O avesso do avesso
Francisco de Oliveira
Outubro de 2009
Fonte: Revista Piauí - https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-avesso-do-avesso/
HTML: Fernando Araújo.
O presidente vestiu a roupa às pressas e não perce‐
beu que saiu à rua do avesso. Ele é o cara, e todo
mundo o vê assim. O lulismo é uma regressão polí‐
tica, a vanguarda do atraso e o atraso da vanguarda
O artigo “Hegemonia às avessas” (Piauí, janeiro de 2007) pretendeu fazer uma provo‐
cação gramsciana para melhor entender os regimes políticos que, avalizados por uma in‐
tensa participação popular (a “socialização da política”, segundo Antonio Gramsci), ao
chegar ao poder praticam políticas que são o avesso do mandato de classes recebido nas
urnas. É o caso das duas presidências do Partido dos Trabalhadores no Brasil. E da des‐
truição do apartheid na África do Sul, por meio de uma longa guerra de posições e das se‐
guidas reeleições do Congresso Nacional Africano, uma frente de esquerda com forte in‐
fluência do Partido Comunista.
Quase sete anos de exercício da Presidência por Luiz Inácio Lula da Silva já tornam
possível uma avaliação dessa hegemonia às avessas e dos resultados que ela produziu.
Não se parte aqui, e não fiz essa presunção também no artigo provocador original, de que
Lula recebeu um mandato revolucionário dos eleitores e sua Presidência apenas se ren‐
deu ao capitalismo periférico. Mas o mandato, sem dúvida, era intensamente reformista
no sentido clássico que a sociologia política aplicou ao termo: avanços na socialização da
política em termos gerais e, especificamente, alargamento dos espaços de participação
nas decisões da grande massa popular, intensa redistribuição da renda num país obscena‐
mente desigual e, por fim, uma reforma política e da política que desse fim à longa persis‐
tência do patrimonialismo.
Os resultados são o oposto dos que o mandato avalizava. O eterno argumento dos
progressistas-conservadores – caso, entre outros, do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso – é que faltaria, às reformas e ao reformista-mandatário, o apoio parlamentar.
Sem sustentação no Congresso, o país ficaria ingovernável. Daí a necessidade de uma ali‐
ança ampla. Ou de uma coalizão acima e à margem de definições ideológicas. Ou, mais
simplesmente, de um pragmatismo irrestrito.
Fernando Henrique Cardoso teve recursos retóricos para justificar uma mudança de
posição ideológica que talvez não tenha paralelo na longa tradição nacional do “transfor‐
mismo” (outro termo emprestado do teórico sardo). Luiz Werneck Vianna, um dos nossos
melhores intérpretes da “revolução passiva” gramsciana – junto com Carlos Nelson Couti‐
nho –, é mais sutil e tem um argumento mais complexo: não se governa o Brasil sem o
concurso do atraso não apenas por razões parlamentares, mas porque a estrutura social
que sustenta o sistema político é conservadora, e não avalizaria avanços programáticos
mais radicais. Além disso, as fundas diferenças e desigualdades regionais, bem como o
modo como, desde a Colônia, fundiram-se o público e o privado – vide Caio Prado Jr. –
tornam quase obrigatório um pragmatismo permanente, que leva de roldão perspectivas
mais ideológicas, ou meramente programáticas.
Infelizmente para os defensores do eterno casamento entre o avançado e o atrasado,
a história brasileira não dá suporte ou evidências do acerto do conservadorismo com en‐
feite ideológico progressista. Nem mesmo remotamente. Até no caso da abolição da es‐
cravatura, que talvez tenha de fato subtraído o apoio parlamentar ao trono imperial,
abrindo o espaço para a República, não se deve perder de vista que ela foi pregada por ra‐
dicais e realizada por conservadores. Nem se pode esquecer que o gabinete da Lei Áurea
era presidido pelo conselheiro João Alfredo, um notório conservador.
A Proclamação da República, entendida modernamente como um golpe de Estado, foi
conduzida por militares conservadores e, logo em seguida, usurpada pela nova classe
paulista que emergia da formidável expansão cafeicultora. Rui Barbosa, um grande liberal
republicano, chega ao Ministério da Fazenda já com Deodoro da Fonseca – e faz uma ad‐
ministração considerada temerária – e depois tenta seguidamente alcançar a Presidência,
por meio das eleições “a bico de pena”, fracassando em todas elas. Os nomes que ficarão
serão os da nova plutocracia paulista: Prudente de Morais, Campos Sales e Rodrigues Al‐
ves. Por fim: as bases sociais da abolição já vinham sendo estruturadas pela mesma ex‐
pansão do café que, para tanto, promoveu a imigração italiana. Não foi a abolição que der‐
rubou a monarquia, mas a expansão econômica violentíssima na virada do século XIX
para o XX.
Outro exemplo, mais perto de nós, é o da Revolução de 30. Quem derrubou o regime
caduco da Primeira República foi uma revolução que veio da periferia, do Rio Grande do
Sul e da Paraíba, com Minas associando-se em seguida, e contando com a oposição de
São Paulo. O atraso, então, serviu de base para o avanço? Longe disso. O Rio Grande tinha
uma longa tradição revolucionária, um sistema fundiário mais progressista que o do resto
do país, além de uma cultura positivista entre suas elites, sobretudo a elite militar, que for‐
neceu o programa social lançado em 1930 (e sustentado continuamente por cinco déca‐
das) cujo conteúdo foram as reformas do trabalho e da previdência social.
A historiografia da Unicamp, liderada por Michael Hall, está pondo reparos à tese de
que Getúlio Vargas copiou a Carta del Lavoro: decisiva mesmo teria sido a fundamentação
positivista, que fez com que a nossa Consolidação das Leis do Trabalho fosse muito além
da legislação italiana. Contra todas as tendências do já principal centro econômico brasi‐
leiro, Vargas fez São Paulo engolir goela abaixo um programa industrializante, reformista e
socialmente avançado. Não foi à toa que, em 1932, articulou-se em terras bandeirantes
uma “revolução constitucionalista” cujo programa é hoje emoldurado com galas de
avanço – a fundação da Universidade de São Paulo –, mas que na realidade pretendia bar‐
rar o avanço das leis reformistas e reforçar a “vocação agrícola do Brasil”. Esse argu‐
mento, que ainda frequenta as páginas do Estadão (de forma sinuosa, é verdade), era ex‐
plicitado em prosa e verso pelo jornal hoje plantado às margens malcheirosas do Tietê e
pelas principais lideranças paulistas. O atraso governando o país?
O golpe de Estado de 1964, que derrubou o governo João Goulart e terminou com a
precária democratização em curso desde 1945, pintou-se com as cores do atraso, mas na
realidade realizou o programa capitalista em suas formas mais violentas. Não foi um con‐
flito entre o atraso e o progresso, mas entre duas modalidades de avanço capitalista. O
vencedor fez seu o programa do vencido, radicalizando-o e ultrapassando-o. Fincou os no‐
vos limites à acumulação de capital muito além do que os vencidos teriam ousado, na es‐
teira da evolução do regime chamado varguista-desenvolvimentista. A estatização promo‐
vida pela ditadura militar significou a utilização do poder estatal coercitivo para vencer as
resistências não do atraso, mas das burguesias mais “avançadas”. Nunca a divisa da ban‐
deira foi levada tão ao pé da letra quanto naqueles anos: “ordem e progresso”. Poderosas
empresas estatais se fortaleceram nos setores produtivos, fusões bancárias foram finan‐
ciadas por impostos pesados, recursos públicos foram usados sem ambiguidades não
para preservar o velho, mas para produzir o novo – como a Aeronáutica e o ITA criando a
Embraer. Avanço ou atraso?
O fim é conhecido: desatada a caixa de Pandora, o regime sucumbiu não ao seu fra‐
casso, mas ao seu êxito em construir uma ordem capitalista avassaladora. O regime mili‐
tar relegou a burguesia nacional ao papel de coadjuvante, submeteu a classe trabalhadora
a pesadas intervenções e não abriu ao capital estrangeiro, como faria supor seu ato mais
imediato, a revogação da Lei de Remessa de Lucros de Goulart, que deu o pretexto para o
golpe.
Melancolicamente, como cantava uma valsa antiga, que eu ouvia na voz de Carlos Ga‐
lhardo – com certeza produzida em Hollywood –, a ditadura terminou seus dias com um
general enfadado, que preferia o cheiro de cavalos ao do povo, encurralada por um pode‐
roso movimento democrático que deitou raízes em praticamente todos os setores da soci‐
edade. O movimento pelas Diretas Já, no entanto, teve um desenlace moldado em termos
irretorquivelmente brasileiros: um pacto pelo alto, entre o partido oficial de oposição à di‐
tadura e o falido partido da própria ditadura, que entregou a Presidência, numa eleição in‐
direta, a um civil mais conservador que o próprio general que saía de sua ronda. Por infeli‐
cidade, o poder terminou nas mãos dum acadêmico maranhense de um mais do que duvi‐
doso prestígio literário – como diria minha professora, d. Delfina, desafiando-nos: “Dou um
doce a quem tenha lido os tais Maribondos de Fogo.” Chamava-se José Sarney. Continua
nos brindando com nomeações no Senado como se estivesse na praia do Calhau, em São
Luís. Quem governa, o atraso ou o avanço?
Houve então o interregno de Fernando Collor, que tinha voto, mas não tinha voz, e de
Itamar Franco, que não tinha nem voto nem voz. E então chegou o progresso mesmo, em
pessoa, adornado com os títulos e as pompas da Universidade de São Paulo. Fernando
Henrique Cardoso realizou o que nem a Dama de Ferro tinha ousado: privatizou pratica‐
mente toda a extensão das empresas estatais, numa transferência de renda, de riqueza e
de patrimônio que talvez somente tenha sido superada pelo regime russo depois da queda
de Mikhail Gorbachev.
Como Antonio Carlos Magalhães, o enérgico cacique da Bahia, foi seu parceiro, con‐
firma-se a tese de que somente se pode governar com o atraso? Longe disso. ACM nunca
foi um oligarca no sentido rigoroso do termo e, mais que isso, a política econômica de Fer‐
nando Henrique jamais esteve sob o controle de Antonio Carlos e assemelhados. A polí‐
tica econômica era reserva de caça exclusiva de FHC e de seus tucanos, hoje banqueiros.
Essa turma se desfez do melhor da estrutura do Estado longamente criada desde os
anos 30, cortando os pulsos num afã suicida sem paralelo na história nacional. Honra a
São Paulo e a seus ideólogos: Eugênio Gudin não faria igual e o Estadão exultava a cada
medida “racional” do governo FHC. Manipulando o fetiche da moeda estável, Fernando
Henrique retirou do Estado brasileiro a capacidade de fazer política econômica. Com os
dois mandatos, os tucanos operaram um tournant do qual seu sucessor veio a ser prisio‐
neiro – com a peculiaridade que Lula radicalizou no descumprimento de um mandato que
lhe foi conferido para reverter o desastre FHC. É nesse contexto que opera a “hegemonia
às avessas”.
Que se pode ver no avesso do avesso? Começando pela economia, que tem sido o ar‐
gumento maior da era Lula: sua taxa de crescimento médio nos seis anos é inferior à taxa
histórica da economia brasileira e, em 2009, prevê-se uma queda relativa que o leva de
volta à performance de seu antecessor imediato, o odiado (para os petistas-lulistas) FHC.
O crescimento tem se baseado numa volta à “vocação agrícola” do país, sustentado por
exportações de commodities agropecuárias – o Brasil, um país de famintos, é hoje o maior
exportador mundial de carne bovina – e minério de ferro, graças às pesadas importações
da China. Com o simples arrefecimento do crescimento chinês, que de 10% ao ano regre‐
diu a uns 8%, a queda das exportações brasileiras já provocou a forte retração do PIB
agropecuário. As exportações voltaram a ser lideradas pelos bens primários, o que não
acontecia desde 1978.
Proclama-se aos quatro ventos a diminuição da pobreza e da desigualdade, baseada
no Bolsa Família. Os dados disponíveis não indicam redução da desigualdade, embora
deva ser certo que a pobreza absoluta diminuiu. Mas não se sabe em quanto. A desigual‐
dade provavelmente aumentou, e os resultados proclamados são falsos, pois medem ape‐
nas as rendas do trabalho que, na verdade, melhoraram muito marginalmente graças aos
benefícios do INSS, e não ao Bolsa Família. Quem o proclama é o insuspeito Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea. A desigualdade total de rendas é impossível medir-se,
em primeiro lugar pela conhecida subestimação que é prática no Brasil, e em segundo lu‐
gar por um problema de natureza metodológica (conhecido de todos que lidam com estra‐
tificações, que é a quase impossibilidade de fechar o decil superior da estrutura de
rendas).
Metodologicamente, como lembrou Leda Paulani, as rendas do capital são estimadas
por dedução, enquanto as rendas do trabalho são medidas diretamente na fonte. Medidas
indiretas sugerem, e na verdade comprovam, o crescimento da desigualdade: o simples
dado do pagamento do serviço da dívida interna, em torno de 200 bilhões de reais por ano,
contra os modestíssimos 10 a 15 bilhões do Bolsa Família, não necessita de muita espe‐
culação teórica para a conclusão de que a desigualdade vem aumentando. Marcio Poch‐
mann, presidente do Ipea, que continua a ser um economista rigoroso, calculou que uns
10 a 15 mil contribuintes recebem a maior parte dos pagamentos do serviço da dívida. Ou‐
tro dado indireto, pela insuspeita – por outro viés – revista Forbes, já alinha pelo menos
dez brasileiros entre os homens e mulheres mais ricos do mundo capitalista.(1)
Por fim, a Fundação Getúlio Vargas divulgou, no final de setembro, uma pesquisa pro‐
vando que a classe que mais cresceu proporcionalmente, de 2003 a 2008, não foi a C nem
a D. Foi, isso sim, a classe AB, que tem renda familiar acima de 4.807 reais – e o dado não
leva em conta a valorização da propriedade, ações e investimentos financeiros.
Do ponto de vista da política, o avesso do avesso é sua negação. Trata-se da adminis‐
tração das políticas sociais; cooptam-se centrais sindicais e movimentos sociais, entre
eles o próprio Movimento dos Sem-Terra, que ainda resiste. A política é não só substituída
pela administração, mas se transformou num espetáculo diário: o presidente anuncia com
desfaçatez avanços e descobertas que no dia seguinte são desmentidos. O etanol, que se‐
ria a panaceia de todos os males, foi rapidamente substituído pelo pré-sal, que agora urge
defender com submarinos nucleares e caças bilionários. O pré-sal, aliás, prometia reser‐
vas que elevariam o Brasil à condição de maior produtor mundial de petróleo, superando
os países do Golfo, e dando, de colher, os recursos para quitar a obscena dívida social bra‐
sileira. Não tardou muito e a Exxon furou um poço… seco. E agora a British Group, associ‐
ada à Petrobras, anuncia a mesma coisa. E as expectativas de reserva passaram de 1 tri‐
lhão de barris de petróleo para modestos 8 bilhões.
As previsões da equipe econômica são de mágico de quintal. No princípio do ano, em
plena crise, o crescimento estimado estava na casa dos 6% para 2009. Pouco a pouco, as
previsões – dignas de Nostradamus – foram caindo para 4%, 5%, 3%, e hoje se aposta em
1%.
O chamado ciclo neoliberal, que começa com Fernando Collor e já está com seus
quase vinte aninhos com Lula, é um ciclo anti-Polanyi, o magistral economista e antropó‐
logo húngaro que se radicou na Inglaterra. O projeto do socialismo democrático de Karl
Polanyi começava por deter a autonomia do mercado e dos capitalistas. Ora, o governo
Lula, na senda aberta por Collor e alargada por Fernando Henrique, só faz aumentar a au‐
tonomia do capital, retirando às classes trabalhadoras e à política qualquer possibilidade
de diminuir a desigualdade social e aumentar a participação democrática. Se FHC des‐
truiu os músculos do Estado para implementar o projeto privatista, Lula destrói os múscu‐
los da sociedade, que já não se opõe às medidas de desregulamentação. E todos fomos
mergulhados outra vez na cultura do favor – viva Machado de Assis, viva Sérgio Buarque
de Holanda e viva Roberto Schwarz!
As classes sociais desapareceram: o operariado formal é encurralado e retrocede, em
números absolutos, em velocidade espantosa, enquanto seus irmãos informais crescem
do outro lado também espantosamente. Em sua tese de doutorado, Edson Miagusko fla‐
grou, talvez sem se dar conta, a tragédia: de um lado da simbólica Via Anchieta, no terreno
desocupado onde antes havia uma fábrica de caminhões da Volks, há agora um acampa‐
mento de sem-teto, cuja maioria é de ex-trabalhadores da Volks. Do outro lado da famosa
via, sem nenhuma simultaneidade arquitetada – aliás, os dois grupos se ignoraram com‐
pletamente –, uma assembleia de trabalhadores ainda empregados da Volks tentava deter
a demissão de mais 3 mil companheiros. Eis o retrato da classe: em regressão para a po‐
breza. De são Marx para são Francisco.
As classes dominantes, se de burguesia ainda se pode falar, transformaram-se em
gangues no sentido preciso do termo: as páginas policiais dos jornais são preenchidas to‐
dos os dias com notícias de investigações, depoimentos e prisões (logo relaxadas quando
chegam ao Supremo Tribunal Federal) de banqueiros, empreiteiros, financistas e dos exe‐
cutivos que lhes servem, e de policiais a eles associados. A corrupção campeia de alto a
baixo: do presidente do Senado que ocultou a propriedade de uma mansão, passando pelo
ex-diretor da casa, que repetiu – ou antecipou? – a mesma mutreta, aos senadores que
pagam passagens de sogras a namoradas com verbas de viagem, e deputados que com‐
pram castelos com verba indenizatória.
Trata-se de um atavismo nacional? Só os que sofrem de complexo de inferioridade
tenderiam a pensar assim. Qualquer jornal americano da segunda metade do século XIX
noticiava a mesma coisa. Até a mulher de Lincoln praticava, em conluio com o jardineiro,
pequenos “desvios” de verba da casa da avenida Pensilvânia (segundo a má língua fa‐
mosa de Gore Vidal).
A novidade do capitalismo globalitário é que ele se tornou um campo aberto de bandi‐
dagem – que o diga Bernard Madoff, o grande líder da bolsa Nasdaq durante anos. Nas
condições de um país periférico, a competição global obriga a uma intensa aceleração,
que não permite regras de competição que Weber gostaria de louvar. O velho Marx dizia
que o sistema não é um sistema de roubo, mas de exploração. Na fase atual, Marx deveria
reexaminar seu ditame e dizer: de exploração e roubo. O capitalismo globalitário avassala
todas as instituições, rompe todos os limites, dispensa a democracia.
O avesso do avesso da “hegemonia às avessas” é a face, agora inteiramente visível,
de alguém que vestiu a roupa às pressas e não percebeu que saiu à rua do avesso. Mas
agora é tarde: Obama sentenciou que “ele é o cara” e todo mundo o vê assim. O lulismo é
uma regressão política, a vanguarda do atraso e o atraso da vanguarda.
Notas de rodapé:
(1) Essa famigerada lista é liderada por Carlos Slim, mexicano que fica cada vez mais rico, enquanto
seu belo país mergulha fundo na mais infame pobreza. Carlos Fuentes, o magnífico romancista mexi‐
cano de A Morte de Artemio Cruz, nos brinda, em seu recente La Voluntad y la Fortuna, com um implacá‐
vel retrato do gordo bilionário mexicano, além de nos dar, na tradição dos grandes muralistas do país
asteca, um magnífico panorama do México moderno, atolando na miséria e no crime, tendo no pes‐
coço a pedra do Nafta, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio. (retornar ao texto)
Inclusão: 21/11/2021