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BALL Stephen J MAINARDES Jefferson Orgs

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Olhar de Professor

ISSN: 1518-5648
[email protected]
Departamento de Métodos e Técnicas de
Ensino
Brasil

Costa, Hugo Heleno Camilo; Nóbrega Torres, Wagner


CONTRIBUIÇÕES À PESQUISA EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS: DIFERENTES OLHARES,
DIFERENTES QUESTÕES, NOVAS PERSPECTIVAS
Olhar de Professor, vol. 15, núm. 2, 2012, pp. 399-405
Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino
Paraná, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=68425573013

Como citar este artigo


Número completo
Sistema de Informação Científica
Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
Resenha
Review
DOI: 10.5212/OlharProfr.v.15i2.0013

CONTRIBUIÇÕES À PESQUISA EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS:


DIFERENTES OLHARES, DIFERENTES QUESTÕES, NOVAS PERSPECTIVAS

CONTRIBUTIONS TO RESEARCH ON EDUCATIONAL POLICIES: DIFFERENT


VIEWS, DIFFERENT ISSUES, NEW PERSPECTIVES

BALL, Stephen J.; MAINARDES, Jefferson (Orgs.). Políticas educacionais: questões e dilemas. São
Paulo: Cortez, 2011.

Hugo Heleno Camilo Costa*


Wagner Nóbrega Torres**

Frente ao desafio de pensar as tendên- Tendo como finalidade a contribui-


cias, perspectivas e dinâmicas desencadea- ção para o campo das políticas educacionais
das pelas/nas políticas educacionais contem- e curriculares, o livro é composto por um
porâneas, os pesquisadores Stephen J. Ball conjunto de artigos que, de formas distintas,
e Jefferson Mainardes organizaram o livro contribuem para o avanço das discussões,
Políticas Educacionais: questões e dilemas, pesquisas e alargamento do campo teórico e
cujo próprio título já indica a leitura para os empírico dos trabalhos na área. O livro conta
envolvidos e interessados nas discussões ati- com artigos de autores do Brasil e do Reino
nentes ao campo da educação e, especifica- Unido, com produções de destaque na área.
mente, ao das políticas educacionais. O trabalho é resultado simultâneo da expe-
Dentre os compromissos da obra está riência de cada pesquisador envolvido e do
a preocupação em gerar ambiência para o es- produtivo espaço de diálogo gerado pelos
tabelecimento de um debate que não se mo- organizadores.
bilize pela univocidade das formas de pen- Os artigos possuem diferentes enfo-
sar as ‘questões’ e os ‘dilemas’ das políticas ques e apesar da diferença no tocante à em-
educacionais, mas que favoreça a expressão piria e aos aportes teórico-metodológicos
dos diferentes enfoques e perspectivas teó- adotados, são agrupados em duas partes que
rico-metodológicas. Essa organização é co- subdividem o livro: a primeira parte, com-
locada como via de correspondência às de- posta por seis capítulos, é mais orientada
mandas pelo estabelecimento de referenciais para discussões genéricas e que tematizam
analíticos mais consistentes e, simultanea- sobre teoria e metodologia, sobre os fun-
mente, pelo aumento da interlocução com a damentos analíticos voltados às pesquisas
literatura internacional sobre o tema. em política educacional; e a segunda parte,
composta por quatro capítulos, apresenta,

*
Professor da Faculdade de Educação da UERJ. Mestrando em Educação pela UERJ.
E-mail: <[email protected]>.
**
Professor da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro. Mestre em Educação pela UERJ.
E-mail: < [email protected]>.

Olhar de professor, Ponta Grossa, 15(2): 399-405, 2012.


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Contribuições à pesquisa em políticas educacionais: diferentes olhares, diferentes questões, novas perspectivas

especificamente, resultados de investigações Segundo Power, Ozga considera os


sobre diferentes políticas educacionais e de trabalhos e teorias microanalíticos limitados
currículo. para compreender e explicar cenários mais
O capítulo 1, de Stephen Ball, desen- amplos da política, e que a pesquisa em es-
volve-se em dois ensaios. O primeiro ten- cala micro tende a se restringir à fragmenta-
siona “as transformações nas formas de pro- ção e descrição das problemáticas da política
visão do setor público e na sociedade civil” educacional, o que dificulta sua compreen-
(p. 21) e também discute a adoção de novas são. Segundo Ozga, uma análise estadocên-
formas de regulação social. Nessa primeira trica seria mais produtiva do ponto de vista
parte, Ball chama a atenção para mudanças compreensivo na abordagem à dinâmica das
que vêm ocorrendo nos princípios de orga- políticas. Em resposta às críticas de Ozga e
nização da vida social, principalmente na também baseada em dados de pesquisas edu-
esfera pública. cacionais desenvolvidas a partir de estudos
de caso, Power questiona a “utilidade da
Pautado em Jessop, Ball argumenta
teoria marxista centrada no Estado para ex-
que tais mudanças são parte de um proces-
plicar processos locais” (p. 54). Argumenta
so mais amplo de transformações sociais
que as afirmações da teoria estadocêntrica
que consiste na passagem de um Estado de
se constituem em um conjunto de oposições
Bem-Estar keynesiano para um Estado do
de difícil defesa e pouca utilidade, haja vista a
trabalho Schumpeteriano. Essas alterações
tendência em dificultar o diálogo, além de ofe-
têm levado a mudanças sociais significati-
recerem poucos elementos para a descrição de
vas, substituindo o discurso produtivo for-
detalhes e compreensão de processos locais.
dista por um discurso de produção flexível
e empreendedora pós-fordista, o que tem Stephen Ball, no terceiro capítulo do
influenciado intensamente na construção de livro, propõe, sob inspiração foucaultiana,
uma “nova subjetividade” (p. 31). reflexão sobre sua prática como pesquisador
e intelectual da área de educação e discute o
No segundo ensaio de seu texto, Ball
cenário atual do campo de pesquisa no Reino
discute a relação da pesquisa educacional
Unido. Segundo Ball, as investigações e re-
com os discursos da reforma. Para isso, es-
flexões sobre educação estão “em estado de-
pecificamente focaliza o engajamento e as
solador e prestes a se tornarem ainda piores”
perspectivas de política e justiça social nas
(p. 79). Para o pesquisador, a segmentação
produções de pesquisadores educacionais.
das estruturas de conhecimento, a ênfase na
Conclui acenando para a existência de uma
diferenciação interna e entre outros campos
“tensão básica” (p. 48) que se estabelece en-
do conhecimento, tende a isolar e limitar a
tre a defesa da eficiência e da justiça social.
reflexão e a pesquisa em educação, além de
No capítulo 2, Sally Power discute as restringir à introdução de outros discursos.
tensões entre os trabalhos de enfoque macro Tal dinâmica, segundo Ball, tem origem na
e microcontextual, tendo em vista, especial- apropriação de linguagens utilitaristas e de
mente, as críticas de Jenny Ozga às pesqui- baixo potencial reflexivo.
sas voltadas a contextos locais. Nesse sen-
Apesar de sua análise se voltar a todo
tido, atenta para a posição de Ozga, que se
o cenário de pesquisa em educação, Ball
pauta em teorizações macroanalíticas e de-
atenta, com maior precisão, aos enfoques da
senvolve sua crítica reiterando a importância
“Sociologia da Educação, Policy Science,
dos aportes teóricos microanalíticos.
Teoria do gerenciamento e pesquisa sobre

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escolas eficazes”. O autor aponta para as ponto o pesquisador atua somente como pro-
limitações de tais campos quanto às suas dutor de conhecimento e não se imbui dos
contribuições para o pensamento da pesquisa valores e acaba por atuar de forma cidadã,
em educação. Diante da necessidade de envolvendo-se com as problemáticas da pes-
que novas alternativas sejam colocadas em quisa como tal. Nessa perspectiva, os autores
questão, Ball acena para o pós-estruturalismo defendem a necessidade de que haja maior
e para a teoria pós-epistemológica como “reflexividade ética” (p. 111) na atuação
possibilidades interessantes de distensão das investigativa, evitando a suposição de neu-
formas de pensar a academia, a formação tralidade em relação aos valores e fraqueza
de educadores e a própria pesquisa. O autor em assumir posições irrefletidas na pesquisa.
defende uma posição teórica equivalente Concluem enfatizando a responsabilidade e
à crítica cultural, capaz de oferecer, em o compromisso ético e político da pesquisa
lugar da verdade, novas perspectivas do nos contextos em que se insere e a partir dos
pensamento teórico, leituras que repousam quais é desenvolvida. E reiteram, portanto,
sobre a “complexidade, incerteza e dúvida, a importância de que os valores sejam pen-
além de basear-se na reflexividade sobre a sados como elementos integrantes do rigor
própria produção e sobre suas pretensões de metodológico e não como alheios às inter-
conhecimento do social” (p. 97). venções na pesquisa.
No capítulo 4, Sharon Gewirtz e Alan Já no quinto capítulo, Gerwitz e Cribb
Cribb colocam como problemática central discutem as perspectivas plurais de justiça
a questão dos valores na pesquisa social e, social em sua relação com o campo da
nesse cenário, se propõem a discutir dois ti- sociologia. Para os autores, duas tendências
pos de preocupação inerentes à problemática ganham destaque em relação aos problemas
citada: a preocupação com o “rigor descri- que surgem na análise sociológica das noções
tivo e explicativo” (p. 101) e com o “rigor plurais de justiça: a primeira é a dificuldade
no tratamento de julgamentos valorativos e em tratar de modo adequado as tensões
políticos na pesquisa” (p. 101). Focados na que podem irromper dentre as diferentes
atuação do sociólogo e, mais detidamen- leituras de justiça social ou questões a ela
te, no campo da sociologia da educação, os relacionadas; a segunda, definida como
autores argumentam que a dificuldade em “crítica vinda de cima” (p. 124), incide na
lidar com tal problemática é decorrente das concepção da análise sociológica como algo
limitações em reconhecer que os dois tipos apartado ou superior à prática.
de preocupação são inseparáveis. Nesse sen- Tendo em vista o auxílio àqueles que
tido, os autores atentam para a necessidade operam dentro e em torno da escola na cria-
de que o pesquisador busque empregar rigor ção de políticas e práticas sociais mais jus-
tanto na descrição e explicação quanto nos tas, os autores defendem a necessidade de
valores, pois a falta do rigor na operação que sejam encontrados meios de tratamento
com tais elementos da pesquisa pode levar adequados para as tensões entre as variadas
à negligência ou à supervalorização de dado perspectivas e afirmações da justiça social.
aspecto. Os autores concluem enfatizando o respeito
Em oposição a Hammersley, para para com a prática e, ainda, colocam a rea-
quem “a pesquisa politicamente comprome- lização de tentativas concretas de promoção
tida é incompatível com o rigor acadêmico” da justiça social em contextos educacionais
(p. 105), Gerwitz e Cribb questionam até que como elemento importante para a sociologia
das políticas.

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Contribuições à pesquisa em políticas educacionais: diferentes olhares, diferentes questões, novas perspectivas

No capítulo 6, os autores fazem uma nais dos países em questão como diferentes
discussão acerca do percurso das pesquisas discursos em torno de tais reformas circulam
no campo das políticas educacionais. e, nestes, como o professor é diferentemente
Nesse sentido, enfocam a incorporação, posicionado e construído, uma vez que sen-
principalmente nas décadas de 1980 e tidos estão em jogo nessas tentativas de pro-
1990, de referenciais pós-estruturalistas por “soluções” educacionais.
nas análises das políticas educacionais. As reformas têm como escopo a rees-
Argumentam que pesquisas que utilizam tais truturação da escola. Isso incide sobre a re-
referenciais, no Brasil, ainda são tímidas, lação entre diretores e professores. No Reino
uma vez que determinadas pesquisas ainda Unido, os professores são liderados pelos
se concentram em referenciais pragmáticos e diretores, enquanto nos Estados Unidos, os
funcionalistas a fim de atenderem interesses professores são convocados a participar do
de certos grupos e atores sociais. Isso tende processo de decisão. Com isso, no caso do
a restringir a autonomia das pesquisas e Reino Unido, os professores são gerencia-
dos pesquisadores, pois são encomendadas dos como numa empresa e espera-se deles
a partir de determinados critérios pré- respostas satisfatórias ao emprego de deter-
selecionados. Concentram-se ainda em minados incentivos técnicos. Isso gera im-
apontar contribuições relevantes para os posições de procedimentos a fim de acelerar
estudos no campo das análises das políticas as decisões e contemplar as reformas. Nos
educacionais e em sinalizar desafios e Estados Unidos, os autores chamam atenção
armadilhas na utilização de tais referenciais. para o fato de que a tentativa de decisão par-
A pluralidade das determinações, por ticipativa posiciona os professores como ato-
exemplo, é uma contribuição significativa res das reformas e não como objetos delas.
para o campo das análises de política edu- As escolas assumem um papel participativo
cacional. A partir desse enfoque, a política que estimula o envolvimento local a fim de
deixa de ser determinada única e exclusiva- fortalecer a atuação do professor. Ademais,
mente pelo econômico e passa a ser conce- as reformas nos Estados Unidos embasam-se
bida como uma produção influenciada por em pesquisas acadêmicas que consideram os
diferentes aspectos. Ademais, a perspectiva professores como agentes de transformação.
pós-estruturalista, na concepção dos au- Já no Reino Unido, a presença de um signifi-
tores, aprofunda e expande o rompimento cativo gerenciamento importado do modelo
com perspectivas analíticas lineares e per- comercial provoca um abandono das pesqui-
mite investigações que ressaltam o caráter sas e a desconsideração de atores inscritos no
conflituoso e não determinista das políticas campo educacional. Com efeito, ainda que
educacionais. Por outro lado, autores que in- não sejam idealizadas como experiências
corporam essa perspectiva recebem críticas perfeitas, as reformas nos Estados Unidos
que destacam a relativização das temáticas promovem visões mais plurais ao considerar
abordadas, além da acusação de enfraqueci- os professores como agentes do processo e
mento da luta política. sujeitos que partilham do processo de rees-
No capítulo seguinte, Maguire e Ball truturação. No caso das reformas do Reino
debruçam-se sobre as reformas educacio- Unido, a presença marcante de avaliações
nais de duas realidades: a do Reino Unido performáticas contribui para a “mercantili-
e a dos Estados. Nesse sentido, apoiados em zação” na medida em que buscam mensurar
Foucault, investigam nas reformas educacio- a educação por meio de números a fim de

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estabelecer a responsabilização do professor realizados. Nesse sentido, valores e práticas


pelo possível fracasso. escolares são alterados para atender as exi-
Com isso, no Reino Unido, o papel gências do mercado. Gerwitz e Ball finali-
do professor é compreendido como sendo zam chamando a atenção para o fato de que,
um cumpridor de tarefas estabelecidas por apesar de a nova linguagem empresarial,
“gerentes do ensino” e um mero aplicador marcada pelas ideias de qualidade e exce-
de testes que visam quantificar a “produti- lência na educação, estar afastada dos ide-
vidade” de seu trabalho. A significativa arti- ais que marcam a perspectiva do “Estado de
culação entre competências e habilidades o Bem-Estar Social” no Reino Unido, a impos-
concebe como um trabalhador que executa sibilidade de sua implementação decorre da
e que não reflete sobre suas ações e inter- história de vida e posicionamento social que
venções na educação, um ator cada vez mais os diretores trazem consigo, e que viabiliza
individualizado e burocrata dentro do geren- a inclusão de determinados aspectos anterio-
ciamento da escola. res ao discurso do gerencialismo nessa nova
forma de gestão, marcando o caráter poroso
No oitavo capítulo, Sharon Gerwitz e
e fluido dos limites entre os diferentes dis-
Stephen Ball abordam a educação no Reino
cursos das políticas.
Unido e, particularmente, os discursos que
circulam no país acerca da “responsabili- No capítulo 9, Eneida Shiroma,
zação” (accountability) dos atores envolvi- Rosalba Garcia e Roselane Campos analisam
dos com o campo educacional. Com foco o programa “Todos pela Educação” (TPE)
no discurso de mercantilização da oferta da do governo federal, no Brasil, a partir dos re-
educação, os autores analisam os sentidos ferenciais propostos por Ball e Bowe acerca
e valores que emergem, em decorrência de do “ciclo contínuo de políticas”. Além des-
tal discurso, nas escolas secundárias. Nesse ses autores, dialogam também com Fairclou-
sentido, colocam como preocupação a im- gh na medida em que investigam discursos
portância de que sejam discutidas as concep- dessa política educacional por intermédio da
ções de mercado que foram introduzidas no seleção de documentos alusivos ao progra-
campo educacional e, por sua vez, o compro- ma. A intenção é propor novos referenciais
meteram com procedimentos de gestão em- analíticos e utilizar tais referenciais em inves-
presarial, levando a mudanças significativas tigações de políticas educacionais nacionais.
no pensamento sobre a gestão escolar, com a Ao pesquisar o programa TPE, são
passagem do modelo de “bem-estar social” ressaltadas concepções que circulam em
para o “novo gerencialismo”. diferentes contextos sociais e interferem na
Para isso, os autores abordam o caso produção das políticas educacionais. Tais
de uma escola em especial e, mais detida- concepções partem de diferentes atores so-
mente, analisam entrevistas realizadas com ciais que disputam significados em torno da
diretores escolares tendo em vista mudan- hegemonização da política. Nesse sentido, a
ça dos discursos da gestão. Argumentam, a análise é realizada considerando o proces-
partir da análise do material empírico, que so da produção da política educacional em
a responsabilização implica a adoção de questão como marcada por tais disputas e
instrumentos de mercado que transformam como um espaço constante de tensões.
as escolas em empresas, em que alunos são O discurso do “Todos pela Educação”
recrutados a fim de justificar investimentos defende, então, a educação como inclusão

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Contribuições à pesquisa em políticas educacionais: diferentes olhares, diferentes questões, novas perspectivas

social. Isso implica difundir ideias e prin- precárias, inscrito num amplo campo discur-
cípios que convençam diferentes atores da sivo em que sentidos são constantemente ne-
necessidade de mudanças na educação. Tais gociados. A proposta, portanto, é ampliar a
mudanças associadas à necessidade de união compreensão e a análise acerca das negocia-
entre diferentes atores em torno da vigilância ções que ocorrem nas diferentes produções
constante de índices regulatórios possibilita- de política, introduzindo a noção de hegemo-
dos por meio de avaliações. nia defendida por autores da Teoria do Dis-
Finalizando a coletânea, Alice curso, sobretudo, Ernesto Laclau e Chantal
Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo Mouffe.
priorizam, no último capítulo, a discussão Com efeito, o livro possibilita, a par-
em torno das contribuições de Ball para tir de diferentes investigações, uma visão
o campo do currículo, especialmente ampla e multifacetada de questões poten-
aquelas que combatem a ideia de estruturas tes ao campo da investigação das políticas
sociais fechadas e relativizam enfoques educacionais e de currículo. Convida-nos a
deterministas acerca das políticas. Nesse pensar a análise no campo a partir de apor-
sentido, provocam o leitor a avançar tes teórico-metodológicos diferenciados, o
em suas discussões na medida em que que contribui para a difusão da riqueza de
levantam questões alusivas a enfoques enfoques das pesquisas. As diferentes teorias
de diferentes pesquisas que utilizam os e metodologias, derivadas de trabalhos de-
referenciais analíticos sugeridos pelo autor senvolvidos sobre problemáticas nacionais
em diálogos com outras proposições teórico- e internacionais, mobilizam e incentivam a
metodológicas, sobretudo aquelas associadas pesquisa nos mais diferentes recortes, temas
a discussões do pós-colonialismo. e escalas de análise. O estabelecimento do
diálogo com a literatura internacional loca-
Assim sendo, as autoras analisam es-
liza a obra em um cenário em que tais dis-
sas questões a partir das produções de teses cussões e interações se fazem cada vez mais
e dissertações do grupo de pesquisa “Cur- necessárias.
rículo: sujeitos, conhecimento e cultura”. A
preocupação é compreender, pelos diferentes A pluralidade de posições permitidas
enfoques dos pesquisadores, como o aporte ao longo do livro realça a preocupação dos
analítico sugerido por Ball permite descons- organizadores e autores em evitar certa po-
truir interpretações lineares e estadocên- larização em termos de concepção de mundo
tricas da política. Além disso, é destacada e de política educacional. Essa miríade de
como a utilização desse referencial ajuda a enfoques, problemas e temas incitam o leitor
tornar mais complexa a investigação da pro- aos desafios inscritos no exercício constante
dução das políticas em diferentes contextos. de fazer pesquisa. A partir destes diferentes
Por outro lado, a intenção é, igualmente, olhares, suscita discussões que procuram
suscitar novas abordagens que introduzam deixar em relevo as transformações nas polí-
outras leituras para além da abordagem do ticas educacionais em espaços plurais, igual-
“ciclo de políticas”, principalmente as rela- mente influenciados por diferentes esferas
cionadas à Teoria do Discurso. Reiteram a e atores sociais. A atenção e a preocupação
necessidade de aportes que permitam operar voltadas à investigação de múltiplos contex-
análises comprometidas com perspectivas tos salientam a não verticalização das polí-
não-estruturadas e que proponham a política ticas e o cuidado da não determinação nas
como discurso, com fixações contingentes e pesquisas. Isso, portanto, tende a promover

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enfoques que considerem os espaços, atores


e ações analisados de modo mais complexo,
envolvendo atentar para outros aspectos que
não só o econômico.
A preocupação em tensionar questões
relativas às pesquisas em política educacio-
nal e, também, em políticas de currículos
matiza o cuidado da organização da obra em
favorecer a atenuação das barreiras e limites
entre os campos especializados da pesquisa.
Além disso, a organização de um conjunto
de trabalhos, cujo repertório de discussões
ressalta não só questões e leituras diferentes,
mas também conflitantes, beneficia as inves-
tigações com novas possibilidades de maior
expansão e difusão da produção de conheci-
mento entre os diferentes campos, além de
auxiliar no delineamento do atual status do
cenário de pesquisa em política educacional.
O fato de a obra possuir trabalhos vol-
tados a pesquisas específicas, mas também
a discussões genéricas, voltadas ao ques-
tionamento sobre os rumos da pesquisa em
política educacional e em currículo, reitera
o lugar que este trabalho passa a ocupar no
cenário das reflexões sobre a pesquisa. Nesse
sentido, além de suas contribuições se cons-
tituírem em diferentes pontes, que permitem
o acesso a diferentes regiões do pensamento
na pesquisa em educação, a obra se consoli-
da em um trabalho de referência, tanto para
a orientação de novos pesquisadores em seus
rumos investigativos, como para aqueles que
já possuem experiência e querem acessar
produções de relevância no campo em foco.

Enviado em: 24/06/2012


Aceito em: 21/11/2012

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