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SÍNDROME CONSUMPTIVA
Alexandre Augusto de Andrade Santana
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RESUMO
Por definição, a síndrome consumptiva caracteriza-se pela perda ponderal > 5,0% do peso
habitual em um período de 6-12 meses, de maneira não intencional. O aspecto emagrecido
é frequentemente visível à inspeção inicial. Pode cursar tanto com a diminuição (hiporexia)
quanto com o aumento (hiperexia) do apetite. Esta síndrome está normalmente associada
ao quadro clínico de doenças sistêmicas avançadas e doenças psiquiátricas, mas também
pode estar relacionada a condições de vulnerabilidade social e situações de isolamento
social. É importante destacar que a malignidade está presente em ⅓ dos pacientes com
síndrome consumptiva, podendo ser tanto uma manifestação inicial quanto tardia.
Palavras-chave: Perda de Peso, Emagrecimento, Neoplasias.
INTRODUÇÃO
Os indivíduos com esta condição apresentam perda de peso significativa não intencional
e podem referir uma série de sintomas adicionais. A perda de peso significativa pode ser
definida como perda maior que 5,0% do peso habitual no período de 6 a 12 meses, de forma
involuntária. Uma perda de peso maior que 10,0% é considerada estado de desnutrição
associado a uma deficiência humoral e celular mediada. Os pacientes frequentemente têm
aspecto emagrecido, com perda de tecido gorduroso, na maioria das vezes. Variações no
tamanho das roupas utilizadas também podem indicar indiretamente o início e a magnitude
da perda de peso. Pode fazer parte do quadro clínico de doenças sistêmicas avançadas,
simbolizando o primeiro sintoma de malignidade ou manifestação de doenças psiquiátricas.
Independente da causa de base, há importante correlação entre a perda de peso e o aumento
da morbimortalidade. As principais causas de perda de peso isolada são: neoplasia, distúrbios
psiquiátricos, doenças do aparelho digestório, endocrinopatias, afecções reumáticas,
infecções e origem indeterminada. Fatores sociais como baixas condições econômicas e
situações de isolamento social também podem ser causa de perda de peso.
FISIOPATOLOGIA DA PERDA DE PESO
A perda de peso pode ocorrer por três mecanismos principais distintos: diminuição da
ingestão de alimentos, metabolismo acelerado ou aumento da perda de energia. Portanto, é
um sintoma de desordem multifatorial que inclui alteração da ingesta calórica, da absorção
intestinal, da motilidade intestinal, do uso de medicamentos e do abuso de drogas ou da
produção aumentada de substâncias endógenas (TNF, IL-6, substâncias bombesina-like e
fatores liberadores de corticotropina). Na quimioterapia, outros fatores, como náusea e vômito,
também são importantes processos associados à perda de peso, bem como a dor oncológica
e compressões tumorais do trato gastrintestinal, provocando disfagia e distensão abdominal.
A perda de peso também pode estar associada ao processo de envelhecimento
(“anorexia fisiológica da idade”), no qual há alterações na regulação do apetite, como o
aumento da circulação de colecistocinina, que diminui o metabolismo basal e pode levar a
uma perda de peso importante. Além disso, há um declínio natural da sensibilidade do paladar
e do olfato com o avançar da idade, o que pode contribuir com a perda ponderal. Distúrbios
de visão e cognição no idoso também podem contribuir para a redução de ingesta calórica.
As perdas de peso involuntárias, que caracterizam a síndrome consumptiva,
podem cursar com o aumento do apetite (hiperexia) ou com diminuição do apetite
(hiporexia). No hipertireoidismo, no diabetes mellitus (DM) descompensado, na síndrome
de má-absorção, no feocromocitoma e no aumento de atividade física, a perda de peso
As Bases do Diagnóstico Sindrômico - ISBN 978-65-5360-277-9 - Volume 1 - Ano 2023
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involuntária é acompanhada de aumento do apetite. Nestas condições, há um aumento do
gasto energético ou perda de calorias pelas fezes ou urina, dessa forma, a quantidade de
calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. Já nos distúrbios psiquiátricos
(depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade, paranoia), no uso
crônico de drogas, nas neoplasias, nas endocrinopatias (insuficiência adrenal, DM), nas
doenças crônicas (cardiopatia, pneumopatia, doença renal, doenças neurológicas, doença
pulmonar obstrutiva crônica), nas doenças gastrointestinais benignas (úlcera e colecistite) e
nas doenças infecciosas (tuberculose, infecção fúngica, doenças parasitárias, endocardite
bacteriana subaguda, HIV) a perda de peso cursa com a diminuição do apetite. É importante
ressaltar que as malignidades acometem aproximadamente um terço dos pacientes com
síndrome consumptiva. A perda ponderal por conta da neoplasia (síndrome anorexia-ca-
quexia) é comum e pode ser a única manifestação de tumores ocultos. Ademais, qualquer
câncer pode evoluir com perda de peso, tanto como manifestação inicial (estômago, esôfago,
pâncreas, colorretal, pulmão, via biliar, intestinal e linfoma) ou manifestação tardia (melanoma,
câncer de pele não melanoma, próstata, rim, ginecológico, fígado, sistema nervoso central,
linfoma e leucemia) do tumor.
ABORDAGEM SEMIOLÓGICA DA SÍNDROME CONSUMPTIVA
Apesar da grande preocupação com a presença de uma neoplasia, é indispensável
retirar o máximo de informações do paciente de modo a dirigir investigação diagnóstica. Nesse
sentido, a presença de outros sinais e sintomas é fundamental. Sintomas dispépticos, queixas
de dor abdominal, diarreia, obstipação, febre e sintomas pulmonares podem direcionar a
investigação. É importante investigar as causas não neoplásicas de síndrome consumptiva.
Afinal, em alguns casos, a causa não neoplásica é mais grave e pode imprimir maior risco que
uma neoplasia, como é o caso de DM. Na investigação etiológica de síndrome consumptiva,
é necessário perguntar ao paciente sobre seu apetite, atividade física, como é o padrão da
perda de peso (flutuante ou estável), por quanto tempo vem perdendo peso e se a perda é
voluntária ou involuntária.
Para auxílio no raciocínio diagnóstico para síndrome consumptiva, pode-se utilizar
a regra mnemônica de Robbins, que consiste em nove “Ds” de causas de perda de peso:
Dentição (alteração na cavidade oral); Disfagia; Distúrbio do paladar (Disgeusia); Diarreia;
Depressão; Doença crônica; Demência; Disfunção (física, cognitiva e psicossocial) ou
dependência; Drogas.
Deve-se ainda quantificar a Medida de Independência Funcional (MIF) dos pacientes
no intuito de avaliar o grau de dependência nas atividades de vida diária e avaliar a perda
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de peso do paciente a partir de instrumentos como o Mini Nutritional Assessment (MNA),
que avalia o risco de desnutrição em idosos.
O exame físico deve incluir, de maneira detalhada, o exame da pele (observar sinais de
desnutrição, deficiência de vitaminas e oligoelementos), cavidade oral, avaliação da tireoide,
propedêutica cardiovascular, pulmonar e abdominal, toque retal, palpação de linfonodos,
exame neurológico, incluindo o Miniexame do Estado Mental e medidas antropométricas
para cálculo do IMC (kg/m2), além dos sinais vitais.
MAPA MENTAL
REFERÊNCIAS
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3-4, p. 95-101, 2005.
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3. MORAES KISO PINHEIRO, K. et al. Investigação de síndrome consumptiva. Arq. Med.
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