Mestres Elaboração e Organização Pedagógica
da paixão
Maria José Nóbrega
e Samir Thomaz
Aprendendo com
quem ama o que faz
Domingos
Pellegrini
SUMÁRIO
Carta ao Professor, 3
Propostas de atividades 1, 7
Propostas de atividades 2, 16
Aprofundamento, 25
Sugestões de referências complementares, 37
Bibliografia comentada, 44
©©Freepik
3
CARTA AO
P R O F E S S O R
Querida professora, querido professor,
Neste manual, oferecemos a você muitas sugestões
para apoiá-lo em seu trabalho na mediação de leitura de
Mestres da paixão: aprendendo com quem ama o que
faz. A finalidade primordial destas propostas é estabelecer
um intenso diálogo com a obra, visando a compreensão de
seu funcionamento e a interpretação de seus efeitos.
Em conformidade com a BNCC – Base Nacional
Comum Curricular, a organização deste manual permite
diferentes níveis de aprofundamento em relação às
competências e habilidades estabelecidas pelo documento,
bem como a articulação com diferentes áreas e seus
componentes curriculares. Em função do tempo didático
disponível e das possibilidades de planejamento possíveis
em cada unidade escolar, é possível elaborar seu
planejamento e adicionar seu tempero didático de modo a
construir o roteiro mais adequado às necessidades de seus
estudantes.
Boa leitura e sucesso em seu trabalho!
4
ÁRVORES E TEMPO DE LEITURA
MARIA JOSÉ NÓBREGA
O que é, o que é,
Uma árvore bem frondosa
Doze galhos, simplesmente
Cada galho, trinta frutas
Com vinte e quatro sementes?1
Enigmas e adivinhas convidam à decifração: “trouxeste a chave?”.
Encaremos o desafio: trata-se de uma árvore bem frondosa, que tem doze
galhos, que têm trinta frutas, que têm vinte e quatro sementes: cada verso introduz
uma nova informação que se encaixa na anterior.
Quantos galhos tem a árvore frondosa? Quantas frutas tem cada galho?
Quantas sementes tem cada fruta? A resposta a cada uma dessas questões
não revela o enigma. Se for familiarizado com charadas, o leitor sabe que nem
sempre uma árvore é uma árvore, um galho é um galho, uma fruta é uma fruta,
uma semente é uma semente… Traiçoeira, a árvore frondosa agita seus galhos,
entorpece-nos com o aroma das frutas, intriga-nos com as possibilidades ocultas
nas sementes.
O que é, o que é?
Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é deixar escapar o sentido que se
insinua nas ramagens, mas que não está ali.
Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao mesmo tempo que se alonga num
percurso vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes na terra. Cíclica, despe-se
das folhas, abre-se em flores, que escondem frutos, que protegem sementes, que
ocultam coisas futuras.
“Decifra-me ou te devoro.”
Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que se desdobram em meses, que se
aceleram em dias, que escorrem em horas.
Alegórica árvore do tempo…
A adivinha que lemos, como todo e qualquer texto, inscreve-se,
necessariamente, em um gênero socialmente construído e tem, portanto, uma
relação com a exterioridade que determina as leituras possíveis. O espaço da
interpretação é regulado tanto pela organização do próprio texto quanto pela
memória interdiscursiva, que é social, histórica e cultural. Em lugar de pensar que
a cada texto corresponde uma única leitura, é preferível pensar que há tensão entre
uma leitura unívoca e outra dialógica.
5
Um texto sempre se relaciona com outros produzidos antes ou depois dele:
não há como ler fora de uma perspectiva interdiscursiva.
Retornemos à sombra da frondosa árvore — a árvore do tempo — e
contemplemos outras árvores:
Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores
formosas de ver e boas de comer, e a árvore da vida no meio do
jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. […] E Deus
deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as
árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de
morrer”.2
Ah, essas árvores e esses frutos, o desejo de conhecer, tão caro ao ser
humano…
Há o tempo das escrituras e o tempo da memória, e a leitura está no meio, no
intervalo, no diálogo. Prática enraizada na experiência humana com a linguagem, a
leitura é uma arte a ser compartilhada.
A compreensão de um texto resulta do resgate de muitos outros discursos
por meio da memória. É preciso que os acontecimentos ou os saberes saiam do
limbo e interajam com as palavras. Mas a memória não funciona como o disco
rígido de um computador em que se salvam arquivos; é um espaço movediço,
cheio de conflitos e deslocamentos.
Empregar estratégias de leitura e descobrir quais são as mais adequadas
para uma determinada situação constituem um processo que, inicialmente, se
produz como atividade externa. Depois, no plano das relações interpessoais e,
progressivamente, como resultado de uma série de experiências, se transforma
em um processo interno.
Somente com uma rica convivência com objetos culturais — em ações
socioculturalmente determinadas e abertas à multiplicidade dos modos de ler,
presentes nas diversas situações comunicativas — é que a leitura se converte em
uma experiência significativa para os alunos. Porque ser leitor é inscrever-se
em uma comunidade de leitores que discute os textos lidos, troca impressões e
apresenta sugestões para novas leituras.
Trilhar novas veredas é o desafio; transformar a escola numa comunidade de
leitores é o horizonte que vislumbramos.
Depende de nós.
__________
1
Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática.
2
Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.
6
I A S LO M P
©©VA N
Domingos Pellegrini nasceu em 1949 em Londrina, Para-
ná, onde reside. Estudou Letras, exerceu o jornalismo e até
DOMINGOS PELLEGRINI, hoje escreve para o jornal local. Mas sua paixão é a litera-
tura, tendo produzido vasta obra que inclui contos, poesias
O AUTOR DE MESTRES DA e romances para o público adulto e infantojuvenil. Com seu
primeiro livro de contos, O Homem Vermelho, ganhou o Jabuti
PAIXÃO: APRENDENDO COM de 1977, prêmio que voltou a receber em 2001 com o romance
O caso da Chacará Chão.
QUEM AMA O QUE FAZ
SOBRE A OBRA
Na obra Mestres da paixão: aprendendo com quem ama o que faz,
o autor faz um relato autobiográfico de sua vida escolar até a profis-
©©Domingos Pellegrini
sionalização como escritor. Critica a escola tradicional, descompro-
missada com a vida, mas realça o trabalho daqueles mestres que se
envolveram de modo apaixonado no exercício do magistério e que o
ajudaram a compreender o mundo e a si mesmo. Afinal, comenta, de
que vale decorar palavras ocas se soam falsas diante da realidade?
Ainda menino, fisgado pela leitura, reconhecia o valor das palavras.
Por exemplo, a primeira professora, que soube usar a palavra que elo-
gia, estimulou sua autoestima. Outro professor o marcou pela pala-
vra do desafio, espicaçando seu orgulho, e ainda houve aquela que o
aconselhou a cultivar seu dom, até então indefinido, como provável
QUADRO-SÍNTESE declamador, ator ou escritor. Sem contar o bibliotecário que o ajudava
a garimpar obras para serem lidas com entusiasmo.
Gênero: Memórias
O encontro com essas e tantas outras pessoas, em circunstân-
Áreas envolvidas: Língua
cias favoráveis ou adversas, reforçou seu compromisso com as pala-
Portuguesa, Filosofia, História,
vras, as mesmas que o levariam às notícias, e daí ao jornalismo, além
Sociologia, Arte.
da literatura, que ele abraçou não só como leitor, mas também como
Competências Gerais da BNCC:
criador. Sua experiência de vida – muitas vezes tumultuada – o con-
2. Pensamento científico, crítico venceu de que a inteligência é insuficiente se não vier acompanhada
e criativo; 3. Repertório cultural; de sensibilidade, emoção e desejo. De modo que, por amor às pala-
4. Comunicação; 6. Trabalho e vras, recusou-se a optar “pelas conveniências, pelas vantagens, por
projeto de vida; 7. Argumentação; carreira ou salários melhores” e escolheu “o caminho do coração”.
9. Empatia e cooperação.
Temas: Projetos de vida;
Inquietações das Juventudes;
O jovem no mundo do trabalho;
A vulnerabilidade dos jovens;
Protagonismo juvenil; Cidadania.
7
PROP O S TA S D E
ATIVIDADES
1 FIOS E LINHAS
MARIA JOSÉ NÓBREGA
Conta-se que Teseu, o maior herói ateniense, precisou, certa feita,
enfrentar um monstro que tinha o corpo de homem, a cabeça de touro e se
alimentava de carne humana fornecida, a cada vez, com o sacrifício de sete
moças e de sete rapazes da cidade de Atenas: era o terrível Minotauro.
Não era só a bestialidade do monstro que investia a tarefa de enorme
perigo, mas a dificuldade do percurso. O monstro vivia encerrado em um
labirinto, onde os caminhos se entrecruzavam, sem que, para alguns,
houvesse saída. Muitos antes de Teseu haviam tentado enfrentar o desafio,
mas foram derrotados pela fera ou, quem sabe, encurralados nas armadilhas
do labirinto.
Foi Ariadne, uma jovem enamorada, que, temendo pela vida do amado,
arquitetou, com a ajuda de Dédalo, um plano para demarcar o percurso,
possibilitando que Teseu atingisse o centro, enfrentasse o Minotauro e
voltasse seguro pelo mesmo caminho. Ela entregou ao herói um novelo que
continha um fio mágico, um fio que nunca acabava, sob medida para Teseu
desenrolar suas aventuras e retornar vitorioso e em segurança pela rota
assinalada. Um fio que desenrolava a história e permitia ao narrador retornar
para contá-la.
Teseu, não se sabe bem por que, vai abandonar Ariadne e viver outras
histórias. Tristes, mas necessárias rupturas.
Começamos esta conversa com um mito que fala de fios que costuram
amores e aventuras, que se entrelaçam e tecem os diferentes destinos. Mas
fios e linhas também enredam textos que se revelam nas diferentes leituras
de cada leitor.
Um texto traz sempre um convite: “Decifra-me!”. Um leitor é sempre
um desbravador de sentidos. As leituras, como os caminhos, podem ser, às
vezes, difíceis. Mas tudo fica mais fácil se outro leitor desenrola o fio que
costura o que se vai compreendendo a cada linha, revelando, como em um
bordado, imagens que antes pareciam ocultas.
8
O fio que desliza nos dedos de Teseu é de Ariadne, mas o
caminho não é dela, é dele. O percurso do herói-leitor não é o mesmo
de quem estabelece com ele os processos de mediação com o texto, de
quem desata os fios da compreensão e da interpretação dos labirintos
da linguagem escrita. As aventuras são próprias daquele que caminha e
retorna com histórias para contar.
O jovem leitor já construiu autonomia para decifrar as letras: não
precisa mais de fios que lhe revelem o que elas representam. Mas,
ingressando pelas veredas do mundo da escrita, precisará de outros tipos
de fios: há trilhas simples que seu grau de autonomia leitora alcança, mas
há outras mais complexas, prontas a desafiá-lo com linhas emaranhadas:
não há aventura se não há desafios.
Não se forma um leitor se não o encorajamos a ampliar seus
horizontes, porque há mais histórias... como a de Aracne, por exemplo,
tecelã que urdia suas narrativas em tapeçarias que eram tão lindas que
acabaram por despertar a inveja da deusa Minerva, que a transformou em
aranha, condenando-a a tecer por toda a eternidade. Teias de histórias que
se entrelaçam no território das palavras. Trouxeste o fio? Ou a chave?
Mas talvez quiséssemos saber mais a respeito de como aquele
novelo chegou às mãos amorosas da jovem Ariadne. Ela contou com a
engenhosa ajuda de Dédalo, criativo arquiteto, que por ter sido cúmplice
do amor de Ariadne por Teseu, despertou a ira dos Deuses e acabou
aprisionado no labirinto com seu filho Ícaro; mas, graças à sua enorme
capacidade inventiva, confeccionou enormes pares de asas e acabou
escapando.
Dédalo e Ícaro são personagens de outra bela história...
Como eles, leitores são espíritos livres que, tão logo podem,
soltam os fios e voam. Dependem apenas das mãos amorosas de seus
professores que, como Ariadne, encorajam e possibilitam o ingresso nos
labirintos da escrita.
9
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Nesta seção, os professores de Língua Portuguesa encontram uma
sequência de atividades cuja finalidade é permitir a formação de um sujeito
leitor, responsável e crítico, capaz de construir sentidos de modo autônomo
e de argumentar a respeito de sua recepção da obra, constituindo-se como
uma personalidade sensível e inteligente aberta aos outros e ao mundo. Ao
partir da recepção do aluno-leitor, de sua leitura subjetiva, procura-se ampliar
suas competências com a aquisição de saberes sobre os textos e sobre si;
ao compartilhar essa experiência, em uma leitura colaborativa, procura-se
submeter o texto do leitor à arbitragem dos pares e à autoridade do texto.
As atividades de pré-leitura mobilizam a análise
global do texto (a partir do título, da capa, dos elementos
paratextuais, das ilustrações — se presentes), estimulando
pré-leitura
predições bem como a mobilização dos conhecimentos
prévios necessários ao entendimento da obra.
1. Nessa fase, você deve aproveitar para
acostumar os alunos ao manuseio
do livro: identificar o autor e a editora,
verificar se o título é sugestivo, analisar
a página de rosto, consultar o sumário,
ler a quarta capa, observar as imagens e
outros aspectos gráficos do livro (fonte,
tipografia e tamanho). 2. Apresente a obra à classe. Informe
aos alunos que eles vão ler Mestres
da paixão, de Domingos Pellegrini, um
livro de memórias. Pergunte se já leram
algum livro desse autor, se o conhecem
e se sabem alguma coisa sobre o
assunto do livro. Indague se já leram
algum livro de memórias. Questione: O
que se conta em um livro desse gênero?
Qual é o valor literário de um livro de
lembranças? Será que o autor conta
tudo como realmente aconteceu?
10
3. Analise com os estudantes a capa do
livro. Convide-os a observar a imagem
que ela traz. Conseguem atribuir algum
sentido? Como essa imagem se articula
com o título? O que ela sugere sobre a
narrativa que irão ler? Que elementos
você consegue identificar? Que pistas
o título Mestres da paixão: aprendendo
com quem ama o que faz fornece sobre
4. Chame a atenção dos estudantes para a
a obra? A que mestres o autor estaria se
dedicatória do livro. Peça que observem
referindo? E por que paixão? Qual ideia
para quem o autor dedica a história.
está sendo sugerida pela combinação
Que sentimentos o autor revela? Por
do título com o subtítulo?
fim, pergunte: Por que a maioria dos
O título do livro pode provocar de escritores, ao escrever um livro, o dedica
início certo estranhamento, já que, na a alguém?
visão tradicional de escola, o mestre
é aquele que estimula a inteligência 5. Apresente aos alunos o sumário do livro
(e não a paixão) dos seus discípulos. e, com base nos nomes dos capítulos,
Pergunte-lhes, então, o que esse título estimule-os a criar hipóteses sobre o
sugere, cujo enfoque é a paixão. Discuta que irão ler. Pergunte se algum título
com eles os vários sentidos da palavra lhes chamou a atenção e por quê.
paixão, que pode se referir à paixão
amorosa, mas também a qualquer 6. Explique aos alunos que o texto que
sentimento forte, seja ódio, desprezo, aparece na parte detrás do livro é
ciúme. Com base nesse primeiro contato chamado de texto de quarta capa.
com a obra, organize com os alunos uma Com base nas informações contidas
lista das impressões e das sensações nesse texto, estimule os estudantes a
que foram suscitadas pelos elementos criar hipóteses a respeito do conteúdo
da capa. da obra.
11
As atividades de leitura implicam a compreensão
do conteúdo temático com a seleção das informações
relevantes para a construção de uma síntese e para a
leitura
checagem das predições feitas antes da leitura, para
confirmá-las, reformulá-las ou refutá-las.
1. Estimule os estudantes a verificar se pelos alunos, ou pela matéria que
algumas das possibilidades levantadas ensinavam, ou pelas três coisas juntas.
por eles ao tomar contato com o Resolvi então escrever este livro,
título da obra e com a capa do livro com a cabeça e com o coração.”
estão sendo confirmadas na leitura. (p. 14-15)
Acompanhe a leitura deles fazendo Pergunte: Esse trecho aguçou
sondagens esporádicas sobre o que a sua curiosidade? Por quê? Que
estão achando das memórias do autor, expectativas ele criou em você?
se a obra lhes agrada, se a leitura
é fácil ou difícil. Faça comentários 3. Solicite aos alunos que anotem as
estratégicos levando-os a intuir como o palavras e as expressões que eles não
autor constrói dinâmicas intertextuais. conhecem, pesquisando no dicionário
Elas fazem referência a aspectos ou deduzindo o significado pelo
socioculturais, históricos, linguísticos, próprio contexto em que aparecem.
sociológicos, filosóficos e científicos Peça que registrem os nomes de
sobre a época em que se passam poetas, contistas e romancistas que
as lembranças relatadas. Quando os o autor menciona como aqueles
alunos já tiverem passado mais ou que fizeram parte de sua formação,
menos da metade da leitura, pergunte: por exemplo, T. S. Eliot, Walt Whitman,
Em que momento da leitura o título do Charles Baudelaire, Paul Verlaine,
livro, Mestres da paixão, começou a Edgar Allan Poe, Carlos Drummond de
fazer sentido para você? Depois disso, a Andrade e Manuel Bandeira. Você pode
leitura ficou mais interessante? Por quê? solicitar que, em duplas, façam uma
rápida pesquisa sobre quem foram
2. Leve os alunos a perceber como, logo esses escritores e pedir que digam
no início da obra, o autor já fornece de que maneira teriam influenciado o
algumas pistas sobre quais temas adolescente Domingos Pellegrini.
conduzirão suas lembranças: Outra possibilidade é solicitar a
“[...] E fui vendo que todos os eles que, à medida que leem, anotem
professores vivos na memória eram os nomes daqueles que o autor elege
apaixonados: ou pela educação, ou como os seus “mestres da paixão”.
12
No final, os alunos terão uma lista e 5. Comente com os estudantes que há
poderão escolher aqueles que mais professores que conquistam a nossa
admiraram. A revelação do mestre admiração pelo bom humor, pelo
escolhido deve ser feita no final da conhecimento, pelo raciocínio rápido,
leitura, com a turma reunida, para por tornar a aula agradável, por nos
que todos revelem o seu “mestre” e fazer gostar de uma matéria da qual
justifiquem a escolha. não gostávamos e que até odiávamos.
Ou, ainda, você pode pedir aos Questione os alunos: O que faz você
estudantes que anotem os aprendizados admirar um professor? Por quê? Amplie
de que o autor vai se lembrando, o questionamento indagando: Vocês
assim como os responsáveis pelos já passaram a gostar de uma matéria
ensinamentos, para, no final, dizerem escolar apenas por causa do professor ou
qual foi o aprendizado que fez mais professora? Foi um gosto passageiro
sentido para eles e por quê. ou que veio para ficar?
4. Peça aos alunos que digam, ao ler 6. Há quem afirme que superamos nossos
limites quando somos elogiados
as primeiras páginas do livro, se eles
ou quando alguém que admiramos
têm lembranças semelhantes às dos
confia em nosso potencial e espera
primeiros anos da escola do autor. Por
grandes coisas de nós. Questione os
exemplo, o nome e o rosto da primeira
alunos: Vocês acreditam nisso? Já
professora; o aspecto das salas de aula;
se superaram em alguma atividade
se recordam de algum cheiro, algum
para agradar ou para corresponder à
timbre de voz, algum sentimento ou
confiança de alguém que admiram?
sensação. Indague: Em que aspectos
suas recordações são semelhantes 7. Chame a atenção dos alunos para o
às do autor? Em que aspectos são fato de o escritor ter descoberto muito
diferentes? cedo sua vocação para escritor e como,
Comente com eles que os primeiros já na adolescência, fazia as coisas que
anos da escola são um tempo um escritor normalmente faz. Muitos
que costuma marcar as pessoas chamam a vocação de dom. Indague
para o resto da vida, é uma fase aos alunos: Você possui algum dom? De
de sentimentos intensos, de muita onde ele vem? Por que esse dom o teria
diversão, fantasia e imaginação. escolhido? Ou a escolha foi sua? Você
Mas que, por vezes, também envolve acredita que ele nasceu com você? Mas...
sofrimento e angústia. Pergunte-lhes, o dom basta? O que é preciso fazer
por fim: Que marcas os primeiros anos quando se percebe que tem um dom?
escolares deixaram em você? Como aprimorá-lo? Como cultivá-lo?
13
As atividades de pós-leitura promovem a reflexão sobre o conteúdo
temático ou expressivo da obra a partir de outras referências que permitem
identificar diferentes perspectivas possíveis para o tema, estimulando uma
pós-leitura
resposta crítica que pode envolver vários níveis de complexidade ou gerar
novas perguntas, que enriquecem e transformam a experiência leitora.
1. Em uma roda de conversa, discuta com e "Navio negreiro", de Castro Alves, os
os alunos a respeito da experiência de mesmos poemas que o aluno Domingos
leitura que tiveram. Estimule-os a falar, Pellegrini, para espanto de sua professora,
perguntando: O que sobressai na trajetória declamava em sala de aula. Oriente-os a se
de Domingos Pellegrini? Alguém se informar sobre o que é um jogral e como
identificou com os posicionamentos do fazer para que o jogral deles fique bacana.
autor na juventude? E com sua postura Dê a eles a opção de declamarem em
na idade madura? Instigue-os a justificar duplas. Ou será que alguém declamaria
por que se identificaram com determinada sozinho, como fez o autor?
fase da vida do autor, levando-os a Você pode também pedir que
analisar seus diferentes aspectos, como escolham individualmente um poema
os éticos, os sociais, os políticos, entre de que gostam para declamar para os
outros. Quem pode dizer, em poucas colegas. De preferência, não tão extenso
palavras, qual é, na verdade, o tema como "Vozes d´África" e "Navio negreiro",
principal do livro? Quais são os temas a fim de que haja tempo para todos os
secundários? Quais são as conclusões alunos declamarem seu poema.
que podemos tirar do final da história?
5. Peça aos alunos que atentem para este
2. Domingos Pellegrini revela ter morado em trecho, em que o autor fala ao telefone,
alguns lugares diferentes quando criança. anonimamente, muitos anos depois,
Questione os alunos, de acordo com as com o professor Joaquim:
experiências de moradia deles: Quais “[...] Perguntou qual era a dúvida,
são as vantagens e as desvantagens de falei que não era uma dúvida, era uma
morar em vários lugares? E quais são os certeza, ele perguntou que certeza,
pontos positivos e negativos de morar em falei que a certeza é que há os
apenas um lugar? apaixonados de impulso e rompantes,
febres e entregas, e há os apaixonados
3. Na página 14, o autor opõe constantes, aqueles que levam adiante
“performance mental” e “personalidade”. o amor pelo que fazem, sem grandes
Peça aos alunos que releiam essa gestos, sem discursos, só fazendo o
página e tentem descobrir que sentido que é preciso fazer, sempre, para quem
o autor quis dar a essa oposição. quiser usufruir.” (p. 91-92)
Pergunte aos alunos: Com qual dos
4. Solicite aos alunos que criem um dois perfis de apaixonados vocês se
jogral para declamar "Vozes d´África" identificam? Por quê?
14
6. Chame a atenção dos alunos para este 10. Abra uma roda de conversa com a
trecho: turma para debater o episódio da
“As aulas particulares eram na casa pichação do instituto Filadélfia pelo
do professor, que era perto do cinema, o autor e seus amigos. Antes, relembre a
dever vizinho do prazer.” (p. 51) eles este trecho:
Questione os alunos: Como vocês “Logo me enfiei no diretório
dividem o prazer e o dever em seu acadêmico, ponto de encontro dos
dia a dia? Você consegue fazer um politizados e também logo resolvi
estimular o outro? Ou não têm controle pichar o pátio. Na noite de pichação,
entusiasmados, Carlos e eu fomos
sobre eles? Peça que justifiquem suas
pichando também as paredes dos
respostas.
corredores, e estávamos concentrados
7. Comente com os alunos que o autor nisso quando ouvimos alguém
perguntar ei, que é isso?” (p. 160)
tomou várias decisões importantes em
Questione: O que pensam a respeito
sua vida, seguindo sempre o que diz o
desse ato? Quais são os direitos em
coração. Pergunte a eles se já tomaram
jogo? A liberdade de protestar tem
decisões importantes obedecendo
limites? E a liberdade de expressão, onde
ao coração, ou seja, guiando-se pelo
fica nesse caso? Que paralelos esse
emocional, em vez de pelo racional.
caso estabelece com acontecimentos
Acham que foi a decisão mais acertada?
recentes em nosso país?
Ouvir o coração é um bom critério? E a
Peça aos alunos que opinem e
razão, onde fica nessa história? digam que crítica velada, em forma
de ironia, há na passagem. Leve-os a
8. Pergunte aos alunos, informalmente,
perceber como Domingos Pellegrini
com base na teoria geométrica de
usa de muita ironia para criticar os
Domingos Pellegrini, se a vida deles é métodos considerados revolucionários
feita mais de retas ou de curvas. Peça dos estudantes de seu tempo, buscando
que deem exemplos do que isso significa mostrar as contradições entre o ideal
na prática. Por exemplo: A educação que e o real, o imaginário revolucionário e
recebem é reta ou circular? o cotidiano concreto das pessoas.
Peça que observem como, no final do
9. Indague dos alunos: Que críticas livro, as lembranças do autor enfatizam
Domingos Pellegrini faz à educação seu amadurecimento. Indague aos
tradicional? Que argumentos ele usa para alunos: Que mensagem vocês acham
embasar suas ideias? E você, como se que o Pellegrini quis passar com
posiciona em relação a esse assunto? suas lembranças? Depois, peça que
Peça aos estudantes que apresentem as se posicionem criticamente: Vocês
suas justificativas também. concordam com ela? Por quê?
15
11. Solicite a um aluno ou uma aluna que a esse momento reflexivo? O que o
leia para os colegas as linhas finais do motivaria? Estaria restrito apenas ao
capítulo “Caminhada noturna”. Peça plano abstrato, do pensamento, ou seria
que atentem para a densidade reflexiva fruto de experiências concretas? Temos
dessa passagem do livro. Chame a algum controle sobre isso?
atenção para as mudanças que se
operam na visão de mundo do autor. 12. Pergunte aos estudantes se há uma
Quais são elas? O que está acontecendo biblioteca pública em sua cidade ou
na mente do autor naquele momento? seu bairro e se eles a frequentam ou
Por que essas reflexões tomaram a já a frequentaram. Indague: Como foi
sua mente? – não esquecendo que a experiência? Sentiram-se à vontade?
elas foram escritas muito tempo Que livros consultaram ou tomaram de
depois de os fatos terem acontecido. empréstimo? Aproveite para ressaltar
E vocês, já foram assaltados por a necessidade de devolver os livros
pensamentos parecidos com os que o emprestados, para que outros leitores
autor experimentou naquele momento, possam usufruir das obras. Por fim,
em que uma forma de entender o pergunte: E na sua escola, existe uma
mundo deixa de fazer sentido e é biblioteca? É um lugar agradável? Por
substituída por outra? A respeito de quê? O que você achou do acervo? Há
qual contexto: familiar, político, escolar, alguém para cuidar desse espaço? O
profissional, das amizades, das relações que poderia ser feito para melhorá-lo?
amorosas...? Que nome vocês dariam
16
PROP O S TA S D E
ATIVIDADES
2
POR MAIS “VERDADES DE MENTIRA”
NA SALA DE AULA
SAMIR THOMAZ
Em uma pequena e aclamada obra chamada A literatura em perigo,
o ensaísta e historiador búlgaro Tzvetan Todorov (1939-2017), um
apaixonado por literatura desde criança – seus pais eram bibliotecários –,
chama a atenção para o fato de que, em nossa época, a literatura corre o
risco de não mais participar da formação cultural e humana das pessoas.
Todorov se refere, de maneira crítica, à forma como a literatura é
ensinada nas escolas já há algumas décadas e ainda nos dias de hoje,
com base no formalismo-estruturalismo, que leva às conhecidas e muitas
vezes aborrecidas aulas em que os alunos são obrigados a memorizar a
periodização das escolas literárias e as teorizações sobre elas, ficando o
texto propriamente, ou seja, a literatura, relegada a segundo plano.
Nascido em uma Bulgária nos tempos do domínio soviético sobre
as repúblicas do leste europeu, se por um lado o jovem Todorov tinha
duas bibliotecas à disposição – a de seus pais –, por outro, à medida que
crescia e evoluía na escola – ele optou por cursar Letras –, era obrigado
a conter seu entusiasmo e fascínio pelos clássicos da literatura e prestar
reverência à ideologia oficial.
Para que seus estudos literários não fossem interrompidos
(e para escapar da censura), ele dirigiu seus primeiros trabalhos como
estudante, professor e escritor para as formas linguísticas do texto –
estilo, composição, foco narrativo, análise gramatical –, que são neutras,
despidas de ideologia.
Somente depois que foi para Paris – onde se fixou e concluiu seu
doutorado – é que pôde, enfim, ter uma relação mais livre e direta com a
literatura. “De meados dos anos 1970 em diante, perdi o interesse pelos
métodos de análise literária e passei a me dedicar à análise em si, isto é,
aos encontros com os autores”, afirma o ensaísta.
17
Leitor reprimido na juventude, a constatação de Todorov de que a
literatura está em perigo, no entanto, foi feita bem mais tarde, em uma
época, a nossa (seu livro é de 2007), na qual a maioria dos países vive em
democracias, ou seja, as crianças e adolescentes têm liberdade para ler
uma ampla variedade de autores, participam de feiras e bienais de livros e
frequentam uma escola cada vez mais preocupada com a pluralidade de
ideias, a liberdade de expressão, a diversidade cultural, o protagonismo
juvenil, a tolerância, os direitos humanos e a formação cidadã. Sem contar
as múltiplas possibilidades da internet, que democratiza o acesso à
informação e, por conseguinte, à leitura.
Esta é a realidade de um país como o Brasil. Não obstante suas
desigualdades socioeconômicas, que afetam dramaticamente não
apenas os níveis de leitura, mas a apreensão do conteúdo das demais
disciplinas do currículo escolar, os recentes programas governamentais
de fomento à educação e incentivo à leitura têm procurado diminuir essas
discrepâncias, fazendo com que crianças e adolescentes tenham cada
vez mais contato com os livros, com a cultura e com o conhecimento
letrado e científico.
Não é uma tarefa simples em um país continental. E, apesar dos
esforços, este é um jogo que estamos perdendo e precisamos virar. O
fato é que ainda se lê pouco em nosso país. Um dos reflexos disso são
os pífios resultados dos estudantes brasileiros no Pisa (Programme
for International Student Assessment), da OCDE, que avalia os
conhecimentos de matemática, ciência e leitura de estudantes de 15 anos
de idade. Na prova do Enem de 2019, chamou a atenção o fato de que, de
um total de mais de 3,9 milhões de candidatos, apenas 53 tiraram a nota
máxima em redação enquanto quase 150 mil zeraram3.
A razão pode estar, assim como na época do jovem Todorov, na
forma como a escola tem lidado com o ensino de literatura. Enquanto
na Bulgária dos tempos da guerra fria havia a repressão e a censura, no
Brasil atual a escola continua insistindo no modelo formalista-
-estruturalista de aulas, com ênfase em escolas literárias e análises
teóricas – o que, como defendem teses pontuais como as de Todorov,
tende a afastar os alunos do encanto, do prazer das descobertas, do
estímulo à crítica e à reflexão que a leitura dos bons autores proporciona.
Em um mundo no qual há um clamor pela ideia de verdade, mas
que, paradoxalmente, é dominado pela pós-verdade e pelas fake news,
os jovens talvez se ressintam da “verdade de mentira” que a literatura
(e o cinema, o teatro, as HQs) possibilitam. É preciso que eles enxerguem
__________
3
BERMÚDEZ, Ana Carla. Enem 2019: 53 candidatos tiraram nota mil na redação; 143 mil tiraram zero.
UOL. Disponível em: <http://mod.lk/enem>.
18
na leitura (sobretudo na leitura de ficção) muito mais do que a obrigação
de se inteirar de um volume de informações cifradas contidas em algumas
dezenas de páginas (que é como muitos adolescentes veem os livros) com
o objetivo efêmero de serem aprovados no vestibular e passem a perceber
que a “verdade de mentira” escondida naquelas páginas é muito mais
do que um mero enredo ou um simples relato.
Essa “verdade de mentira”, ao viabilizar a imersão em outra lógica
de realidade, movida pela imaginação e pela fantasia, abre para eles
uma infinita gama de possibilidades. É o velho e conhecido “what if?”
dos escritores – em português, o “e se?”. E se isto acontecesse? E se
determinado fato não tivesse sucedido do modo como se deu? E se um
morto resolvesse escrever suas memórias póstumas? E se eu acordasse
transformado em uma barata?
O contato com os grandes prosadores não apenas amplia o repertório
cultural e de linguagem dos leitores, mas os contamina dessa amplitude de
reflexão e de pensamento e os liberta dos determinismos cotidianos de que
muitos jovens são vítimas em um país como o Brasil: “E se a minha vida
fosse diferente do que é?”.
Ao sair do real, a literatura nos traz um entendimento profundo do
que o mundo é, das dimensões nem sempre discerníveis do tempo e
do espaço, de quais coordenadas silenciosas regem nossas vidas em
sociedade. Enfim, a leitura dos bons autores, do presente e do passado,
nacionais e estrangeiros, nos dá uma consciência cidadã do nosso papel
como ser humano em um mundo em que os valores cada vez mais se
metamorfoseiam e se pulverizam.
Assim disse o jornalista e escritor José Castello, em uma entrevista
para o Caderno 2:
Queremos sempre estar quites com o mundo, mas nunca
conseguimos. Este “nunca conseguir” é a própria vida. Enquanto
a ciência perfura as coisas em busca de seu centro e a religião
se eleva na ilusão de vê-las por inteiro, a literatura dança em
torno delas. Ninguém escreve um romance para dizer a verdade,
ou chegar à verdade. Para a literatura, o mundo é um enigma em
torno do qual só nos resta girar e dançar.
Cabe à escola, no geral, e aos professores, de modo particular,
rever sua forma de atuar para atingir o coração e a mente do jovem do
século XXI, ávido de conhecimento, de verdades, de vida, mas também
das “verdades de mentira” com que a literatura, desde Homero, Dante,
Shakespeare, Cervantes, Victor Hugo, Machado vêm enriquecendo a alma
humana.
19
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Nesta seção, os professores de Língua Portuguesa em diálogo com docentes
de outros componentes curriculares encontram sugestões para uma abordagem
interdisciplinar, estabelecendo conexões entre a invenção literária e outras formas
de discurso ou práticas do mundo social, considerando a obra literária como uma
estrutura móvel, capaz de dar respostas diversas em diferentes contextos. As
atividades propostas transitam entre o contexto de produção e de recepção da
obra literária, procurando refletir a respeito das expectativas de cada período, de
cada grupo social com o propósito de desenvolver a capacidade argumentativa e
inferencial dos estudantes.
Assim como na seção Propostas de atividades 1, aqui a organização também
se dá em atividades para os momentos de pré-leitura, leitura e pós-leitura.
As atividades de pré-leitura mobilizam a análise
global do texto (a partir do título, da capa, dos elementos
paratextuais, das ilustrações — se presentes), estimulando
pré-leitura
predições bem como a mobilização dos conhecimentos
prévios necessários ao entendimento da obra.
Língua Portuguesa Faça um
levantamento com seus alunos para saber
se eles se lembram de algum professor
ou professora que, de uma maneira ou de
outra, os tenha impressionado ou com
quem tenham aprendido alguma coisa
significativa, que trazem até hoje como
algo que ficou na memória. Questione-os:
Que influência essa lembrança exerceu
em você?
20
As atividades de leitura implicam a compreensão
do conteúdo temático com a seleção das informações
relevantes para a construção de uma síntese e para a
leitura
checagem das predições feitas antes da leitura, para
confirmá-las, reformulá-las ou refutá-las.
Após revisitarem os trechos,
Língua Portuguesa Peça aos alunos
questione os alunos: O que caracteriza
que observem a habilidade do autor
o discurso indireto livre? Sugira que
para criar um diálogo por meio do
discurso indireto livre, e ainda com um os estudantes façam uma pesquisa
toque de humor: para relembrar esse conceito. Amplie
“– Domingos, se está achando a reflexão trazendo a informação de
alguma coisa engraçada, nos diga o que que o discurso indireto livre – que
é, em Francês, claro. Ah, nada? Então possibilita, em alguns casos, o fluxo
nos diga o que estávamos falando. Ah, de pensamento, uma das marcas da
não sabe? Um ponto a menos na prova narrativa moderna – é um expediente
oral.” (p. 42) literário muito útil para o narrador,
“[...] A guia que me acompanhava se pois permite que ele tenha opções
espantou, eu falava Francês?” (p. 43) de estratégias, deixando a narrativa
“[...] Numa escrivaninha ficava o mais ágil ou mais lenta, por exemplo,
bibliotecário, a quem perguntei onde de acordo com suas intenções, ou
estavam os livros de poesia, ele revelando fatos cruciais para que o leitor
perguntou que livro eu procurava, falei entenda as motivações ocultas das
qualquer um, ele apontou o fichário, eu ações de um personagem, sem que ele
escolhesse então.” (p. 44-45) precise verbalizá-las.
21
As atividades de pós-leitura promovem a reflexão sobre o conteúdo
temático ou expressivo da obra a partir de outras referências que permitem
identificar diferentes perspectivas possíveis para o tema, estimulando uma
pós-leitura
resposta crítica que pode envolver vários níveis de complexidade ou gerar
novas perguntas, que enriquecem e transformam a experiência leitora.
afetivo, receber um elogio? Por que
1. Língua Portuguesa Há grande ironia
um elogio é melhor do que uma
quando o autor descreve a forma de
recriminação? O que o distingue da
ação que ele e seus amigos subversivos
bajulação?
consideram revolucionária. Essa ironia
b) Diferentemente, o professor de
se dá principalmente entre aspas,
Matemática ameaçou reprová-lo,
mas também na própria forma como
caso não estudasse: Que tipo de
as frases são construídas. Questione
palavra mobilizou positivamente o
os alunos: Em que consistia essa
menino Domingos?
ironia? O que o autor quis evidenciar
c) Na aula de Trabalhos Manuais,
ou sugestionar com ela? Que postura o
Domingos esmurrou o Turco após uma
autor revela ter hoje ao descrever sua
provocação do colega. O professor
ação e a de seus amigos, levando-se em
Mandrake reagiu imediatamente,
conta o modo como ele a expõe?
criticando a ambos por terem perdido
o respeito mútuo. Recorrendo à palavra
2. Língua Portuguesa Entre muitas de que educa, o professor lhes ensinou a
suas funções, a palavra é usada como
relacionar razão e emoção. Peça aos
instrumento de persuasão, sobretudo na
alunos que expliquem o que o autor
relação entre pais e filhos, professores
quis dizer com esta frase: “Com o
e alunos. No entanto, ela exige cuidado,
mestre Mandrake aprendi que o barro
porque o objetivo do processo educativo
toma a forma que você quiser, e
é criar seres autônomos e críticos,
o coração também”. (p. 41)
evitando os apelos da doutrinação, da
intimidação e da ameaça. Podemos 3. Língua Portuguesa Pergunte aos
ainda dizer que, do ponto de vista do estudantes se eles acham que um
aluno, a palavra abre o caminho para o escritor escreve suas memórias sendo
autoconhecimento, para a construção rigorosamente fiel aos fatos, contando
da identidade, movimento pelo qual as coisas como realmente aconteceram;
saímos do egocentrismo, estimulados ou se o filtro da memória, com eventuais
pelo diálogo. Nesse sentido, proponha interesses do autor em contar certas
aos alunos as seguintes reflexões: coisas e omitir outras, ou a própria falha
a) A professora primária da qual o da memória, interferem naquilo que ele
autor não se lembra o nome, mas conta. Abordando o mesmo assunto
que escolheu chamar de Benvinda, de outro ângulo, questione os alunos:
tocou-o pela palavra que elogia: o Será que, quando falamos de algo de
que representa, do ponto de vista que gostamos muito, nossa descrição
22
ou avaliação pode não condizer com Questione os alunos: De que modo a
a realidade, mas ser exagerada ou visão de mundo de Domingos Pellegrini
suspeita? foi influenciada por esse novo contexto?
O que ele deixa transparecer na obra
4. Língua Portuguesa Ao relatar o sobre seu amadurecimento político?
conto Dez índios, de Hemingway, o Que valores ele defendia na juventude e
autor dá destaque ao fato de que que valores passa a defender na idade
qualquer texto narrativo – e sobretudo madura? Houve alguma ruptura no modo
o literário – diz muito mais do que de pensar do autor? Em que momento?
aquilo que está escrito. Peça aos Motivada por quais acontecimentos ou
alunos que reflitam sobre a seguinte fatores? Que resquícios você identifica
questão: em que sentido o que lemos da forma de pensar da juventude do
é apenas a ponta de um iceberg? Em autor em sua fase madura?
seguida, reunidos em grupo, peça aos
alunos que discutam os aspectos que 6. Filosofia A certa altura, Domingos
não foram explicitados, mas que estão Pellegrini afirma sobre Ptialina:
subentendidos no livro Mestres da “Era um sábio meu professor de
paixão. Ciências Naturais [...]” (p. 81)
Em outro momento, diz o autor:
5. História A certa altura do livro, o “[...] lançava seu anzol, na forma de
autor passa a usar um vocabulário uma pergunta (e nada mais parecido
próprio dos tempos da Guerra Fria, com
época da guerrilha no Brasil e do ideário um anzol do que uma interrogação,
socialista na imaginação revolucionária não?)”. (p. 71)
dos movimentos de esquerda. Peça Peça aos alunos que tentem
aos alunos que anotem esses nomes explicar por que as perguntas são
e expressões. Comente que tudo mais estimulantes do que as respostas
isso perde força com o colapso da prontas. Por fim, questione-os: Vocês
União Soviética e a queda do Muro saberiam dizer em que consiste a
de Berlim, no final dos anos 1980 e sabedoria do Ptialina?
início dos anos 1990, inaugurando
aquilo que na geopolítica passou a 7. Sociologia O professor Isaac, de
ser chamado de Nova Ordem Mundial. Educação Física, disse: “Defeitos não
Comente, também, que mesmo essa são privilégio de ninguém, todos têm,
nova ordem em pouco tempo perdeu no corpo ou no caráter, na cabeça ou na
o sentido, ainda que alguns teóricos alma [...]”. (p. 128) Desse modo, advertia
tenham proclamado o “fim da história”, aqueles que costumavam fazer gracinha
dando a entender que, com o declínio com os defeitos alheios. Comente
das esquerdas, o mundo chegaria ao com os estudantes que muitas vezes a
seu modelo ideal, capitalista, liberal e palavra se presta a acentuar o defeito, ou
democrático. faz rir pelo inverso, quando, por exemplo,
23
se apelida um careca de Cabelo. Lembre de guerras costumam homenagear
a eles a frase do filósofo francês os soldados que morrem em batalha.
Gusdorf, que afirmou que “as palavras Questione: Que valor esse tipo de
possuem um destino, feliz ou infame”. homenagem tem? Há algum sentido
Tendo em vista essa frase, peça nesse simbolismo? Serve de alento para
aos alunos que, em grupos, façam a as famílias dos mortos? Você vê alguma
distinção, no seu dia a dia escolar e em contradição nesse ato? Estimule-os a
seu bairro, entre os apelidos criativos investigar outros tipos de homenagens
que não depreciam as pessoas, e semelhantes e questionar suas
aqueles em que a palavra soa como simbologias próprias e suas intenções.
um rótulo humilhante, reforçando
estereótipos, estigmas sociais e 9. Arte O autor revela que, no seu
preconceitos. percurso de contestador do sistema
político da ditadura, fez algumas
8. Sociologia O nome do bibliotecário pichações. Uma delas foi identificada
mencionado no livro virou o nome pelo diretor da faculdade, que, em vez
da biblioteca frequentada pelo autor do castigo esperado, lhe sugeriu montar
na adolescência. Primeiramente, um jornal estudantil para expressar suas
pergunte aos alunos se eles já tiveram ideias. Esse episódio levanta o debate
a curiosidade de pesquisar quem foram sobre a diferença entre o pichador e o
as pessoas que dão nomes às escolas grafiteiro: há estudiosos que identificam
em que estudam, às bibliotecas que o fenômeno da pichação – acusada
frequentam, às ruas, avenidas, praças, de vandalismo – como um protesto de
bairros e cidades onde moram. Sugira a jovens de segmentos mais pobres em
eles que, em momento oportuno, façam busca de um modo de expressão que a
essa pesquisa. Quem foi a pessoa? No cidade lhes negou. Para evitar o dano
que se formou? Como terá sido sua do bem público ou privado, outros
vida? Teve uma paixão? Teve filhos? grupos incentivam o uso de espaços
Teve um hobby? Torceu para algum permitidos, experiência que gerou a arte
time? Eles poderão descobrir coisas dos grafiteiros. Peça que os alunos, em
curiosas e, principalmente, que aqueles grupo, façam uma pesquisa sobre a arte
nomes, que eles proferem de forma tão do grafite (ou graffiti) como modo de
automática no dia a dia, já foram de expressão.
pessoas de carne e osso.
Depois, indague quais são as formas 10. Arte Promova, se possível, a audição
mais comuns de se homenagear e das canções a seguir, que falam de
imortalizar alguém em nossa sociedade? temas que permeiam as memórias
Que significado isso tem? Sugira que de Domingos Pellegrini, como paixão,
investiguem, por exemplo, o chamado relações entre pais e filhos, sonhos
monumento ao soldado desconhecido, de adolescência e juventude, utopias
com o qual os países que participaram políticas, ideologias, embate entre
24
sonho e realidade, entre outros –
11. Arte Promova, se for possível, uma
os comentários sobre elas estão
sessão de cinema em sala de aula
nas Sugestões de Referências
com os filmes sugeridos a seguir,
Complementares deste encarte.
que tratam de temas relacionados à
As canções podem ser exploradas de
memória, ou peça aos alunos que se
diversas maneiras em sala de aula, de
organizem individualmente, em duplas
acordo com a sua estratégia didática:
ou em grupos, na casa de algum deles,
a) podem servir de tema de produção
textual, na qual os estudantes devem para assisti-los. Estimule-os a buscar
escrever de forma crítica sobre o que informações sobre os diretores e atores
diz a letra; dos filmes, sobre as histórias e seus
b) podem ser objeto de discussão em contextos, traçando paralelos com as
sala de aula; lembranças do escritor e com o gênero
c) podem servir de sensibilização para o memórias.
início de uma aula sobre algum tema Memórias do Cárcere. (Brasil, 1984)
explorado no livro. Drama. Direção de Nelson Pereira dos
Em todos os casos, é fundamental Santos. Duração: 3h9min.
que os estudantes tragam de casa a O filme conta a experiência do cárcere
letra da canção impressa. Estimule-os vivida pelo escritor Graciliano Ramos, na
a buscar informações sobre os
década de 1930, quando foi recolhido
compositores e cantores, além dos
ao presídio de Ilha Grande, no Rio de
gêneros musicais apresentados.
Janeiro, sem julgamento, acusado de
14 anos, com Paulinho da Viola. ligações com o Partido Comunista.
Disponível em: <http://mod.lk/catorze>.
Disponível em: <http://mod.lk/carcere>.
Viola enluarada, de Marcos Valle.
Narradores de Javé. (Brasil, França,
Disponível em: <http://mod.lk/enluarad>.
2004) Drama. Direção de Eliane Caffé.
Coração de estudante, de Milton Duração: 1h40min.
Nascimento.
Uma ameaça à existência do pequeno
Disponível em: <http://mod.lk/cordeest>.
vilarejo de Javé muda a rotina de
Dias de luta, do grupo Ira!. seus habitantes. O pequeno lugar
Disponível em: <http://mod.lk/diasde>. pode desaparecer do mapa, engolido
Epitáfio, dos Titãs. pelas águas de uma enorme usina
Disponível em: <http://mod.lk/epitafi>. hidrelétrica. Para evitar o destino
Ideologia, de Cazuza. fatídico, a comunidade, cuja maioria
Disponível em: <http://mod.lk/ideologi>. dos moradores é analfabeta, decide
O bêbado e a equilibrista, de João Bosco preparar um documento contando
e Aldir Blanc com Elis Regina. os acontecimentos heroicos de sua
Disponível em: <http://mod.lk/equilibr>. história, como forma de a cidade
Deserto no teu corpo, de Taiguara. escapar do aniquilamento.
Disponível em: <http://mod.lk/taiguara>. Disponível em: <http://mod.lk/jave>
25
N D A M E N TO
APROFU
LITERATURA É APRENDIZADO
DE HUMANIDADE
DOUGLAS TUFANO
A literatura não é matéria escolar, é matéria de vida.
A boa literatura problematiza o mundo, tornando-o opaco e incitando à reflexão.
É um desafio à sensibilidade e à inteligência do leitor, que assim se enriquece a cada
leitura. A literatura não tem a pretensão de oferecer modelos de comportamento
nem receitas de felicidade; ao contrário, provoca o leitor, estimula-o a tomar posição
diante de certas questões vitais. A literatura propicia a percepção de diferentes
aspectos da realidade. Ela dá forma a experiências e situações que, muitas vezes,
são desconcertantes para o jovem leitor, ao ajudá-lo a situar-se no mundo e a refletir
sobre seu próprio comportamento.
Mas essa característica estimuladora da literatura pode ser anulada se, ao
entrar na sala de aula, o texto for submetido a uma prática empobrecedora, que reduz
sua potencialidade crítica.
Se concordarmos em que a escola deve estar mais atenta ao desenvolvimento
da maneira de pensar do que à memorização de conteúdos, devemos então admitir
que sua função mais importante é propiciar ao aluno atividades que desenvolvam
sua capacidade de raciocínio e argumentação, sua sensibilidade para a compreensão
das múltiplas facetas da realidade. A escola, portanto, deveria ser, antes de tudo, um
espaço para o exercício da liberdade de pensamento e de expressão.
E se aceitarmos a ideia de que a literatura é uma forma particular de
conhecimento da realidade, uma maneira de ver o real, entenderemos que ela
pode ajudar enormemente o professor nessa tarefa educacional, pois pode ser
uma excelente porta de entrada para a reflexão sobre aspectos importantes do
comportamento humano e da vida em sociedade, e ainda permite o diálogo com
outras áreas do conhecimento.
O professor é o intermediário entre o texto e o aluno. Mas, como leitor maduro
e experiente, cabe a ele a tarefa delicada de intervir e esconder-se ao mesmo tempo,
permitindo que o aluno e o texto dialoguem o mais livremente possível.
26
Porém, por circular na sala de aula junto com os textos escolares, muitas
vezes o texto literário acaba por sofrer um tratamento didático, que desconsidera a
própria natureza da literatura. O texto literário não é um texto didático. Ele não tem
uma resposta, não tem um significado que possa ser considerado correto. Ele é uma
pergunta que admite várias respostas; depende da maturidade do aluno e de suas
experiências como leitor. O texto literário é um campo de possibilidades que desafia
cada leitor individualmente.
Trabalhar o texto como se ele tivesse um significado objetivo e unívoco é
trair a natureza da literatura e, o que é mais grave do ponto de vista educacional,
é contrariar o próprio princípio que justificou a inclusão da literatura na escola.
Se agirmos assim, não estaremos promovendo uma educação estética, que, por
definição, não pode ser homogeneizada, massificada, despersonalizada. Sem a
marca do leitor, nenhuma leitura é autêntica; será apenas a reprodução da leitura
de alguma outra pessoa (do professor, do crítico literário etc.).
Cabe ao professor, portanto, a tarefa de criar na sala de aula as condições
para o desenvolvimento de atividades que possibilitem a cada aluno dialogar com
o texto, interrogá-lo, explorá-lo. Mas essas atividades não são realizadas apenas
individualmente; devem contar também com a participação dos outros alunos
– por meio de debates e troca de opiniões – e com a participação do professor
como um dos leitores do texto, um leitor privilegiado, mas não autoritário, sempre
receptivo às leituras dos alunos, além de permitir-lhes, conforme o caso, o acesso
às interpretações que a obra vem recebendo ao longo do tempo.
Essa tarefa de iniciação literária é uma das grandes responsabilidades da
escola. Uma coisa é a leitura livre do aluno, que obviamente pode ser feita dentro ou
fora da escola. Outra coisa é o trabalho de iniciação literária que a escola deve fazer
para desenvolver a capacidade de leitura do aluno, para ajudá-lo a converter-se num
leitor crítico, pois essa maturidade como leitor não coincide necessariamente com a
faixa etária. Ao elaborar um programa de leituras, o professor deve levar em conta as
experiências do aluno como leitor (o que ele já leu? como ele lê?) e, com base nisso,
escolher os livros com os quais vai trabalhar.
27
Com essa iniciação literária bem planejada e desenvolvida, o aluno
vai adquirindo condições de ler bem os grandes escritores, brasileiros
e estrangeiros, de nossa época ou de outras épocas. Nesse sentido, as
noções de teoria literária aplicadas durante a análise de um texto literário
só se justificam quando, efetivamente, contribuem para enriquecer a leitura
e compreensão do texto, pois nunca devem ser um fim em si mesmas. A
escola de Ensino Fundamental e Médio quer formar leitores, não críticos
literários. Só assim é possível perceber o especial valor educativo da
literatura, que, como dissemos, não consiste em memorizar conteúdos mas
em ajudar o aluno a situar-se no mundo e a refletir sobre o comportamento
humano nas mais diferentes situações. Literatura é aprendizado de
humanidade.
Nesta seção, apresentamos aos professores
de Língua Portuguesa orientações e subsídios
que podem ajudá-los a ter claras as definições
conceituais do cânone literário, já estudadas em
seus anos de formação, mas sempre sujeitas a
controvérsias (como veremos adiante), bem como
às rupturas formais e instrumentais que a literatura,
em sua dinâmica própria, estabeleceu ao longo dos
séculos até os dias de hoje. Ao fazer da experiência
humana matéria-prima de sua atividade, não se
pode esperar que a literatura se deixe aprisionar em
conceitos abstratos. No entanto, e sobretudo na
escola, em que os alunos estão muitas vezes tendo o
primeiro contato com a sistematização desse estudo,
é preciso que eles conheçam as conceituações
básicas, para que, com base nelas, ampliem e
aprofundem o seu conhecimento.
28
Com essas orientações e subsídios, o professor
poderá organizar a sua leitura e apreensão do
fenômeno literário, para que possa explorar as suas
potencialidades e aplicá-las de forma proveitosa e
fecunda no contato com os estudantes, fazendo com
que a aula de literatura extrapole o âmbito meramente
daquele que sabe e daquele que aprende, mas se
transforme em um diálogo vivo, uma troca criativa e
inovadora que, sem dúvida, irá conduzir aquele que
aprende ao conhecimento da literatura, mas também
irá proporcionar àquele que sabe a experiência de
poder rever seus conhecimentos, ampliando-os, à luz
da comunhão que a leitura proporciona.
As orientações e subsídios a seguir contemplam ainda o
diálogo que as obras literárias, naquilo que possuem de específico
e de universal, estabelecem com as produções artísticas de outros
gêneros, literários ou não, contemporâneas ou de outro tempo.
Na já referida dinâmica própria do fazer e do fruir literários, que
se acentuaram nos últimos séculos com o advento de novas
formas de arte – haja vista as possibilidades que a revolução
digital tem proporcionado tanto a quem lê quanto a quem produz
literatura em nossos dias –, não é mais razoável nem satisfatório
que a experiência dos alunos com os livros se circunscreva
apenas ao âmbito das palavras, por mais ricas e infinitas que
sejam. É necessário que eles adquiram um olhar pragmático para
compreender de que modo aquilo que o escritor, dramaturgo ou
poeta colocou em sua obra, com toda a sutileza e a singularidade
com que foi concebido, pode ser visto de outros prismas estéticos,
outras concepções artísticas, outros ângulos epistemológicos,
enfim, outros olhares, sem deixar de ser fiel à “espinha de peixe” –
expressão usada pela cineasta Suzana Amaral, pródiga em transpor
obras literárias para o cinema, para se referir ao manancial de
conhecimento do mundo ímpar que toda obra literária traz.
29
O GÊNERO DA OBRA
MEMÓRIAS
O gênero memória, memórias ou relato de memórias constitui um
gênero textual que tem um objetivo muito específico: resgatar o que foi
vivido pelo autor ao longo de sua vida até o momento em que escreve,
ou, de modo mais pontual, narrar as lembranças de uma experiência
significativa para ele em um determinado período de tempo. Como
exemplos do primeiro caso podemos citar as seis obras de Pedro
Nava, considerado o maior memorialista da literatura brasileira, ou as
memórias de Erico Verissimo ou de Zélia Gattai. O segundo caso pode
ser exemplificado com as memórias de Graciliano Ramos escritas no
cárcere, entre 1936 e 1937; os escritos de Anne Frank relatados em
seu diário enquanto se escondia, com sua família, da polícia nazista,
no início dos anos 1940; ou as reflexões de Fernando Gabeira sobre a
sua experiência com a luta armada, no período da ditadura militar no
Brasil.
O livro que os alunos acabaram de ler, Mestres da paixão, de Domingos
Pellegrini, pode ser chamado de uma obra híbrida nesse sentido, pois, ao buscar
realçar os mestres que conheceu na vida e aos quais é grato, o autor acabou por
contar também a sua história. Em ambos os casos, trata-se de uma literatura que
envolve certa tensão emotiva, pois, durante a escrita, o autor costuma mobilizar uma
carga considerável de emoção por revisitar fatos de sua memória afetiva.
Nas memórias, o foco narrativo geralmente está em primeiro pessoa e os
verbos no passado, pois o que estão sendo contadas são as lembranças de quem
escreve, tratando-se de fatos recentes ou remotos. No entanto, ao mesmo tempo
que recria o passado, o autor sofre a influência do presente, o que o faz refletir
sobre o que passou com base na distância que o separa dos acontecimentos. Por
isso, não se pode dizer que as memórias narram os fatos necessariamente tais
como se deram, pois, assim como ocorre na ficção, o próprio narrador se transforma
em um personagem (narrador-personagem ou narrador-testemunha), cujas ações,
consciente ou inconscientemente, ele manipula segundo seus interesses e suas
intenções no presente – sem contar as eventuais falhas da memória.
30
Não se trata, portanto, de uma escrita isenta, objetiva ou neutra,
pois ela sofre a ação do tempo, das experiências do autor posteriores aos
motivos narrados, que o levam até mesmo a inventar fatos e situações que
não aconteceram, ainda que possam ser fiéis ao espírito do que ele quer
rememorar, ou a reconsiderar suas relações e seus valores.
O Brasil conta com grandes memorialistas, desde Joaquim Nabuco,
com o seu clássico Minha formação, Erico Verissimo, cujas memórias, Solo
de clarineta, foram interrompidas no segundo volume em razão de sua morte,
Zélia Gattai, que surpreendeu a todos ao escrever Anarquistas, graças a Deus,
obra com a qual deu início a uma bem-sucedida carreira de memorialista
tardia. Mas quem se sobressai no cenário do gênero memórias é o mineiro
Pedro Nava, que levou a maior parte da vida como médico reumatologista e
poeta bissexto e, a certa altura, sentiu o desejo de vasculhar o passado,
escrevendo seis obras monumentais, que são consideradas um marco
documental da memorialística no Brasil do século XX.
Existe um público fiel de memórias no Brasil e no mundo, pelo seu
poder de aproximar os ausentes e ampliar a compreensão do passado
(e mesmo do presente) diante do que foi vivido por outros, como se o leitor
se apropriasse daquelas experiências, tornando-as suas, e quase as vivendo
– ou mesmo as vivendo. Afinal, não é a literatura a arte de nos fazer vivenciar
acontecimentos sem estar lá e experimentar sentimentos que foram vividos
por outros, mas com os quais nos identificamos?
31
SOBRE OS ESTILOS LITERÁRIOS
Para introduzir a questão da arte moderna, e, por
extensão, da literatura moderna, seria bom considerar
este comentário de 1956, do poeta pernambucano João
Cabral de Melo Neto, que expressa uma concepção
com que qualquer artista moderno ou contemporâneo
concordaria:
“O autor de hoje trabalha à sua maneira, à maneira que
ele considera mais conveniente à sua expressão pessoal. Do
mesmo modo que cria sua mitologia e sua linguagem pessoal,
ele cria seu conceito de poema e, a partir daí, seu conceito de
poesia, de literatura, de arte. Cada poeta tem a sua poética. Ele
não está obrigado a obedecer a nenhuma regra, nem mesmo
àquelas que em determinado momento ele mesmo criou, nem a
sintonizar seu poema a nenhuma sensibilidade diversa da sua.
O que se espera dele, hoje, é que não se pareça a ninguém, que
contribua com uma expressão original. [...]
Para empregar uma palavra bastante corrente na vida literária
de agora, o que se exige de cada artista é que ele transmita
aquilo que em si é o mais autêntico, e sua autenticidade
será reconhecida na medida em que não se identifique com
nenhuma expressão já conhecida. Não é preciso lembrar que,
para atingir essa expressão pessoal, todos os direitos lhe são
concedidos. [...]
Pode-se dizer que hoje não há uma arte, não há a poesia,
mas há artes, há poesias. Cada arte se fragmentou em tantas
artes quantos forem os artistas capazes de fundar um tipo de
expressão pessoal."
NUNES, Benedito (org.). João Cabral de Melo Neto. Petrópolis/RJ: Vozes, 1971,
p. 190-191. (Coleção Poetas Modernos do Brasil)
32
Como se vê, chegou ao fim a noção de “estilo”,
“escola” ou “convenção” literária, tal como se concebia nos
séculos anteriores. Esse é um processo que começa com o
Romantismo, no século XIX, e atinge seu maior desenvolvimento
no século XX. É a proclamação da independência estética do
artista moderno, fenômeno que se verifica em praticamente
todos os campos artísticos, da música à literatura e às artes
plásticas. Cada artista cria sua própria concepção de arte. Daí a
sensação de “estilhaçamento” quando observamos o panorama
da literatura moderna e contemporânea. Hoje, estudamos
autores e não grupos ou gerações literárias.
Isso não quer dizer que os escritores de hoje não tenham
nada a ver com a tradição. Têm, sim, mas a diferença agora
é que a forma de apropriação da tradição é feita de maneira
absolutamente pessoal.
Os primeiros vinte anos do século XX, na Europa,
assistiram a essa desintegração total dos chamados “estilos
de época”, com repercussões profundas no Brasil a partir
principalmente da década de 1920. A Semana de Arte Moderna
de 1922 pode ser vista como um ponto de referência desse
processo de transformação.
Ao falar da poesia brasileira do século XXI, Manuel da
Costa Pinto reitera o que disse João Cabral, cinquenta anos
antes. Sobre os poetas que selecionou para sua Antologia, diz
ele: “[...] sem esquecer, é claro, que todo escritor possui uma
singularidade irredutível a influências e recortes teóricos”.
(Antologia comentada dos poetas brasileiros do século 21,
Publifolha). É o reconhecimento do fim dos estilos que
englobavam escritores de uma mesma geração ou época.
33
O QUE É LITERATURA?
Seria importante que os professores levassem o aluno a perceber que literatura
é construção da linguagem. Isto é, ainda que tenha como referência o mundo real,
a marca da literatura é o fato de ser ficção, ela é fruto da inventividade do autor.
Literatura é, pois, recriação da realidade e não, como muitas vezes se diz, um “retrato”
da realidade. E nessa recriação o autor tem plena liberdade, como disse João Cabral.
Pode explorar formas de linguagem, criar palavras, imaginar enredos – nada o prende
à realidade imediata. E é exatamente essa liberdade que torna a literatura um campo
de possibilidades virtualmente infinito. Ao entrar nesse universo fictício, o leitor sabe
que qualquer coisa pode acontecer. Não é um jogo de cartas marcadas, mas um
espaço desconhecido a ser percorrido e descoberto.
Desenvolver esse novo conceito de literatura como uma “aventura” intelectual
talvez seja o grande desafio da escola. O aluno não deve ler como se fizesse uma
prova ou um questionário (como ocorre nos vestibulares, por exemplo). Deve ler
como uma conquista, porque isso pode abrir seu horizonte existencial. Essa é a
dimensão educativa da literatura.
O declínio da importância das “escolas literárias” levou ao declínio também
da preocupação em reconhecer as características de cada uma, como uma lista
a ser decorada. Por isso, hoje a literatura deve ser trabalhada como forma de
enriquecimento e ampliação do universo emocional e intelectual do aluno. Esse deve
se o resultado das leituras feitas no Ensino Fundamental e Médio.
Nesse sentido, a diversidade de gêneros literários é importante para a formação
do leitor, para abrir o seu horizonte, para mostrar-lhe o que ele pode usufruir ao longo
de sua vida, e não apenas durante os anos escolares. A escola é apenas o ponto de
partida, e não o ponto de chegada.
Por isso, mesmo um livro escrito há vários séculos, como D. Quixote, permanece
atual. Porque proporciona essa aventura intelectual, esse voo da imaginação.
Não para alienar o leitor, mas para fazer com que ele, no fim da leitura, volte à sua
realidade e a veja com outros olhos. O diálogo da obra com o mundo em que vive o
aluno é fundamental para que a literatura exerça seu papel educativo.
Essa nova concepção de leitura e formação do leitor é fundamental para as
escolas criarem seus projetos de leitura, isto é, a seleção de livros que os professores
devem ler junto com os alunos. Podemos identificar o conceito de educação de uma
escola com base nos livros que ela indica e nos livros que ela não indica.
Por isso, o mestre Antonio Candido dizia que o acesso à literatura deveria ser
um direito básico do ser humano.
34
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
DE APROFUNDAMENTO
Em Atividades de aprofundamento, são apresentadas propostas que
permitem compreender o funcionamento contemporâneo das convenções
literárias relacionadas à obra, apoiar a leitura crítica, criativa e propositiva para
explorar as potencialidades da escrita literária com os estudantes. Nessa seção,
indicam-se também produções contemporâneas de outros gêneros (literários
ou não) que permitem um diálogo intertextual com diferentes aspectos
da organização da expressão literária e sua articulação com a experiência
individual e social.
1. Língua Portuguesa O autor afirma que começou a escrever em 1964.
Em outros momentos, ele cita outras datas. Comente com os alunos que
uma data nos situa no tempo cronológico. Quando fazemos referência ao
tempo, uma série de acontecimentos passa a se relacionar com aquele
mês, aquele ano. Diante disso, peça aos alunos que escrevam um texto
de mais ou menos 20 linhas falando de alguma lembrança ancorada
em uma data. Pode ser qualquer data, em qualquer época da vida do
estudante, desde que relacionada a um acontecimento marcante que
eles trazem de memória.
2. Filosofia Pergunte aos alunos se eles já usaram a expressão “memória
afetiva”. Depois de ouvir as respostas, peça que desmembrem a
expressão: O que é memória? O que é afeto? Explique então que a
memória afetiva guarda lembranças que nos são muito queridas
pelo significado que carregam, que só faz sentido para nós. Muitas
vezes não é a lembrança de um fato apenas, mas de um conjunto de
acontecimentos que remetem a um clima, a uma atmosfera, a um
determinado tempo. Comente que, apesar de eles serem ainda muito
jovens, certamente já possuem suas memórias afetivas. Sugira que
35
relatem para os colegas, os que se dispuserem a falar, é claro, uma
lembrança ou reminiscência que têm muito significado afetivo para eles.
Depois pergunte: O que acham que, quando forem mais velhos, terá
importância para a memória afetiva deles? Por quê? Que fato os fará
recordar com o mesmo afeto e emoção que Domingos Pellegrini lembra
dos seus mestres da paixão? Como explicar a memória afetiva? De que
modo ou em que momento as coisas, as pessoas, os sentimentos, as
lembranças se transformam em uma memória afetiva para nós?
3. Filosofia Comente com os alunos que a digressão sobre a palavra
decorar, feita nas primeiras linhas do capítulo “Decoração e coração”,
quer nos dizer indiretamente que todo aprendizado na vida só acontece
de verdade quando nos fala ao coração e à alma, ou seja, quando
faz sentido verdadeiramente para nós. Indague os alunos sobre o
que faz sentido verdadeiramente para eles. Aos que se dispuserem a
falar – pois, às vezes, o que realmente importa para nós é um segredo
que não gostaríamos de compartilhar –, peça que digam o que, no fundo,
tem um real significado em suas existências.
4. Filosofia Abra uma roda de conversa e solicite aos alunos que releiam
estes trechos:
“Paixão. Esse era o combustível do motor Ptialina. Paixão pelas
Ciências Naturais, paixão pela educação, paixão pelos alunos.” (p. 80)
“Mas o que me valeu mesmo foi ter aprendido que viver bem é viver
com paixão, fazendo bem o que se gosta de fazer.” (p. 82)
Conte a eles que o escritor tcheco Franz Kafka, em um livro chamado
Carta ao pai, afirma que criar bem os filhos, encaminhá-los bem na vida,
fazendo deles pessoas honradas e úteis à sociedade, é o que muitas
vezes uma pessoa consegue realizar no curso de uma vida, de uma
existência. Trazendo o assunto para os mestres da paixão, acrescente
36
que podemos estender o comentário de Kafka e dizer que a paixão de
ensinar ou de realizar bem qualquer atividade também pode ser tão
significativa e satisfatória quanto encaminhar um filho bem na vida.
Comente que isso diz respeito aos nossos propósitos e valores como
seres humanos. Afinal, qual é o sentido da existência? Que sentimentos
nos mobilizam? Por que estudamos? Por que trabalhamos? Será
meramente por questões financeiras e materiais? Não seria muito pouco
se fosse apenas por isso? Conclua a reflexão perguntando: Para você, o
que é viver bem?
5. Sociologia Faça uma observação sobre o espírito do nosso tempo no que
se refere à educação. Os tempos mudam e, com ele, a forma de ensinar
e de aprender. O que eles acham do modo de dar aulas de dona Rosinha,
a professora de Francês? Ainda se ensina assim hoje em dia? Isso é
positivo ou negativo? Por quê? De que maneira a forma de ensinar e de
aprender se refletia na sociedade dos anos 1950 e 1960, décadas em
que o autor estudou? Podemos fazer essa comparação sem incorrer
em juízos de valor anacrônicos, ou seja, sem que sejamos tendenciosos,
vendo o nosso tempo como melhor do que aquele ou vice-versa? Amplie
a questão perguntando por que tendemos a achar que o nosso tempo,
o lugar em que vivemos, a nossa cultura é sempre melhor que a dos
outros.
37
R E F E R Ê N C I A S
SUGESTÕES DE
E M E N TA R E S
COMPL
PARA O ALUNO
LIVROS
ALVES, Castro. Os escravos. Porto Alegre: L&PM, FRANK, Anne. O diário de Anne Frank.
1997. Companhia das Letras, 2010.
Publicado em 1883, o livro traz os poemas Escrito entre 1942 e 1944, enquanto a menina
de Castro Alves que tratam do tema de origem judia se escondia com sua família
da escravidão no Brasil, entre eles “O no escritório de seu pai, em Amsterdam, Anne
navio negreiro” e “Vozes d’África”, que se Frank acabou sendo enviada aos campos de
transformaram em verdadeiras bandeiras na extermínio nazista, e seu relato, encontrado
luta contra o sistema escravagista. depois de seu desaparecimento, acabou se
transformando em um dos documentos mais
AVERY, Lara. O livro de memórias. Companhia
importantes sobre o horror do nazismo.
das Letras, 2016.
Sammie tinha um plano: formar-se no Ensino GABEIRA, Fernando. O que é isso, companheiro?
Médio como a melhor aluna e sair da cidade São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
pequena onde mora. Acometida por uma rara (Companhia de Bolso)
doença genética, que aos poucos vai aniquilar Neste livro, publicado em 1979, no período da
sua memória e acabar com sua saúde, ela só anistia, o jornalista, escritor e ex-guerrilheiro
pensa em uma coisa: escrever seu livro de Fernando Gabeira relembra o tempo de
memórias. guerrilha, buscando compreender o sentido
da luta armada e da militância clandestina no
ESOPO. Fábulas completas. Trad. Neide Smolka.
contexto da ditadura no Brasil, nos anos 1960.
São Paulo: Moderna, 2020.
A obra traz 358 fábulas atribuídas a Esopo GATTAI, Zélia. Anarquistas, graças a Deus.
traduzidas diretamente do original grego. Os Companhia das Letras, 2009.
primeiros exemplos de fábulas gregas datam Publicado em 1979, Anarquistas, graças a Deus
do século VIII a.C., o que mostra que Esopo foi o livro de estreia de Zélia Gattai, mulher
não foi o inventor do gênero, mas sim o mais de Jorge Amado, que a estimulou a escrever
conhecido fabulista da Antiguidade. suas memórias. A obra logo conquistou os
38
leitores e virou minissérie de TV. Na obra, ela encontra a realidade de uma educação tirana,
conta a aventura dos imigrantes italianos no que estimula a hostilidade e a aniquilação
Brasil, com base na história de seus familiares, dos mais sensíveis. Publicado em 1888 como
usando o mesmo método da simplicidade com folhetim na Gazeta de Notícias, o livro narra
que contava histórias a seus filhos e netos. os primeiros anos da vida de um menino em
uma escola do século XIX, misturando ficção e
LACERDA, Rodrigo. O fazedor de velhos. São autobiografia.
Paulo: Companhia das Letras, 2017.
A obra conta a história de Pedro, garoto que RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere.
está entrando na vida adulta às voltas com o Record, 2020.
dilema sobre qual profissão escolher e como Obra publicada postumamente, conta a
lidar com o amor e as amizades. Até conhecer prisão de Graciliano Ramos em 1936, pela
Nabuco, um professor experiente e misterioso polícia de Getúlio Vargas, sem acusação formal,
que passa a ser o interlocutor do rapaz em seu até ser solto em 1937, tempo no qual dedicou
caminho de perdas e de muita reflexão. a escrever as memórias da experiência no
cárcere, no estilo enxuto que o consagrou entre
LEE, Rita. Rita Lee – Uma autobiografia. Globo os maiores escritores da literatura brasileira.
Livros, 2016.
Obra autobiográfica no qual a roqueira e agora SOARES, Jô. O livro de Jô – Uma biografia
escritora Rita Lee narra acontecimentos desde desautorizada. Org. Matinas Suzuki Jr. v. 1 e 2.
a sua infância, o início na vida artística, sua São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
prisão em 1976, seu relacionamento com o As memórias de Jô Soares trazem a mesma
músico Roberto de Carvalho, o nascimento verve humorística e ao mesmo tempo capaz
dos filhos, das músicas, as parcerias musicais, de fazer os leitores chorarem. Nesses dois
com fotos escolhidas pela própria autora. volumes, o autor resgata fatos, lugares e
pessoas e reconstitui seus primeiros passos
NAVA, Pedro. Baú de ossos. Companhia das no mundo dos espetáculos, nas décadas
Letras, 2012. de 1950 e 1960, até sua consagração como
Baú de ossos faz parte das seis obras de showman de televisão, dos anos 1960 a 1980,
memórias escritas pelo médico e poeta, o que e entrevistador que criou um estilo próprio de
alçou o mineiro de Juiz de Fora à condição entrevistar, a partir dos anos 1980.
de maior escritor memorialista da literatura
brasileira. A crítica não poupou elogios ao VERISSIMO, Erico. Solo de clarineta. v. 1 e 2.
memorialista, pela qualidade de sua escrita e Companhia das Letras, 2005.
pela precisão da reconstituição dos detalhes Erico Verissimo escrevia Solo de clarineta
do passado. É nesta obra que podemos ler a em dezembro 1975, o segundo volume de
antológica primeira frase com que Nava inicia suas memórias, quando foi silenciado por
sua saga memorial: “Eu sou um pobre homem um infarto que o tirou da vida. Inacabada,
do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais”. essa segunda parte foi organizada por Flávio
Loureiro Chaves e publicada em 1976. Obra
POMPEIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Moderna, de reflexões do escritor gaúcho sobre sua
2019. escrita e sobre literatura. O primeiro volume
O romance, espécie de rito de passagem de um narra a infância do escritor até os anos 1950.
garoto à fase adulta, conta a história do menino O segundo fala de sua experiência como
Sérgio, de onze anos, que deixa a casa dos professor nos Estados Unidos, entre outros
pais para ingressar no colégio Ateneu. Lá ele fatos de sua vida.
39
Canções
14 anos, de Paulinho da Viola.
Na letra, o compositor conta, como se
narrasse uma memória, os conselhos Viola enluarada, de Marcos Valle.
realistas dados por seu pai sobre
que carreira seguir, mas deixando Canção que adquiriu o status de
claro, desde os catorze anos, que sua hino dos movimentos de esquerda
aspiração era se tornar sambista. no final dos anos 1960, trazendo na
letra palavras e expressões heroicas e
Disponível em: <http://mod.lk/catorze>.
altivas, como era comum nas músicas
do período da luta armada, misturando a
coragem revolucionária com elementos
da cultura popular.
Disponível em: <http://mod.lk/enluarad>.
Coração de estudante, de Milton
Nascimento.
Canção inspirada no contexto da
retomada da democracia, no início dos
anos 1980, em que Milton Nascimento
e Fernando Brant exaltam o espírito
dos estudantes, com sua jovialidade Dias de luta, do grupo Ira!.
e abertura para o novo, para trazer o
Brasil de volta ao período de crença nos Canção que exalta a escuta mais do que
valores civis da sociedade. a fala e dialoga com o “só sei que nada
sei” socrático nos versos “muito tempo
Disponível em: <http://mod.lk/cordeest>.
eu levei, pra entender que nada sei”.
Disponível em: <http://mod.lk/diasde>.
Epitáfio, dos Titãs.
Espécie de inventário de uma vida, a
letra mostra um eu poético fazendo
um balanço da existência, no qual revê
posturas e comportamentos à luz de
uma suposta maturidade.
Disponível em: <http://mod.lk/epitafi>.
40
Ideologia, de Cazuza.
Canção do período do colapso das repúblicas
soviéticas e da queda do Muro de Berlim,
Cazuza dialogava nessa letra com o cenário
do fim das ideologias e se questionava sobre
O bêbado e a equilibrista, de João Bosco
uma ideologia na qual acreditar, agora que as
e Aldir Blanc com Elis Regina.
utopias pareciam ter se esfarelado.
Canção que virou hino da anistia
Disponível em: <http://mod.lk/ideologi>.
política, em 1979, pela qual os exilados
voltavam para o Brasil anunciando um
novo tempo em que a liberdade e a vida
civil eram a tônica da vida nas ruas.
Disponível em: <http://mod.lk/equilibr>.
Deserto do teu corpo, de Taiguara.
Música composta em plena ditadura
militar na qual o sempre inquieto
Taiguara, um dos músicos mais
censurados pelos militares, mostrava
o seu desencanto com a realidade
brasileira do período e propunha novos
valores baseados no amor.
Disponível em: <http://mod.lk/taiguara>.
Filmes
Entre os muros da escola. (França, 2008). Dir. Laurent Cantet.
Duração 2h.
O documentário mostra o dia a dia na sala de aula do
professor François Marin, de língua francesa, em uma escola
de Ensino Médio da periferia de Paris. O professor busca
estimular os alunos, mas os problemas na relação com a
turma são seus grandes obstáculos. Embora se passe em uma
escola de Paris, a sala de aula mostrada no documentário
tem muitas semelhanças com as das escolas brasileiras.
Documentário realista, sensível, reflexivo e instigante.
Disponível em: <http://mod.lk/muros>.
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PARA O PROFESSOR
LIVROS
DAMASIO, António. O erro de Descartes. IZQUIERDO, Ivan. Memória. Porto Alegre:
Companhia das Letras, 2012. Artmed, 2018.
Nesta obra, o neurologista português António Considerado o mais acessível livro sobre
Damasio mostra como a ausência de emoção memória escrito no Brasil, embora Ivan
pode destruir a racionalidade. Segundo o Izquierdo seja argentino. Na obra, o autor
antropólogo Oliver Sacks, Damasio desafia discorre sobre o que é memória, quais são
os dualismos tradicionais do pensamento os tipos e as formas de memória, como ela
ocidental (mente e corpo, razão e emoção, se forma, entre outros temas ligados a esse
biologia e cultura) para oferecer uma visão importante atributo dos seres humanos.
integrada do ser humano e sugerir hipóteses
LA BOÉTIE, Étienne de. Discurso sobre a servidão
sobre o funcionamento do cérebro humano.
voluntária. Trad. Evelyn Tesche. São Paulo:
GABEIRA, Fernando. Onde está tudo aquilo Edipro, 2017.
agora? São Paulo: Companhia das Letras, 2012. Pela teoria da servidão voluntária, do jovem
Neste livro, Gabeira repassa seus mais filósofo francês Étienne de La Boétie,
de cinquenta anos de vida pública como pergunta-se por que o povo, sendo em muito
jornalista, militante político e ecológico e maior número do que o tirano, que é um só,
escritor, falando de temas históricos como obedece às suas ordens, em vez de reunir-se e
o golpe de 1964, o sequestro do embaixador aniquilá-lo. A resposta é dada pelo próprio La
Charles Elbrick, no contexto da luta armada, Boétie: porque o povo é formado de tiranetes
e a anistia política, em 1979, além de fazer que querem subjugar os seus iguais e o tirano
uma reflexão sobre um dos períodos mais nada mais representa do que essa lógica
conturbados da história do país. humana, ávida pela dominação do outro.
HEMINGWAY, Ernest. Contos. v. 1, 2 e 3. Trad. LEVI, Primo. É isto um homem? Trad. Luigi Del
José J. Veiga. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, Re. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.
2001. Livro no qual o escritor e químico italiano
Três volumes dos principais contos de Primo Levi narra sua experiência em um
Hemingway que abordam temas como campo de extermínio em Auschwitz, na
aventura, violência, brutalidade, realismo, Polônia, em 1944, com outros 650 judeus
nostalgia, coragem, narrados por um dos italianos. Levi foi um dos poucos prisioneiros
principais ficcionistas de seu tempo. que sobreviveram.
42
MACHADO, Ana Maria. Uma rede de casas
encantadas. São Paulo: Moderna, 2012.
Cinco ensaios em que a escritora Ana Maria MOSÉ, Viviane. A espécie que sabe.
Machado discorre sobre literatura, literatura Petrópolis/RJ: Vozes, 2019.
infantojuvenil, poesia e o seu processo de
Neste livro, a filósofa capixaba descreve a
criação literária com base em sua trajetória
jornada humana em direção ao pensamento
de mais de cinco décadas como escritora,
filosófico por meio de uma linha que parte
educadora, intelectual e jornalista.
do surgimento do Homo sapiens até os dias
atuais. O eixo dessa trajetória é o ser humano
e o modo como foi forjado como ser racional.
O livro instiga o leitor a se fazer algumas
perguntas essenciais: O que somos? O que
nos tornamos? Por que chegamos até aqui? De
que modo podemos sair deste impasse?
artigos
NEVES, Cynthia Agra de Brito.
“Slam” é a voz de identidade e
resistência dos poetas contem
porâneos. Jornal da USP, 23
nov. 2017.
Neste artigo, Cynthia Agra de
Brito Nevez, professora
da Universidade de Campinas
(Unicamp) apresenta a
poesia slam, também chamada
de poetry slam, uma
nova modalidade de poesia, fala
da, criada nos anos
1980, em Chigado, Estados Un
idos, e que chega ao Brasil
reivindicando a cultura jovem
, popular e negra.
Disponível em: <http://mod.lk/sla
musp>.
43
filmes
Memória. Entrevista do neurocientista Ivan
Izquierdo ao dr. Dráuzio Varella. Uzumaki,
2010. Duração: 48min38s.
Nesse vídeo, o neurocientista argentino
Em tempo de Pedro Nava. Curta-metragem.
Ivan Izquierdo explica como a memória
Direção: Fernando Sabino e Davi Neves.
funciona e por que fatos marcados pela
Patrícia Porto. Duração: 9min27s.
emoção ficam registrados com mais nitidez
e perenidade em nossa memória do que os Neste vídeo, o memorialista Pedro Nava
que envolvem outros sentimentos. mostra um pouco de sua rotina de escritor
Disponível em: <http://mod.lk/izquierd>.
e médico e fornece alguns elementos
biográficos sobre por que começou
a escrever memórias depois de já ter
passado dos cinquenta anos, além de
algumas pistas sobre seu método de
resgatar o passado.
Zélia Gattai. Zélia Gattai fala sobre como
começou a escrever. Fundação Casa de Disponível em: <http://mod.lk/pedronav>.
Jorge Amado.
Neste vídeo, sem grandes formalidades, a
escritora e memorialista Zélia Gattai conta
como começou a escrever suas memórias,
incentivada por seu marido Jorge Amado, Entrevista com Domingos Pellegrini. Thaise
tomando como ponto de partida a história Leonardi. Persona, UFPRTV, 2015.
de sua família de italianos imigrantes e Nesta entrevista à jornalista Thaise
anarquistas. Leonardi, o escritor, poeta e jornalista
Disponível em: <http://mod.lk/zelia>. Domingos Pellegrini comenta como
começou a escrever, os escritores que o
influenciaram, seu método de escrita, suas
paixões políticas de juventude e sua visão
de mundo atual, despida de muitas das
crenças da adolescência e juventude.
Disponível em: <http://mod.lk/domingos>.
BIBL I O G R A F I A 44
CO M E N TA D A
ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética clássica. COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário.
Tradução do grego e do latim de Jaime Bruna. São Paulo: São Paulo: Contexto, 2014.
Cultrix, 2014. O que é um círculo de leitura? É um grupo de pessoas
Coletânia de obras clássicas que estão na origem dos que se reúne com o objetivo de discutir a leitura
estudos literários sobre a ficção e seus elementos de de uma obra em um lugar qualquer – na escola,
composição. na biblioteca, em cafés ou livrarias, na casa de
BLOOM, Harold. Como e por que ler. Trad. José Roberto amigos e até mesmo em discussões on-line. Nesta
O’Shea. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. obra, Rildo Cosson, professor na área de Literatura
Neste livro, Harold Bloom, um dos principais críticos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
literários da atualidade, convida o leitor a uma apresenta uma proposta de organização e de
saborosa viagem por grandes obras da literatura funcionamento de um círculo de leitura. Ele orienta e
universal, como Dom Quixote de La Mancha, de Miguel fornece embasamento para a criação de atividades
de Cervantes, Crime e castigo, de Dostoiévski, Em que possam auxiliar educadores e leitores, ampliando
busca do tempo perdido, de Marcel Proust, Hamlet, de a grande diversidade de interesses que existe na
Shakespeare, entre muitas outras. atividade de leitura, e convida o leitor a formar o seu
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Nilson próprio círculo de leitura.
Moulin. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade:
(Companhia de Bolso)
História, teoria e pesquisa. 18. ed. Campinas, SP:
Nesta obra, o escritor italiano Italo Calvino (nascido Papirus, 2012. (Coleção Magistério: Formação e
em Cuba, mas levado à Itália logo após o nascimento) Trabalho Pedagógico)
comenta com aguda percepção alguns dos autores mais
Estudiosa das questões que envolvem a
importantes da tradição literária do Ocidente, mesclando
interdisciplinaridade desde os anos 1970, formada pela
gosto pessoal com nomes fundamentais do cânone
USP, mestre em filosofia da educação pela PUC-SP e
literário universal, como Stendhal, Balzac, Flaubert,
doutora em antropologia cultural pela USP, a professora
Tolstói e Borges. Calvino ainda fornece subsídios para
Ivani Fazenda acredita que, “ao buscar um saber mais
compreender a controversa indagação sobre por que
uma obra é considerada um clássico e por que lê-las, integrado e livre, a interdisciplinaridade conduz a uma
em ensaios que começaram a ser escritos no início da metamorfose que pode alterar completamente o curso
década de 1980 e até sua morte, em 1985. dos fatos em Educação; pode transformar o sombrio
em brilhante e alegre, o tímido em audaz e arrogante e
CANDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. São
a esperança em possibilidade”.
Paulo: Perspectiva, s.d. (Série Debates: Literatura)
Ensaios de Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Décio JOUVE, Vincent. Por que estudar literatura? Trad. Marcos
de Almeida Prado e Paulo Emílio Salles Gomes, Bagno e Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2012.
importantes nomes na formação de sucessivas (Coleção Teoria Literária)
gerações de estudantes de Letras e de Artes. A obra Obra dirigida aos pesquisadores em teoria literária e
traz atualidade nas análises e na discussão crítica das da arte, aos professores e estudantes de literatura e a
modernas leituras estéticas, que tocam campos do todos os amantes da literatura. Discorre sobre a arte
saber como a linguística e a filosofia, entre outros. literária e seus elementos de formação.
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LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 8. ed. São Paulo: Angélica Soares retoma a discussão iniciada por
Brasiliense, 1982. Platão e Aristóteles na Antiguidade grega sobre os
Pequena obra introdutória pelos caminhos da literatura gêneros literários e a natureza da obra literária, seja
que analisa a ficção e seus elementos constituintes. ela a epopeia, o conto, a crônica, o ensaio, a novela,
perpassando as formas dramáticas (tragédia, comédia
LONTRA, Hilda Orquídea H. (org.). Histórias de leitores.
e drama) e contemplando as recentes rupturas de
Brasília: Editora Universidade de Brasília/Oficina Editorial
paradigma trazidas pelo advento do pensamento
do Instituto de Letras UnB, 2006.
pós-moderno nas letras e nas artes
Obra que reúne textos que tratam do processo de
constituição da identidade pela leitura, recuperando TERZI, Sylvia Bueno. A construção da leitura – Uma
vivências permeadas de afetividade que têm em experiência com crianças de meios iletrados. Campinas,
comum o resgate do prazer do convívio com os textos SP: Pontes; Editora da Unicamp, 1995.
literários. A autora relativiza a ideia de que toda criança, ao
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura. Trad. Celina Olga de chegar à escola, já traz consigo um conhecimento
Souza. São Paulo: Editora 34, 2008. sobre a escrita – segundo ela, é preciso considerar a
sua origem familiar e social e modular o aprendizado e
Ler é quase sempre uma atividade solitária, que
a construção da leitura.
implica, paradoxalmente, uma abertura para o outro.
Nesta obra, a antropóloga Michèle Petit discorre sobre TEZZA, Cristóvão. O espírito da prosa – Uma
as múltiplas dimensões envolvidas na experiência da autobiografia literária. Rio de Janeiro: Record, 2012.
leitura. Cristóvão Tezza, romancista e ensaísta brasileiro
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Trad. contemporâneo, faz nessa obra uma autobiografia
Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2009. com foco em sua formação como escritor e nas
Nessas cartas, publicadas pela primeira vez em subjetividades que cercam o ofício de escrever.
1929, Rilke dá conselhos ao jovem poeta Franz Xavier TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. 3. ed. Trad.
Kappus, abordando temas ligados à produção poética, Caio Meira. Rio de Janeiro: Difel, 2010.
mas também a temas existenciais, com base em sua
Todorov faz a crítica do ensino de literatura na
experiência como poeta e ser humano.
atualidade, baseado no formalismo-estruturalismo, ao
SOARES, Angélica. Gêneros literários. 4. ed. São Paulo: mesmo tempo que defende a leitura e a literatura como
Ática, 1997. (Série Princípios) campos de aprendizado e de formação humana.
Nesta obra introdutória ao tema, a professora da (Todos os links de páginas da internet presentes neste material
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foram acessados em 11 nov. 2020).