GUIA 2019 Final
GUIA 2019 Final
02.05.1965 - 25.07.2019
ORGANIZADORES
Camilla Martins Pereira
Joana Soares Cordeiro Lopes
Júlia Maria Taboada Correia
Natascha Ramos Klein
Pedro Bandeira dos Santos
EDITORA-CHEFE
Prof.ª Analúcia Danilevicz Pereira
Os materiais publicados no guia de estudos UFRGSMUNDI são
de exclusiva responsabilidade dos autores. É permitida a repro-
CONSELHO CONSULTIVO dução parcial e total dos trabalhos, desde que citada a fonte. Os
Prof.ª Analúcia Danilevicz Pereira (UFRGS); Prof. André artigos assinalados refletem o ponto de vista de seus autores e
da Silva Reis (UFRGS); Prof. Érico Esteves Duarte (UFRGS); não necessariamente a opinião dos editores desse periódico.
Prof. Henrique de Castro (UFRGS); Prof.ª Jacqueline Haffner
(UFRGS); Prof. José Miguel Quedi Martins (UFRGS); Prof. Luiz
Augusto Faria (UFRGS); Prof. Marco Aurélio Cepik (UFRGS);
Prof. Paulo Visentini (UFRGS); Prof.ª Sonia Maria Ranincheski
(UFRGS); Prof.ª Silvia Ferabolli (UFRGS); Prof.ª Verônica Kerber UFRGSMUNDI
Gonçalves (UFRGS)
Faculdade de Ciências Econômicas (FCE/UFRGS)
CONSELHO EDITORIAL Av. João Pessoa, 52, Campus Centro, CEP 90040-000,
Bruna Jaeger (UFRJ, Brasil); Camila Andrade (UFRGS, Brasil); Porto Alegre, RS - Brasil.
Carolina Anthunes Condé de Lima (UFSC, Brasil); Débora de Email: [email protected]
Oliveira (UFRGS, Brasil); Leonardo Marmontel Braga (UFRGS, http://www.ufrgs.br/ufrgsmundi
Brasil); Luana Beal (UFRGS, Brasil); Marcel Hartmann (UFRGS,
Brasil); Marielli Bittencourt (UFRGS, Brasil); Marília Closs
(UERJ, Brasil); Natália Maraschin (Universidade de Denver,
Estados Unidos); Rafaela Serpa (UFRGS, Brasil); Roberta
Preussler (UFRGS, Brasil); Vanessa Schinke (PUCRS, Brasil)
CONSELHO EXECUTIVO
Camilla Martins Pereira; Joana Soares Cordeiro Lopes; Júlia Ma-
ria Taboada Correia; Natascha Ramos Klein; Pedro Bandeira dos
Santos
UFRGSMUNDI
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas, Curso de Relações Internacio-
nais, Centro Estudantil de Relações Internacionais - Ano 7, n. 7 (2019). – Porto Alegre: UFRGS/FCE, 2013
Anual.
ISSN 2318-6003.
SUMÁRIO
06 APRESENTAÇÃO
08 EDITORIAL
09 GUIA DE REGRAS
12 AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO
A Prática do Jornalismo e as Relações Internacionais
Daniel Mutzemberg Giussani, Eduardo Julian Almeida Rius, Isabella Martins Carpentieri, Natália Alves Dorneles e Renata da Luz Dorneles
92 CONSELHO EUROPEU
Os Desafios Atuais de Migração e Refúgio na União Europeia
Gabriel Gomes Constantino, Leonardo Seben, Natália Hedlund Jardim, Tarsila Klein Schorr e Vitória Vieira de Souza Abreu
APRESENTAÇÃO
A Faculdade de Ciências Econômicas e o projeto UFRGSMUNDI 2019
Apresentamos o Guia de Estudos do UFRGSMUNDI de 2019, que foi elaborado por estudantes
de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em sua maioria pertencentes
ao curso de Relações Internacionais da Faculdade de Ciências Econômicas (FCE). Trata-se de oitava
edição deste evento que se propõe a reunir alunos do ensino médio e realizar atividades de simulação
de debates sobre diferentes temas no âmbito das Nações Unidas. Este Guia de Estudos tem como
objetivo orientar os participantes nas simulações temáticas, mas também pode ser uma excelente fonte
de consulta para outros interessados nos assuntos aqui apresentados. A Universidade contribui, desta
forma, para a formação e a qualificação de pessoas comprometidas com a excelência e a ética e com o
desenvolvimento de novos conhecimentos e da sociedade.
A FCE completa 110 anos de existência em 2019. É uma das unidades acadêmicas mais antigas
e tradicionais da UFRGS. Suas origens remontam à antiga Escola de Comércio, de 1909, integrante
da Faculdade Livre de Direito. Em 1945, tornou-se Faculdade de Economia e Administração da
Universidade de Porto Alegre, responsável pelos cursos superiores de Ciências Econômicas, Ciências
Administrativas e Ciências Contábeis e Atuariais. Em 1950, com a federalização da então Universidade
do Rio Grande do Sul, a Faculdade de Economia e Administração passou a denominar-se Faculdade
de Ciências Econômicas – FCE, o que permanece até os dias de hoje. No século XXI, colaborou com
a expansão do sistema público de ensino superior ao criar, em 2004, um novo curso de graduação em
Relações Internacionais e, em 2007, um curso de graduação tecnológica sobre Planejamento e Gestão
para o Desenvolvimento Rural, na modalidade de educação à distância.
Neste breve histórico, realçamos o compromisso da Faculdade em formar e qualificar pessoas
comprometidas com a excelência e a ética, desenvolver novos conhecimentos e contribuir para o
desenvolvimento da sociedade. O GUIA UFRGSMUNDI 2019 é mais uma prova deste compromisso,
pois venceu as dificuldades inerentes a um projeto de extensão e se afirmou como um projeto regular
da FCE, sendo realizado anualmente. Assim, no próximo ano, nossos alunos novamente organizarão o
MUNDI e mais uma vez a comunidade gaúcha poderá usufruir dos conhecimentos aqui gerados.
Nossa integração com a comunidade gaúcha se realiza de muitas maneiras e uma delas tem sido a
realização do UFRGSMUNDI com a participação de jovens secundaristas que, nos dias de realização
do evento, descobrem uma Faculdade vibrante, que funciona no já histórico prédio da avenida João
Pessoa, 52, em Porto Alegre. Faculdade esta que busca constantemente renovar os valores de integração
da comunidade acadêmica, desenvolvimento humano e colaboração e liberdade de criação, valorização
da pluralidade, sustentabilidade, responsabilidade e transparência, cooperação institucional, e
democratização do ensino, pesquisa e extensão. Esses valores, sobretudo os da pluralidade e da
liberdade, encontram-se em xeque num mundo em que muitos governantes adotam a linguagem do
ódio como seu modo de comunicação preferido. À Universidade cabe contrapor tal linguagem com a
defesa intransigente da ciência, das artes e das humanidades em um ambiente de profunda tolerância.
Convidamos todos a ler o GUIA MUNDI 2019. Convidamos também a conhecer a FCE, não só
pelas redes sociais e pela nossa página na Internet, mas também nos visitando para o uso da biblioteca,
para assistir palestras, debates ou atividades culturais, e para se informar sobre como estudar na
UFRGS.
...
Lamentavelmente, a professora Sonia nos deixou no mês de julho, vítima de acidente que levou a ela e a
um irmão. Registramos, aqui, nossa gratidão pelo envolvimento da professora com seus alunos e na sua
atividade de pesquisadora sobre cultura política, Estado e relações internacionais. A memória desta
humanista estará sempre presente em nossa Faculdade.
EDITORIAL
Enfrente a realidade, faça parte da mudança
GUIA DE REGRAS
2 DEBATE
Nenhum(a) delegado(a) poderá dirigir-se ao comitê sem previamente obter permissão da Mesa, de
acordo com o tipo de debate vigente naquele momento. No início da primeira sessão, ocorre a rodada
inicial de discursos, quando cada delegado(a) deverá fazer um pequeno discurso apresentando o seu
país e explicando brevemente aquilo que considera mais importante para discussão.
3 QUÓRUM E VOTAÇÕES
A presença de uma maioria simples de delegados será necessária para que qualquer votação seja
feita. A Mesa irá proceder com a chamada ao início de cada sessão, de modo a reconhecer a presença
dos(as) delegados(as). Sempre que houver algum procedimento de votação, uma maioria dos votos será
necessária para aprovação. Essa maioria é uma “maioria simples”, calculada como sendo a metade
do total de votos mais um, arredondando o resultado final para baixo, se necessário. Por exemplo, a
maioria simples de 5 votos é 3.
4 DOCUMENTO DE TRABALHO
Os Documentos de Trabalho são documentos informais que servem para auxiliar o comitê no debate
do tópico, constituindo-se de cláusulas e pontos importantes da discussão. Os delegados(as) podem
propor Documentos de Trabalho para consideração do comitê durante qualquer momento da Sessão.
Os documentos devem ser aprovados pela Mesa. Uma vez aprovados, serão projetados para que todos
possam ver e serão impressas uma ou duas cópias que ficarão disponíveis para consulta.
5 RESOLUÇÃO
Os Documentos de Trabalho são documentos informais que servem para auxiliar o comitê no debate do tópico,
constituindo-se de cláusulas e pontos importantes da discussão. Os delegados(as) podem propor Documentos
de Trabalho para consideração do comitê durante qualquer momento da Sessão. Os documentos devem ser
aprovados pela Mesa. Uma vez aprovados, serão projetados para que todos possam ver e serão impressas uma
ou duas cópias que ficarão disponíveis para consulta.
6 PLÁGIO
O plágio é entendido no escopo dessas regras como o uso não reconhecido das palavras ou ideias de outro
indivíduo. Quando escreverem ou discursarem durante toda a sua participação na conferência, os(as)
delegados(as) não têm permissão de usar fragmentos de documentos já existentes sem a referência adequada.
Um(a) participante pego plagiando algum documento será tratado de acordo com a gravidade da ação. A
punição pode incluir a negação dos direitos de fala e/ou voto e possível exclusão da conferência. As medidas
legais aplicáveis podem ser tomadas a critério da organização.
7 RESPEITO À DIVERSIDADE
Ações de desrespeito à diversidade não serão toleradas. Delegados(as) que promoverem atitudes de preconceito
e/ou discriminação por motivos de cor, classe, gênero e orientação sexual serão convidados a se retirar da
conferência.
AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO
A Prática do Jornalismo e as Relações
Internacionais
Daniel Mutzemberg Giussani, Eduardo Julian Almeida Rius , Isabella Martins
Carpentieri, Natália Alves Dorneles e Renata da Luz Dorneles1
1 Graduandas e graduandos dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Internacionais pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
APRESENTAÇÃO
Você já imaginou agir como um jornalista por um dia? Ainda mais trabalhando na cobertura de
uma conferência internacional? A Agência de Comunicação, o comitê de imprensa do UFRGSMUNDI,
é o espaço em que você pode vivenciar o cotidiano de um profissional da área do jornalismo. Você
acompanhará as sessões dos demais comitês e reportará para o público tudo o que acontece. Seja por
fotos, vídeos ou textos, você será referência em comunicação. Tudo isso em tempo real, como numa
redação de jornal.
Recentemente, a comunicação passou por processos de modernização que aceleraram a produção
de notícias e exigiram do profissional de comunicação a habilidade de trabalhar de forma rápida e para
diferentes plataformas, como jornal impresso, rádio, TV e internet. Mesmo assim, ainda devem-se
seguir padrões e normas para construir a informação de maneira clara, precisa e objetiva. Neste guia,
busca-se orientar sua participação no UFRGSMUNDI por meio do fazer jornalístico, reconhecendo a
importância do profissional de comunicação para a sociedade e para as relações internacionais. Ao final
deste guia, esperamos que você entenda que a atividade jornalística requer planejamento, dedicação e
energia, fatores essenciais para seu desempenho na cobertura do evento.
1 O QUE É JORNALISMO?
O Jornalismo é uma área de atuação profissional que difunde informações para contribuir com a
formação da opinião pública (GOMES,2004). Portanto, identificamos que a informação que o jornalista
passa é essencial para a manutenção de uma forma democrática e ética do conhecimento.
Fazer jornalismo refere-se ainda mais em manter o público atualizado em relação às demandas
de sua comunidade. Na medida em que as informações são disseminadas, os cidadãos possuem
a oportunidade de tomar ciência de suas ações e reivindicar o que acreditam ser o correto. Alguns
autores chamam este tipo de jornalismo de “cão de guarda”, uma vez que é o responsável por controlar
e monitorar o uso que se faz do poder público (BRUN, 2011). Os filmes sobre grandes reportagens
procuram mostrar este efeito do jornalismo, o que pode ser visto no ganhador do Oscar em 2015,
Spotlight, ou no clássico Todos os Homens do Presidente (1976).
Souza (2005, p.29) afirma que “um bom jornalista deve ser curioso, persistente, imaginativo
e ousado. Deve estar disposto a desafiar estereótipos, expor mitos e mentiras”. O jornalismo é uma
profissão que carrega consigo uma sensibilidade enorme, pois o jornalista precisa ter tato para lidar
com diversos públicos e necessita aprender a escutar. Além disso, atualmente, a possibilidade de ser
imparcial no jornalismo é rejeitada pelos seus teóricos. Para eles, é impossível sermos imparciais e
contarmos os acontecimentos sem deixar nossas subjetividades influenciarem no texto, uma vez que os
fatos não serão os mesmos após terem sido analisados, ou apenas observados, pela pessoa que os relata.
A partir disso, adotamos então o conceito de objetividade que é, em palavras simples, o reconhecimento
de que somos sim subjetivos e, a partir disso, buscar a aproximação da realidade, construindo um texto
baseado nos fatos que podem ser comprovados, ouvindo pontos de vista, ou subjetividades, variadas.
Ao compreendermos que temos nossas próprias visões perante um assunto, somos capazes de buscar o
equilíbrio e a objetividade jornalística.
2 A NOTÍCIA
Quando se pensa em jornalismo, comumente, vem à cabeça a palavra notícia. Porém, nem só de
notícias é feito o jornalismo. Há diferentes modalidades de escrita e de comunicação com o público-
alvo. Por exemplo, uma distinção básica que pode ser utilizada é que o jornalismo se estrutura em fato
e opinião. Ambos são jornalismo, mas moldados em formatos diferentes. No jornalismo opinativo,
pega-se um fato e, a partir dele, constrói-se uma opinião analítica sobre o assunto. Você pode encontrá-
lo em colunas, editoriais e crônicas. Já no noticioso, informativo, pega-se um fato e, da maneira mais
objetiva possível, relata-o para um receptor. É o que se encontra em notas, boletins e, principalmente,
nas notícias. É nele que se pautam as noções de verdade, de objetividade, de interesse público e de
democracia. No UFRGSMUNDI, a forma de jornalismo com que mais trabalharemos será a notícia.
Objetiva e prática, ela oferece, de maneira acessível e rápida ao público-alvo, as informações necessárias
Morte: qualquer fato que envolva morte facilmente se torna notícia. A morte tem um interesse público
muito grande. Assim, assassinatos, homicídios, genocídios ou a morte em si, são, geralmente, critérios
que indicam notícia.
Notoriedade do personagem principal: quanto mais conhecida for a pessoa, maiores as chances de
ela virar notícia. Assim, o presidente da república, por exemplo, facilmente torna-se notícia, não
importando a sua ação. Além do presidente, enquadram-se nessa categoria políticos, líderes locais,
celebridades etc.
Proximidade geográfica ou cultural: notícias que acontecem mais próximas ao leitor chamam mais
atenção. A proximidade também pode ser cultural. Você já percebeu que para nós, uma descoberta
científica nos Estados Unidos chama mais a atenção do que uma Romênia?
Relevância: são assuntos que interferem diretamente na vida da pessoa, como trânsito e temperatura.
Também entram aqui assuntos da ordem social, política e econômica, como o preço da gasolina.
Novidade: algo vira notícia, por exemplo, se é a primeira ou última vez que algo acontece, como a
primeira ida do homem à Lua ou o lançamento de um álbum musical.
Tempo: assuntos do passado podem introduzir assuntos a serem falados agora. Por exemplo, em 2019,
a World Wide Web (www) faz aniversário. Pode-se usar isso como um gancho para novas notícias.
Notabilidade: quando um fato chama muita atenção e, por isso, torna-se notável, como uma queda de
avião ou algum acidente de trânsito.
Inesperado: quando algo incomum acontece. O fato de um cachorro morder um homem, por exemplo,
geralmente não vira notícia. Agora, se um homem morder um cachorro, teremos um fato inesperado.
Conflito ou controvérsia: situações de confronto que rompem a normalidade de um fato, como, por
exemplo, greves e paralisações.
Infrações: ocorre quando algo transcende e ultrapassa a lei, como atos de corrupção, por exemplo.
Já os de critérios de construção dizem respeito a critérios que devem ser seguidos na hora de
construir uma notícia.
Simplificação: usar apenas o essencial para contar uma notícia, com o mínimo de interferência criativa
por parte da escrita.
Dramatização: utilizar de critérios da dramaturgia para contar uma história, como diálogos, inserção
de sentimentos, etc.
Personalização: diz respeito ao uso de um personagem específico para contar uma história inteira. Por
exemplo, contar a história de um morador de rua porto alegrense para evidenciar todo problema de
falta de moradias na cidade.
Com base nesses critérios estabelecidos por Traquina (1993), entendemos os comportamentos
de jornais e periódicos, que, cada um de acordo com sua linha editorial, definem critérios e fatores que
devem ser levados em conta para definir se algum fato é notícia ou não. A Folha de S.Paulo (2018), por
exemplo, define por tais pontos: (1) ineditismo: quando a notícia inédita é mais importante do que a já
dada; (2) improbabilidade: quando a notícia menos provável é mais importante do que a esperada; (3)
interesse: quanto mais pessoas forem atingidas pela notícia, mais importante ela é; (4) apelo: quanto
maior a curiosidade que a notícia possa despertar, mais importante ela é; (5) empatia: quanto mais
pessoas puderem se identificar com a situação, mais importante ela é; e (6) proximidade: quanto maior
a proximidade geográfica entre o fato e o leitor, mais importante ela é (Folha de S.Paulo, 2017).
3.2 ARTIGO
Como discutido anteriormente, a notícia geralmente vai trazer algo novo e serve para sanar a
dúvida ou a curiosidade do leitor sobre algum assunto. Por este motivo, ela é construída de maneira a
hierarquizar a informação.
Diferentemente de uma redação dissertativa, em que encontramos introdução, desenvolvimento
e conclusão, uma notícia precisa ser objetiva e cumprir sua função de informar. Por isso, depois que
você reunir e apurar todas suas informações, você vai selecioná-las de maneira a classificar o que é mais
importante do que não é tão importante assim.
Para facilitar a construção noticiosa, o teórico Carl Tiuí Hummenigge desenvolveu uma técnica
conhecida como Pirâmide Invertida. Essa técnica organiza as informações para que seja selecionado
primeiro o mais importante e, depois, o secundário.
Perceba que, quando lê uma notícia, geralmente você já tem toda informação extremamente
importante já no primeiro parágrafo. Isso se dá por conta deste processo de hierarquização e pelo
primeiro parágrafo da notícia, que chamamos de lide. Nele, busca-se responder o que aconteceu, quem
está envolvido no fato, quando e onde. Também pode responder como e o por quê de ter acontecido.
Quando você estiver apurando e montando uma notícia, siga as seguintes recomendações:
• Todo título possui um verbo, e este verbo sempre está no modo presente. Perceba também que
títulos não têm pontuação final. Procure não escrever títulos muito longos.
• Quando for utilizar siglas, primeiro, fale por extenso o nome que você quer abreviar e, em seguida, a
sigla entre parênteses, por exemplo: Supremo Tribunal Federal (STF). Após isso, utilize livremente
a sigla ao longo do texto.
• Cada parágrafo deve ter um raciocínio completo. Dê preferência a parágrafos curtos, pois eles dão
o ritmo do texto.
• As frases devem ser curtas e objetivas. Prefira ponto final à vírgula. O uso excessivo de vírgulas
pode causar confusão para o leitor.
• Use verbos declaratórios quando for falar sobre algo que alguma fonte lhe disse. Alguns exemplos
de verbos declaratórios são “diz”, “afirma”, “esclarece”, “informa”.
• Não use adjetivos de valor, como bonito, feio, grande e pequeno. Estes adjetivos são subjetivos,
afinal, o que pode ser bonito para você não necessariamente o é para outra pessoa. Troque, por
exemplo, “o prédio é alto” por “o prédio tem 43 andares”.
• Evite eufemismos, escreva diretamente a informação que você quer reportar. Por exemplo: “João
morreu” e não “João perdeu a vida”.
4.1 REPORTAGEM
Normalmente, a reportagem é um texto mais longo do que a notícia e que busca explorar com
maior amplitude um determinado assunto ou tema. Quem escreve reportagens geralmente se debruça
sobre material específico, consulta especialistas da área, realiza entrevistas e inclui uma abordagem
com tópicos que, normalmente, não se incluiriam numa notícia. Pode-se fazer uma reportagem especial
sobre um fato que se tornou notícia, sobre um evento em curso, sobre uma descoberta científica, dentre
outros assuntos. A autoria do texto pode lançar mão de imagens, gráficos e elementos textuais a fim de
4.3 ARTIGO
O artigo é um texto de caráter informativo e opinativo. Diferentemente da notícia, cuja função
primordial é unicamente informar de maneira objetiva, no artigo, a autoria do texto busca convencer o
leitor da opinião e fazer a defesa de um posicionamento.
4.4 NOTA
A nota é um dos textos informativos mais curtos. Tem a função de informar rapidamente e,
geralmente, é composta apenas pelo lide. Por isso, busca responder as perguntas básicas de “o que
aconteceu”, “quando”, “onde” e “com quem”. Pode ser inserida em colunas sociais também.
5.2 RÁDIO
O rádio trouxe diversas mudanças na forma como a informação chegava às pessoas, afinal, foi o
primeiro contato com transmissão simultânea para muitos brasileiros. A sua popularização facilitou a
vida de muitas comunidades do interior que não tinham acesso aos jornais, revistas e cinema tornando
o rádio a forma das pessoas que viviam distante se conectarem com as novidades (MIRANDA, 2007).
Atualmente, o rádio ainda é um dos principais veículos de informação, sendo muito usado para
noticiar acontecimentos em tempo real para os ouvintes. Os programas de debate que trazem convidados
para entrevistas, informam e possuem quadros de notícias do trânsito e dos acontecimentos dos dias
são mais comuns, mas também é possível encontrar quadros curtos durante os intervalos comerciais.
5.3 TELEVISÃO
A televisão, desde sua chegada ao Brasil na década de 50, começou a usar de conteúdos
jornalísticos como parte de sua programação. Inicialmente, as emissoras transmitiam as notícias
através de um locutor lendo as pautas do dia, no entanto, os produtores logo perceberam o potencial
das imagens para noticiar os eventos (SPINELLI, 2012).
Atualmente, as emissoras apresentam diversos formatos de programas jornalísticos como
telejornais, entrevistas e documentários que apresentam diversas formas de diagramação. Dentro
desses programas, o formato de reportagem tradicionalmente usado é constituído por off (quando o
repórter narra o texto sem aparecer na imagem), passagem (a informação dada pelo repórter aparecendo
em câmera) e sonora (entrevistas) (EMERIM, 2010).
5.4 INTERNET
Atualmente, as plataformas de informação online são um dos meios mais populares de
jornalismo, por noticiarem de forma acessível e imediata. Praticamente todos os veículos possuem
portais online nos quais é fornecido conteúdo adicional àquele apresentado nos seus veículos originais
(SPINELLI, 2012).
A internet traz a possibilidade de inserir vídeos, áudios e outras ferramentas, além de permitir
atualizar e corrigir o conteúdo da matéria conforme os acontecimentos. Outro formato muito utilizado
são as mídias sociais, usadas para cobrir eventos em tempo real, que são mais acessadas pelo público
por sua facilidade e possibilidade de trazer informações de forma resumida. Por isso, o twitter, será
a principal ferramenta dos alunos durante o Mundi, que utilizam da rede social para atualizar os
participantes do evento sobre os acontecimentos ao longo dos dias de simulação.
6 O JORNALISMO E A POLÍTICA
Na sociedade atual, o jornalismo é uma das principais atividades responsáveis por informar e,
muitas vezes, moldar a opinião pública. No entanto, ao contrário do que se pensa, o jornalismo não
informa com completa isenção e neutralidade. Assim, os meios de comunicação possuem seus próprios
critérios de abordagem de temas e utilizam certos mecanismos para elaborar suas mensagens, como o
enquadramento de notícias (CASTILHO, 2012).
O enquadramento noticioso é uma teoria de comunicação formulada, em princípio, por Gregory
Bateson e depois por Erving Goffmam. De acordo com tal teoria, a mídia utiliza palavras, ideias,
expressões e adjetivos bastante específicos, promovendo uma abordagem manipulativa em relação
aos acontecimentos, destacando alguns aspectos e ocultando outros (GOFFMAN apud RUBIM, 2004).
Segundo Adelmo Genro Filho (1987), o jornalismo é uma importante estratégia da sociedade moderna,
cujo conhecimento ajuda a entender os fatos e a sociedade. A cobertura jornalística seria, então, capaz
de revelar as contradições sociais, jogos de poder, diversidade das visões de mundo e interesses em
disputa (CARVALHO, 2009).
Para a socióloga Gaye Tuchman (apud RUBIM, 2004), “o enquadramento surge como uma
forma de poder, uma vez que as decisões políticas podem ser reforçadas ou enfraquecidas pela forma
através da qual um fato é enquadrado”. Em outras palavras, a maneira como um fato é contado pode
induzir o posicionamento da audiência e, com isso, formar opinião que condene um determinado lado
em detrimento de outro. O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, pode
ser considerado um exemplo de quando a imprensa, por meio da publicação de denúncias e delações,
interferiu decisivamente no rumo de resoluções e processos políticos.
Pode-se investigar a existência de enquadramento em uma notícia, buscando fontes de
informação em veículos de comunicação diferentes, por exemplo, de reportagens locais, nacionais,
ou até mesmo, internacionais. Outra forma seria atentar aos termos utilizados na construção de
uma determinada matéria, como casos de manifestações de rua, onde a mídia costuma se referir aos
participantes desde “ativistas”, “manifestantes” até mesmo “baderneiros” e “vândalos” (MOREIRA,
2015). Como uma profissão na qual é praticamente impossível apurar os fatos sem passá-los pelas nossas
“lentes” (PEDROSO, 2005), é preciso aceitar que o enquadramento no jornalismo existe e não podemos
fugir dele, sendo o conceito de “neutralidade” refutado. O que podemos, entretanto, é perceber nossas
subjetividades e as subjetividades de outros veículos de comunicação, para assim aprimorar uma
análise mais efetiva acerca dos fatos.
uma sociedade livre e democrática (GOMES, 2009). No entanto, quando analisamos as três variáveis
(jornalismo, democracia e política internacional) juntas, o jornalismo pode prover um repertório
diferente no levantamento de possibilidades de interpretações no que se refere à verdade, justiça,
avaliação dos argumentos e na promoção de ações.
Dentro de um contexto internacional, onde os indivíduos conectam-se em uma rede globalizada,
cabe ao jornalismo internacional abordar e acomodar notícias de diversos âmbitos, sejam eles políticos,
sociais, econômicos, culturais. O papel que se pode compreender através desse veículo é o caráter da
mídia formadora de opinião, onde a opinião pública é um dos fatores levados em conta no momento
da formulação de uma sociedade com base nas leis e normas que a regem (GOMES, 2009). Diante
deste contexto, verificamos que o interesse público é um dos que determinantes ao apontar se um
acontecimento é ou não notícia.
Em busca de transformar o conhecimento em informações acessíveis, o jornalismo internacional
também assume o papel social que dá visibilidade aos fatos que influenciam nas relações políticas.
Como exemplo há os casos de guerras civis locais causando repercussão mundial, como a guerra na
Síria, onde, através da coleta de informações e interações entre os diferentes canais de mídia, molda a
opinião da sociedade.
Destaca-se, assim, que o jornalismo atua como “fiscalizador” da sociedade, sendo intitulado
como o quarto poder. Da mesma forma, isso funciona para os agentes internacionais, ao se encontrarem
em posição de observador perante a uma sociedade que se torna crítica com os meios de comunicação.
O jornalismo, assim, cumpre sua função social de informar as demandas da comunidade – seja ela
local ou internacional – aos poderes políticos e de colocar em pauta problemáticas que necessitam de
solução (TRAQUINA, 2000).
pelo veículo de comunicação Die Tageszeitung. Fundado em 1979 em Berlim, na Alemanha, o jornal
ficou famoso devido a suas manchetes irônicas e provocativas frente aos acontecimentos internacionais.
A publicação tem perfil de esquerda e foi criada para ser um jornal alternativo. Além de abordar política,
traz, com frequência, temas não tratados em outros jornais alemães, como reportagens sobre ecologia e
desigualdade social.
de Francisco Franco, que instaurou um regime fascista no país europeu. O jornal, assim, pode ser
considerado um dos veículos com maior tendência a ter um pensamento pró-democracia. Devido ao
grande acesso do público brasileiro à publicação em espanhol, foi lançada, em 2013, uma versão em
português com enfoque no contexto do Brasil. A publicação tem perfil de centro-esquerda liberal e,
aqui, adota tom crítico contra o presidente Jair Bolsonaro.
9.3 PONTUALIDADE
O jornalismo é uma ciência que trabalha com prazos curtos e horários rigorosos. É dever do
jornalista da AC, tal qual um jornalista profissional, observar a pontualidade, tanto para o horário
de entrar novamente na sala de seu comitê, quanto para comparecer à Central de Notícias quando
solicitado pela Editoria-Chefe. Informação atrasada significa informação desatualizada.
9.4 COBERTURA
A Agência de Comunicação, tal qual os demais comitês, também possui uma sala para ser sua
sede. Chamamos-na de Central de Notícias, que será a base de posicionamento para todos os jornalistas
e para a Editoria-Chefe, que estará disponível durante todo o tempo das sessões para auxiliar o jornalista
a produzir suas matérias. Quando solicitado pela Editoria-Chefe, o jornalista deverá comparecer à
Central de Notícias para o recebimento de novas orientações.
Os jornalistas realizarão em duplas a cobertura dos comitês. Cada jornalista será designado
para um comitê específico, para o qual deverá se deslocar com sua respectiva dupla a fim de colher
informações. Uma vez que considerar que já está com informações suficientes, o jornalista deverá
retornar à Central de Notícias para redigir uma notícia a ser publicada no blog da AC. Também poderão
ser confeccionados tweets com observações mais rápidas sobre fatos que ocorrem no comitê. Da mesma
forma, o jornalista deverá retornar à Central de Notícias para que o tweet seja publicado pela Editoria-
Chefe. Recomendamos o revezamento entre a dupla que estará cobrindo um determinado comitê, a fim
de garantir que haja pelo menos um jornalista na sala durante todo o tempo do debate. É interessante
também que, previamente ao evento, os jornalistas acompanhem os veículos que irão representar para
que vejam como é produzida a informação.
Tal qual o jornalismo tradicional, a linguagem que deverá ser utilizada pelos jornalistas é a
formal, tanto na elaboração de notícias quanto em entrevistas. O caso do Twitter, que será uma das
principais plataformas para a publicação de observações a respeito dos comitês, é a única exceção. Na
AC, é permitida a utilização de linguagem formal e informal ao efetuar tweets, assim como “memes”,
dadas as características dessa rede social. No entanto, não poderão ser efetuados apenas tweets em
linguagem informal. Afinal, ainda estamos falando de jornalismo e de seu compromisso com a seriedade.
A Agência de Comunicação utiliza hashtags para seus veículos de comunicação. Sendo assim, no final
de cada tweet, deverão constar duas hashtags: uma com a sigla do comitê ao qual ele se refere e outra
com o nome do jornal que está publicando o tweet. Por exemplo: tweets realizados pela Folha de São
Paulo no Senado Federal deverão encerrar o texto com #Folha e #SF.
Os jornalistas também poderão tirar fotografias dos debates e, eventualmente, postá-las nos
meios online da AC. Deve-se observar sempre o respeito às pessoas fotografas, sendo proibida a
publicação de eventuais fotografias em que as pessoas estejam em postura vexatória ou que incite
julgamentos de valor sobre elas. Poderão ser confeccionadas pequenas reportagens em vídeo ou
telejornais, desde que o jornalista manifeste sua intenção para a Editoria-Chefe.
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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partir do conceito de diplomacia midiática. 2013. 14 p. Artigo Acadêmico - Universidade Estadual da Paraíba,
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FOLHA DE S. PAULO. Conheça o Grupo Folha. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/institucional/.
1
Graduando e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
(2) Como chegar a um consenso entre países produtores e consumidores de substâncias ilegais sobre a
melhor forma de combater o narcotráfico?
INTRODUÇÃO
A Assembleia Geral (AGNU) é o maior órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo
o único no qual todos os membros da organização estão representados e podem votar de maneira
igualitária. Dentre suas funções gerais, pode-se mencionar admitir novos membros, supervisionar os
outros órgãos da ONU e selecionar o Secretário-Geral. Suas funções mais importantes, contudo, são as
de deliberar e fazer recomendações sobre assuntos dentro do escopo da Carta da ONU, tendo em vista
os princípios de manutenção da paz e da segurança internacional e a cooperação entre as nações. Os
193 países participantes se reúnem uma vez por ano - a não ser quando são convocadas sessões especiais
-, e têm direito de falar e votar os assuntos tratados. A Assembleia Geral produz uma resolução que,
quando aprovada, possui caráter recomendatório. Dessa maneira, as decisões do comitê não possuem
caráter vinculante, ou seja, não são de cumprimento obrigatório. Contudo, o fato de ser uma decisão
da totalidade dos países da ONU torna as decisões da Assembleia Geral moralmente vinculantes, pois
aqueles países que não as cumprem podem ser vistos como desrespeitadores das regras elaboradas pela
maioria (AGNU, 2019). Diante da importância da AGNU, cabe a esse organismo realizar a discussão
sobre o tema do combate ao problema mundial das drogas, dado o destaque no cenário internacional.
A preocupação com as atividades ligadas ao narcotráfico - comércio de drogas ilícitas, de
substâncias entorpecentes - é crescente no século XXI, uma vez que ele está ligado a diferentes práticas
ilícitas, como o tráfico de armas e de pessoas em situação de vulnerabilidade, confirmando a questão
do tráfico de drogas como um acontecimento coletivo que envolve diferentes grupos sociais (RIBEIRO,
2011). De acordo com Rodrigues (2003), as redes de narcotráfico estão relacionadas a diversos outros
problemas, como a violência urbana e a formação de organizações criminosas internacionais.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer substância que, introduzida
no organismo, interfere no seu funcionamento. Consequentemente, drogas podem ser, por exemplo,
tanto a maconha quanto a aspirina e o antibiótico. O que varia é como elas atuam no organismo de
cada indivíduo e sua finalidade, pois, quando a droga é empregada com fins terapêuticos, ela passa a
denominar-se medicamento (OMS, 1993).
Desde o século XX, a “questão das drogas” passou a ser entendida como um problema, o que
deu início às ações internacionais de controle (RODRIGUES, 2012). A Convenção das Nações Unidas
contra o Tráfico Ilícito de Drogas Narcóticas e Psicotrópicas, de 1988, é o marco da institucionalização
de políticas de drogas com viés voltado ao proibicionismo1 e à securitização2. No entanto, desde então,
poucos Estados membros da ONU responsáveis pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e
Crime3 (UNODC, sigla em inglês4) fizeram algo para alterar a base punitiva e criminalizante, que
impõe medidas anti-drogas à força e viola direitos humanos. Individualmente, porém, países como
Canadá, Bolívia e EUA - em muitos estados - já alteraram suas políticas de droga (MCALLISTER,
2000). Foi assim que o narcotráfico cresceu expressivamente enquanto negócio internacional, uma vez
que a ilegalidade e a criminalização produziram um escudo protetivo para o seu desenvolvimento. O
1 Para compreender o termo proibicionismo, é importante ter em mente que drogas só são drogas porque um dia foram proibidas - embora
fossem muito usadas no passado. Além disso, desde o início do século XX, a norma dominante é a de proibir drogas e buscar reprimir
quem as vende.
2 Conceito que legitima o combate militarizado e a utilização das Forças Armadas para a resolução de problemas domésticos e internacio-
nais (SANTOS et al., 2018).
3 O escritório funciona como uma agência especializada das Nações Unidas, sendo líder global no combate às drogas ilícitas e ao crime
internacional. Foi estabelecido em 1997 por meio de uma fusão entre o Programa de Controle de Drogas das Nações Unidas e o Centro
para a Prevenção Internacional do Crime (UNODC, 2019g).
4 United Nations Office on Drugs and Crime.
1 HISTÓRICO
Até o século XX, não existia a proibição das drogas e, por isso, não existia o tráfico, caracterizado
pelo comércio ilícito dessas substâncias - ou seja, existia o consumo de drogas, porém este não era
considerado um crime. No início do século, inicia-se uma maior discussão sobre as drogas, representando
um passo inicial no processo de controle dos narcóticos (RODRIGUES, 2012). A discussão toma força
sobretudo a partir do fim da Guerra Fria, quando a pauta dos debates internacionais se diversifica.
Antes, o foco dos debates estava essencialmente nas ações militares e diplomáticas entre a União
Soviética (URSS) e os Estados Unidos (EUA). Com a queda da URSS (1991), surgem novos debates no
âmbito internacional, todavia, esse tópico possui discussões muito anteriores ao período (RIBEIRO,
2011).
Em meados do século XIX, a China já era um dos países mais populosos da Ásia. No entanto,
o país não cultivava relações comerciais com o Ocidente. Enquanto isso, na Europa, a Inglaterra se
industrializava crescentemente, o que tornava necessário o aumento do mercado consumidor para
dispersar parte de sua produção. Nesse cenário, os ingleses começam a negociar diretamente com as
províncias do Sul da China, buscando suprir sua necessidade de comércio, ao passo que se inseriam
gradativamente no país asiático. Dessa forma, ainda no século XIX, a Inglaterra conseguiu aumentar
seu peso comercial no país, obtendo autorização para o comércio. Contudo, enquanto a China
oferecia diversos produtos demandados pelos ingleses, como seda, porcelana e chás, os chineses não
necessitavam de nenhum produto inglês em específico, razão pela qual as trocas eram feitas pela prata.
Isso se altera quando a Inglaterra inicia o comércio de ópio, uma das drogas mais viciantes do mundo,
nas províncias chinesas. O ópio logo se torna um vício generalizado, e o seu uso é totalmente proibido
pelo governo chinês, provocando a Primeira (1839-1842) e a Segunda (1856-1860) Guerras do Ópio entre
os dois países, nas quais a China é derrotada e obrigada a abrir seu comércio aos países ocidentais
(TORCATO, 2016).
A China é um clássico na discussão das drogas e de seu tráfico, visto que representa um exemplo
de tentativa de combate ao uso e tráfico de narcóticos. No caso chinês, o resultado desse processo é a
derrota, a qual impele o país a abrir suas fronteiras para a entrada de drogas internacionais. Dentro do
cenário do tráfico internacional, existem os países produtores, ou seja, os que cultivam e desenvolvem
drogas em seu território - no cenário das Guerras do Ópio, o país produtor era a Inglaterra - e os
países consumidores cuja população representa mercado consumidor para as drogas produzidas
internacionalmente - dentro daquele cenário, a China.
Dentro do contexto asiático, o uso recreativo de drogas data de muitos séculos, dada a utilização
de algumas dessas substâncias em rituais das culturas locais. O problema surge quando os europeus
percebem o lucro em potencial da produção e venda de drogas no continente, utilizando os narcóticos
como moeda de troca e causando um grave problema de saúde pública decorrente do vício da população
(DALCIN et al., 2018). A introdução do ópio na China é o maior exemplo desse acontecimento.
O Triângulo Dourado, termo usado pela Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em
inglês), é uma região da Ásia - composta por Mianmar, Tailândia e Laos -, produtora de longa data
de ópio, cuja visibilidade cresceu significativamente no século XIX e se fortaleceu após a Segunda
Guerra Mundial. O Triângulo Dourado é o precursor do Crescente Dourado, outra região com intensa
produção de drogas na Ásia, sobretudo heroína. Essa região é formada pelo Afeganistão, o Irã e o
Paquistão. Juntas, as duas compreendem as principais áreas de produção ilícita de drogas na Ásia até
os dias atuais (DALCIN et al., 2018).
Mesmo que os entraves em torno do uso e tráfico de drogas datem de períodos muito anteriores,
essa pauta só se tornou um ponto central nas discussões internacionais a partir da segunda metade
do século XX. Em 1970, o presidente dos EUA, Richard Nixon declara a chamada Guerra às Drogas,
afirmando que as drogas eram “o inimigo público número um” (NASSER, 2014). Nixon também promove
a visão dos usuários de drogas e dos países produtores como os inimigos do país, difundindo essa ideia
também para além das fronteiras americanas. Todavia, é nas décadas de 1990 e 2000 que se intensificam
as ações estadunidenses contra o tráfico de drogas, englobando agora o combate na América do Sul,
com a criação do Plano Colômbia (DUFTON, 2012), da Iniciativa Andina e da Iniciativa Mérida.
Com esses programas, percebe-se a crescente intervenção americana no combate ao narcotráfico na
América Latina, aumentando a quantidade de recursos econômicos e militares enviados ao continente.
O problema não diminui porém, apesar dos esforços internacionais (RIBEIRO, 2011).
O narcotráfico, portanto, surge a partir da criminalização da venda e porte de drogas, e se expande
na ilegalidade, tornando-se um ramo muito lucrativo, razão pela qual muitos países latino-americanos
passam a produzir grandes quantidades de drogas ilícitas para comércio (RODRIGUES, 2012). A fins de
exemplificação, os países andinos (sobretudo Bolívia, Peru e Colômbia) aumentaram exponencialmente
a produção e o tráfico para suprir a demanda dos Estados Unidos por cocaína (RODRIGUES, 2002).
Ironicamente, a partir do governo Nixon (1969-1974), os países produtores começam a serem vistos
como inimigos das nações civilizadas pelos EUA, que passam a publicar anualmente uma lista de países
que, na sua avaliação, colaboram ou não com a Guerra às Drogas, impondo, com base nisso, sanções
políticas e econômicas aos descumpridores. Isso, aliado às pressões diplomáticas e aos incentivos
econômicos e militares, levou os países latinos a intensificarem o combate ao tráfico (RODRIGUES,
2012).
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Na presente seção, serão apresentadas as diversas abordagens e iniciativas para combater o
problema mundial das drogas e do narcotráfico. Serão analisados elementos problematizadores, tanto
na forma de conduzir a natureza da questão, nas esferas pública e internacional, quanto na formação de
redes de tráfico.
et al., 2016).
Além disso, considerar o problema das drogas nesse âmbito também acarreta a discussão acerca
dos preconceitos que envolvem usuários, produtores e traficantes. Ao distanciar a questão do campo da
saúde pública, acentuam-se seus traços xenofóbicos5, racistas e machistas, além de tornar claras as razões
do apoio da sociedade à criminalização da produção e do consumo das drogas como forma de controle.
A hostilidade de grande parte da população com estes casos está relacionada à vinculação das drogas
a determinados grupos sociais, potencializada nos últimos anos. No Brasil, por exemplo, a heroína foi
associada à saúde pública a partir do uso da droga por “cafetões e prostitutas” (RODRIGUES, 2012,
p.10). Assim, é por meio da ótica discriminatória combinada à repressão de grupos sociais minoritários
que emergem políticas socais de controle baseadas no proibicionismo, as quais investem em regimes
punitivos, evidenciando uma ameaça à vida coletiva percebida pela população vulnerável. Tais regimes
abrem espaço para a perseguição de classes mais periféricas e para a declaração de “guerra” às drogas
(RODRIGUES, 2012).
impacto sobre as minorias raciais e étnicas, mulheres, crianças e jovens, e classes mais baixas.
potencialidade de violações de direitos humanos, uma vez que as Forças Armadas, diferentemente
das Forças Policiais, não recebem o devido treinamento para lidar com algumas questões inerentes à
segurança pública (SANTOS et al., 2018).
6 No contexto em que se encontra inserida no texto, a ideia de “economia da droga” se refere ao conjunto de processos englobados no ciclo
produtivo e comercial das drogas, iniciando-se no plantio da matéria-prima e se estendendo até sua chegada no mercado consumidor.
7 A Guerra Fria consistiu em um período da história mundial (1945-1991) durante o qual prevaleceu um contexto de bipolaridade, isto é,
havia dois grandes países, ou potências, com interesses e ideologias antagônicas (Estados Unidos e União Soviética) que dominavam o sis-
tema internacional. Embora existisse uma grande rivalidade entre esses dois pólos, não houve nenhum confronto direto entre eles - motivo
pelo qual essa guerra é caracterizada como “fria” (ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2019).
8 O termo “interestatal” refere-se a questões entre Estados, e não entre um Estado e outro tipo de ator. Logo, tensões interestatais corres-
pondem a tensões entre Estados.
9 Denomina-se de “transnacionalização” o processo por meio do qual determinados fenômenos ultrapassam as fronteiras do Estado na-
cional, tornando-se, assim, relativos a diferentes Estados e mesmo ao sistema internacional como um todo.
10 É considerado preso político o indivíduo encarcerado por causa de crenças e atividades contrárias ao regime em que este se encontra
(Dallier, 2009). No contexto apresentado, eram presos políticos os indivíduos detidos pelas forças policiais e militares do Brasil que fossem
considerados perigosos para a manutenção da ditadura civil-militar.
Mesmo não concebidas para o narcotráfico, as organizações encontraram nele a sua principal
fonte de renda. Segundo Cepik e Borba (2012), facções criminosas utilizam a exclusão social e a
pobreza, muito presente nos centros urbanos, para o aliciamento de novos membros, que enxergam
nesses grupos um instrumento para ascensão social, pertencimento e dinheiro. Nesse sentido, é
possível entender as motivações para a presença e a permanência desses grupos nas favelas brasileiras,
mesmo com o grande consumo de drogas ilegais pelas classes mais altas (WERNECK, 2007). Conforme
Amorim (2010), a ausência do Estado no que tange ao acesso à educação, à saúde e à segurança dessas
populações, além da latente violência policial, facilitam que essas populações marginalizadas criem um
vínculo com as organizações criminosas ali presentes. As atividades ilícitas desses grupos, ao contrário
do que se pensa nas favelas, não visam à destruição da estrutura social estabelecida, sendo a negligência
estatal e a exclusão dessas populações essenciais para o funcionamento das facções criminosas (CEPIK;
BORBA, 2012).
Simultaneamente a isso, as organizações criminosas necessitam das classe média e alta,
utilizando a coerção e o suborno nos níveis mais baixos (cidadãos comuns, policiais de baixo escalão,
políticos menos influentes). Já nos níveis mais altos, como no caso de elites econômicas e políticas,
faz-se uso da cooperação e do benefício mútuo (CEPIK; BORBA, 2012). A prisão, em 2017, do prefeito
recém-eleito de Embu das Artes (SP) e a condenação do ex-vice presidente do Conselho Estadual de
Direitos da Pessoa Humana de São Paulo por envolvimento com o PCC são um retrato da influência
desses grupos nos setores lícitos e proeminentes da sociedade (FÁBIO, 2018).
Os recentes conflitos entre o Primeiro Comando da Capital, o Comando Vermelho e outras
facções menos influentes demonstram a ineficiência das atividades do governo brasileiro no combate ao
narcotráfico (COSTA; ADORNO, 2018). De acordo com Cepik e Borba (2012), isso se dá, principalmente,
pela realização de operações policiais sem o devido emprego das investigações e da inteligência civil,
expondo os agentes de segurança pública à grande violência e corrupção. Já para Oliveira e Silva
Filho (2014), há uma necessidade de ocultação e negação do problema pela sociedade, evitando-se a
análise do narcotráfico, suas causas e fins. Ainda segundo os autores, as organizações criminosas só
serão enfraquecidas e abatidas com o restabelecimento da presença do Estado e de seu vínculo com as
populações marginalizadas.
das drogas”. Nele, são dadas recomendações de como os Estados devem agir em relação a questões
como redução de demanda, prevenção e tratamento de usuários, aplicação efetiva de leis antidrogas,
cooperação judicial e fortalecimento da cooperação internacional e regional - baseado no princípio de
responsabilidade comum e compartilhada -, bem como o endereçamento de questões socioeconômicas,
como a relação entre drogas, direitos humanos e membros vulneráveis da sociedade (AGNU, 2016).
Dessa forma, fica evidente que o posicionamento da ONU, desde a segunda metade do século XX, é de
regulamentar e tentar proibir o consumo de drogas.
No contexto do continente americano, foi elaborada, em 2010, a Estratégia Hemisférica sobre
Drogas e, para a sua implementação, foram criados planos de ação, sendo o Plano de Ação Hemisférico
sobre Drogas para o período 2016-2020, aprovado pela Comissão Interamericana para o Controle do
Abuso de Drogas (CICAD) em 2016, o mais recente. Esse plano - que funciona paralelamente ao da
ONU - está baseado em cinco eixos: fortalecimento institucional, redução da demanda, redução da
oferta, medidas de controle e cooperação internacional (COMISSÃO INTERAMERICANA PARA O
CONTROLE DO ABUSO DE DROGAS, 2016).
Assim, nas vias institucionais americanas há um esforço em fortalecer autoridades nacionais
capazes de combater o narcotráfico. Isso ocorre por meio da formulação e constante atualização das
políticas nacionais sobre drogas e sua articulação com outras políticas sociais, atendendo às causas e
consequências fundamentais do problema (CICAD, 2016).
Busca-se reduzir a demanda por drogas estabelecendo políticas de saúde pública capazes de
criar um sistema integrado de programas de prevenção universal, seletiva e indicada do uso indevido
de drogas, priorizando populações vulneráveis. Além disso, algumas iniciativas visam à consolidação
de sistemas nacionais de tratamento, reabilitação e inclusão social de viciados. Trabalhando também
com o intuito de reduzir a oferta, o plano recomenda a formulação de programas orientados a prevenir
e diminuir a oferta ilícita de drogas, bem como o fortalecimento de programas que visem à prevenção
do envolvimento com o tráfico de drogas, mas que atentem também para fatores de risco, sociais e
econômicos (CICAD, 2016).
As medidas de controle previstas no documento envolvem detecção, investigação e
desmantelamento de instalações de processamento ilícito de drogas, assim como das rotas aéreas,
terrestres, fluviais e marítimas utilizadas para o tráfico. Além disso, aponta como necessárias medidas
articuladas que permitam desmantelar os grupos criminosos organizados envolvidos no tráfico ilícito
de drogas e criar, atualizar e fortalecer os quadros normativos e institucionais para impedir a lavagem do
dinheiro derivado do tráfico ilícito de drogas. Por fim, o eixo de cooperação internacional está baseado
em melhorar o intercâmbio de informações e fortalecer os mecanismos de cooperação multilateral e
internacional relacionados ao problema mundial das drogas, respeitando os direitos humanos (CICAD,
2016). Em suma, o Plano de Ação Hemisférico sobre Drogas busca combater o tráfico organizado de
drogas desmanchando as redes de produção, transporte e venda de substâncias ilícitas e fortalecendo
programas de prevenção e tratamento do consumo de narcóticos.
A África do Sul é uma grande produtora e consumidora de cannabis, que tem valor cultural para a
população. Outras drogas ilícitas, como ecstasy e LSD, ainda são conhecidas como drogas “brancas”,
por serem consumidas pelas classes mais altas da sociedade, majoritariamente brancas. O consumo
de cocaína também tem aumentado, tornando o país o principal destino de drogas ilícitas na África
Subsaariana (SICETSHA, 2019).
A Arábia Saudita tem uma política de tolerância zero perante a venda e o consumo de drogas,
inspirando-se na sharia, lei islâmica que proíbe, inclusive, o álcool. Segundo o próprio governo saudita,
139 pessoas foram sentenciadas à pena de morte no país, sendo 54 condenadas por crimes não-violentos
ligados às drogas (HUMAN RIGHTS WATCH, 2019a).
A Austrália é um dos principais destinos do narcotráfico internacional, sendo sua localização geográfica,
próxima dos maiores produtores de ópio e anfetamina, um agravante para a entrada de drogas no país.
A legislação australiana referente ao consumo e à venda de entorpecentes baseia-se na quantidade da
substância apreendida com o indivíduo. Contudo, o fato de este ser o único critério para diferenciação
entre um dependente químico e um traficante provoca uma série de indiciamentos e penas impróprias
para os crimes cometidos (HUGHES COWDERY; RITTER, 2015).
A Bolívia tentou erradicar a coca, planta com grande importância cultural no país e precursora
da cocaína, por décadas. Em 2004, o governo boliviano decidiu legalizar a produção para consumo
doméstico e, com a ajuda da ONU, tem mantido a produção regulamentada via satélite, evitando o
cultivo ilegal e a transposição do cultivo legal para a produção de cocaína. A decisão, que deu início à
adoção de medidas não-securitárias, somada à conscientização promovida pelo governo, tem diminuído
o tráfico e a violência no país (TEGEL, 2016).
O Brasil tem uma legislação anti-drogas extremamente dura, utilizando um sistema proibicionista
em relação não só à venda, mas também ao consumo. A aplicação de condenações rígidas por crimes
relacionados ao tráfico de ilícitos é generalizada, enquanto utilizam-se medidas securitárias para lidar
com o problema, como a ocupação de favelas por forças de segurança nacional e pública. Mesmo assim,
o país continua abrigando o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), dois dos
maiores exportadores de cocaína de todo o mundo (BOITEUX, 2015).
Sendo um dos países que mais consome cannabis no mundo, o Canadá legalizou o uso recreativo
da planta em 2018. Tratando o problema das drogas como uma questão de saúde pública, o país
penaliza de forma mais branda os consumidores, enquanto os vendedores de substâncias ilícitas são
penalizados rigidamente. Ademais, o Canadá é um dos principais financiadores do UNODC e contribui
frequentemente para os projetos do órgão (BBC News, 2018; UNODC, 2012).
A China é um dos países onde o consumo de drogas cresce de forma mais acelerada. No período de
2007-2011, a média de crescimento de crimes relacionados às drogas foi de 15% ao ano. Para combater
esse crescimento, o país tem adotado penas ainda mais severas para traficantes, incluindo a pena de
morte em alguns casos. Para lidar com os usuários, o Governo criou programas de tratamento aos
quais essas pessoas devem comparecer, de forma voluntária ou, muitas vezes, compulsória (JUN, 2018;
TIEZZI, 2015).
A Colômbia é o segundo maior produtor de coca no mundo e, além de já ter sido palco da atuação
de alguns dos maiores cartéis da história, como o de Medellín (fundado por Pablo Escobar) e o de
Cali, continua tendo grande relevância mundial na questão das drogas. Para combater o plantio
ilegal, o Governo, com apoio do UNODC, mantém um programa de recompensa a agricultores que
abandonam o cultivo ilegal, garantindo a eles uma renda adequada e integrando-os em outros projetos
de desenvolvimento socioeconômico (UNODC, 2019a).
Situado entre dois dos maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador lida com uma grande
circulação de drogas ilícitas no seu interior. Embora parte do Governo esteja concentrado na diminuição
do fornecimento de drogas, o núcleo de ação é a redução da demanda e a ênfase na questão de saúde
pública (UNITED STATES, 2016a).
Mesmo contando com diversas agências especializadas no combate ao tráfico ilegal de drogas, os
Estados Unidos configuram um dos principais mercados consumidores de drogas do mundo. Embora
o uso recreativo de cannabis seja legalizado em alguns estados, o tráfico ilegal desta substância ainda é
um dos de maior volume, com taxas semelhantes às da cocaína e da heroína. As drogas sintéticas, como
a metanfetamina, representam um perigo crescente, já que seu consumo pode levar mais facilmente à
overdose, uma das principais causas de morte no país (VILLA, 2018).
Desde o início do seu governo em 2016, o atual presidente das Filipinas tem empreendido uma “guerra
às drogas”, chegando a propor a reintrodução da pena de morte para traficantes - prática abolida em
2006. Essa repressão violenta contra o tráfico ilegal de drogas é uma resposta ao contínuo aumento no
consumo de metanfetamina no país (ELLIS-PETERSEN, 2018; UNITED STATES, 2016b).
Tanto o uso quanto a posse de drogas ilícitas são crimes na França. As penas variam, incluindo desde
uma advertência em casos leves, como a posse de pequenas quantidades para consumo próprio, até
a prisão perpétua e multa de até 7.5 milhões de euros em casos particularmente sérios. A cannabis
é a droga ilícita predominante, e o seu consumo, juntamente com o da cocaína, tem apresentado um
pequeno crescimento. Embora o consumo de drogas sintéticas apresente grande crescimento, elas
continuam representando uma pequena parcela do mercado de drogas ilícitas (EMCDDA, 2018a).
A Guatemala, além de ser o principal país de trânsito para a cocaína e a heroína da América Central
com destino aos EUA, é também uma grande produtora de ópio e maconha. A proximidade com o
México torna a Guatemala uma importante área de desenvolvimento das drogas, sobretudo a cocaína.
Corrupção e lavagem de dinheiro são problemas frequentes no país e estão recorrentemente vinculados
à perpetuação do tráfico ilegal de drogas (INDEX MUNDI, 2018b).
A Holanda é conhecida mundialmente por sua política de tolerância às drogas. Mas, ao contrário do que
se pensa, é ilegal produzir, possuir, vender, importar e exportar drogas no país. No entanto, o governo
criou uma política que tolera o uso de maconha em alguns termos e condições específicos (BRASIL,
2018). Recentemente, o Sindicato da Polícia Holandesa declarou que as autoridades são incapazes de
combater a economia paralela representada pelo tráfico internacional de drogas, visto que os acertos
de contas entre facções rivais ligadas ao tráfico têm aumentado a violência no país (FERRER, 2018).
Na Índia, a polícia trabalha a questão do lado da oferta, buscando reprimir o tráfico e sua produção.
O Departamento de Controle de Narcóticos, por sua vez, monitora esforços de agências federais e
estaduais para aplicação da lei, encorajando os governos a criarem grupos de trabalhos para o combate
e promovendo um sistema de relatórios, a fim de observar as tendências do tráfico e coordenar os
esforços (UNODC, 2018a).
O governo da Indonésia possui uma das legislações antidrogas mais severas do mundo, prevendo pena
de morte para o comércio e o contrabando, bem como longos anos de prisão para a posse, mesmo
em pequenas quantidades. Apesar disso, o tráfico de drogas continua tendo um peso muito forte
dentro do país. As drogas sintéticas ganharam popularidade, ao passo que a Indonésia se tornou um
mercado muito lucrativo para cartéis internacionais, não apenas devido ao grande número de turistas
estrangeiros, mas também pela grande população jovem, que representa um mercado consumidor
potencial (LATSCHAN, 2016).
As drogas influenciaram a vida social, econômica e política do Irã por centenas de anos. O ópio,
especificamente, é há muito tempo usado no Irã para fins medicinais e recreativos. Como resultado,
tornou-se uma das principais exportações iranianas. Ao longo do século XX, o país lutou, em grande
parte sem sucesso, contra os problemas do vício e do tráfico. Políticas governamentais alternavam
entre a severa punição e a regulação. O problema das drogas também sobrecarrega o sistema de justiça
criminal do Irã: mais de 60% dos presos são encarcerados por delitos de drogas - seja devido ao uso
ou ao tráfico -, tendo o país executado “mais de 10 mil narcotraficantes nas últimas duas décadas”
(CALABRESE, 2007, online).
O Laos já foi o terceiro maior produtor ilícito de ópio com uma das maiores taxas de dependência
do mundo. Os esforços de erradicação do governo, contudo, ajudaram o país a reduzir o cultivo. Em
2005, tornou-se ilegal cultivar a papoula do ópio no país, deixando muitos agricultores sem meios de
renda. O UNODC tem trabalhado com o governo para garantir a segurança alimentar e proporcionar
oportunidades de subsistência a pequenos agricultores em conjunto com campanhas de conscientização
sobre drogas (UNODC, 2019d).
O Líbano é um país de trânsito para diferentes tipos de substâncias psicoativas, tais como haxixe,
cocaína e heroína. Ademais, pequenas quantidades de cocaína, advindas da América Latina, e de
heroína, do Sudoeste Asiático, transitam pelo país a caminho dos mercados europeus e do Oriente
Médio. Um dos maiores desafios enfrentados pelo país no combate ao narcotráfico é a presença de
organizações extremistas somado à frequente lavagem de dinheiro (INDEX MUNDI, 2018e).
A luta contra o narcotráfico é uma prioridade na agenda política do México e caracteriza-se pela
dependência do país em relação às forças militares para combater a violência provocada pelo crime
organizado ligado às drogas. Essa característica, contudo, produz como resultado graves violações
de direitos humanos por parte de militares (HUMAN RIGHTS WATCH, 2019b). A maior parte da
heroína e da morfina traficadas nas Américas corresponde ao volume enviado do México para os EUA
(UNODC, 2018b).
Embora a produção de ópio em Mianmar tenha diminuído no período de 2015 a 2017 em cerca de 14%,
o país segue como segundo maior produtor mundial de ópio - atrás apenas do Afeganistão (UNODC;
2018b; SLOW, 2018). Deve-se notar, no entanto, que o Mianmar foi o primeiro país do Sudeste Asiático
a adotar uma política de drogas conforme à abordagem da Sessão Especial da AGNU sobre o Problema
Mundial das Drogas. Dessa forma, o país busca atender as recomendações, criando respostas focadas em
saúde e direitos humanos e estabelecendo um caminho para o desenvolvimento alternativo sustentável
para os agricultores de ópio (SLOW, 2018).
Com base nos relatórios da UNODC (2018b), o uso de heroína na África parece ter aumentado mais do
que em outras regiões no período de 2006 a 2016, dado que Moçambique se tornou um corredor para o
trânsito de drogas ilícitas. Diante disso, o país estabeleceu um programa de fortalecimento do combate
ao narcotráfico em 2017, implementado pelo UNODC. O acordo permite uma ação eficaz contra ações
criminosas decorrentes das operações de redes de tráfico de drogas ilícitas e outras expressões do
crime organizado transnacional (CLUB OF MOZAMBIQUE, 2018).
A Nicarágua é reconhecida por ser uma das principais rotas de trânsito para o tráfico de drogas,
especialmente de cocaína destinada aos EUA (INDEX MUNDI, 2018c). De acordo com o Departamento
de Estado dos Estados Unidos, o ambiente dominado pela criminalidade e desemprego favorece a
formação de grupos criminosos internacionais, responsáveis pelo tráfico de drogas, armas e pessoas,
tornando o país muito dependente da cooperação norte-americana para contenção do narcotráfico
(UNITED STATES, 2016c).
Em 2016, a Nigéria, entre outros grandes países africanos, relatou uma estabilização no número de
usuários de heroína em seu território (UNODC, 2018b). Apesar disso, o país é identificado como ponto
de trânsito para a heroína e a cocaína destinadas aos mercados da Europa, do Leste Asiático e da
América do Norte. Por ser vista como um grande centro de corrupção e lavagem de dinheiro, a Nigéria é
considerada um refúgio seguro para os narcotraficantes do país, que operam em todo o mundo (INDEX
MUNDI, 2018d).
O Paquistão sofre com o alto consumo de drogas em seu território. A política do país é dura em relação
a essas substâncias, prevendo pena de morte para delitos relacionados. Vizinho do Afeganistão, maior
produtor de papoula de ópio do mundo, o Paquistão estabeleceu em 2001 uma política de tolerância
zero perante o plantio de papoula. Porém, o país segue sendo uma importante rota de transporte de
ópio (FOA, 2015; UNODC, 2019b).
O Peru é um dos principais produtores de coca e cocaína no mundo. O uso cultural da planta, tradicional
na cultura peruana, justifica a não criminalização desse tipo de plantio. Existe um sistema de controle
dentro do país, sendo necessária a posse de uma licença para o cultivo e a distribuição da coca. Apesar
da regulamentação, a produção de cocaína é alta e tem como principal destino os EUA (UNODC,
2019e).
Após um surto de expansão no consumo de drogas nos anos 1970 e 1980, Portugal adotou, em 2001, uma
política específica sobre o assunto. A posse e consumo de drogas foram descriminalizadas e substituídas
por multas administrativas, avisos ou pelo comparecimento a uma comissão local informativa sobre o
uso dessas substâncias (FERREIRA, 2017).
Nos últimos anos, com a expansão do consumo de drogas na África Oriental, o Quênia destacou-se
como local relevante no comércio de narcóticos. O país se tornou um ponto importante no trânsito de
substâncias como cocaína, heroína e haxixe, derivado da cannabis. Rotas iniciadas no Sul da África, na
América Latina e no Sudeste Asiático passam pelo Quênia no caminho à Europa Ocidental e aos EUA
(OPALA, 2017; UNODC, 2019c).
O Quirguistão é diretamente afetado pela produção da papoula de ópio no Afeganistão. Em 2014, o país
instituiu uma nova política de combate ao uso dessas substâncias cujo objetivo era diminuir a demanda,
em especial, dos derivados da papoula. A principal característica da estratégia é o fortalecimento das
leis de controle de drogas e de mecanismos de sustentação para o cumprimento da lei pelas autoridades
quirguizes (ONU, 2018; QUIRGUISTÃO, 2014).
Em 2017, o Reino Unido lançou uma estratégia para combater o uso de drogas ilícitas, levando em conta
fatores como saúde, educação, moradia e assistência social. As substâncias ilícitas mais utilizadas no
país são a cannabis e a cocaína. Um dado preocupante para o Reino Unido foi o crescimento do número
de mortes por overdose, que chegou a ultrapassar 3 mil em 2015 (EMCDDA, 2018b).
A política antinarcóticos da Suécia baseia-se na perspectiva de uma sociedade livre de drogas, tendo
como estratégia central a redução da demanda e da oferta dessas substâncias. Nesse sentido, verifica-se
um enfoque do governo na execução de medidas preventivas, muito embora haja também um grande
engajamento para com o tratamento e a recuperação de indivíduos com problemas relacionados ao
abuso de drogas. Apesar de veementemente criticada por ser punitiva, a política antidrogas sueca
mostrou-se exitosa, uma vez que, em geral, houve uma redução no número de usuários (SWEDEN,
2019; UN, 2007).
A partir dos anos 1990, a Suíça adotou uma nova estratégia nacional para redução dos problemas
relacionados às drogas, a qual teve por base quatro pilares principais: prevenção, tratamento, redução
de danos e cumprimento da lei. Mediante a execução de medidas que priorizavam o tratamento em
detrimento do aprisionamento e a chamada “terapia assistida por heroína”11, o país logrou reduzir os
índices de criminalidade e desacelerar a disseminação do vírus HIV (COLLIN, 2002; THE GLOBAL
INITIATIVE FOR DRUG POLICY REFORM, 2019).
11 No caso da Suíça, a “terapia assistida por heroína” consistia em uma medida pela qual os pacientes deveriam comparecer a uma clínica
para utilizar, sob supervisão médica, o tipo de heroína prescrita. Nesse sentido, “a ideia era combinar os benefícios do fornecimento pres-
crito (de uma heroína pura, livre de contaminantes e adulterantes e utilizada com um equipamento de injeção limpo) com os benefícios do
acesso regular aos serviços e uso supervisionado em um local seguro e higiênico”, de forma a prevenir também o desvio da heroína prescrita
para o tráfico (TRANSFORM, 2019, online).
Enquanto um Estado pertencente ao Triângulo Dourado, a Tailândia foi, por anos, uma importante
produtora de ópio. Diante dessa realidade, o país implementou uma política bem-sucedida que buscava
substituir a produção de papoulas (das quais derivam o ópio) por outros cultivos. Ademais, a política
antidrogas tailandesa caracteriza-se por uma abordagem de tolerância zero, tanto em relação aos
traficantes - que podem ser punidos com pena de morte - quanto aos usuários. Essas medidas, contudo,
mostram-se bastante controversas, uma vez que, em determinados casos, desrespeitam os direitos
humanos (WINDLE, 2015).
Dividindo parte de sua fronteira com o Afeganistão, o Tajiquistão corresponde à principal rota de
transporte de drogas, como a heroína e o ópio, para a Ásia Central. Diferentemente de alguns países
da região, contudo, a questão dos narcóticos está fortemente enraizada na economia do Tajiquistão,
uma vez que aproximadamente um terço de seu PIB advém do contrabando de drogas. Apesar de
algumas iniciativas e parcerias realizadas com membros da União Europeia e com os Estados Unidos,
a dependência do país em relação à economia das drogas ainda representa um grave problema nacional
(EDINGER, 2016).
Em 2013, a Ucrânia adotou a chamada “Estratégia da Política de Estado sobre Drogas (Narcóticos) até
o ano de 2020”, que, em termos gerais, busca equilibrar a execução de medidas punitivas para o tráfico
de drogas com a disponibilidade de determinadas substâncias para fins médicos. Com essa estratégia,
o país visa à redução tanto da oferta, quanto da demanda por drogas. Além disso, há uma preocupação
com o respeito aos direitos humanos e acesso de pacientes em tratamento a algumas substâncias,
almejando-se reduzir o número de usuários de narcóticos (KIRIAZOVA; DVORIAK, 2015).
A política do Uruguai perante a questão das drogas tem por base a ideia de que abordagens focadas na
manutenção da saúde pública e na garantia dos direitos humanos apresentam-se como mais eficientes
do que medidas punitivas ou proibicionistas. Nesse sentido, o país se destacou por ter sido um dos
pioneiros na regulamentação do mercado da cannabis, acreditando que estratégias desse gênero, em
detrimento de políticas criminalizantes ou proibitivas, também contribuem para o Estado se aproximar
de populações vulneráveis e de usuários de drogas em situações mais críticas (GERNER, 2015).
(2) Qual é a melhor forma de abordar a questão das drogas: por meio de abordagens mais proibicionistas
ou mais liberalizantes?
(3) Que medidas podem ser tomadas entre os países da AGNU para que o tráfico internacional seja
efetivamente combatido?
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2019.
Isabelle Fernandes Caon, Nicole Fankhauser, Rafaela Raphaelli Matos Dal Ben,
Thales Jéferson Rodrigues Schmitt e Vinícius Altair Olaves Marques1
1 Graduandas e graduandos dos cursos de Relações Internacionais e Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
(2) Quais sãos os prós e contras do uso de agrotóxicos ao meio ambiente? E à sociedade? São eles
indispensáveis à produção de alimentos?
INTRODUÇÃO
A Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ANUMA) foi criada em 2012 no
âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável – conhecida também
como Rio+20. Composta por todos os 193 Estados membros das Nações Unidas, a ANUMA conta,
ainda, com a participação de organizações não-governamentais e representantes da sociedade civil,
bem como entidades do setor privado. A Assembleia também caracteriza-se por ser o principal órgão
de gestão e governança do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), criado em
1972 e reconhecido como o primeiro órgão das Nações Unidas a tratar exclusivamente de assuntos
relacionados ao meio ambiente e à sustentabilidade. Ademais, a Assembleia tem como principais
objetivos a construção de um futuro ecologicamente desenvolvido, a proteção do meio ambiente e dos
ecossistemas e o resguardo da saúde humana (CIEL, 2015).
Durante a reunião da ANUMA, o tópico discutido será “O Uso de Agrotóxicos e a Contaminação
do Solo”, um tema de importância ímpar na atualidade tendo em vista as mudanças no padrão mundial
de consumo e da produção de alimentos. Sendo assim, a primeira seção deste guia conta com o histórico
de criação dos agrotóxicos, bem como seu uso e aplicação. A segunda seção trata do conceito de
agrotóxicos e seu funcionamento, de modo a apresentar seus impactos na produção de alimentos e na
saúde humana e ambiental. A terceira seção apresenta as ações internacionais já existentes acerca do
tópico, contemplando convenções, protocolos e demais legislações internacionais. A quarta seção, por
fim, discute brevemente o posicionamento das representações presentes no debate frente ao assunto
apresentado.
1 HISTÓRICO
Na presente seção, composta por três subseções, o tema dos agrotóxicos é apresentado de
modo a contemplar o início de sua utilização intensiva, a partir da Revolução Verde, desenrolada na
segunda metade do século XX. Após, é explicado detalhadamente o que são agrotóxicos e de que modo
eles funcionam, por meio de suas possibilidades de aplicação, com uma maior atenção para seu uso
agrícola.
1.1 ORIGEM
A denominada Revolução Verde foi marcada pela implementação de um novo modelo
tecnológico de práticas e atividades na agricultura, com o objetivo final de melhorar o desempenho e
os índices de produtividade agrícola. Iniciada a partir de 1945, no contexto da Guerra Fria (1945 - 1991),1
a Revolução ocorreu em um momento no qual acreditava-se que a fome e a instabilidade política no
mundo – especialmente na Europa do pós-Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) – estavam diretamente
ligadas à ineficiência da produção de alimentos frente ao rápido crescimento populacional do período
(DUTRA; SOUZA, 2018). Sendo assim, a Revolução Verde significou a expansão das monoculturas2 a
partir da combinação do uso de insumos biológicos (sementes geneticamente modificadas), mecânicos
(maquinário e tratores) e, sobretudo, químicos (fertilizantes e agrotóxicos) (ALBERGONI; PELAEZ,
2007).
1 A Guerra Fria foi um conflito de ordem ideológica, política, tecnológica e militar entre a União Soviética e os Estados Unidos, iniciado
após a Segunda Guerra. Teve seu fim com a extinção da União Soviética em 1991. (ALCADIPANI; BERTERO, 2012).
2 A monocultura é a prática de produzir apenas um único tipo de produto agrícola (ex.: soja, arroz), sendo normalmente feita em grandes
espaços de terra: os latifúndios (ZIMMERMANN, 2011).
3 Processo no qual a energia solar é transformada pelo organismo em energia química por meio de reações luminosas e de fixação de car-
bono (SANTOS, 2019).
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Nesta seção, dividida em duas subseções, serão discutidos os benefícios e os malefícios da
utilização dos agrotóxicos a partir de seus impactos à economia, produção de alimentos, sociedade e
ao meio ambiente. Embora os pesticidas, idealmente, não devessem representar ameaças para espécies
que não os seus alvos, descobertas sobre seus efeitos prejudiciais potenciais ao ser humano e ao meio
ambiente têm provocado desconfianças em torno de seu uso (AKTAR; SENGUPTA; CHOWDHURY,
2009).
Enquanto, por um lado, seus benefícios nas últimas décadas são inegáveis, tendo proporcionado
um aumento enorme na produtividade agrícola, por outro, várias dessas substâncias estão relacionadas
a doenças, como o diabetes em seres humanos, e a fenômenos como o afinamento da casca de ovos de
pássaros - levando à diminuição drástica da população de certas espécies de aves em alguns lugares.
A autora Rachel Carson já denunciava esses efeitos em 1962, quando publicou seu livro Primavera
Silenciosa, e atualmente não são poucas as pessoas que preferem pagar mais caro pelo acesso a produtos
orgânicos (SEXTON; LEI; ZILBERMAN, 2007).
Além do protagonismo dos países, o papel das empresas na discussão acerca da utilização
de agrotóxicos é altamente relevante à medida que a restrição da utilização desses insumos teria um
impacto direto na atividade e nos lucros de várias empresas. Como exemplos do segmento privado,
temos as empresas Syngenta, com sede na Suíça e líder global no mercado de agrotóxicos, e a Bayer
AG cuja subsidiária CropScience produz pesticidas para uso comercial e doméstico em grande escala
(STATISTA, 2019).
o qual pode ser convertido em melhorias para serviços públicos, como a saúde e a educação (AKTAR;
SENGUPTA; CHOWDHURY, 2009).
Entretanto, o uso de agrotóxicos na agricultura também pode provocar prejuízos. Embora a
curto prazo os benefícios sejam claros, com o aumento de produtividade no setor agrícola, os efeitos
dos produtos químicos podem ser fatais a longo prazo. A infestação de pragas é um fenômeno que
envolve incertezas, especialmente para os cálculos dos fazendeiros, e, com o tempo, a tendência é
de que a peste desenvolva resistência ao veneno. A necessidade de evitar esse cenário leva ao uso
excessivo de agrotóxicos por parte dos produtores, mas a prática acaba por tornar-se economicamente
insustentável (WILSON; TISDELL, 2001; SEXTON; LEI; ZILBERMAN, 2007). À medida que a peste
adquire resistência e seus predadores são eliminados, o abandono do uso do agrotóxico (devido ao alto
custo) gera uma situação com uma quantidade maior de pragas do que antes do início do uso.
Há também efeitos secundários negativos para a agricultura, como o impacto em populações
de abelhas cuja taxa de mortalidade é elevada por conta de pesticidas. Como as abelhas estão entre
os principais polinizadores, a produção agrícola é consideravelmente dependente de seu trabalho e,
portanto, sofre prejuízos com o fenômeno de desaparecimento desses insetos, que tem ocorrido de
forma alarmante (AMARO; GODINHO, 2012). A contaminação do solo também pode impedir a rotação
de culturas, com alguns tipos de plantas não se adaptando a áreas alteradas quimicamente. Ainda
assim, o uso de agrotóxicos permanece por conta dos atrativos benefícios de curto prazo. Além disso,
os custos para reverter o processo e parar seu uso são muito altos, tendo em vista que existem muitas
regiões sem acesso à tecnologia sustentável alternativa. Logo, torna-se uma produção economicamente
inviável a longo prazo - ou seja, uma vez que se investe no agrotóxico torna-se ainda mais custoso
reverter o processo por meio da adoção de práticas sustentáveis. Assim, a única saída para muitos
fazendeiros é a crescente intensificação do uso de produtos químicos (WILSON; TISDELL, 2001).
É importante ressaltar que em diversos países, especialmente nos menos desenvolvidos, a falta de
informação também é um obstáculo para limitar o emprego de agrotóxicos.
grandes danos à saúde pública e ao meio ambiente. Diante disso, existem mecanismos e instituições
encarregados da reparação dos danos ambientais e humanitários (SOARES; PORTO, 2007).
Nesse contexto, foram implementados, principalmente por meio da Declaração do Rio de
Janeiro, como valores do direito internacional ambiental o princípio da precaução e o conceito de
responsabilidades comuns, mas diferenciadas. O primeiro pretende promover a preservação do meio
ambiente preventivamente de modo que, existindo dúvidas quanto a possíveis danos ambientais de
alguma conduta, prevaleça a defesa do meio ambiente (BRUNNÉE, 2004). Por sua vez, o segundo
traduz a necessidade de tratar as nações desiguais de forma desigual, logo os países responsáveis pelos
maiores impactos ambientais deveriam se comprometer mais com a proteção do meio ambiente (LIMA,
2009).
KWOKA, 2007). Mesmo com menor relevância direta, esse código foi a base para a criação de convenções
vinculantes posteriores pela FAO, além de estímulo para a tomada de diversas providências para o
controle da produção e uso de agrotóxicos (RAMINA, 2003).
cooperação entre os Estados. Essa falta de precisão gera uma inconsistência de informações, que, por
sua vez, diminui a confiabilidade da base de dados da própria Convenção (VEIGA, 2006).
De todo modo, os 152 países membros tem o poder de proibir a importação de resíduos perigosos,
amparados em um tratado com validação internacional (VAPNEK; PAGOTTO; KWOKA, 2007). Dessa
forma, a Convenção da Basiléia é capaz de regular mais de 80% do total dos movimentos transfronteiriços
desses produtos e apresenta grande importância para a discussão a respeito de agrotóxicos e pesticidas
(VEIGA, 2006).
A Alemanha, como membro da União Europeia, possui uma forte e restrita legislação regional acerca
do uso de fertilizantes e agrotóxicos. As normas garantem que apenas os pesticidas com impacto
ambiental “baixo” podem ser colocados no mercado. Entretanto, esses produtos são amplamente
usados no país, contabilizando cerca de 40 mil toneladas de pesticidas vendidos anualmente (UMWELT
BUNDESAMT, 2014). Fora isso, o país é signatário da Convenção de Roterdã, da Convenção de
Estocolmo, da Convenção da Basileia e do Protocolo de Montreal, comprovando ser um país que busca
cooperar no tema da regulação da produção e uso de agrotóxicos.
Devido a sua localização, a Arábia Saudita não consegue satisfazer a demanda por água e alimentos em
seu território, o que obriga o país a recorrer à importação desses produtos, tornando a nação dependente
da produção mundial de alimentos. Dessa forma, a Arábia Saudita é diretamente afetada pela política
de agrotóxicos implantada nos diversos países com os quais possui relações comerciais, como o Brasil
(FRANCO, 2018).
A agricultura na Argentina tem grande importância econômica, correspondendo à maior parte das
exportações do país. O Estado tem apoiado os grandes agricultores em detrimento da agricultura
familiar e o uso de agrotóxicos é elevado no agronegócio. O governo atual não apresentou medidas
para mudar a situação, mesmo após ser advertido pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU (UNO
ENTRE RIOS, 2018).
O elevado uso de agrotóxicos em Bangladesh é responsável pela contaminação das áreas rurais do país,
causando danos severos à população. O Estado baniu uma lista de agrotóxicos altamente perigosos em
2000, o que diminuiu a mortalidade por contaminação sem prejuízos à agricultura. Entretanto, ainda
há um grande obstáculo no que diz respeito à falta de informação dos agricultores (CHOWDHURY et
al., 2018).
A Bayer CropScience é um subgrupo da empresa alemã Bayer AG que produz pesticidas para uso
agrícola e controle de pestes não-agrícolas, bem como sementes e equipamento para o campo. Em
2016, sua receita foi de quase dez bilhões de euros (STATISTA, 2019). Recentemente, porém, estudos
trouxeram à tona uma possível conexão de alguns dos pesticidas produzidos pela empresa com a morte
de abelhas na Europa, levando a França a banir cinco desses compostos (SAMUEL, 2018).
O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, assim como o maior consumidor de
agrotóxicos em números absolutos, movimentando cerca de 20% do mercado global de agroquímicos e
aumentando o emprego de agrotóxicos constantemente no país. Além disso, atualmente, o debate sobre
a regulamentação de pesticidas tomou novas proporções no país em razão da apresentação de um novo
projeto de lei4 para a regulamentação de agrotóxicos (VASCONCELOS, 2018).
O Canadá possui uma Agência Reguladora de Manejo de Pragas que regulamenta todos os pesticidas
no país (CROPLIFE CANADA, 2019). Assim, os agrotóxicos só podem ser vendidos depois de serem
registrados, processo que permite o registro de pesticidas apenas para usos específicos (MCEWEN,
2013). Além disso, o Canadá é signatário da Convenção de Roterdã, da Convenção de Estocolmo, da
Convenção da Basileia e do Protocolo de Montreal, comprovando ser um país que busca cooperar no
tema da regulação da produção e uso de agrotóxicos.
A China é o maior consumidor mundial de pesticidas, usando cerca de 1,8 milhão de toneladas por ano
(FAO, 2018). Sendo um dos primeiros países a utilizar esses produtos, copiando a prática dos Estados
Unidos, a China depende deles principalmente para o cultivo de arroz (PARIONA, 2017). Contudo, o
uso excessivo dessas substâncias em algumas regiões tem provocado problemas de saúde pública. A
Organização Mundial da Saúde estima que ocorram cerca de 100.000 casos de intoxicação por pesticidas
por ano no país (XU et al., 2008).
A Colômbia sofreu com conflitos armados por anos até a assinatura de um tratado de paz entre o
Estado colombiano e as milícias; porém, as cicatrizes desse duradouro conflito permanecem no país,
especialmente os danos causados pela liberação do agrotóxico glifosato5 por aviões usados para
destruir os campos de coca da nação (LE PALISQUOT, 2015). A dispersão aérea do herbicida, também
conhecido como “mata-mato”, provocou o banimento da substância do país após constatado seu
potencial cancerígeno e seus danos ao meio ambiente (GONZALEZ, 2017)
A Costa Rica apoiou-se, durante as últimas décadas, em um modelo agroindustrial baseado na expansão
4 Projeto de Lei (PL) nº 6.299/02.
5 Potencial causador de câncer, conforme a Organização Mundial da Saúde.
de monoculturas, estando 61% das terras plantadas em seu território voltadas à exportação. Por essa
razão, o país historicamente mostrou-se muito permissivo à utilização de agrotóxicos, de tal forma
que, em 2011, afirmou-se como o maior consumidor de pesticidas do mundo. Essa realidade, contudo,
tem produzido efeitos extremamente negativos ao território costarriquenho, como ilustrado pela
contaminação dos lençóis freáticos e pela intoxicação de inúmeros trabalhadores rurais (FAO, 2011).
Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental (sigla em inglês EPA) é a responsável pela
regulamentação de pesticidas, sob a autoridade do Ato Federal sobre Inseticidas, Fungicidas e
Rodenticidas (FIFRA) de 1947. Nenhum pesticida pode legalmente ser comercializado ou usado a não
ser que tenha um número de registro na EPA (CALVERT et al., 2010). Todos os pesticidas considerados
Poluentes Orgânicos Persistentes pela Convenção de Estocolmo constam como banidos ou severamente
restringidos nas listas da Agência (BUFFINGTON; MCDONALD, 2002). O país, ainda assim, é o
segundo maior consumidor desses produtos, usando cerca de 400 mil toneladas por ano e estando atrás
apenas da China (FAO, 2016).
A França ganhou destaque em 2018 ao ser o primeiro país da Europa a banir cinco pesticidas vendidos
em grandes quantidades pela Bayer. Essas substâncias, conhecidas como neonicotinoides, são suspeitas
de estarem conectadas com a diminuição das populações de abelhas na Europa (SAMUEL, 2018). O país
continua, entretanto, sendo um dos maiores consumidores de pesticidas no mundo e o segundo maior
na Europa, usando cerca de 60 milhões de toneladas desses produtos por ano (PARIONA, 2017). Desde o
pós-guerra, herbicidas, fungicidas e inseticidas sintéticos contribuíram para um aumento considerável
do rendimento das plantações francesas.
O Greenpeace, organização não-governamental (ONG) fundada no Canadá em 1971, é uma das ONGs
mais ativas na fiscalização do uso de agrotóxicos em todo o globo, atuando sempre em favor da proteção
ambiental. A organização posiciona-se terminantemente contra o uso de agrotóxicos, alegando que o
seu uso destrói recursos e sustenta um modelo de produção injusto, colocando em risco a saúde de
trabalhadores e consumidores. Para tanto, o Greenpeace sugere que sejam encontradas outras formas
de suprir a demanda mundial de alimentos, que não envolvam pesticidas e possam ser concretizadas
por meio de mudanças graduais (GREENPEACE, 2019).
Na Índia, o uso de pesticidas foi essencial para a redução da fome e da dependência de ajuda externa.
Entretanto, o uso de pesticidas tóxicos tornou-se notícia com a morte de fazendeiros e trabalhadores
rurais na região conhecida como Yavatmal. Além disso, o mercado indiano para produtos orgânicos
tem crescido a uma taxa de 25% ao ano, superior à média global de 16% (GOWEN, 2018).
O Irã é um país historicamente permissivo à utilização de agrotóxicos, fato que o leva, nos dias atuais,
a ter mais cautela e a estimular o desenvolvimento de alternativas que visem à redução do papel dos
pesticidas na produção agrícola nacional. O Irã, além disso, carece de infraestrutura adequada para
medir e monitorar o uso dos insumos químicos, mostrando-se, por essa razão, ainda mais vulnerável
aos efeitos negativos desses produtos (FAO, 2015).
No Japão, o mercado de produtos orgânicos encontra-se muito menos desenvolvido do que o norte-
americano ou o europeu, ocupando apenas 0,4% do PIB, em contraste com os 2% ocupado nas duas
outras regiões (MCCURRY, 2015). Em 2006, o país introduziu um sistema chamado Sistema de Lista
Positiva, que estabelece um nível limite para a presença tolerável de químicos em alimentos (SATO,
2017).
No México, o uso de pesticidas é uma prática frequente na agricultura, mas a quantidade real utilizada
não é conhecida totalmente (ORTÍZ; AVILA-CHÁVEZ; TORRES, 2013). Assim, a grande maioria dos
pesticidas são utilizados para culturas de exportação e não alimentares, como algodão e tabaco, e há
pouco controle sobre o uso e manejo correto de agrotóxicos (ALBERT, 2019).
Os Países Baixos se destacam com sua agricultura, uma das mais fortes da Europa, e por sua média
de pesticidas por unidade de terra ser bastante alta. De acordo com indicadores da FAO (2018), o país
emprega cerca de 10 quilogramas de agrotóxico por hectare. Ademais, os Países Baixos são signatários
da Convenção de Roterdã, da Convenção de Estocolmo, da Convenção da Basileia e do Protocolo
de Montreal, comprovando sua vontade em cooperar internacionalmente no tema da regulação da
produção e uso de agrotóxicos.
O Paquistão permite o uso de diversos agrotóxicos danosos à saúde humana, os quais chegam à
população por lençóis freáticos contaminados. Agricultores usam os químicos além do necessário e
até de forma errada, especialmente nas plantações de algodão. Por ser um país menos desenvolvido, há
também os obstáculos da falta de informação e da falta de alternativas mais modernas e sustentáveis ao
controle de pestes (TARIQ et al., 2007).
O Reino Unido se encontra em uma das regiões mais rígidas quanto ao controle de agrotóxicos no
mundo, a União Europeia. Em razão disso, diversos pesticidas usados no restante do mundo são
proibidos para uso em seu território (BRITO, 2018). Contudo, a instável situação em que se encontra
quanto à saída da nação da União pode abalar o entendimento do país acerca das políticas de regulação
de agrotóxicos.
A Rússia tem apresentado, nos últimos anos, grandes avanços no setor agrícola, focando sobretudo
na produção de açúcar e de sementes a fim de impulsionar sua economia (MEDETSKY, 2017). O país
mostra-se historicamente permissivo à utilização de pesticidas, porém tem recentemente dado maior
atenção à produção de alimentos orgânicos por meio do desenvolvimento de uma nova legislação
destinada à regulamentação desse mercado (AGROBERICHTEN BUITENLAND, 2018).
Na Suíça, em 2016, o uso de herbicidas diminuiu cerca de 27% nos últimos oito anos, enquanto o de
inseticidas aumentou, mantendo o volume do consumo de pesticidas, em geral, relativamente o mesmo
(SWISSINFO, 2018). O ato do governo do país de aumentar a quantidade máxima permitida de resíduos
de agrotóxicos em rios recebeu críticas de várias ONGs (LE NEWS, 2018).
A Tailândia é, atualmente, o quarto país do mundo que mais consome agrotóxicos, utilizando 87
milhões de quilogramas deles, por ano, em suas plantações e figurando no ranking atrás apenas da
China, dos Estados Unidos e da Argentina (PARIONA, 2017). O uso de agrotóxicos é intensivo na
produção agrícola tailandesa e não enfrenta regulações severas por parte do governo, tendo em vista
que o país carece de um sistema apropriado para a administração e o controle da utilização desses
insumos (PANUWET et. al, 2012).
uma legislação relativamente frágil nesse aspecto (COSTA, 2018). O país, por outro lado, vem há anos
apresentando esforços com o intuito de ingressar na União Europeia e tem, portanto, reduzido a
utilização de agrotóxicos na agricultura nacional (PESTICIDE, 2009).
O Vietnã tem investido fortemente na redução do uso de agrotóxicos para produção agrícola,
tendo realizado com relativo sucesso um experimento em larga escala de conscientização popular,
chamando a atenção de outros países da região. A medida de controle de pesticidas tende a aumentar
a competitividade dos produtos agrícolas vietnamitas no comércio internacional. Ainda assim, as
importações de agrotóxicos são altas e é necessário que se estabeleça uma legislação mais rígida
(NORMILE, 2013).
(2) Quais países estão mais envolvidos no uso, comercialização e produção de agrotóxicos? Como essas
nações podem regular essas práticas em seu território? E como a comunidade internacional pode
participar desse processo?
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CONSELHO DE DIREITOS
HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS
Armamento Civil e Direitos Humanos:
Desafios e Consequências
1
Graduando e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
(2) Os Estados devem permitir a posse e/ou o uso de armas por parte da população civil? Se sim, como?
INTRODUÇÃO
O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH) é um órgão auxiliar da Assembleia
Geral das Nações Unidas1, responsável por reforçar a promoção e proteção dos direitos humanos
em todo o mundo. Um dos três pilares das Nações Unidas, junto com o desenvolvimento e a paz e
segurança, os direitos humanos são definidos como direitos pertencentes a todos os seres humanos,
independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição
(CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS, 2019).
O Conselho possui 47 Estados membros, eleitos pela Assembleia Geral da ONU para mandatos
de 3 anos. A escolha dos Estados leva em consideração tanto a contribuição das nações candidatas à
promoção e proteção dos direitos humanos quanto uma distribuição equilibrada das representações
em relação às regiões do globo (CDHNU, 2019). Cabe ao CDH pensar sobre como melhor aplicar os
direitos humanos e como lidar com as situações de violações dos mesmos. Os resultados das discussões
do Conselho são divulgados no formato de resoluções não vinculantes, o que significa que os Estados
membros da ONU não são obrigados a cumprir o que foi acordado no Conselho, embora sejam
fortemente estimulados a fazê-lo pois cada Estado é responsável por assegurar o bem-estar de sua
população e lhes assegurar as condições mínimas de segurança. Caso isso não ocorra, o país em questão
pode ser cobrado no âmbito internacional e sofrer penalidades por parte dos outros Estados (CDHNU,
2019).
Atualmente, casos de tiroteios em massa como o ocorrido em Christchurch, na Nova Zelândia,
crescentes índices de violência urbana em diversos países e os debates nacionais e internacionais sobre
políticas de combate à violência, têm chamado atenção para questões referentes à posse de armas
de fogo por civis. Observou-se que, no mundo, grande parte dos homicídios da última década foram
causados por armas de fogo. Assim, governos e estudiosos ao redor do mundo vêm debatendo políticas
de acesso a armas (ANISTIA INTERNACIONAL, 2019).
Ainda assim, muitas vezes, os direitos humanos, um elemento essencial nessas considerações,
são esquecidos dentro dos debates. Dessa forma, o CDH está unicamente posicionado para trazer esse
debate à esfera internacional abarcando os mais diversos aspectos da questão. Nesse sentido, este guia
busca discutir a regulamentação da posse de armas por civis em tempos de paz e sua relação com os
direitos humanos, destacando-se que “tempos de paz” não excluem, necessariamente, a existência de
hostilidades, tensões e crimes. Dessa forma também serão abordadas as diferentes práticas adotadas
pelos Estados em relação ao acesso de armamentos pelos civis e quais seus impactos nos índices de
violência e na proteção de direitos em cada sociedade.
1 VISÃO GERAL
Em 2016, registrou-se no mundo um total de 251 mil mortes decorrentes de ferimentos causados
por armas de fogo; isso equivale a um pouco mais de três estádios do Maracanã lotados2. Deste total, a
metade dessas pessoas concentravam-se em 6 países, todos do continente americano: Brasil, Estados
Unidos, México, Colômbia, Venezuela e Guatemala (IHME, 2018). Armas de fogo são definidas como
“qualquer arma portátil com cano que dispare, seja projetada para disparar ou possa ser prontamente
transformada para disparar bala ou projétil por meio da ação de um explosivo” (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 2001b, p. 2).
As armas de fogo apresentam características que facilitam sua utilização e portabilidade, como
1 É um dos principais órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU) e é justamente o órgão em que todos os Estados possuem uma
representação fixa. Nesse órgão, são discutidos os problemas mais amplos do Sistema Internacional, as questões coletivas, o orçamento da
ONU, dentre outros tópicos.
2 O Estádio do Maracanã tem capacidade para receber 78.838 pessoas (INOVA, 2019).
seu peso, tamanho, durabilidade e letalidade, tornando-se assim instrumentos que facilitam ações
violentas (BUENO, 2004). Esses objetos estão diretamente associados aos índices e níveis de violência
no mundo, já que, diferentemente das armas impróprias, que têm como objetivos primordiais atividades
além do dano, como facas e tesouras, as armas próprias, nas quais estão inclusas as armas de fogo,
são produzidas justamente para potencializar a possibilidade de defesa ou ataque de quem as utiliza,
representando uma considerável ameaça a vida (BANDEIRA; BOURGOIS, 2005; BRASIL, 2014).
Duas questões essenciais quando se tratando de armas de fogo estão ligadas a possibilidade de
civis, ou seja, pessoas que não fazem parte das Forças Armadas de seu país, ter uma arma e de poder
carregá-la consigo. A posse de armas, caracterizada pela permissão de obtenção das armas de acordo
as especificidades da legislação de cada país, permite que o indivíduo compre uma arma e, assim,
possa manter ela em casa sem complicações legais. O porte de armas, geralmente mais regulado pelas
leis nacionais, confere ao indivíduo a possibilidade de levar a arma sob sua responsabilidade. Tanto a
posse quanto o porte de armas de fogo não alteram a quantidade dos índices gerais da violência, mas
sua presença é decisiva na gravidade dos resultados (MATIAS, 2018), haja vista que assim como a posse
de armas viabiliza a defesa pessoal e facilita a ocorrência de acidentes, o porte de armas é um fator
agravante no número de acidentes e mortes envolvendo armas de fogo, podendo aumentar a letalidade
de confrontos violentos e o prolongamento da violência (BUENO, 2004).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência é definida como “o uso intencional
de força física ou poder, ameaçado ou real, contra si mesmo, outra pessoa ou comunidade, que resulta
ou pode resultar em ferimentos, morte, danos psicológicos, mau desenvolvimento ou privação” (2002,
p. 4). As práticas violentas são comumente relacionadas a diversos fatores sociais – como a cultura,
educação e oportunidades – e aos fatores transversais (também chamados de variáveis de risco, como o
fácil acesso a armas e o consumo de álcool) de uma população. Quanto maiores forem as possibilidades
e combinações desses fatores (como situações de desigualdade econômica unidas à facilidade de acesso
a armas), maiores serão as condições favoráveis para o desenvolvimento de atitudes e atos violentos
(OMS, 2014).
A questão da violência e o uso de armas se manifesta também no que concerne um ciclo no
qual a insegurança faz com que os indivíduos comprem uma arma, tornando-os mais suscetíveis a
agir e reagir com violência, trazendo mais insegurança para si e para outros indivíduos que os cerca,
que podem se sentir vulneráveis e adquirir uma arma para se defender dessa possível violência. Nesse
cenário, fica evidente que as armas de fogo exercem danos para além dos físicos, como os psicológicos
e emocionais. Esses danos não-letais são suficientes para aumentar o sentimento geral de insegurança
e os índices de violência, além do aumento dos custos com policiamento e com sistemas de saúde
(BANDEIRA; BOURGOIS, 2005).
Todos os dias, 688 pessoas morrem no mundo por ferimentos causados por armas de fogo
(IHME, 2018). Apesar de ser uma ferramenta amplamente utilizadas em conflitos e guerras, as armas de
fogo têm seu uso disseminado em países e regiões tidas como pacíficas. Os maiores índices de violência
armada e homicídios por arma de fogo são registrados em países que não se encontram em conflito,
como é o caso de Honduras, El Salvador e Costa do Marfim – os três primeiros países no ranking
de maior número de homicídios per capita, tendo cada um 913, 688 e 591 mortes a cada 1 milhão de
habitantes, respectivamente. Nesse sentido, também são relevantes os índices de total absoluto, ou
seja, onde morrem mais pessoas fruto de homicídio. Também nesse caso, os primeiros colocados da
lista são países ditos “em paz”: Brasil (com 40.944 mortes por ano), Índia (40.752) e México (25.757)
(NATION MASTER, 2019).
Esses números estimularam renovada atenção à questão da letalidade das armas e reforçaram a
importância da reflexão acerca da necessidade ou não de controlar a posse e o porte de armas de fogo
por civis (ONU, 2015). Um dos principais debates compreende o argumento de que a posse de armas é
um direito fundamental para o ser humano no que tange seu direito de defesa individual (LEITE, 2015).
De acordo com o terceiro artigo da Declaração dos Direitos Humanos3 “todo ser humano tem direito à
vida, à liberdade e à segurança pessoal” (AGNU, 1948, p.4).
Esse argumento não é majoritariamente aceito, sendo rebatido por aqueles que defendem a
noção de que as armas representam um risco para a vida de todos envolvidos. Há estimativas de que
a taxa de crimes violentos tende a crescer de 13 a 15% quando aprovadas leis que facilitam o acesso
3 A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um documento elaborado em 1948 na Assembleia Geral da ONU com o objetivo de
estabelecer formalmente, pela primeira vez, a proteção universal e sem restrições dos direitos humanos, além de estabelecer quais seriam
esses direitos (AGNU, 1948).
às armas a população (DONOHUE; ANEJA; WEBER, 2018), o que aponta a contradição existente
entre a proteção individual e a coletiva, já que as armas não são um fator determinante na segurança
dos indivíduos e muitas vezes aumentam o grau de violência de eventos envolvendo esses objetos
(BANDEIRA; BOURGOIS, 2005).
Ao considerarmos os dados sobre o armamento civil no mundo, surge a necessidade de debater
políticas de controle das armas de fogo, apesar da dificuldade de estabelecer um debate internacional e
de se comparar situações e conjunturas completamente distintas vividas pelos diferentes Estados que
compõem o comitê. Torna-se necessário, então, ponderar sobre as diferentes realidades de cada país,
além de seu contexto social e cultural e não apenas o nível de controle de armas no índice de violência.
A partir dessas informações, o Conselho dos Direitos Humanos busca discutir a regulamentação
da posse de armas por civis em tempos de paz e sua relação com os direitos humanos e as políticas de
acesso ou restrição de acesso a armas de fogo. Além disso, busca-se compreender os meios pelos quais o
comitê pode orientar os Estados na formulação de regulamentações para a aquisição de armas por civis,
sendo considerado que cada país faz uso de suas próprias referências culturais, políticas e históricas
para defender seu ponto de vista acerca do controle de armas, não havendo uma única opinião e posição
sobre o tema (BRASIL, 2014).
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Ao fazer uma análise das discussões que cercam a posse e o porte de armas de fogo por civis,
percebe-se a grande relevância do debate sobre quais seriam as melhores e mais efetivas políticas
nacionais de acesso a armas. Nesse sentido, buscando maneiras de compreender a dicotomia entre a
proteção dos direitos humanos individuais e dos coletivos e entender mais profundamente a questão da
posse de armas por civis e sua relação com os direitos humanos, essa sessão, primeiramente, apresentará
argumentos a favor e contra a posse de armas, sua relação com os direitos humanos, alguns dados sobre
as consequências de cada escolha e, em seguida, quatro estudos de caso para ilustrar como essa questão
se desenvolve empiricamente de acordo com a realidade de cada país.
quais falam sobre o direito à vida e segurança pessoal e sobre o direito à propriedade, respectivamente.
Essa linha argumentativa seria fortalecida também por estudos como realizado pelo Centro de
Pesquisa para a Prevenção de Crimes dos Estados Unidos em 2018 que afirmam que permitir a posse
de armas com o objetivo de autoproteção pode ter o potencial de salvar vidas. Ressalta-se que no caso
tratado pelo estudo, um fator que se mostrou importante para esse resultado positivo foi o aumento da
compra de armas por parte de grupos que anteriormente compravam menos, como as mulheres e os
negros, contribuindo para a diversificação do grupo populacional que possui armas. Essa mudança de
comportamento dos consumidores foi atribuída parcialmente à redução nos preços das licenças para
a posse de armas (LOTT; WHITLEY; RILEY, 2015). Contudo, a controvérsia se encontra justamente
no fato de que estudos que têm esse tipo de resultado favorável ao argumento pró-posse são ainda
minoritários dentro da comunidade acadêmica.
Como contra-argumento, aqueles que são contra a posse de armas por civis defendem que o
direito à legítima defesa não deve pôr em perigo a vida e os direitos de outras pessoas, apontando
justamente para o aumento no número de mortes e nas estatísticas de violência quando há um maior
número de armas de fogo nas mãos de civis, segundo a grande maioria de estudos. Hoje, existem mais
dados que demonstram que menos armas equivalem a menos crimes, ao invés de corroborarem o
cenário mencionado acima, de que a presença de armas ajudaria na segurança geral. Além disso, esse
grupo afirma que a proteção de cada um e do direito à propriedade deve ser realizada pelo Estado, o
qual é juridicamente responsável por garantir esses direitos e que possui mais meios para realizar isso
(CERQUEIRA; MELLO, 2012).
Outro argumento levantado, ainda no campo dos direitos humanos, é o de que todos deveriam
ter direito à não interferência em sua vida privada e ao direito de escolher possuir ter uma arma, caso
a pessoa julgue necessário a ela mesma. Segundo aqueles que defendem esse argumento, isso estaria
escrito de certa forma no artigo XII6 da mesma Declaração supramencionada, o qual versa sobre a vida
privada de cada ser humano (CERQUEIRA; MELLO, 2012).
Há ainda quem defenda a posse de armas para usos em atividades recreativas e/ou esportivas e
por tradições culturais, defendidas especialmente nos artigos XXIV e XXVII7 da Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Nesse sentido, criticam as restrições à posse de armas por civis, afirmando que
essas proibições vão contra os direitos de cada cidadão de fazer suas próprias escolhas no que tange
sua vida privada. Além disso, alguns defensores da posse afirmam que a posse de armas pela população
seria uma maneira de possibilitar as lutas contra governos ditatoriais e tiranias, quando necessário,
o que estaria assegurado na Declaração, quando esta menciona, entre outros, o direito à liberdade de
opinião e de expressão e ao voto (CERQUEIRA; MELLO, 2012).
No entanto, segundo os que são contra a posse por civis, todos esses argumentos seguem
esbarrando na ideia de que o direito individual não deve ultrapassar os limites dos direitos e da proteção
do coletivo. E que optar por liberar a posse de armas para a população, ainda que pudesse trazer alguns
ganhos positivos, no soma geral das consequências, seria prejudicial à sociedade, porque aumentaria as
taxas de homicídios, acidentes fatais e, muito provavelmente, suicídios, uma vez que diversos estudos
têm apontado uma forte correlação entre a disponibilidade de armas de fogo e a ocorrência de suicídios
(CERQUEIRA; MELLO, 2012).
Outro ponto importante para o debate é o que toca na questão relativa ao “ciclo” da insegurança.
Esse “ciclo” é, na verdade, a síntese que se pode fazer a partir da explicação de alguns estudiosos sobre
as consequências da introdução de algum fator que causasse um aumento na violência, neste caso,
a liberação da posse de armas em uma sociedade. Seu funcionamento é: em determinada sociedade
existe um nível de insegurança relativa à violência (seja urbana ou rural), essa insegurança aumentaria
na medida em que a violência aumentasse caso a posse de armas fosse permitida aos civis. O Estado
então teria que gastar cada vez mais em setores que não são produtivos (ou seja, que não dão retorno
financeiro) como o policiamento, isso levaria a menos gastos em setores produtivos, diminuindo os
índices de desenvolvimento do país, o que leva ao aumento da quantidade de pessoas em situação de
6 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: “Artigo XII - Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua
família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra
tais interferências ou ataques” (AGNU, 1948, p.8).
7 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: “Artigo XXVII - 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida
cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios” (AGNU, 1948, p.14-15). “Artigo
XXIV - Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas perió-
dicas” (AGNU, 1948, p.14-15).
vulnerabilidade8, o que causa mais insegurança coletiva, fechando o “ciclo” (ADORNO, 1999).
Essa relação entre problemas econômicos e vulnerabilidade e insegurança está diretamente
ligada a observação de que as pessoas que fazem parte de uma parcela vulnerável e marginalizada
da sociedade são justamente as maiores vítimas das violações de direitos humanos e da violência.
Justamente porque, na prática, são aqueles que dispõem de menor acesso à proteção do Estado
e de menos condições para fazer pressão sobre as autoridades públicas, de modo a influenciarem a
implementação de políticas públicas que os ajude ou garantam que seus direitos sejam protegidos e
assegurados (ADORNO, 1999).
De maneira geral, é bastante claro em pesquisas que uma maior disponibilidade de armas
de fogo tende a aumentar seu uso. Além disso, percebe-se que as taxas de acidentes e suicídios são
maiores entre os profissionais que trabalham armados (como policiais), sendo que esses incidentes são
associados não só ao caráter estressante da profissão, mas principalmente à disponibilidade de armas
de fogo (KAHN, 2002).
Um outro questionamento relevante ao debate é: até que ponto a justificativa utilizada para a
posse de uma arma realmente corresponde ao real motivo dessa compra. O ato de adquirir uma arma
de fogo parece mais frequentemente consequência de um desejo ligado a uma combinação de desejo e
frustração do que à necessidade e à busca pela segurança pessoal e coletiva. Esse entendimento se liga
ao modo como a mídia frequentemente retrata as armas e seus donos, atribuindo uma noção de poder
à posse desse objeto. Esse tratamento não é, de forma alguma, despropositado ou gratuito, uma vez
que fortalece a ideia de que as armas de fogo seriam um objeto de desejo por parte dos consumidores,
fortalecendo assim a posição e os interesses das indústrias bélicas que positivam o uso de armas como
uma forma de exercer direitos e liberdades, de forma a aumentar sua lucratividade e espaço no mercado.
Nesse sentido, salienta-se que a produção de armas de fogo possui um peso importante na economia de
diversos países, como os Estados Unidos e Israel. De forma que os grupos que controlam as empresas
fabricantes desses produtos, acabam ganhando bastante peso na política doméstica desses Estados
(BURNETT, 2015).
Em muitos países, a questão do armamento civil e mais especificamente do direito ou proibição
de os cidadãos possuírem e utilizarem armas de fogo tem estado no centro das discussões políticas.
Isso está diretamente ligado ao fato de estarem ocorrendo diversas situações que chamam ainda mais
a atenção para esse antigo debate. Dentre essas ocorrências pode-se citar: o aumento da proliferação
de armas pequenas e armamento leve que amplificou a ocorrência de violência armada em diversos
lugares, fortaleceu a capacidade dos terroristas no Afeganistão e Iraque, permitiu a consolidação
de cartéis de drogas na Colômbia e tem causando um aumento nas taxas de homicídios por todo o
continente africano (CREIGHTON LAW REVIEW, 2011).
Ainda assim, é necessário diferenciar o contexto do qual estamos tratando quando vamos
discutir a posse de armas de fogo. Neste guia, o foco está em discutir o contexto de países que vivem um
período de “paz”, ou seja, nações que não se encontram em guerra nem em um conflito generalizado
interna ou externamente. Situações em que há guerras ou grandes conflitos, sem dúvida, requerem uma
análise diferente. Por exemplo, em casos em que há conflitos dentro da sociedade de um mesmo país
(devido a motivos como tensões étnicas, rixas internas ou crime organizado), a presença de armas tende
a dificultar a resolução das hostilidades e a aumentar o índice de criminalidade. Isso dificultaria ainda
mais a retomada do controle estatal e as tentativas de normalização do contexto nacional, de forma que
todas as tentativas de fim do conflito poderiam se ver frustradas pela falta de capacidade das forças
estatais de lidar com uma população dividida, polarizada e armada (MARENIN, 2005).
Além do contexto, um determinante que tem um enorme impacto em quais serão as consequências
das leis em relação à posse de armas em cada país é a sua cultura em relação às armas de fogo. Ou seja,
o resultado da legislação e as taxas de violências estão ligados à visão da sociedade e à sua cultura
(WRIGHT, 1988).
Por último, no que tange às legislações em si, existem diferentes tipos de controles à posse
de armas de fogo por civis. As leis podem proibir completamente a posse de qualquer tipo de arma
de fogo, como também podem apenas restringir por calibre e/ou tipo de arma. Podem haver licenças
condicionadas a que a pessoa que solicite o porte passe por alguns testes. Além disso, estas licenças
podem ser separadas de acordo com o objetivo e justificativa que o requerente apresentou, como por
exemplo: para caça, tiro esportivo, autodefesa ou porte oculto. Também pode-se restringir a compra
8 Pessoas em situação de vulnerabilidade são aquelas que por questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência ou orientação
sexual, são mais suscetíveis à violação de seus direitos.
sendo escolha dos agentes locais de cada unidade federativa aplicá-la ou não. Sendo assim, é possível
inclusive que existam estados com uma regulamentação mais flexível que a federação (GUNPOLICY,
2019). Segundo um estudo de Fleegler et al. (2013), há uma grande variação no número de mortes entre
os estados com leis sobre armas mais rígidas e aqueles mais flexíveis. Ainda o artigo mostra que, quanto
maior o grau de regulamentação de armas, menores eram as mortes registradas por arma de fogo, e
quanto mais flexíveis essas leis, maior o número de mortes – tanto por homicídios quanto por suicídios.
O estado americano com maior número de mortes por arma de fogo entre 2007 e 2010 é o estado
de Louisiana, com 17,9 mortes a cada 100 mil habitantes. A regulamentação de Louisiana não tem
uma regulação específica para rifles, armas longas e armas de pequeno porte, além de permitir o porte
ostensivo (sem que a arma esteja encoberta) de armas pequenas e longas e autorizar o porte encoberto
de armas pequenas com uma permissão do governo. Já o estado com menor número de mortes é o
Havaí, com 2,9 mortes. O Havaí, diferentemente de Louisiana, exige uma permissão ou licença do
governo para que uma pessoa tenha a posse de armas longas, rifles e armas pequenas. Em relação ao
porte ostensivo de armas, o estado permite o de armas pequenas sem a necessidade de uma licença,
mas exige a permissão do governo para o de armas longas. É permitido o porte encoberto de armas
pequenas apenas com uma licença do estado, mas também fica sob o critério das autoridades locais
(FLEEGLER et al., 2013; THE GUARDIAN, 2013).
Segundo a ONG Violence Policy Center (apud ALESSI, 2019, p. 1), “para cada criminoso morto
por um civil em autodefesa, ocorrem outras 34 mortes com arma de fogo, 78 suicídios e duas mortes por
disparo acidental”. Até 2018, cidadãos estadunidenses possuíam 40% das armas no mundo (SCHAEFFER,
2018), apenas no ano de 2019, até 26 de julho, foram registrados 22 tiroteios em escolas no país (LOU;
WALKER, 2019) e no dia 28 de julho um adolescente abriu fogo no Gilroy Garlic Festival (Festival de
Alho Gilroy, tradução nossa) na Califórnia, deixando 3 mortos e 12 feridos (AFP, 2019). De acordo com
um estudo da Universidade Stanford, mortes por massacres por arma de fogo nos Estados Unidos têm
aumentado nos últimos anos, sendo que 5 dos mais letais aconteceram desde 2007 (WATLING, 2019).
Além dos massacres, que podem possuir uma ligação mais lógica e direta com uma
regulamentação flexível, o livre acesso às armas colabora também para outros âmbitos da violência nos
Estados Unidos. Mais da metade das vítimas de violência doméstica no país, por exemplo, são mortas
com armas de fogo, e 92% das mortes de mulheres por arma de fogo em países desenvolvidos ocorreram
nos Estados Unidos no ano de 2015. Mesmo que a arma não seja utilizada para ferir fisicamente uma
mulher vítima de violência doméstica, porém, ela frequentemente é usada como forma de aumentar
ameaças, considerando que violência doméstica abarca não apenas a agressão física, mas também a
psicológica e emocional (EVERY TOWN RESEARCH, 2019). Além disso, de acordo com um estudo,
mulheres em relações abusivas ameaçadas com arma de fogo tem sintomas psicológicos mais graves
que aquelas que sofreram outros tipos de violência (SULLIVAN; WEISS, 2017).
2.2.2 JAPÃO
O Japão é um dos países em que a regulamentação de armas é bastante rigorosa e bem-sucedida.
As armas são controladas no país desde o final do século XVI e, após a Segunda Guerra Mundial,
o pacifismo passou a ser uma das filosofias dominantes no país, fazendo com que esse controle se
tornasse mais severo (LIBRARY OF CONGRESS, 2019). O processo para obter a permissão de posse
é demorado e trabalhoso e envolve a participação em aulas teóricas, uma prova escrita, uma avaliação
psicológica, um teste de drogas e um comunicado à polícia, informando exatamente em que parte da
casa guardará a sua arma (THE ATLANTIC, 2012).
O objetivo da regulamentação é fornecer medidas relevantes para prevenir a população dos
perigos e danos causados pela posse de armas9, visto que a ideia de que menos armas em circulação
resultarão em menos mortes é bastante defendida entre os Japoneses. De modo geral, o país tem uma
baixa taxa de homicídios e há poucas mortes por arma de fogo. Por outro lado, a taxa de suicídio é muito
alta, o que traz questionamentos quanto a uma possível elevação ainda maior desse número em caso de
uma regulamentação menos rígida em relação a posse de armas de fogo (LIBRARY OF CONGRESS,
2019).
O controle rígido de armas combinado com o respeito pela lei levou a uma relação mais
harmoniosa entre civis e policiais. Na maioria dos casos, a polícia usa combinações de golpes de artes
marciais ou armas de impacto, optando assim por usar a força sub-letal nas pessoas, diminuindo
9 A posse de armas no Japão pode se referir a armas de fogo ou espadas (LIBRARY OF CONGRESS, 2019).
dentre a população o medo de serem atingidos por armas de fogo e, assim, as pessoas sentem menos
necessidade de se armarem, levando ao que se considera um sucesso em termos de regulamentação da
posse de armas (WELLER, 2018).
2.2.3 NIGÉRIA
Outro caso a ser analisado é o da Nigéria. De acordo com dados do Gun Policy (2019), o país
possui uma regulamentação considerada permissiva — em outras palavras, uma regulamentação
que não proíbe a posse de armas para a maioria dos cidadãos, mas a restringe ao cumprimento de
determinadas condições. Na Nigéria, qualquer cidadão pode ter licença para o porte de armas, desde
que ele/ela não: possua antecedentes criminais, seja diagnosticado com algum problema psicológico
que seja impeditivo, dentre outros casos específicos (ALPERS; WILSON, 2018).
A Nigéria se encontra em uma situação de bastante vulnerabilidade por ser um país em
desenvolvimento com graves conflitos internos entre diferentes grupos étnicos, principalmente na
região do Delta do Níger. Desde o início dos anos 1990, os interesses econômicos colocam empresas
multinacionais produtoras de petróleo em um embate com o governo nigeriano, e a disputa pela riqueza
do petróleo fortalece a violência entre os diferentes grupos étnicos, ampliando a militarização na região
que foi ocupada por milícias tribais, policiais e pelo exército (HUMAN RIGHTS WATCH, 2005).
Devido a esses conflitos, a violência no país é elevada e a proliferação de armas leves acarreta
em uma piora da situação, já que as armas acabam nas mãos de atores não-estatais violentos através
de invasões a delegacias de polícia e bases militares e também através do contato com contrabandistas
de armas da região que auxiliam na aquisição e construção do arsenal desses grupos (ONUOHA,
2006). Apesar de possuir uma regulamentação mais permissiva, o país tem investido em treinamentos
especiais que auxiliam na identificação e rastreamento de armas de fogo, focando na luta contra o
tráfico de armas na região (UNODC, 2018).
2.2.4 BRASIL
O Brasil, mesmo sem histórico recente de terrorismo ou guerra civil, é considerado um dos
países mais violentos do mundo segundo a ONU em função do seu alto índice de homicídios o qual,
em 2017, chegou a 30,5 mortes a cada 100 mil habitantes – a segunda maior taxa na América do Sul,
atrás apenas da Venezuela (PRESSE, 2019). Além disso, dados do Small Arms Survey apontam o país
como principal produtor e exportador de armas da região sul-americana (Small Arms Survey apud
SILVESTRE, 2016). A lei federal que regulamente a posse e o porte de armas no Brasil é a lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003, intitulada de Estatuto do Desarmamento (BRASIL, 2003). O Estatuto foi
criado com o objetivo de controlar a circulação de armas no país, a fim de diminuí-la e também aplicar
penas mais rigorosas para o porte ilegal e o contrabando. Ele estabelece o comércio de armas como algo
legal no Brasil, mas com rígidas restrições, sendo elas:
Obrigatoriedade de cursos para manejar a arma; ter ao menos 25 anos; ter ocupação lícita e re-
sidência; não estar respondendo a inquérito policial ou processo criminal; não ter antecedentes
criminais nas justiças Federal, Estadual (incluindo juizados), Militar e Eleitoral; ter efetiva neces-
sidade de ter a arma (G1, 2019a, p. 1).
Ser agente público (ativo ou inativo) de categorias como: agentes de segurança, funcionário da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), agentes penitenciários, funcionários do sistema socio-
educativo e trabalhadores de polícia administrativa; Ser militar (ativo ou inativo); Residir em área
rural; Residir em área urbana de estados com índices anuais de mais de dez homicídios por cem
mil habitantes, segundo dados de 2016 apresentados no Atlas da Violência 2018 (todos os estados
e o Distrito Federal se encaixam nesse critério); Ser dono ou responsável legal de estabelecimen-
tos comerciais ou industriais; Ser colecionador, atirador e caçador, devidamente registrados no
Comando do Exército (ALESSI, 2019, p. 1).
Embora esse decreto não tenha mudado o restante dos critérios para a posse de armas, e
nem sequer mencionado algo em relação ao porte, marcou o início de um movimento para a maior
flexibilização da regulamentação de armas no país, e até uma possível revogação do Estatuto do
Desarmamento, instituído no governo Lula (ALESSI, 2019). Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA, apud G1, 2019b), apesar da alta taxa de homicídios em 2017, a situação poderia ser
pior sem o Estatuto do Desarmamento. Um estudo realizado pelo Instituto aponta que nos 14 anos
anteriores ao Estatuto a taxa de homicídios cresceu 5,5% ao ano no país, ao passo que durante a sua
vigência – no período estudado entre 2003 e 2017 – a taxa cresceu apenas 1% ao ano.
O Brasil é o quinto país com maior taxa de feminicídios10, 4,8 mortes para cada 1000 mil
mulheres, de acordo com dados reportados pela OMS. Entre 2003 e 2013, a morte de mulheres negras
aumentou 53%, comprovando que a violência não só afeta de modo diferente os gêneros diferentes,
mas também tem impactos diferentes entre brancos e negros (ONU, 2016). Em 2016 e 2017, o país foi o
primeiro lugar no ranking de assassinatos contra transsexuais, chegando a 171 mortes em 2017. Nesse
mesmo ano, México ficou em segundo lugar – com 71 vítimas – e os Estados Unidos em terceiro lugar
– com 28 vítimas (QUEIROGA, 2018; WAISELFISZ, 2013; 2016).
10 Feminicídios são casos em que mulheres são mortas como consequência de situações de violência doméstica ou em decorrência de
discriminações ocasionadas pelo seu gênero (ONU MULHERES, 2016).
11 Segundo Mello (2018), ponderação de direitos é uma forma de interpretação dentro do Direito que entende que as decisões sobre como
interpretar conflitos entre direitos fundamentais e direitos humanos devem se basear em quatro passos: 1. se o final a ser atingido é legíti-
mo; 2. se os meios são adequados para obter o fim a ser atingido; 3. se há a necessidade desses meios para atingir o fim determinado; e, 4.
escolher e pesar entre os direitos que estão em conflito.
(PoA, 2001); Tratado de Comércio de Armas (ATT, 2014); o Compêndio Modular de Implementação
de Controle de Armas Pequenas (MOSAIC) (2015-18); as Resoluções 29/10 de 2015 e a 35/8 de 2017
do Conselho dos Direitos Humanos; e, o Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos12 (ACNUDH) sobre Direitos Humanos e a Regulação da Aquisição, Posse e Uso de
Armas de Fogo por Civis (A/HRC/32/21); além das iniciativas regionais (PARKER; WILSON, 2016).
12 O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) é um órgão dentro do sistema das ONU que tem por
objetivo observar, promover e proteger os direitos humanos, isto é, sua função é manter o contato entre os governos e as esferas da ONU
que lidam diretamente com a temática dos direitos humanos e garantir que estes estejam sendo seguidos. Anualmente o ACNUDH, jun-
tamente com os governos de cada país, formula relatórios sobre qual a situação dos direitos humanos nos Estados membros da ONU, que
são apresentados nas reuniões do CDH.
13 Ad hoc é uma expressão jurídica em latim que significa “com esta finalidade específica”. Nesse caso, dizer que o comitê era ad hoc signi-
fica dizer que ele foi criado para discutir sobre quais seriam os termos do Protocolo para Armas de Fogo (PAF) e que ele foi fechado após
a publicação deste Protocolo.
As submissões confirmam que as armas de fogo levam a uma ampla gama de atos que podem
afetar uma grande variedade de direitos humanos. Elas destacam os tipos de crime e violência
em que armas de fogo foram usadas, incluindo homicídios, ferimentos graves, incluindo os que
causam deficiência, estupro e outras violências sexuais, roubo, assalto, sequestro, tortura, des-
locamento forçado e violência doméstica. Alguns Estados relataram que a maioria da violência
criminal em seu território foi cometida com armas de fogo. Mulheres e crianças foram encontra-
das frequentemente como vítimas de violência relacionada a armas de fogo (ALTO COMISSA-
RIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS DIREITOS HUMANOS, 2016, p. 3-4, tradução nossa).
Armas podem ser usadas em situações de conflito e não-conflito para cometer ou facilitar atos
que violam uma ampla gama de direitos humanos, desde o direito à vida, à liberdade, e à seguran-
ça pessoal, até o direito de ser livre da escravidão e da tortura e outras formas cruéis, inumanas
ou degradantes de tratamento ou punição. O uso ou a ameaça do uso de armas também pode en-
fraquecer a efetividade dos direitos de liberdade de expressão, associação e assembleia (CDHNU,
2017, p. 3-4, tradução nossa).
A resolução 35/8 do CDH ainda afirma que a violência armada tem diversos efeitos negativos
e duradouros para as vítimas, como abalos psicológicos que podem inclusive prejudicar sua inserção
no mercado de trabalho bem como seu “bem-estar, reintegração à comunidade ou à vida familiar”
(CDHNU, 2017, p. 4, nossa tradução) e reitera que a violência de gênero é agravada pelo uso de armas,
afetando o direito à mobilidade das mulheres e até mesmo reduzindo a participação feminina na
política, por medo de represálias (CDHNU, 2017).
Cabe ainda trazer outros três documentos da ONU que versam sobre os impactos econômicos
e sociais das armas, a Resolução 60/68 da Assembleia Geral (2006); a Declaração de Genebra sobre
Violência Armada e Desenvolvimento, sigla em inglês GBAV (GENEVA DECLARATION, 2015); e os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (AGNU, 2015). Tanto a resolução 60/68 quanto o GBAV
tratam de como a violência armada é um fator extremamente negativo para os Estados, enfatizando
especialmente para seu desenvolvimento socioeconômico, uma vez que a violência armada leva a um
aumento na sensação de insegurança da população, o que faz com que mais pessoas comprem armas,
criando um ciclo vicioso chamado de armadilha da violência, que gera altos custos do Estado em
segurança pública, verbas que poderiam ser investidas em atividades produtivas.
Como a principal diretriz de planejamento e ação da ONU, os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), também conhecido como a Agenda 2030, foram estipulados pela Assembleia Geral
em 2015 e formam um conjunto dos 17 principais objetivos que a ONU pretende debater e alcançar até
o ano de 2030, contando para isso com 169 metas que estão distribuídas entre estes 17 objetivos como
meios para alcançá-los (AGNU, 2015). A violência armada é discutida sob o ODS 16, que versa sobre a
promoção de sociedades pacíficas, no qual há metas específicas quanto à violência e ao tráfico ilegal de
armas:
um sistema mais rigoroso de controle contra o tráfico ilegal de armas dentro do bloco por meio de um
sistema unificado de marcação e de cadastramento de armas (BERMAN; MAZE, 2016; EUROPEAN
COMMISSION, 2018).
Outra iniciativa regional de grande destaque é o Programa das Nações Unidas de Controle de
Armas Leves e Pequenas – América Central (UN SALW Central America). Durante o período da Guerra
Fria, a América Central foi palco de um grande fluxo de tráfico de armas, principalmente em apoio aos
Estados da região e aos grupos guerrilheiros contrários aos governos. Isso acabou por legar aos dias de
hoje uma grande concentração de armas irregulares e um alto índice de violência armada, que têm sido
diminuídos com sucesso após a implementação das diretrizes do PoA, para a regulamentação do porte,
e do ATT, para acabar com o mercado ilegal de armas, além de contarem com o apoio da Organização
dos Estados Americanos (OEA) em programas de entrega voluntária das armas nos países da região e a
posterior destruição dessas armas (BROMLEY; MALARET; 2017).
Por fim, outra medida de grande importância foi o Protocolo de Nairobi (2004), um acordo
multilateral dos países da região dos Grandes Lagos e do Chifre da África que criou diretrizes de ação
conjunta para o controle da posse de armas e para o combate ao tráfico de armas. Tal documento versa
sobre a implementação de leis internas similares e restritivas nos países signatários, bem como sobre
o desenvolvimento de programas de entrega voluntária de armas, promoção de campanhas contra
a violência armada, e sobre a criação de mecanismos regionais contra o tráfico de armas na região,
como mecanismos de compartilhamento de dados sobre as armas de fogo registradas entre os países
e assistência jurídica mútua em relação à criação de novas leis para a regulação de armas (GENEVA
ACADEMY, 2017).
A República da Angola não garante o direito à posse privada de armas por civis em sua lei, entretanto,
em 2017, o país tinha quase três milhões de armas na posse de civis – 12 a cada 100 pessoas possuem
armas no país. A Angola tem buscado se reinventar após a guerra civil (1975-2002) e as mudanças
econômicas e políticas decorrentes desse processo. Na procura por reduzir os índices de violência, o
país tornou-se signatário do UNPoA, da GBAV e do Tratado de Comércio de Armas. Como membro
da União Africana, a Angola assinou a Declaração da Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral (SADC) sobre Armas de Fogo, Munições e Outros Materiais Correlatos em março de 2001 e
adotou a Convenção de Kinshasa (ALPERS, 2019b).
O Reino da Arábia Saudita tem a posse civil de armas automáticas regulada por lei. O processo de
licenciamento no país envolve a checagem do histórico do requerente. Nos últimos anos, havia quase 5,5
milhões de armas em posse de civis no país tanto de forma lícita como ilícita. Para reduzir esse número,
a Arábia Saudita implementou um projeto voluntário de Anistia de Armas Ilegais, incentivando os
possuidores dessas armas realizar a entrega sem responsabilização. Ainda, o país assinou e ratificou o
Protocolo de Armas de Fogo, comprometeu-se com o UNPoA e, como membro da Liga Árabe, aprovou a
Lei Modelo Árabe sobre Armas, Munições, Explosivos e Materiais Perigosos em 2002 (ALPERS, 2019c).
A República Argentina não garante na lei o direito à posse por civis. Em 2015, foram registradas mais
de 2,5 mil mortes por armas de fogo no país. A posse dessas armas são apenas permitidas através de
licença, que é concedida após o requerente, com a idade mínima de 21 anos, apresentar uma razão válida
para ter uma arma, como a caça, tiro ao alvo e proteção pessoal, e passar por um processo de verificação
de antecedentes criminais, avaliação dos registros de saúde e condições psicológicas. Em 2017, foram
contabilizadas mais de 3 milhões de armas de forma lícita e ilícita nas mãos de civis. A punição para a
posse ilegal de armas de fogo é de dois anos de prisão e uma multa. A Argentina adotou a Convenção
Interamericana contra a Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, Explosivos, Munições e
Outro Materiais Correlatos (CIFTA), assinou a GBAV em 2007, ratificou o Tratado de Comércio de
Armas e comprometeu-se com o PoA. Um dos exemplos dos esforços do país para combater a violência
armada está na promoção de um programa de entrega voluntária de armas (ALPERS, 2019d).
A Comunidade da Austrália só permite a posse privada de armas de fogo, como pistolas e revólveres,
em condições rigorosas. Os requerentes de uma licença devem apresentar razões genuínas, como a
filiação ao clube de tiro, controle de pragas e usos ocupacionais restritos, para possuir a arma, não
sendo a proteção pessoal uma razão válida pela lei. Como membro do Fórum das Ilhas do Pacífico,
a Austrália adotou o acordo Marco Nadi e o projeto modelo Armas Controle Bill a Nadi Framework.
Além disso, o país assinou a GBAV, o Tratado de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo
e apoia o PoA (ALPERS, 2019e).
A República da Áustria regula a posse de armas de fogo através do seu governo federal e da União
Europeia. Os requerentes da posse devem ter mais de 18 anos, passar pelo processo de verificação de
antecedentes, avaliação de saúde física e mental e apresentar uma razão genuína para possuir uma arma,
como a caça, proteção pessoal ou prática de tiro ao alvo. Nos últimos anos, o número de proprietários
de armas de fogo aumentou em 11%, atingindo 2,57 milhões em 2017, especula-se que em razão do
aumento do fluxo de refugiados no país e percepção de insegurança da população. Como membro da
União Europeia, a Áustria está vinculada a resolução da Diretiva da União Europeia sobre o controle
da aquisição e posse de armas. Ainda, o país assinou a GBAV, o Tratado sobre o Comércio de Armas e
o Protocolo de Armas de Fogo e se comprometeu com o UNPoA (ALPERS, 2019f).
A República Federativa do Brasil não tem a posse de armas por civis garantida por lei. Os civis não
podem possuir armas de uso exclusivo do Exército, armas de fogo automáticas e certas pistolas. A idade
mínima para solicitar a posse de armas de fogo é de 25 anos e são pedidos certificados de aptidão e de
saúde física e mental do requerente. O Brasil tinha, em 2017, cerca de 17,5 milhões de armas na posse
de civis e está passando por um processo que prevê o aumento do intervalo entre as renovações dos
certificados – atualmente de 10 em 10 anos – e que facilita o processo de compra e o número de armas
por pessoa. O porte de armas é proibido e a pena máxima para a posse ilegal é de quatro anos. Como
membro da Organização dos Estados Americanos, o país adotou a Convenção Interamericana contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, Explosivos, Munições e Outros Materiais Correlatos
(CIFTA), assinou a GBAV, o Tratado de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo, ainda se
comprometendo com o UNPoA (ALPERS, 2019g).
A República da Bulgária permite a posse privada de armas de fogo apenas sob licença, não sendo
permitida a posse de armas automáticas e incendiárias. Os requerentes da licença devem informar uma
razão genuína para a posse, como a defesa pessoal, caça e fins desportivos, sendo a idade mínima 18
anos e necessária a verificação de antecedentes criminais e histórico médico e de abuso de substâncias.
A pena máxima para a posse ilegal é de seis anos de prisão. Em 2017, o número de armas detidas
por civis não passava de 600 mil. Enquanto membro da União Europeia, a Bulgária está vinculada
pelas disposições da Diretiva da UE sobre as armas de fogo. O país ainda assinou a GBAV, o Tratado
de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo, comprometendo-se ainda com o UNPoA
(ALPERS, 2019h).
A República do Chile não tem posse de armas de fogo por civis garantida por lei, com exceções para
indivíduos com razões genuínas para possuir uma arma – como a caça, tiro ao alvo e proteção pessoal –,
devendo passar pela verificação de antecedentes criminais e os registros de saúde. Exige-se a realização
de cursos de treinamento teórico e prático acerca da segurança das armas de fogo e da lei, sendo
necessária a renovação a cada cinco anos. A posse de armas totalmente automáticas e o porte de armas
em locais públicos são proibidos e a pena máxima para a posse ilegal é de cinco anos. O Chile realiza
periodicamente campanhas denunciando os perigos das armas de fogo e restringe a venda de armas.
Em 2017, havia 2,2 milhões de armas nas mãos de civis. O país assinou a GBAV, o Tratado de Comércio
de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo. Como membro da Organização dos Estados Americanos,
o Chile adotou a Convenção Interamericana contra a Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de
Fogo, Explosivos, Munições e Outros Materiais Correlatos (CIFTA) e se comprometeu com o UNPoA
(ALPERS, 2019i).
A República Popular da China proíbe o direito à propriedade privada de armas, sendo a posse permitida
apenas para a caça. Dessa forma, nenhum civil pode adquirir legalmente uma arma de fogo. Em 2017,
estimava-se que cerca de 49 milhões de armas estivessem em posse de civis, sendo apenas 680 mil delas
de forma lícita. Os requerentes são obrigados a estabelecer uma razão genuína para possuir uma arma –
caça e o controle de animais – e devem passar por um processo de verificação dos antecedentes criminais
e dos registros médicos. Após, o indivíduo deve realizar um curso de treinamento teórico e prático
acerca da segurança envolvendo as armas de fogo e das leis. O porte é permitido sem autorização e a
pena por posse ilegal chega a dois anos de prisão, enquanto que o tráfico de armas tem como punição
a pena de morte. A China se comprometeu com o UNPoA e assinou o Protocolo de Armas de Fogo.
Entretanto, o país não assinou a GBAV e o Tratado de Comércio de Armas (ALPERS, 2019j).
A República Democrática do Congo (RDC) não garante o direito à posse privada de armas na lei. Os
civis são estritamente proibidos de possuir armas de guerra, enquanto que a posse de armas de fogo,
como pistola e revólveres, é permitida sob uma licença, que é concedida após a apresentação de um
motivo genuíno para a solicitação de posse, como a caça e a proteção pessoal. Além disso, é realizado
um processo de verificação dos antecedentes criminais e os registros de saúde, não é requisitado
qualquer treinamento teórico e prático. O porte de armas é proibido e a posse ilegal pode levar a até
dez anos de prisão. Há um programa de entrega voluntária de armas pelos civis. O país assinou a GBAV
e o Protocolo de Armas de Fogo, ainda se comprometendo com o UNPoA (ALPERS, 2019k; ANISTIA
INTERNACIONAL, 2017).
Na República da Croácia, os civis não podem possuir arma automáticas, semi-automáticas e armas
de fogo de cano longo. A posse privada de pistolas e revólveres é permitida sob licença que exige que
os requerentes tenham mais de 18 anos e estabeleçam uma razão genuína para a posse, como a caça,
tiro ao alvo e proteção pessoal, e passam pela verificação dos antecedentes criminais e avaliação dos
registros médicos. Além disso, é necessário que seja realizado um curso teórico e prático sobre o uso
responsável de armas. Enquanto membro da União Europeia, a Croácia está vinculada à Diretiva da UE
sobre armas de fogo. Ainda, o país assinou a GBAV, o Tratado sobre o Comércio de Armas e o Protocolo
de Armas de Fogo e também se comprometeu a implementar o UNPoA (ALPERS, 2019l).
A República de Cuba tem a posse de armas controlada pela Polícia Nacional Revolucionária, pelo
Ministério do Interior e pelo Ministério das Forças Armadas Revolucionárias. A posse de armas
totalmente automáticas é permitida a civis apenas com licenças especiais. Essas licenças exigem que o
requerente tenha mais de 18 anos e apresente uma razão genuína para a posse, como a caça, tiro ao alvo
e proteção pessoal. Após isso, é necessário que seja realizado um treinamento teórico e prático, que
deve ser requalificado a cada dez anos. Cuba assinou o Protocolo de Armas de Fogo e se comprometeu
com a implementação do UNPoA (ALPERS, 2019m).
O Reino da Dinamarca não tem o direito da posse de arma garantido por lei, sendo emitida uma licença
de aquisição apenas em casos específicos. Os requerentes devem ter no mínimo 18 anos, apresentar
razões genuínas para a aquisição da posse, como caça, tiro ao alvo e coleção, e passar pela verificação
de antecedentes criminais e dos registros mentais. A Dinamarca é signatária de essencialmente todas
as convenções, acordos e tratados internacionais relacionados à promoção de segurança pública e à
limitação ao acesso civil a armamentos, como a GBAV e o Protocolo de Armas de Fogo, e se comprometeu
com o UNPoA (ALPERS, 2019n).
A República Árabe do Egito não tem o direito à posse privada garantido por lei. Os cidadãos só podem
ter acesso a armas de pequeno porte, como pistolas e revólveres, e com sua posse apenas permitida
sob licença. O requerente deve ter no mínimo 21 anos e passar por uma análise do histórico pessoal,
antecedentes criminais, violência doméstica e registros de saúde e doenças mentais, sendo necessária
a renovação da licença a cada três anos. O porte de armas em locais públicos é permitido e a pena para
a posse ilegal de armas é de no máximo um mês de prisão. Como membro da Liga dos Estados Árabes,
o Egito adotou a Lei Modelo Árabe sobre Armas, Munições, Explosivos e Materiais Perigosos e se
comprometeu com o UNPoA. Em 2013, o país passou por uma série de confrontos civis da chamada
Primavera Árabe, de modo que a sua taxa de mortes por arma de fogo a cada 100 mil pessoas passou
de 0,20 em 2010 para 4,05 em 2013. Em 2017, estimava-se que quase 4 milhões de armas estivessem nas
mãos de civis, sendo a maioria de forma ilegal (ALPERS, 2019o).
No Reino da Espanha, os civis não são autorizados a possuir armas de fogo automáticas e a posse privada
de pistolas e revólveres é apenas permitida com uma autorização especial. Para obter uma licença, os
requerentes devem estabelecer uma razão genuína para possuir uma arma, como a caça, tiro ao alvo e
proteção pessoal. A idade mínima é de 18 anos e é necessária verificação dos antecedentes criminais e
análise dos registros médicos, além da realização de um curso teórico e prático sobre segurança com
armas de fogo e as leis. O porte de armas em público é permitido. Como membro da União Europeia,
a Espanha está vinculada à Diretiva da UE sobre as armas de fogo, também assinou a GBAV, o Tratado
de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo. Além disso, o país se comprometeu com o
UNPoA (ALPERS, 2019p).
Os Estados Unidos da América15 garantem o direito à propriedade privada de armas pelos civis na
Constituição Nacional, limitada pela lei federal. No país, a posse de pistola e revólveres é permitida
sem licença em quase todos os estados, que têm regulamentos próprios. Estimava-se, em 2017, que
por volta de 300 milhões de armas estavam em posse de civis. Essas, são reguladas pelas autoridades
federais, estaduais e locais. A idade mínima para a compra de armas também pode variar de acordo com
o estado e com o tipo de arma. A pena máxima para a posse ilegal é de 10 anos de prisão. Os Estados
Unidos são um dos maiores produtores e exportadores de armamentos, possuindo sua indústria bélica
um importante peso na economia estadunidense e, por isso, seus interesses têm bastante influência nos
centros de decisão política. O país é signatário apenas de Tratados e acordos que buscam a diminuição
do contrabando de armas e das fabricações ilegais, não sendo signatário de nenhuma Convenção que
promova um maior controle da posse e do uso de armas de fogo, adotando a Convenção Interamericana
contra a Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, Explosivos, Munições e Outros Materiais
Correlatos (CIFTA) e se comprometendo com o UNPoA (ALPERS, 2019q).
A República das Fiji não permite aos seus cidadãos a posse de armas automáticas. Os civis que desejam
a posse de armas de fogo devem ter pelo menos 21 anos e passar pela verificação de antecedentes
criminais e por testes teóricos e práticos, sendo necessária a renovação a cada ano. O porte de armas
em público é proibido e a posse ilegal de armas pode levar a cinco anos de prisão ou multa. As leis
são reguladas pelo Comissário da Polícia e pelo Ministério da Policia, sendo que o Estado não se
responsabiliza pela coleta das armas ilegais. Como membro do Fórum das Ilhas do Pacífico, Fiji adotou
o acordo Marco Nadi e o projeto modelo Armas Controle Bill a Nadi Framework. Além disso, o país se
comprometeu com a implementação do UNPoA (ALPERS, 2019r).
Na República das Filipinas, os civis não podem possuir armas de fogo automáticas e a posse privada
de revólveres e pistolas são permitidas apenas sob licença. Para adquirir a licença, é necessário a
apresentação de uma razão genuína para a posse, como esportes e a proteção pessoal. A idade mínima
para a posse é de 21 anos e o requerente deve passar pela verificação dos antecedentes criminais e
registros médicos, além de realizar um curso de treinamento teórico e prático com renovação a cada
15 anos. O controle das armas é realizado pelo Chefe da Polícia Nacional. O porte de armas de fogo em
locais públicos é proibido. Filipinas assinou a GBAV e o Tratado de Comércio de Armas. Além disso, o
país se comprometeu com a implementação do UNPoA (ALPERS, 2019s).
A República da Índia não garante o direito à posse de armas de fogo por civis na lei. É estimado que o
número de armas nas mãos de civis chega a mais de 71 milhões, apesar da proibição da posse de armas
totalmente automáticas e da necessidade de licenças para adquirir pistola e revólveres. Os solicitantes
devem ter no mínimo 21 anos e são obrigados a apresentar um motivo genuíno para a necessidade de
posse, como tiro ao alvo e proteção pessoal. Após esse procedimento, o indivíduo passa por um processo
15 O país se retirou do CDH em 2018, portanto, está representado no comitê como membro observador dada a sua relevância para o
tópico.
de verificação dos antecedentes criminais e dos registros de saúde mental, com renovação a cada três
anos. É proibido portar armas de fogo em público no país e a pena para a posse ilegal é de até três
anos de prisão. A posição da população indiana sobre as armas tem suas raízes na época do domínio
colonial inglês e no processo de luta pela libertação, em que os indianos adotaram o comportamento
de “resistência pacífica”. A Índia assinou o Protocolo de Armas de Fogo e se comprometeu com a
implementação do UNPoA (ALPERS, 2019t).
A República da Itália não garante o direito à posse privada de armas de fogo pelos cidadãos. Os civis
não estão autorizados a possuir armas de fogo automáticas e a posse de pistolas e revólveres só é
permitida com licença especial. Em 2017, estimava-se que mais de 8 milhões de armas estivessem
em posse de civis. Os requerentes devem ter pelo menos 18 anos e estabelecer uma razão genuína
para a obtenção de uma arma, como a autodefesa e caça, sendo necessário passar pela verificação de
antecedentes criminais e a análise dos registros médicos. Enquanto membro da União Europeia, a
Itália está vinculada à Diretiva da UE sobre as armas de fogo, também assinou a GBAV, o Tratado de
Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo. Comprometeu-se também com a implementação
do UNPoA (ALPERS, 2019u).
No Japão, a posse de armas não é garantida por lei. Os civis não podem ter acesso a revólveres, armas
do exército e outras armas de fogo, com exceção de atiradores esportivos. Para requerer a licença, o
cidadão deve apresentar uma razão genuína para ter uma arma, como a caça e o tiro ao alvo. Além disso,
é necessário que ele passe pela verificação de antecedentes criminais e dos registros mentais. A posse
ilegal de armas no país pode levar a 15 anos de prisão e o porte em locais públicos é proibido. O Japão
assinou a GBAV, o Tratado de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo. O país também
se comprometeu com a implementação do UNPoA (ALPERS; ROSSETTI; WILSON, 2019; ALPERS,
2019v).
Os Estados Unidos Mexicanos não garantem a posse privada de armas do fogo por civis. A posse
de armas de guerra para civis é proibida, porém, permite-se a posse de semiautomáticas e armas de
fogo como pistolas e revólveres com algumas condições. O requerente deve passar pela verificação dos
antecedentes criminais e dos registros médicos, além da necessidade de apresentar uma razão genuína
para aquisição de armas, como caça, tiro ao alvo e proteção pessoal, sendo a idade mínima 18 anos. A
pena para a posse ilegal de armas é de três anos e de sete para porte em locais públicos. Como membro
da Organização dos Estados Americanos, o México adotou a Convenção Interamericana contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, Explosivos, Munições e Outros Materiais Correlatos
(CIFTA). O país também assinou a GBAV, o Tratado de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de
Fogo. Além disso, o país também se comprometeu com a implantação do UNPoA (ALPERS, 2019w).
A República Federal da Nigéria não garante o direito à propriedade de armas aos seus cidadãos. Os
civis não podem possuir metralhadoras, armas de fogo e armas de guerra. Em 2017, mais de 6 milhões
de armas estavam na posse de civis de forma legal ou não. Para adquirir armas de forma legal no país,
é necessário obter uma licença especial, concedida após a apresentação de uma razão genuína para
a aquisição e após a verificação de antecedentes criminais e registros médicos. O porte de armas em
locais públicos é permitido. A Nigéria assinou a GBAV, o Tratado de Comércio de Arma e o Protocolo
de Armas de Fogo, comprometendo-se também com o UNPoA (ALPERS, 2019x).
No Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, as leis acerca das armas de fogo podem variar
em cada país. Os civis não podem adquirir armas de fogo automáticas e semiautomáticas, revólveres e
outras munições. A única forma de possuir armas legalmente é através de uma licença de proprietário
de armas que obriga os requerentes a estabelecerem razões genuínas para possuir uma arma, como
a caça e o tiro ao alvo, e passarem por análise dos antecedentes criminais e dos registros médicos. A idade
mínima para o acesso a armas varia de acordo com a finalidade e o tipo de arma. O porte de armas em locais
públicos é proibido. O país tem uma taxa muito baixa de mortes por armas de fogo, sendo um exemplo no
controle da violência armada. O Reino Unido assinou a GBAV, o Tratado sobre o Comércio de Armas e o
Protocolo de Armas de Fogo. Ainda, comprometeu-se com a implementação do UNPoA (ALPERS, 2019z).
A lei da República da Ruanda não garante o direito à posse de armas para civis. Estes não podem possuir
armas de guerra e espingardas, sendo a posse de revólveres e pistolas permitidas sob licença. Essa licença é
adquirida caso o requerente apresente um motivo genuíno para possuir uma arma, tenha mais que 21 anos e
passe por um processo de análise dos antecedentes criminais e dos registros médicos. Para concluir o processo
da licença também é necessário a realização de treinamentos teóricos e práticos, que deve ser renovado
anualmente. O porte de armas em locais públicos é permitido sob licença e a pena para a posse ilegal é de
cinco anos de prisão. Ruanda assinou a GBAV, o Tratado de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas. O
país também se comprometeu com a implementação do UNPoA (ALPERS, 2019ab).
A República do Senegal não garante a posse privada de armas por civis. O controle das armas é realizado
pelo Ministro do Interior e pelas autoridades administrativas locais. É apenas permitida a posse de revólveres
e pistolas sob licença, sendo estritamente proibida e a posse de rifles, armas de pressão e armas de guerra.
Para adquirir a licença de posse, o requerente não precisa estabelecer uma razão genuína para a posse e não
há idade mínima. O porte de armas em locais públicos é proibido e a pena por posse ilegal é de até cinco anos
de prisão. O Senegal assinou a GBAV, o Tratado de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo,
comprometendo-se também com a implementação do UNPoA (ALPERS, 2019ac).
A Ucrânia permite a posse de armas de fogo, como pistolas e revólveres, apenas sob licença. Os requerentes
devem ter no mínimo 21 anos e é obrigatório o estabelecimento de uma razão genuína, como caça e proteção
pessoal, sendo realizada a verificação de antecedentes criminais e registros médicos. O porte de armas em
locais públicos é permitido. Os dados governamentais de violência armada no país não são divulgados desde
o início de 2013, quando se iniciou uma guerra civil, que continua ocorrendo na região oeste do território
ucraniano. A Ucrânia assinou o Tratado sobre o Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo,
comprometendo-se também com o UNPoA (ALPERS, 2019ad).
A República Oriental do Uruguai não garante o direito à posse privada de armas de fogos por lei. Os civis
apenas podem adquirir armas de fogo, como pistolas e revólveres, com uma licença especial, que requer a idade
mínima de 18 anos do civil, a apresentação de certificado de boa conduta, avaliação médica, comprovante de
renda e a realização de um curso de treinamento teórico e prático de manejo de armas de fogo. A licença é
fornecida pelo Ministério do Interior e registrada pelo Ministério da Defesa. O porte de armas de fogo em
locais públicos é proibido e a pena para a posse ilegal é de até seis anos. Como membro da Organização
dos Estados Americanos, o Uruguai adotou a Convenção Interamericana contra a Fabricação e o Tráfico
Ilícitos de Armas de Fogo, Explosivos, Munições e Outros Materiais Correlatos (CIFTA), assinou o Tratado
de Comércio de Armas e o Protocolo de Armas de Fogo. Além disso, o país também apoia a implementação
do UNPoA (ALPERS, 2019ae).
(2) Os Estados devem permitir a posse e/ou o uso de armas por parte da população civil? Se sim, essa permissão
deve ser restringida de alguma forma?
(4) Como reformular as políticas públicas que regulamentam a posse de armamentos por civis através da
perspectiva dos direitos humanos?
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CONSELHO EUROPEU
1 Graduandos e Graduandas de Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
(2) É possível dividir as responsabilidades do acolhimento aos refugiados de maneira mais igualitária
entre os países da União Europeia? Se sim, de que forma isso poderia ser feito?
INTRODUÇÃO
O Conselho Europeu é uma das sete instituições da União Europeia (UE), responsável por
estabelecer a agenda política do bloco europeu. Tradicionalmente, adotando conclusões, resoluções e
declarações durante suas reuniões, que identificam questões importantes a serem discutidas e medidas
a tomar em âmbito europeu. Os membros do Conselho são os chefes de Estado ou de governo dos 28
Estados membros da UE, o Presidente do Conselho Europeu e o Presidente da Comissão Europeia,
órgão executivo da UE. Ademais, este organismo toma a maior parte das suas decisões através do
consenso. Entretanto, em certos casos específicos, podem ocorrer decisões por maioria qualificada.
O Presidente do Conselho e da Comissão não tomam parte nas votações. As reuniões ocorrem pelo
menos duas vezes por semestre e são presididas pelo Presidente do Conselho Europeu, o qual também
pode convocar reuniões extraordinárias do mesmo quando considerar necessário.
Durante esta reunião, o Conselho Europeu discutirá medidas a serem tomadas frente aos
novos desafios que os movimentos migratórios e de refugiados apresentam à União Europeia. Desde
o auge da crise migratória em 2015, o fluxo de entrada na UE diminuiu drasticamente, porém muitas
questões, como a insegurança das travessias marítimas no Mar Mediterrâneo Central, a realocação
de solicitantes de refúgio e de imigrantes, o apoio aos países de origem, mantêm-se em pauta. Como
instituição responsável por estabelecer a agenda política da UE, o Conselho Europeu deve continuar
tratando da entrada de migrantes e refugiados no bloco.
1 HISTÓRICO
Os fluxos migratórios são uma constante na história da civilização humana. Entretanto,
desde o início do século XXI, a temática migratória internacional tornou-se ainda mais relevante
haja vista as grandes proporções incorporadas pela questão. Desse modo, esta seção busca fazer uma
contextualização histórica sobre a migração e o refúgio para a União Europeia. Inicialmente, serão
definidos os conceitos de migração e refúgio segundo o direito internacional; após, serão apresentados
os mesmos conceitos segundo o direito europeu para a temática; e, por fim, faz-se uma retomada da
crise migratória de 2015, assim como o panorama atual da temática no continente europeu.
2017).
A imigração para o continente europeu intensificou-se após o fim da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). Alguns países europeus, após o processo de reconstrução incentivado pelo Plano Marshall
1
(1948), passaram a se destacar devido à força industrial que detinham na época. Dessa maneira,
essas regiões começaram a atrair mais fluxos migratórios internacionais oriundos de Estados menos
desenvolvidos economicamente (THE LEVIN INSTITUTE, 2017).
Desde a metade do século XVII até a metade do século XX, a Europa foi um dos continentes
que mais gerou emigrações. Estima-se que, entre 1815 e 1930, entre cinquenta e sessenta milhões de
europeus deixaram seus países de origem. Esses números aumentam, principalmente durante e após
a Segunda Guerra Mundial, quando essas emigrações eram forçadas; em sua maioria eram alemães
fugindo para o Oriente Médio por conta do Holocausto (STRUCK, 2015). No entanto, atualmente, a
Europa se tornou um destino para diversas categorias migratórias, dos quais, destaca-se, para fim desta
discussão os migrantes econômicos irregulares – isto é, pessoas que buscam melhores condições de vida
e não possuem visto autorizando sua permanência no continente – e os refugiados. Esses últimos são
definidos pela Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) relativa ao Estatuto dos Refugiados
de 1951, por meio do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), como:
Indivíduo que, temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social
ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude
desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se en-
contra fora do país no qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimen-
tos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele (ACNUR, 1951, p. 2).
Ainda nesse sentido, é importante pautar a Diretiva 2011/95/EU, formulada pelo Conselho
Europeu em 2011, documento que estabelece um conjunto de características específicas mínimas
para determinar a condição de refúgio. O segundo artigo da Diretiva anuncia o refugiado como o
nacional de um país terceiro que, “receando com razão ser perseguido em virtude da sua raça, religião,
nacionalidade, convicções políticas ou pertença a um determinado grupo social, se encontre fora do
país de que é nacional e não possa ou, em virtude daquele receio, não queira pedir a proteção desse
país” (UNIÃO EUROPEIA, 2011, p. 1). Apesar de todo amparo burocrático que o refugiado possui, ele
continua sujeito a passar por maiores dificuldades até se estabelecer no país de origem. A recente crise
migratória no continente europeu fez com que sua imagem de ser humano e seu direito natural ficasse
distorcida.
Além disso, outra dificuldade que tanto os refugiados como os migrantes econômicos
enfrentam é a de serem considerados como uma ameaça ao mercado de trabalho para os nativos do
país de destino. Contudo, ao contrário do que se pensa, esses imigrantes podem ajudar na renovação
do mercado laboral e na questão demográfica (WEEKS, 2012), visto que a população da União Europeia
(UE) está envelhecendo e a taxa de fecundidade decrescendo (EUROPEAN UNION, 2019). Cabe,
ainda, mencionar que os imigrantes de maneira geral também precisam se alimentar, se vestir, quando
possível, enviar dinheiro para suas famílias no país de origem, e tudo isso movimenta um sistema muito
importante para a economia local na qual está inserido.
1 O Plano Marshall foi uma iniciativa norte-americana de 1948, ou seja, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), para ajudar
na restauração da Europa Ocidental. Os objetivos dos Estados Unidos eram reconstruir regiões devastadas pela guerra, remover barreiras
comerciais, modernizar a indústria, melhorar a prosperidade européia e impedir a disseminação do comunismo.
A despeito dos países de destino, a Itália e a Grécia são utilizados como países de entrada
na UE, todavia, os países que mais recebem esses refugiados como destino final são a Alemanha e a
França, seguidos pelos dois países já citados e o Reino Unido (DW, 2015).
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Nesta seção, abordaremos os principais tópicos que deverão ser tratados no debate. Aqui será
apresentado um panorama da situação nos principais países de entrada de migrantes e refugiados, as
iniciativas de cooperação entre os países de origem, entrada e destino e as legislações nacionais e no
âmbito da União Europeia sobre a questão.
2019a).
O caso grego é ainda mais grave do que os casos espanhol e italiano. O país foi afetado por
uma grave crise financeira recentemente, sofrendo grandes cortes na capacidade de gastos do governo,
inclusive nos valores destinados aos campos de refugiados. Em 2018, a Agência da ONU para Refugiados
(ACNUR) solicitou que o país tomasse medidas urgentes para melhorar as condições de 11 mil pessoas
em campos de refugiados nas ilhas de Samos e Lesbos, que enfrentam problemas sanitários, falta de
alimento e água limpa (RANKIN; SMITH, 2019).
A Alemanha, apesar de não ter acesso ao Mediterrâneo e, por consequência, não ser um dos
principais países de chegada dos migrantes, vem recebendo anualmente um número expressivo de
pessoas advindas de diversas regiões. De acordo com o governo alemão, o país seria capaz de receber
em torno de 500 mil pessoas por ano, devido, entre outros fatores, à forte economia do país, capaz de
absorver tal população em seu mercado de trabalho. Contudo, tal número chegou a 800 mil em 2015,
gerando tensões dentro do país e da própria coalizão do governo (BBC NEWS, 2015).
Apesar desses problemas, a Alemanha possui outros motivos para receber esses migrantes,
sendo o mais importante deles a questão da pirâmide etária do país. Possuindo uma população jovem
cada vez menor, enquanto a população idosa aumenta expressivamente, o país abre suas portas para
migrantes, especialmente aos jovens, buscando equalizar essa desproporção entre gerações. De acordo
com as projeções da Comissão Europeia, a população alemã diminuirá de 81.3 milhões de pessoas para
70.8 milhões em 2060, situação que preocupa esse governo (BBC NEWS, 2015).
As reações da população alemã à política de portas abertas do governo da Alemanha foram
contundentes, formando, recentemente, um partido de extrema-direita, o qual se tornou a maior
força oposicionista dentro do Parlamento Alemão. A situação torna-se ainda mais tensa e inquietante
com a ascensão de partidos de esquerda, como o Aufstehen, que, buscando conquistar o eleitorado
anti-imigração, adotou essa pauta em suas promessas, fortalecendo um sentimento xenófobo no país
(DAMASCENO, 2018).
2 Estabelecida em 2015 pela União Europeia com o objetivo de criar diretrizes comuns aos países para o enfrentamento da crise de refu-
giados no continente.
a Agência Europeia de Guarda Costeira e Fronteiriça, através da reformulação da então Agência Europeia de
Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros. Tal reformulação estipulou
como objetivos fundamentais da nova agência a definição de um sistema de gestão integrada das fronteiras,
assistência técnica e operacional aos Estados-membros através de operações conjuntas, assistência em operações
de busca e salvamento de pessoas em perigo no mar, bem como organizar, coordenar e conduzir as operações de
regresso (EUROPEAN UNION, 2016).
seus acordos internacionais e valores éticos, de proteção àqueles que fogem de perseguições, ao mesmo
tempo em que destaca a importância da segurança de suas fronteiras e a prosperidade econômica do
bloco. A agenda divide-se em Ações Imediatas e Próximos passos. Quanto às ações imediatas, a UE
busca salvar vidas no mar, por meio de maior financiamento e aumento da oferta de navios e aeronaves
para resgate; desmantelar as redes irregulares de entrada nas fronteiras por meio da cooperação com
as polícias e os demais países; desenvolver um sistema permanente e bem sucedido de partilha dos
refugiados entre todos os Estados membros; e buscar a estabilidade política nos países de origem da
maior parte dos migrantes e refugiados, como Líbia e Síria (EUROPEAN COMMISSION, 2015).
Os próximos passos apresentados pela Comissão Europeia se dão em quatro eixos chave. O
primeiro busca reduzir os incentivos à migração irregular, por meio, por exemplo, de cooperação e de
financiamento para o desenvolvimento, que ajudem a diminuir problemas como pobreza, desigualdade
e desemprego. A Turquia é mencionada como exemplo de país que pode auxiliar a UE por meio da
cooperação econômica e de recepção de refugiados. Busca-se, também, melhorar o quadro jurídico
da UE para combater a entrada irregular de migrantes e as redes de passadores, com o auxílio da
polícia dos Estados membros. Ademais, visa-se reforçar a comunicação com os países fora do bloco,
que permitam o regresso de migrantes e refugiados não aceitos pela UE (EUROPEAN COMMISSION,
2015).
O segundo eixo chave, por sua vez, concentra-se na gestão das fronteiras. Ou seja, auxiliar os
Estados membros e Estados terceiros a controlarem suas fronteiras, além de reforçar o financiamento, o
treinamento e a capacidade de previsão de crise da guarda costeira (EUROPEAN COMMISSION, 2015).
O terceiro eixo chave trata da definição de um sistema comum de refúgio. Isto é, o processamento de
pedidos de refúgio deve ser feito de forma mais igualitária entre os Estados membros. Em 2014, apenas
cinco países processaram 72% dos pedidos. Por fim, o quarto eixo chave tem como objetivo desenvolver
uma nova política de migração regular, a qual considere desafios econômicos e demográficos a longo
prazo, como o envelhecimento da população e a necessidade de mão de obra qualificada em idade ativa.
Esse eixo engloba, também, a cooperação com países em desenvolvimento para o controle da migração
(EUROPEAN COMMISSION, 2015).
Seguindo as diretrizes da Agenda Europeia de Migração, em 18 de março de 2016, foi assinado,
entre o Conselho Europeu e representantes turcos, o Acordo UE-Turquia, o qual buscou estreitar
relações e soluções para a crise migratória. Esse acordo estabeleceu que a Turquia receberá de volta os
imigrantes irregulares que acessarem as ilhas gregas, desde seu país, e não solicitarem refúgio, ou cujas
solicitações sejam consideradas infundadas ou não sejam admitidas. A cada sírio devolvido à Turquia,
a União Europeia se compromete a receber outro sírio que esteja em território turco, de acordo com
sua vulnerabilidade. Além disso, a União Europeia se compromete a desembolsar 3 bilhões de euros em
assistência aos refugiados presentes na Turquia (CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA, 2016). Em 28 de
junho de 2018, o Conselho Europeu chegou ao acordo de que um montante adicional de 3 bilhões será
disponibilizado, em parcelas, até 2020, tendo em vista a diminuição da crise migratória (CONSELHO
EUROPEU, 2018). Por fim, o Acordo UE-Turquia previu o início da isenção de vistos para turcos que
desejassem viajar pela União Europeia e declarou o interesse na aceleração do processo de adesão da
Turquia ao bloco europeu (CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA, 2016).
Mais recentemente, em consonância com a Agenda Europeia de Migração, os países europeus
e africanos adotaram o Plano de Ação Conjunto Valletta sobre Migração, o qual busca tratar
conjuntamente dos benefícios e desafios da migração. Nesse plano, foi também definida a criação do
fundo da União Europeia para a África, o qual auxilia financeiramente os países a adotarem as medidas
definidas no plano (JOINT VALLETTA ACTION PLAN, 2018). A UE vem definindo um quadro de
parceria com inúmeros países, como Níger, Nigéria, Senegal, Mali, Etiópia, Bangladesh, Paquistão,
Costa do Marfim, Egito, Tunísia, Argélia, Marrocos, dentre outros. A União Europeia busca, com esses
acordos, diminuir o fluxo de entrada no continente, apoiar o desenvolvimento dos países de origem dos
migrantes e cooperar com os mesmos no que tange à migração regular, à proteção de migrantes e de
solicitantes de refúgio e ao retorno e a reintegração de refugiados (EUROPEAN COMMISSION, 2017).
Os membros do Conselho Europeu assinaram, em fevereiro de 2017, a Declaração de Malta,
a qual define medidas para controlar o fluxo de emigrantes da Líbia para a Itália. O plano prevê
treinamento e apoio à guarda costeira líbia, apoio ao desenvolvimento de comunidades locais no país,
maior controle às redes de passadores e cooperação com países vizinhos à Líbia para controle de rotas
alternativas e melhor recepção dos migrantes (COUNCIL OF THE EU, 2017).
Por fim, as mais recentes conclusões do Conselho Europeu ressaltam a diminuição da detecção
de entradas irregulares para números anteriores à crise, e que a previsão é de contínua queda desses
dados. O Conselho reforça, porém, a necessidade de manutenção dos acordos e relações com terceiros
países para controle de fronteiras e desenvolvimento dos mesmos. A vigilância quanto às rotas atuais
e possíveis rotas futuras deve ser mantida, assim como o apoio das agências europeias aos países mais
afetados pelo fluxo de imigrantes e refugiados, e a coordenação entre a União Europeia, seus órgãos
e os Estados membros deve ser cada vez mais desenvolvida e coordenada (EUROPEAN COUNCIL,
2017).
O governo da Áustria se posiciona fortemente contra as imigrações, apesar de nos últimos três anos
ter acolhido um grande fluxo de refugiados. As ações austríacas referentes à migração revelam uma
contradição entre acolher e fechar fronteiras, o que transforma a Áustria em um destino não tradicional
dos imigrantes (MIGRATION POLICY INSTITUTE, 2003). Ainda assim, uma medida sugerida pelo
primeiro-ministro consiste na construção de campos de acolhimento fora da UE, que serviriam para
acolher os imigrantes que não recebessem o asilo político, bem como para diminuir a imigração
irregular (G1, 2018).
A Bélgica tem uma posição favorável à imigração. Sendo um país pouco procurado como um destino
final dos imigrantes, o governo belga possui uma abordagem reativa, se adaptando às mudanças e aos
fluxos de refugiados que recebe (MIGRATION POLICY INSTITUTE, 2013). Com o crescente número
de refugiados em seu território e a visão negativa da população acerca da imigração, a Bélgica tem se
tornado mais receosa em tomar ações referentes à concessão de asilo político e à assinatura de acordos
(FÓRUM, 2018).
Devido à fronteira com a Turquia, a Bulgária recebeu grandes fluxos de imigrantes, que ou migraram
para outro país ou se estabeleceram em território búlgaro, logo foi favorável ao Acordo UE-Turquia para
diminuir tal fenômeno. Diversos conflitos entre refugiados e nacionais ocorreram nos últimos anos,
fazendo com que a população tenha uma posição majoritariamente contrária a presença de refugiados
(DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 2018). Em dezembro de 2018, o governo búlgaro participou do grupo de países
que se posicionou contrário e que não assinará o Pacto Global pela Migração (REUTERS, 2018).
Por ser próximo ao Líbano e à Turquia, o Chipre é um país que temia o fechamento das fronteiras
turcas, pois, logo se tornaria um dos principais destinos dos imigrantes que almejavam migrar para
a UE. Todavia, ainda assim o Chipre enfrenta várias dificuldades em receber os imigrantes, gastando
quase 1% do seu PIB no acolhimento dessa população, recebendo o auxílio financeiro e logístico da UE
para manter as atividades em curso (BARATA, 2016).
A Croácia é um dos países europeus que possui ações ambíguas em relação aos imigrantes, visto que
apesar de promover o acolhimento de refugiados também atua com violência em suas fronteiras por
parte dos policiais, que impedem os imigrantes em trânsito de atravessar o país (GADZO, 2018). Devido
estar entrando em uma fase de crescimento econômico, a Croácia necessita atrair trabalhadores,
sendo que muitos investidores internacionais requisitam tal prática para de fato investirem nesse país
(PAVLIC, 2017).
imigração, o país suspendeu as quotas de recebimento de pessoas de outros países da UE, pois, segundo
o governo, era necessário integrar os refugiados já instalados no país primeiramente (THE LOCAL,
2018). Além disso, o governo dinamarquês planeja alojar em uma ilha os imigrantes “não desejados”,
ou seja, pessoas que não foram aceitas no país, mas que não podem ser deportadas por riscos às suas
vidas (GARGIULO; GUY, 2018).
A Eslováquia foi um dos países europeus menos impactados pelo aumento dos fluxos migratórios
no século XX, porém viu o número de imigrantes quadruplicar desde que entrou na União Europeia,
em 2004. Ainda que a maior parte dos cidadãos estrangeiros residentes no território eslovaco esteja a
trabalho, o país não foge da realidade europeia e também recebe um número significativo de pedidos
de refúgio. Todavia, ainda que desde 1993 tenha recebido 58.663 aplicações, somente 849 pessoas
foram reconhecidas como refugiadas pelo governo eslovaco, pouco mais de 1% (INTERNATIONAL
ORGANIZATION FOR MIGRATION, 2019b).
A Eslovênia está inserida em um dos corredores mais utilizados por refugiados da Síria e do
Afeganistão, que deixam a região do Oriente Médio em direção à Alemanha ou aos países nórdicos. O
país foi atingido pela crise migratória em 2015, quando as acomodações para imigrantes superlotaram
e diversas pessoas permanecem desabrigadas durante o inverno, na divisa com a Áustria. Em geral, a
população eslovena é receptiva e a imigração não é encarada como um problema social, uma vez que
esta é principalmente uma nação de trânsito e não um destino final (MERRILL, 2015).
A Espanha foi um dos principais destinos de imigrantes no início do século XXI e voltou a receber um
número significativo de pessoas nos últimos anos. Contrário ao que se vê em países como Alemanha e
Reino Unido, não há movimentos significativos anti-União Europeia e contra a imigração, sendo o 3º
maior destino de estrangeiros no continente (BUCK, 2017). Entretanto, as leis que tratam de refugiados
e solicitantes de refúgio não são eficazes, priorizando imigrantes oriundos de países desenvolvidos e
deixando um número significativo de pessoas em situação irregular (BRIS; BENDITO, 2017).
A Estônia completou sua tarefa de receber migrantes, tendo se comprometido e recebido mais de 200
em 2015 advindo da Grécia, Turquia e Itália (VAHTLA, 2018). No entanto, devido ao pequeno auxílio
prestado pelo governo – em torno de 135 euros por mês –, os refugiados preferem se deslocar para
outros países, como, por exemplo, a Alemanha. Além disso, a dificuldade de conseguir emprego e a
inoperância do governo em resolver tal situação também faz com que essas pessoas busquem outras
regiões da Europa (ANTONENKO, 2017).
A Finlândia se compromete com a proteção internacional a pessoas em busca de refúgio, baseada nas
normas internacionais e regionais, especialmente na Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados
de 1951 da ONU (FINLAND, 2019). Contudo, diferentemente do que se esperava do país, a Finlândia se
mostrou um pouco hesitante em apoiar uma política conjunta à UE para lidar com a questão do refúgio,
temendo o crescimento de partidos nacionalistas (WAHLBECK, 2018).
Sendo um dos principais destinos dos migrantes e refugiados que entram na Europa, a França é um
país extremamente relevante ao debate. O país já recebeu diversas críticas sobre a maneira com a
qual lida com os refugiados que conseguem entrar no país, com relatos de falta de abrigo e milhares
de migrantes dormindo nas ruas de Paris. Durante as eleições municipais de 2015, elementos racistas
e discriminatórios apareceram nos discursos políticos, e representantes foram eleitos utilizando
plataformas anti-imigração (MARQUIS, 2018).
A Grécia é uma país chave nesse debate. É o segundo país europeu que mais recebe migrantes e
refugiados vindos pelo Mediterrâneo, tendo recebido 50.500 migrantes em 2018. Entretanto, a grande
maioria dessas pessoas não solicita refúgio no país, seguindo caminho para países mais ao norte da
Europa. Atualmente, o país enfrenta uma situação calamitosa em diversos campos de refugiados, que
enfrentam problemas de saneamento, falta de água limpa e de alimentos (MIGRATION POLICY
CENTRE, 2019a).
A Hungria é o país europeu com medidas mais rígidas em relação aos migrantes e refugiados. Após
receber um grande fluxo de pessoas vindas da Síria, o governo húngaro decidiu construir uma cerca
eletrificada em sua fronteira com a Sérvia em 2015 para evitar entradas irregulares. O país já foi criticado
diversas vezes pela União Europeia devido a sua abordagem para a crise de refugiados, com o governo
tendo inclusive tentado aprovar uma lei que tornava crime prestar auxílio a refugiados (MIGRATION
POLICY CENTRE, 2019b).
A Itália é o terceiro país europeu que mais recebe migrantes e refugiados, tendo recebido 23.400
migrantes em 2018. Atualmente, as políticas do país tornaram-se mais restritivas nesse tema. Exemplo
disso é o número recorde de 24.800 rejeições a solicitações de refúgio entre novembro de 2018 e fevereiro
de 2019, como resultado da introdução do Decreto Salvini, que, como já citado, suspende o processo
de solicitação de refúgio para indivíduos considerados “socialmente perigosos” e retira a permissão de
permanência para certas pessoas que tiveram o status formal de refugiado negado, mas não conseguem
retornar para o país de origem (TONDO, 2019).
Em comparação com os demais países do continente, a Letônia recebeu poucos migrantes e refugiados
até o momento. O governo afirma que a solidariedade é crucial entre os países da UE, mas que soluções
sustentáveis são necessárias. O país defende o foco no reforço das fronteiras externas, no combate ao
tráfico e ao contrabando de pessoas e em uma política comum e eficaz de integração dos refugiados ou
de repatriação, quando possível (UNHCR, 2018).
A Lituânia, membro da UE desde 2004, considera de extrema importância a manutenção de uma Europa
unida e solidária aos países mais atingidos. Assim, o mesmo implementou o programa de admissão
voluntária de refugiados e recomenda que os demais países também o façam. O país faz fronteira
terrestre com a Bielorrússia e com a província russa de Kaliningrado, não membros da UE. Portanto,
defende a necessidade de atenção semelhante às fronteiras terrestres e marítimas (LITHUANIA, 2018).
Como um dos países fundadores da União Europeia, Luxemburgo reforça seu compromisso com o
multilateralismo e com os direitos humanos. A posição do país é de formulação e aplicação de uma
política migratória comum, que divida as responsabilidades igualmente entre os Estados membros. O
país defende, também, a promoção de estabilidade política nos países de origem, como a Síria e a Líbia,
por meio de apoio financeiro e institucional (LUXEMBOURG, 2018).
Por ser uma ilha entre a Itália e o continente africano, ou seja, um Estado de “linha de frente”, Malta é
um dos países mais sensíveis à entrada de migrantes e refugiados. Praticamente todos os recursos das
Forças Armadas do país são utilizados para resgatar imigrantes no mar. O país ressalta a importância
de uma abordagem regional e global no que tange ao assunto. A manutenção da paz no Mediterrâneo é
vista como fator importante para diminuição dos fluxos migratórios (MALTA, 2018).
Os Países Baixos, também conhecidos como Holanda, receberam 90 mil pedidos de refúgio entre 2014
e 2016, ficando em oitavo lugar entre os países da UE no período (NETHERLANDS, 2018a). O país
defende a necessidade de uma divisão mais igualitária do número de migrantes recebidos por cada
país membro. A cooperação com os países de origem e de trânsito desses migrantes e refugiados é
considerada de extrema importância para o país (NETHERLANDS, 2018b).
A Polônia considera como solução para a crise migratória na Europa um conjunto de iniciativas,
que combinam a assistência humanitária, a ajuda para o desenvolvimento dos países de origem, as
operações militares e uma efetiva proteção das fronteiras. Defende a solidariedade flexível, ou seja,
que os países devam auxiliar e receber refugiados dentro de suas capacidades, e não dividindo-os
igualmente (POLAND, 2017).
A característica peninsular de Portugal manteve o país longe do epicentro da crise migratória europeia.
O número de pedidos de refúgio é um dos menores entre todos os Estados membros. Assim, o país
defende a necessidade de partilha da responsabilidade quanto ao assunto, tendo se comprometido, em
2018, a receber até 100 mil migrantes (MERETAB, 2018).
Apesar de não pertencer à Zona Schengen e de suas relações estremecidas por conta de sua saída
da UE, o Reino Unido é um dos destinos mais procurados pelos refugiados que chegam à Europa
(SMITH-SPARK, 2015). Ao contrário de países como Alemanha e Suécia, o país mostrou-se resistente
quanto a aceitação de refugiados, optando por um auxílio mais distante, como ajuda financeira. No
entanto, sob o Programa de Reassentamento de Pessoas Vulneráveis (VPR), o Reino Unido já aceitou
cerca de 1.000 refugiados da Síria e concedeu asilo a quase 5.000 sírios desde o início do conflito sírio
(BBC NEWS, 2016).
A Romênia foi, historicamente, um país com mais emigrantes do que imigrantes, dadas as condições
precárias do país ao longo dos últimos anos do século XX, sob um rígido regime comunista. Entretanto,
a virada do século fez com que a Romênia passasse a ser mais um destino do que uma origem de migrantes.
Ainda que as leis abordando a imigração e o refúgio sejam confusas e mudem constantemente, o país
recebe cada vez mais cidadãos estrangeiros, incluindo refugiados de países em guerra, como o Iraque
e a Síria (ZIARE, 2009).
A Suécia, até a virada do século, recebia poucos imigrantes. Em 1990, apenas 0,7% da população era
estrangeira; já em 2010, esse índice subiu para 14%. Assim como a Alemanha, a Suécia se tornou um país
extremamente receptivo e sobretudo com os refugiados da Síria. Dessa forma, o país se tornou um dos
destinos mais procurados na Europa (SWEDEN, 2019). Entretanto, essa receptividade com estrangeiros
gerou relatórios negativos sobre imigração, noticiados pelos maiores veículos suecos (LUNDQUIST,
2017).
(2) A política de apoio financeiro aos países de origem está sendo bem-sucedida ou deve ser substituída
por outra que priorize os países europeus?
(3) Como o bloco deve lidar com sua defesa histórica dos direitos humanos e, ao mesmo tempo, com o
surgimento de movimentos populistas contrários à migração?
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1 Graduandos e Graduandas de Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
INTRODUÇÃO
O Conselho de Segurança (CSNU) é o órgão das Nações Unidas responsável pela manutenção da paz e
segurança internacionais, constituindo-se como um dos principais espaços decisórios em âmbito da ONU. O
Conselho é composto por quinze membros, sendo cinco permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, França,
Reino Unido) e dez rotativos, com mandatos alternados de dois anos (Argentina, Brasil, República Checa,
Djibouti, Espanha, Nigéria, Nova Zelândia, Omã, Paquistão, Ruanda). Este é o único órgão vinculante de toda a
organização, visto que suas resoluções possuem caráter mandatório para todos os Estados membros. O Conselho
de Segurança das Nações Unidas, em sua reunião do dia 17 de maio de 1994, deve debater a situação vigente em
Ruanda e as medidas que devem ser tomadas para a contenção do massacre da população ruandesa. À época,
essa questão envolvendo violações de direitos humanos e uma sangrenta guerra civil mobilizou a comunidade
internacional, que tentou resolver a situação em múltiplas reuniões no ano de 1994 no Conselho de Segurança das
Nações Unidas.
1 HISTÓRICO
Ruanda é um país localizado na região central da África, conhecida como a região dos Grandes
Lagos. Sua população é, desde o período pré-colonial, dividida em três distintos grupos étnicos1: os hutus,
que representam cerca de 85% da população nacional; os tutsis, que correspondem a, aproximadamente,
14% dos habitantes; e os twa, que representam 1% da população (CARPANEZZI, 2008).
1 Um grupo étnico é definido como um conjunto de pessoas que compartilham semelhanças biológicas e culturais, interagem entre si e se
consideram (ou são consideradas) distintas em relação a outros grupos (BARTH, 1969).
exploração dos recursos dos territórios coloniais, favorecer e enriquecer as metrópoles. O colonialismo
moderno surgiu no século XV, a partir das Grandes Navegações, e já afetava a África. Contudo, é só a
partir da metade do século XIX que ocorre uma grande ruptura na história do continente africano: uma
nova investida por parte dos países europeus, visando suprir as novas demandas comerciais decorrentes
da Revolução Industrial, que culminou com a partilha da África na Conferência de Berlim, em 1885.
Reunidos na capital alemã, os líderes das potências da época traçaram novas divisões para o continente,
atendendo apenas aos interesses europeus. Assim, foi definido, nesta reunião, que a Alemanha seria
responsável pela colonização do território de Ruanda, a qual fazia parte da África Oriental Alemã
(RUANDA, 2000; BOAHEN, 2010).
Diante de tal conjuntura, a história ruandesa, assim como a de todo o continente africano, foi
fortemente afetada pelo colonialismo europeu. No período pré-colonial, os hutus e os tutsis interagiam
de maneira amistosa e, até mesmo, harmônica. Ruanda organizava-se como um Reino desde meados
do século XI, e seus governantes eram majoritariamente da etnia tutsi (BARNETT, 2002). Socialmente,
os hutus praticavam a atividade agrícola, enquanto os tutsis eram dedicados às práticas pastoris
(CARPANEZZI, 2008). Ainda que os tutsis possuíssem maior prestígio político e econômico mesmo
sendo a etnia minoritária, havia uma coexistência pacífica entre os dois grupos sociais.
No entanto, ocorreu uma drástica mudança a partir de 1894, com o início da colonização
europeia. Ruanda, um reino independente e soberano, passou a ser subordinada ao Império Alemão,
que detinha o controle político e econômico da região. A dominação alemã se deu até 1916, quando o
país europeu perdeu suas possessões coloniais devido a sua derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-
1918) (TATUM, 2010). A partir de tal acontecimento, houve uma política europeia de redistribuição dos
territórios coloniais alemães, cabendo à Bélgica o domínio sobre Ruanda como país administrador do
território sob a autoridade da Liga das Nações e, posteriormente, da Organização das Nações Unidas
(ONU). Nesse período, foi introduzida pelos alemães – e aprofundada e consolidada pelos belgas –
uma política de hierarquização dos tutsis sobre os hutus visando garantir o controle europeu sobre
o território, baseada em critérios pseudocientíficos (que alegam ter um embasamento teórico válido,
mas que não são originados de métodos científicos) racistas de superioridade de raças e na própria
configuração social ruandesa (BARNETT, 2002).
Assim, da mesma forma que os europeus se consideravam etnicamente superiores aos africanos,
estes também acreditavam que havia uma hierarquia entre os grupos étnicos de Ruanda. Levando em
consideração aspectos físicos, os alemães e os belgas julgavam os tutsis superiores aos hutus, uma vez
que estes tinham traços mais finos, que se aproximavam das características físicas dos povos europeus
(DES FORGES, 1999). Contudo, o principal motivo para promover a fragmentação entre hutus e tutsis
era outro: por meio da política de “dividir para reinar”, ou seja, de enfraquecer as relações entre os
povos nativos e estimular uma rivalidade entre estes, facilitava-se a dominação da população colonial
por parte das potências europeias (BARNETT, 2002). Com isso, foi atribuído aos tutsis um status mais
elevado na sociedade, tanto na esfera política quanto na econômica, com o objetivo de fortalecer a
autoridade europeia na região – sendo supostamente legitimado pelo discurso racista de superioridade
racial.
Durante a colonização europeia, tornou-se evidente o favorecimento dos tutsis na sociedade
de Ruanda: estes tinham acesso à educação de melhor qualidade e dominavam o quadro estatal local,
segregando a população hutu. O controle étnico por parte do Estado era realizado por meio das carteiras
de identidade étnicas, as quais cada cidadão possuía uma, esclarecendo a qual grupo pertencia – política
que se manteve até 1994 (CARPANEZZI, 2008; TATUM, 2010). Conforme afirma Des Forges (1999, p.
34), “ao assegurar o monopólio de poder tutsi, os belgas prepararam o cenário para futuros conflitos
em Ruanda”. A diferença no tratamento dado aos tutsis e aos hutus, por parte das forças belgas, foi
essencial para a instabilidade social do país, a qual desencadeou hostilidades entre os grupos étnicos
(BARNETT, 2002).
os países, passou a contar com o Conselho de Tutela2, órgão que supervisionava o governo ruandês e
a colonização belga. Nesse cenário, coube à Bélgica alterar a política étnica segregacionista adotada
anteriormente: a partir dos anos 1950, houve um aumento da participação hutu na política e um maior
acesso à educação por parte dessa população. Contudo, tais medidas não foram consideradas suficientes
para a maioria dos hutus, que desejavam maior controle político (DES FORGES, 1999).
O ápice dessas tensões aconteceu em 1959, com a Revolução Hutu. Estimulada pelo
descontentamento da etnia majoritária de Ruanda, o levante introduziu uma grande alteração nas
relações de poder entre os grupos étnicos ruandeses (CARPANEZZI, 2008). A revolução foi uma resposta
ao assassinato de um líder hutu por um grupo tutsi, desencadeando uma reação hutu, que espalhou a
violência pelo país. É importante entender que os líderes hutus buscaram mostrar tal revolução como
um conflito destemido e legítimo entre a maioria étnica do país e a minoria repressora. A revolução
causou a morte de milhares de ruandeses, e a ordem só foi restaurada no ano de 1961 (DES FORGES,
1999). Durante o período, é importante ressaltar que aproximadamente 120 mil tutsis fugiram do país,
com a maioria se deslocando para países fronteiriços, como Burundi, República Democrática do Congo
e Uganda (BARNETT, 2002).
Além disso, como consequência do conflito, a Bélgica passou a apoiar a população hutu em
detrimento dos tutsis. Em plebiscito, os ruandeses se demonstraram a favor da independência e da
confirmação de uma república, acabando com a monarquia no país (DES FORGES, 1999). Com isso, em
1962, Grégoire Kayibanda, da etnia hutu, foi declarado o primeiro presidente de Ruanda. Nesta época,
já se estimava que 10 mil tutsis haviam sido mortos nos conflitos. Com a ascensão oficial ao poder, os
hutus começaram a dominar a política e a economia do país, substituindo a elite formada por tutsis e
belgas (HINTJENS, 1999).
Dessa forma, na década de 1960, como afirma Carpanezzi (2008, p. 35), “os tutsi foram
destituídos dos cargos administrativos do Estado, e alguns de seus líderes, eventualmente perseguidos
e assassinados”. Com a independência de Ruanda, ocorreu uma inversão na política segregacionista:
foram mantidas as divisões étnicas, porém privilegiando os hutus e discriminando os tutsis (DES
FORGES, 1999). Mesmo após a independência, as tensões étnicas não terminaram. Pelo contrário, as
políticas promovidas pelo governo hutu viriam a favorecer novos conflitos em Ruanda.
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
As tensões em Ruanda levaram a uma intervenção por parte da Organização das Nações
Unidas, assim como da Organização da Unidade Africana, e chocaram a comunidade internacional.
A instalação de uma missão de paz como a UNAMIR é um processo extremamente complexo e requer
extrema cautela. Contudo, a situação interpretada como o extermínio da população tutsi no país
dificultou ainda mais a posição das organizações internacionais, trazendo à tona extremas violações de
direitos humanos e o acirramento de uma guerra civil de longa data. Assim, esta seção tem por objetivo
elucidar os acontecimentos ocorridos a partir de 6 de abril de 1994, analisando a atuação da comunidade
internacional e suas ações diante do conflito.
precedido por três anos de um intenso conflito decorrente da Guerra Civil previamente instaurada.
Esta, por mais uma vez na história do país, colocou em oposição os grupos organizados em torno das
divisões étnicas historicamente enraizadas: tutsi e hutu. De um lado, a Frente Patriótica de Ruanda
(FPR) – organizada pela resistência tutsi – exigia a destituição do poder vigente e o direito à repatriação
de seu povo. Do outro, os partidários atrelados ao governo tinham por objetivo manter a política de
divisão étnica, a qual favorecia a população hutu (CARPANEZZI, 2008).
Mesmo diante de tal conjuntura – e de uma longa história de tensões – o estopim do extermínio
da população tutsi carrega uma data específica: seis de abril de 1994. Esta demarcação representa o dia
do assassinato do então presidente de Ruanda, Juvénal Habyarimana, vítima do atentado que derrubou
o avião que o transportava. A queda do avião, além de representar o gatilho para os subsequentes
episódios de matança contra a população tutsi, deu início à luta final da FPR pela tomada do poder do
país (PAULA, 2011). É importante notar que o avião trazia o presidente de volta da Tanzânia, onde ele
estivera para negociar os pontos finais dos Acordos de Arusha. Por causa desse fato, até os dias atuais,
não há comprovação de quem foram os responsáveis pelo atentado: os tutsis ou a ala extremista hutu,
favorável à continuidade da segregação e exílio dos tutsis e, portanto, contrária à implementação dos
Acordos de Arusha (CARPANEZZI, 2008).
Imediatamente após o atentado, os assassinatos contra a população tutsi – e hutu moderados
– começaram e espalharam-se por todo o país, inserindo Ruanda em um cenário de completo caos
e violência. Tal onda de massacres foi possível devido a existência de listas, denominadas “listas da
morte”, que continham os nomes dos indivíduos que deveriam ser assassinados (NIKUZE, 2014).
Paralelamente, as milícias organizadas, conhecidas como Interahamwe – armadas e apoiados pelo
governo hutu – realizavam bloqueios nas estradas e limites do país, utilizando as listas para identificar e
assassinar os tutsis que caíam em suas mãos. Ademais, além das Forças Armadas de Ruanda, da Guarda
Presidencial e das milícias, cidadãos hutu também desempenharam um papel na matança, visto que a
liderança extremista fornecia armas brancas e de fogo para a população (MENDONÇA, 2013). Além
dos oponentes políticos, milhares outros indivíduos foram mortos em questão de dias, mergulhando o
país em um cenário em que os assassinatos se tornaram algo do cotidiano. Poucas semanas depois da
deflagração do extermínio na capital, os massacres também se espalharam para as áreas rurais, onde
praticamente todos os habitantes se conheciam – o que tornou ainda mais fácil a identificação dos
indivíduos “alvo” (PINTO, 2011).
As motivações por detrás do extermínio da população tutsi devem ser entendidas para muito
além do discurso que classifica o ocorrido como um simples conflito entre duas etnias distintas. O
governo hutu detinha o controle sobre a administração e sobre as forças militares, o que os propiciou
levar a cabo a campanha da matança – sempre através da justificativa de proteção do Estado contra os
extremistas tutsis. Todos os aparelhos disponíveis foram utilizados, inclusive a mídia – amplamente
instrumentalizada para incitar o ódio contra os rebeldes tutsis, revivendo na população hutu o medo
dos antigos governantes tutsis (PAULA, 2011). Desse modo, os assassinatos sistemáticos inseriram-
se em um cenário de disputas por poder político e econômico, representando não apenas dois polos
étnicos (hutu e tutsi), mas também dois polos de poder político (CARPANEZZI, 2008).
Ademais, o estopim dos acontecimentos também recai sobre o fracasso da estrutura de paz
arquitetada pela comunidade internacional: os Acordos de Arusha – que não conseguiram dar fim às
disputas – e a Missão de Paz UNAMIR (PAULA, 2011). Imediatamente após o início do extermínio,
os países estrangeiros evacuaram seus cidadãos que viviam em Ruanda e fecharam suas embaixadas,
negando auxílio aos ruandeses que clamaram por ajuda. As tropas da UNAMIR, instauradas no
território desde a Guerra Civil, ofereceram pouca resistência aos assassinatos – visto que a comunidade
internacional não entendia como válido interferir tão diretamente em assuntos considerados internos
do governo de Ruanda (KELLER, 2015).
No entanto, os números das mortes da população tutsi e hutu moderados continuou ascendente,
de forma que os países estrangeiros – e a própria Organização das Nações Unidas – não podiam mais
ignorar. Cerca de 500 mil indivíduos foram assassinados, além de dois milhões de ruandeses que se
deslocaram para os países vizinhos (Uganda, Tanzânia, Burundi e Zaire) em busca de um refúgio e de
uma chance de sobreviver. Assim, as discussões sobre o principal instrumento de paz utilizado pela
ONU para estabilizar a situação de Ruanda voltaram à tona: o papel e a validade da Missão de Paz
UNAMIR (CARPANEZZI, 2008).
3 Observadores militares são oficiais militares não armados, tradicionalmente empregados para monitorar e supervisionar acordos entre
partes de um conflito que estabeleçam arranjos como cessar-fogo ou armistícios. Sua função principal é monitorar e reportar o cumprimen-
to dos acordos e da situação militar em geral na região empregada (ONU, 2003).
4 Zonas desmilitarizadas são territórios, pré-demarcados em acordos internacionais, cuja presença de atividades, pessoal e instalações
militares estão proibidos. Muitas vezes essas são consideradas zonas “neutras” dentro do conflito (BRASIL, 2007).
5 A Operação das Nações Unidas na Somália (UNOSOM I e II) não foi capaz de prevenir a Guerra Civil na Somália e teve como consequ-
ência adjacente a retirada dos EUA das missões de paz, após o massacre de seu contingente em uma operação em 1993, além de diversas
outras baixas entre os capacetes azuis (FAGANELLO, 2013).
abril de 1994 para discutir qual seria o futuro da operação. De modo geral, existiam duas possibilidades
centrais: um imediato e massivo reforço à UNAMIR, aumentando o número de tropas e expandindo sua
capacidade de ação para cerca de 5.500 soldados ou, oposto a isso, uma completa retirada dos batalhões
e um encerramento das atividades (BARNETT, 2014). Através da Resolução 912 (1994), decidiu-se por
um meio-termo – ainda que a UNAMIR não tenha sido finalizada, seu tamanho foi reduzido de 2.548
soldados para 270, que deveriam atuar na cidade de Kigali de modo a mediar os dois lados do conflito e
encorajar um cessar-fogo (MCQUEEN, 2006). A decisão levou em conta a situação de risco enfrentada
pelos capacetes azuis, assim como o rompimento dos Acordos de Arusha (motivo inicial da missão) e a
situação de guerra civil.
Sendo assim, a UNAMIR, no momento da reunião do CSNU em 17 de maio de 1994, conta com
contingente reduzido, apesar dos registros de pedido de reforços vindos do Comandante da Força em
Ruanda. Ademais a decisão de isolamento e não uso da força (derivados de experiências anteriores com
guerras civis, como na Somália) levam os membros do Conselho a agirem de forma a retardar decisões
que possam impactar diretamente a posição dos capacetes azuis na região (FAGANELLO, 2013).
quaisquer dos atos abaixo relacionados, cometidos com a intenção de destruir, total ou parcial-
mente, um grupo nacional, étnico, racial, ou religioso, tais como: (I) assassinato de membros do
grupo; (II) causar danos à integridade física ou mental de membros do grupo; (III) impor delibera-
damente ao grupo condições de vida que possam causar sua destruição física total ou parcial; (IV)
impor medidas que impeçam a reprodução física dos membros do grupo; (V) transferir à força
crianças de um grupo para outro (ONU, 1948, p. 2).
da legítima defesa – contra grupos rebeldes – como argumento para os assassinatos cometidos. Além
disso, outro ponto muito enfatizado pelos países presentes nas discussões era o papel de imparcialidade
das ações de manutenção de paz da Organização, ou seja, a comunidade internacional não deveria
escolher um lado do conflito para apoiar (PAULA, 2011).
Através de tais narrativas, o Conselho de Segurança evitou, por muito tempo, denominar a
situação de genocídio, principalmente porque tal ato significaria o dever de atuar ativamente para o
fim das atrocidades cometidas. Ao invés disso, afirmava-se que os acontecimentos representavam a
continuação da Guerra Civil travada até então e que a interferência assertiva das Nações Unidas era
inapropriada, visto que a contenção de tais crimes era dever exclusivo do Estado de Ruanda e de sua
própria jurisdição e soberania. É importante entender que a posição oficial da ONU era de repúdio e
condenação às atrocidades cometidas no conflito, entretanto, isso não significava que os países estavam
dispostos a pegar para si o dever de acabar com o extermínio (KELLER, 2015).
Deve-se ressaltar que, apesar de atualmente existirem provas concretas de que os atos de
atrocidade cometidos contra a população tutsi eram amplamente organizados e sistematizados, é
difícil concluir se tais provas e informações chegaram aos países do Conselho de Segurança na época
das discussões – mesmo que diversos estudiosos da situação apontem que sim. Assim, à época, sem
tais informações, ou sem provas destas, a comunidade internacional optou por evitar a classificação
como genocídio, mesmo depois de meses de ocorrência das atrocidades, evitando, também, aumentar
as forças da UNAMIR e tomar medidas concretas contra o governo de Ruanda (PINTO, 2011).
Frente ao acirramento das tensões em Ruanda e após a derrubada do avião do presidente, o CSNU
se viu obrigado a debater o futuro da operação, dando origem à Resolução 912 (1994). A decisão resultante
determinou a redução do tamanho da UNAMIR de 2.548 soldados para 270 (MCQUEEN, 2006). No texto desta
resolução, também estava manifestada uma extrema preocupação com a violência em larga-escala empregada
em Ruanda e a consequente morte de milhares de civis. Nesse sentido, é importante pontuar que não se fez
uso oficial do termo “genocídio” (CSNU, 1994b).
Levando em conta as ações internacionais adotadas até então, espera-se que, na reunião de 17 de maio
de 1994, os membros do CSNU adotem medidas cabíveis ao conflito em Ruanda. Deste modo, deve-se pensar
no futuro da UNAMIR, seja para uma extensão de seu mandato e expansão das tropas, um encerramento das
operações ou ainda uma terceira via. Além disso, o CSNU pode decidir de maneira favorável ou contrária a
um embargo de armas de fogo a Ruanda, embora seja relevante considerar que armas brancas, como facões,
são também amplamente utilizadas (BARNETT, 2014). Adicionalmente, espera-se que o CSNU discuta se um
cessar-fogo é possível de ser alcançado e se deve ser encorajado, bem como se o Acordo de Arusha ainda deve
ser tido como parâmetro para alcance da paz. Em suma, o CSNU deve debater quais as melhores formas de
dar fim às ondas generalizadas de violência, buscando definir se existe, de fato, uma situação de genocídio e
de que maneira se pode trazer paz e segurança de volta a Ruanda.
A República Federativa do Brasil considera a situação em Ruanda uma crise humanitária – e não um
genocídio – e é favorável a medidas que incentivem o cessar-fogo em Ruanda. Para isso, o país defende a
expansão do mandato da UNAMIR, uma vez que a considera essencial para o cumprimento dos Acordos de
Arusha e para a retomada da paz na região (PERES, 2014).
A República Checa enxerga a situação em Ruanda com bastante urgência e preocupação. O país é favorável a
uma expansão do mandato da UNAMIR e de suas tropas, acreditando que o objetivo primordial da operação
não seja o envolvimento direto na guerra civil, mas sim a defesa dos civis em perigo. Ademais, a República
Checa defende que a violência perante a população tutsi constitui um ato de genocídio (CSNU, 1994c).
A República Popular da China, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, defende a
necessidade de maior atuação da OUA na questão de Ruanda, além de estimular o diálogo entre as partes, a
cooperação com a UNAMIR e a retomada dos Acordos de Arusha. Ademais, considera de suma importância
a garantia da segurança dos capacetes azuis no ambiente de guerra civil e no futuro processo de negociações
(CSNU, 1994c).
O Reino de Espanha demonstra fortes preocupações com a situação em Ruanda. O país denuncia o genocídio
que transcorre na região e clama que as partes do conflito retomem as tentativas de acordos de paz. Ademais,
o país compreende e extrema necessidade da participação da UNAMIR na conciliação e do aumento do seu
contingente (CSNU, 1994c).
Os Estados Unidos da América defendem o Acordo de Arusha e acreditam que medidas interventivas são
necessárias para pacificar Ruanda, apesar de observar o assunto com um certo distanciamento. Anteriormente
bastante favoráveis à redução das tropas da UNAMIR, os EUA hoje defendem a extensão do mandato,
enfatizando, contudo, que a eficácia e alcance da missão de paz devem ser comprovadas para que a operação
continue (MCQUEEN, 2005).
A França defende a retomada dos Acordos de Arusha como a principal forma de restauração da paz e concorda
ISSN: 2318-6003 | v.6, 2018 CSNU • 119
• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2019 •
com a extensão do mandato da UNAMIR. Ademais, alinhado ao governo ruandês, o país entende que os
acontecimentos em Ruanda são resultados dos ataques da Frente Patriótica Ruandesa, defendendo que
as retaliações internacionais devem recair sobre tais extremistas (MENDONÇA, 2013).
A Nigéria, país porta-voz da importância da atuação dos países africanos nos conflitos de seu próprio
continente, defende a ação conjunta da ONU com os países representantes da Organização da
União Africana (OUA). Ademais, o governo nigeriano defende a extensão do mandato da UNAMIR,
enfatizando, contudo, que o foco da missão seja a ajuda humanitária às vítimas do conflito; e que a
Nigéria seja autorizada a enviar tropas próprias para a Missão (CSNU, 1994c).
O Sultanato de Omã, como membro não-permanente, suporta a autonomia ruandesa para a resolução
do conflito e estabelecimento da paz, bem como a continuação do diálogo para implementar o Acordo
de Paz de Arusha. Além disso, Omã toma como principal função do Conselho de Segurança o suporte
para as pessoas deslocadas e os refugiados e, para atingir esse fim, a expansão e a alteração do mandato
da UNAMIR (CSNU, 1994c).
O Reino Unido acredita que antes de qualquer proposta de ampliação da UNAMIR, é necessária a
garantia de um cessar-fogo acordado entre as partes a fim de não prejudicar a segurança dos capacetes
azuis. Ademais, a situação de guerra civil interna é vista como um ato sustentado por ambos os lados do
conflito e, por isso, o país se mostra reticente em apontar culpados (CURTIS, 2017; WILLIAMS, 2014).
A Rússia acredita que a única forma restaurar a paz em Ruanda é através da cooperação entre as
duas partes do conflito. Ademais, o país entende como necessária a implementação de um embargo de
armas à Ruanda, além de defender a criação de áreas dedicadas especialmente à ajuda humanitária –
principalmente ao longo das fronteiras do país (CSNU, 1994c).
(2) Qual deve ser o papel da Missão de Paz UNAMIR em Ruanda? Apenas humanitário, ou com o uso
da força?
(3) Frente à situação de guerra civil, é possível identificar um agressor principal no conflito? Se sim as
punições devem ser direcionadas apenas a ele, ou a todas as partes?
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ASSEMBLEIA DE GOVERNADORES
DO FUNDO MONETÁRIO
INTERNACIONAL DE 1986
A Renegociação das Dívidas Externas dos Países
Latino-Americanos
Felipe Jaeger Andreis, Igor Estima Sardo, Maria Eduarda Variani e Victoria
Ellwanger Pires1
1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
INTRODUÇÃO
Em 1944, ao final da Segunda Guerra Mundial (conflito militar global que teve início em 1939 e perdurou até
1945), estabelecem-se os Acordos de Bretton Woods que tinham como objetivo discutir a criação de mecanismos
capazes de reconstruir a ordem econômica internacional. Os mesmos visavam substituir o padrão monetário
1
utilizado até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) – o padrão-ouro –, fomentar o desenvolvimento econômico
e o comércio internacional, ajustar a balança de pagamentos2, auxiliar os países membros através de políticas
econômicas, aumentar a liquidez da economia internacional e criar regras para o funcionamento pleno da nova
ordem econômica (BELLUZZO, 1995). Outro resultado de Bretton Woods foi a consagração dos Estados Unidos
como potência hegemônica da economia internacional3 e o dólar como a moeda chave das finanças globais. Isso
porque as moedas de todos os demais governos deixam de ser alastradas no ouro, uma moeda “neutra” e passam a
ter correspondência direta com a moeda estadunidense: o dólar. Em suma, isso significa que quaisquer alterações
bruscas na economia norte-americana e no valor do dólar teriam duras consequências para os demais países.
(OLIVEIRA; MAIA; MARIANO, 2008).
A criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento (BIRD) também se dão através dessas reuniões e desses acordos. Ao Fundo é concedida a
função de fornecer recursos, por um curto período de tempo, para os países que apresentassem dificuldades na
manutenção da paridade de suas moedas ante o dólar, além de prestar auxílio e consultoria para os países acerca
de quais políticas econômicas deveriam ser adotadas. Ademais, o FMI seria o órgão responsável pela fixação das
taxas de câmbio4 e pela realização dos seus ajustes (COZENDEY, 2013).
O órgão máximo do Fundo é o Conselho de Governadores, formado pelos Ministros das Finanças ou
pelos Presidentes do Banco Central (designados pelos países-membros). Esses possuem a função de dirigir a
organização e possuem o poder de decidir questões basilares, tais como o aumento das quotas, a aceitação de
novos membros e a criação de emendas ao acordo constitutivo. As reuniões ocorrem uma vez por ano (exceto em
caso de reuniões extraordinárias motivadas por algum evento de força maior) e as decisões são realizadas por voto
postal, isto é, os votos de cada país possuem “pesos” diferentes dependendo da sua participação no capital do
FMI (são chamadas “quotas”). Além do Conselho de Governadores, o FMI possui dois outros órgãos: o Conselho
Executivo e o Secretariado. O primeiro é responsável pela supervisão da gestão, pela aprovação dos programas de
socorro do Fundo e pela discussão dos exames anuais das políticas econômicas dos membros. O último é liderado
por um Diretor Gerente que é eleito pelo Conselho Executivo e participa tanto das reuniões desse órgão como das
reuniões do Conselho de Governadores (FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL, 1944).
1 HISTÓRICO
Inicialmente, tanto os empréstimos do Fundo Monetário Internacional como os do Banco
Mundial eram direcionados aos países desenvolvidos cujas economias haviam sido afetadas pela
Segunda Guerra e passavam, portanto, por um momento de reestruturação. O FMI tinha como principal
objetivo auxiliar essas economias a passarem pela transição e realizarem as mudanças necessárias para
que se adequassem ao novo Sistema Monetário internacional, seguindo as regras estipuladas pelos
acordos de Bretton Woods. Entretanto, na prática, realizar essas mudanças era um processo muito mais
1 O padrão monetário é o sistema utilizado pelas autoridades monetárias como a unidade de correspondência da sua moeda. O padrão-ou-
ro, por exemplo, era quando os governos tinham o valor da sua moeda definido em uma quantidade fixa de ouro e essa correspondência
era legal e internacional (SANDRONI, 1999).
2 Balança de pagamentos é o registro de todo o dinheiro que entra e que sai do país seja na forma de importações, exportações, investi-
mentos, serviços, etc. Uma balança comercial superavitária é aquela que tem mais dinheiro entrando do que saindo no país, enquanto uma
balança comercial deficitária é aquela que mais envia dinheiro para fora do que recebe (SANDRONI, 1999, p. 40).
3 “A liquidez da economia nada mais é do que a quantidade de dinheiro vivo circulante disponível nela” (SANDRONI, 1999, p. 350).
4 Taxa de câmbio é a correspondência que duas moedas têm entre si, ou seja, o preço de uma delas medido em relação à outra. No regime
de câmbio fixo há a interferência de uma autoridade monetária (normalmente o Banco Central dos países), que determina um preço fixo
de uma moeda estrangeira em moeda nacional, a fim de que não haja variação na taxa. No regime de câmbio flutuante as taxas variam de
acordo com o mercado, isto é, de acordo com a oferta e a demanda por moeda, sem a interferência de políticas Estatais (SANDRONI, 1999).
complexo do que o previsto pelas instituições. Os países se viam incapazes, ou não viam vantagem, em adotar
o padrão dólar-ouro5 e em manter uma base monetária consistente com a paridade cambial6 estipulada pelo
FMI, um dos pilares do novo Sistema Monetário. As nações até reconheciam o dólar como moeda central,
mas utilizavam taxas de câmbio diferentes daquelas estipuladas pelo FMI (OLIVEIRA; MAIA; MARIANO,
2008).
O Fundo foi percebendo que havia um descompasso entre o que era determinado pelos economistas
que elaboraram as normas e o que de fato era a realidade da economia internacional naquele momento.
A instituição passou a priorizar a estabilização das balanças de pagamento e a prestação de consultoria
aos países membros, acreditando que fortalecendo a economia desses países posteriormente os mesmos
se adequariam às regras do novo Sistema Monetário. Um dos principais empecilhos à adoção da paridade
da moeda era a insuficiência de dólares no mercado internacional, mas graças aos gastos militares norte-
americanos (tanto na Europa como na Ásia) e aos investimentos das empresas norte-americanas atuando no
exterior, esse problema foi sendo contornado (EICHENGREEN, 2000).
O número de dólares na economia internacional atingia uma quantidade considerável, principalmente
na Europa, e os países desenvolvidos, em sua maioria, já haviam recuperado suas capacidades produtivas e
estabilizado sua balança de pagamentos. Em 1952, o Japão e a Alemanha fixaram suas paridades cambiais
ao padrão dólar-ouro, sendo esse um marco de consolidação do sistema Bretton Woods. Ao longo da década
de 1960, o sistema passou por uma fase de expansão já que esse período foi marcado pelo surgimento de
Estados que se tornaram independentes (como por exemplo, a Nigéria e a Costa do Marfim) e passaram a
fazer parte da nova ordem econômica, adequando suas economias às leis que regulamentavam tal ordem e
à conversibilidade. Outra consequência é que com a revitalização das economias dos países desenvolvidos,
o FMI passa a conceder apoio financeiro para países em desenvolvimento, mesmo àqueles que ainda não
haviam adotado a paridade cambial estipulada pelo Fundo (COZENDEY, 2013).
Aparentemente, tudo corria bem, entretanto, uma falha inerente ao funcionamento do sistema era
evidenciada quanto mais o mesmo se ampliava. O paradoxo, apontado ainda em 1959, por Robert Triffin,
economista belga-estadunidense, consistia no seguinte: conforme mais países adotavam a conversibilidade
(o novo padrão estipulado) e, portanto, liberalizavam os fluxos de capitais, mais dólares eram necessários
na economia internacional. Isso porque esses países passavam a precisar de dólares em suas reservas a fim
de garantir a conversibilidade de suas moedas. A expansão da liquidez internacional era um pré-requisito
para o funcionamento do sistema, entretanto, garantir tal liquidez colocava em risco a estabilidade da
economia estadunidense. Isso porque a remessa continuada de dólares ao exterior (a fim de garantir a
liquidez da economia internacional) acabava por causar um déficit constante na balança de pagamentos dos
Estados Unidos. E a permanência indefinida dos EUA nessa situação deficitária fez com que a solidez da
sua economia e garantia de que todo dólar em circulação possuía uma quantidade correspondente em ouro
fossem questionados (AGLIETTA, 1995).
Ademais, esse entrelaçamento entre a adoção de políticas econômicas norte-americanas (como emissão
e desvalorização de moeda7 ou o aumento da taxa de juros, por exemplo) e a liquidez global começam a criar
um sentimento de inquietude e receio na comunidade internacional. O padrão dólar-ouro, portanto, estava
fadado ao colapso já que a manutenção do déficit americano era insustentável, ao mesmo tempo em que esse
déficit era essencial para a manutenção da circulação de dólares nos mercados internacionais, reduzindo o
comércio mundial (EICHENGREEN, 2000; SERRANO, 2002).
Todas as tensões geradas pela insustentabilidade do padrão dólar-ouro chegam ao seu ápice no
início da década de 1970. O desenvolvimento do mercado de eurodólares (ou seja, os dólares depositados
em bancos europeus), a presença de gastos militares exacerbados dos EUA no exterior (principalmente com
a Guerra do Vietnã 1946-1954) e o fortalecimento de outras moedas como o marco alemão e o yen japonês
acabam pressionando o dólar pela sua desvalorização (OLIVEIRA; MAIA; MARIANO, 2008). Ademais, como
mencionado anteriormente, a situação deficitária estadunidense leva a uma grande desconfiança internacional
que resulta em uma corrida entre os governos para trocar as suas reservas de dólares por ouro. Devido a essa
soma de fatores, em 1971, o presidente estadunidense Richard Nixon anuncia a ruptura da conversibilidade
5 Padrão dólar-ouro foi o sistema adotado em que os Estados Unidos fixaram o valor de sua moeda no ouro (assim como todos países faziam du-
rante o padrão-ouro), os demais países, por sua vez, fixam o valor das suas respectivas moedas em dólar que possui conversibilidade em ouro. Os
países, portanto, não precisam manter grande parte das suas reservas em ouro, mas em dólar. (SANDRONI, 1999.)
6 Paridade Cambial é a relação de valor entre moedas de países diferentes, por exemplo, para comprar 1 dólar, em 2019, são necessários 3,95 reais e
o contrário também era válido. Caso um americano vá a uma casa de câmbio com um dólar, sairá de lá com 3,95 reais (SANDRONI, 1999, BANCO
CENTRAL DO BRASIL, 2019).
7 A fim de garantir a quantidade de dólares na economia internacional constante uma das opções do Banco Central Estadunidense seria a emissão
de mais dólares, entretanto, a expansão da oferta de moeda gera a sua desvalorização, tendo como consequência interna um aumento dos preços,
ou seja, inflação (SANDRONI, 1999).
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do dólar em ouro, forçando o FMI a passar por uma reestruturação com a intenção de repensar seu papel em
uma economia sem lastreamento do dólar ao ouro. O novo padrão que entra em vigor, portanto, é o dólar-
flexível no qual as moedas continuam tendo seu valor dado pela conversibilidade ao dólar, mas sem que o
dólar tenha conversão ao ouro (IRWIN, 2013).
A crise do FMI é agravada pela crise econômica causada pelo aumento dos preços do petróleo em
1973. Fruto de uma retaliação ao apoio dos Estados Unidos e dos países europeus a Israel na Guerra do Yom
Kippur8, a redução drástica da produção de petróleo por parte dos principais países exportadores (como
Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait) acaba elevando o preço do barril em 400% em um espaço de três meses
(IPEA, 2010). O impacto dessa represália foi imediato em todos os países importadores de petróleo que, em
sua grande maioria, reduzem as importações de barris e entram na busca por fontes alternativas de energia
(ISSAWI, 1978). Ademais, políticas econômicas como a redução e maior controle das contas governamentais
e a elevação das taxas de câmbio são utilizadas como forma de garantir a manutenção de suas balanças de
pagamentos.
Em 1974, após diversas reuniões, surge uma proposta do FMI com modificações para que o Fundo se
adeque à nova realidade do padrão dólar-flexível e do regime de taxas flutuantes (COZENDEY, 2013). É criada
uma emenda da Convenção que permite aos países definir o seu regime cambial e a variação da sua taxa, o
que se traduz na perda do poder de decisão e de controle que o Fundo exercia sobre os câmbios dos países
membros. As reservas que a instituição possuía deixam então de ser necessárias como alternativas de garantir
a paridade da moeda a curto prazo ou como empréstimos para reconstrução da economia dos países pós-
guerra. Com os efeitos econômicos do choque do petróleo, o FMI dedica parte dessas reservas a um fundo
para auxiliar os países prejudicados pelos aumentos. Apesar dos fundos do FMI serem destinados tanto para
países desenvolvidos como para países em desenvolvimento, os últimos priorizavam (desde a década de 60) o
financiamento de seus programas de desenvolvimento por meio de empréstimos realizados junto a grandes
bancos internacionais estadunidenses e europeus. Essa preferência, que era justificada pelas taxas de juros
baixas, era advertida pelo FMI devido ao alto risco de tais transações (COZENDEY, 2013).
Em 1979, ocorre a segunda crise do petróleo devido à Revolução Iraniana (1979) seguida pela Guerra
entre Irã e Iraque (1980-1988) e os preços deste recurso mineral mais uma vez vão às alturas, tendo, novamente,
impacto sobre as economias dos países importadores. A situação econômica mundial, que já era delicada desde
a desvinculação do dólar ao ouro em 1971, encontra-se ainda mais pressionada. Devido à instabilidade cambial
e ao contínuo aumento da demanda e das reservas internacionais de dólares, a economia estadunidense acaba
sofrendo, como consequência, um aumento das taxas de inflação (BELLUZZO, 2005; COZENDEY, 2013). A
resposta norte-americana ao caos econômico e à inflação foi dada por Paul Volcker, presidente do banco
central estadunidense, e ficou conhecida como o “choque dos juros”: a medida consistiu no aumento das
taxas de juros de uma média de 12,88% ao ano, em 1979, para 20,18% em 1980 (BELLUZZO, 2005). Devido a
importância da política monetária estadunidense na economia internacional, essa decisão teve efeito cascata
e logo havia um aumento generalizado nas taxas de juros no mundo todo.
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Um dos fatores que influenciou em grande medida o processo de endividamento foi justamente o
fim da taxa de câmbio fixa. A taxa de câmbio fixa que determinava que o valor de todas as moedas deveria
corresponder ao valor do dólar e, consequentemente, do seu correspondente em ouro, fazia com que os bancos
centrais dos países atuassem buscando manter o câmbio fixo. Utilizavam diversas políticas macroeconômicas
para tal e caso essas intervenções não fossem suficientes, recorria-se ao FMI, que “forneceria empréstimos
em dólares para que as reservas de um país fossem aumentadas, fortalecendo sua moeda. E, se isto não fosse
suficiente, o FMI poderia exigir mudanças – as ‘condicionalidades’ – na economia do país” (DATHEIN, 2003,
p. 5).
Para os países da América Latina, que não possuíam uma moeda forte como a dos Estados Unidos,
dos países da Europa e do Japão, por exemplo, o fim do padrão dólar-ouro e da taxa de câmbio fixa (em 1973)
significou um abalo nas suas economias, pois o câmbio flutuante regula a taxa de câmbio de um país de acordo
com a oferta e demanda por moeda internacional, sendo, portanto, mais instável. Uma vez desvalorizada
a moeda, a necessidade de pedir mais empréstimos, que já se mostrava recorrente, aumenta. Assim, “o
8 A Guerra do Yom Kippur (1973) foi um conflito entre árabes e israelenses devido a anexação de territórios sírios e egípcios por Israel (SAYIGH,
1997).
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endividamento externo”9 em relação ao Produto Interno Bruto (PIB)10 na região saltou de 17% em 1973 para
31% em 1981 e a soma dos ingressos de capital via empréstimos superou quase cinco vezes as entradas sob a
forma de investimento direto, entre 1971-81” (MARTINS, 2008, p. 4).
O aumento da taxa de juros irrompe na América Latina sob a forma da Crise da Dívida. Devido à
vulnerabilidade dos empréstimos tomados pelos países latinos às taxas de juros norte-americanas, com a
expansão desses juros, a soma do efeito cascata que se seguiu à fraqueza das economias da região, que ainda
estavam em fase de desenvolvimento e maturação, tornaram as dívidas impagáveis (CRUZ, 1984). Para que se
possa entender de forma mais completa essa fragilidade das economias e a natureza das dívidas foram feitos
5 estudos de caso.
Reagan (1981-1989), a qual acenou positivamente para novos empréstimos do FMI para a República Argentina.
No entanto, o reajuste salarial somado à hiperinflação fez greves explodirem país afora. O presidente Galtieri
procurou uma medida externa para recuperar a imagem manchada da junta militar: uma guerra patriótica.
Em 2 de abril de 1982, Galtieri ordenou que as Forças Armadas ocupassem as ilhas britânicas de Falklands,
Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, localizadas no sul do Oceano Atlântico. Historicamente, a República
Argentina sempre protestou a ocupação de tais ilhas, no entanto, governos anteriores sempre tentaram se
valer da diplomacia e não da força. O confronto com o Reino Unido foi uma vergonha para a Argentina que se
rendeu em junho do mesmo ano. O endividamento das contas da União, causado pelos gastos militares, pela
crise da dívida externa e pela queda do PIB, ademais ao fracasso militar e à imagem negativa, levaram ao fim
da ditadura militar argentina e do Proceso de Reorganización Nacional (FINCHELSTEIN, 2008).
Raul Alfonsín, após um processo de transição democrática encetado pelo general Reynaldo Bignone,
assume a presidência da Argentina de maneira legítima. De início, Alfonsín nomeia ao Ministério da
Economia Bernardo Grinspun. Alfonsín e Grinspun têm de lidar com uma dívida externa de 45,087 bilhões de
dólares e uma taxa de inflação na casa de 625%. Embora Grispun tenha obtido bons resultados com aumento
do salário real em 35%15 e o crescimento do PIB na taxa de 2,2%, o ministro deixa o cargo em 1985, ano em que
a economia argentina tem a sua pior queda (7,6% negativos de crescimento do PIB, isto é, “decrescimento”).
Alfonsín, que permanece no cargo da presidência, nomeia, então, Juan Vital Sourrouille para ocupar o
ministério em fevereiro de 1985. Como medida para conter a inflação, Sourrouille e Alfonsín põem em prática
o Plano Austral, que substitui o peso argentino pela nova moeda Austral – uma medida desesperada para
tentar conter a inflação. A partir de 1986, Alfonsín e Sourrouille começam a renegociar a dívida externa a fim
de contornar a moratória16 (GERCHUNOFF; LLACH, 1998).
15 Nível do salário em relação a seu próprio poder de compra em determinado momento. Se os salários monetários ou nominais aumentam na
mesma proporção do custo de vida, o salário real mantém seu poder de compra em 100% (SANDRONI, 1999, p. 543).
16 Suspensão temporária de todas as obrigações de pagamento com o resto do mundo.
17 “Milagre” Econômico foi o período de 1967 a 1973 em que a ditadura militar incentivou o crédito fácil e o consumo de bens domésticos para
obter aumentos extraordinários no crescimento econômico (LAGO, 1995).
18 Diminuição do poder de compra que a mesma quantia de dinheiro representava antes (SANDRONI, 1999, p. 521).
19 Ministério público responsável pela arrecadação e fiscalização da receita proveniente de impostos e encarregado da distribuição do dinheiro
arrecadado na economia do país (SANDRONI, 1999, p. 392).
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a inflação, a equipe econômica substitui o Cruzeiro, moeda da gestão Figueiredo, pelo Cruzado – equivalente
a 1.000 cruzeiros. Em 1986, a indústria brasileira se recuperava aos poucos, com uma taxa de crescimento de
8% e um PIB de cerca de 890 bilhões de reais. Entretanto, a inflação, no começo do ano, se encontrava em
cerca de 250%, com tendência crescente. A equipe de Sarney temia elevar as taxas de juros do país a fim de
não reduzir a atividade econômica e ser capaz de evitar a moratória, a qual já era cogitada pelo Ministério da
Fazenda. De 1986 em diante, a inflação oscilaria de mês em mês, mas sua tendência seria crescente durante
muito tempo (MODIANO, 1995; VERSIGNASSI, 2015).
Uma política fiscal e monetária irresponsável, juntamente com uma grande perda de entradas de capital,
acelerou a inflação, de 33% em 1970 a 354% em 1973. Embora a estabilidade do regime de Allende tenha
sido prejudicada por elementos externos (em particular por órgãos dos Estados Unidos), a incapacidade
de conter as pressões inflacionárias foi talvez o fator mais importante de sua queda.
A partir de 1973, com o estabelecimento do regime militar encabeçado pelo general Augusto Pinochet,
o Chile passaria por mudanças econômicas radicais. O Estado, anteriormente muito presente na economia
nacional através, por exemplo, da manutenção de preços (como o do combustível, da energia e mesmo
dos salários), seria afastado da grande maioria de suas incumbências a fim de que a economia pudesse ser
sustentada majoritariamente pelos mecanismos inerentes ao mercado – em contraposição ao exemplo acima
citado, teria-se, portanto, a definição de preços a partir de seus níveis de oferta e procura. Resumidamente,
pode-se dizer que o Chile estaria passando por um processo de liberalização econômica, projeto que entrou
em vigor para, ainda em seus estágios iniciais, reduzir o índice de inflação e melhorar a situação da conta
externa chilena (PARKIN, 1983).
Para Ffrench-Davis (2010), a política econômica posta em prática em um primeiro momento (1973-
1981) pode ser caracterizada pela adoção de um legítimo modelo neoliberal. Dentre algumas das reformas
promovidas, além da citada abolição do controle de preços, estão: a desregulamentação do mercado financeiro
doméstico, desde o acesso a novos empréstimos até a entrada de capitais estrangeiros no país; redução do
funcionalismo20 e dos serviços públicos; desarticulação dos sindicatos; e grandes remessas de privatizações.
Cabe mencionar ainda o auxílio fornecido pelo próprio FMI ao governo chileno para o estabelecimento
dessas medidas (PARKIN, 1983). Esse conjunto de diretrizes, por sua vez, gerou um grande ganho em volume
de exportações, especialmente com a alta do preço do cobre, uma das principais indústrias do país, entre
1973-74, e um impulso inicial para o aprofundamento da industrialização tanto neste quanto em setores
relacionados. Contudo, as mesmas se mostraram ineficientes no combate à inflação (como dito, uma das
prioridades do novo governo) e tiveram seus benefícios precocemente estancados pela posterior baixa do
preço do cobre, em 1975, reflexo do primeiro choque do petróleo (FFRENCH-DAVIS; AGOSIN; UTHOFF,
1997). Em linhas mais gerais, tem-se como resultado para o mesmo ano, embora a tendência tenha sido de
recuperação nos anos seguintes até 1981, “uma queda de 28% na produção industrial [e] uma diminuição do
PIB de 17%” (FFRENCH-DAVIS, 2010, p. 14).
Como apontado, a vagarosa recuperação não foi suficiente para preparar a economia chilena para
outra grande crise no início dos anos 1980. Sem contar com um mínimo apoio estatal, os agentes econômicos
não foram capazes de canalizar seus recursos na direção da superação dos choques externos (nova alta dos
preços do petróleo, queda das importações internacionais e consequente baixa dos preços dos principais
produtos exportados pelo país, diminuição das linhas de crédito), fato que comprovou a vulnerabilidade do
modelo vigente àqueles. Frente à pior recessão sofrida por países da América Latina em 1982, com uma
queda do PIB na casa de 14% e grande aumento da pobreza e da própria insatisfação popular, o governo se
viu obrigado a abandonar sua total fidelidade ideológica para lançar mão de políticas que pudessem trazer
resultados mais imediatos, como: a elevação dos tributos sobre produtos importados, o aumento do subsídio
fornecido à indústria nacional, a maior regulação do mercado financeiro e a nacionalização da dívida externa
(PARKIN, 1983).
Todas essas medidas contribuíram para uma retomada do crescimento já em 1986. Vale destacar ainda
a proximidade entre a administração do Estado chileno e o FMI, o que facilitou o início das negociações assim
que os primeiros sintomas da crise foram identificados e os acordos de renegociação realizados a partir delas.
Contudo, a recuperação gradual de maiores níveis de estabilidade econômica foi também acompanhada por
processos de concentração de renda e consequente aumento da desigualdade, muito em função da maior
capacidade de resposta dos setores mais consolidados da economia aos incentivos do governo e também das
privatizações realizadas desde o início da era Pinochet (FFRENCH-DAVIS, 2010).
prática através de mais empréstimos estadunidenses, que apesar de trazerem progresso e modernização,
também corroboraram com a intensificação da relação de dependência por parte do México, agora conectado
aos Estados Unidos de maneira mais fácil e rápida. Com a saída do presidente, a dívida externa do país se
encontrava na casa de 580 milhões de pesos (BAUTISTA, 2003).
O terceiro período foi marcado pela Revolução Mexicana (1910 até 1920), movimento político
e social que clamava por reformas no governo do país e opunha-se a candidatura de Díaz para mais um
mandato. Tratou-se de estabelecer um Estado pós-revolucionário aliado a criação de uma identidade nacional
mexicana, independe dos interesses estrangeiros (GALVÁN, 2013). Entre 1934 e 1940 foram nacionalizadas22
empresas ferroviárias e de petróleo controladas pelos Estados Unidos e pela Inglaterra (TOUSSAINT, 2002),
o pagamento da dívida externa mais uma vez foi adiado e essa diminuiu consideravelmente.
A partir da segunda metade da década de 1940, retorna uma política alinhada a países estrangeiros, com
destaque para os Estados Unidos. Firmam-se acordos bilaterais e de cooperação militar, ampliando a
possibilidade de negociação de altos empréstimos. No final dos anos 1960, revoltas populares são oprimidas
de forma violenta também com o apoio estadunidense (GALVÁN, 2013).
No quarto período, que abarca as décadas de 1970 e 80, o México encontrava-se com a economia
em crise, completamente endividado e com altas taxas de desemprego. Problemas com a produção agrícola
assolavam o país, que exportava pouco e importava muito, perdendo muito dinheiro devido à desvalorização
da sua moeda e aos altos níveis de inflação internacionais (BAUTISTA, 2003).
Durante esse período, os governantes apostaram na melhora da economia investindo na indústria petroleira.
Devido às crises do petróleo, o preço de cada barril se encontrava alto, assim como a demanda pelo produto.
Novamente a quantidade de crédito internacional era abundante, devido a necessidade de manter boas
relações com os países que possuíam a matéria prima. Em 1982, o México declara moratória novamente,
decisão que afeta drasticamente os países da América Latina como um todo, com destaque para o Brasil e a
Argentina, desencadeando um ciclo de atrasos no pagamento das dívidas externas. Essa decisão se deu em
razão do aumento substancial da taxa de juros de empréstimos estadunidenses (decorrentes, por sua vez, da
crise do petróleo e a das altas taxas de inflação internacionais). Mesmo com uma boa demanda pelo petróleo,
a quantidade vendida não supria o alto valor que havia sido retirado anteriormente em empréstimos para
investimento no setor (FREITAS, 2008). Aliado a isso estava a queda no preço das matérias-primas vendidas
pelo México para o exterior (TOUSSAINT, 2002).
22 “Transferência de uma empresa de propriedade particular para a propriedade ou controle do Estado. Em geral, as constituições dos países ca-
pitalistas delimitam as condições em que a nacionalização pode ser feita, procurando dessa forma resguardar a iniciativa privada” (SANDRONI,
1999, p. 418).
23 De forma simplificada, a situação deficitária de um governo significa que este gasta mais do que arrecada (SANDRONI, 1999).
24 Também conhecidos como commodities, são bens que não passam por nenhum processo industrial mais sofisticado durante alguma das etapas
de sua produção. Um exemplo bastante comum são produtos agrícolas em sua forma bruta, como soja e café (SANDRONI, 1999).
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A reversão desse cenário é iniciada a partir do governo de Carlos Andrés Pérez (1974-1979), já após a
volta do regime democrático. A nacionalização dessas empresas, posta em prática em fins de 1975, gerou um
aumento
da arrecadação tributária e possibilitou o aumento do investimento estatal e das linhas de crédito
disponíveis, sendo este último responsável pela elevação dos gastos do setor privado nacional. A partir de
então o Estado passa a ter não só os recursos necessários para promover seu desenvolvimento como também
tem poder sobre eles, o que lhe permite direcioná-los para setores, a seu ver, mais interessantes; por fim, a
convivência com índices reduzidos de inflação torna possível o surgimento do que muitos classificam como
“Estado Empreendedor” (CANO, 2002; LUCCA, 2016).
Esse posicionamento do Estado enquanto agente ativo na economia do país verificou-se especialmente
em ações que visavam a promoção da indústria nacional. Além da mencionada expansão creditícia, o governo
foi também responsável por criar empresas públicas no setor das indústrias de base25, consideradas essenciais
para que se pudesse dar início ao processo de Industrialização por Substituição de Importações26. Ainda, a
alta do preço do petróleo foi novamente benéfica por permitir a sustentação de preços fixados pelo governo
para os insumos das indústrias nascentes, que tiveram sua competitividade elevada frente aos artigos
importados (LUCCA, 2016). Embora tenha sido responsável por importantes avanços no que diz respeito ao
desenvolvimento socioeconômico venezuelano, a intervenção direta do Estado na economia foi acompanhada
por um grande aumento da captação de crédito internacional (uma vez que havia uma preferência dos bancos
por países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela, com relação à América Latina, em
função de seu potencial econômico) e, posteriormente, pela geração de déficits cada vez maiores (BULMER-
THOMAS, 2017).
Durante o governo seguinte, de Luis Herrera Campíns (1979-1984), o Estado continua a desempenhar
seu papel de principal ator econômico, elevando cada vez mais seus gastos, especialmente após o Segundo
Choque do Petróleo (1979). Mais uma vez um acontecimento externo é responsável por ditar o ritmo econômico
da Venezuela: com a nova alta dos preços do petróleo, “as exportações (em US$ bilhões) passaram [de] nove
em 1978 para 20 em 1980/81, e em torno de 15 em 1982/85” (CANO, 2002, p. 100). Esse grande afluxo de
recursos para o país gera dois efeitos opostos, quais sejam o incentivo ao investimento por parte do governo
e a necessidade de se manter um estoque razoável de moeda estrangeira para que seja possível sustentar a
consequente valorização da moeda nacional. Além disso, outro fator decisivo para a definição dos rumos da
economia venezuelana foi a política de alta das taxas de juros promovida pelos EUA, o que acarretou em um
vertiginoso crescimento da dívida externa e também em uma repentina escassez de crédito internacional
em função da desconfiança por parte das instituições financeiras a respeito da capacidade dos países latino-
americanos de pagar por seus empréstimos (CANO, 2002).
Ao final do governo Campíns, sentia-se a falta de políticas que combatessem mais diretamente a crise
da dívida. Para isso, foram postas em prática medidas como a redução dos gastos do governo e a desvalorização
da moeda com vistas a retomada de maior estabilidade. Os custos desse processo, contudo, foram traumáticos:
grandes quedas de salário, aumento contundente da massa de desempregados e queda drástica do PIB. Em
meio a grandes tensões sociais, essas políticas foram continuadas durante o governo de Jaime Lusinchi (1984-
1989), que tinha como diretrizes principais “o pagamento da dívida externa até o último centavo, a necessária
reforma do Estado e um Pacto Social para a governabilidade” (LUCCA, 2016, p. 290, tradução nossa).
No plano político, o governo passou a promover um aprofundamento das instituições democráticas,
com vistas a garantir também maiores níveis de transparência e assim recuperar sua credibilidade frente à
população. O aumento da confiança no Estado, por sua vez, garantia maior margem para que este pudesse
colocar em prática novas medidas de estabilização econômica que, em um primeiro momento, não elevariam
diretamente os níveis de bem-estar social. Entretanto, elas tinham a finalidade de aumentar a credibilidade
venezuelana a nível internacional, o que era fundamental para tornar a captação de novos recursos e o
refinanciamento da dívida possíveis. Dentre as referidas medidas, pode-se citar o subsídio concedido pelo
governo ao pagamento da dívida externa privada27 e uma alta desvalorização cambial, ocorrida em 1986
(CANO, 2002; LUCCA, 2016).
25 “Empresa ou setor industrial que alimenta os demais. São indústrias de base as que operam a extração de minérios e sua transformação em ma-
téria-prima para outros setores industriais, e também as indústrias de produção de energia elétrica” (SANDRONI, 1999, p. 300).
26 Processo por meio do qual um país concentra seus recursos na importação de insumos e/ou equipamentos necessários ao desenvolvimento,
dentro de suas fronteiras, de setores industriais mais sofisticados. Seu nome advém da natureza de constante renovação da pauta de importações a
cada novo estágio de industrialização completado (TAVARES, 1983).
27 Fornecimento de crédito a juros mais baixos para empresas e outras instituições privadas nacionais que estejam em débito com agentes no ex-
terior (BULMER-THOMAS, 2017).
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• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2019 •
Os Estados Unidos do México são o primeiro país a “quebrar” devido ao aprofundamento da crise econômica.
Além disso, são os primeiros a negociar com o FMI, em 1985, a implementação de um pacote de ajustes na
economia, que contou com medidas liberais radicais. A abertura da economia e as privatizações, realizadas
de maneira brusca, buscavam aumentar o investimento estrangeiro no país (LAPEÑA, 1997).
A situação econômica do Estado Plurinacional da Bolívia, fragilizada desde os governos militares (1964-
1971) que abriram e economia e realizaram diversos empréstimos junto a bancos norte-americanos, chegou
ao seu pior momento durante a década de 1980 devido aos níveis de inflação que chegam a 11,74% em 1985.
Após o aumento dos juros estadunidenses, e considerando-se a situação econômica boliviana, a dívida externa
se tornou praticamente impagável (THE WORLD BANK GROUP, 2018; ANPHLAC, 1998).
O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte durante os anos 1980 foi um dos bastiões do liberalismo
clássico. Em 1979, Margaret Thatcher, do Partido Conservador, é eleita Primeira-Ministra. Administração
Thatcher pôs em prática o verdadeiro projeto neoliberal. O Reino Unido nutre rivalidades com os vários países
latino-americanos – exceto o Chile – que apoiaram a Argentina durante a Guerra das Malvinas (ANDERSON,
1998).
A República Argentina busca renegociar sua dívida externa na reunião do FMI. Em 1983, o presidente
Raúl Alfonsín e seu Ministro da Economia Sourrouille tentam conter a hiperinflação de 625% e retomar o
crescimento do país. Alfonsín não está disposto a fazer concessões muito liberalizantes, a fim de renegociar a
dívida. Portanto, é preciso se aliar aos demais devedores e pressionar os credores (GERCHUNOFF; LLACH,
1998).
A economia da República do Chile vem passando por uma forte retomada de seu crescimento. Contudo, por
se tratar de um país severamente afetado pela crise do início dos anos 1980, o refinanciamento da dívida e/ou a
abertura de novas linhas de crédito são vistos com bons olhos. Em função do estreitamento de sua proximidade
com o FMI a partir de 1973 e das reformas econômicas já realizadas, é improvável que se encontre grandes
discordâncias entre ambas as partes (FFRENCH-DAVIS, 2010).
A década de 1980, na República da Colômbia, ficou conhecida como “la década del terror” principalmente
devido ao crescimento do narcotráfico no país. O período é marcado por instabilidade política, pela corrupção,
pelo narcoterrorismo e pela guerra contra o Cartel de Medellín (de Pablo Escobar). O governo de Belisario
Betancur (1982-1986), portanto, tinha como principal objetivo a pacificação da Colômbia. O país recebeu
amplo apoio dos Estados Unidos, tanto financeiro como estratégico, entretanto isso não impediu o país de
entrar em uma grande crise política e econômica (LÓPEZ, 2017).
A República da Costa Rica tem a crise da dívida externa como maior desafio. Porém, embora distante dos
conflitos nicaraguenses, hondurenhos, guatemaltecos e salvadorenhos, Costa Rica sempre desempenhou um
papel de mediador regional. No tocante à economia, o presidente eleito em 1986, Luis Alberto Monge Álvarez,
busca incentivar o turismo e a agricultura para recuperar crescimento (BRIGNOLI, 1983).
O caso da República Dominicana destoa do padrão encontrado na América Latina para os anos 1980. Em
virtude de seu passado histórico de grande proximidade com os EUA e em função de suas características
econômicas não muito atrativas aos olhos dos bancos internacionais, mais da metade de sua dívida no período
provinha de fontes oficiais (outros governos). Graças a essas características, o país configurou-se enquanto
um dos únicos cinco capazes de manter taxas anuais de inflação abaixo dos 10% em 1981 (juntamente com
Chile, Guatemala, Honduras e Panamá), embora ainda tenha sido bastante afetado pelo Segundo Choque do
Petróleo no ano seguinte (BULMER-THOMAS, 2017).
Os anos 1980 foram especialmente problemáticos para a República de El Salvador. No que tange não só
à economia mas à sociedade como um todo, a Guerra Civil iniciada em 1979 marcou um período de grande
instabilidade. Cabe destacar o grande auxílio econômico estadunidense fornecido ao governo por meio do
envio de recursos e da assinatura de acordos de preferência comercial (MATIJASCIC, 2014).
A República do Equador, ao terminar sua política de industrialização dirigida pelo Estado, na década de 80,
é amplamente influenciada pelo FMI a adotar medidas liberalizantes de sua economia. A reconfiguração do
Equador após o aumento das taxas de juros norte-americanas se dá de uma forma menos drástica que nos
demais países da América Latina, não sendo necessárias negociações extremadas junto ao FMI. Essa maior
“flexibilidade” se dá devido a dois fatores, principalmente, ao regime democrático que vigorava no país e às
exportações de petróleo que o país realizava (OLEAS, 2017).
A República Federativa do Brasil procura renegociar sua dívida externa na reunião do FMI. Em 1985, o
presidente José Sarney nomeia Francisco Oswaldo Neves Dornelles como Ministro da Fazenda. Sarney e
Dornelles planejam controlar preços e congelar inflação, a despeito da possível crise de abastecimento. Há
dois grandes problemas que esta delegação terá de enfrentar: a pressão para privatizar e a moratória da dívida
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(MODIANO, 1995).
A República Francesa, na década de 80, estagnou em matéria de crescimento econômico, cenário contrário
ao que vinha se mostrando na década anterior. Assumiu no país um governo de esquerda, mais preocupado
em estabilizar a situação econômica nacional do que investir em países estrangeiros. Ainda assim, a França
dispõe da quinta maior cota dentro do FMI, podendo conceder empréstimos caso entenda como promissor
para sua economia (NAÏR, 1997).
A República da Guatemala tem pela frente a crise da dívida externa e as instabilidades da América Central.
Para recuperar o crescimento econômico, o presidente eleito em 1984, Vinicio Cerezo, implementa reformas
tributária e estimula exportações – o crescimento do PIB é positivo até 1986. Cerezo nomeia coronel Enrique
Peralta Azurdia para o Ministério da Defesa, a fim de apaziguar a instabilidade regional (BRIGNOLI, 1983).
A República do Haiti vive desde 1957 sob um regime autoritário e repressor, chamado duvalierista, que era
ferrenho aliado norte-americano, beneficiando-se de doações e investimentos estadunidenses que temiam
uma revolta comunista no país. Entretanto, apesar dos investimentos e empréstimos realizados junto aos
EUA, o país não se desenvolvia economicamente. A situação de miséria da população somada às medidas
repressivas utilizadas pelo Estado fizeram eclodir revoltas, em 1986, por mudanças políticas, sociais e
econômicas (MATIJASCIC, 2009).
A República de Honduras enfrenta dois problemas: a crise da dívida externa e as guerrilhas da América
Central. O presidente eleito em 1986, José Simón Azcona, nomeia para o Ministério da Fazenda e Crédito
Público José Efraín Bú Girón. Enquanto isso, o presidente busca uma solução conciliada com as guerrilhas da
América Central e a rivalidade regional com Nicarágua, El Salvador e Guatemala (BRIGNOLI, 1983).
O Japão conseguiu manter sua economia estável durante as décadas de 1970 e 80. Apesar de sofrer impactos
com a crise do petróleo, conquistou espaço no mercado através de setores como o da automobilística e da
eletrônica. “Apesar da desaceleração, alcançou resultados econômicos compatíveis ou superiores a outros
países desenvolvidos” (GUIMARÃES et al., 2015, p. 6). Sua cota no FMI é a segunda maior dentre os países,
demonstrando sua posição de credor internacional (INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2019).
A República da Nicarágua, desde 1984, tenta renegociar suas dívidas com os organismos internacionais.
Em 1986, a Nicarágua representa o principal foco de instabilidade regional, devido à guerra civil e à pressão
de Washington contra o governo marxista de Daniel Ortega. As dívidas nicaraguenses foram contraídas
após décadas de ditadura militar da família Somoza, que foi destituída por uma revolução popular em 1979
(BRIGNOLI, 1983).
A República Oriental do Uruguai passou por um período de crescimento econômico durantes aos anos
de 1978 e a 1980. Em 1983, assinou com o FMI uma “carta de intenção”, recebendo ajuda para estabilizar a
balança de pagamentos mediante a implementação de medidas liberais na economia. Controlou-se a inflação
e a dívida externa às custas da precarização dos serviços público e dos salários. Ainda assim, o déficit nas
contas persiste. O país está aberto a negociar com as instituições internacionais (HARGAIN, 2019).
A República do Paraguai, apesar de apresentar significa expansão em alguns setores da economia (construção,
comércio e finanças) entre os anos de 1972 e 1982, começou a perder dinamismo a partir desse ano. As taxas
de crescimento por setor caíram drasticamente, assim como as taxas de emprego. As medidas implementadas
pelo governo não surtiram melhoras, e os empréstimos estrangeiros não foram suficientes para estimular as
empresas nacionais. O país está aberto a ajuda dos organismos internacionais (ARCE et al., 2011).
A história da economia da República do Peru sempre foi marcada por turbulência e instabilidade. Golpes
sucessivos, desastres naturais e uma guerra civil contra a guerrilha Sendero Luminoso tornaram impossível,
durante as décadas de 1970 e 80, o desenvolvimento econômico do país. Cercado por altas taxas de inflação
e com a população vivendo, praticamente, uma crise humanitária, o presidente Alan García Pérez, eleito em
1985, decide que o Peru não destinaria mais que 10% do valor arrecadado com as suas exportações para o
pagamento da dívida externa (MOORE et al., 2018).
O recente histórico da experiência da Venezuela aponta para um Estado ativo na economia. Sendo assim,
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é difícil imaginar que o país venha a acatar as medidas propostas pelo FMI sem questioná-las. No entanto,
o sucesso das negociações do refinanciamento da dívida é extremamente importante para o país, tendo o
mesmo já optado por medidas que visam a maior arrecadação de depósitos em moeda estrangeira – como a
desvalorização cambial – e o corte de gastos do governo (CANO, 2002).
(2) Em situações de desequilíbrio externo, há uma alternativa ao FMI para os países em desenvolvimento?
(3) Quais os custos da manutenção do sistema financeiro internacional para os países em desenvolvimento?
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1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
(2) Por que os países defendem ou não o respeito ao Tratado de Versalhes para a manutenção da paz?
INTRODUÇÃO
A Liga das Nações foi uma organização internacional criada em 1919, pela Conferência de Paris,
com o intuito de apaziguar os conflitos internacionais e garantir o direito à autodeterminação a todos
os países. Buscava a resolução de questões por meios democráticos e pacíficos, e também a construção
de normas e regras para lidar com questões internacionais, em especial a questão do armamento.
O programa de rearmamento alemão foi iniciado ainda em 1919, mas enfrentou diversos desafios
pela perda de capacidade da economia alemã e pelas restrições do Tratado de Versalhes, que limitavam
suas Forças Armadas. A discussão passa a ser o foco da Liga das Nações, devido à ascensão de Hitler ao
comando da Alemanha e sua proposta agressiva de expansão territorial e do poderio militar do país.
Este Guia de Estudos se estrutura por uma contextualização histórica do período entreguerras
(1918-1933) até o momento da reunião. Posteriormente, discutimos o problema específico do rearmamento
e demonstramos algumas iniciativas de controle de armas já postas em prática internacionalmente. Por
fim, apresentamos brevemente o posicionamento dos países no comitê.
Ressaltamos que o processo a ser debatido é determinado pelo lugar e tempo em que se passa.
A discussão sempre se reflete nos acontecimentos posteriores e é fruto do que aconteceu no passado.
Entender os motivos que originaram a ascensão do fascismo/nazismo agressivo, bem como as dinâmicas
que impossibilitaram a contenção do mesmo, são fundamentais para entender os desdobramentos
futuros e fenômenos que se reproduzem até os dias de hoje no cenário internacional.
1 HISTÓRICO
Para compreender os motivos que levaram ao rearmamento da Alemanha e os perigos desta
ação para o Sistema Internacional, é preciso analisar o processo de formação do Estado alemão e
como isto resultou na alteração de forças da balança de poder1 europeia. O fim da pax britânica2, as
disputas imperialistas, a Segunda Revolução Industrial e a ascensão da Alemanha como nova potência
culminaram na Primeira Guerra Mundial. Apesar de o final do conflito ter sido marcado pela elaboração
do Tratado de Versalhes (1919), as contradições que levaram à disputa permaneceram, sendo catalisadas
pelo surgimento de novos atores na diplomacia internacional (VISENTINI, 2014).
1 Mecanismo pelo qual o Sistema Internacional tende ao equilíbrio. De acordo com esta teoria, caso algum país busque o domínio mundial
expandindo seu poder, os outros países buscarão formar uma aliança para “balancear” – criar um contrapeso – e, com isto, enfraquecer
este país em expansão (WALTZ, 1979).
2 Período de hegemonia britânica, quando o país possuía a primazia militar e econômica do Sistema Internacional, controlando rotas co-
merciais e expandindo o Império Britânico. Compreende desde o Congresso de Viena (1815), até os eventos que antecederam a Primeira
Guerra Mundial (1914) (VISENTINI, 2014).
do imperador francês, Napoleão III, de recuperar seu prestígio interno e externo e sua ocorrência
contribuiu para a efetivação da política bismarckiana de unificação alemã em torno da Prússia3. Desse
modo, em 1871, com o Tratado de Frankfurt, a guerra chegou ao fim, resultando em uma humilhante
derrota francesa, com perda de parte da Alsácia e Lorena — região rica em ferro, recurso muito
necessário para a Segunda Revolução Industrial —, pagamento de indemnizações à Alemanha e tendo
parte de seu território ocupado por tropas da Alemanha — agora um único Estado federal — até o
pagamento da dívida francesa (DUROSELLE, 1976; VISENTINI, 2014).
Com este processo, não apenas o mapa europeu sofreu modificações, como também as estruturas
da balança de poder do continente. Os desenvolvimentos econômicos e militares da Alemanha
resultaram em uma maior influência geopolítica do país na região, ao passo que Estados como a França
e o Império Austro-Húngaro se enfraqueceram. Uma guerra neste período, portanto, seria prejudicial
para o desenvolvimento da nascente economia alemã, mas, ao mesmo tempo, era importante a força
bélica do novo império como estratégia de defesa. Desta forma, Bismarck desenvolveu um sistema
de alianças com a Áustria-Hungria, Rússia e Itália — o Sistema Bismarckiano — com o objetivo de
proteger a Alemanha de possíveis ameaças e isolar a França (DUROSELLE, 1976; KISSINGER, 2001).
Ao mesmo tempo, nos anos 1880, acontecia a chamada Segunda Revolução Industrial, marcada
por inovações tecnológicas, pelo uso do aço e do petróleo na produção de bens e com a popularização
do acesso à energia elétrica.. Enquanto a Primeira Revolução Industrial aconteceu majoritariamente na
Inglaterra, este novo processo espalhou-se para a França, Alemanha, Estados Unidos e Japão. Houve,
desta forma, uma disputa entre estes Estados por mercados consumidores – dado o aumento da produção
e, consequentemente, da exportação de produtos industrializados – e fontes de matéria-prima, que
desencadearam a corrida imperialista4 na África e Ásia. A Conferência de Berlim de 1884, que dividiu o
território africano entre os Estados europeus, é um retrato desta disputa, onde a Inglaterra e a França
adquiriram os territórios com mais recursos, desconsiderando e desprezando países recém-formados
ou menos poderosos, como a Alemanha e a Itália (DUROSELLE, 1976).
Bismarck, como resposta, adotou uma estratégia de priorizar a diplomacia dentro do continente
europeu e fortalecer sua influência interna. Ele usou-se da política de manter a França e a Inglaterra nas
disputas imperialistas, desviando sua atenção da anexação da Alsácia-Lorena ao território alemão, bem
como para fortalecer suas alianças baseadas nas rivalidades entre os outros Estados. Pode dizer-se que
Bismarck obteve sucesso no isolamento francês e, ao adquirir apoio de diversos países, proporcionou
uma estabilidade europeia sem guerras entre potências, que possibilitaram o fortalecimento do Estado
alemão. Por outro lado, o chanceler alemão não foi capaz de criar um sentimento de nacionalismo e
identidade dentro da Alemanha, pois estava focado justamente em promover esta estabilidade externa
(KISSINGER, 2001; FULBROOK, 2012).
Com a morte de Bismarck, seus sucessores não foram capazes de manter o sistema de alianças/
política externa que este havia criado. Além disso, a nova re-anexação da Alsácia-Lorena pela Alemanha
havia começado a criar um clima de instabilidade na Europa. Historicamente, o povo alemão obteve
inúmeras perdas, tanto econômicas quanto territoriais, por conflitos armados, como a Guerra dos 30
Anos e as guerras napoleônicas, criando uma fragilidade nacional que foi transposta por meio de uma
política de militarização acelerada. Neste período, o aumento de sua preparação bélica criou uma
insegurança nos vizinhos europeus, dando início à corrida armamentista no continente. Pode colocar-
se, portanto, que esta preparação armamentista alemã contribuiu para o ambiente de incerteza e para
a disposição bélica dos outros países (DUROSELLE, 1976; KISSINGER, 2001).
Como a Alemanha localiza-se no centro da Europa, sua expansão implica, necessariamente,
em confronto com outros Estados, unindo-se também à ideia de pangermanismo5. Teve início, então,
as disputas territoriais no continente envolvendo os alemães. Ao mesmo tempo, a Áustria-Hungria
entrou em confronto com a Rússia na região dos Bálcãs6, onde ambas tinham interesses econômicos e
estratégicos. Desta forma, a formação de blocos diplomáticos foi um resultado direto da necessidade
de conter a expansão dessas novas potências – como a Alemanha –, nas regiões de interesse das
3 A chamada “Pequena Solução Alemã”, que unificava a Alemanha ao redor do antigo Estado da Prússia, saiu vitoriosa sobre a “Grande
Solução Alemã”, que incluía também a Áustria (DUROSELLE, 1976).
4 Um novo tipo de imperialismo que usava argumentos civilizatórios para promover a abertura dos territórios para o comércio interna-
cional e visavam explorar economicamente os países – buscando a exploração de minerais, matéria primas e gêneros tropicais – e vender
as manufaturas que produziam (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2007).
5 Ideologia que visa a juntar, em um mesmo Estado, os povos de origem germânica (POTEMKIN, 1943).
6 Região do sudeste da Europa que engloba regiões desde a Albânia à parte da Turquia. Sua importância está no acesso a mares de água
quente, essenciais para o comércio.
demais nações. Em 1904, a França e a Inglaterra – mesmo sendo inimigos históricos – uniram-se na
série de acordos conhecida como Entente Cordiale, ao passo em que a Rússia tentava controlar a
expansão japonesa na Ásia. Já em 1905, com a crise do Marrocos7, surgiu a Tríplice Entente, formada
por Inglaterra, França e Rússia e, da mesma forma, Alemanha, Itália e Áustria-Hungria se uniram
na Tríplice Aliança, concretizando as coalizões que tiveram papel fundamental na Primeira Guerra
Mundial. Estas alianças foram responsáveis por acelerar a corrida armamentista, além de exacerbar o
nacionalismo e o militarismo revanchista entre os alemães (HOBSBAWM, 1995).
os alemães afundarem navios estadunidenses que tentavam chegar à Inglaterra com insumos para a
guerra (HOBSBAWM, 1995; VISENTINI, 2014).
Em 1918, o governo russo assinou o tratado de paz com a Alemanha, da mesma forma que o
Império Austro-húngaro, o Império Otomano e a Bulgária retiravam-se do conflito, tornando a derrota
alemã iminente. A pressão social dentro da Alemanha aumentava, provocando uma revolução, com a
criação de um governo civil para negociar o armistício, e a transformação da Alemanha imperial em
uma república, conhecida como República de Weimar9. Desta forma, em 1919, aconteceu a Conferência
de Paris, na qual os 27 países que saíram vitoriosos da guerra elaboraram o Tratado de Versalhes
(VISENTINI, 2014).
Tratando-se de números, a Primeira Guerra Mundial foi o primeiro conflito em larga escala que
obteve mais civis mortos do que militares. Isto causou não só traumas psicológicos às gerações que o
viveram, mas também impactos econômicos no sistema produtivo, pois houve grande perda de mão de
obra. O território europeu foi devastado, com os meios de produção destruídos, e os países acabaram
com grandes endividamentos externos, tornando as economias europeias vulneráveis (KISSINGER,
2001; POTEMKIN, 1943).
O Tratado de Versalhes, nesse sentido, foi um mecanismo para culpar a Alemanha pelos males
causados na guerra, ao passo que também buscou restabelecer um equilíbrio entre os vencedores. Desse
modo, foi acordada a entrega dos territórios alemães conquistados aos vencedores – como suas colônias,
Alsácia-Lorena para França e parte dos Bálcãs à Polônia –—, bem como sua redução e restrição bélica
e ainda, o pagamento de uma dívida exasperada. Além disso, foi criada a Liga das Nações que tem por
objetivo a manutenção da paz em um nível mundial (HOBSBAWM, 1995; POTEMKIN, 1943).
O Sistema Internacional baseado no Tratado de Versalhes – também chamado de Sistema de
Versalhes – prejudicou não somente a Alemanha, mas também as outras dinâmicas europeias, sendo
responsável por radicalizar o nacionalismo conservador alemão e italiano nos anos posteriores. O
sentimento de revanchismo destes dois Estados foi agravado pelas condições que lhes foram impostas
no Tratado, assim como pela situação de crise econômica pós-guerra. Além disso, as contradições
responsáveis pelo início da guerra, como as disputas por territórios coloniais, matéria prima e mercado
consumidor. não foram resolvidas. Estas foram inclusive agravadas, ocasionando instabilidades
sistêmicas nos anos seguintes (KENNEDY, 1989; VISENTINI, 2014).
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
A análise da situação alemã é especialmente interessante, na medida em que este foi o país que
sofreu as maiores sanções pelos tratados de paz e que teve uma das transições político-econômicas mais
radicais (MACHADO; SILVEIRA; FOLETTO, 2014). Os danos sofridos pela Alemanha durante e após
a guerra tiveram profundos impactos na sociedade e na cultura política da nação. As perdas territoriais
para países vizinhos, a destituição das possessões coloniais, as restrições militares e industriais e as
grandes quantias de dinheiro a serem pagas em reparações de guerra10, influenciaram a República de
Weimar. Ao longo das décadas de 20 e 30 do século passado, a Alemanha testemunhou um ambiente
político extremamente polarizado entre forças constantemente em embate. Seguiram-se tentativas de
golpes e secessão por grupos tanto de direita quanto de esquerda, contribuindo para a instabilidade
interna do país (VISENTINI; PEREIRA, 2010).
11 A Grande Depressão é o nome dado ao período de crise e recessão econômica que perdurou ao longo dos anos 30 em consequência da
Crise de 1929. Esta é conhecida como uma crise de superprodução, marcada pelo desequilíbrio entre a produção e o consumo de diversos
produtos, sobretudo nos EUA, afetando todo o comércio internacional na época e deixando milhões de desempregados. Considera-se
como marco inicial desta crise a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em outubro de 1929, quando os preços das ações de Wall Street
caíram drasticamente. Esta notícia alarmou não somente os norte-americanos, mas propagou-se mundialmente, como um “atestado” do
grande nível de recessão existente (FONSECA, 2009).
12 O Putsch (golpe, em alemão) de Munique de 1923, como veio a ser conhecido, foi uma tentativa de Adolf Hitler, juntamente com outros
correligionários, de tentar tomar o poder do estado alemão da Baviera à força. A tentativa não teve sucesso e Hitler acabou preso, sendo
solto anos depois e consolidando-se como líder de fato do NSDAP (CIOFFI PEREIRA, 2017).
vez mais agressivos e surgiram evidências de que a Alemanha havia mantido o desenvolvimento de
armamentos modernos, proibidos pelo Tratado de Versalhes, além de ter treinado um grande número
de soldados para a reserva, oficialmente ou em organizações paramilitares13, e iniciado a reconstrução
da sua Força Aérea. A França, sendo um país fronteiriço que havia sido invadido na última guerra, era o
país mais temeroso com relação ao possível rearmamento alemão, por acreditar que o vizinho buscava
vingança pelos territórios perdidos após o final do conflito. A Inglaterra, no entanto, acreditava que os
franceses concordariam em reduzir seu poder militar, evitando que a Alemanha desejasse se rearmar, e
apaziguando a Europa continental (VISENTINI; PEREIRA, 2010; RANKE, 2011).
Assim, a Europa e o mundo encontravam-se em um momento particularmente sensível, com
intensas dinâmicas econômicas e políticas, no qual a diplomacia era necessária, mas parecia ter sido
deixada de lado. A ascensão dos extremismos afastava países com governos discordantes e agrupava-
os em blocos, de forma semelhante ao que ocorrera antes de 1914. O medo de que uma nova guerra
acontecesse era grande e os países tinham consciência de que, caso ocorresse, seria um conflito
longo e potencialmente muito destrutivo. Portanto, resolver as questões militares e as desavenças e
desconfianças legadas pelo final da guerra anterior, que solucionou poucas das contradições que levaram
a ela era crucial para evitar a ocorrência de um novo conflito continental ou mundial (HOBSBAWM,
1995).
13 A SA (Sturmabteilung, ou Divisão de Assalto) e a SS (Schutzstaffel, ou Tropa de Proteção) foram organizações armadas na Alemanha no
período pós-Primeira Guerra Mundial que eram independentes do Estado alemão, mas que atuavam defendendo os interesses do Partido
Nazista e de seus membros (VISENTINI; PEREIRA, 2010).
zona segura na sua fronteira. O plano francês era desmembrar a região e criar um Estado-tampão na
fronteira com a Alemanha para evitar uma nova guerra, plano rechaçado pela Alemanha e pelo Reino
Unido. Este último serviu como mediador das relações conflitivas entre França e Alemanha até o fim da
ocupação, evitando o acirramento das desavenças (KLINKE, PEROMBELOM, 2015; RIORDAN, 2005).
O Grande Reich Alemão busca revisar as proposições do Tratado de Versalhes (1919) e das tratativas
subjacentes, como os Tratados de Locarno (1925), buscando uma condição de igualdade com as demais
potências europeias no que concerne à segurança e defesa. A Alemanha acredita ser injustiçada pelas
diversas limitações impostas sobre suas forças armadas e demanda a possibilidade de aumentar seus
efetivos a níveis equiparados, tanto de equipamentos quanto de soldados, com os demais países vizinhos
(DEIST, 1981).
A Itália foi menosprezada pelo Reino Unido e pela França, seus aliados na Primeira Guerra Mundial,
durante as negociações de paz. Consequentemente, o país teve poucas demandas atendidas e, ainda,
recebeu pouca atenção das potências ocidentais. Internamente, a política fascista, adotada por Benito
Mussolini a partir de 1922, passou a focar em um programa de rearmamento, visando a equilibrar
o poder italiano frente à França, ao Reino Unido e à Alemanha. O governo italiano busca acordos
que garantam o controle armamentista dos países, mas respeitando e exigindo a equidade das forças.
Iniciativas como o Tratado de Washington (1922) são bem-vindas para garantir que o país consiga se
equiparar a seus rivais (TOLLARDO, 2016).
O Japão preza pela manutenção de relações amistosas com os países da Liga, de maneira a seguir,
muitas vezes, as tendências gerais manifestadas em Assembleia. Nesse sentido, o Japão demonstrou-se
favorável a uma política de desarmamento e, caso essa seja concretizada, tal medida deve ser simultânea
em todos os países. Contudo, o Japão defende que a Assembleia não deve intervir nas estratégias navais
japonesas, nem no recrutamento de seus soldados (BURKMAN, 2008).
Sendo um dos países mais afetados pela Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido da Grã-Bretanha e
Irlanda do Norte julga que o desarmamento é uma forma de assegurar paz e prosperidade no cenário
internacional, além de ser capaz de reafirmar os princípios da Liga das Nações, como o respeito ao
direito internacional e à diplomacia como mecanismo de ação (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA,
2019). Tendo isso em vista, o país propôs um projeto de convenção para o desarmamento, o qual foi
aprovado como base para a discussão (HENDERSON, 1936).
A Espanha vê a Liga das Nações como uma organização mantenedora da ordem internacional, bem
como do equilíbrio de forças no pós-guerra. Assim, o país assume os princípios da Liga das Nações,
com o intuito de auxiliar na construção de uma ordem de paz e proteger-se de uma possível agressão, a
qual poderia prejudicar a reconstrução do país. A política espanhola na Liga consiste em um equilíbrio
entre sua neutralidade e seu empenho para com os compromissos vinculados à participação do Estado
na organização (NELLA HERNANDEZ, 1993).
O Estado Livre da Irlanda advoga por uma maior participação das potências pequenas na Liga.
Também, o país entende que devem existir alternativas para o descumprimento de decisões da Liga,
como sanções, e um maior envolvimento das potências maiores para coibir os desvios de conduta por
parte dos países. O estabelecimento de normas comuns sobre o desarmamento e a garantia de um
balanço entre as nações são propostas irlandesas para a promoção da paz (KEATINGE, 1970).
Por ser um país centro-americano e pequeno, a Guatemala envolve-se de maneira mais discreta
no debate sobre o desarmamento. O país tem uma política de armamento considerável para o seu
tamanho, dados seus problemas de segurança, tanto internos quanto com países vizinhos. Ainda, a
Guatemala sofre constantemente com o controle dos Estados Unidos, por meio de intervenções
políticas e armadas, e, por isso, possui uma política alinhada com a do mesmo. O governo busca criar
um sistema de limitação de armamentos para as Grandes Potências, mas que também garanta o direito
à autodefesa das pequenas nações (HERRERA LEÓN, 2016).
Dentre as nações latino-americanas, o México foi admitido na Liga em 1931, sendo o último país a
entrar na organização (HERRERA LEÓN, 2016). Ao longo de sua história, o México demonstra-se
favorável ao desarmamento enquanto, paralelamente, defende a equidade dos países mais pobres. A
política mexicana na Liga é, principalmente, autodefensiva, ou seja, essa pode mudar à medida que
corresponda à preservação dos interesses e da integridade do país (HERRERA LEÓN, 2014).
das grandes potências, para que seja implementado tal mecanismo de regulação ao redor do mundo
(GRAM-SKJOLDAGER; IKONOMOU; KAHLERT, 2019).
O Panamá sofre com recorrentes intervenções políticas e militares dos Estados Unidos. Após um golpe
de Estado em 1931, as eleições civis democráticas foram retomadas em 1932. Deste modo, no âmbito
das negociações da Liga, o país busca a garantia de soberania nacional e a limitação da ingerência
das grandes potências nos pequenos países. Também considera que um acordo internacional deve ser
firmado para assegurar a equidade militar entre os países grandes, em especial os europeus, visando a
impedir a eclosão de uma nova guerra (HERRERA LEÓN, 2016).
A Polônia encontra-se em situação geográfica semelhante à da França, o que contribui para esta
ser a favor do desarmamento alemão. Além disso, o país propõe uma ação dupla, que consiste
no desarmamento, tanto material quanto moral, dos países. Este objetivo deve ser promovido pela
cooperação internacional, em prol da não ocorrência de guerras, por meio do intercâmbio cultural,
econômico, educacional e juvenil (VUKOTIC, online; KEENE; NEIBERG, 2011).
A Tchecoslováquia preza pela manutenção da paz e pela proposição de um acordo geral de desarmamento,
visando à limitação de um potencial novo conflito na Europa. Por estar localizado ao lado do Reich
Alemão, o país receia uma possível tentativa de anexação de seu território por parte do governo vizinho.
Por isso, demanda uma posição mais assertiva das potências ocidentais, principalmente França e Reino
Unido, quanto ao desarmamento alemão (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2019b).
(2) Pode haver uma correlação de forças entre as grandes potências e as pequenas potências que seja
segura para todos?
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ORGANIZAÇÃO PARA
COOPERAÇÃO ISLÂMICA
Movimentos extremistas e radicalismo no Oriente
Médio
1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
(2) As iniciativas que buscam solucionar o extremismo e o radicalismo no Oriente Médio podem ter
êxito quando levantadas exclusivamente pelos países da região, sem o auxílio do resto do mundo?
INTRODUÇÃO
A Organização para Cooperação Islâmica (OCI) é um órgão intergovernamental formado por
57 Estados membros e representa 1,6 bilhão de pessoas. Esses países abrigam grandes parcelas da
população muçulmana do mundo e são pertencentes às mais diversas regiões do globo. A OCI visa
fortalecer a união islâmica em prol do progresso, do desenvolvimento e da defesa dos interesses do
Mundo Islâmico, prezando sempre pela paz e pela harmonia. A Conferência da Cúpula Islâmica é
a autoridade máxima da OCI e a ela teve origem ainda em 1969, quando um incêndio criminoso em
uma mesquita de Jerusalém reuniu os líderes dos países islâmicos. Durante as reuniões de Cúpula, os
reis, presidentes e primeiros-ministros dos Estados membros discutem e tomam as principais decisões
acerca de questões-chave para o Mundo Islâmico. Os resultados deste comitê orientarão os esforços
internos dos países e os trabalhos da Organização para Cooperação Islâmica pelos anos seguintes
(ORGANIZATION OF ISLAMIC COOPERATION, 2019).
Em 2019, a OCI no UFRGSMUNDI trará como tema de debate movimentos extremistas no
Oriente Médio (OM), com foco especial para grupos terroristas que atuam na região. A instabilidade
no Oriente Médio foi provocada por diversos fatores interligados, principalmente a partir do período
colonial após a Primeira Guerra Mundial, e que vão do político e econômico ao social. Essa instabilidade
na região propiciou a ascensão de grupos extremistas que buscam fazer prevalecer suas pautas por
meio da exploração do descontentamento das populações e da ligação com uma identidade religiosa
comum. Na região, diversos grupos merecem destaque, tais como a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e o
Hezbollah. Nesse sentido, o presente guia de estudos buscará apontar os fatores que propiciaram o
desenvolvimento desses grupos, suas características, seu contexto e diferentes maneiras de combater
esse fenômeno.
1 HISTÓRICO
Ao analisarmos o mapa da região do Oriente Médio, ou do continente africano, pode-se
perceber que as linhas de fronteira parecem um tanto artificiais, definidas sem levar em conta os
povoados, o relevo, a hidrografia ou o que quer que ali estivesse presente anteriormente. É fundamental
compreender, portanto, os acontecimentos históricos que antecederam e reconstruíram a região que
abordaremos neste guia como hoje a conhecemos. A seção inicial buscará demonstrar como o processo
do colonialismo e, posteriormente, a Guerra Fria moldaram a realidade geopolítica do Oriente Médio
a partir de decisões externas e constituíram uma quantidade significativa de problemas verificados até
a atualidade.
1 Império que surgiu em 1299 e findou-se em 1922 com sua invasão e divisão após a Primeira Guerra Mundial. Em seu auge, dominou
partes da Europa meridional, Norte da África e Oriente Médio, perdendo grande parte de seus territórios para potências europeias como
França e Inglaterra e tendo outros, como sua capital Constantinopla (atual Istambul), transformados em República da Turquia na Guerra
de Independência Turca (QUATAERT, 2005).
Na Pérsia, atual Irã, os ingleses derrubaram, em 1925, o Império Qajar, que possuía alinhamento
com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), rival inglesa, e colocaram no poder o aliado
Reza Pahlavi de forma a assegurar seus interesses sobre as jazidas de petróleo da região. Além disso,
ocorreu, na Península Arábica, um enfrentamento militar entre o Xerife Hussein Meca, aliado da
Inglaterra, e Ibn Saud, que, após a sua vitória, promoveu a unificação das regiões de Nedj e Hedjaz
e expandiu seus domínios, dando origem ao Reino da Arábia Saudita em 1932. Tal território foi o
primeiro a aliar-se aos Estados Unidos (EUA), visando à extração de petróleo através da instalação de
empresas estadunidenses em zona saudita. Essa ação acirrou a rivalidade entre as multinacionais dos
EUA (Aramco estabelecida em território saudita) e inglesas (Anglo-Iranian Oil Co. e Anglo-Irakian
Oil Co., instaladas no Irã, Iraque e Jordânia). Desse modo, os movimentos nacionalistas em ascensão
foram, mais uma vez, contrariados, o que gerou não só um nacionalismo anticolonial, como também
2 Simpatizantes do Sionismo moderno – movimento político, da segunda metade do século XIX, que defende a criação de um Estado na-
cional judaico soberano na região da Palestina e a autodeterminação do povo judeu (LAQUEUR, 1972).
3 Extermínio de judeus e de outras minorias subjugadas, feito pelos alemães nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (BARTOV, 2000).
4 Conflito global que ocorreu entre 1939 e 1945, entre dois blocos militares: Aliados e Eixo. Dentre os componentes dos Aliados destaca-se:
União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido. O Eixo, por sua vez, era composto, principalmente, por Alemanha, Japão e Itália (SOM-
MERVILLE, 2008).
maior impacto, como o presidente do Egito Gamal Abdel Nasser no Caso do Suez, superando, algumas
vezes, as ações das superpotências (FARAH, 2016). Após a Crise de Suez5 com Nasser, a luta nacional
pela Palestina virou um símbolo e uma força unificadora entre o povo árabe, tornando-se o núcleo das
políticas da Guerra Fria no Oriente Médio (AVINERI, 1993).
O presidente do Egito Gamal Abdel Nasser, figura que marcou o período, teve grande influência
política nos países do OM por pelo menos uma década. O presidente egípcio, por muitas vezes não
concordar com a agenda das potências, buscava seus próprios interesses e encontrava formas de
influenciá-las, como foi no Suez (FARAH, 2016). Os interesses nacionais fizeram com que Nasser e
outros Estados Árabes se voltassem à assistência da URSS, a fim de balancear a ameaça dos Estados
Unidos no território. Devido a sua importante posição no Oriente Médio, tanto União Soviética, quanto
EUA, almejavam uma aliança com o líder egípcio, se preocupando em não deixar que ele fosse para
o bloco adversário, além de levar em conta os interesses de agentes locais (como Nasser) na hora da
tomada de decisões. Por fim, de acordo com Farah (2016), alguns dos motivos para Nasser ter buscado
a União Soviética foi tanto para atingir predominância militar na região, como difundir a ideologia do
pan-arabismo6, e não o comunismo. Um dos principais feitos de Nasser foi explorar a rivalidade das
superpotências no contexto da Guerra Fria a fim de maximizar a posição estratégica do Egito (FARAH,
2016).
Alguns dos principais impactos da Guerra Fria no Oriente Médio foram nas questões de
descolonização, adoção dos modelos socialistas ou capitalistas, conflitos como consequência da
rivalidade do sistema e a formação de blocos e alianças. Na descolonização, a Guerra Fria significou
tanto um final formal para o controle colonial quanto uma redução na influência informal no OM.
Com os adventos do conflito, movimentos de cunho nacionalista prosperaram, tornando difícil para
os Estados tradicionais dominantes manterem sua posição (HALLIDAY, 1997). Foi no contexto de
retirada gradual que a segunda dimensão fica em evidência: a adoção de uma ideologia pró-soviética
ou pró-ocidente pelos países do Oriente Médio. Enquanto alguns adotaram uma orientação socialista,
incluindo uma variação chamada “socialismo árabe”, grande parte do seu comércio continuou com
o mundo capitalista (HALLIDAY, 1997). O resultado a longo prazo do embate político e econômico
desses sistemas foi o terceiro impacto do conflito: a rivalidade estratégica entre os dois blocos. Esse
foi um importante fator, mas não único, para ocorrência de guerras no OM. A Guerra Fria forneceu
um contexto que afetou diversos processos na região, entretanto, muitos poderiam ter ocorrido mesmo
sem essas circunstâncias (como o nacionalismo árabe), portanto, é importante diferenciar o que é
consequência dessa guerra e o que são dinâmicas próprias do local (HALLIDAY, 1997). Essa rivalidade
estratégica levou ao quarto impacto: a formação de um sistema de alianças no qual poder político,
militar e diplomático combinados alinhavam um país com um bloco ou outro. Essa questão dificilmente
se dava somente por coerção, utilizava-se também afinidade política e cálculo de interesses, no qual
os países menores eram capazes de manejar, normalmente beneficiando-se do comprometimento da
grande potência em seu favor (HALLIDAY, 1997).
Embora França e Inglaterra tenham sido dominantes durante as décadas de 1960 e 1970, o
lugar delas foi, gradualmente, tomado pelos Estados Unidos (HALLIDAY, 2005). O acontecimento que
marcou a substituição de Inglaterra e França como potências dominantes no território por EUA e
URSS foi a Crise de Suez. Apesar da competição inicial com os EUA pela região, a União Soviética,
em razão de questões domésticas, se retirou gradualmente do local durante o período dos anos 1980
(BRUNER, 1990). É importante pontuar que, por ser um Estado laico7, a União Soviética teve poucos
resultados ao tentar expandir sua influência no Oriente Médio, uma vez que a cultura e a política na
região estão diretamente ligadas à religião islâmica. Logo, os EUA não tinham um rival à sua altura
para contê-lo, e a sua influência cresceu e predominou (FERMANN, 1994; FLAMHAFT, 1996).
A Guerra Fria foi uma competição entre dois sistemas políticos e sociais rivais que buscavam
se apresentar como a solução dos problemas mundiais e acreditavam que podiam superar um ao outro.
O conflito teve um impacto limitado no Oriente Médio, sendo alguns dos indicadores o fato de não ter
ocorrido um movimento revolucionário pró-soviético, o desenvolvimento de rivalidades dentro dos
5 Foi uma crise política com início em outubro de 1956. Após a nacionalização do Canal de Suez, antes sob administração da França e do
Reino Unido, Israel, que havia tido sua navegação na região interrompida, invadiu o Egito. Os dois países europeus já citados apoiaram a
invasão e em seguida interviram na localidade também, sob a prerrogativa de garantir a livre navegação no Canal. A questão foi levada ao
Conselho de Segurança da ONU e, sob pressão dos EUA e ameaça de intervenção da URSS, os três invasores se retiraram do Egito.
6 Ideologia que defende a união de todos os países de língua e civilização árabe.
7 Princípio que rejeita a influência da Igreja na esfera pública do Estado, buscando uma separação entre Estado-Igreja (FERREIRA, 1986).
blocos no OM e a diminuição nas disputas e intervenções em comparação com outras regiões (extremo
oriente, sul da África, etc.) (HALLIDAY, 1997). Além disso, a supremacia dos EUA e da URSS fizeram
com que além de líderes, se tornassem “reféns” da própria dinâmica, sofrendo chantagens (como
mudar de bloco) para obtenção de benefícios. Os Estados Unidos permaneceram em uma posição de
preponderância em relação aos outros (como União Soviética), tendo até os dias atuais, uma grande
influência no território. As dimensões do final do conflito global nessa região podem ser resumidas no
término da rivalidade estratégica, a reconfiguração dos territórios, a crise no modelo de desenvolvimento
dos países e o início do processo de democratização em diversos Estados (HALLIDAY, 1997).
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Após a discussão do desenvolvimento histórico do Oriente Médio, a presente seção terá como objetivo
o aprofundamento do fenômeno do terrorismo na região. Em primeiro lugar, serão apresentados os conceitos
e definições de terrorismo, parte essencial para um bom entendimento da questão. Em seguida, o foco será
dirigido, mais especificamente, para o Oriente Médio, bem como para os desdobramentos da Guerra ao Terror
após o ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Por fim, a seção apresentará três estudos de caso,
discutindo mais a fundo alguns grupos terroristas atuantes na região.
A utilização de ou a ameaça do uso de violência ilegítima por atores não-estatais para atingir
objetivos políticos específicos (com esses objetivos diferenciando-se de acordo com o grupo ou
8 Atores não-estatais são agentes que, mesmo relevantes na política internacional, não estão ligados à quaisquer governos ou Estados. Al-
guns exemplos são: ONGs internacionais, empresas multinacionais, grupos terroristas, milícias, organizações internacionais, entre outros
(SCHNECKENER, 2006).
organização em questão). É uma tática psicológica que busca promover medo generalizado por
meio do ataque indiscriminado a vítimas civis (CHALK, 2013, p. XII, tradução nossa).
O terrorismo é um método, o qual pode ser empregado por diferentes grupos e pode assumir
diversas configurações. Como alguns exemplos principais, podemos citar a utilização de explosivos
contra multidões, a utilização de armas para realizar massacres em massa e a destruição generalizada
de construções, entre outros (CHALK, 2013).
Com essa definição, muitos grupos e movimentos políticos de todas as regiões do mundo podem
ser enquadrados como organizações que empregam o terrorismo como prática – essa classificação, no
entanto, sempre poderá apresentar divergências de acordo com os diferentes pontos de vistas daqueles
que os classificam. Dentre os grupos fora do Oriente Médio, e a partir da definição anteriormente
apresentada, podemos destacar: o ETA (Pátria Basca e Liberdade), grupo que lutava pela independência
do País Basco, entre a Espanha e a França; IRA (Exército Republicano Irlandês), movimento católico
que buscava a separação da Irlanda do Norte do Reino Unido; o Exército de Resistência do Senhor
(Lord’s Resistance Army, em inglês), um grupo cristão que atua em Uganda; o Aum Shinrikyo, um
culto japonês responsável por um famoso ataque de gás sarin no metrô de Tóquio, em 1995; além dos
chamados lobos-solitários supremacistas responsáveis por diferentes ataques individuais nos Estados
Unidos. Outro exemplo mais recente e, ao mesmo tempo, bastante relevante foi o atentado sincronizado
realizado na Nova Zelândia, em março de 2019, contra duas mesquitas muçulmanas, que deixou cerca
de 50 mortos e diversos feridos (SOUZA; MORAES, 2014).
2.3.1 HEZBOLLAH
O Hezbollah emergiu em 1982, inicialmente como uma facção localizada no Líbano, mais
precisamente no Vale do Bekaa, tendo como objetivos basilares resistir à invasão israelense no país
9 O Talibã é um grupo fundamentalista islâmico que, desde 1994, atua no Paquistão e, principalmente, no Afeganistão. Entre 1996 e 2001, o
grupo formou um governo pouco reconhecido internacionalmente, mas que governava cerca de três quartos do território do afegão. O gru-
po surgiu, com o apoio dos EUA e da CIA, da principal oposição armada contra a invasão soviética ao Afeganistão (1979-1989), e, mais tar-
de, constituiu o movimento de insurgência contra as tropas estadunidenses enviadas ao Afeganistão após o ataque do 11/09 (BLIN, 2007).
10
se configurar como a principal força árabe de confronto contra Israel (PAN, 2006). O propósito da
organização xiita11 é sustentado pelo Irã, que, assumindo o papel de Estado patrocinador do Hezbollah,
desempenhou uma função essencial para que a organização fosse capaz de atingir suas metas
estratégicas, concedendo assistência financeira, auxílio material, refúgio, suporte político e amparo
organizacional (DEVORE; STÄHLI, 2015). O auxílio iraniano complementou atributos internos da
organização que foram igualmente cruciais para seu sucesso e extraordinária efetividade, como por
exemplo, o fato de que grande parte dos combatentes que integraram o grupo no contexto do seu
surgimento já possuíam ampla experiência militar, permitindo que a proficiência tática do grupo
evoluísse rapidamente (GABRIELSEN, 2014).
Além do amparo iraniano e da eficiência estratégica no âmbito interno, a organização dispõe
de um importante caráter híbrido, visto que esta apoia-se em um tripé composto por características
militares – devido ao seu engajamento em atividades terroristas, visando ganhar espaço no cenário
internacional e receber uma validação midiática de suas incursões –, políticas – assumindo um caráter
de organização política, tanto para representar e difundir sua ideologia em larga escala, quanto
para ser capaz de competir em eleições democráticas legítimas – e sociais – oferecendo serviços que
normalmente são fornecidos pelo Estado, disponibilizando uma espécie de sistema de bem-estar social
para a população (AZANI, 2013).
Os atributos anteriormente listados permitem ao Hezbollah desempenhar operações altamente
sofisticadas, caracterizadas especialmente pelo uso contínuo de mísseis para dissuadir e coagir Israel;
promoção de uma guerra de caráter psicológico, desmotivando os soldados israelenses e fazendo com
que a população deixasse de apoiar a presença de Israel no Líbano devido ao alto número de baixas;
além de uma mistura de técnicas de guerrilha e estratégias convencionais de guerra (GABRIELSEN,
2014).
Faz-se também essencial citar e enfatizar as outras facetas de poder do Hezbollah, que além
de um grupo terrorista extremamente habilidoso, é o movimento político mais poderoso no Líbano
– participando do processo político desde o início dos anos 1990 –, além de ser um dos maiores
prestadores de serviço para a população. Todos esses aspectos coexistem, tornando o Hezbollah uma
grande organização capaz de desempenhar diversas funções (BYMAN, 2008). No tangente à vertente
política do Hezbollah, em 2018, o partido e seus aliados xiitas foram os maiores vencedores da primeira
eleição geral do Líbano realizada em nove anos, conquistando, juntamente com outro partido político
denominado Amal, 29 de 128 assentos no parlamento libanês. Além disso, mais 11 assentos foram
conquistados por outros partidos políticos alinhados com a dupla. Essa vitória foi responsável por
aumentar as tensões na região, visto que, como uma das principais consequências da prevalência
política do Hezbollah tem-se a consolidação da influência iraniana sobre o Líbano, o que incomoda
Israel, que em reação ao resultado declarou que não havia uma distinção entre o partido e o Estado
libanês (AL JAZEERA, 2018).
2.3.2 AL-QAEDA
O surgimento da organização sunita Al-Qaeda se deu em uma conjuntura caracterizada por
uma intensa divisão política na Arábia Saudita, país de origem de Osama Bin Laden. Durante o século
XX, a nação enfrentava um energético debate entre seu rei – que assumiu um posicionamento pró-
ocidente e favorável à modernização – e o clero saudita, composto pelos denominados ulemás – que
se colocavam diametralmente opostos a tais medidas, defendendo que estas contradiziam o Corão e
seriam responsáveis por corromper a sociedade, ameaçando a identidade muçulmana saudita. Os ulemás
se alicerçavam no Wahhabismo, uma ideologia saudita puritana que rejeita os aspectos científicos e
técnicos da modernidade, sustentando a noção de que o projeto modernizante então aplicado era na
10 A Guerra do Líbano de 1982 se deu com a invasão de Israel ao sul do Líbano, sob o pretexto de destruir a infraestrutura militar na fron-
teira libanesa-israelense, que estava sendo utilizada por grupos como a Organização para a Libertação da Palestina para atacar as Forças
de Defesa de Israel (PAN, 2006).
11 Xiismo e sunismo são diferentes vertentes da fé islamista, cuja discordância original se refere a quem deveria suceder o Profeta Moham-
med. Os xiitas defendiam que o sucessor de Mohammed deveria ser alguém que fosse de sua linha de sangue, enquanto os sunitas acredi-
tavam que o sucessor deveria ser escolhido através do consenso popular. A partir deste cisma, as divergências espirituais entre esses grupos
se aprofundaram. O islamismo xiita se tornou mais autoritário estruturalmente, controlando completamente a hierarquia do clero, que se
sustenta com doações religiosas, não tornando necessário o envolvimento governamental. Os sunitas, em contrapartida, permitem envolvi-
mento governamental, e não existe uma hierarquia bem definida no seu clero. Os grupos também divergem em questões como a filosofia de
salvação e frequência e modo de oração. É essencial lembrar que apesar dessas diferenças, xiitas e sunitas fundamentalmente compartilham
crenças comuns, mas as praticam de diferentes maneiras (AZANI, 2013).
12 A Irmandade Muçulmana é um movimento transnacional sunita que busca implementar a sharia (lei islâmica) sob um califado global
e unificar as nações islâmicas, libertando-as do imperialismo ocidental. Fundada no Egito em 1928, serviu de influência para diversas or-
ganizações extremistas. É importante ressaltar que o grupo em si não é classificado como terrorista, visto que não propaga a violência, mas
existem grupos derivados da Irmandade Muçulmana que se engajaram em atividades classificadas como terroristas, como o Hamas, grupo
palestino que atua principalmente na Faixa de Gaza (SHAVIT, 2006).
da autoridade da organização seria benéfica. Por fim, o Estado Islâmico assumiu a responsabilidade
de enfrentar o Ocidente – objetivo o qual buscou realizar através de diversos ataques terroristas,
realizados entre 2014 e 2018, em países como Bélgica, Canadá, Estados Unidos e França –, se tornando
um dos principais alvos de ataques promovidos por coalizões ocidentais, o que forçou o EI a abandonar
algumas de suas conquistas territoriais, em especial centros urbanos (BURKE, 2017).
Porém, a ofensiva militar empreendida não está sendo acompanhada por medidas políticas
efetivas, uma lacuna da qual o Estado Islâmico pode se beneficiar para se reerguer, dado que o objetivo
aqui majoritariamente comprometido é o projeto da construção de um Estado, e não a estrutura da
organização como um todo (BURKE, 2017). Logo, apesar da perda de território sofrida pelo EI e da
competição com as outras organizações extremistas, o grupo ainda possui um alcance significativo em
uma escala global, como pode ser observado no mapa abaixo.
combate ao terrorismo, o que coloca a Organização como um forte aliado contra os grupos extremistas
da atualidade, conhecidos por atuar, principalmente, em países da África e do Oriente Médio. Ao longo
da seção atual, buscaremos apresentar situações relacionadas ao radicalismo e ao extremismo onde a
OCI esteve presente, seja de forma direta ou indireta, e qual foi sua forma de ação.
Em 1999, ainda antes dos ataques de 11 de setembro e das consequências que esses eventos
trouxeram, a OCI adotou a Convenção da Organização da Conferência Islâmica no Combate ao
Terrorismo Internacional. Segundo o texto elaborado e divulgado ao longo do primeiro artigo do
documento, define-se terrorismo da seguinte forma:
Qualquer ato ou ameaça violenta realizada com o intuito de, entre outras coisas, desonrar a al-
guém, ocupar ou apoderar-se de propriedade pública ou privada, bem como ameaçar a estabili-
dade, integridade territorial, unidade política ou soberania de um Estado (ORGANIZATION OF
THE ISLAMIC CONFERENCE, 1999, p. 2, tradução nossa).
Ainda que a primeira resolução formalizada tratando sobre o terrorismo tenha finalmente sido
oficializada pela Organização 30 anos após sua criação, houve crítica da sociedade internacional em
relação ao texto. Segundo a Organização Não Governamental (ONG) Human Rights Watch, o conceito
adotado pela OCI para definir terrorismo é ambíguo, permitindo que nas violações apresentadas como
“apoderar-se de propriedade pública” e “ameaçar a estabilidade” sejam enquadrados atos pacíficos e
democráticos, como protestos e reuniões políticas (HUMAN RIGHTS WATCH, 2008). Isso traz à tona
a diferença de interpretações entre o mundo islâmico e os países ocidentais acerca do que é terrorismo,
algo gerado não apenas pelos interesses geopolíticos, mas também pelas diferenças culturais existentes
entre os dois mundos (SAINT-PIERRE, 2015).
Após os ataques de 11 de setembro realizados pela Al-Qaeda, uma sessão extraordinária entre
os ministros de relações exteriores dos países da OCI foi sediada em Kuala Lumpur, na Malásia, entre
1 e 3 de abril de 2002. As declarações finais lamentaram os atentados do World Trade Center, porém
a reunião focou na perseguição sofrida pelo povo islâmico ao redor do mundo como consequência da
vilanização da religião. Os representantes fizeram questão de lembrar que a conexão, proposital ou
não, do radicalismo com a religião islâmica são prejudiciais no combate ao terrorismo internacional
(OIC, 2002).
Um dos fatores pontuais que afastam o mundo árabe do discurso ocidental, e que o impede de
adotar o conceito de terrorismo usado por organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU),
é a Questão Palestina. A OCI defende que o povo da Palestina é historicamente vítima do Estado de
Israel, enquanto a reação por parte dos palestinos é somente de resistência, e não de ataque, tendendo a
pronunciar-se sobre o extremismo sem que nele se encaixe a causa palestina (ALFITRI, 2006). Em 2007,
em meio à Guerra ao Terror, os ministros de relações exteriores árabes, em reunião da OCI, chegaram
a declarar que “a islamofobia14 é o pior tipo de terrorismo” (WAHAB, 2007). A dificuldade em encontrar
um entendimento, entretanto, precisa ser superada caso uma luta conjunta contra o radicalismo no
Oriente Médio seja almejada.
Os ataques terroristas reivindicados por grupos extremistas como a Al-Qaeda, o Hezbollah e o
Estado Islâmico se fizeram presentes e assustaram o mundo ocidental em casos isolados, porém assolam
o continente africano e o Oriente Médio de maneira diária. Dado o isolamento entre as posições do
mundo islâmico e o resto do mundo em relação ao terrorismo, a cooperação e a integração regional em
prol da segurança passaram a ser prioridade. Com essa prioridade, surge em 2015, no âmbito da OCI,
a Coalizão Militar Islâmica Contraterrorista (IMCTC, na abreviação em inglês), de maneira a unir os
países árabes sob uma mesma estrutura e estratégia militar no combate ao radicalismo. Esta é uma
iniciativa liderada pela Arábia Saudita e pelo Paquistão, tendo como participantes somente membros
da OCI, e que buscava um combate ao terrorismo independente aos Estados Unidos e demais países do
ocidente (OIC, 2018).
Por outro lado, em momentos oportunos o diálogo e a cooperação entre diferentes regiões do
mundo e os países árabes se deu de maneira satisfatória. Em novembro de 2016, durante reunião do
Conselho de Segurança da ONU, representantes de países europeus elogiaram a forma com que a OCI
vinha cooperando com a ONU no combate ao terrorismo no território da Organização (OIC, 2018).
14 Preconceito, repúdio ou aversão aos muçulmanos e ao Islamismo enquanto religião. Esse sentimento teve um aumento significativo após
os ataques de 11 de setembro, devido à relação estabelecida entre terrorismo e islamismo. Do mesmo modo, é uma das bandeiras levantadas
pelos movimentos de extrema-direita que ganham força mundialmente na atualidade (WAHAB, 2007).
A Arábia Saudita possui papel de protagonista na discussão internacional acerca do terrorismo. Ainda
que haja presença do terrorismo dentro de suas fronteiras, os sauditas estão longe de figurar entre os
principais alvos de ataques. Entretanto, o país, acusado inclusive de ter tido participação nos atentados
de 11 de setembro, é apontado como um financiador de grupos extremistas islâmicos como a Al-Qaeda
e o Estado Islâmico, sob a ajuda do Afeganistão e do Paquistão (WALSH, 2010). A suposta colaboração
com terroristas e a riqueza obtida pela exportação do petróleo tornam o Reino peça-chave na discussão.
A Argélia, o maior país do norte africano, é um importante ator no combate global ao terrorismo.
Em uma região marcada por dificuldades geográficas relacionadas ao ambiente desértico do Saara,
o país tem sido alvo de grupos terroristas tais como a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) e o
incipiente Estado Islâmico na Líbia. A Argélia, contudo, vem desenvolvendo e fortalecendo seus
esforços antiterroristas, cuidando de suas fronteiras e, inclusive, participando ativamente da Parceria
Transaariana de Contraterrorismo, apoiada pelos Estados Unidos (THE NORTH AFRICAN POST,
2018).
O Azerbaijão é um grande parceiro dos Estados Unidos nos projetos antiterrorismo, atuando, em
especial, contra o grupo Estado Islâmico. O país oferece apoio em suas fronteiras marítimas e terrestres.
O país aprimorou, em 2017, suas leis e seu serviço de segurança que se mostraram bastante efetivos,
prevenindo inúmeros ataques terroristas em potencial. A maior parte dos ataques realizados no país
partem de extremistas religiosos. Segundo o Departamento de Segurança dos Estados Unidos, em
2017, o sistema de inteligência e de segurança azerbaijano deteve três cidadãos suspeitos de serem
combatentes do grupo Estado Islâmico na Síria e no Iraque. O país possui relações fortes com a Turquia
(UNITED STATES OF AMERICA, 2018a).
O Bahrein teve um aumento considerável no número de ataques causados por rebeldes extremistas
desde 2017. A principal fonte de ameaças partiu de militantes xiitas, há suspeitas de que o grupo tenha
recebido apoio iraniano. Além disso, o país é membro de grupos de combate ao Estado Islâmico, tal
como a Coalizão Global para Derrotar o Estado Islâmico, além de atuar em outros projetos que visam
conter o avanço do grupo, oferecendo apoio diplomático e militar (USA, 2018b).
O Egito, em 2017, sofreu diversos ataques terroristas. Apesar dos esforços do governo, um dos maiores
ataques da história do Egito ocorreu em novembro do mesmo ano, matando 312 pessoas em um
templo no norte de Sinai. Além disso, de acordo com o mesmo relatório, o governo egípcio passou uma
legislação que facilita a acusação de terroristas. O Egito continua com seus esforços no combate ao
financiamento do terrorismo e é um membro da Coalizão Global para Combater o Estado Islâmico e os
grupos que financiam o EI (USA, 2018c).
Os Emirados Árabes Unidos (EAU) não têm uma conexão oficial com países que financiam o terrorismo
(USA, 2018l). Entretanto, de acordo com Walsh (2010), os EAU foram listados como um local utilizado
por investidores para criar fundos a fim de financiar militantes no Afeganistão, Paquistão e os ataques
de 11 de setembro. Em uma sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, o ministro do exterior dos
EAU afirmou que o país continua firme com a política de tolerância zero em relação ao financiamento
do terrorismo (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2017). É importante ressaltar que as forças
armadas dos EAU têm um papel ativo na Guerra ao Terror dos Estados Unidos, recebendo o apelido de
“Pequena Esparta”, por sua lealdade e aliança (CHANDRASEKARAN, 2014).
O Iêmen, atualmente, enfrenta uma grave crise humanitária agravada pelas atividades terroristas dentro
de seu território. A Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) e o EI-Iêmen exploram o vácuo político e
de segurança criado pelo atual conflito entre o governo do Iêmen, sob as forças do presidente Abd Rabu
Mansour Hadi e o grupo Houthi15 (USA, 2018l). Atualmente, a AQAP controla as principais jazidas
de petróleo do território iemenita. O Irã é acusado de apoiar financeiramente os Houthis, enquanto a
Arábia Saudita lidera uma coalizão defendendo a manutenção de Hadi no poder (BBC, 2019).
A Indonésia, mesmo fora do Oriente Médio, possui a maior população muçulmana no mundo,
tornando-se, portanto, um importante ator nos trabalhos da OCI. Em relação ao terrorismo, grupos
fundamentalistas fizeram parte da história do país e, atualmente, células ligadas ao Estado Islâmico e
à Al-Qaeda têm sido as principais ameaças na Indonésia. O grupo mais atuante é o Jemaah Islamiyah
(JI), responsável por um ataque em Bali que matou cerca de 200 pessoas em 2002. O país, nesse sentido,
é bastante comprometido com o combate internacional ao terrorismo e enxerga na OCI um importante
espaço de debates para fortalecer esse esforço (FITRIANI et al., 2018).
O Irã, desde a Revolução Iraniana de 1979, tem sido acusado por vários países, incluindo os Estados
Unidos, de financiar, treinar e providenciar armamentos para grupos por eles considerados terroristas,
como Hezbollah e os grupos palestinos Hamas, Jihad Islâmica e a Frente Popular pela Libertação da
Palestina (UNITED STATES OF AMERICA, 2007). Esses grupos são considerados terroristas por um
grande número de países e órgãos internacionais; entretanto, o Irã considera alguns desses grupos
como “movimentos de libertação nacional”, com o direito de se defender frente à ocupação militar
israelense na Palestina (MALAKOUTIKHAH, 2018).
O Iraque tem sido um dos principais berços e alvos do terrorismo mundial nas últimas décadas. Desde
o início da Guerra ao Terror nos anos 2000, o território iraquiano tem sido assolado pelas batalhas e
pelos atentados em nome do extremismo. Foram cerca de 17 mil atentados terroristas no país entre 2006
e 2015. O Estado iraquiano anunciou oficialmente a vitória sobre o Estado Islâmico, que controlava
partes do país, em 2017, mas a presença do grupo permanece de forma violenta e fragmentada na região
(JAMIESON, 2018).
A Jordânia continua como um parceiro comprometido com o fim do terrorismo e extremismo violento
em 2017 (USA, 2018c). Além disso, como líder regional na Coalizão Global para Combater o Estado
Islâmico, a Jordânia foi protagonista contra os grupos terroristas. O território jordaniano continuou
como um alvo para grupos terroristas (EI e Al-Qaeda), e tem experiência em diferentes tipos de ameaças,
podendo dar importantes opiniões dos caminhos para combater o extremismo (USA, 2018d). O país tem
desempenhado um papel importante na Guerra Global ao terror em conjunto com os Estados Unidos
e seus aliados, como Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos (AYASRAH, 2009). Por fim,
visto como o país se encontra comprometido com a luta contra o terrorismo, é importante se posicionar
a favor do seu combate.
No início dos anos 2000, o Kuwait sentiu um aumento rigoroso na atividade terrorista, em um
movimento que acompanhava a instabilidade vivida nos países vizinhos como Arábia Saudita e Iêmen
(GERSHMAN; TÉTREAULT, 2005). Atualmente, porém, o Kuwait é relativamente seguro e coopera
com os esforços antiterroristas, ainda que sua relação próxima com os países ocidentais o coloque em
situação de inimizade com os grupos extremistas islâmicos.
15 Movimento político-religioso, que se constituiu na década de 1990 após a unificação iemenita. Trata-se de um grupo de maioria religio-
sa zaidita, que possui, também, parte de sua composição sunita. É um dos principais atores na Guerra Civil do Iêmen, iniciada em 2015,
controlando partes do oeste e noroeste do território iemenita (BBC, 2019).
O Líbano foi um aliado comprometido na luta contra o EI em 2017, e suas forças terrestres representaram
um dos mais efetivos parceiros no contraterrorismo na região (USA, 2018f). Os Estados Unidos
providenciaram assistência às forças armadas libanesas, e trabalharam em conjunto com a organização
de reforço e defesa do país, como as Forças de Segurança Interna, para construir estratégias para o
combate ao terrorismo (USA, 2018e). Os Estados Unidos mantêm laços com os serviços de segurança
libaneses. Além disso, o Líbano auxiliou nos esforços na luta contra o terrorismo em organizações
regionais e financiou programas como membro da OCI e outros (USA, 2018e).
A Líbia se tornou um ambiente propício para a atuação de grupos terroristas após a queda de seu
governante, Muammar Kadafi, 2011, no contexto da Primavera Árabe, quando o país mergulhou em
uma guerra civil e sofreu intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Além
de ser rico em reservas de petróleo e possuir um arsenal considerável de armamentos devido a guerra
civil em curso, as instituições e estruturas do Estado líbio encontram-se falidas16; um ambiente ideal
para a instalação de grupos terroristas. Com as dificuldades encontradas no Iraque e na Síria, grupos
como Al-Qaeda e o Estado Islâmico podem voltar-se cada vez mais seu foco para o território da Líbia
(PUSZTAI, 2015).
A Malásia é um país relativamente seguro no que toca ao terrorismo. Sua localização geográfica facilita
o controle das fronteiras, seu desenvolvimento econômico é melhor do que a maioria dos países da
OCI e o serviço de inteligência é bem estruturado, o que faz do país um forte aliado na atividade
contraterrorista. Após o atentado às Torres Gêmeas, em 2001, a Malásia buscou destacar a importância
em definir o que é terrorismo, como forma de diminuir o preconceito e os efeitos da Guerra ao Terror
contra o povo islâmico (REUTERS, 2002).
O Mali é um país assolado por intensa atividade terrorista de grupos extremistas. A missão internacional
MINUSMA, em conjunto com tropas francesas, buscava estabilizar o país dividido por uma guerra
interna e afetado pela miséria, entretanto, a intervenção ocidental foi respondida violentamente por
radicais ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico. O Mali encontra-se sem um Estado estruturado,
sendo um ponto chave para o terrorismo mundial e uma ameaça direta aos vizinhos Senegal, Argélia e
demais países onde os grupos antes citados atuam (MCVEIGH, 2018).
A Nigéria enfrenta os radicais do Boko Haram há décadas dentro do seu próprio território, sofrendo
com constantes atentados e com perdas humanas constantes. O grupo radical tem laços históricos
com a Al-Qaeda, e opera especificamente no centro-oeste africano. Uma vez que possui uma defesa
frágil frente ao terrorismo, a Nigéria pode atrair novos grupos que buscam o poder e deve ser um
representante prioritário da África no debate antiterrorista (OLOJO, 2019).
O Omã, bem como os demais países do Golfo Pérsico, recebe ameaças terroristas regularmente, uma vez
que esta região está diretamente associada ao capital ocidental. O Omã tem cooperado constantemente
com o contraterrorismo e com a investigação de civis e grupos suspeitos, sendo um forte aliado do
mundo ocidental na região (USA, 2018h). O país faz fronteira com a Arábia Saudita e com o Iêmen, o
que torna seus limites pontos sensíveis à atividade desses grupos.
O Estado da Palestina – representado pela Autoridade Nacional Palestina – é membro da OCI desde
1969, fato que explicita o antigo comprometimento da organização com a questão palestina. Para além
de suas reivindicações relacionadas à luta pela existência de um Estado palestino soberano na região e
16 Estados falidos são caracterizados por problemas de governança, de controle institucional e de legitimidade, principalmente ao encon-
trarem dificuldades na consolidação de funções centrais tais como bem-estar geral, serviços públicos e, sobretudo, segurança (SCHNE-
CKENER, 2006).
pelos direitos do povo palestino, a Autoridade Palestina é profundamente comprometida com a luta contra o
terrorismo. Nesse sentido, a liderança palestina não reconhece como legítimas as ações tomadas pelo braço
armado do Hamas – grupo detentor do controle sobre a Faixa de Gaza e considerado como terrorista por
diversos países ocidentais –, acreditando que a reconciliação pacífica é a melhor maneira de atingir seus
objetivos (SLATER, 2015).
O Paquistão tem sido alvo de inúmeros ataques extremistas em seu território, causados, majoritariamente,
pelos grupos Islamic State’s Khorasan Province (ISIS-K) e Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP), braços do Estado
Islâmico e do Talibã, respectivamente, em território paquistanês. Desde 2017, o país tem despendido grande
energia para interromper os ataques terroristas, eliminar os militantes contrários ao governo vigente e
implantar as resoluções estabelecidas pela ONU visando o combate a tais atividades (USA, 2018i).
O Qatar, país que faz fronteira com Arábia Saudita e o Golfo Pérsico, foi acusado de permitir que financiadores
de terroristas operassem dentro de suas fronteiras, sendo chamado de “Clube Med para terroristas” e “nação
duas caras” (KREVER, 2014; PROSOR, 2014). Em um nível oficial, o governo do Qatar foi acusado de financiar
o Hamas, acusações negadas pelo país. Desde 2017, o Qatar enfrenta uma crise diplomática, na qual países
como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Bahrein, Jordânia e outros cortaram relações com o
país em função de suas alegadas ligações com grupos terroristas e relação próxima ao Irã (GULF NEWS, 2017;
AL JAZEERA, 2017). Em 2017, o Qatar anunciou a restauração de relações diplomáticas com o Irã.
O Senegal é um país relativamente seguro quanto ao terrorismo. Porém, suas alianças militares com Estados
Unidos e França, bem como sua participação na missão da ONU no Mali, podem torná-lo alvo de grupos
terroristas anti-ocidente. A ação de células extremistas nos vizinhos Mali e Costa do Marfim tornam mais
séria a ameaça, visto que grupos como a Al-Qaeda e o Boko Haram parecem ter o oeste da África como seu
novo foco de expansão (ROUSE, 2018).
A Somália, após quase três décadas de guerra civil, é um dos países africanos que mais tem sofrido com a
atuação de grupos terroristas. Com a queda do governante Siad Barre em 1991, o país entrou em uma espiral
de caos, no qual diversos grupos armados emergiram em busca do controle do país. Dentre eles, o grupo
terrorista Al-Shabaab tem sido considerado uma das organizações mais violentas da região. Nesse sentido, o
Governo Federal da Somália, criado em 2012, tem como suas principais prioridades a luta contra o terrorismo
e a importância do multilateralismo para tal (SOMÁLIA, 2015).
O Sudão tem laços históricos com a atividade terrorista, sendo parte desde 1993 da lista de Estados financiadores
do terrorismo, elaborada pelo governo estadunidense. Entretanto, nos anos recentes, o Sudão tem apoiado
iniciativas de contraterrorismo, auxiliando nos esforços internacionais e mantendo uma postura combativa
em relação ao problema. A disposição dos representantes sudaneses em manter tal postura é fundamental
para que o país seja retirado da lista e assuma uma imagem diplomática positiva (USA, 2018j).
A Tunísia, berço das revoluções da Primavera Árabe em 2011, enfrenta ameaças extremistas que colocam
em xeque a jovem democracia do país. Com a adoção de políticas que restringem a prática do salafismo17,
em 2013, verificou-se um aumento significativo da atividade terrorista no país. Entre atentados contra civis
e figuras políticas assassinadas, a Tunísia se tornou um país instável no Norte da África, principalmente nas
regiões de fronteira com o Egito, a Argélia e a Líbia (GREWAL; HAMID, 2018).
A Turquia, mesmo com fortes ligações com o leste europeu e com a Ásia Central, tem se tornado cada
vez mais um importante ator no jogo político do Oriente Médio. O terrorismo é um relevante elemento da
política de segurança turca, e o governo considera grupos ligados à população curda18 como as principais
organizações terroristas atuantes no país. Além disso, com a guerra síria e o envolvimento turco no conflito,
o país também tem sido alvo de outros grupos, tais como o Estado Islâmico (STARR, 2013).
Em Uganda, o principal grupo atuante no país é o Exército de Resistência do Senhor, uma organização
17 Vertente fundamentalista do Islamismo. O Salafismo adota uma postura radical e conservadora em relação à religião islâmica, defendendo a
aplicação da Sharia. Uma vertente similar ao Salafismo é o Wahhabismo, dominante na Arábia Saudita (GREWAL; HAMID, 2018).
18 Os curdos são um povo étnico que, no Oriente Médio, compreendem cerca de 30 milhões de pessoas e encontram-se nos territórios da Turquia,
do Iraque, da Síria, do Irã e de alguns outros países da região. Os curdos são um povo sem Estado próprio, e, nesse sentido, diversas organiza-
ções políticas curdas lutam pela constituição do Curdistão, objetivo que é recorrente e violentamente negado pelos Estados em que se encontram
(PORTLAND STATE UNIVERSITY, 2019).
UFRGSMUNDI • 172 ISSN: 2318-6003 | v.6, 2018
• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2019 •
fundamentalista cristã que se coloca em oposição ao governo nacional. O grupo atua no norte do país e tem
sido o foco dos esforços contraterroristas do governo. Uganda é extremamente comprometida com o combate
ao terrorismo no continente africano, e um dos exemplos disso é a importante atuação de suas tropas na luta
contra o Al-Shabaab, na Somália. O país é responsável por uma das maiores parcelas das forças da Missão de
Paz da União Africana para a Somália. No entanto, a sua atuação no país tem também chamado a atenção de
outros grupos terroristas, que buscam, como forma de retaliação, transformar o país em alvo de seus ataques
(SURUMA; MUTENYO, 2010).
(2) Pode haver interesses locais e internacionais para o desenvolvimento dos grupos terroristas existentes? A
quais pautas e agendas pode ser benéfica a instabilidade gerada pelo extremismo no Oriente Médio?
(3) Parece impossível, ao tratarmos de um mundo tão diverso cultural e socialmente, que se chegue em um
consenso universal sobre o conceito de terrorismo. Tendo em vista as interpretações, ideologias e interesses
envolvidos, é possível que a OCI, enquanto bloco, assuma uma posição de consenso quanto ao tema?
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• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2019 •
1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
(2) Como a mídia internacional pode impactar na visão popular sobre a crise venezuelana? A opinião
popular tem algum poder de fato?
INTRODUÇÃO
A Organização dos Estados Americanos (OEA), criada em 1948, é uma das organizações regionais
mais antigas do mundo. Atualmente a OEA é composta por 35 países do continente americano e sua
sede está situada em Washington D.C, capital dos Estados Unidos da América. A instituição tem como
base os princípios da democracia, dos direitos humanos, da segurança e do desenvolvimento, visando
a apresentar soluções para os problemas dos países americanos e também possibilitar o debate acerca
do que pode melhorar o continente como um todo (OEA, 2019).
Durante o VIII UFRGSMUNDI, será simulada a Assembleia Geral da OEA para tratar sobre a
crise da Venezuela. Na ocasião, os representantes dos Estados membros reúnem-se para decidir se o
governo Nicolás Maduro é legítimo ou não perante os princípios da organização, assim como discutir
o posicionamento da OEA em relação a Juan Guaidó, autodeclarado presidente da Venezuela, em meio
à crise no país.
O guia apresenta um histórico da construção da democracia na Venezuela recente, bem como
da ascensão de Hugo Chávez ao poder, seu governo e o nível da participação militar nele - essencial
para o entendimento do conflito atual -, acompanhado por uma análise da sucessão de Chávez por
Maduro. Por fim, os conceitos de democracia e legitimidade serão colocados em foco, seguidos por
uma apresentação dos posicionamentos internacionais sobre a crise venezuelana.
1 HISTÓRICO
As páginas a seguir analisam a formação da Venezuela no tocante ao seu sistema político
principalmente. Inicialmente é explanada a constante presença das Forças Armadas no poder até a
chegada de Hugo Chávez, apresentada em um segundo momento, a partir do qual são elucidadas suas
principais políticas de governo e sua importância.
1 Importante ressaltar que, antes da independência, a Venezuela fazia parte da Grã-Colômbia, da qual também faziam parte Nova Granada
(hoje Colômbia), Panamá e Equador.
estabelecem as grandes rivalidades entre os chefes políticos pelo controle dos recursos do Estado
nascente, que desembocará posteriormente na Guerra Federal entre 1859 e 1863”.
O restante do século XIX na Venezuela foi marcado de igual forma por sucessivos governos
militares. Em 1831, sobe ao poder o general José Antonio Páez, governando por dois mandatos
e instaurando uma ditadura que duraria até 1863. Por se tratar de uma figura central na política
venezuelana, sua liderança ficou conhecida como paecismo. O fim dessa ditadura só é concretizado no
momento em que há o triunfo das forças federalistas2 durante a Guerra Federal, lideradas pelo general
Guzmán Blanco. Ainda durante o século XIX, diversos governos militares ascenderam ao poder em
períodos marcados por grande instabilidade política, econômica e diplomática (ORTIZ, 1960).
Em 1917, iniciaram as explorações de petróleo durante o governo de Vicente Gómez, sob um
regime ditatorial que durou até 1935, no qual ocorreu a associação ao capital internacional, vínculo que
trouxe inúmeras vantagens econômicas e tarifárias aos países exportadores de commodities – produtos
de origem primária (recursos minerais, vegetais ou agrícolas, tais como o petróleo, o carvão mineral,
a soja, a cana-de-açúcar e outros) com alto valor estratégico e comercial. Nesse período, a economia
venezuelana sofre uma drástica mudança de foco, passando de uma economia estritamente agrária para
uma economia majoritariamente exportadora de petróleo, além de sofrer um importante e profundo
processo de modernização. Os dois próximos governos - Eleazar López Contreras (1935-1941) e Isaías
Medina Angarita (1941-1945) - ainda mantiveram o poder nas mãos dos militares, entretanto, foram
precursores no processo de libertação da presença opressiva no país até então (ORTIZ, 1960).
Em 1945, após um novo golpe, assume o líder civil do partido político Accíon Democrática
(AD), Rómulo Betancourt, convocando eleições livres em 1946 para a escolha de uma Assembleia
Constituinte. Dessa forma, a primeira eleição da história da Venezuela ocorre em 1947, com o triunfo
do ex-candidato nas eleições de 1941, Rómulo Gallegos, que assume no início de 1948, provocando
insatisfação às Forças Armadas, uma vez que as pautas do novo governo limitavam as ações militares
no país. Ainda em novembro de 1948, um novo golpe militar planejado por oficiais militares ocorre no
país, presidido por Carlos Delgado Chalbaud. Com o assassinato de Chalbaud, em 1950, Marcos Pérez
Jiménez vence as eleições de 1952, mesmo sob suspeita de fraude e de ter sido o mentor da morte de seu
predecessor. Devido a problemas econômicos e denúncias de corrupção, Jiménez é deposto em 1958 e
assume o chefe da Forças Armadas, o almirante Wolfgang Larrazábal (MORÓN, 1971).
A partir de 1989 até 1993, a situação do país torna-se crítica, principalmente pela diminuição do
preço do petróleo em escala mundial, uma vez que é a commoditie mais importante para a economia
venezuelana. O então presidente civil, Andrés Pérez, adotou medidas econômicas que causaram
inúmeras revoltas da população. Uma rebelião por parte dos militares estava sendo planejada e, em
1992, há uma tentativa de golpe de Estado – que foi controlada, tendo o então tenente-coronel Hugo
Chávez como um de seus líderes, comandando cerca de 300 efetivos. Em 1994, Hugo Chávez reúne
antigos aliados e funda um novo partido, o Movimiento Quinta República (MQR). Por fim, nas eleições
presidenciais de 1998, vence o MQR, partido de Hugo Chávez, com 56% dos votos (NEVES, 2010),
criando, assim, a prometida Quinta República.
Companheiros, lamentavelmente, por enquanto, os objetivos que nos propusemos não foram
alcançados na cidade capital... Agradeço a vossa lealdade, agradeço a vossa coragem, o vosso de-
sapego, e eu, perante o país e antes de vós, assumo a responsabilidade deste Movimento Militar
Bolivariano (TELESUR, 2017, online).
Sete anos depois, ele se torna candidato à presidência pelo Pólo Patriótico, aliança formada por
partidos de esquerda. A população venezuelana, que clamava por uma mudança política, o elege em
dezembro de 1999, atraída por seu distanciamento com os partidos tradicionais e sua posição contrária
ao neoliberalismo e às desigualdades sociais (OLIVEIRA, 2011).
Logo no início de seu mandato, Chávez propõe a elaboração de uma nova Constituição, aprovada
por referendo popular. Com ela, ocorre a ampliação da participação popular na política, os mandatos
presidenciais passam a durar seis anos e os militares passam a ter poder de voto (VIZENTINI, 2003).
Além disso, é criada a Assembleia Nacional, instância máxima do poder legislativo, e o nome do país é
alterado para República Bolivariana da Venezuela (VILLA, 2005).
O novo governo segue fazendo transformações e reformas sociais, anunciando no final de 2001
um pacote de 49 leis, das quais duas suscitam grande reação da oposição. A Lei de Terras permitia a
expropriação estatal3 de terras improdutivas, visando a uma futura reforma agrária (LEITE; FLORES,
2007). A Lei dos Hidrocarbonetos, por sua vez, aumentou muito a participação do Estado no setor
petrolífero, uma vez que estabelecia maiores taxas a serem pagas pelas empresas privadas e a reserva
de várias atividades ao Estado. Além disso, os excedentes gerados pelo petróleo iriam para educação,
saúde, infraestrutura, entre outros. Mais tarde, seriam criadas as “Misiones”, políticas sociais voltadas
para garantir direitos fundamentais à população venezuelana (LEITE; FLORES, 2007). Essas tiveram
impacto muito positivo nos setores populares e nos indicadores sociais, explicando em parte o alto
índice de aprovação do chavismo nesse período (OLIVEIRA, 2011).
Um dos problemas do governo Chávez foi que a dependência do petróleo, característica
tão marcante da Venezuela, se manteve. Apesar de tentativas de diversificar a produção, em 2006,
a participação do petróleo nas exportações chegou a quase 90% (SOUZA, 2008). O país continuou
dependendo da arrecadação do petróleo para sustentar suas importações, e agora, também, para
manter seus programas e gastos sociais, que asseguravam a base de apoio chavista, formada pelas
classes populares e por grande parte dos militares venezuelanos (BASTOS; OBREGÓN, 2018).
À medida que as mudanças institucionais e sociais foram ocorrendo, a oposição ao chavismo
se intensificou, formando a “Coordinación Democrática”, em que se organizaram a mídia televisiva
privada, grande parte dos empresários venezuelanos, uma pequena parcela de militares, entre outros
(BASTOS; OBREGÓN, 2018). As tensões entre chavistas e oposição cresceram até o dia 12 de abril de
2002, quando Chávez foi preso por militares, em um golpe arquitetado pela oposição, e um dos líderes
antichavistas, Pedro Carmona, declarou-se chefe do governo. Mediante manifestações populares pró-
governo e o apoio de parte das Forças Armadas, Hugo Chávez retornou à presidência dois dias depois
(LEITE; FLORES, 2007).
No fim de 2002, a oposição se intensificou novamente, com uma paralisação da produção de
petróleo que causou grandes perdas econômicas (LEITE; FLORES, 2007). Depois de inúmeras tentativas
mal-sucedidas, a oposição optou por tentar depor Chávez por meio de um referendo revogatório, uma
vez que a Constituição venezuelana prevê que, se assim for da vontade da população, todos os cargos
de eleição popular podem ser anulados (VENEZUELA, 1999). O referendo foi realizado em junho de
2004, e resultou em uma vitória para o chavismo e em uma dura derrota para a oposição. Os programas
sociais tinham fortalecido Chávez, que, depois disso, venceu mais uma eleição em 2006 e instituiu a
reeleição ilimitada em 2009 (BASTOS; OBREGÓN, 2018).
Em relação à política externa, o governo venezuelano fortaleceu sua atuação depois de 2004,
aumentando as tensões com os Estados Unidos e tendo o petróleo como importante instrumento
para alcançar cooperação e integração entre os países (VASCONCELLOS, 2009). Foram negociados
acordos com diversos Estados do Caribe e da América Latina para a compra de petróleo venezuelano
sob condições de pagamento mais favoráveis. Esses acordos visavam, simultaneamente, a promoção
da integração econômica regional e desafiar a influência dos Estados Unidos, uma vez que, ao operar
somente com empresas estatais de petróleo, eram excluidas empresas norte-americanas das transações.
Para estimular a integração, o governo venezuelano também criou a Aliança Bolivariana para os Povos
da Nossa América4 (ALBA) (WILLIAMS, 2011).
A partir de 2009, a oposição ao governo venezuelano se reorganizou, com um novo nome, na
Mesa de Unidade Democrática (MUD). Nas eleições parlamentares de 2011, um número relevante de
3 Tirar de alguém a posse de bens ou propriedades, passando-os ao Estado, sob justificativa de que eles têm uma utilidade pública que não
está sendo devidamente aproveitada (DICIO, 2019).
4 Organização que tem como objetivo incentivar a cooperação dos países caribenhos e latino-americanos em áreas como telecomunica-
ções, energia, cultura, educação, entre outras (WILLIAMS, 2011).
opositores foram eleitos para a Assembleia Nacional, demonstrando um possível declínio da hegemonia
chavista. Um ano depois, no entanto, Chávez foi eleito para ocupar a presidência pela terceira vez. Na
ocasião já estava em tratamento médico, e veio a falecer em 5 de março de 2013 (BASTOS; OBREGÓN,
2018). Deixou como sucessor Nicolás Maduro, eleito presidente da Venezuela em 14 de abril de 2013.
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
O conceito de democracia e de legitimidade é abordado nesta seção com o intuito de embasar
a discussão posterior sobre assuntos mais concretos em relação à Venezuela. Será apresentado um
panorama do governo de Nicolás Maduro, seus problemas internos e o desencadeamento da crise
atual da Venezuela a partir da declaração do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como
presidente interino do país.
5 A Guerra Fria foi um conflito sem confrontamentos explícitos entre Estados Unidos, capitalista, e União Soviética (atual Rússia), socialis-
ta, no qual o mundo foi dividido em zonas de influência entre tais países. A maioria dos países da América e da Europa Ocidental fizeram
parte do bloco capitalista, enquanto os Estados Unidos incentivaram governos conservadores ou ditatoriais em países que buscavam maior
independência e autonomia. Esse foi o caso da maioria dos países da América Latina, onde golpes de Estado foram extensamente incenti-
vados pelo governo norte-americano (COGGIOLA, 2011).
6 A Terceira Onda Democrática foi o período entre 1980 e 1990 em que muitas ditaduras nos continentes latino-americano, africano e asiá-
tico terminaram, dando espaço para a construção de governos democráticos. Também foi o período de crise da União Soviética, o qual oca-
sionou, posteriormente, transições democráticas nas repúblicas que compunham a União (HUNTINGTON, 1994; KLINE; WADE, 2018).
personalização de uma figura nacional - presidente ou outro líder - na tomada de decisões ter caráter
central. Tampouco foram resolvidos os problemas de desigualdade social, marcantes não só entre
nações, mas dentro de cada nação, havendo diferenças sociais significativas entre regiões de um mesmo
país, como é o caso do Brasil (KLINE; WADE, 2018).
empregada sucessivas vezes no seu mandato, a qual permite ao presidente governar por decreto10 em
situações emergenciais, relacionadas a ameaças de outros países - como as sanções dos Estados Unidos
- ou órgãos internacionais (BBC MUNDO, 2015). A oposição também denuncia a utilização do poder
Judiciário como instrumento de controle e repressão às forças contrárias ao governo (URRIBARÍ, 2016).
A situação na Venezuela resultou em uma enorme polarização entre favoráveis ao governo e
seus opositores, desencadeando sucessivas ondas de protestos de ambos os lados. Em 2014, os protestos
iniciados contra os índices crescentes de criminalidade passaram a abordar também críticas à situação
geral do país. Com a repressão policial dos protestos, a violência generalizou-se entre os partidários
do governo e da oposição, com a utilização de “guarimbas” por parte da oposição no período noturno,
espécie de barricadas de guerra em meio às cidades (TORO, 2014).
A conturbada situação econômica, política e social do país provocou uma reviravolta nas
eleições legislativas de dezembro de 2015, quando o Movimento Unidade Democrática (MUV), que
reúne os principais partidos da oposição, obteve 112 das 167 cadeiras. Foi a primeira vez, desde o
início da Era Chávez, em 1999, que as forças pró-governo não garantiram a maioria das cadeiras. A
oposição alega que a centralização do poder na figura de Maduro se acentuou após o resultado das
eleições, visando a minar as possibilidades de ação do grupo rival. Também apontam para a tentativa
de dominação da mídia, com a multiplicação de canais de televisão e veículos impressos de viés pró-
governo em simultaneidade com a restrição de meios de comunicação da oposição ao governo com a
população (URRIBARÍ, 2016).
10 Governar por decreto significa que o presidente pode aprovar leis sem que elas precisem passar pela aprovação do poder Legislativo
(BBC MUNDO, 2015).
11 A Carta Democrática Interamericana é um documento da Organização dos Estados Americanos que afirma que a democracia é e deve
ser a forma de governo comum a todos os Estados das Américas e que ela constitui um compromisso coletivo para fortalecer e preservar o
sistema democrático na região (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, s.d.).
12 Sanções econômicas são ações que restringem as relações comerciais de outras nações com o país punido.
presidente interino da Venezuela13. Pouco tempo depois, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina,
Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e boa parte da
nações europeias reconheceram Guaidó como presidente legítimo da Venezuela. As ruas de Caracas,
capital venezuelana, também foram tomadas por manifestantes - tanto favoráveis a Guaidó, quanto a
Maduro -, agravando ainda mais a polarização já existente no país (TRINKUNAS, 2019).
Desde então, uma das principais preocupações da oposição, liderada por Guaidó, tem sido
ganhar o apoio dos militares venezuelanos, principal frente de apoio a Maduro, uma vez que as Forças
Armadas são também responsáveis pelos Ministérios, pela indústria do petróleo, pela distribuição de
alimentos e pela segurança interna do país (TRINKUNAS, 2019). Na imagem abaixo, é possível ver
quais países apoiam cada um dos declarados presidentes, sendo os países em vermelho apoiadores
de Nicolás Maduro, e os em azul, apoiadores de Juan Guaidó. Os países em branco não publicaram
declarações oficiais de apoio a qualquer um dos lados até março deste ano, os países em cinza mantêm
uma posição neutra em relação ao conflito e em preto encontra-se a Venezuela. Nota-se que grande
parte do continente americano apoia Guaidó, enquanto a maior base de apoio de Maduro vem da Ásia
e da Europa Oriental, principalmente China e Rússia.
O momento de maior embate entre os dois lados até então foi o chamado “23f” - nomeado assim
pela oposição de Maduro em referência à data em que ocorreu: 23 de fevereiro. Uma carga de alimentos
e suprimentos médicos, chamada de “avalanche humanitária”, organizada pela oposição e por um grupo
de países sob liderança dos Estados Unidos, entraria para a Venezuela pela fronteira com o Brasil, mas
foi barrada por militares na fronteira com o uso da força e resultou na morte de três pessoas. A fronteira
havia sido fechada no dia anterior por determinação de Maduro, assim como a fronteira venezuelana
com a Colômbia. O maior objetivo dessas ações era conseguir apoio dos militares, enfraquecendo o
seu governo. A chamada “avalanche humanitária” também teve sua legitimidade contestada devido a
alegações de ter sido fundada para usos políticos e militares (CHARLEAUX, 2019).
A Bolívia tem se aproximado da Venezuela desde 2006, com a eleição de Evo Morales, devido à afinidade
ideológica, econômica e social com o então presidente venezuelano Hugo Chávez. Morales, em seu
terceiro mandato, rejeitou as declarações de Guaidó e a necessidade de novas eleições, afirmando a
legitimidade do governo de Nicolás Maduro, e reiterando a importância dos problemas venezuelanos
O Brasil recentemente elegeu como presidente um político de extrema direita, Jair Bolsonaro
(PHILLIPS, 2019). O país, outrora conciliador entre as partes, passou a atuar de forma mais enérgica
nas questões internacionais. No que tange à Venezuela, o Brasil reconheceu a legitimidade de Juan
Guaidó no mesmo dia de seu pronunciamento e estava entre os países que organizaram o envio de
suprimentos desencadeador do episódio do 23f (COELHO; FRIAS; NEVES, 2019; VEJA, 2019).
O Canadá é um dos maiores opositores ao governo Maduro, devido a sua proximidade política com
os Estados Unidos e contínua defesa dos ideais democráticos. Além de fazer parte do Grupo de Lima,
o país é um dos que mais aplicou sanções econômicas ao governo venezuelano, causando prejuízos
imensuráveis, e um dos que mais estimula os outros países a fazerem o mesmo. O Canadá exerce uma
forte influência mundial no que tange à defesa dos direitos humanos (REUTERS, 2019).
Opositor ferrenho do governo Maduro, o Chile, em reunião da OEA, no ano de 2018, apresentou uma
resolução para banir a Venezuela da organização devido à ruptura democrática no país. O presidente
do Chile chegou a afirmar, também, que o país rompeu relações com a Venezuela devido à intolerável
continuidade do governo Maduro (TELESUR, 2018).
Não reconhecendo a legitimidade do governo Maduro, a Costa Rica, como membro do Grupo de
Lima, também reconhece o presidente autodeclarado Juan Guaidó e tem expressado seu apoio ao
novo governo. O país também critica o último processo eleitoral organizado na Venezuela, o qual teria
contribuído para intensificar a crise social e política do país (ZÚÑIGA, 2019).
Cuba pode ser considerada a maior parceira da Venezuela desde o início da Era Chávez, muito em
virtude da compra subsidiada do petróleo venezuelano desde 2000. Devido às dificuldades econômicas
em Caracas, o benefício foi suspenso em 2018, o que não prejudicou a relação entre os dois países
(PARRAGA, 2018). Havana, em inúmeras ocasiões, posicionou-se a favor de Maduro e condenou as
sanções econômicas impostas ao país. (PRENSA LATINA, 2019).
Sendo o governo atual do Equador alinhado aos interesses estadunidenses, o país declarou abertamente
seu apoio a Guaidó. Segundo o presidente Lenín Moreno, Guaidó terá como principal responsabilidade
a convocação de eleições livres e transparentes na Venezuela, sob ampla observação internacional
(AFP, 2019a). Em 2018, o presidente do Equador expulsou uma embaixadora venezuelana devido a
divergências diplomáticas - ação retaliada pela Venezuela -, tornando instável a relação entre os países
desde então (TERRA, 2018).
Governado atualmente pelo empresário e membro do Partido Republicano, Donald Trump, os Estados
Unidos foram o primeiro país a reconhecer Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Washington endureceu sua posição devido aos recentes acontecimentos, exigindo a renúncia imediata
do atual presidente e impondo mais sanções ao petróleo venezuelano, equivalentes a um embargo
econômico14. O governo também tem aumentado o tom de ameaça, afirmando que “todas as opções estão
em aberto” para resolver a crise, o que poderia significar uma intervenção direta no país (LISSARDY,
2019).
O governo de Granada, país integrante da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América),
grupo aliado tradicional do regime de Nicolás Maduro, declarou apoio ao presidente eleito da Venezuela
(GAZETA DO POVO, 2019). O presidente do país caribenho, Keith Mitchell, afirma que apenas com
14 Proibição oficial, por parte de um país, da prática de atividades econômicas com uma determinada nação, geralmente motivada por
questões políticas (MARKET BUSINESS NEWS, 2019).
A Guatemala foi o primeiro país centro-americano a reconhecer Guaidó como presidente da Venezuela.
Como membro do Grupo de Lima, o país é fortemente contrário ao governo de Nicolás Maduro. Seus
representantes pedem que a crise seja resolvida por meio de soluções pacíficas, com a convocação de
eleições livres e transparentes no país, sob o rigor de parâmetros internacionais (EFE, 2019e).
Historicamente, há uma tensão entre a Venezuela e sua vizinha, Guiana, por questões fronteiriças,
agravada atualmente pelo início da exploração de petróleo na costa guianense. Entretanto, assim
como outros países-membros da CARICOM, a Guiana rejeita toda e qualquer intervenção à soberania
nacional da Venezuela e advoga por um maior diálogo entre as nações, visando à “preservação do
processo democrático e o retorno da normalidade” (POPPLEWELL, 2019, online).
Sendo parceiros comerciais de longa data, o Haiti e a Venezuela constantemente votam juntos na OEA
devido à tamanha proximidade econômica. Contudo, a intensificação do conflito venezuelano, bem
como a pressão internacional, fizeram o país votar pela primeira vez, em mais de uma década, contra
o seu histórico aliado. Assim, na votação em relação à legitimidade do governo de Maduro, o Haiti
confirmou a sua mudança de posicionamento, colocando-o como mais um opositor da Venezuela (KIM
IVES, 2019).
Apesar de serem parceiros econômicos, a Jamaica se posiciona contra o governo Maduro, alegando
que seria inaceitável, tratando-se de uma democracia moderna, aceitar a deterioração de um país, como
vem ocorrendo na Venezuela. A Jamaica também se opõe fortemente à repressão política por parte
do governo Maduro e enfatiza como a crise venezuelana provoca impactos para todo o continente
americano, tornando extremamente necessária uma resolução da questão (JAMAICA OBSERVER,
2019).
Envolvida em uma crise política interna, a Nicarágua posicionou-se contrária à presidência interina
de Guaidó, afirmando que a autoproclamação é um ato completamente inconstitucional. Além disso, o
país também critica a posição imperialista e intervencionista norte-americana frente à crise instaurada,
por meio de parcerias com outros Estados caribenhos com ideologias semelhantes (TELESUR, 2019c).
Membro do Grupo de Lima, o Panamá não reconhece o governo de Maduro e suas tentativas de
manutenção do poder. O país repudia a ruptura da ordem democrática em andamento na Venezuela e
considera ilegítima toda tentativa de destruição dos instrumentos democráticos por parte do governo
de Caracas. Recentemente, o governo do Panamá ainda anunciou estar disposto a tomar todas as
medidas diplomáticas cabíveis contra o governo da Venezuela (EFE, 2019b).
Cada vez mais próximo politicamente dos Estados Unidos e da Argentina, o Paraguai é um dos mais
ferrenhos críticos ao governo de Maduro, considerando-o responsável pela extensa crise humanitária
venezuelana. O país, inclusive, rompeu relações com Caracas após a reeleição de Maduro, por considerar
ilegítimo o processo eleitoral ocorrido em 2018 (BRINDICCI, 2019).
Uma das medidas propostas pelo Peru após a reeleição de Nicolás Maduro foi o rompimento diplomático
do Grupo de Lima com o governo eleito (DEUTSCHE WELLE, 2018). Além disso, o presidente peruano,
Martín Vizcarra, declarou apoio a Juan Guaidó e ressaltou a importância da realização de novas
eleições sob supervisão internacional (EL COMERCIO, 2019). O país é um dos principais destinos dos
imigrantes venezuelanos ocasionados pela crise econômica e política (DUPRAZ-DOBIAS, 2019).
Santa Lúcia e Venezuela encontraram-se em janeiro deste ano com o objetivo de melhorar a relação
entre os dois países e elaborar uma agenda de cooperação (VTV, 2019). Pouco tempo depois, ocorre a
autodeclaração de Guaidó, a qual não altera a postura do país caribenho, que opta por manter seu apoio
a Maduro e não reconhecer a legitimidade de Juan Guaidó, tornando-o um dos únicos três países do
Grupo de Lima, junto com México e Guiana, a não reconhecer o declarado presidente interino (AFP,
2019b).
(2) O governo de Guaidó, mesmo no caso de receber apoio de parte considerável da população, pode
ser considerado legítimo - dado que foi instituído a partir de uma ação unilateral em oposição a um
governo eleito?
(3) O governo venezuelano deve ser julgado por violações dos direitos humanos ou os fatores causadores
de tal situação são mais complexos e não decorrem apenas do governo Maduro?
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SENADO FEDERAL
A Reforma do Ensino Médio
Bruna Queiroz Carvalho, Isadora dos Santos Rodrigues, Luiz Marcelo Michelon
Zardo, Magnus Kenji Hernandes Hübler Hiraiwa e Mariana Aleixo Ferreira1
1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais e Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS).
(2) Quais são as motivações e interesses por trás da reforma do Ensino Médio?
INTRODUÇÃO
A República Federativa do Brasil, ao adotar o republicanismo1 como forma de regime
governamental no artigo 1º da Constituição Federal, estabelece o caráter representativo do governo,
sendo o poder político fundamentado pela vontade do povo. O citado artigo também constitui o
sistema político brasileiro como federalista, ou seja, os estados possuem autonomia para organizar-
se politicamente, com responsabilidades e competências próprias, sendo o conjunto desses estados
membros submetido a um governo central, conhecido como União (BRASIL, 1988).
Nessa perspectiva, o Senado Federal exerce a função de igualar a representatividade entre os
estados da Federação no âmbito legislativo. Isso significa dizer que a instituição garante a igualdade da
elaboração de normas referentes à União ao estabelecer um número igual de senadores eleitos para cada
estado membro (três por estado, totalizando 81 senadores). É importante ressaltar que as resoluções
legislativas visam à representação do livre arbítrio dos cidadãos e devem ser aplicadas a todos, ou seja,
as leis são feitas pela sociedade e para a sociedade, caracterizando o Estado Democrático de Direito
(BRASIL, s.d.; CALAÇA, 2015).
O presente guia tem por objetivo discutir a proposta de reforma do Ensino Médio, tendo em
vista as incumbências do Senado Federal, nomeadamente, fiscalizar o Poder Executivo e aprovar leis
em sintonia com o espírito constitucional que rege o sistema político brasileiro. Logo, a adequada
discussão de referido projeto deve levar em conta como a Carta Magna2 aborda a educação.
Deliberações sobre o sistema educacional estão entre as funções do Senado Federal. Nesse
sentido, a Constituição Federal, no Art. 22, XXIV, indica as diretrizes e bases da educação nacional
como objeto de competência legislativa exclusiva da União. Desse modo, quaisquer modificações nos
objetivos ou na estrutura curricular do ensino secundário, como pretende a atual reforma, devem ser
analisadas pelo Poder Legislativo Federal, composto também pelo Senado.
Em conformidade com sua ênfase nos direitos de segunda geração3, a Constituição Federal,
no Art. 205, define a educação como um “direito de todos e dever do Estado e da família” que visa “ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” (BRASIL, 1988). Assim, é o dever do Estado de dignificar os cidadãos por meio da educação
que deve pautar o debate sobre a reforma do Ensino Médio.
Feitas essas considerações, as próximas seções têm como objetivo prover ao leitor uma explanação
mais aprofundada sobre a proposta em questão, assim como dados históricos e jurídicos que possam
facilitar a formulação de um posicionamento acerca do tema. A primeira seção aborda a evolução do
ensino secundário na história brasileira recente. Na sequência, a segunda seção apresenta o conteúdo
do projeto de reforma, assim como os principais argumentos contrários e favoráveis; enquanto a seção
seguinte discute a experiência de países-referência em educação básica. A última parte do guia, por
sua vez, resume a posição de todos os partidos com representação no Senado no momento da votação
(2018).
1 O republicanismo é uma concepção segundo a qual uma nação é governada como uma república, na qual o chefe de Estado é indicado
por métodos não-hereditários, frequentemente por eleições.
2 Nomenclatura comum na literatura jurídica para designar a Constituição Federal.
3 Nomenclatura comum na literatura jurídica para designar os direitos sociais, que requerem a participação do Estado para serem con-
cretizados, em contraposição aos direitos individuais, também chamados de direitos de primeira geração, que requerem a abstenção do
Estado para serem efetivados. A Constituição de 1988 é também conhecida como “Constituição Cidadã” devido ao amplo rol de direitos
de segunda geração por ela assegurados.
No Brasil, após o fim do período imperial4 (1822 - 1889) e a instauração do republicanismo, o plano do
ensino secundário passou a ser responsabilidade do Estado, sendo possível identificar mudanças na sua
oferta ao longo das décadas. Assim, esta seção visa a apresentar as principais propostas anteriores de
reforma do ensino brasileiro (GHIRALDELLI, 2001).
À época da proclamação da Primeira República (1889-1930), levada a cabo por meio de um golpe
militar apoiado pela elite cafeeira da época, não havia políticas educacionais expressivas, reflexo da
impossibilidade de participação popular no cenário político oligárquico nacional5. O Ensino Médio
preparava para o ingresso no ensino superior e era frequentado por jovens de classe alta, principalmente,
e de classe média, considerando-se que somente essas classes possuíam condições financeiras e
projeções socioeconômicas que valorizavam o diploma. A carência de políticas governamentais
voltadas à educação popular e a necessidade de democratizar a República provocaram a idealização
de dois movimentos no que tange ao ensino público: o “entusiasmo pela educação” e o “otimismo
pedagógico”6. O primeiro movimento referia-se à pressão pela abertura de escolas, enquanto o segundo
questionava os conteúdos e métodos de ensino adotados; juntos esses movimentos influenciaram o
ciclo de reformas educacionais da República Velha7 (GHIRALDELLI, 2001).
A primeira reforma desse período foi a Reforma Benjamin Constant (1891), que instaurou um
currículo de base positivista cujo objetivo era estabelecer uma educação básica voltada à entrada no
ensino superior; destacando-se, ainda, a laicização8 do ensino público e a consequente expansão de
escolas privadas ligadas à alguma religião. Na década seguinte, a Reforma Epitácio Pessoa (1901) manteve
o ingresso no ensino superior como o objetivo das séries básicas e passou a permitir a obtenção do título
de bacharel em Letras e Ciências após a conclusão do ensino médio. A Reforma Rivadávia Correia
(1911), por sua vez, provocou a desoficialização completa do ensino, ou seja, transformou as escolas
em entidades autônomas, retirando do governo o monopólio da validade oficial do diploma escolar
e a própria importância da matrícula no ensino superior na instrução secundária. Posteriormente, a
Reforma Carlos Maximiliano (1915) oficializou novamente o ensino secundário cuja principal finalidade
voltou-se novamente para a entrada no ensino superior, enquanto a Reforma João Luís Alves (1925) deu
maior ênfase ao ensino de conhecimentos gerais para a vida e estabeleceu critérios para a concessão do
grau de bacharel em Letras e Ciências (SANTOS, 2010).
Durante a Segunda (1930-1937) e Terceira República (1937-1945), ocorreram duas reformas de
grande impacto na educação secundária: a Reforma Francisco Campos (1932) e a Reforma Gustavo
Capanema (1942). Foi um período de maior centralização política na União, no qual o então presidente
Getúlio Vargas implementou um “programa de reconstrução nacional”. O programa varguista incluiu
políticas de cunho educacional, as quais possibilitaram a criação do Ministério da Educação e da Saúde.
Ao assumir a pasta deste ministério, Francisco Campos estabeleceu a obrigatoriedade da frequência
escolar e a organização do currículo em séries, compostas por um ciclo fundamental, comum a
todos, e um complementar cujas disciplinas dependiam do curso superior pretendido. Esse arranjo
foi posteriormente alterado com as Leis Orgânicas do Ensino (Reforma Capanema), pelas quais foi
estabelecido o ciclo ginasial e o colegial, bem como conferida uma maior atenção ao patriotismo nos
níveis escolares (DALLABRIDA, 2009; MORAES, 1992).
Por efeito da instauração da Quarta República (1946-1964) e da promulgação da Constituição
de 1946, a qual conferiu à União o dever de legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional,
iniciou-se uma nova discussão sobre a reforma educacional (BRASIL, 1946, art 5, inciso XV, letra ‘d’).
Ratificada em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/61) institucionalizou uma
grade curricular comum a todas as escolas, públicas e privadas, e permitiu a oferta de disciplinas
facultativas de acordo com a autonomia de cada escola, bem como estabeleceu a equivalência entre
o ensino técnico, o normal e o secundário. A partir da Ditadura Militar9 (1964-1985) e da repressão à
4 Período no qual o Brasil foi governado por imperadores, tendo em vista o modelo monárquico constitucional implementado no país após
sua independência de Portugal.
5 Durante a Primeira República foi instaurada a política do café-com-leite, de modo que somente os representantes dos interesses dos pro-
dutores de café e de leite tiveram acesso ao poder; aos demais, eram impostas condições excludentes para participar das decisões políticas,
tal como o voto censitário.
6 Termos introduzidos por Jorge Nagle e reinterpretados por Paulo Ghiraldelli.
7 Nomenclatura comum na literatura para denominar a Primeira República.
8 Separação do Estado e da religião.
9 Período no qual o Brasil era governado por militares, de modo autoritário e repressivo, ocorrendo a supressão de direitos civis da popu-
lação.
sociedade civil, a LDB/61 foi alterada10, passando a definir um currículo comum para todo o Brasil.
Voltada para a formação profissional, a lei também passa a classificar como segundo grau somente o
ciclo colegial, do ensino secundário, e a estabelecer o cumprimento de horas mínimas, dependendo da
área de formação (BALD, FASSINI, 2018).
Em 1988, com o fim do regime ditatorial, é promulgada a atual Constituição Federal, conhecida
como “Constituição Cidadã” por enfatizar uma série de direitos sociais, como a educação. Nessa
perspectiva, a discussão da criação de novas políticas educacionais tornou-se constante na esfera
pública, resultando na ratificação de uma nova Lei de Diretrizes e Bases em 1996 (LDB/96) e em vigor
atualmente. É importante notar que o texto aprovado teve forte influência do senador Darcy Ribeiro,
representante dos empresários de ensino, apesar da atuação de vários setores da população brasileira,
defensores da educação pública. Isso significa dizer que o texto final teve predominância de elementos
flexíveis, condizentes principalmente com os interesses do mercado de ensino, em detrimento de
fundamentos mais progressistas, que tinham como objetivo uma educação pública e universal de
qualidade, fato que provocou diversas críticas e propostas para alterar a lei (BOLLMAN, AGUIAR,
2016; GHIRALDELLI, 2001).
A LDB/96 definia o Ensino Médio como etapa final da educação básica cujo currículo destacava
“a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o
processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento
de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania” (BRASIL, 1996, p. 12). A LDB/96
determina, também, a criação do Plano Nacional de Educação (PNE), pelo qual são estabelecidas
metas e estratégias educacionais para o país durante uma década; e do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), fundo monetário
responsável pelo financiamento do ensino entre 1997 e 2006. O Fundef foi substituído, então, pelo
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb), em vigor desde 2006 e previsto para até 2020, com finalidade de aumentar o volume
anual dos recursos federais repassados aos estados membros e suas respectivas escolas (BRASIL, 1996;
BRASIL, 2018).
Em 2013, o Projeto de Lei 6.840/13 é apresentado, com o objetivo de alterar a LDB/96, propondo
a instituição de horário integral no Ensino Médio e a organização de um currículo comum baseado
em áreas de conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas). O
principal argumento dessa mudança é a “necessidade de readequação curricular no Ensino Médio, de
forma a torná-lo atraente para os jovens e possibilitar sua inserção no mercado de trabalho, sem que
isso signifique o abandono da escola” (BRASIL, 2013, p. 7), feito pela Comissão Especial destinada
a promover Estudos e Proposições para a Reformulação do Ensino Médio (CEENSI), presidida pelo
deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) e relatada pelo deputado federal Wilson Filho (PTB-PB).
Entretanto, o PL 6.849/13 foi amplamente criticado por não abranger a opinião dos principais atores
educacionais e por incluir o tema da interdisciplinaridade (MACHADO, 2015).
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Em setembro de 2016, com o objetivo de alterar a Lei nº 9.394, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, e a Lei nº 11.494, que regulamenta o Fundeb, foi apresentada a Medida
Provisória nº 746. Seu texto propõe mudanças no funcionamento do Ensino Médio tratando de questões
como currículo, carga horária, qualificação dos professores e o estabelecimento de uma Base Nacional
Comum Curricular (BRASIL, 2016a).
A Constituição Federal de 1988 estabelece que medidas provisórias podem ser adotadas em caso
de relevância e urgência (BRASIL, 1988). No entanto, por se tratar de um instrumento legislativo, há a
necessidade de que elas sejam aprovadas pelo Congresso Nacional para a sua transformação definitiva
em lei, o que leva a discussão ao Senado Federal. Nesse contexto, o texto da Medida Provisória nº 746
visa a uma nova reforma no ensino médio brasileiro, portanto, deve ser analisada pelos senadores.
O procedimento de análise para aprovação ou rejeição da medida provisória é composto por
algumas fases, possuindo um prazo de duração de 60 dias, com a possibilidade de prorrogação por mais
60 dias. Após a publicação, a MP passa por diferentes instâncias de deliberação: uma comissão mista,
a Câmara de Deputados e o Senado Federal. A comissão mista, integrada por doze senadores e doze
deputados, é responsável por manifestar-se sobre a matéria emitindo um parecer único (MORAES,
2018). Em seguida, o plenário das duas Casas delibera quanto à medida provisória em sessões separadas.
Desse modo, depois do resultado da votação pelos Deputados, o Senado atua como a Casa revisora.
O plenário de cada uma das Casas deve decidir, preliminarmente, se há o atendimento dos
pressupostos constitucionais, além da adequação financeira e orçamentária, para depois passar ao
exame de mérito, ou seja, do conteúdo da medida (LENZA, 2012). A medida provisória pode ser (i)
aprovada integralmente (nos termos da medida editada), (ii) aprovada com alterações no seu texto (a
medida transforma-se em projeto de lei de conversão11), (iii) rejeitada expressamente (como resultado da
votação) e (iv) rejeitada tacitamente (caso não seja votada pelo Congresso dentro do prazo estabelecido)
(MORAES, 2018).
Ministério da Educação para os estados e para o Distrito Federal pelo prazo de dez anos por escola,
visando à execução e ao desenvolvimento das ações previstas na medida, com metas e cronogramas a
serem estabelecidos (BRASIL, 2016a).
Tal proposição constitui, no plano da proposição das políticas, a resposta à disputa sobre o En-
sino Médio e a Educação Profissional que, desde a década de 1980, vem sendo travada entre, de
um lado, os educadores e setores da sociedade que enxergam a escola meramente como forma-
dora de sujeitos sociais eficientes e pouco questionadores e, de outro, aqueles setores sociais
e educadores que almejam para os filhos dos trabalhadores uma formação integrada, integral,
unitária e politécnica que não apenas os prepare para o exercício profissional consistente, mas
que, além disso, tornem-nos capazes de entender ampla e criticamente tanto a sociedade em que
vivem quanto a forma pela qual se estrutura o trabalho que realizam, tendo em vista a construção
de formas mais humanas e igualitárias de produzir e viver (FERRETTI, 2018, p. 34) (grifo nosso).
Cabe mencionar o impacto da PEC 95, que implica a redução progressiva dos recursos
disponíveis para setores como a saúde e a educação. Isso poderá deixar os colégios públicos em uma
situação ainda mais sensível, incapazes de administrar adequadamente os custos do sistema de ensino.
A consequência seria um aumento da desigualdade de ensino e qualidade entre o colégio público e o
privado (FERRETTI, 2018).
Outro ponto que merece destaque diz respeito à carreira e às condições de trabalho docentes.
Podem ser elencadas quatro situações em que o trabalho docente é afetado, vinculadas sobretudo à
reforma trabalhista de 2016: (i) a exclusão, como obrigatórias, de disciplinas como Sociologia, Filosofia,
Educação Física e Arte, restringindo o mercado de trabalho para os docentes dessas disciplinas; (ii)
a possibilidade de diminuição da oferta de postos de trabalho por meio da instituição dos itinerários
formativos; (iii) o caso específico do itinerário “formação técnica e profissional”, que abre a possibilidade
de que postos de trabalho possam ser ocupados, por “profissionais detentores de notório saber”, o
que representa redução de oportunidades de trabalho para professores licenciados, resultando em
desvalorização da carreira docente e possíveis perdas salariais; (iv) a mudança no artigo 318 da CLT,
16 Quais sejam, os referentes às áreas das Ciências Naturais, Matemática e Linguagens e Educação Profissional.
17 Juízo sobre uma questão emitido em processo por um órgão público ou funcionário especializado.
proposta no art. 8º da Lei 13.415, que, a despeito dos aspectos positivos18, permite ao professor lecionar
em um mesmo estabelecimento por mais de um turno, possibilitando que o docente dobre seu tempo
de atividade em sala de aula (FERRETTI, 2018).
3 SISTEMAS COMPARADOS
A análise da proposta de reforma do Ensino Médio requer, ainda, comparações com as
experiências dos países considerados referências em educação básica no Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (PISA). Dessa forma, é possível avaliar em que medida a proposta do Governo Michel
Temer se aproxima e/ou se distancia dos programas mais bem-sucedidos no exterior. É importante,
contudo, atentar às particularidades socioeconômicas do Brasil, uma vez que modelos funcionais em
países desenvolvidos ou com um padrão cultural diferente poderiam, aqui, mostrar-se disfuncionais.
Evidentemente, as restrições de tempo e espaço exigem que este guia selecione apenas um pequeno
grupo de países para a realização da mencionada comparação. Assim, optou-se pela tríade Singapura,
Japão e Estônia, já que, em ordem do melhor para o pior, foram esses os três países independentes
melhor colocados no ranking do PISA de 2015/2016 (ISLAMIC WORLD ACADEMY OF SCIENCES,
2018).
Começando por Singapura, é razoável afirmar que a principal característica do sistema
educacional básico do país, desde o ensino primário até o secundário, é a combinação entre disciplina
rígida e alta concorrência (JARDIM, 2018). Na educação secundária, os alunos são divididos, de acordo
com a pontuação obtida em um exame realizado ao fim do primário, em três módulos – normal-técnico,
expresso e normal-acadêmico -, com duração de quatro anos para os dois primeiros e cinco anos para
o último (SINGAPURA, 2008). Cada um desses módulos possui uma matriz curricular diferenciada
de acordo com seu objetivo, que pode ser mais afeito ao mundo acadêmico ou a ofícios práticos
(SINGAPURA, 2008). De qualquer forma, em todos eles os alunos têm, além do núcleo de disciplinas
obrigatórias, a oportunidade de escolher cursos optativos, como Engenharia e Tecnologia Informacional
(SINGAPURA, 2008).
Há, contudo, também problemas. O alto grau de rigidez acarreta dificuldades de acompanhamento
a vários alunos, que precisam recorrer a aulas particulares e frequentemente desenvolvem graves
problemas psiquiátricos (JARDIM, 2018). Desse modo, uma educação altamente qualificada se dá com
a contrapartida de graves problemas emocionais aos jovens do país. Além disso, cabe ressaltar que, em
contraste com o ensino primário no país, a educação secundária se dá em meio período (SINGAPURA,
2008). O tempo livre, apesar disso, é frequentemente ocupado por horas extras de estudo, por conta
própria ou em aulas particulares, que consomem uma fatia significativa do orçamento das famílias
(JARDIM, 2018).
No Japão, por sua vez, o sistema educacional tem rendido excelentes frutos apesar de
investimentos considerados baixos em educação, de anualmente apenas 3,3% do PIB (BASSO, 2017).
São peculiaridades deste sistema educacional, marcado pela alta competitividade (INUI, 2006), a ampla
autonomia que os professores dispõem na preparação de seus planos de ensino e o sistema de realocação
de professores, em que os docentes frequentemente mudam de escola de forma a adquirir diferentes
experiências e aprender com elas (BASSO, 2017).
Quanto ao ensino secundário especificamente, há a divisão em “baixo” e “alto” (NUFFIC, 2015).
No baixo ensino secundário, há dez disciplinas obrigatórias e também cursos optativos. Quanto melhor
o desempenho no ensino secundário baixo, maior é a chance de aceitação em boas escolas de ensino
secundário alto, o qual, entretanto, não é um nível de ensino obrigatório no Japão (NUFFIC, 2015). Neste,
apesar do número de disciplinas ainda ser elevado, concede-se ao aluno uma maior proporção horária
em cursos eletivos, sendo apenas cerca de 30% das horas-aula destinadas a disciplinas compulsórias
(NAKAYASU, 2016). Apesar das diferenças, em ambos os níveis do ensino secundário a carga horária é
parcial, e não integral (TOKYO METROPOLITAN BOARD OF EDUCATION, 2018).
Assim como em Singapura, também há problemas. Diante da alta competitividade do sistema
educacional e do desejo de ingressar no ensino superior, uma parcela significativa dos estudantes
secundaristas do país sente-se pressionada a recorrer em seu tempo extra a escolas suplementares, os
18 “[...] possibilidade de instituição da escola de tempo integral e a alocação do professor a uma única escola, com tempo suficiente para
atender os alunos dentro e fora da sala de aula e para reunir-se com colegas a fim de promover a integração entre as diferentes disciplinas”
(FERRETTI, 2018).
jukus (BRASOR; TSUBUKU, 2011). Nesse sentido, é importante lembrar que há altíssimos índices de
depressão e suicídio entre os adolescentes no país (THE WEEK, 2018).
Por fim, o modelo estoniano se caracteriza, assim como no Japão, pela alta autonomia dos
docentes em seu planejamento didático (VEIGA, 2018). Outra semelhança com o país do Extremo
Oriente é a segmentação dos estudos secundários: na Estônia, eles dividem-se em ensino secundário
geral, obrigatório e com duração de três anos, e ensino secundário vocacional, não obrigatório e de
duração variável (NUFFIC, 2018).
O ensino secundário geral, vale destacar, consiste de uma carga horária bastante superior
àquela dos países asiáticos já analisados; o ano letivo compreende ao menos trinta e cinco semanas,
cada uma delas com no mínimo trinta e duas horas de atividades escolares (NUFFIC, 2018). São
dezoito disciplinas obrigatórias, mas os alunos também podem cursar disciplinas eletivas (NUFFIC,
2018). O ensino secundário vocacional, por sua vez, como o próprio nome sugere, é voltado à carreira
futura pretendida pelo aluno, podendo ter uma matriz curricular puramente vocacional ou mista entre
conteúdos vocacionais e outros gerais (NUFFIC, 2018). Os programas puros costumam durar entre
um ano e dois anos e meio, ao passo que os programas mistos levam ao menos três anos para serem
concluídos (NUFFIC, 2018).
Portanto, nota-se que, mesmo entre os países dotados dos melhores sistemas educacionais do
planeta, há diferenças explícitas de políticas públicas. No caso da Estônia, por exemplo, encontra-se
uma carga horária bastante elevada, em contraposição ao Japão e a Singapura. Em termos de carga
horária, portanto, a proposta de reforma do Ensino Médio no Brasil parece estar aproximando o país
da experiência estoniana.
No que tange à flexibilização curricular, por sua vez, a reforma aproxima o Brasil de todos
os países aqui analisados. A introdução da possibilidade de cursar o Ensino Médio com a seleção de
determinada ênfase vai ao encontro do modelo das três nações estudadas, entre as quais a existência de
disciplinas optativas no ensino secundário é um ponto em comum.
Já no que se refere à extensão do curso, nota-se que o ensino secundário no Brasil tem uma
duração, em anos, bastante inferior ao de Singapura, Japão e Estônia, e essa diferença persiste mesmo
com a reforma. Tampouco é introduzida uma divisão do Ensino Médio do país em fases, à semelhança
do que ocorre no Japão e na Estônia.
Em conclusão, é possível apontar que a proposta de alteração do Ensino Médio aproxima o
sistema brasileiro das experiências de países bem-sucedidos na educação básica em alguns tópicos,
mas nada altera em outros fatores relevantes, como a duração do ensino secundário. Isso não significa,
todavia, que haja uma tendência natural a ganhos ou perdas de qualidade. Afinal, há realidades
socioeconômicas diametralmente opostas entre o Brasil, de um lado, e os três países analisados, de
outro, o que torna qualquer comparação descontextualizada bastante problemática. Ao passo que o
Brasil ainda é um país emergente, com altos índices de pobreza, todos os demais, apesar de eventuais
problemas, são tradicionalmente considerados desenvolvidos. Não há como deixar de levar em conta
essa discrepância, que possui implicações significativas em termos da (i) capacidade orçamentária
do governo de investir em educação; da (ii) necessidade de os jovens trabalharem para auxiliarem no
sustento familiar; e da (iii) capacidade financeira dos jovens de fazerem cursos de aprofundamento fora
da escola.
4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSES
Na presente seção será apresentada a orientação de cada partido quanto à votação da reforma do Ensino
Médio. A maioria das siglas declarou apoio à proposta do governo de Michel Temer, ao passo que a
posição contrária se restringiu aos partidos de oposição (PT, PCdoB, PDT). No caso dos opositores,
serão destacados quais partidos orientaram o voto contrário com base no conteúdo do texto e quais
o fizeram com base na forma pela qual a proposta foi apresentada (medida provisória), considerada
antidemocrática por muitos (BRASIL, 2017).
O Podemos (PODE), antigo Partido Trabalhista Nacional (PTN), costuma adotar uma posição de centro-
direita, embora já tenha oscilado entre a esquerda e a direita – o direcionamento político do partido
seria “para frente”, nas palavras de Renata Abreu, presidente nacional do partido (WILKSON, 2016).
O PODE defende a reforma do Ensino Médio, a despeito de algumas críticas – como, por exemplo, a
retirada de Educação Física como atividade obrigatória – e necessidade de complementos – como o
Projeto de Lei Complementar (PLC) 1108-2015, que propõe passar conhecimentos de política e deveres
de cidadania nas escolas (ABREU, 2016; NICOLÁS, 2018; FARIA, 2016).
O Partido dos Trabalhadores (PT), de acordo com seu Estatuto, tem como base a luta por transformações
que visem à democracia, à pluralidade, à solidariedade e ao fim da desigualdade, da injustiça e da miséria.
Dessa forma, o partido entende que a proposta de reforma no Ensino Médio, feita pelo governo golpista
de Michel Temer, representa um retrocesso na educação brasileira, sendo criada de forma autoritária,
restritiva e antidemocrática. Acredita-se que, na atualidade, é necessário reestruturar o quadro das
escolas públicas, facilitando o acesso aos jovens para, posteriormente, analisar a possibilidade de
mudanças nos meios e nos conteúdos consagrados no ensino (PARTIDO DOS TRABALHADORES,
2016; 2017).
O Progressistas (antigo Partido Progressista, PP), partido de viés conservador, vinculado à direita, é
amplamente favorável à reforma do Ensino Médio. O Progressistas distancia-se de pautas consideradas
mais progressistas, a exemplo do voto contrário do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) à inclusão de
Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias do Ensino Médio, bem como seu posicionamento
favorável à Escola Sem Partido e contrário às cotas raciais (BUBLITZ, 2018; HEINZE, 2019; REFORMA,
2018a).
O Partido Democrático Trabalhista (PDT) tem expresso em seu manifesto que seu primeiro
compromisso é com as crianças e os jovens do nosso país e, por isso, entende que o projeto propõe a
profissionalização compulsória similar à implantada pela ditadura militar (LDB/71). Vê a imposição da
reforma do ensino médio por meio de medida provisória, sem um amplo debate com os sujeitos que
fazem educação, como o pano de fundo para uma estratégia de inclusão das escolas privadas no Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), ampliando a transferência de recursos
para o setor privado. (PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA, 2016, 2017a, 2017b).
O Partido Popular Socialista (PPS) manifesta a eliminação da miséria como objetivo prioritário de suas
políticas e define a educação para todos os cidadãos como uma de suas razões de luta. Representantes
do partido consideram que a MP veio em um bom momento, sendo favoráveis à realização de mudanças
no currículo (PARTIDO POPULAR SOCIALISTA, 2016, 2017).
O Partido da República (PR) se define como um partido liberal, todavia, adota pautas conservadoras, e
é considerado um partido de direita. Senadores do PR, como Wellington Fagundes (PR-MT) colocaram-
se a favor de reformas; Jorginho Mello (PR-SC), ex-deputado federal, agora senador, também já
manifestou seu apoio à reforma do Ensino Médio, assim como o ex-senador Magno Malta (PR-ES),
emblemático apoiador de Jair Bolsonaro, foi um dos principais fiadores do projeto Escola Sem Partido
(ALTAFIN, 2016; PARTIDO DA REPÚBLICA, 2019; BARRETO, 2016).
O Partido Republicano Brasileiro (PRB) é conhecido por sua proeminência na chamada bancada
evangélica da câmara dos deputados. O PRB é a favor da reforma, como já expressado por importantes
membros do partido, inclusive no Senado (CARDIM, 2018; COHIM, 2017; NASSIF, 2018). Da mesma
forma, o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), que conta com Fernando Collor como um de seus
senadores, posiciona-se de forma favorável à reforma do Ensino Médio (PARTIDO REPUBLICANO
DA ORDEM SOCIAL, 2016, 2017).
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) entende como fundamental o diálogo com alunos e professores da
rede pública para que a educação avance. Dessa forma, partido acredita que uma educação de qualidade
deve promover mudanças que não aumentem ainda mais as diferenças entre os jovens mais pobres e os
mais abastados. Entretanto, o PSB também considera importante direcionar o ensino para a formação
profissionalizante dos alunos, apoiando uma escola integral cujo ensino vise à transversalidade de
conteúdos (PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO, 2013, 2016; LÍDICE, 2018).
O Partido Social Cristão (PSC) defende a reforma do Ensino Médio, sendo o antigo relator da matéria
no Senado, Pedro Chaves (MS), membro do partido. O senador também deu um parecer favorável à
reforma ainda em 2016 (JÚNIOR, 2016; SENADO, 2017). Segue na mesma linha o partido do atual
presidente do Brasil, o Partido Social Liberal (PSL), que defende uma sociedade livre como o principal
motor para a superação da pobreza e o desenvolvimento do país e, por isso, entende que a reforma
promovida pelo governo Temer é positiva. O partido sustenta, ainda, que a reforma deveria também
incluir como obrigatórias matérias de educação moral e cívica e de organização social e política
brasileira (TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, 2018).
(2) As mudanças propostas representam uma evolução ou um retrocesso para a qualidade do ensino
médio?
(3) Qual a viabilidade prática de aplicar as alterações sugeridas na proposta? Quanto elas influenciam e
dependem dos recursos públicos?
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ASSEMBLEIA GERAL DA
UNIÃO AFRICANA
A Questão da Reforma Agrária na África
Ana Luiza Loh, Gabriela Ribeiro Santos, Júlio César Giacomin Spido, Larissa
Teixeira e Luiz Eduardo Kuhn Facchin 1
1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
INTRODUÇÃO
A União Africana é uma organização internacional que congrega todos os 55 Estados africanos 1om o
objetivo de promover integração, cooperação e desenvolvimento, bem como prevenir conflitos no continente.
Seu principal órgão é a Assembleia Geral, que reúne anualmente os chefes de Estado e de governo de todos os
membros, os quais possuem o mesmo poder de voto. Em cada reunião, as decisões são tomadas por consenso
e, quando esse não é atingido, as resoluções devem ser aprovadas por pelo menos dois terços dos votos.
Este ano, a Assembleia Geral da União Africana discutirá a questão da terra na África. Trata-se de
explorar uma das causas da presente desigualdade, pobreza, conflito e dos entraves para o desenvolvimento
social e econômico no continente. É importante, além do diagnóstico, levar em conta as possíveis medidas
de remediação destes desequilíbrios: a reforma agrária e as medidas internacionais que dizem respeito à
União Africana e suas diretrizes de cooperação e integração continental. Para isso, é levado em conta a
multiplicidade de significados da reforma agrária e também a bagagem histórica e institucional específicas
do(s) caso(s) africano(s).
1 HISTÓRICO
Assim como outros conceitos das ciências humanas, a reforma agrária têm várias definições.
Uma definição mais convencional, que serve aos propósitos deste guia, é a da reforma agrária como uma
política pública que interfere na estrutura institucional da propriedade, controle e uso da terra, geralmente
transferindo direitos de propriedade de grandes proprietários para pequenos fazendeiros e trabalhadores
rurais despossuídos. Entretanto, seu significado na prática depende sempre do contexto e das circunstâncias
nas quais ela é promovida (TARISAYI, 2014; ALBERTUS, 2015; DORNER, 1972).
A motivação principal da reforma agrária é aliviar a pobreza diminuindo a desigualdade econômica.
Entretanto, diversos fatores devem ser levados em consideração ao avaliar o desejo de fazer a reforma, bem
como sua sustentabilidade no futuro. Também são fatores importantes: (a) a dinâmica política, incluindo
as relações entre propriedade e poder político; (b) a justiça social, ou sua reestruturação, levando em conta
injustiças históricas; (c) racionalidade econômica, isto é, a relação entre distribuição da terra, produtividade
e desenvolvimento (TARISAYI, 2014; ALBERTUS, 2015). Como política pública, ou seja, no seu sentido
aplicado, a reforma agrária pode ter os seguintes significados: distribuição em massa de terras; colonização,
ou seja, ocupação estratégica de territórios “intocados”; ou ainda, a formação de assentamentos rurais com
foco na propriedade e na produção familiar (FILIPPI, 2005).
A seguir, levando em consideração esses conceitos iniciais, traremos um breve histórico da reforma
agrária. Em seguida, analisaremos um apanhado dos fatores que fizeram a África ter suas especificidades no
tocante à questão agrária.
1 A União Africana reconhece o Saara Ocidental como Estado membro da Organização apesar dos problemas de reconhecimento por parte de
alguns Estados. Por essa razão, dependendo da fonte, a organização pode ser descrita como sendo composta 54 Estados, embora reconheça 55.
2 As Revoluções Burguesas do século XVIII, as quais nos referimos, são as seguintes: Revolução Industrial Inglesa (aproximadamente de 1760-
1780); Guerra Revolucionária Americana (1775-1783); e Revolução Francesa (1789-1799). Esses eventos foram a manifestação de várias contradi-
ções, entre mercantilismo e capitalismo, nobreza e burguesia (pequenos empresários), metrópole e colônia, entre outras (BEAUD apud FILIPPI,
2005). São também marcos do desenvolvimento social do capitalismo que se consolidava, estabelecendo importantes bases institucionais para a
sociedade moderna em construção.
urbana e, claro, burguesa no sentido da classe social dominante (HOBSBAWM, 2012; FILIPPI, 2005).
Na Inglaterra, em especial no século XVIII, “o processo de cercamento do campo provocou a
monetarização3 das relações comerciais agrícolas e, sobretudo, a livre mobilidade da mão-de-obra entre os
mundos rural e urbano” (FILIPPI, 2005, p. 24). Na França, entre 1789 e 1791, ocorreu a secularização (perda
do caráter religioso no poder político) e a venda das terras pertencentes à Igreja Católica. Enfraqueceu-se o
poder feudal do clero ao mesmo tempo em que se recompensaram camponeses e, principalmente, incentivou-
se os empresários rurais (HOBSBAWM, 2012).
A maioria das revoluções burguesas tiveram a questão da terra como central. De modo geral, essa
característica estabeleceu os condicionantes da industrialização e das estruturas políticas e sociais modernas,
mais ou menos associadas à questão da terra e às antigas estruturas produtivas do campo. À exemplo dessas
experiências, os resquícios do feudalismo na Europa foram gradualmente extintos ao longo do século XIX
(HOBSBAWM, 2012; FILIPPI, 2005).
Contudo, no século XX, a reforma agrária manteve-se como pauta nas discussões políticas mundiais,
inclusive tomando outras conotações. A distribuição massiva das terras ocorreu também nos regimes
socialistas, tanto na União Soviética (URSS) quanto na China pós-revolução (1949). Após a Revolução de 1917 e
a formação da URSS em 1922, uma série de reformas fizeram a terra na Rússia perder sua característica feudal.
Entretanto, ao invés da distribuição de terra individual, a URSS aplicou a coletivização da terra, pela qual a
propriedade da terra era do Estado e seu uso, coletivo. Nesse modelo, o dos kolkhozes, a URSS definia preços
e quantidades a serem produzidas por lote de terra. Cada indivíduo ou família tornava-se responsável por um
pedaço da terra e, caso produzisse mais que o esperado, poderia comercializar o excedente individualmente.
Apesar de seu caráter violento, a reforma agrária na URSS obteve sucesso em acabar com o regime feudal,
ao passo que assentou as bases para a rápida industrialização e consequente consolidação da URSS como
potência econômica e militar (FILIPPI, 2005).
Durante a Guerra-Fria (1945-1991), o tema da reforma agrária foi empregado como instrumento político
tanto do lado soviético, quanto estadunidense para promoção de suas agendas geopolíticas. A atitude dos dois
blocos, contudo, foi inconsistente ao longo do período, atuando quando fosse politicamente interessante.
Os EUA defenderam a redistribuição de terra no Japão, Taiwan e Vietnã do Sul, ao passo que, em outras
ocasiões, apoiaram golpes militares em países nos quais a reforma agrária não era de seu interesse, como
Guatemala (1954) e Chile (1973). A URSS, por sua vez, apoiou reformas de orientação socialista e coletivizada,
mas também foi tolerante com reformas que priorizavam o setor privado em sua esfera de influência, como
na Polônia e Iugoslávia (WHITE; BORRAS; HAL, 2014).
Essa multiplicidade de casos nos contam que a reforma agrária não é um processo único. Existem
múltiplas histórias, instituições, estruturas sociais e econômicas distintas dentre os vários modelos e processos
vistos (FILIPPI, 2005; ALBERTUS, 2015; TARISAYI, 2014). Dentro de cada caso, essa multiplicidade de fatores
torna o estudo do assunto uma tarefa multidisciplinar, que deve levar em conta as especificidades de cada
cenário. Portanto, o caso africano, ou melhor, os casos africanos, carregam suas próprias especificidades, as
quais devem ser exploradas para melhor entendimento do tema.
3 Transformação da troca de produtos por outros produtos ou proteção (no caso do sistema feudal) na troca de produtos por dinheiro, estabele-
cendo as bases para uma sociedade baseada no mercado. Transformação da troca de produtos por outros produtos ou proteção (no caso do sistema
feudal) na troca de produtos por dinheiro, estabelecendo as bases para uma sociedade baseada no mercado.
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• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2019 •
impulsionar sua Revolução Industrial. Desenvolveu-se, a partir disso, um ciclo caracterizado pela troca de
escravos africanos por produtos ingleses na África, que, posteriormente, eram transportados para colônias na
América, onde iriam produzir matérias primas em plantações extensivas de monoculturas, utilizadas como
recursos para produção de novas mercadorias na Inglaterra. Esse processo ficou conhecido como comércio
triangular devido à conexão estabelecida entre África, América e Inglaterra (WILLIAMS, 2012).
O território ocupado na África até então consistia somente nas áreas costeiras do continente usadas
para suprir o tráfico negreiro. A partir do século XIX, inicia-se uma corrida dos países europeus em busca da
dominação de novos espaços africanos. Em 1865, Leopoldo I, rei da Bélgica, adquire interesses pela África e
desenvolve medidas para que o Estado Livre do Congo seja criado e reconhecido por outros países da Europa.
Já em 1880, Portugal anexa as propriedades rurais afro-portuguesas de Moçambique, que até aquele momento
eram quase independentes (BOAHEN, 2010). Ademais, a França passa a se portar de forma mais expansionista
entre 1879 e 1880, restaurando sua política colonial na Tunísia e em Madagascar, além de partilhar o controle
do Egito juntamente com o Reino Unido (MUTIBWA, 1974).
Dadas as disputas territoriais na África entre as potências europeias, foi necessária uma reunião entre
seus principais líderes para demarcar suas respectivas regiões de controle. Assim, entre 1884 e 1885, ocorreu
a Conferência de Berlim, que dividiu o continente africano entre Portugal, Reino Unido, Bélgica, França,
Alemanha, Espanha e Itália. Apesar de algumas autoridades africanas terem lutado contra e tentado manter
sua soberania, não obtiveram êxito, de modo que, em 1914, o continente inteiro estava submetido ao controle
europeu, com exceção da Libéria e da Etiópia, que se mantiveram como Estados independentes (Figura 1).
Diante disso, os africanos não perderam apenas sua autonomia política e econômica, mas sofreram também
com mudanças nas suas culturas e religiões (BOAHEN, 2010).
Em suma, a dominação dos africanos pelos europeus ocorreu por meio da diplomacia e, principalmente,
da força, com o uso de armas de fogo. Entretanto, outro alicerce também favoreceu a permanência do
colonialismo: a ideologia. O racismo dos colonizadores foi amplamente utilizado como arma de dominação e
era justificado a partir de uma análise distorcida da Teoria da Evolução, proposta por Charles Darwin, a qual
explica o processo de seleção natural. Essa ideia adulterada foi transportada e utilizada para fundamentar o
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• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2019 •
pensamento de que existia uma “raça superior” mais evoluída e, por isso, com o direito de dominar as demais.
Dessa forma, os brancos foram capazes de manter seu poder e controlar a população negra, disseminando
a ideia de que ela seria composta por seres inferiores e incapazes. Mesmo frente aos métodos abusivos de
controle empregados, os africanos criaram movimentos de resistência em diferentes regiões do continente,
na forma de greves, tumultos e até resistência armada. Esses movimentos, motivados pelo nacionalismo
africano, visavam à reconquista de sua soberania nacional, bem como o fim da partilha e da ocupação europeia
no continente.
A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) marcou o início de novos descontentamentos
no continente africano. Mais de um milhão de soldados africanos foram convocados para participarem
das batalhas na Europa e um número ainda maior de mulheres e crianças para carregarem suprimentos
(BOAHEN, 2010). Além disso, os europeus em solo africano também foram convocados, provocando um vácuo
administrativo em serviços básicos. Com o final da guerra e o regresso dos europeus, cresceu a contestação
da autoridade dos chefes pelos habitantes locais. As elites africanas, educadas na Europa e familiarizadas
com os ideais europeus de nação, acreditavam que, a partir desse momento, receberiam o mesmo tratamento
que os colonizadores, porém a opressão aumentou. Esses fatores provocaram o surgimento de movimentos
identitários e anticoloniais, como o pan-africanismo e o pan-arabismo4 (MAZRUI; WONDJI, 2010).
Passada a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), os movimentos nacionalistas retomam suas
reivindicações, congeladas devido aos conflitos, contestando o retorno à condição de colônia ou protetorado,
aproveitando-se do enfraquecimento dos países europeus (MAZRUI; WONDJI, 2010). Logo após o final da
guerra, alguns independentistas passaram a se manifestar de forma não violenta, fazendo uso da mídia para
divulgar suas propostas. Porém, a partir dos anos 1960, intensificaram-se as guerrilhas contra os governos, com
o objetivo de atingir sua independência plena. Esse processo de reivindicações viabilizou as independências
na África, promovidas tanto pela via armada, como foi o caso da independência da Argélia, quanto por meio
de negociações, como o caso do Marrocos (MAZRUI; WONDJI, 2010).
A partir dessa análise histórica, é possível constatar que a concentração de terras e o controle político
sempre estiveram sob poder das elites, formadas pelos colonos europeus. Um exemplo simples desse fato é
a situação na Argélia, em 1954, na qual os europeus detinham o controle de 23% do total das terras aráveis
disponíveis (MAZRUI; WONDJI, 2010). Apesar desse número não ser tão alto, essa porcentagem correspondia
às regiões mais férteis do país. Essa distribuição historicamente imperfeita da terra possui reflexos até hoje.
2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
O presente tópico discute como a questão da terra impacta no desenvolvimento africano e em como
se manifesta, levando em conta também possíveis soluções para o problema da sua distribuição.
4 Ambos foram movimentos sociais e políticos de caráter nacionalista, que contestavam o domínio colonial e visavam à promoção da unidade e
dos direitos do seu povo, por meio da valorização da sua identidade cultural. O primeiro movimento busca a união do povo africano e o segundo a
união do povo árabe (MAZRUI; WONDJI, 2010).
5 Década Africana ou Ano Africano é o período histórico-temporal dos anos de 1960 - ano em que diversos países do continente tomaram a frente
nas lutas de libertação e adquiriram independência política dos países europeus.
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locais e estrangeiras ou para empresas geridas por esse mesmo Estado”. Dessa forma, para a grande maioria
da população africana, contudo, a situação era muito diferente daquela dos colonos brancos, restando-lhes
apenas as terras periféricas de menor qualidade, dificultando a subsistência de suas famílias.
A partir disso, surge uma pergunta a ser respondida: se o continente africano é rico em recursos
naturais que podem ter alto valor econômico para suas nações, por que a maioria da sua população é pobre ou
extremamente pobre? Um dos motivos mais evidentes é a concentração de terras, contudo, a falta de acesso a
bens básicos, como saneamento básico, educação e, inclusive, água, na região norte africana, também contribui
para o quadro de precarização da situação dos pequenos proprietários de terra. A falta de investimento em
infraestrutura por parte do Estado no campo africano acaba afetando diretamente os problemas relacionados
a terra (THUSWOHAL, 2014).
Quando se discute a terra propriamente, é possível observar alguns desafios que os campesinos
africanos, sem condições de investimento em tecnologias de ponta, enfrentam, como as adversidades
provocadas pelas mudanças climáticas. Na África Subsaariana, onde a temperatura é constantemente
elevada, a umidade atmosférica é forte e há uma grande concentração de chuvas (CABRAL, 1954). Além disso,
a abundância de vegetação na área florestal equatoriana não torna o solo mais fértil, o qual é em muitos casos,
improdutivo para a agricultura. Dessa forma, além de todos os fatores sociais e de segregação no continente,
existem barreiras naturais que dificultam a relação do trabalhador com a terra. As barreiras da natureza
apenas ressaltam as barreiras sociais criadas entre os homens; assim, para que haja um desenvolvimento da
agricultura e da terra na África existe a “[...] necessidade de estabelecer uma estrutura agrária que não permita
a exploração desordenada e gananciosa da terra; que não permita a exploração, do homem pelo homem”
(CABRAL, 1954, p. 15).
A questão da terra e da reforma agrária estão vinculadas aos investimentos em educação, meios de
comunicação e estruturação das zonas rurais de todos os países da África. A educação, juntamente com as
redes de comunicação, leva o conhecimento de novas técnicas e tecnologias agrícolas, mas - principalmente
- mostra à população do campo que a terra é um direito e sua redistribuição justa entre a população, uma
necessidade. A partir disso, torna-se possível educar politicamente e unificar grande parte da população, para
a qual tornam-se visíveis as diversas formas de exploração e opressão socioeconômicas existentes desde o
colonialismo.
Outro ponto importante de ressaltar é como a questão da terra influencia diretamente as relações entre
países atualmente. O Zimbábue foi o primeiro país africano a realizar uma reforma agrária após a Guerra Fria,
durante os anos 2000, nacionalizando cerca de 85% das propriedades privadas de colonos brancos. Embora
tenha realizado a reforma, não há incentivos por parte da comunidade internacional para o desenvolvimento
da economia agrária no país. Sem apoio, assistência ou solidariedade, o Zimbábue encontra-se isolado nesse
cenário de luta agrária. Além do Zimbábue, outro país que enfrenta desafios na implementação e redistribuição
de terras no território é a África do Sul (ALVES, 2017).
Em grande parte das revoltas, revoluções e lutas por direitos, a terra foi fator fundamental para
emancipação política, econômica e social das camadas mais pobres da sociedade; o continente africano não
seria distinto. A questão da terra adquire uma função social de resistência e luta diante do colonialismo e do
neocolonialismo no continente. Dessa forma, é papel dos países africanos apoiarem uns aos outros na luta
pela emancipação completa da região, contra o neocolonialismo, criando uma unidade africana (VISENTINI;
RIBEIRO; PEREIRA, 2007).
um exemplo de centralização de terras nas mãos do Estado e adoção de um regime econômico socialista. O
governo pós colonial, representado pelo Movimento Popular pela Libertação de Angola7 (MPLA), nacionalizou
e desapropriou terras de antigos colonos portugueses, sem estabelecer uma lei específica para tal, baseando-
se em um artigo da Constituição de 1975, recém promulgada, pelo qual:
Todos os efeitos jurídicos dos atos de nacionalização e confisco feitos sob os auspícios de uma lei com-
petente [A Lei Constitucional] são considerados válidos e irreversíveis, sem prejuízo ao que é previsto em
legislação específica de reprivatização (CLOVER, 2005, p. 355).
A decisão de tomada das terras baseava-se na ausência injustificada de seus proprietários por mais
de 45 dias, prática comum devido ao deslocamento massivo de população, provocado pelas guerras de
independência e civil. As abundantes terras do país foram distribuídas entre a população angolana, por meio
da criação de grandes cooperativas, sob a égide estatal, em que a população poderia cultivar alimentos de
subsistência e, eventualmente, gerar algum excedente (CLOVER, 2005).
Nos anos 1990, com o fim da Guerra Fria e as modificações do cenário internacional8, uma série de
privatizações foram feitas pelo Estado angolano. Embora a intervenção do Estado na economia não fosse
mais predominante no contexto global, o governo tentou controlar a maneira como as terras seriam vendidas,
mas falhou em proteger o estrato mais vulnerável da sociedade, dependente ainda das políticas socialistas
anteriores. Em contrapartida, os altos oficiais do governo e militares saíram como os grandes beneficiários
das privatizações, conseguindo acesso a terras mais produtivas, em detrimento da população de baixa renda,
sem condições de adquirir novas terras e com cooperativas falidas devido à falta de recursos e conflitos
internos (CLOVER, 2005).
Por fim, em 2004, é promulgada a Lei de Terras, trabalhada desde 2002 e contestada pelos setores
representantes das classes sociais mais baixas. A maior preocupação do governo angolano naquele período
era reconstruir a economia e atrair investimentos externos ao país após a Guerra Civil. Consequentemente,
a Lei de 2004 deixava muitas aberturas que acarretaram na desapropriação de terras de comunidades inteiras
(CLOVER, 2005).
O caso de Angola é emblemático pelas diferentes abordagens dadas à questão da terra desde a
independência. O modelo proposto pelo Estado socialista, apoiado pela União Soviética e aliados, foi o único
que teve de fato o objetivo de sanar os problemas principais da população - fome e pobreza - por meio da
redistribuição intensiva das terras. Mas o fim da Guerra Fria, o desaparecimento da União Soviética, e a longa
guerra civil foram fortes empecilhos para que o modelo fosse bem-sucedido. As privatizações dos anos 1990
resultaram no acúmulo de terras por uma nova elite, e nas leis dos anos 2000, capazes de frear esse processo,
mas que legalizaram-no, marginalizando ainda mais a população.
majoritariamente brancos e alvos da reforma. O sistema, porém, também possibilitava que esses mesmos
fazendeiros se recusassem a participar dela – influenciando, inclusive, a questão da restituição das terras
retiradas dos fazendeiros negros durante o regime racista. Esse sistema, teoricamente de mercado, estabelecia
a negociação entre as partes interessadas, enquanto o governo entrava como suporte financeiro. O objetivo
era garantir que a população negra (grande vítima do apartheid) tivesse acesso às terras e sua redistribuição
fosse realmente feita (LAHIFF, 2007).
O sistema, porém, foi bastante ineficiente, burocraticamente demorado e isolava o comprador das negociações,
oferecendo um valor pré-determinado por um agente oficial. Tendo em vista que o valor não era negociado
com o fazendeiro, perdia-se uma oportunidade de negócio, visto que os fazendeiros tinham a prerrogativa de
não vender conforme seus interesses. Ainda em 2005, pediu-se uma revisão do sistema, dados os problemas
evidentes em cumprir as metas propostas (LAHIFF, 2007).
Uma das críticas mais comuns entre os organismos defensores da classe sem-terra era a ausência de
demonstração de força por parte do governo, que em momento algum ameaçava os fazendeiros de que
poderiam perder suas terras em benefício da população. Por conta disso, cresce a demanda por uma maior
ação governamental, pela qual as desapropriações e transferências de terras poderiam se tornar uma realidade
(LAHIFF, 2007).
O Estado sul-africano, portanto, pretendia com a reforma agrária não só o combate à pobreza, mas
também à injustiça racial, institucionalizada. O CNA, influenciado pela onda neoliberal mundial, propõe a
criação de um sistema baseado na lógica do mercado, mas falho em atingir os objetivos pretendidos. A posse
das terras mantém-se, majoritariamente, com a minoria branca governante, conquanto as tímidas ações do
Estado revelem críticas e protestos contra essa passividade, prejudicial para a igualdade social e o combate
ao racismo.
13 Abertura de países ao investimento de outros Estados com pouca ou nenhuma regulamentação do governo.
14 Termo utilizado para simbolizar o avanço da ideologia União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em países do bloco capitalista durante a
Guerra Fria.
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Seguindo a estrutura e as diretrizes criadas pelo IPF em 2010, a Assembleia da União Africana concebe
a “Declaração de Problemas e Desafios Fundiários na África”, formalizando ainda mais o comprometimento
da organização com a questão agrária. Dentre as principais ressalvas da União Africana no documento está
o reconhecimento da terra como fundamental para o desenvolvimento socioeconômico dos países africanos
(AFRICAN UNION ASSEMBLY, 2009). Ademais, delega aos organismos de cooperação econômica regionais
a participação nesse esforço conjunto a partir da unificação de políticas e compilação de dados dos seus
respectivos países membros. Em 2015, portanto, o IPF se torna o Centro Africano de Política Fundiária,
adquirindo um papel mais prático ao agir como um mecanismo de estudo, monitoramento e intervenção para
a formulação de políticas fundiárias comuns pré-estabelecidas, com a formação do IPF entre elas (AUC-ECA-
AFDB CONSORTIUM, 2010; AFRICAN UNION ASSEMBLY, 2017).
Em 2013, a Assembleia Geral da União Africana assinou a Agenda 2063. O documento apresenta
diretrizes e objetivos do continente africano no tocante ao seu desenvolvimento socioeconômico (AFRICAN
UNION ASSEMBLY, 2015). Dentre eles, podemos ressaltar dois objetivos:
[...] Garantia de sistemas efectivos (sic.) de gestão de ordenamento territorial e de posse e uso da terra
[...] Desenvolver e implementar políticas afirmativas e advocacia para garantir que as mulheres tenham
acesso acrescido à terra e aos instrumentos agrícolas e a pelo menos 30% do financiamento agrícola [...]
(UNIÃO AFRICANA, 2015, p. 10, 11).
A União Africana tem, portanto, adotado cada vez mais a discussão da reforma agrária, vista pelos
países africanos como uma forma de evitar conflitos internos, relacionados direta ou indiretamente à divisão de
terras. Ademais, o órgão se compromete com a agenda internacional dos direitos humanos ao aceitar a evolução
da questão de gênero e participação da mulher na sociedade africana, apesar de ressalvas culturais (AFRICAN
UNION ASSEMBLY, 2015; MCAUSLAN, 2013). Pode-se notar, por fim, a congruência das recomendações
da Agenda 2063 com a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, comprometida resumidamente com:
garantir a igualdade de gênero, bem como o acesso igualitário aos recursos e oportunidades, principalmente
dos grupos mais vulneráveis (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015).
O líder do governo provisório da Argélia, Houari Boumediene, anunciou, em 1971, uma reforma agrária
no país. No início, o programa mostrou êxito, pois conseguiu redistribuir as terras de forma que 60 mil
pessoas passaram a possuí-las. Entretanto, após a morte de Boumediene, em 1978, o sistema ruiu e, por fim,
as fazendas do governo foram privatizadas (ECONOMY WATCH, 2010).
Em Botswana foram implementadas duas reformas, uma em 1975 e a outra em 1991. Ambas, porém, tiveram
efeito contrário ao desejado, prejudicando a população mais pobre, por conta dos altos custos de manter a
terra e da restrição do número de rebanhos que poderiam ser criados (MALOPE; BATISANI, 2008).
Camarões promoveu a reforma da terra entre 1974 e 1976, na qual foi acordado que a única forma de obter
uma propriedade privada seria por meio da concessão de títulos. Além disso, foi estabelecido que o Estado
teria o direito de apropriar-se das terras daqueles que não as possuíssem (OUEDRAOGO et al., 2006).
No Chade, a descoberta de petróleo inaugurou uma nova discussão sobre o monopólio das terras. O conflito
de terras no país ocorre também pela disputa entre agricultores e pastores, esses com poucas chances de
reivindicar terras devido à legislação agrária ainda nos moldes coloniais franceses (AUC-ECA-AfDB
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Consortium, 2011).
Convivendo desde 2002 com instabilidade política, o governo da Costa do Marfim fomentou o retorno da
população ao campo. No entanto, não estabeleceu diretrizes legislativas de acesso à terra. Por conta disso,
a crise interna do país foi acentuada, causando a extinção de terras comunitárias e a instalação de grandes
conglomerados agroindustriais e de exploração de petróleo (OUEDRAOGO et al., 2006; CHAUVEAU, 2004).
O Egito passou por uma reforma agrária em 1952, quando o governo Nasser promulgou a Lei de Terras
(VOLL, 1980). Embora bem-sucedida, foi aprovada uma segunda Lei de Terras em 1992. Nessa, a questão
agrária voltou a ser elitizada e coordenada pelos interesses dos industriais e proprietários de terras, uma vez
que permitia o aumento do preço das propriedades, levando muitos camponeses ao endividamento (SAKR,
2007).
A Eritreia, no mesmo ano de sua independência (1993), concentrou o controle das terras do país no Estado,
além de garantir direitos iguais às minorias (WELDEGIORGIS, 2015). Entretanto, a questão fundiária na
Eritreia, bem como as políticas de distribuição de renda representam pontos de instabilidade interna,
principalmente entre pastores e agricultores (JOIREMAN, 1996).
A Etiópia passou por duas reformas agrárias, de vieses políticos distintos. Em 1975, promoveu uma série
de reformas socialistas, entre elas a reforma agrária. No entanto, tal política trouxe instabilidade para a
economia, principalmente pela dependência do país em relação ao mercado internacional. Assim, com o fim
da Guerra Fria, o país foi pressionado a tomar medidas fundiárias liberalizantes, dada a perda de suporte
internacional com o fim da URSS (HOLDEN, 2011).
Em Gana tem-se desenvolvido mecanismos dentro do Estado a fim de regulamentar e monitorar a política
de terras vigente desde os anos 2000, a qual reduziu o controle do Estado sobre as terras (OBENG-ODOOM,
2015).
Na Guiné, em 1976, as terras, antes pertencentes aos colonos europeus, passaram para o controle do Estado
e coordenação das elites locais, reduzindo os esforços para uma melhor distribuição de renda no país. A
liberalização dos anos 90, bem como a pressão para abertura aos investimentos externos reduziram os esforços
governamentais para maior segurança e melhor distribuição de terras (OUEDRAOGO et al., 2006).
Em Guiné-Bissau, a reforma agrária logo após a independência do país foi realizada com pouco sucesso
devido ao impasse entre a elite que defende o acesso pouco regulamentado e a que defende o acesso à terra
por meio de concessões (OUEDRAOGO, 2006). Em 1998, o governo propôs uma nova reforma, em tramitação
até o presente momento, uma vez que a Guerra Civil impediu sua implementação até 2004 (WORLD BANK,
2006).
Desde 2005, Madagascar aplica um novo modelo de demarcação de terras que atribui a demarcação apenas
quando “procurado”, ou seja, o Estado analisa situações e conflitos sem uma demarcação sistemática.
Entretanto, desafios surgiram a partir da dificuldade de tornar esse sistema inclusivo e abrangente (BURNOD
et al., 2017; WORLD BANK, 2019).
Em Malawi, desde 2016, novas políticas procuram diminuir disparidades na posse da terra, bem como
aumentar a segurança alimentar, melhorando a produtividade da agricultura. Os desafios, contudo, refletem
a capacidade limitada de implementação e as dificuldades de acompanhamento do processo (SHIBANDA;
CHIKOHOMERO, 2018).
O Mali enfrentou recentemente uma rebelião do povo tuaregue que, por envolver questões ligadas à terra,
resultou em uma série de reformas jurídicas que fortaleceram o costume do uso da terra pelos povos tradicionais
e criaram comissões de resolução de conflitos agrários em aldeias e comunidades rurais (COULIBALY, 2019).
No Marrocos, o plano de desenvolvimento da questão da terra é baseado no seu potencial para privatização
e regulamentação. Entretanto, sem reconhecer interesses e necessidades distintos, é alta a possibilidade de
grupos marginalizados não serem levados em consideração (USAID, 2011).
Na Mauritânia, o Estado não promoveu, desde sua independência, uma política pública específica para a
questão da terra. Grande parte da legislação, baseada em costumes jurídicos tradicionais islâmicos, dificulta
o acesso de populações marginalizadas à terra (OUEDRAOGO et al., 2006).
Embora haja uma estrutura jurídica sobre o tema, em Moçambique os direitos de pequenos proprietários
muitas vezes ficam vulneráveis em relação ao das elites próximas ao governo central. Existe, portanto, uma
dualidade no que tange à política de terras, entre dar suporte para inclusão de comunidades rurais e incentivar
processos de investimento privado (USAID, 2018).
Na Namíbia, a reforma, como em outros países da região, segue o princípio do “comprador disposto, vendedor
disposto”. Entretanto, o alto preço e o baixo número de ofertas de venda dificultou o andamento do plano. Ao
mesmo tempo, os assentamentos da reforma apresentam dificuldades para tornarem-se produtivos (GARCIA,
2004).
No Níger, muitas das terras ao norte do país não são de boa qualidade para a agricultura ou pastoreio, sendo
muito difícil para os pequenos proprietários manterem-se na concorrência de vendas. Assim, uma reforma
agrária no país teria que observar certos fatores ambientais para sua realização (LUND, 1993).
Entre 2010 e 2015, foi lançada na Nigéria uma agenda visando à transformação e à ampliação da autonomia dos
agricultores. Atualmente, o país é uma das principais economias africanas, muito em virtude das modificações
e dos avanços na questão da terra (VUNGE, 2018).
O Quênia aprovou, em 2009, uma nova legislação acerca da reforma agrária. Porém, muitas das terras
agricultáveis continuam em posse de antigos colonizadores, grandes proprietários ou funcionários públicos.
Outro problema é o controle da terra entre as comunidades pastoris, que apresentam particularidades na
questão do registro de propriedade (MANJI, 2015).
Sendo um dos 10 países mais pobres do mundo, a República Centro Africana possui muitos problemas
em relação à divisão de terras. Em 2012, o governo lançou uma proposta de reforma agrária, com consultas
públicas prévias. Com auxílio da FAO, o país analisa como realizar a reforma, contudo, seus principais
objetivos ainda são reviver o setor agrícola e melhorar a qualidade de vida de um modo geral (FAO, 2018).
Desde 2012, a República Democrática do Congo tenta formular o processo de reforma agrária, inclusive
com apoio da ONU. O país implementou um sistema de informações sobre a terra (LIS) que visa a unificar
diversas informações sobre as áreas florestais, segurança da posse da terra pelos indivíduos e governança de
recursos naturais. Contudo, além dos conflitos armados, a pobreza e a fome são problemas presentes no país
(UN HABITAT, 2018).
O genocídio ocorrido em Ruanda, em 1994, influenciou diretamente uma gama de assuntos relacionados ao
reassentamento dos refugiados e à reforma agrária no país. Dessa forma, mesmo com terras registradas e
administradas pelo governo, muitas famílias que fugiram do país durante a guerra civil ainda lutam legalmente
pela retomada de suas antigas terras (SCHAEFER, 2017; ONU, 2012).
No Senegal não ocorrem grandes problemas em relação à escassez ou a grandes concentrações de terra nas
mãos de poucos. Dessa forma, o Senegal acredita que a terra é um direito de todos e um dever do Estado
resguardá-la (COX et al., 2003).
Com a independência e subsequente declaração do país como socialista em 1976, Seychelles promoveu
significativas modificações nas políticas básicas no país, como a reforma agrária, tida como relativo sucesso
(SEYCHELLES, 2005).
Serra Leoa possui um sistema de distribuição de terras pelo qual a propriedade pode ser dada àquelas
comunidades capazes de provar a ocupação originária das terras. Entretanto, dentro das comunidades,
autoridades locais são responsáveis pela aplicação de leis que isolam mulheres, jovens e naturais de outras
comunidades do direito à posse de terras (OUEDRAOGO et al., 2006).
O Sudão tem estudado a aplicação de algumas medidas da “Estrutura e Diretrizes em Políticas de Terra
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na África”. O país procura agora captar recursos e parcerias com outros países a fim de implementá-las.
Mesmo sendo grande produtor de petróleo, a população ainda é bastante dependente de práticas agrícolas de
subsistência, tornando a reforma agrária um assunto vital para o país (UNIÃO AFRICANA, 2017).
A Tanzânia tem trabalhado em uma proposta de reforma agrária seguindo as instruções da “Estrutura e
Diretrizes em Políticas de Terra na África” da União Africana. O projeto de reforma agrária já detectou
fatores-chave de problemas nas estruturas de terra atuais e tem tentado envolver as partes interessadas e
relevantes nas discussões das soluções (UNIÃO AFRICANA, 2017).
Afetada pela Primavera Árabe, a Tunísia assistiu ao início dos protestos e das ocupações de fazendas privadas,
outrora públicas. Desde então, a pressão da população sobre o governo pela redistribuição de terras, ditas
roubadas desde a ocupação colonial francesa, tem aumentado (GANA, 2012).
Em Uganda, até 2012, a privatização em massa era vista como a melhor solução pelo governo, mas essa
política logo se mostrou inviável. Desde então, a discussão abrange o estabelecimento de parcerias público-
privadas, voltadas para o desenvolvimento da agricultura como meio de combate à pobreza (AMPAIRE, 2018).
A Zâmbia tem operacionalizado uma reforma agrária nos moldes da “Estrutura e Diretrizes em Políticas de
Terra na África”. O governo angariou parceiros, como a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional (USAID), o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UN-Habitat) e o Banco
Mundial, que atuam como suporte financeiro, estratégico e técnico para o projeto (UNIÃO AFRICANA,
2017).
No Zimbábue, a reforma agrária, feita há dez anos, é alvo de debates e contradições, sendo apontada como
um dos fatores responsáveis pela crise econômica pela qual o país passa. Entretanto, uma visão africana dos
acontecimentos, entende a reforma como um sucesso no tocante à “reconquista” das terras pelo povo do
Zimbábue (SANTOS, 2013).
(2) Quais são os principais entraves institucionais no plano internacional e de que forma os interesses externos
ao continente entram em conflito com a ideia de reforma agrária?
(3) Como a promoção da reforma agrária contribui para a integração do continente africano e de que forma
a UA pode criar mecanismos para realização de reformas em diferentes países, enfrentando diferentes
realidades e desafios?
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