Segundo Reinado (1840-1889) - Panorama Geral
O Segundo Reinado, iniciado com a coroação de Dom Pedro II em 1840 e encerrado com a
Proclamação da República em 1889, foi um período de estabilidade política relativa, mas
também de intensas transformações e conflitos no Brasil. Caracterizou-se pela
centralização do poder imperial, desenvolvimento econômico baseado no café, e
enfrentamento de tensões internas e externas. Durante esse período, o Brasil viu-se
envolvido na Guerra do Paraguai, enfrentou o desafio da escravidão e da abolição, e iniciou
um processo de modernização. No entanto, os problemas sociais e a insatisfação de
diversos setores da sociedade culminaram no fim da monarquia.
1. Golpe da Maioridade de Dom Pedro II
● Contexto Histórico: Após a abdicação de Dom Pedro I em 1831, o Brasil
enfrentava um período de regências instáveis, com movimentos separatistas,
insurreições locais e disputas entre liberais e conservadores. A regência era
temporária até que Dom Pedro II atingisse a maioridade, mas a espera gerava
incertezas políticas e a sensação de falta de liderança.
● Articulação do Golpe: Em 1840, os liberais propõem o “Golpe da Maioridade”,
argumentando que, embora Dom Pedro II tivesse apenas 14 anos, ele poderia
assumir o trono e restaurar a ordem. A proposta visava também consolidar a posição
dos liberais no poder, já que o jovem imperador supostamente estaria mais inclinado
às ideias liberais.
● Efeitos do Golpe: O golpe possibilitou a ascensão de Dom Pedro II e a transição
para um governo centralizado. Com o jovem imperador, estabeleceu-se uma
monarquia constitucional centralizada, apoiada tanto por liberais quanto por
conservadores, o que possibilitou uma fase de relativa paz política e
desenvolvimento para o país.
2. Início do Segundo Reinado
● Política de Conciliação: Para manter a estabilidade, Dom Pedro II promoveu a
“política de conciliação” entre liberais e conservadores, alternando os dois partidos
no poder, mas mantendo sua influência como moderador. Esse processo levou à
criação de um sistema parlamentar único, em que o imperador tinha poder de veto e
controle sobre o parlamento.
● Parlamentarismo “Às Avessas”: No Brasil, o modelo parlamentarista funcionava
de maneira peculiar: o imperador escolhia o primeiro-ministro e, por meio do poder
moderador, interferia nas decisões legislativas, o que o tornava a figura central do
governo.
● Desenvolvimento Econômico Inicial: Com o crescimento das plantações de café e
a consolidação da economia exportadora, a base econômica do Brasil se fortaleceu.
O café se tornaria, nas próximas décadas, o principal produto de exportação,
ajudando a financiar o império e o desenvolvimento de infraestrutura, como estradas
de ferro e portos.
3. Revolução Praieira (1848-1850)
● Localização e Características: A Revolução Praieira foi um movimento liberal e
republicano ocorrido em Pernambuco, liderado por setores da classe média e
pequenos proprietários, insatisfeitos com o domínio das oligarquias locais e com a
presença de comerciantes portugueses controlando o comércio.
● Principais Demandas: Os revolucionários publicaram o “Manifesto ao Mundo”,
exigindo reformas como o voto universal, o fim do poder da aristocracia rural, uma
maior participação dos cidadãos na política e maior regulamentação contra a
influência portuguesa.
● Repressão e Resultados: O movimento foi duramente reprimido pelo governo
imperial, mas evidenciou as tensões entre o poder central e as elites regionais.
Também trouxe à tona o descontentamento popular e as primeiras ideias
republicanas, que influenciariam a queda da monarquia anos depois.
4. Expansão Cafeeira
a. Expansão para o Oeste Paulista
● A expansão cafeeira inicialmente se concentrou no Vale do Paraíba (rio Paraíba),
mas gradualmente se deslocou para o oeste paulista, onde o solo fértil e o clima
favorável aumentaram a produtividade. São Paulo tornou-se o centro econômico e
político do café, com fazendas altamente lucrativas.
b. Trabalho Escravo nos Cafezais
● Sistema de Escravidão: A produção de café dependia do trabalho escravo, e
fazendeiros investiam em grandes contingentes de mão de obra escrava africana e
afrodescendente.
● Impacto Social e Econômico: A economia cafeeira consolidou o poder da
aristocracia rural escravocrata, criando uma elite econômica poderosa. No entanto,
esse modelo gerou conflitos éticos e pressão social, que resultariam em uma série
de leis abolicionistas.
5. Fim do Tráfico de Escravos
● Lei Eusébio de Queirós (1850): Proibiu o tráfico transatlântico de escravos em
resposta à pressão internacional, principalmente britânica, e aos interesses de
setores da elite brasileira que buscavam modernizar a economia.
● A importância do Ceará para a abolição
O Ceará desempenhou um papel fundamental no fim do tráfico de escravos e na luta
abolicionista no Brasil, destacando-se como a primeira província a abolir a
escravidão em 1884, antes da Lei Áurea de 1888. Com uma economia menos
dependente do trabalho escravo e impactada pela seca de 1877, a região viu um
movimento abolicionista fortalecido.
Figura Históricas e suas ações:
Dragão do Mar (Francisco José do Nascimento): Líder dos jangadeiros em
Fortaleza, recusou-se a transportar escravos entre províncias em 1881,
impedindo o tráfico interno e reforçando o movimento abolicionista. Essa
resistência civil teve repercussão nacional e consolidou o Ceará como um
exemplo na luta pela liberdade.
José do Patrocínio: Embora não fosse do Ceará, Patrocínio apoiou os
esforços abolicionistas da região e ajudou a divulgar a causa em todo o país.
Em 25 de março de 1884, o Ceará aboliu a escravidão oficialmente, influenciando
outros estados e impulsionando a adoção de medidas abolicionistas em nível
nacional. A resistência cearense, simbolizada pelos jangadeiros, mostrou que a luta
pela abolição foi também uma conquista da sociedade civil organizada, inspirando a
mobilização pelo fim da escravidão em todo o Brasil.
● Consequências: A proibição do tráfico trouxe uma crise no fornecimento de mão de
obra para as plantações de café e acelerou a adoção de alternativas, como a
imigração europeia e o aumento do preço dos escravos internos.
6. Questões de Terras no Brasil
● Lei de Terras de 1850: Determinava que a posse de terras só seria adquirida por
meio de compra e registro, dificultando o acesso para camponeses e ex-escravos,
além de formalizar a concentração de terras nas mãos da elite agrária.
● Impacto Social: Essa política consolidou a estrutura latifundiária e prejudicou o
desenvolvimento de uma agricultura familiar, gerando desigualdade fundiária e uma
dependência econômica da produção de grandes propriedades.
7. Política Indigenista
● Expansão Agrícola e Conflito: A expansão das fronteiras agrícolas gerou conflitos
com povos indígenas, que eram expulsos de suas terras ou forçados a se adaptar à
sociedade brasileira.
● Catequese e Integração: A política indigenista do período visava integrar os
indígenas através de missões religiosas, sem respeito à diversidade cultural e
territorial desses povos, o que causou a extinção de várias comunidades indígenas.
8. Guerra do Paraguai (1864-1870)
● Motivações e Causas: Disputas regionais pela influência no Rio da Prata e o
controle de territórios motivaram o conflito com o Paraguai.
● Aliança e Estratégias: Brasil, Argentina e Uruguai formaram a Tríplice Aliança
contra o Paraguai. A guerra teve elevado custo humano e financeiro, além de
fortalecer o exército brasileiro e aumentar a sua influência na política.
● Consequências para o Brasil: A guerra deixou o Império em crise financeira e
contribuiu para a formação de uma consciência nacional, além de aumentar o poder
do exército, que se tornaria um ator importante na Proclamação da República.
9. Imigração de Europeus
● Substituição do Trabalho Escravo: Com o fim do tráfico e o movimento
abolicionista, o governo brasileiro incentivou a imigração de trabalhadores europeus,
especialmente para as lavouras de café.
● Efeitos Sociais: A imigração europeia ajudou a introduzir novas técnicas agrícolas,
diversificar a economia e reduzir a dependência do trabalho escravo.
10. Início da Modernização do Brasil
● Infraestrutura: Construção de ferrovias e telégrafos conectando regiões produtoras
ao mercado externo.
● Primeiras Indústrias: Começam a surgir indústrias no país, ainda que a economia
permaneça majoritariamente agrária e exportadora.
11. Processo de Abolição
● Lei do Ventre Livre (1871): Declarava livres os filhos de escravas nascidos a partir
de então, mas mantinha as mães sob escravidão.
● Lei dos Sexagenários (1885): Libertava escravos com mais de 60 anos, mas esses
raramente aproveitavam de uma liberdade plena.
● Lei Áurea (1888): Marcou o fim oficial da escravidão, gerando uma mudança social
drástica, com os ex-escravos desprovidos de acesso à terra e oportunidades.
12. Fim da Monarquia
● Desgaste e Insatisfação: A monarquia enfrentou crescente oposição após a
abolição da escravidão, que alienou a elite rural e proprietária de escravos,
descontentes com a perda de mão de obra. Paralelamente, o exército, fortalecido
pela Guerra do Paraguai, e os republicanos, influenciados por ideias liberais e
republicanas, defendiam uma mudança de regime.
● Proclamação da República (1889): Em 15 de novembro de 1889, um movimento
liderado pelo exército, com apoio de elites insatisfeitas, resultou na deposição de
Dom Pedro II e na Proclamação da República. Este evento marcou o fim da
monarquia no Brasil, e o país passou a ser governado por um regime republicano,
liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca.
Com a proclamação, o Brasil iniciou uma nova fase, buscando consolidar um estado
republicano e democrático, embora os desafios sociais e políticos herdados do período
imperial permanecessem.