Afinal o Que e Um Argumento What Is in Fact An Arg
Afinal o Que e Um Argumento What Is in Fact An Arg
2024
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v37i1p197-227
Artigo / Article
Resumo
Este artigo busca discutir o conceito de argumento, alvo de considerável
controvérsia no âmbito dos estudos da argumentação. Nosso objetivo central é
apresentar uma contribuição a esse debate a partir de uma proposta unificadora
e integradora orientada pela seguinte definição: o argumento é uma unidade
de fundamentação de uma resposta a uma questão argumentativa. Com base
nessa definição, procuramos, então, discorrer sobre as propriedades do
fundamentar, propondo que tal processo possa ser delineado a partir de três
operações: a operação lógico-inferencial de atribuição de plausibilidade à tese,
que articula a noção de argumento à noção de esquema argumentativo em
termos de uma relação tipo-instância; a operação retórica de geração de
influência, que incorpora a discussão em torno de comprometimentos e
acordos ao modo de funcionamento do argumento; e a operação dialética de
deslocamento do ônus da prova para o outro, que conecta a realidade racional
à interacional e intertextual. Cada uma dessas operações é discutida do ponto
de vista teórico e operacional, destacando categorias relevantes de análise para
dar conta desse conjunto. A fim de mostrar a produtividade da proposta,
agregamos a tal debate a análise ilustrativa de um diálogo concreto entre uma
menina de quatro anos e seu responsável, publicado no perfil Fatos de Crianças
do então Twitter (hoje, X).
Abstract
This paper aims to discuss the concept of argument, a subject of considerable
controversy in the field of argumentation studies. Our central objective is to
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Afinal, o que é um argumento?
Introdução
Nos últimos vinte anos, temos testemunhado nos estudos da argumentação uma série de
esforços – crescentes e, inclusive, descentralizados – de construir formulações teóricas e
modelos de análise que primam por um olhar integrador, em vez do olhar fragmentado que
caracterizou, inicialmente, o renascimento do campo na segunda metade do século XX,
marcado por rígidas divisões entre perspectivas lógicas, retóricas, dialéticas e, mais
recentemente, linguísticas. Podemos flagrar tal empreendimento na Pragmadialética
neerlandesa (van Eemeren, 2010, 2018), na Teoria da Argumentação no Discurso franco-
israelense (Amossy, 2018), no Modelo Dialogal francês (Plantin, 2008) e no Modelo de Análise
(em Níveis) do Texto Argumentativo argentino (Padilla; Douglas; Lopez, 2011), dentre outros.
No Brasil, esses esforços também têm se intensificado, ainda que não tenham gerado ainda uma
teoria ou um modelo consolidado de fato.
Este artigo busca, então, concretizar um passo nessa direção, propondo uma discussão
sobre o conceito de argumento – o que envolve necessariamente o debate sobre uma noção
correlata, a de esquema argumentativo – a partir da perspectiva integradora com que temos
trabalhado no Projeto DIA – Discurso, Interação e Argumentação em Mídias Digitais na
Universidade de São Paulo, que entende a argumentação como uma prática sociossemiótica
complexa com propriedades lógicas, retóricas e dialéticas. Por conseguinte, entendemos que
qualquer recurso argumentativamente relevante precise ser descrito a partir de tais propriedades,
considerando o peso de cada uma delas – não necessariamente equivalente, dada a diversidade de
gêneros discursivos e diálogos argumentativos e a variabilidade situacional – nas práticas
discursivas em que a argumentação se manifesta. E é exatamente essa a discussão que visamos
promover neste artigo, mostrando de que forma o argumento, como uma unidade de
fundamentação de uma tese, põe em ação operações lógico-inferenciais, retóricas e dialéticas
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Partimos dessa elaboração de Ralph Johnson, um dos pais do campo da Lógica Informal,
em seu importante livro Manifest Rationality, para dirigir a atenção para o seguinte fato: a
argumentação consiste em uma atividade realizada semioticamente e inscrita em dadas
configurações históricas e socioculturais – e, como toda prática que envolve a correlação entre
o semiótico e o social, não está livre de um regime de coerções que estruturam suas formas de
manifestação concreta, como bem explana Fairclough (2003), dentre outros pesquisadores dos
estudos do discurso.
Isso quer dizer que essas distintas configurações incidem, direta ou indiretamente, (i)
nas formas pelas quais construímos, enquadramos, mantemos, alimentamos, gerimos e
resolvemos conflitos de opinião; (ii) nas maneiras pelas quais apresentamos nossas posições no
âmbito desses conflitos e usamos as distintas modalidades (semióticas) para 199ealiza-las e
para blindá-las diante da crítica do outro, bem como para questionar e atacar as posições e as
razões oferecidas pelo outro; (iii) nos modos pelos quais nos valemos de distintos recursos,
calcados em quem somos (ou aparentamos ser), nas disposições afetivas dos outros e nos
padrões de raciocinar argumentativamente compartilhados (por nossa sociedade e pelos grupos
aos quais nos filiamos) para influenciar o outro e o curso da interação; e, por fim, (iv) na seleção
dos padrões de raciocínio avaliados como pertinentes para tornar uma posição plausível. Em
outros termos, o dialético, o retórico e o lógico estão todos correlacionados a uma fundação
social e semiótica – e essa é a primeira das premissas fundamentais de nossa abordagem
integradora. Amossy (2018) parte de princípio similar, e a convocação para um olhar
antropológico sobre o argumentar, estimulada recentemente por Tindale (2021), vai na mesma
direção. Ambos os autores são, nesse sentido, claramente inspiradores para a nossa perspectiva.
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Afinal, o que é um argumento?
Toda essa formulação inicial, que parte de um diálogo entre diferentes tradições de
pensamento nos estudos da argumentação e uma perspectiva sociossemiótica sobre a
linguagem, é fruto de uma tendência contemporânea de buscar diluir fronteiras entre os distintos
campos disciplinares que se debruçam sobre o argumentar, como apontamos na introdução.
Chegamos a um tal momento na área que, embora ainda sejam relevantes os aprofundamentos
particulares a cada perspectiva, já é possível – e inclusive desejável – articularmos, com os
devidos cuidados, conceitos, métodos e interesses dessas distintas perspectivas para um olhar
mais holístico sobre as práticas argumentativas.
1
Tal concepção de modalidade advém das discussões da Semiótica Social, em especial, de Jewitt e Kress (2003).
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2
Explicaremos os termos técnicos arrolados neste parágrafo – tese, premissa, presunção e acordo – na próxima
seção.
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Por fim, mas não menos importante, a propriedade lógica diz respeito ao funcionamento
do raciocínio argumentativo, em especial à discussão sobre como os participantes de uma
atividade argumentativa fortalecem suas posições ou enfraquecem as posições dos outros,
ampliando ou subtraindo plausibilidade, ao recorrerem às formas que nossa sociedade e cultura
forjaram e validaram como aptas para defender, questionar ou criticar posições. Logo, interessa
ao analista da argumentação entender os padrões de raciocínio argumentativo distribuídos e
consolidados sócio-histórica e culturalmente – os ditos esquemas argumentativos (Gonçalves-
Segundo, 2023a; Perelman; Olbrechts-Tyteca, 2002; Rigotti; Greco, 2019; Walton; Reed;
Macagno, 2008) –, os regimes de racionalidade ao qual estão subordinados (Koren, 2011;
Seixas, no prelo), os modos pelos quais eles se estruturam e, por conseguinte, os modos pelos
quais eles podem ser atacados/criticados. Neste artigo, a discussão sobre o lógico em relação
ao argumento será proeminente, até por conta de ser uma das propriedades que menos se tem
dado atenção na tradição de estudos da argumentação no Brasil.
Isso posto, passemos, então, à questão central deste artigo: o que é um argumento?
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Tal diálogo consiste em um exemplar de uma interação cotidiana bastante familiar para
quem tem filhos. Chega uma determinada hora da noite, e os pais convocam as crianças a ir
para a cama dormir; não raro, contudo, enfrentam algum grau de resistência, seja por qual for a
razão: a criança quer continuar brincando, quer continuar assistindo a algum programa na TV
(ou no YouTube), dentre outras atividades possíveis. Esse conflito de posições – a
confrontação (van Eemeren, 2018) – consiste na “faísca” que pode dar origem ao “fogo”
argumentativo, caso haja condições e investimento no processo de sustentação, questionamento
e contestação dessas mesmas posições. Em termos técnicos, toda confrontação pode ser
representada por uma questão argumentativa (Lewiński, 2015; Plantin, 2008), fechada ou
aberta, em geral, reconstruída pelo pesquisador no processo de análise; no caso, poderíamos
expressá-la da seguinte forma: Paula tem ou não ir que dormir nesse momento? 5
3
Um perfil análogo é o Frases de Crianças, ativo em várias plataformas, cujo slogan é As pérolas das nossas pérolas!
4
Atualmente, não é mais possível acessar o link, pois o perfil não está mais em atividade.
5
Consideramos importante frisar que, como a questão argumentativa consiste, em geral, em uma reconstrução
do analista, é bem comum que diferentes pesquisadores proponham versões distintas. O importante é que elas
sejam, de fato, condizentes com o que se desenvolve no fluxo textual ou na controvérsia.
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Afinal, o que é um argumento?
Decorre dessa concepção a ideia de que teses (posições, alegações ou ainda pontos de
vista, a depender da teoria, do modelo ou do autor) consistem em respostas a uma questão
argumentativa, respostas essas que são, em princípio, incompatíveis entre si e que evidenciam
uma tomada de posição, um posicionamento do ator frente a um assunto ao qual se agrega
discutibilidade. Recuperamos de Grácio (2022) a noção de discutibilidade para chamarmos a
atenção para o fato de que apenas argumentamos sobre o que é discutível, ainda que essa
discutibilidade não seja natural – ela emerge histórica, social e interacionalmente, a partir das
condições que delimitam a situação argumentativa (Plantin, 2008)6. Isso posto, podemos
afirmar, então, que há duas teses em conflito no diálogo: a positiva, de que Paula tem que ir
dormir naquele momento, conforme podemos reconstruir do enunciado Filha, tá na hora de
dormir, um ato de fala indireto7 (Searle, 1979) proferido pelo responsável, e a negativa,
indiciada pelo enunciado Não quero dormir agora, que apresenta um posicionamento volitivo
de resistência (não querer), contrário a um posicionamento assertivo normativo (tá na hora de
dormir) que implica uma ordem (tem que ir dormir).
6
Um exemplo bastante concreto do que queremos dizer é um vídeo viral em que duas crianças pequenas
discutem se um dado bovino é boi ou vaca (https://youtu.be/ad9Sw3FHMT8). Ainda que as crianças não
argumentem de fato, o vídeo flagra uma situação em que emerge uma discutibilidade local, relevante apenas
entre aquelas crianças, naquele momento, naquele espaço, durante aquela interação. Nesse caso, não se
desenvolve uma situação argumentativa concreta porque as posições não são fundamentadas, o que já mostra
que nem sempre a discutibilidade culmina no argumentar, ainda que lhe seja uma condição necessária.
Voltaremos a esse ponto na sequência.
7
Um ato de fala indireto é aquele em que o ato ilocutório primário, o que se intenciona dizer, não coincide com
o ato ilocutório secundário, o que foi expresso. No caso, o assertivo Filha, está na hora de dormir “retrataria”
um estado de mundo a partir da perspectiva do responsável; no entanto, ele foi usado – e inclusive interpretado
pela filha – como se fosse um ato ilocutório diretivo, uma ordem de que ela teria que ir dormir naquele
momento. Esse diretivo seria o ato ilocutório primário. Há uma relação de implicatura, do tipo griceano,
indiciada pelo falante (no caso, o responsável), que se torna inferível pelo ouvinte (no caso, a filha). Para uma
boa introdução a toda essa discussão, cf. Ferreira (2023); para aprofundamento, cf. Grice (1975), Lewiński
(2021), Searle (1979).
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• a operação dialética de deslocar o ônus da prova para o outro lado, ou seja, para
quem está alinhado à outra perspectiva, transferindo a responsabilidade por
sustentar a posição alternativa a quem, na dinâmica argumentativa, não partilha da
mesma posição, (ainda) não aderiu à nova tese defendida ou não a considerou como
mais plausível do que aquela com a qual já se estava inicialmente alinhado – tal
operação lastreia-se também em discussão sistemática realizada no âmbito da
Pragmadialética (van Eemeren, 2018), na teoria do raciocínio presuntivo de Walton
(2001, 2006), aprofundada no âmbito da sua conceituação de esquemas
argumentativos (Walton; Reed; Macagno, 2008), e na dinâmica actancial discutida
no modelo dialogal de Plantin (2008).
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8
Para uma discussão mais ampla, cf. Yu e Zenker (2020).
9
Veremos, ainda nesta seção, que as presunções/garantias estão quase sempre implícitas, mas dados/premissas
e teses/alegações também podem estar. O grau de explicitação/implicitação decorre, em geral, de fatores
co(n)textuais e sociocognitivos.
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argumentativos é produtivo, uma vez que ela permite controlar a dispersão de implícitos
possíveis, o que representa, em especial para o analista em formação, uma barreira de árdua
transposição. Voltaremos a isso em breve.
Para que a discussão se torne mais palpável, vale retomarmos a nossa postagem. É do
segundo turno conversacional do responsável que podemos depreender um ato de
fundamentação10: Tem que dormir, se quiser crescer. Sem grandes dificuldades, somos capazes
de interpretar que esse enunciado “nucleia” o processo de defesa da tese do responsável. Para
o analista, no entanto, tal identificação não basta. É necessário mostrar de que maneira esse
enunciado indicia um raciocínio argumentativo mobilizado para atribuir plausibilidade à
posição. A pergunta que guia o analista é a seguinte: “Como é possível que o conteúdo
proposicional11 x sirva para defender/sustentar/justificar a tese y?”; em nosso caso, “como é
possível que, ao dizer que a filha ‘tem que dormir se quiser crescer’, o pai consiga defender que
‘a filha tem que ir dormir naquele momento’?”. A busca pela resposta a essa pergunta é
justamente a tarefa que o analista da operação lógico-inferencial do argumento precisa
realizar.
10
Chamamos a atenção para o fato de que afirmamos que é possível depreender um ato de fundamentação. Esse
enunciado, sozinho, é apenas uma evidência de um dos componentes do argumento.
11
Estamos utilizando o termo “conteúdo proposicional” para nos referirmos ao conjunto de elementos
referenciais e predicativos que compõem o enunciado.
12
Vale, nesse ponto, fazermos uma grande ressalva. Embora seja comum que os argumentos e os esquemas
argumentativos sejam descritos a partir de três componentes funcionais, às vezes, o quadro teórico apresenta
apenas dois nomes para os três componentes. Walton e Macagno (2015) e Macagno (2015), por exemplo,
denominam tanto os dados quanto a garantia toulminiana como premissa, apesar de reconhecerem haver uma
distinção conceitual e funcional entre as premissas que atuam como dados e aquelas que atuam como garantia.
Na Pragmadialética (Juthe, 2019; van Eemeren, 2018), diferencia-se entre a premissa material (equivalente ao
dado) e a premissa de conexão (equivalente à garantia). A abordagem mais inovadora, nesse sentido, advém
do Modelo Argumentum de Tópicas (Rigotti; Greco, 2019), que propõe que a estrutura de um argumento tenha
cinco componentes: o endoxon, o dado, a primeira conclusão, a máxima, e a segunda conclusão (no fundo, a
tese).
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É importante observar que essa reconstrução respeita as condições (i), (ii) e (iii) que
discutimos anteriormente, sistematizando-as em um quadro descritivo que torna visíveis os
elementos pertinentes que estruturam o raciocínio argumentativo, mesmo aqueles que não
foram enunciados. E como sabemos que eles são os elementos pertinentes? Pela análise de
muitos dados de argumentos similares, de críticas e questionamentos a esses argumentos, que
enfocam distintos pontos do raciocínio. Como veremos mais adiante, no último turno do
diálogo, a filha construirá um contra-argumento orientado a refutar a premissa de valor,
justamente um dos componentes que se encontra implícito. E, de fato, ela não precisa ser, em
geral, explicitada porque quando aprendemos a usar esse tipo de raciocínio argumentativo,
aprendemos que, para estimular alguém a fazer algo por meio de uma consequência, essa
consequência precisa ser positiva, desejável. Se uma crítica é direcionada ao valor do efeito,
questionando sua positividade, isso é um sinal de que tal valoração é um elemento do raciocínio
argumentativo. Identificar esses componentes é a tarefa do teórico interessado na operação
lógico-inferencial; por isso, a relevância de a análise considerar seriamente esses estudos como
ponto de partida.
Para que a discussão fique mais clara, vale tomarmos pontualmente um novo exemplar
textual. Trata-se de um texto ligado a uma campanha de saúde promovida pela SulAmérica em
seu perfil no X (antes, Twitter). Na postagem, podemos observar em funcionamento um
argumento cujo raciocínio (do ponto de vista procedural) é idêntico ao que acabamos de
discutir, ainda que a questão argumentativa seja outra e, portanto, o material semântico-
discursivo que constitui a razão e a tese sejam completamente distintos. Segue o texto (Figura
1), acompanhado da reconstrução do argumento (Quadro 2).
13
Inserimos as duas colunas à esquerda, neste quadro, apenas para fins didáticos.
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Figura 3. Texto de incentivo à atividade física regular publicado pelo perfil da SulAmérica
Premissa de causa e Fazer atividade física regular produz e libera endorfina no organismo, o que
efeito promove sensação de bem-estar físico e mental
Premissa de valor Ter sensação de bem-estar físico e mental é desejável
Se é desejável ter sensação de bem-estar físico e mental, então deve-se fazer
Presunção/Garantia
atividade física regular
Tese prescritiva Deve-se fazer atividade física regular
14
Nas considerações finais, apresentaremos nossa definição de esquema argumentativo, tecendo relação com a
noção de argumento, a partir da perspectiva integradora que delineamos na primeira seção.
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Aproveitamos já para chamar atenção para o fato – que, acreditamos, já deva ter sido
inferido pelo leitor – de que o esquema e, portanto, o argumento que o concretiza comporta
duas premissas; isso não é um problema e não é contraditório com a afirmação que fizemos
anteriormente de que esquemas/argumentos comportam três componentes funcionais
(premissa, presunção e tese). Os três estão presentes no esquema/argumento, mas é possível
– e, inclusive, bem comum – que um dado raciocínio argumentativo, dada sua complexidade,
seja realizado por mais de uma premissa15. Todo esquema, contudo, comportará sempre uma
única presunção/garantia e uma única tese.
Premissa de causa e efeito Se o curso de ação a for tomado, então o efeito b ocorrerá
Premissa de valor O efeito b é um resultado desejável
Se um efeito é desejável, então deve-se provocar o evento que o
Presunção/Garantia16
causa
Tese prescritiva O curso de ação a deve ser tomado
15
Normalmente, quando mais de uma, ocorrem duas, como no caso do argumento pragmático; de forma mais
rara, há esquemas, como o da regra da justiça, que é mais bem descrito com três premissas – cf. Gonçalves-
Segundo (2023a).
16
É central ratificarmos que a função da presunção/garantia é estabelecer a relevância das premissas para a
defesa da tese. Logo, ela precisa articular semanticamente o conteúdo da premissa com o da tese, por exemplo,
em termos causais ou analógicos. Nesse sentido, ela não deve acrescentar “informações novas”, como bem
ressalta Toulmin (2006[1958]). Especialmente no tocante ao esquema, ela indicia um modo de argumentar
que se mostrou produtivo em nossa sociedade; no argumento, esse modo de argumentar é atualizado com
elementos semântico-discursivos pertinentes à discussão, incorporando, assim, material dóxico ou discursivo
(e a decisão por falar em doxa ou discurso depende, em grande medida, da teoria mobilizada pelo pesquisador
para explicar essas ligações socialmente partilhadas).
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Uma vez realizada toda essa discussão, vale nos determos na Figura 4, que representa o
continuum entre o raciocínio argumentativo entimemático, o esquema argumentativo, o
argumento (reconstruído) e o enunciado contextualizado e condicionado pelas diversas
coerções que se aplicam ao uso da linguagem (em suas diferentes modalidades) na construção
de significados argumentativos.
17
Entendemos, a partir da Pragmadialética (van Eemeren, 2018), que as teses podem ser descritivas, avaliativas
ou prescritivas. Há esquemas com menor restrição procedural, ou seja, com uma razão que permite sustentar
distintos tipos de tese (por exemplo, o esquema argumentativo de autoridade), assim como esquemas com
maior restrição procedural, ou seja, especializados em um único tipo de tese (por exemplo, o esquema
argumentativo por regra da justiça, especializado em teses prescritivas).
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Afinal, o que é um argumento?
Por fim, vale mencionarmos que, ainda que seja primordial compreender o
funcionamento de um raciocínio argumentativo indiciado concretamente em um texto, seja
ele monogerido, bigerido ou poligerido, de forma que consigamos depreender os elementos que
se fazem relevantes, naquela cultura, para a justificação ou defesa de uma posição, não é
necessário utilizar um quadro para a descrição do argumento, como fizemos anteriormente, ou
ainda um diagrama, como apresentaremos ao final da seção 2.3, embora tais instrumentos
sejam, sim, muito produtivos, por deixarem claro (para o leitor) o material que constitui a
estrutura do raciocínio argumentativo. O analista pode muito bem descrever o argumento sem
valer-se desses recursos metodológicos, explicando, textualmente, o seu funcionamento. Isso
não é demérito algum e consiste em um procedimento igualmente válido. O que é problemático
é não recuperar, ainda que hipoteticamente, o que fica implícito e que torna uma dada premissa
relevante para defender uma tese. Sem isso, negligenciamos aspectos discursivos e/ou dóxicos
de extrema importância, deixando em segundo plano (ou até apagando) formas acordadas social
e culturalmente de defender, questionar e criticar teses.
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18
Emprestamos de Grácio (2022) a ideia de a argumentação operar entre o arbitrário e o necessário, e a adaptamos
à nossa formulação teórica sobre o argumento.
19
É impossível, no escopo deste artigo, dar conta de toda a controvérsia em torno do conceito de auditório
universal na Nova Retórica. Particularmente, aderimos à concepção de que se trata de um ideal sócio-
historicamente ancorado – e, portanto, dinâmico – de razoabilidade, outra noção bastante disputada. Como
mostraremos na sequência, não trataremos de acordos sobre o real em função do auditório universal; logo, tal
polêmica não atinge nossa proposta, detalhada em Gonçalves-Segundo (2023a). Para quem se interessar pela
discussão sobre a noção de auditório universal em Perelman, cf. Jørgensen (2012) e Tindale (2015); para uma
introdução sobre o debate em torno da razoabilidade, cf. Isola-Lanzoni e da Silva (no prelo), e para um
aprofundamento, Perelman (1979) e MacCormick (2005).
20
Para uma discussão mais detalhada da questão dos acordos, incluindo formas de operacionalização analítica,
ausentes no Tratado da Argumentação, cf. Gonçalves-Segundo (2023a).
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Afinal, o que é um argumento?
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Preferimos “ficção discursiva” para englobar outras possibilidades semióticas nessa projeção.
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Afinal, o que é um argumento?
O segundo turno da filha – Crescer pra quê, pra lavar louça? – exemplifica muito bem
a propriedade dialética do fundamentar (Macagno, 2015; Walton; Macagno, 2015). O
responsável, ao aplicar um esquema socialmente reconhecido e historicamente consolidado (o
esquema pragmático por consequências positivas) e valer-se de comprometimentos sobre o real
(a relação causal entre dormir e crescer) e o preferível (a desejabilidade do crescer),
construindo-os como intersubjetivamente pertinentes, ou seja, acordados, acaba deslocando o
ônus da prova para a filha.
22
Para uma tipologia atual de relações intertextuais, cf. Cavalcante et al. (2022).
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Em outros termos, o responsável gera uma presunção a favor da sua posição, tornando-a
plausível e candidata a adesão, de forma que caberá à filha o trabalho de enfrentar o “peso”
deslocado para a tese de que ela tem que ir dormir, caso ela não se alinhe à posição do responsável.
Ao contra-argumentar, ela mostra que assume o ônus e que é capaz de opor-se à
fundamentação do seu parceiro de interação, prorrogando o processo de resolução do conflito de
opinião entre ambos – ou seja, a contra-argumentação colabora para manter a questão ainda aberta.
Uma pergunta de ordem metodológica relevante que poderia nos ser feita é a seguinte:
“como sabemos que, para Paula, o crescimento é indesejável?” Para isso, precisamos olhar para
a propriedade sociossemiótica. A construção interrogativa {Verbo + pra quê?} implica que o
fazer ou o acontecimento denotado no verbo é tido como negativo por envolver um efeito tido
como igualmente negativo, seja por ser prejudicial, inútil, desgastante, dentre outras
possibilidades. Por conseguinte, ao enunciar Crescer pra quê?, a menina já está implicitando
uma avaliação negativa desse processo, mostrando sua indesejabilidade. Isso se completa pelo
23
Foge ao escopo deste artigo discutir a diversidade de formas de oposição argumentativa.
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fato de que a pergunta é respondida com a construção pra lavar louça, que, além de absorver a
carga negativa implicada da pergunta, invoca uma valoração social e afetiva negativa, que
integra a doxa de dados grupos, para os quais a realização de atividades domésticas é tida como
menor e/ou enfadonha. Isso mostra, portanto, que não é possível negligenciar, da análise dos
argumentos, os elementos culturais, discursivos, ideológicos e enciclopédicos que marcam a
realidade enunciativa, na medida em que são os enunciados que materializam os argumentos,
indiciando a instanciação de um dado tipo de raciocínio, que só é reconstruído
(proposicionalmente) quando a totalidade do seu funcionamento é levada a sério.
Na figura 5, a seguir, mostramos a interação entre os argumentos do responsável e da
filha, de modo a marcar, explicitamente, o ponto de contato entre eles. Por meio do recurso
metodológico do diagrama24, podemos mostrar visualmente o exato ponto em que o contra-
argumento da filha ataca a fundamentação do pai – a premissa de valor. Ressaltamos que, nesse
contato, emerge uma questão subordinada (ou subquestão), um efeito incontornável da
oposição argumentativa.
Denominamos questão subordinada ou subquestão a questão argumentativa que
emerge do questionamento ou do ataque, realizado pelo Oponente ou antecipado pelo
Proponente, a uma das premissas ou à presunção/garantia que compõem a razão que sustenta
uma tese. Quando uma subquestão emerge, o componente focalizado em termos de dúvida ou
crítica torna-se bifuncional – em outros termos, ele continua sendo premissa ou presunção do
argumento pertinente à questão subordinante (muitas vezes, a questão nuclear do debate,
como ocorre na interação sob análise – Paula tem ou não que ir dormir nesse momento?), mas
também se torna tese da questão subordinada, para a qual convergirá uma razão.
É exatamente isso que ocorre no diálogo sob análise. Ao refutar internamente o
argumento do pai, a garota faz emergir a subquestão Crescer é ou não (um resultado)
desejável?, apresentando uma razão para a resposta (implícita) de polaridade negativa25. Como
não temos acesso à continuidade do diálogo, não sabemos como o responsável acabou lidando
com a nova transferência de ônus da prova, dessa vez, realizada pela filha. Imaginamos que,
antes de qualquer coisa, o contra-argumento deva ter gerado boas risadas.
24
Diagramas são grafos direcionados que representam visualmente a relação entre os componentes de um
argumento (ou seja, relações intra-argumentos) e a relação entre argumentos (isto é, relações inter-argumentos,
seja em termos de defesa ou de ataque). Ainda que haja dadas convenções já consolidadas na área, cada
perspectiva tem suas especificidades. Em nossa proposta, os nós representam os componentes de um
argumento: premissas/dados, garantias/presunções, teses/posições. As arestas (ou vetores) originam-se nas
premissas e nas presunções e se encontram antes de prosseguirem para a tese, para onde o destino da aresta
converge. O ponto de encontro entre premissas e presunções serve para mostrar a indissociabilidade desses
componentes na formação de uma razão. Nós optamos por incluir no diagrama todas as questões
argumentativas que são relevantes, da questão nuclear, localizada, em geral, na região superior, às questões
subordinadas, em número (a princípio) indefinido, uma vez que isso depende de cada interação argumentativa
(no caso do diálogo sob análise, há apenas uma subquestão). As questões são visualmente marcadas por meio
de um retângulo curvo de fundo acinzentado. Em geral, colorimos os componentes dos argumentos em função
dos lados da disputa; no caso, o argumento do pai está em amarelo ocre; o da filha, em azul. As linhas
pontilhadas grossas que aparecem no centro da imagem representam os componentes que são
atingidos/enfraquecidos pelo contra-argumento da filha (tomando-a como ponto de referência).
25
Aproveitamos para destacar que se trata de um caso em que a tese se encontra implícita, possibilidade para a
qual havíamos chamado atenção na seção 2.1.
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Figura 5. Diagrama da interação opositiva entre o argumento de consequências para a avaliação da filha e o argumento por consequências positivas do
responsável
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Considerações finais
Nosso objetivo, neste artigo, foi discutir o conceito de argumento como unidade de
fundamentação de uma resposta a uma questão argumentativa, depreendido a partir da
construção enunciativa e, portanto, das pistas textuais, contextuais, cotextuais,
sociocognitivas, discursivas e interativas que atravessam o uso concreto da linguagem em
práticas sociais.
• a operação retórica de gerar influência sobre o outro, que pode ou não culminar
em adesão; minimamente, essa influência leva ao conhecimento e à ponderação da
razoabilidade de outras formas de ver, sentir, pensar e agir, o que está diretamente
relacionado – ainda que de forma não suficiente, uma vez que há outros fatores que
interferem na adesão – ao processo de identificação do público com o auditório
indiciado textualmente por meio dos acordos projetados pelo argumentador; no
máximo, a influência promove um realinhamento de posições;
• a operação dialética de deslocar o ônus da prova para o outro lado, que precisará
contra-argumentar interna ou externamente em caso de discordância (considerando,
é claro, o princípio de continuidade do engajamento no debate; o outro sempre pode
optar por calar-se, não considerando que valha a pena dedicar-se à contra-
argumentação – de toda forma, o ônus da prova foi a ele deslocado. Optar por fazer
uso dele ou não é entrar em outra seara de discussão). Tal contra-argumento pode
ser concretizado na própria interação em curso, no caso de um debate, por exemplo,
ou pode se materializar em um outro texto, como no caso de articulistas de opinião
que discutem entre si nas suas colunas semanais, o que chama a atenção para a
possibilidade de tal deslocamento se dar em termos intertextuais estritos
(Cavalcante et al., 2022).
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Esperamos, assim, que essa conceituação possa ser produtiva para os estudos
contemporâneos de argumentação, na medida em que ela procura abarcar várias dimensões da
manifestação da nossa racionalidade no processo de fundamentar. De forma análoga,
pensamos que esta discussão possa ser um ponto de partida relevante para abordagens
renovadas sobre o argumento, considerando suas múltiplas operações constitutivas, que
precisam ser, cada vez mais, aprofundadas.
Financiamento
Paulo Roberto Gonçalves-Segundo agradece à Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento da estadia como Professor Visitante na
Universidade do Porto, no âmbito do PrInt – Programa Institucional de Internacionalização (nº
do processo: 88887.694701/2022-00).
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