobre o valor bruto do
13.º salário, cuja base de cálculo
deve ser calculada em separado
do salário-de-remuneração do
respectivo mês de dezembro.
370
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
217 Questiona-se a forma de in- Para fins do pagamento dos tribu- REsp 1116399/BA 28/10/2009
terpretação e o alcance da tos com as alíquotas reduzidas, a
expressão serviços hospita- expressão 'serviços hospitalares',
lares, prevista no artigo 15, § constante do artigo 15, § 1º, in-
1º, inciso III, alínea "a", da Lei ciso III, da Lei 9.249/95, deve ser
9.429/95, para fins de recolhi- interpretada de forma objetiva
mento do IRPJ e da CSLL com (ou seja, sob a perspectiva da ati-
base em alíquotas reduzidas. vidade realizada pelo contribuin-
te), devendo ser considerados ser-
viços hospitalares 'aqueles que se
vinculam às atividades desenvol-
vidas pelos hospitais, voltados di-
retamente à promoção da saúde',
de sorte que, 'em regra, mas não
necessariamente, são prestados
no interior do estabelecimento
hospitalar, excluindo-se as sim-
ples consultas médicas, atividade
que não se identifica com as pres-
tadas no âmbito hospitalar, mas
nos consultórios médicos'.
218 Questão referente à necessida- A penhora on line, antes da REsp 1112943/MA 15/09/2010
de da comprovação do esgo- entrada em vigor da Lei n.
tamento das diligências para 11.382/2006, configura-se como
localização de bens de proprie- medida excepcional, cuja efeti-
dade do devedor para a realiza- vação está condicionada à com-
ção das providências previstas provação de que o credor tenha
no art. 655-A do CPC. tomado todas as diligências no
sentido de localizar bens livres e
desembaraçados de titularidade
do devedor.
219 Questão referente à necessida- Após o advento da Lei n. REsp 1112943/MA 15/09/2010
de da comprovação do esgo- 11.382/2006, o Juiz, ao decidir
tamento das diligências para acerca da realização da penho-
localização de bens de proprie- ra on line, não pode mais exigir
dade do devedor para a realiza- a prova, por parte do credor, de
ção das providências previstas exaurimento de vias extrajudi-
no art. 655-A do CPC. ciais na busca de bens a serem
penhorados.
220 Questão referente à impossibi- Descabe a prisão civil do deposi- REsp 914253/SP 02/12/2009
lidade de decretação da prisão tário judicial infiel.
civil do depositário infiel.
221 Questiona-se se o crime de A configuração do crime do art. REsp 1112326/DF 14/12/2011
corrupção de menores afigura- 244-B do ECA independe da pro-
-se formal: é que o resultado ín- va da efetiva corrupção do menor,
sito ao art. 1o. da Lei 2.252/54 por se tratar de delito formal.
- a corrupção, a degradação
moral do menor - evidencia-
-se da consumação ou mesmo
da tentativa, do próprio ilícito
perpetrado pelo agente ativo
com a colaboração - de qual-
quer espécie - de pessoa com
menos de 18 (dezoito) anos.
371
Maria Cecília de Araujo Asperti
372
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
227 Prazo prescricional nas de- O prazo prescricional das ações REsp 1111148/SP 24/02/2010
mandas onde se discute a uti- que visam ao recebimento do
lização do Crédito-Prêmio IPI. crédito-prêmio do IPI, nos termos
do art. 1º do Decreto 20.910/32, é
de cinco anos.
228 Questona-se se é facultado ao O contribuinte pode optar por REsp 1114404/MG 10/02/2010
contribuinte que detém cré- receber, por meio de precatório
dito contra a Fazenda Pública ou por compensação, o indébito
por tributo indevidamente tributário certificado por sen-
pago optar pela restituição via tença declaratória transitada em
precatório ou compensação, julgado.
conforme previsão legal do
ente tributante.
229 Questão referente ao prazo A ação de repetição de indébito REsp 947206/RJ 13/10/2010
prescricional quinquenal ado- (...) visa à restituição de crédito
tado em sede de ação decla- tributário pago indevidamente
ratória de nulidade de lança- ou a maior, por isso que o termo
mentos tributários (art. 1º do a quo é a data da extinção do cré-
Decreto 20.910/32). dito tributário, momento em que
exsurge o direito de ação contra a
Fazenda Pública, sendo certo que,
por tratar-se de tributo sujeito
ao lançamento de ofício, o prazo
prescricional é quinquenal, nos
termos do art. 168, I, do CTN.
230 Questão referente à possibilida- O recurso de apelação devolve, REsp 1030817/DF 25/11/2009
de de o Tribunal a quo se ma- em profundidade, o conhecimen-
nifestar acerca da base de cál- to da matéria impugnada, ainda
culo e semestralidade do PIS, que não resolvida pela sentença,
quando o pedido formulado na nos termos dos parágrafos 1º e 2º
inicial cingiu-se à declaração do art. 515 do CPC, aplicável a re-
de inexistência de relação jurí- gra iura novit curia. Consequen-
dica decorrente da incidência temente, o Tribunal a quo pode
dos Decretos-lei n.º 2.445/88 e se manifestar acerca da base de
2.249/88, sem incorrer em jul- cálculo e do regime da semestra-
gamento extra petita. lidade do PIS, máxime em face da
declaração de inconstitucionali-
dade dos Decretos-lei n. 2.445/88
e 2.249/88.
231 Questão referente ao reconhe- Os Procuradores Federais e os REsp 1042361/DF 16/12/2009
cimento do direito dos procu- Procuradores do Banco Central,
radores federais à intimação consoante preconizado no art. 17
pessoal das decisões proferidas da Lei 10.910, de 15 de julho de
no processo, nos termos do art. 2004, têm como prerrogativa o re-
17 da Lei 10.910/2004. cebimento da intimação pessoal.
232 Definir se a restituição dos Na repetição do indébito tribu- REsp 1125550/SP 14/04/2010
valores indevidamente reco- tário referente a recolhimento
lhidos a título de contribui- de tributo direto, não se impõe
ção previdenciária depende a comprovação de que não hou-
da comprovação de que não ve repasse do encargo financeiro
houve a transferência do custo decorrente da incidência do im-
para o consumidor, consoante posto ao consumidor final, con-
estabelece o art. 89, § 1º, da tribuinte de fato.
Lei 8.213/91.
373
Maria Cecília de Araujo Asperti
233 Discute sobre a legalidade da Nos contratos de mútuo em que REsp 1112879/PR 12/05/2010
cobrança de juros remunerató- a disponibilização do capital é
rios devidos em contratos ban- imediata, o montante dos juros
cários, desde que (i) não haja remuneratórios praticados deve
prova da taxa pactuada ou (ii) ser consignado no respectivo
a cláusula ajustada entre as instrumento. Ausente a fixação
partes não tenha indicado o da taxa no contrato o juiz deve
percentual a ser observado. limitar os juros à média de mer-
cado nas operações da espécie,
divulgada pelo Bacen, salvo se a
taxa cobrada for mais vantajosa
para o cliente.
234 Discute-se a legalidade da co- Nos contratos de mútuo em que REsp 1112879/PR 12/05/2010
brança de juros remunerató- a disponibilização do capital é
rios devidos em contratos ban- imediata, o montante dos juros
cários, desde que (i) não haja remuneratórios praticados deve
prova da taxa pactuada ou (ii) ser consignado no respectivo
a cláusula ajustada entre as instrumento. Ausente a fixação
partes não tenha indicado o da taxa no contrato o juiz deve
percentual a ser observado. limitar os juros à média de mer-
cado nas operações da espécie,
divulgada pelo Bacen, salvo se a
taxa cobrada for mais vantajosa
para o cliente. Em qualquer hipó-
tese, é possível a correção para a
taxa média se for verificada abu-
sividade nos juros remuneratórios
praticados.
235 Questão referente à possibili- A correção monetária é matéria REsp 1112524/DF 01/09/2010
dade ou não de inclusão dos de ordem pública, integrando o
expurgos inflacionários nos pedido de forma implícita, razão
cálculos da correção monetá- pela qual sua inclusão ex officio,
ria, quando não expressamen- pelo juiz ou tribunal, não caracte-
te postulados pelo autor na riza julgamento extra ou ultra pe-
fase de conhecimento. tita, hipótese em que prescindível
o princípio da congruência entre
o pedido e a decisão judicial.
236 Questão referente à legitimi- Em processo de execução, o ter- REsp 1091710/PR 17/11/2010
dade de terceiro prejudicado ceiro afetado pela constrição ju-
para interpor agravo de ins- dicial de seus bens poderá opor
trumento em execução na qual embargos de terceiro à execução
houve ordem de penhora de ou interpor recurso contra a de-
créditos de sua titularidade. cisão constritiva, na condição de
terceiro prejudicado.
237 Questão referente à possibili- É possível ao contribuinte, após REsp 1123669/RS 09/12/2009
dade de oferecimento de ga- o vencimento da sua obrigação
rantia, em sede de ação caute- e antes da execução, garantir o
lar, para a suspensão da exigi- juízo de forma antecipada, para
bilidade do crédito tributário, o fim de obter certidão positiva
cujo respectivo executivo fiscal com efeito de negativa.
ainda não foi ajuizado, visando
à obtenção de certidão positiva
com efeitos de negativa.
374
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
238 Questão referente à possi- A opção pelo Simples de estabele- REsp 1021263/SP 25/11/2009
bilidade de instituições de cimentos dedicados às atividades
ensino que se dediquem ex- de creche, pré-escola e ensino
clusivamente às atividades de fundamental é admitida somente
creche, pré-escolas e ensino a partir de 24/10/2000, data de vi-
fundamental optarem pelo gência da Lei n. 10.034/2000.
SIMPLES.
239 Questão referente à possibili- A Súmula 343, do Supremo Tribu- REsp 1001779/DF 25/11/2009
dade de apreciação, em sede de nal Federal, cristalizou o entendi-
ação rescisória (com o afasta- mento de que não cabe ação resci-
mento da Súmula 343 do STF), sória por ofensa a literal disposição
da questão relativa à isenção de lei, quando a decisão rescinden-
do imposto renda em relação da se tiver baseado em texto legal
às contribuições recolhidas sob de interpretação controvertida nos
a égide da Lei 7.713/88 para a tribunais. A ação rescisória resta
formação do fundo de aposen- cabível, se, à época do julgamento
tadoria, cujo ônus fosse exclusi- cessara a divergência, hipótese em
vamente do participante. que o julgado divergente, ao revés
de afrontar a jurisprudência, viola
a lei que confere fundamento jurí-
dico ao pedido.
240 Questão referente à incidência O imposto de renda incide sobre o REsp 58265/SP 09/12/2009
de imposto de renda sobre o re- resultado positivo das aplicações
sultado das aplicações financei- financeiras realizadas pelas coo-
ras realizadas pelas Cooperativas. perativas, por não caracterizarem
'ato cooperativos típicos'.
241 Questão referente à ilegitimi- O depósito prévio previsto no art. REsp 962838/BA 25/11/2009
dade da exigência de depósito 38, da LEF, não constitui condi-
prévio como condição de pro- ção de procedibilidade da ação
cedibilidade da ação anulató- anulatória, mas mera faculdade
ria de crédito tributário (art. do autor, para o efeito de suspen-
38 da Lei 6.830/80). são da exigibilidade do crédito
tributário, nos termos do art. 151
do CTN, inibindo, dessa forma,
o ajuizamento da ação executiva
fiscal.
242 Questão referente à possibi- As atividades de panificação e de REsp 1117139/RJ 25/11/2009
lidade de creditamento de congelamento de produtos pere-
ICMS incidente sobre a ener- cíveis", 'rotisseria e restaurante',
gia elétrica consumida em es- 'açougue e peixaria' e 'frios e lati-
tabelecimento comercial, à luz cínios' (...) por supermercado não
da Lei Complementar 87/96. configuram processo de industria-
lização de alimentos, (...) razão
pela qual inexiste direito ao credi-
tamento do ICMS pago na entrada
da energia elétrica consumida no
estabelecimento comercial.
375
Maria Cecília de Araujo Asperti
243 Questão referente aos requi- Para fins do art. 543-c do CPC, REsp 956943/PR 20/08/2014
sitos necessários à caracteri- firma-se a seguinte orientação:
zação da fraude de execução 1.1. É indispensável citação válida
envolvendo bens imóveis, ex- para configuração da fraude de
cetuadas as execuções de na- execução, ressalvada a hipótese
tureza fiscal. prevista no § 3º do art. 615-A do
CPC.1.2. O reconhecimento da
fraude de execução depende do
registro da penhora do bem alie-
nado ou da prova de má-fé do ter-
ceiro adquirente (Súmula n. 375/
STJ). 1.3. A presunção de boa-fé é
princípio geral de direito univer-
salmente aceito, sendo milenar
parêmia: a boa-fé se presume; a
má-fé se prova. 1.4. Inexistindo
registro da penhora na matrícula
do imóvel, é do credor o ônus da
prova de que o terceiro adqui-
rente tinha conhecimento de de-
manda capaz de levar o alienante
à insolvência, sob pena de torna-
-se letra morta o disposto no art.
659, § 4º, do CPC. 1.5. Conforme
previsto no § 3º do art. 615-A do
CPC, presume-se em fraude de
execução a alienação ou oneração
de bens realizada após averbação
referida no dispositivo.
245 Questão referente ao condicio- A suspensão da exigibilidade do REsp 1133710/GO 25/11/2009
namento da homologação da crédito tributário superior a qui-
opção pelo REFIS à prestação nhentos mil reais para opção pelo
de garantia no valor do débito Refis pressupõe a homologação
exequendo ou ao arrolamento expressa do comitê gestor e a
de bens, na hipótese em que a constituição de garantia por meio
dívida consolidada seja supe- do arrolamento de bens.
rior a R$ 500.000,00 (art. 3º,
§§ 4º e 5º, da Lei 9.964/00).
246 Questão referente à possibili- É permitida a capitalização de REsp 973827/RS 08/08/2012
dade ou não de capitalização juros com periodicidade inferior
de juros mensais em contratos a um ano em contratos celebra-
bancários, especialmente após dos após 31.3.2000, data da pu-
a entrada em vigor do art. 5° blicação da Medida Provisória
da Medida Provisória n. 2170- n. 1.963-17/2000 (em vigor como
36/2001. MP 2.170-36/2001), desde que ex-
pressamente pactuada.
247 Questão referente à possibili- A capitalização dos juros em pe- REsp 973827/RS 08/08/2012
dade ou não de capitalização riodicidade inferior à anual deve
de juros mensais em contratos vir pactuada de forma expressa
bancários, especialmente após e clara. A previsão no contrato
a entrada em vigor do art. 5° bancário de taxa de juros anual
da Medida Provisória n. 2170- superior ao duodécuplo da men-
36/2001. sal é suficiente para permitir a
cobrança da taxa efetiva anual
contratada.
376
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
377
Maria Cecília de Araujo Asperti
251 Questão referente à definição A natureza jurídica da remunera- REsp 1117903/RS 09/12/2009
da natureza jurídica da remu- ção dos serviços de água e esgoto,
neração cobrada pelo forne- prestados por concessionária de
cimento de água e esgoto por serviço público, é de tarifa ou
concessionária de serviço pú- preço público, consubstanciando,
blico (se taxa ou tarifa/preço assim, contraprestação de caráter
público) para fins de fixação não-tributário, razão pela qual
do prazo prescricional. não se subsume ao regime jurídi-
co tributário estabelecido para as
taxas.
252 Questão referente à definição É vintenário o prazo prescricional REsp 1117903/RS 09/12/2009
da natureza jurídica da remu- da pretensão executiva atinente
neração cobrada pelo forne- à tarifa por prestação de serviços
cimento de água e esgoto por de água e esgoto, cujo vencimen-
concessionária de serviço pú- to, na data da entrada em vigor
blico (se taxa ou tarifa/preço do Código Civil de 2002, era
público) para fins de fixação superior a dez anos. Ao revés,
do prazo prescricional. cuidar-se-á de prazo prescricional
decenal.
253 Questão referente à definição A natureza jurídica da remunera- REsp 1117903/RS 09/12/2009
da natureza jurídica da remu- ção dos serviços de água e esgoto,
neração cobrada pelo forne- prestados por concessionária de
cimento de água e esgoto por serviço público, é de tarifa ou
concessionária de serviço pú- preço público, consubstanciando,
blico (se taxa ou tarifa/preço assim, contraprestação de caráter
público) para fins de fixação não-tributário, razão pela qual
do prazo prescricional. não se subsume ao regime jurídi-
co tributário estabelecido para as
taxas.
254 Questão referente à definição É vintenário o prazo prescricional REsp 1117903/RS 09/12/2009
da natureza jurídica da remu- da pretensão executiva atinente
neração cobrada pelo forne- à tarifa por prestação de serviços
cimento de água e esgoto por de água e esgoto, cujo vencimen-
concessionária de serviço pú- to, na data da entrada em vigor
blico (se taxa ou tarifa/preço do Código Civil de 2002, era
público) para fins de fixação superior a dez anos. Ao revés,
do prazo prescricional. cuidar-se-á de prazo prescricional
decenal.
255 Questão referente à possibili- Os créditos rurais originários de REsp 1123539/RS 09/12/2009
dade de cobrança dos créditos operações financeiras alonga-
provenientes de operações de das ou renegociadas (cf. Lei n.
crédito rural cedido à União 9.138/95), cedidos à União por
pelo Banco do Brasil, nos ter- força da Medida Provisória 2.196-
mos da MP 2.196-3/2001, pelo 3/2001, estão abarcados no con-
rito da execução fiscal. ceito de Dívida Ativa da União
para efeitos de execução fiscal -
não importando a natureza públi-
ca ou privada dos créditos em si.
378
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
256 Questão referente à legitimi- Declarado e não pago o débito REsp 1123557/RS 25/11/2009
dade da recusa de expedição tributário pelo contribuinte, é le-
de certidão positiva com efei- gítima a recusa de expedição de
tos de negativa, na hipótese certidão negativa ou positiva com
de existência de declaração de efeito de negativa.
tributo sujeito ao lançamento
por homologação (DCTF) sem
a antecipação do respectivo
pagamento.
257 Questão referente à forma de Na esfera judicial, a renúncia so- REsp 1124420/MG 29/02/2012
extinção da ação de embargos, bre os direitos em que se funda a
no caso de adesão a acordo de ação que discute débitos incluídos
parcelamento de dívida (RE- em parcelamento especial deve
FIS ou PAES) - se com ou sem ser expressa, porquanto o preen-
resolução de mérito. chimento dos pressupostos para
a inclusão da empresa no referido
programa é matéria que deve ser
verificada pela autoridade admi-
nistrativa, fora do âmbito judicial.
258 Questão referente à possibi- É incabível o mandado de segu- REsp 1124537/SP 25/11/2009
lidade de utilização do man- rança para convalidar a compen-
dado de segurança como via sação tributária realizada pelo
adequada à obtenção da decla- contribuinte.
ração do direito de compen-
sação, nos termos da Súmula
213 do STJ, em oposição à
utilização do mandamus como
meio de validação, pelo Poder
Judiciário, da compensação
anteriormente efetuada.
259 Questão referente à não-inci- Não constitui fato gerador do REsp 1125133/SP 25/08/2010
dência do ICMS sobre o mero ICMS o simples deslocamento
deslocamento de equipamen- de mercadoria de um para outro
tos ou mercadorias entre es- estabelecimento do mesmo con-
tabelecimentos da titularidade tribuinte.
do mesmo contribuinte, em ra-
zão da ausência de circulação
econômica para fins de trans-
ferência de propriedade.
260 Questiona-se a impossibilida- O reforço da penhora não pode REsp 1127815/SP 24/11/2010
de de deferimento ex officio de ser deferido ex officio, a teor dos
reforço da penhora realizada artigos 15, II, da LEF e 685 do
validamente no executivo fis- CPC.
cal, a teor dos artigos 15, II, da
LEF e 667 e 685 do CPC.
261 Questiona-se a cobrança de di- As empresas de construção ci- REsp 1135489/AL 09/12/2009
ferencial de alíquota de ICMS vil não estão obrigadas a pagar
sobre operações interestadu- ICMS sobre mercadorias adquiri-
ais, realizadas por empresa de das como insumos em operações
construção civil, na aquisição interestaduais.
de material a ser empregado na
obra que executa.
379
Maria Cecília de Araujo Asperti
380
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
267 Questão referente à ilegalidade O valor do frete configura parcela REsp 1138159/SP 25/11/2009
da inclusão do valor do trans- estranha ao produto rural, por isso
porte (frete) na base de cálculo que não está inserido na base de cál-
da contribuição previdenciá- culo da contribuição para o FUN-
ria ao FUNRURAL, por não RURAL, que consiste tão-somente
integrar o valor comercial do no valor comercial do produto rural,
produto rural. correspondente ao preço pelo qual é
vendido pelo produtor.
268 Questão referente à desneces- É desnecessária a apresentação REsp 1138202/ES 09/12/2009
sidade da instrução da petição do demonstrativo de cálculo, em
inicial da execução fiscal com execução fiscal, uma vez que a Lei
o demonstrativo de cálculo, n. 6.830/80 dispõe, expressamen-
uma vez não estar arrolado te, sobre os requisitos essenciais
entre os requisitos essenciais para a instrução da petição inicial
impostos pela Lei 6.830/80, e não elenca o demonstrativo de
sendo inaplicável à espécie o débito entre eles.
art. 614, II, do CPC.
269 Questão referente à fixação, Tanto para os requerimentos efe- REsp 1138206/RS 09/08/2010
pelo Poder Judiciário, de prazo tuados anteriormente à vigência
razoável para a conclusão de da Lei 11.457/07, quanto aos pedi-
processo administrativo fiscal. dos protocolados após o advento
do referido diploma legislativo,
o prazo aplicável é de 360 dias a
partir do protocolo dos pedidos
(art. 24 da Lei 11.457/07).
270 Questão referente à fixação, Tanto para os requerimentos efe- REsp 1138206/RS 09/08/2010
pelo Poder Judiciário, de prazo tuados anteriormente à vigência
razoável para a conclusão de da Lei 11.457/07, quanto aos pedi-
processo administrativo fiscal. dos protocolados após o advento
do referido diploma legislativo,
o prazo aplicável é de 360 dias a
partir do protocolo dos pedidos
(art. 24 da Lei 11.457/07).
271 Questão referente à impos- Os efeitos da suspensão da REsp 1140956/SP 24/11/2010
sibilidade de ajuizamento de exigibilidade pela realização
executivo fiscal enquanto pen- do depósito integral do crédi-
dente de julgamento ação anu- to exequendo, quer no bojo de
latória de lançamento fiscal, ação anulatória, quer no de ação
em face da suspensão da exi- declaratória de inexistência de
gibilidade do crédito tributário relação jurídico-tributária, ou
pelo depósito do montante in- mesmo no de mandado de segu-
tegral do débito, nos termos do rança, desde que ajuizados ante-
artigo 151, inciso II, do CTN. riormente à execução fiscal, têm
o condão de impedir a lavratura
do auto de infração, assim como
de coibir o ato de inscrição em
dívida ativa e o ajuizamento da
execução fiscal, a qual, acaso
proposta, deverá ser extinta.
381
Maria Cecília de Araujo Asperti
272 Questiona-se a higidez do O comerciante de boa-fé que ad- REsp 1148444/MG 14/04/2010
aproveitamento de crédito de quire mercadoria, cuja nota fiscal
ICMS, realizado pelo adqui- (emitida pela empresa vendedora)
rente de boa-fé, no que pertine posteriormente seja declarada ini-
às operações de circulação de dônea, pode engendrar o aprovei-
mercadorias cujas notas fiscais tamento do crédito do ICMS pelo
(emitidas pela empresa vende- princípio da não-cumulatividade,
dora) tenham sido, posterior- uma vez demonstrada a veracida-
mente, declaradas inidôneas, à de da compra e venda efetuada,
luz do disposto no artigo 23, da porquanto o ato declaratório da
Lei Complementar 87/96. inidoneidade somente produz
efeitos a partir de sua publicação.
273 Questão referente à possibili- A Fazenda Pública, quer em ação REsp 1123306/SP 09/12/2009
dade de expedição de certidão anulatória, quer em execução em-
de regularidade fiscal a pes- bargada, faz jus à expedição da
soa jurídica de direito público certidão positiva de débito com
quando ajuizada ação antiexa- efeitos negativos, independente-
cional (embargos à execução mente de penhora, posto inexpro-
fiscal ou ação anulatória), na priáveis os seus bens.
ausência de penhora ou causa
de suspensão de exigibilidade
prevista no art. 151 do CTN.
274 Questão referente à incidên- O arrendamento mercantil, con- REsp 1131718/SP 24/03/2010
cia do ICMS sobre a importa- tratado pela indústria aeronáu-
ção de aeronave sob o regime tica de grande porte para viabi-
de arrendamento simples (le- lizar o uso, pelas companhias de
asing operacional). navegação aérea, de aeronaves
por ela construídas, não constitui
operação relativa à circulação de
mercadoria sujeita à incidência
do ICMS.
275 Questão referente à possibili- As leis tributárias procedimen- REsp 1134665/SP 25/11/2009
dade da aplicação retroativa da tais ou formais, conducentes à
Lei Complementar 105/2001 constituição do crédito tributário
(que revogou o artigo 38, da Lei não alcançado pela decadência,
4.595/64, que condicionava a são aplicáveis a fatos pretéritos,
quebra do sigilo bancário à ob- razão pela qual a Lei 8.021/90 e
tenção de autorização judicial) a Lei Complementar 105/2001,
para fins de viabilização da cons- por envergarem essa natureza, le-
tituição do crédito tributário. gitimam a atuação fiscalizatória/
investigativa da Administração
Tributária, ainda que os fatos
imponíveis a serem apurados lhes
sejam anteriores.
276 Questão referente ao direito A aquisição de matéria-prima e/ REsp 1134903/SP 09/06/2010
de creditamento de IPI, no ou insumo não tributados ou su-
momento da saída de produto jeitos à alíquota zero, utilizados
tributado do estabelecimento na industrialização de produto
industrial, no que pertine às tributado pelo IPI, não enseja di-
operações de aquisição de ma- reito ao creditamento do tributo
téria-prima ou insumo isento, pago na saída do estabelecimento
não tributado. industrial.
382
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
383
Maria Cecília de Araujo Asperti
282 Questão referente à incidência Para aferir a incidência dos juros REsp 1116364/PI 26/05/2010
de juros compensatórios nas compensatórios em imóvel impro-
desapropriações para fins de dutivo, deve ser observado o prin-
reforma agrária quando impro- cípio do tempus regit actum, assim
dutivo o imóvel. como acontece na fixação do per-
centual desses juros. As restrições
contidas nos §§ 1º e 2º do art. 15-
A, inseridas pelas MP's n. 1.901-
30/99 e 2.027-38/00 e reedições, as
quais vedam a incidência de juros
compensatórios em propriedade
improdutiva, serão aplicáveis, tão
somente, às situações ocorridas
após a sua vigência.
283 Questão referente à incidência Para aferir a incidência dos juros REsp 1116364/PI 26/05/2010
de juros compensatórios nas compensatórios em imóvel im-
desapropriações para fins de produtivo, deve ser observado o
reforma agrária quando impro- princípio do tempus regit actum,
dutivo o imóvel. assim como acontece na fixação
do percentual desses juros. Pu-
blicada a medida liminar conce-
dida na ADI 2.332/DF (DJU de
13.09.2001), deve ser suspensa
a aplicabilidade dos §§ 1º e 2º
do artigo 15-A do Decreto-lei n.
3.365/41 até que haja o julgamen-
to de mérito da demanda.
284 Questão referente à possibi- O descumprimento das providên- REsp 1008667/PR 18/11/2009
lidade de reconhecimento ex cias enumeradas no caput do art.
officio da ausência de cópia da 526 do CPC, adotáveis no prazo
petição do agravo de instru- de três dias, somente enseja as
mento, do comprovante de sua consequências dispostas em seu
interposição, assim como da parágrafo único se o agravado
relação dos documentos que suscitar a questão formal no mo-
instruíram o recurso, nos ter- mento processual oportuno, sob
mos do art. 526 do CPC. pena de preclusão.
285 Questão referente à validade da A ausência ou o equívoco quanto REsp 1131805/SC 03/03/2010
intimação na qual, malgrado ao número da inscrição do advo-
conste o nome correto do ad- gado na Ordem dos Advogados
vogado, há equívoco quanto ao do Brasil - OAB não gera nuli-
número de inscrição na OAB. dade da intimação da sentença,
máxime quando corretamente
publicados os nomes das partes
e respectivos patronos, informa-
ções suficientes para a identifica-
ção da demanda.
384
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
286 Questão referente à validade da A ausência ou o equívoco quanto REsp 1131805/SC 03/03/2010
intimação na qual, malgrado ao número da inscrição do advo-
conste o nome correto do ad- gado na Ordem dos Advogados
vogado, há equívoco quanto ao do Brasil - OAB não gera nuli-
número de inscrição na OAB. dade da intimação da sentença,
máxime quando corretamente
publicados os nomes das partes
e respectivos patronos, informa-
ções suficientes para a identifica-
ção da demanda. Nada obstante,
é certo que a existência de homo-
nímia torna relevante o equívoco
quanto ao número da inscrição na
OAB, uma vez que a parte é in-
duzida em erro, sofrendo prejuízo
imputável aos serviços judiciários.
287 Questão referente à alegada É legítima a penhora da sede do REsp 1114767/RS 02/12/2009
impenhorabilidade absoluta de estabelecimento comercial.
bem imóvel, sede da empresa
individual executada, por for-
ça do disposto no artigo 649,
V, do CPC.
288 Questiona-se a possibilidade É admissível o ajuizamento de no- REsp 1116287/SP 02/12/2009
de ajuizamento de novos em- vos embargos de devedor, ainda
bargos à execução restritos que nas hipóteses de reforço ou
aos aspectos formais de nova substituição da penhora, quando a
penhora efetuada. discussão adstringir-se aos aspectos
formais do novo ato constritivo.
289 Questiona-se a configuração A renúncia ao crédito exequendo REsp 1143471/PR 03/02/2010
de renúncia tácita na hipótese remanescente, com a consequente
em que a exeqüente, intimada extinção do processo satisfativo,
a se manifestar pela satisfação reclama prévia intimação, vedada
integral do crédito exeqüendo a presunção de renúncia tácita.
ou pelo prosseguimento da
execução de sentença, queda-
-se inerte, dando azo à extin-
ção do processo, com arrimo
no artigo 794, I, do CPC.
293 Questão referente à aplicação O repasse econômico do PIS e da REsp 976836/RS 25/08/2010
do art. 42, § único, do CDC à COFINS realizados pelas empresas
hipótese de repetição dos valo- concessionárias de serviços de tele-
res indevidamente repassados comunicação é legal e condiz com
ao consumidor, nas contas de as regras de economia e de mercado.
telefone, a título de PIS/CO-
FINS, pelas concessionárias de
serviços de telecomunicações.
385
Maria Cecília de Araujo Asperti
294 Questão referente à possibili- A compensação efetuada pelo REsp 1008343/SP 09/12/2009
dade de alegação da compen- contribuinte, antes do ajuizamen-
sação nos embargos à execu- to do feito executivo, pode figurar
ção, em decorrência do adven- como fundamento de defesa dos
to da Lei n.º 8.383/91, desde embargos à execução fiscal, a fim
que se trate de crédito líquido de ilidir a presunção de liquidez e
e certo, como o resultante de certeza da CDA, máxime quan-
declaração de inconstitucio- do, à época da compensação, res-
nalidade da exação, bem como taram atendidos os requisitos da
quando existente lei específica existência de crédito tributário
permissiva da compensação. compensável, da configuração do
indébito tributário, e da existên-
cia de lei específica autorizativa
da citada modalidade extintiva
do crédito tributário.
295 Cinge-se a controvérsia sobre Na restituição do indébito tribu- REsp 1133815/SP 09/12/2009
a taxa de juros de mora a ser tário, os juros de mora são devi-
aplicada na repetição de in- dos, à razão de 1% ao mês, con-
débito da contribuição previ- forme estabelecido no artigo 161,
denciária estadual cobrada de § 1º, do CTN, não prevalecendo
inativos entre a EC 20/98 e a o disposto no artigo 1º-F da Lei
edição da Lei Complementar 9.494/97, acrescentado pela MP
Paulista n.º 954/03, se o art. 2.180-35/01.
1º-F da Lei 9.494/97, como en-
tendeu o aresto recorrido, ou o
art. 161 c/c 167, parágrafo úni-
co, do CTN, como afirmam os
recorrentes.
297 Questiona-se a inexistência A prova exclusivamente testemu- REsp 1133863/RN 13/12/2010
do início de prova material nhal não basta à comprovação da
a corroborar os testemunhos atividade rurícola, para efeito da
apresentados, impossibilitan- obtenção de benefício previden-
do, desta forma, o reconheci- ciário.
mento do trabalho rural, nos
termos da Súmula 149 do STJ.
386
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
303 Questão referente aos índices Quanto ao Plano Collor I (mar- REsp 1147595/RS 08/09/2010
aplicáveis para apuração de di- ço/1990), é de 84,32% fixado
ferenças de correção monetária com base no índice de Preços ao
de valores depositados em Ca- Consumidor (IPC), conforme
dernetas de Poupança, decor- disposto nos arts. 10 e 17, III, da
rentes de Planos Econômicos. Lei 7.730/89, o índice a ser aplica-
do no mês de março de 1990 aos
ativos financeiros retidos até o
momento do respectivo aniversá-
rio da conta; ressalva-se, contudo,
que devem ser atualizados pelo
BTN Fiscal os valores excedentes
ao limite estabelecido em NCz$
50.000,00, que constituíram
conta individualizada junto ao
BACEN, assim como os valores
que não foram transferidos para
o BACEN, para as cadernetas
de poupança que tiveram os pe-
ríodos aquisitivos iniciados após
a vigência da Medida Provisória
168/90 e nos meses subsequentes
ao seu advento (abril, maio e ju-
nho de 1990).
304 Questão referente aos índices Quanto ao Plano Collor II, é de REsp 1147595/RS 08/09/2010
aplicáveis para apuração de di- 20,21%* o índice de correção mo-
ferenças de correção monetária netária a ser aplicado no mês de
de valores depositados em Ca- março de 1991, nas hipóteses em
dernetas de Poupança, decor- que já iniciado o período mensal
rentes de Planos Econômicos. aquisitivo da caderneta de pou-
pança quando do advento do Pla-
no, pois o poupador adquiriu o di-
reito de ter o valor aplicado remu-
nerado de acordo com o disposto
na Lei n. 8.088/90, não podendo
ser aplicado o novo critério de
remuneração previsto na Medida
Provisória n. 294, de 31.1.1991,
convertida na Lei n. 8.177/91.
305 Discussão acerca da legitimidade A Brasil Telecom S/A, como suces- REsp 1034255/RS 28/04/2010
passiva da Brasil Telecom S/A sora por incorporação da Compa-
para responder pelas ações não nhia Riograndense de Telecomu-
subscritas da Companhia Rio- nicações (CRT), tem legitimidade
grandense de Telecomunicações. passiva para responder pela com-
plementação acionária decorrente
de contrato de participação finan-
ceira, celebrado entre adquirente
de linha telefônica e a incorporada.
387
Maria Cecília de Araujo Asperti
306 Discussão acerca da legi- A legitimidade da Brasil Telecom REsp 1034255/RS 28/04/2010
timidade passiva da Brasil S/A para responder pela chamada
Telecom S/A para responder 'dobra acionária', relativa às ações
pelas ações não subscritas da da Celular CRT Participações
Companhia Riograndense de S/A, decorre do protocolo e da
Telecomunicações, bem como justificativa de cisão parcial da
do prazo prescricional para se Companhia Riograndense de Te-
pleitear o pagamento dos di- lecomunicações (CRT), premissa
videndos relativos às ações a fática infensa à análise do STJ por
serem indenizadas. força das Súmulas 5 e 7.
307 Discussão acerca da legi- É devida indenização a título de REsp 1034255/RS 28/04/2010
timidade passiva da Brasil dividendos ao adquirente de li-
Telecom S/A para responder nha telefônica, como decorrência
pelas ações não subscritas da lógica da procedência do pedido
Companhia Riograndense de de complementação das ações da
Telecomunicações, bem como CRT/Celular CRT, a contar do
do prazo prescricional para se ano da integralização do capital.
pleitear o pagamento dos di-
videndos relativos às ações a
serem indenizadas.
308 Discussão acerca da legi- A pretensão de cobrança de inde- REsp 1112474/RS 28/04/2010
timidade passiva da Brasil nização decorrente de dividendos
Telecom S/A para responder relativos à subscrição comple-
pelas ações não subscritas da mentar das ações da CRT/Celular
Companhia Riograndense de CRT prescreve em três anos, nos
Telecomunicações, bem como termos do art. 206, § 3º, inciso III,
do prazo prescricional para se do Código Civil de 2002, somen-
pleitear o pagamento dos di- te começando a correr tal prazo
videndos relativos às ações a após o reconhecimento do direito
serem indenizadas. à complementação acionária.
309 Discussão acerca da legi- A pretensão de cobrança de inde- REsp 1112474/RS 28/04/2010
timidade passiva da Brasil nização decorrente de dividendos
Telecom S/A para responder relativos à subscrição comple-
pelas ações não subscritas da mentar das ações da CRT/Celular
Companhia Riograndense de CRT prescreve em três anos, nos
Telecomunicações, bem como termos do art. 206, § 3º, inciso III,
do prazo prescricional para se do Código Civil de 2002, somen-
pleitear o pagamento dos di- te começando a correr tal prazo
videndos relativos às ações a após o reconhecimento do direito
serem indenizadas. à complementação acionária.
310 Controvérsia subjacente diz Prescreve em 20 (vinte) anos, na REsp 1063661/RS 24/02/2010
respeito ao prazo de prescri- vigência do Código Civil de 1916,
ção para a cobrança de inves- e em 5 (cinco) anos, na vigência
timento feito por usuário em do Código Civil de 2002, a pre-
rede de eletrificação rural. tensão de cobrança dos valores
aportados para a construção de
rede de eletrificação rural, poste-
riormente incorporada ao patri-
mônio da CEEE/RGE, respeitada
a regra de transição prevista no
art. 2.028 do Código Civil de
2002.
388
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
311 Controvérsia subjacente diz Prescreve em 20 (vinte) anos, na REsp 1063661/RS 24/02/2010
respeito ao prazo de prescri- vigência do Código Civil de 1916,
ção para a cobrança de inves- e em 5 (cinco) anos, na vigência
timento feito por usuário em do Código Civil de 2002, a preten-
rede de eletrificação rural. são de cobrança dos valores apor-
tados para a construção de rede de
eletrificação rural, posteriormente
incorporada ao patrimônio da
CEEE/RGE, respeitada a regra de
transição prevista no art. 2.028 do
Código Civil de 2002.
312 Controvérsia subjacente diz É devida a restituição de valores REsp 1119300/RS 14/04/2010
respeito a restituição das parce- vertidos por consorciado de-
las pagas em consórcio em caso sistente ao grupo de consórcio,
de desfazimento do contrato. mas não de imediato, e sim em
até trinta dias a contar do prazo
previsto contratualmente para o
encerramento do plano.
314 Questão referente à viabilida- A inércia da Fazenda exequente, REsp 1120097/SP 13/10/2010
de da extinção ex officio do ante a intimação regular para
processo de execução fiscal promover o andamento do feito
não embargada, com base no e a observância dos artigos 40
art. 267, III, do CPC, restando e 25 da Lei de Execução Fiscal,
afastado o Enunciado Sumular implica a extinção da execução
240 do STJ. fiscal não embargada ex officio,
afastando-se o Enunciado Su-
mular 240 do STJ, segundo o
qual 'A extinção do processo, por
abandono da causa pelo autor,
depende de requerimento do réu'.
Matéria impassível de ser alegada
pela exequente contumaz.
315 Questão referente à inexis- A parte autora pode eleger apenas REsp 1145146/RS 09/12/2009
tência de litisconsórcio pas- um dos devedores solidários para
sivo necessário entre a União figurar no pólo passivo da deman-
e a Eletrobrás, em demanda da. (...) A possibilidade de escolha
que versa sobre questões rela- de um dos devedores solidários
tivas ao empréstimo compul- afasta a figura do litisconsórcio
sório de energia elétrica, em compulsório ou necessário.
face da faculdade de o contri-
buinte eleger apenas um dos
devedores solidários.
316 Questão referente à incidência A incidência do duplo grau de REsp 1144079/SP 02/03/2011
ou não da modificação do art. jurisdição obrigatório é imperiosa
475 do CPC, promovida pela quando a resolução do processo
Lei 10.352/2001, que limitou cognitivo for anterior à reforma
o cabimento da remessa oficial engendrada pela Lei 10.352/2001.
apenas às decisões desfavorá-
veis à Fazenda Pública que se-
jam superiores a 60 (sessenta)
salários mínimos.
389
Maria Cecília de Araujo Asperti
317 Questão referente à definição O devedor não tem assegurado o REsp 1120276/PA 09/12/2009
do foro competente para o direito de ser executado no foro
ajuizamento da execução fis- de seu domicílio, salvo se nenhu-
cal, à luz do art. 578 do CPC. ma das espécies do parágrafo úni-
co se verificar.
318 Discute-se a aplicação do pra- O prazo prescricional para ação REsp 1110321/DF 28/04/2010
zo prescricional previsto no ajuizada para reaver o quantum
Decreto-Lei n. 20.910/32. pago a maior, em decorrência da
majoração da tarifa de energia
elétrica pelas Portarias 38/86 e
45/86, é de 20 anos.
319 Discute-se a ilegalidade das A majoração da tarifa de energia REsp 1110321/DF 28/04/2010
Portarias do DNAEE n. 38/86 elétrica estabelecida pelas Porta-
e 45/86 e, de 4/3/1986, que ma- rias do DNAEE 38/86 e 45/86 é
joraram as tarifas de energia ilegítima, por terem desrespeitado
elétrica quando da vigência do o congelamento de preços insti-
Plano Cruzado, que instituiu o tuído pelo cognominado 'Plano
congelamento de todos os pre- Cruzado'. Ressalta-se, todavia, a
ços públicos e privados. legalidade dos reajustes das tari-
fas ocorridos a partir da vigência
da Portaria 153/86, de 27.11.86,
editada quando não mais vigiam
os referidos diplomas legais. (...) A
ilegalidade da majoração da tarifa
de energia elétrica estabelecida
pelas Portarias 38/86 e 45/86 deve
ser aferida da seguinte forma:
a) aos consumidores industriais
atingidos pelo congelamento,
devesse-lhes reconhecer o direito
à repetição da tarifa majorada, e;
b) aos consumidores residenciais
não assiste o direito à repetição.
320 Questiona-se a possibilidade É inadmissível a conversão, de REsp 1129938/PE 28/09/2011
de conversão, ex officio, de ofício ou a requerimento das par-
ação executiva que não preen- tes, da execução em ação monitó-
che os requisitos de certeza, li- ria após ter ocorrido a citação.
quidez e exigibilidade em ação
monitória.
321 Questiona-se a natureza jurí- O prazo do art. 284 do Código de REsp 1133689/PE 28/03/2012
dica do prazo estabelecido no Processo Civil não é peremptório,
art. 284 do Código de Processo mas dilatório, ou seja, pode ser
Civil, à luz da hipótese de justa reduzido ou ampliado por con-
causa prevista no art. 183 do venção das partes ou por determi-
mesmo diploma legal. nação do juiz.
322 Questiona-se a fixação de um Para fins de complementação pela REsp 1101015/BA 26/05/2010
VMAA nacional, a partir do União ao Fundo de Manutenção
menor valor encontrado em e Desenvolvimento do Ensino
cada Estado ou no Distrito Fe- Fundamental - FUNDEF (art. 60
deral, porquanto o FUNDEF do ADCT, redação da EC 14/96),
tem natureza de fundo regional. o 'valor mínimo anual por aluno'
(VMAA), de que trata o art. 6º, § 1º
da Lei 9.424/96, deve ser calculado
levando em conta a média nacional.
390
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
391
Maria Cecília de Araujo Asperti
327 Cinge-se a controvérsia sobre Interrompe-se o prazo decadencial REsp 1115078/RS 24/03/2010
o prazo prescricional para a para a constituição do crédito de-
cobrança de multa administra- corrente de infração à legislação
tiva por infração à legislação administrativa: a) pela notificação
do meio ambiente aplicada por ou citação do indiciado ou execu-
órgão ou entidade da Adminis- tado, inclusive por meio de edital;
tração Pública Federal, direta b) por qualquer ato inequívoco,
ou indireta: se quinquenal, que importe apuração do fato; pela
nos termos do art. 1º do De- decisão condenatória recorrível;
creto 20.910/32, ou vintenária, por qualquer ato inequívoco que
segundo o art. 177 do Código importe em manifestação expressa
Civil de 1916. de tentativa de solução conciliató-
ria no âmbito interno da adminis-
tração pública federal.
328 Cinge-se a controvérsia sobre É de três anos o prazo para a con- REsp 1115078/RS 24/03/2010
o prazo prescricional para a clusão do processo administrativo
cobrança de multa administra- instaurado para se apurar a infra-
tiva por infração à legislação ção administrativa ('prescrição
do meio ambiente aplicada por intercorrente').
órgão ou entidade da Adminis-
tração Pública Federal, direta
ou indireta: se quinquenal,
nos termos do art. 1º do De-
creto 20.910/32, ou vintenária,
segundo o art. 177 do Código
Civil de 1916.
329 Cinge-se a controvérsia sobre Prescreve em cinco anos, contados REsp 1115078/RS 24/03/2010
o prazo prescricional para a do término do processo administra-
cobrança de multa administra- tivo, a pretensão da Administração
tiva por infração à legislação Pública de promover a execução da
do meio ambiente aplicada por multa por infração ambiental.
órgão ou entidade da Adminis-
tração Pública Federal, direta
ou indireta: se quinquenal,
nos termos do art. 1º do De-
creto 20.910/32, ou vintenária,
segundo o art. 177 do Código
Civil de 1916.
330 Cinge-se a controvérsia sobre O termo inicial do prazo prescri- REsp 1115078/RS 24/03/2010
o prazo prescricional para a cional para o ajuizamento da ação
cobrança de multa administra- executória 'é a constituição defi-
tiva por infração à legislação nitiva do crédito, que se dá com
do meio ambiente aplicada por o término do processo adminis-
órgão ou entidade da Adminis- trativo de apuração da infração e
tração Pública Federal, direta constituição da dívida'.
ou indireta: se quinquenal,
nos termos do art. 1º do De-
creto 20.910/32, ou vintenária,
segundo o art. 177 do Código
Civil de 1916.
392
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
331 Cinge-se a controvérsia sobre São causas de interrupção do pra- REsp 1115078/RS 24/03/2010
o prazo prescricional para a zo prescricional: a) o despacho
cobrança de multa administra- do juiz que ordenar a citação em
tiva por infração à legislação executivo fiscal; b) o protesto ju-
do meio ambiente aplicada por dicial; c) qualquer ato judicial que
órgão ou entidade da Adminis- constitua em mora o devedor; d)
tração Pública Federal, direta qualquer ato inequívoco, ainda
ou indireta: se quinquenal, que extrajudicial, que importe em
nos termos do art. 1º do De- reconhecimento do débito pelo
creto 20.910/32, ou vintenária, devedor; e) qualquer ato inequívo-
segundo o art. 177 do Código co que importe em manifestação
Civil de 1916. expressa de tentativa de solução
conciliatória no âmbito interno da
administração pública federal.
332 Questiona-se o afastamento da A transferência de domínio útil REsp 1165276/PE 12/12/2012
cobrança de laudêmio, na hi- de imóvel para integralização de
pótese de transferência do do- capital social de empresa é ato
mínio útil de imóvel da União, oneroso, de modo que é devida a
situado em terreno de marinha, cobrança de laudêmio, nos termos
para fins de integralização do do art. 3º do Decreto-Lei 2.398/87.
capital social de empresa.
333 Questão referente à possibilida- Na oportunidade da liquidação REsp 959338/SP 29/02/2012
de de juntada de documentos da sentença, por se tratar de re-
destinados à apuração do quan- conhecimento de crédito-prêmio
tum debeatur relativo ao benefí- de IPI, a parte deverá apresentar
cio do crédito prêmio do IPI, em toda a documentação suficientes
fase de liquidação de sentença. à comprovação da efetiva opera-
ção de exportação, bem como do
ingresso de divisas no País, sem o
que não se habilita à fruição do
benefício, mesmo estando ele re-
conhecido na sentença.
393
Maria Cecília de Araujo Asperti
394
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
336 Cinge-se a discussão em saber A simples declaração de compen- REsp 1157847/PE 24/03/2010
se a declaração de compensação sação relativa ao crédito-prêmio
relativa ao crédito-prêmio de IPI de IPI não suspende a exigibilida-
suspende, ou não, a exigibili- de do crédito tributário - a menos
dade do crédito para efeitos de que esteja presente alguma outra
expedição de certidão positiva causa de suspensão elencada no
com efeitos de negativa. art. 151 do CTN - , razão por-
que poderá a Fazenda Nacional
recusar-se a emitir a certidão de
regularidade fiscal.
337 Questão referente ao reconhe- O interesse de agir se caracteri- REsp 1121023/SP 23/06/2010
cimento do direito de efetuar a za pelos entraves rotineiramente
compensação de tributos inde- opostos pela Secretaria da Re-
vidamente recolhidos a título de ceita Federal àquele que postula
PIS com parcelas vincendas do a compensação tributária dos
próprio PIS e de outras contri- valores indevidamente recolhidos
buições arrecadadas pela Recei- a maior a título de PIS, sem as
ta Federal, decidiu pela ausência exigências que são impostas pela
de interesse de agir do impetran- legislação de regência, notada-
te, tendo em vista a edição da mente em relação ao critérios que
Instrução Normativa n. 21/97, envolvem o encontro de contas,
que eliminou quaisquer óbices à à aplicação de expurgos infla-
compensação tributária. cionários no cálculo da correção
monetária dos valores a serem
repetidos, à incidência de juros
moratórios e compensatórios,
bem como à definição do prazo
prescricional para o exercício do
direito à compensação, conside-
rando, em especial, o disposto no
artigo 3º da Lei Complementar
n. 118/2005. Assim, é inegável a
necessidade do contribuinte bus-
car tutela jurisdicional favorável,
a fim de proteger seu direito de
exercer o pleno exercício da com-
pensação de que trata o art. 66 da
Lei 8.383/91, sem que lhe fosse
impingidos os limites previstos
nas normas infralegais pela auto-
ridade administrativa.
338 Questão relativa à incidência O auxílio-creche funciona como REsp 1146772/DF 24/02/2010
de contribuição previdenciária indenização, não integrando o
sobre os valores recebidos a tí- salário-de-contribuição para a
tulo de auxílio-creche. Previdência. Inteligência da Sú-
mula 310/STJ.
339 Questiona a legitimidade do A liberação do veículo retido por REsp 1144810/MG 10/03/2010
ato que condiciona a libera- transporte irregular de passagei-
ção de veículo apreendido ros, com base no art. 231, VIII,
por transporte irregular de do Código de Trânsito Brasileiro,
passageiros ao pagamento de não está condicionada ao paga-
multas e de demais despesas mento de multas e despesas.
(Lei 9503/97, art. 231, VIII, c/c
Decreto 2521/98, art. 85, § 3º).
395
Maria Cecília de Araujo Asperti
340 Controvérsia sobre os limites Não é possível a cobrança da REsp 1118893/MG 23/03/2011
objetivos da coisa julgada, da- Contribuição Social sobre o Lu-
das as alterações legislativas cro (CSLL) do contribuinte que
posteriores ao trânsito em jul- tem a seu favor decisão judicial
gado de sentença declaratória transitada em julgado declarando
de inexistência de relação a inconstitucionalidade formal
jurídica tributária no tocante e material da exação conforme
à Contribuição Social sobre o concebida pela Lei 7.689/88, as-
Lucro Líquido instituída pela sim como a inexistência de rela-
Lei 7.689/88. ção jurídica material a seu reco-
lhimento. O fato de o Supremo
Tribunal Federal posteriormente
manifestar-se em sentido oposto
à decisão judicial transitada em
julgado em nada pode alterar a
relação jurídica estabilizada pela
coisa julgada, sob pena de negar
validade ao próprio controle difu-
so de constitucionalidade.
341 Questão referente à exclusão Em se tratando de ato que impede REsp 1124507/MG 28/04/2010
da sociedade empresária do a permanência da pessoa jurídi-
regime de recolhimento de tri- ca no SIMPLES em decorrência
butos denominado SIMPLES da superveniência de situação
deve produzir efeitos a partir impeditiva prevista no artigo 9º,
do mês subsequente à situa- incisos III a XIV e XVII a XIX,
ção excludente e não apenas a da Lei 9.317/1996, seus efeitos
partir da intimação do contri- são produzidos a partir do mês
buinte ou da data constante do subsequente à data da ocorrência
ato declaratório da exclusão. da circunstância excludente, nos
exatos termos do artigo 15, inciso
II, da mesma lei.
342 Questão referente à legalida- Não há ilegalidade no artigo 41 REsp 1127610/MG 23/06/2010
de da imposição do Decreto do Decreto n. 332/91, consonan-
332/91 no sentido de não admi- te com a Lei n. 8.200/1, artigo 1º,
tir a exclusão da parcela relati- que, ao cuidar da correção mone-
va à diferença entre o BTNF tária de balanço relativamente ao
e o IPC da base de cálculo da ano-base de 1990, limitou-se ao
CSLL, apesar de ser admitida IRPJ, não estendendo a previsão
tal exclusão da base de cálculo legal à CSLL.
do imposto de renda.
343 Questão referente à isenção de Nas ações em que representa o REsp 1151364/PE 24/02/2010
custas em favor da CEF, esta- FGTS, a CEF, quando sucumben-
belecida pelo art. 24-A da MP te, não está isenta de reembolsar
1984-23, não a desobriga de as custas antecipadas pela parte
ressarcir as custas adiantadas vencedora.
pelo autor da ação.
344 Questão referente ao cabimen- O especialíssimo procedimento REsp 1163643/SP 24/03/2010
to da dispensa da defesa prévia estabelecido na Lei 8.429/92, que
em ação de improbidade admi- prevê um juízo de delibação para
nistrativa, prevista no art. 17, recebimento da petição inicial
§ 7º, da Lei 8.429/92, quando (art. 17, §§ 8º e 9º), precedido de
instruído o processo com o notificação do demandado (art.
inquérito civil promovido pelo 17, § 7º), somente é aplicável para
Ministério Público. ações de improbidade administra-
tiva típicas.
396
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
397
Maria Cecília de Araujo Asperti
349 Discute a legalidade da exigên- É legal a exigência de prestação de REsp 1155684/RN 12/05/2010
cia de prestação de garantia pes- garantia pessoal para a celebração
soal (fiador) para a celebração de contrato de financiamento es-
de contrato de financiamento tudantil vinculado ao FIES.
estudantil vinculado ao FIES.
350 Discute a legalidade da co- Em se tratando de crédito educa- REsp 1155684/RN 12/05/2010
brança de juros capitalizados tivo, não se admite sejam os juros
para a celebração de contrato capitalizados.
de financiamento estudantil
vinculado ao FIES.
351 Questiona a forma de cálculo O Imposto de Renda incidente REsp 1118429/SP 24/03/2010
do Imposto de Renda na fon- sobre os benefícios previdenci-
te, na hipótese de pagamento ários atrasados pagos acumula-
acumulado de benefícios pre- damente deve ser calculado de
videnciários atrasados, vale acordo com as tabelas e alíquotas
dizer, se o IR deve ter como vigentes à época em que os valo-
parâmetro o valor de cada res deveriam ter sido adimplidos,
parcela mensal a que faria jus observando a renda auferida mês
o beneficiário, ou se deve ser a mês pelo segurado, não sendo
calculado sobre o montante legítima a cobrança de IR com
integral creditado. parâmetro no montante global
pago extemporaneamente.
352 Discute a possibilidade de o A exigência de comum acordo REsp 1160435/PE 06/04/2011
credor unilateralmente eleger o entre o credor e o devedor na
agente fiduciário no bojo de exe- escolha do agente fiduciário tão-
cução extrajudicial de contrato -somente se aplica aos contratos
regido pelas normas do Sistema não vinculados ao Sistema Finan-
Financeiro da Habitação (SFH) ceiro da Habitação - SFH.
com garantia hipotecária.
353 Discute-se a observância do Não se cogita perempção da exe- REsp 1160435/PE 06/04/2011
Decreto-Lei n. 70/66, precisa- cução extrajudicial na hipótese
mente acerca da notificação do não cumprimento do prazo
pessoal do devedor para purga- estabelecido pelo § 1º do art. 31
ção da mora. do Decreto-lei n. 70/66.
356 Questão referente ao prazo O prazo prescricional a ser apli- REsp 1086382/RS 14/04/2010
prescricional relativo das ações cado às ações de repetição de
de repetição de indébito relati- indébito relativas à contribuição
vas à contribuição ao Fusex. ao FUSEX, que consubstancia
tributo sujeito ao lançamento de
ofício, é o quinquenal, nos termos
do art. 168, I, do CTN.
358 Questão referente à legitimi- O descumprimento da obrigação REsp 1042585/RJ 12/05/2010
dade da recusa do fornecimen- acessória de informar, mensal-
to de certidão negativa de dé- mente, ao INSS, dados relaciona-
bito tributário, na hipótese em dos aos fatos geradores da contri-
que a autoridade administrati- buição previdenciária, é condição
va competente não procede ao impeditiva para expedição da
lançamento de ofício supletivo prova de inexistência de débito.
de suposta diferença advinda
da compensação efetuada pelo
contribuinte, por sua conta e
risco, de crédito vincendo ati-
nente a tributo sujeito a lança-
mento por homologação.
398
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
359 Questão à violação da coisa jul- A fixação de percentual relativo REsp 1136733/PR 13/10/2010
gada em decorrência da deter- aos juros moratórios, após a edi-
minação de incidência da taxa ção da Lei 9.250/95, em decisão
SELIC em sede de execução de que transitou em julgado, impede
sentença, quando esta deter- a inclusão da Taxa SELIC em fase
minou a aplicação de juros de de liquidação de sentença, sob
mora em 1%, posteriormente à pena de violação ao instituto da
vigência da Lei 9.250/95. coisa julgada, porquanto a refe-
rida taxa engloba juros e corre-
ção monetária, não podendo ser
cumulada com qualquer outro
índice de atualização.
360 Questão relativa à incidência do Os valores a serem pagos em ra- REsp 1142177/RS 09/08/2010
imposto sobre a renda em relação zão de decisão judicial trabalhis-
ao pagamento de verba decor- ta, que determina a reintegração
rente de reintegração do servidor do ex-empregado, assumem a
ao cargo por decisão judicial. natureza de verba remunerató-
ria, atraindo a incidência do im-
posto sobre a renda. Isso porque
são percebidos a título de salários
vencidos, como se o empregado
estivesse no pleno exercício de seu
vínculo empregatício.
361 Questão relativa à incidência Sendo a reintegração inviável, os REsp 1142177/RS 09/08/2010
do Imposto sobre a Renda em valores a serem percebidos pelo
relação ao pagamento de ver- empregado amoldam-se à indeni-
ba decorrente de reintegra- zação prevista no artigo 7°, I, da
ção do servidor ao cargo por Carta Maior, em face da nature-
decisão judicial. za eminentemente indenizatória,
não dando azo a qualquer acrés-
cimo patrimonial ou geração de
renda, posto não ensejar riqueza
nova disponível, mas reparações,
em pecúnia, por perdas de direi-
tos, afastando a incidência do Im-
posto sobre a Renda.
362 Questão referente à sujeição A contribuição para o salário- REsp 1162307/RJ 24/11/2010
passiva da relação jurídico- -educação tem como sujeito passi-
-tributária relativa ao salário- vo as empresas, assim entendidas
-educação, vale dizer, se o pólo as firmas individuais ou socie-
passivo da referida relação é dades que assumam o risco de
integrado por empresa em sen- atividade econômica, urbana ou
tido lato ou em sentido estrito. rural, com fins lucrativos ou não,
em consonância com o art. 15 da
Lei 9.424/96, regulamentado pelo
Decreto 3.142/99, sucedido pelo
Decreto 6.003/2006.
399
Maria Cecília de Araujo Asperti
400
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
401
Maria Cecília de Araujo Asperti
376 Questão referente à necessida- A intimação da parte agravada REsp 1148296/SP 01/09/2010
de de intimação do agravado para resposta é procedimento na-
para responder ao recurso, nos tural de preservação do princípio
termos do art. 527, I, do CPC. do contraditório, nos termos do art.
527, V, do CPC. (...) A dispensa do
referido ato processual ocorre tão-
-somente quando o relator nega
seguimento ao agravo (art. 527, I),
uma vez que essa decisão beneficia
o agravado, razão pela qual conclui-
-se que a intimação para a apresen-
tação de contrarrazões é condição
de validade da decisão que causa
prejuízo ao recorrente.
377 Questão referente à necessida- A intimação da parte agravada REsp 1148296/SP 01/09/2010
de de intimação do agravado para resposta é procedimento na-
para responder ao recurso, nos tural de preservação do princípio
termos do art. 527, I, do CPC. do contraditório, nos termos do art.
527, V, do CPC. (...) A dispensa do
referido ato processual ocorre tão-
-somente quando o relator nega
seguimento ao agravo (art. 527, I),
uma vez que essa decisão beneficia
o agravado, razão pela qual conclui-
-se que a intimação para a apresen-
tação de contrarrazões é condição
de validade da decisão que causa
prejuízo ao recorrente.
380 Discute-se a aplicação da mul- No caso de sentença ilíquida, para REsp 1147191/RS 04/03/2015
ta de 10%, prevista no caput a imposição da multa prevista no
do artigo 475-J, do CPC, na art. 475-J do CPC, revela-se indis-
hipótese em que o devedor, na pensável (i) a prévia liquidação da
fase de cumprimento de sen- obrigação; e, após, o acertamento,
tença ilíquida, efetua o depósi- (ii) a intimação do devedor, na fi-
to das quantias incontroversas gura do seu Advogado, para pagar
e apresenta garantias referen- o quantum ao final definido no
tes aos valores controvertidos, prazo de 15 dias.
objeto de impugnação.
381 Questão referente à possibili- A regra de imputação de paga- REsp 960239/SC 09/06/2010
dade ou não de aplicação das mentos estabelecida no art. 354 do
regras da imputação do paga- Código Civil não se aplica às hipó-
mento, previstas no Código teses de compensação tributária.
Civil, à compensação tributá-
ria, de modo que a amortiza-
ção da dívida da Fazenda pe-
rante o contribuinte, mediante
compensação, seja realizada
primeiro sobre os juros e, so-
mente após, sobre o principal
do crédito.
402
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Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
403
Maria Cecília de Araujo Asperti
387 Questão referente à alteração A retificação de dados cadastrais REsp 1130545/RJ 09/08/2010
de dados cadastrais do imó- do imóvel, após a constituição
vel não constitui erro de fato do crédito tributário, autoriza a
apto a ensejar a revisão do revisão do lançamento pela auto-
lançamento de IPTU, à luz ridade administrativa (desde que
do disposto nos artigos 146 e não extinto o direito potestativo
149, do CTN. da Fazenda Pública pelo decurso
do prazo decadencial), quando
decorrer da apreciação de fato
não conhecido por ocasião do
lançamento anterior, ex vi do
disposto no artigo 149, inciso
VIII, do CTN.
388 Discute-se a incidência ou não A Contribuição Provisória sobre REsp 1129335/SP 09/06/2010
da CPMF (Contribuição Pro- Movimentação ou Transmissão
visória sobre Movimentação de Valores de Créditos e Direitos
ou Transmissão de Valores de de Natureza Financeira - CPMF,
Créditos e Direitos de nature- enquanto vigente, incidia sobre a
za Financeira) sobre a conver- conversão de crédito decorrente
são de crédito decorrente de de empréstimo em investimento
empréstimo em investimento externo direto (contrato de câmbio
externo direto (contrato de simbólico), uma vez que a tributa-
câmbio simbólico). ção aperfeiçoava-se mesmo diante
de operação unicamente escritural.
389 Discute-se a responsabilidade O agente marítimo, no exercício REsp 1129430/SP 24/11/2010
tributária dos agentes maríti- exclusivo de atribuições próprias,
mos representantes de trans- no período anterior à vigência do
portadora, no que concerne ao Decreto-Lei 2.472/88 (que alte-
Imposto de Importação. rou o artigo 32, do Decreto-Lei
37/66), não ostentava a condição
de responsável tributário, nem se
equiparava ao transportador, para
fins de recolhimento do Imposto
sobre Importação, porquanto ine-
xistente previsão legal para tanto.
391 Discute-se a competência do O juízo do inventário, na modali- REsp 1150356/SP 09/08/2010
juízo do inventário (arrola- dade de arrolamento sumário, não
mento sumário) para apreciar detém competência para apreciar
pedido de reconhecimento de pedido de reconhecimento da
isenção do ITCMD (Imposto isenção do ITCMD (Imposto so-
sobre Transmissão Causa Mor- bre Transmissão Causa Mortis e
tis e Doação de quaisquer Bens Doação de quaisquer Bens ou Di-
ou Direitos), à luz do disposto reitos), à luz do disposto no caput
no artigo 179, do CTN. do artigo 179, do CTN.
392 Estabelecer se consubstancia A reunião de processos contra o REsp 1158766/RJ 08/09/2010
uma faculdade do Juiz a reu- mesmo devedor, por conveniência
nião de processos contra o da unidade da garantia da execu-
mesmo devedor por conveni- ção, nos termos do art. 28 da Lei
ência da unidade da garantia 6.830/80, é uma faculdade outor-
da execução, nos termos do gada ao juiz, e não um dever.
art. 28 da Lei 6.830/80.
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Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
393 Questão referente à possibili- O crédito tributário de autarquia REsp 957836/SP 13/10/2010
dade ou não de, em concurso federal goza do direito de prefe-
de credores, o crédito tributá- rência em relação àquele de que
rio de uma autarquia federal, seja titular a Fazenda Estadual,
in casu, o INSS, preferir os desde que a penhora recaia sobre
créditos da Fazenda Estadual, o mesmo bem.
considerando-se a coexistên-
cia de execuções e penhoras,
nos termos dos arts. 187, do
CTN, e 29, da LEF.
394 Discute-se a legalidade dos Os depósitos judiciais utilizados REsp 1168038/SP 09/06/2010
arts. 7º e 8º da Lei 8.541/1992 - para suspender a exigibilidade do
Vedação à dedutibilidade para crédito tributário consistem em
a apuração de base de cálculo ingressos tributários, sujeitos à
de Imposto de Renda. sorte da demanda judicial, e não
em receitas tributárias, de modo
que não são dedutíveis da base de
cálculo do IRPJ até o trânsito em
julgado da demanda.
395 Questão referente ao valor Adota-se como valor de alçada REsp 1168625/MG 09/06/2010
que representa 50 (cinqüenta) para o cabimento de apelação em
Obrigações Reajustáveis do Te- sede de execução fiscal o valor
souro Nacional - ORTN, à luz de R$ 328,27 (trezentos e vinte e
do disposto no artigo 34, da Lei oito reais e vinte e sete centavos),
n.º 6.830, de 22 de setembro de corrigido pelo IPCA-E a partir de
1980, para fins de alçada. janeiro de 2001, valor esse que
deve ser observado à data da pro-
positura da execução.
396 Discute-se a possibilidade de Ainda que a execução fiscal tenha REsp 1144687/RS 12/05/2010
expedição de carta precató- sido ajuizada na Justiça Federal (o
ria de penhora e avaliação e que afasta a incidência da norma
conseqüente determinação inserta no artigo 1º, § 1º, da Lei
de pagamento de custas e/ou 9.289/96), cabe à Fazenda Pública
despesas com o deslocamento Federal adiantar as despesas com
do oficial de justiça estadual, o transporte/condução/desloca-
no âmbito de execução fiscal mento dos oficiais de justiça ne-
ajuizada na Justiça Federal, à cessárias ao cumprimento da carta
luz dos artigos 42 e 46, da Lei precatória de penhora e avaliação
5.010/66 e da Súmula 190/STJ. de bens (processada na Justiça
Estadual), por força da princípio
hermenêutico ubi eadem ratio ibi
eadem legis dispositio.
405
Maria Cecília de Araujo Asperti
397 Questão referente à não-inci- A indenização decorrente de de- REsp 1116460/SP 09/12/2009
dência de Imposto de Renda sapropriação não encerra ganho
sobre indenização decorrente de capital, porquanto a proprie-
de desapropriação, seja por ne- dade é transferida ao poder públi-
cessidade ou utilidade pública co por valor justo e determinado
ou por interesse social, por- pela justiça a título de indeniza-
quanto não representa acrésci- ção, não ensejando lucro, mas
mo patrimonial. mera reposição do valor do bem
expropriado. (...) Não-incidência
da exação sobre as verbas aufe-
ridas a título de indenização ad-
vinda de desapropriação, seja por
necessidade ou utilidade pública
ou por interesse social, porquanto
não representam acréscimo patri-
monial.
398 Questão referente à legitimi- A pretensão repetitória de valores REsp 1131476/RS 09/12/2009
dade da exigência da prova indevidamente recolhidos a título
de ausência da repercussão fi- de ISS incidente sobre a locação
nanceira relativa ao ISS sobre de bens móveis (cilindros, má-
locação de bens móveis, ou a quinas e equipamentos utilizados
autorização de quem a tenha para acondicionamento dos gases
assumido, nos termos do art. vendidos), hipótese em que o tri-
166 do CTN, para fins de re- buto assume natureza indireta,
petição de indébito. reclama da parte autora a prova
da não repercussão, ou, na hipó-
tese de ter a mesma transferido o
encargo a terceiro, de estar auto-
rizada por este a recebê-los.
399 Questão referente à incidên- Os serviços postais e telemáticos REsp 1131872/SC 09/12/2009
cia ou não-incidência do ISS prestados por empresas franquea-
sobre os serviços prestados das, sob a égide da LC 56/87, não
por empresas franqueadas dos sofrem a incidência do ISS, em
Correios que realizam ativida- observância ao princípio tributá-
des postais e telemáticas. rio da legalidade.
400 Discute-se (i) a possibilidade A condenação, em honorários REsp 1143320/RS 12/05/2010
de o juiz decretar de ofício a advocatícios, do contribuinte,
extinção do feito "com" resolu- que formula pedido de desistência
ção de mérito, ao fundamento dos embargos à execução fiscal de
de que a adesão do devedor à créditos tributários da Fazenda
programa de parcelamento Nacional, para fins de adesão a
caracterizaria renúncia do di- programa de parcelamento fiscal,
reito sobre o qual se fundam configura inadmissível bis in idem,
os embargos à execução; e (ii) tendo em vista o encargo estipula-
a condenação do embargante do no Decreto-lei 1.025/69.
ao pagamento de honorários
advocatícios, a despeito do en-
cargo legal de 20% previsto no
Decreto-Lei 1.025/69.
406
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
407
Maria Cecília de Araujo Asperti
408
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
406 Discute-se a legalidade da co- Os empregados, que laboram no REsp 1133662/PE 09/08/2010
brança das contribuições para o cultivo da cana-de-açúcar para
Fundo de Garantia por Tempo empresa agroindustrial ligada ao
de Serviço - FGTS, no período setor alcooleiro, detém a qualida-
de 1984 a 1988, de empresa de- de de rurícola, o que traz como
dicada a atividades agroindus- consequência a isenção do FGTS
triais no setor sucro-alcooleiro. desde a edição da Lei Complemen-
tar n. 11/71 até a promulgação da
Constituição Federal de 1988.
407 Discussão acerca do cabimen- São cabíveis honorários advoca- REsp 1134186/RS 01/08/2011
to de honorários advocatícios tícios em fase de cumprimento
em fase de cumprimento de de sentença, haja ou não impug-
sentença, bem como na sua nação, depois de escoado o prazo
impugnação, de acordo com a para pagamento voluntário a que
sistemática processual intro- alude o art. 475-J do CPC, que
duzida pela Lei nº 11.232/05. somente se inicia após a intima-
ção do advogado, com a baixa dos
autos e a aposição do 'cumpra-se'.
408 Discussão acerca do cabimen- Não são cabíveis honorários advo- REsp 1134186/RS 01/08/2011
to de honorários advocatícios catícios pela rejeição da impugna-
em fase de cumprimento de ção ao cumprimento de sentença.
sentença, bem como na sua
impugnação, de acordo com a
sistemática processual intro-
duzida pela Lei nº 11.232/05.
409 Discussão acerca do cabimen- Em caso de sucesso da impug- REsp 1134186/RS 01/08/2011
to de honorários advocatícios nação, com extinção do feito
em fase de cumprimento de mediante sentença (art. 475-M,
sentença, bem como na sua § 3º), revela-se que quem deu
impugnação, de acordo com a causa ao procedimento de cum-
sistemática processual intro- primento de sentença foi o exe-
duzida pela Lei nº 11.232/05. quente, devendo ele arcar com as
verbas advocatícias.
410 Discussão acerca do cabimen- O acolhimento ainda que parcial REsp 1134186/RS 01/08/2011
to de honorários advocatícios da impugnação gerará o arbitra-
em fase de cumprimento de mento dos honorários, que serão
sentença, bem como na sua fixados nos termos do art. 20, §
impugnação, de acordo com a 4º, do CPC, do mesmo modo que
sistemática processual intro- o acolhimento parcial da exceção
duzida pela Lei nº 11.232/05. de pré-executividade, porquanto,
nessa hipótese, há extinção tam-
bém parcial da execução.
409
Maria Cecília de Araujo Asperti
411 Questiona a obrigação ou não É cabível a inversão do ônus da REsp 1133872/PB 14/12/2011
de a instituição financeira exi- prova em favor do consumidor
bir documentos (extratos ban- para o fim de determinar às insti-
cários) comuns às partes. tuições financeiras a exibição de
extratos bancários, enquanto não
estiver prescrita a eventual ação
sobre eles, tratando-se de obriga-
ção decorrente de lei e de integra-
ção contratual compulsória, não
sujeita à recusa ou condicionan-
tes, tais como o adiantamento dos
custos da operação pelo correntis-
ta e a prévia recusa administrati-
va da instituição financeira em
exibir os documentos, com a res-
salva de que ao correntista, autor
da ação, incumbe a demonstração
da plausibilidade da relação jurí-
dica alegada, com indícios míni-
mos capazes de comprovar a exis-
tência da contratação, devendo,
ainda, especificar, de modo preci-
so, os períodos em que pretenda
ver exibidos os extratos.
412 Versa sobre a interpretação A base de cálculo do PIS, até a REsp 1127713/SP 09/08/2010
do art. 6º, parágrafo único, edição da MP n. 1.212/1995, era
da Lei Complementar 7/1970. o faturamento ocorrido no sexto
Discute-se, no caso, se tal dis- mês anterior ao do fato gerador.
positivo refere-se ao prazo para
recolhimento do PIS ou à sua
base de cálculo.
413 Discute-se a possibilidade de Admite-se que o preparo seja REsp 1122064/DF 01/09/2010
recolhimento das custas pro- efetuado no primeiro dia útil sub-
cessuais em dia útil posterior, sequente, quando a interposição
quando o agravo de instru- do recurso ocorrer após o encer-
mento tenha sido protocolado ramento do expediente bancário.
após o fim do horário de expe-
diente das agências bancárias.
414 Discute-se a possibilidade de Não é lícita a cobrança de tari- REsp 1166561/RJ 25/08/2010
cobrança de tarifa mínima de fa de água no valor do consumo
água, com base no número de mínimo multiplicado pelo nú-
economias, sem considerar o mero de economias existentes
consumo efetivamente registra- no imóvel, quando houver único
do no único hidrômetro local. hidrômetro no local. A cobrança
pelo fornecimento de água aos
condomínios em que o consumo
total de água é medido por único
hidrômetro deve se dar pelo con-
sumo real aferido.
415 Definir se a entrega de carnês A entrega de carnês de IPTU REsp 1141300/MG 25/08/2010
de IPTU, diretamente por ser- pelos municípios, sem a interme-
vidores municipais, violaria a diação de terceiros, no seu âmbito
exclusividade da Empresa Na- territorial, não viola o privilégio
cional de Correios e Telégrafos da União na manutenção do ser-
na prestação do serviço postal. viço público postal.
410
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
411
Maria Cecília de Araujo Asperti
423 PREVIDENCIÁRIO. APO- A adoção deste ou daquele fator REsp 1151363/MG 23/03/2011
SENTADORIA. CONVER- de conversão depende, tão so-
SÃO DE TEMPO DE SERVI- mente, do tempo de contribuição
ÇO ESPECIAL EM COMUM. total exigido em lei para a aposen-
FATOR MULTIPLICADOR tadoria integral, ou seja, deve cor-
PREVISTO NA LEGISLA- responder ao valor tomado como
ÇÃO EM VIGOR À ÉPOCA parâmetro, numa relação de pro-
DA ATIVIDADE. TERMO porcionalidade, o que correspon-
FINAL PARA CONVERSÃO de a um mero cálculo matemático
EM 28/5/1998. NECESSIDA- e não de regra previdenciária.
DE DE EXPOSIÇÃO PER-
MANENTE E HABITUAL.
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 57,
§ 3º, LEI N. 8.213/1991 E 63, I,
DO DECRETO N. 611/1992.
CONTAGEM DE TEMPO
DE SERVIÇO POSTERIOR
À EMENDA CONSTITU-
CIONAL N. 20/1998.
424 Discute-se a incidência do Im- Sujeitam-se a incidência do Im- REsp 1192556/PE 25/08/2010
posto de Renda sobre o abono posto de Renda os rendimentos
de permanência de que trata recebidos a título de abono de
o § 19 do art. 40 da Consti- permanência a que se referem o
tuição Federal, acrescentado § 19 do art. 40 da Constituição
pela Emenda Constitucional Federal, o § 5º do art. 2º e o § 1º
41/2003. do art. 3º da Emenda Constitu-
cional 41/203, e o art. 7º da Lei
10.887/2004.
425 Discute-se a quebra do sigilo A utilização do Sistema BACEN- REsp 1184765/PA 24/11/2010
bancário em execução fiscal, -JUD, no período posterior à
por meio do sistema BACEN- vacatio legis da Lei 11.382/2006
-JUD, viabilizadora do blo- (21.01.2007), prescinde do exau-
queio de ativos financeiros do rimento de diligências extraju-
executado (Lei Complementar diciais, por parte do exequente,
105/2001). a fim de se autorizar o bloqueio
eletrônico de depósitos ou aplica-
ções financeiras.
426 Questiona, no âmbito dos Salvo disposição contratual em REsp 1194402/RS 21/09/2011
contratos de financiamento sentido diferente, aplica-se aos
habitacional, a) a prática de contratos celebrados no âmbito
anatocismo em decorrência do Sistema Financeiro da Habita-
da utilização do Sistema de ção a regra de imputação prevista
Amortização Francês - "Tabe- no art. 354 do Código Civil de
la Price"; e b) a cobertura do 2002, que reproduz o art. 993 do
saldo devedor pelo FCVS, na Código Civil de 1916 e foi adota-
ausência de disposição contra- da pela RD BNH 81/1969.
tual a respeito.
412
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
427 Questão referente à ilegitimi- A incidência do ICMS, no que se REsp 1176753/RJ 28/11/2012
dade da incidência do ICMS refere à prestação dos serviços de
sobre serviços suplementares comunicação, deve ser extraída
ao serviços de comunicação da Constituição Federal e da LC
(atividade-meio), sob pena de 87/96, incidindo o tributo sobre
violação ao princípio da tipici- os serviços de comunicação pres-
dade tributária. tados de forma onerosa, através
de qualquer meio, inclusive a
geração, a emissão, a recepção,
a transmissão, a retransmissão,
a repetição e a ampliação de co-
municação de qualquer natureza
(art. 2º, III, da LC 87/96). A pres-
tação de serviços conexos ao de
comunicação por meio da telefo-
nia móvel (que são preparatórios,
acessórios ou intermediários da
comunicação) não se confunde
com a prestação da atividade fim
processo de transmissão (emissão
ou recepção) de informações de
qualquer natureza, esta sim, pas-
sível de incidência pelo ICMS.
Desse modo, a despeito de alguns
deles serem essenciais à efetiva
prestação do serviço de comuni-
cação e admitirem a cobrança de
tarifa pela prestadora do serviço
(concessionária de serviço públi-
co), por assumirem o caráter de
atividade meio, não constituem,
efetivamente, serviços de comu-
nicação, razão pela qual não é
possível a incidência do ICMS.
430 Definir se o mandamus não pode No pertinente a impetração de REsp 1119872/RJ 13/10/2010
ser impetrado contra lei em tese. ação mandamental contra lei
em tese, a jurisprudência desta
Corte Superior embora reconhe-
ça a possibilidade de mandado
de segurança invocar a incons-
titucionalidade da norma como
fundamento para o pedido, não
admite que a declaração de in-
constitucionalidade, constitua,
ela própria, pedido autônomo.
413
Maria Cecília de Araujo Asperti
431 Discute-se o cabimento da re- A retenção na fonte da contribui- REsp 1196777/RS 27/10/2010
tenção da contribuição previ- ção do Plano de Seguridade do
denciária prevista no art. 16-A Servidor Público - PSS, incidente
da Lei 10.887/2004, introdu- sobre valores pagos em cumpri-
zido pela Medida Provisória mento de decisão judicial, previs-
449/2008, pois não prevista no ta no art. 16-A da Lei 10.887/04,
título executivo. constitui obrigação ex lege e
como tal deve ser promovida in-
dependentemente de condenação
ou de prévia autorização no título
executivo.
432 Discute-se a legalidade da Ins- O benefício fiscal do ressarcimen- REsp 993164/MG 13/12/2010
trução Normativa 23/97 que to do crédito presumido do IPI re-
restringiu o direito ao crédito lativo às exportações incide mes-
presumido do IPI às pessoas mo quando as matérias-primas ou
jurídicas efetivamente sujeitas os insumos sejam adquiridos de
à incidência da contribuição pessoa física ou jurídica não con-
destinada ao PIS/PASEP e da tribuinte do PIS/PASEP.
COFINS, à luz do disposto na
Lei 9.363/96.
433 Sustenta a contrariedade ao Não são devidos honorários ad- REsp 1199715/RJ 16/02/2011
disposto no art. 381 do Código vocatícios à Defensoria Pública
Civil de 2002, ao argumento quando ela atua contra pessoa ju-
de que não é cabível a conde- rídica de direito público integran-
nação de autarquia estadual te da mesma Fazenda Pública.
ao pagamento de honorários
advocatícios nas demandas
patrocinadas pela Defensoria
Pública, por haver confusão
entre as qualidades de credor
e devedor.
434 Discute-se a legitimidade da O agravo interposto contra deci- REsp 1198108/RJ 17/10/2012
aplicação da multa prevista no são monocrática do Tribunal de
art. 557, § 2º, do CPC, ao funda- origem, com o objetivo de exau-
mento da necessidade de esgota- rir a instância recursal ordinária,
mento de instância para fins de a fim de permitir a interposição
acesso às Cortes Superiores. de recurso especial e do extraor-
dinário, não é manifestamente
inadmissível ou infundado, o que
torna inaplicável a multa previs-
ta no art. 557, § 2º, do Código de
Processo Civil.
414
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
415
Maria Cecília de Araujo Asperti
440 Discute o termo inicial da in- Os juros moratórios incidem a REsp 1114398/PR 08/02/2012
cidência dos juros moratórios partir da data do fato, no tocan-
para a reparação a título de te aos valores devidos a título de
danos morais e materias decor- dano material e moral.
rentes de acidente ambiental.
441 Discute-se a distribuição do A condenação em montante in- REsp 1114398/PR 08/02/2012
ônus da sucumbência de forma ferior ao postulado na inicial não
recíproca em em ação visando afasta a sucumbência mínima, de
reparação decorrente de aci- modo que não se redistribuem os
dente ambiental. ônus da sucumbência.
442 Discute-se forma de amortiza- Nos contratos vinculados ao REsp 1110903/PR 01/12/2010
ção do saldo devedor do siste- SFH, a atualização do saldo de-
ma financeiro de habitação. vedor antecede sua amortização
pelo pagamento da prestação. Sú-
mula 450/STJ
443 Questiona a possibilidade de É permitido ao juiz da execução, REsp 1145353/PR 25/04/2012
levantamento do depósito ju- diante da natureza alimentar do
dicial, em execução provisória crédito e do estado de necessida-
oriunda de ação de indeniza- de dos exequentes, a dispensa da
ção por danos morais e mate- contracautela para o levantamen-
riais, no valor não excedente a to do crédito, limitado, contudo,
60 (sessenta) salários mínimos, a 60 (sessenta) vezes o salário
sem a prestação de caução, nos mínimo.
termos do art. 475-O, III e § 2º,
I, do CPC (situação de necessi-
dade e créditos de natureza ali-
mentar ou decorrentes de ato
ilícito), mesmo havendo o risco
de irreversibilidade da medida.
446 Questão referente à legítima a O indivíduo não pode ser compe- REsp 1111566/DF 28/03/2012
recusa do suspeito a soprar o lido a colaborar com os referidos
etilômetro ou a fornecer san- testes do 'bafômetro' ou do exame
gue para a alcoolemia. de sangue, em respeito ao prin-
cípio segundo o qual ninguém
é obrigado a se autoincriminar
(nemo tenetur se detegere).
416
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
447 Discute-se o argumento de O tipo penal do art. 306 do Có- REsp 1111566/DF 28/03/2012
que a inclusão, efetivada pela digo de Trânsito Brasileiro é
Lei 11.705/08 ao artigo 306 formado, entre outros, por um
do CTB, de concentração elemento objetivo, de natureza
equivalente a 6 decigramas exata, que não permite a aplica-
de álcool por litro de sangue, ção de critérios subjetivos de in-
não significa, de forma algu- terpretação, qual seja, o índice de
ma, abrandamento da norma 6 decigramas de álcool por litro
penal. Cria, na realidade, de sangue. O grau de embriaguez
apenas maior dificuldade para é elementar objetiva do tipo, não
comprovação fática daquilo configurando a conduta típica o
que se contêm na denúncia. exercício da atividade em qual-
quer outra concentração inferior
àquela determinada pela lei, ema-
nada do Congresso Nacional. O
decreto regulamentador, poden-
do elencar quaisquer meios de
prova que considerasse hábeis à
tipicidade da conduta, tratou es-
pecificamente de 2 (dois) exames
por métodos técnicos e científi-
cos que poderiam ser realizados
em aparelhos homologados pelo
CONTRAN, quais sejam, o exa-
me de sangue e o etilômetro.
449 Discute-se a verificação da A decadência do art. 26 do CDC REsp 1117614/PR 10/08/2011
incidência da regra prevista não é aplicável à prestação de
no art. 26, II, do Código de contas para obter esclarecimentos
Defesa do Consumidor, à ação sobre cobrança de taxas, tarifas e
de prestação de contas ajuiza- encargos bancários.
da pelo cliente de instituição
financeira, visando a obter
esclarecimentos acerca de lan-
çamentos realizados em conta
corrente de sua titularidade, os
quais reputa indevidos.
450 Havendo acordo com a Fa- O § 2º do art. 6º da Lei n. REsp 1218508/MG 16/03/2011
zenda Pública, mesmo extra- 9.469/1997, que obriga à reparti-
judicial e sem participação do ção dos honorários advocatícios,
advogado, cada parte arcará é inaplicável a acordos ou transa-
com os honorários advocatí- ções celebrados em data anterior
cios devidos a seus respectivos à sua vigência.
patronos -, não prevalece sobre
o disposto no § 4º do art. 24
da Lei 8.906/04 (Estatuto da
Advocacia), norma especial
que assegura ao advogado o
direito autônomo a seus hono-
rários quando não participa do
acordo celebrado.
417
Maria Cecília de Araujo Asperti
451 Discute-se a majoração da No caso das taxas de ocupação REsp 1150579/SC 10/08/2011
taxa de ocupação de terreno dos terrenos de marinha, é despi-
de marinha pela revisão dos ciendo procedimento administra-
valores dos imóveis promovida tivo prévio com participação dos
pela SPU. administrados interessados, bas-
tando que a Administração Pú-
blica siga as normas do Decreto n.
2.398/87 no que tange à matéria.
452 Questiona a obrigação de rea- Na fase cognitiva, foi assegurado REsp 1217076/SP 28/09/2011
juste da remuneração dos ser- a servidores do Município de São
vidores públicos municipais, Paulo reajuste de vencimentos,
a partir de fevereiro/1995, em para o mês de fevereiro de 1995,
conformidade com as Leis Mu- com base nas Leis 10.668/88 e
nicipais 10.668/88 e 10.722/89, 10.722/89, sem fixação de per-
decidiu que não há falar em centual. A discussão, na fase de
violação à coisa julgada na liquidação, a respeito dos super-
aplicação da Lei Municipal venientes reajustes concedidos
12.397/97, motivo pelo qual pela legislação municipal (Lei
manteve a decisão que decla- 12.397/97) e seus reflexos no cál-
rara cumprida tal obrigação. culo do percentual devido e no
cumprimento da condenação im-
posta envolve exclusivamente in-
terpretação e aplicação de direito
local, insuscetível de reexame por
recurso especial. Aplicação, por
analogia, da Súmula 280 do STF.
453 Questão relativa à impossibili- As despesas relativas à remoção, REsp 1114406/SP 27/04/2011
dade de a empresa arrendante guarda e conservação de veículo
de veículo ser responsabiliza- apreendido no caso de arrenda-
da por valores cobrados pela mento mercantil, independen-
municipalidade, relativos à temente da natureza da infração
remoção, guarda e conserva- que deu origem à apreensão do
ção de veículo apreendido em veículo e ainda que haja posterior
decorrência do cometimento retomada da posse do bem pelo
de infrações pelo arrendatário, arrendante, são da responsabili-
tendo em vista a posterior re- dade do arrendatário, que se equi-
tomada da posse do bem ante a para ao proprietário enquanto em
efetivação de sua busca e apre- vigor o contrato de arrendamento
ensão pelo arrendante. (cf. artigo 4º da Resolução Con-
tran nº 149/2003).
455 Discute-se a incidência ou não Não incide PIS/COFINS sobre REsp 1104184/RS 29/02/2012
da contribuição social desti- o JCP recebido durante a vigên-
nada ao PIS sobre juros sobre cia da Lei 9.718/98 até a edição
capital próprio, à luz da Lei das Leis 10.637/02 (cujo art.
9.718/98 (regime cumulativo 1º. entrou em vigor a partir de
de tributação). 01.12.2002) e 10.833/03, tal como
no caso dos autos, que se refere
apenas ao período compreendido
entre 01.03.1999 e 30.09.2002.
418
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
456 Discute-se o método para A Lei 11.941/2008 remite os débi- REsp 1208935/AM 13/04/2011
a aferição do valor de R$ tos para com a Fazenda Nacional
10.000,00 (dez mil reais) para vencidos há cinco anos ou mais
fins da concessão da remissão cujo valor total consolidado seja
prevista no art. 14, da Lei n. igual ou inferior a 10 mil reais. O
11.941/2009. valor-limite acima referido deve
ser considerado por sujeito passi-
vo, e separadamente apenas em
relação à natureza dos créditos,
nos termos dos incisos I a IV do
art. 14.
457 Discute-se o método para A Lei 11.941/2008 remite os débi- REsp 1208935/AM 13/04/2011
a aferição do valor de R$ tos para com a Fazenda Nacional
10.000,00 (dez mil reais) para vencidos há cinco anos ou mais
fins da concessão da remissão cujo valor total consolidado seja
prevista no art. 14, da Lei n. igual ou inferior a 10 mil reais.
11.941/2009. Não pode o magistrado, de ofício,
pronunciar a remissão, analisan-
do isoladamente o valor cobrado
em uma Execução Fiscal, sem
questionar a Fazenda sobre a
existência de outros débitos que
somados impediriam o contri-
buinte de gozar do benefício.
459 Questão referente à possibili- O recurso adesivo pode ser in- REsp 1102479/RJ 04/03/2015
dade de a parte autora interpor terposto pelo autor da demanda
recurso adesivo de decisão que, indenizatória, julgada proceden-
em pedido de indenização por te, quando arbitrado, a título de
danos morais, fixa o valor da danos morais, valor inferior ao
condenação em patamar infe- que era almejado, uma vez con-
rior ao pleiteado. figurado o interesse recursal do
demandante em ver majorada a
condenação, hipótese caracteri-
zadora de sucumbência material.
462 Discute-se a necessidade de No agravo do artigo 522 do CPC, REsp 1102467/RJ 02/05/2012
juntada, no momento da inter- entendendo o Julgador ausente
posição do agravo de instru- peças necessárias para a compre-
mento previsto no artigo 522 ensão da controvérsia, deverá ser
do Código de Processo Civil, indicado quais são elas, para que
de peças necessárias à com- o recorrente complemente o ins-
preensão da controvérsia (art. trumento.
525, II, do CPC).
463 Discute-se a responsabilidade Só responde por danos materiais REsp 1063474/RS 28/09/2011
da instituição financeira que, e morais o endossatário que rece-
recebendo título por endosso- be título de crédito por endosso-
-mandato, leva-o indevida- -mandato e o leva a protesto se
mente a protesto. extrapola os poderes de manda-
tário ou em razão de ato culposo
próprio, como no caso de aponta-
mento depois da ciência acerca do
pagamento anterior ou da falta de
higidez da cártula
419
Maria Cecília de Araujo Asperti
464 Discute-se a responsabilidade Só responde por danos materiais REsp 1063474/RS 28/09/2011
da instituição financeira que, e morais o endossatário que rece-
recebendo título por endosso- be título de crédito por endosso-
-mandato, leva-o indevida- -mandato e o leva a protesto se
mente a protesto. extrapola os poderes de manda-
tário ou em razão de ato culposo
próprio, como no caso de aponta-
mento depois da ciência acerca do
pagamento anterior ou da falta de
higidez da cártula.
465 Discute-se a responsabilidade Responde pelos danos decorren- REsp 1213256/RS 28/09/2011
da instituição financeira que, tes de protesto indevido o endos-
recebendo título por endosso satário que recebe por endosso
translativo, leva-o indevida- translativo título de crédito con-
mente a protesto. tendo vício formal extrínseco ou
intrínseco, ficando ressalvado seu
direito de regresso contra os en-
dossantes e avalistas.
466 Discute-se a responsabilida- As instituições financeiras res- REsp 1197929/PR 24/08/2011
de civil de fornecedores de pondem objetivamente pelos da-
serviços ou produtos, por in- nos gerados por fortuito interno
clusão indevida do nome de relativo a fraudes e delitos prati-
consumidores em cadastros de cados por terceiros no âmbito de
proteção ao crédito, em decor- operações bancárias.
rência de fraude praticada por
terceiros.
467 Questão referente ao cumpri- A concessão da exploração do REsp 1120620/RJ 24/10/2012
mento de sentença proferida serviço de transporte ferroviário
em ação indenizatória ajuizada de passageiros em favor da SU-
em face da FLUMITRENS. PERVIA, mediante prévio proce-
Alegada ilegitimidade passi- dimento licitatório, não implicou
va ad causam da SUPERVIA sucessão empresarial entre esta e
CONCESSIONÁRIA DE a FLUMITRENS.
TRANSPORTE FERROVIÁ-
RIO S/A.
468 Questão referente ao cumpri- A SUPERVIA não tem legitimi- REsp 1120620/RJ 24/10/2012
mento de sentença proferida dade para responder por ilícitos
em ação indenizatória ajuizada praticados pela FLUMITRENS à
em face da FLUMITRENS. época em que operava o serviço
Alegada ilegitimidade passi- de transporte ferroviário de pas-
va ad causam da SUPERVIA sageiros.
CONCESSIONÁRIA DE
TRANSPORTE FERROVIÁ-
RIO S/A.
469 Discute-se a possibilidade de Em ação de reparação de danos REsp 925130/SP 08/02/2012
condenação solidária de segu- movida em face do segurado, a
radora que foi litisdenunciada Seguradora denunciada pode
pelo segurado, causador de ser condenada direta e solidaria-
danos a terceiros, em ação de mente junto com este a pagar a
indenização por este ajuizada. indenização devida à vítima, nos
limites contratados na apólice.
420
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
470 Discute-se a tributação pelo Não incide Imposto de Renda REsp 1227133/RS 28/09/2011
Imposto de Renda dos juros sobre os juros moratórios legais
de mora recebidos como con- vinculados a verbas trabalhistas
sectários de sentença conde- reconhecidas em decisão judicial.
natória em reclamatória tra-
balhista.
471 Questão referente à possibi- Descabe ação do terceiro preju- REsp 962230/RS 08/02/2012
lidade de a vítima de sinistro dicado ajuizada direta e exclusi-
ajuizar ação indenizatória di- vamente em face da Seguradora
retamente contra a seguradora do apontado causador do dano.
do pretenso causador do dano, No seguro de responsabilidade
ainda que não tenha feito par- civil facultativo a obrigação da
te do contrato de seguro. Seguradora de ressarcir danos
sofridos por terceiros pressupõe a
responsabilidade civil do segura-
do, a qual, de regra, não poderá
ser reconhecida em demanda na
qual este não interveio, sob pena
de vulneração do devido processo
legal e da ampla defesa.
472 Discute-se a necessidade da O depósito judicial do valor sim- REsp 1185583/SP 27/06/2012
prévia avaliação do imóvel plesmente apurado pelo corpo
para apuração do valor da justa técnico do ente público, sendo
indenização para a concessão inferior ao valor arbitrado por
de imissão provisória em ação perito judicial e ao valor cadastral
de desapropriação por utilida- do imóvel, não viabiliza a imissão
de pública em caráter e regime provisória na posse.
de urgência.
473 Questiona se a complementa- O art. 5º da Lei 8.186/91 assegu- REsp 1211676/RN 08/08/2012
ção de aposentadoria ou pen- ra o direito à complementação à
são de ex-ferroviário deveria, pensão, na medida em que deter-
em razão do princípio tempus mina a observância das disposi-
regit actum, observar a legis- ções do parágrafo único do art.
lação previdenciária aplicável 2º da citada norma, o qual, de
à concessão do benefício - art. sua parte, garante a permanente
41 do Decreto 83.080/79, que igualdade de valores entre ativos
estabelecia que a importância e inativos.
da pensão devida ao conjunto
dos dependentes do segurado
seria constituída de uma par-
cela familiar, igual a 50% do
valor da aposentadoria que o
segurado percebida ou daquela
a que teria direito se na data
do seu falecimento fosse apo-
sentado, e mais tantas parcelas
de 10% para cada dependente
segurado, até o máximo de 5
(cinco) parcelas.
421
Maria Cecília de Araujo Asperti
474 Questiona a aplicação exten- A petição inicial da ação moni- REsp 1154730/PE 08/04/2015
siva do óbice da Súmula 247/ tória para cobrança de soma em
STJ aos contratos de mútuo dinheiro deve ser instruída com
imobiliário. demonstrativo de débito atuali-
zado até a data do ajuizamento,
assegurando-se, na sua ausência
ou insuficiência, o direito da par-
te de supri-la, nos termos do art.
284 do CPC.
475 Cinge-se a discussão em saber Tratando-se de processo de co- REsp 1235513/AL 27/06/2012
se, julgados procedentes em nhecimento, é devida a compen-
parte os embargos à execução sação do índice de 28,86% com
para autorizar que o reajuste os reajustes concedidos por essas
de 28,86% nos vencimentos leis.
dos servidores públicos o mon-
tante obtido pode ser compen-
sado com aumentos concedi-
dos administrativamente, sem
qualquer previsão no título
executivo judicial, viola ou não
a coisa julgada.
476 Cinge-se a discussão em saber Transitado em julgado o título REsp 1235513/AL 27/06/2012
se, julgados procedentes em judicial sem qualquer limitação
parte os embargos à execução ao pagamento integral do índice
para autorizar que o reajuste de 28,86%, não cabe à União e
de 28,86% nos vencimentos às autarquias federais alegar, por
dos servidores públicos o mon- meio de embargos, a compensa-
tante obtido pode ser compen- ção com tais reajustes, sob pena
sado com aumentos concedi- de ofender-se a coisa julgada.
dos administrativamente, sem
qualquer previsão no título
executivo judicial, viola ou não
a coisa julgada.
477 Cinge-se a discussão em saber O servidor aposentado do ex- REsp 1244632/CE 10/08/2011
se ao servidor aposentado do tinto DNER, ainda que passe a
extinto DNER, que passou a integrar o quadro de inativos do
integrar os quadros do Minis- Ministério dos Transportes, deve
tério dos Transportes, deve, ou ter como parâmetro de seus pro-
não, ter assegurada a extensão ventos a retribuição dos servido-
do reajuste remuneratório pre- res ativos do DNER absorvidos
visto na Lei 11.171/05 para os pelo DNIT, pois esta autarquia é
servidores ativos do DNIT. que é a sucessora do DNER, não
havendo razão jurídica para justi-
ficar qualquer disparidade.
422
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
482 Discute-se o foro competente A sentença genérica prolatada no REsp 1247150/PR 19/10/2011
para a liquidação individual âmbito da ação civil coletiva, por
de sentença proferida em ação si, não confere ao vencido o atri-
civil pública. buto de devedor de 'quantia certa
ou já fixada em liquidação' (art.
475-J do CPC), porquanto, 'em
caso de procedência do pedido, a
condenação será genérica', apenas
'fixando a responsabilidade do réu
pelos danos causados' (art. 95 do
CDC). A condenação, pois, não
se reveste de liquidez necessária
ao cumprimento espontâneo do
comando sentencial, não sendo
aplicável a reprimenda prevista
no art. 475-J do CPC.
483 Demanda relativa à necessi- Não é obrigatória a presença de REsp 1110906/SP 23/05/2012
dade, ou não, nos termos da farmacêutico em dispensário de
legislação vigente, da atuação medicamentos.
de farmacêutico em dispensá-
rio de medicamentos, mantido
por clínica e/ou unidades hos-
pitalares, negou provimento ao
recurso de apelação do recor-
rente.
484 Discussão sobre a possibilida- Fora dos casos previstos no art. REsp 1213082/PR 10/08/2011
de de retenção de valor a ser 151, do CTN, a compensação de
restituído/ressarcido quando o ofício é ato vinculado da Fazenda
contribuinte manifesta a sua Pública Federal a que deve se sub-
discordância em procedimen- meter o sujeito passivo, inclusive
to de compensação de ofício sendo lícitos os procedimentos de
previsto no art. 73, da lei n. concordância tácita e retenção
9.430/96 e art. 7º, do decreto- previstos nos §§ 1º e 3º, do art. 6º,
-lei n. 2.287/86. do Decreto n. 2.138/97.
485 Discussão sobre a possibilida- De acordo com o art. 156, I, do REsp 1251513/PR 10/08/2011
de de pagamento mediante a CTN, o pagamento extingue o
transformação em pagamento crédito tributário. Se o pagamen-
definitivo (conversão em ren- to por parte do contribuinte ou
da) de depósitos judiciais vin- a transformação do depósito em
culados a ações já transitadas pagamento definitivo por ordem
em julgado. Discute-se ainda judicial (art. 1º, § 3º, II, da Lei n.
sobre a possibilidade de de- 9.703/98) somente ocorre depois
volução da diferença de juros de encerrada a lide, o crédito tri-
selic incidentes sobre o valor butário tem vida após o trânsito
depositado. em julgado que o confirma. Se
tem vida, pode ser objeto de re-
missão e/ou anistia neste ínterim
(entre o trânsito em julgado e a
ordem para transformação em
pagamento definitivo, antiga con-
versão em renda) quando a lei não
exclui expressamente tal situação
do seu âmbito de incidência.
423
Maria Cecília de Araujo Asperti
486 Discussão sobre a possibilida- A remissão/anistia das rubricas REsp 1251513/PR 10/08/2011
de de pagamento mediante a concedida (multa, juros de mora,
transformação em pagamento encargo legal) somente incide se
definitivo (conversão em ren- efetivamente existirem tais rubri-
da) de depósitos judiciais vin- cas (saldos devedores) dentro da
culados a ações já transitadas composição do crédito tributário
em julgado. Discute-se ainda cuja exigibilidade se encontra
sobre a possibilidade de de- suspensa pelo depósito.
volução da diferença de juros
selic incidentes sobre o valor
depositado.
487 Discussão sobre a possibilidade A remissão/anistia das rubricas REsp 1251513/PR 10/08/2011
de pagamento mediante a trans- concedida (multa, juros de mora,
formação em pagamento defi- encargo legal) somente incide se
nitivo (conversão em renda) de efetivamente existirem tais rubri-
depósitos judiciais vinculados a cas (saldos devedores) dentro da
ações já transitadas em julgado. composição do crédito tributário
Discute-se ainda sobre a possibi- cuja exigibilidade se encontra
lidade de devolução da diferença suspensa pelo depósito.
de juros selic incidentes sobre o
valor depositado.
488 Discussão sobre a possibilidade A remissão/anistia das rubricas REsp 1251513/PR 10/08/2011
de pagamento mediante a trans- concedida (multa, juros de mora,
formação em pagamento defi- encargo legal) somente incide se
nitivo (conversão em renda) de efetivamente existirem tais rubri-
depósitos judiciais vinculados a cas (saldos devedores) dentro da
ações já transitadas em julgado. composição do crédito tributário
Discute-se ainda sobre a possibi- cuja exigibilidade se encontra
lidade de devolução da diferença suspensa pelo depósito.
de juros selic incidentes sobre o
valor depositado.
489 Discussão sobre a possibilidade A remissão/anistia das rubricas REsp 1251513/PR 10/08/2011
de pagamento mediante a trans- concedida (multa, juros de mora,
formação em pagamento defi- encargo legal) somente incide se
nitivo (conversão em renda) de efetivamente existirem tais rubri-
depósitos judiciais vinculados a cas (saldos devedores) dentro da
ações já transitadas em julgado. composição do crédito tributário
Discute-se ainda sobre a possibi- cuja exigibilidade se encontra
lidade de devolução da diferença suspensa pelo depósito.
de juros selic incidentes sobre o
valor depositado.
490 Discussão sobre a possibilidade A remissão de juros de mora in- REsp 1251513/PR 10/08/2011
de pagamento mediante a trans- sertos dentro da composição do
formação em pagamento defi- crédito tributário não enseja o
nitivo (conversão em renda) de resgate de juros remuneratórios
depósitos judiciais vinculados a incidentes sobre o depósito ju-
ações já transitadas em julgado. dicial feito para suspender a exi-
Discute-se ainda sobre a possibi- gibilidade desse mesmo crédito
lidade de devolução da diferença tributário.
de juros selic incidentes sobre o
valor depositado.
424
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
493 Hospital conveniado ao SUS. Nas demandas que envolvem a REsp 1179057/AL 12/09/2012
Tabelas de preços. Fator de discussão sobre a conversão da
conversão em URV. Compe- tabela de ressarcimentos de ser-
tência. Prescrição. viços prestados ao Sistema Único
de Saúde - SUS de cruzeiro real
para real, (...) por se tratar de re-
lação de trato sucessivo, prescre-
vem apenas as parcelas vencidas
anteriormente ao quinquênio
que antecedeu ao ajuizamento da
ação (Súmula 85/STJ).
494 Hospital conveniado ao SUS. Nas demandas que envolvem a REsp 1179057/AL 12/09/2012
Tabelas de preços. Fator de discussão sobre a conversão da ta-
conversão em URV. Compe- bela de ressarcimentos de serviços
tência. Prescrição. prestados ao Sistema Único de
Saúde - SUS de cruzeiro real para
real, (...) deve ser adotado como
fator de conversão o Valor de Cr$
2.750,00, nos termos do art. 1º, §
3º, da MP 542/95, convertida na
Lei 9.096/95.
495 Hospital conveniado ao SUS. Nas demandas que envolvem a dis- REsp 1179057/AL 12/09/2012
Tabelas de preços. Fator de cussão sobre a conversão da tabela
conversão em URV. Compe- de ressarcimentos de serviços pres-
tência. Prescrição. tados ao Sistema Único de Saúde
- SUS de cruzeiro real para real,
(...) o índice de 9,56%, decorrente
da errônea conversão em real, so-
mente é devido até 1º de outubro
de 1999, data do início dos efeitos
financeiros da Portaria 1.323/99,
que estabeleceu novos valores para
todos os procedimentos.
496 Discute a exigibilidade da con- As empresas prestadoras de servi- REsp 1255433/SE 23/05/2012
tribuição para o SESC e SE- ços estão sujeitas às contribuições
NAC por empresa prestadora ao Sesc e Senac, salvo se integra-
de serviços educacionais. das noutro serviço social.
499 Questão referente à aplicação As administradoras de consórcio REsp 1114604/PR 13/06/2012
do artigo 42 do Decreto nº têm liberdade para fixar a res-
70.951/72 quanto ao limite do pectiva taxa de administração,
percentual da taxa de adminis- nos termos do art. 33 da Lei nº
tração cobrado pelas adminis- 8.177/91 e da Circular nº 2.766/97
tradoras de consórcio. do Banco Central, não havendo
falar em ilegalidade ou abusivida-
de da taxa contratada superior a
10% (dez por cento).
425
Maria Cecília de Araujo Asperti
500 Questão referente à obriga- Nas ações de reintegração de REsp 1099212/RJ 27/02/2013
ção do arrendador devolver posse motivadas por inadimple-
as quantias pagas antecipada- mento de arrendamento mercan-
mente a título de Valor Resi- til financeiro, quando o produto
dual Garantido - VRG, nos da soma do VRG quitado com o
caos em que o produto objeto valor da venda do bem for maior
do leasing for apreendido. que o total pactuado como VRG
na contratação, será direito do
arrendatário receber a diferença,
cabendo, porém, se estipulado no
contrato, o prévio desconto de
outras despesas ou encargos con-
tratuais.
501 Discute-se a incidência da Ainda que seja possível a incidên- REsp 1239203/PR 12/12/2012
contribuição do Plano de Se- cia de contribuição social sobre
guridade do Servidor Público quaisquer vantagens pagas ao
- PSS sobre os juros de mora. servidor público federal (art. 4º,
§ 1º, da Lei 10.887/2004), não é
possível a sua incidência sobre as
parcelas pagas a título de indeni-
zação (como é o caso dos juros de
mora), pois, conforme expressa
previsão legal (art. 49, I e § 1º, da
Lei 8.112/90), não se incorporam
ao vencimento ou provento.
502 Definir se Gratificação Elei- Os servidores estaduais, que REsp 1258303/PB 12/02/2014
toral recebida pelos Escrivães exerceram as funções de Escri-
e Chefes de Cartório Eleitoral vão Eleitoral e Chefe de Cartório
deve ser correspondente à in- das zonas eleitorais do interior
tegralidade da função comis- do Estado," não têm direito de
siona exercida. perceber" a gratificação eleitoral,
no período de 1996 a 2004, cor-
respondente à integralidade das
Funções Comissionadas FC-03 e
FC-01, respectivamente.
426
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
427
Maria Cecília de Araujo Asperti
509 Discute a possibilidade de a Com a atual redação do art. 475- REsp 1261888/RS 09/11/2011
concessionária de energia elé- N, inc. I, do CPC, atribuiu-se
trica promover cumprimento 'eficácia executiva' às sentenças
de sentença declaratória de 'que reconhecem a existência de
débito nos próprios autos em obrigação de pagar quantia'.
que julgado (in)exigível o cus-
to administrativo de 30% refe-
rente a cálculo de recuperação
de consumo.
510 Discute-se o pagamento pelo Não é possível se exigir do Minis- REsp 1253844/SC 13/03/2013
Ministério Público de despe- tério Público o adiantamento de
sas relativas à produção de honorários periciais em ações ci-
prova em demanda coletiva, vis públicas. Ocorre que a referida
na forma do art. 18 da Lei n. isenção conferida ao Ministério
7.347/85. Público em relação ao adianta-
mento dos honorários periciais
não pode obrigar que o perito
exerça seu ofício gratuitamente,
tampouco transferir ao réu o en-
cargo de financiar ações contra
ele movidas. Dessa forma, consi-
dera-se aplicável, por analogia, a
Súmula n. 232 desta Corte Supe-
rior ('A Fazenda Pública, quando
parte no processo, fica sujeita à
exigência do depósito prévio dos
honorários do perito'), a deter-
minar que a Fazenda Pública ao
qual se acha vinculado o Parquet
arque com tais despesas.
511 Discute-se a aplicação dos ex- É devida a restituição da deno- REsp 1177973/DF 14/11/2012
purgos inflacionários sobre os minada reserva de poupança a
valores recebidos a título de re- ex-participantes de plano de be-
serva de poupança de partici- nefícios de previdência privada,
pantes de plano previdenciário devendo ser corrigida monetaria-
que dele se desligaram antes mente conforme os índices que
do implemento das condições reflitam a real inflação ocorrida
necessárias para fruição dos no período, mesmo que o estatu-
benefícios. to da entidade preveja critério de
correção diverso, devendo ser in-
cluídos os expurgos inflacionários
(Súmula 289/STJ).
512 Discute-se a aplicação do IPC A atualização monetária das con- REsp 1177973/DF 14/11/2012
atualização das parcelas res- tribuições devolvidas pela enti-
tituídas a título de reserva de dade de previdência privada ao
poupança de participantes associado deve ser calculada pelo
de plano previdenciário que IPC, por ser o índice que melhor
dele se desligaram antes do traduz a perda do poder aquisitivo
implemento das condições da moeda."
necessárias para fruição dos
benefícios.
428
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
513 Possibilidade de aplicação dos A Súmula 252/STJ, por ser espe- REsp 1177973/DF 14/11/2012
índices de correção do FGTS cífica para a correção de saldos
sobre as parcelas de contri- do FGTS, não tem aplicação nas
buição restituídas aos partici- demandas que envolvem previ-
pantes desligados de plano de dência privada.
previdência privada.
514 Discute-se a validade da quita- A quitação relativa à restituição, REsp 1183474/DF 14/11/2012
ção dos expurgos inflacionários, por instrumento de transação, so-
por instrumento de transação. mente alcança as parcelas efetiva-
mente quitadas, não tendo eficácia
em relação às verbas por ele não
abrangidas. Portanto, se os expur-
gos inflacionários não foram pagos
aos participantes que faziam jus à
devolução das parcelas da contri-
buição, não se pode considerá-los
saldados por recibo de quitação
passado de forma geral.
515 Estabelecer se o prazo de pres- No âmbito do Direito Privado, é REsp 1273643/PR 27/02/2013
crição das execuções indivi- de cinco anos o prazo prescricio-
duais de julgamento de ações nal para ajuizamento da execução
coletivas seria o mesmo prazo individual em pedido de cumpri-
prescricional destas, ou seja, mento de sentença proferida em
de cinco anos. Ação Civil Pública.
516 Discute-se o termo inicial da A contagem da prescrição quin- REsp 1254456/PE 25/04/2012
prescrição para pleitear inde- quenal relativa à conversão em
nização referente a licença- pecúnia de licença-prêmio não
-prêmio não gozada. gozada e nem utilizada como lap-
so temporal para a aposentadoria,
tem como termo a quo a data em
que ocorreu a aposentadoria do
servidor público.
429
Maria Cecília de Araujo Asperti
430
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
519 Discute-se o prazo prescricio- O prazo prescricional da ação REsp 1103224/MG 12/12/2012
nal da ação de cobrança relati- individual de cobrança relativa
va aos expurgos inflacionários a expurgos inflacionários inci-
incidente sobre saldo de pou- dentes sobre saldo de caderneta
pança manejada contra a MI- de poupança proposta contra o
NASCAIXA, que foi sucedida Estado de Minas Gerais, sucessor
pelo Estado de Minas Gerais: da MINAS CAIXA, é vintenário,
se quinquenal, consoante pre- não se aplicando à espécie o De-
visão do Decreto nº 20.910/32 creto nº 20.910/32 que disciplina
que disciplina a prescrição a prescrição contra a Fazenda
contra a Fazenda Pública, ou Pública.
se vintenária, nos termos da
legislação civil.
520 Discute-se a legitimidade do Tratando-se de contrato de mú- REsp 1150429/CE 25/04/2013
adquirente de imóvel por meio tuo para aquisição de imóvel
de "contrato de gaveta" para garantido pelo FCVS, avençado
demandar em juízo a revisão até 25/10/96 e transferido sem
de cláusulas pactuadas em con- a interveniência da instituição
trato de mútuo habitacional, financeira, o cessionário possui
firmado no âmbito do Sistema legitimidade para discutir e de-
Financeiro de Habitação, se re- mandar em juízo questões perti-
alizada a cessão sem a anuência nentes às obrigações assumidas e
da instituição financeira. aos direitos adquiridos.
521 Discute-se a legitimidade do Na hipótese de contrato originá- REsp 1150429/CE 25/04/2013
adquirente de imóvel por meio rio de mútuo sem cobertura do
de "contrato de gaveta" para FCVS, celebrado até 25/10/96,
demandar em juízo a revisão transferido sem a anuência do
de cláusulas pactuadas em con- agente financiador e fora das
trato de mútuo habitacional, condições estabelecidas pela Lei
firmado no âmbito do Sistema nº 10.150/2000, o cessionário não
Financeiro de Habitação, se re- tem legitimidade ativa para ajui-
alizada a cessão sem a anuência zar ação postulando a revisão do
da instituição financeira. respectivo contrato.
522 Questão referente à legitimida- No caso de cessão de direitos so- REsp 1150429/CE 25/04/2013
de do adquirente de imóvel por bre imóvel financiado no âmbito
meio de "contrato de gaveta" do Sistema Financeiro da Habita-
para demandar em juízo a revi- ção realizada após 25/10/1996, a
são de cláusulas pactuadas em anuência da instituição financei-
contrato de mútuo habitacio- ra mutuante é indispensável para
nal, firmado no âmbito do Sis- que o cessionário adquira legiti-
tema Financeiro de Habitação, midade ativa para requerer revi-
se realizada a cessão sem a anu- são das condições ajustadas, tanto
ência da instituição financeira. para os contratos garantidos pelo
FCVS como para aqueles sem a
cobertura do mencionado Fundo.
431
Maria Cecília de Araujo Asperti
523 Questão referente à legitimida- No caso de cessão de direitos so- REsp 1150429/CE 25/04/2013
de do adquirente de imóvel por bre imóvel financiado no âmbito
meio de "contrato de gaveta" do Sistema Financeiro da Habita-
para demandar em juízo a revi- ção realizada após 25/10/1996, a
são de cláusulas pactuadas em anuência da instituição financei-
contrato de mútuo habitacio- ra mutuante é indispensável para
nal, firmado no âmbito do Sis- que o cessionário adquira legiti-
tema Financeiro de Habitação, midade ativa para requerer revi-
se realizada a cessão sem a anu- são das condições ajustadas, tanto
ência da instituição financeira. para os contratos garantidos pelo
FCVS como para aqueles sem a
cobertura do mencionado Fundo.
524 Discute-se violação ao dispos- Após o oferecimento da contesta- REsp 1267995/PB 27/06/2012
to no art. 3º da Lei n. 9.469/97, ção, não pode o autor desistir da
que condiciona a concordân- ação, sem o consentimento do réu
cia do pedido de desistência à (art. 267, § 4º, do CPC), sendo que
renúncia do direito o qual se é legítima a oposição à desistência
funda a ação. com fundamento no art. 3º da Lei
9.469/97, razão pela qual, nesse
caso, a desistência é condicionada
à renúncia expressa ao direito so-
bre o qual se funda a ação.
526 APLICABILIDADE DO A atribuição de efeitos suspensi- REsp 1272827/PE 22/05/2013
ART. 739-A, §1º, DO CPC. vos aos embargos do devedor" fica
ANÁLISE DO JUIZ A RES- condicionada "ao cumprimento
PEITO DE OCORRÊNCIA de três requisitos: apresentação
DE GRAVE DANO DE DI- de garantia; verificação pelo juiz
FÍCIL OU INCERTA REPA- da relevância da fundamentação
RAÇÃO PARA A CONCES- (fumus boni juris) e perigo de
SÃO DE EFEITO SUSPENSI- dano irreparável ou de difícil re-
VO AOS EMBARGOS DO paração (periculum in mora).
DEVEDOR OPOSTOS EM
EXECUÇÃO FISCAL.
527 IMPOSTO DE RENDA DA Em sede de embargos à execução REsp 1298407/DF 23/05/2012
PESSOA FÍSICA. EMBAR- contra a Fazenda Pública cujo ob-
GOS À EXECUÇÃO MOVI- jeto é a repetição de imposto de
DA CONTRA A FAZENDA renda, não se pode tratar como
PÚBLICA. VALOR PRO- documento particular os demons-
BATÓRIO (PRESUNÇÃO trativos de cálculo (planilhas)
DE VERACIDADE) DAS elaborados pela Procuradoria-Ge-
PLANILHAS PRODUZIDAS ral da Fazenda Nacional - PGFN
PELA SECRETARIA DA RE- e adotados em suas petições com
CEITA FEDERAL E APRE- base em dados obtidos junto à
SENTADAS EM JUÍZO Secretaria da Receita Federal do
PELA PROCURADORIA- Brasil - SRF (órgão público que
-GERAL DA FAZENDA NA- detém todas as informações a res-
CIONAL PARA DEMONS- peito das declarações do imposto
TRAR A AUSÊNCIA DE de renda dos contribuintes) por
DEDUÇÃO DE QUANTIA se tratarem de verdadeiros atos
RETIDA NA FONTE E JÁ administrativos enunciativos que,
RESTITUÍDA POR CON- por isso, gozam do atributo de
TA DE DECLARAÇÃO DE presunção de legitimidade.
AJUSTE ANUAL.
432
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
528 Discute-se a existência de in- Nos contratos de mútuo e finan- REsp 1293558/PR 11/03/2015
teresse de agir do consumidor ciamento, o devedor não possui
para propor ação de presta- interesse de agir para a ação de
ção de contas, a fim de obter prestação de contas.
esclarecimentos a respeito da
evolução do débito, assim tam-
bém no tocante a certificação
quanto à correção dos valores
lançados e também apuração
de eventual crédito a seu favor.
530 Discute-se a validade de noti- A notificação extrajudicial re- REsp 1184570/MG 09/05/2012
ficação extrajudicial realizada alizada e entregue no endereço
por Cartório de Títulos e Do- do devedor, por via postal e com
cumentos de Comarca diversa aviso de recebimento, é válida
da do domicílio do devedor. quando realizada por Cartório de
Títulos e Documentos de outra
Comarca, mesmo que não seja
aquele do domicílio do devedor.
531 Discute-se a possibilidade de Quando a Administração Pública REsp 1244182/PB 10/10/2012
devolução ao Erário de valores interpreta erroneamente uma lei,
recebidos de boa-fé pelo servidor resultando em pagamento indevi-
público, quando pagos indevida- do ao servidor, cria-se uma falsa
mente pela Administração. expectativa de que os valores re-
cebidos são legais e definitivos,
impedindo, assim, que ocorra
desconto dos mesmos, ante a boa-
-fé do servidor público.
532 Discute-se a repercussão de O trabalho urbano de um dos REsp 1304479/SP 10/10/2012
atividade urbana do cônjuge membros do grupo familiar não
na pretensão de configuração descaracteriza, por si só, os de-
jurídica de trabalhador rural mais integrantes como segurados
previsto no art. 143 da Lei especiais, devendo ser averiguada
8.213/1991. a dispensabilidade do trabalho
rural para a subsistência do gru-
po familiar, incumbência esta das
instâncias ordinárias (Súmula 7/
STJ).
533 Discute-se a repercussão de Em exceção à regra geral (...), a REsp 1304479/SP 10/10/2012
atividade urbana do cônjuge extensão de prova material em
na pretensão de configuração nome de um integrante do núcleo
jurídica de trabalhador rural familiar a outro não é possível
previsto no art. 143 da Lei quando aquele passa a exercer
8.213/1991. trabalho incompatível com o la-
bor rurícola, como o de natureza
urbana.
433
Maria Cecília de Araujo Asperti
434
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
537 Discute-se a legitimidade do Diante do que dispõe a legisla- REsp 1299303/SC 08/08/2012
consumidor para propor ação ção que disciplina as concessões
declaratória cumulada com de serviço público e da peculiar
repetição de indébito na qual relação envolvendo o Estado-
se busca afastar, no tocante -concedente, a concessionária e
ao fornecimento de energia o consumidor, esse último tem
elétrica, a incidência do ICMS legitimidade para propor ação
sobre a demanda contratada e declaratória c/c repetição de in-
não utilizada. débito na qual se busca afastar,
no tocante ao fornecimento de
energia elétrica, a incidência do
ICMS sobre a demanda contrata-
da e não utilizada.
538 Discute-se a concessão de aju- A fixação de limitação temporal REsp 1257665/CE 08/10/2014
da de custo a servidores públi- para o recebimento da indeniza-
cos, prevista no art. 51, I, da ção prevista no art. 53, I, da Lei
Lei 8.112/1990, e a legalidade 8112/1990, por meio de normas
da limitação temporal a sua infralegais, não ofende o princí-
concessão quando fixada em pio da legalidade.
norma regulamentadora (art.
7º, Resolução CJF 461/2005,
art. 101 da Resolução CJF
4/2008 ou norma supervenien-
te de igual conteúdo).
541 Discute a possibilidade de cre- O ICMS incidente sobre a energia REsp 1201635/MG 12/06/2013
ditamento do ICMS incidente elétrica consumida pelas empre-
sobre a energia elétrica utiliza- sas de telefonia, que promovem
da na prestação de serviços de processo industrial por equipa-
telecomunicações. ração, pode ser creditado para
abatimento do imposto devido
quando da prestação de serviços.
542 Questão referente ao paga- A indenização do seguro DPVAT, REsp 1246432/RS 22/05/2013
mento gradativo da indeni- em caso de invalidez parcial per-
zação securitária do seguro manente do beneficiário, será
DPVAT proporcionalmente ao paga de forma proporcional ao
grau da lesão apurada, na hi- grau da invalidez.
pótese de invalidez parcial, no
limite de R$ 13.500,00 (treze
mil e quinhentos reais).
544 Discute a aplicação da deca- O suporte de incidência do prazo REsp 1309529/PR 28/11/2012
dência prevista no art. 103 da decadencial previsto no art. 103
Lei 8.213/1991, com a redação da Lei 8.213/1991 é o direito de
dada pela MP 1.523/1997, so- revisão dos benefícios, e não o di-
bre o direito do segurado de reito ao benefício previdenciário.
revisar benefício concedido Incide o prazo de decadência do
antes da publicação deste últi- art. 103 da Lei 8.213/1991, ins-
mo preceito legal. tituído pela Medida Provisória
1.523-9/1997, convertida na Lei
9.528/1997, no direito de revisão
dos benefícios concedidos ou in-
deferidos anteriormente a esse
preceito normativo, com termo
a quo a contar da sua vigência
(28.6.1997).
435
Maria Cecília de Araujo Asperti
545 Questiona-se a aplicação do É de cinco anos o prazo prescri- REsp 1205277/PB 27/06/2012
prazo prescricional previsto no cional da ação promovida contra
art. 1º do Decreto 20.910/32 em a União Federal por titulares de
demanda promovida por titu- contas vinculadas ao PIS/PASEP
lares de contas vinculadas ao visando à cobrança de diferenças
PIS/PASEP em face da União de correção monetária incidente
pleiteando o pagamento de di- sobre o saldo das referidas contas,
ferenças de correção monetária nos termos do art. 1º do Decreto-
expurgos inflacionários no sal- -Lei 20.910/32.
do das referidas contas.
547 Discute-se o direito dos Audi- Havendo previsão no título exe- REsp 1318315/AL 11/09/2013
tores Fiscais da Receita Fede- cutivo de exclusão de percentuais
ral referente à impossibilidade já concedidos, a mencionada im-
de compensação do reajuste posição, em sede de embargos à
de 28,86% com outros títulos execução, não importa violação
de natureza diversa do reajus- da coisa julgada.
te previsto pelas Leis 8.622 e
8.627/93, sob pena de ofensa à
coisa julgada.
548 Discute-se a possibilidade O índice de 28,86% incide nor- REsp 1318315/AL 11/09/2013
de incidência do reajuste de malmente sobre a RAV.
28,86% sobre a Retribuição
de Adicional Variável - RAV,
devida aos Auditores Fiscais
posicionados no último padrão
de vencimento quando da edi-
ção da Lei 8.627/93.
549 Discute-se o direito dos Audi- É cabível a limitação ao pagamen- REsp 1318315/AL 11/09/2013
tores Fiscais da Receita Fede- to do reajuste de 28,86% à data
ral referente à fixação como li- de reestruturação da carreira pro-
mite temporal à incidência do movida pela Medida Provisória n.
reajuste de 28,86% a data da 1.915/99, a fim de que o percentu-
vigência da Medida Provisória al em comento seja absorvido pe-
n. 1.915/99. los novos padrões remuneratórios
estabelecidos.
550 Discute-se a necessidade de É despicienda a homologação REsp 1318315/AL 11/09/2013
homologação judicial para va- judicial do termo de transação
lidar os acordos extrajudiciais extrajudicial, posto que inviável
celebrados para percepção das a execução de tal providência,
vantagens, na forma do art. diante da inexistência, à época
7º da Medida Provisória n. da celebração do acordo, de de-
2.169/2001. manda judicial entre as partes
transigentes.
551 Discute-se a legitimidade pas- Legitimidade passiva da Brasil REsp 1322624/SC 12/06/2013
siva da BRASIL TELECOM Telecom S/A para responder pelos
S/A para responder pelas ações atos praticados pela Telesc, quan-
não subscritas da Telecomuni- to a credores cujo título não tiver
cações Santa Catarina-Telesc. sido constituído até o ato de in-
corporação, independentemente
de se referir a obrigações anterio-
res, ante a sucessão empresarial.
436
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
552 Questão referente ao prazo O termo final do prazo para o REsp 1112864/MG 19/11/2014
decadencial para a propositura ajuizamento da ação rescisória,
da ação rescisória previsto no embora decadencial, prorroga-se
art. 495 do Diploma Proces- para o primeiro dia útil subse-
sual deve ser prorrogado para quente, se recair em dia de não
o primeiro dia útil seguinte, funcionamento da secretaria do
quando cair em fim de semana Juízo competente.
ou feriado, nos exatos termos
do art. 184, § 1.º, inciso I, do
Código de Processo Civil.
553 Discute o prazo prescricional Aplica-se o prazo prescricional REsp 1251993/PR 12/12/2012
em ação indenizatória ajuizada quinquenal - previsto do Decreto
contra a Fazenda Pública. 20.910/32 - nas ações indenizatórias
ajuizadas contra a Fazenda Pública,
em detrimento do prazo trienal con-
tido do Código Civil de 2002.
554 Discute-se a possibilidade de Aplica-se a Súmula 149/STJ ('A REsp 1321493/PR 10/10/2012
admitir prova exclusivamente prova exclusivamente testemu-
testemunhal (art. 55, § 3º, da nhal não basta à comprovação da
Lei 8.213/1991) para configurar atividade rurícola, para efeitos da
tempo de serviço rural para fins obtenção de benefício previden-
previdenciários no caso do tra- ciário') aos trabalhadores rurais
balhador denominado 'boia-fria'. denominados 'boias-frias', sendo
imprescindível a apresentação de
início de prova material. Por outro
lado, considerando a inerente difi-
culdade probatória da condição de
trabalhador campesino, a apresen-
tação de prova material somente
sobre parte do lapso temporal pre-
tendido não implica violação da
Súmula 149/STJ, cuja aplicação é
mitigada se a reduzida prova mate-
rial for complementada por idônea
e robusta prova testemunhal.
555 Discute-se a possibilidade de A acumulação do auxílio-acidente REsp 1296673/MG 22/08/2012
cumular auxílio-acidente com com proventos de aposentadoria
aposentadoria, diante do art. pressupõe que a eclosão da lesão
86, § 3º, da Lei 8.213/91, com a incapacitante, apta a gerar o direi-
redação dada pela Medida Pro- to ao auxílio-acidente, e a conces-
visória 1.596-14/97 (D.O.U. são da aposentadoria sejam ante-
11.11.1997), posteriormente riores à alteração do art. 86, §§ 2º
convertida na Lei n. 9.528/97. e 3º, da Lei 8.213/1991, promovida
em 11.11.1997 pela Medida Provi-
sória 1.596-14/1997, posteriormen-
te convertida na Lei 9.528/1997.
437
Maria Cecília de Araujo Asperti
556 Discute-se a possibilidade de Para fins de fixação do momento REsp 1296673/MG 22/08/2012
cumular auxílio-acidente com em que ocorre a lesão incapaci-
aposentadoria, diante do art. tante em casos de doença pro-
86, § 3º, da Lei 8.213/91, com a fissional ou do trabalho, deve ser
redação dada pela Medida Pro- observada a definição do art. 23
visória 1.596-14/97 (D.O.U. da Lei 8.213/1991, segundo a qual
11.11.1997), posteriormente 'considera-se como dia do aciden-
convertida na Lei n. 9.528/97. te, no caso de doença profissional
ou do trabalho, a data do início
da incapacidade laborativa para
o exercício da atividade habitual,
ou o dia da segregação compulsó-
ria, ou o dia em que for realizado
o diagnóstico, valendo para este
efeito o que ocorrer primeiro'.
558 Questiona-se a faculdade ou Prescreve o art. 38 da Lei nº REsp 1161522/AL 12/12/2012
obrigatoriedade de a institui- 10.150/2000 que as instituições
ção financeira promover o ar- financeiras captadoras de depósi-
rendamento imobiliário espe- tos à vista e que operem crédito
cial previsto no art. 38, caput imobiliário estão autorizadas, e
e § 2º da Lei nº 10.150/2000. não obrigadas, a promover con-
trato de Arrendamento Imobi-
liário Especial com Opção de
Compra, dos imóveis que tenham
arrematado, adjudicado ou rece-
bido em dação em pagamento por
força de financiamentos habita-
cionais por elas concedidos.
560 Questão referente ao prazo de Em se tratando de pedido relativo REsp 1249321/RS 10/04/2013
prescrição da pretensão de res- a valores para cujo ressarcimen-
tituição de valores pagos para to não havia previsão contratual
o custeio de extensão de rede (pactuação prevista em instru-
de energia elétrica. mento, em regra, nominado de
'TERMO DE CONTRIBUI-
ÇÃO'), a pretensão prescreve
em 20 (vinte) anos, na vigência
do Código Civil de 1916, e em 3
(três) anos, na vigência do Códi-
go Civil de 2002, por se tratar de
demanda fundada em enriqueci-
mento sem causa (art. 206, § 3º,
inciso IV), observada, igualmen-
te, a regra de transição prevista
no art. 2.028 do Código Civil de
2002.
561 FURTO QUALIFICADO PE Afigura-se absolutamente 'possí- REsp 1193194/MG 22/08/2012
LO CONCURSO DE AGEN- vel o reconhecimento do privilé-
TES. COMPATIBILIDADE gio previsto no § 2º do art. 155 do
COM A MODALIDADE PRI- Código Penal nos casos de furto
VILEGIADA PREVISTA NO qualificado (CP, art. 155, § 4º)',
ART. 155, § 2º, DO CP. máxime se presente qualificadora
de ordem objetiva, a primarieda-
de do réu e, também, o pequeno
valor da res furtiva.
438
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
439
Maria Cecília de Araujo Asperti
440
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
577 Discussão referente à forma de Em contratos submetidos ao Có- REsp 1300418/SC 13/11/2013
devolução dos valores devidos digo de Defesa do Consumidor, é
ao promitente comprador (se abusiva a cláusula contratual que
imediatamente ou somente ao determina a restituição dos valo-
término da obra) em razão da res devidos somente ao término
rescisão do contrato de promes- da obra ou de forma parcelada, na
sa de compra e venda de imóvel. hipótese de resolução de contato
de promessa de compra e venda
de imóvel, por culpa de qualquer
dos contratantes.
578 Discute se a parte executada, Em princípio, nos termos do art. REsp 1337790/PR 12/06/2013
ainda que não apresente ele- 9°, III, da Lei 6.830/1980, cumpre
mentos concretos que justifi- ao executado nomear bens à pe-
quem a incidência do princípio nhora, observada a ordem legal. É
da menor onerosidade (art. 620 dele o ônus de comprovar a im-
do CPC), possui direito subjeti- periosa necessidade de afastá-la,
vo à aceitação do bem por ela e, para que essa providência seja
nomeado à penhora em Execu- adotada, mostra-se insuficiente a
ção Fiscal, em desacordo com a mera invocação genérica do art.
ordem prevista nos arts. 11 da 620 do CPC.
lei 6.830/1980 e 655 do CPC.
580 Discute-se a prerrogativa de Em execução fiscal ajuizada por REsp 1330473/SP 12/06/2013
o procurador de Conselho de Conselho de Fiscalização Profis-
Fiscalização ser intimado pes- sional, seu representante judicial
soalmente nos autos de execu- possui a prerrogativa de ser pesso-
ção fiscal, nos termos do art. almente intimado.
25 da Lei 6.830/80.
581 Questão relativa à natureza Os crimes de estupro e atenta- REsp 1110520/SP 26/09/2012
hedionda dos crimes de es- do violento ao pudor pratica-
tupro e atentado violento ao dos antes da edição da Lei nº
pudor quando praticados na 12.015/2009, ainda que em sua
forma simples. forma simples, configuram moda-
lidades de crime hediondo.
582 SERVIDOR PÚBLICO FE- A Lei n. 11.907/2009, que (...) REsp 1343065/PR 28/11/2012
DERAL. LEI 11.907/09. PLA- produziu efeitos financeiros re-
NO ESPECIAL DE CARGOS troativos a 1/7/2008, determinou
E SALÁRIOS DO MINISTÉ- a incorporação da GAE ao ven-
RIO DA FAZENDA. GRATI- cimento básico dos servidores a
FICAÇÃO DE ATIVIDADE partir de 1/7/2008 e estabeleceu
EXECUTIVA. GAE. INCOR- que, para evitar pagamento em
PORAÇÃO AO VENCI- duplicidade dos valores da GAE,
MENTO BÁSICO. a nova remuneração (que já con-
tinha os valores da GAE incorpo-
rados) não poderia ser cumulada
com os valores já percebidos an-
teriormente pelos servidores a
título de GAE.
441
Maria Cecília de Araujo Asperti
584 Discute-se, com base na Lei Em se tratando de demanda em REsp 1344771/PR 24/04/2013
de Diretrizes e Bases da Edu- que se discute a ausência/obstácu-
cação, a competência para lo de credenciamento da institui-
o julgamento de demandas ção de ensino superior pelo Minis-
referentes à existência de obs- tério da Educação como condição
táculo à obtenção do diploma de expedição de diploma aos estu-
após a conclusão de curso de dantes, é inegável a presença de
ensino a distância, por causa interesse jurídico da União, razão
da ausência/obstáculo de cre- pela qual deve a competência ser
denciamento da instituição de atribuída à Justiça Federal, nos ter-
ensino superior pelo Ministé- mos do art. 109, I, da Constituição
rio da Educação. Federal de 1988.
585 Discute-se a possibilidade de É possível, na segunda fase da REsp 1341370/MT 10/04/2013
compensação da atenuante da dosimetria da pena, a compen-
confissão espontânea com a sação da atenuante da confissão
agravante da reincidência. espontânea com a agravante da
reincidência.
589 Discute-se a possibilidade de Ajuizada ação coletiva atinente a REsp 1353801/RS 14/08/2013
suspensão, nos termos da legis- macro-lide geradora de processos
lação vigente, do andamento multitudinários, suspendem-se as
de inúmeros processos até o ações individuais, no aguardo do
julgamento em ação coletiva julgamento da ação coletiva.
da tese jurídica de fundo neles
indicada.
590 EXECUÇÃO FISCAL. RES- As informações sigilosas das par- REsp 1349363/SP 22/05/2013
POSTA DAS INSTITUIÇÕES tes devem ser juntadas aos autos
FINANCEIRAS AO OFÍCIO do processo que correrá em segre-
DE REQUISIÇÃO DE IN- do de justiça, não sendo admitido
FORMAÇÃO DE ATIVOS o arquivamento em apartado.
FINANCEIROS VIA BACEN-
-JUD. DOCUMENTOS SIGI-
LOSOS. DISCUSSÃO A RES-
PEITO DA NECESSIDADE
DE ARQUIVAMENTO EM
"PASTA PRÓPRIA" FORA
DOS AUTOS OU DECRETA-
ÇÃO DE SEGREDO DE JUS-
TIÇA. ART. 155, I, DO CPC.
591 GRATIFICAÇÃO DE ATI- Não prospera a tese dos autores REsp 1353016/AL 12/06/2013
VIDADE EXECUTIVA - de que a supressão da GAE pelo
GAE. PERCEPÇÃO PELOS art. 59 da MP 2.048-26/0000 diz
ADVOGADOS DA UNIÃO. respeito apenas aos cargos referi-
MP N. 2.048-26/2000. dos no art. 1º desta medida pro-
visória (artigo este que não cita
o cargo de Advogado da União).
Isso porque o art. 41 da MP
2.048-26/0000, que menciona
o cargo de Advogado da União,
deve ser interpretado sistemática
e teleologicamente com o art. 59
do mesmo diploma legal.
442
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
593 PENAL E PROCESSO PE- Considera-se "típica, formal e ma- REsp 1193196/MG 26/09/2012
NAL. RECURSO ESPECIAL. terialmente, a conduta prevista
OFENSA AO ART. 184, § 2°, no artigo 184, § 2º, do Código Pe-
DO CP. MERCANCIA DE nal, afastando, assim, a aplicação
CD'S E DVD'S "PIRATAS". do princípio da adequação social,
ATIPICIDADE DA CON- de quem expõe à venda CD's E
DUTA EM FACE DO PRIN- DVD's 'piratas'."
CÍPIO DA ADEQUAÇÃO
SOCIAL.
594 Discute-se a possibilidade de As empresas concessionárias de ve- REsp 1339767/SP 26/06/2013
recolhimento do PIS e da CO- ículos, em relação aos veículos no-
FINS, utilizando como base de vos, devem recolher PIS e COFINS
cálculo somente a diferença na forma dos arts.. 2º e 3º, da Lei
entre o valor de alienação dos n. 9.718/98, ou seja, sobre a receita
veículos novos que transaciona bruta/faturamento (compreenden-
e o respectivo custo repassado do o valor da venda do veículo ao
para a montadora que os for- consumidor) e não sobre a diferen-
nece ("margem de lucro"), e ça entre o valor de aquisição do ve-
não sobre o preço de venda ículo junto à fabricante concedente
fixado pela pessoa jurídica fa- e o valor da venda ao consumidor
bricante (montadora). (margem de lucro).
595 PIS/PASEP E COFINS. ART. Reconhecido o direito à repetição REsp 1354506/SP 14/08/2013
3º, §1º, DA LEI N. 9.718/98. de indébito com base na incons-
DISCUSSÃO A RESPEITO titucionalidade do art. 3º, § 1º,
DO CONCEITO DE FATU- da Lei n. 9.718/98, deve ser reco-
RAMENTO/RECEITA BRU- nhecido o mesmo direito após a
TA PARA AS PESSOAS JURÍ- vigência das Leis n. 10.637/2002
DICAS TRIBUTADAS PELO e 10.833/2003 para as pessoas ju-
IMPOSTO DE RENDA COM rídicas tributadas pelo imposto
BASE NO LUCRO PRESUMI- de renda com base no lucro pre-
DO OU ARBITRADO. ART. sumido ou arbitrado, diante da
8º, II, DA LEI N. 10.637/2002 aplicação do art. 8º, II, da Lei n.
(PIS) E ART. 10, II, DA LEI N. 10.637/2002 e do art. 10, II, da Lei
10.833/2003 (COFINS). n. 10.833/2003, que excluem tais
pessoas jurídicas da cobrança não-
-cumulativa do PIS e da COFINS.
596 Posse ilegal de arma de fogo de É típica a conduta de possuir REsp 1311408/RN 13/03/2013
uso permitido com numeração arma de fogo de uso permitido
raspada, suprimida ou adulte- com numeração, marca ou qual-
rada (art. 16, parágrafo único, quer outro sinal de identificação
IV, da Lei n. 10.826/2003). raspado, suprimido ou adultera-
Abolitio criminis temporária. do, praticada após 23/10/2005,
Prorrogações. Termo final. pois, em relação a esse delito, a
abolitio criminis temporária ces-
sou nessa data, termo final da
prorrogação dos prazos previstos
na redação original dos arts.. 30 e
32 da Lei n. 10.826/2003.
443
Maria Cecília de Araujo Asperti
598 Questão referente à possibili- À mingua de lei expressa, a ins- REsp 1350804/PR 12/06/2013
dade de inscrição em dívida crição em dívida ativa não é a for-
ativa de benefício previdenci- ma de cobrança adequada para os
ário indevidamente recebido, valores indevidamente recebidos
qualificado como enriqueci- a título de benefício previdenciá-
mento ilícito. rio previstos no art. 115, II, da Lei
n. 8.213/91 que devem submeter-
-se a ação de cobrança por enri-
quecimento ilícito para apuração
da responsabilidade civil.
599 Discute-se a possibilidade das O art. 53, inciso V, da Lei 9394/96 REsp 1349445/SP 08/05/2013
Universidades fixarem regras permite à universidade fixar nor-
específicas para o recebimento mas específicas a fim de discipli-
e processamento dos pedidos de nar o referido processo de revali-
revalidação de Diploma obtido dação de diplomas de graduação
em Universidade estrangeira. expedidos por estabelecimentos
estrangeiros de ensino superior,
não havendo qualquer ilegalidade
na determinação do processo se-
letivo para a revalidação do diplo-
ma, porquanto decorre da neces-
sidade de adequação dos procedi-
mentos da instituição de ensino
para o cumprimento da norma,
uma vez que de outro modo não
teria a universidade condições
para verificar a capacidade técni-
ca do profissional e sua formação,
sem prejuízo da responsabilidade
social que envolve o ato.
601 Questão referente à validade É válida a intimação do represen- REsp 1352882/MS 12/06/2013
da intimação da Fazenda Na- tante da Fazenda Nacional por
cional, feita por meio de carta, carta com aviso de recebimento
em razão de sua sede possuir (art. 237, II, do CPC) quando o
localização em cidade distinta respectivo órgão não possui sede
da Comarca em que tramita a na Comarca de tramitação do
Execução Fiscal (inteligência feito.
do art. 25 da Lei 6.830/1980,
do art. 38 da LC 73/1993 e do
art. 20 da Lei 11.033/2004).
444
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
445
Maria Cecília de Araujo Asperti
608 Cinge-se a discussão em definir Não há impedimento constitucio- REsp 1347736/RS 09/10/2013
se o valor da execução pode ser nal, ou mesmo legal, para que os
fracionado, a ponto de permitir honorários advocatícios, quando
o pagamento dos honorários não excederem ao valor limite, pos-
advocatícios por meio de RPV sam ser executados mediante RPV,
e o crédito principal por meio ainda que o crédito dito 'principal'
de precatórios judicial. observe o regime dos precatórios.
610 Discussão sobre o prazo pres- Na vigência dos contratos de REsp 1360969/RS 10/08/2016
cricional para exercício da pre- plano ou de seguro de assistência
tensão de revisão de cláusula à saúde, a pretensão condena-
contratual que prevê reajuste tória decorrente da declaração
de plano de saúde e respectiva de nulidade de cláusula de rea-
repetição dos valores suposta- juste nele prevista prescreve em
mente pagos a maior. 20 anos (art. 177 do CC/1916)
ou em 3 anos (art. 206, § 3º, IV,
do CC/2002), observada a regra
de transição do art. 2.028 do
CC/2002.
611 Cinge-se a discussão em fixar O art. 1º-F da Lei 9.494/97, com REsp 1356120/RS 14/08/2013
o termo inicial dos juros mora- a redação da Lei 11.960/09, não
tórios incidentes sobre diferen- modificou o termo a quo de inci-
ças remuneratórias cobradas dência dos juros moratórios sobre
em juízo por servidor públi- as obrigações ilíquidas devidas
co. Para o acórdão recorrido, pela Administração ao servidor
com o advento do art. 1º-F da público, aplicando-se, conse-
Lei 9.494/97, redação da Lei quentemente, as regras constan-
11.960/09, os juros incidem a tes dos arts. 219 do CPC e 405 do
partir da data em que deveria Código Civil, os quais estabele-
ter sido adimplida cada par- cem a citação como marco inicial
cela, enquanto o recorrente da referida verba.
defende que o termo inicial é
a data da citação, nos termos
dos arts. 219 do CPC, e 405 do
CC, disciplina que não sofreu
qualquer alteração com o art.
1º-F, que nada dispõe sobre o
termo inicial dos juros.
612 Questão referente à possibilida- Da simples leitura do artigo em REsp 1363163/SP 11/09/2013
de de aplicação do artigo 20 da comento, verifica-se que a deter-
Lei 10.522/2002, que determina minação nele contida, de arquiva-
o arquivamento provisório das mento, sem baixa, das execuções
execuções de pequeno valor, fiscais referentes aos débitos com
às execuções fiscais propostas valores inferiores a R$ 10.000,00
pelos Conselhos Regionais de (dez mil reais) destina-se exclu-
Fiscalização Profissional. sivamente aos débitos inscritos
como dívida ativa da União, pela
Procuradoria da Fazenda Nacio-
nal ou por ela cobrados.
614 DÉBITOS TRIBUTÁRIOS Inexiste óbices à penhora, em REsp 1355812/RS 22/05/2013
DA MATRIZ. DISCUSSÃO face de dívidas tributárias da ma-
A RESPEITO DA POSSIBI- triz, de valores depositados em
LIDADE DE BLOQUEIO DE nome das filiais.
DEPÓSITOS DE TITULA-
RIDADE DAS FILIAIS.
446
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
615 Cinge-se a discussão em de- A Convenção Regional sobre o REsp 1215550/PE 23/09/2015
finir se diploma estrangeiro, Reconhecimento de Diploma de
expedido em um dos países Ensino Superior na América La-
signatários da Convenção Re- tina e no Caribe, aprovada pelo
gional sobre o Reconhecimen- Decreto Legislativo n.º 66/77 e
to de Diploma de Ensino Su- promulgada pelo Decreto Pre-
perior na América Latina e no sidencial n.º 80.419/77, possui
Caribe, aprovada pelo Decreto nítido caráter programático ao
Legislativo n.º 66/77 e promul- determinar que os países signa-
gada pelo Decreto Presidencial tários criem mecanismos para
n.º 80.419/77, deve ser registra- torná-la efetiva, inexistindo, por-
do automaticamente no país, tanto, determinação específica
independentemente de proces- de reconhecimento automático
so de revalidação. dos diplomas. Concluiu-se, no
presente julgado, que o Decreto
nº 80.419/77:1) não foi revogado
pelo Decreto n. 3.007/99;2) não
traz norma específica que vede
o procedimento de revalidação
dos diplomas que têm respaldo
nos artigos 48 e 53, V, da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira.
618 Questão referente à possibili- Nos contratos bancários celebrados REsp 1251331/RS 28/08/2013
dade de cobranças das taxas/ até 30/04/2008 (fim da vigência
tarifas administrativas para da Resolução CMN 2.303/96) era
abertura de crédito e de emis- válida a pactuação das Tarifas de
são de carnê e de pagamento Abertura de Crédito (TAC) e de
parcelado do Imposto sobre Emissão de Carnê (TEC), ou outra
Operações Financeiras (IOF), denominação para o mesmo fato
dentre outros encargos. gerador, ressalvado o exame de
abusividade em cada caso concreto.
619 Questão referente à possibili- Com a vigência da Resolução REsp 1251331/RS 28/08/2013
dade de cobranças das taxas/ CMN 3.518/2007, em 30/04/2008,
tarifas administrativas para a cobrança por serviços bancários
abertura de crédito e de emis- prioritários para pessoas físicas
são de carnê e de pagamento ficou limitada às hipóteses taxa-
parcelado do Imposto sobre tivamente previstas em norma
Operações Financeiras (IOF), padronizadora expedida pela
dentre outros encargos. autoridade monetária. Desde
então, não tem respaldo legal a
contratação da Tarifa de Emissão
de Carnê (TEC) e da Tarifa de
Abertura de Crédito (TAC), ou
outra denominação para o mesmo
fato gerador.
620 Questão referente à possibili- Permanece válida a tarifa de ca- REsp 1251331/RS 28/08/2013
dade de cobranças das taxas/ dastro expressamente tipificada
tarifas administrativas para em ato normativo padronizador da
abertura de crédito e de emis- autoridade monetária, a qual so-
são de carnê e de pagamento mente pode ser cobranda do início
parcelado do Imposto sobre do relacionamento entre o consu-
Operações Financeiras (IOF), midor e a instituição financeira.
dentre outros encargos.
447
Maria Cecília de Araujo Asperti
621 Questão referente à possibili- Podem as partes convencionar REsp 1251331/RS 28/08/2013
dade de cobranças das taxas/ o pagamento do Imposto sobre
tarifas administrativas para Operações Financeiras e de Cré-
abertura de crédito e de emis- dito (IOF) por meio de financia-
são de carnê e de pagamento mento acessório ao mútuo prin-
parcelado do Imposto sobre cipal, sujeitando-o aos mesmos
Operações Financeiras (IOF), encargos contratuais.
dentre outros encargos.
622 Discute-se a necessidade ou A aplicação da sanção civil do REsp 1111270/PR 25/11/2015
não de ajuizamento de ação pagamento em dobro por cobran-
autônoma ou de oferecimento ça judicial de dívida já adimplida
de reconvenção para que o réu (cominação encartada no artigo
faça jus à devolução em dobro 1.531 do Código Civil de 1916, re-
por cobrança de dívida paga produzida no artigo 940 do Código
(artigo 1.531 do Código Civil Civil de 2002) pode ser postulada
de 1916, atual artigo 940 do pelo réu na própria defesa, inde-
Código Civil de 2002). pendendo da propositura de ação
autônoma ou do manejo de recon-
venção, sendo imprescindível a
demonstração de má-fé do credor.
624 Discute-se a isenção da Co- As receitas auferidas a título de REsp 1353111/RS 23/09/2015
fins às atividades próprias das mensalidades dos alunos de insti-
entidades sem fins lucrativos tuições de ensino sem fins lucrati-
para fins de gozo da isenção vos são decorrentes de "atividades
prevista no art. 14, X, da MP próprias da entidade", conforme
n. 2.158-35/2001. Verificação o exige a isenção estabelecida no
da legalidade do art. 47, II e art. 14, X, da Medida Provisória
§ 2º, da Instrução Normativa n. 1.858/99 (atual MP n. 2.158-
SRF n. 247/2002. Sociedade 35/2001), sendo flagrante a ilici-
civil educacional ou de caráter tude do art. 47, § 2º, da IN/SRF n.
cultural e científico. 247/2002, nessa extensão.
625 Questão referente à isenção O benefício da isenção do prepa- REsp 1338247/RS 10/10/2012
das entidades de fiscalização ro, conferido aos entes públicos
profissional do preparo de re- previstos no art. 4º, caput, da Lei
cursos nos feitos que tramitam 9.289/1996, é inaplicável aos Con-
no âmbito da Justiça Federal. selhos de Fiscalização Profissional.
626 Questão referente ao termo A citação válida informa o litígio, REsp 1369165/SP 26/02/2014
inicial do benefício aposenta- constitui em mora a autarquia
doria por invalidez, deferido previdenciária federal e deve ser
na via judicial e sem requeri- considerada como termo inicial
mento administrativo anterior, para a implantação da aposen-
deve ser fixado na data do lau- tadoria por invalidez concedida
do médico-pericial. na via judicial quando ausente a
prévia postulação administrativa.
448
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
628 Questiona se o transcurso do O prazo para ajuizamento de ação REsp 1101412/SP 11/12/2013
prazo prescricional previsto monitória em face do emitente
no artigo 61 da Lei do Cheque de cheque sem força executiva é
não impõe a perda da preten- quinquenal, a contar do dia se-
são, pois, embora a ação mo- guinte à data de emissão estam-
nitória não ostente natureza pada na cártula.
cambial, o cheque prescrito
serve como prova escrita do
crédito oriundo relação cau-
sal, que, para admissibilidade
da ação, não se submete ao
mesmo prazo prescricional da
obrigação cambiária.
630 Discute a possibilidade de redi- Em execução fiscal de dívida ati- REsp 1371128/RS 10/09/2014
recionamento da execução fis- va tributária ou não-tributária,
cal contra o diretor da empresa dissolvida irregularmente a em-
executada, por dívida de natu- presa, está legitimado o redirecio-
reza não tributária, diante de namento ao sócio-gerente.
indícios de dissolução irregular,
nos termos da legislação civil.
631 SERVIDOR PÚBLICO FE- À luz do art. 120, § 5º, da Lei n. REsp 1343128/SC 12/06/2013
DERAL. DOCENTE. CAR- 11.784/2008, até que fosse publi-
REIRA DO MAGISTÉRIO cado o regulamento, as regras de
DE ENSINO BÁSICO, TÉC- progressão dos docentes da carrei-
NICO E TECNOLÓGICO. ra do magistério básico, técnico e
PROGRESSÃO FUNCIO- tecnológico federal seriam regidas
NAL. LEI 11.784/08. CON- pelas disposições da anterior Lei
DIÇÃO DE EFICÁCIA. NE- n. 11.344/2006, que previa duas
CESSIDADE DE REGULA- possibilidades de progressão: por
MENTAÇÃO. LEI 11.344/06. interstício, com avaliação; e por
titulação, sem observância do in-
terstício.
633 Discute-se a legalidade da im- O artigo 6º, § 1º, da Lei nº 11.941, REsp 1353826/SP 12/06/2013
posição de honorários advoca- de 2009, só dispensou dos hono-
tícios de sucumbência à parte rários advocatícios o sujeito passi-
que renuncia ao direito ou de- vo que desistir de ação judicial em
siste da ação, na forma do art. que requeira 'o restabelecimento
6°, § 1°, da Lei 11.941/2009, de sua opção ou a sua reinclusão
para os fins de aderir ao parce- em outros parcelamentos'. Nas
lamento tributário regido por demais hipóteses, à míngua de
esse diploma legal. disposição legal em sentido con-
trário, aplica-se o artigo 26, ca-
put, do Código de Processo Civil,
que determina o pagamento dos
honorários advocatícios pela par-
te que desistiu do feito.
634 Discute-se a inclusão do ISS O valor suportado pelo benefi- REsp 1330737/SP 10/06/2015
na base de cálculo da CO- ciário do serviço, nele incluindo
FINS/PIS. a quantia referente ao ISSQN,
compõe o conceito de receita ou
faturamento para fins de adequa-
ção à hipótese de incidência do
PIS e da COFINS.
449
Maria Cecília de Araujo Asperti
636 Cinge-se a discussão em saber O disposto no art. 20 da Lei n. REsp 1343591/MA 11/12/2013
se a orientação jurisprudencial 10.522/2002 não se aplica às exe-
já sedimentada nesta Corte cuções de créditos das autarquias
de que "as execuções fiscais federais cobrados pela Procurado-
relativas a débitos iguais ou ria-Geral Federal.
inferiores a R$ 10.000,00 (dez
mil reais) devem ter seus autos
arquivados, sem baixa na dis-
tribuição" deve ser estendida
aos executivos fiscais movidos
pelas autarquias federais.
637 Discute-se a ordem na qual os I -os créditos resultantes de ho- REsp 1152218/RS 07/05/2014
créditos resultantes de honorá- norários advocatícios têm natu-
rios advocatícios devem ser sa- reza alimentar e equiparam-se aos
tisfeitos no processo falimentar. trabalhistas para efeito de habili-
tação em falência, seja pela regên-
cia do Decreto-Lei n. 7.661/1945,
seja pela forma prevista na Lei n.
11.101/2005, observado o limite
de valor previsto no artigo 83, in-
ciso I, do referido Diploma legal.
II - são créditos extraconcursais
os honorários de advogado resul-
tantes de trabalhos prestados à
massa falida, depois do decreto de
falência, nos termos dos arts. 84 e
149 da Lei n. 11.101/2005.
638 Controvérsia acerca da possi- Mostra-se possível o reconheci- REsp 1348633/SP 28/08/2013
bilidade de reconhecimento mento de tempo de serviço ru-
do período de trabalho rural ral anterior ao documento mais
anterior ao documento mais antigo, desde que amparado por
antigo juntado como início de convincente prova testemunhal,
prova material. colhida sob contraditório.
640 Discute-se a possibilidade de Aplica-se o parágrafo único do REsp 1355052/SP 25/02/2015
concessão de benefício previ- artigo 34 do Estatuto do Idoso
denciário ou benefício assis- (Lei n. 10.741/03), por analogia,
tencial, no valor de um salário a pedido de benefício assistencial
mínimo, recebido por idoso feito por pessoa com deficiência a
ou deficiente que faça parte fim de que benefício previdenci-
do núcleo familiar, não deve ário recebido por idoso, no valor
ser considerado na aferição de um salário mínimo, não seja
da renda per capita prevista computado no cálculo da renda
no artigo 20, § 3º, da Lei n. per capita prevista no artigo 20, §
8.742/93 ante a interpreta- 3º, da Lei n. 8.742/93.
ção do que dispõe o artigo
34, parágrafo único, da Lei n.
10.741/03 (Estatuto do Idoso).
450
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
641 Discussão: se o prazo para O prazo para ajuizamento de ação REsp 1262056/SP 11/12/2013
ajuizamento ação monitória monitória em face do emitente de
fundada em nota promissória nota promissória sem força execu-
prescrita é o previsto no artigo tiva é quinquenal, a contar do dia
206, § 5º, I, do Código Civil, seguinte ao vencimento do título.
pois, em que pese a prescrição,
constitui instrumento repre-
sentante de dívida líquida, cer-
ta e exigível.
642 Questão referente à atividade O segurado especial tem que es- REsp 1354908/SP 09/09/2015
rural deve ser comprovada no tar laborando no campo, quando
período imediatamente ante- completar a idade mínima para se
rior ao requerimento. aposentar por idade rural, momen-
to em que poderá requerer seu be-
nefício. Ressalvada a hipótese do
direito adquirido, em que o segu-
rado especial, embora não tenha
requerido sua aposentadoria por
idade rural, preenchera de forma
concomitante, no passado, ambos
os requisitos carência e idade.
643 Discussão acerca da possibili- Não há falar em restabelecimento REsp 1369832/SP 12/06/2013
dade de manutenção de pen- da pensão por morte ao benefici-
são por morte a filho maior de ário, maior de 21 anos e não in-
21 anos e não inválido. válido, diante da taxatividade da
lei previdenciária, porquanto não
é dado ao Poder Judiciário legislar
positivamente, usurpando função
do Poder Legislativo.
644 Discussão acerca da possibili- APOSENTADORIA POR REsp 1352791/SP 27/11/2013
dade ou não de concessão de TEMPO DE SERVIÇO. AVER-
aposentadoria por tempo de BAÇÃO DE TRABALHO RU-
serviço/contribuição a traba- RAL COM REGISTRO EM
lhador urbano mediante o côm- CARTEIRA PROFISSIONAL
puto de atividade rural com re- PARA EFEITO DE CARÊNCIA.
gistro em carteira profissional POSSIBILIDADE. (...) Mostra-
em período anterior ao advento -se incontroverso nos autos que o
da Lei 8.213/1991 para efeito da autor foi contratado por emprega-
carência exigida no art. 142 da dor rural, com registro em carteira
Lei de Benefícios. profissional desde 1958, razão pela
qual não há como responsabilizá-
-lo pela comprovação do recolhi-
mento das contribuições.
645 Discussão acerca da possibili- A norma extraída do caput do art. REsp 1348301/SC 27/11/2013
dade ou não de aplicar o prazo 103 da Lei 8.213/91 não se aplica
decadencial previsto no art. às causas que buscam o reconhe-
103 da Lei 8.213/91 aos casos cimento do direito de renúncia à
de desaposentação. aposentadoria, mas estabelece pra-
zo decadencial para o segurado ou
seu beneficiário postular a revisão
do ato de concessão do benefício, o
qual, se modificado, importará em
pagamento retroativo, diferente do
que se dá na desaposentação.
451
Maria Cecília de Araujo Asperti
646 DIREITO PENAL. ART. 307 É típica a conduta de atribuir-se REsp 1362524/MG 23/10/2013
DO CP. PRISÃO EM FLA- falsa identidade perante autoridade
GRANTE. FALSA IDENTIFI- policial, ainda que em situação de
CAÇÃO PERANTE AUTO- alegada autodefesa (art. 307 do CP).
RIDADE POLICIAL. AUTO-
DEFESA. INEXISTÊNCIA.
TIPICIDADE DA CONDUTA
DE FALSA IDENTIDADE.
647 Questão referente à possibili- Ao profissional formado em REsp 1361900/SP 12/11/2014
dade, ou não, de profissional educação física, na modalidade
formado no curso de três anos licenciatura de graduação plena,
de educação física, licenciatu- somente é permitido atuar na
ra plena, exercer a sua profis- educação básica, sendo-lhe defe-
são em toda e qualquer área re- so o exercício da profissão na área
laciona à educação física, sem não formal.
a restrição imposta pelo con-
selho Regional de Educação
Física do Estado de São Paulo.
648 Discussão envolvendo ação A propositura de ação cautelar de REsp 1349453/MS 10/12/2014
cautelar de exibição de docu- exibição de documentos bancários
mentos, em que se questiona (cópias e segunda via de documen-
o interesse de agir da parte, tos) é cabível como medida prepa-
alegando-se que o pedido de ratória a fim de instruir a ação
exibição de documentos deve- principal, bastando a demonstra-
ria ser feito no bojo da própria
ção da existência de relação jurí-
ação principal. dica entre as partes, a comprova-
ção de prévio pedido à instituição
financeira não atendido em prazo
razoável, e o pagamento do custo
do serviço conforme previsão con-
tratual e normatização da autori-
dade monetária.
649 Questão referente à legitimi- A pessoa jurídica não tem legiti- REsp 1347627/SP 09/10/2013
dade ou ilegitimidade da pes- midade para interpor recurso no
soa jurídica, originariamente interesse do sócio.
acionada, para interpor recur-
so contra o redirecionamento
da execução contra os sócios.
650 Questão relativa ao pagamento O benefício especial de renda REsp 1331168/RJ 12/11/2014
do "Benefício Especial de Ren- certa, instituído pela Caixa de
da Certa" exclusivamente para Previdência dos Funcionários do
os aposentados que, no período Banco do Brasil - PREVI, é devido
de atividade, completaram o exclusivamente aos assistidos que,
mínimo de 360 contribuições. no período de atividade, contribu-
íram por mais de 360 meses (30
anos) para o plano de benefícios.
452
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
651 Questão referente à possibili- Considerando a prerrogativa que REsp 1383500/SP 17/02/2016
dade de se dispensar a juntada possui a Fazenda Nacional de ser
da certidão de intimação da intimada das decisões, por meio
decisão agravada para a forma- da concessão de vista pessoal e,
ção do agravo de instrumento, em atenção ao princípio da ins-
nos casos em que há vista pes- trumentalidade das formas, pode
soal à Fazenda Nacional. a certidão de concessão de vistas
dos autos ser considerada elemen-
to suficiente à demonstração da
tempestividade do agravo de ins-
trumento, substituindo a certidão
de intimação legalmente prevista.
654 Discute a possibilidade de ce- A legislação sobre cédulas de REsp 1333977/MT 26/02/2014
lebração de cláusula contratual crédito rural admite o pacto de
que preveja a capitalização dos capitalização de juros em periodi-
juros em periodicidade mensal. cidade inferior à semestral.
655 PRÁTICA DE CRIME DO- O reconhecimento de falta grave REsp 1336561/RS 25/09/2013
LOSO. FALTA GRAVE. decorrente do cometimento de
DISCUSSÃO ACERCA DA fato definido como crime doloso
NECESSIDADE DE TRÂN- no cumprimento da pena pres-
SITO EM JULGADO DA cinde do trânsito em julgado de
SENTENÇA PENAL CON- sentença penal condenatória no
DENATÓRIA PARA O RE- processo penal instaurado para
CONHECIMENTO DA IN- apuração do fato.
FRAÇÃO DISCIPLINAR.
660 O feito em que se busca a con- "(...)a concessão de benefícios pre- REsp 1369834/SP 24/09/2014
cessão de benefício previden- videnciários depende de requeri-
ciário deve ser extinto sem jul- mento administrativo", conforme
gamento do mérito, por falta de decidiu o Plenário do Supremo
interesse processual, sempre que Tribunal Federal, no julgamento
não houver prévio requerimento do RE 631.240/MG, sob o rito
ou comunicação desse pedido do artigo 543-B do CPC, obser-
ao INSS na via administrativa. vadas "as situações de ressalva e
fórmula de transição a ser apli-
cada nas ações já ajuizadas até a
conclusão do aludido julgamento
(03/9/2014) "
662 Discussão referente à possibi- Validade da utilização de tabela REsp 1303038/RS 12/03/2014
lidade de utilização da tabela do CNSP para se estabelecer a
do Conselho Nacional de Se- proporcionalidade da indenização
guros Privados - CNSP ou da ao grau de invalidez, na hipótese
Superintendência de Seguros de sinistro anterior a 16/12/2008,
Privados - SUSEP para se es- data da entrada em vigor da Me-
tabelecer a proporcionalidade dida Provisória 451/08.
da indenização, nos casos de
acidentes ocorridos anterior-
mente à entrada em vigor da
Medida Provisória nº 451, 15
de dezembro de 2008, conver-
tida na Lei 11.945/09.
453
Maria Cecília de Araujo Asperti
666 Discussão acerca da valida- É válida, no sistema de planta REsp 1391089/RS 26/02/2014
de da cláusula de contrato de comunitária de telefonia - PCT,
planta comunitária de telefo- a previsão contratual ou regula-
nia - PCT que isenta a com- mentar que desobrigue a com-
panhia de restituir ao consu- panhia de subscrever ações em
midor o valor investido ou de nome do consumidor ou de lhe
subscrever-lhe ações. restituir o valor investido.
667 Discussão sobre a possibilida- O cumprimento de sentença con- REsp 1387249/SC 26/02/2014
de de ser dispensada a fase de denatória de complementação de
liquidação de sentença nas de- ações dispensa, em regra, a fase
mandas por complementação de liquidação de sentença.
de ações.
668 Discussão sobre o termo ini- O termo inicial do prazo prescri- REsp 1388030/MG 11/06/2014
cial da prescrição nas deman- cional, na ação de indenização,
das por indenização do seguro é a data em que o segurado teve
DPVAT nos casos de invalidez ciência inequívoca do caráter per-
permanente da vítima. manente da invalidez.
669 Discussão: possibilidade de Cabimento da cumulação de divi- REsp 1373438/RS 11/06/2014
cumulação de dividendos e ju- dendos e juros sobre capital pró-
ros sobre capital próprio. prio nas demandas por comple-
mentação de ações de empresas
de telefonia.
670 Possibilidade de inclusão de Descabimento da inclusão dos REsp 1373438/RS 11/06/2014
juros sobre capital próprio nos dividendos ou dos juros sobre ca-
cálculos exequendos sem previ- pital próprio no cumprimento da
são no título executivo judicial. sentença condenatória à comple-
mentação de ações sem expressa
previsão no título executivo.
671 Discussão: atribuição do en- Na liquidação por cálculos do REsp 1274466/SC 14/05/2014
cargo de antecipar os honorá- credor, descabe transferir do exe-
rios periciais ao autor da liqui- quente para o executado o ônus
dação de sentença, no caso de do pagamento de honorários de-
perícia determinada de ofício. vidos ao perito que elabora a me-
mória de cálculos.
672 Possibilidade de atribuição do Se o credor for beneficiário da REsp 1274466/SC 14/05/2014
encargo ao réu, na hipótese em gratuidade da justiça, pode-se de-
que o autor seja beneficiário da terminar a elaboração dos cálcu-
gratuidade da justiça. los pela contadoria judicial.
673 Discussão: necessidade de in- Na hipótese do art. 475-L, § 2º, do REsp 1387248/SC 07/05/2014
dicação expressa do valor en- CPC, é indispensável apontar, na
tendido como correto, no caso petição de impugnação ao cumpri-
de impugnação fundada na mento de sentença, a parcela in-
tese de excesso de execução. controversa do débito, bem como
as incorreções encontradas nos
cálculos do credor, sob pena de
rejeição liminar da petição, não se
admitindo emenda à inicial.
454
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
455
Maria Cecília de Araujo Asperti
681 Questão referente à ação inde- A responsabilidade por dano REsp 1354536/SE 26/03/2014
nizatória por danos materiais e ambiental é objetiva, informada
morais promovida por pescado- pela teoria do risco integral, sen-
res em razão de acidente am- do o nexo de causalidade o fator
biental ocorrido no rio Sergipe, aglutinante que permite que o ris-
em que se discute a aplicabilida- co se integre na unidade do ato,
de da Teoria do Risco Integral. sendo descabida a invocação, pela
empresa responsável pelo dano
ambiental, de excludentes de res-
ponsabilidade civil para afastar a
sua obrigação de indenizar.
683 Questão referente à ação in- Em vista das circunstâncias es- REsp 1354536/SE 26/03/2014
denizatória por danos morais pecíficas e homogeneidade dos
promovida por pescadores em efeitos do dano ambiental verifi-
razão de acidente ambiental cado no ecossistema do rio Sergi-
ocorrido no rio Sergipe, em pe - afetando significativamente,
que se discute os valores arbi- por cerca de seis meses, o volume
trados a título de dano moral. pescado e a renda dos pescadores
na região afetada -, sem que tenha
sido dado amparo pela poluidora
para mitigação dos danos morais
experimentados e demonstrados
por aqueles que extraem o sus-
tento da pesca profissional, não
se justifica, em sede de recurso
especial, a revisão do quantum
arbitrado, a título de compen-
sação por danos morais, em R$
3.000,00 (três mil reais).
686 Questão atinente à obrigato- O chamamento ao processo da REsp 1203244/SC 09/04/2014
riedade de chamamento ao União com base no art. 77, III,
processo (art. 77, III, do CPC) do CPC, nas demandas propostas
da União nas demandas que contra os demais entes federativos
envolvem a pretensão de for- responsáveis para o fornecimento
necimento de medicamentos. de medicamentos ou prestação de
serviços de saúde, não é imposi-
tivo, mostrando-se inadequado
opor obstáculo inútil à garantia
fundamental do cidadão à saúde.
687 Discussão acerca da incidência As horas extras e seu respectivo REsp 1358281/SP 23/04/2014
de contribuição previdenciária adicional constituem verbas de
sobre a seguinte verba traba- natureza remuneratória, razão
lhista: horas extras. pela qual se sujeitam à incidência
de contribuição previdenciária.
688 Discussão acerca da incidência O adicional noturno constitui REsp 1358281/SP 23/04/2014
de contribuição previdenciária verba de natureza remuneratória,
sobre a seguinte verba traba- razão pela qual se sujeita à inci-
lhista: adicional noturno. dência de contribuição previden-
ciária.
689 Discussão acerca da incidência O adicional de periculosidade REsp 1358281/SP 23/04/2014
de contribuição previdenciária constitui verba de natureza remu-
sobre a seguinte verba trabalhis- neratória, razão pela qual se su-
ta: adicional de periculosidade. jeita à incidência de contribuição
previdenciária
456
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
457
Maria Cecília de Araujo Asperti
698 Discussão quanto ao cabimen- Caracterizam-se como protelató- REsp 1410839/SC 14/05/2014
to da aplicação de multa em rios os embargos de declaração
Embargos de Declaração que que visam rediscutir matéria já
visavam suprir o requisito do apreciada e decidida pela Corte
prequestionamento viabiliza- de origem em conformidade com
dor do Recurso Especial, nos súmula do STJ ou STF ou, ainda,
termos da Súmula 98 do Supe- precedente julgado pelo rito dos
rior Tribunal de Justiça. artigos 543-C e 543-B, do CPC.
702 A falência da empresa executa- A mera decretação da quebra não REsp 1372243/SE 11/12/2013
da fora decretada antes do ajui- implica extinção da personalida-
zamento da execução fiscal; a de jurídica do estabelecimento
discussão é sobre a legitimidade empresarial. Ademais, a massa
passiva da sociedade e incidên- falida tem exclusivamente perso-
cia, ou não, da Súmula 392/STJ. nalidade judiciária, sucedendo a
empresa em todos os seus direitos
e obrigações. Em consequência, o
ajuizamento contra a pessoa jurí-
dica, nessas condições, constitui
mera irregularidade, sanável nos
termos do art. 284 do CPC e do
art. 2º, § 8º, da Lei 6.830/1980.
703 A falência da empresa executa- O entendimento de que o ajui- REsp 1372243/SE 11/12/2013
da fora decretada antes do ajui- zamento contra a pessoa jurídica
zamento da execução fiscal; a cuja falência foi decretada antes
discussão é sobre a legitimidade do ajuizamento da referida exe-
passiva da sociedade e incidên- cução fiscal "constitui mera irre-
cia, ou não, da Súmula 392/STJ. gularidade, sanável nos termos
do art. 284 do CPC e do art. 2º,
§ 8º, da Lei 6.830/1980 não viola
a orientação fixada pela Súmula
392 do Superior Tribunal Justiça,
mas tão somente insere o equí-
voco ora debatido na extensão
do que se pode compreender por
'erro material ou formal', e não
como 'modificação do sujeito
passivo da execução', expressões
essas empregadas pelo referido
precedente sumular.
704 Discussão acerca da forma de A aposentadoria por invalidez de- REsp 1410433/MG 11/12/2013
cálculo da aposentadoria por corrente da conversão de auxílio-
invalidez oriunda da conver- -doença, sem retorno do segurado
são do auxílio-doença, previs- ao trabalho, será apurada na forma
to no art. 29, II e § 5º, da Lei estabelecida no art. 36, § 7º, do
8.213/91, com a redação dada Decreto 3.048/99, segundo o qual
pela Lei 9.876/99. a renda mensal inicial - RMI da
aposentadoria por invalidez oriun-
da de transformação de auxílio-
-doença será de cem por cento do
salário-de-benefício que serviu de
base para o cálculo da renda men-
sal inicial do auxílio-doença, rea-
justado pelos mesmos índices de
correção dos benefícios em geral.
458
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
459
Maria Cecília de Araujo Asperti
709 Estabelecer se a prática de falta 1. A prática de falta grave inter- REsp 1364192/RS 12/02/2014
grave importaria na interrup- rompe o prazo para a progressão
ção dos prazos para a obten- de regime, acarretando a modi-
ção de benefícios na execução ficação da data-base e o início
penal, modificando, assim, a de nova contagem do lapso ne-
data-base da sua contagem. cessário para o preenchimento
do requisito objetivo.2. Em se
tratando de livramento condicio-
nal, não ocorre a interrupção do
prazo pela prática de falta grave.
Aplicação da Súmula 441/STJ.3.
Também não é interrompido au-
tomaticamente o prazo pela falta
grave no que diz respeito à comu-
tação de pena ou indulto, mas a
sua concessão deverá observar
o cumprimento dos requisitos
previstos no decreto presidencial
pelo qual foram instituídos.
460
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
710 Discussão acerca da nature- I - O sistema "credit scoring" é REsp 1419697/RS 12/11/2014
za dos sistemas de scoring e um método desenvolvido para
a possibilidade de violação a avaliação do risco de concessão
princípios e regras do Código de crédito, a partir de modelos
de Defesa do Consumidor ca- estatísticos, considerando diver-
paz de gerar indenização por sas variáveis, com atribuição de
dano moral. uma pontuação ao consumidor
avaliado (nota do risco de cré-
dito).II - Essa prática comercial
é lícita, estando autorizada pelo
art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I, da Lei
n. 12.414/2011 (lei do cadastro
positivo).III - Na avaliação do
risco de crédito, devem ser res-
peitados os limites estabelecidos
pelo sistema de proteção do con-
sumidor no sentido da tutela da
privacidade e da máxima trans-
parência nas relações negociais,
conforme previsão do CDC e da
Lei n. 12.414/2011.IV - Apesar de
desnecessário o consentimento
do consumidor consultado, de-
vem ser a ele fornecidos esclare-
cimentos, caso solicitados, acerca
das fontes dos dados considera-
dos (histórico de crédito), bem
como as informações pessoais
valoradas.V - O desrespeito aos
limites legais na utilização do
sistema "credit scoring", configu-
rando abuso no exercício desse
direito (art. 187 do CC), pode en-
sejar a responsabilidade objetiva
e solidária do fornecedor do ser-
viço, do responsável pelo banco
de dados, da fonte e do consulen-
te (art. 16 da Lei n. 12.414/2011)
pela ocorrência de danos morais
nas hipóteses de utilização de
informações excessivas ou sensí-
veis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei n.
12.414/2011), bem como nos ca-
sos de comprovada recusa indevi-
da de crédito pelo uso de dados
incorretos ou desatualizados.
711 Discute-se a aplicação de juros Não se aplica a taxa progressiva REsp 1349059/SP 26/03/2014
progressivos nas contas de FGTS de juros às contas vinculadas ao
dos trabalhadores avulsos. FGTS de trabalhadores qualifica-
dos como avulsos.
461
Maria Cecília de Araujo Asperti
714 Cinge-se o debate trazido nos A indisponibilidade de bens e di- REsp 1377507/SP 26/11/2014
autos em saber se, para que o reitos autorizada pelo art. 185-A
juiz determine a indisponibi- do CTN depende da observância
lidade dos bens e direitos do dos seguintes requisitos: (i) cita-
devedor, na forma do art. 185- ção do devedor tributário; (ii)
A do CTN, faz-se necessária a inexistência de pagamento ou
comprovação do exaurimento apresentação de bens à penhora
dos meios disponíveis para lo- no prazo legal; e (iii) a não loca-
calização de bens penhoráveis lização de bens penhoráveis após
por parte do credor. Não se esgotamento das diligências reali-
trata, simplesmente, da penho- zadas pela Fazenda, caracterizado
ra on-line, mas da necessidade quando houver nos autos (a) pedi-
de esgotamento das diligências do de acionamento do Bacen Jud
para a adoção das medidas pre- e consequente determinação pelo
vistas no art. 185-A do CTN. magistrado e (b) a expedição de
ofícios aos registros públicos do
domicílio do executado e ao De-
partamento Nacional ou Estadual
de Trânsito - DENATRAN ou
DETRAN.
715 Discussão quanto à competên- Os Conselhos Regionais de Far- REsp 1382751/MG 12/11/2014
cia do Conselho Regional de mácia possuem competência para
Farmácia do Estado de Minas fiscalização e autuação das farmá-
Gerais - CRF/MG para fiscali- cias e drogarias, quanto ao cum-
zar e autuar estabelecimentos primento da exigência de mante-
que exercem atividade farma- rem profissional legalmente ha-
cêutica sem a presença de res- bilitado (farmacêutico) durante
ponsável técnico durante todo todo o período de funcionamento
o horário de funcionamento. dos respectivos estabelecimentos,
sob pena de incorrerem em infra-
ção passível de multa. Inteligência
do art. 24 da Lei n. 3.820/60, c/c o
art. 15 da Lei n. 5.991/73.
717 Legitimidade do Ministério O Ministério Público tem legiti- REsp 1327471/MT 14/05/2014
Público para o ajuizamento de midade ativa para ajuizar ação de
ações de alimentos em benefí- alimentos em proveito de criança
cio de crianças e adolescentes, ou adolescente. A legitimidade
sobretudo quando se encon- do Ministério Público independe
tram sob o poder familiar de do exercício do poder familiar dos
um dos pais - exegese dos arts. pais, ou de o menor se encontrar
201, inciso III, e 98, inciso II, nas situações de risco descritas no
ambos do Estatuto da Criança art. 98 do Estatuto da Criança e
e do Adolescente. do Adolescente, ou de quaisquer
outros questionamentos acerca da
existência ou eficiência da Defen-
soria Pública na comarca.
720 Possibilidade de saque de con- O trabalhador que teve seu con- REsp 1419112/SP 24/09/2014
ta vinculada ao FGTS por tra- trato de trabalho suspenso, per-
balhador que permaneceu fora manecendo fora do sistema do
do sistema, em razão da ocupa- FGTS em razão do exercício de
ção de cargo comissionado por cargo comissionado por mais de
mais de três anos. três anos, não possui direito ao
levantamento do saldo de FGTS.
462
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
463
Maria Cecília de Araujo Asperti
724 Discute a legitimidade ativa Os poupadores ou seus sucessores REsp 1391198/RS 13/08/2014
dos poupadores, independen- detêm legitimidade ativa - tam-
temente de fazerem parte dos bém por força da coisa julgada -,
quadros associativos do IDEC, independentemente de fazerem
de ajuizarem o cumprimento parte ou não dos quadros asso-
individual da sentença coleti- ciativos do IDEC, de ajuizarem o
va proferida na referida ação cumprimento individual da sen-
civil pública. tença coletiva proferida na ação
civil pública nº 1998.01.1.016798-
9 pelo Juízo da 12ª Vara Cível da
Circunscrição Especial Judiciária
de Brasília/DF.
725 Discute se após o pagamento No regime próprio da Lei n. REsp 1339436/SP 10/09/2014
do débito, incumbe ao devedor 9.492/1997, legitimamente protes-
ou ao credor providenciar o tado o título de crédito ou outro
cancelamento do protesto ex- documento de dívida, salvo ine-
trajudicial regularmente efetu- quívoca pactuação em sentido con-
ado, à luz da Lei n. 9.492/1997. trário, incumbe ao devedor, após a
quitação da dívida, providenciar o
cancelamento do protesto.
728 Colocação das 'sociedades cor- As 'sociedades corretoras de segu- REsp 1400287/RS 22/04/2015
retoras de seguros' dentro do ros' estão fora do rol de entidades
bojo de um conjunto maior de constantes do art. 22, §1º, da Lei
'sociedades corretoras', a fim n. 8.212/91.
de que se aplique o art. 18, da
Lei n. 10.684/2003.
729 Discute-se a identidade entre Não cabe confundir as "socieda- REsp 1391092/SC 22/04/2015
as 'sociedades corretoras de des corretoras de seguros" com as
seguros' e os 'agentes autôno- "sociedades corretoras de valores
mos de seguros', a fim de que mobiliários" (regidas pela Resolu-
se aplique o art. 18, da Lei n. ção BACEN n. 1.655/89) ou com
10.684/2003. os "agentes autônomos de seguros
privados" (representantes das se-
guradoras por contrato de agên-
cia). As "sociedades corretoras de
seguros" estão fora do rol de enti-
dades constantes do art. 22, §1º,
da Lei n. 8.212/91.
735 Discute se incumbe ao credor, Diante das regras prevista no Có- REsp 1424792/BA 10/09/2014
em havendo regular inscrição do digo de Defesa do Consumidor,
nome do devedor em cadastro mesmo havendo regular inscrição
de órgão de proteção ao crédito, do nome devedor em cadastro de
excluir o apontamento efetuado órgão de proteção ao crédito, após
após o pagamento do débito. o integral pagamento da dívida,
incumbe ao credor requerer a ex-
clusão do registro desabonador,
no prazo de 5 (cinco) dias úteis,
a contar do primeiro dia útil sub-
sequente à completa disponibili-
zação de numerário necessário à
quitação do débito vencido.
464
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
736 Discute se o abono único sa- Nos planos de benefícios de pre- REsp 1425326/RS 28/05/2014
larial previsto em acordo cole- vidência privada fechada, pa-
tivo ou convenção coletiva de trocinados pelos entes federados
trabalho para os empregados - inclusive suas autarquias, fun-
da ativa deve integrar a com- dações, sociedades de economia
plementação de aposentadoria mista e empresas controladas di-
dos inativos paga por institui- reta ou indiretamente -, é vedado
ção de previdência privada. o repasse de abono e vantagens de
qualquer natureza para os benefí-
cios em manutenção, sobretudo a
partir da vigência da Lei Comple-
mentar n. 108/2001, independen-
temente das disposições estatutá-
rias e regulamentares.
742 Discute-se a condenação da É nula, por configurar julgamen- Rcl 12062/GO 12/11/2014
parte ré, em ação individual de to extra petita, a decisão que
indenização, ao pagamento de condena a parte ré, de ofício, em
danos sociais não requeridos em ação individual, ao pagamento
favor de terceiro estranho à lide. de indenização a título de danos
sociais em favor de terceiro estra-
nho à lide.
743 Possibilidade da execução pro- A multa diária prevista no § 4º REsp 1200856/RS 01/07/2014
visória da multa diária fixada do art. 461 do CPC, devida desde
em sede de antecipação de o dia em que configurado o des-
tutela nos autos da ação prin- cumprimento, quando fixada em
cipal, por se tratar de título ju- antecipação de tutela, somente
dicial líquido, certo e exigível. poderá ser objeto de execução
provisória após a sua confirmação
pela sentença de mérito e desde
que o recurso eventualmente in-
terposto não seja recebido com
efeito suspensivo.
793 Discute se o órgão de proteção ao Diante da presunção legal de ve- REsp 1344352/SP 12/11/2014
crédito tem obrigação de indeni- racidade e publicidade inerente
zar por incluir em seus registros aos registros do cartório de dis-
elementos constantes em banco tribuição judicial, a reprodução
de dados públicos de cartório de objetiva, fiel, atualizada e clara
distribuição do Judiciário. desses dados na base de órgão de
proteção ao crédito - ainda que
sem a ciência do consumidor-,
não tem o condão de ensejar obri-
gação de reparação de danos.
465
Maria Cecília de Araujo Asperti
466
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
834 Questão referente à ação inde- O dano material somente é inde- REsp 1354536/SE 26/03/2014
nizatória por danos materiais nizável mediante prova efetiva de
e morais promovida por pes- sua ocorrência, não havendo falar
cadores em razão de acidente em indenização por lucros ces-
ambiental ocorrido no rio santes dissociada do dano efeti-
Sergipe, em que se discute os vamente demonstrado nos autos;
valores arbitrados a título de assim, se durante o interregno
reparação por lucros cessantes em que foram experimentados os
e por dano moral. efeitos do dano ambiental houve
o período de 'defeso' - incidindo a
proibição sobre toda atividade de
pesca do lesado -, não há cogitar
em indenização por lucros cessan-
tes durante essa vedação.
835 Discute a validade ou não Nos contratos de financiamento REsp 1443870/PE 22/10/2014
de cláusula que estabelece o celebrados no âmbito do SFH, sem
pagamento de saldo devedor cláusula de garantia de cobertura
residual após o término do do FCVS, o saldo devedor residual
pagamento das prestações em deverá ser suportado pelo mutuário.
contrato de mútuo imobiliá-
rio não coberto pelo Fundo
de Compensação de Variação
Salarial-FCVS.
869 Discute-se a interrupção da "A citação válida em processo ex- REsp 1091539/AP 26/11/2008
prescrição do direito a pleite- tinto sem julgamento do mérito
ar diferenças de vencimentos importa na interrupção do prazo
a professores do Estado do prescricional, que volta a correr
Amapá por força do desvio de com o trânsito em julgado da sen-
função, na hipótese em que foi tença de extinção do processo."
ajuizada ação com o mesmo
pedido e causa de pedir pelo
Sindicato e a ação foi extinta
sem julgamento do mérito.
870 Discute-se a interrupção da A citação válida em processo ex- REsp 1091539/AP 26/11/2008
prescrição do direito a pleite- tinto sem julgamento do mérito
ar diferenças de vencimentos importa na interrupção do prazo
a professores do Estado do prescricional, que volta a correr
Amapá por força do desvio de com o trânsito em julgado da sen-
função, na hipótese em que foi tença de extinção do processo.
ajuizada ação com o mesmo
pedido e causa de pedir pelo
Sindicato e a ação foi extinta
sem julgamento do mérito.
871 Discute: (i) atribuição do en- Na fase autônoma de liquidação de REsp 1274466/SC 14/05/2014
cargo de antecipar os honorá- sentença (por arbitramento ou por
rios periciais ao autor da liqui- artigos), incumbe ao devedor a an-
dação de sentença, no caso de tecipação dos honorários periciais.
perícia determinada de ofício;
(ii) possibilidade de atribuição
do encargo ao réu, na hipótese
em que o autor seja beneficiá-
rio da gratuidade da justiça.
467
Maria Cecília de Araujo Asperti
872 Questão referente à distribui- Nos Embargos de Terceiro cujo REsp 1452840/SP 14/09/2016
ção dos encargos de sucum- pedido foi acolhido para des-
bência, à luz do princípio da constituir a constrição judicial,
causalidade, quando julgado os honorários advocatícios serão
procedente o pedido em Em- arbitrados com base no princípio
bargos de Terceiro que foram da causalidade, responsabilizan-
ajuizados com o objetivo de do-se o atual proprietário (em-
anular penhora de imóvel cuja bargante), se este não atualizou
transcrição, no Registro com- os dados cadastrais. Os encargos
petente, não está atualizada. de sucumbência serão suportados
pela parte embargada, porém, na
hipótese em que esta, depois de
tomar ciência da transmissão do
bem, apresentar ou insistir na im-
pugnação ou recurso para manter
a penhora sobre o bem cujo domí-
nio foi transferido para terceiro.
873 Discute: (i) possibilidade de Nas demandas por complementa- REsp 1373438/RS 11/06/2014
cumulação de dividendos e ção de ações de empresas de tele-
juros sobre capital próprio; fonia, admite-se a condenação ao
(ii) possibilidade de inclusão pagamento de dividendos e juros
de juros sobre capital próprio sobre capital próprio independen-
nos cálculos exequendos sem temente de pedido expresso.
previsão no título executivo
judicial.
874 Discute a possível responsabi- O Banco do Brasil, na condição REsp 1354590/RS 09/09/2015
lidade do Banco do Brasil, na de mero operador e gestor do Ca-
condição de gestor do Cadas- dastro de Emitentes de Cheques
tro de Emitentes de Cheques sem Fundos - CCF, não detém le-
sem Fundos (CCF), de noti- gitimidade passiva para responder
ficar previamente o devedor por danos resultantes da ausência
acerca da sua inscrição no alu- de notificação prévia do corren-
dido cadastro. tista acerca de sua inscrição no
referido cadastro, obrigação que
incumbe ao banco sacado, junto
ao qual o correntista mantém re-
lação contratual.
875 Discussão sobre o termo ini- Exceto nos casos de invalidez per- REsp 1388030/MG 11/06/2014
cial da prescrição nas deman- manente notória, ou naqueles em
das por indenização do seguro que o conhecimento anterior re-
DPVAT nos casos de invalidez sulte comprovado na fase de ins-
permanente da vítima. trução, a ciência inequívoca do
caráter permanente da invalidez
depende de laudo médico.
468
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
876 Discute a obrigatoriedade, ou Em ações de execução fiscal, des- REsp 1455091/AM 12/11/2014
não, da indicação do CNPJ cabe indeferir a petição inicial sob
para o recebimento da petição o argumento da falta de indicação
inicial de execução fiscal ende- do CPF e/ou RG da parte execu-
reçada contra pessoa jurídica. tada (pessoa física), visto tratar-
-se de requisito não previsto no
art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF),
cujo diploma, por sua especiali-
dade, ostenta primazia sobre a
legislação de cunho geral, como
ocorre frente à exigência contida
no art. 15 da Lei nº 11.419/06.Em
ações de execução fiscal, descabe
indeferir a petição inicial sob o ar-
gumento da falta de indicação do
CNPJ da parte executada (pessoa
jurídica), visto tratar-se de requi-
sito não previsto no art. 6º da Lei
nº 6.830/80 (LEF), cujo diploma,
por sua especialidade, ostenta pri-
mazia sobre a legislação de cunho
geral, como ocorre frente à exi-
gência contida no art. 15 da Lei
nº 11.419/06.
877 Discussão alusiva ao termo ini- O prazo prescricional para a exe- REsp 1388000/PR 12/08/2015
cial da fluência da prescrição cução individual é contado do
quinquenal para o ajuizamento trânsito em julgado da sentença
da ação individual executiva coletiva, sendo desnecessária a
para cumprimento de sentença providência de que trata o art. 94
originária de ação civil pública. da Lei n.8.078/90.
881 Discussão alusiva à incidência Incide imposto de renda sobre o REsp 1459779/MA 22/04/2015
de imposto de renda sobre o adicional de 1/3 (um terço) de fé-
adicional de 1/3 (um terço) de rias gozadas.
férias gozadas.
883 Questão referente ao prazo A pretensão de cobrança e a pre- REsp 1418347/MG 08/04/2015
de prescrição das ações que tensão a diferenças de valores
buscam a indenização securi- do seguro obrigatório (DPVAT)
tária, bem como daquelas que prescrevem em três anos, sendo
buscam a complementação de o termo inicial, no último caso, o
pagamento, relativa ao Seguro pagamento administrativo consi-
de Danos Pessoais Causados derado a menor.
por Veículos Automotores de
Via Terrestre (DPVAT).
469
Maria Cecília de Araujo Asperti
885 Controvérsia alusiva à possi- A recuperação judicial do deve- REsp 1333349/SP 26/11/2014
bilidade do prosseguimento dor principal não impede o pros-
de ações de cobrança ou exe- seguimento das execuções nem
cuções ajuizadas em face de induz suspensão ou extinção de
devedores solidários ou coo- ações ajuizadas contra terceiros
brigados em geral, depois de devedores solidários ou coo-
deferida a recuperação judicial brigados em geral, por garantia
ou mesmo depois de aprovado cambial, real ou fidejussória, pois
o plano de recuperação do de- não se lhes aplicam a suspensão
vedor principal. prevista nos arts. 6º, caput, e 52,
inciso III, ou a novação a que se
refere o art. 59, caput, por força
do que dispõe o art. 49, § 1º, todos
da Lei n. 11.101/2005.
886 Controvérsia sobre quem tem a) O que define a responsabilida- REsp 1345331/RS 08/04/2015
legitimidade - vendedor ou ad- de pelo pagamento das obrigações
quirente - para responder por condominiais não é o registro do
dívidas condominiais na hipó- compromisso de venda e compra,
tese de alienação da unidade, mas a relação jurídica material
notadamente quando se tratar com o imóvel, representada pela
de compromisso de compra e imissão na posse pelo promissário
venda não levado a registro. comprador e pela ciência inequí-
voca do Condomínio acerca da
transação;b) Havendo compro-
misso de compra e venda não
levado a registro, a responsabi-
lidade pelas despesas de condo-
mínio pode recair tanto sobre
o promitente vendedor quanto
sobre o promissário comprador,
dependendo das circunstâncias
de cada caso concreto; c) Se res-
tar comprovado: (i) que o pro-
missário comprador imitira-se na
posse; e (ii) o Condomínio teve
ciência inequívoca da transação,
afasta-se a legitimidade passiva
do promitente vendedor para
responder por despesas condomi-
niais relativas a período em que a
posse foi exercida pelo promissá-
rio comprador.
889 Controvérsia alusiva à exe- A sentença, qualquer que seja sua REsp 1324152/SP 04/05/2016
quibilidade de sentenças não natureza, de procedência ou im-
condenatórias (de regra, de- procedência do pedido, constitui
claratórias), notadamente após título executivo judicial, desde
o acréscimo do art. 475-N, in- que estabeleça obrigação de pa-
ciso I, ao Código de Processo gar quantia, de fazer, não fazer
Civil, pela Lei n. 11.232/2005, ou entregar coisa, admitida sua
seja quando figura como exe- prévia liquidação e execução nos
quente o autor do processo de próprios autos.
conhecimento, seja quando
figura o réu.
470
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
471
Maria Cecília de Araujo Asperti
894 Verificação do índice de atu- Até a data da retenção na fonte, a REsp 1470720/RS 10/12/2014
alização (SELIC ou FACDT) correção do IR apurado e em va-
aplicável sobre os valores origi- lores originais deve ser feita sobre
nais do imposto de renda apu- a totalidade da verba acumulada
rado pelo regime de competên- e pelo mesmo fator de atualização
cia até o recebimento da verba monetária dos valores recebidos
acumulada, a fim de se liquidar acumuladamente, sendo que, em
a repetição de indébito de im- ação trabalhista, o critério utili-
posto de renda indevidamente zado para tanto é o FACDT- fator
retido sob o regime de caixa. de atualização e conversão dos
débitos trabalhistas.
898 Controvérsia referente à atu- A incidência de atualização mo- REsp 1483620/SC 27/05/2015
alização monetária das inde- netária nas indenizações por mor-
nizações previstas no art. 3º te ou invalidez do seguro DPVAT,
da Lei 6.194/74, com redação prevista no § 7º do art. 5º da Lei
dada pela Medida Provisória n. 6194/74, redação dada pela Lei
n. 340/2006, convertida na Lei n. 11.482/2007, opera-se desde a
11.482/07. data do evento danoso.
901 Discute se o crime do art. 310 É de perigo abstrato o crime pre- REsp 1485830/MG 11/03/2015
do Código de Trânsito Brasi- visto no art. 310 do Código de
leiro seria de perigo abstrato Trânsito Brasileiro. Assim, não é
ou exigiria a demonstração de exigível, para o aperfeiçoamento
ocorrência de perigo concreto. do crime, a ocorrência de lesão
ou de perigo de dano concreto na
conduta de quem permite, confia
ou entrega a direção de veículo
automotor a pessoa não habilita-
da, com habilitação cassada ou
com o direito de dirigir suspenso,
ou ainda a quem, por seu estado
de saúde, física ou mental, ou
por embriaguez, não esteja em
condições de conduzi-lo com se-
gurança.
902 Definir se, em ação cautelar de A legislação de regência estabele- REsp 1340236/SP 14/10/2015
sustação de protesto, a presta- ce que o documento hábil a pro-
ção de contracautela é dispen- testo extrajudicial é aquele que
sável ao deferimento da limi- caracteriza prova escrita de obri-
nar para suspensão dos efeitos gação pecuniária líquida, certa e
do protesto. exigível. Portanto, a sustação de
protesto de título, por representar
restrição a direito do credor, exige
prévio oferecimento de contra-
cautela, a ser fixada conforme o
prudente arbítrio do magistrado.
903 Discussão: definição acerca do A notificação do contribuinte REsp 1320825/RJ 10/08/2016
momento em que verificado o para o recolhimento do IPVA
lançamento e a sua notificação perfectibiliza a constituição de-
quanto ao crédito tributário de finitiva do crédito tributário,
IPVA, com o escopo de fixar iniciando-se o prazo prescricio-
o termo inicial do prazo pres- nal para a execução fiscal no dia
cricional para a cobrança do seguinte à data estipulada para o
crédito respectivo. vencimento da exação.
472
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
473
Maria Cecília de Araujo Asperti
474
Recursos Repetitivos e Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Uma análise da perspectiva do acesso à justiça e da participação no processo
930 Estabelecer se o acordo proces- Não há óbice a que se estabele- REsp 1498034/RS 25/11/2015
sual, na forma do art. 89, § 2º çam, no prudente uso da facul-
da Lei n. 9.099/95, pode incluir dade judicial disposta no art. 89,
o cumprimento de condições, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obri-
aceitas pelo réu, consistentes gações equivalentes, do ponto de
em prestação pecuniária à ví- vista prático, a sanções penais
tima, fornecimento de cestas (tais como a prestação de servi-
básicas, prestação de serviços ços comunitários ou a prestação
à comunidade e outras injun- pecuniária), mas que, para os fins
ções que, do ponto de vista do sursis processual, se apresen-
prático, sejam equivalentes a tam tão somente como condições
penas restritivas de direitos. para sua incidência.
933 Discute-se a incidência do prin- Quando o falso se exaure no des- REsp 1378053/PR 10/08/2016
cípio da consunção quando a caminho, sem mais potencialida-
falsificação de papéis públicos, de lesiva, é por este absorvido,
crime de maior gravidade, assim como crime-fim, condição que
considerado pela pena abstra- não se altera por ser menor a pena
tamente cominada, é meio ou a este cominada.
fase necessária ao descaminho,
crime de menor gravidade.
934 Discussão: se o crime de furto, Consuma-se o crime de furto com REsp 1524450/RJ 14/10/2015
na situação em que o seu autor a posse de fato da res furtiva, ain-
não teve a posse mansa e pa- da que por breve espaço de tem-
cífica da coisa subtraída, deve po e seguida de perseguição ao
ser considerado consumado ou agente, sendo prescindível a posse
apenas tentado. mansa e pacífica ou desvigiada.
938 Discussão quanto à: (i) prescri- (i) Incidência da prescrição trie- REsp 1599511/SP 24/08/2016
ção da pretensão de restituição nal sobre a pretensão de restitui-
das parcelas pagas a título de ção dos valores pagos a título de
comissão de corretagem e de comissão de corretagem ou de
assessoria imobiliária, sob o serviço de assistência técnico-
fundamento da abusividade da -imobiliária (SATI), ou atividade
transferência desses encargos congênere (artigo 206, § 3º, IV,
ao consumidor; e quanto à (ii) CC). (vide REsp n. 1.551.956/SP)
validade da cláusula contratual (ii) Validade da cláusula contra-
que transfere ao consumidor a tual que transfere ao promitente-
obrigação de pagar comissão de -comprador a obrigação de pagar
corretagem e taxa de assessoria a comissão de corretagem nos
técnico-imobiliária (SATI). contratos de promessa de compra
e venda de unidade autônoma
em regime de incorporação imo-
biliária, desde que previamente
informado o preço total da aqui-
sição da unidade autônoma, com
o destaque do valor da comis-
são de corretagem; (vide REsp
n. 1.599.511/SP)(ii, parte final)
Abusividade da cobrança pelo
promitente-vendedor do serviço
de assessoria técnico-imobiliária
(SATI), ou atividade congênere,
vinculado à celebração de pro-
messa de compra e venda de imó-
vel. (vide REsp n. 1.599.511/SP)
475
Maria Cecília de Araujo Asperti
942 Definir:I) qual deve ser o ter- Em qualquer ação utilizada pelo REsp 1556834/SP 22/06/2016
mo inicial para incidência de portador para cobrança de che-
atualização monetária de cré- que, a correção monetária incide
dito estampado em cheque.eII) a partir da data de emissão es-
o dies a quo para contagem de tampada na cártula, e os juros de
juros de mora, no tocante a mora a contar da primeira apre-
crédito oriundo de cheque. sentação à instituição financeira
sacada ou câmara de compensa-
ção.
944 Definir se o participante de Nos planos de benefícios de previ- REsp 1433544/SE 09/11/2016
plano de benefícios de previ- dência privada patrocinados pelos
dência privada patrocinado entes federados - inclusive suas
por entidade da administração autarquias, fundações, sociedades
pública pode se tornar elegível de economia mista e empresas
a um benefício de prestação controladas direta ou indireta-
programada e continuada, sem mente -, para se tornar elegível
que tenha havido a cessação a um benefício de prestação que
do vínculo com o patrocina- seja programada e continuada, é
dor. necessário que o participante pre-
viamente cesse o vínculo laboral
com o patrocinador, sobretudo a
partir da vigência da Lei Comple-
mentar nº 108/2001, independen-
temente das disposições estatutá-
rias e regulamentares.
945 Definir se: I) a pactuação ex- a) a pactuação da pós-datação REsp 1423464/SC 27/04/2016
tracartular da pós-datação do de cheque, para que seja hábil a
cheque tem eficácia, no to- ampliar o prazo de apresentação
cante ao direito cambiário; e à instituição financeira sacada,
II) é possível o apontamento a deve espelhar a data de emissão
protesto de cheque, ainda que estampada no campo específico
após o prazo de apresentação, da cártula;b) sempre será pos-
mas dentro do período para sível, no prazo para a execução
ajuizamento da ação cambial cambial, o protesto cambiário de
de execução. cheque, com a indicação do emi-
tente como devedor.
476