74 158 PB
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MÍDIA
E CONSUMO
Editoras-chefes: Gisela G. S. Castro e Tânia M. C. Hoff
CATALOGAÇÃO NA FONTE
CDU – 659.1
ESPM
Rua Joaquim Távora, 1240 Vila Mariana São Paulo SP Brasil
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Comunicação, mídia
e consumo
Publicação quadrimestral
ano 21 • volume 21 • número 61 • mai./ago. 2024
versão eletrônica da revista disponível em:
http://revistacmc.espm.br
Conselho Editorial Adriana da Rosa Amaral, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos; Afonso de Albuquerque, Universidade Federal
Fluminense – UFF; Alberto Efendy Maldonado Gómez de la Torre, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos; Alexandre Almeida Barbalho,
Universidade Estadual do Ceará - UEC; Amparo Huertas, Universidat Autònoma de Barcelona, Barcelona, Espanha; Ana Carolina Damboriarena
Escosteguy, Universidade Federal de Santa Maria - UFSM); Ana Carolina Rocha Pessoa Temer, Universidade Federal de Goiás - UFGO; Ana Cláudia
Gruszynski, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; Bruno Roberto Campanella, Universidade Federal Fluminense - UFF; Beatriz
Brandão Polivanov, Universidade Federal Fluminense - UFF; Claudia da Silva Pereira, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC/RJ;
Cristiane Freitas Gutfreind, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS; Fabio Fonseca de Castro, Universidade Federal do Pará
- UFPA; Fátima Cristina Regis Martins de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ; Fernanda Martinelli, Universidade de Brasília;
Fernando Antônio Resende, Universidade Federal Fluminense - UFF; Francisco Rüdiger, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/
RS; Guilherme Nery Atem, Universidade Federal Fluminense - UFF; Gustavo Daudt Fischer, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos; Herom
Vargas Silva, Universidade Metodista de São Paulo - UMESP; Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE;
Janice Caiafa Pereira e Silva, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; João Batista Freitas Cardoso, Universidade Municipal de São Caetano
do Sul - USCS; Jorge Cardoso Filho, Centro de Artes, Humanidades e Letras / Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB; Jose Carlos
Souza Rodrigues, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC/RJ; Juliana Colussi, Universidad del Rosario - Bogotá, Colômbia; Karla
Regina Macena Pereira Patriota, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE; Laan Mendes de Barros, Universidade Estadual Paulista - UNESP;
Laura Loguercio Cánepa, Universidade Anhembi Morumbi - UAM; Liv Rebecca Sovik, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; Luis Mauro
Sá Martino, Faculdade Cásper Líbero - FCL; Marcelo Kischinhevsky, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ; Márcio Souza Gonçalves,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ; Maria Cristina Mendes da Ponte, Universidade Nova de Lisboa - Lisboa, Portugal; Maria Inês Carlos
Magno, Universidade Anhembi Morumbi - UAM; Marialva Carlos Barbosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; Marta Rizzo García,
Universidad Autónoma de la Ciudad de México - UACM, Ciudad de México, México; Micael Maiolino Herschmann, Universidade Federal do Rio
de Janeiro - UFRJ; Patricia Cecilia Burrowes, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; Raquel Marques Carriço Ferreira, Universidade Federal
de Sergipe - UFS; Regiane Miranda de Oliveira Nakagawa, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; Regina Rossetti, Universidade Municipal de
São Caetano do Sul - USCS; Ricardo Ferreira Freitas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ; Rogério Luiz Covaleski, Universidade Federal
de Pernambuco - UFPE; Ronaldo George Helal, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Rose de Melo Rocha, Escola Superior de Propaganda e
Marketing - ESPM; Roseli Aparecida Figaro Paulino, Universidade de São Paulo - USP; Simone Luci Pereira, Universidade Paulista - UNIP; Sofia
Cavalcanti Zanforlin, Universidade Católica de Brasília - UCB; Suely Fragoso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; Valquíria
Aparecida Passos Kneipp, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN; Veneza Mayora Ronsini, Universidade Federal de Santa Maria -
UFSM; Yuji Gushiken, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.
Sumário
341 Climate Change and Social networks: The use of Instagram and TikTok
among secondary-school students in relation to sustainability
Laia Palos Rey
Miriam Diez Bosch
Verónica Israel Turim
A R T I G O
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2900
A R T I G O
Introdução
A centralidade da comunicação midiática no mundo social exige que ul-
trapassemos a noção de meios como meros veículos de mensagens e os
compreendamos como elementos fundamentais no processo da comu-
nicabilidade da cultura e de seus valores. Nesse sentido se faz pertinente
compreender a relação das infâncias com a cultura da mídia (KELL-
NER, 2001) que, por meio de uma pedagogia cultural (STEINBERG;
KINCHELOE, 2001), tem ocupado importante papel na formação de
crianças. Cotidianamente, produtos midiáticos - como anúncios publi-
citários, filmes, notícias, para citar alguns - comunicam representações
sociais que influenciam modos de ser, pensar e estar no mundo. Nes-
se processo, reproduzem e efetivam relações de poder na construção e
veiculação de imagens que (in)visibilizam determinados grupos sociais
(GOMES BARBOSA; SOUZA, 2018).
Tratando-se em específico da publicidade brasileira, a falta de diver-
sidade social tem sido evidenciada por mapeamentos como o realizado
pela pesquisa TODXS1 (ONU, 2022). Esse estudo revelou por exemplo
que no ano de 2021: apenas 27% dos anúncios foram protagonizados
por mulheres negras; LGBTQIAP+ apareceram em 0% dos anúncios;
pessoas com deficiência apareceram em apenas 1,2% da publicidade; e
62% das protagonistas dos anúncios são mulheres brancas, magras, com
curvas acentuadas, cabelos lisos e castanhos.
Dado esse contexto apontado pela pesquisa, entendemos como fun-
damental considerar que esse cenário pouco representativo reforçado
pela comunicação publicitária afeta não só adultos mas também crian-
ças, exercendo influência na construção das suas subjetividades, bem
como em suas relações sociais. Mas também compreendemos ser igual-
mente importante considerar o potencial dos mais jovens como sujeitos
críticos e participativos da cultura da mídia (BUCKINGHAM, 2007).
Nesse sentido, é preciso levar em conta as perspectivas das crianças so-
bre os usos e as apropriações que elas fazem a partir da publicidade,
2 Optamos por usar o termo “crianças” ao longo deste artigo quando nos referimos aos copartici-
pantes da pesquisa, tomando como base a Convenção dos Direitos da Criança, promulgada no
Brasil pelo Decreto N° 99.710 de 21 de novembro de 1990, que define como criança todo ser
humano com menos de dezoito anos de idade.
A R T I G O
O potencial do uso da publicidade como suporte
pedagógico
Considerar a relevância das práticas comunicativas no âmbito dos
processos educativos se faz pertinente em um mundo em que a comu-
nicação tem cada vez mais ocupado local de destaque ao influenciar
modos de ser e novas maneiras de estar junto (MELO; RIBEIRO, 2023).
Uma perspectiva reforçada por Martín-Barbero (2008), que reconhece
o importante papel desempenhado pelos meios de comunicação na for-
mulação dos desejos e nas formas de pertencimento dos mais jovens,
disputando o lugar que, por muito tempo, foi apenas das instituições
familiares, religiosas e escolares.
Embora a escola, muitas vezes, seja concebida como o único lugar
legítimo do saber, por ter ocupado esse papel durante séculos (MAR-
TÍN-BARBERO, 2014), é preciso atentar-se para a atuação da mídia
como
uma espécie de “escola paralela” mais interessante e atrativa que a ins-
tituição escolar, na qual crianças e adolescentes não apenas aprendem
coisas novas, mas também, e talvez principalmente, desenvolvem novas
habilidades cognitivas, ou seja, “novos modos de aprender”, mais autô-
nomos e colaborativos, ainda ignorados por professores e especialistas.
(BÉVORT; BELLONI, 2009, p. 1083-1084).
A R T I G O
Concordamos com Hoff (2007) que ambos os caminhos trabalham
com extremismos e dificultam uma proposta pedagógica emancipatória
por meio da comunicação. Nesse sentido, é fundamental a compreensão
de que a mídia está inserida “no cotidiano do educando, servindo-
-lhe de referência para as práticas de interação social e afetando-lhes
os processos de subjetivação” (HOFF, 2007). Nesse raciocínio, se não
podemos ignorar o fenômeno midiático e sua influência nos processos
educativos, podemos incorporá-lo, problematizá-lo, usá-lo como suporte
pedagógico.
Dada a sua relevância “enquanto produto da indústria cultural vei-
culado pela mídia” (DE BARROS FILHO, 2001) e o grande espaço
que ocupa na vida cotidiana, a publicidade tem o potencial de cons-
truir uma relação entre o saber formal e o repertório de experiências
dos educandos. O fácil acesso, a linguagem simples, a sintonia com as
visões de mundo vigentes são características do texto publicitário que,
segundo Hoff (2007), facilitam seu uso como suporte pedagógico. Tra-
zer a publicidade para o espaço educativo não só amplia a percepção
dos educandos como os incentiva a um olhar crítico para além da sala
de aula. Não sendo possível – nem desejável – aderir de forma acrítica à
comunicação publicitária, muito menos repudiá-la de forma apocalípti-
ca, lê-la e escrevê-la de forma crítica, criativa e responsável socialmente
se desenha como uma possibilidade para que educandos aprofundem
suas habilidades de leitura de mundo.
Uma possibilidade que, alinhada à perspectiva de mídia-educação
de Fantin (2011), tem o potencial de trabalhar habilidades em quatro
dimensões: i) cultural: ampliação do repertório cultural por meio da
discussão de temas sociais que atravessam a publicidade; ii) crítica:
competência de avaliação ética e estética do conteúdo publicitário; iii)
criativa: competência de expressar-se e produzir informação de maneira
crítica e responsável; iv) cidadã: competência de promover a conscien-
tização social e estimular o uso de recursos de mídia para construção de
narrativas voltadas à transformação da realidade.
A R T I G O
Pesquisa-ação: aportes metodológicos para proposta
de literacia publicitária entre crianças
No horizonte teórico-metodológico desta pesquisa, esteve contem-
plada a perspectiva de convergência entre comunicação e educação
como campo teórico-prático transdisciplinar (FANTIN, 2011). Nesse
sentido, além da pesquisa bibliográfica (GIL, 2002) que nos ajudou a
construir um espectro de literatura científica relevante sobre a relação
entre publicidade e educação, adotamos pressupostos da pesquisa-ação.
Essa escolha foi fundamentada na compreensão de que essa corrente
teórico-metodológica oferece subsídios para investigações no campo da
Comunicação que tratam dos usos e apropriações que crianças fazem
da publicidade, possibilitando o envolvimento social do pesquisador
com a comunidade coparticipante do estudo em uma proposta política
de produção coletiva de conhecimento em prol da transformação so-
cial. Sendo assim, a pesquisa-ação nos ofereceu importante aporte para
construir uma pesquisa com crianças, ouvindo-as a partir delas próprias,
entendendo-as como atores sociais (SARMENTO, 2008) e, sobretudo,
como parceiras no processo investigativo.
Ademais, os pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa-ação
nos forneceram suporte para que conseguíssemos estabelecer uma co-
municação dialógica (FREIRE, 2001) entre crianças e adultos numa
dinâmica de produção de conhecimento de modo coletivo e coopera-
tivo (THIOLLENT, 2022), em que todos tiveram a possibilidade de
aprender e (se) transformar. Nesse sentido, “possibilitando o reconhe-
cimento de outros saberes na ecologia do conhecimento para além
daquele impregnado pela racionalidade científica hegemônica” (SOU-
SA; OLIVEIRA, 2018).
No entanto, como ressaltam Lumárya Sousa e Thaiane Oliveira
(2018), nessa proposta política de transformação inerente à pesquisa-
-ação, é importante levar em conta os aspectos estruturais do sistema
social que limitam as possibilidades de mudança. Desse modo, as autoras
sublinham que é preciso ter em mente que, muitas vezes, as transforma-
ções evocadas pela pesquisa-ação não ocorrerão na alteração profunda
3 Fazem parte dessa série as oficinas: “Quem somos a partir do que consumimos?”; “O que é
publicidade: suas características e estratégias?”; “O que eu mudaria na publicidade? Reflexões
sobre representação e representatividade”; “Usando a publicidade para transformar”.
4 A realização dessas oficinas faz parte das atividades de extensão desenvolvidas por professores,
estudantes de graduação e de pós-graduação integrantes do OPSlab - Laboratório de Estudos
e Observação em Publicidade, Comunicação e Sociedade da Universidade Federal de Mato
Grosso.
5 Membros do grupo de pesquisa OPSlab - Laboratório de Estudos e Observação em Publicidade,
Comunicação e Sociedade.
6 Os integrantes do OPSlab são estimulados a registrarem suas im-
pressões sobre as oficinas educomunicativas seguindo o
modelo: https://docs.google.com/document/d/1rVZthrmNr1UsVUmqtNuYK4_yWXSWx84P/
edit?usp=sharing&ouid=110224325027711667371&rtpof=true&sd=true
A R T I G O
“O que eu mudaria na publicidade?” Oficina
educomunicativa com crianças
A oficina, com duração de duas horas e meia, foi composta por três ati-
vidades que mobilizaram estratégias para comunicação dialógica, como
discussão em grupo, dinâmicas lúdicas e aplicação de exercício prático.
como por exemplo: “qual a cor da pele?”; “qual a altura?”; “qual a cor
dos olhos?”; “qual a idade?”; “como são os seus cabelos?”; “onde mo-
ram (em que cidade, em que bairro)?”; “têm que profissão?” (OPSLAB,
2023). À medida que as crianças iam falando, eram feitas anotações no
quadro, de modo que as características ficaram ao lado dos bonecos.
Com as principais características que representavam os/as brasileiros(as)
segundo os(as) coparticipantes da oficina, foi iniciada uma reflexão so-
bre visibilidade na mídia, a partir da seguinte questão: “Vocês veem esse/
essa brasileiro(a) representado(a) na televisão, nas capas de revistas, nos
filmes, nas novelas, nos anúncios publicitários?” (OPSLAB, 2023).
Como segunda atividade da oficina, com o objetivo de refletir criti-
camente sobre a influência da publicidade nos modos de ser, pensar e
vivenciar o mundo, foi realizada uma discussão sobre representação na
mídia. Os educomunicadores trouxeram dados de pesquisas que mostra-
vam como as características da maioria da população do Brasil não se
relacionavam com o que aparece na publicidade. Suscitando provoca-
ções como: “se a maioria da população brasileira é formada por mulheres
negras com mais de 30 anos, por que mulheres só protagonizam 26%
dos anúncios e as pessoas brancas são sete vezes mais representadas do
que negros na publicidade?” (OPSLAB, 2023).
A R T I G O
Fonte: Acervo OPSlab
A R T I G O
anúncios pessoas famosas como os apresentadores Fátima Bernardes e
Rodrigo Faro. Embora algumas crianças tenham questionado as esco-
lhas das marcas por usarem esse padrão com problematizações, como
“que família que é assim?”, “isso só existe na televisão”, “ninguém tá
com sono nem de mau humor nesse café da manhã”, ao mesmo tempo,
reconheceram que tal abordagem teria o potencial de alcançar mais
pessoas, justamente, por reforçar o padrão branco heteronormativo de
família vigente na sociedade em que as peças circularam.
Além desse exercício de leitura crítica da publicidade, as crianças
puderam aprofundar suas competências em literacia publicitária (sobre-
tudo, do tipo estética/visual e retórica) ao (re)fazerem um dos anúncios
problematizados na oficina. Optaram por (re)criar o anúncio da Seara,
com a missão de torná-lo mais representativo socialmente. Para isso, fo-
ram divididas em três grupos que, além dos conhecimentos adquiridos
na oficina, mobilizaram seus conhecimentos prévios sobre a prática pu-
blicitária e sua tendência a acionar representações sociais estereotipadas.
A R T I G O
Figura 5 - Anúncio (re)criado GRUPO 3
A R T I G O
as comunicações que estabelecemos” (MOSCOVICI, 1961/1976 apud
MOSCOVICI, 2003, p. 10).
Avaliar criticamente a invisibilidade de minorias sociais na publicida-
de pode ser um exercício pertinente para a construção de novos lugares
possíveis. Trata-se de um exercício que precisa ser estimulado para que
novos espaços de representação possam ser considerados e construídos.
De acordo com Bragaglia (2017), a consciência crítica atua “como um
autorregulador dos estereótipos”, ao confrontar as narrativas generali-
zantes presentes no caldo cultural e suas consequências sociais. Em
seus estudos sobre ética na publicidade, a autora aponta que uma das
contribuições que a comunicação publicitária poderia oferecer para a
dissolução de estereótipos é o uso de alternativas contraesterotípicas. O
que Leite (2011) denomina de publicidade contraintuitiva, entendida
como narrativa publicitária que propõe “outras percepções e visões de
mundo acerca dos estereótipos inscritos às minorias sociais”, ao repre-
sentar grupos historicamente estigmatizados em posições de prestígio
social, afastando-se de associações à carência, subalternidade e inferio-
ridade social.
Foi o que exercitaram as crianças na última atividade da oficina
ao encararem o papel de (re)criarem anúncios pouco representativos
socialmente. Exemplos de narrativas publicitárias contraintuitivas (LEI-
TE, 2011) são apresentadas nos três anúncios criados (Figuras 3, 4 e
5), posto que expõem indivíduos da categoria social negro inseridos em
uma estética que se esquiva da imagem de subalternidade reforçada he-
gemonicamente pela publicidade. Com o uso de recortes de revistas e
montagem por colagem em cartolina, as crianças se preocuparam em
construir peças com a presença de pessoas quase todas negras7, sendo a
maioria mulheres, inseridas em uma estética que se esquiva da invisi-
bilidade e/ou da limitada representação desses grupos sociais reforçada
pelas publicidades das marcas Seara e Doriana analisadas na oficina.
Considerações Finais
Neste artigo, exploramos a viabilidade do uso da publicidade como
suporte pedagógico para o aprimoramento de habilidades de literacia
publicitária de crianças, provocando-as, por meio de uma oficina educo-
municativa, a refletirem sobre a falta de diversidade social nos anúncios.
As habilidades de literacia publicitária nas dimensões informacional,
estética/visual, retórica e promocional (MALMELIN, 2011), fomen-
tadas na oficina, assim como as competências de apropriação crítica,
A R T I G O
criativa e cidadã da publicidade (FANTIN, 2011), demonstram os con-
tributos da aproximação entre comunicação publicitária e práticas
educativas com crianças, com um viés de transformação social. Expe-
riências educomunicativas como essa ganham especial relevância em
um contexto de profusão midiática, em que as mídias desempenham
um papel central nos processos de socialização de crianças.
A oficina realizada revelou o potencial do uso da publicidade como
suporte pedagógico para a construção da cidadania comunicativa
(MATA, 2006) com crianças. Ao ajudar no aprofundamento de habili-
dades de apropriação da publicidade, a oficina contribuiu para ampliar
a consciência das crianças sobre as desigualdades sociais reforçadas pela
comunicação publicitária, que frequentemente invisibiliza grupos mi-
norizados. Além disso, incentivou o desenvolvimento de práticas sociais
reivindicatórias relacionadas ao direito à visibilidade e à participação na
mídia desses grupos.
No entanto, o estudo destacou a necessidade de explorar mais pro-
fundamente as reflexões sobre os sentidos que as crianças atribuem à
publicidade e suas percepções em torno da comunicação com expec-
tativas de transformação social. Embora os anúncios recriados pelas
crianças tenham destacado grupos minorizados, como pessoas negras e
mulheres, ainda reproduzem padrões de uniformidade social, ao refor-
çarem majoritariamente representações de corpos magros, jovens e sem
deficiência.
Em relação às limitações do estudo, é importante salientar que, em-
bora os resultados evidenciem a possibilidade de uma leitura crítica e
cidadã da publicidade por parte de crianças de 11 a 13 anos, é crucial
continuar investigando os usos e as apropriações da publicidade pelo
público infantil, ampliando o alcance dos participantes da experiência
educomunicativa relatada neste artigo. Isso contribuirá para entender
se essas leituras críticas e cidadãs da comunicação publicitária estão se
consolidando ou se ainda necessitam de estímulos mais robustos para
florescer.
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(UFF), v. 35, p. 2-23, 2016.
Sobre autores
Pâmela Craveiro – Doutora em Comunicação pela Universidade de Vigo. Do-
cente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMT. Líder do
OPSlab - Laboratório de Estudos em Comunicação, Publicidade e Sociedade.
E-mail: [email protected]
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2491-6083
A R T I G O
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2910
Introdução
A delegação das práticas do cuidado, que envolvem tarefas de atenção
e cuidado às pessoas, assim como de manutenção dos lares e demais
ambientes da vida social, imprescindível para a promoção da saúde e
do bem-estar, é tradicionalmente atribuída às mulheres (IPEA, 2016).
A prática de cuidado é complexificada no meio rural, onde habitam 30
milhões de brasileiros (IBGE, 2018), pois a combinação de atividades
no espaço da casa e do quintal, além das formas de acesso à água e
à energia, demandam mais trabalho e uma organização contínua do
tempo (SOF, 2020). Ademais, essas mulheres exercem o papel de per-
sonagem principal no cuidado e encaminhamento dos problemas de
saúde da família, avaliando a necessidade de providenciar o cuidado ao
familiar ou não, ou seja, a mulher é um importante “recurso de cura”
(OLIVEIRA; MORAES, 2010).
Esse cenário foi tensionado pela pandemia do novo coronavírus,
SARS-CoV-2, identificado em 2019 na China, e que chegou ao Brasil
em 26 de fevereiro do ano seguinte. O vírus contaminou mais de 37,6
milhões1 de brasileiros e levou a óbito mais de 700 mil, agravando o
conjunto de desigualdades existentes na sociedade e desenhando um
quadro que evidenciou a situação de vulnerabilidade na qual muitas
populações rurais se encontravam. O cuidado, então, passou a envolver
desde as tarefas domésticas (higienização das máscaras, busca de alter-
nativas de renda etc.), além da busca de informações sobre o protocolo
de mitigação dos riscos.
Apesar de ter sido um feito histórico desenvolver, aprovar e usar di-
versos imunizantes em menos de um ano após a detecção dos primeiros
casos de covid-19, a vacinação demorou a estar disponível para todos.
Dessa forma, devido ànão existência de imunizantes, o enfrentamento
da pandemia da covid-19 teve como base protocolos de higiene e dis-
tanciamento social (OPAS, 2020). Nesse contexto, tornou-se ainda mais
relevante a comunicação precisa sobre o risco que envolve a doença e
1 Em 04/06/2023
A R T I G O
os modos de prevenção, para que a sociedade se engaje nesse combate
(OMS, 2018).
O Ministério da Saúde, principal órgão responsável pela saúde públi-
ca brasileira, promoveu campanhas para comunicar o risco da pandemia
para a sociedade. Contudo, pesquisas apontam que essas campanhas
tiveram ênfase generalista, não tendo sido realizada nenhuma comuni-
cação direcionada para a população rural, indígena, nem comunidades
tradicionais (RECUERO; SOARES, 2020; LOPES; LEAL, 2020).
Uma produção de comunicação de risco seletiva, que não considerou o
dinamismo e a heterogeneidade existentes dentro do meio rural, deixan-
do à margem populações desprivilegiadas, especialmente em meio à
pandemia.
Desse modo, como as redes sociais e websites governamentais foram
a base da comunicação de risco, limitou-se o acesso dos desconectados,
que somam 47 milhões de brasileiros, a informações tão estratégicas em
meio a uma crise sanitária (LOPES; LEAL, 2020). Entre esses, 35% são
população indígena e 29% negra, além dos muitos idosos que não têm
habilidades com as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC),
o que significa que, ao fazer opção principalmente pela comunicação
digital, o governo expôs ainda mais os segmentos vulnerabilizados. A
desigualdade infocomunicacional se agrava quando perpassada pelo
marcador de gênero. As mulheres rurais, que têm historicamente menos
acesso à propriedade da terra, ao financiamento ou a insumos, têm sido
o grupo menos conectado às TICs na maior parte dos países da América
Latina (ROTONDI et al., 2020).
Sendo assim, a pandemia do novo coronavírus não atingiu todas as
mulheres da mesma forma, já que, além do gênero, muitas variáveis in-
terferem nas condições que podem promover a saúde, como os diversos
marcadores de desigualdade (raça, território, gerações, entre outros) e
os produtos de suas interações. Dessa maneira, ratifica-se a interação
de desvantagens com vulnerabilidades preexistentes, produzindo di-
mensões diferentes de exposição ao risco. Para Abrams e Greenhawt
(2020), o risco não pode ser visto como objetivo e independente do con-
texto social, podendo ser agravado por esse.
Partindo desse contexto, este trabalho visa compreender como os
marcadores sociais (gênero, território, raça e geração) influenciaram no
acesso à comunicação digital dos riscos da covid-19 por mulheres rurais
da Zona da Mata Mineira, entre as quais estão dez residentes do bairro
rural Palmital (Viçosa- MG) e dez do assentamento do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Olga Benário (Visconde do Rio
Branco-MG). Para esse objetivo, são utilizadas as abordagens teóricas
da comunicação de risco e da interseccionalidade, a fim de articular
os condicionantes impostos pelos marcadores sociais da diferença ao
acesso à informação sobre a covid-19, de modo a visualizar as vulnera-
bilidades estruturais preexistentes e as reconfigurações nas estratégias de
organização social para a busca de soluções coletivas por essas mulheres.
A R T I G O
promovam a participação social e ao enfrentamento de modelos e práti-
cas neoliberais. Por essas razões, Araújo e Cordeiro (2014) afirmam que
o direito à comunicação é desigualmente distribuído, concentrando-se
nas camadas sociais mais privilegiadas, de maneira que são negligencia-
das as informações relativas às “doenças de pobreza”, que não despertam
interesse para pesquisa e produção de fármacos, por atingirem grupos
sociais sem expressividade econômica.
Buscando guiar a atuação do Ministério da Saúde (MS) na resposta
a essa emergência de saúde pública, foi ativado, no dia 22 de janeiro
de 2020, o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública
(COE-COVID-19) do MS, coordenado pela Secretaria de Vigilância
em Saúde (SVS), que desenvolveu o Plano de Contingência Nacional
para Infecção Humana pelo novo Coronavírus (COVID-19). O plano
oferecia três níveis de resposta (Alerta, Perigo Iminente e Emergência em
Saúde Pública) com base na avaliação do risco do impacto da covid-19
no Brasil (BRASIL, 2020). Contudo, a implementação dos protocolos
para o enfrentamento à pandemia indicados pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) e as evidências científicas encontraram um grande
obstáculo para a construção de um consenso social sobre os riscos da
covid-19: a postura negacionista do presidente da República Jair Bol-
sonaro (2019- 2023) (CAPONI, 2020; SODRÉ, 2020; GRAMACHO,
TURGEON, 2021).
O Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo
novo coronavírus, proposto pelo MS, orientava, entre outras medidas,
em seu tópico Comunicação de Riscos (CR):
[...] Informar as medidas a serem adotadas pelos profissionais de diversas
áreas e a população geral; Elaborar junto com a área técnica materiais
informativos/educativos sobre o novo coronavírus e distribuí-los para a
população, profissionais de saúde, jornalistas e formadores de opinião;
Disponibilizar peças publicitárias a serem veiculadas nos diversos meios
de comunicação; Monitorar as redes sociais para esclarecer rumores, boa-
tos e informações equivocadas; Manter atualizada a página eletrônica
do novo coronavírus; Disponibilizar material informativo/educativo para
públicos específicos: gestores, profissionais de saúde, viajantes, escolas,
A R T I G O
têm a capacidade de combater a desinformação, empregando recursos
para verificar a precisão e credibilidade de informações relacionadas à
saúde, de forma que, em meio a crises e desastres, o papel das agências
oficiais de saúde se torna importante, não só para educar o público, mas
também eliminar mitos (MALIK et al., 2021).
A estrutura infocomunicacional no Brasil é marcada por uma des-
igualdade crônica, resultante da realidade econômica nacional, que se
acentua com hiatos digitais de aparelhos, de conexão e de literacia, já
que um em cada quatro brasileiros não usa a internet (LOPES; BAS-
TOS; BARRETO, 2021; ROTONDO et al., 2020). O meio rural é
um exemplo dessa desigualdade, onde, segundo os autores, o acesso
infocomunicacional é mais difícil e mais precário. Esse fator amplia a
desigualdade no acesso à promoção da saúde existente entre o meio
rural e o urbano.
A R T I G O
desigualdades sociais, moldando instituições que contribuem para a
naturalização dessas desigualdades, o que permite que um país como
o Brasil cresça e se desenvolva mantendo à margem boa parte da sua
população negra.
De acordo com Gomes (2020), no Brasil, a população branca rece-
be maiores rendimentos independentemente do nível de instrução e
os negros representam 75,2% da parcela da população com os meno-
res ganhos. Além disso, a população de cor preta ou parda situa-se, em
maior proporção, abaixo da linha de pobreza, e reside em domicílios
com piores condições de moradia e com menos acesso a bens e serviços
que a população de cor branca (IBGE, 2019). Como consequência, em
meia à pandemia do novo coronavírus, os problemas de saúde entre as
mulheres negras foram amplificados devido a posições de desvantagem
no seio das famílias, profissões e instituições de saúde (PIRTLE; WRI-
GHT, 2021).
No caso das mulheres rurais, a encruzilhada dos marcadores sociais
ainda é fortemente perpassada pela dinâmica e constante negociação
entre sexo e geração, principalmente devido ao êxodo rural de jovens,
de forma que as mulheres que mais trabalham na roça ainda são as mais
velhas, mesmo recebendo aposentadoria (GERMINIANI; LORETO,
2017).
O território também pode ser considerado um importante marcador
social. Para Santos e Silveira (2001), o território representa a extensão
apropriada e usada, concebendo desde a implantação de infraestruturas
ao dinamismo da economia e da sociedade, incluindo os movimentos
da população, a distribuição da agricultura, da indústria e dos serviços, o
arcabouço normativo, a legislação civil, fiscal e financeira, e o alcance e
a extensão da cidadania. Compreende-se, então, que o território não é o
espaço, mas uma produção derivada da sua apropriação, de modo que o
território é um espaço transformado pelo trabalho ali contido, delineado
por estratégias de organização e controle do mesmo. Sendo assim, essa
apropriação não é uma ocorrência natural, mas um dado concreto da
luta dos homens pela sua sobrevivência (RAFFESTIN, 1993).
Aspectos Metodológicos
Para cumprir com o objetivo geral desta pesquisa, que tem caráter explo-
ratório e aspectos qualitativos, e partindo da heterogeneidade existente
no meio rural, que se multiplica pelas diversas intersecções de diferentes
marcadores de desigualdade (CRENSHAW, 2002), este estudo busca
levar em conta a pluralidade das mulheres rurais.
Lançou-se mão de entrevistas semiestruturadas com 20 mulheres ru-
rais da Zona da Mata de Minas Gerais, de 18 a 73 anos, dez residentes
no bairro Palmital (Viçosa-MG) e dez no Assentamento do MST Olga
Benário, em Visconde do Rio Branco (MG). Para garantir a privacidade
de cada participante, seus nomes foram protegidos e substituídos por
codinomes, entre os quais designou-se a letra “P” para moradoras do
bairro Palmital e “O” para as assentadas do Olga Benário. Sendo assim,
no grupo das residentes do bairro Palmital, tem-se as participantes P1 a
P10, e entre as moradoras do assentamento do MST estudado, tem-se
as participantes de O1 a O10. Para ratificar a perspectiva interseccional,
cada codinome é acrescido de dados sobre cor e idade das participantes.
Os dados foram tratados por meio de análise do conteúdo (BARDIN,
1977), de forma manual. Essa etapa foi realizada por uma perspectiva
interseccional, ou seja, pela análise crítica dos marcadores sociais de
desigualdades sobre os fenômenos estudados (DÍAZ-BENÍTEZ; MAT-
TOS, 2019). Para uma análise qualitativa interseccional é necessário
A R T I G O
primeiramente definir as categorias, examinando quais eixos de diversi-
dade estão incluídos e excluídos, e buscar o papel desempenhado por
elas na desigualdade, analisando quais interseções e processos são mais
significativos em um determinado contexto (HUNTING, 2014). Desse
modo, trilhando um caminho que ainda está em construção no campo
das metodologias interseccionais, buscou-se sistematizar resultados, na
medida do possível, dentro de quadros que foram elaborados e denomi-
nados “Quadros de Perspectiva Interseccional”. Esses quadros intentam
apresentar articulações entre os marcadores raça, território e faixa etária
com diferentes variáveis e objetivam deixar visíveis algumas iniquidades
que precisam estar expostas para serem compreendidas.
Resultados e Discussões
Apresentamos abaixo, na forma de Quadro (01), os dados sobre os perfis
das mulheres participantes desta pesquisa
2 No Brasil, a Educação Básica compreende a Educação Infantil (de 0 a 5 anos), o Ensino Fun-
damental I (de 6 a 10 anos), o Ensino Fundamental II (de 11 a 14 anos) e o Ensino Médio (de
15 a 17 anos). A Educação Superior é composta de Graduação e Pós-graduação.
Tabela 1. Cotinuação.
Renda mensal familiar
Participante Idade Cor Escolaridade2
(em salário mínimo)
P9 61 Branca Ensino Fundamental I 2 salários
Ensino médio
P10 38 Parda 2 salários
incompleto
O1 38 Parda Ensino Médio ½ salário
O2 28 Parda Ensino Fundamental II 1 salário
O3 43 Parda Ensino Médio ½ salário
O4 38 Parda Ensino Fundamental II 3 salários
O5 39 Parda Ensino Fundamental I 2 salários
O6 30 Branca Ensino Médio 1 salário
O7 60 Parda Ensino Fundamental I 2 salários
O8 26 Parda Graduação Incompleta 2 salários
O9 62 Parda Ensino Médio 1 ½ salário
O10 18 Preta Ensino Médio 1 salário
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.
A R T I G O
desigual, na qual negros têm sido historicamente marginalizados e ex-
cluídos. Sendo assim, de acordo com Theodoro (2022), essa desigualdade
extrema e persistente produz assimetrias na ocupação dos espaços, que
acarretam outras desigualdades sociais, sempre em desfavor do grupo
descriminado.
Os níveis de escolaridade das participantes são variados, desde mulhe-
res (duas) que estão cursando a graduação em uma universidade pública
e federal até aquela (uma) que nunca frequentou uma escola (Parti-
cipante P1). Nesse ínterim, sete participantes estudaram até o Ensino
Fundamental I, quatro até o Ensino Fundamental II, cinco comple-
taram o Ensino Médio e uma tem o Ensino Médio Incompleto. Para
compreender a baixa escolaridade de algumas participantes, é impor-
tante levar em conta as dificuldades enfrentadas por muitos moradores
de áreas rurais para frequentar escolas, como as distâncias e dificuldades
com transportes, aliadas a uma rotina de trabalhos pesada. Vale destacar
que a única participante analfabeta é negra, o que se alinha aos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). Segun-
do a Pnad (IBGE, 2019), o analfabetismo entre negros é quase o triplo
do que entre brancos.
Como os protocolos de combate ao novo coronavírus demandavam
distanciamento social, as participantes foram perguntadas sobre como
se informaram sobre os riscos da covid-19, na primeira fase da pande-
mia (2020), quando ainda não havia a vacina para essa imunização. Os
dados foram organizados em um quadro para facilitar a visualização
das participantes que lançaram mão (ou não) de TIC para acessar a
Comunicação de Risco da covid-19. Esses dados foram articulados con-
juntamente com marcadores de desigualdade, aqui destacados: raça,
território e faixa etária. Essa perspectiva analítica vem ao encontro dos
objetivos desta pesquisa, buscando compreender a influência desses
marcadores na concepção e incorporação dos riscos da covid-19 enfren-
tados pelas mulheres rurais.
A R T I G O
assentada, que utilizava o WhatsApp porque o MST promoveu uma vas-
ta comunicação sobre a covid-19, que foi disseminada por grupos desse
aplicativo. A participante O2 ainda esclareceu que o MST realizou lives
e vídeos no YouTube (conforme a figura a seguir) sobre o novo coro-
navírus e, para facilitar, transformava esses conteúdos em áudios, por
serem dados mais fáceis e leves para compartilhamento, com vistas à
disseminação através dos grupos de WhatsApp.
Na faixa etária mais avançada (acima de 61 anos), nenhuma partici-
pante recorreu à internet em busca dessa comunicação, o que destaca
mais o marcador “idade” do que “território”. A participante P9 (branca,
61 anos) afirmou que “o rádio e a televisão foram mais importantes” e,
para O9 (parda, 62 anos), “a internet não teve nenhuma importância,
porque ouvia tudo no rádio”. O marcador “idade” também pode ser per-
cebido interseccionado à raça, pois entre as participantes brancas, a não
ser pela mais velha (acima de 61 anos), todas fizeram uso de internet
para acessar CR da covid-19.
Entre as participantes negras que moram no bairro Palmital, apenas
a mais jovem, que é universitária, recorreu às TIC para se informar so-
bre a CR da covid-19. Outras quatro moradoras negras, entre 30 e 50
anos, preferiram os meios de comunicação de massa ou informação de
familiares. Nesse ponto percebe-se a raça como um importante marca-
dor de desigualdade, pois as mulheres negras que não tiveram o suporte
do MST para o conhecimento sobre o enfrentamento à pandemia não
tiverem autonomia (ou interesse) para buscar informações mais apro-
fundadas ou que não estivessem disponíveis nos meios de comunicação
de massa, que disseminam informações mais genéricas.
Considerações Gerais
Durante o período de isolamento social imposto pelos protocolos
de enfrentamento do SARS-CoV-2, diversas práticas foram alteradas,
inclusive as comunicacionais. O acesso às tecnologias de informação
fez-se fundamental para se consumir o conteúdo de comunicação so-
bre a proteção contra o novo coronavírus, devido ao isolamento social.
Além disso, o cuidado exigiu mais de quem o exercia, pois, por ser uma
circunstância inédita, foi preciso se acostumar com novos hábitos, como
usar máscara, não abraçar os outros, não espirrar perto dos outros, entre
muitas outras coisas.
Cada uma dessas mulheres está posicionada em um ponto inter-
seccionado por diversos marcadores de desigualdades. Para além de
um resultado das somas ou produto das multiplicações entre essas in-
terações, o que temos com a sobreposição de marcadores é um lugar
único, ocupado por cada mulher rural participante. Sendo assim, ape-
sar de todas as participantes serem mulheres e morarem no meio rural,
algumas diferenças comprometeram a capacidade de se proteger de si-
tuações de risco na pandemia.
Acerca desses marcadores de opressão, alguns pontos ainda devem
ser considerados. O marcador raça, que tem historicamente sido asso-
ciado à discriminação, incide em quadros de menor acesso à promoção
de saúde, como índices inadequados de saneamento básico e taxas mais
altas de doenças crônicas, além de menor acesso à TIC, apresentada
como importante ferramenta de comunicação em saúde. O marcador
etário se fez presente, haja vista que o mesmo limita acessos e estra-
tégias de comunicação, em especial no que envolve tecnologia. Já no
tocante ao marcador território, o rural como um todo é assolado por
desigualdades estruturais, entretanto apresenta nuances que impactam
diferentemente sua população. Ao comparar o território relativo ao
bairro Palmital e o Assentamento Olga Benário, nota-se que, quando o
território se constitui um espaço transformado por estratégias de organi-
zação social, novas perspectivas podem surgir, especialmente na busca
de soluções coletivas. A apropriação do WhatsApp pelo MST para co-
municar o risco da pandemia descortina possibilidades de ações voltadas
à promoção da cidadania para um meio rural que necessita estar cada
vez mais conectado.
A R T I G O
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Sobre autores
Daniela de Ulysséa Leal - Possui graduação em Comunicação Social, MBA
em Marketing Estratégico pela UFT (2015), Mestrado (2019) e Doutorado no
programa de Extensão Rural no Departamento de Economia Rural (UFV.).
Integra o Meios Grupo de Pesquisa: Comunicação, Relações Raciais e Gênero.
E-mail: [email protected]
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7865-3296
A R T I G O
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2927
A R T I G O
Introdução
Lançado em 11 de novembro de 2021, o videoclipe “Masculinidade”,
do cantor e compositor brasileiro Tiago Iorc, rapidamente viralizou. A
circulação do clipe nas ambiências digitais fez disparar uma rede de
engajamentos, envolvendo comentários, memes, reactions, paródias e
críticas em torno do modo de viver “a masculinidade” performado pelo
cantor. No clipe, Iorc incorpora a figura masculina relacionada aos sen-
tidos de “macho desconstruído”, “macho sagrado”, “homem sensível”,
termos comumente usados para denominar “formas contemporâneas
de vivência do masculino” (GONÇALVES, 2021), que, conforme
Gonçalves (2021), pressupõem suposta oposição à matriz patriarcal
heteronormativa e cuja emergência é ensejada pela consolidação e am-
pliação dos movimentos feministas.
Partimos da premissa de que a ideia de masculinidade performada
no videoclipe se constitui enquanto performance quando compreendida
de modo entrelaçado à rede de expressões comunicacionais disparadas
em torno do audiovisual que ampliam e tensionam a suposta “descons-
trução” proposta por Iorc. Nesses termos, nos questionamos em que
medida essa rede de engajamentos e disputas identitárias, que constitui
nossa experiência de consumo na contemporaneidade, aponta para pos-
sibilidades de repensar gênero de modo transformador.
Num sentido mais amplo, este trabalho toma o audiovisual em cir-
culação nas redes sociais digitais como dimensão comunicacional do
contemporâneo pela qual seria possível acessar e mapear disputas po-
líticas, identitárias e culturais diversas, entre as quais as relacionadas às
questões de gênero. Por esse entendimento, o videoclipe é compreendi-
do enquanto processo que se configura em rede e agencia disputas sobre
modos de habitar o mundo.
Para pensar as disputas por masculinidades travadas a partir do cli-
pe de Iorc, partimos da compreensão da categoria homem em termos
impermanentes. Entendemos a identidade de gênero como uma cons-
trução cultural em constante mudança, passível a reconfigurações e
deslocamentos de sensibilidades e sentidos. Rejeitamos, assim, uma
A R T I G O
que desestabilizaram a “masculinidade desconstruída” no videoclipe de
Iorc. Com base na análise do clipe e de um conjunto de expressões
audioverbovisuais que circularam no Instagram sobre a obra, nos depa-
ramos com pistas que indicam uma compreensão do masculino numa
perspectiva historicamente patriarcal, com reconfigurações estéticas que
acionam atributos binários em relação aos femininos e que parecem re-
configurar jogos de poder sem, de fato, indicar possíveis transformações.
A R T I G O
virilidade, controle, liderança, poderio financeiro, proteção, autoridade
moral. Essas novas figuras têm se organizado a partir de diferentes temas,
como “paternidade ativa, vivências afetivas, espiritualidade masculi-
na (em especial o sagrado masculino), sexualidades fluidas, liberdade
emocional, atravessamentos interseccionais raciais e de classe, dentre
outras referências” (GONÇALVES, 2021), e atuam, no Brasil, sob os
mais variados rótulos: “macho desconstruído”, “pai presente”, “sagrado
masculino”, “homão da porra”. Sua hipótese é de que tais projetos de
transformação de masculinidades seriam modos de o patriarcado con-
temporâneo lidar com uma espécie de desconforto perante a “imagem
que veem refletida no espelho descortinado pelo movimento feminista”
(GONÇALVES, 2021).
Seguindo as pistas apontadas por Gonçalves, o videoclipe de Tia-
go Iorc é aqui tomado como um audiovisual em rede (GUTMANN,
2021) e analisado sob a chave da noção de performance, de Diana Tay-
lor (2013). Entendemos que o clipe agencia um processo comunicativo
que transcende o vídeo e engloba uma trama de textualidades múlti-
plas pelas quais buscamos identificar os sistemas de regulação de gênero
em atuação (BUTLER, 2015). O audiovisual e a rede de disputas que
emerge em torno dele se apresentam, portanto, como modos de acessar
processos de interação sobre masculinidades e seus sistemas de regula-
ção nas ambiências digitais, nos fazendo questionar: “que performance
obrigará a reconsiderar o lugar e a estabilidade do masculino e do femi-
nino?” (BUTLER, 2015).
A R T I G O
selecionadas, inicialmente, após o lançamento do clipe (dias 12, 13, 14,
15 e 16/11/2021), com posterior ampliação do período de coleta até o
dia 31/01/2022, sendo que a maior parte das incidências coletadas (90%)
se concentram no mês de novembro, logo após a divulgação do clipe.
O mapeamento feito não se pautou numa raspagem quantitativa na
plataforma, uma vez que o estudo não se propõe a quantificar o nú-
mero de manifestações sobre o clipe (sejam elas favoráveis ou não),
mas identificar e observar a rede de engajamentos afetivos em torno
do audiovisual que reitera a crítica à construção (ou desconstrução)
da masculinidade proposta por Iorc. Portanto, nosso procedimento de
construção do corpus analítico se baseou num método navegacional que
simula a experiência exploratória de um usuário comum, neste caso, as
próprias pesquisadoras.
Na timeline de nossos feeds e stories, nos dias posteriores ao lança-
mento do clipe, tivemos inicialmente acesso a seis publicações, todas
referências críticas. Um comentário feito em uma das postagens fazia
menção ao perfil @newmemeseum, que publicou um carrossel de 10
compartilhamentos, incluindo memes, paródias e reactions relacionadas
ao audiovisual, dos quais contabilizamos nove pois um deles reiterava
postagem já acessada. O Instagram, sabemos, combina conteúdos reco-
mendados computacionalmente que vão desde a indicação de postagens
associadas a comportamentos de perfis que não seguimos a conteúdos
filtrados a partir dos nossos seguidores. Esse atributo da plataforma nos
interessou especialmente por permitir o acesso automático, a partir de
padrões de comportamentos ligados às duas autoras, a um conjunto de
perfis relacionados a redes feministas.
Após este primeiro conjunto de 15 posts selecionados, com o obje-
tivo de ampliar os dados observados nessa primeira amostra acessada
via navegação e identificar incidências similares, fizemos uma busca na
plataforma com os termos “masculinidade” + “iorc”, num período mais
ampliado entre os meses de novembro de 2021 e janeiro de 2022, o
que possibilitou selecionar mais 25 manifestações relativas ao audiovi-
sual cujos conteúdos reiteravam os principais argumentos da amostra
A R T I G O
Tabela 1- Continuação.
A R T I G O
essa trama de reações apontou para o modo como o sentido de mascu-
linidade sugerido pelo artista foi efetivamente produzido e disputado
para além da sua intenção. São essas disputas que nos interessam para a
compreensão do clipe como audiovisual em rede.
“Masculinidade” tem autoria de cinco homens. A canção é uma
composição do cantor com Mateus Asato, Tomás Tróia e Lux Ferreira,
e o clipe é dirigido por Rafael Trindade e pelo próprio Iorc. Com clima
introspectivo e tom autobiográfico, o artista propõe discutir a “masculi-
nidade tóxica” depois de um ano recluso, em que esteve fora das redes
sociais e da grande mídia. Em 2020, Iorc foi alvo de polêmicas por con-
ta de disputas públicas por direitos autorais com duas cantoras, antigas
parceiras musicais, e devido a vazamentos de fotos íntimas. Daí porque
a imprensa nacional reforçou seu “retorno” na cobertura do novo traba-
lho: “Tiago Iorc ressurge com novo single ‘Masculinidade’” (Estadão,
11 nov. 2021); “Tiago Iorc quebra hiato, retorna com novo visual e lança
música sobre masculinidade” (O Globo, 11 nov. 2021).
A primeira imagem do clipe é um plano detalhe do perfil do rosto do
cantor, que se mostra de cabeça baixa e semblante melancólico. Ten-
do ao fundo um coro de vozes em tom grave, ele diz: “Eu tava numa
de ficar sumido/ Dinheiro, fama, tudo resolvido/ Fingi que não, mas na
verdade eu ligo/ Eu me achava mó legal/ Queria ser uma unanimidade/
Eu quis provar minha virilidade/ Eu duvidei da minha validade/ Na in-
sanidade virtual”. A proposta de atrito com o status quo se deixa ver na
letra da música e no corpo. O cantor aparece de peito nu, pés descalços,
cabeça raspada e traja pantalona vermelha. Os gestos iniciais simulam
a posição fetal e são acompanhados pela proximidade da câmera, que
o enquadra em detalhes: cabeça, boca, olhos, braços postos sobre o ros-
to. Ele olha para as mãos, acaricia, percebe detalhes como se estivesse
redescobrindo o próprio corpo, enquanto canta: “Cuidar meu irmão/
Do teu emocional/ Cuidar do que é real”. Aos poucos, Tiago se levanta
ao tempo que afirma “Masculinidade frágil/ Coisa de menino/ Eu fui
profano/ Sexo é divino/ Da minha intimidade/ Fui um assassino” e inicia
uma coreografia mais expansiva, imerso num cenário branco de fundo
infinito, enquadrado por um plano aberto que mostra todo o seu corpo.
O cenário minimalista dá destaque ao cantor que dança sozinho, no
centro da imagem, nos 6 minutos e 18 segundos do vídeo. A câmera,
em plano sequência, acompanha a coreografia de Iorc, em movimentos
contínuos.
Ao construir sua proposição sobre masculinidade “transformada”,
contudo, Tiago Iorc reitera roteiros do sistema patriarcal e heteronorma-
tivo que insinua desestabilizar. Comecemos pelo modo como cai nas
armadilhas do binarismo compulsório ao compreender seu masculino
na relação com o feminino, reafirmando o pressuposto de que existem
apenas duas expressões de gênero e que ambas são opostas, em um
jogo de poder que disciplina os corpos. A letra enuncia a sensibilidade
como atributo feminino, derrapando na compreensão hegemônica da
identidade de gênero a partir de estereótipos que reforçam o binarismo
homem/mulher, como força/sensibilidade: “Aprendi que era errado ser
sensível/ Quanta inocência/ Eu tive medo do meu feminino/ Eu me tornei
um homem reprimido/ Meio sem alma, meio adormecido/ Um ato fálico,
autodestrutivo”. A corporalidade de Iorc reproduz os atos performativos
por uma chave também binária, transitando entre construções de ima-
gens femininas, como a calça pantalona com a cintura alta ajustada ao
corpo, e masculinas, como o modo que exibe os músculos do braço.
A centralidade da imagem de Iorc no audiovisual também reitera
o protagonismo do homem, presente na letra da música. Todo o clipe
gira em torno do seu corpo, dos seus movimentos, da sua voz, das suas
expressões faciais de dor, transe e poder. A fragilidade aparece em cena
com um tom dramático, constituída a partir de uma estranheza sobre
o sofrimento do homem. Em um dos trechos, ele repete “O que é ser
homem?”, enquanto dança em movimentos circulares, de olhos fecha-
dos, com expressão facial de sofrimento, acompanhado por rodopios da
câmera, como se entrasse numa espécie de transe. Mais à frente, dire-
ciona os olhos para a câmera e nos interpela: “Ser homem por querer se
aprender, todo dia/ Dominar a si mesmo/ Apesar de qualquer fobia: respei-
to/ Tem que ter peito/ Tem que ter colhão para amar direito”. Na última
A R T I G O
cena, com as mãos na cintura, insinua um rebolado e diz: “ser homem
exige escolha, meu irmão/ e aí?”, enquanto a câmera se afasta lentamen-
te. Em todas essas cenas, em que são reafirmados problemas de gênero
em uma perspectiva masculina, pontuando o caráter opressor - para os
homens - do gênero como construção cultural, Iorc não se furta de uma
implicação com a matriz heterossexual e binária.
A R T I G O
Esse apagamento, contudo, tornou visível uma rede de engajamentos
afetivos que instituem outros roteiros de masculinidades sob certos olha-
res feministas. No dia do lançamento do clipe, a explosão de postagens
nos sites de redes sociais nos chamou atenção. Em nossas timelines no
Instagram, o videoclipe se tornou o assunto mais recorrente naquele
11 de novembro de 2021. Espectadoras do clipe se engajaram no de-
bate, apontando os mecanismos de reconfiguração do patriarcado que
aparecem em “Masculinidade”. Essa trama audioverbovisual alinhava a
expressão de uma posição cultural, política, teórica e metodológica, que
nos permitiu, pelo exercício analítico, desestabilizar noções hegemôni-
cas sobre a identidade de gênero enraizadas na “desconstrução” de Iorc.
Ganha destaque o modo como o artista lança mão de estereótipos de
gênero em um movimento que embaralha símbolos hegemonicamente
femininos ou masculinos, reproduzindo práticas do sistema patriarcal,
ao colocar o homem no centro da discussão sobre opressão de gênero
apenas como oprimido. Em postagem em forma de comentário (Fig. 2),
a atriz Samya Pascotto convoca o debate pela perspectiva das mulheres
que sofreram com as traições e atitudes abusivas que Iorc confessa na
canção, observando que, em nenhum momento da música autobiográ-
fica, o cantor se mostra arrependido dos seus atos, e somente fala sobre
como é um homem reprimido por cair nas memórias incorporadas da
construção de gênero masculina.
A R T I G O
de masculinidade, reconfigurando o sistema opressivo com uma supos-
ta visão mais arejada sobre o corpo, mas que reproduz as dinâmicas de
dominação do falocentrismo. Como assinala Butler (2021, p.39), “onde
não há outras pessoas sobre as quais falar, não há problema de igual-
dade; mas quando entram em cena outras criaturas humanas vivas, o
problema da igualdade e do conflito emerge imediatamente”.
A suposta oposição à matriz patriarcal heteronormativa de Iorc é
debatida também no perfil do Instagram da psicanalista, feminista e
influenciadora digital @manuelaxavier que publica um vídeo em que
diz “e o clipe do Tiago Iorc, heim gente? Foi bom? Ou não? É um
manifesto do direito aos homens por sofrerem e se apropriarem das suas
opressões ou é uma grande palhaçada?”. O vídeo é uma espécie de tea-
ser da sua fala mais longa publicada no YouTube, em que classifica o
clipe como “um “desserviço ao movimento feminista e à discussão sobre
masculinidade”. A influencer pontua que “quando a gente coloca qual-
quer outra questão social dentro dessa mesma narrativa, a gente vê que
fica tosco. É como se eu, uma pessoa branca, estivesse dizendo: ‘como
é triste a minha branquitude, como eu sou oprimida a ser racista’”. E
segue: “quando a gente coloca que os homens também são vítimas do
machismo, isso tem um grande risco de colocar os homens e as mulhe-
res no mesmo lugar de vítimas de um sistema”. A afirmação corrobora
com o argumento de que, embora haja violência intragênero, quando,
por exemplo, homens são forçados a atender às expectativas de uma
noção hegemônica do masculino, essa performatividade está acoplada
a um prestígio porque, como argumenta Segato, “a masculinidade, ao
contrário da feminilidade, é um status, uma hierarquia” (SEGATO,
2018, p.40).
Um ponto que se destaca na construção dessa trama de postagens
é a forte presença do humor crítico nas publicações associadas ao que
tem sido bastante vinculado à denominação “esquerdomacho”2. Figura
que, ao se apresentar com elementos performativos hegemonicamente
2 O termo ganha popularidade quando temas como relacionamento abusivo começam a se tor-
nar mais presentes na internet, com campanhas como #MeuAmigoSecreto, que encorajou
mulheres a denunciarem nos sites de redes sociais situações de violência.
A R T I G O
“macho desconstruído”. Esse aparente deslocamento de script provoca
efeito de riso e deboche em relação ao modo como a masculinidade de
Iorc é encenada no clipe.
Ainda que possamos interpretar esse vídeo por outras chaves, re-
conhecendo, em sua abertura de sentidos, um certo tom irônico em
relação à parte dos discursos feministas, nos interessa o modo como
ele foi endossado e reiterado com mais de 220 mil curtidas e 19.9633
A R T I G O
Também pela chave da paródia, o perfil @a.vida.de.tina, conhecido
por publicar vídeos que satirizam a vida do jovem de classe média e de
esquerda, reagiu ao videoclipe de Iorc. No vídeo (Fig. 5), acompanha-
do das hashtags #sourica, #minhavozimporta, #dançandomeustraumas,
Tina aparece de cropped e pantalona preta, batom vermelho e executa
movimentos corporais que remetem à coreografia do cantor. Ela olha
para as mãos, seu rosto expressa sofrimento, contorce seu corpo en-
quanto canta: “quando criança era chamada de rica, como se fosse um
xingamento/Aprendi que era errado ser herdeira, quanto sofrimento”. A
encenação de Tina também desvela, pelo tom jocoso e irônico, a rela-
ção de classe traduzida pela perspectiva do opressor como vítima desses
sistemas de poder.
Conclusão
Para além de uma discussão sobre vítimas e culpados, que posicionaria
de modo reiteradamente binário os problemas de gênero, percorremos
um caminho em busca das contradições e disputas que emergem da
rede audiovisual construída a partir do videoclipe “Masculinidade”, na
relação com a ficção do gênero. O estudo evidencia que as masculini-
dades expressas no (e a partir do) videoclipe atualizam o falocentrismo.
Essa dinâmica é observada no artigo à luz da ficção do gênero, a partir
da articulação entre as noções distintas e potencialmente articuláveis
de performance (TAYLOR, 2013) e performatividade (BUTLER, 2015,
2019), que têm se mostrado profícuas para as discussões sobre identi-
dade de gênero no campo da comunicação e da cultura, conforme as
autoras têm elaborado em outros trabalhos (DIAS, 2021; DIAS; MOTA
Jr; GUTMANN, 2022).
A construção da rede audiovisual, que se forma a partir das reações
ao videoclipe, aponta para um projeto de reelaboração da masculinida-
de com o acionamento de elementos performativos hegemonicamente
A R T I G O
femininos. Entretanto, a liberdade corporal de Iorc que flui no video-
clipe acaba reforçando estereótipos que sustentam a ficção do gênero,
em uma compreensão circunscrita ao binarismo, e por isso limitante. A
exploração do mandato de masculinidade (SEGATO, 2018) evidenciou
como os apelos discursivos mais palatáveis à discussão sobre identidade
de gênero apuram os jogos de poder, tornando-os ainda mais difíceis de
serem percebidos (GONÇALVES, 2021). Ao se apresentar como ho-
mem “desconstruído”, Iorc não revisa os privilégios e reforça a ficção do
gênero via binarismo. Ou seja, ainda que se dê conta da dimensão nor-
mativa que o sistema patriarcal impõe aos homens cisgênero e brancos
como ele, esse “cair em si” na figura do pretenso “macho desconstruído”
não vem acompanhado de uma transformação na maneira como o sen-
tido de masculinidade é operado no videoclipe.
A exploração do mandato de masculinidade (SEGATO, 2018), que
hierarquiza o gênero em uma dinâmica de produção de violências,
evidenciou como o videoclipe lança mão da performatividade em um
movimento de reconfiguração desse mandato. Uma reconfiguração
que dilata a expressão da masculinidade para além de algumas das suas
normatividades, ao acionar elementos performativos hegemonicamente
femininos, sem repensar o seu lugar de poder produtor de opressões e
violências na relação com as outras pessoas.
Como Iorc que aparece sozinho, expondo as suas dores na relação
com o mandato de masculinidade, apareceu sozinho, também, o pri-
meiro homem ficcional, Robinson Crusoé, personagem do primeiro
romance de folhetim, publicado originalmente em 1719 no jornal The
Daily Post, no Reino Unido. Curiosamente, como aponta Butler (2021),
Crusoé foi apresentado como o primeiro humano do mundo na ficção,
e não somente foi categorizado como um gênero, como aparece despido
de relações sociais para sobreviver. A imagem do homem original é livre
de dependência, já aparece adulta sem que nunca tenha precisado de
alguém para aprender, para ser nutrido, para se desenvolver. O homem,
por assim dizer, basta-se. E se a ficção nos fornece uma possibilidade
de discernimento da estrutura, o que o videoclipe fornece à imaginação
Referências
BUTLER, J. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2015.
BUTLER, J. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa
de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.
BUTLER, J. A força da não violência: um vínculo ético-político. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2021.
DIAS, Morena Melo. (Título?) 141 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Uni-
versidade Federal de Pernambuco, Recife, 2021.
DIAS, Morena Melo; MOTA JUNIOR, Edinaldo Araujo; GUTMANN, Juliana Freire.
Corpos em rede e o direito de
aparecer: o Dia da Visibilidade Trans no YouTube. Contracampo, Niterói, v. 41, n. 2,
p. 1-18, maio/ago. 2022.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo:
Editora 34, v. 1, 1995.
FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1987.
GONÇALVES, J. S. Novas estéticas para estruturas antigas: tecnologias, próteses de gê-
nero e textualidades do mandato de masculinidade. 2021. 226 f. Tese (Doutorado em
Comunicação) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021.
GUTMANN, Juliana Freire; CARDOSO FILHO, Jorge. Performances em contextos
midiáticos: MTV BR & ROCK SSA. Salvador: Edufba, 2022.
GUTMANN, Juliana Freire. Audiovisual em rede: derivas conceituais. Belo Horizonte,
MG: Fafich/Selo PPGCOM/UFMG.
SEGATO, R. L. Contra-pedagogías de lacrueldad. Buenos Aires: PrometeoLibros, 2018.
A R T I G O
TAYLOR, D. O arquivo e o repertório: memória cultural nas Américas. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2013.
Sobre autores
Juliana Gutmann - Professora do Programa de Pós-Graduação em Comuni-
cação e Cultura Contemporâneas e do Departamento de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia. É líder do Grupo de Pesquisa CHAOS - Cul-
tura Audiovisual, Historicidades e Sensibilidades (https://www.chaos-ufba.com.
br/). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4760-670X. E-mail: jugutmann@
gmail.com.
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2925
A R T I G O
Abstract: The paper investigates the relevance of institutional campaigns
on the platform YouTube for the formation of discussion networks about wom-
en’s rights. We analyzed four campaigns (between 2016 and 2018) which took
place right after the so-called Brazilian feminist spring. Based on the data, we
argue that such efforts integrate YouTube strategies to build imaginaries about
the platform as a space for democratic agendas. The campaigns also fostered
subsequent collaborations between the participants, indicating the platform’s rel-
evant institutional role in strengthening the networks analyzed. However, from
an intersectional perspective, the preponderance of white women chosen for the
actions stands out, reinforcing a place of privilege for whiteness when discussing
issues related to feminism.
Keywords: Youtube; Feminism; Digital Influencers; Collaboration Networks;
Interseccionality
Introdução
Enquanto busca reforçar sua existência como parte de um proces-
so de democratização da comunicação facilitado pelas mídias digitais
(EVANGELISTA, 2019), o Youtube enfrenta críticas de diversos seto-
res da sociedade quanto à sua pretensa neutralidade e as consequências
de sua política de atuação (BRYANT, 2020; GILLESPIE, 2010). Neste
artigo, investigamos os esforços institucionais da plataforma para a cons-
trução de um outro imaginário, no qual o YouTube se apresenta como
espaço para o debate de pautas relevantes, sobretudo identitárias. Mais
especificamente, buscamos compreender como, ao tentar consolidar
uma imagem de plataforma socialmente relevante, o YouTube pode ter
contribuído para o fortalecimento de uma rede de debates ligados ao
feminismo na internet brasileira.
Para tanto, analisamos campanhas desenvolvidas pela plataforma
voltadas ao empoderamento feminino1 no Brasil entre 2016 e 2018.
O período escolhido abrange os anos subsequentes ao movimento
que ficou conhecido como “primavera feminista” no país (DUARTE;
MELO, 2017) por reunir protestos virtuais e presenciais em defesa dos
direitos das mulheres. Argumentamos que, apesar de diversas pesquisas
sobre a importância de plataformas digitais para aspectos como a dis-
seminação de hashtags feministas (ALMEIDA, 2020; FREIRE, 2016;
REIS; NATANSOHN, 2017) ou a formação de redes de apoio digitais
(MARTINEZ, 2019; YAMAMOTO, 2021) naquele momento, há pou-
co material sobre a contribuição institucional desses ambientes. Isto é,
enquanto abundam estudos sobre as apropriações de plataformas digi-
tais por “usuários” – no caso, mulheres e coletivos feministas – há uma
carência sobre pesquisas que se voltem para a atuação dessas empresas
enquanto instituições mediadoras2 de tais debates.
1 Apesar de problemático, o termo foi utilizado por ter sido adotado tanto pelo YouTube quanto
pelas participantes das campanhas em questão. Para debate sobre as questões relacionadas ao
empoderamento no contexto analisado, ver Evangelista (2020).
2 A noção de mediação dialoga com a proposta de Martín-Barbero, apropriada por Gutmann
para refletir sobre a “mediação de tecnicidades”, entendendo “YouTube, Instagram (...) etc.
não apenas como plataformas, mas como ambiências pelas quais se constituem redes de arti-
culações entre corpos, imagens (...) gostos etc.” (2021, p. 17).
A R T I G O
Em um contexto de atravessamentos crescentes entre as esferas do
ativismo e do consumo (EVANGELISTA, 2020), realizamos um le-
vantamento das campanhas promovidas pelo YouTube no período
acima referido, no contexto brasileiro, chegando a quatro: #Criadoras,
#AVozDelaÉAMinhaVoz, #PorQueMulher e #FalaMiga. Amparadas
pelas reflexões de Gutmann (2021), entendemos tais campanhas como
“vetores” disparadores de conteúdos “audioverbovisuais”. A partir de tais
vetores, identificamos e buscamos traçar, a partir de análise exploratória
qualitativa, um perfil das influenciadoras escolhidas para participar das
campanhas, atentando para as redes de articulações entre elas.
A discussão teórica que ampara os levantamentos realizados pro-
põe diálogos sobre dinâmicas características do YouTube (BURGESS;
GREEN, 2009; GILLESPIE, 2010; PEREIRA DE SÁ, 2021) e in-
fluenciadores digitais (KARHAWI, 2021; MARWICK, 2015; SENFT,
2013). Além disso, para explorar a relação entre consumo e promoção
de pautas ligadas ao feminino, trazemos debates sobre os movimentos de
“pós-feminismo” (GILL, 2016; MCROBBIE, 2009) e “feminismo popu-
lar” (BANET-WEISER, 2018) como parte das estratégias de branding
de organizações diversas (BANET-WEISER, 2012). Por fim, buscamos
analisar tais problemáticas a partir de perspectivas interseccionais (AKO-
TIRENE, 2019; CARRERA, 2021; COLLINS, 2015).
4 A noção de «affordance” aqui diz respeito à “plêiade de possibilidades” que os meios permitem
(PEREIRA DE SÁ, 2021, p. 78). Estando o foco do trabalho nas políticas institucionais do You-
Tube, aspectos como usos e apropriações de ferramentas para interação e compartilhamento
de vídeos devem ser considerados futuramente.
5 Mais informações em: https://itgetsbetter.org/. Acesso em: 10 jan. 2024.
6 Sigla que abrange pessoas Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, As-
sexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Pôli, Não-binárias e mais.
A R T I G O
em 2015, Lawson afirmava que essa “saída do armário” não seria ne-
cessariamente a homossexualidade, mas a oportunidade de falar sobre
algum aspecto “profundo e verdadeiro”, revelando dimensões mais
complexas de si. Trata-se de uma dinâmica que não é exatamente nova
no âmbito das celebridades, mas pode ser ressignificada no contexto
das práticas de microcelebridades/influenciadores digitais, cujo vínculo
com a audiência é mantido a partir da revelação de aspectos estratégicos
da intimidade (KARHAWI, 2021; MARWICK, 2015; SENFT, 2013).
Conforme discutido em trabalhos anteriores (EVANGELISTA,
2019), tal movimento ocorreu em meio a um esforço institucional da
Google para consolidar um imaginário sobre a relevância social do You-
Tube para a democratização da comunicação. Assim, a partir de 2016,
a própria plataforma de vídeos começou a investir de maneira mais
incisiva em iniciativas para promover a visibilidade de grupos sociais
marginalizados aqui, nos concentramos especificamente em campanhas
ligadas às mulheres. Em meio à popularização de debates feministas em
diversos contextos, o YouTube acompanhava um movimento de organi-
zações de ramos diversos: tornar a defesa de pautas ligadas às mulheres
uma parte importante de seu branding (BANET-WEISER, 2012).
Naquele ano, lançou o projeto “Programa Global para Mulheres”,
com a participação de cinco youtubers de diferentes nacionalidades. O
projeto, voltado a “dar continuidade aos nossos esforços para empoderar
vozes femininas no YouTube”7, apresentou duas iniciativas. A primeira
delas foi o anúncio de que sete youtubers de diferentes partes do mun-
do fariam parte do programa “Embaixadoras da Mudança”, parceria da
empresa com as Nações Unidas para a promoção de ações de desenvol-
vimento sustentável e igualdade feminina da organização8. A segunda,
mais voltada ao desenvolvimento de conteúdos na plataforma de vídeos,
foi a campanha #Criadoras, que descreveremos no próximo tópico9.
10 O que não significa, é claro, que vídeos sobre beleza devam ser reduzidos a estereótipos de
futilidade ou alienação.
A R T I G O
autodisciplina, monitoramento de si, empoderamento e transformação
pessoal. Portanto, uma sensibilidade que ameaçaria o feminismo, por
conduzir à manutenção das condições que sustentam o patriarcado.
Posteriormente, ao observar a difusão crescente de debates relaciona-
dos ao feminismo na mídia comercial, Banet-Weiser vai caracterizar tal
movimento como “feminismo popular” (2018). A autora observa que,
embora diferentes, o pós-feminismo e o feminismo popular comparti-
lham elementos. O feminismo popular, ao contrário do pós-feminismo,
reconhece a desigualdade de gênero e a vulnerabilidade feminina, ofe-
recendo uma visão crítica que se distancia do vago slogan “girl power”,
mas ainda apresenta soluções liberais para os problemas discutidos. Em
outras palavras, a ênfase em aspectos como a autoestima em detrimento
de propostas mais consolidadas (e radicais) de mudanças estruturais ain-
da aparece como uma das marcas de certas manifestações do feminismo
popular. Neste sentido, ecoando críticas que já vêm sendo realizadas por
feministas negras pelo menos desde os anos 1970, o feminismo popular
é pouco interseccional.
A noção de interseccionalidade é polissêmica, mas cabe destacar, de
modo sintético, que ela diz respeito aos atravessamentos entre raça, clas-
se, gênero, sexualidade, idade, dentre outros marcadores identitários que
“operam não de forma única, como entidades mutuamente excludentes,
mas como fenômenos que se constroem mutuamente que geram desi-
gualdades sociais complexas” (COLLINS, 2015, p. 2, tradução nossa).
Sua proposição e articulação tem sido feita por mulheres racializadas, e,
em especial, pelo feminismo negro (AKOTIRENE, 2019; CARRERA,
2021), gerando relevantes contribuições epistemológicas, metodológi-
cas e de práxis política em campos diversos11.
A R T I G O
Em um segundo momento, foi feito um mapeamento das influencia-
doras convidadas pela plataforma para participar das quatro campanhas,
através de uma análise qualitativa exploratória. Observamos descrições,
imagens de capa e vídeos em destaque nos canais identificados para de-
limitar as temáticas mais abordadas pelas participantes escolhidas até o
período das campanhas. Por fim, analisamos as colaborações publicadas
nos canais de três youtubers que aparecem de forma central nas cam-
panhas mencionadas: Júlia Tolezano, Maíra Medeiros e Nátaly Neri,
durante o mesmo período do levantamento. O objetivo foi compreender
que redes de colaboração se formaram a partir da mediação institucional
da plataforma – a mediação algorítmica foge ao escopo do trabalho.
A campanha #Criadoras, lançada por ocasião do Dia Internacional
da Mulher em 2016, foi uma produção global realizada a partir dos
YouTube Spaces, estúdios da empresa espalhados em diferentes países.
Sete participantes aparecem em cena interpretando mulheres notáveis
no vídeo “100 Years of Incredible Women”12. A produção contou com
uma representante brasileira, Júlia Tolezano, que interpretou a escri-
tora, poeta, jornalista e militante política brasileira Patrícia Galvão,
conhecida como Pagu. Em apenas 2m55s, o vídeo tenta resumir as tra-
jetórias de mulheres notáveis, enfatizando sua capacidade de superação
e mensagens inspiracionais tiradas de contexto — no caso de Pagu, a
frase escolhida foi “Sonhe. Ainda que tenha pesadelos. Sonhe sempre”.
Longe de propor alguma mudança nas estruturas que perpetuam as
dificuldades vividas por mulheres, o vídeo convida a audiência a lutar
por conquistas individuais, remetendo ao pós-feminismo (GILL, 2016;
MCROBBIE, 2009).
Jornalista por formação, Tolezano havia ganhado destaque no ano
anterior após publicar um vídeo sobre relacionamentos abusivos inti-
tulado “Não tira o batom vermelho” (TOLEZANO, 2015). Tal qual as
outras participantes da campanha, a youtuber recebeu convidadas de seu
país para colaborações a respeito de temas relacionados a descobertas e
A R T I G O
A heterogeneidade dos canais envolvidos em #Criadoras indica
uma tentativa de dialogar com públicos variados a partir de mulheres
atravessadas por interesses e “avenidas identitárias” (AKOTIRENE,
2019) distintas, em uma perspectiva que parece abraçar dimensões in-
terseccionais. Em comunicados e matérias sobre a campanha, não há
especificações sobre os critérios de seleção das participantes. Entretanto,
é possível notar que algumas já apresentavam um perfil mais “engajado”
em seus respectivos canais.
Em 2017, youtubers brasileiras voltaram a se destacar em projetos
do YouTube para promover o Dia Internacional da Mulher. O primeiro
foi a campanha #HerVoiceIsMyVoice, ou #AVozDelaÉAMinhaVoz, em
português. No vídeo promocional global da iniciativa15, duas brasilei-
ras aparecem em meio a outras youtubers de diversas partes do mundo:
Nátaly Neri (Afros e Afins) e a supracitada Tatiane Ferreira (Acidez Fe-
minina). Diferentemente de Ferreira, que declarou não se considerar
feminista, Neri já produzia vídeos relacionados ao feminismo negro
(além de se engajar em debates relacionados ao movimento negro de
forma mais ampla).
Entretanto, as brasileiras, assim como ocorre com outras youtubers
retratadas, não têm voz na campanha. Apenas imagens de Ferreira e
Neri em seus respectivos canais aparecem enquanto um discurso da ati-
vista paquistanesa Malala Yousafzai sobre a importância de representar
outras mulheres é ouvido. Celebridades como a ex-primeira-dama dos
Estados Unidos, Michelle Obama, e a apresentadora norte-americana
Ellen Degeneres também transmitem mensagens de valorização fe-
minina. Degeneres, aliás, surge na tela emocionada ao receber uma
condecoração e afirma ter descoberto uma missão “que não era só sobre
mim”, assim como parece ter ocorrido com as outras mulheres que apa-
recem em sequência.
Ao enquadrar o trabalho de influenciadoras nesse contexto, sugere-
-se uma equiparação entre youtubers, figuras públicas e celebridades a
A R T I G O
Imagem 2 – Influenciadoras da campanha #PorQueMulher
17 Informações retiradas da descrição dos vídeos do projeto no Brasil. A lista completa está dispo-
nível em: https://bit.ly/2I8vu6q. Acesso em: 10 jan. 2024.
A R T I G O
de empoderamento feminino no período entre as campanhas. Todos
os canais, cujas autoras publicaram vídeos com perfil mais militante
despontaram em meados de 2015 ou posteriormente. Em diversos ca-
sos, as trajetórias também são parecidas. Nomes como Ellora Haone,
Nátaly Neri, Luci Gonçalves, Júlia Tolezano, Maíra Medeiros e Ana
de Cesaro começaram no YouTube com vídeos que dialogavam com
papéis femininos amplamente populares na plataforma, seja por meio
de conteúdos sobre moda e beleza, seja por meio do humor. Aos poucos,
passaram a publicar com maior frequência vídeos mencionando mais
explicitamente a luta de mulheres/negros/população LGBTQIAPN+
por igualdade social. Nesse sentido, pode-se pensar que integração com
o mercado é uma parte importante da disseminação de debates vincu-
lados ao feminismo popular (e a outras pautas identitárias), que por sua
vez vão contribuir para a visibilidade e reconhecimento das influencia-
doras digitais que os promovem.
Outro ponto relevante da análise diz respeito às categorias de visibi-
lidade articuladas a partir das escolhas institucionais do YouTube. Nas
quatro campanhas mapeadas, apenas uma teve como foco uma mulher
negra, Nátaly Neri (que, ainda assim, dividiu os holofotes da iniciati-
va com uma mulher branca, Tatiane Ferreira). Os outros canais que
centralizaram a produção de vídeos das ações descritas eram comanda-
dos, à época, por pessoas brancas. Tais decisões, como veremos a seguir,
podem ter tido impactos significativos nas redes de colaborações entre
youtubers feministas que se estabeleceram após as campanhas.
Flutuando entre incentivos ao mercado18 e engajamento social, ar-
gumentamos que a plataforma favorece certas pautas identitárias, mas
de forma restrita e segmentada, e privilegiando discussões que reme-
tem à noção de feminismo popular e um grupo social específico. Nesse
sentido, trazemos a hipótese de que ao incentivar o debate sobre o
empoderamento feminino, a empresa o faz a partir de uma lógica que
18 Em 2017, a plataforma lançou uma edição especial do relatório “YouTube Ads Leaderboard”.
Por ocasião do Dia das Mulheres, o documento sobre o desempenho dos anúncios na platafor-
ma apresentou os anúncios que as mulheres preferiam assistir, com destaque para mensagens
de empoderamento (YOUTUBE, 2017).
19 A jornalista anunciou uma pausa em seu canal em 2019 e, em 2022, optou por encerrar o
mesmo.
20 Apesar da posição de centralidade na campanha #FalaMiga, o canal DRelacionamentos não
fez parte desse levantamento por ser baseado em vídeos de ficção com diversos atores.
A R T I G O
trazem convidadas que participaram das campanhas do YouTube lista-
das anteriormente, frequentemente abordando debates relacionados às
experiências femininas - número que se torna ainda mais expressivo con-
siderando a quantidade pequena de colaborações registrada no período.
Entre os canais analisados, o de Maíra Medeiros foi o que mais
publicou colaborações. Além dos vídeos gravados como parte da
campanha #PorQueMulher, a youtuber publicou 54 produções com
participantes de outros canais. Assim como apresentam maior número
de colaborações, seus vídeos trazem maior heterogeneidade, ainda que
os convidados frequentemente debatam questões ligadas ao feminismo e
à cultura LGBTQIAPN+. No total, 16 canais representados nas campa-
nhas ligadas ao YouTube mencionados anteriormente colaboraram com
Medeiros em vídeos além das próprias campanhas (o canal DRelaciona-
mentos aparece em dois vídeos diferentes). Já as colaborações registradas
no canal de Nátaly Neri no período analisado apontam para uma maior
interação com produtores de conteúdo negros. Conhecida por abordar
questões relacionadas à negritude em seu canal, a influenciadora pu-
blicou poucas parcerias com produtoras de conteúdo relacionadas às
campanhas mencionadas anteriormente, marcadas por uma maior par-
ticipação de mulheres brancas. Foram seis vídeos em um universo de 32
produções21.
A imagem a seguir apresenta a correlação entre os youtubers que
participaram dos três canais mencionados e aquelas que fizeram parte
das campanhas promovidas pelo YouTube no período da análise. Os
nomes em destaque correspondem aos youtubers e/ou canais que esti-
veram presentes em pelo menos uma das campanhas aqui descritas. A
figura também indica que youtubers estiveram presentes em dois dos
três canais analisados no período.
21 Vale destacar, contudo, que entre as colaborações encontradas diversos nomes fizeram parte
de duas iniciativas do YouTube vinculadas a influenciadores negros: Creators for change, que
reuniu youtubers de diferentes países em evento em Londres, e YouTube Negro, no qual Neri
recebeu personalidades negras no YouTube Space SP.
A R T I G O
predominância da branquitude nas redes formadas aponta que o femi-
nismo branco segue, desde as sufragistas às influenciadoras, deixando
mulheres pretas para trás, como argumenta BECK (2021).
22 Vale lembrar ainda que o contexto social, sobretudo relacionado à crise que se sucedeu após
o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff e à ascensão de políticos de extrema-direita na
política brasileira, certamente contribuiu para essa configuração naquele período.
A R T I G O
de produção de conteúdo ligado ao tema - hipótese que pretendemos
investigar em análises futuras23.
Por fim, ressaltamos que a atuação da empresa em prol de “minorias”
não deixa de ser uma ferramenta importante também para contrabalan-
cear as acusações que o YouTube sofre por questões como desrespeito
aos direitos autorais e promoção de conteúdos falsos e extremistas (Br-
yant, 2020). Se oficialmente a plataforma articula o fortalecimento do
discurso feminista, seus algoritmos impulsionam crescentemente redes
de discursos antifeministas, atuação que merece análises aprofundadas
em trabalhos posteriores.
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A R T I G O
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Think with Google, 2017. Disponível em: https://abre.ai/iZbe. Acesso em: 19 fev. 2024.
Sobre autores
Beatriz Polivanov - Docente e chefe do Departamento de Estudos Culturais e
Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora permanente do
Programa de Pós-graduação em Comunicação da mesma instituição. Doutora
e mestre pelo mesmo programa, onde desenvolveu pesquisa de pós-doutorado
com bolsa CAPES/PNPD na linha de Estéticas e Tecnologias da Comunica-
ção. Graduada em Letras (Português-Inglês) pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), com Licenciatura pela Faculdade de Educação também da
UFRJ. E-mail: [email protected].
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1289-6604
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2939
Abstract: The article analyses the practices that institutionalize the con-
sumption of imitation fashion, which are enhanced by the content produced by
consumers on TikTok. We start from the assumption that the consumption of
replicas of established brands is driven not only by the digital activity of those
who consume, but also by the algorithmic logics of fashion apps, such as Shein,
which appropriate this dynamic in their commercial strategies. Our aim is to
understand the transformations in the consumption of this type of merchandi-
se, highlighting the sense of belonging in a logic that institutionalizes imitation
alessandra barros marassi 273
A R T I G O
fashion. The study is based on an analysis of content from consumers on TikTok
who adopt these practices.
Keywords: consumption; imitation fashion; institutionalization; TikTok
Introdução
A relação entre os dados, o comportamento de consumo e os interes-
ses comerciais de empresas se fortalece quando observamos que essas
vertentes são a base para o funcionamento e a expansão de empresas –
principalmente de e-commerce – que tomam suas decisões estratégicas a
partir do resultado do monitoramento constantes da interatividade digi-
tal de seus consumidores. Essa lógica difere do que acontecia na década
de 1960, considerada um marco na sociedade de consumo (HOFF,
2008), quando ocorre o êxodo rural e a industrialização. Período em
que as empresas começam a enfrentar o desafio de “descobrir o que seu
consumidor pensa” para pensar em estratégicas que levam ao consumo.
Com o atravessamento das tecnologias na vida cotidiana, consolida-
-se então a ideia que as interações que ocorrem nas redes sociais e nos
aplicativos de compras geram novas práticas de consumo, especialmen-
te entre os jovens. São os usos e as respostas oferecidas por meio de
conteúdo que indicam o que se tornará tendência ou não. Um exemplo
disso é o aparecimento de lojinhas de marcas no Instagram, que come-
çaram a surgir em grande escala, sendo elas oficiais ou mesmo as de
pessoas que comercializam produtos diversos. Com a produção de con-
teúdo, influenciadores e consumidores, o consumo de moda também
foi alavancado não somente pelo comportamento dos consumidores no
ambiente digital, mas pelo atravessamento dos algoritmos na vida co-
tidiana, que monitoram ininterruptamente os desejos das pessoas por
meio de cada atividade registrada pela lógica algorítmica, especialmente
nos aplicativos.
Essa triangulação entre consumo, produção de conteúdo e midiati-
zação são elementos que potencializam a institucionalização da moda
de imitação, tornando-a uma prática valorizada pelos jovens que, por
sua vez, estão em busca de novidades, tendências e não querem pagar
por altos preços adotados pelas marcas consolidadas, a exemplo da Zara,
Adidas, H&M entre outras.
A partir deste cenário, desse artigo investiga as práticas de consumo
que ocorrem entre jovens consumidores da loja chinesa Shein, que
A R T I G O
produzem e potencializam conteúdo de mercadorias similares a essas
marcas, estimulando o consumo de moda de imitação sustentado pelo
discurso de “estar na moda pagando menos”. O estudo busca com-
preender como as interações e atuação dos consumidores da moda de
imitação são determinantes na institucionalização do consumo de mer-
cadorias réplicas e no processo de circulação e midiatização de produtos
desse segmento, a partir do entendimento da midiatização como um
processo estrutural de influência das mídias (cultura de massa e con-
trole da comunicação). Nesse caminho recorremos à perspectiva mais
recente de midiatização como as ações que ocorrem nas mídias digitais,
identificadas como midiatização profunda (COUDRY; HEPP, 2020).
A participação do consumidor brasileiro no processo de midiatização
da marca e do consumo numa engrenagem de interações que percorre a
marca-consumo-midiatização-marca é o “combustível” para a visibilida-
de da Shein. Essa ação é discutida por Trindade e Perez (2019) quando
afirmam:
Se pensarmos as questões de participação, engajamento e modos de cir-
culação, para além das estruturas, podemos avaliar pelas midiatizações as
questões dos gradientes do tipo de participação e colaboração com ações
de marcas, observando e analisando as estratégias e táticas, mas voltando
por meio das mediações culturais a um processo em que a lógica mídia/
marca constitui ou participa da modelagem das realidades e de seus sujei-
tos (TRINDADE, PEREZ, 2019).
A R T I G O
o fator econômico ainda é determinante no processo de decisão de com-
pra, o que as leva a buscar opções alternativas, porém com preços mais
baixos, ou seja, itens que, por essa característica, são mais acessíveis em
lojas fast fashion.
Para Enrico Cietta (2019), o conceito de fast fashion é muito similar
ao mecanismo do fast food, em que há uma aceleração do consumo
por meio da padronização da oferta, focando em um giro cada vez mais
veloz de produtos no ponto de venda, eliminando o estoque, ou seja, o
que está disponível é tudo o que tem na loja. Assim que um item acaba,
dá espaço para outro instantaneamente. Essa velocidade é instaurada
na mente do consumidor que, ao ver uma peça, sabe que se não com-
prar naquele momento, há uma enorme chance de não encontrá-la
mais em uma ocasião futura.
Esse é um modelo de negócio que responde muito bem às constantes
mudanças do mercado (CIETTA, 2019), pois mescla diferentes expe-
riências de consumo, ou seja, o conteúdo moda dos produtos de luxo
com preços acessíveis dos produtos básicos, sabendo incorporar a esco-
lha do consumidor no processo de criação de novos produtos (CIETTA,
2019).
A moda de imitação refere-se à prática de replicar designs, estilos e
tendências de moda estabelecidos por designers renomados e marcas de
luxo. Essa prática, muitas vezes, envolve a produção em massa de itens
de vestuário, acessórios e produtos relacionados que se assemelham às
peças originais, mas são comercializados a preços mais acessíveis. A
moda de imitação pode abranger desde réplicas diretas até interpreta-
ções criativas e adaptações de conceitos de moda existentes.
O consumo de moda de imitação é caracterizado pela compra, disse-
minação e uso de mercadorias similares àquelas produzidas por marcas
conhecidas e consolidadas no mercado. Os itens similares que imitam
peças de grife são produzidos, na maioria das vezes com tecidos diferen-
tes, com qualidade e acabamento inferiores, e são comercializados em
locais alternativos por preços bem menores.
A R T I G O
Plataformização da moda, algoritmos e a modulação do
comportamento de consumo
As redes sociais digitais e os aplicativos, especialmente de moda, de-
sempenham um papel fundamental no consumo de moda de imitação.
Para a análise deste artigo, recorremos tanto ao aplicativo da loja Shein
quanto ao da rede social TikTok, por sua inter-relação no fomento das
práticas de consumo, publicização e disseminação da moda de imitação
na internet.
A Shein é uma empresa de comércio eletrônico sediada na China,
conhecida por oferecer uma ampla variedade de roupas e acessórios de
moda a preços acessíveis. No Brasil conquistou o público da geração
Z, causando significativa transformação no consumo de moda. No que
se refere à sua forma de operação, a Shein utiliza um arcabouço de
algoritmos para analisar o comportamento de navegação e compra dos
usuários no intuito de conhecer o desejo das pessoas em cada um dos
países em que atua. Com base nessas informações, é possível personali-
zar a experiência do usuário, sugerindo produtos que são mais propensos
a interessar a cada cliente individualmente. Isso é feito por meio de re-
comendações personalizadas na página inicial, e-mails promocionais,
anúncios direcionados e ofertas de cupons de desconto.
Tremarim (2022), em sua dissertação de mestrado defendida no
PPGCOM da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, apresenta um
esquema de consumo e de circulação no processo da Shein, conforme
mostra a Figura 1:
A R T I G O
compra. Isso permite que ajuste seu inventário e destaque os produtos
mais populares, garantindo que sua oferta esteja alinhada com as prefe-
rências dos consumidores. Parte das informações sobre quais produtos
são visualizados, quais itens são adicionados ao carrinho e quais produ-
tos chegam à fase final da compra. Esses algoritmos ajudam a identificar
padrões de comportamento e preferências dos clientes.
Outro ponto que é automatizado na plataforma é a precificação dos
itens disponíveis no aplicativo. O algoritmo é capaz de ajustar os preços
automaticamente com base em diversos fatores, como demanda, esto-
que disponível e sazonalidade, incluindo descontos temporários, cupons
personalizados ou promoções especiais para incentivar o consumo.
Com base na coleta de diversas fontes de dados, a Shein emprega al-
goritmos de recomendação para sugerir produtos aos clientes, utilizando
técnicas de filtragem colaborativa, análise de conteúdo e aprendizado de
máquina para identificar produtos que são mais propensos a interessar a
cada cliente, levando em consideração o histórico de compras, produ-
tos visualizados anteriormente e tendências de moda atuais – em cada
país. Assim entendemos que o processo algorítmico da Shein fomenta
ininterruptamente o consumo de moda sustentado pela personalização,
precificação dinâmica, acompanhamento de tendências, marketing de
influência e análise de feedback dos clientes.
Mas como essa operação funciona com tanta eficácia? Identificamos
nesta análise que a Shein busca informações de comportamento de con-
sumo dos jovens na plataforma de maior concentração que é o TikTok.
A grande sacada da Shein foi atuar em parceria com influenciadores
presentes na plataforma para entender os interesses de consumo.
A R T I G O
Figura 2 - Como encontrar?
A R T I G O
Figura 5 - Dior x Shein
A R T I G O
consumir moda e tendências a partir de peças réplicas por menor custo.
Adotamos aqui um posicionamento interpretativista dos enunciados das
publicações, em que se assume a subjetividade da autora.
O TikTok se torna, portanto, um local de promoção de produtos ré-
plicas, principalmente publicados por indivíduos com alto número de
seguidores. Isso posto, entendemos que os dados coletados representam
uma pequena parcela do que é realmente praticado, mas que é capaz de
mostrar como esse fenômeno vem ganhando espaço nesses ambientes.
pessoas que se dizem “viciadas” em comprar nessas lojas: “Eu não dor-
mia mais”. “Quando chegava, eu nem lembrava que tinha comprado”.
“Comprei mais quando estava em depressão”. “Você começa parra ver
como é, compra uma coisinha barata só para testar e aquilo vai te con-
taminando”. “Nas madrugadas, tem ofertas especiais. Já fiquei três dias
sem dormir” (CUNHA, 2023).
As práticas dessas lojas, em especial da Shein atingiram o potencial
da compra recorrente. Adicionar novos produtos no aplicativo toda se-
mana gera a sensação de novidade que as pessoas interpretam como
necessidade de ter. É a partir desse comportamento que recorremos ao
questionamento que Clotilde Perez (2020) faz em sua obra Há limites
para o consumo? Para Perez (2020 p. 62) ela:
As marcas contemporâneas aprenderam caminhos de sedução para che-
gar a aplacar com suas ofertas a dimensão hedonista que todos temos, e
o momento da compra em sua ritualística própria é privilegiado. [...] As
pessoas podem ser manipuladas pela atuação persuasiva da publicidade
e das marcas, no entanto, são capazes de apropriações inimagináveis por
parte de engenheiros, designers ou publicitários. No cotidiano é que se
estabelecem de fato as relações de consumo. (PEREZ, 2020)
Considerações
Diante da análise apresentada, concluímos que a institucionalização da
moda de imitação, que ocorre pelo consumo de mercadorias réplicas de
marcas premium, é potencializada pelo modus operandi da Shein, que
por sua vez é sustentado por processos algorítmicos, mas também vem
acompanhado da tendência e do preço baixo, na maioria das vezes im-
pulsionado pelas práticas do desconto, do influenciador, na novidade.
A R T I G O
Assim, produtos imitação de uma marca traduzem em status os mesmos
ritos de institucionalidade dos produtos legítimos da mesma marca.
Essa prática é compreendida como um benefício de ajuda entre as
consumidoras que, no momento da compra, podem encontrar uma
peça mais facilmente pelos conteúdos publicados, e ao adquirirem o
produto de desejo, pagam um valor menor (tanto pela política da Shein
quanto pelos descontos).
Esse fenômeno promove a ideia de destaque pessoal no meio social,
pelo uso de mercadorias similares às das marcas premium. Tal fato se
descola dos processos de consumo de moda que antes eram pautados na
diferenciação de classes sociais (Santaella, 2023).
A imitação, por sua característica de produtos em alta, mas de baixo
custo, favorece a inserção social de indivíduos que buscam estar e ser
dentro das suas possibilidades. Ou seja, “não gastei fortunas para estar
na moda”.
O artigo mostra que é nas práticas de consumo, embricadas nas ló-
gicas algorítmicas dos aplicativos e nas interações entre consumidores,
que se constitui a institucionalização do consumo de moda de imitação:
“Use meu cupom e ganhe desconto!”
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A R T I G O
Sobre autores
Alessandra Barros Marassi - Pesquisadora de Pós-Doutorado em Ciências da
Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São
Paulo (ECA-USP). Doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-
-SP. Docente na Faculdade Cásper Líbero, docente na Pós-Graduação em
Mídias Digitais do SENAC SP. Autora do livro Interações Digitais e o Con-
sumo do Livro (2017). E-mail: [email protected]. ORCID: https://orcid.
org/0000-0003-3239-5046.
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2881
Abstract: The article aims to identify which frames were constructed by the
journalistic discourse about the “day of fire” in the Amazon, as well as to under-
stand how the journalists’ experience added to the framing. Based on Goffman
thaís braga | sandra marinho 293
A R T I G O
(1974), it is understood that frames are the basic elements that individuals can
identify. The analysis focused on 121 texts published by the newspapers Folha de
S.Paulo (Brazil) and Público (Portugal). The results showed that both construct-
ed frames of conflict, responsibility, human interest, and economic consequences.
Even though, from an editorial point of view, the case was handled in a “nation-
al” way by Folha de S. Paulo and in an “international” way by Público, both
(foreign in their own way) highlighted the faults of President Jair Bolsonaro in
solving the environmental problem.
Keywords: Journlistic construction; Framing analysis; Amazon; Folha de S. Pau-
lo; Público.
Introdução
Em agosto de 2019, imagens da Amazônia em chamas circularam na
sociedade luso-brasileira. Diferente dos incêndios florestais de Pedrógão
Grande, em Portugal (2017), ou da temporada de incêndios na Austrália
(2019-2020), o caráter intencional da queima e o aparente incentivo do
presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) ao desmatamento na Amazônia
particularizam o caso – denominado como o “dia do fogo” (MAISON-
NAVE, 2019). A partir do discurso jornalístico, pretende-se identificar e
discutir o processo de construção dos quadros de sentido (frames) acerca
do “dia do fogo”, bem como compreender de que maneira a experiência
dos jornalistas contribuiu para o enquadramento (framing).
Em diálogo com Goffman (1974), percebe-se que os quadros de sen-
tido são um tipo de moldura que reveste os diferentes objetos e práticas,
encaixando-os numa estrutura ordenada. Dessa forma, os quadros do
sentido determinam a razoabilidade dos enunciados e dos processos
comunicativos. Em decorrência do seu poder comunicativo, o discur-
so jornalístico permite examinar não apenas as práticas e as rotinas da
produção de notícias, mas também a relação entre o jornalismo e a so-
ciedade, além das forças que atuam nessa relação (CARLSON et al.,
2018). Por isso, de maneira ampliada, interessa aqui perceber a visão da
sociedade luso-brasileira sobre a Amazônia, considerando os interesses
que perpassam este entendimento.
Partimos da noção de que determinado acontecimento público (que
será objeto de atenção por parte do público) resulta de uma constru-
ção discursiva por parte dos media. O processo ocorre por via de uma
“rede operacional” (HILGARTNER; BOSK, 1988, cit. por NEVEU
et al., 1997), entendida como “o meio através do qual os ‘problemas’
conseguem aceder aos media e à consagração do estatuto social do acon-
tecimento [que está na origem do problema]”. Isto implica a existência
de “interrelações mais ou menos institucionalizadas entre os especia-
listas em determinado tipo de problema (saúde, ambiente etc.) dentro
de diferentes arenas sociais (jornalismo, governo, associações, empresas
etc.)” (NEVEU et al., 1997). Assim, mais do que discutir a produção de
A R T I G O
quadros de sentido a partir de um “acontecimento”, vamos discuti-la a
partir de um “problema público”.
Esta perspectiva articula-se, a nosso ver, com a ideia da notícia “como
uma entidade inerentemente dinâmica, moldada num ambiente social”
(PAUL; BERKOWITZ, 2019). Portanto, “a formação e vivência pessoal
de um jornalista, a organização do local de trabalho e as interações com
a sociedade em geral durante um período de tempo afetam a construção
das notícias” (PAUL; BERKOWITIZ, 2019).
Optou-se pela análise do “dia do fogo” por meio dos jornais Folha
de S.Paulo (Brasil) e Público (Portugal). Apesar dos seus diferentes
contextos sócio-históricos e político-institucionais, ambos afirmam ser
comprometidos com a democracia, o Estado de direito e os direitos hu-
manos (CARVALHO; DÁVILA, 2020). Além disso, os dois periódicos
são referência no segmento de publicações diárias em seus respectivos
países, logo a sua produção discursiva fornece pistas sobre a sociedade
luso-brasileira.
O artigo inicia-se com um posicionamento teórico-experimental
acerca do processo de enquadramento. Em seguida, explicam-se os pro-
cedimentos metodológicos e, por fim, apresentam-se e discutem-se os
resultados do trabalho. Para os estudos de media e jornalismo, a con-
tribuição efetiva da análise aqui desenvolvida consiste em explicitar as
etapas para a análise discursiva. É válida a crítica de que os métodos para
se encontrar os quadros de sentido são ilusórios, uma vez que se referem a
um conjunto de abordagens de natureza dedutiva (VLIEGENTHART;
VAN ZOONEN, 2011). No entanto, inova-se ao examinar a construção
das notícias considerando os interesses que atravessam as práticas e ro-
tinas jornalísticas, bem como a experiência dos profissionais envolvidos
no caso.
Outrossim, o enquadramento dá indícios sobre as transformações
pelas quais passam os jornais tradicionalmente produtores de edições
impressas, bem como suas estratégias de produção noticiosa – sobretudo
diante dos media digitais. Apesar do “dia do fogo” ter sido discutido em
trabalhos anteriores, por meio da análise de enquadramento é possível
A R T I G O
agitação pública. Desta forma, a linguagem torna-se o lugar de realiza-
ção da experiência.
A partir de Entman (1993), os quadros de sentido passam a ser vis-
tos como uma ideia central que subjaz e orienta a construção de textos
e, em suma, a construção discursiva da realidade. Para o autor, o en-
quadramento envolve a seleção de alguns aspectos de uma realidade
percebida para, em seguida, tornar estes aspectos mais salientes em um
texto de comunicação. Isto significa tornar uma informação mais per-
ceptível, significativa ou memorável para o público a fim de promover
a definição de um problema específico, o diagnóstico da sua causa, sua
avaliação moral e/ou a recomendação de soluções.
Os jornalistas utilizam o seu repertório de quadros de sentido para
construir uma notícia, portanto fatores organizacionais, condições ex-
ternas e fontes jornalísticas podem influenciar a seleção de um quadro
(VAN GORP, 2010). Cada quadro reconstruído é apresentado por um
pacote de quadros (frame package), ou seja, por uma estrutura integrada
de dispositivos de enquadramento. Assim, uma cadeia lógica de dispo-
sitivos de raciocínio demonstra como o quadro representa determinado
problema.
São exemplos de dispositivos de enquadramento metáforas, situações
históricas das quais as lições são tiradas, bordões, representações e ima-
gens visuais, temas e subtemas, tipos de atores, ações e configurações,
linhas de raciocínio e conexões causais, contrastes, escolhas lexicais,
fontes de informação, quantificações e estatísticas, tabelas e gráficos, e
apelos (emocionais, lógicos e ética). Coleman (2010) acrescenta que as
mensagens visuais (fotografias, imagens em movimento, mapas, gráfi-
cos, desenhos e cores) e as mensagens verbais (textos) ocorrem juntas
nos media e o público as processa simultaneamente. Por isso, o enqua-
dramento também se refere à seleção de uma vista, cena ou ângulo ao
fazer a imagem, recortá-la, editá-la ou selecioná-la.
De Vreese (2005) afirma que a potencialidade do enquadramento
reside na compreensão de como os quadros de sentido emergem (ou são
construídos) e na definição desses quadros (a interação entre os quadros
A R T I G O
Procedimentos metodológicos
Estudos de caso são pesquisas em profundidade, de caráter comparativo,
em que deve ser possível captar outros elementos do contexto maior,
sem necessariamente ser representativo dele (OROZCO; GONZÁ-
LEZ, 2012). Neste trabalho, admite-se que o “dia do fogo” representa
um caso, ilustrativo da produção jornalística sobre um problema am-
biental, que é o desmatamento da maior floresta tropical do mundo,
de dimensão transnacional. Ainda que não seja possível produzir ge-
neralizações, espera-se encontrar pistas sobre as relações de poder que
atravessam a construção social do bioma.
Justifica-se a escolha dos jornais Folha de S.Paulo e Público, porque
se entende que a Amazônia representa o outro que está distante físi-
ca e temporalmente não apenas da Europa e da América Latina, mas
também dos centros político-econômicos do Brasil. Em Paes Loureiro
(1995), percebe-se que a dificuldade de acesso à Amazônia, imposta pe-
los rios e pela floresta, consolidou suas duas principais características
sociais, que são o isolamento e a identidade (dada a predominância de
povos indígenas e caboclos). Por isso, admite-se que os dois periódicos
caracterizam um olhar estrangeiro.
Por meio de um processo de amostragem não probabilística por ca-
sos típicos1, selecionaram-se os textos jornalísticos sobre o “dia do fogo”
publicados nos sites dos jornais Folha de S.Paulo e Público entre agosto
de 2019 e outubro de 2020, o que permitiu a constituição de um cor-
pus com 60 textos do jornal brasileiro e 61 textos do jornal português.
Aplicou-se uma grade de análise, que permitiu identificar os jornalistas
que produziram textos sobre o caso em estudo. A partir de então, consti-
tuiu-se uma amostra de entrevistados2: o jornalista Phillippe Watanabe
e o secretário de redação Vinícius Mota, da Folha de S.Paulo; o jorna-
1 Importante não confundir que o “dia do fogo” caracteriza-se como estudo de caso, pois repre-
senta uma realidade, e que os jornais Folha de S.Paulo e Público são casos típicos da produção
jornalística, visto que permitem analisar este caso.
2 O conteúdo dessas entrevistas não foi objeto de análise de conteúdo. As informações prestadas
pelos jornalistas foram úteis, porque ajudaram a elucidar o processo de construção do discurso
jornalístico e, consequentemente, dos enquadramentos. Por isso é que primeiro se analisaram
as notícias e, depois, se fizeram as entrevistas.
A R T I G O
Na Folha de S.Paulo, os quadros de conflito apresentaram diferentes
pontos de vista sobre o “dia do fogo”. Segundo os responsáveis pelos in-
cêndios florestais (“madeireiros, fazendeiros e empresários”), a iniciativa
de incendiar parte da floresta amazônica num único dia era uma for-
ma de mostrar ao presidente Jair Bolsonaro que “queriam trabalhar”. O
confronto discursivo estabeleceu-se quando esta perspectiva foi questio-
nada por cientistas. Os quadros de conflito tornaram-se mais complexos
quando incorporaram as acusações do presidente Jair Bolsonaro e de
seus apoiadores: de que organizações não governamentais (ONG), po-
vos indígenas e pequenos produtores eram os verdadeiros responsáveis
pelo fogo na floresta; de que os incêndios eram naturais, em decorrência
do “clima seco”3 da Amazônia; de que o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) havia divulgado dados falsos sobre o desmatamento na
Amazônia com o objetivo de prejudicar a imagem do governo; e de que
os estrangeiros tinham “interesses escusos” na Amazônia – esta última
acusação resultou das críticas feitas sobretudo pelo presidente francês
Emmanuel Macron e pelo ator estadunidense Leonardo DiCaprio.
Os quadros de responsabilidade evidenciaram o aumento no núme-
ro de focos de incêndio na Amazônia, bem como mostraram que os
órgãos de fiscalização ambiental – os institutos Brasileiro do Meio Am-
biente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – foram fragilizados desde o
início do governo Bolsonaro. Isso impossibilitou a coibição dos supostos
crimes ambientais e a responsabilização dos envolvidos. Outrossim, a
invocação à Garantia da Lei e da Ordem (GLO), prevista na Constitui-
ção Brasileira, e a moratória do fogo, como ficou conhecido o decreto
presidencial n° 9.992/2019, que proibiu o uso do fogo na Amazônia Le-
gal durante 60 dias, foram as respostas do presidente Jair Bolsonaro ao
“dia do fogo”. No entanto, as ações foram tomadas tardiamente, apenas
A R T I G O
Figura 1 – Enquadramentos sobre o “dia do fogo” produzidos pela Folha de
S.Paulo.
Consequências
Conflito Responsabilidade Interesse humano
econômicas
Ataque de Bolsonaro
Investigações a pedido
ao Inpe, ONG, Macron Ameaça à vida do Mineração em terras
de Sérgio Moro
e DiCaprio jornalista Adécio Piran indígenas
A R T I G O
Figura 2 – Ilustrações enviadas pelos leitores ao Público acerca do “dia do fogo”.
Fonte: Público.
Consequências
Conflito Responsabilidade Interesse humano
econômicas
Discurso agressivo de
Manifestação de artistas
Bolsonaro na ONU e Cobrança da Greenpeace à
pelos media sociais
acusações contra os Europa
(Twitter e Instagram)
pequenos produtores
Ameaça de boicote ao
couro brasileiro
Alerta à Europa sobre o
Articulação de Macron, Protestos no Porto e em
desmatamento na
por meio do G7 Lisboa
Amazônia
A R T I G O
insere (DE VREESE, 2005; ENTMAN, 1993; SCHEUFELE, 1999;
VAN GORP, 2010), bem como da experiência dos jornalistas (FRAN-
ÇA, 2002; GOFFMAN, 1974) envolvidos na cobertura do “dia do fogo”.
Igualmente, assumimos que ambos os periódicos traduzem um olhar
“estrangeiro” (PAES LOUREIRO, 1995) sobre o problema em análise
– ou seja, estão geográfica e emocionalmente distantes, ao contrário do
que se poderia esperar da Folha de S. Paulo que, à partida, cumpriria o
valor-notícia da proximidade.
Como se verá adiante, a diferença entre os quadros de sentido pode
ser elucidada a partir de um critério, segundo o qual, para o jornal
brasileiro, o “dia do fogo” efetivamente evidenciou (do ponto de vista
editorial) um assunto “nacional”, enquanto para o jornal português o
assunto foi “internacional”. Compreendeu-se que tenha sido preponde-
rante o quadro de conflito para a Folha de S. Paulo, no sentido em que
esse acontecimento/problema acionou, reforçou e prolongou a tensão
sociopolítica mais vasta que atravessava o país. Isso não significa que a
dimensão política estivesse ausente do quadro de responsabilidade traça-
do pelo Público, no entanto surgiu associada a um contexto geopolítico
internacional, em que a Amazônia é tratada como um tópico universal,
que diz respeito a todos e que é responsabilidade de todos. Em outras
palavras, um território simbolicamente apropriado de forma universal.
Tomando por referência um indicador meramente quantitativo – o
número de textos publicados por jornal – a discussão complexifica-se,
já que temos sensivelmente o mesmo número (uma a mais no Público
– 61). Poderá significar, como argumentamos adiante, que a relevân-
cia dada aos assuntos da Amazônia pelo jornal brasileiro não é superior
ou qualitativamente diferente da que é dada pelo jornal português – o
mesmo olhar “estrangeiro”. Por outro lado, pode se argumentar que os
números se aproximam porque os assuntos relativos à Amazônia sus-
citam interesse internacional e, no caso específico do Brasil, há um
interesse particular por parte de Portugal (essa argumentação poderá ser
desafiada, naturalmente, trazendo para a comparação outros periódicos
de ambos os países e de outras zonas geográficas).
A R T I G O
As rotinas de produção jornalística do periódico brasileiro conso-
lidaram sobretudo os quadros de conflito sobre o “dia do fogo”, visto
que, em decorrência da ênfase a certas expressões (“as queimadas de
agosto”, “crise internacional” e “noite na cidade de São Paulo”) e do
uso recorrente de imagens de satélite (que indicaram os pontos de ca-
lor na Amazônia) e de gráficos (que registraram anualmente o total de
incêndios florestais), foi possível perceber que o desmatamento na Ama-
zônia estava a ser impulsionado por fatores antrópicos – diferente do que
afirmava o presidente Bolsonaro. No entanto, a mesma dinâmica cor-
roborou o olhar estrangeiro, pois Watanabe, que lida com o jornalismo
científico-ambiental desde o começo da sua vida profissional, jamais es-
teve na Amazônia. Na verdade, a experiência do jornalista é com dados
científicos sobre questões ambientais, o que é um background essencial:
interpretar dados é muito relevante, principalmente quando se trata de
jornalismo científico. Porém, o contato com o mundo físico (marca
identitária da reportagem jornalística) é o que dá vida aos números e
aos relatórios científicos. Segundo o próprio Watanabe, o jornalista não
julga necessário sair de São Paulo para compreender a importância e a
complexidade dos problemas ambientais, além de haver mais segurança
e infraestrutura na sede da redação.
Ao que tudo indica, a floresta amazônica ainda é vista como um
território a ser desbravado – isolado e com identidade própria (PAES
LOUREIRO, 1995). Segundo o secretário de redação Vinícius Mota
(que admite que a audiência da Folha de S.Paulo não está na Amazônia),
são elevados os custos para se fazer jornalismo nessa parte do Brasil.
Para reduzir as despesas, o jornal tenta manter correspondentes pelo
país. No caso do “dia do fogo”, o trabalho dos correspondentes refletiu-
-se particularmente nos quadros de interesse humano, pois se enfatizou
as consequências do suposto crime ambiental para os povos indígenas
e para o jornalista Adécio Piran. Ainda consoante a lógica “custo-bene-
fício”, o periódico brasileiro procura estabelecer parcerias, em especial
para a aquisição de imagens. No caso em estudo, a maior parte das fo-
tografias foi fornecida pela agência de notícias Reuters. A Figura 4, por
Figura 4 – A Agência Reuters forneceu a maior parte das fotografias sobre o “dia
do fogo”.
A R T I G O
jornalistas de férias no período dos incêndios florestais. Na avaliação de
Cabral Fernandes, em decorrência da falta de acontecimentos particu-
lares em Portugal e das férias de verão, foi possível repercutir o caso a
distância, sem a necessidade de reorganizar a equipe ou de realocar os
jornalistas especializados em ambiente – o que fortaleceu a construção
dos quadros de responsabilidade e de interesse humano. Deve-se regis-
trar que, no mesmo período, houve incêndios florestais em Portugal,
contudo a dimensão e o alegado viés criminoso do “dia do fogo” pode
ter sido a razão para que o caso brasileiro tenha sido mais explorado pelo
Público. Em outras palavras, tratou-se de um processo de construção
noticiosa marcado pela dependência de informação de agências (WU,
2000) e, do ponto de vista organizacional, por decisões de alocação de
recursos, no contexto em que são escassos (KIM, 2003).
Apesar de o noticiário internacional ser caro ao Público, o investi-
gador e jornalista Joaquim Fidalgo (que participou de forma ativa da
fundação do periódico) corrobora que, tradicionalmente, não há uma
orientação editorial no sentido de dar atenção particular ao que se passa
na ex-colônia portuguesa, tampouco à periferia do Brasil, onde se lo-
caliza a floresta amazônica. Ao jornal interessa mais o que se passa nos
demais centros europeus e nos Estados Unidos da América. A crescente
imigração brasileira4 em Portugal certamente leva o periódico a noticiar
mais o Brasil na contemporaneidade, mas ainda sem o necessário enten-
dimento sócio-histórico.
Essa avaliação parece ir ao encontro da perspectiva de Sakurai
(2017), que reconhece a relevância dos aspectos culturais no fluxo de
notícias internacionais – nomeadamente a partilha de uma “língua”
e os “laços coloniais” –, porém argumenta que essas dimensões aca-
bam por diluídas pelos determinantes mais preponderantes: o interesse
econômico, o fator político e o interesse das agências noticiosas. Isso
poderá explicar a percepção de que ao Público interessa mais o contexto
4 Dados de 2022 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras apontam que, dos 781.915 imigran-
tes regulares em Portugal, os brasileiros representam a maior comunidade: 239.774 pessoas
(30,7% do total de estrangeiros). Ver: https://www.sef.pt/pt/Documents/RIFA2022%20vF2a.
pdf.
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Conclusões
O artigo objetivou identificar quais foram os quadros de sentido sobre
o “dia do fogo” construídos por dois periódicos de diferentes geogra-
fias – Público e Folha de S. Paulo – e compreender de que maneira a
experiência dos jornalistas contribuiu para o processo de enquadramen-
to. Isso para perceber, de maneira mais ampla, o olhar luso-brasileiro
(com as devidas limitações e sem generalizações) sobre a Amazônia. Em
ambos os jornais, reconheceram-se quadros de conflito, de responsabili-
dade, de interesse humano e de consequências econômicas. As práticas
e as rotinas de trabalho, bem como o envolvimento dos jornalistas no
caso, contribuíram para a consolidação de dois olhares estrangeiros so-
bre a Amazônia – ainda que, do ponto de vista editorial, o caso tenha
sido tratado de forma “nacional” pela Folha de S. Paulo e de forma “in-
ternacional” pelo Público.
Para o jornal brasileiro, os correspondentes e os parceiros (por exem-
plo, as agências de notícias) foram estratégicos para diminuir as despesas
da produção jornalística nessa parte do Brasil, da mesma forma que a ex-
periência do principal jornalista envolvido no “dia do fogo” (Watanabe)
contribuiu para que se revelasse a tensão político-econômica e interna-
cional – não apenas ambiental – desencadeada pelo governo Bolsonaro.
Já para o jornal português, as agências de notícias foram igualmente
essenciais (sobretudo a Lusa), considerando a escassez de recursos para
deslocar correspondentes para a Amazônia. Porém, seria necessária algu-
ma organização editorial para entender as nuances político-econômicas
e sociais em torno da floresta amazônica – o que poderia evitar a repeti-
ção de equívocos tradicionais, como a metáfora do “pulmão do mundo”.
De maneira concreta, este trabalho contribui para os estudos de
media e jornalismo em três aspectos. O primeiro refere-se ao campo pro-
fissional, pois se percebeu que a produção de notícias, principalmente
aquelas que envolvem locais de difícil acesso, como a Amazônia, está di-
retamente relacionada aos determinantes organizacionais (internos aos
periódicos). Contudo, há um diferencial que recai sobre a experiência
dos jornalistas – tanto que o Público foi capaz de chamar a atenção para
A R T I G O
em liberdade), enquanto watchdog, e garante da prestação de contas por
parte do poder político.
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.
A R T I G O
Sobre autores
Thaís Braga - Universidade do Minho. Doutorada em Ciências da Comuni-
cação pela Universidade do Minho (Portugal). Investigadora colaboradora do
Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.. E-mail: thaislcbraga@gmail.
com. ORCID https://orcid.org/0000-0002-2505-7367.
DOI 10.18568/cmc.v20i60.2959
A R T I G O
Introducción
El papel que tienen los más jóvenes en la sociedad está íntimamente vin-
culado a la representación visual que se hace de ellos. En este artículo
reflexionamos sobre la función que tienen las imágenes fotográficas en
la producción de la visibilidad de la protesta juvenil, a partir del análisis
de los motivos visuales de la protesta en Chile y de las transformaciones
que se vislumbran en las nuevas prácticas de producción fotoperiodísti-
ca. Para cumplir este objetivo, estudiamos tres fotografías ganadoras de
los premios de fotoperiodismo en Chile entre los años 2012-2015.
El Salón Nacional de Fotoperiodismo, conocido actualmente como
Fotoprensa, es organizado desde 1950 por la Unión de Reporteros Gráfi-
cos y Camarógrafos. Se trata del certamen de fotografía periodística más
antiguo de Sudamérica, y uno de los más longevos a nivel mundial, y en
el que los propios pares eligen las mejores fotografías de cada año en un
conjunto diverso de categorías. De allí que hemos optado por analizar
las fotografías ganadoras de la categoría prensa entre los años 2012-2015,
marco temporal del ciclo de movilización y protesta que remeció al país
y que tuvo como características principales ampliar las dimensiones
simbólicas, visuales y comunicacionales de las luchas sociales. Se trata
de tres fotografías que circularon ampliamente por medios de comu-
nicación masiva, tanto en versiones impresas como online para redes
sociales, y fueron tomadas por fotoperiodistas que trabajan en medios
de comunicación, agencias internacionales y plataformas alternativas de
periodismo.
Como antecedente visual, es importante entender la práctica de
la visualidad de la protesta juvenil en un espectro histórico más am-
plio. Si en la primera mitad del siglo XX los movimientos juveniles y la
vinculación de la juventud con la política no van a contar con una vi-
sualidad propia que les acompañe, a partir de los años 60 observaremos
una transformación importante (AGUILERA; SAA, 2022). En el caso
específico de Chile, surgirá una importante visualidad sobre la juven-
tud inscrita en medios de comunicación tradicionales y asociativos cuya
principal forma iconológica se inscribió en una narrativa de militancia
A R T I G O
Detenernos en este hito es fundamental, pues aquí se configuró una
generación (MANNHEIM, 1993), es decir, un conjunto de jóvenes que
experimentan un intenso proceso de activismo y socialización políti-
ca, y a partir del cual se proyectarán hacia el futuro. Son estos jóvenes
pingüinos quienes protagonizarán años más tarde otro momento agudo
de movilización social conocido como la primavera chilena; esta vez,
estudiantes universitarios que mantuvieron paralizadas y ocupadas las
Universidades públicas todo el año académico 2011. A su vez, será este
mismo conjunto generacional el que estará, mayoritariamente, tras las
movilizaciones del mayo feminista el 2018 y el estallido social de octu-
bre de 2019.
En síntesis, se trata de un período inscrito en lo que hemos deno-
minado un ciclo de movilización y politización (AGUILERA, 2012,
MUÑOZ & DURAN, 2021). Al calor de este proceso, se fueron sociali-
zando políticamente sucesivas cohortes de edad y no tan solo jóvenes, se
ensayaron y probaron nuevas formas de visibilizar el conflicto y construir
narrativamente su legitimidad, dinamizando un proceso de reconfigura-
ción de la subjetividad política en el contexto de una sociedad altamente
neoliberalizada y con una fuerte presencia de sectores conservadores.
A R T I G O
comunicación, sus procesos y sus medios, visibilizando las imágenes
y representaciones como dimensiones específicas. De allí que para
comprender las imágenes y particularmente las fotografías de la pro-
testa juvenil recurramos a la perspectiva de MITCHELL (2009) para
quien la «propia representación es un actor más» (p. 362). No se trata
solamente de la voluntad del fotógrafo y el retratado, existe una trama
tecnológica-económica que sostiene estas imágenes y saberes y prácticas
profesionales a la base, así como cánones representacionales disponi-
bles para épocas y contextos que conllevan estéticas y límites a la propia
representación.
Diferentes imágenes, y no solo fotográficas han acompañado la visua-
lidad de la juventud y los movimientos sociales durante el siglo XX. Una
de ellas son las provenientes del fotoperiodismo y que desde sus orígenes
despliega un tipo de mensaje que busca conmover y evocar algo más a
su espectador:
(…) Detrás de las verdaderas historias del fotoperiodismo se esconde la
noción de que, por lo menos algunas fotografías periodísticas, son podero-
sas. (...) Esas fotos, si bien no son el día a día de la profesión, permanecen
como sus símbolos y corresponden a las cualidades convencionalmente
tenidas por deseables en las fotografías de noticias. (DOMENECH, 2014,
p. 40).
A R T I G O
En cuanto a los fotoperiodistas, además de imágenes de índole infor-
mativa también se dedican a otro tipo de fotografía más elaborada, con
más contenido, que indaga en las causas y busca explicaciones. Este tipo
de fotografía se acerca más a la fotografía documental tiene a menudo
un carácter social y etnográfico y tiene una larga tradición en la historia
del fotoperiodismo (AMAR, 2000): aquí el fotógrafo desempeña un pa-
pel de testigo y de observador, investigador de las situaciones políticas,
económicas y sociales de un pueblo o de un país. Los fotoperiodistas de
medios y agencias también realizan este tipo de registros y algunas de
ellas son publicados en los medios tradicionales y/o alternativos. Estas
fotografías serán luego seleccionadas por los propios autores para pos-
tularlas a algún premio o directamente por el jurado que las selecciona
para un certamen.
A R T I G O
dichos circuitos. Su actuar permite una pluralidad visual al tiempo que
la elaboración de otra narrativa cultural de los movimientos sociales y
juveniles en específico.
Un punto de partida compartido por los fotógrafo, remite a las limita-
ciones de la industria foto periodística para sus apuestas personales. En
el caso de Tomás Fernández (Ganador Fotoprensa 2012), se trata de ir
construyendo lo que denomina como fotografía documental y en la que
influye su formación profesional como periodista:
(…) In my opinion, documentary photography does what mass media
can’t do because mass media is too busy with the day-by-day deadlines and
coverage. Namely, documentary photography allows the photographer to
go deeper in their approach and create something more personal since
the photographer can invest more time and reflection in order to create a
visual product with an identity. Something less disposable, with different
influences beyond photojournalism: more artistic, introspective, contem-
porary, you name it. (Fernández, 2018)
Ahora bien, con los matices respectivos, todos han ido elaborando
dicho punto de vista en el marco de su propia actuación como fotó-
grafos, desde el compromiso con los movimientos sociales y las luchas
que han desplegado. Por cierto, existen situaciones de orden biográfico
que acompañan y ubican estas decisiones profesionales, como el exilio
A R T I G O
tendrán tanto los fotógrafos como las propias obras que se ponen en
circulación.
Hasta los años 2000, la comunicación de la protesta había sido cons-
truida narrativa y visualmente a partir de una hegemonía adultocéntrica
que deslegitimaba la acción juvenil. Como consecuencia, el peso re-
presentacional recaía en la confrontación directa entre antagonistas y
desde allí se construía la visualidad. La antropóloga Rossana Reguillo
va acuñar la noción de “rehenes de la fotografía” (2004 p.20) para ca-
racterizar, precisamente, la dificultad de construir una narrativa distinta
a la ofertada por los medios de comunicación. Desde el 2006 en ade-
lante las y los estudiantes chilenos pusieron en marcha una política de
la visibilidad (AGUILERA, 2016a) que poco a poco fisuró el canon de
representación hegemónico y permitió la emergencia de otras formas
visuales de la protesta. Es así como el año 2011, la propia diversidad de
repertorios de movilización, más lúdicos, expresivos, y profundamente
conectados con la cultura visual del momento3, se trasladaron a las fo-
tografías y representaciones de la protesta juvenil (Fig.1).
De esta forma, identificamos un nuevo giro visual en la puesta en
escena del protagonismo juvenil. Si en los 60 la figura del dirigente es-
tudiantil (varón), liderando batallas y enfrentamientos multitudinarios,
se tradujo en la figura épica del héroe trágico con sus respectivos íconos
globales (Che Guevara para América Latina, Malcom X para Nortea-
mérica, Daniel Cohen Bendit para Europa), el siglo XXI desplazará esas
imágenes por otras donde emerge la alegría, la singularidad de los prota-
gonistas, a veces el anonimato o la propia desaparición y metaforización
del conflicto en espacios, atmósferas o sensaciones.
3 Para conocer más sobre las distintas obras y expresiones visuales creadas por estudiantes duran-
te el año 2011, se recomienda la Página Web: https://movimientoestudiantil2011.com
A R T I G O
salir del propio tiempo de la imagen es la condición de posibilidad para
ver lo que allí se muestra.
En la primera imagen analizada, de Tomás Fernández (Fig.2) y que
obtuvo el Primer lugar FOTOPRENSA 2012, observamos una sala de
clases invertida cuya foto fue tomada en noviembre de 2011 y reproduci-
da por el diario El Mercurio de Valparaíso. Las sillas están en el techo, el
escrito de la pizarra al fondo está al revés, y pareciera que lo único en su
lugar es el hombre que, de espaldas a nosotros, observa ese espectáculo.
Si existe una institución moderna, directamente vinculada al mundo
juvenil y donde la verdad aparece presentada como un hecho positivo,
resultado de la acumulación de siglos y siglos de saberes, es la institución
educativa. Así también, es el lugar que históricamente ha contribuido
a institucionalizar la subordinación y menorización de la juventud bajo
pretexto de “estar en preparación” o en moratoria psicosocial como la
han caracterizado los saberes de base biomédica en la modernidad.
Pero allí lo que se nos muestra es un cuerpo interrogado, cuestionado
por una verdad dicha en voz baja: en un mundo realmente invertido, lo
verdadero es un momento de lo falso. La cita es conocida, forma parte de
La sociedad del espectáculo (DEBORD, 1995 p.10). Aquello es lo que, a
lo lejos, se observa en esa pizarra y escrito al revés, otro juego visual para
performar precisamente la interrogación sobre dónde está lo verdadero
en un proceso de movilización como el que desplegaron los estudiantes
universitarios chilenos el año 2011.
A R T I G O
Imagen 3. Foto del año, 1º Lugar Prensa FOTOPRENSA 2013.
A R T I G O
Imagen 4. Foto del año, 1º Lugar Prensa FOTOPRENSA 2015.
III. Conclusión
Estas imágenes se vuelven significativas para una comprensión de los
repertorios de protesta, sus cambios y continuidades, y a su vez, per-
miten superar la dicotomía entre lo expresivo y la agencia, en tanto
concebimos a las imágenes con capacidad para modificar y transformar
la mirada. De allí que hoy no sea posible pensar las protestas juveniles
por fuera del propio repertorio visual en el que se inscriben, las citas
visuales a las que recurren, los lugares por los cuales circulan y los usos y
apropiaciones que hacemos de ello. Esa es la importancia de detenernos
en estas imágenes de protesta ganadoras de los concursos de Fotoprensa
en Chile.
Estas fotografías son el resultado de una comprensión visual de la
protesta, que tiene sus propias tradiciones y cánones, y que generacio-
nalmente se han venido problematizando y actualizando. El giro visual
del canon épico al placer de la agencia, es resultado tanto de los cambios
A R T I G O
imágenes de la protesta que inundaron las redes sociales y los medios de
comunicación impresos y audiovisuales para el estallido social chileno
en 2019. Tanto así que se ha desplegado toda una línea y objeto de es-
tudio que articula arte-política y que habla, justamente, de un estallido
visual (RIQUELME, 2023; ARAVENA, 2023).
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A R T I G O
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2926
Abstract: Climate change has been identified as the greatest challenge facing
humanity. In this research we sought to find out the extent to which teenagers use
social media to stay informed about the climate emergency and sustainability.
We studied the case of 98 teenagers, examining what types of content they view
on Instagram and Tik Tok, and which accounts they follow. The main results of
this research indicate that these teenagers do not use the analysed platforms to
consume content on climate emergency and sustainability, highlighting the need
for further educational intervention as a way to promote interest in these issues.
Keywords: Climate Change, Social media, Tik Tok, Instagram, Teenagers.
342 climate change and social networks
A R T I G O
Introduction
Social networks are established as a double-edged sword in relation to
people’s beliefs (Amanda Lenhart et al., 2007), and since adolescence is
a critical time of identity formation, the impact of what they see on so-
cial networks can be much more intense than in other life periods (Amy
Orben, 2020). For this reason, the influence of social networks content
should not be obviated (Alexandra V. Fedotova, 2019).
According to Vandana Shiva (2019), the economic and political sys-
tem that we have built, and that accompanies us today, is not compatible
with life. The climate emergency is a reality (Yayo Herrera, 2022); it
constitutes a current and future problem (Alicia Puleo, 2019), and if it is
not stopped or reversed the effects can be devastating. Reason why sev-
eral experts express that to guarantee the survival of the human species
on the planet it is necessary to work on a decarbonization of the system
(Jorge Riechmann, 2012). Lately, we have seen young people raising
their voices on environmental issues (Greta Thunberg, 2022), even cre-
ating activist groups such as Fridays for Future (Hannah Wallis, Laura
S. Loy, 2021).
Therefore, in this research we want to analyse if the massive use
of social media is impacting teenagers on improving climate change
awareness, and if the content consumed shows an ideal way of life in
which individuals reduce their consumption and, consequently, their
impact on the environment.
It is true, however, that there is an ongoing debate on this issue (Karen
Yeung, 2017). On the one hand, there are those researchers who consid-
er that social media platforms promote ideas and send specific messages
(Felipe González, 2019), and those who consider that, by working with
the algorithm, they actually only reaffirm the beliefs that subjects al-
ready hold, isolating them from other opinions (Jaeho Cho et al. , 2020).
Be that as it may, in this research we focus on the content shown to this
sample in order to analyse whether the message that is reaching future
generations corresponds to environmental awareness. For this reason, in
A R T I G O
this case study, we want to analyse who this sample of teenagers follows
and what type of content they follow on social networks.
Previous research has delved into climate change and social media
(Stephan Lewandowsky et al. ,2016). Other studies have focused on the
relationship between climate emergency and education (UNFCCC,
2022; Mark Lieberman, 2022; Arianna Prothero, 2022; Stefan Eller-
beck, 2022). However, we are specifically interested in reviewing the
content that teenagers view and follow on social networks directly relat-
ed to ecological ethics and their sustainable habits.
Methodology
The methodology, in this ex post facto research, chosen to answer the
questions proposed in this particular case study is a mixed method be-
tween quantitative (Franklin, C., 2009) and qualitative (Hignett, S., &
McDermott, H., 2015) techniques inspired by different previous stud-
ies (Edwards, G., 2010 & Hossain, D. M., 2012 & Mayring, P., 2007).
Demonstrating the feasibility of both variables in social media (Debrece-
ny, R., & Wang, T., 2019) and education (Rumberrger, R., & Palardy,
G., 2004) contexts. If we focus on the first type of methodology, we have
opted for the quantitative method, specifically the questionnaire tool.
As for the qualitative methodology, we have decided to use it also as
a complement to the quantitative one since we believe it is important to
talk to the sample about the profiles and contents they usually visualise
in order to achieve the most reliable and concrete results possible. We
have achieved this by conducting two focus groups.
Therefore, we have combined both methodologies in order to answer
the following questions:
Q1: What are the most viewed contents by teenagers on Instagram
and TikTok?
A R T I G O
Looking at it from another perspective, question number 3 has been
studied to discern which contents are included within the concept of
environmental awareness and which are not, for the purpose of estab-
lishing whether or not the sample is interested in this type of content.
So the information extracted from the focus group has been used, where
the sample was asked if they consciously consume sustainability posts
and videos.
Finally, if we consider the last objective, we use the information col-
lected in the focus group in the same way as in the previous question to
be able to assess in the same way if the students know some influencers
who are dedicated to environmental activism, if they follow them, and
what image they have about this type of climate activism.
Sample
The sample used for this research is a non probabilistic sample with a
total of 98 teenagers studying first of bachillerato at La Salle Montcada
High School in Barcelona -Spain-. The gender ratio is almost equal:
50% men, 45% women, and 5% who chose others (see figure 1) and
ranging in age from 16 to 18 years old.
Questionnaire
The technique used in this research is the survey, specifically the ques-
tionnaire tool that includes open, closed, opinion and factual questions,
following the examples of previous studies (Nalan Demircioglu Hasan
Yilmaz, Metin Demir and Süleyman Toy, 2011; Olga María Luque-Al-
caraz et al, 2022; Lenny Prastiwi, Diana Vivanti Sigit, Rizhal Hendi
Ristanto,2019). In this case, it has been divided into four sections (see
table 2). First, demographic data on the sample. Then, two sections
have been introduced that aim to collect information on the profiles and
content viewed by teenagers, one focusing on Instagram and the second
on Tik Tok. They were asked to indicate the profiles of the last posts
they had liked, the profiles of the last posts they had saved and, finally,
to mark the type of content they consume according to the information
they had previously collected. The last and fourth section consisted of a
series of dichotomous and nominal questions of a scalar type where they
were asked about issues that relate social networks to sustainability.
Section Description
Section 1 Personal and demographic data
Section 2 Profiles and content viewed on Tik-Tok
Section 3 Profiles and content viewed on Instagram
Section 4 Social media and sustainability question study
A R T I G O
2.3.2 Focus group
We conducted two focus groups of ten students each, where we were
able to talk face-to-face and directly with the teenagers and get a more
concrete idea of what interests they share, what profiles they spend the
most time on, what they think of that content, and what image they have
of environmental activists on social media. We prepared a list of topics
to talk about the uses of social media and their perception of the impact
of sustainability through social media on themselves, and we also gave
the sample a grid of questions to start the conversation and guide the
discussion following the academia guidance (Holly Edmunds, 1999).
Results
A R T I G O
Content they consume
Contrary to the previous section regarding the type of content that ad-
olescents follow, we were able to establish some common patterns. We
were able to establish a usage pattern highlighting three categories:
sports, fashion and lifestyle. We saw the large consumption by these
teenagers of fast fashion clothing as well as cosmetics and makeup prod-
ucts, where they state that they do not consume them out of necessity
but on a whim or for pleasure. As for the lifestyle section, we were able to
see different videos that they themselves indicated in the profile, where
the life of people with high purchasing power is shown and where they
launch a clear message of positive consumerism, an issue that clashes
with the fight for the climate emergency. In fact, regarding the item that
directly asked for sustainability content, we found that 0% of the total
sample checked this box (see Figure 4). Therefore, in this section, the
information obtained through the questionnaire and the focus group
indicated that teenagers are not interested in consuming content linked
to sustainability, that the algorithm does not recommend this type of
content to them. In the focus group, they themselves said that thanks to
answering the questionnaire they have become more aware of what they
consume on the networks and thus consider that what they see on the
different accounts proposed for them encourages their consumption of
products, and also consider that they do not receive any messages linked
to the climate emergency.
A R T I G O
Figure 5: Perception questions
56% of the sample considered that they were aware that they had
bought products because they had seen them on social networks, and
that the desire to buy had generated them (see Figure 6). In the focus
group, some subjects told us that they sometimes buy compulsively be-
cause they have seen a recommended product and then do not use it.
Less than half also consider that they have bought products from their
usual use of more sustainable brands (see Figure 5), and almost 90% say
that by looking at the lifestyles shown in the networks, they have not felt
A R T I G O
motivated to buy. For example, reducing meat consumption and thus
reducing their carbon footprint (see figure 9). It was practically unani-
mous that social networks do not make them more or less sustainable;
however, they almost unanimously considered that they had realised
that because of what they see on social networks, they were adopting
habits that were more against climate change than in favour of its miti-
gation or adaptation (see figure 10).
A R T I G O
previous generations (Ulas Akkukuk, 2016 & Paul Carr, 2021). Thus,
we consider that this information may open up new lines of research to
investigate how young people interact with the algorithm.
On the one hand, we can think that this could be a positive con-
clusion, as it may provide an opportunity to generate more interest in
environmental issues among adolescents, and if they search for this type
of content they will quickly start to see content that sends this message
of sustainability, further promoting their environmental awareness. But
on the other hand, if these teenagers are not interested, the algorithm
will never show them content linked to climate change and they can
completely ignore this problem.
On the other hand, we have detected a pattern in the type of content
shown in the sample. The three most consumed categories are sports,
fashion and lifestyle. A priori, sports do not provide us with anything
significant, but in the case of the other two categories, they do. In the
focus group, we were able to dig a little deeper, and the subjects told us
that when they checked the fashion box, they were mainly referring to
watching videos of people buying clothes in fast fashion stores, and they
all agreed that at least once, but usually, they themselves ended up buy-
ing those clothes they had seen recommended in the video. Therefore,
it is a big problem considering the need to promote degrowth and not
consumerism (Elisabetta Mocca, 2019), since fast fashion is a trend that
arises in the opposite direction and generates many pollution problems.
Regarding the third category that we have named as lifestyle, we were
also told that this type of videos always showed the life of the content
creators and their daily routine, where they mentioned that the standard
of living was very high and that it showed a highly consumerist life that
once again is not sending the right message if what we are looking for is a
greater awareness of future generations about the climate emergency as
has already been pointed out from the marketing field (Elena Santam-
aría de la Piedra & Rufino J. Meana, 2018).
Another idea we put forward is that, initially, the analyzed teenagers
do not have a natural interest in the climate issue. In fact, we can verify
this when they comment that only 22% of the sample follows some kind
of content linked to sustainability, and in the questions on the scale of
habits, we do not find any sustainable pattern; rather, we find habits
quite linked to unsustainable consumption. In the focus group, they
themselves commented that the algorithm rarely shows environmental
content, and in part they related this to the fact that by not showing
interest -low interest and training in environmental education among
adolescents as shown by previous studies (Irene Coalla, 2022)- the algo-
rithm does not detect that it should propose content related to this topic.
As a general conclusion, the results of the present study indicate that
in no case can we say that the selected sample is nourished by a strong
message about the importance of creating a sustainable future. At least
for this particular case, we can observe these adolescents do not use social
platforms to consume content on Climate Change that could help them
to improve their awareness and sustainable habits. That is why we believe
that it is necessary to open up a new line of research to determine wheth-
er, with quality educational intervention, we can promote environmental
awareness (Alicia Puleo, 2019 & Yayo Herrero 2022). Perhaps, once this
interest has been generated through education, social media can be com-
plementary, as their interest in the topic will likely lead to algorithms
showing them more related content. Therefore, we believe it is of the
essence to deepen the line of research on the impact that the introduction
of ecological ethics as academic course content can have, and we hope
that this same study can be replicated on a larger scale to study whether
the data obtained are relevant to a particular case or not.
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A R T I G O
About the authors
Laia Palos Rey: Graduated in history with a minor in philosophy from the
Autonomous University of Barcelona, master’s degree in education from the
Camilo José Cela University and currently PhD candidate at Blanquerna-
-URL in the STREAM research group on communication of human rights,
environmentalism and education. This research is linked to an industrial
doctoral (DI2021/50) scholarship granted by the Catalan Government, whe-
re part of the thesis project is developed in a practical way in a secondary
education centre in Barcelona (Spain). E-mail: [email protected].
ORCID: http://orcid.org/ 0009-0009-4707-4844.
DOI 10.18568/CMC.V20i61.2909
Abstract: This study looks at how Instagram affects couples’ mental health
in the digital age, highlighting both its benefits and drawbacks. Instagram has
one billion active users per month, making it the most popular platform for shar-
ing content that involves images. It talks about the possible negative effects of
using Instagram, such as low self-esteem, cyberbullying, and social comparison.
The study advises couples to set reasonable limits, use Instagram with awareness,
and be open and honest about their online relationships. To support couples in
navigating the digital world while placing a high priority on their mental health,
mental health professionals should include discussions on digital dynamics in
couple’s therapy sessions. Instagram may have a detrimental effect on a couple’s
mental health by encouraging social comparison, jealousy, problems with trust,
and excessive social media use. It can foster understanding and bring up pleasant
memories, but it can also result in miscommunication and emotional distance.
Although there is little data linking Instagram use to mental health, research
has indicated that using the platform to browse Instagram might lessen lone-
liness while influencers’ popular practice of broadcasting on the platform can
make people feel more alone. Instagram and other picture-based platforms can
help users establish a more robust social presence, which increases their effective-
ness in reducing loneliness. The study identifies methodological difficulties in
examining the mental health of spouses and makes recommendations for further
research. It also covers relationship growth, social comparison dynamics, com-
munication styles, and privacy concerns, as well as the ramifications for couples
and therapists. It calls for more research and professional development to address
the evolving digital couple’s therapy landscape. The present study concludes by
examining the impact of Instagram on mental health in a range of age groups
swaleha khanam | tasha singh parihar 361
A R T I G O
and highlighting areas that require more investigation or development to alleviate
the negative impacts of social media use on mental health.
Keywords: Social media, Consumption, Modern relationship, Miscommunica-
tion, Mental health
Introduction
There has been some variation in the research findings about the re-
lationship between couples’ mental health and Instagram use. Not to
mention that relationship dynamics, personality characteristics, and the
type of information seen can all have an impact on how Instagram use
affects mental health. Instagram’s effect on the mental health of couples
and its applicability in the current digital era is covered in this paper.
This research paper gives a general summary of Instagram’s broad use
and the growing worries about its potential implications on the men-
tal health of couples. The paper’s aims are delineated in the possible
hazards linked to Instagram usage, comprehension of the fundamental
workings, and discourse on tactics to encourage positive interactions on
the internet. The probable harms of Instagram to the mental health of
couples are discussed here. It addresses several elements that might lead
to psychological suffering, including poor self-perception, cyberbully-
ing, and social comparison. The paper includes pertinent studies and
data demonstrating the links between Instagram use and mental health
issues of couples including depression, anxiety, and poor self-esteem.
With one billion active users per month, Instagram is the most widely
used platform for sharing image-based material with commentary. Teen-
agers, young adults and couples who regularly check their accounts are
especially fond of it. The consequences of Instagram use on a couple’s
mental health and general well-being have drawn the attention of re-
searchers, and there is a growing body of literature on this subject [1].
To identify important psychological characteristics and summarise the
present state of growing research on the association between Instagram
usage intensity and mental health, this study will be conducted. Dissatis-
faction with one’s physique and look is frequently the outcome of social
comparison, in which people assess their appearance by contrasting
themselves with media standards. For people who struggle with mental
health concerns or anxiety related to their body image, this can be very
detrimental. Depression is frequently the result of the urge to evaluate
oneself on Instagram and compare oneself to others. Depression has
A R T I G O
been linked to social comparison and jealousy, as people use Instagram
to compare and seek acceptance from others. Instagram affects a cou-
ple’s life greatly overall, which emphasises the significance of tackling
Instagram’s detrimental impacts on mental health [].
This paper examines how Instagram has affected modern society,
emphasising how it has shaped people’s behaviours, interpersonal
connections, and cultural dynamics. The development of Instagram,
self-presentation, social relationships, and cultural trends are all exam-
ined. Additionally, the study looks at how it promotes digital communities,
shapes social norms, and aids in communication and expression. In ad-
dition to criticising Instagram’s possible detrimental effects on mental
health, body image, self-esteem, cyberbullying, social comparison, and
unattainable beauty standards; it also recognises Instagram’s beneficial
contributions to society, such as activism and social good []. In addition,
privacy issues and social media companies’ obligations to protect user
privacy are covered in the paper. It also foresees upcoming developments
and difficulties in the constantly changing social media environment. It
looks at how social media sites like Facebook, Instagram, and Linke-
dIn help people start relationships, keep them going over time, affect
how people communicate, and mould intimacy and sharing. It also
looks at the development of online communities, the phenomena of
social comparison, and relationship satisfaction. But it also talks about
issues including possible misconceptions, privacy problems, and cyber-
bullying. The research underscores the necessity of responsible digital
involvement by projecting future trends and repercussions at the nexus
of social media and interpersonal connections. The significance of ethi-
cal digital involvement is emphasised in the study’s conclusion.
A R T I G O
2. Jealousy and Trust: Relationship problems with jealousy and trust
may be exacerbated by Instagram. Feelings of uneasiness might
arise when one observes their spouse interacting with others, like
or commenting on images. If one spouse is worried about the
other’s internet activities, there may be a breakdown in trust and
communication.
3. Time Spent on Social Media: Neglecting in-person interactions
due to spending too much time on Instagram or social media
in general might lower the quality of time spent with others. An
over-dependence on digital communication might result in emo-
tions of emotional detachment or loneliness inside the partnership.
4. Benefits: On the plus side, couples may use Instagram to preserve
a sense of connection, share happy memories, and deepen their
relationship—especially in distance relationships. Experiences and
activities that are shared can be enhanced by following relation-
ship-focused accounts and having similar interests.
5. Miscommunication and misunderstandings: On Instagram, un-
clear postings or conversations might lead to misunderstandings.
Relationship disputes may arise from a lack of context or incorrect
interpretation of likes and comments.
6. Celebrating Relationship Milestones with Instagram: Creating
a feeling of shared history and happy recollections, some couples
utilise Instagram to celebrate and record significant moments in
their relationship.
recent research may shed light on the specifics of Instagram use in ro-
mantic relationships [].
Mental Health
A persistently depressed state or lack of interest in activities are hall-
marks of depression, a mental disease that has a substantial negative
impact on life. The symptoms might come on suddenly or over a pe-
riod of time []. They can include exhaustion, lack of interest, angry
outbursts, decreased appetite, and in certain cases, suicidal thoughts.
Anxiety disorder is a mental illness characterised by strong feelings of
fear, worry, or anxiety that make it difficult to go about daily tasks. El-
evated heart rate, hyperventilation, a sense of impending danger, an
inability to control worry, and a strong desire to cease going through
worrisome circumstances are all signs of anxiety disorders []. Anxiety
episodes are extremely difficult to control and can escalate to a peak in
a matter of minutes. Stress is a feeling of mental or physical tension that
can be brought on by any thought or circumstance that makes you feel
uneasy, angry, or disappointed. It can affect not just feelings or mood but
also physical health, resulting in headaches, fatigue, loss of energy, and
even the use of drugs or alcohol. Stress that is mild or momentary usual-
ly passes quickly, while chronic stress lasts for a long time. The subset of
psychological well-being known as self-esteem comprises an individual’s
positive and negative self-perceptions. Both good and negative societal
and personal factors can have an impact on one’s sense of self-worth. A
person’s self-esteem can be high or low, positive or negative, depending
on their emotional state, self-perception, and thoughts about their con-
nections with others [].
A R T I G O
looked at the association between individuals in a partnership that used
Instagram, loneliness, and social comparison. According to the study,
Instagram browsing was linked to lower levels of loneliness, whereas in-
fluencers’ activity, broadcasting, was linked to higher levels of loneliness
[]. More loneliness was indicated by those who engaged in upward so-
cial comparison.
In contrast to text-based platforms, picture-based ones like Insta-
gram—create a stronger social presence, which makes them more
effective in preventing loneliness, according to a 2018 research. Ac-
cording to research, there was a correlation between reduced degrees
of loneliness and the use of image-based sites like Instagram. The forms
of Instagram use and their connection to depressive moods in teenagers
were the main topics of a 2020 longitudinal research. After using Insta-
gram twice a day, participants were prompted to complete the survey.
Based on the results, it appears that those who used Instagram for the first
time throughout the day had higher levels of depression than those who
used it twice. Instagram use may boost teenager’s psychological health
and a study discovered that teenagers’ self-acceptance increased when
they received likes on uploaded images []. However, when Instagram
photographs don’t get the necessary amount of “likes,” self-acceptance
can decline just as quickly as it can soar.
Conceptual Framework
Key Concept:
▪ Utilising Instagram (Independent Variable)
▪ Dependent variable: Mental Health of Couples
▪ Mediating Factors (such as impulses towards comparison and com-
munication habits)
▪ Moderating factors (personal mental health, relationship satisfac-
tion, etc.)
Hypotheses:
▪ H1: There is a negative correlation between couples’ mental health
and increased Instagram use.
▪ Expected: The mental health of couples who use Instagram more
frequently will be worse.
Data Collection:
Data Collection Method Sample Size Duration
Surveys (Quantitative) 30 couples 10 days
Data Analysis:
The study examined relationship satisfaction and Instagram usage
statistics. The most popular usage, which varied depending on the re-
sponder, fell into the 3-5 hours per day group. With a fairly balanced
distribution between the “Good” and “Bad” categories, a sizable major-
ity of respondents stated that their relationship satisfaction was average.
The categories that contributed to the connection were determined
by analysing the data. Considering the significant level of the sample’s
relationship satisfaction with Instagram use was the study’s last step. Rec-
ognising the study’s shortcomings and taking any biases in the data into
account was critical.
A R T I G O
Discussion:
30 couples participated in the study, which looked at the connection be-
tween relationship happiness and Instagram use. The utilisation pattern
was modest, and the satisfaction ratings were not all the same. The re-
sults corroborate other research on the connection between relationship
happiness and social media use. Adapting treatments and counselling
techniques for couples experiencing difficulties with Instagram use is
one way to address the practical issues. Future studies should exam-
ine certain facets of Instagram usage and take self-reporting bias into
account.
Positive Influences
Couples may use Instagram as a forum to promote shared interests,
commemorate and share important life events, and compile an online
scrapbook of memories. By maintaining closeness and contact through
comments, direct messages, and shared information, enhances commu-
nication. Instagram also helps to build a community that is conducive
to relationships by encouraging thankfulness and admiration through
affirmations posted in public []. Real-time communication and visual
updates can assist in bridging the gap in long-distance relationships
by creating a sense of presence even while physically separated. How-
ever, there are obstacles to overcome, such as privacy concerns and
A R T I G O
comparison traps. Recognising possible issues, recognising potential
hurdles, and learning to strike a healthy balance are strategies for getting
over roadblocks and maintaining equilibrium when using social media
in pairs [].
Negative Influences
This paper examines how social media, especially Instagram, affects
modern relationships and the possible harm it may do to a pair. It talks
about how social comparison, unattainable beauty standards, trust diffi-
culties, and the possibility of misinterpreting online behaviour to cause
conflict in real life may all be caused by Instagram’s carefully selected
material []. There is also discussion of communication issues, such as
the possibility that significant in-person encounters might be replaced
by digital communication, which would lower the relationship’s overall
communication quality. Concerns about privacy are covered, along with
the possible negative effects of revealing too much information and the
need to set personal limits. Expectations of unrealistic relationships are
examined, with the possibility of disappointment when actual relation-
ships do not live up to the idealised representations []. Along with the
psychological effects of unfavourable encounters and public confronta-
tions on relationship well-being, cyberbullying and internet harassment
are also covered. Spending too much time on Instagram might cause
one to miss in-person conversations, which can impede spending mean-
ingful time with others. Setting limits, developing resilience, and having
open communication are all effective coping mechanisms for couples
dealing with unfavourable influences on Instagram []. In order to mi-
nimise possible problems, the text’s conclusion emphasises the need to
take a thoughtful approach to using social media, encouraging commu-
nication, and establishing healthy limits.
A R T I G O
long-term studies, diversity and inclusion, intervention research, qualita-
tive approaches, and cooperative research. It examines the shortcomings
of cross-sectional studies, emphasises the need of validated instruments,
longitudinal studies, and technology in research, and stresses the need
of taking socioeconomic, cultural, and interpersonal structures into ac-
count []. The promise of digital tools and interventions is also covered in
the article, although privacy and ethical issues are also emphasised. In
closing, the report highlights methodological issues with couples’ mental
health research and suggests creative avenues for further investigation.
This will assist researchers in enhancing the calibre and relevance of
their results, which will ultimately result in couples’ support systems and
successful therapies [].
adults in the US who utilised seven or more social media sites showed
higher levels of anxiety and despair.
In a different study, Lin et al. (2016) discovered that those with regu-
lar social media usage had higher depressive symptoms than those with
infrequent use. Various writers have proposed distinct explanations for
the correlation between social media and anxiety and depression, such
as age and its link to self-worths. Women scored higher than males on
studies by Andreassen et al. (2017) and Hardy and Castonguay (2018)
about addictive social media usage, however this tendency was more
prevalent in young individuals than in older adults. An examination of
the relationship between social media and wellbeing that was released in
2017 used a different methodology. According to the writers, depending
on how it’s utilised, social media may have a good or bad effect. Social
media usage and well-being are positively correlated when it comes to
higher levels of connection, and negatively correlated when it comes to
actions that don’t satisfy users’ approval requirements [].
Users of Instagram, a phrase used to refer to websites and applications
that emphasise collaboration, content sharing, communication, and
engagement, have increased. But it has been shown that this has a detri-
mental effect on users’ mental health. Instagram usage has been linked
to poor mental health in the past, with a study that intends to investigate
the disparate ways have encountered Instagram. The project intends to
investigate possible impacts and long-term implications as well as fill in
research gaps regarding the influence of Instagram on cohort mental
health. Future investigations into how Instagram affects mental health
across a range of age groups will be aided by the results.
Instagram now plays a big role in people’s lives and affects their men-
tal health in a lot of different ways, such as personal, behavioural, and
economic. Due to Instagram’s growing popularity and influence over a
wide range of spheres of life, there is, nevertheless, a dearth of studies
on the effects of Instagram uses on mental health [2]. In addition to
comparing the levels of stress, anxiety, depression, and self-esteem, this
study intends to investigate the wider effects of Instagram. Due to their
A R T I G O
upbringing in the heyday of Instagram and the internet, it is anticipated
that Generation Z will report higher rates of poor mental health.
Conclusion
A study’s conclusion should reiterate important findings, highlight ma-
jor discoveries, and discuss how these findings affect the goals of the
investigation. It should also include a summary of the goals of the study
and a discussion of how those goals have been met. Practical suggestions
for the next interventions or activities, together with detailed methods
or approaches to deal with the concerns brought up, have to be given in
light of the findings. Stakeholders, practitioners, and legislators should
take these results’ consequences into account. The study should high-
light opportunities for improvement or more research to address these
shortcomings as well as recognise them.
Although social media and mental health are generally associated
negatively, some research points to possible positive interactions. De-
pending on why people use social media and how they use it, there are
different effects on mental health. For results to be more broadly appli-
cable, future research should concentrate on a variety of age groups.
This study fills in the gaps in the literature by evaluating the ages taken
into account and cohort differences on the impact of social media on
individual mental health.
Instagram has become a more potent tool for isolating us from others
than for fostering social connections, particularly in the year of quar-
antine when the majority of human interaction has been facilitated by
complex virtual social networks. Online connections frequently have
an unsettlingly close sense to them while also feeling manufactured.
According to futurologist Marshall McLuhan’s well-known dictum, “the
medium is the message,” any media’s effects on society and on an indi-
vidual basis or couples stem from the additional dimensions that each
technological advancement or personal extension of ourselves brings
into our lives. As evidenced by Dunbar’s Number theory, which holds
that people can only appreciate and recognise a certain number of other
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A R T I G O
About the authors
Swaleha Khanam - Research scholar of mass communication. School of
Media and Communication Studies, Galgotias University, India. Currently
doing research on Applying Positive and negative deviance approach to study
the Instagram posts, reels and stories on creating fancy relationship goals.
E-mail: [email protected]
ORCID: http://orcid. org/0000-0001-7382-7269