LU L LOPES
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Copyright© LU L LOPES
Este e-book é uma obra de ficção. Embora possa ser feita
referência a eventos históricos reais ou locais existentes,
os nomes, personagens, lugares e incidentes são o
produto da imaginação da autora ou são usados de forma
fictícia, e qualquer semelhança com pessoas reais, vivas
ou mortas, estabelecimentos comerciais, eventos, ou
localidades é mera coincidência.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
EPÍLOGO
CAPÍTULO UM
A forma como me olhava…
Havia uma chama intensa por trás de seus olhos
castanhos, algo que os fazia parecer tão vivos. Ela ardia,
tamanha a intensidade do seu olhar. Era como seu corpo
inteiro fosse feito de chamas, e eu estivesse prestes a me
queimar. Seu corpo esguio sobre os lençóis de cetim me
convidava a fazer coisas que eu apenas sonhava, então eu
aproveitaria muito bem a oportunidade.
— Vai ficar aí parado, bonitão? — Ela sorriu de um
modo que atiçou a minha já pulsante ereção. Eu tinha
todos os impulsos de avançar sobre ela como um
adolescente, me enfiar dentro dela e tomá-la como a vadia
que era. Só que eu teria calma, paciência. Não mostraria
essa vontade que tinha de devorá-la por inteiro. Eu iria
mostrar que não se provocava uma pessoa tão poderosa
quanto eu, e a veria pagar a língua ferina.
Isso mostraria aos poucos.
Avancei sobre ela na cama, o fogo daquela mulher
correspondendo ao meu. Seus lábios me pertenciam,
então os tomei, em um beijo intenso e devorador. Ela se
derreteu contra mim, seus quadris se erguendo para
encontrar os meus. Minhas mãos procuraram suas curvas
elegantes para puxá-la contra mim, para que sentisse todo
o meu poder, e ela arfou contra a minha boca. Mordi sua
língua, e ela fechou os olhos em protesto.
— Bonitão… — ela gemeu. Passei de sua boca para
seu pescoço, enquanto minha mão fazia borboletas em
seus mamilos. Os sons que escapavam de sua boca eram
muito deleitosos.
Mas eu ansiava por mais.
Ergui meu olhar para encará-la. Eles ardiam com
uma chama intensa. Toquei-a no meio das pernas, e a
encontrei molhada e preparada.
— Você confia em mim?
— Que tipo de pergunta é essa? — a voz dela era
rouca e profunda. Voz de desejo.
— Você confia em mim, Marília?
Ela me encarou. Aquela não era uma mulher de
desviar o olhar, ou fugir de um desafio. Não havia medo
nela. Ou dúvida. Ela ergueu uma mão para o meu rosto, e
então para as minhas costas, onde deixou as suas marcas.
— Confio.
De supetão, eu agarrei suas mãos e com as fitas de
cetim, amarrando-a aos postes da cama. Ela esboçou
surpresa, mas não medo. Deixou que eu a prendesse...
Ela apenas sorriu, provocativa. Só que eu não havia
terminado.
Pegando na cômoda da cama, tirei mais uma fita de
cetim, e dessa vez, a amarrei em seus olhos desafiadores.
Ela, mais uma vez, não esboçou surpresa. Apenas
assentiu, e seus olhos foram cobertos. Com alguma ajuda
dela, suas pernas foram presas também aos postes da
cama. Parei para observar meu trabalho.
Minha, pronta para ser devorada.
— Agora, Marília, o que eu devo fazer com você?
CAPÍTULO DOIS
Todo mundo sabe que há verdades que precisam
ser ditas.
Por mais dolorosas que sejam, por mais feridas que
possam ser reabertas. E eu era uma especialista em
descobrir os segredos mais profundos e mais inquietos que
se retorciam dentro de cada pessoa, aquele segredo que
ficava no âmago, pronto para ser revelado a cada palavra
dita pela língua solta, espreitando os caminhos do coração.
Toda pessoa quer revelar seu íntimo.
É uma questão de saber como quebrar a corrente
certa.
— E todo mundo quebra uma hora — era o que eu
dizia, às duas da manhã, com a cara cheia de cerveja, para
minha companheira de apartamento, Flávia, em meu
estado ébrio e deplorável. Flávia apenas riu da minha cara,
e tirou a latinha das minhas mãos.
— Acho que você já bebeu demais, Má.
— Estou apenas falando verdades! Por exemplo, eu
sei que você não esqueceu seu ex ainda. Você ainda
acessa o Instagram dele de madrugada, quando acha que
ninguém está olhando.
— Ei! — Pude ouvir a voz dela vindo da nossa
cozinha compartilhada. — O que eu falei sobre acessar
meu histórico de navegação, Marília Carvalho?
Eu apenas ri, histérica. Mas o que me levou àquele
estado deplorável às duas da manhã, você pergunta? Era
a minha situação atual.
Eu morava de favor na casa da Flávia, que foi minha
colega de faculdade e era uma das poucas pessoas que
me aturava desde então. Eu não era boa de fazer
amizades ou cultivá-las. As pessoas em geral iam embora
da minha vida, ou eu as abandonava. Naquilo eu era boa.
Em abandonar as pessoas. Na verdade, eu não era boa,
como era excelente. Se acrescentasse ao meu currículo,
talvez eu mantivesse mais empregos. E minha família…
bem, eles não queriam ouvir falar de mim desde que eu fiz
uma matéria expondo os podres de um dos meus primos,
que estava se candidatando a Senador. Fui definitivamente
expulsa de casa, e apesar de ter ganhado os louros no
trabalho, minha mãe não falava comigo há anos.
Era o preço a se pagar para ser bem-sucedida, não
é?
Dizia a mim mesmo que não me importava ao abrir
mais uma latinha de cerveja.
— Ei, Má, você já bebeu demais.
— Não, eu bebi de menos. Ainda estou acordada.
— Acredite, afogar a solidão na bebida não vai
responder seu e-mail.
Eu encarei o notebook de volta, na menção daquilo.
Estava evitando o inevitável, sabendo que não responder
não manteria meu emprego, e consequentemente, meu
estilo de vida. Não que eu vivesse como uma indigente,
mas certas facilidades estavam longes de serem
conseguidas. Como dinheiro para viver sozinha, por
exemplo. Por isso morar de favor. Flávia era uma santa por
me aturar por tanto tempo, mas isso lhe tolhia. Sei que o
seu namorado, Diego, não me suportava, e que eu
atrapalhava seus planos de morar juntos. Porém a vida
tinha circunstâncias engraçadas, né? As minhas
publicações me davam algum dinheiro, e eu trabalhava
para uma revista, até que…
— Responda ao e-mail, Má — Flávia repetiu,
voltando para a sala. Ela trazia um copo de água e
estendeu-o para mim, uma cura para a minha bebedeira.
Eu o aceitei, e tomei-o todo de vez.
— Até parece que aquela megera estaria acordada
a essa hora. Ela é new age, acredita em oito horas de
sono, cristais e toda essa miséria.
— Com a crise da Quero Mais?!, ela deve estar
acordada até de madrugada. Que nem você. A diferença é
só na bebida.
— Que nada. Eu já a vi colocar gin na xícara de
café. Aquela lá não se derruba por nada. — Cruzei os
braços, o notebook na minha frente da mesinha mal-
acabada de centro desligando a luz do monitor.
— Vamos, Má. Pense nisso como uma
oportunidade, e não como...
— Como a coisa que é, — eu mostrei a tela de novo
para ela, a luz atingindo nossos rostos como um raio
violentamente. — A megera está me demitindo da revista
se eu não conseguir um furo de reportagem para a edição
do próximo mês?
Flávia leu o e-mail de novo, mas eu já conhecia as
palavras de cor. Afinal, eu tinha memória fotográfica (um de
meus muitos talentos! E eu tinha vários, claro).
MsMaríliaCarvalho,
Como você sabe, seu vínculo empregatício com
esta revista (“Quero Mais?!”) está prestes a ser renovado,
com todos os encargos e bônus a serem renegociados.
Claro,seasenhoritacumprirumaúltimatarefa…
Os tempos difíceis da imprensa gráfica tem
chegado, e precisamos de toda ajuda possível. A senhorita
Marília é uma parte vital da revista, mas como toda parte
vital, precisa ser parte do todo, ou poderá ser descartada.
O diretório da revista resolveu investir uma última vez na
senhorita, uma última aposta, antes de decidirmos se
desligaremosasenhoritaMaríliadevez.
A senhorita terá até a próxima edição da revista
para achar o furo da sua vida, e francamente, eu tenho
esperançasemvocê,Marília.Nãonosdesaponte.
HelenadeBouveair
Editora-chefedaQueroMais?!
Eu tinha vontade de afogar minhas mágoas toda vez
que lembrava daquelas palavras. Um furo não acontecia
por vontade do jornalista. Você sempre precisava estar no
lugar certo, na hora certa e ter muita, muita sorte.
Ah, e ter uma câmera, afinal, o que é um jornalista
sem provas?
— O que aquela megera quer que eu faça? Produza
provas falsas contra alguém? Eu perderia toda minha
credibilidade jornalística… — eu reclamei, inclinando as
costas contra o sofá-cama. As entrelinhas daquele e-mail
estavam me assombrando. Por isso eu não conseguia
dormir — e nem esperava conseguir dormir bem tão cedo.
— Você deveria se demitir dessa revista. — Aquele
era o discurso de Flávia fazia meses. Admito, eu não era
bem tratada lá. Eu era uma funcionária exemplar. Nunca
atrasava uma matéria. Esforçava-me para manter uma boa
coluna de fofocas, apesar de detestar trabalhar com
celebridades. Tentava galgar meu caminho pelo círculo dos
famosos, mas…
Eu queria mais.
Foi assim que consegui aquele emprego. Viram
minha ambição, em primeiro lugar, e abusaram dela. Eu
realmente deveria sair daquela revista, e conseguir algo
melhor.
Mas eu tinha que ser realista. Eu tinha contas a
pagar. Não podia ficar morando de favor na casa de Flávia.
Por mais que sabia que ela me apoiaria, que não se
importaria que eu ficasse mais algum tempo na casa dela,
eu sabia que isso lhe custaria mais um dinheiro que eu
sabia que estava ficando curta para o lado dela. E eu não
queria atrapalhar o relacionamento dela.
Peguei meu celular, e zapeei por alguns das minhas
mídias sociais. Precisava de um sinal. Melhor, uma vítima.
Alguém cujo podres pudessem servir de material para a
revista, e um furo tão inesperado que o país inteiro
tremesse aos meus pés.
Alguém intocável.
Meus dedos tocaram na notícia de algumas horas
atrás, e meu corpo inteiro tremeu.
— Vou responder ao e-mail — respondi mais para
mim do que para Flávia, e ela apenas ficou me encarando.
— Já escolheu seu alvo?
Meus olhos faiscaram na escuridão.
— Acho que achei um peixe grande para fisgar.
A notícia lia: Eduardo Albuquerque, CEO da
megacorporação Albuquerque LTDA, lança candidatura à
presidência!
CAPÍTULO TRÊS
Aquele era realmente um peixe grande para se
pescar.
Eduardo Albuquerque, de todas as pessoas do
mundo, estava lançando uma candidatura à presidência?
Ele vinha de uma família influente, os Albuquerque,
cuja gerações remetiam desde os tempos das capitanias
hereditárias, e a empresa da família fez fortunas com
telecomunicações. E Eduardo começou a carreira desde
pequeno. Apresentador-mirim de um programa infantil, ele
galgou à fama na companhia da família, conquistando o
Brasil inteiro. Desapareceu dos holofotes um pouco
durante a adolescência e faculdade, onde estudou em
entidades renomadas, e voltou na idade adulta, dessa vez
como apresentador de um talk-show. Todos o acusaram de
galopar na fama e fortuna da família, mas Eduardo não se
abalou.
Ao invés disso, se aproveitou das oportunidades que
lhe foram dadas. E não apenas isso. Ele era o
apresentador. Carismático, carinhoso. Sabia fazer piadas
nos momentos certos, emocionar em outros. Ele sabia
como manipular o público.
Passei o resto da noite, depois de responder o e-
mail, vendo vídeos e clipes antigos do programa dele. Em
especial, um quadro do programa chamado “Chama Que
Eu Vou”. Era basicamente sobre uma pessoa ligar para o
programa, falando qual era o problema dela, e o Eduardo
pessoalmente ia para a casa da pessoa resolvê-lo. Foram
vários casos de pessoas afetadas pelas enchentes
constantes do país que ganharam geladeiras novas,
pessoas necessitadas que ganharam cestas básicas…
Ele realmente passava uma aura de bom
samaritano. Uma pessoa intocável.
— Mas tem que ter algum podre — eu falei para
Flávia, quando ela despertou do sono dela, e se preparava
para sair para o seu trabalho. Flávia era produtora de
eventos, e estava constantemente atribulada.
— E vai ser você a descobri-los? Achei que queria
fazer mais da sua vida do que descobrir podres dos outros,
Má.
Eu dei de ombros. Minha moral e meus bons
costumes estavam lá pra baixo. Eu não queria admitir que
estava fazendo aquilo por ela, quando na verdade estava
fazendo aquilo por mim também. Eu queria uma vida
melhor para mim, e aquele parecia o único caminho.
O que fazer, afinal?
Ela revirou os olhos.
— Se vai fazer… acho que posso ajudá-la. — Ela
mordeu os lábios pintados de carmesim, e parecia incerta.
— Não conheço nenhum podre dele, o histórico do homem
parece limpo. Mas… Posso te ajudar a se aproximar dele.
Aí você pode fazer seus vodus e tirar as informações que
precisa.
Joguei-me nela, abraçando-a e dando um beijo
estalado em sua bochecha.
— Você é a melhor amiga que alguém poderia ter!
— Sou sua única amiga — ela reclamou. — Não
borre a minha maquiagem. De qualquer forma, eu estou
organizando uma festa muito chique para um cliente, e eu
sei que ele estará na lista de convidados. É nesta sexta.
Posso dar um jeito de colocar você na lista… Se você
prometer não aprontar.
— Ai, eu te amo, Flávia!
— Também te amo, boba. Agora eu tenho que ir. —
E remexendo na bolsa, ela tirou as chaves do carro e me
deixou sozinha no apartamento.
Eu tinha uma oportunidade. O que me restava agora
era fazer uma pesquisa e bolar um plano. Um esgar de
vermelho vindo do closet de entrada atraiu meu olhar.
Senhor Eduardo Albuquerque não sabia o que lhe
aguardava.
CAPÍTULO QUATRO
Tá, claro, é um grande clichê.
“Eu não tive relações sexuais com essa mulher,
Miss Lewinsky.”
Se você não pode arranjar um furo, crie um. Claro
que Eduardo tinha uma noiva, e ele era um homem muito
bem resolvido. Homens bem resolvidos não traíam, nem
criavam grandes escândalos.
Mas ele não tinha me visto naquele vestido
vermelho ainda, e acredite, eu arrasava naquele modelito.
Eu pesquisei mais sobre a vida dele. A vida do
homem era cristalina. Sem nenhuma mancha. Não havia
nenhum rumor sobre amantes, ou vícios, ou sequer se ele
pisara no calo de algum concorrente. Aparentemente, ou o
homem conseguira passar a vida sem errar, ou as bocas
se calavam ao seu redor. E com o dinheiro da família dele,
eu sabia que bocas poderiam ser compradas. E naquele
quesito, eu sabia que segredos poderiam ressurgir.
Ninguém passava a vida sem erros.
E eu não era mulher de recusar um desafio.
Eu me arrumei para uma guerra. Quase me atrasei
para o evento, mas como sempre acontecia, com aquelas
festas, era sempre melhor chegar atrasado. Peguei um
carro de aplicativo, sabendo que Flávia estaria no evento
já, preparando a minha entrada. Eu subi no meu salto
quinze, e com a maquiagem devidamente arrumada,
arranquei olhares por onde passava. Sabia atrair olhares.
Só que era um olhar em específico que eu queria atrair…
Parei na frente do bar, e pedi uma água com gás. O
bartender ergueu uma sobrancelha para mim, e eu apenas
dei o meu sorriso mais doce e meigo. Não queria estar
embriagada para seduzir Eduardo, e apesar de preferir
cerveja, eu não consumia muitas bebidas alcoólicas. Tinha
de manter o foco. Pus-me a observar o salão. Pessoas
ricas e famosas, além de grandes influenciadores, se
misturavam e conversavam, enchendo as tendas do local à
céu aberto com risadas e muito humor.
Era um evento beneficente para arrecadar fundos
para uma Instituição de Crianças com Câncer, a melhor
publicidade que um recém candidato a presidente da
república poderia querer. Teria um pequeno show acústico
para entreter a classe alta da cantora Mariabella, que
também estava em alta, e assim discretas contribuições
seriam feitas ao instituto. Como se podia ser feito, era
apenas para as aparências. As pessoas queriam ser vistas
ajudando, doar para essas entidades era apenas uma boa
jogada de marketing.
— Hipócritas — murmurei, bebericando da minha
água. Eu era apenas mais um deles. Escondi meu crachá
de imprensa na minha bolsa, e passei a escrutinar o salão.
Entre brilhos e vestidos e ternos glamurosos, não achei o
que procurava. As pessoas se acomodavam em mesas
enfeitadas com toalhas brancas de renda, em cadeiras de
treliça de madeira, tudo muito praiano, apesar de não
estarmos perto da praia. Havia muitas plantas, que eu
imaginava serem falsas, mas muito bem cuidadas. O clima
era aconchegante, mas não dava para se misturar tão
facilmente com quem não se conhecia. O que era um
problema.
O bar era parte do meu plano. Era ali que acontecia
os negócios mais escusos e facilitadores da noite. Bebidas
facilitam as negociações, e muitos acordos eram trocados
com um bom drink, sem falar que a maior troca de cartões
de visita era feita ali, no balcão. O que esses bartenders
sabiam sobre a vida dos famosos, somente eles poderiam
contar.
Como eu sabia, teria que contar com a sorte, mas
esta nunca tinha me abandonado.
Não ainda.
Os olhares se viraram quando ele chegou. Uma das
razões era porque ele comandava com seu olhar altivo e
verdes, e com sua altura considerável… Eu tinha
pesquisado toda sua ficha. Ele media cerca de um metro e
noventa e três centímetros, e mesmo no alto de meu salto
quinze, eu mal alcançaria seus ombros. Porém, não era
somente por causa do seu topete loiro e bem cuidado.
Não. Era o modo como ele olhava para frente. Como
comandava a sua presença, como interagia com as
pessoas, sempre mantendo um sorriso no rosto.
Uma cobra reconhecia outra quando se
encontravam. Ele era um predador, alguém perigoso. Estar
na mesma sala que ele me fez perceber que talvez ele não
caísse no meu plano tão facilmente assim. Havia mais do
que eu esperava por trás daqueles olhos verdes. Como
fazer para que ele caísse na minha teia? Eu o encarei,
apoiando-me contra o balcão, direcionando meu olhar até
seu rosto. Tentei decifrá-lo como se decifra um enigma
interessante.
E então ele olhou para mim.
Realmente olhou.
E sorriu.
Senti um calafrio percorrer minha espinha. Ele não
tinha como me conhecer. Eu, apesar de trabalhar para a
“Quero Mais?!”, não era conhecida, ao menos não de
rosto. Não tinha feito muito com a minha maquiagem,
então apenas supus que o que quer que tivesse feito,
talvez meu plano tivesse funcionado.
Pisquei de volta para ele.
O sorriso voltou a aparecer, mas a atenção dele foi
rapidamente atraída para outra pessoa.
Achei que estávamos chegando a algum lugar,
senhor Eduardo Albuquerque.
Bem, vamos ver. A aranha estava armando a teia.
Uma cobra contra uma aranha...
Quem venceria nesta batalha de venenos?
CAPÍTULO CINCO
Presidência da república…
Era um pulo bastante grande para um simples
apresentador de televisão, mas se Trump tinha
conseguido, por que não fazer o Brasil uma grande nação
também?
Eu sempre sonhei grande. E tive a sorte de nascer
na família certa. Certos privilégios são somente obtidos
pelo nascimento, e eu era grato. Por isso, retribuía para a
população sempre que podia. Eu sabia que tinha mais do
que os outros. Eu tinha uma família feliz, dinheiro e
possibilidades. Muitas pessoas matariam por aqueles
privilégios.
Por isso resolvi que a minha primeira aparição
pública depois do anúncio deveria ser um evento de
caridade. Na realidade, quando falei com a minha
assessora Cecília, eu queria aparecer em um hospital de
verdade, e falar com as crianças que seriam beneficiadas
pelas doações, mas ela me convenceu de que aquilo era
um “exagero”. Eu era muito passional, intenso, impulsivo.
Qualidades que não eram boas em um presidente, mas eu
queria tentar.
Era o impulso midiático necessário. Minha imagem
não podia ser manchada. Cecília me mataria se eu
trouxesse mais um escândalo à casa dos Albuquerque. Já
tinha a minha mácula da faculdade para esconder.
Não que eu quisesse…
Contudo, fardos eram fardos.
A festa beneficente seria um tédio, como sempre.
Eu teria que contribuir com um discurso e isso era fácil,
mas a parte de conversar coisas tediosas e repetidas com
as mesmas pessoas sempre anuviava minha mente.
Acabava precisando de uma ou duas doses de uísque para
conseguir manter minha energia. Bebida sempre me
energiza, ao invés de nublar. Não ficava muito bem para a
minha imagem cair, beber e levantar, mas talvez se eu
escapasse para o bar…
Meu olhar foi atraído para a imagem em vermelho.
Era quase uma pintura, de tão linda e perfeita. Os cabelos
negros caíam sobre os ombros e emolduravam os seios,
que eram cobertos pelo tecido vermelho macio, e atraíram
meu olhar. A pele era morena e queimada do sol, brilhante
e suave.
Na minha época da faculdade, eu e meus amigos
procurávamos na companhia duas coisas na noite: a
beleza da mulher, e se precisávamos tirar a roupa dela
para transar. No afã da adolescência, a velocidade era
tudo. Alguns vestidos eram apenas questão de levantar o
suficiente para que a penetração ocorresse, e o feito
estava feito.
Aquela moça, fosse quem fosse, era a
personificação dos meus desejos de faculdade.
Sorri instantaneamente para ela, começando um
jogo entre nós. Ela correspondeu, e eu…
— Ah não. — Cecília puxou meu braço, puxando a
minha atenção. Cecília Moraes era a minha assessora e
confidente, sem falar que uma das pessoas que me
acompanhava desde a faculdade. Ela conhecia meus
impulsos e os controlava, quando podia. — Não, não. Nada
de moça de vermelho. Viemos aqui homenagear as
criancinhas com câncer, lembra? Criancinhas com câncer.
— Lembro sim — respondi, ainda com um sorriso no
rosto.
— Não queremos nenhuma situação de novo como
Mel de novo, não é?
Meu rosto fechou de novo.
— Não há um dia que se passe que eu não lembre
de Mel, Cecília. Vamos lá, eu não vou cometer o mesmo
erro.
— E lembre-se de que está noivo. Por enquanto.
Revirei os olhos, mas a outra pessoa da minha trupe
se manifestou.
— Se dependesse da “noiva” do Edu, ele poderia
pegar quantas mulheres de vermelho ele quisesse. Você
sabe muito bem que a Raissa está com aquele homem de
novo, Ceci, por isso não veio acompanhar o Duca esta
noite. — Pedro Moraes, o marido de Cecília e meu amigo
de faculdade e meu também segurança alfinetou. Ele
conhecia meus podres e mais do que tudo, era meu
confidente dos segredos que não podia confidenciar à
Cecília.
Especialmente o maior deles.
As mãos da Cecília apertaram sua prancheta e ela
pareceu ficar mais vermelha, mas não era um fato novo
para nós. Aquele noivado era um acordo entre família, e
embora eu tolerasse a Íris desde mais novo, eu sabia que
ela não me amava. Portanto, a traição dela não me afetava
tanto quanto afetava a minha imagem. Só que fazer algo
quanto a isso estava além dos meus poderes. Conquistar a
presidência? Estava em um futuro possível. Não ser
corno? Não como o noivo de Íris Barcellos.
— De qualquer forma, é meu dever que você não
crie escândalos por uma noite sequer, Edu. — Ceci
suspirou, desistindo. — A mulher de vermelho pode ser
uma aventura interessante de uma noite, mas pode ser
algo que machuque sua carreira política. Você tem que
começar a pensar nisso. Você não tem mais vinte e dois
anos para ficar transando por aí sem proteção. Pense no
futuro.
— Estou pensando no futuro. — Meu olhar estava
atraído.
— Não. Está pensando no agora — Cecília me
repreendeu. — E não com a cabeça certa.
— Vamos lá. — Eu me afastei deles, e Pedro ficou
me encarando. — Um drink. O que pode dar de errado?
— Edu!
— Eu tenho que conhecer o meu eleitorado. —
Pisquei para ela.
— Céus…
— Isso só pode terminar em merda — Pedro
decretou, puxando Cecília para a mesa onde nos
sentaríamos, enquanto eu me dirigia ao bar.
Mulher de vermelho…
Uma última aventura.
CAPÍTULO SEIS
Ora, ora, peixe fisgado. Melhor ainda… cobra na
teia.
Ai, eu teria que melhorar as minhas metáforas, mas
parecia que meu vestido tinha atraído a atenção certa.
Terminei o meu drink, e fiquei com o copo vazio,
esperando. Ele veio.
E nossos olhares se chocaram, esperando. Eu sabia
quem ele era, mas o truque era se fazer de desentendida.
Eu e Eduardo conhecíamos aquele jogo de sedução, e
sabíamos jogá-lo. O meu objetivo era me fazer ser
lembrada.
— Uma água para a moça, e o mesmo para mim —
ele pediu ao garçom, e eu fiquei surpresa.
— Não é todo homem que não tenta me embebedar,
sabia? Já tive que recusar três drinks apenas hoje.
— Porque você esteve lidando com moleques, e não
com homens. Homens de verdade não precisam de álcool
para nublar a mente das mulheres. E vai por mim. Eu a
quero sóbria para não me recusar.
O sorriso surgiu em meu rosto. Fácil demais.
— O que quer de mim, homem misterioso?
— Para começar, um drink. É um dia muito bom
para uma conversa, não acha? Poderia me acompanhar?
E quando o bartender trouxe nossas bebidas, ele as
pegou, me forçando a acompanhá-lo. Eu tinha muita
dificuldade de acompanhar seu passo pois suas pernas
longas devido a sua altura, e eu estava em saltos muito
altos, o que ele logo notou, diminuindo sua passada.
— Você não perguntou meu nome — mencionei,
quando ele me levou para um canto mais afastado de
olhares. Era uma das tendas mais afastadas, e havia
menos pessoas ali, algumas dos staffs, mas virtualmente
estávamos sozinhos.
— Eu preciso saber seu nome?
— Marília — respondi, sendo sincera.
— Marília… — ele repetiu, tocando levemente em
meu ombro. Depois, entregou o copo para mim. — Beba
comigo, Marília.
Bebemos em silêncio, contemplando o silêncio do
local. Havia a tensão entre nós, mas éramos dois
estranhos. Cabia a mim falar algo.
— Então… vamos ao que interessa?
— O que interessa? — ele respondeu, a diversão
visível em sua voz.
— Eu e você… aqui. — Gesticulei para a tenda
escura. Não era óbvio? Eduardo sorriu com o canto da
boca, e eu o detestei naquele momento. Detestei seu
sorriso, seu cabelo curto e o jeito como o terno parecia se
apertar contra seu peitoral. O modo como seu olhar me
deixava molhada entre as pernas. Só o seu modo de agir e
atitude que me faziam detestar. Era como se ele visse
através da minha máscara, e soubesse meus planos. Eu o
detestei.
Mas céus, como eu queria como ele me beijasse.
Ele se aproximou de mim, deixando nossos copos
sobre uma mesa, encostando-me contra a parede. Puxou
minhas mãos para o vão acima da minha cabeça, e uniu
nossos corpos. Eu arfei, sentindo toda sua masculinidade
contra mim, e me senti bastante satisfeita ao perceber que
ele não era indiferente a mim. Estava claro quem estava
perdendo aquela disputa.
Meu sorriso era pretensioso. Ele fora fácil demais,
pegara a isca que eu jogara e simplesmente estava ali, a
centímetros de mim, minha boca semiaberta pedindo a
dele. Eu conseguia sentir o seu frescor, e fechei os olhos…
Para o frio tomar a forma de Eduardo em seu lugar.
Fiquei parada alguns segundos antes de tomar
alguma ação. Ainda estava esperando que algo
acontecesse, mas estava óbvio. Abri os olhos de supetão,
mas estava óbvio. Eduardo estava me encarando, a mão
sobre a boca, impedindo-o de cair em risos.
Eu havia caído em minha própria armadilha.
— Imprensa, certo? — ele tentava parecer sério,
mas estava óbvio que que o sorriso de escárnio em seu
rosto era genuíno. — De que revista você é?
— Não sei do que você está falando. — Tentei
disfarçar, mas a raiva estava começando se acumular, ao
mesmo tempo em que meu desejo se esvaía. Como se
meu tanque de emoções só tivesse espaço para uma no
momento.
E no momento, eu escolhia odiar Eduardo.
— Vamos. Para qual jornal você trabalha? Onde
estão as câmeras? — Ele começou a olhar ao redor. — Já
conseguiu suas fotos? Vai começar as suas fofocas?
Marília… Qual o seu sobrenome? — Ele pegou o celular, e
começou a digitar. Imaginei que estivesse pesquisando
meu nome no Google, e me senti muito burra por ter dado
meu nome verdadeiro para ele.
Tinha de agir rápido, então avancei em sua direção,
a raiva movendo meus membros e eu coloquei uma mão
sobre seu aparelho, tapando sua visão. Eu apenas queria
pará-lo, mas ele agarrou meu braço, e eu senti sua força
total. Soltei um gemido, e com um baque, o celular foi ao
chão, rachando sua tela.
Oops.
— Olhe o que você fez! — Ele gritou comigo, saindo
de sua postura jocosa.
Dei dois passos para trás, mas ele me mantinha por
perto, o aperto em meu braço ainda nos conectando.
— O que eu fiz? Eu mal toquei no celular!
Vejo fogo em seu olhar. Na meia luz da tenda, seus
olhos verdes claros como mel brilham com uma chama
interna, uma determinação escondida e profunda. Ele está
obviamente irritado, e se eu não me cuidasse, eu acabaria
me queimando. Só que o fogo foi contido, e ele suspirou.
Largou-me, e eu esfreguei o local da abrasividade,
temendo que causasse algum hematoma visível, mas
Eduardo não me segurara com tanta força assim. Meu tom
de pele também me fazia poucos hematomas. Apenas
fiquei ali, no alcance da cobra, enquanto ele verificava o
estrago ao celular.
— Foi perda total? — tentei dar um tom leve,
mesmo que estivesse sendo preenchida pelo medo.
Eduardo era rico, mas eu tinha dado danos materiais a ele.
O que significava…
— Não, aparentemente foi só a tela.
— Eu posso te recompensar por isso.
Eduardo ergueu novamente a sobrancelha.
— Achei que tinha deixado claro que não estava
interessado em nada da imprensa, senhora Marília…?
— Não sou casada — disse abrasivamente. — Acho
que começamos de um jeito errado, Eduardo. Eu não
pretendia te causar danos ao seu patrimônio, mas de fato,
eu tinha motivos para falar com você…
— E que motivos seriam esses? — Ele voltou a
segurar o seu copo. De repente, era como se fossemos
somente nós dois no universo. E eu o detestei um pouco
menos, mas eu tinha um objetivo em mente.
— Bem, não vou negar que vim aqui com o passe
de imprensa, e sou da mídia… mas eu queria conhecê-lo
melhor. O que esconde por detrás da decisão de virar
presidente do Brasil?
— Pode ler a declaração que vou dar à imprensa
amanhã pela manhã. — Ele virou o copo.
— Eu queria conhecer o homem.
Ele ergueu a sobrancelha, parecendo um tanto
intrigado.
— Ah, você trabalha para o meu concorrente.
Imaginei.
Ele me encarou, e trouxe o meu copo em minha
direção. Senti minha pulsação correr em meus ouvidos.
Era o prazer da caça, pensei. O jogo entre dois caçadores.
Seu olhar vibrava com o meu, intenso, demandante. E eu
tentava ler entre as linhas, escrutinar seus pensamentos
mais secretos.
E quando ele buscou no copo vazio mais um gole,
eu entendi algo.
— Você também afoga a solidão que sente em
bebida — declarei.
— Perdão? — A voz dele foi um tanto reticente.
— Você acha que é intocável, que está acima de
todos, mas é humano como todos nós, Eduardo
Albuquerque. A máscara intocável que veste, com polpa e
tudo, te protege. Mas consegue dormir à noite, quando se
desfaz dela?
Eduardo deu uma respiração profunda, e ele abriu a
boca para me responder, mas não o fez. Ao invés disso,
colocou-se a centímetros à minha frente, na mesma
posição de antes. Nossas respirações se confundiam, mas
eu não mais era a presa de antes.
— E quanto a você, Marília? O que faz para dormir à
noite?
— Eu? — Fiquei surpresa com a pergunta. — Por
que me pergunta isso?
Ele tocou meus cabelos delicadamente, e eu senti
um arrepio quando sua cútis tocou brevemente o meu
rosto. Eu não sabia o que pensar.
— Eu…
— Senhor Albuquerque! — Aquela que eu sabia ser
sua assessora, Cecília Moraes, aproximou-se, esbaforida.
— Aí está você. Não pode se esconder para sempre. Você
tem um discurso a dar!
— Não estou me escondendo — Eduardo
respondeu. — Estou conversando com a bela senhorita
Marília.
— Isso é pior ainda. — Ela revirou os olhos por
detrás dos óculos, e me analisou de cima abaixo. Meu
vestido vermelho com certeza não fez uma boa impressão
nela. — Você sabe que não pode ser visto em más
companhias.
— Realmente. — E ele se virou para mim. — Você é
uma má companhia, Marília?
— Bem, certamente meu apelido é Má. — Terminei
meu drink, e dei um sorriso para ele. — Mas se sou
companhia o suficiente para o futuro Presidente da
República… Esses são outros quinhentos. É o que iremos
descobrir, não é mesmo?
Aproximei-me dele, depositando meu cartão no
bolso de seu paletó. Aquele não era o que eu costumava
usar para o trabalho, e sim o de flerte. Tinha apenas o meu
nome, e o meu telefone. Um truque muito útil que aprendi
com o meu psiquiatra. Serviu-me várias vezes para
arranjar paqueras, e agora, me fisgava um peixão. Demorei
com minha mão em seu peitoral, sentindo seus músculos
fortalecidos por horas na academia. Então, além de CEO,
político, ele ainda tinha tempo para malhar? Era o pacote
completo.
Como eu queria devorar todos os seus segredos.
— Se estiver interessado — disse-lhe, me afastando
em seguida.
Deixei os dois, mas ainda consegui ouvir, ao longe:
— Para o seu bem, é melhor você não estar nada
interessado!
Meus risos me acompanharam até a minha mesa.
Aquela festa iria render.
CAPÍTULO SETE
Estava claro que aquilo era uma armadilha.
Quem entregava um cartão de visitas, nos dias de
hoje? Só que… Havia algo naquela mulher. Eu realmente
devia ter perguntado seu sobrenome para achá-la em
redes sociais. Só assim saberia se seria seguro…
Seguro para o quê?
O que eu estava pensando?
Eu tinha problemas demais para me preocupar com
uma mulher de vestido vermelho indecente. Eu tinha um
discurso a dar, e o faria, magistralmente. E, claro, estava
preparado para falar, com as palavras em minha mente,
quando as perdi totalmente ao chegar no backstage
improvisado pelo evento. Eu não sabia quem fora
convidado para o evento, mas ver aquela mulher, todas as
vezes, me travava a garganta. Eram todas as palavras não
ditas entre nós, todos as promessas que um dia foram
feitas e não cumpridas.
Eu, um dia, achara que nunca soltaria daquela mão.
— Olá, Edu — Mariabella disse, sorrindo para mim.
Ainda mantínhamos as aparências, mas certos hábitos
permaneciam. Como aquele apelido. Cecília a encarava
com os olhos finos, sendo conhecedora da história tão bem
quanto eu.
— Olá, Bella. Como está? Não sabia que vinha para
este evento.
— Fui chamada de última hora, para ocupar o lugar
do Otávio Salles.
— Bem, se você está aqui, quem está com…?
Ela revirou os olhos.
— Uma babá. Não sabia que elas existem?
— Mas a Mel é pequena. Não acho justo...
— Se você não acha justo, por que você não fica
com ela?
Fechei os lábios, comprimindo-os. Eu não
concordava com aquilo, e ia argumentar contra, mas
Cecília me empurrou em direção ao palco, e eu fui onde
estava sendo direcionado. Estava ali uma mulher difícil de
conviver. Eu não sabia onde estava com a cabeça quando
me relacionei com ela.
Bem, eu sabia onde havia metido a cabeça: no meio
das pernas dela. E em mais lugares, para falar a verdade.
Só que aquilo havia tido mais consequências do que eu
gostaria de pensar no momento.
Adentrei o palco com grande pompa. O murmúrio
das pessoas morreu ao me verem. Eu comandava
atenção, e gostava daquilo. Eu havia nascido para os
palcos, para ter a atenção do público. Agora, no entanto,
eu queria palcos mais públicos. Eu almejava por mais.
Comecei a discursar, mas minha atenção foi logo
dispersa para uma mesa em especial. Eu via a plateia
focada em cada uma das minhas palavras, mas os olhos
castanhos daquela mulher estavam fixos no meu. Seu
olhar era penetrante e fatal. Havia algo no modo em que
ela me encarava, como se quisesse passar uma
mensagem apenas com sua expressão. Eu a encarei de
volta, e no escuro da plateia, a vi circundar com a mão a
clavícula exposta pelo vestido, e abaixar a alça do vestido,
ao ponto de expor parte do seio no processo.
Mulher louca, aquela Marília.
Eu a queria.
Ninguém mais viu o gesto, e nem reparado no fato
de eu ter pigarreado no meio do discurso. Eu terminei o
discurso, e vieram os aplausos. Algumas pessoas o
filmaram, e eu sabia que já cairia na internet no minuto que
comecei a dizer as primeiras palavras.
Voltei para os bastidores, de volta para Cecília e
Pedro. Ela estava exultante com meu discurso, e Pedro um
pouco mais alegre, já que vi um copo de alguma bebida
sem nome em suas mãos.
— Pronto, mamãe — brinquei com o apelido que dei
a Cecília há alguns anos. Era assim que ela cuidava de
mim, ao menos. — Posso sair para brincar agora?
— Ah não. Eu conheço esse olhar, Eduardo. O que
vai aprontar agora? — Ela cruzou os braços, pronta para
me impedir, mas eu simplesmente peguei meu celular e o
pequeno cartão branco que recebera mais cedo.
— Tenho uma ligação a fazer. — Sorri.
CAPÍTULO OITO
“Encontre-me na saída.”
Fora tudo o que a mensagem que recebi no meu
celular dizia. Eu admitia não saber se meu plano
funcionara ou não, mas as mensagens de Eduardo eram
tão entediantes quanto seu discurso… eu tive que apelar
para me divertir um pouco no meio dele. Quem sabe um
pouco de ação fazia o homem sair daquela casca?
Senão, eu teria que apelar para outros planos.
Alguns mais… indecentes que outros. Eu era uma
jornalista, no final das contas. Tinha de conseguir meu furo
de um jeito ou de outro. Não tinha moral ou escrúpulos. Eu
faria qualquer coisa para alcançar meu objetivo.
Até mesmo…
Parei no meio do calçadão, esperando. Os
seguranças da festa ficaram de olho em mim, e eu sabia o
que eles estavam pensando, mas eu apenas os ignorei.
Era sempre a mesma coisa quando eu vestia aquele
vestido.
Homens….
Eles eram todos iguais. Seus olhares, seus
trejeitos…
E eu sabia como os manipular.
Um homem saiu da festa, e meus olhos
escrutinaram seu terno. Bom corte, tecido mais decente.
Pelo modo como caía em seu corpo, ele devia ser feito sob
medida. Não era nada vagabundo como os dos
seguranças que Flávia havia contratado. E discretamente,
mas não o suficiente para escapar do meu olhar aguçado,
havia um pequeno ponto eletrônico em seu ouvido, com o
qual ele se comunicava.
E lógico, graças a minha memória fotográfica e
minha intensa pesquisa, eu sabia se tratar de Pedro
Moraes, o segurança pessoal de Eduardo Albuquerque,
vindo em minha direção.
Ora, ora.
— Venha comigo, senhorita.
Um sorriso surgiu no meu rosto. Deveria me fazer
de difícil? Será que deveria me fazer da mocinha virginal
que não sabe do que quer?
Ah, foda-se.
— Eduardo mandou o capacho?
— Você sabe que ele não pode ser visto em público.
— Ele apontou com a cabeça para o outro lado da rua,
onde a minha laia estava. Eu sabia quem eram a maioria
deles. Repórteres de diversas revistas e freelancers,
ávidos por alguma foto ou deslize. Eu não estava disposta
a dar qualquer coisa a eles. O furo do Eduardo era meu.
— Ok. Para onde vamos?
O tal Pedro não me respondeu, apenas me fez
segui-lo na rua escura, andando atrás dele. Meus saltos
batiam no calçadão, e eu comecei a pensar se não estava
indo para o abate. Ele parou em frente a um beco escuro, e
eu gelei.
— Vocês vão me matar? — minha voz era trêmula.
— Achei que você tinha mais brios do que isso,
Marília.
A voz veio atrás de mim, e um toque gelado tocou
as minhas costas desnudas. Eu me virei de imediato, e
logo vi Eduardo, em toda a sua altura, e fora a sua mão
gelada que me tocara. Eu não sabia de onde ele viera, mas
ele devia estar se escondendo no escuro, onde eu não
podia perceber sua presença. Que cobra esguia. Tentei
acalmar as batidas do meu coração, recobrar a calma. Eu
não podia perder o controle da situação. Seria eu a
comandar Eduardo.
E obter fotos possivelmente ilegais.
De alguma forma.
Eu era muito boa em formular planos de última hora.
— Venha — foi tudo o que ele disse, antes de me
puxar pelo braço.
— Espera. Para onde estamos indo?
Ele parou, me dando um olhar travesso.
— Vou te dar a noite da sua vida.
Meu coração começou a bater forte no peito, e eu
por um momento duvidei das minhas capacidades de lidar
com aquele homem. O que ele havia planejado? Será que
teria sido eu a pessoa a cair em uma armadilha?
Desvencilhei meu braço, e dei um passo em sua direção.
— Não se trata damas assim, Eduardo.
Ele pausou por um momento, e com a distância
entre nós diminuída, ele ergueu uma das mãos para tocar
o meu rosto. Estremeci com o contato. A ponta de seus
dedos era gelada, mas a ansiedade que me preenchia
vinha como ondas tênues em meu estômago para meus
membros. Eu o encarei de volta, provocando-o. E ele veio,
mordiscando meu lábio inferior, gracejando, deixando-me
com vontade de querendo mais.
— Uma prova do que está por vir.
Que descarado!, pensei, tentando recobrar meus
sentidos. Eduardo voltou a andar em direção à Cecília,
mas foi a minha vez de puxá-lo pelo braço e girá-lo,
buscando seu rosto.
O meu beijo foi mais desesperado, mais necessitado
— portanto, mais passional. Eu exigi da boca dele, e
explorei sua boca com vontade. Ele não esperava que eu
desse o primeiro passo, mas não se fez de acanhado.
Suas mãos se agarraram ao meu corpo, e o senti explorar
as minhas curvas por cima de meu vestido, especialmente
se acoplando à curva traiçoeira das minhas pernas,
trazendo-me mais para cima, tocando as minhas ancas e
minha bunda.
Um homem sabia o que queria.
Parei o beijo subitamente, e me afastei dele,
seguindo na direção de Cecília, mas não antes de me virar
dramaticamente.
— Este é o gosto da noite que te darei, Eduardo.
Veremos quem não esquecerá desta noite.
— Pelo amor de Deus, vocês dois. Sejam mais
discretos. — Cecília revirou os olhos, mas Pedro apenas
deu de ombros e seguiu pelo pequeno vão entre os
prédios. Quando vi, estávamos em uma rua discreta, onde
o carro de Eduardo estava estacionado. E que carrão. Era
um Jaguar preto com rodas altas, e os vidros totalmente
enegrecidos. Devia contar com proteção a balas também, e
todo o tipo de blindagem. Afinal, Eduardo Albuquerque era
uma figura pública. Não somente por sua atual
candidatura, mas por sua família abastada, e por seu
passado na televisão.
— Impressionada? — Eduardo perguntou, enquanto
Pedro abria a porta do carona para Cecília, e Eduardo, a
porta para mim.
Oras, ele teria que trabalhar muito para me
conquistar.
— Já vi melhores.
— Claro que viu. Você não é uma mulher de poucas
posses, pelo visto.
Eu apenas sorri, e adentrei o carro. Este tinha umas
poucas modificações. Havia um vidro fosco separando o
assento do motorista do banco de trás, que era muito mais
espaçoso. Luxos para os privilegiados. Como seria viver a
vida toda sem saber a insegurança de não ter onde morar?
Sem saber se o cheque pagaria o aluguel ou se o cartão
de crédito passaria na máquina? O mundo em que
Eduardo vivia era muito, mas muito diferente do meu.
Ele logo me seguiu para dentro do carro, e ousado,
colocou uma mão sobre a minha coxa. Eu sabia onde
aquele jogo iria dar. Não era boba, sabia o que Eduardo
queria de mim. A questão era saber instigar, dominar a
situação. Em uma caçada, quem deveria sair perdendo é a
caça, e não o caçador. E…
Eu tinha meus truques.
Retirei a mão dele da minha coxa, mas agi tão
rápido que não dei nem tempo para ele reclamar. Minhas
pernas fortes fizeram o trabalho necessário e logo nossos
corpos estavam tão colados quanto antes. Afinal, eu me
encontrava em seu colo, meu vestido vermelho
deliciosamente mostrando as partes certas do meu corpo e
para o toque final.
Coloquei as mãos dele de volta no lugar, para que
ele sentisse meu calor e toda a força exercida por meus
músculos para que me colocassem naquela posição. Com
um gracejo, envolvi-o com os braços, e encarei sua
expressão de surpresa, enquanto me rebolava contra seu
colo.
Marília Carvalho não era chamada de vadia das
jornalistas por tão pouco.
Eduardo, apesar de surpreso, logo recobrou o
sorrisinho de canto de boca que eu estava começando a
detestar. Nada disse, apenas esperou eu me ajeitar na
minha posição de conquista, e eu ergui seu queixo para
testá-lo. Queria garantir para ele que, ali, eu dominava.
— Impressionante — foi tudo o que ele disse. Seus
olhos não deixavam os meus lábios.
— Isso? Não foi nada. — Dei de ombros, e
aproximei minha boca do seu ouvido. Estava tão perto que
manchei seu lóbulo com o pigmento do meu batom.
Eduardo arfou com o bafo quente que saiu da minha boca.
— Sou eu que te dará uma noite da qual você nunca
esquecerá, Eduardo Albuquerque.
CAPÍTULO NOVE
Vermelho carmesim…
Era a cor que mais me atiçava. E esse vestido
dessa mulher era ideal. Mas idealmente? Ele precisava sair
do corpo dela imediatamente. Eu precisava descobrir mais
daquela pele morena de sol, descobrir se valia a pena todo
aquele esforço… Eu a queria desfeita. Queria-a amarrada.
Queria lânguida sobre uma cama, apenas pedindo e
implorando por mais. Só que eu a tinha ali, no meu colo,
exigindo e demandando.
Eu tinha uma gata feroz no meu colo, isso sim. Essa
não era domesticada de forma alguma. Essa tinha fogo,
era viva, ativa. Marília rebolava os quadris contra a minha
ereção e o pouco de tecido entre minha virilha e a dela
fazia queimar minhas bolas. Puta merda. Eu queria me
enfiar dentro dela, e com urgência. Mas por mais que eu
desejasse tomá-la, não queria fazer isso dentro de um
carro, por mais privacidade que o meu pudesse oferecer
com o vidro fosco. Eu não poderia fazer aquilo com Pedro
e Cecília.
Só que eu ainda podia me divertir um pouco…
— É mesmo? — perguntei, divertido. Tudo nela era
sexy, e me atraía. Eu tinha escolhido bem naquela noite.
Marília parecia ter saído de um sonho. Os cabelos estavam
presos, mas estavam se desfazendo do coque, os fios
arrepiados eram descoloridos nas pontas, quase dourados.
Seus olhos castanhos faiscavam na pouca luz do carro, e
estavam fixados nos meus, uma expressão de diversão,
mas eu conseguia também ver determinação no seu olhar.
Ela não pularia fora dali. Era quase como uma missão. Isso
trouxe um sorriso aos meus lábios, e eu toquei seu rosto
com uma das mãos, enquanto a outra foi parar em sua
bunda. E que bunda. Firme, com o que agarrar. Meu
polegar passou por seus lábios, e ela mordiscou a ponta,
sugando o dedo.
Bom.
— E como você pretende fazer isso? — continuei a
exploração de seu corpo, minha mão passando por
debaixo de seu vestido, encontrando-a sem calcinha. Ai,
essa mulher…
Ela aproximou sua cabeça da minha, e suspirou ao
meu ouvido.
— Eu poderia fodê-lo aqui mesmo, Eduardo. — A
voz dela era rouca e baixa. Quase um sussurro. Arrepiou
os pelos da minha nuca, e com a boca, mordiscou o lóbulo
da minha orelha. Eu toquei a parte interna da coxa dela e
ouvi seu suspiro. Pressionei mais, e fiz minha pergunta.
— É aqui que você quer ser tocada?
— Você sabe o que eu quero, bonitão.
— Bonitão? — Eu dei uma risada baixa. — Estamos
com apelidos agora?
— Você sabe que é. — Ela sorriu, e como uma
espécie de recompensa, eu explorei a parte mais desejada
da anatomia dela, e um sorriso maior surgiu no rosto dela.
Ela já estava molhada, desejosa, e inseri um dedo apenas
para provocá-la, enquanto circulei seu clitóris em
movimentos lentos e torturantes. Queria apenas acariciá-la
um pouco, acender um pouco daquela chama, mas Marília
tinha outros planos.
Ela rebolou contra a minha mão, fazendo meu dedo
ir fundo em seu colo, e gemeu audivelmente. Coloquei
minha outra mão contra sua boca, e ela lambeu meus
dedos. Ficamos ali, e eu a penetrá-la, arriscando-me até a
enfiar outro dedo dentro dela.
— Está gostando, hm?
Ela apenas acenou, incapaz de responder.
— Pois isso não é nada do que eu sou capaz de lhe
dar, Marília.
E retirei os dedos de dentro dela.
Marília segurou a mão que lhe cobria a boca, e
mordeu meus dedos. Com força. A marca de seus dentes
surgiu como uma linha fina em minha mão.
— Pois saiba com está brincando com fogo,
Eduardo.
Dei-lhe um beijo rápido, mas que fora avassalador
ao mesmo tempo. Ela lutou pela dominância o tempo todo,
mas eu a domaria. Com o tempo, Marília se submeteria a
mim, de todas as formas possíveis e imagináveis. E só de
pensar naquilo, minha ereção pulsava.
Teríamos tempo.
— Estamos chegando. Arrume-se um pouco.
Um rubor discreto chegou a suas bochechas, mas
Marília não demonstrou muito mais vergonha do que
aquilo. Ela voltou ao meu lado do assento, e o frio que me
atingiu foi solitário, mas bem-vindo. Eu ainda ouviria um
sermão de Cecília, mas…
Aquela noite prometia.
Eu não me satisfaria até ter Marília de todas as
maneiras.
O amanhã poderia esperar.
CAPÍTULO DEZ
Ouvi um barulho discreto de alguém batendo no
vidro e em menos de alguns segundos o carro parou. Olhei
para Eduardo e ele apenas abriu a porta, saltando, e com
alguma ajuda, me tirou do carro, onde paramos.
Eu sabia onde Eduardo morava. Fizera parte da
minha pesquisa. Todos os detalhes públicos que consegui
agarrar sobre ele, eu fisguei do domínio da internet.
Apresentações antigas de quando ele era pequeno?
Memes em que ele protagonizou? Episódios que foram ao
ar, receitas da sua família. Eu sabia seu CPF, seu RG, o
número do seu passaporte.
Podia ser um pouco estranho, mas ele era um alvo.
Eduardo era uma figura pública. Tudo sobre ele podia ser
descoberto com dois cliques em uma tela. Só que os
podres… as coisas que os paparazzis se esforçavam a
descobrir… esses eu precisava me infiltrar mais. E era ali,
na residência Albuquerque, que eu almejava chegar.
Só que não estávamos na residência Albuquerque.
— Onde estamos? — perguntei, estremecendo. O
frio noturno finalmente me pegou, quando uma brisa
marítima balançou a barra do meu vestido vermelho e
arrepiou os pelos dos meus braços desnudos. Eduardo
notou o meu desconforto, e retirou o paletó do smoking que
usava e colocou nos meus ombros.
— É um de meus apartamentos — ele explicou,
simplesmente, enquanto saímos do carro para a garagem
iluminada. Havia mais carros estacionados, mas ninguém
mais ali.
— Um de seus inferninhos — eu retruquei. Era
óbvio. Ele não iria me levar para o lar da família
Albuquerque.
Você simplesmente não levava putas para onde sua
mãe morava.
De repente, me senti muito ofendida. Apesar da
excitação, apesar da minha motivação, eu sabia que
Eduardo apenas queria uma noite só comigo. E ele me
descartaria na manhã seguinte. Rezava descobrir se eu
conseguiria alguma informação com apenas aquela
oportunidade.
— Algum problema de ser um dos meus…
“inferninhos”? — Eduardo ergueu uma sobrancelha. Ele
continuou a caminhar em direção a um dos elevadores. Ele
fez um sinal a Pedro, que levou o carro para longe, e eu
pude ver uma Cecília apenas revirar os olhos dentro do
banco de carona.
— Ao menos use proteção, vocês dois — ela
resmungou, antes do carro ir embora.
— Eu tomo pílula — informei, simplesmente.
Eduardo apertou o botão do elevador, sem dizer
nada. Esperamos alguns segundos, e entramos no lugar
apertado. Não sabia o que esperar. Só que não o tive que
fazer por muito tempo, porque ele avançou sobre mim,
derrubando o paletó no processo, e me empurrando contra
a parede do elevador, me tirando do chão, em um beijo
avassalador.
Não estava preparada, mas eu o correspondi. Tudo
nele era intenso. A camisa branca dele era um empecilho
para as minhas unhas, mas a pele livre de sua nuca foi
arranhada e grandes marcas vermelhas nasceram,
contrastando com sua pele alva. Ele parou o beijo para
gemer, e eu mordi com força o lábio inferior dele.
Queria que ele entendesse que não sairia incólume
daquele elevador. Que sairia marcado por mim, Marília.
— Esta noite você será meu, bonitão — arfei.
— Acho que estamos confiantes hoje, Má. — E ele
sorriu, beijando-me de novo. Suas mãos estavam me
segurando com firmeza contra seu corpo, e ele me
carregou no ar como se eu fosse feita de papel. Eu não
tinha reparado o quanto ele era forte, mas passei os dedos
por cima das mangas de sua camisa. Conseguia sentir a
força dos seus músculos.
Bom.
Eu podia me divertir um pouco naquela
missãozinha, não era mesmo?
Ele se apossou novamente da minha boca,
explorando minha caverna úmida e lutando por
dominância. Mas eu não desistiria fácil. Eduardo exigia.
Só que eu não seria submissa assim, como ele
estava acostumado.
Puxei seus cabelos e ergui sua cabeça para trás,
afastando-o de mim. Minha respiração estava alterada, era
verdade, e o meio de minhas pernas estava mais úmido do
que eu poderia imaginar, mas por dentro, eu estava calma,
ainda no controle. Queria mostrar a ele que não se domava
uma dama daquela maneira.
Que eu ainda tinha garras.
— Está me machucando, Marília — foi o que ele
disse, mas dei pouco caso disso, com seu ar de
brincadeira. Avancei para o pescoço dele e apliquei uma
mordida sem piedade. Esperei ele gemer, e apenas senti a
vibração de seu pescoço contra a minha boca.
Ele havia gostado.
Bom.
Era ótimo saber daquela veia masoquista.
— Você quer me marcar, Marília?
— Quero que não esqueça deste encontro —
resmunguei.
— Acredite. Não vou esquecer.
A porta do elevador se abriu, e dei de cara com a
sala de estar luxuosa dele. Não tive muito tempo para
saborear a casa inteira, porque ele continuou me beijando
e me empurrando contra uma parede, mãos explorando
meu corpo por completo, agora que estávamos sozinhos.
Eduardo parou por um momento para pegar ar, e
disse.
— Eu também não pretendo que você esqueça
desta noite, Marília.
E, com um solavanco, puxou-me no ar, trazendo
minhas pernas aos seus ombros, e eu entrei em pânico por
um momento, tentando procurar no que me agarrar,
encontrando o conforto de uma prateleira e no que achei
ser um quadro para dar apoio às minhas mãos, antes que
Eduardo levantasse a barra do meu vestido e começasse a
me fazer um oral ali, bem no meio da sala.
E eu vi estrelas.
Oh, Eduardo sabia exatamente o que estava
fazendo. Ele começou enfiando a língua profundamente na
minha fenda, e agora fazia círculos lentos e tortuosos que
estavam me enlouquecendo. Era como se ele já
conhecesse o meu corpo, sabia o que me pegava de jeito.
E o modo como as mãos dele seguravam meu corpo,
agarrando-me como se eu fosse a coisa mais preciosa da
vida dele... Era tortura pura. Eu só queria alívio, e
precisava de mais.
O branco que me atingiu me fez gritar no meio do
apartamento, e eu nem sabia se estávamos a sós ali. Eu
fiquei ali, arfante e de boca aberta, enquanto Eduardo me
colocava de volta ao chão.
— Finalmente achei um método para calar sua
boca, pelo visto.
— Oras... — foi a única coisa que consegui
pronunciar. Minhas pernas estavam bambas. Dei um beijo
em Eduardo, e consegui sentir meu próprio gosto em sua
boca.
— Apenas disse a verdade. — Ele parou um pouco,
e eu conseguia ver que ele ainda estava excitado. E eu
também estava, para dizer uma verdade minha própria. Eu
queria aquele homem. Missão ou não, se eu tivesse um
emprego em vista ou não.
Ao menos, naquela noite.
Eduardo parou no meio da sala, ligando as luzes.
— Acho que estamos uma bagunça. Gostaria de
tomar um banho, senhorita Marília?
Eu olhei em volta, imaginando as peripécias que
este homem ainda aprontaria.
— Gostaria de anunciar que tenho uma jacuzzi na
suíte master...
Nunca aceitei uma proposta tão facilmente.
— Me mostre o caminho, sr. Albuquerque.
CAPÍTULO ONZE
O "inferninho" de Eduardo era uma cobertura em um
dos prédios mais modernos do centro, e era decorada com
um ar estéril e prático. Era óbvio que ele passava uma
parte do seu precioso tempo ali, seja trabalhando ou
comendo suas putas ali. Tudo que ele precisava para se
manter discreto, ou ao menos, longe da mídia.
Mal sabia ele que havia convidado sua pior inimiga
para dentro de seu esconderijo.
E que estava prestes a comê-la, também.
— Por aqui — ele indicou, e eu o segui. Meus saltos
estavam pinicando meus pés, mas eu aguentei firme. Não
queria parecer amedrontada, nem submissa. Ele tinha bem
uns vinte centímetros de vantagem sobre mim, eu tinha
que manter os quinze do salto.
O primeiro quarto eu descobri ser um lavabo.
— Este segundo quarto Pedro costuma usar,
quando dorme aqui. Ele guarda as coisas dele aqui, então
por favor, não entre. — Eduardo fechou a porta, mas não a
trancou. Eu mantive nota daquilo. Pedro era uma pessoa
importante na vida de Eduardo. Talvez ele mantivesse
notas sobre seus segredos...
Mais a fundo, uma terceira porta.
— Esta, você ainda não está pronta para descobrir
— e Eduardo deu uma risadinha, como se estivesse
fazendo uma piada para si mesmo.
Ah não. Agora eu teria que descobrir o que havia
por detrás daquela porta, ou eu não me chamava Marília
Carvalho, jornalista exemplar.
— Marília?
Eduardo me chamou, enquanto eu olhava a porta.
Uh...
— Sim, bonitão?
— Meu quarto fica aqui. Junto com a jacuzzi. Venha.
Eu caminhei até ele, e tive a minha primeira visão do
quarto.
— Uma cama redonda, com dosséis? Mesmo,
Eduardo?
— O que posso dizer? Tenho gostos... exóticos.
— Ah, você também gosta dessa coisa de BDSM?
Você é tipo... um Christian Grey?
Eduardo ficou calado, e apenas suspirou. Meu
coração começou a acelerar. Eu tinha que bolar algo,
pensar em como fazer ele falar mais. Isso era excitante!
Não pela perspectiva em fazer algum sexo mais selvagem
com Eduardo (embora, sim, essa opção de fato passou
pela minha cabeça), mas pensar que o futuro do Brasil se
apoiava em um candidato que gostava daquelas
perversões!
Isso, sim, era um furo de reportagem! A bancada
evangélica iria pirar!
— Posso gostar de alguma dessas coisas..., Mas
vamos com calma. Primeiro...
Suas mãos espalmaram as minhas costas,
alcançando o feixe do meu vestido. Ele abriu o zíper, me
libertando da minha prisão vermelha. Esta deslizou do meu
corpo com facilidade, caindo ao chão com apenas um som
fraco.
Me vi nua, apenas de saltos, em frente a Eduardo.
Ele ficou parado, apenas admirando minha pele morena,
os meus mamilos se enrijecendo pela temperatura do
quarto. Fiquei parada, o encarando, esperando o próximo
movimento dele. A tensão do quarto poderia ser cortada
com uma faca.
Eduardo já havia me levantado, me erguido e me
chupado. Queria saber o que ele faria, agora que me tinha
nua e pronta.
Ele se agachou, ficando de joelhos, e começou a me
tirar de meus sapatos. Mas ao contrário do que eu
esperava, ele segurou o meu pé, começando a beijar seu
dorso, passando para meus tornozelos, e então toda parte
interna da minha perna. Era uma tortura pior do que o sexo
oral. Eu nunca tinha transado com uma pessoa daquela
forma.
Era quase... uma adoração.
Ele deixava mordidinhas e chupões por onde
passava, marcando seu caminho, enquanto eu suspirava,
me agarrando ao cabelo dele, em sua camisa, em tudo que
eu poderia me agarrar. Quando ele chegou na parte interna
da minha coxa, eu só queria que aquela tortura acabasse.
— Bonitão...
— Gosto quando me chama de bonitão... — Ele me
puxou contra si, levantando-se de repente. — Quer dizer
que não está resistindo aos meus encantos.
— Convencido.
— Heh. Tem que se ter muito culhão para se tornar
Presidente, sabia? E para conquistar certas mulheres...
— Eu não sou “certas mulheres”.
— Não. É a mulher certa.
E com um movimento rápido, ele me puxou para o
ombro dele, atirando-me ao ar, e me levando até o
banheiro, sob protestos e gritos.
— Eduardo! Me coloque no chão agora!
A risada dele preencheu todo o eco do banheiro, e
ele finalmente me colocou no chão, mas sem deixar de me
tocar, a luz se acendendo automaticamente quando
entramos. Ele me segurou pelos cotovelos e seu corpanzil
era o suficiente para pairar sobre mim, por causa de sua
altura. Ele beijou o topo da minha cabeça.
— Mas você se encaixa tão bem nos meus braços…
— Quem diria que você seria tão romântico, bonitão.
— Acredite, eu tenho várias camadas.
— Como um bolo, ou como uma cebola?
— As duas são comidas. Está querendo me
devorar?
— Apenas quero saber se você é um doce… Não
gosto de cebolas.
— Serei tudo o que você quiser, Marília. — Ele
ergueu meu queixo e me parar de encarar a decoração rica
e delicada, que eu tinha certeza de que fora obra de
Cecília, e que tinha muito pouco dedo de Eduardo. Aquele
homem nunca passara uma tarde escolhendo seus móveis,
ou cuidando da casa. Ele tinha homens e mulheres
dedicados cuidando da sua vida, por detrás dos panos.
Desde criança, este homem fora mimado e paparicado por
todos ao seu redor.
Era maldade o que eu fazia então? Contrariá-lo,
mostrar o que ele desejava, e escapar no último segundo?
Eu também o desejava, lógico, queria a seu membro
dentro de mim com paixão, queria acabar com todo o
reinado dele…
Destruí-lo de todas as maneiras.
Era um jogo.
E eu sabia como dar xeque-mate.
Minha mão foi em direção ao grande (e que imenso)
elefante da sala, e Eduardo apenas observou as minhas
ações, enquanto eu acariciava seu membro por cima de
sua calça, e com alguma maestria e destreza da minha
parte, consegui desfazer seu cinto e zíper, expondo sua
carne pulsante em minha direção. Eu não era uma virgem
inocente, e como tal, não me fiz de rogada. Era um belo
exemplar. Não muito grosso, mas longo e tão belo quanto
um pênis poderia ser. Eduardo parecia orgulhoso do
menino, o que eu não entendia muito bem aquilo nos
homens, mas eu me impedi de revirar os olhos e apenas
segurei ele com as duas mãos antes de meter aquilo
dentro da minha boca de uma vez.
Oh sim. Eu tinha um truque ou dois nas minhas
mangas. No caso, dentro da minha garganta.
Eduardo, se possível, rugiu. Ele não estava
preparado para meu ataque, e ele agarrou-se ao meu
cabelo, trazendo-me ainda mais para perto. Eu quase me
engasguei. Detestava quando os homens tentavam
controlar algo que era o que eu fazia de mais de especial,
que era levá-los a loucura. Estava arriscando minha
garganta ali. Eu tinha meu ritmo.
Eduardo gemeu ao ritmo de meu passo, e se
possível, senti-me muito mais molhada. Havia algo
poderoso em ter um homem poderoso à sua mercê. Era
por isso que eu aprendera aquele truque em específico.
E bem, devido a minha memória, aprender coisas
vendo certos tipos de vídeo eram fáceis demais…
— Marília… — ele grunhiu, e eu não tinha muito
bem como responder, não é mesmo? Eu sabia que ele
olhava na minha direção, mas eu não tinha muito como me
desconcentrar da tarefa. E eu não iria parar, até que…
O gozo dele me atingiu no centro da minha boca, e
foi tanto que não consegui conter, um pouco do conteúdo
escapando dos meus lábios. Fiz o meu melhor para engolir,
e olhei com candura para ele.
Olho por olho, Eduardo.
Estávamos ofegantes, eu mais do que ele, e eu caí
sentada no chão de mármore frio, satisfeita, sabendo que,
mesmo que Eduardo jamais me perdoasse pelo que eu
fizesse a ele, mesmo que ele viesse a me odiar…
Ele tinha sido plenamente fodido pela minha boca.
E disso, ele nunca esqueceria.
— E agora?
— Hm? — respondi, um pouco suada.
— Como vou apagar esse sorriso safado do seu
rosto, Marília?
Olhei em volta, e apontei para a jacuzzi.
— Acho que tenho uma ideia…
CAPÍTULO DOZE
A jacuzzi nos encarava tentadora, e Eduardo se
livrou das roupas enquanto eu me divertia explorando as
várias configurações da banheira. A água se enchia e
aparentemente Eduardo era dono de várias bombas de
cheiro, e eu achei adorável aquele lado feminino de sua
personalidade. Eu estava descobrindo mais coisas dele,
coisas que obviamente não fariam diferença para um
eleitor, mas eram coisas que fariam diferença se eu fosse
sua namorada.
Lógico, eu não era.
Eu só queria fodê-lo um pouco.
Eduardo terminou de tirar sua roupa e como minha
bunda estava no ar, ele deu um sonoro tapa nela. Senti-me
ofendida, não porque o tapa doeu, mas pela intimidade do
ato. Como ele se atrevia? Virei-me imediatamente, para
retribuir, mas ele agarrou minhas mãos, e me beijou. Eu
ainda estava brava, mas me derreti aos poucos com o
beijo. Correspondi-o, minhas mãos muito felizmente
explorando o corpo desnudo de Eduardo, aprendendo seus
caminhos, descobrindo sua pele alva e sem defeitos. Seus
pelos se eriçavam por onde eu passava e eu fiquei feliz em
saber que tinha aquele tipo de poder sobre ele.
— Vamos? — Eduardo perguntou, e ele apontou
para a jacuzzi, agora cheia e borbulhante, com um cheiro
bom de limpeza. Eu coloquei meu pé dentro da banheira, e
com a ajuda de Eduardo, e adentrei. Minha pele aqueceu-
se com o contato da água quente, e as borbulhas faziam
cócegas em minha tez, e eu ri como uma criança.
Como eu queria ser rica para aproveitar disso todo
dia!
— Gostoso? — Eduardo se colocou ao meu lado,
colocando um braço em meus ombros.
— Maravilhoso!
— Eu sei que sou. — Aquele sorriso pretensioso me
irritava, então joguei água nele.
— Muito convencido, bonitão.
— Apenas quando estou do seu lado.
— Não é o que aparenta dos seus vídeos.
— Ah, você assiste os meus programas?
Droga. Deixei escapar uma informação importante.
Não era para parecer que eu era uma fã fanática, ou algo
do tipo. Eu apenas dei de ombros, e tentei não parecer que
me importava.
— Quem não conhece o famoso Eduardo
Albuquerque? Eu teria que morar debaixo de uma ponte
para não ter ouvido falar de você.
— Você parece que ouviu falar mais do que isso, no
entanto.
Droga.
Mudar de estratégia era preciso.
Eu me ergui um pouco, e me sentei no colo dele de
novo, como no carro. Precisava de controle. Não poderia
deixar o disfarce cair agora.
— Vamos, quer falar de negócios quando estamos
nessa bela jacuzzi com uma bela mulher pronta para fodê-
lo completamente?
Eduardo sorriu, colocando suas mãos em meus
quadris, aquele sorriso safado aparecendo em seu rosto.
Ele então deu uma tapinha em meu queixo, e colocou as
mãos atrás do pescoço. Não disse nada, apenas me
provocou.
Oras.
E eu lá era mulher de ser provocada?
Eu toquei o seu membro, que ainda estava ereto, e
o manipulei, tentando trazer a mesma sensação de poder
que senti quando fiz oral nele. Só que ele manteve a
expressão impassível, séria, enquanto me encarava. Uma
irritação começou a surgir no meu estômago. Eu o queria à
minha mercê. Mesmo sabendo que eu não estava
completamente preparada, eu me ergui e o recebi dentro
de mim, mas ele não atingiu o fundo de mim. E, para a
minha sorte, começou a doer.
— Opa, calma, mulher… — Eduardo me envolveu,
tomando o controle da situação de novo. Eu me apoiei
nele, sentindo-o dentro de mim, tentando relaxar. Eu
apenas queria acabar com aquilo logo. — Vamos, com
calma dessa vez… — Eduardo começou a deixar mordidas
em meu pescoço e seios, e logo eu me senti relaxada e no
clima.
Eduardo olhou para mim, os olhos sérios e
decididos.
— Vá no seu ritmo. Eu quero ver você perder o
controle.
Era muita arrogância para um homem só.
Mas só que tinha uma parte de mim… Que queria
obedecê-lo. E eu me apoiei nele, e meus quadris se
moveram por si só. O ritmo embalava-se com o som da
água chocando-se contra nossos corpos e as borbulhas e
o motor da jacuzzi, e o cheiro inebriante de sexo e sabão
que infestava aquele banheiro. Ele começou a mover-se
contra mim, e eu me perdi nele.
Foi com um urro que chegamos ao orgasmo,
primeiro eu, e ele, tirando-se de dentro de mim, e
espalhando a sua semente na água. Ele pareceu
enevoado por um momento, e então ele se ergueu de
supetão, me tirando da água.
— Ei!
— Vamos tomar uma ducha — anunciou em uma
voz dura. Ele não disse mais nada, e ligou a água quente
que nos lavou do cheiro de sabão da jacuzzi. Eduardo me
ensaboou, e eu fiquei um pouco incomodada com aquela
intimidade, mas não reclamei. Tomamos banho, e no final,
ele pareceu mais quieto, frio.
Eduardo me entregou um roupão e toalhas no final
de tudo, e eu me vesti. Ele parou na frente do espelho,
enquanto eu me secava, e respirou fundo.
— Marília… você usa anticoncepcional, não é?
Ah, era por isso.
— Uso sim. Não se preocupe.
— Bom. Isso é bom.
Ele parou um pouco, enquanto eu secava meus
cabelos, e ele beijou meu pescoço. Eu me arrepiei de
imediato. Eu não sabia o que esperar. Será que Eduardo
me expulsaria, agora que obtivera tudo o que queria de
mim? Será que eu deveria ter esperado mais para ter me
entregado?
— Vamos para cama — Eduardo anunciou,
puxando-me pela cintura. Eu sorri.
Meu plano estava a um passo de se concretizar.
CAPÍTULO TREZE
Uma foda na cama, dessa vez de camisinha, foi o
que bastou para apagar Eduardo completamente. Já eu,
apesar de cansada, tinha que me manter acordada, porque
era o que eu estava esperando: meu plano. À noite, a casa
de Eduardo se abria às minhas investigações.
E eu descobriria todos os seus segredos.
Eu me desfiz do abraço de urso que Eduardo me
dera durante o sono, e garantindo que ele estava dormindo
de fato, peguei meu celular e o robe que ele me dera mais
cedo. Qualquer coisa, meu plano era fingir que estava
procurando a cozinha e um copo de água, mas sabia que
era apenas um plano fadado ao fracasso se Eduardo me
visse vasculhando suas coisas. Teria que ficar atenta para
seus passos.
O apartamento estava silencioso como um túmulo.
Certamente, se Eduardo se levantasse, eu ouviria. Fui
passo a passo, apenas com a luz do celular iluminando
meu caminho. Meu primeiro objetivo era o escritório de
Eduardo, porque ali com certeza me daria uma certa
liberdade com os arquivos digitais dele, e certamente eu
acharia muitas coisas para me distrair por semanas, mas…
Quando passei pelo corredor, eu parei em frente à
porta que ele me dissera “que eu não estava pronta” para.
Minha curiosidade estava a mil. Eu tentei a trava.
Trancada. Bem. Talvez eu encontrasse a chave no
escritório de Eduardo.
Movi-me em passos lentos, tentando ser o mais
silenciosa possível. Eu queria poder ser invisível nessas
horas…
Abri a porta do escritório de Eduardo, e ele se
revelou com suas luzes frias e impecáveis. A decoração
era moderna, o que parecia ser o tema de todo o
apartamento. A mesa de Eduardo era de um mogno
escuro, e parecia poderosa, além de combinar com as
prateleiras cheias de livros de capa duras atrás dela. Tudo
parecia ser bem conservado e até mesmo o tapete parecia
de bom gosto. Por alguma razão, eu não achava que havia
um dedo de Eduardo na escolha de qualquer item ali.
Mas o que me interessava mais estava ali. O
computador de Eduardo, e sua CPU escondida perto de
algumas plantas, que eu tinha certeza de que era mais um
item de decoração que não era mantido por ele. Eu apenas
esperava que meu pequeno truque de hacker não seria
percebido tão cedo.
Instalei o pequeno hub em uma das portas menos
usadas e esperava que ele não fosse visto por muito
tempo, ao menos, até que ele passasse todas as
informações necessárias para o meu computador, em
minha casa. Aquele era apenas um de meus truques.
Liguei o computador de Eduardo e tentei iniciá-lo,
mas claro, havia o problema da senha. Meu “truque”
catalogaria tudo o que Eduardo digitasse, mas eu
precisava acessar o computador para instalar o meu
programa espião. Como eu gostaria que Eduardo fosse
algum daqueles velhos que escrevia a senha em um post-it
e grudasse na tela do computador…
Remexi em algumas gavetas, e embora parte
daqueles documentos me interessasse, eu estava em
busca da chave. Aquela porta trancada me atazanava. Eu
precisava saber.
Seria Eduardo um afiliado com BDSM? Um quarto
vermelho da dor? Ou seria aquela uma sala de reuniões da
máfia?
Só que minha busca inicial não deu em nada. Tinha
vários documentos, várias coisas para explorar, uma senha
a descobrir… Várias possibilidades.
Mas eu queria descobrir o que raios Eduardo
escondia atrás daquela porta.
Saí do escritório, fazendo questão de deixar tudo no
lugar. Não queria que percebessem que eu estive ali, e que
minha pequena invasão parecesse despercebida.
Voltei para o corredor, e fui em direção ao outro
quarto, quando ouvi um grunhido. Não parecia ser coisa
boa. Estava vindo do quarto de Eduardo, e parecia ser algo
incomum. Será que ele teria acordado? Teria ele notado a
minha ausência?
Pé ante pé, ainda tentando parecer silenciosa, voltei
para o quarto e abri a porta aos poucos, para então abri-la
de vez.
Eduardo estava no chão, uma mão agarrada ao
peito, tendo dificuldades de respirar.
— Eduardo! — gritei, indo em direção a ele. Ele
estava todo frio, dos pés à cabeça, e eu não sabia o que
fazer. Peguei meu celular, e disquei para a emergência.
Esperava que chegassem a tempo.
CAPÍTULO QUATORZE
Que final de encontro maravilhoso…
Se é que o eu e Marília e eu tivemos pudesse ser
considerado um encontro. Ao menos, foi maravilhoso
enquanto durou. Eu só não esperava acordar no meio da
noite com uma dor no estômago tão intensa que me
paralisou ao ponto de ser hospitalizado. Não gosto de ser
dramático, mas não sei se teria sobrevivido a noite se
Marília não estivesse ali comigo.
Às vezes o destino gostava de pregar suas peças.
Ele sabia o que fazia.
E ela ficou comigo o tempo todo. Subiu na
ambulância, depois de se vestir com umas roupas
quaisquer minhas, e telefonou para Cecília e Pedro nos
encontrar lá. A todo o momento, se manteve calma e
concentrada. Era como uma rocha. Nunca vi alguém ficar
centrada ante ao desastre. Já eu, achava que iria morrer.
— É só uma úlcera estomacal — o plantonista
anunciou, para o nosso desgosto. — É só você ficar sem
fazer alguns exercícios pesados, e recomendo uma cirurgia
não-invasiva e tudo ficará bem. Vamos agendar sua
cirurgia para esta tarde…
E enquanto os médicos iam e vinham fazendo
exames, eu só observava com o canto de olho, Marília
mexer no celular, enquanto ouvia cada palavra que saía da
boca dos profissionais. Ela digitava com maestria, e
discutia alguns detalhes do meu diagnóstico.
— E se for câncer? Como podem ter certeza?
— Minha senhora, eu tenho anos de prática…
E isso mantinha meu humor elevado, apesar da dor.
Alcancei a mão dela, e ela me deu um olhar irritado. Não
sabia o que tinha feito, além de quase morrer, mas saber
que Marília não ter me abandonado no meu quarto era
uma boa notícia. Só que apesar da irritação, ela aceitou o
aperto e ficamos ali, de mãos dadas, no meio do caos do
hospital.
Um pequeno fio de esperança em meio àquilo tudo.
— Eduardo!
Ouvir a voz de Cecília gritar meu nome já era
comum, mas a nota de desespero em sua voz me cortou o
coração. Ela e Pedro se aproximaram da minha maca, e
Cecília foi logo demandando de uma enfermeira próxima.
— Por que raios Eduardo Albuquerque está em uma
maca qualquer? Por que ele não está em um quarto
individual? Eu tenho que fazer tudo por aqui?
A enfermeira se assustou.
— Desculpe, senhora, vou ir verificar isso.
— Vá mesmo. E irei com você, para ver se vai fazer
seu trabalho direito.
E as duas marcharam em passos apressados em
direção à secretária do hospital, enquanto Pedro se
colocava ao lado oposto de Marília, ao meu lado. Rir me
trazia mais uma queimação ao meu esôfago, mas o jeito
mandão de Cecília sempre trazia um sorriso ao meu rosto.
— Que susto você nos deu, Duca. Quando
recebemos a ligação da Marília, achamos que ela tinha
assassinado você.
— Ei! — Marília reclamou de seu assento.
— Sem ofensas, Marília. Apenas é o tipo de coisa
que aconteceria com o Duca. Conhecer uma beldade em
uma festa, transar horrores, ser assassinado no inferninho.
— Pedro balançou a cabeça negativamente. — Eu devia
ter voltado com vocês.
— Você não tinha como saber, Pedro — tentei
tranquilizá-lo. — Ninguém tinha.
— É o estresse, não é? A candidatura, a situação
com a Mel… Não me admira que você quisesse relaxar por
uma noite.
Dei um olhar para Pedro, para que ele se lembrasse
de que Marília não sabia de nada da situação da Mel. Pelo
menos, não ainda. E eu pretendia que continuasse assim.
Eu tinha um novo apreço por aquela mulher, mas eu não
sabia ainda para onde aquela relação estava indo, era tudo
muito novo… E eu não conhecia muito sobre seu passado.
Ela era literalmente uma beldade em vermelho. E beldades
em vermelho tem seus segredos, passados trágicos, e
bagagens que poderiam muito bem arruinar meus planos
para o futuro.
Eu tinha de ser esperto sobre isso.
Por mais gostosa que ela fosse, por mais
compatíveis que nós fossemos na cama.
Por mais que eu queria possui-la novamente.
Dei mais um olhar para ela.
Ela era estonteante. Seus cabelos castanhos com
mechas douradas ainda estavam um pouco arrepiados, de
não virem uma boa escova desde a noite passada, e eu
queria mais do que tudo explorar a pele morena dela com a
minha boca, descobrir seus pontos sensíveis, marcá-la e
dominá-la, deixar que ela se entregasse a mim.
Era um erro querê-la tanto.
— Prometo não perguntar nada — Marília logo
disse, quando meu olhar caiu sobre ela. Ela se levantou,
ajeitando os shorts que tinha roubado de mim, e que caiam
muito folgadamente sobre seus quadris, e a camiseta de
academia que também havia roubado do meu guarda-
roupa de qualquer jeito, apenas para não vir ao hospital
com o mesmo vestido com o qual havia vindo para o meu
apartamento.
Eu sabia que aquela era a hora do adeus.
Não haveria muitas palavras trocadas.
Vi-a pedir um carro de aplicativo para si, sem falar
muito, e eu sabia que ela sairia da minha vida assim, sem
mais nem menos.
O pânico que me atingiu foi pior do que o da noite
anterior. Pior do que achei que quando achei que morreria
da dor da úlcera.
— Marília, espere — tentei me levantar da maca,
mas Pedro me impediu. Aquilo foi o suficiente para pará-la,
no entanto. Ela se voltou para mim, parada, encarando-me
com aqueles belos olhos mel, quase dourados. Havia algo
em seu olhar, algo como… esperança?
— Me entregue o seu celular — eu disse.
— Por quê?
— Só me entregue.
Ela se demorou um momento, mas entregou. Eu
pude ver que a carona dela estava a caminho, mas meu
objetivo era outro. Eu já tinha o telefone dela, mas anotei
de novo no meu celular, apenas como garantia de que
tinha o número correto. E mais do que tudo, anotei o meu
número no celular dela.
— Por favor, me mande uma mensagem dizendo
que chegou bem em casa.
Ela ergueu uma sobrancelha, parecendo intrigada.
— Então você quer me ver de novo?
— Só se você quiser.
Marília aproximou-se de mim, e depositou um beijo
na minha bochecha.
— Até mais tarde, bonitão.
E dando passos largos, ela se foi.
— Tem certeza, Duca? — Pedro se apoiou na
parede ao meu lado, cruzando os braços, vendo o rebolar
de Marília indo para a saída do hospital. — Eu reconheço
um problema de longe.
— Eu também. — Tinha que concordar. Marília tinha
bagagem escrita por todo o rosto. — Mas eu acredito que
ela valha a pena.
CAPÍTULO QUINZE
“Mande mensagem quando chegar em casa...”
Estávamos com aquelas intimidades? Bem, eu
estava usando as roupas dele… Claro, não era muito por
vontade própria, apenas por desespero, mas o que
esperar? Eu não poderia ir para o hospital apenas de
cueca, como ele fora. Eu ainda tinha um pouco de
dignidade restante.
No caminho para casa, com a cabeça encostada na
janela do para-brisa, comecei a repensar aquela noite. Eu
tinha falhado na minha tentativa. Não descobrira nada de
relevante, e àquela altura, os canais de notícia já estavam
anunciando que Eduardo fora parar no hospital por causa
de uma úlcera, e eu perdera minha chance de quebrar a
notícia. Aquilo nem sequer seria algo digno para estampar
a capa da “Quero Mais?!”.
Eu tinha que começar a fazer novos planos. Talvez
procurar outra pessoa para escandalizar. Apesar dos
pesares, Eduardo era uma pessoa decente. Claro, ele
havia traído a noiva comigo, mas ele era um homem
envolvente, carismático. Eu conseguia gostar dele. Ele não
era um babaca. Parecia mais perdido no vórtex do caos da
sua família, nas expectativas das coisas que esperavam
dele, e que ele que fazia o máximo para corresponder. E
ele fazia seu melhor, ao ponto do estresse lhe causar uma
úlcera.
O que me consumia por dentro era não saber duas
coisas.
A primeira era aquele quarto trancado… eu chegara
tão perto de um segredo tão grande, mas batera na trave.
E não teria outra chance naquela vida para descobrir
aquilo. Eduardo não me chamaria de novo para seu
apartamento.
A segunda coisa talvez fosse mais difícil de se
achar, mas talvez mais possível. “Mel”. Não era a primeira
vez que alguém a mencionava em relação à Eduardo, mas
todos se calavam em minha presença quanto a isso. Era
obviamente um podre dos grandes. O que aquilo seria?
Um ex-caso? Uma prostituta? Certamente algo válido a se
investigar…
E com o keylogger que instalei no computador de
Eduardo, eu esperava obter respostas.
Cheguei no apartamento de Flávia, exausta. Eu
havia mandado uma mensagem para ela do hospital,
explicando a situação, mas não esperava a encontrar
acordada. As luzes da cozinha estavam acesas, e ali ela
estava, no sofá que me servia de cama, assistindo algo em
sua tablet, quando me viu girar as chaves de casa e abrir a
porta.
— Má! Você está bem? Como você está?
— Estou bem. Não fui eu que fui internada.
— Eu sei, mas deve ter sido um choque e tanto, não
é?
— Foi um pouco. Mas eu consegui me manter
calma.
Flávia assentiu, me dando espaço no sofá para me
juntar a ela. Ela me envolveu com os braços, e eu encostei
a cabeça em seu ombro. Não sabia que precisava tanto de
contato humano até o momento em que ela me abraçou.
— Vai ficar tudo bem. É só uma úlcera — ela
afirmou.
— Eu sei… — mas por alguma razão, algumas
lágrimas começaram a surgir nos meus olhos, e eu
desabei.
Foi como se uma barragem tivesse estourado, e
todos os meus sentimentos complicados tivessem
explodidos. Havia o estresse de estar prestes a ser
demitida, a pressão de arruinar a carreira de alguém, a
foda maravilhosa que tive com Eduardo, o fato de quase
achar que ele poderia ter tido um ataque cardíaco… era
muita coisa.
Flávia apenas me abraçou enquanto eu chorava,
fazendo um carinho nas minhas costas.
— Vai ficar tudo bem, Má. Desabafa mesmo.
— Aquele… idiota! Me preocupando desse jeito!
— Não foi culpa dele.
— Ele podia se cuidar melhor!
— Com certeza.
— E não causar problemas assim, para mim, para
as pessoas que gostam dele!
Flávia deu uma risadinha.
— E você gosta dele?
Eu corei, parando de chorar na hora.
— Claro que não. Ele é apenas um trabalho.
— Ah, mas a foda foi boa. Você até voltou com as
roupas dele.
Dei um sorrisinho de canto de boca, jogando minha
cabeça em seu colo. — Foi uma das melhores fodas da
minha vida. Mas não vai se repetir. É melhor que não se
repita.
— Por que não?
— Ele tem uma noiva. Ele quer ser presidente do
Brasil. Eu tenho que arruinar a carreira dele. Posso
enumerar vários motivos.
— Ah, mas isso são detalhes. Vocês podem foder
no meio tempo.
— Flávia! — Joguei uma almofada na cara dela, que
apenas riu de seu comentário. Ela pegou meu celular, e
colocou ele na minha cara.
— Vai, manda uma mensagem para ele. Diz algo
como “a noite passada foi inacreditável. Eu gozei horrores.
Espero que esteja bem.”
— Ele vai ter uma cirurgia ainda.
— Ele vai desaprender a ler depois da cirurgia?
Não, né. Manda mesmo assim.
Peguei o celular, olhando para a tela e para o
número à minha frente. Resmunguei um muxoxo, e
comecei a digitar uma mensagem que não parecesse
embaraçosa demais.
“Ei, bonitão. Queria avisar que cheguei em casa
bem. Espero que ocorra tudo bem na cirurgia, e que a Ceci
tenha conseguido seu quarto privativo com tudo que você
tenha direito. Me liga depois, se estiver interessado em
repetir a dose. Menos a parte da ambulância, é claro. -Má”
— Pronto. Lancei a isca — disse, jogando o telefone
em uma direção qualquer.
— Agora é questão de ver se o peixe será fisgado?
— Flávia inquiriu, erguendo-se de repente. — Bem, temos
tempo. Nesse ínterim, o que você quer para comer?
— Algo bem delicioso e feito por você. Se importa
se eu descansar um pouco? Eu não dormi nada esta noite,
fiquei acordada o tempo no hospital.
— Claro, descanse mesmo. Te acordo quando a
comida ficar pronta.
E Flávia marchou em direção à cozinha, enquanto
eu parei no sofá. Deitei-me de qualquer jeito, e trouxe a
gola da camisa em direção ao meu nariz. De alguma
forma, a camiseta tinha um cheiro peculiar. Ainda tinha um
cheiro de limpeza, mas também de almíscar, algo que me
remetia a Eduardo. Era como se ele me envolvesse por
inteiro, em um abraço terno. E embalada pelos sons de
Flávia cozinhando, o calor da sala, e o cheiro de Eduardo,
naquele lugar em que eu chamava de lar, eu adormeci.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Voltar para casa, grogue da anestesia, ainda um
pouco dolorido, mas Cecília garantiu o meu conforto, e
tudo ocorreu bem. Voltei para meu apartamento, porque se
havia alguém que eu não queria confrontar naquele
momento de fragilidade era a senhora minha mãe. Já teria
que lidar com ela, e isso causaria outra úlcera…
Eu caí com um baque na cama, e ali fiquei deitado.
Vários pensamentos me passavam pela mente, sem se
focar em nada em específico. Eu só queria descansar,
mas…
Eu pensei nela.
Tudo me remetia a ela Àquela maldita beldade de
vermelho, à Marília de sobrenome desconhecido. Seu
corpo me seduzia, e apesar de eu já ter tido ela uma vez,
eu a queria novamente. Queria sentir sua pele sobre a
minha, queria sentir seu gosto em minha boca, sentir-me
dentro dela e possuí-la por completo. Tê-la em meus
braços… e desfazê-la em nós, na minha cama, enquanto
ela gemia aos meus pés, e implorava por mais.
Uma fantasia que atiçou o meu corpo fragilizado
pela cirurgia. Eu não deveria me extenuar, mas meu pau se
ergueu apenas com o pensamento de reavivar a noite com
ela. Pedro estava no quarto dele, ele estava ali para
garantir que eu não passaria a noite sozinho, mas eu
queria outro tipo de companhia…
Eu respirei fundo, e tentei me controlar. As ordens
eram para que eu repousasse. E mais do que tudo, eu
deveria ficar de cama. Masturbação não estava dentro dos
limites…
Mas quem sabe mandar uma mensagem estava.
Eu tinha o número dela. Havia lido e relido sua
mensagem, mas não havia respondido. Confesso não estar
ainda nas minhas faculdades mentais exatas, mas a ideia
de mandar uma mensagem sexy para Marília foi o que me
passou pela mente. Eu queria que ela soubesse que eu
ainda a queria. E que estava disponível para continuar o
que quer que fosse que estivesse rolando entre nós.
Discretamente, é claro.
Mas fortemente. E intensamente.
Tirei uma foto do meu estado deplorável, e mandei
com as palavras. “Você me deixa assim, gata.” Certamente
não foi minha cantada mais eloquente, mas eu estava
sobre os efeitos do sedativo ainda. E aquilo pesava nos
meus olhos. Mandei a mensagem, e logo, o sono me
bateu. Eu decidi deixar para Morfeus o resultado, e logo
me vi apagando.
Acordei com uma dor de cabeça parecendo quase
uma ressaca. Por um momento, achei que tinha tomado
todas, mas logo lembrei que os médicos me avisaram dos
efeitos colaterais do sedativo. A dor de cabeça me trouxe
sobriedade, e eu lembrei exatamente do que tinha feito na
noite passada.
A mensagem.
Corri para o telefone, que tinha nenhuma carga.
Coloquei-o no carregador, e quando ele ligou, nenhuma
mensagem recebida. Aparentemente, nenhuma resposta
vinda de Marília. Hm... ainda estava cedo. Talvez ela
mandasse durante o dia. Embora seria difícil de responder
uma mensagem de sexo durante o dia de trabalho.
Talvez à noite.
Eu esperaria. No mais, havia muitas coisas a serem
feitas. E-mails a serem respondidos. Não me preocupei, a
princípio. Descansei, comi a gororoba que me foi oferecida
(o que, infelizmente, era apenas uma mistura de mingau e
líquidos diversos), e trabalhei um pouco com meu notebook
da cama.
Mas não recebi resposta.
Isso começou a me preocupar. Não tinha nenhuma
noção do que Marília fazia ou deixava de fazer. Merda,
nem fazia ideia de qual era o seu sobrenome. Não possuía
qualquer informação sobre ela, apenas seu telefone, e
apesar disso, ela podia facilmente bloqueá-lo e parar
qualquer meio de comunicação. A ligação entre nós era
muito frágil.
Aquilo doeu mais do que a úlcera.
Eu queria algo a mais com ela? Não fazia ideia.
Apenas desejava a ver de novo. Tê-la em meus braços de
novo.
Uma última vez. Uma última aventura.
Quando a noite chegou, meu estômago já estava a
reclamar mais uma vez.
— Ligue para ela — Pedro, que já não aguentava
ver mais minhas crises, deu a solução final. Não percebi o
quanto precisava daquela permissão quando ouvi a voz do
amigo. Queria ligar para ela, mas, deveria? — Ligue para
ela ou eu mesmo o farei, maldição. O fora você já tem.
Assenti, e disquei o número.
Marília atendeu no terceiro toque.
CAPÍTULO DEZESSETE
Voltar a rotina com aquela incerteza era pior do que
nunca ter tentado ter algo com Eduardo. A dúvida me
corroía. Eu não sabia o que fazer. Eu evitava as ligações e
mensagens da minha chefe, que chegavam, certeiras com
cada toque do meu celular. Para evitá-la, eu primeiro o
coloquei no modo mudo, mas até mesmo cada vez que ele
se acendia silenciosamente me agoniava, e eu o desliguei.
— Não adianta nada ficar olhando para os aparelhos
sem fazer nada — a voz de Flávia, como sempre, era a voz
da minha consciência. Ela estava trabalhando de casa
dessa vez, organizando a sua agenda de eventos,
enquanto eu me desesperava.
— O que eu posso fazer? Eu não tenho nada!
— Bem, você pode expor que Eduardo traiu a noiva.
— Comigo! Mas eu não tenho provas.
— Deveria ter pensado nisso antes de meter a boca
no pau dele.
— E que pau… — eu suspirei. — O que eu posso
fazer se Eduardo é um cara decente?
— Caras decentes não traem as noivas, ou
conquistam mulheres em eventos. Você está vendo tudo
com as lentes rosas da paixão, Marília e ignorando as
bandeiras vermelhas. — Flávia virou uma página da sua
agenda, desfilando seu veneno sem olhar diretamente para
mim.
Eu corei, sabendo que havia verdade em suas
palavras. Eu não saíra completamente ilesa do encontro
com Eduardo. Ele certamente era um homem charmoso e
cativante, e soubera me manipular completamente. Eu que
caíra em sua teia.
E agora destruir a reputação do homem envolvia me
expor para a internet. O que era muito ruim.
Eu tamborilei a carcaça do meu notebook, ligando.
Um aviso do meu programa espião me deu a notícia que
eu mais temia receber: o meu keylogger havia funcionado.
Eduardo, ao menos, não notara a minha breve furada de
privacidade em seu escritório. E ali estava, em linhas de
código, o que eu precisava.
A senha do computador dele.
“Mel2018”.
Sério isso?
Uma senha tão simples, que eu mesma poderia ter
adivinhado por força bruta. Agora, quem seria essa
misteriosa Mel? Eu sabia que o nome da mãe dele era
Tarsila, e que o nome da noiva dele era Raissa… Não
havia nenhuma “Mel” ou “Melissa” na vida pública de
Eduardo.
Um mistério a ser desvendado.
Observei mais algumas linhas de código que ele
digitava, alguns e-mails que ele respondeu, mas nada que
fosse muito interessante. Nenhuma coisa digna de fofoca.
Nenhum furo bombástico. Eu estava ficando sem ideias.
O telefone de Flávia tocou, e ela atendeu. A pessoa
do outro lado berrava. Ela, resignadamente, falou comigo.
— Má, sua chefe ligou para mim. Ela falou para
você atender ao telefone, que não tem tempo para suas
ladainhas.
Engoli em seco. Peguei meu telefone, vendo a
quantidade de chamadas perdidas e mensagens. Uma me
chamou a atenção, porque vinha do número de Eduardo.
Então o senhor futuro Presidente estava na isca?
Mas eu tinha assuntos importantes a serem
tratados.
— Olha, Helena…
— Juro, Marília, eu tento te ajudar, mas você não
me ajuda a te ajudar. Eu acho que está na hora de
rescindir seu contrato…
— Eu tenho algo! — gritei, assustando a mim
mesma, Helena do outro lado da linha e Flávia, do outro
lado da sala.
— Tem? Ora, a conversa é outra, então. O que é?
— Bem, não posso contar agora.
— Então por que estou perdendo meu tempo?
— Só posso adiantar com quem é. Eduardo
Albuquerque. E é coisa grande. MUITO grande.
Houve um silêncio do outro lado da linha, mas eu
conseguia ouvir o sorriso de aprovação de Helena. Eu
havia a fisgado.
— Se é verdade, vou tentar convencer os outros a
lhe darem mais tempo. Mas aja rápido, menina. Não
podemos perder esse furo por nada. Isso é grande demais
para deixar passar.
— Eu sei. Eu prometo tentar.
— Vou confiar em você.
E desligou.
— E você tem algo, Má? — Flávia olhou para mim,
por cima dos seus óculos. — Não quero que fique tentando
algo apenas para agradar essa velha borocoxó. Você
sempre pode arranjar outro emprego.
Eu imediatamente fui para as mensagens que
trocava com Eduardo e corei com o conteúdo. Isso era um
material digno para chantagem. Com um sorrisinho,
mostrei à Flávia, e ela uivou.
— Isso é…
— Difamatório.
— Criminal — Flávia completou. — Você não pode
distribuir nudes de Eduardo por aí.
— Não foi isso que eu pensei. Isso quer dizer que
ele ainda está interessado. Eu ainda tenho uma chance.
— E que chance…
— Flávia!
— Estou apenas dizendo que talvez você devesse
desistir disso tudo. Ele tem uma noiva, é rico, teve
programas de TV, está se candidatando ao governo do
Brasil… Sei lá, ele parece um homem muito complicado
para se envolver, especialmente nesse momento. Você
realmente quer comprar essa confusão?
— É a única maneira de manter meu emprego.
Flávia deu de ombros, enquanto eu me jogava no
sofá.
— Você nem gosta desse emprego, Má. Para que
mantê-lo?
Eu não conseguia explicar à Flávia meus
sentimentos. Queria me sentir útil. Sentir um pingo de
utilidade. Queria ter um teto sobre a minha cabeça, e não
depender dela para sempre. Não queria que ela tomasse
aquilo como ofensa, mas eu queria que ela não cuidasse
de mim o tempo todo. Eu queria ser independente.
Eu queria poder ser independente.
E um emprego me dava uma liberdade, mesmo
pagando uma merda.
Ela simplesmente suspirou, e olhou de novo para o
celular.
— Ele ao menos fode bem?
— Maravilhosamente bem. Faz um oral como
ninguém.
— Adoro um homem que faz um bom trabalho com
a língua.
E, como se nos ouvisse, o celular começou a vibrar.
O nome no celular: Eduardo.
— Não vai atender?
— Espere um segundo… Agora!
Fui em direção à cozinha, sentando-me no balcão, e
Flávia foi logo atrás, para ouvir a conversa. A voz de
Eduardo parecia um pouco rouca, mas devia ser um pouco
devido à cirurgia que ele fora submetido.
“Você não respondeu minha mensagem,” ele disse.
— Eu não vi sua mensagem até agora há pouco.
Bonita foto — comentei.
“Tem mais de onde ela veio.”
— É? Aonde? — Um sorriso safado nasceu em meu
rosto.
“No meu apartamento. Às sete.”
— Isso é um encontro, Sr. Albuquerque?
“É o que você quiser que seja.”
— Não está ocupado com coisas de campanha?
“Não estou ocupado para você.”
— Vou pensar. Muito obrigada pelo convite!
E desliguei na cara dele.
— Que maldade, Má — Flávia riu.
— É assim que se pesca, Flávia. Não sei como não
está solteira.
— Eu e o Diego somos muito felizes juntos, tá. E
agora? O que pretende fazer?
Saí do balcão, indo em direção ao meu notebook.
— Tenho duas coisas sérias a fazer. A primeira:
procurar por essa tal de Mel em todos os lugares. A
segunda…
Fiz uma pausa.
— Uma depilação urgente!
CAPÍTULO DEZOITO
Cecília, lógico, protestou quanto aos meus planos
noturnos.
— Aquela mulherzinha? De novo? Eu tenho que
lembrá-lo de que, além de você ser comprometido com a
Raí, você está no meio de uma campanha para a
presidência do Brasil, Eduardo?
Eu revirei meus olhos para o espelho, enquanto me
arrumava. Na minha mente, estava arquitetando os planos
para expulsá-la de casa se fosse preciso, mas apesar
disso, o que Cecília falava era a verdade. Eu estava sendo
imprudente, e aquilo não condizia muito com a minha
pessoa. Eu não costumava ser impulsivo. Eu sempre
calculava o meu próximo ato, planejava as minhas ações.
Até mesmo a candidatura à presidência era quase uma
jogada de marketing. Ganhar ou perder não importava. Eu
sairia ganhando daquilo. Ou melhor, minha família ganharia
muito com aquilo.
Só que…
Eu lembrava do gosto de Marília. Do seu vestido
vermelho. Da sua pele morena, dos seus cabelos
castanhos, quase dourados de fogo.
E eu a queria.
E eu geralmente conseguia as coisas que eu
desejava.
Para o inferno as aparências. Eu não desgostava de
Raissa Monteiro, mas falar que gostava dela era mentir
muito feio. Ela era a noiva escolhida pela minha família, e
vinha de uma família igualmente abastada e influente.
Nosso namoro fora praticamente arranjado. O noivado fora
uma consequência de decisões políticas das nossas
famílias, que apenas desejavam mais poder. Ela estava
resignada a ser uma mulher boa, dedicada à do lar. Eu
queria mais.
Eu queria Marília. Não a frieza de uma cama de
casal de negócios. Queria o fogo, a paixão. E aquilo,
somente Marília poderia me dar.
Fora somente uma noite, mas…
— Está cometendo um erro, Eduardo. — Cecília me
lembrou, enquanto eu terminava de me arrumar. — Você
não pode largar tudo para ir atrás de um rabo de saia.
Pense nos seus planos. No seu futuro.
— Estou pensando no futuro. Às sete, tenho um
jantar.
— Você sabe o que quero dizer.
— Vamos, Ceci. Deixe o Duca se divertir — Pedro
interferiu, colocando-se entre mim e Cecília. Cecília jogou
os braços para cima, saindo do quarto, mas não antes de
dizer suas últimas palavras para mim.
— Eu quero impedir que ele faça uma besteira,
Pedro. Ele vai jogar uma carreira fora, e se afundar.
Imagina se isso sai nos jornais? Paparazzis? Ele ficará
arruinado.
— Não seria a primeira vez…
— E como foi ótimo da primeira vez? Não podemos
ter um escândalo assim, tão perto das eleições. Não vai
funcionar. Por favor, Duca — Cecília pediu, virando-se para
mim com seus olhões da porta. — Tenha juízo ao menos.
Use proteção. Dupla, dessa vez.
— Pode deixar, Ceci.
Ela revirou os olhos, e saiu do quarto. Pedro ficou
ali, ainda e tocou o ombro de Eduardo.
— Sabe que eu aprovo que se divirta um pouco, por
causa do estresse das eleições, e porque eu sei que não
ama Raissa. Mas sabe… Cecília tem razão. Não é certo
isso. Tem certeza do que está fazendo?
— Absoluta.
Pedro suspirou.
— Bem, me dá ao menos permissão para investigar
a garota? Precisamos saber de onde ela vem. Ela não
pode ter aparecido do ar.
Assenti, e Pedro apenas concordou com a cabeça.
— Vou levar Cecília para casa. Te vejo amanhã, garotão.
E fiquei ali, apenas com meus pensamentos. Era
verdade. Eu não sabia nada sobre Marília, de onde ela
saíra, o porquê de ela estar naquele evento beneficente
com aquele vestido indecente. Ela parecera estar saindo à
caça, mas de quem…? Será que eu caíra em uma
armadilha maior do que esperado?
No mais, eu apenas queria acreditar nela.
E, pontualmente, às sete, ela estava ali. Dessa vez,
em um vestido um pouco mais comportado, branco, leve,
assimétrico, que apesar de não ser tão sexy quanto o
vermelho, parecia mais a cara dela. E, apesar daquilo, ela
era a mulher mais linda do universo. Os cabelos estavam
presos em um coque frouxo e ela usava uma maquiagem
discreta, além de saltos mais baixos do que os primeiros
em que a conheci.
Parecia uma mulher completamente diferente. Fina,
mas ainda assim imponente. Meu primeiro desejo era
retirar toda aquela roupa dela, mas eu fiquei alguns
segundos em frente a porta aberta, admirando-a.
— Vai me deixar entrar? — Ela riu, um pouco.
— Estou babando, desculpe-me — admiti.
— Até que eu sei me arrumar um pouco, não é?
Digna para a suíte presidencial?
— Você é digníssima, Marília.
Ela sorriu, e eu me virei para beijá-la. Queria deixar
claro as minhas intenções com aquele jantar, mas não
queria assustá-la. Por isso foi apenas um leve toque nos
lábios, mas foi elétrico o suficiente para avivar a nós dois.
Ela fechou os olhos para o meu toque, e abriu aqueles dois
caramelos para mim, e eu me perdi em seu olhar.
— Venha — tomei a mão dela, e fechando a porta,
eu a trouxe para dentro do apartamento. Pedro e uma
relutante Cecília me ajudara a preparar tudo. E eu me
superara naquilo.
Toda a sala de estar estava com uma tenda para um
ninho romântico dedicado com tendas, flores, velas
(eletrônicas, não queríamos riscos de incêndio ali), e
disparadores de óleos de ervas que perfumavam o ar. E
algumas pétalas de flores enfeitavam o chão (essa ideia
conservadora fora de Pedro, mas eu decidi seguir com
ela).
— Não precisava de tudo isso… — Marília disse, se
aproximando do aparelho de fondue que fumegava com o
queijo derretido e com uma cestinha de pão do lado. Eu me
adiantei, e peguei duas taças de vinho que já estavam
separadas, e a própria garrafa.
— Claro que precisava. — E a servi, enquanto ela
se aconchegava nas almofadas. Ela retirou os saltos, e nós
ficamos ali, bebendo do vinho, e o momento parecia
perfeito. Eu queria congelar o tempo, e não pensar em
mais nada. Não havia noivas, não havia campanha. Havia
apenas um homem e uma mulher, e um fondue de queijo e
chocolate. E aquilo era perfeito.
— Sabe… Eduardo… Eu quase não vim — ela
confessou, com a taça de vinho quase pelo final, quando a
cestinha que preparei estava pela metade, e nossas
barrigas estavam quase satisfeitas. Eu toquei na mão dela,
e senti seu calor. Senti a sua pele macia, e percebi que
eram mãos de uma pessoa como eu.
— Por que, Marília?
— Fiquei com medo.
— Medo de quê?
Ela pareceu hesitar, e terminou sua taça. A coragem
lhe pareceu vir aos poucos. — Medo de você. Medo do que
está acontecendo entre nós. Eu sei que você tem uma
noiva, e de quem você é. Do que quer fazer. Eu não quero
atrapalhar, ser uma pedra no sapato. Eu não deveria ter
vindo… — Ela se virou para se levantar, mas eu segurei a
sua mão.
— Não, por favor, Marília. Não se vá.
— Por quê? — ela perguntou, os olhos castanhos
cheios de dúvida, abertos em minha direção.
— Porque com você é diferente.
— Diferente como?
— Com você eu me sinto… certo. Não é errado o
que fazemos.
— E isso importa no grande esquema?
— Não pense nisto, ao menos não esta noite. Fique.
Ela voltou a se sentar, e eu a puxei na minha
direção, para os meus braços. Ela se encaixou
perfeitamente neles e no meu colo. Puxei-a para um beijo,
que ela correspondeu ardentemente. A saia do seu vestido
começou a subir, e uma mão lenta minha começou a
explorar as áreas escondidas de sua pele, e para meu
deleite, a encontrei completamente molhada e pronta para
mim. Sorri contra o beijo, mas eu tinha muito o que
aproveitar naquela noite.
— Má… — ofeguei.
— Posso ser esta noite — ela falou, envolvendo-me
com seus braços. E montando em mim, ela pressionou
seus quadris contra os meus, sentindo a minha ereção
tocar seu ponto íntimo. — Posso ser uma garota bem má
quando eu quero, Eduardo.
— Gosto disso. Gosto muito disso.
— Não vai gostar quando eu te torturar, bonitão.
— Vamos ver quem vai torturar quem, Marília.
E com um golpe rápido, a levantei e depositei-a no
sofá. Ela deixou um som de surpresa escapar, mas não
reclamou quando eu retirei a sua calcinha e subi seu
vestido, dando acesso a área que mais queria. Abri suas
pernas, colocando-as entre meus ombros, e a penetrei com
dois dedos profundamente, elicitando um grito como
resposta. Ela começou a arfar enquanto eu a penetrava e
fazia um trabalho com a minha língua em seu clitóris e
lábios, mas eu não a deixaria ir assim tão fácil.
Quando ela estava prestes a atingir o clímax, eu
parei, e ela me olhou feio.
— Estou apenas começando, Marília.
— Seu…
Não dei tempo para ela reclamar, e a virei de costas,
desfazendo meu zíper e retirando meu membro das calças.
Esfreguei meu pau no vão das coxas dela, estimulando o
clitóris dela, e ela gemeu mais ainda. Ela se agarrava às
almofadas e ao sofá com tudo o que podia, e eu me agarrei
aos seus cabelos, inclinando-a para trás, para finalmente
penetrá-la com tudo.
— Ah…! — ela arfou, me recebendo.
Todo o interior dela era macio e receptivo. Ela
estava pronta para mim, e nossa dança nos embalou no
sofá, os sons preenchendo o eco da sala. Eu a dominei, a
possui, e ela correspondeu a mim completamente. Ela era
minha.
Ao menos, naquela noite.
Gozamos com um urro, e com pesar, me vi saindo
dela, retirando a camisinha que coloquei e jogando ela
para um canto. Marília arfou, voltando se para mim, caindo
em uma almofada qualquer. Ela olhou em minha direção,
os olhos ainda enevoados do exercício.
— Eduardo… — disse.
— Marília — eu sorri.
— Eu ainda quero mais.
Eu peguei um pedaço de morango, mergulhei no
chocolate derretido e enfiei em sua boca. Ela o mordeu e o
saboreou, sem desviar o olhar. No final, lambeu os meus
dedos sujos de chocolate e os sugou.
— E você terá, Marília.
CAPÍTULO DEZENOVE
Aquele homem não entendia o tamanho do meu
desejo por ele.
Ele já me fizera gozar algumas vezes naquela noite,
mas eu não ficaria satisfeita com apenas aquilo. Aquele
homem tinha uma bela lábia, era ótimo discursando falas
prontas e preparadas para o público, mas eu queria fazer
com que aqueles lábios provassem de sabores mais
doces...
— Eduardo — eu gemi, me erguendo. — Me leve
para a cama.
— Sempre tão mandona. — Ele sorriu.
Estávamos aproveitando o último orgasmo,
enquanto ele me alimentava de alguns morangos. Só que
não era essa fome que eu queria saciada. Mas Eduardo
fazia questão de que eu me alimentasse um pouco, para
que eu aguentasse o que estava por vir. Era um pequeno
paraíso. Ele era um demônio disfarçado de anjo, e eu
queria arrancar aquelas asas.
Por isso, arranquei o resto de pudor que me restava,
e disse:
— O que você tanto olha?
— Você. Apenas você.
— Homens que apenas olham não saboreiam nada.
Eu quero mais.
Eduardo pareceu entender meu comando, porque
sorriu, e me deu mais um morango, dessa vez embebido
em champanhe. Eu fiquei extasiada, e já me sentia com os
sentidos um pouco atordoados, mas eu queria aquilo. Mais
do que tudo, eu queria que ele descesse a língua em
direção ao meu centro, como fazia naquele momento, em
um caminho molhado e tortuoso, e eu prendi a respiração
em antecipação. Eduardo já provara que conseguia me
satisfazer, então eu sabia o quanto de prazer ele poderia
me proporcionar ainda mais.
Mas ele iria me torturar cada segundo do caminho.
— Bonitão — protestei, enquanto ele protelava o
que eu mais desejava, enquanto meu centro ardia e
pulsava, ficando mais molhado a cada segundo.
— Você é muito impaciente, Marília. Tem que
aprender a aproveitar o clima.
— Eu posso ser jornalista, mas não sou garota do
tempo, Eduardo. Por favor, me coma, e rápido.
Ele soltou uma gargalhada alta.
— Seu desejo é meu comando.
E com um movimento rápido, ele me devorou.
Eu tive que conter um grito alto que escapou da
minha garganta, porque ele foi com avidez ao pote, e ele
sabia o que estava fazendo. Eu estava sensível no local,
mas como clamava por mais, cruzei minhas pernas ao
redor de seu pescoço para sufocá-lo e conseguir chegar ao
clímax. Ele tinha razão, eu realmente era impaciente.
Porém, ele me fazia e desfazia por completo naqueles
lençóis, e eu não conseguia sequer pensar, somente reagir.
Todo meu corpo estava apenas ciente da maneira de como
Eduardo o manipulava, da forma de como a língua dele
trabalhava à maneira de como os dedos dele exploravam a
minha entrada e pele, era como se ele tocasse meu corpo
inteiro ao mesmo tempo. Ele realmente estava me
devorando por inteira.
E quando eu cheguei ao clímax daquela forma, com
outro grito, ele não me perdoou, pegando outra camisinha
e se enfiando por inteiro dentro de mim, não esperando eu
me recuperar para iniciar os movimentos, sendo bruto,
forte, e completamente insano. Eu deixei minha boca livre,
lançando sons que nunca soube que era capaz, apenas
me agarrando ao que eu conseguia tocar com as minhas
mãos. Minha pele estava em chamas. Eu não conseguia
mais pensar em nada.
E ele gozou dentro de mim com um urro e eu fiz o
mesmo, desabando cansada na cama, ele ao meu lado.
Minha respiração arfando não conseguia preencher meus
pulmões por completo. Olhei para Eduardo, e ele também
parecia exausto.
Mas ele sorriu.
— Você é realmente especial, Má — ele disse,
tocando meu rosto, e me beijando.
Eu não soube o que dizer. Fiquei abismada, com o
corpo doendo, e coração apertado. Eu queria correspondê-
lo, dizer algo de volta. Fui salva pelo gongo quando ele
fechou os olhos e pareceu dormir.
No que eu havia me metido?
CAPÍTULO VINTE
Era tudo ou nada.
Mais uma vez esperei Eduardo adormecer, e agora
eu descobrira que ele tinha o sono bem pesado. Isso era
bom. Na verdade, aquilo era ótimo. Dava-me a chance
perfeita de investigar o necessário, na mais perfeita paz.
Eu só não tinha que ser pega.
Eu era rápida, ágil. Sabia me mover na noite como
um verdadeiro lince, e com a minha memória perfeita,
recordava-me com todos os detalhes do seu apartamento,
e como ele era disposto. Esperava encontrar as coisas no
mesmo lugar, e fora um papel ou outro, tudo estava ali. Eu
respirei fundo, e entrei no escritório.
Dessa vez, não liguei a luz. Sabia exatamente como
me mover ali, então não encontrei dificuldades em mexer
em sua mesa e ir em direção aos documentos. Dessa vez,
tirei fotos do que queria, para ter a evidência do que
desejava. Não era nada demais, mas garanti retirar o
barulho mecânico do telefone, para que não acordasse
Eduardo. Os documentos não pareciam incriminatórios,
mas imaginei que tirar fotos deles pudesse me ajudar de
qualquer forma. Talvez eu descobrisse algo ao vasculhá-
los.
Recuperei meu keylogger e o guardei no bolso, e
acessei o computador de Eduardo. Ali estariam os
documentos mais incriminatórios, se houvessem alguma
evidência de corrupção por parte da campanha de
Eduardo. Só que eu o conhecia. Sabia que a campanha
dele seria cem por cento limpa. Ou ao menos, era o que eu
esperava. Quem conhecia o homem por detrás da
máscara? Eu queria...
Eu rezava para que ele fosse um homem honesto.
Eu vasculhei alguns arquivos, mas pelo que podia
ver, eram tudo contáveis. Soltei um suspiro, de alívio dessa
vez. Comecei a baixar alguns dados para o meu banco de
dados, apenas para continuar a procurar os dados, já que
o tempo urgia. Eduardo podia acordar a qualquer
momento.
Eu ainda queria achar a chave.
Também baixei alguns de seus e-mails do seu
provedor.
Era invasão de dados plena e simples, e eu poderia
ser presa por aquilo, mas não se ele de fato estivesse
cometendo algum crime. Se ele não estivesse... Nunca
viria à tona. Eu ficaria calada. E esperava que ele nunca
descobrisse.
Um dos e-mails me chamou a atenção.
[email protected]
Você me cobra tanto por ela, mas nem passa tempo
com Mel. Grande merda, você. Aposto que ainda tem
aquele quarto sem uso, guardando a chave na sua mesa
no escritório.
-m
Ali estava a "Mel", de novo. Eu queria saber mais
sobre ela.
Seria um antigo caso? Tudo apontava que sim...
Vasculhei aquele thread de e-mails, em procura de
respostas.
E quando ela veio, me atingiu em cheio.
Não foi difícil achar a chave. Eu abandonei o
escritório, enquanto o computador ainda fazia o download
para o meu servidor, e andei em passos quietos e pesados
para o pequeno quarto, que eu já sabia se tratar do que
seria.
Mas eu precisava ver com os meus próprios olhos.
A porta se abriu com dois cliques. As luzes se
acenderam automaticamente, assim como as da sala.
Era lindo.
As paredes em um tom de rosa pastel, decorados
com rendas brancas e um nome em uma tinta dourada.
"Melissa".
Um perfeito quarto de bebê.
Havia brinquedos perfeitamente guardados em cima
de uma bancada, além de uma caixa que devia estar
recheada deles, e um berço branco com lençóis de linho
com uma presença fantasmagórica naquele quarto. Ele se
erguia no meio do quarto, como uma terceira pessoa
naquele apartamento, como se eu tivesse conseguido
sentir sua presença naquele cômodo o tempo inteiro, me
chamando, me provocando para abrir a porta.
Não me surpreendi ao ouvir os passos de Eduardo
logo atrás de mim, sua presença enchendo minhas costas,
e eu de primeira não consegui me virar para encará-lo, por
não conseguir desviar os olhos do berço.
— Uma filha — estava sem fôlego. — Você tem uma
filha.
— Sim — ele não negou.
CAPÍTULO VINTE E UM
Ver Marília naquele quarto trouxe sentimentos
ambíguos para mim. Eu não a queria ali, ao mesmo tempo
que a queria. Foi um devaneio louco que a imaginei ali,
naquele quarto, com Melissa, em uma outra vida, em outro
momento, em uma vida de felicidade.
Mas a realidade era outra. E eu tinha de encará-la,
como já fiz muitas vezes.
— Sim. Sou pai de uma menina de dois anos —
tentei explicar, adentrando o quarto com ela, e pegando
uma boneca de pano, boneca cuja minha filha nunca
brincou. E isso me cortava o coração. — Eu não tenho a
guarda da minha filha.
— E quem é a mãe? — ela falou com uma voz
grasnada, e parecia ter um quê de irritação na voz.
Fiquei em silêncio, analisando Marília. Como eu
queria poder ler seus pensamentos! Saber o que
intencionava, o que estava pensando. Saber o que se
passava dentro daquela cabecinha linda e de cabelos
castanhos.
Eu não sabia o que ela pretendia, e isso me
assustava muito, porque mais do que linda, a mulher se
provara muito inteligente. E minha atração por ela apenas
aumentava, o que me tornava ainda mais burro por ela.
Pedro me dissera que aquele seria meu fim.
— Por que quer tanto saber, Marília?
Aquilo pareceu balançar ela, e ela deu um passo
para trás, cruzando os braços. Estava na hora de jogar o
jogo dela, e talvez colocar algumas cartas na mesa...
— Eu acho que tenho o direito de saber se você tem
uma filha...
— Não precisa vasculhar meu escritório e
computador para isso, ou entrar em um cômodo trancado.
Bastava me perguntar.
Isso pareceu uma ofensa sem tamanho.
— E você ia me contar quando? — ela retrucou.
— Quando você me contasse que era uma jornalista
de uma revista de fofocas.
Ela girou a cabeça tão rápido que achei que fosse
quebrar o pescoço. Mas os olhos dela tinham o fogo que
eu sabia possuir, e eu sabia que ela iria lutar com toda a
paixão que tinha.
— É — eu disse, coçando a cabeça. — Eu também
fiz minha própria pesquisa. Marília Carvalho, jornalista da
"Quero Mais?!". Sei seu endereço, que faculdade cursou.
Sei que está quebrada e que mora de favor na casa de
uma amiga.
— Não tinha esse direito. — Ela respirou fundo.
— E você tinha, ao me investigar?
— É meu trabalho. Você é uma figura pública.
— Acho que você tomou muitas liberdades...
— E você vai me denunciar?
Eu dei um suspiro enorme.
— Não. Não vou, Marília.
Ela ergueu as sobrancelhas, e começou a ir em
direção à porta.
— Como não? Eu posso ir em direção à imprensa
agora e revelar tudo sobre a sua filha secreta que você
tanto quer esconder. Um escândalo desse tamanho vai ferir
a sua campanha à altura do campeonato. Você vai perder
a eleição!
— Eu não me importo.
Isso pareceu irritá-la.
— Por que não se importa?
— Porque eu quero você. Mais do que tudo. E talvez
seja hora de eu ser homem e assumir a minha filha. Se for
para eu perder a campanha no processo, que seja.
Marília piscou os olhos em minha direção, e ficou
sem palavras. Eu tentei mais uma vez alcançá-la.
— Confie em mim, Marília. Por favor.
Ela volveu novamente os olhos castanhos em minha
direção, estes se enchendo de lágrimas douradas, e
simplesmente correu para a porta. Eu não fiz menção de
segui-la.
Fiquei ali, no quarto de Melissa, sozinho com os
meus fantasmas.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Uma filha. Uma filha!! Eu sabia que ele tinha um
segredo, mas algo tão perturbador quanto isso?
Não sei como voltei sã e salva para casa, mas
minha respiração estava alterada e eu cheguei em casa e
tudo que aconteceu no apartamento de Eduardo se
acumulou em mim. Eu enfiei a chave no buraco da
fechadura, e quando encontrei a familiar visão do
apartamento de Flávia, desabei.
Fui até meu sofá-cama chorando, e meus soluços
foram tão altos que acordaram Flávia, que apareceu e não
disse nada, apenas me abraçou, e ficamos ali, abraçadas,
até que eu parasse de chorar.
Quando eu me acalmei, ela perguntou tudo, e eu
contei para ela.
— Uma filha? Nossa, não esperava isso dele — ela
comentou em voz alta para o namorado, Diego, que saiu
do quarto dela quando a sessão de choro pareceu se
acalmar. Diego apenas deu de ombros, e começou a ir
para cozinha para preparar algo para nós três.
— Ele não teve um caso com a Mariabella ou algo
assim? — Diego disse, da cozinha, enquanto quebrava
ovos e os mexia, para um lanche da madrugada.
Eu funguei, e comecei a procurar as minhas
anotações. Realmente lembrava de algo do tipo. Ao
menos, havia rumores e fotos deles saindo em uma época
há pelo menos dois ou três anos, e eu não me lembrava
disso. Achei no meu notebook uma foto de um paparazzi
deles e me peguei pensando em como eles combinavam.
Ela era alta e bonita, quase do tamanho dele, e tinha um
porte de modelo. Na época, tinha um cabelo loiro
comprido, e combinava muito com o dele.
— Casalzação — Flávia comentou, olhando a foto
por cima do meu ombro. — Acho que eles têm um fandom,
olha só os comentários. — Apontou para as pessoas que
deixaram os comentários na foto, que variavam de "quem
está aqui em 2020" e "eles são tão lindos e fofos" a
"imagina como seriam os filhos deles!". Bem, eu realmente
gostaria de imaginar como Melissa seria. Belíssima, com
uma genética maravilhosa.
— É... — deixei um suspiro escapar.
— Não fica deprê, Má. Ele não disse que queria
você?
— Mas quem disse que quero ele?
— E não quer? Você ainda quer esse furo?
Fiquei sem palavras. Não sabia o que pensar. Eu
tinha que me preocupar com meu futuro... Manter o
emprego, e um salário lixo, ou quebrar a confiança do um
homem bom, e denunciá-lo para o país inteiro do único
erro que ele cometera que era de foro íntimo,
comprometendo o futuro dele?
Eu não sabia o que fazer.
— Acho que preciso de mais tempo.
— Você não tem muito. O que pretende fazer?
Peguei meu celular, um plano se formando em
minha mente.
"Gostaria de conhecer a Mel".
-Má
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Fizemos a viagem no carro de Eduardo no mais
puro silêncio. Eu não sabia o que dizer a ele. E o que
haveria de ser dito? Apesar disso, eu tinha muitas
perguntas em minha mente, só não sabia como formulá-
las. Eduardo permanecia em silêncio, mas ao olhar meu
rosto compenetrado e indeciso, soltou um risinho.
— Você pode perguntar o que quiser. Tentarei
responder com ao melhor da minha habilidade.
— ... Quanto tempo durou o caso?
— Não muito. Não lembro direito, mas por volta de
uns três ou quatro meses. Aparentemente, foi o suficiente
para que a mídia volvesse os olhos para nós, mas o
suficiente para que deixasse marcas em nós. Foi bastante
intenso, Mariabella é uma mulher de paixão.
Senti algo dentro de mim enquanto ele falava dela.
Era algo que me queimava o estômago, e pensei que
talvez estivesse criando uma úlcera, assim como Eduardo.
Talvez eu devesse me precaver.
— Nosso caso foi terminado com a pressão da
mídia. Ela não queria usar da minha fama para se
promover. E como estava para lançar um novo álbum, isso
com certeza acabaria a prejudicando. Ou a auxiliando de
um modo do qual não gostaria. De qualquer forma, ela não
quis "a fama Albuquerque". E terminou comigo.
— Ela terminou com você? Ela?
Eduardo deu de ombros.
— Só soubemos da gravidez quando ela desmaiou
no meio da turnê. Acho que você lembra disso.
— Vagamente..., mas li sobre as reportagens da
época. — Eu tinha vasculhado sobre tudo o que
acontecera. Li sobre os boatos, os rumores. Sobre como
ela desaparecera logo após o lançamento do novo álbum.
Era óbvio, pensando agora.
— Ela deu à luz à Melissa naquele verão. Perdeu o
carnaval e tudo. Ainda me culpa até hoje.
— E ela tem a guarda?
— Sim. E devido ao fato de que ninguém sabe que
ela é a minha filha, só posso visitá-la escondida. Como
hoje. Temos que fazer este arranjo esquisito sempre que
quero vê-la. Como vê, não é nem um pouco conveniente
para nenhuma das partes.
— Isso não é nem um pouco justo.
— Devo concordar com você.
— E quando ela crescer? Ela vai ficar sem um dos
pais?
— Mel está tendo uma educação exemplar.
— O que ela precisa é de amor, não de uma
educação exemplar.
Eduardo ficou em silêncio, analisando o que eu
havia dito. Era como se ele estivesse experimentando uma
outra vivência.
— Eu apenas não quero que ela passe pelo que eu
passei, vivendo sob o olhar intenso da mídia. É difícil
crescer quando o olhar do Brasil inteiro está direcionado a
você, e você tem que corresponder às expectativas de
todos. Eu fiquei bem, mas não sei se é exatamente isso
que desejo para os meus filhos.
Era algo de se analisar. Eduardo crescera como
uma criança prodígio, filho de donos de um canal de TV, e
tivera seu próprio show aos seis anos de idade. Era uma
estrela mirim, sempre no estrelato. O que aquilo moldara a
sua personalidade? Ele sempre fora carismático, mas
aquilo lhe custara muito. Eu imaginava o quanto ele
ressentia os próprios pais pela vida que lhes deram, mas
ele não conhecia diferente.
Mas talvez com a própria filha...
— De qualquer forma — ele continuou. — Meu
arranjo com Mariabella é apenas até depois do mandato.
Eu pretendo assumir Mel depois de arrumar a bagunça do
Brasil aí. Uma coisa por vez.
— Você deve ter a vida toda planejada.
Ele sorriu.
— Não toda. Você apareceu e bagunçou tudo.
Fiquei sem saber o que dizer. Coloquei minhas
mãos em minha bolsa, e passamos o resto da viagem
apenas ouvindo a rádio. Chegamos pouco tempo depois,
em um condomínio privativo de luxo. Pelas fofocas, eu
sabia que era ali que Mariabella morava, como muitos dos
famosos, e nossa entrada foi permitida. Seguimos pelos
prédios, e eu admirei a fachada deles. Ali era um lugar
completamente silencioso, onde as pessoas ficavam dentro
de suas casas, sem comunicarem umas com as outras.
Não havia crianças brincando nos parquinhos ou nas
piscinas. Eu não sabia o que afirmar. Parecia mais um
cemitério do que um lugar onde pessoas viviam.
Não seria um lugar onde eu criaria uma filha minha.
Chegamos ao prédio de Mariabella, estacionamos a
SUV de Eduardo na vaga para visitantes e entramos na
portaria sem nos anunciarmos. Eduardo, aparentemente,
fazia aquele trajeto vezes o suficiente para ser conhecido e
sua entrada ser permitida.
Ele me conduziu até um dos elevadores sociais, e
eu fiquei presa ali com os meus pensamentos dúbios.
Estava completamente fora do meu ambiente. Ali, no meio
do circo dos ricos e famosos, desencaixada. Onde eu
pertencia? Por que Eduardo fazia questão que conhecesse
Mariabella e sua filha?
Não que eu não quisesse conhecê-las. Eu queria.
Mais do que tudo, eu queria saber de tudo relacionado a
Eduardo. Aquele homem havia me fisgado. Obtivera meu
interesse, e eu não sabia mais o que fazer.
Que decisão tomar.
O apartamento nos levou até o vigésimo quarto
andar, onde paramos e demos de cara com um
apartamento luxuoso, com o piso de pedra e móveis
caríssimos, além de uma televisão ligada em um programa
culinário. Tudo ali exalava a riqueza e o bem-estar de uma
cantora rica. Uma das secretárias veio ao nosso encontro,
nos recebendo.
— Bom dia, senhor Eduardo. A senhora Mariabella
está no quarto, descansando. Deseja ver Mel?
— Sim, por favor — ele disse. — Avise a Mariabella
que chegamos.
A secretária fez um aceno com a cabeça, e saiu em
direção a um corredor. Eduardo fez um gesto para mim, e a
seguiu. Eu o acompanhei, ainda admirando o apartamento.
Era como se fosse um sonho. Nem mesmo o "inferninho"
de Eduardo chegava àquele nível, e eu sabia que a família
de Eduardo tinha muito mais dinheiro que Mariabella.
Seguimos em direção a um dos quartos, e quando abrimos
a porta, eu senti lágrimas se formarem em meus olhos.
Lá estava um quarto branco. Depois reparei que as
paredes eram de um tom rosado quase esbranquiçado,
mas toda a arquitetura do quarto era um tom moderno.
Comparado com o que Eduardo havia preparado em seu
apartamento, este era muito mais funcional. O
bercinho/cama de Mel era muito mais moderno, muito mais
adequado a idade que ela tinha agora, que eram dois
anos. Tudo no quarto estava arrumado, como se a menina
tivesse acabado de brincar com os brinquedos e houvesse
posto tudo em seu local adequado. Mas ela estava ali, no
meio do quarto, parecendo meio perdida, um pouco
entediada, segurando um ursinho de pelúcia e olhando
para uma tablet enquanto a pressionava com seus
dedinhos gordos. Uma babá a acompanhava, mas não
parecia a fazer companhia. Era como um abutre branco a
supervisionar. Estava ali para simplesmente garantir a sua
sobrevivência.
Ou ao menos, foi isso que me pareceu, naqueles
primeiros minutos a analisando.
O que me atingiu, também, foi como a garotinha era
linda. Ela era a cara da mãe, só que com os olhos de
Eduardo. Os mesmos olhos verdes que eu tanto...
Que eu tanto o quê?
Eduardo se aproximou dela. Ela o conhecia, é claro,
mas apenas o olhou com curiosidade.
— Olha, Mel. É o tio Duca — a babá falou, com
carinho, mas aquela frase me cortou o coração. Nem a
própria filha sabia que ele era seu pai?
— Oi, Mel... — Eduardo a pegou no colo, enquanto
o ursinho de pelúcia escorria para o chão. Ele a pegava tão
delicadamente que ela parecia feita de vidro. — Quero que
conheça alguém. Esta é a Má.
— Má? — Mel repetiu, a vozinha baixa e inquisidora.
Eu fiquei imediatamente tocada por ela. Aproximei-me de
Eduardo e vi seu olhar baixo e sério. Eu só tinha olhos para
ela. Fiquei absorvendo todo aquele pequeno ser e sua
existência. Ela não tinha o sobrenome Albuquerque. Ela
não tinha a fama de Mariabella. Ela era uma criança oculta.
E ali, nos braços de Eduardo, ela não parecia uma
criança feliz. Parecia uma criança que precisava do amor
dos dois pais, que tinham suas próprias agendas, políticas
ou de carreira, e que negligenciavam a própria filha. Aquilo
era muito, muito triste.
E meu coração doeu por Mel.
— Posso segurá-la? — a pergunta saiu de mim,
antes que eu pudesse sequer formular o que estava
sentindo. Eduardo apenas assentiu, e deu a menina de
olhos verdes para mim. Ela não fez muito barulho, apenas
veio para meu colo e me encarou, como se me estudasse.
— Má? — perguntou, como se fosse algo muito
importante.
— Sim, Mel. Sou Má — respondi. Não entendia
muito de bebês ou de crianças, mas pretendia tratá-la
como uma igual. Eu queria que ela entendesse que não
estava só no mundo.
Que, daqui por diante, eu estaria ali para ela.
O mundo que se danasse, mas eu iria proteger
aquela garotinha de quem quer que fosse.
— Má — ela disse de novo, e puxou uma mecha do
meu cabelo, e isso a fez rir. A dor não foi bem-vinda, mas
eu a aguentei, e ri com ela.
— Marília... — Eduardo chamou por meu nome, e
volvi os olhos para ele. Havia uma emoção em seu rosto
que não conseguia decifrar, e eu queria perguntar a ele o
que ele queria me dizer. Mas...
— Que família feliz. Pode largar a minha filha, por
favor?
A voz de Mariabella foi seca e dura, e do canto do
meu olho, consigo ver que ela tem um copo de martini em
uma das mãos. Quem sabe quantos ela já virou somente
naquela tarde. Ela sabia que estávamos vindo, e mesmo
assim, escolheu beber. Sabia que ela seria um obstáculo
enorme a ser enfrentado, mas eu não estava preparada
psicologicamente para a conversa que teria com ela.
— Mariabella... Vamos conversar — Eduardo disse,
vindo em minha direção.
— Você não pode ficar dando minha filha para
estranhos assim, Eduardo. Você não tem nenhum direito —
ela balbuciou.
— Acalme-se — eu disse. Com um gesto, dei Mel
de volta para Eduardo, com muito pesar em me separar
daquela garotinha. Não queria incitar mais a mãe dela, mas
precisávamos ter aquela conversa.
— Eduardo, fique aqui com Mel. Vou conversar com
Maria.
— Vão ficar bem?
Dei uma olhada para trás.
— Eu sei me cuidar.
E saí do quarto com ela, indo em direção a sala.
Olhei em volta, me armando de palavras.
— Não entendo Eduardo... Ele já escolheu coisa
melhor. — Ela me analisou de cima a baixo. Eu mantive
meu olhar firme, sem me amedrontar. Sabia que estava
lidando com possivelmente uma pessoa ébria, mas eu não
levava desaforo para casa. — E agora, arrisca a eleição
para uma foda. Ele não é homem de fazer isso.
— Eu não sei os motivos de Eduardo, mas quero
saber os seus. Por que mantém Mel fora da mídia?
Ninguém sabe que você tem uma filha, também.
— Bem, foi pedido de Eduardo... — ela começou
parecendo intimidada. — E por que eu deveria contar a
você? Eduardo me contou que é jornalista. Quer mesmo
este furo, estragar o futuro da criança?
— Não irei contar nada.
— Quem garante? Deveria estar assinando
declarações de segredo agora mesmo, não fazendo
perguntas.
— Acho que você vai ter que confiar em mim, Maria.
Ela bufou, e foi para uma mesa de drinks, se
servindo de mais um. Estava visivelmente abalada.
— Eu não espero que você compreenda... para
mim, toda mulher deveria ter o poder de escolha. A minha
foi tirada de mim. Se eu pudesse, esse problema nem
existiria.
— Você teria...?
— Eu descobri a gravidez tarde demais. Tive que
arcar com as consequências. Não me entenda mal. Eu
amo a minha filha. Mas eu aprendi a amá-la, não foi um
amor súbito e instintivo. Mas eu tenho que pensar na
minha carreira também. Eu não tenho o luxo de Eduardo,
que pode correr o mundo e não cuidar da menina. Eu
tenho que pensar em nós duas, no que é melhor para nós
duas. E o que é melhor para nós três é que ela fique
escondida para mais algum tempo.
— Vocês não veem o quão absurdo é isso? Vocês
simplesmente vão chegar um dia na mídia e falar, oops, eu
tenho uma filha agora? Como ela vai crescer, sabendo que
tem pais famosos, e não podendo contar esse segredo?
Como ela vai falar para os amigos, como vai poder chamar
pessoas em casa? Como vocês podem ser tão egoístas?
Nossas vozes se ergueram, e atraíram a atenção
das pessoas na casa. Eu estava indignada. Era muito
injusto com Mel. A bebê não podia ficar assim.
— Estou fazendo meu melhor! — Mariabella gritou,
jogando líquido de seu copo para todos os lados. — Estou
sendo uma boa mãe. Se pensa que pode fazer um trabalho
melhor, então que tente! Você não é a mãe de Mel!
Eu fiquei sem palavras, mas iria retrucar do mesmo
jeito quando senti a mão de Eduardo no meu ombro,
colocando-se um pouco na minha frente.
— Já chega, as duas. Vamos embora, Marília.
— Mas...
— Vamos.
E dada aquela ordem, eu dei um último olhar para
uma desalinhada Mariabella, e saímos dali, com Eduardo
segurando-me pela mão, guiando-me em direção ao carro,
meu coração batendo a mil.
Eu não me arrependia em nada.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Chegamos ao apartamento de Eduardo em novo
silêncio, dessa vez bem mais constrangedor. Eu havia
acabado de brigar com sua ex, e estava bem-preparada
para dar na cara dela, se Eduardo não tivesse interferido.
A raiva borbulhava dentro de mim, e eu queria
explodir.
Como eles podiam? Havia uma criança linda, pronta
para ser amada, e os dois simplesmente a ignoravam! Mel
estava ali, pedindo por amor, implorando pela atenção dos
pais, e Eduardo e Mariabella colocavam a carreira acima
da própria filha! Deixando-a de escanteio, colocando a filha
em segundo lugar! Eu nunca faria isso, eu nunca...
Chegamos ao apartamento de Eduardo, e eu joguei
a bolsa no sofá com força, pronta para jogar toda a minha
raiva nele.
— Como você pode...
— Eu sei que você tem muito a dizer — ele me
interrompeu, o que só me deixou com mais raiva. Mas
esperei ele terminar, apenas para refutar o que ele tinha,
porque ele aparentemente tinha elaborado um discurso
durante a viagem de carro. — Mas por favor, me ouça.
Cruzei os braços, pronta para descruzá-los e dar um
tapa na cara dele.
Ei, eu era menor do que ele, e apesar de não gostar
muito de violência, eu estava com muita raiva.
— Eu sei que você não consegue entender o motivo
de mim e Mariabella focarmos na nossa carreira e
ignorarmos a Mel, e francamente, nem eu mesmo gosto
disso. Eu gostaria de mostrar meu ponto de vista.
E apontou o sofá para mim. Eu me sentei, a
contragosto, e ele se sentou ao meu lado.
— Entenda que eu tive uma infância difícil. Eu sei
que você acompanhou parte disso, vendo-me na TV.
Acredite. Se minha família soubesse de Mel...
— Eles teriam a transformado em uma nova você?
— Ou pior. Uma filha de Eduardo e Mariabella? No
princípio, seria um escândalo e uma vergonha. Mas depois,
com certeza, seria transformada em uma oportunidade de
lucro. Eu não desejo isso para Mel. Conheço muito bem
como a mente de meus pais funcionam. Eles não
perderiam uma chance como essa.
— Bem, você poderia dizer "não" a eles. Trata-se de
sua filha, puta que pariu. Crie bolas. Aja como um homem
uma vez na sua vida.
Eduardo soltou uma risada gostosa ao me ouvir
xingando, e eu não entendi. Eu fiquei com apenas mais
raiva.
— Do que tanto ri?
— É engraçado ver você se importar tanto.
— Alguém tem que se importar! A mãe maluca dela
não se importa, pelo visto.
Eduardo pegou a minha mão e depositou um beijo
nela. Então começou a depositar beijos pelo meu pulso e
braço, e eu senti minha raiva dissolver em um sentimento
igualmente fogoso.
— Eu gostaria que fosse você a mãe de Mel, sabia?
— ele confessou em uma voz baixa, como se fosse um
segredo apenas para nós dois.
— Ah, certamente eu faria um trabalho bem melhor
— falei sarcasticamente, revirando os olhos, mas sabia que
me derretia contra ele. Havia algo em Eduardo que
acalmava o meu fogo, ao mesmo tempo em que me
incendiava por inteiro.
— Falo sério. — Eduardo segura meu queixo e olho-
o nos olhos, sentindo algo que não sabia estar lá antes. Ele
havia confiado seus segredos a mim. Talvez eu devesse
confiar um a ele.
— Eu também acho — confessei.
E nos beijamos, entregando-nos a uma atração que
apenas queimava entre nós.
— VAI FICAR AÍ PARADO, BONITÃO? — SORRI,
PROVOCANDO-O. Estava ciente de meu poder sobre ele,
e queria que ele perdesse finalmente o controle. Que
mostrasse a fera que estava dentro dele.
Afinal havíamos chegado ao final daquele jogo.
Ele avançou sobre mim na cama, e me beijou.
Derreti-me contra ele, enquanto meus quadris se
encontravam contra ele, pronta para recebê-lo. Suas mãos
buscaram minhas nádegas, e eu arfei contra a sua boca.
Em resposta, ele mordeu a minha língua.
— Bonitão… — reclamei. Ele não pareceu se
importar muito, passando a importunar-me em meu
pescoço, descobrindo pontos sensíveis que eu não sabia
possuir, explorando meus seios de maneira impiedosa.
Não pude evitar de que sons escapassem da minha boca.
Ele me encarou, sério, e tocou-me no meio das
pernas, incendiando-me por inteira.
— Você confia em mim?
— Que tipo de pergunta é essa? — eu não
reconhecia a minha própria voz. Era algo de outro mundo.
— Você confia em mim, Marília?
Eu o encarei. Não sabia o que pretendia, mas eu
sabia que não iria me machucar. Eduardo nunca fora outra
coisa senão honesto, sincero e confiante comigo. Eu queria
corresponder àquela confiança. Por isso, quis demonstrar
que estava pronta. Ergui uma mão ao seu rosto, e então
para suas costas, para provar que sim, estava pronta para
ser dele. E que marcaria ele para ser meu.
— Confio.
Ele agarrou minhas mãos repentinamente e as
amarrou, mas eu não esbocei surpresa. De fato, eu nem
fiquei com medo. Eu confiava nele. Se fosse para fazer
algo ruim, eu sabia que havia outros modos para me
machucar. Sorri para ele, como se perguntasse qual seria
seu próximo passo. Ele tirou outra fita de cetim, prendendo
minhas pernas, e então cobriu meus olhos.
Fiquei no total escuro, meu coração
descompassado, apenas com a sensação dos meus
batimentos cardíacos batendo nos ouvidos, o cetim
prendendo meus pulsos, e a sensação de que Eduardo
estava ali, sobre mim, podendo me manipular a seu bel-
prazer.
— Agora, Marília, o que eu devo fazer com você?
Eu engoli em seco. Apesar de confiar nele, apesar
de estar excitada, perder o controle daquela forma atiçava
algo do meu interior que não compreendia. Havia um
sentimento de ansiedade crescendo dentro de mim, por
não ter a minha visão, e perceber o quanto eu dependia
dela. Eu tinha a memória visual perfeita, e dependia muito
dos meus olhos para me lembrar das coisas.
Não ver era assustador. Muito assustador, mas…
Também muito excitante.
Eduardo começou de leve. Eu pude sentir o breve
toque de seus dedos em meus tornozelos, não mais que
um leve roçar de pele, poderia ter sido um encontro de
uma pluma. Mas eu sabia que ele estava a me testar,
provocando-me. Deixei escapar um esgar de susto, no
entanto. Ficamos ali por alguns segundos, enquanto ele
me torturava com seus toques breves e a temperatura de
sua mão me provocava, me atiçava… Ele passou de um
leve roçar para arranhar-me com suas unhas, indo de toda
a extensão das minhas pernas para meu estômago e
quadris, conhecendo cada parte da minha pele, parando
para explorar cada imperfeição da minha tez.
— Você tem um sinal bem aqui — ele disse,
tocando-me entre as curvas do meu monte de vênus, bem
onde minhas pernas se encontravam. Eu respirei fundo, e
não o respondi. — É muito erótico…
E, para a minha surpresa, ele beijou o local. A
mudança de dedos frios para o toque quente de seus
lábios mandou uma corrente elétrica do centro do meu
corpo para meu cérebro. Arrepiei-me por inteiro. Eu já
sabia o que ele podia fazer com a boca, e queria muito
repetir a experiência…
Mas Eduardo parecia convencido em torturar-me,
por isso voltou aos toques gelados de seus dedos.
Só que dessa vez, ele deu a atenção a uma parte
que eu queria muito: com um aperto forte, ele beliscou os
meus mamilos, enrijecendo-os, e me surpreendendo de
novo. Notei que ele usou algo para prendê-los, porque a
força era constante, mas eu não sabia o que era, dada à
minha venda. Eu só podia me contorcer, lutar contra as
amarras, e contra todas as carícias que eram depositadas
em meu corpo.
Eu só queria alívio.
Quando senti os lábios dele preenchendo o meu
vazio, penetrando-me, devorando-me por inteira, eu estava
pronta para ele. E eu gritei, não me importando com
vizinhos, com ninguém. No universo, apenas havia nós
dois. Ali, naquela cama, havia aquele era nossa própria
galáxia.
E eu vi estrelas.
Quando recobrei os sentidos, ele estava mais do
que pronto para mim. Ele retirou a venda e quando vi, ele
já tinha colocado a camisinha, seu membro riste e
vermelho, pronto para me penetrar.
Minhas pernas estavam abertas, e eu, mais do que
molhada e pronta. Eu o recebi por inteiro, e ele não teve
nenhuma piedade de mim. Ele me teve, como sua, como
se fosse a última vez.
Quando estava perto do clímax, ele pegou em
minha mão, e eu agarrei com força. Queria, mais do que
tudo, que demonstrasse o que estava sentindo no
momento. O quão forte era tudo aquilo.
Após gozarmos, ele se livrou da camisinha, e me
liberou das amarras. Eu fiquei parada um momento na
cama, recobrando o meu fôlego. Ele me abraçou, seus
braços me envolvendo. Senti as minhas costas se
encaixarem como peças de quebra-cabeças em seu peito,
como se ali fosse meu lugar. Como se pertencesse. Ele
pegou meus pulsos e esfregou uma sálvia neles, para que
não ficassem desgastados e mais machucados do que
estavam.
— Peço perdão. Não queria feri-la — ele disse ao
meu ouvido.
— Eu devia ter dito que estava doendo.
— Eu também devia ter percebido. Foi… intenso.
— Com você é sempre assim? Tão intenso?
Ele riu, aninhando sua cabeça em meu ombro. Se
aparentemente tinha intenções de me expulsar, não
parecia o querer fazer tão cedo.
— Você que é tão intensa. Eu estou apenas
tentando acompanhar o seu ritmo.
— Bonitão…
Ficamos em silêncio, apenas estudando o ritmo das
nossas próprias respirações. Por um momento, eu achei
que Morfeus o havia levado, quando ouvi de novo sua voz
em meu ouvido, uma pergunta quase desesperada.
— Você gostaria de passar mais tempo com Mel?
E, naquele momento pós-coito, eu sabia a resposta
para o meu dilema.
— É claro que sim.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
O tempo, como dizem, passa devagar quando se
diverte. Só que aqueles tempos eram diversamente
atribulados e atarefados e, além da minha agenda
completamente ocupada, eu ocupava minhas madrugadas
pensando em Marília, e meus poucos dias livres, com
minha filha.
Era um conto de fadas invertido. Eu estava vivendo
duas vidas. A primeira, para o público. Fazia
apresentações e consórcios e aparições públicas, e a
época dos debates presidenciais se aproximava. Se muito,
eu estava ansioso para tudo aquilo. Debater e mostrar
minha garra política… Eu queria mostrar o quão preparado
estava.
A segunda… quando eu retornava para casa, para
meu apartamento, ela estava ali, me esperando. Suas
coisas foram pouco a pouco aparecendo na minha casa.
Em pouco tempo, enchemos uma gaveta. Depois, um
armário inteiro. Logo, ela passava mais tempo em meu
“inferninho”, como descrevia, do que voltando para a casa
da amiga. Eu conheci a amiga dela, é claro. Fizemos um
jantar íntimo, e nos divertimos muito.
E claro, Mariabella cedeu em algo muito importante.
Marília me ajudou a redecorar o quarto. Este, a
pedido dela, não teve mais as portas trancadas. Com
alguma ajuda de Pedro e Cecília e mais alguns
funcionários, conseguimos atualizar o quarto para algo
mais sensível e que atendesse às exigências que minha
filha pedisse. E, claro, tudo com o toque de Marília. Era
óbvio que ela estava se divertindo mais com tudo aquilo.
Parecia outra pessoa. Ter um projeto a divertia, a animava.
E à noite…
À noite era apenas de nós dois.
Quando, claro, Mel não estava em casa.
Foi difícil convencer Mariabella a princípio. Ela não
queria ceder visitas, e inspecionou o quartinho com muito
cuidado. Depois, com um olhar de desaprovação, ela
entregou-me Mel com suas coisas, dizendo que iria viajar e
que deveríamos olhar por ela.
Não poderia ter ficado mais grato.
Um dia, eu já gostei muito de Mariabella. Eu
admirava sua personalidade forte e decidida. Agora, a
amargura parecia a consumir todas as vezes que nos
falamos. Era como se, por engravidá-la, eu houvesse
cometido uma falta gravíssima. Ela dizia que não podia ir à
praia nem usar roupas muito reveladoras, por causa das
cicatrizes da gravidez. Eu tentava compreender o lado
dela, mas…
Agora, apenas queria aproveitar a família que se
formava.
Quando cheguei ao meu apartamento depois de
uma reunião com meu comitê, encontrei-o misteriosamente
silencioso. Eu deixei minha mala no escritório e fui em
direção ao quarto de Mel, para encontrá-lo vazio. Nem
mesmo a babá que contratei estava ali. Muito estranho…
Encontrei a resposta no quarto.
Deitadas no quarto, aninhadas, estavam Marília e
Mel, dormindo juntas, enroladas no edredom, com um livro
de histórias jogado ao lado. Elas ressonavam baixinho, Mel
mais do que Marília, e a visão quase me fez bater uma foto
ali mesmo, caso não fosse o medo de quebrá-la.
Eu queria permanecer ali, voyeur daquele estado,
para sempre.
Meu celular vibrou, e temendo perturbá-las, fui até a
sala atender ao chamado.
Infelizmente, a realidade me atingiu ao ver o nome
na tela.
— Raissa — disse, simplesmente, sabendo que ela
não estaria feliz comigo.
— Agora lembra que tem noiva? Vai me deixar
esperando no restaurante por mais tempo?
Droga. Eu tinha esquecido que havíamos marcado.
— Não vou poder ir. Desculpe-me…
— Olhe, Eduardo — ela falou em uma voz baixa e
curta. — Eu sei que você tem outra. Tudo bem. Divirta-se
enquanto pode. Mas você tem que lembrar de suas
obrigações. Eu não vou querer dividir você depois do
casamento, depois do mandato. Faça suas festas, coma
suas putas. Já pensou se descobrem que o Presidente do
Brasil sai por aí traindo sua mulher? Você não quer que as
pessoas pensem isso. Tome seu rumo, Eduardo. E tome o
rumo certo.
E desligou o telefone, sem me deixar chance de
réplica.
Eu guardei o aparelho, ficando sem ar. A realidade
realmente estava batendo à porta. O sonho começava a se
desfazer.
— Eduardo?
A voz sonolenta de Marília veio até mim, do quarto,
e eu fui em direção a ela.
Permita-me, meu bom Deus, sonhar mais um
pouco...
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Ela era linda.
Eu não sabia definir o que sentia por Eduardo, mas
eu sabia exatamente definir o que sentia por aquela
garotinha maravilhosa que dividia o DNA com ele.
Mel era maravilhosa.
Como um ser tão lindo podia ter saído de um casal
tão preocupante? Eduardo e Mariabella podiam se odiar
agora, não ter mais nenhuma relação…, mas a filha deles
era a pessoa mais adorável do universo. O ser mais único
e fofo. Eu passava agora os meus dias babando quase que
literalmente em cima dela. Mariabella deixara a filha
conosco e “viajara”. Acho que ela queria umas férias de
tudo aquilo.
Bem, eu não queria umas férias de ser mãe.
Não que me considerasse uma mãe para Mel.
Estava mais para uma tia de primeira viagem, mas estava
fazendo o meu melhor. Ficara a meu cargo cuidar de Mel
enquanto Eduardo tinha todos os seus compromissos
importantes e, francamente, eu aproveitava cada segundo.
Mel era um encanto. Ela estava começando a falar, e era
muito curiosa. Perguntava, em sua fala de criança, e eu
tentava responder tudo, mesmo que ela não me
entendesse. Eu apenas queria correspondê-la como podia.
Eu me pegava pensando como seria seu futuro.
Com quantos anos ela daria seu primeiro beijo, se ela
fugiria de casa para encontrar namoradinhos, se teria a
liberdade para ser uma menina qualquer, mesmo com a
fama dos pais pesando sobre seus ombros. Eu conhecia
muitos filhos de famosos, e sabia que nem todos tinham o
mesmo destino dos pais. Claro, meu trabalho como
jornalista me fazia fuçar a vida deles de vez em quando,
mas sabia que muitos deles caíam no anonimato e lá
ficavam.
Enquanto brincava com suas mãos gordinhas
recordei-me das palavras de Eduardo. Do fato de que a
família dele jamais permitiria que sua filha vivesse uma
vida plena e segura, longe deles. Longe do estrelato. Eu
sabia que tudo o que ele fazia era em prol da filha, apesar
de não concordar com o fato de ele não a assumir. Agora,
eu sabia que mais do que tudo, era o que ele mais queria
fazer.
Só que isso colocaria tudo abaixo.
A carreira dele… a de Mariabella. A vida de Mel.
Eu tinha um segredo enorme em mãos.
Cabia a mim proteger a todos, agora.
Peguei meu celular para contar minha decisão à
Flávia, mas uma outra ligação entrou, repentina. Sabendo
que não poderia mais adiar aquilo, atendi.
A voz de Helena era fria como gelo.
— Marília, eu não posso mais esperar. Pelo amor de
Deus, diga-me que tem algo de interessante.
— Não tenho. Peço desculpas. — Tentei ser o mais
breve possível, enquanto fazia caretas para Mel. A risada
dela ecoou límpida, e meu sorriso apenas aumentou.
Quem diria que me livrar de um emprego tóxico era
tão libertador!
Helena ficou quieta por alguns segundos, e então
apenas disse.
— Sinto muito, então teremos que ir em frente em
nossa decisão de não renovar o seu contrato.
— Já foi tarde! — Fiz uma nova careta, e mais
risadas.
— Boa sorte em achar um novo emprego, Marília.
Adeus.
E desligou.
Só que eu não podia me importar menos. Peguei
Mel e a rodopiei, sentindo-me livre e feliz, enfim. Era como
se um peso enorme tivesse saído dos meus ombros.
Liguei para Flávia, que atendeu logo no segundo
toque.
— Você largou seu emprego?
— Sim. Decidi finalmente que ficarei com Eduardo e
Mel. É aqui que pertenço.
— Má… — Eu conhecia aquele tom. Era o tom de
sermão de Flávia, sempre que eu aprontava algo com o
qual ela não concordava. Como largar meu emprego e
viver com um macho de favor. — Você está louca?
— Você não vivia dizendo para eu largar aquele
emprego?
— Sim, mas Eduardo? Você vai ser a “outra”,
sempre? Criando a filha dele às escondidas? Ele tem uma
noiva, vai ser Presidente do Brasil… Ele ao menos disse
que ama você?
Aquilo me atingiu como um raio. Era tudo verdade o
que ela dizia. Eduardo nunca dissera a palavra amor para
mim, mas…
— Eu também nunca disse que o amava — eu
respondi para ela.
— E você o ama?
Meu coração batia, mas batia por Eduardo? Eu não
sabia o nome daquele sentimento. Eu gostava muito dele.
Eu amava sua filha. Amava ser fodida por ele. Mas amor?
Era isso que sentia, quando acordava antes dele na cama
de madrugada, e o observava dormir, querendo que aquele
momento nunca se findasse? Era amor quando eu o via
trabalhar no escritório, e queria puxar uma cadeira para
trabalhar ao lado dele? Era o que os poetas cantavam
quando ele puxava a manta do sofá para aquecer os pés
frios dele, e me deixar completamente nua?
Eu não sabia.
Eu nunca tive nada parecido com o que tinha com
Eduardo.
— Eu não sei. Mas eu gostaria que fosse.
Ouvi apenas a estática vinda do outro lado do
telefone, e Flávia cedeu.
— Apenas tente acertar seus sentimentos, e
converse com ele. Ele também tem que fazer parte dessa
decisão.
— Eu meio que mandei minha chefe e o emprego se
ferrarem. Mas é tudo bem. Eu arranjarei outro.
— Sei que consegue. Bem, vou desligar. Tchau
tchau, Má.
E com um alívio e uma decisão no coração, fiquei na
sala, entretendo Mel, esperando Eduardo chegar. Estava
ansiosa, elaborando discursos na minha cabeça. Queria
contar imediatamente para ele o que se passava, o que eu
decidira, que estava pronta para a próxima fase daquele
relacionamento. E que se fosse para ser segredo, que
assim fosse. Eu iria arranjar outro emprego, e cuidaria de
Mel. Aquele apartamento seria nosso refúgio.
Foda-se revista, foda-se emprego, foda-se Helena.
Eu ia viver o presente.
Só que quando Eduardo entrou, sua expressão não
era das melhores. E ele estava acompanhado de outra
cara feia, que eu apenas conhecia da mídia. Mas minha
memória perfeita trouxe imediatamente a conexão.
Raissa Monteiro.
A noiva de Eduardo.
— É essa a sua nova puta, Eduardo?
CAPÍTULO VINTE E SETE
— É essa a sua nova puta, Eduardo?
Virei-me imediatamente para trás, e com o dedo em
riste, falei para Raissa:
— Não fale assim de Marília, nem em frente à Mel.
— Falo assim de putas e para filhas de putas.
Meu sangue ferveu na hora. Estava pronto para
cometer um crime quando a mão de Marília pousou no
meu braço. Eu podia sentir que a chama dela também
queimava, só que, com Mel em seus braços, não havia
muito o que podíamos fazer na hora.
Perguntei-me mentalmente o quão bem Pedro sabia
esconder corpos…
Depois me culpei pelo pensamento. Não era culpa
de Raissa. Era verdade que nosso casamento era uma
mentira, mas eu fora traíra em ir pelas costas dela, e me
apaixonado por outra pessoa. Eu devia ter terminado tudo
antes de perseguir um relacionamento com Marília. Só que
as coisas aconteceram tão depressa...
Eu devia ter sido melhor.
— Escute, Raissa… — tentei apelar para o lado são
dela.
— Escute você, Eduardo. Eu não estou aqui para
ser vítima de um boyzinho que acha que pode fazer o que
quer na hora que quer. Você não é mimado, Eduardo. Você
sempre foi muito bem-educado. E agora apronta uma
dessas? Com uma — ela mediu Marília de cima abaixo. —
Mulherzinha dessas? E quem é o bebê? É dela? Jesus
Cristo, Eduardo, como você me aparece com uma filha…
— Raissa...
— Não se preocupe. Vamos consertar tudo. Não vai
ser uma golpista qualquer, uma zé-ninguém, que vai
chegar e destruir tudo que você construiu depois de tantos
anos. Pense, Eduardo. Pense. Você não quer desistir de
tudo depois de chegar tão longe.
A raiva vinha em ondas. Por tudo aquilo que eu
passei, de minha infância, por todos os shows que eu
participei, por todos os aniversários em que comemorei
trabalhando, por toda a infância que passei debaixo dos
holofotes. Olhei para Marília e para a minha filha, e
sabendo que encontraria apoio ali, eu me decidi naquele
momento.
Foda-se tudo.
— Raissa, vá embora.
— O quê?
— Você não é bem-vinda nesta casa.
— Eduardo, eu sou a sua noiva.
— Não é mais. Estou terminando o noivado. Sinto
muito pelo que fiz passar, mas eu amo Marília, e quero
construir um futuro com ela.
Ouvi um arfar de ambas, mas a reação das duas foi
completamente diferente. Raissa ficou apenas mais
possessa, e Marília ficou ao meu lado, dando a mão para
mim. Eu conseguia sentir a sua força, seu fogo interior.
Raissa, se possível, estava a espumar.
— Está estragando tudo, Eduardo! Tudo por ela?
— E por tudo o que ela significa. Agora, saia dessa
casa.
Raissa parecia não aguentar mais de raiva. Marília
ofereceu suas palavras finais.
— Você e a família dele nunca o entenderam…
— E você, empregada, entende?
A raiva que se apossou de mim foi tamanha que eu
poderia ter quebrado algo. Marília, ao contrário de mim,
apenas ficou quieta. Ela segurou Mel com o braço,
posicionando-a melhor.
— Prefiro mil vezes limpar merda a passar um dia
na sua pele, filha da puta.
Raissa ergueu o braço para desferir um tapa contra
Marília, mas eu fui mais rápido. Segurei-a, com mais força
do que pretendia, era verdade, mas fiquei entre ela e a
minha família. Minha ex-noiva, agora desarmada, ficou
sem chão, e sem saber o que fazer. Apenas encarou nós
dois, o rosto vermelho, e deu as costas.
— Você vai se arrepender disso! — foram suas
últimas palavras.
E fechou a porta atrás de si com força.
Ficamos ali parados, com o furacão do resultado. Eu
ainda tinha a respiração descompassada, e estava pronto
para socar alguém, quando senti algo em minhas costas.
Era Marília, aninhada junto a mim com Mel. Volvi-me para
abraçá-la, sentindo seu calor intenso.
Ela me beijou com paixão.
— Bonitão… — Marília disse para mim, e eu pude
ver lágrimas em seus olhos. — É verdade o que disse?
Você realmente quer ficar comigo?
— Sim — eu sentia isso, mesmo. — Marília, eu não
tenho palavras para dizer o quanto você é especial para
mim. O quanto eu estou atraído por você, o quanto você
mudou a minha vida… Eu achava que tinha tudo
planejado, que tinha um caminho traçado e pronto. Minha
vida seria perfeita. Só que não era. Antes de você, eu não
percebia o quanto eu era infeliz. O quanto estava
conformado, o quanto estava acomodado na pele de
“Eduardo Albuquerque”. E agora…
Eu me abaixei, fiquei de joelhos na frente dela, para
o susto de ambos.
— Eu quero ser apenas Eduardo. O seu Eduardo.
Para você e Mel apenas, nossa família.
Eu vi seus olhos marejarem, e ela se abaixou, ainda
segurando Mel.
— Eu também te amo, Eduardo. É o que eu mais
quero na vida, ficar com você… Quero ficar com você e
Mel. Eu a amo como minha própria filha.
E nos beijamos, abraçados. Não importasse quais
tempestades viessem pela frente, nós as enfrentaríamos,
sabendo que seríamos mais fortes juntos.
CAPÍTULO VINTE E OITO
E as tempestades vieram, certeiras. Eu sabia que
não poderíamos fugir por muito mais tempo. Estávamos no
sofá, Eduardo com o notebook do trabalho e eu apenas no
celular, procurando por empregos e vasculhando a internet
quando vi a notícia.
Ela atingiu a nossa casa como um raio.
— Eduardo… — Mostrei o telefone para ele. O
tópico estava começando a viralizar nos trendings do
Twitter e Facebook.
Eduardo pegou minha mão e a segurou, por tempo
que pareceu longo demais.
O telefone começou a tocar, sem cessar. Cecília e
Pedro apareceram na porta, esbaforidos, enquanto eu
vasculhava as redes sociais para descobrir a fonte daquilo.
Só que, pelo meu instinto de jornalista, em meu íntimo eu
já desconfiava de algo.
O site da “Quero Mais?!” piscava com a notícia
estampada em letras vermelhas e com a foto de alguns
dias atrás.
— A culpa é sua — as palavras de Cecília vieram
mordazes e ferozes. Eu sabia que ela tinha raiva, e minha
culpa vinha acumulando-se tanto no estômago que eu
tinha medo de abrir a boca e vomitar bile no tapete. — A
culpa é sua, eu avisei a vocês que isso iria acontecer…
— Cecília — a voz de Eduardo se ergueu. — Isso
iria acontecer uma hora ou outra.
— Eu trabalhei tanto para que isso não
acontecesse! E agora Marília chega e estraga tudo!
— Cecília… você não acha…
Eu sabia o que ela queria dizer, mas eu não tinha
forças para me defender. Apenas aceitei, porque de
alguma forma, eu queria aquela culpa. Queria ser punida.
— Você acha que eu vazei a informação para a
revista.
— Não é óbvio? Você trabalhou para eles.
Um bolor de ansiedade desceu minha garganta, e
ele alimentou algo dentro de mim. Algo que explodiu em
meu estômago, e alimentou meu fogo interior, minha raiva,
e me incendiou.
Eu não iria levar aquele desaforo.
Como ela ousava?
— Eu nunca iria trair Eduardo desse jeito. Eu
prometi a ele que iria cuidar e amar Mel como minha
própria filha. Eu jamais prejudicaria minha família.
Cecília deu de ombros.
— Uma oportunista faria de tudo por dinheiro.
Seduzir um homem rico, dar seus segredos para uma
revista… Quanto eles te pagaram?
Eduardo se ergueu, pondo-se entre mim e Cecília.
— Não vou permitir que continue falando assim de
Marília, Ceci. Por mais que não acredite nela, vai ter que
continuar acreditando em mim. Eu acredito que não foi ela
que vazou a história.
— Por que você acha isso?
— Porque fui eu quem vazei.
O silêncio foi maior que um trovão. Até eu mesma
fiquei chocada. Eduardo não discutira aquilo comigo, e
tomara aquela decisão sozinho. Aquilo me magoava um
pouco, ao mesmo tempo que uma pequena fonte de
orgulho borbulhava em mim. Ele finalmente tomara uma
ação por si só, e não destinado por outras pessoas.
— Por quê?! — foi o grito desesperado de Cecília.
Eu segurei a mão de Eduardo, e a encontrei fria. Eu sabia
o quão difícil havia sido aquela decisão para ele, e no final,
eu tinha orgulho dele.
— Porque, Cecília, eu não sou mais um peão dos
Albuquerque. Eu sou Eduardo, e se as pessoas vão me
amar ou me odiar, eu quero receber esse amor ou esse
ódio plenamente como eu mesmo. E quero poder amar a
minha filha publicamente. E amar Marília publicamente. —
Ele se virou para mim. — Eu não vazei nada sobre nosso
relacionamento publicamente ainda, estava esperando seu
consentimento para vir a público com isso. Eu iria
conversar com você sobre isso. Você não precisa aparecer
na mídia, se não quiser.
Eu fiz um gesto com a cabeça, assentindo.
— Não, eu quero. Quero estar ao seu lado. Não vou
virar uma socialite, mas quero te apoiar…
Cecília revirou os olhos, mas Pedro finalmente se
pronunciou.
— Ceci, por favor. É a decisão de Eduardo.
Respeite-a, ou retire-se.
— Pedro…
Tentei alcançá-la, sabendo que ela estava prestes a
sair da vida de Eduardo. Eu sabia que ela era muito
importante para Eduardo, que era uma amiga muito
preciosa e coordenadora de campanha, e que eu não
gostaria de ser o foco de uma desavença entre eles.
— Cecília… Precisamos de você — pedi, a voz
baixa. — Você é muito importante para Eduardo. E quem
mais para lidar com essa situação toda, criar um discurso
para ficarmos em cima da situação e sairmos vitoriosos?
Cecília me olhou de cima a baixo, como se me
medisse, e simplesmente suspirou.
— Bem, não é como se eu não tivesse um discurso
preparado para esse momento desde o momento em que
Mel foi concebida…
Eu e Pedro rimos, mas eu pude ver que Eduardo
ainda estava tenso, e, portanto, eu o abracei.
— Vai ficar tudo bem, bonitão.
Ele correspondeu ao meu abraço, e somente eu
pude ouvir a resposta baixa dele.
— Eu realmente espero que sim.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
“EU ADMITO TER TIDO RELAÇÕES COM
MARIABELLA E DELA TER NASCIDO UM FRUTO…”
“MINHA FILHA SE CHAMA MELISSA NOGUEIRA
ALBUQUERQUE... “
“EU TERMINEI MEU NOIVADO COM RAISSA…”
“ESTOU EM UM RELACIONAMENTO NOVO…”
Aquelas notícias foram o acontecimento do ano,
mas é claro, ainda tinham as eleições. O que mais
podíamos contar era com a memória curta do povo
brasileiro. Claro, as notícias nunca seriam apagadas, tudo
o que foi dito não poderia ser desdito, mas enquanto não
acontecesse perto das eleições, a esperança era que as
pessoas simplesmente se esquecessem do escândalo e
votassem em Eduardo pela sua plataforma de governo e
seu carisma.
Ao menos, era o que eu esperava.
Eu consegui um emprego. Bem, era o de se esperar.
Ajudar na campanha de Eduardo era um emprego de
período integral. Havia muito o que se fazer para uma
jornalista com o meu currículo. Eu auxiliava na criação de
discursos para Eduardo, e mais ainda quando ele
precisava relaxar. Tentava conter a mídia e algumas
aparições públicas. Prepará-lo para o que viria.
E bem, Outubro chegou.
Fomos juntos votar. Ainda não tinha me acostumado
com a sensação dos olhos da mídia voltados a mim, mas
segurei a mão de Eduardo o tempo todo. Eu sabia o que
falavam de mim. Do que me chamavam em comentários
anônimos da internet. Só que eu não me incomodava. Que
falassem. Não era a minha vida real que eles conheciam.
Eu privatizei as minhas redes sociais, eu voltaria com elas
depois das eleições. Porque, acredite em mim, eles me
procuraram. E não foi exatamente com comentários gentis
que vieram falar comigo.
Mas eu aguentaria. Por Eduardo, por Mel.
E sairíamos vitoriosos daquilo tudo.
Tinha uma parte feliz, contudo. Mel não era mais um
segredo. Nossa filha agora podia nos visitar e podíamos
sair com ela em público. Eu ouvira brigas de Eduardo com
os pais, para que eles não se metessem na vida da filha,
mas aquilo ainda era algo em desenvolvimento. Todos os
ânimos estavam exaltados devido às eleições. Tudo
mudaria depois daquele dia fatídico.
Quando Eduardo votou, eu vi os mesários e o
público sorrirem para ele. Ele realmente cativava as
pessoas por onde passava. Realmente me orgulhava.
Ficamos um pouco ali, falando com algumas pessoas, mas
depois voltamos para nosso “inferninho”. Nossa equipe de
campanha estava ali, prontos para ver o resultado.
Juro, nunca fiquei tão nervosa na vida. Até a hora de
apuração de votos, eu andei o apartamento inteiro, de cabo
a rabo, mas não conseguia ficar parada em frente aos
monitores instalados provisoriamente.
Eduardo ficou ali, parado no sofá, um copo de
uísque ainda cheio ainda em mãos. Como se apenas
precisasse de algo para ficar apertando. Pedro ficou ao seu
lado, como uma rocha, sem falar. Cecília me acompanhava
na andança, coordenando as pessoas, mandando-as para
todos os lados. Flávia também viera no meio da tarde, e
ela estava apenas vendo o circo pegar fogo.
Quando a apuração começou, você poderia ouvir
uma agulha cair na sala, pelo silêncio que se seguiu. Acho
que até mesmo Cecília estava prendendo a respiração.
— Temos o Nordeste — Cecília arfou.
— Mas perdemos o Sul — Pedro balançou a
cabeça.
Cada novo estado era uma nova surpresa. E
quando finalmente o resultado foi dado…
O silêncio que se seguiu foi aterrorizante.
— Perdemos — Cecília se jogou no sofá, as pernas
subitamente fracas. — Perdemos. — Eu conseguia ver
lágrimas em seus olhos. Já eu, a raiva começava a se
formar. Não era justo. Eduardo se esforçara tanto… Ele
realmente queria aquilo. Corri até ele, tentando encarar
seus olhos, descobrir o que ele estava sentindo.
Eduardo colocou o copo de uísque na bancada, e se
levantou.
— Perdemos esta batalha — ele ergueu a voz.
Apenas eu, que a conhecia tão bem, podia notar o leve
tremor de ansiedade nela. — É verdade que houve
grandes obstáculos, mas não nos daremos por vencidos. A
mancha das notícias estava muito fresca na mente das
pessoas, mas daqui a quatro anos, elas vão se acostumar
com essa nova ideia. E teremos um novo Brasil. O Brasil
que iremos mudar… Esses 40% de aprovação mostra que
existe um Brasil que quer mudar. E vamos conseguir.
Ele veio até mim, e me abraçou. Somente eu
conseguia ver que ele tremia. Disse a ele:
— Vamos formular a próxima campanha. Temos
tempo. Todo o tempo do mundo.
Ele me apertou mais ainda.
— Vamos ficar juntos?
— Para sempre.
EPÍLOGO
QUATRO ANOS DEPOIS…
Posso dizer que sou um homem evoluído, mas devo
dizer que ver o Brasil afundar em um governo abismal do
meu aliado, e não poder fazer nada sobre isso, me dava
um sentimento de ambos “eu avisei” e “eu poderia ter feito
melhor”.
Era exatamente por isso o motivo de eu estar me
candidatando de novo.
Quatro anos mudava um homem. Era o que
conseguia ver no espelho. Eu tinha mais rugas, e mais fios
grisalhos começavam a aparecer. Também menos fios em
minha cabeça… O que era preocupante. Eu ainda era um
homem vaidoso. Queria estar tão belo quanto a minha
companhia de braço…
Falando em braço, olhei para a minha mão e sorri. A
aliança dourada brilhava, assim como as memórias do dia
em que tornei Marília minha esposa. E mesmo que eu me
tornasse Presidente, aquele seria o terceiro dia mais feliz
da minha vida. Perdendo apenas para o nascimento de
Mel, e meu casamento com Marília.
E agora, eu a levaria para jantar, por isso estava em
frente ao espelho, me arrumando. Ela disse que tinha algo
a me contar, e eu apenas estava ansioso para descobrir o
que Marília havia aprontado dessa vez. Ela apenas havia
me dito para usar roupas leves, porque íamos sair com
Mel, e que era para eu “estar preparado para grandes
emoções”.
Bem, viver com ela era viver uma vida cheia de
grandes emoções, e eu nunca me arrependi de nada.
Saí do banheiro do quarto, e para a minha surpresa,
encontrei-o completamente mudado. Havia um caminho
feito de tecidos, e o segui em direção à sala. Como havia
feito uma vez, havia uma tenda na sala, com os móveis
afastados para criar espaço. Eu conseguia ouvir as risadas
abafadas da minha esposa e filha, e o sentimento de
felicidade apertou o meu peito. Elas eram muito cúmplices,
e eu podia apostar que qualquer que fosse o segredo de
Marília, Mel com certeza sabia.
Fui em direção à tenda, e entrei nela.
— Ô de casa…
— Eduardo, venha me ajudar a punir esta pestinha.
— Marília estava ali, com um vestido branco e aéreo,
abraçada a Mel, que agora tinha acabado de completar
seis anos. Minha filha era um amor, e seus cachinhos
tinham ficado mais escuros, da mesma cor de seus olhos.
E eu a amava tanto.
— O que ela aprontou agora?
— Ela tem algo a contar a você…
— Papai! — Mel foi em minha direção, e eu percebi
que ela tinha uma caixinha em mãos. Ela me deu, e eu
fiquei ali, sem entender.
— Mas não é meu aniversário — respondi.
— Apenas achei que você merecia um presente pré-
eleição. Algo para ajudar com os nervos. — Marília sorriu,
mas eu conseguia ver que era de malícia. Eu só esperava
que não fosse algo que usássemos na cama, porque
estávamos em frente da nossa filha. Eu sabia que Marília
tinha bom senso…
Eu abri a caixinha.
E tinha dois sapatinhos dentro.
— Marília?
— Ainda não sei o sexo, estou com dois meses… —
ela começou a se explicar, mas eu ainda estava em
choque.
— Você não quer dizer que…
— Você vai ser pai de novo, Eduardo.
A realização veio em ondas, assim como a emoção.
Mel me encarou com seus olhinhos grandes, e eu senti as
lágrimas virem.
— Se a mídia soubesse que você é tão chorão… O
que eles diriam? — disse Marília ao me abraçar junto a
Mel, enquanto eu me sentia enfim completo, enfim com o
futuro indo em direção ao lugar certo.
Finalmente o final feliz que eu desejava.
FIM