● Entidade muito comum –.
afeta cerca de 10% da população mundial
● Mulheres jovens que parecem apresentar dor abdominal localizada no abdome inferior de
intensidade variável.
● É um distúrbio funcional do trato gastrointestinal, que se caracteriza por dor abdominal crônica
de variável intensidade e alteração do hábito intestinal (diarreia e/ou constipação).
● Doença crônica e recidivante, com períodos de piora e melhora.
● Mais comum em mulheres
● De 20 a 30 anos de idade
● Em algumas condições podem associar-se à SII, como depressão, ansiedade, dispepsia funcional,
fibromialgia e somatização.
FISIOPATOLOGIA
● Multifatorial
● Alterações na motilidade gastrointestinal e hipersensibilidade visceral
● HIPERSENSIBILIDADE VISCERAL: resposta sensorial exacerbada ao estímulo visceral.
● MOTILIDADE ANORMAL: aumento da frequência e irregularidade das contrações luminais,
trânsito intestinal lentificado (forma constipante) ou resposta motora exacerbada após refeições
(forma diarreica).
● DESREGULAÇÃO NEURAL CENTRAL: estresse e distúrbios emocionais acentuam os sintomas da
SII, e fármacos que atuam no córtex cerebral atenuam tais sintomas, o que sugere a participação
do sistema nervoso central na patogênese da doença.
● DISTÚRBIOS PSICOLÓGICOS: até 80% dos portadores de SII exibem transtornos psiquiátricos
associados (por exemplo, ansiedade e depressão).
● SII PÓS-INFECCIOSA: cerca de 1/3 dos portadores de SII apresentaram clínica similar a uma
gastroenterite no início do quadro clínico.
● ATIVAÇÃO IMUNE E INFLAMAÇÃO DA MUCOSA: alguns portadores de SII apresentam sinais de
inflamação leve da mucosa intestinal. Número aumentado de linfócitos e mastócitos tem sido
observado no intestino de portadores de SII, bem como níveis plasmáticos elevados de citocinas
inflamatórias.
● ALTERAÇÃO DA FLORA INTESTINAL: a disbiose intestinal poderia alterar a permeabilidade
intestinal e aumentar a apresentação de antígenos, ativando mastócitos de forma mais
significativa, cuja degranulação contribuiria para os sinais e sintomas da SII. Entretanto, existem
estudos com resultados conflitantes, de modo que o papel da flora intestinal relacionado à SII
ainda permanece incerto.
● ANORMALIDADES NAS VIAS SEROTONINÉRGICAS: a serotonina atua na regulação da
motilidade gastrointestinal e na percepção visceral. Alguns portadores de SII, sobretudo com
predomínio de diarreia, apresentam aumento colônico das células enterocromafínicas que contêm
serotonina, além de um aumento nos níveis plasmáticos de serotonina, quando comparados a
indivíduos sadios.
● GENÉTICA: fatores genéticos influenciam, de forma modesta, o desenvolvimento da SII
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
● DOR ABDOMINAL: é critério obrigatório para o diagnóstico, apresentando intensidade variável.
Costuma apresentar-se como cólica transitória e recidivante.
○ Não costuma acordar o paciente durante o sono;
○ Raramente determina anorexia ou desnutrição;
○ Melhora com a eliminação de fezes e flatos;
○ Piora com alimentação;
○ Piora com estresse;
○ Pode piorar na fase menstrual ou pré-menstrual.
● ALTERAÇÃO DO HÁBITO INTESTINAL: Alternância entre diarreia e constipação
○ Diarreia
■ volumes fecais pequenos (<200 mL);
■ não desperta o doente à noite;
■ piora com estresse;
■ piora com ingestão de alimentos;
■ pode ser acompanhada da eliminação de muco;
■ não é acompanhada da eliminação de sangue;
■ não há disabsorção ou perda de peso.
○ Constipação
■ Pode ser acompanhadas de tenesmo e sensação de evacuação incompleta
● OUTROS SINAIS/SINTOMAS: podem exibir flatulência e sintomas do trato gastrointestinal
superior (dispepsia, náuseas e vômitos).
DIAGNÓSTICO
● Critérios Diagnósticos de ROMA IV
○ Dor abdominal recidivante, pelo menos 1x por semana nos últimos 3 meses
○ Associada a dois ou mais dos seguintes critérios:
1. Relação com evacuação
2. Mudança na frequência das evacuações
3. Mudança no aspecto das fezes
● Não leva nenhuma alteração nos exames, sejam eles laboratoriais, endoscópicos ou exames de
imagem
● Exame físico provavelmente não revelará nenhuma alteração
● Exames:
○ Para todos os pacientes: Hemograma completo.
○ Para pacientes com DIARREIA:
■ Parasitológico de fezes → se suspeita de PARASITOSE INTESTINAL
■ TSH → se suspeita de HIPERTIREOIDISMO
■ Antitransglutaminase IgA → se suspeita de DOENÇA CELÍACA
■ PCR ou VHS → se suspeita de DIARREIAS INFLAMATÓRIAS
■ Calprotectina fecal → se suspeita de DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL
■ Excluir leite e derivados da dieta → se suspeita de DEFICIÊNCIA DE LACTASE
■ Teste do hidrogênio expirado → se suspeita de DEFICIÊNCIA DE LACTASE
○ Para pacientes com CONSTIPAÇÃO:
■ TSH à se quiser excluir HIPOTIREOIDISMO
■ Avaliar uso de medicação anticolinérgica
ESCALA DE FEZES DE BRISTOL
A Escala de Fezes de Bristol é uma ferramenta diagnóstica para avaliar fezes humanas com base no seu
formato e consistência. As amostras fecais recebem um número de 1 a 7, conforme a escala a seguir:
● Quando pensar em outros diagnósticos que não SII?
○ Início dos sintomas > 50 anos
○ Diarreia que persiste após 48 horas de jejum
○ Perda de peso inexplicada
○ Diarreia noturna
○ Fezes esteatorreicas
○ Exames laboratoriais alterados (anemia, PCR elevado, aumento
○ Fezes com sangue de calprotectina fecal etc.)
○ Dor abdominal com piora progressiva
○ História familiar de câncer colorretal ou DII
TRATAMENTO
● DIETA:
○ Restrição de FODMAPs: Redução de oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e
polióis fermentáveis para alívio de sintomas.
○ Aumento de Fibras: Dieta rica em fibras para aumentar a massa fecal.
○ Suplementação com Psyllium: Benefício na regulação da diarreia e constipação.
● ATIVIDADE FÍSICA:
○ Benefícios: Auxilia no controle dos sintomas da SII
● ANTIESPASMÓDICOS:
○ Anticolinérgicos (hioscina, escopolamina) inibem o reflexo gastrocólico, aliviando cólicas
e espasmos intestinais.
● ANTIDEPRESSIVOS:
○ Tricíclicos: (Amitriptilina, nortriptilina, imipramina) – promovem lentificação do trânsito,
útil para SII com diarreia.
○ ISRS: (Paroxetina, fluoxetina, citalopram) – aceleram o trânsito, útil para SII com
constipação.
● MODULAÇÃO DA FLORA INTESTINAL:
○ Probióticos: Aliviam dor abdominal, distensão e flatulência.
○ Antibióticos: Não recomendados de rotina.
● ANTIDIARREICOS:
○ Loperamida: Opioide de ação periférica que reduz peristalse e secreção de fluidos,
retardando o trânsito intestinal.
● LAXATIVOS OSMÓTICOS:
○ Opção para Constipação: Polietilenoglicol, por ser de baixo custo e ter menos efeitos
colaterais que lactulose e leite de magnésia.
● AGONISTAS E ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DA SEROTONINA:
○ Antagonistas: Reduzem a percepção de dor visceral e retardam o trânsito – úteis na SII
com diarreia.
○ Agonistas: Estimulam o trânsito, mas tegarosede foi retirado do mercado devido ao risco
de eventos cardiovasculares.
PACIENTES COM SINTOMAS LEVES
1. Educação: informá-lo sobre a natureza da doença, sobre a origem dos sintomas e tranquilizar o
paciente.
2. Reafirmação: escutar as dúvidas e angústias do paciente e esclarecê-las.
3. Dieta e medicação: identificar alimentos e medicamentos que agravam os sintomas e reduzir ou
retirar seu consumo.
PACIENTES COM SINTOMAS MODERADOS
1. Monitorar os sintomas: encorajar o paciente a fazer um diário dos seus sintomas, por 1 a 2
semanas, para que ele participe ativamente de seu tratamento e a fim de identificar alimentos
ou eventos agravantes da sintomatologia.
2. Tratamento farmacológico voltado para os sintomas, quando ocorrerem.
3. Tratamento psicológico: tratamentos psicológicos devem ser considerados, como terapia
cognitivo comportamental, relaxamentos, hipnose, mindfulness etc.
PACIENTES COM SINTOMAS SEVEROS
1. Abordagem médica:
a) executar medidas diagnósticas e terapêuticas com base em resultados objetivos e não na
demanda do paciente;
b) estabelecer metas realistas ao tratamento, como alívio dos sintomas em vez de cura;
c) tornar o paciente responsável pelo seu tratamento, oferecendo-lhe opções terapêuticas;
d) mudar o foco para manejo de doença crônica.
2. Tratamento antidepressivo: para dor, antidepressivos tricíclicos ou ISRS. ISRS são menos
efetivos para as queixas álgicas, mas reduzem a ansiedade associada à depressão.
3. Referenciar para centro de tratamento especializado em dor ou distúrbios gastrointestinais
funcionais.