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Afinal o Que e Um Argumento What Is in Fact An Arg

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Linha D’Água: São Paulo, v. 37, n. 01, p. 197-227, jan.-mar.

2024
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v37i1p197-227

Artigo / Article

Afinal, o que é um argumento?


What is in fact an argument?

Paulo Roberto Gonçalves-Segundo


Universidade de São Paulo, Brasil
[email protected]
https://orcid.org/0000-0002-5592-8098

Recebido em: 13/07/2023 | Aprovado em: 12/11/2023

Resumo
Este artigo busca discutir o conceito de argumento, alvo de considerável
controvérsia no âmbito dos estudos da argumentação. Nosso objetivo central é
apresentar uma contribuição a esse debate a partir de uma proposta unificadora
e integradora orientada pela seguinte definição: o argumento é uma unidade
de fundamentação de uma resposta a uma questão argumentativa. Com base
nessa definição, procuramos, então, discorrer sobre as propriedades do
fundamentar, propondo que tal processo possa ser delineado a partir de três
operações: a operação lógico-inferencial de atribuição de plausibilidade à tese,
que articula a noção de argumento à noção de esquema argumentativo em
termos de uma relação tipo-instância; a operação retórica de geração de
influência, que incorpora a discussão em torno de comprometimentos e
acordos ao modo de funcionamento do argumento; e a operação dialética de
deslocamento do ônus da prova para o outro, que conecta a realidade racional
à interacional e intertextual. Cada uma dessas operações é discutida do ponto
de vista teórico e operacional, destacando categorias relevantes de análise para
dar conta desse conjunto. A fim de mostrar a produtividade da proposta,
agregamos a tal debate a análise ilustrativa de um diálogo concreto entre uma
menina de quatro anos e seu responsável, publicado no perfil Fatos de Crianças
do então Twitter (hoje, X).

Palavras-chave: Argumento • Esquema argumentativo • Lógica • Retórica •


Dialética

Abstract
This paper aims to discuss the concept of argument, a subject of considerable
controversy in the field of argumentation studies. Our central objective is to

Todo conteúdo da Linha D’Água está sob Licença Creative Commons CC BY-NC 4.0.
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Afinal, o que é um argumento?

provide a contribution to this debate through a unifying and integrative


proposal guided by the following definition: an argument is a unit of support for
an answer to an argumentative question. Building upon this definition, we
proceed to expound on the properties of supporting, suggesting that it can be
outlined through three operations: the logical-inferential operation of assigning
plausibility to the thesis, which links the concept of argument to the notion of
argument scheme in terms of an instance-type relationship; the rhetorical
operation of generating influence, incorporating the discussion on
commitments and agreements into the functioning of the argument; and the
dialectical operation of shifting the burden of proof to the other, connecting
rational to interactional and intertextual reality. Each of these operations is
discussed from both theoretical and operational perspectives, highlighting
relevant categories of analysis to address this complex set. In order to ground
the discussion, we provide an illustrative analysis of a dialogue between a four-
year-old child and her parent, published on Twitter (now X).

Keywords: Argument • Argument scheme • Logic • Rhetoric • Dialectics

Introdução
Nos últimos vinte anos, temos testemunhado nos estudos da argumentação uma série de
esforços – crescentes e, inclusive, descentralizados – de construir formulações teóricas e
modelos de análise que primam por um olhar integrador, em vez do olhar fragmentado que
caracterizou, inicialmente, o renascimento do campo na segunda metade do século XX,
marcado por rígidas divisões entre perspectivas lógicas, retóricas, dialéticas e, mais
recentemente, linguísticas. Podemos flagrar tal empreendimento na Pragmadialética
neerlandesa (van Eemeren, 2010, 2018), na Teoria da Argumentação no Discurso franco-
israelense (Amossy, 2018), no Modelo Dialogal francês (Plantin, 2008) e no Modelo de Análise
(em Níveis) do Texto Argumentativo argentino (Padilla; Douglas; Lopez, 2011), dentre outros.
No Brasil, esses esforços também têm se intensificado, ainda que não tenham gerado ainda uma
teoria ou um modelo consolidado de fato.

Este artigo busca, então, concretizar um passo nessa direção, propondo uma discussão
sobre o conceito de argumento – o que envolve necessariamente o debate sobre uma noção
correlata, a de esquema argumentativo – a partir da perspectiva integradora com que temos
trabalhado no Projeto DIA – Discurso, Interação e Argumentação em Mídias Digitais na
Universidade de São Paulo, que entende a argumentação como uma prática sociossemiótica
complexa com propriedades lógicas, retóricas e dialéticas. Por conseguinte, entendemos que
qualquer recurso argumentativamente relevante precise ser descrito a partir de tais propriedades,
considerando o peso de cada uma delas – não necessariamente equivalente, dada a diversidade de
gêneros discursivos e diálogos argumentativos e a variabilidade situacional – nas práticas
discursivas em que a argumentação se manifesta. E é exatamente essa a discussão que visamos
promover neste artigo, mostrando de que forma o argumento, como uma unidade de
fundamentação de uma tese, põe em ação operações lógico-inferenciais, retóricas e dialéticas

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

indiciadas pela construção sociossemiótica do enunciado, que envolve coerções e


condicionamentos contextuais, cotextuais, interacionais, sociocognitivos e discursivos.

Organizamos o artigo da seguinte forma: na primeira seção, discutimos a perspectiva


integradora que tem guiado nossos trabalhos com argumentação nos últimos anos; na segunda
seção, além de introduzirmos o texto que servirá de base para a discussão teórica, apresentamos
nossa hipótese sobre o funcionamento do argumento e, em subseções distintas, realizamos um
debate sobre o potencial lógico-inferencial, retórico e dialético do argumento, sempre em
diálogo com a análise do texto-base; na terceira seção, tecemos considerações finais que, além
de sintetizar a discussão, apresentam a consolidação de uma proposta integradora da relação
entre esquema argumentativo e argumento; por fim, arrolamos as referências bibliográficas.

1 A argumentação a partir de uma perspectiva integradora


Por ‘prática de argumentação’, eu entendo a atividade sociocultural de construir,
apresentar, interpretar, criticar e revisar argumentos [...] Essa atividade não pode
ser concebida como uma atividade de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos;
ela deve ser entendida no âmbito de uma rede de costumes, hábitos e atividades
que nasce e é mantida no escopo de uma sociedade a que essa mesma prática serve
(Johnson, 2000, p. 12, tradução nossa).

Partimos dessa elaboração de Ralph Johnson, um dos pais do campo da Lógica Informal,
em seu importante livro Manifest Rationality, para dirigir a atenção para o seguinte fato: a
argumentação consiste em uma atividade realizada semioticamente e inscrita em dadas
configurações históricas e socioculturais – e, como toda prática que envolve a correlação entre
o semiótico e o social, não está livre de um regime de coerções que estruturam suas formas de
manifestação concreta, como bem explana Fairclough (2003), dentre outros pesquisadores dos
estudos do discurso.

Isso quer dizer que essas distintas configurações incidem, direta ou indiretamente, (i)
nas formas pelas quais construímos, enquadramos, mantemos, alimentamos, gerimos e
resolvemos conflitos de opinião; (ii) nas maneiras pelas quais apresentamos nossas posições no
âmbito desses conflitos e usamos as distintas modalidades (semióticas) para 199ealiza-las e
para blindá-las diante da crítica do outro, bem como para questionar e atacar as posições e as
razões oferecidas pelo outro; (iii) nos modos pelos quais nos valemos de distintos recursos,
calcados em quem somos (ou aparentamos ser), nas disposições afetivas dos outros e nos
padrões de raciocinar argumentativamente compartilhados (por nossa sociedade e pelos grupos
aos quais nos filiamos) para influenciar o outro e o curso da interação; e, por fim, (iv) na seleção
dos padrões de raciocínio avaliados como pertinentes para tornar uma posição plausível. Em
outros termos, o dialético, o retórico e o lógico estão todos correlacionados a uma fundação
social e semiótica – e essa é a primeira das premissas fundamentais de nossa abordagem
integradora. Amossy (2018) parte de princípio similar, e a convocação para um olhar
antropológico sobre o argumentar, estimulada recentemente por Tindale (2021), vai na mesma
direção. Ambos os autores são, nesse sentido, claramente inspiradores para a nossa perspectiva.

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Nós argumentamos porque a experiência humana é diversa e fundamentalmente


intersubjetiva, envolvendo distâncias – para usar a metáfora de Meyer (2007) – entre as nossas
formas de pensar, de ver, de sentir e de agir e as dos outros, que precisam ser constantemente
negociadas para que consigamos dar continuidade à vida social (o que não significa plena
estabilidade, mas um jogo complexo entre estabilidade e dinamicidade, reprodução e
transformação). O “outro” é, portanto, um elemento fundamental da constituição da
argumentação – não é despropositada, portanto, a relevância atribuída ao auditório em tantas
perspectivas sobre o argumentar (Amossy, 2018; Bitzer, 1968; Perelman; Olbrechts-Tyteca,
1996[1958]; Tindale, 2015; van Eemeren, 2010). É para ele que explicitamos a plausibilidade
de nossa posição; é ele quem influenciamos; é com ele que gerimos nossa diferença de opinião;
é com ele que nos (des)afiliamos em termos de uma comunidade de preferências, crenças e
valores. E esse é nosso segundo princípio fundamental de trabalho – a argumentação como
uma atividade intrinsecamente intersubjetiva.

Toda essa formulação inicial, que parte de um diálogo entre diferentes tradições de
pensamento nos estudos da argumentação e uma perspectiva sociossemiótica sobre a
linguagem, é fruto de uma tendência contemporânea de buscar diluir fronteiras entre os distintos
campos disciplinares que se debruçam sobre o argumentar, como apontamos na introdução.
Chegamos a um tal momento na área que, embora ainda sejam relevantes os aprofundamentos
particulares a cada perspectiva, já é possível – e inclusive desejável – articularmos, com os
devidos cuidados, conceitos, métodos e interesses dessas distintas perspectivas para um olhar
mais holístico sobre as práticas argumentativas.

Logo, entendemos como produtivo enquadrar a argumentação a partir de suas


propriedades sociossemiótica, dialética, retórica e lógica. Por razões de espaço,
apresentaremos sinteticamente a forma como temos trabalhado em nosso projeto de pesquisa
com essa ideia; para detalhes, cf. Gonçalves-Segundo (2023a).

Dentre todas as referidas propriedades da argumentação, começaremos da


sociossemiótica, dado que é a mais complexa, por comportar três subpropriedades: a semiótica,
a discursiva e a interativa.

A subpropriedade semiótica aponta para o incontornável fato de a argumentação,


materializada textualmente na vida social, ser realizada pela combinação de recursos semióticos
provenientes das distintas modalidades moldadas sócio-histórica e culturalmente para a
construção de sentido1. Nesse sentido, é de interesse do analista da argumentação depreender o
papel dos elementos linguísticos (como conectivos, figuras e modalizações), imagéticos (como
posicionamento, angulação, saliência e vetorização) e gestuais (gestos referenciais, pragmáticos
e interativos), para apenas citar alguns, no âmbito da atribuição de plausibilidade às posições,
na geração de influência e na gestão do conflito de opinião (Tseronis, 2018; Gonçalves-
Segundo, 2021; Gonçalves-Segundo, Macagno e Azevedo, 2021).

1
Tal concepção de modalidade advém das discussões da Semiótica Social, em especial, de Jewitt e Kress (2003).

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

A segunda subpropriedade do sociossemiótico, a discursiva, engloba as coerções


representacionais, acionais e identitárias envolvidas na prática de argumentar. Partindo da
concepção de Fairclough (2003) sobre o funcionamento social da semiose, entendemos que a
argumentação se desenvolve sob as determinações de ordens do discurso, que envolvem
padrões sociossemióticos de representar (os discursos), de (inter)agir (os gêneros) e de ser (os
estilos, ligados a identidades/posições sociais específicas). Para Fairclough e Fairclough (2012,
p. 83, tradução nossa, itálicos dos autores), “esferas sociais, instituições e organizações são
constituídas por múltiplas práticas sociais integradas como redes, e a dimensão semiótica de tal
rede é uma ordem do discurso, uma configuração de diferentes gêneros, diferentes discursos e
diferentes estilos”. Para os interesses da discussão deste artigo, vale destacarmos os discursos,
que, como “modos de representar aspectos do mundo que podem ser em geral identificados
com diferentes posições ou perspectivas de diferentes grupos de atores sociais” (Fairclough;
Fairclough, 2012, p. 82, tradução nossa), alimentam as teses, as premissas e as presunções dos
argumentos e consistem na fonte primária de acordos e/ou de desacordos entre os participantes
da interação argumentativa2, seja ela monogerida, bigerida ou poligerida.

Por fim, a subpropriedade interativa abarca os aspectos situados da argumentação, ou


seja, a configuração local da argumentação no âmbito de um texto, entendido como um evento,
uma unidade de sentido em contexto (Cavalcante et al., 2022). Este texto pode ser monogerido,
bigerido ou poligerido e envolver participantes com maior ou menor grau de intimidade
(dimensão horizontal das relações interpessoais), com maior ou menor grau de diferenciação
hierárquica (dimensão vertical das relações interpessoais), sob dadas restrições espaço-
temporais e disposições emocionais, tratando de questões específicas e tendo à disposição um
dado conjunto de materiais e modalidades. Todos esses fatores, atualizados dinamicamente ao
longo da interação, especialmente nas bigeridas e poligeridas, alteram o contexto de ação,
requisitando respostas verbais e não verbais adaptadas às novas condições. No que tange à
discussão sobre o argumento, foco deste artigo, trataremos apenas da relação entre o interativo
e o dialético no âmbito da dinâmica de deslocamento do ônus da prova.

A propriedade dialética refere-se ao processo de gestão do conflito de opinião, ou seja,


ao conjunto de procedimentos associados à abertura, ao (re)enquadramento, à manutenção, ao
desenvolvimento e ao fechamento de tal conflito. Em geral, isso abarca compreender como, em
uma interação, essa diferença vai sendo dissolvida (em direção, portanto, ao fechamento) ou
acentuada (em direção, portanto, à abertura) a partir tanto da defesa de uma posição quanto do
questionamento e da crítica à posição e às razões apresentadas pelo outro ou atribuídas a ele.
Nesse processo, são relevantes: (i) a dinâmica de papéis actanciais (a distribuição e a
atualização de atores nos papéis de Proponente, Oponente e Terceiro), como bem debatem
Plantin (2008), Grácio (2010), Damasceno-Morais (2022), Emediato e Damasceno-Morais
(2022), Piris e Gonçalves-Segundo (2023); (ii) as distintas formas de conceder e de reagir

2
Explicaremos os termos técnicos arrolados neste parágrafo – tese, premissa, presunção e acordo – na próxima
seção.

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criticamente, seja questionando, objetando, ressalvando ou dispensando as razões apresentadas


pelo outro (Johnson, 2019; Krabbe; van Laar, 2011; Marraud, 2020; Toulmin, 2006[1958]); e
(iii) os diversos padrões interacionais, tipos de diálogo ou gêneros de atividade argumentativa
(van Eemeren; Peng, 2017; van Eemeren, 2018; Walton, 2019; Walton; Krabbe, 1995), como
deliberação, negociação, investigação, uma vez que cada um deles envolve diferentes tipos de
procedimentos argumentativos ratificados que constrangem a forma de gerir o conflito. Neste
texto, dado o foco na conceituação de argumento, daremos especial atenção à discussão sobre
a dialética dos argumentos, tal qual promovida por Marraud (2015), e sobre o já mencionado
(deslocamento do) ônus da prova, uma dimensão fulcral do funcionamento da interação
argumentativa (Plantin, 2008; van Eemeren, 2018).

A propriedade retórica abarca a dinâmica da influência (Amossy, 2018), na medida em


que entendemos que a argumentação se orienta ao outro e, portanto, a modificar sua visão
acerca de uma dada posição ou razão, seja porque os atos argumentativos podem fazer com que
ele reveja sua posição inicial, seja porque contribuem para que ele compreenda ou pondere uma
outra possibilidade razoável de ver, sentir, pensar ou agir no mundo, seja ainda porque podem
levá-lo a ratificar sua posição anterior, fortalecendo-a. São fundamentais para pensar essa
dinâmica as noções de auditório e de público (Amossy, 2018; Bitzer, 1968; Gonçalves-
Segundo, 2023a; Palmieri; Mazzali-Lurati, 2016; Perelman; Olbrechts-Tyteca, 1996[1958]), de
acordo e desacordo (Perelman; Olbrechts-Tyteca, 1996[1958]), de doxa (Seixas, 2023; Silva,
2016), além de todo o milenar debate sobre as provas retóricas – ethos, pathos e logos (Amossy,
2018; Fiorin, 2015; Galinari, 2014; Maingueneau, 2018; Meyer, 2007; Micheli, 2010; Piris,
2012, 2019; Reboul, 2004). Neste artigo, a discussão em torno da propriedade retórica ficará
centrada no âmbito do logos na sua correlação com as noções citadas.

Por fim, mas não menos importante, a propriedade lógica diz respeito ao funcionamento
do raciocínio argumentativo, em especial à discussão sobre como os participantes de uma
atividade argumentativa fortalecem suas posições ou enfraquecem as posições dos outros,
ampliando ou subtraindo plausibilidade, ao recorrerem às formas que nossa sociedade e cultura
forjaram e validaram como aptas para defender, questionar ou criticar posições. Logo, interessa
ao analista da argumentação entender os padrões de raciocínio argumentativo distribuídos e
consolidados sócio-histórica e culturalmente – os ditos esquemas argumentativos (Gonçalves-
Segundo, 2023a; Perelman; Olbrechts-Tyteca, 2002; Rigotti; Greco, 2019; Walton; Reed;
Macagno, 2008) –, os regimes de racionalidade ao qual estão subordinados (Koren, 2011;
Seixas, no prelo), os modos pelos quais eles se estruturam e, por conseguinte, os modos pelos
quais eles podem ser atacados/criticados. Neste artigo, a discussão sobre o lógico em relação
ao argumento será proeminente, até por conta de ser uma das propriedades que menos se tem
dado atenção na tradição de estudos da argumentação no Brasil.

Isso posto, passemos, então, à questão central deste artigo: o que é um argumento?

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

2 As operações constitutivas do fundamentar: delimitando o


funcionamento do argumento
Para conduzirmos nossa discussão, consideramos produtivo partirmos de um caso
concreto. Elegemos para isso a seguinte postagem do extinto perfil Fatos de Criança no Twitter
(hoje, X), que reproduz um diálogo cotidiano entre filha e responsável. Tal perfil, que também
era bastante ativo no Instagram, postava diálogos avaliados como divertidos e inusitados
envolvendo crianças na sua interação com adultos. Em geral, os diálogos eram enviados pelos
pais ou responsáveis, e o perfil os publicava após um processo de triagem e edição3. A Figura
1 apresenta a postagem que guiará nossa discussão:

Figura 1. Diálogo entre filha e responsável publicado por Fatos de Crianças

Fonte: https://twitter.com/FatosdeCriancas/status/1073562842148810753. Acesso em: 17 mar. 20194.

Tal diálogo consiste em um exemplar de uma interação cotidiana bastante familiar para
quem tem filhos. Chega uma determinada hora da noite, e os pais convocam as crianças a ir
para a cama dormir; não raro, contudo, enfrentam algum grau de resistência, seja por qual for a
razão: a criança quer continuar brincando, quer continuar assistindo a algum programa na TV
(ou no YouTube), dentre outras atividades possíveis. Esse conflito de posições – a
confrontação (van Eemeren, 2018) – consiste na “faísca” que pode dar origem ao “fogo”
argumentativo, caso haja condições e investimento no processo de sustentação, questionamento
e contestação dessas mesmas posições. Em termos técnicos, toda confrontação pode ser
representada por uma questão argumentativa (Lewiński, 2015; Plantin, 2008), fechada ou
aberta, em geral, reconstruída pelo pesquisador no processo de análise; no caso, poderíamos
expressá-la da seguinte forma: Paula tem ou não ir que dormir nesse momento? 5

3
Um perfil análogo é o Frases de Crianças, ativo em várias plataformas, cujo slogan é As pérolas das nossas pérolas!
4
Atualmente, não é mais possível acessar o link, pois o perfil não está mais em atividade.
5
Consideramos importante frisar que, como a questão argumentativa consiste, em geral, em uma reconstrução
do analista, é bem comum que diferentes pesquisadores proponham versões distintas. O importante é que elas
sejam, de fato, condizentes com o que se desenvolve no fluxo textual ou na controvérsia.

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Afinal, o que é um argumento?

Decorre dessa concepção a ideia de que teses (posições, alegações ou ainda pontos de
vista, a depender da teoria, do modelo ou do autor) consistem em respostas a uma questão
argumentativa, respostas essas que são, em princípio, incompatíveis entre si e que evidenciam
uma tomada de posição, um posicionamento do ator frente a um assunto ao qual se agrega
discutibilidade. Recuperamos de Grácio (2022) a noção de discutibilidade para chamarmos a
atenção para o fato de que apenas argumentamos sobre o que é discutível, ainda que essa
discutibilidade não seja natural – ela emerge histórica, social e interacionalmente, a partir das
condições que delimitam a situação argumentativa (Plantin, 2008)6. Isso posto, podemos
afirmar, então, que há duas teses em conflito no diálogo: a positiva, de que Paula tem que ir
dormir naquele momento, conforme podemos reconstruir do enunciado Filha, tá na hora de
dormir, um ato de fala indireto7 (Searle, 1979) proferido pelo responsável, e a negativa,
indiciada pelo enunciado Não quero dormir agora, que apresenta um posicionamento volitivo
de resistência (não querer), contrário a um posicionamento assertivo normativo (tá na hora de
dormir) que implica uma ordem (tem que ir dormir).

Esse confronto de posições, no entanto, não necessariamente desemboca em uma


argumentação. Isso irá ocorrer, dando origem a situação argumentativa concreta, apenas se
houver um aprofundamento no processo de posicionamento (Plantin, 2008); em nosso
entendimento, esse aprofundamento se materializa na produção de atos de fundamentação de
posições. Nessa concepção, portanto, o argumento é considerado uma unidade de
fundamentação de uma resposta a uma questão argumentativa.

Na medida em que definimos o argumento como uma unidade de fundamentação,


cabe discutirmos em que consiste o ato argumentativo de fundamentar. Como nos baseamos
em uma perspectiva integradora, as explicações precisam ser consideradas a partir da dinâmica
entre as propriedades constitutivas do argumentar. Nesse sentido, entendemos que
fundamentar realiza, a partir da materialidade semiótica dos enunciados verbais, imagéticos
e/ou multimodais, sob as coerções discursivas e interativas,

6
Um exemplo bastante concreto do que queremos dizer é um vídeo viral em que duas crianças pequenas
discutem se um dado bovino é boi ou vaca (https://youtu.be/ad9Sw3FHMT8). Ainda que as crianças não
argumentem de fato, o vídeo flagra uma situação em que emerge uma discutibilidade local, relevante apenas
entre aquelas crianças, naquele momento, naquele espaço, durante aquela interação. Nesse caso, não se
desenvolve uma situação argumentativa concreta porque as posições não são fundamentadas, o que já mostra
que nem sempre a discutibilidade culmina no argumentar, ainda que lhe seja uma condição necessária.
Voltaremos a esse ponto na sequência.
7
Um ato de fala indireto é aquele em que o ato ilocutório primário, o que se intenciona dizer, não coincide com
o ato ilocutório secundário, o que foi expresso. No caso, o assertivo Filha, está na hora de dormir “retrataria”
um estado de mundo a partir da perspectiva do responsável; no entanto, ele foi usado – e inclusive interpretado
pela filha – como se fosse um ato ilocutório diretivo, uma ordem de que ela teria que ir dormir naquele
momento. Esse diretivo seria o ato ilocutório primário. Há uma relação de implicatura, do tipo griceano,
indiciada pelo falante (no caso, o responsável), que se torna inferível pelo ouvinte (no caso, a filha). Para uma
boa introdução a toda essa discussão, cf. Ferreira (2023); para aprofundamento, cf. Grice (1975), Lewiński
(2021), Searle (1979).

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

• a operação lógico-inferencial de transferir a aceitabilidade das premissas/dados


para a tese, atribuindo-lhe plausibilidade, a partir de um laço de relevância
promovido pela presunção/garantia – tal operação baseia-se em uma larga tradição
de estudos ligados às perspectivas lógicas e lógico-dialéticas da argumentação, no
seio da qual podemos incluir o modelo de argumento de Toulmin (2006[1958]),
detalhado em Toulmin, Rieke e Janik (1984[1978]), e a teoria de esquemas
argumentativos, tal qual discutida pela Lógica Informal canadense, em especial, nos
trabalhos de Walton, Reed e Macagno (2008), Walton e Macagno (2015) e Macagno
(2015), além das contribuições brasileiras ao tema, em especial, Gonçalves-
Segundo (2020, 2022, 2023a, 2023b) e Seixas (2019, 2023);

• a operação retórica de gerar influência sobre o outro, conduzindo-o a ponderar


modos alternativos de pensar, de ver, de sentir e de agir, que podem culminar na
revisão da posição inicial, na ratificação da mesma posição ou ainda no
reconhecimento de uma outra posição como digna de atenção – essa operação
ancora-se em uma tradição milenar orientada a investigar o valor e a força dos
raciocínios argumentativos e o papel da dinâmica de acordos e desacordos, da
adaptação ao auditório e da situação concreta de argumentar como fatores centrais
da promoção da adesão, conforme podemos depreender da obra de Perelman e
Olbrechts-Tyteca (1996[1958]), Bitzer (1968, 1980), Reboul (2004), Amossy
(2018), Fiorin (2015), Palmieri e Mazzali-Lurati (2016);

• a operação dialética de deslocar o ônus da prova para o outro lado, ou seja, para
quem está alinhado à outra perspectiva, transferindo a responsabilidade por
sustentar a posição alternativa a quem, na dinâmica argumentativa, não partilha da
mesma posição, (ainda) não aderiu à nova tese defendida ou não a considerou como
mais plausível do que aquela com a qual já se estava inicialmente alinhado – tal
operação lastreia-se também em discussão sistemática realizada no âmbito da
Pragmadialética (van Eemeren, 2018), na teoria do raciocínio presuntivo de Walton
(2001, 2006), aprofundada no âmbito da sua conceituação de esquemas
argumentativos (Walton; Reed; Macagno, 2008), e na dinâmica actancial discutida
no modelo dialogal de Plantin (2008).

Logo, o argumento¸ como unidade de fundamentação, realiza, simultaneamente, essas


três operações: atribui plausibilidade à posição, deslocando o ônus da prova para o outro e
catalisando um processo de geração de influência. Por meio do procedimento de análise dos
argumentos, conseguimos descrever e explicar como essas operações estão sendo orquestradas
em uma unidade textual; por meio do processo de avaliação dos argumentos, podemos mensurar
a força de cada uma dessas operações e sua concretização efetiva, seja por uma abordagem ética
(ou seja, teoricamente motivada), que parte de critérios normativos de ordem lógica, retórica e
dialética, seja por uma abordagem êmica (ou seja, empiricamente motivada), que parte de como
os atores reagem aos argumentos, de forma complacente, questionadora ou resistente, na
própria interação em curso ou na produção de um novo texto.

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Afinal, o que é um argumento?

Nas próximas três subseções, discutiremos o funcionamento de cada uma dessas


operações constitutivas do argumento, relacionando-as à interação postada pelo perfil Fatos
de Crianças.

2.1 A operação lógico-inferencial do argumento


Ainda que a argumentação, como sabiamente discute Grácio (2010, 2022), não possa
ser reduzida à dimensão do raciocínio, é forçoso reconhecer que também não é possível
compreender, de fato, o funcionamento do argumentar sem considerarmos as formas de
raciocínio culturalmente consolidadas para defender, questionar e criticar posições na vida
social.

De modo geral, os raciocínios argumentativos tendem a ser retrospectivos – e não


prospectivos. Isso quer dizer que eles estão orientados não a encontrar uma conclusão ou chegar
a uma decisão, mas a justificar ou defender uma posição diante do outro8 ou ainda a questionar
ou criticar uma posição ou uma razão oferecida para fundamentá-la. Toulmin (2006[1958], p.
25), em seu clássico Os Usos do Argumento, deixa essa orientação clara, quando afirma o
seguinte acerca do seu modelo de argumento: “não estamos interessados em chegar a
conclusões, mas em como – depois de as termos alcançado – apresentar um argumento para lhe
dar apoio”.

Raciocínios argumentativos, no entanto, raramente vêm “desenhados” em uma


unidade textual. A dinâmica sociossemiótica concreta deixa muitos implícitos, implícitos esses
basilares para conseguirmos entender ou explicar de que forma um dado argumento está, de
fato, atribuindo plausibilidade a uma posição. Logo, é importante já anteciparmos que: (i)
diferentemente do que se possa imaginar (e este é um dos motivos pelo qual a extração
automática de argumentos ainda consiste em uma tarefa de inegável complexidade para os
cientistas da computação e de dados), não há necessariamente conectivos explícitos que
marcam as fronteiras entre os componentes de um argumento; (ii) não há uma ordem rígida na
construção enunciativa do argumento (ou seja, a tese pode ser o primeiro elemento a ser
explicitado textualmente ou o último; as razões, igualmente, podem ser construídas antes ou
depois da tese); e (iii) o típico é que haja conteúdo proposicional implícito, evidência do caráter
entimemático do argumento (Aristóteles, Retórica I; Macagno; Damele, 2013; Walton, 2008),
o que exige a reconstrução do que não fora enunciado a partir de arcabouços teóricos advindos
dos estudos semânticos, pragmáticos, textuais ou discursivos9. E é por conta justamente de toda
essa dificuldade que analisar os argumentos a partir de uma teoria de esquemas

8
Para uma discussão mais ampla, cf. Yu e Zenker (2020).
9
Veremos, ainda nesta seção, que as presunções/garantias estão quase sempre implícitas, mas dados/premissas
e teses/alegações também podem estar. O grau de explicitação/implicitação decorre, em geral, de fatores
co(n)textuais e sociocognitivos.

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

argumentativos é produtivo, uma vez que ela permite controlar a dispersão de implícitos
possíveis, o que representa, em especial para o analista em formação, uma barreira de árdua
transposição. Voltaremos a isso em breve.

Para que a discussão se torne mais palpável, vale retomarmos a nossa postagem. É do
segundo turno conversacional do responsável que podemos depreender um ato de
fundamentação10: Tem que dormir, se quiser crescer. Sem grandes dificuldades, somos capazes
de interpretar que esse enunciado “nucleia” o processo de defesa da tese do responsável. Para
o analista, no entanto, tal identificação não basta. É necessário mostrar de que maneira esse
enunciado indicia um raciocínio argumentativo mobilizado para atribuir plausibilidade à
posição. A pergunta que guia o analista é a seguinte: “Como é possível que o conteúdo
proposicional11 x sirva para defender/sustentar/justificar a tese y?”; em nosso caso, “como é
possível que, ao dizer que a filha ‘tem que dormir se quiser crescer’, o pai consiga defender que
‘a filha tem que ir dormir naquele momento’?”. A busca pela resposta a essa pergunta é
justamente a tarefa que o analista da operação lógico-inferencial do argumento precisa
realizar.

Em princípio, podemos arrolar algumas “condições”: (i) se o evento de crescer for


tomado como desejável, como positivo, ou seja, como gerando um “benefício”; (ii) se houver
uma relação causal tida como aceitável entre dormir e crescer; (iii) se uma dada cultura
reconhecer como válido indicar um curso de ação e decidir por 207ealiza-lo com base nos
benefícios projetados de sua implementação ou concretização. É essa combinação de condições,
que aprendemos em nossa integração social em uma dada cultura argumentativa, que nos faz
reconhecer que um simples enunciado como aquele é parte de uma razão ofertada para que nós
façamos algo.

Nos Estudos da Argumentação, é a teoria dos esquemas argumentativos que fornece


esse quadro de condições de funcionamento dos argumentos, operacionalizado a partir de uma
estrutura composta por três componentes funcionais básicos12:

10
Chamamos a atenção para o fato de que afirmamos que é possível depreender um ato de fundamentação. Esse
enunciado, sozinho, é apenas uma evidência de um dos componentes do argumento.
11
Estamos utilizando o termo “conteúdo proposicional” para nos referirmos ao conjunto de elementos
referenciais e predicativos que compõem o enunciado.
12
Vale, nesse ponto, fazermos uma grande ressalva. Embora seja comum que os argumentos e os esquemas
argumentativos sejam descritos a partir de três componentes funcionais, às vezes, o quadro teórico apresenta
apenas dois nomes para os três componentes. Walton e Macagno (2015) e Macagno (2015), por exemplo,
denominam tanto os dados quanto a garantia toulminiana como premissa, apesar de reconhecerem haver uma
distinção conceitual e funcional entre as premissas que atuam como dados e aquelas que atuam como garantia.
Na Pragmadialética (Juthe, 2019; van Eemeren, 2018), diferencia-se entre a premissa material (equivalente ao
dado) e a premissa de conexão (equivalente à garantia). A abordagem mais inovadora, nesse sentido, advém
do Modelo Argumentum de Tópicas (Rigotti; Greco, 2019), que propõe que a estrutura de um argumento tenha
cinco componentes: o endoxon, o dado, a primeira conclusão, a máxima, e a segunda conclusão (no fundo, a
tese).

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Afinal, o que é um argumento?

• as premissas (materiais) (van Eemeren, 2018; Walton; Macagno, 2015) ou dados


(Toulmin, 2006[1958]), ou seja, as proposições, derivadas de enunciados, que
atuam como pontos de partida cuja aceitabilidade, em maior ou menor grau, é
primordial para o processo de atribuição de plausibilidade à tese, uma vez que há
transferência da confiabilidade desses dados para a tese, como bem discute van
Eemeren (2018) – utilizaremos, no restante deste artigo, o termo premissa para nos
referirmos a este componente;

• as presunções (Perelman; Olbrechts-Tyteca, 1996[1958]), premissas de conexão


(Juthe, 2019; van Eemeren, 2018), premissas doxais (Seixas, 2019), leis de
passagem (Plantin, 2008) ou garantias (Toulmin, 2006[1958]), isto é, as
proposições usualmente implícitas que representam o que é considerado como
normal, dóxico ou pré-legitimado por um dado grupo de referência e funciona como
um laço que une a(s) premissa(s) (materiais) à tese, atribuindo àquela(s) relevância
para sustentar esta última – utilizaremos, a partir de agora, tanto o termo presunção
quanto garantia para nos referirmos a este componente;

• as teses (Perelman; Olbrechts-Tyteca, 1996[1958]; van Eemeren, 2018), alegações


(Toulmin, 2006[1958]) ou conclusões (Plantin, 2008; Walton; Macagno, 2015), ou
seja, as proposições, explícitas ou implícitas, que representam as distintas respostas
a uma questão argumentativa, resultante da agregação de discutibilidade à
centração de um tópico discursivo. Teses são, em geral, mais controversas do que
as premissas e as presunções, e a atribuição de plausibilidade a elas consiste no
fim último da operação lógico-inferencial do argumento – privilegiaremos o
termo tese neste artigo.
Emerge da relação entre as premissas e as presunções uma quarta noção – a noção de
razão. É apenas quando uma premissa aceitável se combina a uma presunção relevante que se
configura uma razão capaz de atribuir plausibilidade à tese. Sem a presunção, não sabemos
como o que foi dito tem força para sustentar a tese; sem a premissa, não sabemos as
particularidades do caso em discussão que fazem com que a presunção se aplique. Logo, é a
razão que sustenta a tese, formando com ela a unidade de fundamentação que denominamos
argumento.

Nem toda teoria da argumentação reserva a denominação argumento para o conjunto


formado por premissa, presunção e tese. Isso é mais comum na tradição anglófona, embora
não se trate de algo sistemático, como ressalva Juthe (2019). Alternativamente, é possível
denominar o conjunto como um todo como célula argumentativa, como o faz Plantin (1990),
ou ainda como movimento argumentativo, como já fizemos em textos anteriores (Gonçalves-
Segundo, 2020). Nesse caso, parece-nos coerente usar o termo argumento como sinônimo de
razão, englobando a combinação entre premissa e presunção. Isso garantiria o que
consideramos imprescindível: a relação do conceito de argumento com o ato de fundamentar.

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Se igualado apenas à premissa, o conceito de argumento passaria a abranger apenas


uma fração da fundamentação, ocultando o papel imprescindível da garantia/presunção para
a configuração da defesa de ou da crítica a uma tese. Sem garantia/presunção, uma premissa
não tem valor para sustentar uma tese. Esses três componentes são mutuamente constitutivos.
Isso não impede, é claro, que, no senso comum, continue se usando o termo “argumento” em
sinonímia com premissa, tomando-o com o ponto de partida semântico-discursivo (ou material)
usualmente explícito. É do ponto de vista teórico que o problema emerge, uma vez que a função
de fundamentação do argumento, que nos parece cara aos estudos da argumentação, ficaria, em
larga medida, inconsistente.

A Figura 2, a seguir, mostra as distintas possibilidades que julgamos coerentes com


nossa posição teórica. Adotaremos, ao longo do artigo, a primeira alternativa (em verde), mas
a segunda é igualmente válida e não colide com a nossa discussão. A distinção, no fundo, se dá
entre incluir ou não a tese no âmbito da própria unidade de fundamentação (o argumento).

Figura 2. Alternativas terminológicas em relação à noção de argumento

Fonte: Elaboração própria

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Afinal, o que é um argumento?

Vejamos, então, tudo isso na prática. O Quadro 1, a seguir, apresenta a reconstrução do


argumento do responsável – como uma reconstrução, é bem provável que analistas diferentes
façam formulações relativamente distintas; o importante, como já mencionamos, é que elas
sejam capazes de capturar o raciocínio mobilizado no processo argumentativo13.

Quadro 1. Reconstrução do argumento da desejabilidade do crescimento

Premissa de causa e Se uma criança, como Paula, dorme, então ela


efeito cresce
Razão Premissa de valor O crescimento é (um resultado) desejável
Argumento
Se o crescimento é desejável, então deve-se fazer o
Presunção/Garantia
que o provoca, ou seja, dormir
Tese Tese prescritiva Paula tem que ir dormir (nesse momento)

Fonte: Elaboração própria

É importante observar que essa reconstrução respeita as condições (i), (ii) e (iii) que
discutimos anteriormente, sistematizando-as em um quadro descritivo que torna visíveis os
elementos pertinentes que estruturam o raciocínio argumentativo, mesmo aqueles que não
foram enunciados. E como sabemos que eles são os elementos pertinentes? Pela análise de
muitos dados de argumentos similares, de críticas e questionamentos a esses argumentos, que
enfocam distintos pontos do raciocínio. Como veremos mais adiante, no último turno do
diálogo, a filha construirá um contra-argumento orientado a refutar a premissa de valor,
justamente um dos componentes que se encontra implícito. E, de fato, ela não precisa ser, em
geral, explicitada porque quando aprendemos a usar esse tipo de raciocínio argumentativo,
aprendemos que, para estimular alguém a fazer algo por meio de uma consequência, essa
consequência precisa ser positiva, desejável. Se uma crítica é direcionada ao valor do efeito,
questionando sua positividade, isso é um sinal de que tal valoração é um elemento do raciocínio
argumentativo. Identificar esses componentes é a tarefa do teórico interessado na operação
lógico-inferencial; por isso, a relevância de a análise considerar seriamente esses estudos como
ponto de partida.

Para que a discussão fique mais clara, vale tomarmos pontualmente um novo exemplar
textual. Trata-se de um texto ligado a uma campanha de saúde promovida pela SulAmérica em
seu perfil no X (antes, Twitter). Na postagem, podemos observar em funcionamento um
argumento cujo raciocínio (do ponto de vista procedural) é idêntico ao que acabamos de
discutir, ainda que a questão argumentativa seja outra e, portanto, o material semântico-
discursivo que constitui a razão e a tese sejam completamente distintos. Segue o texto (Figura
1), acompanhado da reconstrução do argumento (Quadro 2).

13
Inserimos as duas colunas à esquerda, neste quadro, apenas para fins didáticos.

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Figura 3. Texto de incentivo à atividade física regular publicado pelo perfil da SulAmérica

Fonte: https://twitter.com/Sulamerica/status/1507688444851625985. Acesso em: 19 ago. 2023.

Quadro 2. Reconstrução do argumento da sensação de bem-estar físico e mental

Premissa de causa e Fazer atividade física regular produz e libera endorfina no organismo, o que
efeito promove sensação de bem-estar físico e mental
Premissa de valor Ter sensação de bem-estar físico e mental é desejável
Se é desejável ter sensação de bem-estar físico e mental, então deve-se fazer
Presunção/Garantia
atividade física regular
Tese prescritiva Deve-se fazer atividade física regular

Fonte: Elaboração própria

Essa identidade (ou equivalência) em termos do funcionamento lógico-inferencial


abstrato do raciocínio argumentativo (denominado aspecto procedural do raciocínio) é
justamente o que subjaz à noção de esquema argumentativo. A despeito das inúmeras
definições e tipologias, há um núcleo em comum na visão que a área tem hoje de esquema:
trata-se de uma estrutura abstrata, com uma dimensão inferencial, com elementos explícitos e
implícitos – logo, de caráter entimemático – que representa uma forma culturalmente
consolidada de atribuir plausibilidade a uma tese a partir de uma dada configuração de
premissas e presunções14 (cf. Amossy, 2018; Gonçalves-Segundo, 2021, 2023a; Macagno,
2015; Plantin, 2008; van Eemeren, 2018; Walton; Macagno, 2015; Yu; Zenker, 2020). No caso
desses dois argumentos, essa estrutura abstrata subjacente (ou seja, o aspecto procedural do
raciocínio) é tradicionalmente denominada como esquema por consequências positivas

14
Nas considerações finais, apresentaremos nossa definição de esquema argumentativo, tecendo relação com a
noção de argumento, a partir da perspectiva integradora que delineamos na primeira seção.

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(Macagno, 2015), um subtipo do esquema pragmático, discutido longamente por Perelman e


Olbrechts-Tyteca (1996[1958]) em seu Tratado da Argumentação.

No Quadro 3, na sequência, representamos a estrutura lógico-inferencial desse esquema,


que pode ser comparada aos argumentos descritos nos Quadros 1 e 2. Ao fazer isso, poderemos
observar como tais argumentos (células ou movimentos argumentativos, caso se adote a
terminologia alternativa) consistem em instâncias, concretizações do esquema por
consequências positivas, na medida em que o que os argumentos concretos fazem é extrair dessa
estrutura abstrata culturalmente partilhada o procedimento do raciocínio para, a partir dele,
prover a defesa de uma tese a partir do material semântico-discursivo pertinente. Logo, durante
uma argumentação concreta, nós atualizamos os esquemas disponíveis em dada cultura com o
material semântico-discursivo adequado à questão em debate; no caso de querer fazer a filha ir
dormir, a desejabilidade do crescimento; no caso de incentivar a atividade física, a
desejabilidade da sensação de bem-estar físico e mental.

Aproveitamos já para chamar atenção para o fato – que, acreditamos, já deva ter sido
inferido pelo leitor – de que o esquema e, portanto, o argumento que o concretiza comporta
duas premissas; isso não é um problema e não é contraditório com a afirmação que fizemos
anteriormente de que esquemas/argumentos comportam três componentes funcionais
(premissa, presunção e tese). Os três estão presentes no esquema/argumento, mas é possível
– e, inclusive, bem comum – que um dado raciocínio argumentativo, dada sua complexidade,
seja realizado por mais de uma premissa15. Todo esquema, contudo, comportará sempre uma
única presunção/garantia e uma única tese.

Quadro 3. Esquema argumentativo pragmático (por consequências positivas)

Premissa de causa e efeito Se o curso de ação a for tomado, então o efeito b ocorrerá
Premissa de valor O efeito b é um resultado desejável
Se um efeito é desejável, então deve-se provocar o evento que o
Presunção/Garantia16
causa
Tese prescritiva O curso de ação a deve ser tomado

Fonte: Gonçalves-Segundo (2023a, p. 187)

15
Normalmente, quando mais de uma, ocorrem duas, como no caso do argumento pragmático; de forma mais
rara, há esquemas, como o da regra da justiça, que é mais bem descrito com três premissas – cf. Gonçalves-
Segundo (2023a).
16
É central ratificarmos que a função da presunção/garantia é estabelecer a relevância das premissas para a
defesa da tese. Logo, ela precisa articular semanticamente o conteúdo da premissa com o da tese, por exemplo,
em termos causais ou analógicos. Nesse sentido, ela não deve acrescentar “informações novas”, como bem
ressalta Toulmin (2006[1958]). Especialmente no tocante ao esquema, ela indicia um modo de argumentar
que se mostrou produtivo em nossa sociedade; no argumento, esse modo de argumentar é atualizado com
elementos semântico-discursivos pertinentes à discussão, incorporando, assim, material dóxico ou discursivo
(e a decisão por falar em doxa ou discurso depende, em grande medida, da teoria mobilizada pelo pesquisador
para explicar essas ligações socialmente partilhadas).

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Considerando, portanto, que o argumento é a unidade de fundamentação de uma


resposta a uma questão argumentativa e que um argumento é uma instância de um esquema
argumentativo, podemos concluir que um esquema argumentativo é, do ponto de vista
lógico-inferencial, um padrão procedural de raciocínio retrospectivo mobilizável para
fundamentar um tipo de resposta a uma questão argumentativa17. No caso do esquema
argumentativo por consequências positivas e, por conseguinte, dos argumentos que o
concretizam, o tipo de resposta é, em geral, uma tese prescritiva, isto é, uma proposta de ação.

Uma vez realizada toda essa discussão, vale nos determos na Figura 4, que representa o
continuum entre o raciocínio argumentativo entimemático, o esquema argumentativo, o
argumento (reconstruído) e o enunciado contextualizado e condicionado pelas diversas
coerções que se aplicam ao uso da linguagem (em suas diferentes modalidades) na construção
de significados argumentativos.

A verticalidade da Figura 4 busca representar uma gradação de concretude e abstração.


Quanto mais para cima, mais abstrato; quanto mais para baixo, mais concreto. A espessura do
tracejamento das bordas amplia essa concepção, na medida em que buscamos representar, com
ela, a incorporação de níveis de especificidade nas unidades de fundamentação à tese: no
entimema, ponto onde o tracejamento é menos espesso, ocorre o grau máximo de vagueza
procedural e semântico-discursiva, além de inexpressividade semiótica; já no esquema, agrega-
se especificidade procedural; no argumento, adiciona-se especificidade semântico-discursiva;
e, no enunciado, expressão semiótica. Logo, nesse último nível, há especificidade em todas as
dimensões, motivo pelo qual desenhamos a circunferência com borda mais espessa e sem
tracejamento.

17
Entendemos, a partir da Pragmadialética (van Eemeren, 2018), que as teses podem ser descritivas, avaliativas
ou prescritivas. Há esquemas com menor restrição procedural, ou seja, com uma razão que permite sustentar
distintos tipos de tese (por exemplo, o esquema argumentativo de autoridade), assim como esquemas com
maior restrição procedural, ou seja, especializados em um único tipo de tese (por exemplo, o esquema
argumentativo por regra da justiça, especializado em teses prescritivas).

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Afinal, o que é um argumento?

Figura 4. O continuum de unidades de fundamentação a teses

Fonte: Elaboração própria

Por fim, vale mencionarmos que, ainda que seja primordial compreender o
funcionamento de um raciocínio argumentativo indiciado concretamente em um texto, seja
ele monogerido, bigerido ou poligerido, de forma que consigamos depreender os elementos que
se fazem relevantes, naquela cultura, para a justificação ou defesa de uma posição, não é
necessário utilizar um quadro para a descrição do argumento, como fizemos anteriormente, ou
ainda um diagrama, como apresentaremos ao final da seção 2.3, embora tais instrumentos
sejam, sim, muito produtivos, por deixarem claro (para o leitor) o material que constitui a
estrutura do raciocínio argumentativo. O analista pode muito bem descrever o argumento sem
valer-se desses recursos metodológicos, explicando, textualmente, o seu funcionamento. Isso
não é demérito algum e consiste em um procedimento igualmente válido. O que é problemático
é não recuperar, ainda que hipoteticamente, o que fica implícito e que torna uma dada premissa
relevante para defender uma tese. Sem isso, negligenciamos aspectos discursivos e/ou dóxicos
de extrema importância, deixando em segundo plano (ou até apagando) formas acordadas social
e culturalmente de defender, questionar e criticar teses.

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

2.2 A operação retórica do argumento


Aplicar um esquema argumentativo em um dado ponto da situação argumentativa,
atualizando-o com material semântico-discursivo pertinente à questão, atribui (em princípio)
plausibilidade à tese. Assim, podemos dizer que o argumento se sustenta em uma operação
lógico-inferencial que contribui para tornar a tese digna de atenção, como uma resposta que
não é arbitrária nem necessária18.
Atribuir plausibilidade, contudo, não é suficiente para gerar adesão, embora
assumamos, na esteira de diversas correntes da teoria da argumentação, como a Lógica
Informal, a Nova Retórica e a Pragmadialética, que a plausibilidade (ou verossimilhança) é,
sim, um fator de influência. Contudo, para que haja possibilidade de realinhamento de posição
(Plantin, 2012) – em termos mais tradicionais, persuasão –, a fundamentação precisa “ecoar”
com o que o outro considera real ou preferível, com o que esse outro se compromete (em maior
ou menor grau).
Em termos práticos, a filha precisaria assumir que é real a relação causal entre crescer
e dormir, que crescer é de fato desejável (logo, algo preferível) e que esse efeito é mesmo
relevante o suficiente para dissuadi-la e levá-la a agir de outra maneira. Em outras palavras, a
força de influência do argumento vem, em partes, dos acordos (Perelman; Olbrechts-Tyteca,
1996[1958]) entre os participantes da interação. A projeção de acordos constitui um dos
elementos centrais da operação retórica do ato de fundamentar.
Podemos, inspirados na (mas não restritos à) Nova Retórica (Perelman; Olbrechts-
Tyteca, 1996[1958]), compreender os acordos como pontos de partida intersubjetivos, como
aquilo que o argumentador constrói como partilhado entre ele e o outro a quem ele visa
influenciar, aquilo com que ambos, em tese, se comprometeriam, no mínimo, a aceitar como
razoável, ponderando sua verossimilhança sem uma atitude resistente, e, no máximo, aceitar
como correto ou verdadeiro, estando dispostos a defendê-lo, em face de uma questão ou crítica.
Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996[1958]) distinguem dois tipos de acordo: (i) os
acordos sobre o real, que teriam pretensão de validade para o auditório universal19; e (ii) os
acordos sobre o preferível, que teriam pretensão de validade para o auditório particular. Dentre
os primeiros, os autores incluem os fatos, as verdades e as presunções; dentre os últimos, os
valores, as hierarquias de valores e os lugares (loci)20.

18
Emprestamos de Grácio (2022) a ideia de a argumentação operar entre o arbitrário e o necessário, e a adaptamos
à nossa formulação teórica sobre o argumento.
19
É impossível, no escopo deste artigo, dar conta de toda a controvérsia em torno do conceito de auditório
universal na Nova Retórica. Particularmente, aderimos à concepção de que se trata de um ideal sócio-
historicamente ancorado – e, portanto, dinâmico – de razoabilidade, outra noção bastante disputada. Como
mostraremos na sequência, não trataremos de acordos sobre o real em função do auditório universal; logo, tal
polêmica não atinge nossa proposta, detalhada em Gonçalves-Segundo (2023a). Para quem se interessar pela
discussão sobre a noção de auditório universal em Perelman, cf. Jørgensen (2012) e Tindale (2015); para uma
introdução sobre o debate em torno da razoabilidade, cf. Isola-Lanzoni e da Silva (no prelo), e para um
aprofundamento, Perelman (1979) e MacCormick (2005).
20
Para uma discussão mais detalhada da questão dos acordos, incluindo formas de operacionalização analítica,
ausentes no Tratado da Argumentação, cf. Gonçalves-Segundo (2023a).

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Afinal, o que é um argumento?

Em nossa releitura da noção, que parte de um olhar integrador, entendemos os acordos


sobre o real como pontos de partida com pretensão de validade para públicos ou grupos de
referência distintos, uma vez que, ao projetar esse tipo de acordo, o argumentador aposta na
validação social de tais representações como crenças justificadas, respaldadas por
procedimentos fiadores de veracidade ou normalidade, típicos da esfera religiosa, científica ou
jornalística. Tais acordos sustentam a construção daquilo que o auditório textualmente
indiciado pelo argumentador consideraria, em princípio, como inconteste, incontroverso – ainda
que sempre passível de revogação, com a apresentação de novos dados.
Já os acordos sobre o preferível têm pretensão de validade para públicos ou grupos de
referências específicos, na medida em que o argumentador, ao projetar esse tipo de acordo,
aposta no que diferencia os grupos humanos como determinantes para as escolhas e para as
decisões. Tais acordos, nesse sentido, sustentam a construção daquilo que o auditório
textualmente indiciado pelo enunciador consideraria (in)desejável ou (des)preocupante.
É possível depreender que tais definições partem de uma dissociação entre a noção de
público e de auditório, fundamental para a nossa concepção integradora, que encontra eco
também em Amossy (2018). Conforme discutimos em Gonçalves-Segundo (2023a),
entendemos públicos como stakeholders textuais envolvidos em uma prática argumentativa
(Palmieri; Mazzali-Lurati, 2016); em outros termos, conjuntos de atores sociais concretos a
quem interessa a questão em debate, sendo, portanto, aqueles a quem, em maior ou menor grau,
o argumentador visa influenciar – públicos são concretos e empíricos, e suas reações podem
ser analisadas, por exemplo, por meio de comentários em mídias digitais. Já auditórios são
construtos sociossemióticos do argumentador, uma “ficção verbal” (Amossy, 2018, p. 55)21 que
pode ser depreendida da forma como a argumentação se materializa textualmente.
Como partimos do princípio de que a operação retórica de influenciar é constitutiva
do ato de fundamentar, assumimos que o tipo e o conteúdo do acordo projetado pelo
argumentador configuram uma imagem daqueles a quem ele deseja influenciar. Essa imagem
é, então, ofertada ao público, empírico e concreto, para identificação. Caso não haja
identificação, o processo de influência acaba perdendo força – ao se projetar que dadas
premissas ou presunções sejam, em alguma medida, também alvo de comprometimento do
outro quando elas, de fato, não o são (ainda que possam ser coerentes e atribuam plausibilidade
à tese), diminui-se a força que a razão tem para, potencialmente, diminuir o ceticismo ou a
resistência do outro diante da tese apresentada. Em vez de gerar adesão, elas podem apenas ser
tomadas como dignas de atenção e como alternativas interessantes de ver, pensar, agir e sentir
ou podem ainda ser totalmente rechaçadas.
No caso de interações dialogais, como a que estamos nos valendo para conduzir a
discussão neste artigo, a filha é o público do responsável; o responsável é o público da filha; o
responsável projeta uma imagem da filha como auditório; a filha projeta uma imagem do
responsável como auditório. Como quem quer persuadir a filha a ir dormir é o responsável,

21
Preferimos “ficção discursiva” para englobar outras possibilidades semióticas nessa projeção.

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

daremos prosseguimento ao debate da operação retórica tomando-o como ponto de referência


e analisando como a filha, posicionada inicialmente como público, reage argumentativamente
à imagem dela construída como auditório.
Ao direcionar nosso olhar ao segundo turno da filha – Crescer pra quê, pra lavar louça?
–, podemos verificar, empiricamente, em que medida o que o pai projetou como acordado com
a filha (como auditório), de fato, é considerado como real ou preferível por ela (como público).
Em primeiro lugar, Paula parece comprometer-se, assim como o pai, com a relação de
causa e efeito entre dormir e crescer, uma vez que, além de não haver nenhum enunciado que
questione a ligação, em termos de factualidade ou probabilidade, ela parece assumir que o
crescimento, de fato, ocorrerá ao formular sua pergunta retórica. Nesse sentido, a intervenção
da filha sinaliza que o acordo sobre o real projetado pelo responsável, o Proponente, de fato,
se aplica.
Todavia, ela não se compromete com a apreciação valorativa (positiva) do efeito de
dormir, proposta pelo pai como acordada entre eles. Em outros termos, o pai “aposta” que a
filha também valore como desejável o ato de crescer, o que, no entanto, não ocorre. Em termos
mais técnicos, o pai projeta um auditório para quem crescer é desejável, mas o público não se
identifica com isso, o que motiva o ato de contra-argumentar, sobre o qual nos debruçaremos
na próxima seção. Logo, ainda que a criança ratifique o acordo sobre o real projetado pelo pai,
ela não faz o mesmo no tocante ao acordo sobre o preferível, sinalizando não se comprometer
com a desejabilidade do crescimento, uma questão de valor.
Nesse sentido, o que observamos, nesta breve interação – e o que a torna, inclusive,
engraçada –, é o quanto uma criança, de apenas quatro anos, já consegue depreender a premissa
de valor implícita, direcionar um ataque em relação a ela, apresentando razões que sustentam
sua posição e, assim, confrontar a tese prescritiva do pai para adiar ir dormir. Essa dinâmica
só se justifica, na medida em que, ao fundamentar sua proposta, o responsável gera um efeito
de influência – e se ele vai provocar ou não adesão, em maior ou menor grau, de forma mais
ou menos duradoura ou mais ou menos imediata, é uma questão dependente de vários fatores,
dentre eles, os acordos.
Passemos, então, ao debate sobre a operação dialética do fundamentar.

2.3 A operação dialética do argumento


O que exatamente significa dialético em argumentação está longe de ser consensual,
como bem ressalta Johnson (2020[2009]). Dentre as variadas concepções, ressaltamos uma
discussão realizada por Marraud (2015), que distingue entre uma dialética dos
argumentadores, que abrange os procedimentos e as normas envolvidas no processo de gestão
do conflito de opinião (da confrontação à resolução), e uma dialética dos argumentos, que
abarca a relação de oposição entre as posições e as razões desenvolvidas no conflito de opinião.
Por conseguinte, a dialética dos argumentos envolve comparação e testagem de
fundamentações e contra-fundamentações.

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Afinal, o que é um argumento?

Quando pensamos na dialética dos argumentos, estamos assumindo a posição,


defendida no âmbito da Pragmadialética (van Eemeren, 2018), de que argumentos não são
capazes de extinguir o dissenso em termos (apenas) justificatórios, de forma a provar, por
definitivo, que uma dada tese – descritiva, avaliativa ou prescritiva – seja a única possível, a
melhor, a mais pertinente, capaz de saturar a questão de uma vez por todas para qualquer ser
humano razoável. Por isso, desde o início, insistimos que, ao fundamentar, atribuímos
plausibilidade (não, verdade) à tese e geramos um processo de influência sobre o outro,
dependente, dentre outros fatores, de acordos.

Quando construímos um argumento, ou seja, fundamentamos uma tese, a partir da


instanciação de um esquema argumentativo semântico-discursivamente atualizado e, portanto,
ancorado em termos dóxicos ou discursivos, nós deslocamos para o outro lado o ônus da prova,
de forma que caberá ao outro, se discordar, (i) refutar internamente o argumento anterior,
atacando algum componente da fundamentação alheia, ou (ii) refutar externamente a posição
anterior, apresentando argumentos a favor da tese alternativa (Gonçalves-Segundo, 2020, 2023b;
Walton, 2013). De toda forma, uma comparação entre as fundamentações e um julgamento local,
realizado pelos argumentadores, integrará o processo de resolução do conflito de opinião, que
poderá ou não culminar em um realinhamento de posição (ou persuasão) e consenso.

Essa teorização acerca do funcionamento dos argumentos como instâncias de


esquemas é uma das proposições centrais da teoria do raciocínio presuntivo desenvolvida por
Douglas Walton. Para Walton (2006), esquemas argumentativos são padrões de raciocínio
presuntivo, um tipo de raciocínio orientado a atribuir plausibilidade à tese e a transferir o ônus
da prova para o outro. Logo, argumentos geram efeitos sobre as pessoas e seus modos de agir,
seja na interação imediata, com a produção de turnos conversacionais que explicitam uma
ratificação ou uma recusa a ratificar a posição anterior, seja na produção de um outro texto, que
dialogará com tal argumento, de forma a ratificá-lo, complementá-lo, questioná-lo ou refutá-lo,
o que pressupõe algum tipo de relação intertextual22. Nesse sentido, a força do argumento (em
termos dialéticos) reside no seu potencial de fechar ou saturar a questão, dificultando a
emergência de crítica, ou seja, fazendo com que o outro, a quem o ônus da prova foi
transferido, não seja capaz de contra-argumentar e, portanto, de refutar a fundamentação alheia.

O segundo turno da filha – Crescer pra quê, pra lavar louça? – exemplifica muito bem
a propriedade dialética do fundamentar (Macagno, 2015; Walton; Macagno, 2015). O
responsável, ao aplicar um esquema socialmente reconhecido e historicamente consolidado (o
esquema pragmático por consequências positivas) e valer-se de comprometimentos sobre o real
(a relação causal entre dormir e crescer) e o preferível (a desejabilidade do crescer),
construindo-os como intersubjetivamente pertinentes, ou seja, acordados, acaba deslocando o
ônus da prova para a filha.

22
Para uma tipologia atual de relações intertextuais, cf. Cavalcante et al. (2022).

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Paulo Roberto Gonçalves-Segundo

Em outros termos, o responsável gera uma presunção a favor da sua posição, tornando-a
plausível e candidata a adesão, de forma que caberá à filha o trabalho de enfrentar o “peso”
deslocado para a tese de que ela tem que ir dormir, caso ela não se alinhe à posição do responsável.
Ao contra-argumentar, ela mostra que assume o ônus e que é capaz de opor-se à
fundamentação do seu parceiro de interação, prorrogando o processo de resolução do conflito de
opinião entre ambos – ou seja, a contra-argumentação colabora para manter a questão ainda aberta.

Antes de detalharmos esse processo, o que envolve reconstruir o argumento indiciado


pela criança, vale debatermos um uso do termo presunção feito no parágrafo anterior, que
difere do que realizamos na seção 2.1. Isso se deve ao fato de que o termo pode ser usado em
uma acepção de produto, ou seja, uma presunção como uma proposição que atribui relevância
ao argumento (sinônimo de garantia ou de lei de passagem), conforme podemos observar nos
quadros 1, 2 e 3, ou em uma acepção de processo, ou seja, a presunção como o processo de
fazer com que uma tese ganhe o estatuto provisório de plausível, de digna de atenção e,
portanto, candidata à adesão, a menos que haja revogação por recursos de refutação 23.

Dito isso, o Quadro 5, abaixo, mostra a reconstrução do argumento de Paula, uma


instância do esquema das consequências para a avaliação (exposto no Quadro 4), segundo
categorização de Macagno e Walton (2018):

Quadro 4. Esquema argumentativo das consequências para a avaliação


Premissa de causa e efeito Se a ocorre, então o efeito b ocorre
Premissa de valor O efeito b é um resultado desejável
Presunção/Garantia Aquilo que produz um efeito (in)desejável é também (in)desejável
Tese avaliativa a é (in)desejável
Fonte: Adaptado de Macagno e Walton (2018, p. 535)

Quadro 5. Argumento da indesejabilidade do crescimento


Premissa de causa e efeito Se alguém cresce, tem que lavar louça
Premissa de valor Lavar louça é (um resultado) desejável
Presunção/Garantia Se lavar louça é indesejável, então crescer também o é.
Tese avaliativa O crescimento é (um resultado) indesejável
Fonte: Elaboração própria

Uma pergunta de ordem metodológica relevante que poderia nos ser feita é a seguinte:
“como sabemos que, para Paula, o crescimento é indesejável?” Para isso, precisamos olhar para
a propriedade sociossemiótica. A construção interrogativa {Verbo + pra quê?} implica que o
fazer ou o acontecimento denotado no verbo é tido como negativo por envolver um efeito tido
como igualmente negativo, seja por ser prejudicial, inútil, desgastante, dentre outras
possibilidades. Por conseguinte, ao enunciar Crescer pra quê?, a menina já está implicitando
uma avaliação negativa desse processo, mostrando sua indesejabilidade. Isso se completa pelo

23
Foge ao escopo deste artigo discutir a diversidade de formas de oposição argumentativa.

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Afinal, o que é um argumento?

fato de que a pergunta é respondida com a construção pra lavar louça, que, além de absorver a
carga negativa implicada da pergunta, invoca uma valoração social e afetiva negativa, que
integra a doxa de dados grupos, para os quais a realização de atividades domésticas é tida como
menor e/ou enfadonha. Isso mostra, portanto, que não é possível negligenciar, da análise dos
argumentos, os elementos culturais, discursivos, ideológicos e enciclopédicos que marcam a
realidade enunciativa, na medida em que são os enunciados que materializam os argumentos,
indiciando a instanciação de um dado tipo de raciocínio, que só é reconstruído
(proposicionalmente) quando a totalidade do seu funcionamento é levada a sério.
Na figura 5, a seguir, mostramos a interação entre os argumentos do responsável e da
filha, de modo a marcar, explicitamente, o ponto de contato entre eles. Por meio do recurso
metodológico do diagrama24, podemos mostrar visualmente o exato ponto em que o contra-
argumento da filha ataca a fundamentação do pai – a premissa de valor. Ressaltamos que, nesse
contato, emerge uma questão subordinada (ou subquestão), um efeito incontornável da
oposição argumentativa.
Denominamos questão subordinada ou subquestão a questão argumentativa que
emerge do questionamento ou do ataque, realizado pelo Oponente ou antecipado pelo
Proponente, a uma das premissas ou à presunção/garantia que compõem a razão que sustenta
uma tese. Quando uma subquestão emerge, o componente focalizado em termos de dúvida ou
crítica torna-se bifuncional – em outros termos, ele continua sendo premissa ou presunção do
argumento pertinente à questão subordinante (muitas vezes, a questão nuclear do debate,
como ocorre na interação sob análise – Paula tem ou não que ir dormir nesse momento?), mas
também se torna tese da questão subordinada, para a qual convergirá uma razão.
É exatamente isso que ocorre no diálogo sob análise. Ao refutar internamente o
argumento do pai, a garota faz emergir a subquestão Crescer é ou não (um resultado)
desejável?, apresentando uma razão para a resposta (implícita) de polaridade negativa25. Como
não temos acesso à continuidade do diálogo, não sabemos como o responsável acabou lidando
com a nova transferência de ônus da prova, dessa vez, realizada pela filha. Imaginamos que,
antes de qualquer coisa, o contra-argumento deva ter gerado boas risadas.

24
Diagramas são grafos direcionados que representam visualmente a relação entre os componentes de um
argumento (ou seja, relações intra-argumentos) e a relação entre argumentos (isto é, relações inter-argumentos,
seja em termos de defesa ou de ataque). Ainda que haja dadas convenções já consolidadas na área, cada
perspectiva tem suas especificidades. Em nossa proposta, os nós representam os componentes de um
argumento: premissas/dados, garantias/presunções, teses/posições. As arestas (ou vetores) originam-se nas
premissas e nas presunções e se encontram antes de prosseguirem para a tese, para onde o destino da aresta
converge. O ponto de encontro entre premissas e presunções serve para mostrar a indissociabilidade desses
componentes na formação de uma razão. Nós optamos por incluir no diagrama todas as questões
argumentativas que são relevantes, da questão nuclear, localizada, em geral, na região superior, às questões
subordinadas, em número (a princípio) indefinido, uma vez que isso depende de cada interação argumentativa
(no caso do diálogo sob análise, há apenas uma subquestão). As questões são visualmente marcadas por meio
de um retângulo curvo de fundo acinzentado. Em geral, colorimos os componentes dos argumentos em função
dos lados da disputa; no caso, o argumento do pai está em amarelo ocre; o da filha, em azul. As linhas
pontilhadas grossas que aparecem no centro da imagem representam os componentes que são
atingidos/enfraquecidos pelo contra-argumento da filha (tomando-a como ponto de referência).
25
Aproveitamos para destacar que se trata de um caso em que a tese se encontra implícita, possibilidade para a
qual havíamos chamado atenção na seção 2.1.

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Figura 5. Diagrama da interação opositiva entre o argumento de consequências para a avaliação da filha e o argumento por consequências positivas do
responsável

Fonte: Elaboração própria

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Considerações finais
Nosso objetivo, neste artigo, foi discutir o conceito de argumento como unidade de
fundamentação de uma resposta a uma questão argumentativa, depreendido a partir da
construção enunciativa e, portanto, das pistas textuais, contextuais, cotextuais,
sociocognitivas, discursivas e interativas que atravessam o uso concreto da linguagem em
práticas sociais.

Tal fundamentação exerce:

• a operação lógico-inferencial de transferir aceitabilidade da premissa para a tese,


tornando-a plausível, por meio do laço de relevância gerado pela presunção, uma
vez que todo argumento herda a estrutura procedural de raciocínio específica do
esquema que ele instancia;

• a operação retórica de gerar influência sobre o outro, que pode ou não culminar
em adesão; minimamente, essa influência leva ao conhecimento e à ponderação da
razoabilidade de outras formas de ver, sentir, pensar e agir, o que está diretamente
relacionado – ainda que de forma não suficiente, uma vez que há outros fatores que
interferem na adesão – ao processo de identificação do público com o auditório
indiciado textualmente por meio dos acordos projetados pelo argumentador; no
máximo, a influência promove um realinhamento de posições;

• a operação dialética de deslocar o ônus da prova para o outro lado, que precisará
contra-argumentar interna ou externamente em caso de discordância (considerando,
é claro, o princípio de continuidade do engajamento no debate; o outro sempre pode
optar por calar-se, não considerando que valha a pena dedicar-se à contra-
argumentação – de toda forma, o ônus da prova foi a ele deslocado. Optar por fazer
uso dele ou não é entrar em outra seara de discussão). Tal contra-argumento pode
ser concretizado na própria interação em curso, no caso de um debate, por exemplo,
ou pode se materializar em um outro texto, como no caso de articulistas de opinião
que discutem entre si nas suas colunas semanais, o que chama a atenção para a
possibilidade de tal deslocamento se dar em termos intertextuais estritos
(Cavalcante et al., 2022).

Isso posto, torna-se necessário apresentar uma noção alternativa de esquema


argumentativo, redesenhando sua relação com o argumento, de forma a capturar a essência
de nossa perspectiva integradora:

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Esquemas argumentativos consistem em padrões de raciocínio argumentativo presuntivo, ou


seja, revogável, dotados de uma estrutura inferencial abstrata socialmente consolidada e
reconhecida como apta a gerar uma presunção a favor de uma dada tese. Esquemas transferem
sua estrutura de fundamentação para o argumento – instância do esquema e unidade de
fundamentação de uma tese – que, quando indiciado pelo enunciado, desloca o ônus da prova
para o outro lado. Esquemas estão para argumentos assim como tipos estão para instâncias:
enquanto esquemas são proceduralmente específicos, dado que compostos por uma unidade
entre razão (premissa(s) + presunção/garantia) e tese, e semântico-discursivamente vagos, visto
que as razões e teses apresentam variáveis a serem preenchidas situacionalmente, argumentos
herdam a especificidade procedural dos esquemas e agregam especificidade semântico-
discursiva pertinente à questão em pauta por meio da atualização das variáveis relevantes. Logo,
ao produzir um argumento, o argumentador revela comprometer-se com dadas concepções
sobre o real e o preferível, resultantes da agregação de especificidade semântico-discursiva,
projetando-as como acordadas, em maior ou menor grau, em relação ao auditório que constrói,
convidando o público a com isso se identificar, o que funciona como um motor de influência.

Esperamos, assim, que essa conceituação possa ser produtiva para os estudos
contemporâneos de argumentação, na medida em que ela procura abarcar várias dimensões da
manifestação da nossa racionalidade no processo de fundamentar. De forma análoga,
pensamos que esta discussão possa ser um ponto de partida relevante para abordagens
renovadas sobre o argumento, considerando suas múltiplas operações constitutivas, que
precisam ser, cada vez mais, aprofundadas.

Financiamento
Paulo Roberto Gonçalves-Segundo agradece à Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento da estadia como Professor Visitante na
Universidade do Porto, no âmbito do PrInt – Programa Institucional de Internacionalização (nº
do processo: 88887.694701/2022-00).

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