Lisbon revisited
O poema "Lisbon Revisited" de Álvaro de Campos tem o título em inglês. Ele viveu alguns anos
da infância na África do Sul e lá desenvolveu o seu inglês, língua na qual produziu muitas obras,
desde poesia até ensaios críticos.
A escolha de uma língua estrangeira para o título acentua o distanciamento que o poeta sente
face à sua cidade natal, como se Álvaro de Campos estivesse a observar Lisboa através de uma
lente estrangeira. O poeta revisita Lisboa após anos fora, e reflete sobre a passagem do tempo.
Faz uma introspeção sobre a “nova Lisboa” moldada pelo modernismo, moldada pelas
“estéticas” pela “moral” e pela “metafísica” referidas no poema.
Versos como o primeiro “Não quero nada” refletem a renúncia do sujeito poético a tudo que
representa a civilização moderna, aliás, volta a repetir “Já disse que não quero nada” no
segundo verso, de forma a enfatizar a ideia. O sujeito poético não quer seguir as expectativas
sociais (antítese, o “eu verdadeiro” e o eu que queriam que ele fosse) "Queriam-me casado,
fútil, quotidiano e tributável?". O poeta enuncia a evolução da ciência e o avanço de um
modernismo exageradamente futurista. Com toda esta “alergia” que observa, tenta encontrar
razões que justifiquem estes factos questionando-se “Que mal fiz eu aos deuses todos?”.
O sujeito poético recusa-se a encarar a resposta à pergunta retórica “Se têm a verdade,
guardem-na!”. O poeta expressa-se através de palavras e pensamentos expressos com tanta
convicção que nos faz parecer que o poeta é quase consciente do seu estado de desespero e
loucura “Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo o direito a sê-lo,
ouviram?”.
A passagem em que o eu poético se refere ao céu e ao Tejo como “verdades vazias” e
“pequenas verdades” revela a insignificância dos elementos externos, por mais belos que
sejam. Mesmo essas paisagens, que deveriam fazê-lo sentir nostálgico, não parecem ter efeito
sobre ele; ele está isolado no seu próprio vazio interior.
Finalmente o poeta deseja “estar sozinho”, deseja a solidão. A menção ao "Abismo e o
Silêncio" refletem a aceitação da sua morte inevitável, onde a paz talvez finalmente se torne
possível.
Álvaro de Campos, através deste poema, encarna o espírito de desilusão, cansaço e revolta do
homem moderno, que, mesmo rodeado de inovações e de progresso, sente-se só,
incompreendido e vazio de significado.
Não: não quero nada
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Adulto- consiencia- pensa- infeliz
Craiança- inconsciência- não se pena- feliz
Nosatlgia- memoria sensorial
leitmotiv