Nascimento - Revisão Sistemática e Metanálise
Nascimento - Revisão Sistemática e Metanálise
Hortência de Abreu Gonçalves, Marilene Batista da Cruz Nascimento, Kathia Cilene Santos
Nascimento
Universidade Tiradentes
E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]
Resumo
A revisão sistemática constitui-se numa investigação literária que possibilita a síntese
criteriosa das evidências disponíveis sobre um problema específico, servindo para auxiliar ao
desenvolvimento da informação científica, associada ou não à metanálise. Objetivou-se
apresentar os fundamentos teóricos da revisão sistemática e metanálise, ressaltando a
importância dos níveis de evidência e validade ao estudo quantitativo e ao qualitativo.
Recorreu-se ao levantamento de fontes bibliográficas digitais sobre essas temáticas em bases
de dados científicas e universitárias. Buscou-se ainda, o método de análise de conteúdo
como eixo norteador do estudo, numa perspectiva explicativa, pautada na síntese dos
argumentos verificados nas fontes investigadas.
Abstract
The systematic review is it a literary research that enables the careful synthesis of available
evidence about a particular problem, serving to assist the development of scientific
information, with or without meta-analysis. This review article presents the theoretical
foundations of systematic review and meta-analysis, highlighting the importance of levels of
evidence and validity study the quantitative and the qualitative. He appealed to the survey of
digital library resources on these topics in scientific and university databases. It attempted
still, the method of analysis of content as a guideline of the study, an explanatory
perspective, based on the arguments checked in the investigated sources.
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1. INTRODUÇÃO
A revisão sistemática pode ser definida como “uma forma de pesquisa que utiliza como fonte
de dados a literatura sobre determinado tema” (SAMPAIO; MANCINI, 2007, p.83),
possibilitando uma investigação que visa identificar evidências relacionadas a um problema
específico de pesquisa, com o intuito de destacar ideias, posturas e opiniões de autores,
publicadas na área de conhecimento em que se insere. Tendo como principal meta,
“caracterizar cada estudo selecionado, avaliar a qualidade deles, identificar conceitos
importantes, comparar as análises estatísticas apresentadas e concluir sobre o que a
literatura informa em relação a determinada intervenção, apontando ainda
problemas/questões que necessitam de novos estudos” (SAMPAIO; MANCINI, 2007, p. 84).
Ressalta-se ainda que esse tipo de investigação possibilita a elaboração do “resumo das
evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de
métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação
selecionada” (SAMPAIO; MANCINI, 2007, p.64), fundamentando propostas de mudanças nas
áreas de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação por meio da elaboração de uma
base integrativa referendada nos estudos de metanálise, indispensáveis à prática médica
baseada em evidências que visam a sustentabilidade científica.
Diante disso, surgem indagações pertinentes, tais como: Em que consiste a evidência e a
validade científica? Por que a revisão sistemática e a metanálise são prioritárias aos estudos
no contexto da investigação em saúde? A sustentação teórica da revisão sistemática visa
também ao estado da arte? Em que medida é utilizada a abordagem qualitativa e
quantitativa em estudos de revisão sistemática? Em que consiste a metodologia empregada
na revisão sistemática e de que forma é planejada? Quais as vantagens e as desvantagens
dos estudos de revisão sistemática? Este artigo objetiva apresentar os fundamentos teóricos
da revisão sistemática e metanálise, ressaltando a importância dos níveis de evidência e
validade ao estudo quantitativo e ao qualitativo na pesquisa científica. Recorreu-se ao
levantamento de fontes bibliográficas digitais sobre esses conteúdos em repositórios
científicos e universitários. Para o entendimento e a verificação das questões abordadas,
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2. REVISÃO SISTEMÁTICA
O levantamento dos estudos publicados para a realização da revisão sistemática necessita da
observação de algumas etapas, sendo elas: definição do problema de pesquisa, elaboração
de protocolo de estudos, determinação dos termos técnicos e palavras-chave da pesquisa
para a identificação das evidências, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão para
as publicações, análise crítica e avaliativa do referencial teórico selecionado e resumo das
informações obtidas e ainda, as conclusões alcançadas, conforme descrito no quadro 1.
De acordo com Munzlinger, Narcizo e Queiroz (2012, não paginado), a revisão sistemática
compreende um processo de pesquisa referendado em estudos bibliográficos, com o intuito
de proceder ao levantamento formal
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Quando finalizado, o “protocolo deve ser submetido ao Cochrane Review Group ou Evidence
Synthesis Groups (JBI), que pode solicitar modificações para aprimorar a metodologia.
Quando aceito, o protocolo será publicado em suas respectivas bases de dados” (DE-LA-
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Nessa perspectiva, pode-se afirmar que a revisão sistemática difere da revisão narrativa ou
tradicional em alguns critérios, assim especificados por Rother (2007, não paginado), no
quadro 2:
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Desse modo, a revisão narrativa ou tradicional, contempla uma abordagem mais ampla e
“dificilmente parte de uma questão específica bem definida, não exigindo um protocolo
rígido para sua confecção” (CASTRO, 2007, não paginado). Também na revisão narrativa ou
tradicional, “a busca das fontes não é pré-determinada e específica, sendo frequentemente
menos abrangente” (CASTRO, 2007, não paginado). Igualmente, em relação a escolha dos
artigos, cabe acrescentar que “é arbitrária, provendo o autor de informações sujeitas a viés
de seleção, com grande interferência da percepção subjetiva” (CASTRO, 2007, não paginado).
Esta situação, em muitos casos, pode ocasionar deduções imprecisas e falácias, vindo a
prejudicar os resultados da pesquisa realizada. Ressalta-se ainda que nesse tipo de revisão,
busca-se de imediato a análise da literatura selecionada e sua interpretação, visando ao
estado da arte, como fator predominante no estudo de um determinado tema. E, por
intermédio do levantamento bibliográfico, responde-se à problemática proposta para a
investigação teórica.
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Para tanto, recorre-se ao uso da técnica de fichamento, para a coleta dos dados e das
informações contidas nas fontes bibliográficas, com o propósito identificar na literatura
pertinente, os fundamentos teóricos para a sustentação dos argumentos defendidos sobre o
objeto de pesquisa.
Lista de Avaliação
Os resultados do estudo são válidos?
A revisão sistemática responde a uma questão clínica específica?
Os critérios utilizados para a selecção dos artigos foram apropriados?
Estudos relevantes foram esquecidos?
A validade dos estudos incluídos foi avaliada?
A avaliação é reprodutível?
Os estudos têm resultados semelhantes?
Quais são os resultados?
Qual o resultado geral da revisão sistemática?
Fonte: Oxman, Cook, Guyatt, [s.d.] apud. Pocinho,2008.
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Bossel et al. (1994); Cook et al. (1997); Mulrow (1989); Castro et al. (2002); Antman et al.
(1992); Gelber; Goldhirsch (1991), Mulrow (1987); Oxman; Guyatt (1988); Chalmers; Altman
(1995) e Chalmers; Enkin; Keirse (1989) citados por Riera; Abreu e Ciconelli (2006, não
paginado), elas perpassam as seguintes assertivas:
Adentrando no âmbito das principais funções de uma revisão sistemática, assim especificam
Carvalho, Oliveira e Ribeiro (2011, p. 231):
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Ressalta-se que para garantir a qualidade de uma revisão sistemática, “é necessário definir o
conjunto de critérios que foram adotados no planejamento na execução e na análise do
levantamento bibliográfico, a fim de minimizar vieses, onde é possível evidenciar que a
eficácia/efetividade de uma intervenção pode ser sub ou superestimada quando a qualidade
da revisão não for satisfatória” (CARVALHO; OLIVEIRA; RIBEIRO, 2011, p. 232).
Assim, elaborar uma revisão sistemática requer dedicação e rigor intelectual e científico,
devendo-se considerar em sua confecção: “a) os verbos utilizados pelo autor nas citações; b)
a relação entre as pesquisas citadas (se sobrepõem/ contrastam entre si); c) se justifica a
presença dos textos citados; d) se explicita em que momento se é o único autor do texto que
está sendo construído” (CARVALHO; OLIVEIRA; RIBEIRO, 2011, p. 234), entre outros aspectos.
Além disso, faz-se necessária a existência de diálogo entre os autores citados com o
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pesquisador mediador e deles entre si, para que ocorra a revisão dos conteúdos abordados e
dos respectivos resultados encontrados, com o intuito de garantir a sua validade.
3. METANÁLISE
No âmbito da pesquisa bibliográfica, o termo Metanálise representa "a análise estatística de
uma coleção de resultados de estudos individuais, com o objetivo de integrar os resultados"
(CASTRO, 2007, não paginado) encontrados na literatura pertinente. Etimologicamente
falando, “[...] [o] prefixo meta tem origem no grego e significa "além", "transcendência",
"reflexão crítica sobre". A grafia da palavra frequentemente gera discussão. O termo meta-
analysis foi incluído entre os Medical Subject Headings (PubMed) ou Descritores em Ciência
da Saúde (Biblioteca Virtual em Saúde) em 1992, o que permite a utilização desse descritor
para identificar metanálises publicadas na Medline e na Lilacs (CASTRO, 2007, não paginado).
Nessa perspectiva, para que “o produto de uma metanálise, como síntese quantitativa de
uma revisão, seja fidedigno, é extremamente importante que os estudos-fonte dos dados
originais tenham sido avaliados” (CASTRO, 2007, não paginado), considerando nesse âmbito
a utilização de “critérios tais que se possa confiar na adequação de sua associação com a
finalidade de chegar a um resultado integrado” (CASTRO, 2007, não paginado). Com o intuito
de garantir fidelidade ao objeto pesquisado, assim possibilitando a verificação das evidências
e, consequentemente, a segurança em relação à solução da problemática investigada.
Portanto, pode-se afirmar que a metanálise, em sua essência é uma técnica estatística,
utilizada em estudos quantitativos e também qualitativos, principalmente por possibilitar
uma postura capaz de:
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São métodos utilizados nas revisões sistemáticas na área de saúde: Parâmetro clínico-
epidemiológico de sumarização dos resultados e Método de quantificação da contribuição
dos estudos para análise. Porém, em estudos
com maior poder estatístico (leia-se, estudos com maior população e maior
efeito da intervenção) possuirão mais “peso”. Nesse caso, utiliza-se o
método de efeitos fixos, que pressupõe que todos os estudos apontaram
um mesmo efeito. Quando há diversidade e heterogeneidade, é utilizado o
modelo de efeitos-aleatórios, que distribui o peso de maneira mais
uniforme, valorizando a contribuição dos estudos pequenos e,
consequentemente, fornece um intervalo de confiança (IC) mais amplo
(BERWANGER et al., 2007, 479).
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Portanto, exigindo a presença dos níveis de evidência, por meio dos quais é possível avaliar e
validar criticamente as publicações científicas selecionadas, visando à tomada de decisão
sobre uma determinada problemática. Situação em que as evidências são hierarquizadas e
verificadas criticamente, de acordo com os diferentes enfoques, prognósticos e prevalências.
Igualmente, constituindo um acervo literário de grande valia para o estudo de um
questionamento que necessita ser solucionado, especialmente, quando oriundo de situações
que geram incertezas e/ou inseguranças.
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Nesse sentido, cabe salientar que nos estudos de campo, prevalece a Teoria Fundamentada
(TF), elaborada em 1967 por Glaser e Strauss citados por Pinto (2013), que contempla a
coleta de dados por meio da entrevista. Em sua abordagem, especifica que “[...] [o]
pesquisador analisa os dados de modo a entender determinada situação e como e por que
seus participantes agem de determinada maneira, como e por que determinado fenômeno
ou situação se desdobra deste ou daquele jeito” (PINTO, 2013, p.1041). A TF trata da análise
dos estudos primários com diferentes perspectivas para o mesmo tema. Quanto a sua
metodologia procedimental, recai sobre a utilização do Método Indutivo.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desse modo, pode-se afirmar que nas Ciências da Saúde a revisão sistemática:
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REFERÊNCIAS
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