CURSO DE FÉRIAS Parte IV

INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE
ANTONINO FERRO

SÉRGIO G. NICOLETE
Psicanalista e Professor (Instituto Dédalus)
[email protected]
@psicanalisedosmundospossíveis
(85) 9 85 45 – 21 05
NOSSO PROGRAMA DE ESTUDOS

Dia 24
• Modelo mental de Antonino Ferro
• Fatores de Doença e de Cura
MODELO DA MENTE

Em Aprender com a Experiência, Bion nos fornece um modelo

da mente não saturado, no qual uma parte central cabe à
elaboração das senso-extero-propriocepções − estímulos de
toda espécie e proveniência (elementos-beta) - e, como tais,
por si só não-conhecíveis.
MODELO DA MENTE

• Bion afirma que é fundamental a atividade de metabolização

que fazemos dessas impressões sensoriais e emocionais. Essa
atividade consiste na formação, a partir dessas impressões,
de um pictograma ou ideograma visual - uma imagem
poética que sintetiza a resultante emocional daquela
impressão ou somatória de impressões: elemento-alfa.
• O método para realizar tal transformação foi chamado por
Bion de função-alfa.
MODELO DA MENTE

A função-alfa atua sobre as impressões sensíveis, quais quer

que sejam, e sobre as emoções que o paciente percebe. À
medida que a função-alfa atua, produzem-se elementos-alfa
passíveis de se armazenar e corresponder aos requisitos de
pensamentos oníricos
Impressões Função α Elementos α
Pensamentos
sensíveis atuante oníricos
MODELO DA MENTE

Se a função-alfa se perturba e, por isso, não atua, as impressões

sensíveis que o paciente percebe e as emoções que
experimenta permanecem inalteradas. Dou-lhes o nome de
elementos-beta

Impressões Função α Pensamentos

Elementos α
sensíveis não atuante oníricos

Elementos β
MODELO DA MENTE

Os elementos-beta não se utilizam como pensamentos

oníricos, mas são passíveis de uso na identificação projetiva.
 Produzem atuações;
 São objetos para evacuação;
 Há ausência de representação mental e de poder de
abstração;
Os elementos-beta armazenam-se, mas diferem dos
elementos-alfa em que não são propriamente memória e
sim fatos indigestíveis, enquanto os elementos-alfa,
sintetizados pela função-alfa, são utilizáveis no pensamento
 MODELO DA MENTE

Impressões
sensoriais e FUNÇÃO α
experiências Elementos β Elementos α
emocionais
arcaicas
MODELO DA MENTE

A impressões sensíveis transformadas pela função-alfa em

elementos-alfa, semelhantes e identificáveis às imagens
visuais, a nós familiares, são elementos que Freud considera
revelam conteúdo latente nos sonhos, quando o analista os
interpreta.
MODELO DA MENTE

Falamos de pictograma visual, mas existem também

elementos α não visíveis:
Acústicos (audiogramas)
Cenestésicos (cinestesiogramas)
Gustativo
Olfativo
Mas para simplificar, podemos deixá-los de lado; entretanto,
é claro que o que vale para os elementos α com qualidade
visual vale também para todos os outros;
MODELO DA MENTE

Os elementos α são colocados em sequência, constituindo o

pensamento onírico de vigília que nos acompanha em todas
as operações diurnas, sem que tenhamos consciência disso.
Também formam a barreira de contato que separa o
sistema consciente do inconsciente, criando-os e
diferenciando-os.
MODELO DA MENTE

Elementos-alfa podem pertencer tanto ao inconsciente

quanto ao consciente.
Formam os tijolinhos elementares do pensamento
inconsciente de vigília e, simplesmente, os tijolinhos dos
pensamentos;
2. O Campo Analítico
de Antonino Ferro

PENSAMENTO ONÍRICO DE VIGÍLIA

A experiência emocional vivida durante o sono não
difere da vivida durante a vigília no que se refere as
percepções da experiência emocional;
Sonhamos tanto acordados, quando dormindo.
MODELO DA MENTE

O sonho da noite seria diferente do “pensamento onírico de

vigília”, que no fundo é uma soma linear dos pictogramas
emocionais; o sonho é algo que pressupõe a existência de
uma função de reelaboração/ organização de todos os
elementos α que forma produzidos e conservados no
sistema consciente ou no sistema inconsciente durante a
vigília
MODELO DA MENTE

ESPECTRO DO ONÍRICO

Sonho Pensamento Rêverie Rêverie Rêverie em Transformação

Noturno onírico de De base Em flash construção em sonho
vigília
MODELO DA MENTE

Pensamentos
Elementos β Elementos α inconscientes Pensamentos
de vigília

Os pensamentos são “derivados narrativos dos elementos

α”, que mantêm graus variáveis de “alfidade”. Uma vez que os
pensamentos estejam formados, Bion afirma que há
necessidade de um sistema, um “aparelho para pensar os
pensamentos”, na ausência do qual, ou quando ultrapassam
as capacidade de tal aparelho, os pensamentos são tratados
como elementos β e evacuados
MODELO DA MENTE

Não podemos ter contato, estando acordados, com o

elemento α, a não ser através dos “derivados narrativos” ou
naquelas particulares situações de graça que são as rêveries,
nas quais se abre um espaço interno para o elemento-alfa
 MODELO DA MENTE
CONTEÚDO CONTINENTE
IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA
♂
Necessidades, desejos, demandas e
♀
Capacidade de receptividade dos
angústias, protoemoções conteúdos
Impressões
sensoriais e FUNÇÃO α
experiências Elementos β Elementos α
emocionais
arcaicas
 MODELO DA MENTE
TRÊS TIPOS DE “ACASALAMENTO DA MENTE”

♂♂ PARASITÁRIA
Dupla se desvitaliza, destrói-se mutuamente e se nutrem de
maneiras que funcionam como uma barreira contra a verdade.

♀♀ COMENSAL
Relação improdutiva, fusional sem que aconteçam penetração
de palavras, profundidades, sem que aconteça nada produtivo,
transformador, sem que nasçam ideias.

♂♀ SIMBIÓTICA A dupla se harmoniza e se beneficia mutuamente

 MODELO DA MENTE
CONTEÚDO CONTINENTE
IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA
♂
Necessidades, desejos, demandas e
♀
Capacidade de receptividade dos
angústias, protoemoções conteúdos
Impressões Absorve
sensoriais e FUNÇÃO α Seleciona
experiências Elementos β Elementos α Desintoxica
emocionais Transforma
arcaicas Traduz
RÊVERIE Elementos que
Elementos α predominantemente
adquirem a forma de
imagens visuais
Sonhos
Pensamentos
 ELEMENTOS BETA
(Coisa-em-si)

Função α Elementos βα
Visuais (fatos não digeridos)
INCONSCIENTE Acústicos
ELEMENTO α Gustativos
Cinestésicos
Olfativos
α α α α α α α α α
Sequência de
(Pensamentos oníricos de vigília sempre em funcionamento) Elementos α
Se escapa
Para fora

CONSCIENTE
FLASH DERIVADOS NARRATIVOS
VISUAL Variáveis segundo a idade, sexo, estilo e cultura
Constituem os pensamentos tratados por PS↔D e ♀♂
 MODELO DA MENTE
• Externo (paranoia, esquizofrenia, autismo);
• No corpo (somatizações);
• Na sociedade (delinquência);
Evacuação • Na mente (evitamento = fobia; controle= obsessão);
Elementos β • Narcisismo;
EVITAR • Funcionamentos autísticos (fixação nos detalhes, repetições,
EMOÇÕES miniaturirização das emoções);
• Fanatismos, dogmatismos;
ATIVIDADES
Ruminação Uma forma de entrar
BÁSICAS DA • Escolhas profissionais;
novamente em contato com as
MENTE Elementos β • Escolhas amorosas;
emoções

Para que as emoções possam ser vividas é necessário um • Figurabilidade;

VIVER • Criação de cenários;
EMOÇÕES intenso trabalho prévio que pressupõe a integridade de • Reunir partes cindidas;
alguns aparatos para torna-las passíveis de serem
assimiladas, administradas, contidas • Narrabilidade
Elementos α
 FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
FUNÇÃO α
Elementos β Elementos α
Toda patologia é uma patologia por...
INSUFICIÊNCIA DA EXCESSO DE ELEMENTOS
INSUFICIÊNCIA DO ♀
FUNÇÃO α β

Existe uma deficiência Temos a formação de

elementos α, mas são São as situações “traumáticas”,
originária da formação do derivam do acúmulo de elementos
pictograma visual, até a defeituosos os aparelhos
com os quais se possa β em quantidade maior do que se é
ausência da formação da capaz de transformar em
própria “mente” trabalhar esses elementos
elementos α, e depois em emoções
e pensamentos

Naturalmente, existem infinitas combinações entre estas três possibilidades

FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
INSUFICIÊNCIA DA FUNÇÃO α

• São patologias como o autismo, por exemplo;

• Aqui é preciso “refazer” (ou em muitos casos, fazer pela
primeira vez) aquele trabalho - através da transformação dos
elementos beta em elementos alfa – que permita a formação
de elementos alfa e a introjeção do método para fazê-lo
• As interpretações clássicas (saturadas), nestes casos, são
somente ulteriores estímulos de sensorialidade que causam
evacuação
• Os elementos alfa podem vir a ser evacuados como elementos
beta se não houver a formação adequada da função alfa
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
INSUFICIÊNCIA DO ♀

• São patologias do tipo borderlines, narcísisticas nas quais há

uma função alfa atuante, mas seus produtos não podem depois
ser administrados
• A interpretação clássica frequentemente gera mais perseguição
do que crescimento
• Falta o lugar no qual coloca-las e a “maneira” de utiliza-las
• Nestes casos, precisa-se trabalhar a formação do ♀
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
EXCESSO DE ELEMENTOS β

TRAUMÁTICO
Quando há um excesso de elementos β, em relação a quantos podem
ser metabolizados, os vários mecanismos de defesa intervêm para fazer
frente a eles:
• Fatos não digeridos (primeiro mecanismo);
• Cisão (cota não tratada de é cindida e projetada para fora);
• Recusa
• Negação
• Distúrbios psicossomáticos
• Alucinações
• Atuações
• Narcisismo
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
EXCESSO DE ELEMENTOS β

TRAUMÁTICO

♂♂
♀
♂ ♂ ♂
Hiperconteúdo Continente Fragmentação
insulficiente Do Continente
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
EXCESSO DE ELEMENTOS β

• São pacientes com função alfa íntegra e o aparelho para pensar

pensamentos íntegro, mas com excesso de “fatos não digeridos”
geradores de transferência e de identificações projetivas,
aguardando que o analista colabore com o trabalho de significação
e ressignificação.
• São pacientes que se encaixam nas categorias clássicas dos
critérios de analisabilidade
• Toleram interpretações clássicas porque têm um lugar “onde”
coloca-las e sabem “como” elabora-las, ficando enriquecidos
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA

FATORES DE CURA...
 Desenvolvimento do “Continente” (♀)
 Desenvolvimento da função-α/ dreaming ensemble
(“conjunto dos sonhos”)
 Desenvolvimento onírico
 “Alfabetização” das protoemoções
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA

Desenvolvimento do Continente
Dá-se através da capacidade de estar em uníssono. Isto cria laços
emocionais que irão desenvolver a trama emocional do continente.

Estar em uníssono tem um amplo espectro de oscilações: Vai desde

o paciente que necessita o compartilhar total da sua linguagem
(através de interpretações insaturadas que compartilham o léxico
do paciente) a pacientes que vivem uma situação de uníssono em
faixas oscilatórias mais amplas e que permitem interpretações cada
vez mais saturadas que rompam com a linguagem, o léxico, o
gênero narrativo
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
O analista é percebido em contato se ele se coloca exatamente no
UNÍSSONO mesmo comprimento da onda emocional, temática, do paciente.
LINEAR Qualquer afastamento do “texto” do paciente, é vivido como,
abandono, falta de compreensão, falta de sintonia

O analista é percebido em contato dentro de uma estreita faixa de

PEQUENA oscilação. Pode haver um certo grau de alteridade na intervenção
OSCILAÇÃO do analista. É o reino das interpretações na transferência, com o
compartilhar do tempo e o evidenciar dos estados emocionais.

O analista é percebido em contato também dentro de uma larga

AMPLA faixa de oscilação. Pode haver uma interpretação de transferência
OSCILAÇÃO e, se necessário, de conteúdo, sem que o paciente sinta uma
interrupção do fluxo comunicativo
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA

Desenvolvimento da função alfa

• Incluem atividades de rêverie de base inconsciente,
subliminares e contínuas;
• Atividades de rêverie de flash (ou curta-metragem)
• Atividades de rêverie/ construção (ou de longa-metragem)
• Atividades de talking-as-dreaming
• Atividades de transformações em sonho
FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA

Dreaming ensemble (“conjunto dos sonhos”)

• Barreira de contato: se o sonho exerce função de proteção;

• Grade: se há capacidade de transformar protoemoções em
pensamento;
• Relação Continente ↔ Conteúdo: se há a capacidade de
conter as protoemoções;
• Os vínculos amor (L), ódio (H), conhecimento (K)
 FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
AÇÕES TERAPÊUTICAS ATIVAS

De transferência Ampla oscilação

(conteúdo)

Pequena oscilação
INTERPRETAÇÕES Na transferência
(alteridade)

De campo

No campo Pequena oscilação

(alteridade)
 FATORES DE DOENÇA, FATORES DE CURA
AÇÕES TERAPÊUTICAS RECEPTIVAS
De base inconsciente Transforma sensorialidade em
pictogramas

RÊVERIE Em Flash (ou em curta-metragem) Imagens instantâneas

Construções (ou em longa-

Série de Imagens
metragem)

TALKING AS DREAMING

TRANSFORMAÇÃO EM SONHO