Tutorial 02 - Pele
Tutorial 02 - Pele
medicamentos):
*ESTRUTURA E CRESCIMENTO: Fungos (leveduras e fungos filamentosos) são organismos eucariotos que
diferem das bactérias, organismos procariotos, em várias características fundamentais (Tab. 47-1). Duas
estruturas celulares dos fungos são importantes na área clínica:
(1) A parede celular fúngica consiste principalmente de quitina (não de peptideoglicano como em bactérias);
desta forma, os fungos são insensíveis a determinados antibióticos, como as penicilinas e cefalosporinas que
inibem a síntese de peptideoglicanos. A quitina é um polissacarídeo composto por longas cadeias de N-
acetilglicosamina. A célula fúngica também contém outros polissacarídeos, e entre eles o mais importante é o
β-glicano, um longo polímero de D-glicose. O β-glicano tem relevância médica, pois representa o local de
atuação do fármaco antifúngico caspofungina.
(2) A membrana celular dos fungos contém ergosterol, ao contrário da membrana da célula humana, que
contém colesterol. A ação seletiva da anfotericina B e antifúngicos azoicos nos fungos, como o fluconazol e o
cetoconazol, é baseada nos diferentes esteróis de membrana.
Existem dois tipos morfológicos de fungos: as leveduras e os fungos filamentosos. As leveduras crescem de
forma unicelular e se reproduzem por brotamento. Fungos filamentosos crescem como longos filamentos
(hifas) e formam um emaranhado (micélio). Algumas hifas possuem septos transversais (hifa septada), e
outras não (hifa asseptada). As hifas asseptadas são multinucleadas (cenocíticas). O crescimento das hifas
ocorre pela elongação da sua extremidade e não por divisão celular do seu filamento.
Alguns fungos de interesse clínico são chamados de dimórficos (i.e., fungos que apresentam diferenças
morfológicas em diferentes temperaturas). Eles são encontrados na forma de bolores à temperatura
ambiente e na forma de leveduras (ou outras estruturas, como as esférulas de Coccidioides) nos tecidos
humanos à temperatura corporal. A maioria dos fungos é aeróbia obrigatória; alguns são anaeróbios
facultativos; entretanto, nenhum é anaeróbio obrigatório. Todos os fungos necessitam de uma fonte de
carbono orgânico pré-formado – por isso são encontrados com frequência na matéria orgânica em
decomposição. O hábitat natural da maioria dos fungos é o meio ambiente. Uma exceção importante se
refere à espécie Candida albicans, a qual faz parte da microbiota normal humana.
Alguns fungos reproduzem-se de forma sexuada pela produção de esporos sexuados (p. ex., zigósporos,
ascósporos e basidiósporos). Zigósporos são esporos simples e extensos de parede espessa; ascósporos são
formados no interior de sacos, denominados ascos; e os basidiósporos são formados externamente na
extremidade de um pedestal, denominado basídio. A classificação desses fungos é baseada nos seus esporos
sexuados. Fungos que não formam esporos sexuados são chamados de “imperfeitos” e classificados como
fungos imperfeitos.
A maioria dos fungos de interesse clínico propaga-se de forma assexuada, formando os conídios (esporos
assexuados) produzidos na lateral e na extremidade de estruturas especializadas (Fig. 47-1). A forma, a cor e o
arranjo dos conídios ajudam na identificação desses fungos. Alguns conídios importantes são (1)
artrósporos,80 que são produzidos pela fragmentação da extremidade da hifa e representam a forma de
transmissão da espécie Coccidioides immitis; (2) clamidósporos, que são arredondados, com parede espessa e
muito resistentes (os clamidósporos produzidos por C. albicans ajudam na sua identificação); (3) blastósporos,
que são formados pelo processo de brotamento, pelo qual as leveduras se reproduzem assexuadamente
(algumas leveduras, como C. albicans, podem formar brotamentos múltiplos que não são liberados,
produzindo cadeias, denominadas pseudo-hifas, as quais são utilizadas para sua identificação); e (4)
esporangiósporos, que são formados no interior de uma estrutura sacular (esporângio) na extremidade de
colunas produzidas pelos fungos filamentosos dos gêneros Rhizopus e Mucor.
*DIAGNÓSTICO LABORATORIAL:
Existem quatro procedimentos para o diagnóstico laboratorial de doenças fúngicas: (1) exame microscópico
direto, (2) cultura do organismo, (3) ensaios de reação em cadeia da polimerase (PCR, polymerase chain
reaction) e (4) testes sorológicos. O exame microscópico direto de amostras clínicas, como escarro, biópsia de
pulmão e raspagem de pele, depende da caracterização de esporos assexuados, hifas ou leveduras utilizando
um microscópio óptico. O espécime deve ser tratado com hidróxido de potássio (KOH) a 10% para dissolver o
material tecidual, deixando o fungo, que é alcalirresistente, intacto. O espécime pode, também, ser corado
por meio de preparações especiais. Alguns exemplos de importantes diagnósticos realizados por exame direto
são (1) presença de esférulas por C. immitis e (2) presença de cápsula espessa de Cryptococcus neoformans,
observada com auxílio do corante da Índia em líquido espinal. O calcoflúor branco é um corante fluorescente
que se liga à parede da célula fúngica, útil para identificação de fungos em amostras de tecidos. O corante
metenamina de prata também é útil no diagnóstico microscópico de fungos em amostras de tecidos.
Fungos são frequentemente cultivados em ágar de Sabouraud, que facilita o crescimento de fungos de
crescimento mais lento pela inibição do crescimento de bactérias presentes nas amostras. A inibição do
crescimento bacteriano ocorre devido ao baixo pH do meio e à penicilina, estreptomicina e ciclo-heximida que
são frequentemente adicionadas. A aparência do micélio e a natureza dos esporos assexuados são, em geral,
suficientes para identificação do organismo.
Os ensaios de PCR que utilizam sondas de DNA podem identificar precocemente colônias em um estágio
inicial de crescimento em cultura, diferentemente dos testes baseados na detecção visual das colônias. Como
resultado, a análise de DNA pode ser realizada mais rapidamente. Atualmente, ensaios de PCR encontram-se
disponíveis para a identificação de Coccidioides, Histoplasma, Blastomyces e Cryptococcus.
Testes para a presença de anticorpos em soro ou líquido espinal de pacientes são úteis no diagnóstico de
micoses sistêmicas, mas são menos efetivos em diagnósticos de outras infecções fúngicas. Como nos casos de
testes sorológicos para bactérias e vírus, um aumento significativo na titulação de anticorpos deve ser
observado para confirmar um diagnóstico. O teste de fixação do complemento é o mais frequentemente
utilizado em suspeitas de casos de coccidioidomicose, histoplasmose e blastomicose. Em meningite
criptocócica, a presença de antígenos polissacarídeos capsulares de C. neoformans no líquido espinal pode ser
detectada pelo teste de aglutinação do látex.
*TERAPIA ANTIFÚNGICA:
Os fármacos utilizados para o tratamento de doenças causadas por bactérias não têm efeito sobre doenças
fúngicas. Por exemplo, penicilinas e aminoglicosídeos inibem o crescimento de muitas bactérias, mas não
afetam o crescimento dos fungos. Essa diferença é explicada pela presença de algumas estruturas presentes
nas bactérias (p. ex., peptideoglicano e ribossomos 70S) que estão ausentes nos fungos.
Os fármacos antifúngicos mais efetivos, anfotericina B e vários azóis, exploram o ergosterol presente na
membrana celular dos fungos, o qual não é encontrado em bactérias ou na membrana celular de seres
humanos. A anfotericina B rompe a membrana celular fúngica no local do ergosterol e os azóis inibem a
síntese do ergosterol, um componente essencial das membranas fúngicas. Outro fármaco antifúngico, a
caspofungina, inibe a síntese do β-glicano, que é encontrado na parede celular dos fungos, mas é ausente na
parede celular das bactérias. As células humanas não possuem parede celular.
O mecanismo de ação desses fármacos é descrito abaixo. A Tabela 47-3 resume o mecanismo de ação e
efeitos adversos importantes dos principais fármacos antifúngicos. A Figura 47-2 apresenta uma célula fúngica
típica e o local de ação de drogas antifúngicas relevantes
*MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIFÚNGICOS:
->Inibição da síntese da parede celular fúngica
Equinocandinas, como a caspofungina e a micafungina, são lipopeptídeos que bloqueiam a síntese da parede
celular fúngica através da inibição da β-glucana sintase, a enzima que sintetiza a β-glicana (ver Fig. 47-2). A β-
glicana é um polissacarídeo composto por longas cadeias de D-glicose que é um componente essencial de
certos patógenos fúngicos de relevância médica.
A caspofungina inibe o crescimento de Aspergillus e Candida, mas não de Cryptococcus ou Mucor. A
caspofungina é utilizada no tratamento de candidíase disseminada, assim como no tratamento de aspergilose
invasiva que não responde à anfotericina B. A micafungina é aprovada para o tratamento de candidíase
esofágica e na profilaxia de infecções invasivas por Candida em pacientes submetidos a transplante de medula
óssea. A anidulafungina foi aprovada para o tratamento de candidíase esofágica e outras infecções graves por
Candida.
->Alterações de membranas celulares fúngicas
Anfotericina B e nistatina:
A anfotericina B, o fármaco antifúngico mais importante, é utilizado no tratamento de uma variedade de
doenças fúngicas disseminadas. É classificada como um composto polieno porque apresenta um conjunto de
sete ligações duplas insaturadas na estrutura de seu anel macrolídeo (poli significa muitos, e o sufixo eno
indica a presença de ligações duplas; Fig. 47-3). Esse fármaco rompe a membrana celular de fungos devido à
sua afinidade por ergosterol, componente das membranas fúngicas, mas não das membranas de células
bacterianas ou humanas. Fungos resistentes à anfotericina B raramente foram recuperados a partir de
espécimes de pacientes.
A anfotericina B apresenta significativa toxicidade renal e medidas dos níveis séricos de creatinina são
realizadas para monitorar a dose. A nefrotoxicidade é reduzida de forma significativa quando o fármaco é
administrado em veículos lipídicos como lipossomos. Todavia, essas formulações são de alto custo. Febre,
calafrios, náusea e vômitos são efeitos colaterais comuns.
A nistatina é outro agente antifúngico polieno que, em virtude de sua toxicidade, é utilizado topicamente em
infecções causadas pela levedura Candida.
Azóis e Terbinafina:
Os azóis são fármacos antifúngicos que atuam inibindo a síntese de ergosterol. Eles bloqueiam a demetilação
dependente do citocromo P450 do lanosterol, um precursor do ergosterol. Fluconazol, cetoconazol,
voriconazol, posaconazol, itraconazol e isavuconazônio (um pró-fármaco do isavuconazol) são usados no
tratamento de doenças fúngicas sistêmicas. O clotrimazol e o miconazol são apenas de uso tópico, pois são
muito tóxicos para serem administrados sistemicamente. Os dois anéis azol contendo nitrogênio do fluconazol
podem ser observados na Figura 47-4.
O cetoconazol tem utilidade no tratamento de blastomicose, candidíase mucocutânea, coccidioidomicose e
infecções cutâneas causadas por dermatófitos. O fluconazol é útil no tratamento de infecções por cândida e
criptococos. Itraconazol é utilizado no tratamento de histoplasmose e blastomicose. Posaconazol é utilizado
no tratamento de candidíase da parte oral da faringe e na prevenção de infecções por Candida e Aspergillus
em indivíduos imunocomprometidos. O isavuconazônio é utilizado no tratamento da aspergilose invasiva. O
miconazol e o clotrimazol, dois outros imidazois, são úteis para o tratamento tópico de infecções por Candida
e também no tratamento de dermatofitoses. Fungos resistentes aos fármacos azólicos representam um
problema crescente.
A terbinafina bloqueia a síntese de ergosterol pela inibição do escaleno epoxidase. É utilizada no tratamento
de infecções dermatológicas da pele e das unhas.
*Pontos chave:
• As infecções fúngicas cutâneas podem ser amplamente divididas em dois grupos:
– Superficiais – limitadas a estrato córneo, pelos e/ou unhas (ceratofitoses, dermatofitoses, dermatomicoses e
candidíases);
– Profundas – dérmicas e/ou subcutâneas.
• As infecções fúngicas superficiais podem ainda ser divididas em:
– Não inflamatórias – mais comumente a pitiríase versicolor, além da tinea nigra e das piedras;
– Inflamatórias – infecções devidas a dermatófitos (Trichophyton, Microsporum, Epidermophyton; p. ex., tinea
corporis, tinea cruris) ou Candida spp. (p. ex., candidíase inguinal).
• As infecções fúngicas profundas são frequentemente secundárias à implantação (p. ex., esporotricose,
cromoblastomicose, eumicetoma) ou à disseminação hematógena de uma infecção sistêmica primária (p. ex.,
criptococose, coccidioidomicose).
• Patógenos oportunistas (p. ex., Aspergillus, Mucor) podem levar à infecção sistêmica em hospedeiros
imunossuprimidos.
Diversos trabalhos investigam a variação da tonalidade das lesões que podem estar presentes no hospedeiro
parasitado. Quanto às lesões hipercrômicas, os estudos indicam aumento do tamanho, alterações da
distribuição e incremento na multiplicação dos melanossomos na epiderme. Quanto à hipocromia das lesões,
já foi constatado que a levedura produz ácidos dicarboxílicos que inibem a reação dopa-tirosinase, que, por
sua vez, diminui a produção de melanina. O eritema seria decorrente da intensidade do processo inflamatório
que o fungo é capaz de desencadear.
As recidivas ocorrem mais frequentemente em pacientes com peles oleosas ou que fazem uso contínuo de
produtos oleosos, naqueles que sofrem com sudorese excessiva e também nos que apresentam lesões
predominantemente infundibulares ou foliculares, em que o fungo é também encontrado no interior do
folículo, o que dificulta a ação dos antifúngicos tópicos e sistêmicos. Nesses casos, ainda é difícil caracterizar
uma predisposição individual decorrente de deficiência imunológica específica. Entretanto, na experiência de
um dos autores, há alguns casos de difícil controle em que vários membros da mesma família estão
envolvidos, mostrando que também pode existir predisposição genética nessa situação.
->Diagnóstico: O diagnóstico de PV, foliculite por Malassezia e malasseziose é confirmado pelo exame direto.
A coleta pode ser feita com fita gomada (método de Porto, 1953) ou por raspagem. Caracteristicamente na
PV, são observadas hifas curtas, curvas e largas e elementos leveduriformes arredondados (blastoconídios)
agrupados em forma de cacho de uva ou apresentando aspecto de “espaguete com almôndegas” ao
microscópio óptico. A cultura é pouco usada com finalidade diagnóstica, porém o cogumelo cresce bem entre
32 e 35°C, em meios com óleo de oliva. Em um terço dos casos, à luz de Wood, a coloração das lesões pode
variar do amarelo-ouro ao róseo-dourado.
->Diagnóstico diferencial: Eczematide, leucodermia gutata, pseudocicatrizes estelares, morfeia e líquen
escleroso (apresentação gutata).
->Tratamento: Nas formas localizadas, o tratamento pode ser feito com sulfeto de selênio a 2,5%,
propilenoglicol a 50%, cetoconazol a 2% ou outros derivados imidazólicos, como soluções hidroalcoólicas ou
xampus com associações de antifúngicos imidazólicos, piritionato de zinco a 2,5%, ácido salicílico e LCD por 10
a 20 dias. Essas soluções devem ser sempre aplicadas generosamente muito além das áreas aparentemente
acometidas. Em geral, recomenda-se novo tratamento cerca de 2 meses após, a fim de evitar recidivas, que
são frequentes. O xampu deve ser aplicado por cerca de 30 min e, depois, removido no banho; dependendo
da proximidade ou do envolvimento do couro cabeludo, recomenda-se lavá-lo semanalmente por vários
meses. A solução hidroalcoólica de sulfeto de selênio deve ser aplicada generosamente além dos limites das
lesões. O uso de bucha no banho é bastante eficaz, pois auxilia na remoção mecânica do fungo que está
presente na camada córnea.
Nos casos extensos ou recidivantes, utiliza-se por via oral o itraconazol 100 mg, 2 vezes por 5 a 7 dias; ou
fluconazol 300 mg por semana por 2 semanas.
Nos casos extensos ou recidivantes, utiliza-se por via oral: cetoconazol 200 mg/dia durante 10 a 15 dias;
itraconazol 100 mg, 2 vezes por 5 a 7 dias; ou fluconazol 300 mg por semana por 2 semanas.
Nos pacientes com recorrências frequentes, deve-se fazer profilaxia por um período de 6 meses, iniciando-se
30 dias após finalizado o tratamento. Há significativa redução das recidivas após o uso de azólicos sistêmicos.
A profilaxia com preparados tópicos a cada 1 ou 2 semanas apresenta respostas variáveis e depende da
adesão do paciente à prescrição médica.
IMPORTANTE: Após o Tto apropriado, a hipopigmentação associada pode persistir por meses, até que haja
repigmentação cutânea.
->Diagnóstico diferencial: se faz com melanoma extensivo superficial, fitofotodermatite, melanose, eritema
pigmentar fixo e púrpura do atleta.
->Tratamento: agentes queratolíticos (p. ex., ácido salicílico a 6%, creme) e antifúngicos tópicos (p. ex.,
terbinafina a 1%, creme).
>>>Dermatofitose marginada (tinea cruris): Caracteriza-se por lesão eritematoescamosa, a partir da prega
inguinal. Avançando sobre a coxa, com nitidez de borda (daí o nome marginada), a lesão pode invadir o
períneo e propagar-se para as nádegas, a região pubiana e, até mesmo, o baixo-ventre. É muito pruriginosa e,
por isso, a liquenificação é frequente. O não acometimento da pele da bolsa escrotal demonstra a
especificidade da ceratinofilia dos dermatófitos e ajuda no diagnóstico diferencial com a candidíase.
>>>Dermatofitose dos pés (tinea pedis): Três formas são descritas: a aguda, eczematoide, representada por
vesículas em geral plantares e digitais, é causada pelo T. mentagrophytes var. mentagrophytes e manifesta-se
com vesículas, sendo bastante pruriginosa; a forma intertriginosa é causada pelo T. mentagrophytes var.
interdigitale (ver item Pé de atleta, adiante), de localização nas pregas interpododáctilas
(predominantemente), caracterizada por fissuras e maceração; e a forma crônica, caracterizada por lesões
descamativas pouco pruriginosas, acometendo praticamente toda a região plantar. É peculiar e rara a
apresentação em “mocassim e/ou em luva”; não necessariamente simétrica e causada pelo T. rubrum. A tinea
pedis pelo T. rubrum pode acometer crianças mais frequentemente do que se suspeita. Geralmente se
apresenta sob a forma intertriginosa e tem como diagnóstico diferencial eczema atópico, eczema de contato e
psoríase plantar (Figuras 46.14 e 46.15)
>>>Dermatofitose da face: Tem um aspecto peculiar e, às vezes, de difícil diagnóstico. São lesões
eritematoescamosas de crescimento centrífugo, às vezes com disposição em asa de borboleta, lembrando o
lúpus e a dermatite seborreica; em geral, o prurido é discreto.
>>Dermatofitose do couro cabeludo (tinea capitis): Caracteriza-se pelo comprometimento dos cabelos, que
são invadidos e lesados; há também lesões eritematoescamosas do couro cabeludo. Os cabelos são fraturados
próximo à pele, produzindo as típicas áreas de tonsura, caracterizadas por pequenos cotos de cabelos ainda
implantados. Na tinea tricofítica, as áreas de deglabração são pequenas, ao contrário das microspóricas, cuja
área em geral é única e grande. Nessas duas, os cabelos voltam ao normal com o tratamento ou com a
involução espontânea, na época da puberdade. A explicação para essa regressão seria o início da produção de
ácidos graxos com propriedades fungistáticas. Na variedade favosa, entretanto, ocorre atrofia com alopecia
definitiva ou cicatricial. Essa variedade apresenta um aspecto morfológico muito característico: as escútulas
fávicas (godet) – crosta constituída por micélio, esporos, células, sebo e exsudato. A alopecia definitiva é mais
frequentemente causada pelo T. schoenleinii, porém agentes de origem zoofílica e geofílica, como T.
violaceum e M. gypseum, também são capazes de causá-la por reação inflamatória intensa com posterior
fibrose e atrofia folicular.
->Diagnóstico: É feito comumente e, com muita fidelidade, pelo exame direto (micélios septados e
artrosporos). A cultura é fundamental para fazer o diagnóstico da espécie (questões relacionadas à
epidemiologia e prognóstico) e, portanto, rastrear a fonte de contágio. O material para exame é obtido por
raspado. Miranda (2003) introduziu o método da coleta com fita gomada, aplicação de KOH ou KOH/DMSO na
lâmina onde vai ser colocada a fita gomada, que deve ser recoberta por lamínula, método que pode ser
aplicado também na candidíase. Tem como vantagem evitar o traumatismo local, o que pode ser útil para
crianças e, também, por medida de segurança, para pacientes portadores de doenças infecciosas com
possibilidade de transmissão sanguínea (Figuras 7.1, 7.3, 7.4, 7.7 e 7.8). A luz de Wood também é um método
útil; torna os cabelos fluorescentes esverdeados nas tineas favosa e microspórica (a tricofítica não fluoresce).
É um método excelente para acompanhamento do tratamento e para coleta de espécimes.
->Diagnóstico diferencial: Medalhão da pitiríase rósea, psoríase plantar ou vulgar, eczema de contato, eczema
numular, alopecia areata, onicodistrofia de várias naturezas, síndrome vesicular das mãos e/ ou pés,
dermatite seborreica etc.
->Tratamento: A conduta terapêutica varia com a forma clínica e espécie causadora. Em geral, processos
inflamatórios mais intensos são causados pelas espécies zoofílicas e geofílicas, e são de fácil tratamento,
podendo haver mesmo cura espontânea, ao contrário das infecções causadas pelos fungos antropofílicos, que
podem ser crônicas e recorrentes como a tinea pedis e as onicomicoses pelo T. rubrum.
>>Tópico: A clássica solução alcoólica de iodo (1%), ácido salicílico (2%) e ácido benzoico (3%) foi por muito
tempo a primeira escolha terapêutica, sobretudo nas lesões da pele glabra, dos pés e das unhas. Outros
medicamentos mais eficazes e atuais são: terbinafina tópica a 1%; derivados imidazólicos (miconazol a 2%,
oxiconazol a 1%, tioconazol a 1%, isoconazol a 1%, flutrimazol a 1%) em 1 ou 2 aplicações diárias. Existem nas
seguintes apresentações: creme, loção, spray e pó. Tolciclato a 1%, ciclopiroxolamina a 1% e amorolfina a
0,025% são outras opções. Ver Tratamento das onicomicoses por dermatófitos e fungos filamentosos não
dermatófitos, adiante. O uso de vaselina salicilada ou ureia a 20%, na tinea pedis com descamação, é de
grande valia.
>>Sistêmico: É mandatório fazê-lo nos casos de tinea capitis, tinea corporis extensa e onicomicoses com grau
de acometimento maior que 50% da superfície ungueal e/ou acometimento de matriz ungueal, bem como na
tinea pedis crônica. Embora a griseofulvina continue sendo de grande utilidade, ela é suplantada, em eficácia
(à exceção do tratamento da tinea capitis especialmente causado pela espécie Microsporum) e menor
toxicidade, por todos os novos antifúngicos, porém pode ser a única opção, em termos de custo. A dose para
crianças é de 10 a 20 mg/kg/dia, e, para adultos, de 1 g/dia dividida em 2 tomadas, devendo ser ingerida logo
após as refeições. O tempo para o tratamento da tinea capitis é de cerca de 30 a 45 dias; tinea corporis, de 20
dias; tinea pedis, de 45 dias. Várias cepas de T. rubrum são resistentes à griseofulvina. Itraconazol 100 mg/dia,
fluconazol 150 mg/ semana e terbinafina 250 mg/dia são superiores em termos de eficácia; devem ser
utilizados da seguinte forma: tinea corporis, 2 a 4 semanas; tinea capitis, 4 a 6 semanas; tinea unguium, ver
item Onicomicoses, a seguir, e Capítulo 84, Antifúngicos Sistêmicos. Essa modalidade não dispensa o
tratamento tópico.