Carta de Paulo aos Gálatas
Daniel Conegero Daniel Conegero
A Carta de Paulo aos Gálatas é um dos livros que compõe o Novo
Testamento e faz parte de uma das treze cartas escritas pelo apóstolo.
Neste estudo bíblico faremos um panorama da Carta aos Gálatas,
conhecendo o contexto histórico, propósito e características da epístola.
O autor da Carta aos Gálatas
Historicamente o apóstolo Paulo sempre foi aceito como sendo o autor da
Carta aos Gálatas, embora alguns estudiosos a partir do século 18
começaram a sugerir que a epístola tenha sido pseudônima, ou seja,
alguém a escreveu usando o nome de Paulo.
No entanto, o estilo literário e a teologia empregada na epístola não deixam
dúvidas que o apóstolo Paulo foi o autor em questão, e os argumentos
contrários a essa afirmação são demasiadamente fracos.
Também vale dizer que nos primeiros versículos da epístola já encontramos
uma declaração de autoria do próprio Paulo, além de sua menção a um
grupo de pessoas que o acompanhava na ocasião em que a carta foi escrita
(Gl 1:1,2).
Data e contexto histórico da Carta aos Gálatas
Existe uma grande dificuldade em determinar a data em que a Carta aos
Gálatas foi escrita, isso porque também há uma dificuldade considerável em
estabelecer os destinatários da carta. É bastante claro que o apóstolo
escreveu aos “gálatas” (Gl 1:2; 3:1), porém não sabemos exatamente a
quais gálatas ele estava se referindo, se aos gálatas do sul ou do norte.
Ele poderia estar escrevendo a toda comunidade cristã da província da
Galácia, ou especificamente ao povo celta que habitava o norte da Galácia e
que eram conhecidos como “gálatas”.
Se considerarmos a primeira sugestão, a melhor data seria entre 48 e 49
d.C., após sua primeira viagem missionária. Lembrando também que em
sua primeira e segunda viagens missionárias o apóstolo visitou as cidades
do sul da Galácia, sendo elas: Antioquia da Pisídia, Icônico, Listra e Derbe.
Se essa data estiver correta então a Carta aos Gálatas pode ser o escrito
mais antigo do apóstolo que temos disponível.
Caso o apóstolo tenha escrito a epístola aos gálatas do norte, então
provavelmente isso ocorreu em uma data próxima a sua terceira viagem
missionária, quando passou pela região da Galácia e Frígia (At 18:23).
Boa parte dos estudiosos que defendem essa possibilidade acredita que o
apóstolo tenha escrito a epístola durante o período de dois anos em que
esteve em Éfeso (At 19), ou durante o período de viagem pela Macedônia
rumo à Grécia (At 20:1-6; 2Co 2:13). Logo, a epístola teria sido escrita entre
54 e 55 d.C.
Com base em toda dificuldade apresentada, o mais correto seria estabelecer
um período entre 49 e 55 d.C. a qual certamente a epístola foi escrita.
Propósito e características da Carta aos Gálatas
Sabemos que foi o apóstolo Paulo quem fundou as igrejas da Galácia.
Todavia, logo depois dos gálatas terem recebido o verdadeiro Evangelho que
havia sido pregado pelo apóstolo, surgiram pessoas que começaram a se
levantar contra o ministério de Paulo (Gl 4:17) e também a pregar um “outro
evangelho” completamente distorcido do que tinha sido ensinado (Gl 1:6,7).
Basicamente esse falso evangelho que estava sendo pregado ensinava que
os gentios que se tornavam cristãos deveriam seguir as tradições judaicas e
praticar as obras da lei, pois isso influenciaria diretamente no processo de
salvação (Gl 6:12).
Assim, esses falsos mestres ensinavam aos gálatas que a fé em Cristo não
era o suficiente, mas eles também deveriam praticar a circuncisão (Gl 2:3-5;
5:2,6,11; 6:12-15). Uma das principais táticas dessas pessoas era atacar
pessoalmente o apóstolo Paulo.
A defesa feita pelo próprio apóstolo no decorrer da Epístola aos Gálatas nos
ajuda a entender um pouco o tipo de artimanha que esses indivíduos
estavam utilizando. Em Gálatas 2:1-10, Paulo fala de sua relação com os
apóstolos de Jerusalém, os líderes da Igreja Primitiva, destacando sua
autoridade apostólica e legitimidade do Evangelho que ele anunciava.
Talvez com isto ele estivesse respondendo algum tipo de acusação que
afirmava que, de alguma forma, ele era insubordinado e agia por conta
própria, sem a autorização dos anciãos da Igreja.
É possível também que tenham acusado o apóstolo de ter mudado de ideia
quanto ao seu parecer com relação aos gentios que se tornavam cristãos,
ou seja, sugerindo que Paulo teria inicialmente defendido a circuncisão (Gl
5:11), mas depois mudou seu discurso para poder atrair mais facilmente os
gentios (Gl 1:10). Sobre isso, o próprio apóstolo deixou bem claro que sua
mudança de pensamento aconteceu em decorrência de uma revelação
divina recebida diretamente de Cristo (Gl 1:11-24).
Infelizmente, como toda heresia, rapidamente esse falso evangelho
começou a se alastrar entre os gálatas, fazendo com que eles abraçassem o
falso ensino, questionassem a autoridade de Paulo e iniciassem um
processo de deserção do verdadeiro Evangelho.
Essa era a situação dos gálatas quando o apóstolo escreveu essa epístola
(Gl 1:6-7), onde vários crentes queriam estar sob o julgo da Lei e ser,
principalmente, circuncidados (Gl 4:21; cf. 5:1). O resultado foi uma série de
conflitos e dissensões na comunidade cristã da Galácia (Gl 5:15; 6:3-5).
Logo, o principal propósito de Paulo ao escrever a Carta aos Gálatas foi
expor a verdade sobre o Evangelho, mostrando a suficiência da obra de
Cristo e ensinando que a salvação vem pela fé no Senhor Jesus (Gl 2:5,14).
Na Epístola aos Gálatas, Paulo foi enfático ao afirmar que a salvação é um
dom gratuito de Deus, que todo o processo pertence a Ele, isto é, não
qualquer participação humana na salvação, e que tudo se resume na graça
de Deus e não no merecimento do homem (Gl 1:3,6,15; 2:19,21; 6:18) que
apenas pode recebê-la pela fé e não por obras (Gl 2:15,16).
O apóstolo também demonstrou toda a sua indignação ao explicar que
aqueles agitadores negavam completamente os pontos principais do
verdadeiro Evangelho de Cristo (Gl 3:1; 5:12). Também alertou que o novo
ensino transmitido por eles corrompia o Evangelho genuíno e precisava ser
combatido a todo custo (Gl 1:8).
Na Carta aos Gálatas Paulo pregou sobre a obra redentora de Cristo na cruz,
onde o Senhor carregou sobre si a maldição da Lei que estava sobre nós,
nos libertando do pecado e da morte (Gl 3:13; 6:14), nos vestindo com sua
justiça (Gl 3:26,27), nos unindo a Ele e fazendo-nos novas criaturas, nos
dando o direito de adoção de filhos (Gl 4:4,5; 6:15). O apóstolo também
apontou para a verdade de que é o Espírito Santo que nos capacita a
vivermos de uma forma que agrada a Deus (Gl 5:16-25).
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Esboço da Carta aos Gálatas
Saudações iniciais (1:1-5): Um pequeno prefácio onde Paulo se identifica
como apóstolo de Jesus e saúda seus leitores.
Descrição do problema (1:6-10): Paulo denuncia o falso evangelho que
surgiu na Galácia, o qual exigia dos cristãos gentios a prática de costumes
judaicos como circuncisão para que a salvação fosse efetuada, num tipo de
salvação por obras, um ensino completamente contrário à doutrina da
justificação pela fé.
Autenticação e relatos históricos (1:11-2:21): Paulo demonstra a autoridade
de seu apostolado, enfatizando que ele recebeu a mensagem do Evangelho
diretamente de Cristo. Nessa seção Paulo fala sobre seu chamado (1:11-17),
sobre os líderes da Igreja em Jerusalém (1:18-2:10) e sobre o conflito com o
apóstolo Pedro (2:11-21).
Provas teológicas da justificação pela fé (3:1-4:31): Paulo expôs diversos
argumentos teológicos para explicar que a salvação pela fé é a verdadeira
mensagem do Evangelho de Cristo. Nesta seção, Paulo usou principalmente
o registro sobre a fé de Abraão presente no Antigo Testamento.
Exortações práticas (5:1-6:10): Paulo fala sobre a liberdade em Cristo e o
poder do Espírito Santo que nos capacita a viver do modo que agrada a
Deus sem confiarmos na carne. Ele também fala sobre as bênçãos que
alcançam aqueles que vivem pela fé e o julgamento divino que aguarda os
que se desviam do Evangelho genuíno.
Conclusão apostólica (6:11-18): O apóstolo faz uma advertência final
resumindo a sua carta e também faz uma saudação final.