MOÇAMBIQUE EM PIRAJU: A DANÇA FOLCLÓRICA E SUAS
TRADIÇÕES
José Antônio Rodrigues, JUNIOR1
Prof. Ms Norma Ornelas, MONTEBUGNOLI2
RESUMO
O presente trabalho de pesquisa evidencia toda parte folclórica e a forma como o
grupo veio parar no interior, suas mutações, onde seres humanos, que dedicam suas
vidas com um único objetivo, de ingressarem efetivamente na vida das pessoas O
objetivo foi evidenciar e relatar toda vivência do grupo e a forma como os moradores
do município valorizam o buscando o reconhecimento e aprofundamentos no exterior
passam em sua trajetória profissional. Trata-se de uma pesquisa de revisão de
literatura e pesquisa de campo, onde o instrumento utilizado para coleta de dados foi o
questionário aberto, contendo 4 (quatro) questões abertas, direcionado a 3 (três)
moradores e apreciadores do grupo, como o mestre o diretor de cultura e uma festeira
Verificou-se que os resultados do trabalho enaltecem a grande possibilidade de
crescimento e reconhecimento do grupo como uma forma de eternizar toda uma
história, visando a atuação em grandes centros artísticos, e festivais de cultura popular
além da conquista e realização, por parte dos sujeitos em ver o quanto é importante
resgatar e valorizar a cultura do nosso povo
PALAVRAS-CHAVE
Dança de Moçambique; Folclore, Tradições
1. INTRODUÇÃO
O Moçambique faz referência a um grupo de dança folclórica cultural e
popular de caráter religioso comum, sendo caracterizada como um folguedo, o
qual é transmitido entre gerações, grupos, comunidades, levando em conta os
padrões típicos da reprodução popular do saber, ou seja, oralmente, por
imitação direta e sem organização de situações formais e ou eruditas de ensino
aprendizagem.
1
Graduando de Artes – FIRA – Faculdades integradas Regionais de Avaré- 18700-902 – Avaré – SP –
Brasil – E-mail [email protected]
2
Orientadora Professora Titular da Fira- Faculdades Integradas Regionais de Avaré -18700-902 – Avaré –
Sp – Brasil – Mestrado em Ciências da Motricidade pela Unesp/Rio Claro. E-mail.
[email protected]
2
Diante desse fato, procurou-se investigar o assunto mais intensamente,
cuja passagem da Dança de Moçambique, se deu por conta de um festival
cultural popular na capital de São Paulo, o Revelando SP. Os apresentadores
do evento na época incentivaram o desenvolvimento literário desse tema tão
pertinente a humanidade, orientando que houvesse um registro por meio de
pesquisas com o intuito que as mesmas pudessem retratar e possivelmente
revelar fatos históricos, levando em conta o movimento que está se
proliferando cada dia mais no Brasil, e se estabeleceu no estado de São Paulo,
como um importante resgate desse patrimônio cultural.
O estudo iniciou-se por meio do folguedo popular da Dança de
Moçambique na Estância Turística do município de Piraju, SP. Para o
desenvolvimento do trabalho, optou-se por apontar que esse movimento se
apresenta como componente da cultura popular, mencionando quem são seus
praticantes, qual sua relação com a história do município, como se desenvolve
nos dias atuais e refletir sobre o seu futuro, partindo do questionamento de
que, se após 80 (oitenta) anos de existência, a Dança de Moçambique ainda se
caracteriza como elemento de resistência da cultura popular.
Diante disso, surgiram algumas inquietações como; qual é o valor desse
grupo para o município de Piraju? Como foi essa chegada do movimento ao
município? O que pensam os festeiros que ainda hoje recebem o grupo em
suas casas como tradição do povo e pensando no amanhã e como pensa o
grupo das futuras gerações?
A pesquisa foi por meio de revisão de literatura, utilizando referenciais
teóricos para fundamentar o trabalho em pauta, fornecendo suficiente respaldo
de cunho científico como, artigos, dissertações, entre outras fontes
acadêmicas, seguida de pesquisa de campo, conforme corrobora Richardson
(2010), ao relatar que esse método permite estudar diferentes comunidades
sociais, analisar, discutir, registrar, e transcrever o resultado da pesquisa,
levando em conta a integridade dos dados aqui relatados. Já a pesquisa de
campo foi desenvolvida no município de Piraju, SP., especificamente com os
participantes envolvidos com a Dança de Moçambique. O objetivo desse
estudo é resgatar a trajetória desse movimento cultura da Dança de
Moçambique e suas mutações no município de Piraju, SP.
3
Diante disso, vale evidenciar que no primeiro momento será enfatizado o
estudo de folclore e seus conceitos e características, o significado do folclore
na vida da comunidade, suas diferenças, crenças, o movimento cultural entre
futuras gerações como uma forma magnífica de resistir ao tempo, assim como,
o Folclore Brasileiro e suas Influências Africanas, ou seja, reconhecimento que
o país faz parte, e sua respectiva influência Africana. No segundo momento
será abordado, a Influência e a chegada da Dança de Moçambique no Brasil,
enfatizando suas tradições, crenças e costumes por meio dos tempos, uma
trajetória histórico cultural com sua significativa chegada interior do estado São
Paulo e sua permanência e mutações no município de Piraju
2. O FOLCLORE: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS
Sempre que se cante a uma criança uma cantiga de ninar, sempre que
se use uma canção, um adivinha uma parlenda, uma rima de contar, no quarto
das crianças ou na escola; sempre que ditos, provérbios e fábulas, estórias
bobas e contos populares sejam representados; sempre que por hábitos ou
inclinação, torna-se possível se entregar aos cantos e danças, jogos antigos,
folguedos, Brandão (1982 p 22) entre tantas outras situações, as quais fazem
referência ao folclore existente na vida e no nosso cotidiano.
Folclore para alguns, é tudo o que o homem do povo produz como
tradição, outros uma pequena parte das tradições populares, mas o domínio do
que é folclore é tão grande, quanto o do que é cultura, por isso consideram-se
sinônimas.
Folclore é a tradição de um povo, a cultura popular dos grupos que
compõem uma sociedade. Esse movimento não é estático, pois as renovações
adquiridas com o tempo tornam o folclore mutável. Cascudo (2001) aponta
também a cultura popular dentro da tradição de um povo e vem contribuir
nesse pensamento, ao evidenciar que:
É a cultura popular, tornada normativa pela tradição. Compreende
técnicas e processos utilitários, além da sua funcionalidade. A
mentalidade móbil e plástica torna tradicional o dado recente,
integrando-os na mecânica assimiladora do fenômeno coletivo, como
a imóvel enseada dá a ilusão da permanência estática, embora
renovada, na dinâmica das águas vivas (Cascudo 2001 p.240)
4
Qualquer elemento que desperte interesse além de sua funcionalidade
pode ser considerado folclore, pois onde houver alguém, sempre existirá uma
fonte de divulgação folclórica. Qualquer objeto que projete interesse humano,
além de sua finalidade imediata, material e lógica, é folclórico, ao mencionar
que, [...] onde estiver um homem aí viverá numa fonte de criação e divulgação
folclórica (CASCUDO, 2001 p.240 - 241). Assim, cada pessoa tem sua história,
suas crenças, seu aprendizado e suas vivências, tornando-se assim, o folclore
sempre vivo, ou seja, um registro histórico cultural da humanidade a qual
pertence.
Com isso, vale ressaltar que a cultura popular pode intervir como
elemento moderador no processo cultural, dispondo assim, de instrumentos
próprios para o equilíbrio necessário ao seu harmônico desenvolvimento.
Bráulio do Nascimento, diretor do instituto nacional do folclore, diz o seguinte
na introdução de um álbum sobre o museu do folclore Edilson Carneiro: Um
mesmo tom ele usa mais adiante, e muda apenas uma palavra pela outra:
A valorização do folclore, o reconhecimento da importância das
manifestações populares na formação do astro cultural da nação
constitui procedimentos capazes de assegurar as opções necessárias
ao seu desenvolvimento” Com muita sabedoria, Luiz da câmara
cascudo mistura uma coisa com a outra e define o folclore como uma
“a cultura do popular tornada normativa pala tradição ( BRANDÃO,
1982 p 24)
Ainda o mesmo autor enfatiza que para outros pesquisadores do
assunto, há diferenças importantes entre folclore e cultura popular, uma vez,
que, mesmo sendo vizinhos, não são iguais, e sob certos aspectos podem ser
até opostos, não são poucas as pessoas que acreditam que os dois nomes
servem ás mesmas realidades e, apenas folclore é o nome mais “conservador”
daquilo de que a cultura popular é nome mais progressista.
2.1. O Folclore Brasileiro e suas Influências Africanas
As origens do folclore Brasileiro prendem se á formação de seu povo,
conforme constam na história, três elementos básicos; o índio, o branco e o
negro, os quais se misturam, fundindo numa só as diferentes culturas.
5
Surgiram depois outros povos que transmitiram através dos tempos algumas
tradições, explicando assim o comportamento e os hábitos da nação.
A cultura indígena, por se encontrar em contato permanente com a
natureza, pode-se evidenciar que o brasileiro herdou uma filosofia dominada
pela terra e pelos mistérios da natureza, um respeito pelas águas e serras, um
encanto pelas flores, pelos animais e pela música dos pássaros, a magia e a
ingenuidade primitivas.
Já o português, além da base cultural proveniente da península ibérica,
herdou a audácia e energia do desbravador de terras, unida á saudade do lar
distante. O segredo da unidade geográfica do Brasil é uma consequência
desse espírito forte do lusitano.
E o escravo africano existe a tristeza, sensualidade, a resistência ao
sofrimento, a resignação e o fatalismo, talvez porque a escravidão já era
praticada na própria África antes de ser transplantada para a América
(MEGALE, 2011 p24)
Em quase todas as manifestações folclóricas pode-se encontrar a marca
das três culturas. Quanto á origem de um fato folclórico, às vezes a influência
destes elementos foi tão grande, que se torna difícil distinguir a fonte principal.
Noutras, ao contrário, é fácil percebê-la, tal a pureza com que se conservam os
elementos originais.
Manifestações de origem africana, cuja tendência é misturar crenças
religiosas, rituais característicos, como o candomblé, a macumba e a umbanda.
Já o Culto ás divindades de origem africana identifica-se pela força das
circunstâncias aos santos da religião católica; Iemanjá, Ogum, Oxalá, Iansã,
entre outros santos.
Com relação à música característica dessas manifestações, sobressai o
batuque, o samba, que vem ao lado de instrumentos típicos, sobretudo os de
percussão. E os pratos típicos são especiais, geralmente é muito
condimentada, com destaque para as delícias da cozinha baiana, o vatapá, o
acarajé, cururu, cocada, quindim, entre outros cardápios, assim como as
bebidas e os temperos (MEGALE, 2011 p24, 25, 26)
3. INFLUÊNCIA E A CHEGADA DA DANÇA DE MOÇAMBIQUE NO BRASIL
6
No Brasil, a dança dos folguedos intitulada como Moçambique, teve
início no Estado da Bahia, espalhando-se por Minas Gerais, Rio de Janeiro e
em São Paulo, mais especificamente, o movimento da Dança de Moçambique,
iniciou-se revelando seus primeiros nas proximidades no Vale do Paraíba.
A dança teve maior incidência em cidades como Aparecida do Norte,
Atibaia, Cotia, Cruzeiro, Cunha, Lorena, Manduri, Piraju, Santa Cruz
do Rio Pardo, São Luiz Paraitinga, Socorro, Suzano e Taubaté. É
uma dança, que se identifica às congadas e os folguedos, sabemos
que a dança adentrou à cultura brasileira, originária da África. Foi
trazida ao Brasil pelos negros escravos que eram arrastados à força
para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar e café e outros
serviços pesados (ARAÚJO, 1973 p.48).
Quando havia um descanso, os negros se entregavam à Dança do
Moçambique para matar a saudade de sua terra natal e esquecer a tristeza e a
dor causada pela escravidão e pelo trabalho escravo forçado.
Os trabalhadores também eram muito devotos do (Santo Negro) São
Benedito. A dança do Moçambique também pode ter sido praticada pelos
mouros, na Península Ibérica, trazida posteriormente para o Brasil e utilizada
na catequese dos índios com o movimento crescendo no país começam a dar
sinais no interior do estado (CASCUDO, 2002).
Segundo uma matéria de Alceu Maynard Araújo, publicada em 1949 pela
“Folha da Manhã”, em São Luiz do Paraitinga, Há indícios que os ricos
fazendeiros escravocratas na época, abriam seus salões para as festividades
de São Benedito, a fim de exibirem sua escravaria à sociedade e durante as
festas, os negros dançavam o que atualmente se conhece por Moçambique,
segundo matéria publicada
De acordo com a história citada no livro “Folguedos Populares do Brasil”,
de Rossini Tavares de Lima, cujas marcas representam a oralidade do povo
caipira, faz parte de um depoimento do “Rei” Apolinário de Godoi, residente no
bairro de São Roque, município de Aparecida do Norte, SP, na qual, foi
relatado à pesquisadora Maria de Lourdes Borges Ribeiro:
Uma veis, uma porção de cuzarruinzada começô a pressegui nosso
Sinhô. Ele corria na frente e os cuzarruim atrais. Atravessô uma ponte
e zeles atrais também. Então, Nosso Sinhô viu o Benedito, que
naquele tempo era gente como nói, e disse prele: “Benedito, eu vô
corrê por aqui. Se os cuzarruim preguntá procê, num diga pra onde
eu fui”. Nosso Sinhô levô diantêra e seguiu. Quando os cuzarruim
viero e preguntaro, Benedito respondeu: "Ele, pra mim, deu uma vorta
7
e vai passá aqui em baxo da ponte. É mió ocês esperarem Ele aí".
Assim que Benedito viu que todos zeles estava lá, começô a dançá
cos companhero. E tanto dançaro o Moçambique, tanto batero cos
bastão, que a ponte afundeô em cima de zeles e matô tudo. Então,
Nosso Sinhô vortô, feiz o Benedito virá santo e disse: "Benedito, ocê
sarvô o fio de Deus com sua dança. Purisso, ocê há de consegui ela,
enquanto o mundo fô mundo". E aí ficô o Moçambique. Purisso é que
o Moçambique é dança bençoada por Deus” (LIMA, 1962 p.78-79).
3.1. Dança de Moçambique: tradições e costumes por meio dos tempos
Com a denominação da dança folclórica Moçambique, há no Brasil
diferentes manifestações culturais que mantêm em comum a finalidade de
louvar São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Diante desse contexto, vale
evidenciar seus elementos estruturais, os quais permitem classificá-lo da
seguinte maneira; Moçambique autônomo, com utilização do manejo de
bastões e o Moçambique sem o manejo de bastões, geralmente integrando
determinado modelo de congada (ou congado), quando se alia a um ou mais
grupos afro-brasileiros (quicumbis, catopés, congo, entre outros...)
A apresentação facultativa de embaixada (auto) em ambos os tipos
determina o enquadramento de manifestação em dança ou folguedo (RIBEIRO,
1981 p.3).
Para tanto, vale evidenciar as principais características, adereços e
manifestações da Dança de Moçambique; os Moçambiqueiros, assim como são
chamados, se vestem de maneira uniforme nas várias regiões; calças comuns,
túnica ou camisolão cintados, gorro de pano enfeitado de fitas, contas entre
outros adereços. As cores variam, e eles dançam descalços. Iniciam com
bastões e guizos nas mãos, entoam uma saudação religiosa.
A sequência se inicia quando o rei e a rainha com a bandeira de São
Benedito saúdam o santo. Os membros da companhia depositam os bastões e
guizos no solo e seguem o rei até o altar, beijam a bandeira, voltam ao terreiro,
amarram os guizos abaixo dos joelhos e começam a dançar.
São comandados pelo mestre, que os orienta com um apito. Formam
duas fileiras, frente a frente, uma comandada pelo mestre e outra, pelo
contramestre. O mestre canta uma quadra, repete os dois primeiros versos, e
todos os dançadores cantam os dois últimos, como refrão, repetindo-os muitas
8
vezes. Enquanto o mestre canta dançam no lugar em que se encontram ou
movimentam-se para frente, uma fileira aproximando-se da outra.
Durante a dança, manejam os bastões, batendo-os nos dos
companheiros à frente ou nos dos companheiros dos lados, cruzando-os à
altura dos joelhos. A batida é feita conforme a música e as evoluções. Ainda
com os bastões, forma-se no solo figuras semelhante à escada, estrela e flor,
devendo então cada participante executar passos entre os bastões.
Marcondes (1998), evidencia em seus estudos, que os passos e as
figuras coreográficas mais curiosas do Moçambique são o batuquinho, o banzé
ou banzé-de-cuia e o jacundé. O emprego de bastões torna-o aparentado a
outras danças, como o bate-pau de Mato Grosso, o vilão de Santa Catarina, o
tum-dum-dum do Pará, o maculelê da Bahia, o chico-do-porrete do Rio Grande
do Sul.
Ribeiro (1981, p.6), destaca que em um levantamento realizado pela
autora somente na zona rural do vale do paraíba do sul (por intermédio das
professoras das delegacias de ensino básico) para a apresentação de trabalho
de simpósio do instituto de estudos referente aos Vales Paraibanos (1972),
verificou a existência de 91 grupos de congada de Moçambique, todos com
manejo de bastões.
3.2. Trajetória cultural: suas manifestações para o interior do estado de
São Paulo
As primeiras pesquisas sobre Moçambique no estado de São Paulo
foram feitas pelo escritor modernista, crítico literário, musicólogo, folclorista e
ativista cultural brasileiro, Mário Raul Morais de Andrade, as quais se iniciaram
em dois municípios, Santa Isabel, 1933, e em Mogi das Cruzes, 1936, e foram
publicadas somente no ano de 1959. O seu posicionamento, bem como o de
outros estudiosos, foi fundamental com relação ao conhecimento e análise da
estrutura da manifestação, pelo que contém de elementos essenciais e
indispensáveis ao estudo do designer da dança no espaço compreendido entre
1933 e 1981, evidenciou que “quando um menino ou moço fica doente das
pernas, uma das promessas mais comuns é a de dançar Moçambique”
(ARAÚJO, 1973 p. 48).
9
Essa manifestação vai muito além do caráter profundamente religioso,
corrobora o mesmo autor ao ressaltar que:
O Moçambique também é uma forma de recreação, pois a prática
inclui a dança, o jogo com os bastões e noções de ritmo e equilíbrio.
O folguedo também assume o caráter de dança curativa (p. 48).
Ainda sobre a existência do Moçambique em são Paulo, parece ser
referência de Afonso A. de Freitas (1955:138) a que mais recua no tempo. Ao
tratar das Folganças populares do velho São Paulo, comenta que “o habito das
danças e cantigas religiosas tiveram indubitável origem em São Paulo, no
método Anchietano” observa que a provisão de 1752 (condenando o uso de
máscaras e proibindo as danças nos cortejos religiosos) foi tardiamente
cumprida e que, no período de transição – albores de século passado - as
danças já eram Realizadas sem o caráter público e religioso de outrora e sem o
concurso indistinto das diversas camadas sociais.
As castas da população foram-se delimitando e detalhando-se os
costumes até a extinção da promiscuidade de classe naqueles
folguedos. Assim, pode-se destacar que exclusivamente as
congadas, os batuques, os sambas e os Moçambiques, os quais,
ainda se realizavam pelas ruas, de ordinário no Largo de são Bento
ou junto ás igrejas de São Benedito (que os documentos atestam
pertencer a S. Francisco) e do Rosário, após o recolhimento das
procissões; reprimidas por anacrônicas foram substuídas pela dança
dos caiapós, arremedo de costumes daqueles selvícolas, sem valor
étnico, organização artificiosa que era de pretos crioulos da capital
(FREITAS,1955 p.138)
Ainda que a referência não contenha a descrição da dança ou indícios
que permitam a sua tipificação, pelo menos atesta as considerações sobre o
anacronismo do Moçambique em São Paulo, já nos “Albores de século
passado”.
3.3. Dança de Moçambique: Gerações Permanências e Mutações no
município de Piraju
A História do Moçambique está intimamente ligada às congadas e
calcula-se que tenha se originado para acompanhar procissões durante as
festas de coroação do Rei do Congo, menciona Megale (2011 p.102), que “este
10
folguedo costuma se caracterizar por suas atividades mágicas e não apenas
como simples grupo de dançadores”, as quais permanecem vivas como parte
do Patrimônio Cultural do município de Piraju, que de acordo com a história, foi
fundada como São Sebastião do Tijuco Preto e atualmente Estância Turística
de Piraju.
A Dança do Moçambique teve início nos anos 30, graças ao empenho
do mestre Geraldo Bahia, que deu um grande impulso para se preservar esta
tradição afro-brasileira no município, se apresentando durante os festejos de
São Sebastião, o padroeiro da cidade.
De acordo com artigo 5º, inciso IV, da Lei Municipal 2547, de 26 de
Julho de 2001, que instituiu o Sistema Municipal de Meio Ambiente e
Patrimônio Cultural – SISMMAP, “a manifestação popular conhecida como
‘Moçambique’ é considerada a expressão máxima do folclore Pirajuense, no
âmbito dos bens imateriais”. Cabe à população e aos órgãos públicos acolher e
preservar a dança.
A Dança do Moçambique teve início nos anos 30 na cidade de Piraju
pela família do mestre Geraldo Bahia, que incorporou esta tradição afro-
brasileira nos festejos de São Sebastião, o padroeiro da cidade. No
Moçambique de Piraju se evidencia o papel curativo da dança: quando Geraldo
Bahia teve uma grave ferida na perna, prometeu que, se curado, dançaria o
Moçambique até morrer. Após a sua morte, em 1999, o grupo ficou sob o
comando do mestre José Antônio Rodrigues, conhecido como “Zé” Leal. O
mesmo é sobrinho de Geraldo e ainda hoje luta para manter a tradição de
família viva. Com mais de 80 anos de existência, o grupo de Moçambique de
Piraju ainda se configura como um pequeno expoente de resistência da cultura
popular na cidade,
Megale (2011) enfatiza que:
O tradicional não é algo fixo nem imutável, mas variando sempre. Não
existe sociedade, estática, mas sempre em transformação; o mesmo
acontecendo com o folclore: modifica-se, adapta-se, transforma-se,
recria-se. O que as gerações vão recebendo, conservando,
transmitindo; construindo no tempo e adaptando no espaço, o folclore
brasileiro é produto de uma admirável herança, que se avivam cada
dia mais na lembrança do povo (p. 152, 153).
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
11
A pesquisa foi realizada em duas etapas, sendo que no primeiro
momento foi referente a uma pesquisa bibliográfica acerca das temáticas
propostas. Este tipo de pesquisa abordará os principais estudos que se
associam aos temas que circundem a prática da Dança de Moçambique no
município de Piraju, suas tradições culturais como parte do Folclore Brasileiro.
Para Richardson (2010) e Rudio (2003), ressalta que o estudo obteve uma
busca em diferentes obras literárias, as quais foram encontradas nas bases de
dados como; periódicos científicos, literatura impressa e virtual e Universidades
Públicas.
Já na segunda etapa, foi por intermédio de uma pesquisa de campo,
utilizando-se a entrevista como instrumento para a coleta de dados, contendo 4
(quatro) questões, aplicados individualmente a uma amostra intencional
participante do estudo, composta por 3 (três) integrantes, sendo que o primeiro
integrante é o Mestre do Grupo, com 59 (cinquenta e nove) anos, do sexo
masculino; a segunda é moradora da cidade, com 78 (Setenta e oito) anos, do
sexo feminino, e a 30 (trinta) anos leva o grupo para participar da Festa
Tradicional em sua casa, em Homenagem a São Benedito e Nossa Senhora, E
o terceiro integrante, é um Prof Ms de Artes, com 45 (Quarenta e cinco) anos,
do sexo masculino, Diretor da Pasta de Cultura do Município do grupo de
Moçambique, todos residentes no município de Piraju, SP.
O pesquisador esclareceu aos sujeitos a relevância desse estudo,
sobre a total garantia de anonimato nas respostas, bem como, assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após esse procedimento,
aplicou-se às questões, as quais foram gravadas pelo pesquisador, e
registradas posteriormente de forma escrita, com clareza e objetividade, não
havendo em momento algum, interferência no nos relatos. Tomou-se como
base a vivência do público entrevistado, com relação a sua mutação no grupo e
no município.
Para melhor visualização foi montada uma tabela com todos os dados
referentes aos sujeitos participantes da pesquisa, os quais se encontram a
seguir:
4.1. TABELA CORRESPONDENTE AOS DADOS DOS SUJEITOS DA PESQUISA
12
SUJEITOS GÊNERO FAIXA MUNICÍPIO FUNÇÃO TEMPO
ETÁRIA NO DE
GRUPO PARTICIPAÇÃO
S1 masc 59 Piraju Mestre 49 anos
S2 fem 78 Piraju Festeira 30 anos
S3 masc 45 Piraju Diretor 1 ano
de Cultura
4.2. QUESTÕES APLICADAS AO MESTRE
1. Como se tornou mestre do grupo?
2. O que diferencia o grupo em relação aos outros?
3. Piraju teve mais grupos de Moçambique?
4. Como você vê o grupo para futuras gerações?
Após a coleta dos dados foram analisadas as respostas dos sujeitos,
de acordo com a seqüência acima citada:
Questão 1
Após a morte do mestre Geraldo Bahia, os Moçambiqueiros se
dividiram em dois grupos, sendo um deles comandado por José
Antonio Rodrigues Leal, sobrinho de Bahia e mais conhecido por Zé
Leal. O outro grupo, é liderado pelo mestre Aparecido Gonçalves,
tendo como contra-mestre o Moçambiqueiro Ademar Leite de
Oliveira, ambos discípulos do mestre Geraldo Bahia (Suj1).
Questão 2
O Moçambique de Piraju utiliza bastão curto em suas performances,
característica que o diferencia dos demais grupos já estudados
cientificamente. Acredita-se que é uma tradição de família que
permanece até os dias atuais. O bastão curto era comum a outras
cidades da região, como Timburi e Manduri, mas nelas o folguedo se
perdeu (Suj 1).
Questão 3
Os Moçambiqueiros se dividiram em dois grupos, sendo um deles
comandado por José Antonio Rodrigues Leal, sobrinho de Bahia e
mais conhecido por Leal Bahia. O outro grupo, é liderado pelo mestre
Aparecido Gonçalves, tendo como contra-mestre o Moçambiqueiro
Ademar Leite de Oliveira, ambos discípulos do mestre Geraldo Bahia
(Suj.1)
Questão 4
O que eu vejo e se a gente correr atrás dos novos jovens para que
eles se interesse pela dança, pois hoje em dia ta difícil, a tecnologia
tomou conta do ser humano e dos jovens principalmente há um
13
desinteresse por algumas culturas tradicionais, e seria uma judiação
acabar (Suj1).
A figura mais importante é o mestre, a quem compete à disciplina e
organização do grupo. É ele quem realiza os ensaios e combina os dias para a
apresentação da dança nas festas comunitárias. Os "dançadores" usam
vestimentas simples; calça e camisa brancas e um casquete (boné ou
capacete) bordado com figuras geométricas. Também levam duas fitas
cruzadas no peito e nas costas, uma vermelha, para são Benedito, e uma azul,
para Nossa Senhora Aparecida. As rainhas vestem trajes enfeitados e
carregam os estandartes com imagens dos santos. A música entoada é
chamada de "linho" ou "ponto", é enunciada pelo mestre e repetida pelos
outros "dançadores" Araújo (1973 p.48), relata que “quando um menino ou
moço fica doente das pernas, uma das promessas mais comuns é a de dançar
Moçambique”.
4.3. QUESTÕES APLICADAS A MORADORA E FESTEIRA
1. Como acontece a festa tradicional que permanece há 30 anos?
2. Como foi o convite para que o grupo de Moçambique estivesse
presente em suas festas tradicionais?
3. Como moradora da cidade, qual a importância do grupo para o
município de Piraju?
4. Como você vê o grupo para as futuras gerações?
Questão 1
Eu faço essa festa há 30 anos na cidade, uma vez fiz um pedido a
são benedito e o pedido de graça foi alcançado, desde então eu faço
a festa como promessa, em minha casa mesmo onde rezamos o
terço e convidados a comunidade para a celebração (Suj2)
Questão 2
Há 39 anos atrás, entrou em contato com o responsável do grupo
para que a sua celebração de graça fosse acompanhada pelo grupo,
que também tem São Benedito como o santo do grupo, e no fim da
oração e da apresentação do grupo é servido, bolo e chá para todos
ali presente, um forma de agradecer a presença do grupo e ao santo,
que até hoje a festa é celebrada todos os anos em sua casa (Suj2).
14
Questão 3
Eu acho o grupo muito lindo, uma dança antiga na cidade, onde uma
parte dela eu pude estar presente, seja sozinha ou com meus pais,
uma dança que por ser religiosa dou muito valor, e penso que as
pessoas devem reconhecer mais o valor a ela tem para nossa cidade
(Suj2).
Questão 4
Eu peço a Deus que sempre continuem que os jovens possam
reconhecer o valor da dança, ter a consciência que algo muito lindo,
maravilhoso, e que participe, entrem no grupo, pois é algo gratificante
para a gente saber que o grupo terá continuidade, assim como
nossos antepassados devem estar orgulhosos de nós ao saber aonde
chegamos (Suj2).
Assim, os tradicionais festejos há São Benedito e a Nossa Senhora
acontece acerca de 30 anos seguido no município de Piraju, onde todos os
anos ininterruptamente convidam o grupo e a comunidade local para os
festejos em sua casa, servindo também em graça ao bom Senhor e a Nossa
Senhora, pãozinho e bolo como tradição.
As festas brasileiras se renovam como espaços típicos de lazer,
preservando sua natureza diversional e ao mesmo tempo
permanecendo hibridamente fincadas nas suas raízes populares”
(MELO, 2001 p. 112),
4.4. QUESTÕES APLICADAS AO PROF. MS E DIRETOR DE CULTURA DA
PASTA
1. Há quanto tempo trabalha na educação? E como Diretor de Cultura?
2. Como foi trabalhar em sala de aula o Moçambique?
3. E como Diretor de Cultura como foi à experiência com o grupo?
4. Em sua gestão como o grupo chegou ao Festival “Revelando São
Paulo”?
Questão 1
Leciono há 11 anos na rede municipal de ensino do município de
Piraju. Fui diretor de Cultura do Município de Piraju por 1 ano (Suj3).
Questão 2
Nos anos de 2015 trabalhamos a cultura afro-brasileira e africana na
educação infantil. A experiência teve como norte a experimentação
de outras formas no processo de ensino e aprendizagem tendo como
referência o modo de ensinar e aprender dos povos africanos cujo
conhecimento é transmitido através de todos os sentidos do corpo. O
projeto foi realizado com crianças de 5 e 6 anos do ensino infantil da
15
E.M.E.I. Moacir Faria na cidade de Piraju, interior de São Paulo e teve
duração de 4 meses.Nossa proposta foi abordar a História e Cultura
Africana e Afro-brasileira no ambiente escolar por intermédio de
procedimentos que possibilitassem a “objetivação” da mobilização
estética inicial do projeto, que é a vontade de realmente propor ações
transformadoras na educação. Afinal, em um sistema de ensino
baseado em um paradigma europeu cujo princípio da aprendizagem é
baseado na relação olho-cérebro, como propor na educação infantil o
ensino da história e cultura africana e afro-brasileira que tem no cerne
de sua aprendizagem a relação corpo-meio envolta de narrativas,
metáforas e mistérios? Se existe um mistério neste processo de
aprendizagem, qual seria? Seria possível revelá-lo? Nesse sentido,
para que se construam ações que promovam relações positivas
étnicas raciais, é necessário romper com velhos paradigmas de
processos de aprendizagens que silenciam o corpo. Assim sendo,
penso que é preciso olhar mais atentamente para as comunidades
afro-brasileiras existentes no Brasil que têm muito que dizer sobre
África, sobre um modo fácil de aprender usando todos os códigos do
corpo, que, ao contrário do corpo inerte adestrado para a fábrica,
aprende com o jogo, com a ludicidade africana que influencia formas
de pensar a vida, a Arte (Suj3).
Uma das etapas do projeto foi a RODA DE GRIÔS
Após refletir sobre os resultados obtidos e em conversa com os pais e
pessoas da comunidade ouvi relatos sobre a contribuição do negro
para a formação da cultura da cidade de Piraju. Eram tantas histórias
envolvendo o Moçambique e o Carnaval Popular da cidade que
resolvi propor uma roda de griôs. Acredito que a escola precisa estar
aberta para ouvir as histórias desses verdadeiros mestres da cultura
popular, pois penso que o saber não é exclusividade da escola, mas
está em todos os cantos. São núcleos de saberes formados na
família, pequenos grupos e comunidade. Convidei alguns pais,
grupos e pessoas da comunidade que, se quisessem, poderia
compartilhar seus conhecimentos contando histórias para as crianças
aos pés das árvores da escola. Marquei um dia para nosso encontro
e, prontamente, algumas pessoas e grupos folclóricos da cultura
negra de Piraju contaram suas histórias para as crianças em um
encontro repleto de troca de experiências. O Grupo folclórico de
dança Moçambique compareceu e, além das histórias acerca do seu
surgimento, demonstraram sua dança para as crianças. Alguns pais
contaram histórias referentes à personagens folclóricos da cidade
como: João Gato, ex-escravo; Maria do Pito e Procópio, percussores
do carnaval popular e fundadores das primeiras escolas de samba
(Suj3).
Questão 3
Trabalhar com grupo Moçambique na educação e na cultura foi um
aprendizado inigualável. É uma oportunidade única conhecer de perto
toda tradição desse grupo que, embora seja considerado por lei como
“a expressão máxima do folclore Pirajuense”, luta para manter suas
raízes vivas e em constante movimento (Suj3).
Questão 4
Como Diretor de Cultura tive a oportunidade de viajar para São Paulo
no evento “Revelando São Paulo” promovido pela Secretaria Estadual
de Cultura. Para minha surpresa, ao chegarmos no recinto para o
cortejo de todos os grupos folclóricos do estado, percebi que dentre
todos os presentes, o grupo Moçambique de Piraju era o mais
tradicional, desde vestimentas, cantigas e dança. A experiência foi
extremamente positiva, especialmente, para os integrantes do grupo
que foram a sensação do Revelando SP. É interessante observar,
16
como o reconhecimento dos demais grupos tradicionais era
instantâneo e as reações eram de admiração, pois, como sabemos, o
grupo de Moçambique de Piraju, preza por suas raízes,
principalmente, pela sua particularidade, única no Brasil: dançar com
bastões curtos (Suj3).
Os relatos do suj 3, mostram o seu envolvimento desde que montou o
projeto com crianças de 5 e 6 anos do Ensino Infantil da E.M.E.I., com intuito
de propiciar as crianças o conhecimento da Cultura Africana e Afro-Brasileira,
mobilizando-os quanto a possível forma de expressão máxima do folclore
Brasileiro, mais especificamente a Dança de Moçambique Pirajuense, e
principalmente para que possam valorizar e ter maior interesse as culturas da
sua cidade e regiões.
Ressaltam ainda, a importância de resgatar histórias e assim dar
continuidade a essa geração que passa de pai para filho e que agora está
sendo inserida na educação dos jovens. A valorização do professor é
extremamente importante, pois por meio dele, torna-se possível continuar
resgatando e disseminando histórias desse patrimônio cultural, a Dança de
Moçambique, assim como, suas tradições e mutações por intermédio dos
tempos, como forma de se manter suas raízes vivas e em constante
movimento.
Uma conclusão previsível que daí decorre, decerto, é que nessa
abordagem o corpo não é, ao menos não exclusivamente, um processo
fisiológico, é antes uma ferramenta da qual o homem dispõe para expressar-se,
experienciar o mundo e a si próprio, bem como atuar e conferir significado à
concretude do mundo (LE BRETON, 2009 p. 338 -339)
Le Breton (p. 9), sob uma perspectiva da dimensão simbólica – “da
capacidade própria ao homem de fixar o vínculo social pela criação
de sentido e valores”
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir diante desse estudo, o quanto é importante conservar a
cultura popular existente dentro da tradição de um povo, a qual faz parte de
uma herança para as futuras gerações que delas poderão usufruir. Para isso,
deve-se oferecer o verdadeiro valor cultural, seja tratado na educação, em
17
festas tradicionais, disseminados entre gerações e assim manter a cultura
tradicional viva no município de Piraju, a Dança de Moçambique, a qual se
encontra atualmente correndo o risco de perder sua expressividade no
município.
Vale ressaltar que o grupo de Moçambiqueiros existe a mais de 80 anos
e por ter a religião como tema central de suas atividades, o grupo sofre certo
preconceito do restante da população e não tem sua importância cultural e
folclórica, reconhecida pelos Pirajuenses, portanto, acaba não atraindo novos
membros.
Os praticantes do folguedo já apresentam idade avançada e, por conta
disso, têm dificuldades em executar os movimentos que a dança requer. Assim,
os ensaios e as apresentações ficam comprometidos e com isso cada vez mais
escasso, onde o grupo não apresenta mais uma formação consistente dos
integrantes local, uma vez, que, alguns membros já faleceram e outros
perderam ou estão perdendo o interesse em dançar. Por isso, um dos objetivos
que se pretende alcançar com a realização deste projeto é tornar essa prática
folclórica mais conhecida, dando mais visibilidade ao grupo.
O Moçambique de Piraju segue uma tradição familiar e apresenta uma
característica que o difere dos demais grupos; a utilização do bastão curto.
Pouco se sabe a respeito dessa singularidade, pois a história do folguedo não
foi documentada quando seus fundadores ainda eram vivos. O único
documento textual que o Acervo Municipal possui sobre a história do grupo é
uma reportagem especial produzida para a revista “Hoje”, em 2003.
O segundo desafio foi em encontrar dados sobre o Moçambique de
Piraju que pudessem fundamentar a pesquisa. Apesar de todos os fatores
externos, o desenvolvimento do projeto experimental resultou em experiências
bastante enriquecedoras. Primeiramente, pesquisar um grupo que quase não
apresenta registros documentais levou-nos a participar da rotina dessas
pessoas que tem uma relação muito íntima com a fé.
Ao final do estudo em pauta, pode-se concluir que o futuro do grupo é
realmente incerto, pois sua manutenção depende do empenho de todas as
instâncias do munícipio para que a Dança do Moçambique seja compreendida
como elemento cultural e folclórico da cidade, e não somente como uma prática
religiosa.
18
Diante disso, vale reiterai que, o olhar único do autor para a narrativa da
realidade é extremamente essencial para que essa prática continue viva. Isso
porque, por si só, o folclore poderá deixar de existir, corrobora Brandão (1982,
p.105), que “a cultura é a parte popular em um mundo onde o “povo” é o sujeito
subalterno”.
19
5. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, A. M. Cultura popular brasileira. São Paulo: Melhoramentos,
Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1973.
BRANDÃO, C. R. O que é Folclore. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.
CASCUDO, L. C. da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 11. ed. São Paulo:
Global, 2001
LIMA, R. T. de. Folguedos Populares do Brasil. São Paulo: Ricordi, 1962.
LE BRETON, D. As paixões ordinárias: antropologia das emoções. Rio de
Janeiro: Vozes, 2009. 276 p.
MARCONDES, M. A. Enciclopédia da música Brasileira - erudita, folclórica
e popular. 3. ed. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural/Publifolha, 1998.
MEGALE, N. B. Folclore Brasileiro. 5.ed Petrópolis, Rj: Vozes, 2011.
MELO, J. M. de. As festas populares como processos comunicacionais. In:
Anuário UNESCO/UMESP de comunicação regional. Ano 5, nº 5. São Paulo:
Universidade Metodista, 2001.p.112
RIBEIRO, M. L. B. de. Cadernos de folclore. ed. 32. Moçambique, Edição
secretaria de estado da cultura de São Paulo, 1981
RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.
PIRAJU. Lei n° 2547, de 26 de julho de 2001. Institui o Sistema Municipal de
Meio Ambiente e Patrimônio Cultural de Piraju – SISMMAP, e dá outras
providências e cria o Conselho do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural –
CMAPC. Piraju, 26 de jul. 2001. 10 p.
RELATÓRIO DE PROJETO EXPERIMENTAL Webdocumentário “Vozes do
Moçambique” Maria Eduarda Amorim RA: 11033878 Bauru, 2015
20
RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa. 31. ed. Petrópolis: Vozes,
2003.