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Capacidades Estatais e Finanças Municipais

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ARTIGO: SOBRE DESCONEXÕES E HIATOS: UMA ANÁLISE DE CAPACIDADES ESTATAIS E FINANÇAS PÚBLICAS EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS

SOBRE DESCONEXÕES E HIATOS: UMA ANÁLISE DE CAPACIDADES


ESTATAIS E FINANÇAS PÚBLICAS EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS
ABOUT DISCONNECTIONS AND GAPS: AN ANALYSIS OF STATE CAPACITY AND PUBLIC FINANCES IN BRAZILIAN
MUNICIPALITIES

ACERCA DE DESCONECCIONES Y BRECHAS: UN ANÁLISIS DE CAPACIDADES ESTATALES Y FINANZAS MUNICIPALES


EN MUNICIPIOS BRASILEÑOS
RESUMO
A autonomia política, administrativa e financeira municipal, consagrada na Constituição Federal (CF) de 1988, apoiou-se no pressu-
posto de que descentralização ampliaria democracia e eficiência fiscal. O artigo analisa a relação entre gestão pública e performance
fiscal municipal, com suporte teórico na literatura sobre capacidades estatais, considerando quatro dimensões – administrativa,
técnica, institucional e política – para embasar a definição das variáveis explicativas. Capacidade administrativa avalia a estrutura or-
ganizacional – número de servidores per capita, realizar licitações e atender aos cidadãos – para executar funções e serviços públicos
essenciais. Capacidade técnica trata das habilidades para formular e gerir políticas e depende da qualificação dos recursos humanos
e do planejamento municipal, por exemplo. Capacidade institucional trata do poder para legislar sobre regulações que afetam o com-
portamento dos atores econômicos e influenciam a performance fiscal local (por exemplo, plano diretor, lei de zoneamento urbano
e taxa de contribuição de melhoria). Capacidade política analisa como o governo municipal estabelece canais de interlocução para
lidar com demandas sociais por meio de conselhos de políticas públicas e consórcios intermunicipais. Cada dimensão gerou uma
hipótese testada por uma regressão multivariada com erros robustos. O estudo contribui para a literatura ao evidenciar as dificuldades
e limitações de capacidades estatais municipais para influenciar a melhora da sua gestão fiscal. Em face das lacunas econômicas,
financeiras e institucionais municipais, qualificar suas capacidades estatais segue sendo um hiato e uma desconexão a ser preenchida
na Federação brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: gestão municipal, receitas próprias, despesas correntes, capacidades estatais, federalismo.

Eduardo José Grin1


[email protected]
ORCID: 0000-0002-0488-8487

Alex Bruno do Nascimento2


[email protected]
ORCID: 0000-0001-9860-7350

Fernando Luiz Abrucio1


[email protected]
ORCID: 0000-0002-3883-9915

Antônio Sérgio Araújo Fernandes3


[email protected]
ORCID: 0000-0002-4171-7759

1
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
2
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, PB, Brasil
3
Universidade Federal da Bahia, Escola de Administração, Salvador, BA, Brasil

Submetido 15.06.2018. Aprovado 23.11.2018


Avaliado pelo processo de double blind review. Editores convidados: Arnaldo Mauerberg Jr., José Roberto Afonso e Sol Garson.
DOI: http://dx.doi.org/10.12660/cgpc.v23n76.75417
Esta obra está submetida a uma licença Creative Commons

ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 23, n. 76, set./dez. 2018, 312-336
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Eduardo José Grin - Alex Bruno do Nascimento - Fernando Luiz Abrucio - Antônio Sérgio Araújo Fernandes

ABSTRACT
The municipal political, administrative and financial autonomy, enshrined in the Federal Constitution
of 1988, was based on the assumption that decentralization would expand democracy and fiscal ef-
ficiency. The article analyzes the relationship between public management and municipal fiscal per-
formance with theoretical support in the literature on state capacities, considering four dimensions
- administrative, technical, institutional and political - to support the definition of explanatory variables.
Administrative capacity assesses organizational structure - number of public employees per capita,
conducting bids and serving citizens - to perform essential public services and functions. Technical
capacity addresses the skills to formulate and manage policies and depends on the qualification of
human resources and municipal planning, for example. Institutional capacity addresses the power to
legislate on regulations that affect the behavior of social and economic actors, and influence local fis-
cal performance (eg, master plan, zoning law and improvement contribution rate). Political capacity
analyzes how the municipal government establishes channels of dialogue to deal with social demands
through public policy councils and inter-municipal consortia. Each dimension generated a hypothesis
tested by a multivariate regression with robust errors. The study contributes to the literature by high-
lighting the difficulties and limitations of state capacities in municipalities to influence the improvement
of its fiscal management. In face of economic, financial and institutional gaps, qualifying its state ca-
pacities continues to be a hiatus and a disconnection to be filled in the Brazilian Federation.
KEYWORDS: Municipal management, own source revenue, current expenditure, state capacity, feder-
alism.
RESUMEN
La autonomía política, administrativa y financiera municipal, consagrada en la Constitución Federal de
1988, se apoyó en que la descentralización ampliaría la democracia y la eficiencia fiscal. El artículo
analiza la relación entre la gestión pública y el desempeño fiscal municipal con soporte teórico en la
literatura sobre capacidades estatales, considerando cuatro dimensiones —administrativa, técnica,
institucional y política— para determinar la definición de las variables explicativas. La capacidad ad-
ministrativa evalúa la estructura organizativa —número de servidores per cápita, realizar licitaciones
y atender a los ciudadanos— para ejecutar funciones y servicios públicos esenciales. La capacidad
técnica se ocupa de las habilidades para formular y gestionar políticas y depende de la calificación
de los recursos humanos y de la planificación municipal, por ejemplo. La capacidad institucional trata
del poder para legislar sobre regulaciones que afectan el comportamiento de los actores económicos
e que influencian el desempeño fiscal local (por ejemplo, plan director, ley de zonificación urbana y
tasa de contribución de mejora). La capacidad política analiza cómo el gobierno municipal establece
canales de interlocución para lidiar con demandas sociales por medio de consejos de políticas públi-
cas y consorcios intermunicipales. Cada dimensión generó una hipótesis probada por una regresión
multivariada con errores robustos. El estudio contribuye a la literatura al evidenciar las dificultades y
limitaciones de capacidades estatales municipales para influir en la mejora de su gestión fiscal. En
vista de las vacíos económicos, financieros e institucionales municipales, calificar sus capacidades
estatales sigue siendo un hiato y una desconexión a ser completada en la Federación brasileña.
PALABRAS-CLAVE: Gestión municipal, ingresos propios, gastos corrientes, capacidades estatales,
federalismo.

INTRODUÇÃO há garantia intrínseca à autonomia dos mu-


nicípios que os torne responsáveis e deter-
A autonomia política, administrativa e finan- minados a administrar com eficiência. Essa
ceira dos municípios consagrada na CF de autonomia pode gerar resultados opostos,
1988 foi uma das inovações centrais do fe- sobretudo na gestão fiscal não tão responsá-
deralismo brasileiro. O pressuposto de que vel (Arretche, 2003).
a descentralização viria associada com
mais democracia e eficiência fiscal no plano A baixa qualidade das burocracias municipal
local fundamentou esse novo status federa- tornou-se um efeito não antecipado da des-
tivo municipal. Contudo, uma questão-cha- centralização, que se aprofundou à medida
ve nessa engenharia institucional reside na que as atribuições continuaram a ser assu-
baixa capacidade administrativa local. Não midas localmente (Melo, 1996; Souza & Car-

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valho, 1999). A descentralização passou a qualidade da gestão fiscal.


conviver com deficits na estrutura adminis-
trativa municipal, e o seu êxito ficou condi- Trata-se de um tema que pede mais inves-
cionado às imitações institucionais e finan- tigações, pois sobretudo as áreas de ad-
ceiras locais para responder aos encargos ministração pública e ciência política têm
assumidos (Abrucio, 2005; Affonso, 1996; se concentrado na investigação do poder
Kugelmas & Sola, 1999; Souza, 2005). Espe- local, enfatizando questões como participa-
cificamente, “carências de ordem financeira ção cidadã. Por outro lado, a literatura que
estão comumente associadas a carências relaciona e descentralização de políticas
de capacitação técnico-administrativas [...]” e capacidades administrativas municipais
(Grin & Abrucio, 2018a; Souza & Carvalho, (Abrucio, 2005; Arretche, 1999; Melo, 1996)
1999, p. 204). concorda que existem essas carências no
âmbito local. Mas, ainda assim, não aborda
Este artigo contribui para ampliar esse deba- a capacidade de gestão municipal como fa-
te empírica e analiticamente ainda pouco ex- tor condicionante dos resultados alcançados
plorado na literatura sobre governos locais no plano fiscal. Outrossim, os trabalhos que
no Brasil: a relação entre gestão pública e adotam o referencial teórico de capacidades
finanças públicas. Embora o tema já seja ob- estatais têm priorizado a análise da admi-
jeto de análise de outros trabalhos (Gerigk nistração pública federal (Gomide & Pires,
& Clemente, 2012), a originalidade deste es- 2014). Este artigo traz essa discussão para
tudo reside em identificar, com base em um o plano da gestão municipal.
modelo econométrico, se capacidades esta-
tais municipais permitem explicar a situação Decerto que seria equivocado compreender
fiscal em nível local. Busca-se identificar se a capacidades estatais municipais como um
autonomia administrativa e política dos mu- pacote de instrumentos separados da am-
nicípios como ente federativo, consagrada pliação da democracia e descentralização
na CF de 1988, vem acompanhada de sua política e administrativa. Contudo, existem
modernização administrativa e institucional dimensões de gestão administrativa e capa-
e pode ser associada ao seu desempenho cidades políticas que podem ser analisadas
fiscal. em nível local, visando identificar seus efei-
tos na administração municipal. Isso pode
A pesquisa visa ampliar o conhecimento ser visto na experiência internacional. Por
sobre as finanças municipais ao propor um exemplo, a elevação do profissionalismo foi
modelo de análise que identifica variáveis uma das razões para as municipalidades
administrativas, técnicas, institucionais e mexicanas tornarem-se mais conscientes
políticas, procurando avaliar seu efeito so- dos benefícios de instrumentos de gestão
bre a gestão fiscal. Além do interesse aca- como o planejamento estratégico (Grindle,
dêmico, os resultados do trabalho são úteis 2006).
para administradores municipais, entidades
de representação, como as associações de Essa será a abordagem deste artigo: identi-
municípios, e especialistas do setor, ao indi- ficar variáveis de capacidade estatal locais e
car áreas onde se faz necessário melhorar a analisar seus impactos na performance da

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gestão fiscal. O trabalho assume a descen- que maiores níveis de capacidade estatal
tralização e a autonomia municipal como um manejada pelos governos geram mais recur-
contexto comum a todos os municípios, mas sos para definirem suas agendas com auto-
essa não é base explicativa utilizada, pois nomia perante constrangimentos sociais e
teoricamente se apoia na literatura sobre políticos. Mas essa visão geral é insuficiente,
capacidades estatais. O argumento central pois capacidade estatal precisa ser aborda-
é simples: sendo os municípios autônomos da de maneira multidimensional (Cingolani,
administrativa, política e financeiramente, 2013; Grin, 2012).
quanto mais desenvolvidas forem suas ca-
pacidades estatais, maior será sua associa- Nessa linha, o conceito possui quatro di-
ção com a performance fiscal. A pesquisa mensões: a) capacidade administrativa: es-
analisa o desempenho fiscal com base em trutura organizacional para executar funções
fatores explicativos de ordem local contro- essenciais e a prestação de serviços públi-
lado por variáveis socioeconômicas, demo- cos; b) capacidade técnica: habilidades para
gráficas, econômicas e políticas municipais formular e gerenciar políticas; c) capacidade
e transferências intergovernamentais. Essa institucional: definição de “regras do jogo”
proposição geral será testada por meio de relativas a regulação econômica e compor-
quatro hipóteses derivadas das dimensões tamento político dos atores sociais; d) capa-
do conceito de capacidade estatal. cidade política: estabelecimento de canais
legítimos e eficazes para lidar com deman-
Para tratar desse tema e analisar o objeto das sociais (Grindle, 1996). Putnam (2006)
da pesquisa, o artigo está assim organiza- também utiliza o conceito de maneira mul-
do, além desta introdução: a primeira seção tidimensional ao propor 12 indicadores para
revisa a literatura sobre capacidades esta- avaliar “capacidades institucionais”, pois “a
tais, enfatizando tratar-se de um conceito eficácia de uma instituição depende de sua
multidimensional, com ênfase para as di- capacidade de conduzir bem seus negócios
mensões administrativa/técnica e política/ internos” (p. 79).
institucional; a segunda parte aborda os
procedimentos metodológicos e o desenho Capacidade política e institucional e ca-
da pesquisa, que se apoia em uma regres- pacidade administrativa e técnica definem
são multivariada para testar quatro hipóte- as possibilidades de “poder infraestrutural”
ses; a terceira seção discute os resultados (Mann, 1984) para o Estado implementar
e analisa como variáveis independentes de suas ações junto à sociedade. Por isso, im-
capacidade estatal municipal afetam as vari- porta identificar os aspectos essenciais da
áveis dependentes relativas a gestão fiscal; efetividade burocrática, responsáveis por ge-
e a última seção apresenta as conclusões rar coesão administrativa (coerência interna)
da pesquisa. e as formas pelas quais o Estado atua junto
à sociedade (conexão externa). A capacida-
CAPACIDADES ESTATAIS: DIMENSÕES de transformadora do Estado depende desse
ESTRUTURANTES duplo modo de agir que Evans (1995) chama
de autonomia inserida.
Há uma abundante literatura argumentando

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Capacidades administrativa e técnicas ceitas fiscais é a base das capacidades do


Estado (Cárdenas, 2010; Kjaer et al., 2002).
Para Kjaer, Hansen e Thomsen (2002) e No coração da capacidade do Estado, está
Skocpol (2002), existem “capacidades cen- aquela que recolhe impostos da sociedade
trais” para a organização estatal, como com- para financiar bens públicos e gerar receitas
petências administrativas, gestão de pes- fiscais (Besley & Persson, 2009; Dincecco &
soas, extração de impostos, planejamento Prado, 2012; Levi, 1988).
governamental para implementar políticas
públicas e prestação de serviços (Grindle, A construção do Estado deve ser fortaleci-
2006). Bownan e Kearney (1988) enfatizam da diante de “deseconomias administrativas
que gestão da informação, estrutura organi- e organizacionais” que afetam seu desem-
zacional, modelo de gestão, responsividade penho. Construir capacidades burocráticas
burocrática e formas de comunicação insti- não é uma estratégia conservadora, pois
tucional são indispensáveis. gera retorno político aos governos (Evans,
1993, 2003). Assim, burocracia profissional
Na perspectiva administrativa e técnica, des- e qualificada e eficácia governamental são
tacam-se os estudos sobre a importância da essenciais para implementar políticas pú-
capacidade organizacional e burocracias blicas (Cárdenas, 2010; Hanson & Sigman,
profissionais compostas por funcionários 2011; Kocher, 2010). Contudo, Marenco
recrutados segundo critérios meritocráti- (2017) mostra que a gestão municipal “se
cos (Evans & Rauch, 2014; Geddes, 1994; apresenta sob a forma de um compósito de
Sikkink, 1991; Skowronek, 1984). O Estado perfis weberianos, gerenciais e patronagem
pode atingir suas metas se for dotado de na configuração de administrações públicas
fundamentos essenciais, como servidores em contexto como o brasileiro” (p. 1047).
qualificados e recursos financeiros, para
expandir a eficácia da sua ação junto à so- Os argumentos de Hildebrand e Grindle
ciedade (Skocpol, 2002). No Brasil há uma (1997) e Geddes (1994) são similares: cons-
tendência de alterações nas estruturas mu- truir capacidades aumenta o desempenho
nicipais de gestão estimulada por exigência governamental e requer reforçar atributos
federal para aprimorarem sua capacidade de competência gerencial, técnica e admi-
organizacional visando gerenciar e executar nistrativa. Nessa linha, três ações são rele-
os recursos das transferências intergoverna- vantes: recursos humanos (provisão e ca-
mentais (Bichir, 2011). pacitação); desenvolvimento organizacional
(novas estruturas administrativas e recursos
Daí a relevância de investigar se existem materiais e tecnológicos) e fortalecimento
recursos estatais cuja ausência ou presen- dos sistemas (administrativos, orçamentá-
ça são críticas para os governos levarem a rios, por exemplo).
cabo suas tarefas (Evans, Rueschmeyer, &
Skcopol, 2002). Capacidades fiscais e ad- Geddes (1990, 1994) e Skowroneck (1984)
ministrativas atendem a várias atividades também associam capacidade administra-
e são determinantes para analisar a força tiva com dispositivos para tributar e tomar
dos governos. A capacidade de mobilizar re- decisões burocráticas eficazes. Para Kos-

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cher (2010), recursos são necessários para cional, visando analisar as conexões entre
alcançar os objetivos das políticas públicas. Estado e atores sociais, e, por essa razão,
Governos mais capacitados nesse quesito são chamadas de “capacidades geradoras
terão mais sucesso em atingir seus fins. A de arranjos societais” (Kjaer et al., 2002). O
capacidade estatal, portanto, torna-se sinô- caráter “relacional” transcende as capacida-
nimo de expertise para governar e imple- des administrativas e burocráticas (Cingo-
mentar políticas (Cárdenas, 2010; Geddes, lani, 2013; Evans, 1995; Skowroneck, 1984;
1994). Tobelem, 1992). Portanto, seria equivocado
tomar como sinônimos capacidade adminis-
Com base no exposto, é importante desta- trativa e capacidade estatal, pois o espaço
car três fatores sobre o papel das estruturas das políticas públicas é inerentemente rela-
administrativas e técnicas do Estado: orga- cional entre Estado e sociedade (Repetto,
nizacional, processual e intelectual (Sikkink 2004). Na mesma linha, seguem Gomide e
& Wolfson, 1993; Skowroneck, 1984). O pri- Pires (2014): a dimensão política trata das
meiro mede a magnitude da administração habilidades da burocracia estatal em expan-
pública (número de servidores públicos); a dir os canais de interlocução e negociação
segunda, a infraestrutura institucional (es- com atores sociais.
pecialização técnica e institucional em ati-
vidades-chave); o terceiro enfatiza a gestão Não se trata de controle social, mas, sim, da
de pessoal (carreira, desenvolvimento de coordenação de atividades em conjunto com
perícia técnica e estabilidade de emprego). organizações civis e econômicas. Capacida-
Altos níveis na alocação desses três atribu- de política significa que governos produzem
tos garantem eficiência administrativa para políticas em cooperação com grupos sociais
o aparato estatal implementar seus objeti- organizados (Evans, 1995; Hilderbrand &
vos (Sikkink & Wolfson, 1993). Grindle, 1997; Weiss, 1998). Resultados das
políticas públicas dependem de instituições
Para este estudo, essas dimensões de aná- externas ao Estado, mas que o influenciam
lise são úteis para discutir se a autonomia fortemente. Esses arranjos de mediação ins-
administrativa consagrada na CF de 1988, titucionalizada servem para que o Estado
em um contexto de descentralização de po- cumpra sua função de filtro na relação com a
líticas, foi acompanhada da modernização sociedade (O’Donnell, 2009). Essa dimensão
da gestão municipal. Sobretudo, se “capa- é mais do que eficiência ou eficácia burocrá-
cidades centrais” como arrecadação tribu- tica e mais próxima da accountability gover-
tária própria, cadastros atualizados do ISS, namental, pois depende da vontade política
planta genérica de valores para a cobran- do Estado de promover essa dinâmica rela-
ça do IPTU e quantidade de servidores per cional, que também pode ser estendida para
capita podem ser associadas com a perfor- outros formatos de cooperação horizontal,
mance fiscal municipal. como consórcios.

Capacidade política e institucional Capacidade estatal materializa-se não ape-


nas por sua face técnico-administrativa, mas
A ênfase recai sobre a abordagem rela- também pela dimensão política e institucio-

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nal, que estabelece vínculos com atores não quatro hipóteses, visando testar todas as di-
estatais para ampliar a capacidade de ação mensões do conceito:
da sociedade (Bertranou, 2012). Trata-se de H1: Quanto mais fortalecidas as capacida-
unificar em um modelo analítico profundida- des administrativas, maior o desempenho
de institucional (capacidade de regulação fiscal municipal.
por meio da ação das burocracias estatais) H2: Quanto mais capacitada tecnicamente
e imersão (relações com os atores sociais) for a gestão municipal, mais resultados se-
(Weiss, 1998). rão obtidos na sua administração financeira.
H3: Municípios com maior desenvolvimen-
Nesta investigação, essas dimensões são to institucional possuem uma performance
úteis para analisar como os municípios va- mais qualificada na sua gestão fiscal.
lem-se de sua autonomia politica como ente H4: Instâncias de controle social e a parti-
federativo para definirem “regras do jogo”, cipação em consórcios intermunicipais am-
como a legislação que influencia o compor- pliam a capacidade política municipal e afe-
tamento de atores sociais (plano diretor, taxa tam positivamente sua administração fiscal.
de contribuição de melhorias e lei de zone-
amento urbano, por exemplo, que impactam Teoricamente, as quatro hipóteses expres-
sua gestão fiscal). Quanto à capacidade de sam as dimensões do conceito de capaci-
constituir arranjos institucionalizados de co- dade estatal, visando preencher uma lacuna
operação e mediação, a CF de 1988 e nor- nos estudos sobre os municípios brasileiros.
mas infraconstitucionais exigem a implan- Nesse sentido, propõe-se um modelo de
tação de arenas de pactuação com atores análise que pode ser replicado em outras
socias (como são os conselhos de políticas investigações, enfocadas em explicar como
públicas) e facultam organizar fóruns hori- fatores políticos, técnicos, administrativos
zontais de relações intergovernamentais e institucionais influenciam a performance
(como são os consórcios intermunicipais). da gestão municipal. Ademais, a análise e
mensuração das capacidades estatais de
Com base na revisão da literatura e sua as- governos subnacionais é uma área em que
sociação com as características municipais, se faz necessário introduzir avanços meto-
o argumento teórico é simples: quanto mais dológicos (Cingolani, 2013).
as localidades dispuserem de capacidades
estatais, mais qualificada será a sua ges- O Quadro 1 associa cada hipótese com a
tão fiscal. Essa proposição se desdobra em literatura e os resultados esperados.

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Quadro 1. Descrição das variáveis

Variáveis Definição Fonte Escala Sinal esperado

Positivo/Negativo (Cárdenas, 2010;


Servidores per Número de servidores/popula- Variável contínua ex-
MUNIC IBGE 2014 Hanson & Sigman, 2011; Kocher,
capita ção municipal pressa em uma taxa
2010)

Escolaridade formal em três Número absoluto de Positivo (Evans & Rauch, 2014; Ged-
Escolaridade
níveis: fundamental, médio e MUNIC IBGE 2014 servidores em cada des, 1994; Marenco, 2017; Sikkink,
servidores
superior ou mais faixa de escolaridade 1991; Skowronek, 1984)

Positivo
Computadores Computadores com acesso Variável categórica
MUNIC IBGE 2014
ligados na internet total ou parcial à internet (1-todos; 2- Parte)
(Bowman & Kearney, 1988).
Procedimentos de licitação Variável categórica Positivo (Sikkink & Wolfson, 1993;
Licitação MUNIC IBGE 2014
on-line (0 e 1) Skowroneck, 1984)
Ouvidoria e siste-
Procedimentos de atendimen- Variável categórica
ma de atendimen- MUNIC IBGE 2014 Positivo (Bowman & Kearney, 1988).
to ao cidadão on-line (0 e 1)
to ao cidadão
Instrumento administrativo
Cadastro imobiliá- Variável categórica Positivo (Geddes, 1994; Grindle,
que organiza a cobrança do MUNIC IBGE 2015
rio informatizado (0 e 1) 1997)
IPTU
Instrumento administrativo
Cadastro ISS Variável categórica Positivo (Geddes, 1994; Grindle,
que organiza a cobrança do MUNI CIBGE 2015
informatizado (0 e 1) 1997)
ISS
Planta genérica Instrumento administrativo
Variável categórica Positivo (Cárdenas, 2010; Kjaer et
de valores infor- que define parâmetros da MUNIC IBGE 2015
(0 e 1) al., 2002)
matizada cobrança do IPTU
Variável categórica
Instrumento que define diretri-
Planejamento (1 = não possui, 2 =
zes sobre o o desenvolvimen- MUNIC IBGE 2015 Positivo (Grindle, 2006)
urbano com outro órgão e 3
to urbano
= órgão exclusivo)
Instrumento administrativo
Lei de Zoneamen- Variável categórica Positivo (Geddes, 1994; Grindle,
para a divisão urbana da ci- MUNIC IBGE 2015
to Urbano (0 e 1) 1996; Kocher, 2010)
dade e seus respectivos usos
Instrumento que define regras
residenciais, comerciais, in- Variável categórica Positivo (Grindle, 2006; Kjaer et al.,
Plano Diretor MUNIC IBGE 2015
dustriais e outras para o espa- (0 e 1) 2002)
ço urbano
Instrumento que regras para
projeto, licenciamento, exe- Variável categórica Positivo (Evans, Rueschmeyer, &
Código de obras MUNIC IBGE 2015
cução e manutenção de obras (0 e 1) Skcopol, 2002)
e edificações
Instrumento que define a co-
Taxa de contri- Variável categórica
ISSN 2236-5710 brança de contribuição de me- MUNIC IBGE 2015 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo,
Positivo (Evansv. 23,et
n. al.,
76, set./dez.
2002)2018, 312-336
buição (0 e 1)
lhorias dos cidadãos
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SOBRE DESCONEXÕES E HIATOS: UMA ANÁLISE DE CAPACIDADES ESTATAIS E FINANÇAS PÚBLICAS EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Consórcios pú- Fóruns organizados em várias Positivo (Cingolani, 2013; Evans,


Número absoluto por
blicos intermuni- politicas que exercem controle MUNIC IBGE 2015 1995; Repetto, 2004; Tobelem, 1992;
município
cipais social Weiss, 1988)
Positivo (Cingolani, 2013; Evans,
Fóruns organizados em várias
Conselhos munici- Número absoluto por 1995; Gomide & Pires, 2014; Re-
politicas que exercem controle MUNIC IBGE 2014
pais de políticas município petto, 2004; Tobelem, 1992; Weiss,
social
1988)
Variável contínua cal-

Média na avaliação da a Pro- culado a partir dos

va Brasil (para Idebs de esco- dados sobre aprova-

las e municípios aplicadas no ção escolar, obtidos


IDEB INEP Positivo (Hawkins, 2009).
5º e 9º anos (Ensino Funda- no Censo Escolar

mental) e 3º ano do Ensino


Médio

Soma dos óbitos nos perí-


odos neonatal precoce (0-6
dias de vida), neonatal tardio
Mortalidade in- (7-27 dias) e pós-neonatal
PNUD 2010 Variável contínua Negativo (Bel & Warner, 2017)
fantil (28 dias e mais)/1.000 nasci-
dos vivos

Razão entre as mu-


lheres de 15 a 17
anos de idade que
% de mulheres de 15 a 17
tiveram filhos e o to-
Mães adolescen- anos que tiveram filhos
PNUD 2010 tal de mulheres nesta Negativo (Bel & Warner, 2017)
tes
faixa etária multipli-
cado por 100

Varia de 0 (sem de-


Mede o grau de desigualdade
sigualdade a 1 (de-
existente na distribuição de
Índice de Gini PNUD 2010 sigualdade é máxima Negativo (Hawkins, 2009)
indivíduos segundo a renda
(apenas um indivíduo
domiciliar per capita
detém toda a renda).
Contagem populacional mu-
População MUNIC IBGE 2015 Variável contínua Positivo (Bel & Warner, 2017)
nicipal
Variável categórica
Classificação ideológica do
Ideologia parti- TSE (2012) – resul- (IM1= direita, IM = 2 Positivo para IM = 1 e Negativo para
prefeito no espectro de es-
dária tados eleitorais 2012 centro e IM = 3 es- IM = 3 (Carreirão, 2014)
querda, centro ou direita
querda)

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Variável contínua ex-


Produto interno bruto/popula- IBGE 2015 e MUNIC Positivo (Carr, Hawkins, & Westberg,
PIB per capita pressa R$ em cada
ção municipal IBGE 2015 2017)
período
Soma das transferências fe-
Negativo para receitas e positivo
Dependência derais (SUS, SUAS, FNDE/
SICONFI 2015 Variável contínua para despesas (Feiock & Scholtz,
financeira FUNDEB e FPM)/Receita bru-
2009)
ta realizada

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ra condiciona o comportamento da gestão


DESENHO DA PESQUISA municipal, essa investigação busca apreen-
der como os governos locais se organizam
A questão central que guia essa pesqui- e qual o efeito desse processo na sua reali-
sa é: Capacidades estatais dos municípios dade fiscal. Para tanto, o estudo utiliza uma
brasileiros influenciam o seu desempenho regressão multivariada com erro padrão ro-
fiscal? Mesmo considerando que a descen- busto. O modelo utilizado é o que segue:
tralização política, administrativa e financei-

Variáveis dependentes derivadas da literatura e seu alinhamento


com a especificidade da gestão municipal
As duas variáveis dependentes são contínu- brasileira. Com as bases de dados munici-
as: a) receita própria: receita bruta tributária pais disponíveis, selecionaram-se variáveis
geradas pelo município em relação ao total ou proxies que permitem testar as hipóteses,
da receita corrente líquida (RCL); b) despe- visto estarem associadas à mensuração da
sas correntes: despesa corrente empenha- performance fiscal municipal.
da. As definições foram obtidas no Sistema
de Informações Contábeis e Fiscais do Se- Assim, adicionalmente, o estudo ressalta a
tor Público Brasileiro (2015). Essas são duas carência de informações para estudar o de-
variáveis centrais para avaliar a qualidade sempenho dos governos locais.
da gestão fiscal municipal (testou-se um mo-
delo com a variável investimentos, mas ele A H1 será testada por meio das variáveis:
não foi utilizado, pois o R2 foi muito baixo). servidores municipais per capita (serveper-
cap), quantidade de computadores conecta-
Variáveis independentes dos à internet (pc_net), licitações por meio
da internet (licit) e ouvidoria e sistema de
As variáveis independentes foram selecio- atendimento ao cidadão na página da inter-
nadas a fim de testar as premissas teóricas net (ouvid). Força de trabalho municipal e
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estrutura administrativa para o exercício de arenas relacionais e de interlocução com


suas funções são aspectos centrais dessa atores sociais e governamentais.
dimensão de análise.
Variáveis de controle -
A H2 será verificada por meio da escolari-
dade dos funcionários públicos: ensino fun- Seis variáveis relativas às características
damental (esc01), ensino médio (esc02) e municipais: a) cinco quantitativas: demográfi-
ensino superior ou pós-graduação (esc03), cas - população (pop), econômicas - pibper-
cadastro informatizado do ISS (cad_issqn), capita (pibpercap), socioeconômicas (Índi-
cadastro imobiliário informatizado (cad_ ce de Desenvolvimento da Educação Básica
imob) e valores per capita de convênios e (2015), mortalidade infantil, mães adoles-
planejamento urbano. Essa hipótese verifi- centes e índice de Gini); b) uma categórica
ca as habilidades para formular e gerenciar de cunho político – IM (ideologia do prefei-
políticas. Assume-se que, quanto maior a to). Conforme Carreirão (2014): partidos de
escolaridade formal dos servidores, melhor esquerda (Partido Comunista do Brasil, Par-
será a qualidade das ações governamen- tido Democrático Trabalhista, Partido Huma-
tais. Os cadastros avaliam se existem re- nista da Solidariedade, Partido Municipalista
cursos informatizados na gestão municipal, Nacional, Partido Popular Socialista, Partido
dado que podem qualificar a gestão fiscal. dos Trabalhadores e Partido Verde), partidos
As duas últimas variáveis são proxies de de direita (Democratas, Partido Trabalhista
capacidade técnica para elaborar projetos, Brasileiro, Partido Popular, Partido da Re-
visando obter recursos de transferência vo- pública, Partido da Renovação Brasileira,
luntária, e o planejamento municipal (nessa Partido Social Cristão, Partido Republicano
variável, omitiu-se sua ausência para com- Progressista, Partido Renovador Trabalhista
parar com a existência de órgão exclusivo Brasileiro, Partido Social Democrático Cris-
(planurban3) e em junção com outras áreas tão, Partido Social Liberal, Partido Trabalhis-
(planurban2)). ta Cristão e Partido Trabalhista Nacional) e
partidos de centro (Partido do Movimento
A H3 será avaliada com base nas variáveis: Democrático Brasileiro e Partido da Social
existência da planta genérica de valores Democracia Brasileira). Nessa variável ca-
(plgenval_info), lei de zoneamento urbano tegórica: 1 indica partidos de direita, 2 os
ou uso e ocupação do solo (lzurb), lei da partidos de centro e 3 as agremiações de
taxa de contribuição (txcontrib), plano dire- esquerda. Os partidos de centro foram omi-
tor (plandir) e código de obras (codobr). Es- tidos do modelo e servem para comparar se
sas variáveis visam verificar a capacidade as duas outras ideologias influem no com-
de o governo definir legislação que regula portamento fiscal das cidades.
o comportamento dos atores econômicos
e da sociedade. A H4 será testada com as Uma variável para avaliar os impactos da
variáveis número de conselhos municipais dependência federal: soma dos valores re-
de políticas (ncons) e quantidade de con- passados do Fundo de Participação dos
sórcios intermunicipais públicos que a loca- Municípios, Sistema Único de Saúde, Fundo
lidade participa (consorcio). Ambas avaliam de Manutenção e Desenvolvimento da Edu-
a capacidade de a gestão local estabelecer cação Básica e de Valorização dos Profis-

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sionais da Educação, do Fundo Nacional de de repasses, dado seu suporte constitucional


Desenvolvimento Educacional e do Sistema e legal. Por essa razão, optou-se por utilizá-
Único de Assistência Social sobre a receita -las, visando controlar o nível de autonomia
municipal bruta realizada. Essas transferên- local na gestão fiscal. A Tabela 1 apresenta
cias são contínuas e garantem estabilidade as estatísticas descritivas.
Tabela 1. Sumário estatístico

Variable Obs Mean Std.Dev. Min Max


recpro 3,482 2.710e+07 4.260e+08 19319 2.250e+10
descorr 3,482 1.040e+08 8.370e+08 4.834e+06 4.080e+10
invest 3,482 0.440 0.251 0.000675 1
servpercap 3,482 0.0486 0.0213 0.00435 0.229
esc01 3,482 221.0 474.2 0 16427
esc02 3,482 465.5 1167 0 34843
esc03 3,482 468.6 2036 0 89446
cad imob 3,482 0.918 0.275 0 1
pc net 3,482 0.876 0.330 0 1
licit 3,482 0.600 0.490 0 1
plgenval i~o 3,482 0.677 0.468 0 1
ouvid 3,482 0.434 0.496 0 1
cad issqn 3,482 0.889 0.314 0 1
lzurb 3,482 0.625 0.484 0 1
txcontrib 3,482 0.582 0.493 0 1
plandir 3,482 0.526 0.499 0 1
codobr 3,482 0.688 0.464 0 1
planurban1 3,482 0.240 0.427 0 1
planurban2 3,482 0.898 0.995 0 2
planurban3 3,482 0.935 1.390 0 3
ncons 3,482 7.571 2.973 0 16
consorcio 3,482 1.716 2.424 0 12
pop 3,482 42055 258706 1024 1.200e+07
IM1 3,482 0.362 0.481 0 1
IM2 3,482 0.654 0.938 0 2
IM3 3,482 0.931 1.388 0 3
pibpercap 3,482 21.64 19.34 4.100 277.0
convpercap 3,482 44.57 58.99 0.000640 698.9
depfin 3,482 63.38 19.86 10.60 99.81
gini 3,482 0.485 0.0651 0.280 0.790
mort 3,482 17.63 6.249 8.490 44.30
nmaes 3,482 2.818 1.773 0 13.22
ideb2017 3,482 0.837 0.0908 0.368 1

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS os porquês da inclusão do número de parâ-


metros testados: a multidimensionalidade
As Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados do conceito de capacidade estatal demanda
da regressão multivariada em quatro espe- uma especificação mais ampla de variáveis.
cificações. Na seção anterior, justificaram-se
Tabela 2. Resultados dos modelos sobre o desempenho da receita própria

(1) (2) (3) (4)


VARIABLES recpro recpro recpro recpro

servpercap 8.823e+08*** 9.979e+08*** 9.635e+08*** 5.993e+08***


(1.063e+08) (1.281e+08) (1.115e+08) (1.334e+08)
esc01 86,777*** -71,394*** 109,045*** 110,760***
(9,755) (10,508) (10,146) (12,242)
esc02 -159,899*** -131,744*** -183,915***
(4,419) (4,306) (5,507)
esc03 87,651*** 18,997*** 273,905***
(5,109) (5,716) (2,941)
cad_imob 6.289e+06 4.478e+06 6.437e+06 3.060e+06
(8.112e+06) (9.774e+06) (8.513e+06) (1.020e+07)
pc_net 8.556e+06 1.569e+07** 9.322e+06 1.403e+07*
(5.790e+06) (6.972e+06) (6.076e+06) (7.277e+06)
licit -6.677e+06 -4.809e+06 -4.636e+06 -1.241e+07**
(4.190e+06) (5.049e+06) (4.396e+06) (5.265e+06)
plgenval_info 4.895e+06 2.852e+06 2.629e+06 1.292e+07**
(4.746e+06) (5.718e+06) (4.979e+06) (5.961e+06)
ouvid -2.932e+06 -287,150 -2.471e+06 389,243
(3.948e+06) (4.756e+06) (4.143e+06) (4.962e+06)
cad_issqn -3.162e+06 -4,715 -3.172e+06 -5.392e+06
(7.054e+06) (8.499e+06) (7.403e+06) (8.868e+06)
lzurb 753,840 -3.606e+06 -75,208 2.421e+06
(5.524e+06) (6.654e+06) (5.796e+06) (6.944e+06)
txcontrib 325,406 7.899e+06 285,854 770,158
(4.666e+06) (5.617e+06) (4.897e+06) (5.866e+06)
plandir -1.062e+07** -1.706e+07*** -1.074e+07* -1.946e+07***
(5.405e+06) (6.509e+06) (5.673e+06) (6.790e+06)
ncons -3.146e+06*** -6.482e+06*** -3.329e+06*** -4.571e+06***
(836,677) (1.002e+06) (877,966) (1.051e+06)
consorcio 1.313e+06* 1.746e+06* 961,596 2.124e+06**
(797,494) (960,815) (836,642) (1.002e+06)

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pop 1,420*** 1,586*** 1,948***


(34.63) (41.36) (16.64)
IM1 3.305e+06 1.442e+06 1.715e+06 9.703e+06*
(4.601e+06) (5.543e+06) (4.827e+06) (5.780e+06)
IM3 -1.651e+06 -3.130e+06 -1.600e+06 -1.806e+06
(1.606e+06) (1.935e+06) (1.685e+06) (2.019e+06)
pibpercap 450,945*** 310,511** 683,713*** -182,194
(116,792) (140,649) (121,736) (145,536)
codobr 4.563e+06 3.632e+06 4.839e+06 2.529e+06
(4.937e+06) (5.949e+06) (5.181e+06) (6.207e+06)
planurban2 -913,232 -3.312e+06 -253,015 -3.845e+06
(2.552e+06) (3.073e+06) (2.677e+06) (3.206e+06)
planurban3 -1.759e+06 -3.666e+06* -1.399e+06 -3.413e+06
(1.797e+06) (2.164e+06) (1.886e+06) (2.259e+06)
convpercap 68,263** 99,421** 56,284 114,051***
(33,942) (40,885) (35,612) (42,647)
depfin 216,757 286,265 161,347 500,719***
(146,312) (176,281) (153,508) (183,729)
gini -8.177e+07** -2.392e+08*** -8.951e+07** -1.222e+08***
(3.432e+07) (4.102e+07) (3.602e+07) (4.313e+07)
mort -149,474 -936,315 -221,089 -569,586
(475,965) (572,905) (499,475) (598,217)
nmaes 430,404 673,954 44,835 1.291e+06
(1.170e+06) (1.410e+06) (1.228e+06) (1.471e+06)
ideb2015 -1.362e+07*** -1.659e+07*** -1.595e+07*** -4.975e+06
(3.047e+06) (3.670e+06) (3.194e+06) (3.821e+06)
Constant 3.020e+07 1.346e+08*** 4.377e+07 1.523e+07
(3.151e+07) (3.780e+07) (3.305e+07) (3.961e+07)

Observations 2,923 2,923 2,923 2,923


R-squared 0.951 0.929 0.946 0.923
Standard errors in parentheses
*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1

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Tabela 3. Resultados dos modelos sobre o desempenho da despesa corrente


(1) (2) (3) (4)
VARIABLES descorr descorr descorr descorr

servpercap 8.657e+08*** 9.699e+08*** 1.006e+09*** 3.898e+08**


(1.298e+08) (1.448e+08) (1.423e+08) (1.878e+08)
esc01 145,336*** 2,855 183,882*** 185,673***
(11,910) (11,884) (12,953) (17,236)
esc02 -144,038*** -95,301*** -184,431***
(5,396) (5,497) (7,753)
esc03 151,726*** 89,882*** 464,981***
(6,238) (6,465) (4,141)
cad_imob 4.366e+06 2.735e+06 4.623e+06 -1.064e+06
(9.904e+06) (1.105e+07) (1.087e+07) (1.436e+07)
pc_net 1.057e+07 1.700e+07** 1.190e+07 1.977e+07*
(7.069e+06) (7.886e+06) (7.756e+06) (1.025e+07)
licit -6.501e+06 -4.818e+06 -2.968e+06 -1.615e+07**
(5.116e+06) (5.710e+06) (5.611e+06) (7.413e+06)
plgenval_info 6.070e+06 4.230e+06 2.148e+06 1.957e+07**
(5.794e+06) (6.467e+06) (6.356e+06) (8.393e+06)
ouvid -4.112e+06 -1.729e+06 -3.313e+06 1.475e+06
(4.820e+06) (5.379e+06) (5.289e+06) (6.986e+06)
cad_issqn -7.130e+06 -4.285e+06 -7.147e+06 -1.088e+07
(8.613e+06) (9.613e+06) (9.451e+06) (1.249e+07)
lzurb -693,614 -4.621e+06 -2.129e+06 2.110e+06
(6.744e+06) (7.526e+06) (7.400e+06) (9.777e+06)
txcontrib -1.699e+06 5.123e+06 -1.768e+06 -951,033
(5.697e+06) (6.353e+06) (6.251e+06) (8.259e+06)
plandir -1.999e+07*** -2.579e+07*** -2.019e+07*** -3.486e+07***
(6.599e+06) (7.362e+06) (7.241e+06) (9.560e+06)
ncons -3.869e+06*** -6.874e+06*** -4.186e+06*** -6.265e+06***
(1.022e+06) (1.133e+06) (1.121e+06) (1.480e+06)
consorcio 2.658e+06*** 3.049e+06*** 2.050e+06* 4.022e+06***
(973,681) (1.087e+06) (1.068e+06) (1.411e+06)
pop 2,388*** 2,538*** 3,303***
(42.28) (46.78) (21.24)
IM1 4.615e+06 2.937e+06 1.863e+06 1.538e+07*
(5.617e+06) (6.269e+06) (6.162e+06) (8.138e+06)
IM3 -1.602e+06 -2.934e+06 -1.513e+06 -1.863e+06

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(1.961e+06) (2.188e+06) (2.152e+06) (2.843e+06)


pibpercap 1.198e+06*** 1.072e+06*** 1.601e+06*** 133,355
(142,595) (159,071) (155,405) (204,908)
codobr 2.303e+06 1.465e+06 2.782e+06 -1.119e+06
(6.028e+06) (6.728e+06) (6.614e+06) (8.739e+06)
planurban2 -2.643e+06 -4.804e+06 -1.500e+06 -7.574e+06*
(3.115e+06) (3.476e+06) (3.418e+06) (4.515e+06)
planurban3 -3.154e+06 -4.872e+06** -2.532e+06 -5.936e+06*
(2.194e+06) (2.448e+06) (2.407e+06) (3.180e+06)
convpercap 100,354** 128,421*** 79,618* 177,363***
(41,441) (46,240) (45,462) (60,045)
depfin 396,248** 458,862** 300,333 873,836***
(178,637) (199,370) (195,964) (258,683)
gini -9.314e+07** -2.349e+08*** -1.065e+08** -1.612e+08***
(4.191e+07) (4.640e+07) (4.598e+07) (6.073e+07)
mort -207,018 -915,810 -330,986 -913,594
(581,118) (647,943) (637,617) (842,264)
nmaes 175,297 394,688 -492,128 1.622e+06
(1.429e+06) (1.595e+06) (1.567e+06) (2.071e+06)
ideb2015 -4.519e+06 -7.192e+06* -8.558e+06** 1.002e+07*
(3.720e+06) (4.151e+06) (4.078e+06) (5.380e+06)
Constant -2.755e+07 6.648e+07 -4.065e+06 -5.273e+07
(3.847e+07) (4.275e+07) (4.220e+07) (5.576e+07)

Observations 2,923 2,923 2,923 2,923


R-squared 0.981 0.977 0.977 0.961
Standard errors in parentheses
*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1

Na H1, a única variável com significância pública, mas possui efeito estatístico em um
(p < 0.01) em todos os modelos que tes- só modelo para as duas variáveis. O mesmo
tam receitas próprias e despesas correntes ocorre com a variável atendimento ao cida-
é servidores per capita, com sinal positivo, dão na página da internet (ouvid). Portanto,
tal como esperado pela teoria. Número de nem todas as ferramentas de comunicação e
computadores é relevante estatisticamente tecnologia da informação influem nos resul-
em dois modelos não completos (p < 0.05 e tados da gestão fiscal.
p < 0.10, respectivamente), o que reduz sua
relevância explicativa. Licitação por internet Os resultados estão em linha com a literatu-
licit aumenta transparência e controle, o que ra, que destaca a provisão e magnitude dos
possivelmente influi na redução da despesa servidores públicos como essenciais para

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SOBRE DESCONEXÕES E HIATOS: UMA ANÁLISE DE CAPACIDADES ESTATAIS E FINANÇAS PÚBLICAS EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS

avaliar capacidades estatais. Por outro lado, ser avaliado: educação formal de servidores
o desenvolvimento organizacional (novas públicos importa, mas modernização geren-
estruturas administrativas e recursos mate- cial não responde ao que se passa com as
riais e tecnológicos) não mostra a mesma receitas próprias e a despesa corrente em
capacidade explicativa. Na dimensão de nível local. Quanto aos valores per capita
capacidade administrativa, um hiato e uma de convênios, e com menos importância o
desconexão: a oferta de mão de obra ex- planejamento urbano, com ênfase quando
plica a performance fiscal municipal, o que ele está em uma área exclusiva, observa-
não ocorre com a utilização de dispositivos -se que, em linha com a teoria, o desen-
organizacionais e tecnológicos. Tendo a li- volvimento de perícia e habilidade técnica
teratura como referência, observa-se que, associam-se à qualidade da gestão fiscal.
no caso dos municípios brasileiros, não se Portanto, H2 confirma-se parcialmente.
pode afirmar que ambas as variáveis cami-
nhem juntas para explicar seus resultados A H3 analisa o efeito das capacidades insti-
fiscais. Assim, H1 confirma-se parcialmente. tucionais na gestão fiscal, e constata-se que
apenas a variável plandir apresenta signifi-
Quanto à H2, todos os níveis de escolari- cância estatística (p < 0.01 em todos os mo-
dade formal são significativos a 0.01 em to- delos da variável despesa corrente). Contu-
dos os modelos que testam as duas variá- do, as demais variáveis relativas ao poder de
veis independentes. Assim, algum acúmulo enforcement do governo local para regular
de educação formal, ainda que não seja de o comportamento dos atores econômicos e
formação universitária, mostra-se essencial sociais não são estatisticamente relevantes.
para explicar os resultados fiscais, o que se Há um hiato e uma desconexão explicativa
associa com a discussão da literatura sobre entre o conjunto dos instrumentos de gestão
a existência de competência técnica e exis- do espaço urbano.
tência de servidores qualificados. Cadastros
informatizados para a cobrança do IPTU e Todavia, chama atenção que plandir possua
ISS não são estatisticamente significan- sinal negativo em dois modelos que testam
tes. Valores per capita obtidos por meio de a variável receita própria, o que contraria a
convênios com o governo federal importam literatura. O que pode explicar esse resulta-
para explicar a performance das duas va- do é que mais controle sobre a utilização do
riáveis. Planejamento urbano é estatistica- território pode desestimular investimentos
mente significante apenas em dois modelos privados que trazem receitas, mas que não
para a variável despesa corrente. são permitidos pela legislação. Assim, mais
regulação não necessariamente se associa
Conforme a literatura, especialização, for- com mais ingressos próprios. A associa-
talecimento dos sistemas administrativos e ção negativa dessa variável com a despesa
orçamentários e gestão da informação são corrente é coerente: regras sobre a gestão
instrumentos centrais para qualificar as ca- urbana reduzem o custo da ação governa-
pacidades técnicas. Porém, essas variáveis mental para solucionar problemas. Aqui há
não explicam o resultado fiscal municipal, outra desconexão, pois difere a maneira
de modo que há outro hiato e desconexão a como plandir explica os resultados de recei-

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tas e despesas municipais. Com efeito, H3 ca é positiva com a variável receita própria
confirma-se parcialmente. (p<0.01), pois faz sentido associar boa per-
formance dessa variável com mais capacida-
A análise da H4 evidencia que capacidades de da economia local. No caso da despesa,
políticas importam para explicar o desem- ainda que menos relevante estatisticamente,
penho fiscal. Conselhos de políticas, como o sinal negativo indica que menos qualida-
esperado pela literatura, possuem sinal po- de educacional amplia os gastos públicos.
sitivo e são estatisticamente significantes Sobre o Índice de Gini, a desigualdade de
(p<0.01) em todos os modelos. O mesmo renda impacta as duas variáveis, pois tanto
vale para a participação em consórcios in- a obtenção de ingressos próprios e a admi-
termunicipais, mas com maior incidência nistração das despesas afetam os serviços
na variável das despesas correntes, o que públicos para atender a população.
é explicável pela economia de escala gera-
da (por exemplo, compras de medicamentos Variáveis de ordem política, ainda que não
na área da saúde). Nessa hipótese, não se sejam estatisticamente representativas, ali-
verificam hiatos e desconexões, o que refor- nham-se com a literatura (Hibbs, 1977), que
ça sua capacidade explicativa. Conforme a argumenta serem partidos de direita fiscal-
literatura, instrumentos de accountability e mente mais responsáveis, pois sua ênfase
arranjos institucionalizados de interlocução em políticas sociais é menor. Constata-se o
com atores sociais e intergovernamentais sinal positivo da variável IM=1 na associação
mostram-se robustos para explicar os resul- com ambas as variáveis. Para os partidos de
tados fiscais. Assim, H4 confirma-se total- esquerda (IM = 3), o sinal é negativo, como
mente. esperado, dado o suposto teórico de serem
menos orientados para resultados fiscais
Quanto às variáveis de controle, observam- ao priorizarem políticas de welfare state. Os
-se resultados estatisticamente importantes. dados suportam essa afirmação, pois muni-
Tamanho populacional é um proxy para eco- cipalidades governadas por partidos de es-
nomia de escala, que, como esperado pela querda possuem um pior desempenho fiscal
literatura, possui sinal positivo em todos os do que administrações de partidos de centro.
modelos. Assim, localidades maiores tanto
arrecadam mais como gastam mais. O mes- Por fim, a variável depfin mostra-se estatis-
mo argumento explicativo serve para a va- ticamente importante apenas para a despe-
riável pibpercap, o que está alinhado com sa corrente (p<0.05). Assim, transferências
as expectativas de associação positiva com federais não podem ser desconsideradas na
o desempenho fiscal: ganhos maiores com realidade fiscal dos municípios. Como espe-
extração de impostos e maior disponibilida- rado, quanto maior a dependência financei-
de de recursos para gastar. ra federal, mais positiva a associação com
as despesas correntes. Essa constatação
Em relação às variáveis saúde (mort e mães se aproxima da literatura sobre a tese da
adolescentes), não se verifica nenhum efei- “preguiça fiscal” (Peterson, 1994): maiores
to estatístico. Quanto ao ideb2015, coeren- transferências de recursos fiscais associam-
te com a literatura, a associação estatísti- -se com menos estímulos para qualificar a

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gestão fiscal. Contrariamente ao suposto essa discussão da literatura. Buscou-se


teórico, a associação com ingresso próprio verificar o quanto as administrações muni-
é positiva, o que demandaria uma investiga- cipais, respaldadas por sua autonomia ad-
ção além do escopo deste trabalho. ministrativa, fiscal e política adquiridas após
1988, possuem capacidades estatais que
A pesquisa evidencia que em todas as di- melhoram seu desempenho fiscal.
mensões de capacidade estatal municipal
há, pelo menos, uma variável com capaci- Como foi visto, mesmo que nas quatro di-
dade explicativa para o desempenho de sua mensões do conceito haja suporte para afir-
gestão fiscal. Seguem existindo lacunas em mar sua relevância explicativa, igualmente
questões importantes, sobretudo na capaci- há hiatos e desconexões que evidenciam
dade de regulação do espaço urbano e nos fragilidades na gestão municipal. Há poten-
recursos técnicos e tecnológicos utilizados. cialidades e limites na ação dos governos
Todavia, destaque-se que os instrumentos municipais, o que se evidencia pela falta de
de capacidade política existentes produzem coerência e uniformidade explicativa nas va-
efeito positivo na situação fiscal das cida- riáveis testadas nas hipóteses.
des.
Mesmo que desenvolvimento gerencial e Das dimensões de capacidades de estatal
institucional apresentem debilidades, ob- analisadas, aquela de natureza política é a
serva-se que há avanços significativos al- que apresenta efeitos mais robustos na ges-
cançados pelas administrações municipais tão fiscal municipal. Observa-se, também,
em um contexto em que sua autonomia que a magnitude e o preparo técnico do fun-
política e financeira saiu fortalecida após a cionalismo municipal, medidos por sua es-
CF/1988. Por outro lado, há hiatos e desco- colaridade formal, impactam positivamente
nexões não menos importantes, pois aspec- os resultados financeiros. Contudo, a utili-
tos essenciais de capacidades estatais não zação de instrumentos de gestão modernos
apresentam bons resultados. Nesse caso, apoiados tecnologicamente na internet não
se as localidades não têm logrado êxito estão relacionados à melhor performance
autonomamente, iniciativas de cooperação fiscal. O mesmo vale para os dispositivos
federativa poderiam ser um caminho, ainda institucionais que regulam o comportamen-
que esforços nessa direção tenham obtido, to dos atores econômicos e da sociedade.
até agora, resultados pouco expressivos Resumidamente, H1, H2 e H3 são parcial-
(Grin & Abrucio, 2018b). mente comprovadas e H4 comprova-se in-
tegralmente.
CONCLUSÃO
A literatura sustenta que a inexistência de
Esta pesquisa teoricamente avaliou se o capacidades estatais pode constranger o
conceito de capacidade estatal, quando desenvolvimento de políticas e reduzir o
aplicado à realidade da gestão municipal escopo das ações governamentais. Estas
brasileira, serve para explicar o seu de- capacidades são cruciais gerencialmente e
sempenho fiscal. As variáveis utilizadas nos no feedback entre Estado e sociedade, pois
modelos empiricamente operacionalizaram governos carentes desses recursos podem

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ser incapazes de promulgar e produzir re- nicipais, especialmente devido à assunção


sultados em suas políticas públicas. Cons- de responsabilidades descentralizadas. Se-
truir capacidades estatais é uma condição guem existindo muitos hiatos e desconexões
necessária para os governos viabilizarem entre a performance da gestão fiscal e as
escolhas políticas e gerenciais (Bowman & capacidades estatais de ordem política, ad-
Kearney, 1988; Kjaer et al., 2002; Skocpol & ministrativa, técnica e institucional municipal.
Finnegold, 1982).
A dissonância explicativa entre as dimen-
Igualmente, deve-se considerar como mais sões, e, em cada uma delas, de suas variá-
capacidade estatal nos governos locais per- veis constitutivas, mostra que os municípios
mite uma combinação mais profícua entre ainda necessitam avançar muito para qua-
autonomia política com dependência das lificar sua administração fiscal. Analisando
políticas públicas federais (Wright, 1988). as quatro dimensões de capacidade estatal
Nessa linha, Grindle (2006) frisa, com base municipal, vê-se que apenas sua organiza-
em uma pesquisa em 30 municípios mexi- ção administrativa e gerencial não é sufi-
canos, que seria equivocado compreender ciente para sustentar parâmetros de auto-
essas capacidades como um pacote de nomia local (Wolman, McManmon, Bell, &
instrumentos separados da ampliação da Brunori, 2008). Entretanto, essa afirmação
democracia e da descentralização política vai de encontro ao previsto no desenho do
e administrativa. Todavia, enfatiza que, do federalismo brasileiro após 1988: municípios
ponto de vista das habilidades técnicas usu- mais autônomos seriam capazes de gerar
almente requeridas, redesenho organiza- mais democracia e eficiência fiscal. Os hia-
cional, capacitação de recursos humanos, tos identificados entre a performance fiscal e
modernização tecnológica e incentivos para seu desenvolvimento administrativo, técnico
incrementar a performance são importantes e institucional parecem indicar que ainda há
para estimular os municípios a assumirem um árduo caminho a percorrer para qualificar
atribuições descentralizadas. No seu estu- a gestão fiscal municipal no Brasil.
do, a elevação do profissionalismo foi uma
das razões para as municipalidades torna- Esta pesquisa mostrou que existem grandes
rem-se mais conscientes dos benefícios de lacunas de capacidades estatais municipais.
instrumentos gerenciais como o planeja- A questão que fica é se o seu reforço e qua-
mento estratégico. lificação podem ser o resultado de ações
autônomas ou se essa agenda não poderia
A inferência acima parcialmente coincide ser inserida na cooperação federativa. Essa
com a realidade da gestão municipal brasi- consideração assume destaque, pois, se a
leira, pois seu desenvolvimento administra- autonomia constitucional dos municípios é
tivo, técnico e institucional não possui cor- condição necessária para seu papel como
respondência entre todas as variáveis que ente federativo, como foi visto, segue longe
ajudam a explicar seu desempenho fiscal. de ser suficiente para qualificar suas capaci-
Assim, o presente trabalho não se afasta da dades estatais.
literatura nacional, que mostra a necessi-
dade de modernizar as administrações mu- Por fim, o estudo trata da situação geral dos

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SOBRE DESCONEXÕES E HIATOS: UMA ANÁLISE DE CAPACIDADES ESTATAIS E FINANÇAS PÚBLICAS EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS

municípios, mas há um padrão, aqui não


mensurado, de casos cujo desempenho é Bel, G., & Warner, M. E. (2017). Factors ex-
de outra natureza. Pesquisas qualitativas, plaining inter-municipal cooperation in ser-
com um número menor de experiências, po- vice delivery : A meta-regression analysis.
deriam analisar por que existem localidades Journal of Economic Policy Reform, 19(2),
que conseguem uma conexão maior entre 91-115. doi:10.1080/17487870.2015.1100084
capacidades estatais e gestão fiscal. Ain-
da assim, este trabalho identificou que há Bertranou, J. (2012). Notas sobre el concep-
limitações das capacidades estatais muni- to de capacidad estatal y sus aplicaciones.
cipais para influir positivamente na melhora Mimeo, ICO/UNGS.
da sua situação fiscal. Um pacto federativo
realista que efetivamente busque fortalecer Besley, T., & Persson, T. (2009). The origins
os municípios deveria considerar essa situ- of state capacity: Property rights, taxation
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