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Currículo: Teoria e Desenvolvimento Atual

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

I. INTRODUÇÃO

Não há questão educacional mais crucial na actualidade que o currículo. Pon,


hQuestões sobre «o que ensinar na escola» constituem apenas um nível de
investigação para a teoria curricular. As perguntas relativas ao currículo estão
longe de serem directas e claras – e isso é dificultado pelo facto de que todo
mundo acha que tem respostas para elas, especialmente em relação ao currículo
escolar.

Sua centralidade prende-se pelo facto de ser um campo em constante


problematização do conhecimento sobre as realidades alicerçadas nas
dinâmicas culturais, educacionais, políticas e económicas. O currículo é na
actualidade ponto de partida de qualquer projecto de formação. Faz parte das
prioridades de muitos países visando responder à demanda social dos povos.
Ao ser definido estão sendo descritas as funções concretas da própria escola e
uma forma particular de evidencia-las, num momento histórico e social
determinado, para um nível ou modalidade de educação, dentro de determinada
instituição, com uma organização própria.

Ao longo da história a escola tem um desenvolvimento unido às sociedades a


que pertence e por isso sua transformação é uma consequência da necessidade
da sua adequação às actuais necessidades sociais, uma escola que se deseja
para todos, que questiona sua organização e formação que oferece aos alunos,
a escola que se preze ser de qualidade.

É a procura desta escola, com condições propiciadoras do sucesso escolar que


está na base de medidas curriculares que têm vindo a envolver os professores
na concepção de projectos educativos que permitem a configuração de
currículos adequados às especificidades das realidades locais das suas
populações escolares. O sucesso e o insucesso escolar residem - actualmente,
não só das razões externas à escola, portanto do handicap cognitivo e cultural,
mas também - em aspectos de organização do sistema em si, do ambiente de
aprendizagem que é criado e do currículo em geral. uma escola que se organiza
em criar condições para a construção do seu próprio saber, na base de um

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 1


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

processo de reestruturação e recontextualização do saber existente e do saber


do quotidiano que permitem uma modificação constante do "ser" e do "tornar-
se".

É no quadro destas ideias, e num dado contexto histórico que surgiram nos
planos de formação de professores áreas disciplinares orientadas,
privilegiadamente, para a instrução, como o caso da Didáctica Geral e da
Pedagogia que faltou estabelecer a relação entre a educação e o contexto socio
- cultural em que esta decorre (Leite & Silva, 1989).

De facto, se a Pedagogia foi muitas vezes especulativa enquanto reflexão sobre


o sentido da educação, faltou-lhe a capacidade de análise sincrónica para
conseguir responder às situações concretas em que ocorre essa educação. Na
ausência de uma teoria própria, a Pedagogia recorreu a outras ciências,
utilizando-as não apenas como contributos, senão reduzi-las ao seu campo,
tomando os seus enfoques como abordagens centrais e limitando a visão do
todo às perspectivas redutoras de uma só (Leite & Silva, 1989).

A Pedagogia tratou o homem, “objecto e sujeito da educação como fóssil,


generalizando a todos os homens e a diferentes situações temporais conclusões
de trabalhos empíricos parcelares referidos a contextos diversos dos contextos
reais" (Delfim Santos, s/d, p. 328-239). Sua incapacidade e a insuficiência em
perspectivar a educação na sua complexidade justificam, em parte, a
emergência das Ciências da Educação como paradigma do seu substituto e, no
quadro da evolução dos papéis atribuídos à educação escolar e aos seus
agentes, foi ampliado o campo conceptual da Didáctica Geral a do
Desenvolvimento Curricular.

O currículo constitui uma verdadeira arena política onde se jogam os


conhecimentos, as atitudes e os comportamentos que a sociedade, através de
um mecanismo institucional, transmite às novas gerações. Por isso, o currículo
não pode estar alheio às diversas identidades socioculturais que interagem no
cenário escolar, nem alhear-se às formas de pensamento, de expressão e de

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 2


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

comportamento dos diferentes grupos que constituem o mosaico cultural das


nossas escolas.

A pretensão do currículo tende a orientar-se no sentido do predomínio de uma


“‘prática pedagógica local’ face ao de uma ‘prática pedagógica oficial’ e, portanto,
pretende contribuir para o desenvolvimento potencial de sujeitos pedagógicos
‘resistentes’, ao invés de sujeitos pedagógicos ‘reprodutores’ (Bernstein (1993:
176-182).

A alteração da disciplina de ‘Teoria da Educação e Desenvolvimento Curricular’


para ‘Teoria e Desenvolvimento Curricular’ pressupõe como é evidente, uma
mudança do campo de estudo e justifica-se por se desejar, como diz Correia
(1993:11) “promover uma oferta antecipada de formação a novas figuras nos
sistemas educativos que não pautam a sua intervenção apenas por razões
instrumentais ou preocupações didácticas”, mas formar profissionais em
Ciências da Educação, preparados para o exercício, nos diversos espaços
sociais de intervenção, de funções educativas mais conscientes e críticas e,
também, para o exercício no sistema educativo de outras funções para além das
da docência, e que são fundamentais para construção da qualidade em
educação.

A maior preocupação da TDC já não pode ser apenas com a organização do


conhecimento escolar, nem encarar de modo ingénuo o conhecimento recebido.
A julgar pelos artefactos culturais que dominam hoje o mundo o currículo deve
estar ao serviço de uma melhor qualidade de vida, ajustado ao crescimento e à
evolução do sujeito que aprende e das sociedades (Cambi, 1999)

Como o currículo pode contribuir para uma melhor qualidade de vida? Estamos a nos esforçar o
suficiente para melhorar a nossa educação? Que conhecimento é hoje fundamental? De que
aprendizagens necessitam os alunos? Os nossos alunos estão a aprender? Quantos alunos
estão aprendendo e em que nível? Como tem sido o desenvolvimento da escola como instituição
social? “O que todos os alunos deveriam saber ao deixar a escola”? Estamos preparando
profissionais para enfrentar o dinamismo das transformações científicas e tecnológicas do século
XXI?

Albuquerque & Kunzle (2006) ainda questionam:

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 3


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Quando pensamos o currículo tomamos a ideia de caminho: que caminho vamos percorrer ao
longo deste tempo escolar? Que selecções vamos fazer?Que selecções temos feito? E mais: em
que medida nós, professores e pedagogos interferimos nesta selecção? Qual o conhecimento
com que a escola deve trabalhar? Quando escolhemos um livro didáctico, traz desenhado o
currículo oficial: o saber legitimado, o saber reconhecido que deve ser passado às novas
gerações? Porque isso é que o currículo faz: uma selecção dentro da cultura daquilo que se
considera relevante que as novas gerações aprendam (Albuquerque/Kunzle, 2006, p. 102).

Portanto, diante do desafio de ser professor, cabe-nos entender quais os saberes


socialmente relevantes; quais os critérios de hierarquização entre esses
saberes/disciplinas; quais as concepções de educação, de sociedade, de
homem que sustentam as propostas curriculares implantadas; quem são os
sujeitos que poderão definir e organizar o currículo; e quais os pressupostos que
defendemos.

É reflectindo sobre este questionamento que o material em sua posse se


debruça, de modo a prestar um domínio e compreensão básicos dos principais
constructos da Teoria e Desenvolvimento Curricular (TDC).

1. O Currículo:
Perspectiva histórica do currículo;
Origem da problemática curricular em Angola;
As Reformas na educação angolana;
Conceptualização do termo currículo;
Tipos, perspectivas, teorias, enfoques e modelos curriculares.

1 - A origem do currículum
1.1. Perspectiva histórica do currículo

Datam do século XVI, os registos históricos de quando e em que circunstâncias,


aparece, pela primeira vez, a palavra curriculum aplicada aos meios
educacionais. Estes registos evidenciam que o currículo esteva ligado à ideia de
"ordem como estrutura" e “ordem como sequência", em função de determinada
eficiência social.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 4


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Em Leiden (1582) e Glasgow (1633) e numa referência subsequente nos registos


de 1643 da Grammar School of Glasgow (a instituição que alimentava a
Universidade), ‘curriculum’ referia-se ao curso inteiro de vários anos seguido por
cada estudante, não a qualquer unidade pedagógica mais curta. No caso de
Leiden, ao emitir o resultado final, fazia-se constar a expressão `tendo completado
o curriculum de seus estudos (Hamilton, 1992).

Uma instituição universitária só poderia atribuir a alguém o título, após o


cumprimento de todas as exigências de um percurso ou trajectória académica,
donde se supõe que o diploma, grau ou título era somente concedido após o
alcance dos propósitos da instituição, de acordo com os parâmetros de avaliação
sobre a eficiência da escolarização e sua eficácia social. Esses registos
históricos expressam que a inovação pedagógica do currículo é um facto
histórico de extrema relevância. Coloca em pauta a ideia de que os diversos
elementos de um curso educacional devem ser tratados como uma peça única
expressa na globalidade estrutural e na completude sequencial, conforme os
parâmetros de cada época histórica.

Por outro lado, nesse período Jan A. Comenius no século XVII já havia
apresentado ideias sobre a organização escolar, manifestando as primeiras
normativas orientadas para a acção da aula e defendia o alcance do
conhecimento universal, como propósito pelo qual o ensino devia se orientar
para a organização da aprendizagem dos alunos. Porém a conceptualização
desta temática perfila-se no contexto da pedagogia da sociedade industrial.

Entre os séculos XV e XVIII, ocorria a transição do regime feudal para sociedade


capitalista tendo acontecido transformações em todas as dimensões da
realidade social.

Forjaram-se as pré-condições para o advento do sistema capitalista, com a


reestruturação do sistema educativo e da instituição escolar para a formação do
homem necessário para uma nova sociedade. É neste contexto que ocorre a
passagem do ensino individualizado, onde preceptor e aluno defrontavam-se,
frente a frente, para as escolas organizadas em classes. Por sua vez, as diversas

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 5


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

classes de uma escola deveriam passar pelo mesmo caminho ou percurso com
todas as provas e obstáculos, semelhante à ideia de um circuito atlético. Em
decorrência, estabeleceu-se a passagem do termo curriculum do contexto do
mundo do exercício físico para o pedagógico. Tal como o atleta, que conseguisse
passar por todos os caminhos e obtivesse o prémio, o aluno que conseguisse
passar por todo curriculum receberia o diploma, pelo qual a escola se
responsabilizaria, atestando formar homens necessários às exigências da
sociedade da época.

O modo de funcionamento da sociedade capitalista emergente, no século XVI,


exigia uma nova moral, a moral do homem de negócios, necessária ao
funcionamento da economia capitalista. Pressões para a formação deste homem
tornam-se intensas sobre o sistema educativo, levando ao surgimento do
currículo e ao estabelecimento de um novo modo de organizar o trabalho escolar.
Alvin Toffler (2000: s/p) assinala que:

(…) educação de massas foi a máquina engenhosa construída pela sociedade industrial para
produzir o tipo de adulto de que ela necessitava, . . . um sistema que, em sua própria estrutura,
simulava essa sociedade. O sistema não emergiu instantaneamente. Mesmo hoje ele ainda
retém elementos da sociedade pré-industrial. Contudo, a ideia de agrupar grandes massas de
estudantes (matéria-prima) para serem processados por professores (trabalhadores) em uma
escola centralizada (fábrica) foi uma solução de génio industrial. Toda a hierarquia administrativa
da organização, à medida que foi aparecendo, seguia o modelo da burocracia industrial. A própria
organização do conhecimento em disciplinas permanentes foi fundada em pressupostos
industriais. As crianças marchavam de lugar em lugar e se assentavam em locais
preestabelecidos. O sinal tocava para anunciar a hora de mudanças. A vida interna da escola
assim se tornou um espelho antecipatório da sociedade industrial, uma introdução perfeita a
ela.As características mais criticadas da educação hoje — sua regimentação, sua falta de
individualidade, os sistemas rígidos de disposição física da sala de aula, de agrupamento das
crianças por classes e séries, de notas, o papel autoritário do professor — são exactamente as
características que fizeram da escola pública de massas um instrumento tão efectivo de
adaptação à sociedade industrial.

A Pedagogia norte-americana teve uma grande influência na gestão da teoria


curricular, pois, esta sociedade, no processo de industrialização fez mudanças na

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 6


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

estrutura interna da escola e foi preciso revisar as práticas pedagógicas para


construir um novo modelo sustentado em novas bases.

A Teoria Curricular consolidou-se na busca da articulação entre a educação e as


exigências da força de trabalho que precisava a indústria para o seu
desenvolvimento e a necessidade de modificar a estrutura interna da escola, de
maneira que permitisse a preparação de um homem capaz de enfrentar com êxito
as exigências do novo mundo.

Tudo isso tem como resultado a acumulação de experiências que fizeram que a
pedagogia norte-americana pudesse aprofundar na teoria curricular e influenciar de
maneira mais destacada seu desenvolvimento.

Deste tempo sobressaem as ideias de John Dewey sobre a educação, expressas


num breve ensaio publicado em 1902, intituladoThe child and the curriculum, onde
lança os fundamentos da escola progressista, que tem na criança o centro das
preocupações da construção do currículo.

No entanto, é Franklin Bobbit (1918), com o seu famoso livroThe curriculum, que é
usualmente reconhecido como o pai do currículo em educação que formula as
primeiras teorizações sobre currículo (Freitas, 2000; Jackson, 1992b) e,
posteriormente oHow make the curriculumem 1924).

Este autor apresenta um modelo, com pretensão científica que, segundo ele, dava
resposta à preocupação de preparar todos os jovens para sua vida adulta futura.
Inspirado nas ideias de Taylor, que escreve, em 1911, The principles of scientific
management — um manual para a reorganização eficiente da produção industrial
em larga escala — Bobbit associa a escola à fábrica, a criança à matéria-prima a
ser moldada em adulto, o produto final visado, através da acção do professor, visto
como o operário, orientado pelo supervisor com as funções do capataz,
obedecendo ao director da escola, o patrão.

Valendo-se dos princípios da Administração Científica do Trabalho, advindos da


produção capitalista, Bobbit concebeu o currículo como um meio de desenvolver a
`grande consciência de grupo´, onde não havia lugar para os diferentes e

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

divergentes, tal como sublinha:(…) “como desenvolver um sentimento genuíno de


pertencer a um grupo social, quer grande quer pequeno? Parece haver apenas um
método, e este é: pensar, sentir e agircom um grupo como parte dele à medida que
ele exerce suas actividades e se esforça por atingir seus fins"(cit. por Apple, 1982:
107).

Além de Bobbit podem ser citados como importantes personalidades da área de


currículo W. W. Charters, Edward L. Thorndike, Ross L. Finney, Charles C. Peters
e David Snedden. Estes autores definiram qual deveria ser a relação entre a
estrutura do currículo e o controlo social, em um período histórico de transição da
América do Norte rural, agrária, do século XIX um crescente processo de
industrialização e divisão do trabalho.

Apesar de todos ensaios que circulam nos anos 20, é depois da segunda guerra
mundial, que aparecem as primeiras formulações com um maior nível de
profundidade, onde se destaca a edição, em 1949, de um pequeno livro intitulado
Basic principles of curriculum and instruction, de Ralph Tyler, que apoiando-se das
ideias de Dewey, expõe quatro questões cujas respostas constituiriam a sua teoria
de currículo:

 interrogava quais os objectivos educacionais a perseguir pela escola;


 quais as experiências educacionais a oferecer para atingir os objectivos;
 como organizar essas experiências; e
 como avaliar se os objectivos foram alcançados (Freitas, 2000).

Tyler conclui que as respostas de cada escola seriam necessariamente diferentes


conforme as situações, recusando a ideia de currículo uniforme e disciplinar.

Vale lembrar que se o currículo teve boa saúde esta saúde ficou em alta com a
Taxonomy of Educational Objectives, elaborada pela equipa de Benjamim Bloom
(1956) e com a proliferação de estudos de investigaçãono estilo tyleriano, mas esta
aparente boa saúde do domínio curricular terminou com a crise da educação
despoletada pelo avanço científico e tecnológico demonstrado pelos soviéticos em
1957, com o Sputnik, tendo produzido significativas alterações na ideia sobre o que
deveria constituir o currículo adequado para o progresso das nações. A
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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

necessidade de valorizar a componente científica, nomeadamente a Matemática,


faz-se sentir.

Jerome Bruner, com a obra The process of education, vai dar aqui um contributo
importante. Defende que a educação científica dos alunos passa pela compreensão
da estrutura das disciplinas, pois assim poderão compreender o seu
funcionamento, os problemas que se colocam e as formas de os resolver.

Trata-se de uma visão de currículo baseada na concepção disciplinar do


conhecimento científico (Gimeno & Pérez, 1989), que não vingaria sem opositores.
Nessa altura destaca-se em 1962 a obra de Hilda Taba intitulada Elaboration of
Currículum.É também por esta altura que começa a ser questionada a formulação
dos objectivos educacionais em termos comportamentais. Se é verdade que se
tornavam bastante atractivos em função da sua proclamada objectividade para
servir de base a avaliação das aprendizagens dos alunos, ao mesmo tempo surge
a forte consciência de que deixam de parte aspectos não mecânicos da
aprendizagem e relacionados com o desenvolvimento mais global do aluno (Eisner,
1967; Freitas, 2000). A influência da Psicologia Cognitiva está aqui presente, pois
ao valorizar o pensamento de professores e alunos, abre nova janela para a
compreensão do ensino. Esta nova visão é também informada por influências das
ciências sociais, nomeadamente da Sociologia.

De destaque é o estudo de Jackson (1968), Life of classrroom, que põe a


complexidade da sala de aula, evidenciando como o conjunto de aprendizagens
que os alunos fazem está longe de poder ser explicado apenas pelo currículo
escrito.

Em 1969, Joseph Schwab escreve um artigo, The pratical: A language for curriculum,
que representa um marco de referência para os trabalhos que se seguiriam.
Declara, logo na segunda linha do texto, o campo do currículo como “moribundo”,
afirmando-o incapaz de contribuir significativamente para o progresso da educação.
Critica a acção do campo curricular que, segundo ele, confiou em demasia, de
forma não crítica e até errada, numa teoria que considera inadequada. Critica pois

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 9


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a investigação que até então dominava e advoga a necessidade do contacto da


investigação curricular com a realidade escolar.

Nos anos 70 assistiram a discussão sobre as relações entre a teoria e a prática


curriculares e intensificou-se a oposição aos teóricos da linha tyleriana. Nesta
década chegam aos Estados Unidos ventos europeus carregados de ideologias
políticas, acolhidos com interesse, em especial, pela Sociologia da Educação. As
ideias de Marx e de Freud e de outros ideólogos como Sartre, Merleau-Ponty,
Husserl e Habermas fazem sentir as suas influências.

Na actualidade, o currículo tem evidenciado um amplo desenvolvimento tendo em


conta as necessidades educativas do contexto internacional e em muitos paises faz
parte das prioridades com o objectivo de responder a demanda social dos povos,
Portanto, o currículo continua a dar cartas substanciais de amplo desenvolvimento
e em muitos países faz parte das prioridades em educação.

1.2. Origem da problemática curricular em Angola

A problemática curricular emerge da implantação do ensino Oficial em Angola a 14


de Agosto de 1845, com um Decreto desse mesmo ano assinado por Joaquim José
Falcão, ministro de D. Maria II (Zau, 2002).

Entre 1482 e 1845, todas as experiências vividas no sector da educação eram


levadas a cabo pela Igreja Católica em nome da Evangelização e da missão
pretensamente civilizadora de Portugal. Nesse período o ensino missionário
confundiu-se praticamente com a própria história da colonização de Angola, com a
proclamação da república portuguesa, em 1910, as instituições religiosas foram
perdendo a força que possuíam antes, embora continuassem activas na sua acção
evangelizadora.

Nos finais de 1919, o governo da Colónia de Angola criou um Conselho Inspector


da Instrução Pública, assumindo, desta forma, a responsabilidade pelo controlo da
Instrução. Este Conselho foi o responsável pela organização do sistema de
educação discriminatório, engenhosamente articulado à estrutura do sistema de
dominação em todos os seus aspectos, uma discriminação legitimada por um

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

estatuto missionário. O regime advogou uma separação cada vez mais acentuada
entre o ensino das crianças indígenas e o das civilizadas, como reclamada pelo
aumento da população civilizada da colónia» e «para o proveito de uma e de outra.

A separação dos objectivos de cada tipo de ensino era justificada,


documentalmente, por via de diplomas. O ensino indígena tinha por fim elevar
gradualmente da vida selvagem à vida civilizada dos povos cultos a população
autóctone das províncias ultramarinas, enquanto o ensino primário elementar para
os não-indígenas visava a dar à criança os instrumentos fundamentais de todo o
saber e as bases de uma cultura geral, preparando-a para a vida social. O tipo de
ensino estava a cargo da repartição superior dos negócios indígenas, fora da
alçada e da orientação dos serviços especificamente dedicados a indústria e a
escolaridade.

O ensino nessa época estava direcionado para aqueles que estivessem ligados a
uma matriz cultura europeia, com planos de estudo, programas e manuais de
ensino, que da sua análise, pouco ou nada transmitiam sobre a realidade angolana
ou africana, senão, quase exclusivamente, sobre Portugal e Europa. Apenas o
catecismo era ensinado nas línguas africanas (missões católicas e protestantes) o
ensino era por vias de propinas o que ocasionou que maior parte das populações
tivessem dificuldades de matricular os filhos. A escola apresentava uma dimensão
totalmente estrangeira e como instrumento de identidade serviu essencialmente os
interesses colônias.

Seguiu – se uma série de reformas que deu origem a diferentes maneiras de


organizar os serviços dedicados a instrução, como o liceu Salvador Correia (1919)
a direção dos serviços de instrução (1926) a organização da instrução primária na
província de Angola (1927) a organização dos serviços de instrução pública, a
centralização de sistemas educativos e Autonomia dos atores organizacionais da
colônia de Angola (1929), o conselho de instrução pública (1932), a reorganização
do ensino primário (1933) e a secretaria provincial de educação de Angola( 1964)

Com a proclamação da independência o novo estado independente de Angola


confere o Ministério da educação através da promulgação da Lei 1/75 de 12 de

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 11


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

novembro que cria o Ministério da Educação e Cultura (MEC) revogado um ano


depois, pelo então conselho da revolução atribuindo uma nova missão, a de formar
um homem novo, capaz de produzir e reproduzir a cultura nacional no seu todo
(MPLA, 1977) Assim o Ministério da Educação dotou – se de estruturas e serviços
que habilitariam a cumprir a sua nova missão.

«O ensino indígena tem por fim conduzir gradualmente o indígena da vida selvagem
para a vida civilizada, formar- lhe a consciência de cidadão português e prepará-lo
para a luta da vida, tornando-se mais útil à sociedade e a si próprio».
«O ensino primário rudimentar destina-se a civilizar e nacionalizar os indígenas das
colónias, difundindo entre eles a língua e os costumes portugueses»

As características principais do ensino eram «a feição nacionalista e prática», que


se traduzia na obrigatoriedade nas escolas do uso e do ensino da língua
portuguesa, tolerando o uso da «língua indígena» somente no ensino da religião,
e na obrigatoriedade do pessoal docente, quando africano, ser todo de
nacionalidade portuguesa. Essa obrigatoriedade iria fundamentar a política de
assimilação.
A reforma de 1935 nada mudou em substância, como podemos ver no seu artigo
1°: O ensino primário rudimentar destinava-se a colocar a criança indígena em
condições de aprender a nossa civilização por meio do conhecimento da língua
portuguesa, educação rudimentar das suas faculdades e adopção dos costumes
civilizados».
Segundo o historiador português, Pedro Ramos de Almeida, a situação de ensino
de Angola e Moçambique, em 1960, em relação a outros países africanos, era a
mais baixa.
Em 1960, o Cardeal Cerejeira, de Lisboa, declarava em Carta Pastoral:

Tentamos atingir a população nativa em extensão e profundidade, para os


ensinar a ler, escrever e contar, não para os fazer 'doutores'. Educá-los e
instruí-los de modo a fazer deles prisioneiros da terra e protegê-los da
atracção das cidades, o caminho que os missionários católicos escolheram
com devoção e coragem, o caminho do bom senso e da segurança política
e social para a província. As escolas são necessárias, sim, mas escolas

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 12


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

onde ensinemos ao nativo o caminho da dignidade humana e a grandeza


da nação que o protege (Cerejeira, 1960, s/p).

O Ensino Rudimentar foi substituído pelo Ensino Elementar dos Indígenas,


formados em Postos Escolares da zona rural. A 4a classe desse ensino equivalia à
3a das Escolas Primárias Oficial. O aluno precisava de frequentar mais uma 4a
classe das Escolas Primárias Oficiais para ingressar na Escola de Artes e Ofícios,
na formação de Professores de Posto Escolar e na Escola Industrial e Comercial
para Indígenas. O sistema não permitia o ingresso directo do aluno indígena no
Magistério Primário e nos Estudos Gerais Universitários.

O Ensino Primário Elementar e Complementar só funcionava nas zonas urbanas.


Eduardo Mondlane detalha que, o ex-indígena, o assimilado, podia “legalmente
beneficiar de todas as facilidades dos brancos, e supostamente ter as mesmas
oportunidades educacionais e de progresso” (MONDLANE, 1975: 45-46). Eram
condições necessárias para ser assimilado as seguintes:

1. “Saber ler, escrever e falar português;


2. Ter meios suficientes para sustentar a família;
3. Ter bom comportamento;
4. Ter a necessária educação, e hábitos individuais e sociais de modo a poder viver sob
a lei pública e privada de Portugal;
5. Fazer um requerimento à autoridade administrativa da área, que o levará ao
governador do distrito para ser aprovado”(idem).

O primeiro era ministrado em escolas primárias oficiais, enquanto o outro era


ministrado em escolas-oficinas e em escolas rurais, onde as crianças eram
preparadas para exercerem uma actividade profissional. O tipo de ensino estava a
cargo da Repartição Superior dos Negócios Indígenas, fora da alçada e da
orientação dos serviços especificamente dedicados à instrução e à escolaridade.

O ensino nessa época estava direccionado para aqueles que estivessem ligados a
uma matriz cultural europeia, com planos de estudo, programas e manuais de
ensino, que da sua análise, pouco ou nada transmitiam sobre a realidade angolana
ou africana, senão, quase exclusivamente, sobre Portugal e Europa. Apenas o
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 13
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

catecismo era ensinado nas línguas africanas (missões católicas e protestantes).


O ensino era por via de propinas altas o que ocasionou que maioria das populações
tivesse dificuldade de matricular os filhos. A escola apresentava uma dimensão
totalmente estrangeira e como instrumento de identidade serviu essencialmente os
interesses coloniais.

Seguiu-se uma série de reformas que deu origem a diferentes maneiras de


organizar os serviços dedicados à instrução, como o Liceu Salvador Correia (1919);
a Direcção dos Serviços de Instrução (1926); a reorganização da Instrução Primária
na Província de Angola (1927); a Organização dos Serviços de Instrução Pública;
a Centralização de Sistemas Educativos e Autonomia dos Actores Organizacionais
da Colónia de Angola (1929); o Conselho de Instrução Pública (1932); a
Reorganização do Ensino Primário (1933); e a Secretaria Provincial de Educação
de Angola (1964), que vigorou até1975.

Os factos ora referidos, entre outras situações e ocorrências sucedidas,


constituíram uma das principais razões para que Angola chegasse às vésperas da
independência com uma taxa de analfabetismo rondando os 85%, com a maioria
de crianças de origem africana sem oportunidade de estudar e um nível de
desenvolvimento das forças produtivas do país extremamente baixo.

Com a proclamação da independência o novo estado independente de Angola


confere ao Ministério da Educação - através da promulgação da Lei 1/75 de 12 de
Novembro que cria o Ministério da Educação e Cultura (MEC) revogado um ano
depois, pelo então Conselho da Revolução – atribuindo uma nova missão, a de
formar o homem novo, capaz de produzir e reproduzir a cultura nacional no seu
todo (MPLA, 1977). Assim, o Ministério da Educação dotou-se de estruturas e
serviços que o habilitariam a cumprir a sua nova missão.

Decorrente da constituição de 1975 e estabelecido o princípio da gratuidade do


ensino, desembocou numa enorme explosão escolar com a entrada massiva no
ensino secundário de crianças, adolescentes e jovens com variadas educações
informais, com diferenciadas aptidões, motivações e interesses e com diferentes
necessidades e projectos de vida. A entrada do pessoal discente em massa

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

necessitou do recrutamento de professores em massa, na sua maioria sem


habilitação requerida.

Dada a carência de recursos humanos suficientes em quantidade e qualidade, e de


infra-estruturas, o sector da educação teve, obviamente, muitas dificuldades para
administrar e gerir da melhor forma os dois primeiros anos do pós-independência.

De um total de 512.942 alunos em 1973, este número passou - quatro anos depois
– para 1.026.291 alunos matriculados da iniciação à quarta classe, A gestão de
recursos humanos em função de alunos matriculados apresentava um certo
equilíbrio, tanto que para mais de um milhão de alunos matriculados no ensino
primário, havia perto de 25 mil professores heterogeneamente distribuídos pelo
país, o que em condições normais correspondia a uma média de um professor para
cada 41 alunos. O grande desafio consistia na qualidade docente, considerando
que dos 25.000 professores recrutados apenas 7% dos docentes ligados ao ensino
primário tinham habilitações mínimas para o exercício do magistério.

Por consequência a entrada massiva de crianças e adolescentes oriundos de meios


populares – camponeses e operários – trouxe uma diversidade cultural à escola
que torna completamente inadequado o currículo até então existente, inadequação
expressa nas baixas de qualidade do ensino, sobre a qualidade docente e a
escassez de sala de aula, sem precedentes, desafios que devem ser vencidos na
actualidade.

Trabalho individual: Que principais aspectos constituem origem da


problemática curricular em Angola antes e depois da independência?

1.3. As Reformas na educação angolana

Com a proclamação da independência é promulgada a Lei 1/75 de 12 de


Novembroque cria o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Dois anos mais tarde
esta lei é revogada pelo então Conselho da Revolução (MPLA, 1977).

O Sistema de Educação e Ensino (SEE) adoptado em 1977 foi implementado em


1978, mas doze anos depois, em 1990, na sequência da Directiva nº 9/BP/88 do

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 15


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Bureau Político do MPLA-PT e através do documento Reformulação do Sistema


Educativo foram aprovados os fundamentos para um novo SEE, que resultou de um
maior aprofundamento do Ante-projecto bases gerais para um novo modelo de
educação e ensino a partir de uma estratégia política adoptada em 1987.

O novo SEE só deveria ser implementado, desde que fossem criadas as condições
básicas necessárias para o seu funcionamento em regime experimental com a
concepção de novos conteúdos programáticos e de novas metodologias; a
concepção de novos mecanismos de avaliação de conhecimentos; e a criação das
bases humanas e materiais necessárias (a formação e superação de docentes e
do pessoal técnico e auxiliar do sector; a construção, manutenção, recuperação e
adaptação de instalações; e a aquisição de novos equipamentos).

O espaço decorrido entre 1991 e 2001 foi caracterizado pelo regresso à guerra
após as eleições de Setembro de 1992, com a destruição de infra-estruturas -
incluindo as de ensino, o decréscimo de instituições escolares em todo o país, o
fluxo migratório do campo para as cidades e do interior para o litoral e a
superlotação de escolas das principais cidades e suas periferias.

O novo sistema mostrou-se incapaz das exigências da época dando lugar à LBSEE
nº 13/01 de 31 de Dezembro( Menezes, 2010).

Um novo contexto histórico-social evidencia alguma inadequação com a Lei 13/01,


e diante dum novo quadro institucional e novos desafios de desenvolvimento que
se colocam, traduzidos em diferentes planos e programas estratégicos de
desenvolvimento para garantir a inserção de Angola no contexto regional e
internacional tornou-se necessário a aprovação de uma nova lei, a LBSEE nº 17/16
de 7 de Outubro que visa:

 Alargar e assegurar os pressupostos de base para uma escolarização mais abrangente dos
cidadãos em idade escolar;
 Possibilitar a implementação de medidas que visam melhorar a organização, a funcionalidade e
o desempenho do Sistema de Educação, bem como fortalecer a articulação entre os diferentes
Subsistemas de Ensino;
 Adequar e actualizar a Lei de Bases do Sistema de Educação (Lei n.º 13/01, de 31 de Dezembro)
à Constituição da República de Angola, em função da evolução e experiência adquirida na sua
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 16
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

gestão e organização, bem como em função das tendências de desenvolvimento de Sistemas


Educativos no Mundo;
 Permitir melhor articulação da unicidade dos seis subsistemas de ensino, aumentando as
exigências para assegurar a permanente elevação da qualidade da Educação; e
 Reforçar o desenvolvimento integral e harmonioso dos jovens, com destaque para o espírito
empreendedor e a preparação para o ingresso à vida activa, sem prejuízo do acesso aos dois
diferentes níveis de ensino, tendo em atenção o desempenho escolar e a excelência.

Em relação aos novos princípios gerais são declarados designadamente, a


legalidade, a integralidade, laicidade, universalidade, democraticidade,
gratuitidade, obrigatoriedade, intervenção do estado, a qualidade dos serviços e a
educação e promoção dos valores cívicos e patrióticos.

Entre outros elementos adaptados fazem parte:

 A introdução da língua gestual como língua de ensino para os indivíduos


com deficiência auditiva;
 A promoção condições humanas, científico-técnicas, materiais e financeiras
para a expansão e generalização da utilização no ensino das línguas de
Angola, bem como para a inserção e o alargamento do ensino das principais
línguas de comunicação internacional;
 O dar tratamento da organização uniforme na estruturação dos diferentes
subsistemas e modalidades de ensino, clarifica a natureza, tipologia e
designação das Instituições de Ensino Primário, de Ensino Secundário e de
Ensino Superior;
 Clarificar o modo de financiamento das instituições dos diferentes
subsistemas de ensino e define o valor das propinas, das taxas e dos
emolumentos praticados nas Instituições de Ensino, com base no regime de
preços vigiados;
 Clarificar a delimitação das idades mínimas de acesso e frequência dos
diferentes níveis e subsistemas de ensino e os poderes de superintendência
como modo de relacionamento do Estado com as instituições públicas de
ensino, exercida por órgãos específicos do Executivo;

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 17


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

A Lei estipula a exigência de dois anos para a prestação de serviço laboral, para
os candidatos que tenham concluído o ensino secundário técnico ou o ensino
secundário pedagógico e que não tenham cumprido o serviço militar activo, bem
como para os que tenham concluído uma formação graduada ou pós-graduada; e

Busca um melhor aproveitamento da força de trabalho qualificada, em consonância


com os objectivos desses níveis e subsistemas de ensino.

Tarefa: Que os factores podem contribuir no desencadeamento de uma


reforma educativa? Estabelece quatro diferenças entre reforma educativa e
reforma curricular?

1.4. A conceptualização do termo curriculum.

Muitas são as definições existentes, com variações a partir do foco de incidência,


do grau de abrangência e do carácter com que são estabelecidas. O termo esta
essencialmente ligado a organizaçao da escola, no entanto começa a surgir
também em outras instituições

A palavra “currículo” é utilizada frequentemente por diversos actores socias; os


midia, os actores escolares, as instituições não escolares e as instituições de
ensino Superior, É associada, principalmente, à planos de estudos, programas e
conjunto de disciplinas, o que por vezes gera confusão da sua definição em meios
escolares e não escolares. Para defini-la temos de ter em conta três dos seus
aspectos:

a) Plano com percursos formativos;


b) Plano cultural construído num tempo histórico e num espaço social, criando
identidades; e
c) Plano ideológico de uma determinada organização.

Dado ser um termo multifacetado, “que se define, se redefine e se negoceia”, em


vários meios, é igualmente considerado um conjunto de intersecções de práticas e
devido às suas características torna-se complicado defini-lo com exactidão.
podemos afirmar que, no contexto escolar, o currículo escrito é um legado público
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 18
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

acessivel a qualquer um que espõe a parte racional e retórica das práticas


escolares.

Na dicionarização do termo “currículo” descobrimos que a sua origem é recente, e


que nos seus primórdios estava relacionada com a organização do ensino, mais
especificamente com disciplina.

“O lexema currículo – que, proveniente do étimo latino currere, significa caminho,


jornada, trajectória, percurso a seguir – encerra duas ideias principais: uma de
sequência ordenada, outra de noção de totalidade de estudos” (Pacheco, 2005: 36-
37).

Designa curso, acto de correr. Currículo é lugar, espaço, território, é relação de


poder, é trajectória, viagem, percurso. É autobiografia, é nossa vida, curriculum
vitae, é texto, discurso, documento, "documento de identidade: no currículo, forja-
se a nossa identidade" (Tomaz Tadeu da Silva, 2004).

Currículo é correr… a pé, de carro, a cavalo / na praia, na pista, no bosque. (Para


quê? Como? Com quê?).

É o elenco disciplinar de um curso; percurso académico de uma pessoa; percurso


profissional (curriculum vitae); vivências pessoais e conjunto de experiências; obra
efectuada ao longo da prática profissional; conjunto de saberes de uma disciplina;
etc., etc.

Com mais frequência entende-se por:

 Lista de disciplinas/matérias de ensino e respectivos tempos lectivos


atribuídos;
 Lista e/ou esquema de conteúdos programáticos;
 Sequência organizada de conteúdos de ensino (o que se ensina);
 Série de objectivos de ensino (para que se ensina);
 Manuais e materiais didácticos (para o professor e/ou aluno) (com que se
ensina);
 Métodos e processos de ensino (como se ensina);

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 19


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Conjunto de experiências e de actividades na escola.

De facto, “apesar da recente emergência do currículo como campo de estudos e


como conhecimento especializado, ainda não existe um acordo generalizado sobre
o que verdadeiramente significa” (Pacheco, 1996: 16).

Verificamos que não existe uma definiçao consensual que englobe todas as visões
sobre o termo currículo trata-se de um vocábulo com funções diversas consoante
as perspectivas que se adoptem.

Dentro desta complexidade, qualquer proposta de sistematização passa


necessariamente pela observação e interrogação dos seguintes dualismos
(Contreras, 1990):

 O currículo deve propor o que se deve ensinar ou aquilo que os alunos


devem aprender?
 O currículo é o que se deve ensinar e aprender ou é também o que se ensina
e se aprende na prática?
 O currículo é o que se deve ensinar e aprender ou inclui também a
metodologia (as estratégias, métodos) e os processos de ensino?
 O currículo é algo especificado, delimitado e acabado que logo se aplica ou
é, de igual modo, algo aberto que se delimita no próprio processo de
aplicação?”

Numa perspectiva política de educação, o currículo insere-se numa visão na qual


é “um instrumento de escolarização, que reflecte as relações sempre existentes
entre escola e sociedade, interesses individuais e interesses de grupo, interesses
políticos e interesses ideológicos, etc.” (Pacheco, 2005: 39).

Um currículo contém o enunciado das finalidades e objectivos visados; propõe ou


indica uma selecção e organização de conteúdos de ensino; implica ou sugere
modelos, métodos e actividades de ensino-aprendizagem, em virtude dos
objectivos que persegue e da organização de conteúdos que postula; inclui, por fim,
um plano de avaliação dos resultados da aprendizagem.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 20


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

O currículo é simultaneamente um elemento de mediação entre a sociedade e a


escola; a cultura e as aprendizagens socialmente significativas; e a teoria e a
prática.

O currículo é a prática em que se estabelece o diálogo entre os agentes sociais, os


técnicos, as famílias, os professores e os alunos. Não é imparcial, é social e
culturalmente definido. Reflecte uma concepção do mundo, da sociedade, da
educação, dos valores e concepções dominantes num dado momento da
sociedade. Implica relações de poder, é o centro da acção educativa.Tem como
objectivo promover a aprendizagem ou incidir em algo que resulte em
aprendizagem.

O currículo é algo que nos acompanha ao longo da nossa escolarização, está


envolvido numa cultura que se preocupa muito com a instrução e consequente
profissão. É algo que nos vai moldando progressivamente e de forma oculta,
consoante os caminhos educativos que percorremos e as escolhas educativas que
fazemos no nosso dia-a-dia.

Dentre os distintos conceitos existentes de currículo ligado ao campo da educação


neste fascículo adoptamos o conceito de Fátima Addine por ser mais concreto
ao pontuar o currículo como projecto educativo integral, com caracter de
processo, que expressa relações de interdependencia num contexto histórico
social, condições que lhe permite redesenhar- se sistematicamente, em
função do desenvovlmento social, do progresso da ciência e das
necessidades dos alunos, que se traduz na educação da personalidade do
cidadão que se aspira formar( Addine, 1995)

Existe uma relação dialéctica entre a Pedagogia, a Didáctica e o Currículo,


expressa no seu objecto de estudo, quer dizer, todos estudam o processo
formativo. A Pedagogia como ideal, a Didáctica em sua execução e o Currículo em
seu desenho e projecção. A Pedagogia desenvolve-se na escola através da
Didáctica e esta, por sua vez, regula-se através do Currículo.

O Currículo partilha um mesmo espaço com a didáctica: “o currículo liga-se ao


estudo dos processos e práticas pedagógicas institucionalizados; a Didáctica
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 21
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

relacionar-se-á com o estudo dos elementos substantivos ou nucleares do


currículo…” (Pacheco, 2005: 21-22).

No fundo o currículo é reconhecido como tendo estes dois aspectos: o institucional,


que está relacionado com a organização social, politica e escolar; e o didáctico,
referente ao que acontece no decorrer das actividades de sala de aula.

O currículo deverá:

 Orientar-se para a compreensão do mundo em torno das suas qualidades, da sua


complexidade e do seu dinamismo;
 Reflectir valores, propósitos e significados multi e interculturais;
 Relevar a percepção do sujeito como fonte do conhecimento;
 Potenciar uma educação eco-política (na compreensão global das interdependências
mundiais);
 Promover a compreensão integrada dos conteúdos curriculares (factos e conceitos,
procedimentos e atitudes ligadas aos valores) através da interdisciplinaridade e/ou dos
estudos integrados;
 Centrar-se na Escola.

1.5. Tipos, perspectivas, teorias, enfoques e modelos curriculares

1.5.1 Tipos de Currículo

Mediante o ponto de referência que se tome, o currículo pode adoptar vários tipos.
De maneira geral, os currículos podem ser:

De acordo com o grau de concepção -

 Pensado (teórico) - é aquele conscientemente pensado, ideal, mas, no entanto,


as vezes não coincide com o que ocorre na realidade.
 Real (vivido) o que se dá na prática concreta. É a contextualização do Currículo
Formal. Pode ser mudado de estratégia a fim de que os alunos possam aprender
mais de acordo com a percepção de ensino dos professores.
 Oculto - é o que limita ou obstruí a conclusão do ideal, mas não é consciente dos
professores e instituições.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 22


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Nulo - é o que se conhece, mas não se tem em conta e segue influindo no


pensado ou real.

Segundo à sua relação com a prática

 Obsoleto - Reflecte uma prática decadente.


 Tradicional - Reflecte uma prática dominante.

Este padrão dominante tem como consequência directa o carácter selectivo da


escola, pois desde o uso da linguagem até os exemplos do próprio quotidiano do
professor serão melhor apreendidos por aqueles alunos que vivem em condições
semelhantes, ou seja, têm uma mesma concepção de mundo, isto sem considerar os
programas, propriamente ditos, que enfatizam padrões valorizados pela instituição
educacional.

É desta forma que aquelas crianças cujo ambiente familiar pouca coisa tem em
comum com aquele que é trabalhado na escola, se sentem estranhas e
marginalizadas pois, sempre que alguns forem capazes de atender às expectativas
do professor, isto é o bastante para que se estabeleça um padrão de "bom" e "mau"
aluno, que vai sendo reforçado ao longo das classes e assim seleccionando, não os
mais aptos, mas os que se aproximam mais da visão de mundo inerente aos padrões
dominantes.

 Desenvolvista - Reflecte uma prática emergente.


 Utópico - divorciado da prática.
 Inovador - toma em conta a existência de serviços tradicionais nos quais
deve actuar, prevê a formação do egressado, a possibilidade de transformação
de tais serviços e permite conformar uma formação profissional com visão de
perspectiva. É possível e desejável seu desenvolvimento na prática.Um currículo
inovador implica entre outros aspectos na opção por uma metodologia que tenha
como foco a aprendizagem, isto é, conceber projectos pedagógicos que
privilegiem actividades organizadas a partir dos pressupostos de um novo
paradigma, no qual a ênfase é o aprender do aluno.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 23


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Quanto ao grau de flexibilidade

Uma das características fundamentais de um plano de estudo que determina o


regime académico de uma instituição educativa é o seu grau de rigidez-flexibilidade
que tem. O grau de rigidez-flexibilidade dos sistemas académicos expressa-se no
carácter aberto e fechado do currículo. Entre estes dois extremos existe uma
grande diversidade de variantes e combinações. Este tema é muito complexo
devido os seus referentes teóricos e pelas implicações de ordem epistemológica,
didáctico, psicológico e organizativo.

Para decidir sobre o grau de rigidez-flexibilidade deve-se obedecer ao plano de


estudo tendo em conta aos aspectos que deverão ser abordados e analisar as
possíveis variantes de flexibilidade, as repercussões na formação do estudante
(vantagens e desvantagens), as medidas organizativas a julgar pela sua incidência
na regulação da vida da instituição, etc. Assim, quanto ao grau de flexibilidade o
currículo pode ser:

Currículo aberto -tem uma estrutura variada de conteúdos que o estudante pode
eleger, com diversas variantes de organização curricular como cadeiras, módulos
ou outros.

Os conteúdos ajustam-se, actualizam-se ou podem ser ampliados pelo professor.


O estudante tem a possibilidade de introduzir variações nos conteúdos.

A especialidade não tem um tempo fixo de duração, dependendo da dedicação


completa ou parcial que pode ter o estudante.

Permite-se que o aluno faça a repetição de cadeiras de anos anteriores assim como
a repetição de anos da especialidade. Nas convocatórias extraordinárias o
estudante pode examinar de novo todas as cadeiras, caso seja necessário.

Os horários são flexíveis em todas actividades permitindo sua realização em


diferentes momentos que se programa.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 24


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

A assistência é livre. Proporcionam-se opções ou alternativas diversas de


acreditação do programa.Ingressam todos os alunos que tenham feito o ensino
secundário sem requisitos adicionais.

Currículo Fechado - tem uma estrutura fixa de conteúdos (unidades curriculares -


UC) com uma única perspectiva disciplinar, uma única possibilidade de serem
variados de forma quantitativa.

A mudança nos conteúdos apenas pode ser autorizada por níveis de direcção
institucional à proposta do professor. O estudante não tem a possibilidade de propor
ou seleccionar conteúdos. Tem um tempo fixo de duração (5 anos) que só pode ser
alterado de forma muito limitada (ao autorizar o estudante a ausentar-se por um
tempo de estudos ou quando este reprova uma cadeira, mas neste último caso
apenas para um número limitado de ocasiões. Só em casos muito excepcionais,
pode-se diminuir sua duração (alunos muito avantajados). A assistência às aulas
está regulada. Exige-se 100% de presença.

O currículo quanto ao contexto em que se circunscreve

O currículo pode ser formal, informal e oculto.

O currículo formal - tem carácter nacional, e numa primeira fase é elaborado


centralmente ao nível das estruturas político-administrativas. A este nível tomam-
se um conjunto de decisões, quer relativamente à existência, ou não, de um
currículo com uma base comum para todos os alunos, nomeadamente ao nível do
ensino básico (Pacheco, 1995a, 1996, Gimeno, 1995b), quer no que diz respeito à
sua própria substância (Roldão, 1999a, 1999d). É o determinado pelo governo. É
através deste currículo que se baseia o que será ensinado na escola de forma real.
É estruturado por directrizes normativas prescritas institucionalmente, sua intenção
é dar uma base nacional comum a educação, destacando uma abertura a
influências regionais.

Currículo informal integra actividades “estruturadas” e “não estruturadas” que


podem estar ou não ligadas à escola. “Encontram-se todas as actividades culturais,

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 25


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

cívicas, desportivas, recreativas ou de convívio social e de participação na


comunidade” (Ribeiro & Ribeiro, 1989, p. 52).

Currículo oculto é considerado como as experiências de aprendizagem vividas


pelos intervenientes no processo educativo que não decorrem directamente do
programa de estudos proposto, que não é assumido, sendo intencionado, ou não.
São métodos e práticas educativas que trazem resultados de aprendizagens não
explícitos de acordo com os planos educativos tais como socialização, formação de
moral, aquisição de valores e outras atitudes.

São aprendizagens que se percebem de forma pouco clara e das quais apenas
temos indícios e um conhecimento parcial. É a representação de tudo o que os
alunos aprendem pela convivência e espontaneidade a várias práticas,
comportamentos, atitudes, gestos, percepções que vigoram no ambiente social e
escolar. Este currículo é representado pelas influências que afectam
a aprendizagem do aluno e o trabalho do professor provenientes das experiências
culturais.

Mecanismos de transmissão do currículo oculto

A transmissão pode ser feita atravez de espaços livres e de convivio, nas reuniões
com alunos aceitando também as suas ideias, através dos manuais, da
personalidade do professor, da organização da escola, do relacionamento entre
pessoal docente e não docente, e através das relações entre alunos.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 26


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Imagem 1. Currículo oculto

1.5.2. Perspectivas básicas de Currículo. O Conceito de currículo na


dimensão educacional

Na educação escolar, ao pensarmos em tudo aquilo que é ensinado e aprendido


na escola, nos reportamos ao termo currículo. Com uma abrangência de definições
podemos dizer que, no quotidiano escolar, o currículo toma diferentes feições.
Mesmo que possa não existir enquanto documento, está presente em qualquer
espaço que se destina à prática educativa, e poderíamos finalmente dizer que
currículo é aquilo que é ensinado nas salas de aula, portanto diferente daquilo que
foi prescrito de início, uma vez que não podemos ignorar as diferentes leituras que
sofre ao longo de sua concretização e o facto de não se constituir em um objecto
neutro, portanto carregado de significações, símbolos, representações e saberes
construídos e legitimados não só cientificamente, como também socialmente.

Na dimensão educacional, a ideia de currículo também “admite uma multiplicidade


de interpretações e interiorizações quanto ao seu processo de construção e
mudança” (Roldão, 1999, p. 43). Esta multiplicidade pode reflectir as seguintes
perspectivas básicas:

 Currículo como fenómeno educativo perspectivado e enquadrado pelas suas


condicionantes sociais, o seu sentido mais abrangente;
 Currículo como experiências de aprendizagem basicamente delineadas no
âmbito da escola;
 Currículo como programa ou plano de estudos de determinado curso ou
formação, o seu sentido mais restrito.

Quanto à primeira perspectiva - currículo como fenómeno educativo-“o currículo


é um projecto integrado e global de cultura e formação que fundamenta, articula e
orienta as decisões sobre a intervenção pedagógica nas escolas com o fim de
permitir uma mediação para todos os alunos”(Alonso, 1995, p. 35). Nesta
perspectiva, entende-se que o currículo tem por base a cultura de uma comunidade,
bem como as vivências, os valores e os saberes dos alunos, aspectos com grande
influência nas decisões pedagógicas.
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 27
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Identifica-se com o oficialmente aprovado pelas entidades responsáveis pelo


sistema educativo, relaciona-se com a organização curricular que o professor tem
de cumprir. Este nível de decisão curricular é particularmente importante no que se
refere às finalidades últimas do processo educativo na sua dimensão escolarizada
e que visam a formação integral dos alunos, percebidos como cidadãos.

Assim designa o“plano de ensino-aprendizagem – nos seus objectivos, conteúdos


e actividades – expressamente definidos para promover aprendizagens explícitas”
(Ribeiro & Ribeiro, 1989, p. 52).

O currículo como experiências de aprendizagem - segunda perspectiva - aponta


para o currículo centrado nas experiências do aluno, valorizando a aprendizagem
feita através daquilo que ele experiencia e apontando para a escola como um local
privilegiado para o desenvolvimento de competências pessoais e sociais. Por
exemplo, Foshay (1969, cit. por Ribeiro, 1996, p. 13) define o currículo como «o
conjunto de todas as experiências que o aluno adquire, sob a orientação da
escola».

Na mesma perspectiva Roldão (2002, p. 84) define o currículo como um “conjunto


de situações proporcionadas ou dinamizadas pela instituição escola, para a
promoção de um leque variado de aprendizagens, que incluem a aquisição de
conhecimento, o desenvolvimento de competências, a promoção de valores e a
vivência de práticas”.

Freitas, (1998, p. 25) considera que se respeite a especificidade das realidades


locais de cada criança e se atenda às suas características. Um curriculum é uma
“concretização que cada professor cumpre com os seus alunos. Deste modo não
pode haver sucesso onde existam curricula uniformes, porque os alunos não são
todos iguais, porque as condições de execução variam, porque as realidades locais
têm (ou devem) ser respeitadas”.

Por fim, o currículo como programa ou plano de estudos - terceira perspectiva -


acentua um currículo organizado, expressando a matriz dos elementos estruturais
de determinada formação, configurada num programa de ensino.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 28


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Neste sentido, Phenix (1958, cit. por Ribeiro, 1996, p. 13) define o currículo como
“modelo organizado do programa educacional da escola e descreve a matéria, o
método e a ordem do ensino - o que, como e quando se ensina” (Ribeiro, 1996, p.
17), também acentua esta perspectiva quando afirma que o currículo é um "plano
estruturado de ensino-aprendizagem, englobando a proposta de objectivos ou
resultados de aprendizagem a alcançar, matérias ou conteúdos a ensinar,
processos ou experiências de aprendizagem a promover".

Está em causa um currículo cuja importância recai sobre os objectivos a alcançar


e sobre o processo de aprendizagem, não realçando as necessidades do contexto
para a criação de uma formação que melhor se adeqúe a esse contexto.

Concluí-se que a concepção de currículo pode ser entendida sob diversas


perspectivas, desde um programa ou plano até um conjunto de práticas que se
fundem, seja no âmbito das experiências de aprendizagem ao nível da escola seja
na concepção e desenvolvimento de determinado projecto educativo.

Por conseguinte, seja um projecto, um conjunto de experiências ou um plano


estruturado, o que se pretende é que, a partir do conhecimento de necessidades
evidenciadas em determinada cultura, se promova um conjunto de experiências de
aprendizagem que permitam aos alunos adquirir conhecimentos e desenvolver
determinadas competências, capazes de cuidar e de inovar essa cultura.

As três diferentes perspectivas curriculares aqui referidas estão na base das três
principais teorias curriculares sistematizadas por José Pacheco (1996), tendo em
conta a categorização de Kemmis (1988).

1.5.3. Teorias Curriculares

Na possibilidade de conhecer melhor a origem do currículo e os caminhos que o


mesmo percorreu, procura-se nesta secção falar sobre as teorias do currículo de
modo a entender a educação numa visão mais ampla e compreender que o

“currículo é mais do que um documento no qual estão delineados os objectivos a cumprir ou


experiências a proporcionar aos alunos. Surge como uma construção social que resulta da
necessidade de responder às aprendizagens que se consideram socialmente necessárias para um

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 29


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

determinado grupo, numa determinada época; corporiza-se através das decisões dos responsáveis
e reflecte o poder dos campos científicos (Roldão, 2000, p. 47).

Uma teoria é fundamentada em decisões baseadas em pressupostos


epistemológicos encerrando em si ambiguidades e conotações. A função da teoria
curricular é descrever, explicar e compreender os fenómenos curriculares para a
orientação das actividades resultantes da prática e sua melhoria.

“A teoria curricular, tal como qualquer teoria, tem origem no pensamento, na


curiosidade, na actividade e nos problemas humanos” refere Pacheco (2001, p. 31)
citando Kliebard (1977).

Para Silva (2005) é importante entender o significado de teoria como discurso ou


texto político. Uma proposta curricular é um texto ou discurso político sobre o
currículo porque tem intenções estabelecidas por um determinado grupo social.

Teoria do currículo ou um discurso sobre o currículo, mesmo que pretenda apenas


descrevê-lo tal como é, o que efectivamente faz é produzir uma noção de currículo.
Como sabemos as chamadas “teorias do currículo, assim como as teorias
educacionais mais amplas estão recheadas de afirmações sobre como as coisas
devem ser” (Silva, 2005, p.13).

É preciso entender o que as teorias do currículo produzem nas propostas


curriculares e como interferem em nossa prática. Uma teoria define-se pelos
conceitos que utiliza para conceber a realidade. Os conceitos de uma teoria dirigem
nossa atenção para certas coisas que sem elas não as veríamos.

Os conceitos de uma teoria organizam e estruturam nossa forma de ver a realidade


(Silva, 2005, p.17) e ao percorrer as diferentes e diversas teorias do currículo, o
essencial é perceber que a

“ questão que serve de pano de fundo a qualquer teoria do currículo é a de saber


que conhecimento deve ser ensinado (…) qual o conhecimento ou saber que é
considerado importante, válido ou essencial para merecer ser considerado parte do
currículo” (Silva, 2000, p.13).

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 30


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Conhecer as teorias curriculares nos leva a reflectir questões como para que serve,
a quem serve e que política pedagógica elabora o currículo. As teorias curriculares
actuais apontam duas características essenciais do currículo:

 Ocurrículo como forma de aproximar o percurso escolar ao percurso


de vida de um indivíduo;
 O currículo enquanto construção social que reflecte as idiossincrasias
do momento histórico em que se vive.

Estas características, atendendo a unicidade de cada pessoa, sublinham:


interacção, dinâmica, flexibilidade e a contextualização.

Para Silva (2005, p.17) “as teorias do currículo caracterizam-se pelos conceitos que
enfatizam” e, como seria de prever, as teorias apresentam diferenças significativas.

Sublinhamos de forma breve as que dizem respeito à concepção de currículo, ao


processo da sua legitimação e às suas consequências para o papel dos
professores.

O que é essencial para qualquer teoria é saber qual conhecimento deve ser
ensinado e justificar o por quê desses conhecimentos e não outros devem ser
ensinados, de acordo com os conceitos que enfatizam.

Teoria técnica - não obstante a pluralidade de visões e variantes sobre o currículo,


este é essencialmente visto como um produto, relativo a uma série de experiências
de aprendizagem dos alunos, organizadas pela escola a partir de um plano pré-
determinado. “O conceito mais corrente de currículo está ligado a um plano
estruturado de aprendizagem centrado nos conteúdos ou nos alunos ou ainda nos
objectivos previamente formulados” (Pacheco, 1996, p. 37). O processo de
legitimação curricular é normativo, com ênfase nas decisões
político/administrativas sobre o que deve ser ensinado, competindo aos
professores transmitir aos alunos o que é superiormente determinado.

A teoria técnica é, ainda hoje, a teoria que tem maior influência e tradição nos
estudos curriculares. Os modelos tradicionais do currículo restringem-se à

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 31


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

actividade técnica de como fazer o currículo (Silva, 2000), isto é, a desenvolver


técnicas estabelecendo-se na relação teórica/prática uma hierarquia.

A esta teoria estão associadas três concepções de currículo descritas por Pacheco
(2001):

a) uma como súmula das exigências académicas;

b) base de experiências

c) tecnologia e eficiência.

Considerada própria dos tradicionalistas, resume-se na clarificação de conteúdos e


de objectivos, bem como no ensino destes conteúdos de forma eficaz para haver
eficiência nos resultados.

Nas palavras de Bobbit, “o sistema educacional deveria começar por estabelecer


de forma precisa seus objectivos. Esses objectivos, por sua vez, deveriam se
basear num exame daquelas habilidades necessárias para exercer com eficiência
as ocupações profissionais da vida” (Silva, 2004, p. 60).

A perspectiva de Bobbit foi consolidada por Ralph Tyler (cit. por Hornburg & Silva,
2007, p. 61) quando propõe que“o desenvolvimento do currículo deve responder a
quatro principais questões: que objectivos educacionais deve a escola procurar
atingir; que experiências educacionais podem ser oferecidas que tenham
probabilidade de alcançar esses propósitos; como organizar eficientemente essas
experiências educacionais e como podemos ter certeza de que esses objectivos
estão sendo alcançados”.

Esta afirmação vai ao encontro da ideia exposta por José Augusto Pacheco quando
afirma que o currículo é visto como “um produto, um resultado, uma série de
experiências de aprendizagens dos alunos, organizadas pela escola em função de
um plano previamente determinado” (Pacheco, 1996, p. 35).

Na perspectiva de Pinar (1985, p. 233), o modelo de Tyler “es únicamente teórico


en el sentido cuestionable de que es abstracto”, ou seja, esta teoria não tomava em

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 32


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

consideração as experiências e vivências da população. A perspectiva técnica


enfoca o currículo como “uma instância determinada por especialistas, um produto
que, uma vez apresentado aos professores (técnicos), será por eles executado e
transmitido aos alunos (seres passivos). O currículo focaliza os conteúdos,
organizados disciplinarmente” (Silva, 2005, p. 27).

Para a teoria prática, o currículo é visto como um processo, definindo-se como


uma proposta que pode ser interpretada pelos professores, de modo distinto, e
adequada a diferentes contextos, englobando a interacção didáctica que existe ao
nível da sala de aula (Pacheco, 1996). A legitimação curricular é processual, com
a valorização do currículo como um projecto que depende do seu processo de
desenvolvimento e do significado da interacção, sublinhando-se a importância do
papel dos professores.

A teoria prática reforça a concepção do currículo como processo e não como


produto. Enquanto processo define-se como uma proposta que pode ser
interpretada pelos professores de diferentes modos e aplicada em contextos
diferentes. Deste modo, (Pacheco, 2001), afirma que o “currículo é uma prática
constantemente em deliberação e em negociação”( p.39).

Em 1969, Joseph Schwab escreve um artigo, The pratical: A language for


curriculum, critica o campo do currículo, na teoria técnica como “moribundo”,
afirmando-o incapaz de contribuir significativamente para o progresso da educação,
errada e inadequada. Advoga a necessidade do contacto da investigação curricular
com a realidade escolar, e defende a realização de estudos empíricos que tenham
a sala de aula como objecto de investigação. Acredita-se que as teorias prescritivas
do currículo, como o caso da técnica, não são úteis porque não reflectem os
processos de transformação do currículo.

Segundo Silva (2005, p. 29), “os empiristas conceptuais perspectivam o currículo


de acordo com o contexto de realização; preconizam a autonomia dos professores
e das escolas, focalizando as práticas”.

No âmbito desta teoria defende-se o currículo como espaço de acção e de


investigação, em especial ao nível da sala de aula.
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 33
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Quanto à teoria crítica, o currículo é o resultado da acção colectiva dos


professores, portadores de uma consciência crítica e agrupados segundo
interesses e experiências desejadas pelos que participam nas actividades
escolares. O conceito de praxiscomo forma de viver o currículo está aqui presente,
destacando-se a importância da acção e da reflexão. A legitimação do currículo é
discursiva, sendo a construção do currículo realizada de acordo com os sujeitos
intervenientes na base da deliberação social. Os professores são, nesta
perspectiva, considerados co-responsáveis pela definição curricular (Pacheco,
1996).

Entenda-se desta forma que o currículo depende dos intervenientes da comunidade


educativa, são eles que desenvolvem e aplicam o currículo, segundo seus
interesses e em função das necessidades da colectividade escolar.

Silva (2005, p. 29) considera que, para os reconceptualistas, preconizadores do


interesse emancipatório ou crítico, “o currículo é um processo político que focaliza
a reconstrução social, sendo definido a partir de comunidades constituídas através
de uma praxis crítica, isto é, teoricamente esclarecida”.

Vemos assim que ao longo do século XX se foram consolidando diversas


perspectivas teóricas sobre o currículo. Estas perspectivas, embora denotando
enormes diferenças e até mesmo contradições, também exibem sobreposições.
Além disso, não se desenvolveram de forma estritamente sequencial no tempo,
mas foram coexistindo lado a lado e nenhuma extinguiu as anteriores, o que faz
com que o domínio curricular seja muitas vezes entendido como “confuso”
(Jackson, 1992b).

Assim, o currículo, nas suas diversas teorias é um meio pelo qual a escola
seorganiza, propõe os seus caminhos e orientações para a prática, sendo
inconcebível “pensar numa escola sem seu currículo e objectivos” (Silva, 2006, p.
17), porque o currículo é um processo de ensino-aprendizagem que é feito a partir
de princípios gerais, norteadores de uma acção pedagógica.

William Pinar apud Lopes, 2006, p. 14), estudioso do campo do


currículo, afirma:
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 34
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

“[...] estudar teoria de currículo, é importante na medida em que oferece aos


professores de escolas públicas, a compreensão dos diversos mundos em que
habitamos e, especialmente a retórica política que cerca as propostas educacionais
e os conteúdos curriculares. Muitos professores de escolas têm dificuldades em
resistir a modismos educacionais passageiros, porque, em parte não lembram das
teorias e da história do currículo, porque muito frequentemente não as estudaram
[...]”

A advertência de Pinar pode ser contexutualizada com à realidade angolana.


Precisamos estudar nossas propostas curriculares, bem como as teorias do
currículo e tendências pedagógicas para que possamos entender nossa prática e
suas consequências aos alunos e docentes, na medida em que ao adoptamos um
posicionamento pedagógico que está vinculado a uma teoria, a uma tendência
pedagógica, este determina nossa concepção de homem, de sociedade, de escola,
de currículo e, estes por sua vez, determinam nossa prática. Dai a importância de
estudar teorias, ideologias e práticas diversas, cabe-nos para conhecê-las,assumir
uma conduta crítica na acção docente.

O quadro abaixo a seguir resume e caracteriza o principal das teorias estudadas


de acordo com Silva, (2006):

Quadro nº 1 - Teorias do Currículo

Teoria Técnica Teoria Prática Teoria Crítica

Centrada no Ministério da Centrada na Escola/Sala de Centrada na Comunidade


educação aula

Legitimidade Normativa Legitimidade Processual Legitimidade Discursiva

Racionalidade
Comunicativa: resultante da
Racionalidade Técnica: Racionalidade Prática: o que
interacção e da autonomia
Saber fazer se faz resulta de um contexto
das comunidades
= processo de deliberação
educativas - trabalho em
Professor: executante,
que estabelece a relação
colegialidade
implementador de
entre a intenção e a
(intersubjectividade)
decisões.
realidade

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 35


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Ideologia: Burocrática Ideologia: Pragmática Ideologia: Crítica

Teoria Prática Teoria Prática Prática Teoria Prática

Organização: Burocrática Organização: Liberal Organização: Participativa,


Democrática, Comunitária

Discurso Cientifico Discurso Humanista Discurso Dialéctico

Acção Tecnicista Acção Racional Acção Emancipatória

EMPIRISTAS
CONCEPTUAIS
TRADICIONALISTAS RECONCEPTUALISTAS
(Processos Cognitivos)
(Reconstrução Social)

1970 - Paulo Freire

1918 –Bobitt 1969 – Schawb 1975 - M. Apple

1949 - Tyler 1987 –Stenhouse 1981 - H. Giroux

1962 - Hilda Taba 1975 - W. Pinar

Currículo = Plano, Currículo = Texto, Hipótese, Currículo = Praxis


Programa Intenção

In Silva, F. (2006, p.26). Ramo Educacional FLUP: um projectoreconceptualizado

O que é essencial para qualquer teoria é saber qual conhecimento devem ser ensinado e
justificar o por què desses conhecimentos e não outros devem ser ensinados, de acordo com os
conceitos que enfatzam.

1.5.4. Enfoques curriculares contemporâneos.

Ao analisar as definições, as bases e os fundamentos do currículo evidencia-se o


enfoque curricular do autor. A organização final do currículo dependerá, em grande
parte, da selecção do enfoque. É um dos passos mais importantes no desenho
curricular, por possibilitar a compreensão da própria essência do currículo e da
investigação que os participantes fazem, ao dar uma resposta a todas as
dimensões. (Gamboa, Ingrid, 1993).

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 36


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

É evidente que, em todo o enfoque curricular estão presentes posições teórico-


práticas e metodológicas que orientam o trabalho e a direcção principal da
investigação do currículo, o que permite precisar os valores implícitos na
construção realizada, ou seja,

 Qual o ponto de vista, a partir do qual se examina o currículo?


 Qual o conteúdo da educação a que cada investigador está adstrito e,
portanto, a sua posição ideológica e marco conceptual?

Estabelecer um enfoque, tem um valor metodológico pois, de antemão,


apresentam-se e se fixam com precisão os componentes curriculares e
dimensões da investigação (Castillo et al., 2000).

Enfoque curricular é o corpo teórico que sustenta a forma como podem ser
visualizados os diferentes elementos do currículo e comosão concebidos nas suas
interacções, de acordo com a ênfase dada a cada um dos elementos (Bolaños e
Molina, 1993).

Constitui a ênfase teórica que se adopta em determinado sistema educativo para


caracterizar e organizar intencionalmente os elementos que conformam o currículo.
Orienta as posições curriculares que se concretizam em acções específicas do
desenho curricular, como a elaboração de planos e os programas de estudo.
Possibilita ao docente compreender as intencionalidades e as expectativas
relativas aos planos e programas de estudo que devem ser planificados e aplicados
ao nível de sala de aula.

Muitos autores concebem os enfoques curriculares de forma distinta. De acordo


com (Bolaños, G., Molina, Z. op. cit. p. 91); podem ser classificados como
psicologistas, academicistas e intelectualistas, tecnológicos, socio-
reconstrucionistas e dialécticos.

Segundo Homero agrupa-os em enfoques conductistas, globalizadores, de


investigação-acção, constructivitas, de processos conscientes (Homero, 1995).

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 37


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Na visão de Pérez Gómez, (1988) citado por Barriga, (1993, p.20) descreve-os
como “estrutura organizada de conhecimentos, sistema tecnológico de produto,
plano de instrução, conjunto de experiências de aprendizagem e como
reconstrução do conhecimento e proposta de acção”.

Em cada uma das classificações, põe-se em manifesto o conceito de currículo que


se assume, destacando-se o elemento principal que o caracteriza.

Os enfoques geram distintos modelos curriculares.

1.5.5. Modelos Curriculares

Para a compreensão de como o processo curricular funciona, vários modelos, ao


longo dos últimos anos, têm sido referenciados, servindo de reflexão a cerca do
significado e necessidade do desenvolvimento curricular.

Modelo é uma “construção teórica caracterizada por um nível de abstracção”


(Arredondo, 1994, p. 98), e expressa um conjunto de suposições sobre um objecto
ou sistema, atribuindo-lhe uma estrutura interna, um mecanismo que explicará, ao
ser tido como referência, diversas propriedades desse objecto ou sistema. "... É a
representação gráfica e conceptual do processo de planificação do currículo. Diz-
se conceptual por incluir a visualização teórica que se dá a cada um dos elementos
do currículo (...) e gráfica, por mostrar as inter-relações que se dão entre esses
elementos, mediante representação esquemática que oferece uma visão global do
modelo curricular “ (Bolaños, op.cit. p. 95).

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 38


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Fig.1. Representação gráfica e conceptual de modelo curricular linear de Tyler (in Castilho et al.,
2000).

Especialistas Sociedade Aluno

Objectivos sugeridos

Selecção e Organização de objectivos

Filtro da Filosofia

Filtro da Psicologia

Objectivos definidos

Selecção de actividades de aprendizagem

Organização de actividades de aprendizagem

Avaliação de experiências

Reinício do ciclo

Neste modelo põe-se em manifesto as fontes que originam os objectivos de


aprendizagem: aluno, sociedade e especialistas, considerando o papel da filosofia
e da psicologia da aprendizagem (como filtros), na sua selecção. Está
fundamentado numa epistemologia funcionalista, dentro de uma linha de
pensamento pragmático e utilitarista, se bem que se lhe reconheça a sua
perspectiva centrada no aluno.

Do ponto de vista educativo centra-se na concepção que considera a educação


como uma mudança de conduta do comportamento. Liga os objectivos às
experiências de aprendizagem, aos métodos de ensino e à avaliação.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 39


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

São aspectos com repercussão no modelo curricular as mudanças demográficas,


sociopolíticas, económicas e científico-técnicas.

Ter claro o modelo curricular permitirá dar respostas, entre outras, às seguintes
questões:

 Como precisar os objectivos quanto à formação que se quer alcançar com os


estudantes? Propor conteúdos ou limitar-se a sugerir critérios para a sua
selecção? O que vão aprender os estudantes? Quando ensinar? Como conseguir
que os estudantes aprendam? O quê, como e quando ensinar? Qual deve ser o
centro em torno do qual se organiza o currículo? Como satisfazer as necessidades
individuais?

Fig.2. Modelos curriculares


TENDENCIAS CURRICULARES

Práticas pedagógicas contexto histórico- social

MODELOS

Clássicos Tecnológico e Crítico e Construtivistas


sistémico Sociopolítico

Dias Barriga (1993) é tido como um dos autores que agrupou e definiu os quatro
tipos de modelos acima descritos, revelando as características seguintes:

Para o modelo clássico de R. W. Tyler, de Hilda Taba, o e modelo de Mouritz


Johnson – caracterizam-se em considerar a educação como uma mudança de
conduta, de comportamento, embora coexistir pequenas diferenças.

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

O Modelo de J. Schwab - conforma o currículo a partir da experiência quotidiana


dos alunos, apresenta um paradigma ecológico ou contextual e inscreve-se na
corrente humanista.

Modelo de Lawrence Stenhouse – É sociopolítico, com uma prestada especial


atenção ao vínculo escola-sociedade, o que permite ir determinando os problemas
e procurar soluções para os mesmos, inscreve-se na corrente humanista.

Modelo de César Coll - paradigma cognitivo, centrando a atenção ao como


aprende o aluno.

Trabalho em grupo: Pesquisa sobre modelos curriculares.

Diferenças entre o modelo curricular de Ralph Tyler e o de Hilda Taba

Que modelos curriculares dominam o mundo?Existem modelos melhores do que outros?

Como pode ser caracterizado um modelo?Como se explica que um modelo não pode ter insuficiências?

NB: Para melhor compreensão desta reflexão perceber a 2ª Tarefa do Desenho curricular
sobre o tema Desenho e Desenvolvimento Curriculares.

Imagem 2. Conhecer as tendências e teorias para assumpção de uma conduta crítica

Também os modelos podem ser classificados em modelos baseados em


objectivos, em processo e baseados na situação:
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 41
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Quadro 2. Modelos curriculares com base nos objectivos, no processo e na situação


Modelos baseados nos Modelos baseados no Modelos baseados na
objectivos Processo Situação

O currículo representa a Currículo como projecto, Currículo como construção


elaboração de um plano cujo desenvolvimento é emancipatória assumida pelo
estruturado de aprendizagem orientado para a resolução colectivo de professores ao
dos alunos, tendo em vista o de questões práticas. nível da escola. Centrado na
seu aperfeiçoamento através (Teoria Prática do escola enquanto comunidade
CONCEPÇÃO DE dos objectivos formulados em Currículo) crítica.
CURRÍCULO termos comportamentais.
(PREVISÃO e PRECISÃO (Teoria Crítica do Currículo)
dos resultados).
(Abordagem ecológico-
sistémica

1. Aceita a estrutura 1. Elemento de 1ª 1. Atitude crítica e auto


curricular tal como se lhe ordem na concretização do reflexiva.
apresenta. processo curricular.
2. Consagra a sua
2. Técnico 2. Activo e participante. autonomia curricular
perante a liberdade de
3. Executor 3. Mediador entre o currículo e elaborar os programas e
os alunos. materiais, propõe as
actividades e a metodologia
4. Realiza um projecto didáctica.
planeado por peritos da 4. Assume um esquema de
maneira mais fidedigna colaboração e de inter-
O PAPEL DO possível. relação, em vez de 3. Papel criativo.
PROFESSOR diferenciação hierárquica.
4. Colaboração e
5. Toma decisões sobre “o quê” colegiabilidade.
e “como” ensinar.

1. Papel passivo e 1. Participante Participante;


reprodutor
2. Membro activo da sua Membro activo da sua
2. Consumidor de um aprendizagem (significativa aprendizagem;
O PAPEL DO currículo planeado pela e construtiva – D. Ausubel e
ALUNO administração central J. Piaget)J Os problemas e atitudes dos
alunos são o ponto de partida
para a acção do professor.

1. Produtos visíveis 1. Perspectiva de 1. Acção estratégica


adaptação ao contexto considerada problemática
2. Concretos escolar;
2. Estrutura curricular é
OS CURRÍCULOS 3. Pré-estabelecidos 2. Revisão constante uma construção de
dos objectivos e adaptação professores e alunos;
às necessidades de
4. Imutáveis aprendizagem dos alunos 3. Análise da situação
existente;
3. Justificação
intrínseca das opções 4. Formulação de
curriculares; finalidades;

4. Ampla autonomia às 5. Aplicação e


escolas e aos professores. interpretação dos
programas;

6. Avaliação do
funcionamento.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 42


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

2. Bases e fundamentos do desenho do Currículo

O desenho e o desenvolvimento de um currículo, enquanto projecto educativo,


devem ter em linha de conta, as bases consubstanciadas na sua política educativa
(que tipo de Homem formar), nas suas condições económicas (estádio de
desenvolvimento das estruturas e necessidades formativas) e sociais (estádio de
desenvolvimento dos sectores de educação, saúde, segurança social, etc.).

É das bases que se identificam os fundamentos teóricos que devem sustentar a


política educativa do país.

A temática curricular constitui uma das problemáticas científicas de maior incidência


na prática educativa. Dentro dela, o tema das bases e fundamentos de um currículo
é a premissa teórico-metodológica, que para além de expressar as possibilidades
assumidas no processo de desenho, execução e avaliação do currículo, também
orienta este mesmo processo.

Fig.3 Sequência das bases e fundamentos curriculares

Bases Curriculares
Politica-Económica-Social

Realidade do país

Fundamentos Curriculares
Filosóficos/sócio-culturais/psicológicos/epistemológicos/pedagogicos

Sistema Educativo

Currículo
Desenho/Desenvolvimento/Avaliação

Escola

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

O ensino superior por ser guia das transformações educacionais e compulsar ao


resto dos níveis, esta temática alcança grande importância.

Toda a análise de uma teoria deve partir da realidade onde constam as bases sobre
as quais estarão os fundamentos que sustentam o currículo.

Consideram-se bases do currículo:

 Condições económicas;
 Estrutura social;
 Estrutura política; e
 Tradições culturais.

Estes elementos, num contexto histórico dado condicionam os fins da educação e


o modelo de homem a formar. Deste ponto de vista existem vários critérios. Por
exemplo, o modelo de César Coll, o marco curricular de uma escola renovada, situa
como elementos essenciais os seguintes:

o Estrutura ou sistema social;


o Sistema económico;
o Sistema de comunicação;
o Sistema de racionalidade;
o Sistema de tecnologia;
o Sistema moral;
o Sistema de conhecimentos; e
o Sistema estético.

Nestas bases há elementos que coincidem devido a consideração do carácter


político-classista e por não serem privativas de uma posição determinada.

As bases de um currículo são concebidas como aspirações de formação humana


dentro de um determinado contexto social. Estas posições nos indicam que o
projecto educativo em qualquer sociedade não é neutro, o projecto cultural e de
socialização da escola tem carácter classista.

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

De maneira geral, tal como levanta Júlia Garcia Otero (1995), no campo da teoria
curricular consideram-se as bases como o cimento que sustém toda a estrutura
espacial e temporal do currículo.

No tocante aos fundamentos são assumidos como marco teórico e metodológico


que expressam o modelo curricular assumido e orientam todo o processo de
elaboração do currículo, concebido como um sistema teórico-referencial integrado
por diferentes disciplinas científicas.

Constituem um sistema de conhecimento que permite interpretar a realidade e nela


operar de modo a se tomar decisões.

Em muitas literaturas, bases e fundamentos, apesar de nem sempre estarem bem


delimitadas, quanto à sua interdependência, há situações em que as bases são
inclusas nos fundamentos.FJINR

Toda uma proposta curricular deve ter em conta as bases e fundamentos e estas
por sua vez devem relacionar-se com as perspectivas curriculares assumidas.

O domínio dos fundamentos teóricos da prática curricular propicia uma atitude de


mudança nos educadores sendo esta uma das suas finalidades. Seu carácter
multidisciplinar deve apresentar ao docente uma visão coerente e científica da
prática, constituindo elementos de orientação.

Nem todos autores estabelecem os mesmos critérios. Os mais generalizados em


literatura são os seguintes:

Filosófico - brinda uma concepção de vida e um ideal de homem que se quer


alcançar, orienta a finalidade educativa influindo na sua concepção as correntes e
tendências no que concerne aos objectivos educativos; organização, sistema e
selecção das cadeiras; relação teórico-prática e concepções curriculares que se
posicionam no conjunto de experiências vividas, compendio organizado e
sistematizado de verdades, conjunto de actividades planificadas, previamente
encaminhadas ao desenvolvimento pessoal, currículo encaminhado à solução de
problemas.

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Em essência é chegar à resposta de " o que somos e para onde vamos?"

Sociocultural - Inclui o conhecimento de valores, atitudes e expectativas que se


deseja conservar e transmitir mediante o sistema educativo. Permite valorar o
suporte que a cultura habitual pode apresentar para enriquecer o processo
curricular. Não se limita ao grupo-aula já que inclui um contexto mais amplo, que é
a sociedade, os valores e atitudes que estão presentes em seu desenvolvimento e
aqueles que deve desenvolver a instituição escolar para incorporar ao currículo os
elementos da cultura que deve transmitir a escola.

Os fundamentos socioculturais devem caracterizar o ideal da sociedade, da escola,


o conceito de escolarizado e outros que evidenciam as relações socioculturais num
contexto determinado.

Psicológicos - Permite entranhar nas características evolutivas dos alunos em


diferentes etapas da sua vida para poder orientar o processo metodológico da
aprendizagem.

Nos fundamentos de um projecto curricular desempenha um papel essencial a


tendência psicológica que esteja vigente num determinado país. Mas existe um
grande número de correntes e tendências psicológicas em que cada uma delas
propõe determinada concepção sobre o que é a aprendizagem e como deve focar-
se? Analisando algumas delas temos:

 Se a aprendizagem basear-se na conduta observável do homem, o essencial


é o que faz a sua conduta mensurável baseada em estímulo-resposta e reforço.
Nestes casos o currículo enfatiza a elaboração de objectivos, conhecimentos,
actividades e estratégias de evolução. Insistirá além de mais nos resultados, em
sistemas de produtos com uma perspectiva tecnologia da educação.
 Se a aprendizagem orientar-se ao desenvolvimento pessoal, com uma visão
optimista, o currículo tenderá a um carácter mais flexível, terá em conta a auto
aprendizagem a partir de experiencias e conhecimentos anteriores, ou seja, a
possibilidade do aluno construir seu conhecimento em interacção com o contexto
sociocultural.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 46


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Se a aprendizagem construir-se na relação sujeito-objecto mediatizado com


o emprego de instrumentos de ordem histórico-cultural a partir das
possibilidades, conhecimentos e características do sujeito, então o currículo se
caracterizará por resgatar o papel da prática educativa dos problemas.

Pedagógico - Atende ao papel do professor e da escola no processo de ensino-


aprendizagem. Em relação com as correntes e tendências os fundamentos
podem variar:

Se o fundamento for concebido como processo de aprendizagem onde o conteúdo


é transmitido pelo professor como verdades acabadas, geralmente com pouco
vínculo com a prática, dissociada da experiencia, do contexto em que se
desenvolve o estudante como ser humano, o desenvolvimento curricular vai se
compreender como planos de estudo carregados de unidades, mesmo sem relação
com eles. Poderá ainda compreender-se por objectivos de aprendizagem em
termos de produtos, entre outras.

Se o processo de ensino organiza-se em situar o aluno no centro de toda acção


educativa convertendo-lhe em sujeito activo de sua própria aprendizagem, a
concepção curricular será mais flexível. Passa a incluir temáticas de interesse,
organização do conteúdo com carácter globalizador, que possibilita a escola
construir o seu próprio currículo em estreita relação com o contexto sociocultural e
os interesses e necessidades do aluno e com a sua participação na solução dos
problemas.

Epistemológico - Tem a ver com a forma como se constrói o conhecimento, seja


ele social ou individual. É determinar sua origem lógica, seu valor, seu objectivo,
sua natureza, suas limitações, sua estrutura, seus métodos e sua validade, ou seja
o grau de certeza.

Ao se fundamentar um currículo a que ter em conta que:

 Somos necessariamente membros de uma sociedade cada vez mais global;


 É essencial e urgente definir um currículo que garanta uma «vida em
comunidade alargada»;

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Um currículo, ajustado à nova visão cósmica do mundo.

Por isso, como pode um docente propor-se a desenvolver transformações em


sua prática curricular se primeiro não se vincula no conhecimento dos
fundamentos do seu desempenho profissional?

3. Desenho e desenvolvimento curricular: Componentes e tarefas do


desenho curricular

3.1. O que é desenho curricular?

A literatura sobre o tema identifica às vezes o desenho curricular com o conceito


de planeamento ou com o currículo na sua integridade (Arnaz, 1981); outros
autores identificam-no com os documentos que prescrevem a concepção curricular
ou como uma etapa do processo curricular.

Desenho curricular pode entender-se como uma dimensão do currículo que revela
a metodologia, as acções e o resultado do diagnóstico, modelação, estruturação e
organização dos projectos curriculares. Prescreve uma concepção educativa
determinada que, ao se executar, pretende solucionar problemas e satisfazer
necessidades e na sua avaliação possibilita o aperfeiçoamento do processo de
ensino-aprendizagem (Castillo et al., 2000).

Revela uma metodologia, quer dizer, o seu conteúdo explica como elaborar a
concepção curricular. O desenho curricular é acção na medida em que constitui um
processo de elaboração e é resultado, porque do processo do desenho curricular
ficam plasmados, em documentos curriculares, a concepção e as formas de pô-lo
em prática e de o avaliar.

3.2. Desenvolvimento curricular

O desenvolvimento curricular diz respeito à forma de concretizar o currículo,


“engloba assim, por um lado, o conjunto de processos accionados para
elaborar/construir uma proposta curricular ou currículo e, por outro lado, as

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 48


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

actividades desencadeadas para o concretizar e actualizar nas situações de


ensino-aprendizagem” (Roldão, 1995).

Na perspectiva de Ribeiro (1996), o desenvolvimento curricular tem uma definição


que se modela pela sua estrutura processual, ou seja, é um sistema contínuo e em
constante mutação, que se desenvolve a partir da análise, planeamento,
implementação e avaliação efectuadas em determinadas situações e contextos.
José Augusto Pacheco (1996) menciona que o desenvolvimento curricular é visto
como uma prática, dinâmica e complexa, que se processa em diversos momentos
e em diferentes fases, de modo a formar um conjunto estruturado, integrando
quatro componentes principais: contexto de decisão curricular,
elaboração/planeamento, operacionalização e avaliação.

Entenda-se assim que, tomando qualquer posição no esquema abaixo exposto,


pode-se verificar que, a partir de uma justificação curricular, procede-se ao
planeamento do ensino e sua implementação, finalizando-o com uma avaliação,
com a perspectiva de verificar os resultados. Pode-se, ainda, partir da concepção
e elaboração do currículo, proceder-se à sua implementação, avaliar a sua
execução e clarificar a sua justificação e linhas orientadoras. Por último, considera-
se a execução e após a sua avaliação verifica-se os princípios orientadores com a
finalidade de aperfeiçoar ou modificar, se assim for necessário, o plano curricular.
(Ribeiro, 1996).

Desta feita, constata-se que estamos perante uma organização curricular circular
na qual, em qualquer momento do desenvolvimento curricular, é possível delinear
linhas orientadoras de trabalho no sentido de melhorar, ajustar ou inovar o ensino,
não descurando o conhecimento do contexto ou de uma situação como
determinantes à elaboração de um plano curricular.

Figura 4. Desenvolvimento curricular (estrutura)

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 49


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Justificação Curricular

Avaliação Planeamento
curricular Curricular

Implementação
curricular

Após qualquer execução de um plano (prática em desenvolvimento) torna-se


igualmente indispensável o momento de análise, de reflexão e avaliação sobre a
aplicação no contexto.

O conceito de desenvolvimento curricular está largame nte condicionado pela


própria perspectiva que se tem de currículo, porém, os procedimentos e decisões
variam em função:

 Da concepção curricular;
 Da natureza e dos níveis de decisão; e
 Dos papéis atribuídos aos actores educativos (Pacheco, 1996; Roldão, 1999,
Sá-Chaves, 2000)

Portanto, o currículo em acção faz emergir o desenvolvimento curricular, de onde


ressaltam três características consensuais: processo, sequência e continuidade
(Gaspar e Roldão, 2007). O termo desenvolvimento curricular é utilizado para
expressar uma prática, dinâmica e complexa, processada em diversos momentos
de modo a formar um conjunto estruturado com quatro componentes fundamentais:
justificação teórica, elaboração/planificação, operacionalização e avaliação
(Pacheco, 2001).

3.3. Tarefas do desenho curricular

Da revisão da literatura sobre a matéria atinente ao Desenho Curricular, não


resultam bem delimitadas as tarefas do desenho, como dimensão do currículo. No
entanto, é possível apreciar na maioria dos modelos, especialmente dos últimos 30
anos, a necessidade de um momento de diagnóstico de necessidades e um
momento de elaboração, onde o que mais se reflecte é a determinação do perfil de
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 50
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

saída, a conformação do plano de estudo (Arnaz, 1981; Barriga, 1996). Há um


predomínio do tratamento de tarefas do currículo sem precisar a dimensão do
desenho curricular e da explicação do seu conteúdo para o nível macro de
concretização curricular e especialmente para a educação superior que é onde tem
alcançado maior desenvolvimento esta matéria.

Segundo Castillo et al. (2000), uma das concepções mais completa sobre fases e
tarefas do currículo é a de Rita M. Alvarez de Zayas (1995), cujo ponto de partida
está no facto de em primeiro lugar precisar as tarefas para a dimensão do desenho;
segundo, fazer uma integração de fases que orienta com maior clareza o conteúdo
das tarefas e o resultado que deve resultar das mesmas; terceiro, haver uma maior
precisão na denominação das tarefas; e quarto, o conteúdo das tarefas ser
reflectido em termos que permite ser aplicado a qualquer nível de ensino e de
concretização do desenho curricular.

Assim, segundo Castillo et all. (2000), como tarefas do desenho curricular


destacam-se:

1ª- Diagnóstico de problemas e necessidades:

2ª Modelação do Currículo;

3ª Estruturação Curricular;

4ª Organização para pôr em prática;

5ª Desenho da avaliação curricular:

1ª Diagnóstico de problemas e necessidades - Consiste no estudo do marco


teórico, ou seja, das posições e tendências existentes nos referentes filosóficos,
sociológicos, epistemológicos, psicológicos, pedagógicos e didácticos que influem
nos fundamentos da possível concepção curricular, sobre as quais se vai desenhar
o currículo.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 51


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

É um momento de estudo e preparação do desenhador, no plano teórico, parapoder


enfrentar a tarefa de explorar a prática educativa. O estudo das bases e
fundamentos permite-lhe estabelecer indicadores para diagnosticar a prática.

O conteúdo desta tarefa permite a realização da exploração da realidade para


determinar o contexto e situação existente nas diferentes fontes curriculares. Assim
explora-se:

(i) Os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, as suas qualidades, nível


de desenvolvimento intelectual, preparação profissional, personalidade,
motivação profissional, valores humanos, conhecimentos prévios, nível de
maturidade, necessidades e interesses, espírito de renovação, afectividade, etc.
Os sujeitos são a fonte viva, a mais importante das fontes (estudantes da
carreira, docentes, profissionais em exercício, experts), etc. Inclui-se aqui a
exploração dos recursos humanos para enfrentar o processo curricular;
(ii) A sociedade nas suas condições económicas, sociopolíticas, ideológicas,
culturais, tanto na sua dimensão social geral, como comunitária e em particular
as instituições onde se deve inserir o quadro saído, seus requisitos,
características, perspectivas de progresso, etc. Estes elementos devem oferecer
as bases sobre as quais se deve desenhar a concepção curricular;
(iii) O nível das ciências, tendências no desenvolvimento das mesmas, o
desenvolvimento da informação, esclarecimento das metodologias de ensino,
possibilidades de actualização, etc.
(iv) O currículo vigente, a sua história, conteúdos, contextos, potencialidades,
efectividade na formação dos alunos, a estrutura curricular, seu vínculo com a
vida, etc.
Estes indicadores constituem matéria-prima para elaborar os instrumentos do
diagnóstico.

Para realizar a exploração utilizam-se fontes documentais, os experts, os


directores, o processo de ensino-aprendizagem, a literatura científica, etc.

Os elementos que se obtêm da exploração permitem caracterizar e avaliar a


situação real, sobre a qual se deve desenhar e na sua integração com o estudo dos

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 52


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

fundamentos teóricos possibilita passar a um terceiro momento dentro desta etapa


que consiste na determinação de problemas e necessidades.

No momento da determinação dos problemas e necessidades são relevados ou


colocam-se em causa os conflitos, de diversas índoles, que se produzem na
realidade, tais como:

a. O que se aprende e o que se necessita;

b. O que se ensina e o que se aprende;

c. O que se alcança na realidade, etc.

Estes conflitos são classificados, hierarquizados, determinando-se os problemas


que devem ser resolvidos no projecto curricular.

Na tarefa de diagnóstico de problemas e necessidades podem distinguir-se três


momentos: (i) estudo do marco teórico; (ii) exploração de situações reais; e (iii)
determinação de problemas e necessidades.

O resultado destas tarefas deve ficar plasmado numa breve caracterização da


situação explorada e dos problemas e necessidades a resolver.

É evidente que o futuro profissional ao ser incluso ao campo de actuação oferece


uma visão completamente oposta à actual. A não determinação do problema, das
contradições existentes na formação do profissional condiciona o trabalho
cientifico-investigativo e do trabalho curricular na busca de solução para o novo
projecto a desenhar.

O diagnóstico remete-se aos fundamentos teóricos que serão o suporte do modelo


curricular que se aspira. Os desenhadores serão capazes de explicar o campo
conceptual que se vai delinear o projecto, seus referentes filosóficos, sociológicos,
epistemológicos, psicológicos e didácticos assim como o modelo curricular que
assumem.

2ª Modelação do currículo - Nesta tarefa é feita a precisão da conceptualização


do modelo, ou seja, são assumidas as posições face aos diferentes referentes
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 53
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

teóricos sobre a realidade existente, explicitando-se qual o critério de sociedade,


homem, educação, professor, aluno, etc. e caracterizam-se o tipo de currículo e o
enfoque curricular que se escolheu.

Um momento importante da concretização desta tarefa é a determinação do perfil


de saída expresso em objectivos terminais de qualquer um dos níveis que se
desenhe.

O perfil de saída determina-se a partir de:

 Bases socio - económicas, políticas, ideológicas, culturais em relação com a


realidade social e comunitária;

 Necessidades sociais;

 Políticas de organismos e instituições;

 Identificação do futuro quadro, campo de actuação, qualidades, habilidades e


conhecimentos necessários para a sua actuação e desenvolvimento perspectivo.

Estes elementos devem ficar expressos de forma integrada em objectivos para


qualquer um dos níveis que se desenha.

A modelação do currículo inclui uma tarefa de muita importância para o processo


curricular, trata-se da determinação dos conteúdos necessários para alcançar
os objectivos terminais.

Entende-se por determinação de conteúdos, a selecção dos conhecimentos,


habilidades de qualidades ou valores, que devem ficar expressos em programas de
módulos, disciplinas, programas directores, de acordo com o critério de
estruturação que se assuma e o tipo de currículo adoptado, precisados ao nível que
se está desenhando.

Para além dos conteúdos deve-se conceber a metodologia a utilizar para o


desenvolvimento curricular. A metodologia responderá ao nível de concretização
do desenho que se está elaborando, refere-se ao como estruturar e avaliar, saber

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 54


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

se se trata de um módulo, de uma disciplina, uma unidade didáctica, uma


componente, etc., devendo ficar revelada a forma de desenvolver e avaliar a sua
aplicação prática. Na medida em que a concepção for de currículo aberto ou
fechado, a responsabilidade de determinar conteúdos e metodologias recairá sobre
os níveis macro, meso e micro de concretização de desenho curricular.

Na tarefa de modelação podem-se distinguir três momentos fundamentais:

1. Conceptualização do modelo.

2. Identificação do perfil do profissional (à saída) ou os objectivos terminais.

3. Determinação dos conteúdos e a metodologia

O resultado desta tarefa deve ficar plasmado em documentos elaborando as


posições de partida:

 No plano da caracterização do currículo do nível que se trate;


 Os objectivos a alcançarem;
 A relação dos conhecimentos, habilidades, qualidades, organizados em
programas ou planos de acordo com a estrutura curricular que se assuma, do
nível que se trate e do que se esteja desenhando; e
 Das orientações metodológicas para a sua execução prática.

O modelo não pode conter insuficiência, não pode formular-se de modo incorrecto
sob pena de poder vir resultar errado ou incorrecto.

3ª Estruturação curricular é uma tarefa consiste na sequenciação e estruturação


dos componentes que intervêm no projecto curricular que se desenha. Nela faz-se
a determinação de quem participa no desenho (força profissional), em que tempo
e tempo necessário, com que recursos e outros aspectos que contribuam para o
melhor desenvolvimento da tarefa tais como a ordem em que se vai desenvolver o
projecto curricular, o lugar de cada componente, equipamentos, as relações de
precedência e integração horizontal necessárias, tudo registado num mapa
curricular, onde ficam reflectidas todas estas relações.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 55


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Esta tarefa realiza-se em todos os níveis de concretização do desenho curricular


se bem que assuma matizes distintos em relação ao que se desenha.A
sequenciação ou estruturação está vinculada à concepção curricular já que esta
influi na decisão da estrutura.

Destacam-se nesta tarefa os princípios gerais de estruturação curricular onde se


pode constatar:

 A estruturação com base na análise do perfil do profissional;


 Estruturação com base nos conhecimentos e habilidades específicas,
consideram-se aqui as competências desejadas no final da formação do
profissional que envolvem as dimensões teórica, metodológica, instrumental e
ética;
 Estrutura Geral de um curso tendo em conta às actividades conceptuais,
as actividades práticas do tipo I, as actividades práticas do tipo II, as actividades
práticas de pesquisa e as actividades de estágio.

4ª Organização para pôr em prática o projecto curricular - Consiste em prever


todas as medidas para garantir a execução prática do projecto curricular. É
determinante dentro desta tarefa a preparação dos sujeitos que vão desenvolver o
projecto, na compreensão da concepção, no domínio dos níveis superiores do
desenho e na criação de condições.

A preparação do pessoal pedagógico realiza-se de forma individual e colectiva e é


muito importante o nível de coordenação dos integrantes de colectivos de disciplina,
ano, nível, carreira, institucional, territorial, etc., para alcançar níveis de integração
para o alcance dos objectivos. Este trabalho, tem no centro, o aluno para
diagnosticar o seu desenvolvimento, os seus avanços, limitações, necessidades,
interesses, etc., e, com base nisso, desenhar acções integradas entre os membros
dos colectivos pedagógicos que sejam coerentes e sistemáticas.

Esta tarefa inclui, para além disso, a elaboração de horários, conformação de


grupos de classes e de outras actividades, os locais, os recursos, pelo que nela
participam todos os factores que intervêm na forma de decisões desta índole,
incluindo a representação estudantil.
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 56
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

5ª Desenho da avaliação curricular - em todos os níveis e para todas as


componentes do projecto curricular, desenha-se a avaliação que deve partir dos
objectivos terminais e estabelecer indicadores e instrumentos que permitam validar
através de diferentes vias, a efectividade da execução do projecto curricular de
cada um dos níveis, componentes e factores.

Os indicadores e instrumentos de avaliação curricular devem ficar plasmados em


cada um dos documentos que expressam um nível de desenho, ou seja, do projecto
curricular na sua concepção mais geral, dos planos, programas, unidades,
componentes, etc..

O critério assumido sobre desenho curricular como uma dimensão do currículo e


como uma etapa, permite compreender que a sua acção é permanente e que se
desenvolve como processo no mesmo tempo e espaço do resto das dimensões,
reconhecendo que há tarefas do mesmo que podem responder a outras dimensões,
como as de desenvolvimento e avaliação.

Nestes termos a avaliação define-se como uma valoração que se realiza em cada
uma das tarefas pertencentes ao currículo, necessárias para determinar a
optimização na execução do projecto curricular. Tem como objectivo fundamental,
comprovar em que medida, o que se avalia envolve-se ou não aos objectivos
propostos.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 57


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Fig. 6. Esquema sistematizado de tarefas para o desenho curricular

Desenho curricular

Metodologia,
Acção
Resultados

Tarefas do Desenho

Fundamentação Determinação de perfis Estruturação


(Diagnóstico) curricular

Trabalho independente:

Caracterizar os momentos mais importantes de cada tarefa.

Valoriza a tarefa do Desenho da avaliação curricular.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 58


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

4. Níveis de concretização do Desenho Curricular

A estruturação por níveis é coerente com a consideração de um currículo aberto


em que as administrações educativas definem aspectos prescritivos mínimos, que
permitem uma concretização do desenho curricular a diferentes contextos,
realidades e necessidades. Quanto aos níveis de concretização destacam-se os
níveis macro, meso e micro que apresentam uma estreita relação com os níveis de
planeamento abordados de modo sucinto de acordo com a ordem abaixo:

4.1. Macro Currículo e critérios de um currículo nacional

O Macro currículo é o primeiro nível de concretização do desenho curricular


corresponde ao sistema educativo em forma geral. Envolve o nível máximo na
concretização do desenho curricular. É responsabilidade das administrações
educativas de realizar o desenho curricular base (níveis mínimos de ensino,
indicadores de êxito, etc.), devendo o mesmo ser um instrumento pedagógico que
assinala as grandes linhas do pensamento educativo, as políticas educacionais, as
grandes metas, etc., de forma que orientem sobre o plano de acção os níveis de
concretização e de desenvolvimento do currículo. Estas funções requerem que o
desenho base seja aberto e flexível, e também, que resulte orientador para os
professores e justifique, dessa forma o seu carácter prescritivo.

Em Angola a estrutura não foge à regra, o Estado é o responsável exclusivo pela


definição da política educativa do país cabendo ao Ministério da Educação a sua
coordenação. Para o efeito o Ministério conta com o apoio de serviços centrais e
locais.

Os serviços centrais do Ministério da Educação são constituídos pelos


departamentos executivos centrais com a incumbência de garantir o cumprimento
das funções essenciais do Ministério, ou seja, conceber, administrar, aplicar,
orientar, dirigir e controlar a política educativa nacional (Dec.-Lei nº 13/95).

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 59


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

O Ministério da Educação tem, por isso, uma administração centralizada do


Sistema Educativo de tipo desconcentrado em que a coordenação local da
educação está a cargo de órgãos intermédios designados porGabinetes Provinciais
de Educação. Estes serviços de coordenação local têm a função de executar a
política educacional, acompanhar e controlar as orientações e directrizes
superiormente definidas e recolher os dados operacionais para a concepção de
medidas de âmbito local (Dec.-Lei nº 13/95).

Também é chamado de Nível - Político - trata-se do currículo formal, oficial,


prescrito, pensado, resultado de uma decisão político-administrativa (Ministério da
Educação e Assembleia da República), onde são traçadas as principais opções
sobre a prescrição curricular (planos, programas) decide-se o que deve ser
ensinado e quando (durante quanto tempo e como), quais as disciplinas que
deverão fazer parte, quais as funções da escola.

4.1.1. Critérios de um currículo nacional


a. Deve ser determinado pela administração central através de um processo
democrático de consulta;
b. Deve adoptar a forma de uma informação sobre a sua estrutura geral e não uma
especificação detalhada dos conteúdos do programa;
c. Deve relacionar-se com um grupo de objectivos gerais de educação que incluem
os conhecimentos, as habilidades, as disposições, os valores, [e as
competências];
d. Deve reflectir uma organização justificada dos conhecimentos e das disciplinas;
e. Deve incluir a escolha dos alunos e a maximização das oportunidades de auto-
aprendizagem;
f. Deve ter em consideração as variações de ritmo de aprendizagem dos alunos;
g. Deve implicar um sistema nacional de certificação;
h. Deve adoptar procedimentos apropriados a nível nacional e a nível local, nos
distintos graus de ensino.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 60


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

4.1.2. Documentos chave do macro currículo

Ao nível do macro currículo três documentos chave se destacam: a fundamentação


da carreira; o modelo do profissional; e o plano de estudos.

I) A fundamentação da carreira - o aspecto mais importante é a caracterização


da carreira e o objecto do desenho curricular, destacando sua historicidade e
prognostico que se refere à trajectória da profissão, seu condicionamento histórico-
social e seus feitos mais significativos, o que permitirá visualizar suas perspectivas
a médio e a longo prazo.

O objecto de trabalho é determinado como parte da realidade sobre a qual recai a


acção do profissional, o conteúdo da profissão e o modo de actuação profissional
que lhe é inerente para dar solução aos problemas profissionais.

Também se caracterizam os principais problemas da sociedade a serem resolvidos


pelos profissionais egressados da carreira, quer dizer, situações que se
apresentame significam uma contradição com os interesses ou necessidades
sociais.

II) Modelo do profissional - toda a informação obtida na fundamentação da


carreira constitui o ponto de partida para a elaboração do modelo do profissional. É
o ideal que queremos formar em um determinado campo, em plena
correspondência com o encargo social estabelecido. O modelo do profissional
concretiza-se no perfil do profissional, tendo em conta as habilidades, os
conhecimentos, os valores que deverá assumir o profissional para solucionar
problemas relativos à sua profissão futura.

Quanto ao perfil de egresso (perfil de saída) ou do profissional deve garantir a


educação permanente e a formação decorrente. Deve ter claridade e precisão para
que possa evidenciar como será o egressado.

O perfil é a determinação das acções gerais e específicas que desenvolve um


profissional na área ou campo de acção emanadas da realidade social e da própria

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 61


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

disciplina (curso) com vista à solução das necessidades sociais previamente


advertidas (Dias Barriga, 1995).

Um perfil deve cumprir duas funções:

i.Actuar como ponto de partida e execução do processo; e


ii.Conformar o padrão avaliativo da qualidade dos resultados.

Etapas para a elaboração de um perfil ;

I) Determinação do objecto da profissão (através do grupo de problemas


que existem).
II) Investigar os conhecimentos, técnicas e procedimentos das unidades
curriculares que são aplicáveis a solução dos problemas.
III) Investigar possíveis áreas de acção do egressado.
IV) Análise das tarefas potenciais que deve desempenhar o egressado.
V) Investigar a povoação onde vai desempenhar seu trabalho.
VI) Desenvolver o perfil a partir da integração das necessidades sociais,
nível a ser alcançado pelas disciplinas, tarefas e características
populacionais.

O perfil é criado para dar solução a uma série de necessidades que a prática coloca,
partindo de um objecto que quase se relaciona com um ou mais problemas. Porem,
as necessidades mudam com o decorrer do tempo, as disciplinas se transformam,
o mercado modifica-se e as actividades profissionais variam. Logo, a elaboração
de um perfil não termina, mas se adapta de acordo com a mudança dos elementos
que o definem e o alimentam.Um perfil estruturado deve ser executado e validado.

Modelo profissional é o conjunto de traços, valores, atitudes, capacidades que se


aspira formar para o futuro profissional.

O desenho curricular de uma carreira universitária, depois das análises


correspondentes à caracterização da profissão, deve partir da estruturação dos
problemas da carreira, da lógica essencial da profissão e dos objectivos do
profissional, como elementos que se incorporam no processo curricular condutores
do desenho que derivam de todos os componentes da carreira (disciplinas, anos,

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 62


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

classes), aportando uma sistematicidade e coerência que não restringem em


absoluto a particularização dos programas em cada situação específica nem a
criatividade que cada colectivo metodológico vem aportar no resultado.

O modelo profissional reflecte a profissãoem toda sua riqueza o que permite que
os critérios sebaseiemna concepção inicial da carreira.

III) O Plano de Estudo - é o total de experiências de ensino-aprendizagem que


devem ser cursados durante uma carreira, envolvendo a especificação do conjunto
de conteúdos seleccionados para o alcance de determinados objectivos, assim
como para estruturar e organizar a maneira como devem ser abordados (os
conteúdos), sua importância relativa e o tempo previsto para sua aprendizagem.
(Arnas J. 1981, citado por Frída Días Barriga, 1995).

É o esquema estruturado das áreas obrigatórias e fundamentais e das áreas


optativas com suas respectivas unidades que formam parte do currículo dos
estabelecimentos educativos” (Ley, 1984).

Por consequência entende-se por Plano de Estudo o documento no qual se


concretizam as principais acções a serem desenvolvidas através do processo
docente-educativo para o êxito da formação do profissional, conforme o que vier a
ser estabelecido pelo modelo.

O plano de estudo deve destacar-se através do nível de envolvimento e através da


relação dos seus componentes reflectir-se na possibilidade de criar e desenvolver
a capacidade de interactuar com o objecto de estudo a fim de solucionar problemas
de índole social.

Em sentido geral, o plano de estudo é um documento do currículo onde se brinda


informação sobre:

 O que o aluno deve aprender durante o processo de ensino-aprendizagem;


 A ordem proposta que se deve seguir no processo.

O plano de estudo estrutura o processo pedagógico profissional mediante


disciplinas, áreas, ou módulos de conteúdos. Determina a ordem e o tempo
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 63
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

disponível para cada etapa, declara as principais formas de organização que se


requerem para desenvolver a componente académica, (o sistema de
conhecimentos profissionais) a componente laboral (o estudante apropria-se dos
modos de actuação, combinando-se a lógica de pensar e o actuar) e a componente
investigativa (apropriar-se das técnicas de investigação), e tambémdeclara as
formas de avaliação por etapa bem como as variantes do término dos estudos.

A sua projecção requer um cuidadoso trabalho da comissão de especialistas a


quem se confere esta tarefa, por ter grande importância na organização dos
aspectos vitais do processo pedagógico.

A equipa encarregue desta tarefa deve velar para que o plano seja funcional, ou
seja, responder às exigências do modelo do finalista, ao mesmo tempo que resulte
aplicável no tempo e às características do aluno. Deve ser flexível, porque o plano
base com a sua estrutura de conteúdo por anos, deve ajustar-se às particularidades
individuais dos estudantes e às transformações que impõem o desenvolvimento
científico-técnico. Requer que seja coerente, o que implica uma concepção de
sistema de todas as actividades e um aproveitamento máximo de todas as
potencialidades educativas do processo pedagógico. Por outro lado, requer-se
eficiente na utilização dos recursos humanos e materiais.

O plano deve ser portador de uma alta qualidade na gestão educacional, e


conseguir um mínimo de gastos aproveitando ao máximo o grosso de professores,
a base material de estudo e as condições concretas da instituição em geral.Todos
os elementos a ter em conta na sua elaboração mantém relação com o perfil e entre
os mais importantes assinalam-se:

As necessidades sociais;

As práticas profissionais;

As disciplinas implicadas;

Os alunos.

Os não menos importantes são:


apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 64
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Os objectivos e conteúdos derivados do modelo do profissional;


Sequenciar os conteúdos (ordem lógica entre eles);
Concretizar a prática social da profissão (conhecimentos, habilidades,
valores que deve possuir o profissional);
Expressar a filosofia e as concepções psicopedagógicas da instituição
educativa (bases).

Resulta de vital importância, organizar, de maneira lógica, os passos para a


estruturação de um plano de estudo, ou seja, deve existir coerência e uma
análise cautelosa nas decisões que se vão tomar. Eis algumas das propostas nesse
sentido:

1) Organização dos conteúdos em matérias ou módulos.

2) Estruturação das disciplinas ou módulos, num plano curricular:

a) Sequência horizontal – refere-se ao conjunto de disciplinas ou módulos que


deverão ser ministradas no mesmo ciclo;

b) Sequência vertical: que se refere à ordem em que as disciplinas ou módulos


devem ser ministradas nos diferentes ciclos escolares.

3) Estabelecimento do mapa curricular: inclui a duração das disciplinas ou


módulos, o seu valor em créditos, disciplinas ou módulos que conformarão
cada ciclo escolar, etc.

Deve haver coerência vertical e horizontal entre as unidades didácticas que


integram o plano.

Diferenças na estruturação de um Plano de Estudos

As diferenças na estruturação de um plano derivam de considerações e objectivos


de diferentes ordens como sejam pedagógico, psicológico, lógico, epistemológico
e administrativo. Nisso o plano de estudo pode ser linear ou modular.

a) Plano linear, por cadeiras ou disciplinas

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 65


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Abarcacorpos organizados de conhecimentos, habilidades e actividades, divididos


e articulados, seguindo uma maior lógica em relação ao conteúdo e as experiências
de aprendizagem, passando de um tema a outro, ou de um curso a outro; segundo
uma hierarquização definida, partindo de uma análise, valoração e ordenamento
prévios ao ensino.

Para as instituições educativas que elaboram planos de estudo, a estruturação por


disciplinas é mais fácil o controlo administrativo, influindo nisso a tradição e em
geral a falta de experiência, para assimilar outras modalidades. No entanto, a
estruturação por disciplinas tem sido criticada e várias são as razões:

 Porque contribui de uma forma particular na fragmentação da realidade e gera


repetição constante de informação, muitas vezes contraditórias, que são
percebidas pelo aluno, como opiniões ou pontos de vista igualmente válidos e
não como concretizações de marcos teóricos diversos.

 Privilegia a exposição e tende a converter o aluno a espectador perante o


objecto de estudo.

 Gasto desnecessário de energia psíquica por parte dos professores e alunos,


como consequência da excessiva atomização de conteúdos.

Apesar de que esta concepção tende a contemplar os nexos externos das


disciplinas, unidades didácticas e sua avaliação, essencialmente, em termos de
quantidade, não é indispensável fazer desaparecer este tipo de organização. O que
sim resulta imprescindível é ensinar as disciplinas em função das suas próprias
relações dinâmicas e as vincular aos problemas sociais, o que contribui para
visualizar os perigos de uma cultura fragmentada e assentar as bases para um
pensamento interdisciplinar.

b) Plano modular

É uma concepção do plano de estudo que integra diferentes disciplinas a partir da


sua orientação para a solução de problemas (objecto de transformação).

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 66


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Neste o desenvolvimento dos programas de estudo está em função do pensamento


crítico e não simplesmente da estrutura lógica das disciplinas no plano de estudo.
Oponto de referência é o processo de actividade do futuro finalista (recém formado),
dentro do contexto e não os conteúdos formas ou modelos de disciplinas.O seu
aparecimento é relativamente recente e foi proposto como uma solução alternativa
à estrutura linear.

Margarita Panza (1993), define módulocomo uma estrutura integrativa e


multidisciplinar de actividades de aprendizagem que, num lapso de tempo flexível,
permitem alcançar objectivos educacionais de capacidades, destrezas e atitudes,
que permitem ao aluno desempenhar funções profissionais.Nesta definição
evidenciam-se algumas características vantajosas desta estrutura:

 Rompe-se com o isolamento da instituição escolar relativamente à


comunidade social, pois amplia o conceito de aula até ao contexto social;
 Rompe com o enciclopedismo ao actuar com a realidade e não concentrar-
se no estudo dos conteúdos;
 Elimina a sobreposição de temas;
 Elimina as motivações artificiais, pois trabalha-se com a realidade que é por
si estimulante;

No entanto há também elementos que constituem focos de preocupação neste


enfoque:

 A organização por módulos, em si, não garante a ruptura com o positivismo;

 O perigo de se confundir com a justaposição, o que ocorre em muitas


instituições na actualidade;

 É também um perigo que os cursos se convertam numa revisão passiva de


generalização que oferecem poucas oportunidades para a investigação, ou
seja, que procurando profundidade, se consiga incrementar a superficialidade;

 Se o professor não estiver preparado, compenetrado, comprometido e


motivado com os princípios do enfoque, em vez de avançar cria-se um caos.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 67


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

c) Plano misto

Está conformado pela combinação de um tronco comum em que estudam todos os


alunos no início de uma carreira e um conjunto de especializações onde o aluno
elege uma. Partilha características dos dois tipos de planos e permite ao aluno
especializar-se numa área mais particular dentro de um curso ou profissão. A
viabilidade e conveniência deste tipo de plano têm que ser determinadas de acordo
com critérios sociais, económicos, de mercado de trabalho, de recursos, etc.

Qualquer que seja a estruturação do plano de estudo, a prática pedagógica é a que


evidencia as contradições, lacunas e acertos e a própria prática permite um
processo de avaliação constante dos seus resultados. São elementos relativos à
sua própria essência: a integração alcançada; a actualização dos programas e do
marco teórico-conceptual e referencial; resultados académicos; e a opinião de
docentes e alunos.

É preciso ter igualmente em conta as mudanças que ocorrem na realidade com


realce para análise do mercado, a opinião de especialistas externos e a análise
comparativa com outros currículos da mesma área de especialidade.

Dados de um plano de estudo

 Fundamentação do processo educativo (resenha histórica onde se alude o


problema que vai enfrentar o egressado, objecto do egressado, pontualizar
o objecto de trabalho, o modo de actuação, campos e esferas de actuação);
 Modelo do egressado (o sistema de objectivos gerais);
 Plano do processo docente (disciplinas, lições, tempo que se dispõe, formas
de ensino para os três componentes organizacionais: académico, laboral e
investigativo, os exames finais, trabalhos de curso e exercícios do fim dos
estudos);
 Os objectivos por ano ou nível;
 Indicações metodológicas gerais e de organização (métodos mais gerais,
meios mais significativos, formas organizativas, etc.).

Etapas para elaboração de um plano de estudo:


apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 68
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Selecção de disciplinas, lições, módulos, problemas ou áreas;


 Determinação dos conteúdos;
 Definição das formas organizativas e a consignação do tempo.

4.2. Meso currículo: Projecto Educativo Institucional (PEI); Projecto


Pedagógico Institucional (PPI) e Regulamento do Regime Interno (RRI)

Depois da administração central o currículo é decidido ao nível regional e da escola


(Direcções locais de educação). Na prática não é mais do que a adaptação das
prescrições e a interpretação das orientações oriundas do nível político. Em última
instância, este nível constitui um conjunto de aprendizagens que, por se
considerarem socialmente necessárias num determinado tempo e contexto, cabe à
escola garantir e organizar. É a definição da natureza da instituição. São
documentos importantes deste nível os seguintes:

4.2.1.Projecto Educativo Institucional

Especifica entre outros aspectos, os princípios e fins do estabelecimento, os


recursos docentes e didácticos disponíveis necessários a estratégia pedagógica, o
regulamento para docentes e estudantes e o sistema de gestão.

Responde às situações e necessidades dos estudantes, da comunidade educativa,


da região e do país, caracterizando-se como concreto, factível e avaliável. É um
instrumento potente para a transformação do ensino e da aprendizagem; um
instrumento imediato e fecundo como guia para professores e para estudantes;
possibilita o desenvolvimento do currículo, sua forma e apresentação enquanto
desenho; analisa a potencialidade educadora para além da selecção e organização
de problemas, temáticas ou objectos de conhecimento ou conteúdos na linguagem
do currículo tradicional a partir de um desenho meticulosamente estruturado; serve
para resolver problemas e ajudar a concretizar a intenção do plano de estudos e o
perfil de formação.

Exerce uma visão crítica, com responsabilidade, que serve para a transformação
da realidade em que o projecto se considera como pretexto. Nestas condições o

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 69


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

projecto converte-se num instrumento que possibilita a mudança na prática


curricular sempre e quando se construa com a participação real dos professores
com base nos interesses dos estudantes e para contextos específicos, dirigidos às
preocupações reais dos alunos e estejam referidos à vida da aula, da escola e do
meio, do mundo real, e portanto não se trata de um desenho para
realidadeshipotéticas.

4.2.2. Projecto Pedagógico Institucional

Instrumento político, filosófico e teórico-metodológico que norteará as práticas


académicas da instituição, tendo em vista sua trajectória histórica, inserção regional,
vocação, missão, visão e objectivos gerais e específicos.

Em sua fundamentação, o PPI deve expressar uma visão de mundo contemporâneo


e do papel da educação superior em face da nova conjuntura globalizada e
tecnológica; explicitar, de modo abrangente, o papel da IES e sua contribuição
social nos âmbitos local, regional e nacional, por meio do ensino, da pesquisa e da
extensão como componentes essenciais à formação crítica do cidadão e do futuro
profissional, na busca da articulação entre o real e o desejável; buscar um rumo,
uma direcção. É uma acção intencional, com um sentido explícito, com um
compromisso definido colectivamente.

Trata-se de uma projecção dos valores originados da identidade da instituição,


materializados no seu fazer específico, cuja natureza consiste em lidar com o
conhecimento, e que deve delinear o horizonte de longo prazo, não se limitando,
portanto, a um período de gestão.

4.2.3. Regulamento do regime interno (RRI).

É um elemento normalizador que regula o regime de uma instituição e que vai


possibilitar a aplicação na prática do PRC e do PCC por meio da formalização da
estrutura do centro e do estabelecimento de regras, preceitos e instruções através
das quais se ordena a convivência do colectivo.

Guião de procedimentos para construir o Projecto Curricular de Escola.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 70


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Caracterização do contexto
Caracterização da escola
Caracterização dos alunos
Caracterização dos docentes
Quem somos?
Caracterização dos restantes actores da comunidade educativa

Que escola Definir as linhas orientadoras das intervenções educativas tendo em vista
queremos ser? a missão da escola

O que
queremos
Identificar as mudanças e indicar as áreas onde é preciso mudar
mudar?

Analisar programas e identificar articulações curriculares possíveis.


Articular atitudes dos professores face aos alunos. Articular padrões de
Como fazer?
desempenho de professores e alunos. Instituir tempos de planificação em
conjunto e de articulação de estratégias.

Como avaliar? Identificar práticas de avaliação formativa e de auto-regulação das


aprendizagens

Adaptado de Leite, C. Projectos Curriculares de Escola e de Turma (EdiçõesAsa).

Para Carmen e Zabalza, o projecto curricular de escola (instituição) é, um conjunto


de decisões articuladas, partilhadas pela equipa docente de uma escola, tendentes
a dotar de maior coerência a sua actuação, concretizando as orientações
curriculares de âmbito nacional em propostas globais de intervenção pedagógico-
didáctico adequadas a um contexto específico (Leite, Gomes, & Fernandes, 2003,
p. 16). E entre os documentos que se produzem constam igualmente os planos
anuais, as unidades didácticas e os planos de classe.

4.3. Micro currículo

O micro currículo constitui um documento que reflecte, na essência, a projecção


metodológica dos componentes do processo de formação do profissional;
manifesta a actualidade cientifico-técnica e pedagógica que serve de pauta para o

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 71


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

trabalho criador de professores e estudantes; e carece de literatura mais


actualizada dos conteúdos que são tratados.

Constitui o terceiro nível, o nível prático, em queo professor é o protagonista a quem


cabe decidir muitas situações. Cabe ao professor decidir ainda muitas situações. O
professor (em grupo ou individualmente) prepara e planifica os processos de ensino
onde os programas são postos em prática, acções educativas concretas, decisões
com o meio escolar, segundo as necessidades e interesses dos alunos. São os
professores que irão ter um papel determinante nas práticas dos programas,
flexibilizando-os de acordo com a realidade escolar.

O desenho curricular nos níveis de disciplina, cadeira e tema faz-se sobre a base
do conteúdo e não sobre a do objecto. Chegar a estabelecer o conteúdo a partir do
objecto constitui um processo que se dá na planificação e organização.

Com o micro currículo identifica-se o desenho que vai desde as disciplinas até aos
temas. Em todo micro currículo tem-se como traço essencial a determinação,
planificação e organização do conteúdo sem que se coloque de parte as restantes
funções de direcção. Contudo é necessário que estejam também presentes a
execução do desenho que sem dúvidas tem uma maior componente de planificação
e de organização, isto é, a inovação no desenho e o controlo do processo de
desenho curricular

Ao nível do microcurrículo determina-se o que se passa não só na aula, entre


professores e alunos, como também fora dela o que permite decidir para uma ampla
acepção. Aqui o projecto curricular de turma é um instrumento potente para a
transformação do ensino e da aprendizagem, um instrumento imediato e fecundo
como guia para o professor e o estudante.

No nível micro, conhecido como plano de aula (ou programação de aula),


determinam-se os objectivos didácticos, conteúdos, actividades de
desenvolvimento, actividades de avaliação e metodologia de cada área que se
materializará na aula.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 72


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Quando se pensa na prática curricular as ideias dirigem-se para o nível que nos é
mais próximo, o nível micro, ou seja, aquele que se realiza na instituição, nas
disciplinas, nas sub-disciplinas e nas aulas, em que os protagonistas desta prática
são os professores e os alunos, que no geral, nesta fase, podem desempenhar um
papel mais ou menos activo, em dependência das concepções da instituição de
que se trate.

Relacionado com esta reflexão, consideramos a necessidade cada vez mais


crescente de que o professor, a partir da sua própria prática e vinculado
sistematicamente ao estudo dos principais pressupostos teóricos, pode contribuir e
sugerir transformações ao currículo. Isto consegue-se quando o professor envolve
colegas, estudantes e outros membros da comunidade educativa, no processo de
desenvolvimento curricular.

Por isso é razoável o critério de Stenhouse (2002), ao afirmar que o desejável em


inovação educativa não consiste que aperfeiçoemos tácticas para fazer progredir a
nossa causa, senão que melhoremos a nossa capacidade de submeter à crítica a
nossa prática, à luz das nossas crenças e à luz da nossa prática.

A sala de aula enquanto fonte primária para o processo de análise do ensino do


professor e tomada de decisões educativasfaz parte do nível micro. Este nível
pressupõe a construção, pelo professor, de um projecto curricular de turma de
forma articulada com o projecto educativo e curricular da escola, bem como, com o
currículo nacional, surgindo o professor, e segundo Roldão (1999d) como um co-
construtor e gestor do currículo.

Com efeito, é através do projecto curricular de turma que o professor, na sua acção
educativa concreta, face aos alunos com quem trabalha toma as decisões
curriculares que configuram os possíveis caminhos de descentralização curricular
(Freitas, 1995).

A estrutura curricular a nível micro refere-se aos programas docentes de disciplinas,


unidades, módulos, áreas, etc. Neles se expressam os objectivos a alcançar no que
concerne a aprendizagem dos conteúdos da ciência e a formação da personalidade
dos estudantes.
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 73
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Portanto, quer alunos e professores quer a sala de aula e todo seu contexto
constituem componentes do micro currículo. Os principais documentos referentes
ao microcurrículo são: o programa da disciplina, a unidade, o tema, a tarefa e a
turma.

I.Programa de disciplina - é o documento mais importante depois do plano de


estudo. Considera-se programa da disciplina a parte do currículo que estruturado
através de disciplinas organiza os conteúdos (o sistema de conhecimentos,
habilidades e valores) derivados do modelo profissional e vinculados de forma
lógica (o conteúdo tem um objecto com uma lógia interna própria) e pedagógica (a
lógica da ciência adequa-se à lógica da aprendizagem dos conteúdos pelos
estudantes). É o documento onde se regista o processo docente, assinalam-se as
características mais importantes, a descrição sistémica e hierárquica dos objectivos
gerais que se devem alcançar, os conteúdos essenciais que devem ser
assimilados, os métodos e meios de ensino a empregar e os aspectos organizativos
da disciplina.

É o documento oficial nacional, onde estão indicados os conteúdos, objectivos, etc.,


respeitantes a um determinado nível de ensino, isto é, um conjunto de prescrições
oficiais ditadas pelo poder central para um grupo etário específico.

O programa deverá ser o ponto de partida para o professor desenvolver o seu


trabalho de uma forma reflexiva, podendo apresentá-lo como algo que prescreve
as diversas aprendizagens que deverão ser experimentadas por todos os alunos.
Estas aprendizagens correspondem às necessidades formativas e de
desenvolvimento cultural e técnico, mínimas para erguer o sentido de comunidade
referente a cada sociedade.

Para que o programa crie uma dinâmica educativa deverá funcionar segundo
determinadas condicionantes: contemplar de forma integrada o conhecimento
antigo e conhecimento novo; ter a capacidade de permitir a diferenciação didáctica
e o dinamismo e consolidar a realização das matérias reflectindo sobre os seus
resultados.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 74


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

As funções atribuídas ao programa servem os diferentes actores educativos: para


os professores o programa tem as funções de controlo como instrumento de
verificação da aquisição dos requisitos mínimos por parte dos alunos; função de
comparação, o elo de ligação e de desenvolvimento de matérias; função de
protecção - sabe quais os limites das exigências mínimas podendo complementar
as mesmas; função de contrato - define o que é exigido oficialmente no que respeita
ao seu trabalho e profissionalização, a formação inicial e contínua, que é dada aos
professores baseada nos temas e metodologias circunscritos no programa.

Quanto às funções do programa adstritas aos encarregados de educação, que


deverão ter um papel activo e participativo na dinâmica escolar, passam por:

Função de informação - visto o programa ser um documento oficial e de


referência, os encarregados de educação poderão criar as suas expectativas e
compara-las com as dos docentes e a função de facilitação da colaboração, que
ajuda a compreender o papel da escola e permite, a partir das áreas de
desenvolvimento, o envolvimento imprescindível dos encarregados de educação
em determinadas matérias, como por exemplo a educação sexual.

No que respeita aos alunos a função que lhes compete é de indicação do


compromisso que se lhes exige, ou seja, o programa traça um trajecto conforme o
nível de idade e maturação das crianças, e o aluno poderá tomar consciência do
que lhe é exigido de forma a melhorar o seu desempenho e conseguir atingir bons
resultados.

Por fim as autoridades escolares, o programa confere-lhes igualmente


determinadas funções como sendo a função de fundamentação das decisões, em
que o programa é o suporte no qual estão definidos critérios e princípios que
justificam a adopção de determinadas alternativas e à tomada de certas decisões
e a função de controlo - verificando o rumo dos procedimentos didácticos e a
qualidade dos resultados obtidos.

Posto isto, o programa não deverá ser de modo algum uma imposição
governamental, mas por outro lado, deverá ser visto “como um potencial de

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 75


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

desenvolvimento garantido a todos e a cada um dos sujeitos e grupos sociais de


um país” (Zabalza, 1997: 17).

As disciplinas obedecem a uma certa classificação quanto à sua tipologia,


destacando-se:

Disciplinas de formação geral - tributam à formação integral, são instrumentos de


trabalho para a realização da actividade profissional de acordo com as
necessidades sociais.

Disciplinas básicas- Implicam conteúdos principais e necessários para uma


formação científico geral. Permitem a compreensão do objecto, ainda que não se
identifique com o mesmo.

Disciplinas básico-específica - implicam os conteúdos mais gereis e essências do


objecto de trabalho do profissional (identifica-se com os campos de actuação).

Disciplina do Exercício da profissão (disciplina principal integradora) - é a


disciplina reitora do trabalho didáctico para desenhar e validar o currículo.
Desenvolve-se de um a cinco anos. Inclui conteúdos próprios do objecto de trabalho
(manifestam-se nas esferas de actuação). Seu conteúdo integra teoria, prática e
investigação.

A disciplina do Exercício da profissão tem as seguintes características: é teórica


por integrar os conteúdos de todas as unidades; é prática por tender à solução de
problemas; é investigativauma vez que se aplicam os métodos de investigação
científica; seu problema, objecto e objectivo identificam-se com os do modelo do
profissional.

Um aspecto importante do programa da disciplina é ao que se refere às indicações


metodológicas que incluem a caracterização das unidades a partir do ponto de vista
das formas e métodos de ensino próprios da disciplina, suas regularidades e
possíveis trabalhos, os meios de ensino e a literatura docente. O tempo que
corresponde a cada unidade deve expressar-se de tal modo que se evidencie o
peso relativo de cada uma delas em um volume total de horas da disciplina em

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 76


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

correspondência com os objectivos destas matérias e seu papel na formação do


egressado.

II. A unidade considera-se como o subsistema da disciplina com um objectivo mais


específico. Deriva do problema da disciplina e expressa um ordenamento lógico e
pedagógico do conteúdo.

O programa da unidade é o documento que derivado do programa da disciplina,


elabora-se nos centros com o fim de precisar o desenvolvimento do processo
docente educativo.

Aspectos a ter em conta para elaboração do programa da unidade:

 Título;

 Fundamentação do problema e objecto de estudo;

 Objectivos formativos gerais (instrutivos, educativos e desenvolvedores);

 Conteúdos (sistema de conhecimentos, habilidades e valores);

 Distribuição dos conteúdos por tema;

 Indicações metodológicas gerais;

 Meios;

 Sistema de avaliação;

 Bibliografia.

A unidade pode possuir um objectivo, e em função do número de temas


corresponderá quatro créditos que o estudante deverá obter à medida que, fazendo
uso do conhecimento adquirido, interactue com o objecto de estudo e o transforme.
O crédito é o valor ou medida de significação que tem um conteúdo em
correspondência com a formação do egressado. Um crédito é igual a 26 horas. A
unidade está composta por temas.

O tema é a parte do processo docente educativo que em seu desenvolvimento


assegura a formação de uma habilidade e o alcance de um objectivo, já que nele
se dão todos os caminhos do processo docente educativo (orientação, motivação,

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 77


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

assimilação, domínio, sistematização e avaliação). É a célula do currículo, a


unidade básica.

A tarefa resulta ser a célula fundamental do processo docente educativo porque


nela estão presentes todos os componentes e leis do processo docente educativo,
para além de que não se pede decompor em subsistemas. Para o domínio de uma
habilidade por parte do estudante requerer-se não só de uma tarefa, mas também
de um sistema de tarefas. Elas, em seu conjunto, possibilitam o cumprimento de
um objectivo.

No momento do PDE o estudante envolve-se do objectivo e se apropria das


habilidades. Já na célula do PDE a execução de cada uma das tarefas contribui
para o alcance da habilidade e para o cumprimento do objectivo.

A turma é a forma quase universal de organização do processo de ensino


aprendizagem.

5. A prática curricular e o processo de gestão curricular. Momentos


eferramentas

O facto de se dispor de desenhos curriculares cuidadosamente elaborados,


cientificamente fundamentados e empiricamente contrastados, a participação
activa da comunidade escolar, é indubitavelmente uma condição básica para o êxito
dentro das reformas actuais. Não obstante, resulta ser um dos verdadeiros reptos,
o impulso do desenvolvimento do currículo e a conversão do desenho num
instrumento de trabalho e indagação, no marco da sua implementação.

Ao nos referirmos anteriormente à definição de desenho curricular, esboçamos


como o desenvolvimento do currículo pressupõe outra dimensão do mesmo, a qual
pode ser inerente aos seus três níveis: ao macro, ao meso e ao micro. Em qualquer
um deles há que conseguir desenvolver processos intrínsecos de resignificação, de
democratização e de criatividade, princípios essenciais de um processo superior,

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 78


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

no modo de actuação profissional, que é o auto-aperfeiçoamento (Páez Suárez,


1977).

Esta posição permite-nos acautelar de que quando relacionamos as dimensões, o


auto-aperfeiçoamento constitui um dos núcleos básicos do desempenho
profissional, porque opera sobre a esfera da regulação, das significações, dos
motivos, das necessidades de tomada de decisões e da evolução dos significados
(Alberto, 1993).

A execução dinamiza processos de auto-aperfeiçoamento que influem nas relações


de comunicação e estilos de direcção, na destreza e suficiência profissional, é em
resumo a implicação reflexiva e autoreflexiva do docente no seu desempenho
profissional e educação permanente.Este modo de actuação é possível potenciá-lo
com a participação de todos os docentes em todas as dimensões curriculares.

Da análise das definições antes citadas, podemos resumir a essência do


desenvolvimento curricular no seguinte gráfico:

Desenvolvimento Curricular

Execução do planificado

Transformação do curriculo

Correcção, modificação, aperfeiçoamento

Investigação e Reflexão desde a prática curricular

Professores/Estudantes/Directores

Grupos
Gráfico da fig. 5.

Quando se pensa na prática curricular, o pensamento dirige-se para o nível que


nos é mais próximo, o nível micro, ou seja, aquele que se realiza na instituição, nas

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 79


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

disciplinas, nas sub-disciplinas e na aula, em que os protagonistas desta prática


são os professores e os alunos, que no geral, nesta fase, podem desempenhar um
papel mais ou menos activo, em dependência das concepções da instituição de
que se trate. Relacionado com esta reflexão, consideramos a necessidade cada
vez mais crescente de que o professor, a partir da sua própria prática e vinculado
sistematicamente ao estudo dos principais pressupostos teóricos, pode contribuir e
sugerir transformações ao currículo. Isto consegue-se quando o professor envolve
colegas, estudantes e outros membros da comunidade educativa, no processo de
desenvolvimento curricular.

O trabalho do professor, na dimensão do desenvolvimento curricular, caracteriza-


se por enfrentar constantemente as tarefas de desenho, adequação e redesenho,
este último como resultado da reelaboração do desenho, onde se valora o modelo
inicial na sua execução prática, a partir da sua investigação curricular.

O redesenho tem uma estreita relação com o desenho, porquanto seria repetir o
programa de desenho curricular de forma total ou em algumas das suas partes,
com a finalidade de aperfeiçoá-lo.

A adequação curricular é um processo que se realiza a nível meso que consiste em


enriquecer os desenhos existentes a partir das exigências do contexto histórico-
social. A adequação pode ser regional ou institucional e se concretiza na
elaboração de desenhos curriculares, que respondam às características concretas
da comunidade educativa, não se trata de elaborar um novo currículo, mas sim
enriquecer o existente, com contribuições que oferece a realidade imediata, de tal
forma que cumpra com as exigências nacionais, em termos de compreensão e
incorporação ao currículo das realidades culturais locais.

Acções estratégicas requeridas para pôr em prática a adequação:

 Garantir a preparação necessária dos docentes;


 Analisar o projecto curricular de base;
 Realizar um diagnóstico sociocultural, económico, político-social do território;
 Considerar as características e condições da instituição educativa;
 Processar interesses dos estudantes
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 80
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Desenvolver um processo de adequação caracterizado por uma ampla democracia,


onde se pratique um alto nível de participação de professores, alunos e a
envolvente social.

Quando nos referimos em desenvolver um currículo faz-se referência à execução,


quer dizer, alude-se pôr em prática a gestão do projecto pedagógico que elaborado
com anterioridade, tribute, com um máximo grau de integridade e profundidade à
formação do profissional, de acordo com o encargo social estabelecido.

Por gestão flexível do currículo entende-se a possibilidade de cada escola, dentro


dos limites do currículo nacional, organizar e gerir autonomamente todo o processo
de ensino/aprendizagem. Este processo deverá adequar-se às necessidades
diferenciadas de cada contexto escolar, podendo contemplar a introdução no
currículo de componentes locais e regionais.

5.1. Níveis de gestão/decisão curricular

À luz do paradigma da racionalidade crítico-reflexiva emergente, o desenvolvimento


curricular, percebido como processo, dinâmico e contínuo, é uma construção que
ocorre em diferentes contextos de gestão no âmbito dos quais são tomadas
decisões, envolvendo diferentes actores educativos. De acordo com Pacheco
(1995a, 1996), suportado em vários autores, é possível, de uma forma geral,
considerarem-se três contextos de gestão ou níveis de decisão curricular. São eles:

a) O contexto político administrativo: no âmbito da administração central;

b) O contexto de gestão: no âmbito da escola inserida na comunidade que a


justifica;

c) O contexto de realização: no âmbito da sala de aula.

Importa, por isso, analisar com maior profundidade o significado que, neste estudo,
se atribui ao termo gestão curricular. De acordo com Roldão (1999d: 37) gerir o
currículo “é essencialmente tomar decisões quanto ao modo de fazer que se julga
mais adequado para produzir a aprendizagem pretendida” nos alunos.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 81


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Implica, assim, tomar um conjunto de decisões relativamente ao que se considera


ser prioritário ensinar e porquê, ao como e quando ensinar, aos meios e modos de
organização da escola e da sala de aula e aos resultados que se pretendem atingir,
entre muitas outras decisões, sendo de referir que cada uma destas decisões
deverá ser retomada nos vários contextos ou níveis de decisão curricular de modo
a ser reconfigurada, num processo coerente com as perspectivas ecológicas e
sistémicas que sustentam a importância dos contextos, bem como a sua
interdependência.

No ponto seguinte será analisado o tipo de decisão curricular tomado em cada um


destes três níveis, dando-se particular relevância ao segundo, por outros níveis
terem sido já focados, ainda que de forma sintética, em capítulos anteriores.

Contexto de escola

Gerir o currículo numa “escola para todos” implica um afastamento de práticas que
definem uniformemente o mesmo tipo de objectivos, conteúdos e experiências, e
recorrem aos mesmos materiais e organização do tempo, ou seja, implica rejeitar
práticas que fazem o culto do unívoco e que são indiferentes às diferenças, não
respeitando a heterogeneidade e a diversidade e não se estruturando num suporte
de dinâmica e de interacção.

A actividade de gestão do currículo, por parte dos professores, só faz sentido se for
orientada pela ideia de adequar às diversas realidades o que é definido de modo
universal. Não se trata de mudar apenas para ser diferente mas, sim, de configurar
projectos curriculares adequados para os alunos de uma determinada comunidade
educativa e, por isso, funcional. Neste sentido, as adaptações (adequações) do
currículo nacional não deverão ser uma situação de excepção mas sim uma
“normalidade” intrínseca ao próprio currículo.

Papel importante nesta etapa é o desempenho do professor, encarregado de fazer


chegar os caminhos da nova projecção pedagógica. Sua missão consiste em
aplicar o desenho e participar de maneira activa, militante e responsável no
aperfeiçoamento da nova proposta curricular, a partir da prática pedagógica, ou

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 82


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

seja, a partir da experiência que emane como consequência da interacção com o


processo docente educativo.

A gestão curricular, de acordo com muitos autores, é o momento propício para os


processos de aperfeiçoamento onde o professor deverá enfrentar e vencer factores
negativos como a resistência à mudança, a estereotipia e assumir uma atitude
dialéctica.

6. Desenho de estratégias para a avaliação curricular

“A avaliação curricular é uma expressão cada vez mais usada nos debates sobre
educação, e isto deve-se ao facto de novos currículos estarem a ser desenvolvidos
por todo o lado e estes terem de ser avaliados. Avaliadores de currículo estão a ser
incluídos em projectos correntes de investigação” (White, 1971 citado por Machado
e Gonçalves, 1991, p.213).

Depreende-se do texto a necessidade de uma constante elaboração e


desenvolvimento de currículos, em função do desenvolvimento da sociedade, nas
suas múltiplas facetas: económicas, sociais, culturais, científicas, etc., e a
necessidade da sua pontual avaliação. Aliás, hoje, como referem Machado e
Gonçalves (1991, p.213), “…em qualquer campo em que se realize um programa
ou projecto, ninguém admite, que o mesmo possa deixar de ser avaliado, quaisquer
que sejam os parâmetros dessa avaliação ou a utilização a dar às conclusões
obtidas”.

White (1971, op.cit), faz a distinção entre avaliação empírica dos currículos,
concebida para medir a eficiência destes em relação a objectivos pré-estabelecidos
e avaliação não empírica, em que o conceito “valor” adquire proeminência e a
própria validade dos objectivos aparece como objecto específico da avaliação.

A compreensão do currículo como processo e produto, permitirá precisar as


relações nos diferentes níveis e orientar as vias de investigação, a partir do domínio
da teoria educativa que se sustente.
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 83
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

A avaliação curricular é uma dimensão que forma parte de todos os momentos do


desenho e desenvolvimento curricular, analisados anteriormente, já que em todo o
processo de direcção e controlo, é uma tarefa essencial.

A avaliação do desenho e desenvolvimento curricular constitui um processo,


mediante o qual se corrobora, ou se comprova, a validade do desenho no seu
conjunto, mediante o qual se determina em que medida a sua projecção,
implementação prática e resultados, satisfazem as exigências postas pela
sociedade às instituições educativas.

Com efeito, infere-se que a avaliação não pode se posicionar num momento
específico, senão que deve ser sistemática, constituindo uma modalidade
investigativa, que permita aperfeiçoar o processo docente educativo, a partir da
análise dos dados que se recolhem na prática.

A avaliação curricular é um processo amplo, que inclui a avaliação da


aprendizagem dos educandos e tudo o que tem a ver com os aspectos académico,
administrativo, infraestrutural, que suporta o currículo. A avaliação é ao mesmo
tempo processo e resultado; resultado através do qual se pode saber até que ponto
(com determinados indicadores) o desenhado se cumpre ou não.

Avalia-se o que está concebido, desenhado, executado, incluindo o próprio


processo de avaliação curricular; daí que esta se inicie na etapa de preparação do
curso escolar, onde se modela ou planifica a estratégia com base em problemas
que são detectados ou se preveja que possam existir.

6.1. Ferramentas e momentos para o desenho da Avaliação Curricular (AC)

Para o desenho da avaliação curricular, devem ser considerados como os principais


elementos, os seguintes:

 Para quê? Objectivos mais gerais da avaliação e derivar deles, paulatinamente,


os objectivos parciais (claros, precisos, alcançáveis e avaliáveis);

 O quê? A avaliação pode referir-se a todo o currículo ou a um aspecto particular


do mesmo;
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 84
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Quem? Em dependência do que se vá avaliar e do nível organizativo em que se


realiza a avaliação, determinam-se os participantes da avaliação e os
executores, em relação com o nível organizativo que se trate.

Para o desenvolvimento da avaliação curricular, é preciso ter em conta, entre outros


elementos, os critériose as sugestões dos alunos:

 Como? Métodos a utilizar em dependência do que se avalia;

 Com quê? Valorizam-se os meios, recursos, orçamento, etc;

 Quando? Ter em conta a sequência ou organização do processo de avaliação.

Em dependência do que se avalia, a avaliação curricular (AC) deve realizar-se em


distintos momentos e com funções distintas, aplicando critérios gerais sobre
avaliação:

 Aavaliação continua inicial ou diagnóstico- corresponde à etapa pré-activa do


processo e tem como principal propósito, determinar se as condições para
executar o currículo estão reunidas, se não, devem ser criadas;

 A avaliaçãoformativa ou contínua- corresponde à etapa activa do processo de


ensino-aprendizagem. Esta fase da avaliação tem uma importante função
reguladora, já que estuda aspectos curriculares que não estão funcionando bem
e propõe alternativas de solução para o seu melhoramento;

 A Avaliação sumativa- realiza-se na etapa pós-activa do processo de ensino-


aprendizagem e permite a tomada de decisões a respeito do currículo, no sentido
de o cancelar, melhorar ou redesenhar. Daí que a avaliação sumativa se
converta em avaliação inicial, ou em parte desta, quando serve para se fazer a
adequação curricular.

É importante ter em conta a necessidade de avaliar a própria estratégia de


avaliação, pelo que se tem de desenhar e provar os instrumentos e técnicas que se
usarão, procurando que sejam objectivos, válidos e confiáveis.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 85


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

6.2. Estratégia para a Avaliação Curricular

Para a avaliação curricular encontram-se na literatura, diferentes critérios e


metodologias, que se concebem para a avaliação de projectos curriculares dirigidos
à formação de profissionais técnicos e podem ajustar-se a outros projectos
curriculares.

Uma estratégia para a avaliação curricular poderia conformar-se segundo os


seguintes parâmetros:

a.- Avaliação do trabalho pedagógico;

b.- Avaliação da aprendizagem;

c.- Avaliação do desenho curricular;

d.- Avaliação da instituição.

a.- Avaliação do Trabalho Pedagógico

O aspecto refere-se à valorização e regulação do trabalho de direcção do processo


pedagógico profissional, que se desenvolve nos diferentes níveis organizativos, daí
que se atenda aos elementos e resultados referentes a:

A). Planificação para a intervenção pedagógica em função do modelo do


profissional (recém-formado):

* Qualidade do sistema de objectivos;

* Qualidade dos desenhos meso e micro curriculares;

* Atenção aos princípios e dimensões do desenho curricular.

B. Organização do processo pedagógico

* Preparação dos docentes e estudantes para a execução do processo;

* Asseguramento das distintas actividades (horários, recursos humanos e materiais,


etc.);
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 86
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

* Ordem, sistematicidade e sistematização das tarefas, em função dos problemas


profissionais e do diagnóstico inicial.

C. Execução ou direcção do processo

 Qualidade das actividades docentes (actualização e nível científico e


pedagógico);

 Integração entre as componentes académica, laboral e investigativa;

 Tributo efectivo ao perfil do formado;

 Atenção à individualidade e ao desenvolvimento multifacetado da


personalidade;

 Coerência na direcção do processo manifesta na complementação das


acções;

 Relação da teoria com a prática, com a vida social, com a envolvente;

 Qualidade da comunicação e da informação;

 Correspondência entre o planificado e o que se realiza.

D. Controlo do processo

 Procedimento de regulação do processo;

 Estratégias avaliativas dos diversos níveis e sua efectividade;

 Grau ou nível de cumprimento do planificado no plano de estudo;

 Desempenho profissional dos docentes.

A Avaliação do trabalho pedagógico deve ser levada a cabo pelos dirigentes da


instituição, que no seu papel de investigadores, valem-se duma colaboração
estreita dos responsáveis dos diferentes níveis organizativos, que recolherão a
informação, apoiando-se em métodos da actividade científico-investigativa, dados

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 87


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

que serão recolhidos, durante todo o processo, por executores e usuários


(docentes, pessoal não docente, estudantes, comunidade, etc.).

b. Avaliação da aprendizagem

A aprendizagem refere-se ao processo e ao resultado das transformações que se


vão produzindo nos estudantes, tanto na educação da personalidade, como na
apropriação dos conhecimentos, habilidades,hábitos e valores.

A valorização da aprendizagem deve atender, entre outros, aos aspectos seguintes:


grau de satisfação do modelo expresso nos objectivos de cada nível organizativo,
tanto no que se refere ao aspecto educativo, como no domínio do conteúdo.

Em relação ao aspecto educativo:

 Concepção científica do mundo;

 Formações psicológicas (auto valorização, aspiração, interesses e


capacidades), exigidas e plasmadas no modelo do profissional (formado);

 Qualidades da personalidade do profissional.

Em relação ao domínio do conteúdo

 Integração dos conhecimentos;

 Desenvolvimento de habilidades, hábitos, sua fixação, profundidade,


sistematização e aplicação a novas situações;

 Determinação da significação e sentido da aprendizagem nos estudantes.

Atendendo ao nível destes, sua motivação e as potencialidades do conteúdo,


valoriza-seem que medida o estudante integra o novo conteúdo com o que já
conhece no novo contexto. Domínio que se consegue a partir dos modos de
actuação do profissional, na solução de problemas, aplicando os métodos de
trabalho próprios das ciências correspondentes e dos métodos da investigação
científica.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 88


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Medida em que o estudante participa na direcção da sua própria


aprendizagem.

Trata-se de valorar em que medida se manifesta a função reguladora da


personalidade dos estudantes, podendo tomar-se como indicadores os seguintes:

 Orientação do sujeito perante situações novas (flexível ou rígida);

 Orientação temporal do estudante (para o futuro ou presente);

 Posição do estudante ante a regulação da sua actuação (activo ou passivo);

 Qualidade motivacional da sua atenção (consciente, reflexivo ou irreflexivo).

Nível deorientação profissional da aprendizagem -refere-se ao vínculo do que


se aprende com o seu futuro desempenho profissional.

3. Avaliação do Currículo

A integração das avaliações do trabalho pedagógico e da aprendizagem dos


estudantes, permite conceber a avaliação do desenho curricular, como um
processo investigativo, em que se esclarecem os problemas seguintes:

a) Em que medida o desenho projectado satisfaz a exigência social?

 Orientação social do formado (profissional);

 Competência do profissional;

 Satisfação dos empregadores e usuários;

 Adaptabilidade ante os câmbios;

 Projecção para o futuro (visão).

b) Em que medida o desenho projectado foi interpretado e executado na


realidade?

 Sua coincidência;
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 89
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Diferenças;

 Ajustes derivados dos processos avaliativos (reguladores), tanto do trabalho


pedagógico, como da aprendizagem.

c) Que aspectos do desenho curricular devem ser reajustados?

 Produto da sua aplicabilidade prática;

 Produto de câmbios nas exigências sociais para o tipo de profissional;

 Produto do desenvolvimento científico, técnico e pedagógico.

d) Qual deve ser o novo desenho?

Há aqui que considerar o papel reitor dos objectivos, a sistematização, o


incremento das habilidades prático-profissionais, e o chamado perfil amplo, no
currículo. Vejamos a que se referem cada um deles:

 Papel reitor dos objectivos.

Os objectivos constituem o modelo pedagógico do encargo social; é, na


linguagem pedagógica, a expressão da exigência da sociedade, da vida. O
carácter reitor dos objectivos e a compreensão deste facto, na actualidade, não
se faz apenas presente no processo docente educativo, como também presidem
os regulamentos de trabalho e até mesmo a todas instâncias de direcção da
Educação Superior, a partir de objectivos que se estabelecem e dirigidos a cada
um dos níveis, desde o macro currículo (Ministério da Educação) até ao micro
currículo (sala de aula).

Torna-se necessário caracterizar a concepção dos próprios objectivos, dentro do


processo docente-educativo e a sua relação com o objecto e o problema, de
acordo com uma análise epistemológica do processo docente-educativo.

Assim, narelação objecto-problema-objectivo no desenho curricular, os


problemas profissionais que deve resolver o estudante à saída, determinam o
conteúdo do que deve estudar. Entende-se como problema, aquela situação que

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 90


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

se dá num objecto e que gera no sujeito a necessidade de transformá-lo,


desenvolvendo um processo nesse sentido. Através do processo docente-
educativo, o conjunto de problemas que o estudante conhece e resolve, vai
sendo sistematizado a partir das suas características comuns.

A sistematização – esta, como enfoque de sistema, implica a integração das


componentes do plano de estudo, de modo que assegurem a qualidade que,
como resultado da integração, tido a cada nível. Nesta concepção didáctica, o
plano de estudos organiza-se em componentes, sendo:

 A componente académica;

 A componente laboral ou profissional; e

 A componente investigativa.

Chama-se tradicionalmente académico e laboral, às componentes do processo


para caracterizar um tipo de processo docente-educativo, em que o conteúdo
tem uma qualidade específica de aproximação à realidade circundante, à
realidade social.

A componente investigativa é o modo fundamental de enfrentar os problemas e


resolvê-los. Esta componente está presente tanto no aspecto académico, como
no laboral e adquirem o seu máximo desenvolvimento nos trabalhos de curso e
diploma.

A componente académica, a laboral e a investigativa serão, portanto, uma


tipologia de processo docente-educativo, segundo uma classificação de acordo
com o grau de aproximação à vida, à realidade objectiva. Este critério de
classificação está inspirado na realidade.

Cada uma destas formas organizativas tem uma tipologia própria que a
caracteriza, o que possibilita organizar mais adequadamente o processo
docente-educativo, como se ilustra a seguir:

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 91


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Componentes Formas organizativas

Académica Conferências; aulas práticas; seminários; práticas de


laboratório.

Trabalhos de cursos; trabalhos de diploma; trabalhos


Investigativa
extracurriculares.

Laboral Próprios de cada carreira em relação com os seus


futuros desempenhos (relação ciência/profissão).

Quadro de Enfoque de sistemas

Na integração que pressupõe o enfoque de sistema estão todas estas


componentes combinadas harmonicamente, ao longo da carreira e, como
tendência, em cada um dos períodos ou semestres. A integração se bem que
está presente de forma sistémica é cada vez maior na medida em que se chega
aos anos terminais.

Um enfoque sistémico, que possibilite a integração da componente académica,


laboral (ou profissional) e investigativa, com uma correspondência entre a teoria
e a prática em cada actividade docente, requer o incremento das actividades que
assegurem a formação das habilidades práticas e profissionais, promovendo-se
a redução do tempo destinado a conferências e o incremento das actividades
práticas. A redução do número de conferências constitui um elemento polémico
já que conduz a uma diminuição do nível teórico se não se tiver em consideração
mudanças na concepção do conteúdo, dos métodos e das formas que se
desenvolvem no processo docente-educativo.

6.3. A avaliação curricular. Principais vias para o controlo e regulação


curricular

Os termos controlo, avaliação e validação conformam uma unidade dialéctica


que estabelece alguma dependência que deriva dos elementos que o
conformam.
O controlo, em termos gerais, refere-se ao seguimento de uma tarefa ou a
operação previamente planificada ou determinada. Consta de etapas

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 92


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

intermédias, necessárias para corrigir e determinar através da marcha do


processo de execução, a efectividade de como se procede em correspondência
com o objectivo. Em seu conjunto, esta etapa denomina-se avaliação, que
sendo parte de todo o controlo permite obter a informação necessária para fazer
juízo e tomar decisões pertinentes para o melhoramento de uma dada situação
pedagógica. Os juízos de valor saídos da avaliação conformam o conceito de
validação.

Sobre principais vias referimo-nos aos elementos e resultados sobre os quais se


deve recolher informação. A recompilação da informação apoiar-se-á na
actividade científico-investigativa, aplicada a este campo específico, ou seja,
serão usados métodos teóricos e empíricos. Daí que a actividade científica se
converta, de facto, num motor impulsionador das novas mudanças e num
princípio básico da organização científica do processo de ensino-aprendizagem
e constitui um factor essencial no aperfeiçoamento do processo docente, na
superação dos docentes e na formação dos estudantes.

Em dependência das principais particularidades do contexto, como por exemplo,


domínio e experiência do investigador, interesses da máxima direcção e
necessidades da localidade, as principais vias para a avaliação curricular são:
registo de experiências, trabalho científico-metodológico e investigação.

6.3.1. Registo de experiências.

Através das aulas, o docente faz uma análise crítica e um juízo valorativo do
programa que desenvolve, mediante o qual se determina onde estão centradas
as suas principais dificuldades; por exemplo, se existe uma formulação muito
geral dos seus objectivos, se o conteúdo é excessivo para o tempo que tem
previsto no plano de estudo, se este requer uma nova reestruturação, se a
bibliografia recomendada é insuficiente ou não adequada, etc. Estes e outros
aspectos devem ser registados pelo docente ao desenvolver a disciplina e
constituem elementos fundamentais no aperfeiçoamento dos programas.

6.3.2. O trabalho científico-metodológico

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 93


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

O trabalho científico-metodológico é a actividade investigativa ou de


desenvolvimento no campo da didáctica, que se realiza, fundamentalmente,
pelos professores e se concretiza mediante o trabalho docente educativo. Tem
um carácter concreto e de sistema, já que responde à solução dos problemas
existentes, tanto imediatos, como mediatos.

Os resultados obtidos com este trabalho, concebidos desde o ponto de vista


investigativo, são os critérios básicos para introduzir as modificações no
processo docente-educativo, com o objectivo de o aperfeiçoar.

Por último, o trabalho investigativo enfocado para a solução dos problemas


concretos da formação dos especialistas, desempenha um papel determinante
na elevação da qualidade de preparação, porquanto permite definir melhor os
traços que devem caracterizar o profissional e, por sua vez, aprofundar nas
qualidades e conhecimentos teórico-práticos que devem possuir.

Em conclusão, a actividade científica, harmonicamente integrada à actividade


docente, é um factor essencial no aperfeiçoamento do desenho curricular, cujo
resultado se materializa na remodelação das características do profissional e do
seu futuro perfil, de acordo com as novas necessidades sociais, mas a partir de
uma base mais objectiva, na qual se determinam as insuficiências e deficiências
com que se afronta na preparação dos futuros profissionais.

a. Dimensão administrativa e tecnológica do processo curricular

Ao se estudar o processo curricular, apreciam-se na prática a presença de


características de tipo administrativas, como por exemplo funções do processo
administrativo, ou seja, acções gerais que estão presentes ao longo do processo
tais como a planificação, a organização, a regulação e o controlo. Isto implica
que o processo tenha dentro de si um processo administrativo, ou em outras
palavras, existe também uma dimensão administrativa no processo curricular,
quer dizer, todo o processo tem que ser administrativo para que em seu
desenvolvimento alcance resultados eficientes, na administração, gestão e
direcção.

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 94


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Quando o que importa é caracterizar a instituição docente em termos de


eficiência e eficácia com vista a alcançar um resultado de qualidade, o que se
destaca é a dimensão administrativa, ou seja, ao se estudar a instituição docente
a dimensão administrativa sobrepõe-se à dimensão tecnológica.

A administração tem quatro funções básicas: a planificação, organização,


regulação e controlo.

Para além da função administrativa existe a dimensão tecnológica, porém no


desenvolvimento do processo, sobrepõe à administrativa, quer dizer, quando o
interesse consiste no estudo das funções didácticas ou das funções curriculares,
o mais importante é o tecnológico.

b. Trabalho metodológico

O trabalho metodológico é a dimensão de gestão do processo curricular


mediante o qual se desenrolam a planificação e a organização, a regulação e
controlo. O trabalho metodológico, para além de ser a dimensão administrativa
do processo curricular é também parte da teoria do currículo.Tem uma natureza
administrativa, contudo, durante o trabalho metodológico a função de regulação,
mais do que uma direcção institucional do processo, em que se tomam decisões
de relativa significação política e estratégica, tem a função de coordenação.
Enquanto processo administrativo, tem como objectivo alcançar a excelência do
processo curricular e a qualidade do resultado: o plano de estudo e demais
documentos.

Na relação entre as duas dimensões, com natureza dialéctica, o que prima no


currículo é o tecnológico, razão pela qual para o processo curricular, mais do que
a administração, diz-se gestão do processo, para significar esse papel dinâmico
e funcional no desenvolvimento do currículo.

c. Problemas no processo educativo e tecnológico

Dentre os problemas que assolam as instituições educativas e que impedem o


cabal cumprimento da missão, destacam-se: mudanças no processo sem

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 95


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

fundamento pedagógico; tradicionalismo no processo por falta de fundamentos


pedagógicos; elevado número de unidades; elevado número de temas que não
se associam com a especialidade; quando o objectivo não é reitor. Insuficiente
domínio da teoria pedagógica dos que dirigem o processo; carácter impositivo e
autoritário do processo docente educativo e não desenvolvimento da capacidade
e da criatividade.Juntam-se a estes, os problemas ligados à integração da escola
no processo produtivo e aos serviços assim como aos problemas de formação
do profissional de acordo com os interesses sociais.

_______________________________________________________________

7. Conclusões

1. Apesar das múltiplas e variadas interpretações acerca do conceito de


currículo e do seu desenvolvimento, ao efectuar-se uma análise diacrónica sobre
o conceito, constata-se que, em qualquer circunstância, o currículo escolar
implica sempre “[…] um conjunto de aprendizagens que, por se considerarem
socialmente necessárias num dado tempo e contexto, cabe à escola garantir e
organizar”. ________________________________________
2. A abordagem do currículo deve ser a partir duma perspectiva universal
criadora, buscando os nexos que unem cada um dos seus componentes e
estabelecendo pautas na prática educativa, o que conduz a reflectir na
necessidade de enriquecer nossa experiencia com uma posição aberta e
reflexiva à busca do desenvolvimento humano sustentável que se reclama neste
novo século. ______________________________________________
3. Que o desenho, desenvolvimento e avaliação do currículo respondam
objectivamente ao encargo social na busca de uma formação integral da
personalidade dos estudantes______________________________________

TEXTOS COMPLEMENTARES

O PEA

O Processo de Ensino Aprendizagem, é aquele que meio pela condução e

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

orientação sistemática do professor garante no estudante a apropriação activa e


criadora da cultura, propiciando o desenvolvimento de sua autonomia e auto-
determinação em intima conexão com os processos de socialização, compromisso
e responsabilidade social.

O Ensino é a actividade que dirige a aprendizagem, existe uma relação directa e


necessária tão teórica como prática entre estes dois conceitos básicos da Didáctica.

A aprendizagem é a actividade que desenvolve o estudante para aprender, para


assimilar a matéria de estudo.

O ensino é, por sua vez a actividade que executa o professor no processo docente
educativo.

A aprendizagem é o resultado e o processo que dirige o professor é o ensino, que


tem na matéria de estudo o meio mediante o qual se aprende.

Por que o PEA é um Processo?

É um processo porque essa formação transcorre de maneira sistemática e


progressiva, por etapas ascendentes, cada uma das quais marcada por mudanças
quantitativas que conduzem em trocas qualitativas nos alunos, nos aspectos
cognitivos, volitivos, afectivos e conductuais.

______________________________________________________________

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Touro Sentado, em 1882 Benjamin Franklin

As concepções diferentes das coisas

Diz-se que Benjamin Franklin se referia, muitas vezes, à reacção de representantes


de seis nações de índios americanos, após terem sido derrotados pelos imigrantes
europeus e, na sequência da assinatura de um tratado de paz, ocorrido há muitos
anos atrás, os colonos americanos propuseram àqueles chefes ameríndios, que
enviassem alguns dos seus “bravos” às escolas dos “caras-pálidas”. Mas a
resposta correctamente expressa através de uma conhecida carta, foi negativa:

“Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e
agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que
diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os
senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a
mesma que a nossa. (…)

Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e
aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram
maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e
a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana,
e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não
serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.

Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos


aceitá-la, para mostrarmos a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de
Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que
sabemos e faremos, deles, homens” [BRANDÃO: 8-9).

As lições do camaleão

O camaleão é um excelente professor. Observem-no de perto.

Qualquer que seja a direcção que escolhe, não muda. Faça o mesmo. Tenha uma
meta na sua vida e não deixe que nada nem ninguém o distraia. A cabeça do
camaleão nunca mexe, mas os seus olhos mexem-se constantemente. Não lhe
apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 98
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

escapa nada. O que significa: descubra tudo o que conseguir. Nunca pense que é
a única pessoa no mundo.

Onde quer que esteja, o camaleão adapta a sua cor consoante o meio. Isto não é
hipocrisia. Significa, sim, ser tolerante e também ter habilidades sociais, adapta-se
ao meio. A confrontação não o leva a lado nenhum. Não nascem resultados
construtivos de uma batalha. Devemos sempre tentar perceber os outros. Nós
existimos – e devemos aceitar que os outros também.

Quando o camaleão se mexe, levanta as patas e hesita. Isto significa caminhar com
cuidado. Quando se mexe, agarra-se bem com a sua cauda se perder a base, ainda
se consegue agarrar. Protege a sua retaguarda. Por isso, faça o mesmo: não aja
por impulso.

Quando o camaleão avista a sua presa, não a ataca com um salto, mas usa a sua
língua. Se a conseguir alcançar com a língua, melhor; caso contrário, recolhe a
língua e ninguém sai prejudicado. O que quer que faça, faça-o com cuidado. Se
quiser fazer algo duradouro, seja paciente, seja bom, seja honesto seja humano.

E aí está! Quando fores à escola, pergunte às pessoas que conheces se sabem o


que o camaleão nos pode ensinar.

AMADOUHAMPATÉ BÂ

A Águia

Em nossa vida, muitas vezes, temos de nos resguardar por algum tempo e começar
um processo de renovação. Para que continuemos a “voar um voo” de vitória,
devemos nos desprender de lembranças, costumes, velhos hábitos que nos
causam dor.

Deixemos tudo o que há de ruim para trás, busquemos sempre ideias e ideais
novas, quando não sabemos corramos em busca de conhecimento, quando já

apontamento sistematizado pelo prof. Ricardo Família,[email protected] 99


– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

conhecemos busquemos a reciclagem, essa reciclagem tanto pessoal como


profissional, e não nos esqueçamos que todos somos pessoas, humanos e
erramos.

Reformule-se sempre.

“Há renovação didáctica quando se modernizam os conteúdos e os métodos de


uma disciplina escolar”

Corre pela vida

Na África todas as manhãs o veadinho acorda sabendo que deverá conseguir correr
mais do que o leão se quiser se manter vivo. Todas as manhãs o leão acorda
sabendo que deverá correr mais que o veadinho se não quiser morrer de fome.

Não faz diferença se você é veadinho ou leão, quando o sol nascer você tem que
começar a correr.

A contextualização na resolução dos problemas

Uma escola municipal da cidade de Curitiba acolheu ideias de alunos e adoptou o


hip-hop, integrando-o à rotina escolar. Alunos que apresentavam dificuldade de
aprendizagem, alunos que engrossavam a lista da evasão e da repetência,
passaram a ser objecto de atenção por parte da escola. Eram grupos de alunos
que se interessavam pela dança, eram dançarinos de rua, fugiam da escola para
dançar com os colegas, nas praças do bairro. Na escola eram indisciplinados,
impacientes, desinteressados, porém, na dança se revelavam exactamente o
contrário. A escola, mudando de estratégia, passou a apoiar os alunos dançarinos,
entender a sua dança, descobrindo belezas nesse dançar, nos movimentos de
cabeça, nos contorcionismos e nas letras de seus raps, que eram uma forma de
crítica social. Percebeu uma música sincronizada com os movimentos corporais. A
escola deu a esse grupo o direito de ensaiar as coreografias no pátio. Eles mesmos
realizaram os grafites que ilustram a escola e as camisetas do grupo.

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– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

Esses alunos ao se sentirem compreendidos em seus ideais, valorizados no seu


potencial, desenvolveram auto-estima e passaram a estudar mais. Entusiasmaram-
se porque sabiam que tinham um espaço e hora para dançar. Coordenar a dança
com os estudos foi a grande motivação para que não abandonassem a escola e se
tornassem bons alunos. Uma das cláusulas do projeto era de que só permanecia
no grupo quem frequentasse as aulas e tirasse boas notas. A música e a dança os
encaminhavam para a realização também nos estudos.

A direcção da escola entendeu, inteligentemente, que deveria trazer para dentro


dela o que mais gostavam de fazer fora dela. A escola colocou-se com
competência, utilizando-se das músicas, que privilegiam temas sociais, que
combatem a discriminação, que passam ensinamento sobre sexualidade, drogas e
educação, para orientar, para ensinar valores, comportamentos sociais saudáveis.
O movimento hip-hop passou a ser um escudo contra o mal, contra o mundo das
drogas e do vandalismo.

A escola encontrou uma forma de ajudar e de mostrar uma realidade que caminha
junto com a cultura popular, extraindo dela ensinamentos gerais. O grupo de
dançarinos passou a ser convidado a se apresentar em eventos da cidade,
elevando o nome da escola.

________________________________________________________________

Principais obras consultadas

 Azancot de Menezes, M. (2010). Um olhar sobre a implementação da


Reforma Educativa em Angola. Estudo de caso nas Províncias de Luanda,
Huambo e Huíla. Luanda.

 Da Silva, M. A. (2006).História do currículo e currículo como construção


histórico-cultural. Universidade Federal de Minas Gerais, Companhia de
Jesus. Brasil.

 Leite, C. (1999). Teoria e Desenvolvimento do Currículo: Relatório da


Disciplina para concurso à Professora Associada. Porto Editora. Porto.

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1
– Teoria e Desenvolvimento Curricular…… E

 Pacheco, J. A. (1996). Currículo: teoria e práxis. Porto Editora. Porto.

 Sacristán J. G. e Pérez Gómez A. I. (2000). Compreender e transformar o


ensino. ArtMed. Porto Alegre.

 Silva, Tomaz Tadeu.


(2000). Teorias do currículo. Uma introdução critica. Porto Editora.
Porto.

 Teixeira, Vânia L. (2002). A Problemática Curricular: Origens, interpretações


e enfoques do currículo, ISCED/Huíla.

 Zabalza, Miguel. (2003).Planificação e Desenvolvimento Curricular na


escola. (7th ed). Edições ASA. Porto.

 Zayas, C.M.A. (1996). El Diseño Curricular en la Educación Cubana.


Educación Superior y Sociedad. Cuba.

NECESSIDADE DE ESTUDAR O CURRÍCULO

Como fazer com que o professor possa reflectir, repensar e criar a sua prática
pedagógica, ao resolver problemas relevantes e autênticos em relação à sua
realidade com base em recursos pedagógicos, quando não estuda o currículo?

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