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Fichamentos Interessantes para A Qualificação 14 01 2022

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Geertz, Clifford, 1926- A interpretação das culturas / Clifford Geertz. - l.ed.

,
IS.reimpr. - Rio de Janeiro : LTC, 2008. 323p.
Na discussão antropológica recente, os aspectos morais (e estéticos) de uma
dada cultura, os elementos valorativos, foram resumidos sob o termo "ethos",
enquanto os aspectos cognitivos, existenciais foram designados pelo termo
"visão de mundo". O ethos de um povo é o tom, o caráter e a qualidade de sua
vida, seu estilo moral e estético, e sua disposição é a atitude subjacente em
relação a ele mesmo e ao seu mundo que a vida reflete. A visão de mundo que
esse povo tem é o quadro que elabora das coisas como elas são na simples
realidade, seu conceito da natureza, de si mesmo, da sociedade. GEERTZ,
2008. Pg 93

Hall.Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais / Stuart Hall;


Organização Liv Sovik; Traduçao Adelaine La Guardia Resende ... et all. - Belo
Horizonte: Editora UFMG; Brasilia: Representação da UNESCO no Brasil,
2003.
Os entrevistados de Mary Chamberlain também falam eloquentemente da
dificuldade sentida por muitos dos que retornam em se religar a suas
sociedades de origem. Muitos sentem falta dos ritmos de vida cosmopolita com
os quais tinham se aclimatado. Muitos sentem que a "terra" tornou-se
irreconhecível. Em contrapartida, são vistos como se os elos naturais e
espontâneos que antes_ possuíam tivessem sido interrompidos por suas
experiencias diaspóricas. Sentem-se felizes por estar em casa. Mas a história,
de alguma forma, interveio irrevogavelmente.
Esta e a sensação familiar e profundamente moderna de des-locamento, a qual
— parece cada vez mais — não precisamos viajar muito longe para
experimentar. Talvez todos nos sejamos, nos tempos modernos — após a
Queda, digamos — o que o filosofo Heidegger chamou de unheimlicheit—
literalmente, "não estamos em casa". Como Iain Chambers eloquentemente o
expressa:
Não podemos jamais ir para casa, voltar a cena primária enquanto momento
esquecido de nossos começos e "autenticidade", pois há sempre algo no meio
[between}. Não podemos retornar a uma unidade passada, pois só podemos
conhecer o passado, a memória, o inconsciente através de seus efeitos, isto é,
quando este é trazido para dentro da linguagem e de lá embarcamos numa
(interminável) viagem. Diante da "floresta de signos" (Baudelaire), nos
encontramos sempre na encruzilhada, com nossas histórias e memórias
("relíquias secularizadas", como Benjamin, o colecionador, as descreve) ao
mesmo tempo em que esquadrinhamos a constelação cheia de tensão que se
estende diante de nós, buscando a linguagem, o estilo, que vai dominar o
movimento e dar-Ihe forma. seja mais uma questão de buscar estar em casa
aqui, no único momento e contexto que temos...6 pg 27 e 28
Os mitos fundadores são, por definição, transistóricos: não apenas estão fora
da história, mas são fundamentalmente aistóricos. São anacrônicos e tem a
estrutura de uma dupla inscrição. Seu poder redentor encontra-se no futuro,
que ainda está por vir. Mas funcionam atribuindo o que predizem a sua
descrição do que já aconteceu, do que era no princípio. Entretanto, a história,
como a flecha do Tempo, é sucessiva, senão linear. A estrutura narrativa dos
mitos é cíclica. Mas dentro da história, seu significado é frequentemente
transformado. pg 29

O conceito fechado de diáspora se apóia sobre uma concepção binária de


diferença. Está fundado sobre a construção de uma fronteira de exclusão e
depende da construção de um "Outro" e de uma oposição rígida entre o dentro
e o fora. Porém, as configurações sincretizadas da identidade cultural
caribenha requerem a noção derridiana de differance— uma diferença que não
funciona através de binarismos, fronteiras veladas que não separam
finalmente, mas são também places de passage, e significados que são
posicionais e relacionais, sempre em deslize ao longo de um espectro sem
começo nem fim. A diferença, sabemos, e essencial ao significado, e o
significado e crucial a cultura. Pg 33

A globalização, obviamente, não é um fenômeno novo. Sua história coincide


com a era da exploração e da conquista europeias e com a formação dos
mercados capitalistas mundiais. As primeiras fases da dita história global foram
sustentadas pela tensão entre esses polos de conflito — a heterogeneidade do
mercado global e a força centrípeta do Estado-nação —, constituindo juntas um
dos ritmos fundamentais dos primeiros sistemas capitalistas mundiais. pg 35

A nova fase pós-1970 da globalização está ainda profundamente enraizada nas


disparidades estruturais de riqueza e poder. Mas suas formas de operação,
embora irregulares, são mais "globais", planetárias em perspectiva; incluem
interesses de empresas transnacionais, a desregulamentação dos mercados
mundiais e do fluxo global do capital, as tecnologias e sistemas de
comunicação que transcendem e tiram do jogo a antiga estrutura do Estado-
nação. Essa nova fase "transnacional" do sistema tem seu "centro" cultural em
todo lugar e em lugar nenhum. Está se tornando "descentrada". Pg 36

Portanto, e importante ver essa perspectiva diaspórica da cultura como uma


subversão dos modelos culturais tradicionais orientados para a nação. Corno
outros processes globalizantes, a globalização cultural e desterritorializante em
seus efeitos. Suas compressões espaço-temporais, impulsionadas pelas novas
tecnologias, afrouxam os lagos entre a cultura e o "lugar". Disjunturas patentes
de tempo e espaço são abruptamente convocadas, sem obliterar seus ritmos e
tempos diferenciais. As culturas, e claro, tem seus "locais". Porém, não é mais
tão fácil dizer de onde elas se originam. Pg 36

O que esses exemplos sugerem é que a cultura não é apenas uma viagem de
redescoberta, uma viagem de retorno. Não e uma "arqueologia". A cultura é
uma produção. Tem sua matéria-prima, seus recursos, seu "trabalho
produtivo". Depende de um conhecimento da tradição enquanto "o mesmo em
mutação" e de um conjunto efetivo de genealogias. Mas o que esse "desvio
através de seus passados" faz é nos capacitar, através da cultura, a nos
produzir a nós mesmos de novo, como novos tipos de sujeitos. Portanto, não é
uma questão do que as tradições fazem de nós, mas daquilo que nós fazemos
das nossas tradições. Paradoxalmente, nossas identidades culturais, em
qualquer forma acabada, estão à nossa frente. Estamos sempre em processo
de formação cultural. A cultura não é uma questão de ontologia, de ser, mas de
se tornar. Pg 44
Significado de Ontologia. substantivo feminino Parte da filosofia que
considera o ser em si mesmo, na sua essência, independentemente do
modo em que se manifesta.

De fato, há dois processes opostos em funcionamento nas formas


contemporâneas de globalização, o que e em si mesmo algo
fundamentalmente contraditório. Existem as forças dominantes de
homogeneização cultural, pelas quais, por causa de sua ascendência no
mercado cultural e de seu domínio do capital, dos "fluxos" cultural e
tecnológico, a cultura ocidental, mais especificamente, a cultura americana,
ameaça subjugar todas as que aparecem, impondo uma mesmice cultural
homogeneizante — o que tem sido chamado de "McDonald-izacao" ou "Nike-
zacao" de tudo. Pg 45

Essas "outras" tendências não tem (ainda) o poder de confrontar e repelir as


anteriores. Mas tem a capacidade, em todo lugar, de subverter e "traduzir",
negociar e fazer com que se assimile o assalto cultural global sobre as culturas
mais fracas. E já que o novo mercado consumidor global depende
precisamente de sua assimilação para ser eficaz, há certa vantagem naquilo
que pode parecer a princípio como meramente "local". Hoje em dia, o
"meramente" local e o global estão atados um ao outro, não porque este último
seja o manejo local dos efeitos essencialmente globais, mas porque cada um e
a condição de existência do outro. Antes, a "modernidade" era transmitida de
um único centro. Hoje, ela não possui um tal centro. Pg 45 e 46
Como o pós-colonial, a globalização contemporânea e uma novidade contraditória. Seus
circuitos econômicos, financeiros e culturais são orientados para o Ocidente e dominados pelos
Estados Unidos. Ideologicamente, e governada por um neoliberalismo global que rapidamente
se torna o senso comum de nossa época (Fukuyama, 1989). Sua tendência cultural dominante
é a homogeneização. Entretanto, esta não é a sua única tendência. A globalização tem
causado extensos efeitos diferenciadores no interior das sociedades ou entre as mesmas. Sob
essa perspectiva, a globalização não é um processo natural e inevitável, cujos imperativos,
como o Destino, só podem ser obedecidos e jamais submetidos a resistência ou variação. Ao
contrário, e um processo homogeneizante, nos próprios termos de Gramsci. E "estruturado em
dominância", mas não pode controlar ou saturar tudo dentro de sua órbita. De fato, entre seus
efeitos inesperados estão as formações subalternas e as tendências emergentes que escapam
a seu controle, mas que ela tenta "homogeneizar" ou atrelar a seus propósitos mais amplos. E
um sistema de con-formação da diferença, em vez de um sinônimo conveniente de obliteração
-da diferença. Pg 59

Isso é o que Derrida, em outro contexto, denomina differance: "o movimento do jogo que
'produz' (...) essas diferenças, esses efeitos de diferença" (Derrida, 1981, 1982). Não se trata
da forma binária de diferença entre o que e absolutamente o mesmo e o que e absolutamente
"Outro". E urna "onda" de similaridades e diferenças, que recusa a divisão em oposições
binárias fixas. Differance caracteriza um sistema em que "cada conceito [ou significado] está
inscrito em uma cadeia ou em um sistema, dentro do qual ele se refere ao outro e aos outros
conceitos [significados], através de um jogo sistemático de diferenças" (Derrida, 1972). O
significado aqui não possui origem nem destino final, não pode ser fixado, está sempre em
processo e "posicionado" ao longo de um espectro. Seu valor político não pode ser
essencializado, apenas determinado em termos relacionais. Pg 60 e 61

As estratégias de differance não são capazes de inaugurar formas totalmente distintas de vida
(não funcionam segundo a noção de uma "superação" dialética totalizante). Não podem
conservar intactas as formas antigas e tradicionais de vida. Operam melhor dentro daquilo que
Homi Bhabha denomina "tempo liminar" das minorias (Bhabha, 1997). Contudo, a differance
impede que qualquer sistema se estabilize em uma totalidade inteiramente suturada. Essas
estratégias surgem nos vazios e aporias, que constituem sítios potenciais de resistência,
intervenção e tradução. Nesses interstícios, existe a possibilidade de um conjunto disseminado
de modernidades vernáculas. Culturalmente, elas não podem conter a maré da tecno-
modernidade ocidentalizante. Entretanto, continuam a modular, desviar e "traduzir" seus
imperativos a partir da base. Elas constituem o fundamento para um novo tipo de "localismo"
que não e auto-suficientemente particular, mas que surge de dentro do global, sem ser simples-
"mente um simulacro deste (Hall, 1997). Esse "localismo" não é um mero resíduo do passado.
É algo novo — a sombra que acompanha a globalização: o que e deixado de lado pelo fluxo
panorâmico da globalização, mas retorna para perturbar e transtornar seus estabelecimentos
culturais. É o "exterior constitutivo" da globalização (Laclau e Mouffe, 1985; Butler, 1993) -
Encontra-se aqui o "retorno" do particular e do específico — do especificamente diferente — no
centro da aspiração universalista panóptica da globalização ao fechamento. O "local" não
possui um caráter estável ou trans-histórico. Ele resiste ao fluxo homogeneizante do
universalismo com temporalidades distintas e conjunturais. Não possui inscrição política fixa.
Pode ser progressista, retrogrado ou fundamentalista — aberto ou fechado — em diferentes
contextos (Hall, 1993). Seu impulso político não é determinado por um conteúdo essencial
(geralmente caricaturado como "resistência da Tradição a modernidade"), mas por uma
articulação com outras forças. Ele emerge em muitos locais, entre os quais o mais significante
é a migração planejada ou não, forçosa ou denominada "livre", que trouxe as margens para o
centro, o "particular" multicultural disseminado para o centro da metrópole ocidental. Somente
nesse contexto se pode compreender por que aquilo que ameaça se tornar o momento de
fechamento global do Ocidente — a apoteose de sua missão universalizante global — constitui
ao mesmo tempo o momento do descentramento incerto, lento e prolongado do Ocidente. Pg
61 e 62

O hibridismo não se refere a indivíduos híbridos, que podem ser contrastados com os
"tradicionais" e "modernos" como sujeitos plenamente formados. Trata-se de um processo de
tradução cultural, agonístico uma vez que nunca se completa, mas que permanece em sua
indecidibilidade. Não é simplesmente apropriação ou adaptação; é um processo através do
qual se demanda das culturas uma revisão de seus próprios sistemas de referência, normas e
valores, pelo distanciamento de suas regras habituais ou "inerentes" de transformação.
Ambivalência e antagonismo acompanham cada ato de tradução cultural, pois o negociar com
a "diferença do outro" revela uma insuficiência radical de nossos próprios sistemas de
significado e significação. (Bhabha, 1997) pg 74 e 75

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