Macroeconomia 61024
O Modelo AD-AS
ou Modelo a Preços
Variáveis - Exercícios
Maria do Rosário Matos Bernardo
Elaborado em 2015 e atualizado em abril de 2020
Exercícios de exemplificação e esclarecimento do funcionamento do modelo IS-LM.
Estes exercícios destinam-se ao estudo do tema 5 da UC Macroeconomia 61024 da
Universidade Aberta e pressupõem a leitura integral do capítulo 5 do livro
“Sotomayor, Ana Maria e Marques, Ana Cristina. (2007). Macroeconomia.
Universidade Aberta. Lisboa.” Ou o capítulo 5 do Livro “Sotomayor, Ana (2018).
Princípios de Macroeconomia. Rei dos Livros”
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Rosário Matos Bernardo] é disponibilizado sob a Licença Creative Commons-Atribuição-
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1. Procura Agregada
A análise da procura agregada vai retomar o modelo IS-LM que foi estudado no tema
4, ou seja, o modelo que considera em simultâneo o mercado real e o mercado
monetário.
O conceito de procura agregada já tinha sido introduzido no tema 2 (página 25 e
seguintes do livro Macroeconomia ou páginas 29 a 31 do livro Princípios de
Macroeconomia), para cada um dos modelos keynesianos, sendo que vamos trabalhar
agora com o modelo a 4 setores (página 87 do livro Macroeconomia ou página 72 do
livro Princípios de Macroeconomia). Este conceito foi retomado no tema 4 (ver
equação de definição na página 141 do livro Macroeconomia ou página 72 do livro
Princípios de Macroeconomia).
A procura agregada é a quantidade de bens e serviços procurados numa economia.
Distinguindo entre os bens procurados para consumo (C), para investimento (I), pelo
Estado (G) e como exportações líquidas (X-Z), a procura agregada é determinada por:
𝐷 =𝐶+𝐼+𝐺+𝑋−𝑍
A “novidade” no modelo que vamos agora estudar AD-AS (modelo da procura oferta
agregada) está na variável preços. No modelo IS-LM os preços eram constantes, mas
agora vamos abandonar essa hipótese e considerar que os preços são variáveis.
1.1. Forma estrutural da função procura agregada
A procura agregada (AD) vai integrar os mercados real e monetário, podendo a sua
função ser traduzida pelo seguinte modelo na forma estrutural (o modelo que já tinha
sido considerado na análise IS-LM página 151 e 152 do livro Macroeconomia ou
páginas 158 a 159 do livro Princípios de Macroeconomia), agora não vamos considerar
os preços como constantes:
𝑌=𝐷
𝐷 =𝐶+𝐼+𝐺+𝑋−𝑍
𝐶 = 𝐶̅ + 𝑐𝑌𝑑
𝑌𝑑 = 𝑌 − 𝑇 + 𝑇𝑟
𝑇 = 𝑇̅ + 𝑡𝑌
𝑇𝑟 = ̅̅̅
𝑇𝑟
𝐼 = 𝐼 ̅ − 𝑒𝑖
𝐺 = 𝐺̅
𝑋 = 𝑋̅
𝑍 = 𝑍̅ + 𝑚𝑌
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𝑀
𝐿=
𝑃
𝐿 = 𝐿𝑡 + 𝐿𝑠
𝐿𝑡 = 𝑘𝑌
𝐿𝑠 = ℎ̅ − ℎ𝑖
𝑀 𝑀 ̅
=
𝑃 𝑃
1.2. Forma reduzida
Vamos retomar a forma reduzida deduzida no modelo IS-LM:
𝑒 𝑒ℎ̅
𝐶̅ − 𝑐𝑇̅ + 𝑐𝑇𝑟
̅̅̅ + 𝐼 ̅ + 𝐺̅ + 𝑋̅ − 𝑍̅ ℎ ̅
𝑀 ℎ
𝑌= + ( )−
𝑒𝑘 𝑒𝑘 𝑃 𝑒𝑘
1 − 𝑐(1 − 𝑡) + 𝑚 + ℎ 1 − 𝑐(1 − 𝑡) + 𝑚 + ℎ 1 − 𝑐(1 − 𝑡) + 𝑚 + ℎ
A função procura agregada é: Y = f (P). Ou seja, o rendimento é função do índice de
preços (P)
A curva de procura agregada (AD) é o lugar geométrico dos pares de valores
rendimento (Y) e índice de preços (P) que equilibram, em simultâneo os mercados real
e monetário.
Retomando o que foi estudado no capítulo 4, as variáveis objetivo deste modelo são o
rendimento (Y), o saldo orçamental (SO) e a balança corrente (BC).
As variáveis estratégicas dividem-se em:
• Variáveis de política orçamental: 𝑇̅; 𝐺̅ ; 𝑇𝑟
̅̅̅; t
• Variáveis controladas pelas empresas: 𝐼 ;̅ 𝑋̅; 𝑍̅
• ̅
Variável de política monetária: 𝑀
1.3. Determinação da inclinação da procura agregada
Nos livros, páginas 202 a 205 do livro Macroeconomia ou páginas 227 a 230 do livro
Princípios de Macroeconomia, está a determinação matemática da inclinação da AD,
com recurso à derivada da forma reduzida do modelo. Aqui vamos, à semelhança do
que fizemos no modelo IS-LM, verificar a inclinação com recurso a um exemplo.
Exemplo
Retomando o exemplo apresentado anteriormente para o modelo IS-LM, vamos
considerar uma economia aberta e com estado, na qual os preços são variáveis,
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representada por um modelo do qual fazem parte as seguintes equações de equilíbrio,
de definição e de comportamento:
𝑌=𝐷
𝐷 =𝐶+𝐼+G+X-Z
𝐶 = 200 + 0,75𝑌𝑑
𝑌𝑑 = 𝑌 − 𝑇 + 𝑇𝑟
𝑇 = 70 + 0,12𝑌
𝑇𝑟 = 50
𝐼 = 300 − 30𝑖
𝐺 = 100
𝑋 = 80
𝑍 = 60 + 0,1𝑌
𝑀
𝐿=
𝑃
𝐿 = 𝐿𝑡 + 𝐿𝑠
𝐿𝑡 = 0,2 𝑌
𝐿𝑠 = 750 − 400𝑖
𝑀 = 1000
Recorrendo à foram reduzida do modelo, vamos substituir as variáveis e parâmetros
pelos valores da nossa economia:
𝑒 𝑒ℎ̅
𝐶̅ − 𝑐𝑇̅ + 𝑐𝑇𝑟
̅̅̅ + 𝐼 ̅ + 𝐺̅ + 𝑋̅ − 𝑍̅ ℎ ̅
𝑀 ℎ
𝑌= + ( )−
𝑒𝑘 𝑒𝑘 𝑃 𝑒𝑘
1 − 𝑐(1 − 𝑡) + 𝑚 + ℎ 1 − 𝑐(1 − 𝑡) + 𝑚 + ℎ 1 − 𝑐(1 − 𝑡) + 𝑚 + ℎ
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200 − 0,75 × 70 + 0,75 × 50 + 300 + 100 + 80 − 60
𝑌=
30 × 0,2
1 − 0,75 × (1 − 0,12) + 0,1 + 400
30
400 1000
+ ×
30 × 0,2 𝑃
1 − 0,75 × (1 − 0,12) + 0,1 + 400
30 × 750
− 400
30 × 0,2
1 − 0,75 × (1 − 0,12) + 0,1 + 400
605 0,075 1000 56,25
𝑌= + × −
0,44 + 0,015 0,44 + 0,015 𝑃 0,44 + 0,015
605 75 56,25
𝑌= + −
0,455 0,455 × 𝑃 0,455
548,75 75
𝑌= +
0,455 0,455 × 𝑃
164,8
𝑌 = 1206 +
𝑃
Temos então a nossa função AD, a observação desta função permite constatar que a
única variável explicativa é o índice de preços (P), a qual mantém uma relação inversa
com o rendimento (Y), ou seja, a valores mais elevados de preços correspondem
valores menores para o rendimento e a valores mais reduzidos de preços
correspondem maiores valores de rendimento.
Vamos verificar esta relação com recurso à substituição dos valores de i na função IS:
P 𝟏𝟔𝟒, 𝟖
𝒀 = 𝟏𝟐𝟎𝟔 +
𝑷
1 1371
10 1222
20 1214
30 1211
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Curva AD
P 90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1180 1200 1220 1240 1260 1280 1300 1320 1340 1360 1380
Y
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A observação do gráfico permite verificar que a inclinação negativa da função AD e que
a função é uma curva.
1.4. Fatores que afetam a inclinação da AD
A expressão analítica da inclinação da AD é (página 203 do livro Macroeconomia ou
página 227 do livro Princípios de Macroeconomia):
𝑒𝑘
𝑑𝑃 1 − 𝑐 (1 − 𝑡 ) + 𝑚 + ℎ 𝑃2
𝐼𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝐴𝐷 = =− 𝑒 ×
𝑑𝑌 𝑀̅
ℎ
Por observação desta expressão podemos afirmar que a inclinação da AD depende dos
seguintes fatores:
• Propensão marginal a consumir (c): relação inversa, quando c aumenta a
inclinação da AD diminui (aproxima-se da horizontal)
• Taxa marginal de imposto (t): relação direta, quando t aumenta a inclinação da
AD também aumenta (aproxima-se da vertical)
• Propensão marginal a importar (m): relação direta
• Propensão marginal a investir (e): relação inversa
• Parâmetro k: relação direta
• Parâmetro h: relação direta
• ̅ ): relação inversa.
Massa Monetária (𝑀
1.5. Dedução gráfica da AD a partir do gráfico do modelo IS-LM
Já vimos que a curva AD é o lugar geométrico dos pares de valores rendimento (Y) e
índice de preços (P) que equilibram, em simultâneo os mercados real e monetário,
como tal, podemos fazer a representação gráfica da AD com base no gráfico do
modelo IS-LM.
Os pontos da AD resultam da interceção, para cada nível de preços, entre a IS e a LM.
Relembrando o capítulo 4:
𝐶̅ − 𝑐𝑇̅ + 𝑐𝑇𝑟
̅̅̅ + 𝐼 ̅ + 𝐺̅ + 𝑋̅ − 𝑍̅ 𝑒
𝐼𝑆: 𝑌 = − 𝑖
1 − 𝑐 (1 − 𝑡 ) + 𝑚 1 − 𝑐 (1 − 𝑡 ) + 𝑚
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̅ ℎ̅ ℎ
1𝑀
𝐿𝑀: 𝑌 = − + 𝑖
𝑘𝑃 𝑘 𝑘
Um aumento de preços irá implicar a redução do rendimento no mercado monetário,
o que irá levar à deslocação da LM para a esquerda e ao aumento das taxas de juro. Só
desta forma se obterá um novo ponto de equilíbrio simultâneo nos mercados real e
monetário.
Sempre que se verifica novo aumento de preços teremos nova redução no rendimento
e aumento das taxas de juro.
Temos a curva AD com inclinação negativa, a um aumento de preços corresponde uma
diminuição do rendimento e a uma diminuição de preços corresponde um aumento de
rendimento. À medida que descemos ao longo da AD a taxa de juro diminui.
Exemplo
Vamos fazer uma aplicação prática recorrendo ao exemplo que temos estado a utilizar.
Recorrendo a resoluções efetuadas anteriormente temos:
𝐼𝑆 ∶ 𝑌 = 1375 − 68,2𝑖
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A LM não pode ser a que determinámos no capítulo 4, pois os preços afora são
variáveis, temos de fazer esse ajustamento:
1000 750 400
𝐿𝑀: 𝑌 = 5 × − + 𝑖
𝑃 0,2 0,2
5000
𝐿𝑀: 𝑌 = − 3750 + 2000𝑖
𝑃
A AD também já foi determinada:
164,8
𝑌 = 1206 +
𝑃
Vamos partir da situação inicial, idêntica à que foi considerada no estudo do modelo
IS-LM, em que P=1.
164,8
𝑌 = 1206 +
1
𝑌 = 1371
Para determinar a taxa de juro podemos recorrer à expressão da IS ou da LM, vamos
recorrer à IS:
𝑌 = 1375 − 68,2𝑖
1371 = 1375 − 68,2𝑖
4
𝑖=
68,2
𝑖 = 0,06
Vamos agora supor que os preços aumentaram P2 = 2
164,8
𝑌 = 1206 +
1
164,8
𝑌2 = 1206 +
2
𝑌2 = 1288
Temos uma redução do rendimento de equilíbrio como consequência do aumento dos preços.
𝑌 = 1375 − 68,2𝑖
1288 = 1375 − 68,2𝑖2
87
𝑖2 =
68,2
𝑖2 = 1,26
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Temos um aumento da taxa de juro como consequência do aumento de preços.
1.6. Determinantes e deslocações da AD
Os determinantes da procura agregada são:
• Índice de preços (P)
• Variáveis de política orçamental (𝑇̅; 𝐺̅ ; ̅̅̅
𝑇𝑟; t)
• Variáveis controladas pelas empresas (𝐼 ;̅ 𝑋̅; 𝑍̅ )
• ̅)
Variável de política monetária (𝑀
As alterações no índice de preços, mantendo constantes as restantes variáveis, geram
deslocações ao longo da mesma curva AD.
As alterações dos restantes determinantes da AD geram passagens de uma curva de
procura agregada para outra, que pode ser à direita ou à esquerda da AD inicial,
dependendo do sentido de variação das variáveis estratégicas.
Medidas expansionistas geram deslocações da AD para a direita. Estas deslocações são
paralelas, exceto se as variáveis manobradas forem a taxa de imposto (t) ou a massa
monetária (𝑀 ̅ ), pois como vimos anteriormente estas 2 variáveis influenciam a
inclinação da AD. Assim, neste caso a deslocação é para a direita mas diminui a
inclinação (aproxima-se da horizontal).
Medidas contracionistas geram deslocações da AD para a esquerda. Estas deslocações
são paralelas, exceto se as variáveis manobradas forem a taxa de imposto (t) ou a
massa monetária (𝑀 ̅ ), neste caso a deslocação é para a esquerda mas aumenta a
inclinação (aproxima-se da vertical).
A amplitude da deslocação é medida pelo multiplicador, do modelo IS-LM, da variável
manobrada.
Estudar as páginas 201 a 209 do livro Macroeconomia ou páginas 225 a 234 do livro
Princípios de Macroeconomia. E os “Slides apoio 5”
2. Oferta Agregada
Relativamente à oferta agregada, optei por não apresentar a dedução matemática da
função ou curva de oferta agregada, uma vez que são deduções que exigem conceitos
e conhecimentos, como por exemplo de otimização, que nem todos os estudantes
dominam. Os estudantes não precisam de saber deduzir a função AS, mas precisam de
saber toda a teoria relacionada com: o mercado de trabalho, quer do ponto de vista
dos neoclássicos, quer do ponto de vista dos keynesianos; e a função de produção.
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É necessário saberem identificar a forma e inclinação da função AS, bem como os seus
determinantes e sentido de deslocação de acordo com alterações nos seus
determinantes.
A curva de oferta agregada tem uma zona inicial horizontal (caos keynesiano puro,
caso em que os preços são fixos, como se estudou no capítulo 4), uma zona intermédia
de inclinação positiva (a valores superiores de preços correspondem também valores
de rendimento superiores) e uma zona vertical ao nível do rendimento de pleno
emprego (caso neoclássico)
Os determinantes da oferta agregada são:
• Índice de preços
• Custos de produção (dos quais os mais referidos são os custos salariais,
os custos energéticos e os custos com matérias primas)
• Nível tecnológico ou tecnologia
• Preferências dos trabalhadores por trabalho versus lazer.
Estudar as páginas 209 a 227 do livro Macroeconomia ou as páginas 234 a 256 do livro
Princípios de Macroeconomia.
3. O equilíbrio do modelo
O equilíbrio no modelo AD-AS dá os pares de valores (Y, P) que equilibram
simultaneamente os mercados real, monetário e de trabalho.
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Exemplo com preços constantes
Retomando o exemplo apresentado para o modelo IS-LM, e neste texto nas páginas 2
e seguintes, considerando que os preços são constantes e iguais à unidade, temos:
𝐼𝑆 ∶ 𝑌 = 1375 − 68,2𝑖
5000
𝐿𝑀: 𝑌 = − 3750 + 2000𝑖
𝑃
164,8
𝐴𝐷: 𝑌 = 1206 +
𝑃
𝐴𝑆: 𝑃 = 1
Graficamente fica:
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