Índice
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................3
PARTE I – GESTÃO ESCOLAR ............................................................................................4
1.1. A escola ..................................................................................................................4
1.2. As funções da escola .............................................................................................5
1.3. As finalidades da escola........................................................................................9
1.4. A escola como instituição e organização social ............................................... 11
1.5. A gestão escolar .................................................................................................. 14
1.6. Principais pilares que constituem a gestão das escolas .................................. 18
1.7. A organização e a gestão escolar....................................................................... 23
1.8. Os paradigmas de gestão escolar ....................................................................... 26
1.9. Os elementos constitutivos do sistema de organização e Gestão da escola . 29
1.10. Os princípios da organização e gestão escolar ............................................. 30
1.11. Gestão escolar participativa e democrática ................................................. 32
1.12. As funções do director da escola ................................................................... 34
1.12.1. Princípios fundamentais de direcção da escola .................................... 35
1.12.2. O plano de trabalho do director da escola ............................................ 36
1.12.3. Um novo papel do director na gestão da escola ................................... 40
1.12.4. O trabalho do director com os seus colaboradores .............................. 43
1.13. As estratégias de coordenação do trabalho e de participação na gestão da
escola 48
1.14. Estratégias para aplicar a gestão escolar ...................................................... 50
1.14.1. Planeamento ............................................................................................. 50
1.14.2. Atenção às mudanças .............................................................................. 50
1.14.3. Treinamento e capacitação..................................................................... 50
1.14.4. Descentralização da gestão ..................................................................... 51
PARTE II – INSPECÇÃO ESCOLAR .................................................................................... 52
2.1. Definição ................................................................................................................. 52
2.2. O sentido e a tarefa da inspecção escolar........................................................... 53
2.3. A inspecção como forma fundamental de controlo ............................................ 53
2.4. Objectivos, tarefas e importância da inspecção escolar ................................... 54
2.5. As tarefas da inspecção escolar............................................................................ 55
2.6. Importância da inspecção escolar ........................................................................ 56
2.7. O papel do inspector na sociedade actual........................................................... 57
2.8. A inspeção escolar e a democratização do ensino: perspectivas ..................... 59
2.9. Supervisão e inspeção ........................................................................................... 60
2.9.1. Modelos de supervisão e inspecção escolar ................................................. 62
2.10. Princípios da supervisão escolar ........................................................................ 62
2.11. Funções da supervisão escolar ........................................................................... 64
2.12. Tipos de supervisão educativa ........................................................................... 66
Referências bibliográficas ............................................................................................. 70
2
INTRODUÇÃO
O conceito de educação tem evoluído ao longo do devir da história, passando a
significar não apenas um fenómeno natural, mas fundamentalmente social, o que
influencia toda análise organizativa deste fenómeno e suas instituições.
A Gestão e Inspecção Escolar (GIE) como um campo relevante em questões
educativo-organizativas afigura-se de grande importância para a formação de
profissionais, que vão gerindo, não só as instituições de ensino, mas também a sala de
aula, onde se realiza o currículo formal, com o objectivo de formar homens, capazes
de administrar com «ciência e consciência».
Nos seus conceitos fundamentais a GIE aborda assuntos relacionados com a
discussão teórica e prática sobre o processo de gestão administrativa e organização
pedagógica da Escola, através dos tipos de decisões, dos instrumentos, métodos e
procedimentos para o processo de tomada de decisão, e estabelece normas para uma
gestão mais participativa e inclusiva, pois que é, acima de tudo, em função do aluno,
que deve existir uma razão de ser de uma eficaz administração escolar. Assim posto,
convida-se a cada um «ler dentro» e a reflectir sobre os diversos assuntos abordados
nesta cadeira, com intuito de repensar na Escola que se quer para os nossos tempos e
para os tempos vindouros.
Estes apontamentos remete-nos às considerações gerais sobre a OGE, isto é,
aos conceitos genéricos, normas que orientam o fim último da formação escolar, que
deve ser organizada de acordo com a base metodológica da oge, a qual possui
componentes específicos. Além disso, apresenta os princípios da OGE, ao mesmo
tempo em que fundamenta a sobre a sua função pedagógica e sobre as condições
necessárias para uma correcta OGE no espaço e contexto escolar.
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PARTE I – GESTÃO ESCOLAR
1.1. A escola
Hoje se defende e propugna uma gestão democrática da educação cujo controle
se faz através da participação colectiva, nem sempre foi assim. Mas, não se pode falar
de gestão sem clarificar na sociedade actual, a escola é uma das únicas instituições
para cujo produto não existem padrões definidos de qualidade (Paro, 2008).
Isto significa dizer que “[...] A escola é uma instituição cujo papel consiste na
socialização do saber sistematizado [...] não se trata, pois, de qualquer tipo de saber”.
Portanto, a escola diz respeito ao “conhecimento elaborado e não ao conhecimento
espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e
não à cultura popular” (Saviani, 1995, p. 18-19).
Em cada país, a política educativa é decidida pelos órgãos de poder que
definem as finalidades da educação escolar, clarificando o tipo de cidadão a formar
pela escola. No caso angolano, a Constituição da República e a Lei de Bases do
Sistema Educativo são os documentos onde se exprime a “missão” da escola em
relação à sociedade.
Apesar da existência de diferenças entre os países, a verdade é que sempre a
escola esteve relacionada com o desenvolvimento dos indivíduos e das sociedades.
Poderia dizer-se que é razoavelmente consensual considerar a missão da escola
como consistindo em desenvolver global e equilibradamente o aluno, nos aspectos
intelectual, sócio-educativo, psicomotor e cultural, com vista à sua correcta
integração na sociedade (Brito, 1991, p. 9).
Em outros termos, “a escola tem uma função específica educativa,
propriamente pedagógica, ligada à questão do conhecimento; é preciso, pois, resgatar
a importância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levando em conta o
problema do saber sistematizado, a partir do qual se define a especificidade da
educação escolar” (Saviani, 1995, p. 114).
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1.2. As funções da escola
A escola está, simultaneamente, ao serviço do indivíduo e da sociedade. O
indivíduo é, de facto, o primeiro beneficiário da educação que recebe. Como nos diz
Cabanas (1989, p. 19), as funções individuais da mesma são, entre outras, promover
o desenvolvimento integral da personalidade, levando o sujeito a uma plenitude
humana; adaptá-lo à vida (socializando e dando-lhe a capacitação profissional), para
lhe tornar possível o êxito na vida; enriquecê-lo com conhecimentos, habilidades e
bons costumes; elevá-lo de uma condição puramente natural à esfera da cultura,
etc..
Mas, para além destas, a educação cumpre também uma missão em benefício
da sociedade como tal. Esta missão é tão iniludível que não há nenhuma sociedade
humana onde não existam formas de educação. A educação é essencial à natureza
humana; é constitutiva da condição humano-social.
As mais importantes funções da escola são: A função pedagógica, a função
política, a económica, a de selecção social, a de transmissão cultural e a de
inovação.
Função pedagógica: esta é a parte fundamental da escola, ligada ao seu papel
educativo de formar os traços positivos da personalidade segundo as exigências da
sociedade. A escola molda o indivíduo segundo os critérios e valores sociais para que
ele seja um trabalhador activo e honesto, intransigente defensor e construtor da nova
sociedade.
Função política: a função política da educação prende-se com duas
preocupações básicas: a necessidade de recrutar as elites, os chefes políticos que
dirigirão a sociedade no futuro e a necessidade de assegurar a conformidade dos
futuros cidadãos com o sistema político vigente. Resumindo, trata-se de formar os
futuros chefes e, ao mesmo tempo, que a chefia seja obedecida a todos os níveis,
mesmo pela oposição (Musgrave, 1979, p. 328).
No que respeita à preparação dos futuros dirigentes políticos, o processo seria
o seguinte: seleccionando os mais aptos, com base na inteligência e em certos traços
de carácter, as escolas do ensino superior de elite (as quais acorrem os alunos com tais
expectativas) promovem uma “educação para a chefia”. Esta consiste na transmissão
do sentido do dever e da responsabilidade para com a pátria, sendo-lhes incutida uma
profunda consciência de serviço e motivação para a carreira política e envolvendo-as
em várias actividades dentro da escola onde têm oportunidades de liderar e dirigir os
outros.
5
Quanto à segunda vertente, atrás assinalada, trata-se de um processo de
socialização política tendente a despertar a lealdade ao sistema político, transmitindo
o desejo e os conhecimentos necessários à participação política dos cidadãos.
Enquanto socialização, este processo combina a transmissão de valores com
actividades e práticas de participação dos alunos na vida escolar que despertem uma
atitude designada por eficácia política, isto é, o sentimento de que ele, aluno, pode
influenciar o sistema escolar agora, tal como mais tarde, poderá influenciar o sistema
político, participando como cidadão interessado e responsável nas questões da vida
em comunidade. A democracia na escola (entendida, assim como um microcosmos da
vida social e política) prepara para participação democrática na vida adulta.
Nesta linha, o filósofo da educação americana, John Dewey, argumentava que,
para a sobrevivência da democracia, o sistema educativo deveria ministrar certos
conhecimentos sobre a sociedade e as suas tradições e inculcar certas qualidades, de
modo a que os cidadãos desejassem e fossem capazes de participar no governo do país
(Musgrave, 1979, p. 322).
Função económica: a função económica prende-se com a necessidade de
fornecer ao sistema económico, para todos os níveis de trabalho, o contingente de
indivíduos com a quantidade e qualidade de educação adequada às circunstâncias
técnicas do momento (Musgrave, 1979, p. 301). De facto, é impossível a uma economia
progredir sem o aumento de conhecimentos e de aptidões cognitivas dos jovens adultos
que chegam ao mercado de trabalho e sem que um número considerável destes possua
educação de nível superior.
Sendo a divisão do trabalho uma característica fundamental das sociedades,
torna-se necessária a formação técnica dos indivíduos, orientada para a sua
especialização laboral. A educação cumpre esta missão ao dar aos indivíduos uma
formação básica que lhes proporcione os instrumentos gerais (leitura, escrita, cálculo)
de toda a actividade laboral, como uma formação apropriada às profissões
especializadas (Cabanas, 1989, p. 18).
Segundo os sociólogos Bowles e Gintis, o sistema educativo presta serviço à
economia de quatro formas:
1. As relações sociais existentes nas escola reproduzem as relações sociais
existentes nos locais de trabalho, pelo que,
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2. Quando chegarem ao mercado de trabalho, já estão preparados para esta
situação;
3. Inculca os traços de personalidade adequados;
4. Encoraja a aceitação de desigualdade.
Função de selecção social: a função de selecção social diz respeito ao papel
central que o sistema educativo, selecionando os mais aptos de entre toda a
população, cumpre na alocação social dos indivíduos, isto é, na sua distribuição ao
longo da pirâmide de estratificação social. Como afirma Cabanas (1989, p. 19), o
sistema educacional é, na nossa sociedade, um sistema de viadutos que canaliza a
população para pontos de chegada distintos.
A distribuição dos alunos por nível ou por diferentes tipos de escolas é tida
como mecanismos ao serviço desta função.
Função de transmissão cultural: a função de transmissão cultural deriva de
uma necessidade eminentemente conservadora: transmitir os esquemas fundamentais
da sociedade mediante a escola (Musgrave, 1979, p. 301).
A transmissão cultural funciona como condução necessária quer para assegurar
a continuidade social quer para assegurar a adaptação dos indivíduos ao grupo social.
Para assegurar a continuidade social é necessário que haja coesão social e esta
está dependente da existência de modo de pensar, de sentir e de agir (é a isto que
chamamos cultura) que seja partilhado pelos membros de uma mesma sociedade. Ao
transmitir aos novos membros a sua herança cultural (conhecimentos, técnicas,
crenças, cosmovisões, valores, atitudes e hábitos, manifestações artísticas, ideias,
usos e costumes, temores e desejos, etc., acumulados ao longo da sua história), a
sociedade está a trabalhar para obter a coesão necessária à sua continuidade. Afinal,
a cultura é o cimento que nos une uns aos outros e une a sociedade.
O acesso a esta herança cultural é também condição necessária da adaptação
do indivíduo às exigências da sociedade, fazendo de cada um membro dessa mesma
sociedade. Como afirma Cabanas (1989, p. 17), viver é estar integrado na sociedade;
esta integração tem as suas exigências: o indivíduo tem de aprendê-las, deve formar-
se nos hábitos por ela requeridos e tais aprendizagens é a educação que as provê. A
isto chamamos socialização do indivíduo, que é uma tarefa fundamental da educação.
Graças à ela, a sociedade incorpora em si mesma os seus novos membros perpetuando
a sua nova existência no tempo.
Função de fornecimento de inovadores: a função de fornecimento de
inovadores deriva de uma necessidade oposta a que está na origem da função de
transmissão cultural. De facto, tal como a estabilidade (conservação), também a
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mudança é necessária à sobrevivência da sociedade. A função de fornecimento de
inovadores tem a sua origem na necessidade de mudanças que a sociedade deve
introduzir em si mesma para sobreviver, sejam elas de natureza técnica, política ou
artística. A educação cumpre este papel ao fomentar a capacidade crítica face às
realidades sociais existentes, ao formar uma vontade ao serviço das ideias e ao
estimular a criatividade individual (Cabanas 1989, p. 18).
Liga-se esta função ao contributo da educação para a promoção do progresso
humano da sociedade. A educação ao aperfeiçoar os indivíduos, aperfeiçoa também o
grupo, melhorando a sua qualidade humana e o seu nível social (Cabanas 1989, p. 19).
De acordo com tudo o que foi referido, a escola é uma organização/instituição
porque, para além de nela estarem presentes as variáveis básicas de qualquer
organização (tarefas, estruturas, pessoas, tecnologia e ambiente), nela se pode
identificar os seguintes traços:
➢ Grupos de pessoas: alunos, professores, funcionários administrativos e
auxiliares da acção educativa;
➢ Finalidades explícitas: educar, instruir, socializar, estimular o
desenvolvimento individual;
➢ Divisão do trabalho: entre a direcção e os demais membros; entre os
professores (cada um na sua especialidade, pelo menos nos níveis mais
avançados); entre os funcionários;
➢ Hierarquizações das funções: as funções técnicas (ensinar, por exemplo)
devem estar subordinadas às funções de coordenação e ambas se subordinam
as funções de direcção.
Deste modo, podemos distinguir e agrupar as organizações de forma diversa:
públicas ou privadas, com fins lucrativos ou sem fins lucrativos; de âmbito nacional ou
de âmbito local. Podemos ainda distingui-las pela dimensão (pequenas, médias,
grandes) e pela sua complexidade (simples, complexas, hipercomplexas).
No entanto, a distinção mais importante é a que diz respeito à razão de existir
de cada tipo de organização, isto é, à sua missão.
A missão exprime-se numa declaração geral que define a finalidade ou filosofia
essencial ou fundamental da organização. É essa declaração que dá resposta à pergunta
“Porque existe esta organização?” (Cushway & Lodge, 1998, p. 63). Estes autores
afirmam que, para ser eficaz, uma declaração de missão deve:
➢ Expor o objectivo fundamental da organização de modo a inspirar quem nela
trabalha;
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➢ Transmitir a imagem do que a organização pretente ser;
➢ Estabelecer claramente as fronteiras através de um enfoque nítido da
organização;
➢ Apresentar o significado de forma clara para todos.
Todas as organizações têm uma missão, mas a das escolas não é igual a dos
hospitais; todas as organizações têm uma estrutura, mas a estrutura de uma escola é
diferente da estrutura de uma empresa ou de um clube desportivo.
Portanto, de acordo com a sua missão, a escola cumpre o seu encargo social,
relacionado com a tarefa de transformar a nova geração em construtores da nova
sociedade. O seu encargo social liga-se à necessidade de formar uma personalidade
integral e harmoniosamente desenvolvida para que possa responder a todas as
exigências da sociedade.
1.3. As finalidades da escola
Concretizando, diríamos que as finalidades da educação escolar são: finalidade
instrutiva; finalidade socializadora; finalidade personalizadora; finalidade
produtiva; finalidade de igualdade social. Passemos a uma breve definição de cada
uma delas.
➢ Finalidade instrutiva: transmissão de conhecimentos e técnicas.
➢ Finalidade socializadora: aquisição dos valores, atitudes, hábitos e padrões de
comportamento socialmente recomendados;
➢ Finalidade personalizadora: estimular o desenvolvimento das potencialidades
dos indivíduos e promover a sua auto-realização;
➢ Finalidade produtiva: aquisição do saber, do saber fazer e das atitudes
necessárias ao ingresso no mercado de trabalho;
➢ Finalidade de igualdade social: contribuir para uma real igualdade de
oportunidades sociais entre os indivíduos.
Em síntese, podemos citar a Alvarez (1984, p. 8), segundo o qual, (…) compete
à escola preparar intelectualmente as novas gerações para que acedam, com um
mínimo de ferramentas de conhecimento e análise, ao mundo da cultura moderna e
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potenciar e interiorizar uma série de atitudes e valores que permitam à criança
comportar-se socialmente com maturidade, autocontrolo e autonomia afectiva.
Talvez isso se deva à complexidade que envolve a avaliação de sua qualidade,
pois a escola necessita trabalhar pela conquista da oferta de um ensino rico de
conteúdos que permitam a formação de homens fortes e ricos de conhecimento e de
carácter a que se referia Gramsci.
Portanto, é necessário gerir a escola. A gestão é parte fundamental do bom
funcionamento de qualquer estabelecimento de ensino.
Originário do latim gestione, o conceito de gestão refere-se à ação e ao efeito
de gerir ou de administrar. Muitas concepções foram dadas para o tema no decorrer
dos anos. Andrade (2001), no Dicionário de sinônimos da língua portuguesa, alerta que,
embora a palavra portuguesa gestão, em seu sentido original, expresse a ação de
dirigir, de administrar e de gerir a vida, os destinos, as capacidades das pessoas, uma
parcela da sociedade compreende gestão como funções burocráticas, destituídas de
uma visão humanística, e como uma ação voltada à orientação do planejamento, da
distribuição de bens e da produção desses bens.
Segundo Garay (2011), gestão é o processo de dirigir a organização e, a partir
daí, tomar decisões levando em consideração as demandas do ambiente e os recursos
disponíveis. Garay explica ainda que gestão está relacionada ao chamado processo
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administrativo, definido por Fayol, em 1916, como o acto de planear, organizar,
dirigir e controlar1 os recursos da empresa, para que os objectivos sejam alcançados.
Afirma-se, assim, que a gestão da educação como “tomada de decisões” que
acontece e se desenvolve em todos os âmbitos da escola, inclusive e
fundamentalmente, na sala de aula, onde se objetiva o projeto político-pedagógico
não só como desenvolvimento do planejado, mas como fonte privilegiada de novos
subsídios para novas tomadas de decisões para o estabelecimento de novas políticas
(Ferreira, 2006, p.309).
1.4. A escola como instituição e organização social
Entende-se por instituição um conjunto de actos ou de ideias já
estabelecidos, que os indivíduos encontram ante si e que se lhes impõem com maior
ou menor rigor. Há instituições de origem superestrutural, como são as ideologias e
as organizações jurídicas, culturais e religiosas, etc.; e há as de origem infraestrutural,
como são as associações, os grémios e as organizações político-administrativas,
socioeconómicas e convivências da sociedade. As instituições superestruturas tiveram
um grande predomínio no mundo antigo; no decurso da história, vão perdendo
preponderância e, em consequênca, dá-se um progresso das instituições
infraestruturais, entre elas: a escola (Cabanas, 1989, p. 455).
As instituições, incluindo a escola, podem ser definidas num duplo sentido tal
como segue:
1. Conjunto de relações, pessoas e recursos destinados a satisfazer
necessidades sociais específicas. É o caso da escola.
2. Um complexo de normas estabelecidas e aceites como obrigatórias pela
sociedade. É o caso do casamento.
Neste sentido, enquanto instituição, a escola é o resultado de uma construção
sócio-histórica, sendo que, por isso, a educação é vista como um fenómeno social por
um conjunto de razões tais como:
1
Consideradas as quatro funções clássicas da gestão.
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a. Efectua-se no meio social;
b. O seu objectivo próprio é constituído por conteúdos sociais;
c. Persegue fins que são sociais;
d. Cumpre determinadas funções sociais;
e. Os factores que estão na sua origem são de índole social;
f. Está sujeita a condicionalismos sociais de todo o tipo: variação demográfica,
transformações económicas e políticas, regulamentações jurídicas, imposições
administrativas.
Durante séculos a escola não existia ou o seu papel era pouco significativo,
por isso coube (sempre) à família a tarefa de transmissão cultural e da preparação
das crianças para uma profissão ou ofício. Ou seja, a educação fazia-se de um modo
não organizado e algo difuso: educava-se e recebia-se educação ao mesmo tempo
em que se vivia.
Com o devir da história, surgem as primeiras escolas, destinadas a satisfazer
as necessidades sociais muito específicas: a maioria da população, empregue no
trabalho dos campos, permanecia analfabeta e afastada da escola.
Com o advento do capitalismo e o aparecimento das cidades, o documento
escrito ganha uma preponderância tal que se começa a impor a necessidade de
alfabetizar a população. Os avanços técnicos, o movimento de secularização da
sociedade iniciado pelo iluminismo, os ideais da Revolução Francesa de 1789 e,
posteriormente, a industrialização (que exige uma classe trabalhadora minimamente
letrada), foram contribuindo para ideia de que era necessário um sistema público de
educação, servido por uma rede de escolas públicas susceptiveis de serem
frequentadas pelas grandes massas.
Se analisarmos, do ponto de vista histórico, o longo processo de aparecimento
e consolidação da escola como uma instituição mais influente na socialização dos
indivíduos e na tarefa de garantir a transmissão cultural, encontramos motivos de
ordem ideológica, politica, social e económica.
Como motivos de ordem ideológica, podemos invocar o racionalismo dos
filósofos iluministas que, definindo o ser humano pela sua racionalidade, consideravam
o acesso à instrução e à cultura, condições indispensáveis para acender em cada
indivíduo as luzes da razão e libertá-lo das trevas do obscurantismo em que se
mantinha por influência religiosa. Nesta ordem de ideias, o indivíduo só se tornava
12
verdadeiramente homem (isto é, racional) se acedesse à instrução e à cultura. Fazer
entrar todos os indivíduos na escola e instruí-los, equivalia, portanto, a realizar a
humanidade do homem, cuja essência é a racionalidade. Na sequência da Revolução
Francesa, o pensamento liberal retoma e prolonga esta ideia para a esfera da
cidadania. Se todo o homem é um cidadão, com o direito a participar na discussão e
decisão dos problemas da sociedade, então é preciso que esteja informado e isso
requer o domínio da leitura e o mínimo de instrução.
Como motivos de ordem política, devemos recordar que a criação da rede de
escolas públicas anda em paralelo com o esforço de consolidação dos Estados e
Nações modernos. Essa consolidação exige que o Estado aumente a sua influência
sobre a sociedade, subtraindo dos indivíduos à forte influência exercida pela igreja e
pelos caciques locais. Essa consolidação exige também o fomento e a divulgação de
uma cultura comum, conhecida e partilhada por todos, como base da nacionalidade.
As escolas encarregar-se-ão de contribuir para ambos os objectivos.
Como motivos de ordem social, devemos destacar as transformações
verificadas na família, onde todos os seus membros passam a trabalhar fora de casa,
na sequência da industrialização. Essa circunstância, conjugada com uma maior
complexidade da tarefa de “preparar para a vida” (decorrente dos avanços técnicos e
dos novos problemas que coloca a vida urbana), tem como consequência diminuir-
lhes as condições para continuarem a assegurar a preparação dos filhos para a vida
adulta. A escola irá fazê-lo em sua substituição.
Aos motivos de ordem económica: o trabalho faz-se agora com o recurso à
maquinaria e é no mínimo, indispensável saber ler, para poder seguir as instruções de
produção, e saber escrever, para fazer o necessário registo dos produtos e das
ocorrências do dia-a-dia.
Desde as políticas liberais de escolarização universal que um conjunto de
esperanças é depositado na educação. Entretanto, a educação passa, hoje, dos seus
grandes desígnios a uma situação de crise, o que se pode explicar nos seguintes termos:
(1) Quanto ao seu papel integrador: Durkheim e a escola funcionalista afirmam
que pela transmissão de conhecimentos, técnicas, crenças e sistemas de
valores, a educação escolar tem por função integrar o indivíduo na sociedade,
garantindo a coesão social e o desaparecimento de conflitos;
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(2) Quanto ao papel da educação no desenvolvimento económico: a Teoria do
Capital Humano considera a educação como um investimento positivo. O
investimento no capital humano não só aumentaria a produtividade individual
como, ao fazê-lo, criaria a base técnica do tipo de força de trabalho necessária
para um rápido crescimento económico;
(3) Quanto ao papel da educação como factor de mobilidade social: acreditou-se
que a educação escolar traria a igualdade de oportunidades para todos e a
democratização da estrutura social. A escola faria com que apenas um critério
funcionasse como decisivo na ascensão social: o mérito resultante das
capacidades inatas e do trabalho desenvolvido. O critério do “mérito” tornaria
a sociedade mais homogénea e mais igualitária.
Estas visões optimistas acerca dos efeitos da educação escolar não foram, como
sabemos, confirmadas e os efeitos reais da educação escolar são, a esse respeito,
contraditórios e muito limitados. Assim, as sociedades vêem-se a braços com
problemas resultantes da deficiente integração dos indivíduos.
Os efeitos económicos da educação são irrelevantes (a ponto de poder afirmar-
se que o crescimento da escolaridade de nível superior é uma consequência e não uma
causa do desenvolvimento económico), a escola não nivela as pessoas, antes as
hierarquiza e selecciona com vista a uma distribuição social desigual (não existe
igualdade de oportunidades quer no acesso e no sucesso escolares, quer no acesso a
lugares ocupacionais).
1.5. A gestão escolar
A gestão escolar é um conceito que se difere da administração escolar. Isso
porque enquanto uma visão administrativa foca na organização e direcionamento de
recursos, a gestão é resultado de uma visão estratégica. Por sua vez, o que se sobressai
é o significado dos recursos que precisam ser atribuídos por pessoas e para pessoas.
O uso do termo gestão escolar em detrimento de administração escolar, parte
da compreensão de que são termos distintos, ao se tratar de educação. Para Santos
Filho (1998), administração traz, no caso da educação, uma concepção técnica,
hierarquizada e fragmentada, baseada no poder e na autoridade. O autor prefere a
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utilização de gestão escolar, que leva ao conceito de compartilhamento de ideias,
participação de todos no processo de organização e funcionamento da escola.
Bordignon e Gracindo (2000) compreendem que gerenciar uma escola é diferente de
gerenciar outras organizações sociais, devido à sua finalidade, estrutura pedagógica e
às relações internas e externas.
De modo geral, os conceitos de gestão e de administração escolar são, quase
sempre, tomados como sinônimos. Libâneo (2001) observa, por exemplo, que os termos
gestão e direcção ora são tomados como sinônimos, ora o primeiro praticamente se
confundindo com administração e o segundo como um aspecto do processo
administrativo.
Ferreira (1998; 2000) distingue os conceitos de administração, gestão e
gerência. O primeiro, segundo a autora, de maior abrangência, envolvendo aspectos
teóricos e científicos do processo de organização; o segundo, relacionado com a
coordenação ou direcção de uma prática, que envolve planeamento e avaliação e que
concretiza uma linha de acção ou um plano; o terceiro, mais limitado a aspectos
técnicos e de execução da acção.
Libâneo (2001) por sua vez, acrescenta ao conceito de gestão a dimensão de
actividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para se atingir os
objectivos da organização, envolvendo aspectos gerenciais e técnico-administrativos.
Neste sentido, segundo este autor, seria sinônimo de administração. Já a direcção,
segundo ele, é princípio e atributo da gestão, canalizando o trabalho conjunto das
pessoas, orientando-as e integrando-as no rumo dos objectivos. A direcção, ainda de
15
acordo com Libâneo, põe em ação o processo de tomada de decisões na organização,
e coordena os trabalhos, de modo que sejam executados da melhor maneira possível.
A Gestão escolar diz respeito a um conjunto de estratégias que o gestor da
escola deve traçar ao começo de cada ano a fim de guiar a escola. Ela envolve as áreas
pedagógica, administrativa, financeira, gestão de pessoas, e muitas vezes marketing
e comunicação.
A gestão escolar não se esgota no âmbito da escola. Ela está estreitamente
vinculada à gestão do sistema educativo. Assim uma gestão escolar comprometida e
responsável deve propor a construção de instituições autônomas com capacidade de
tomar decisões, elaborar projetos institucionais vinculados às necessidades e aos
interesses de sua comunidade, administrar de forma adequada os recursos materiais e
escolher as estratégias que lhe permitam chegar aos resultados desejados e que, em
seguida, serão avaliados pelas autoridades centrais.
A realização de actividades de gestão da escola de maneira sistemática e a
implementação de uma cultura de gestão escolar, optimiza o tempo dos gestores de
topo, coordenadores e de toda equipe escolar envolvida.
Nesta perspectiva as escolas gozam de estatuto para a sua funcionalidade,
influenciando o processo docente-educativo, de maneira a traçar o seu plano de
actividades na elaboração dos programas a serem seguidos. A tarefa actual da Gestão
Escolar é interpretar os objectivos e finalidades educacionais e transformá-los em
acções organizacionais, através do planeamento, organização, direcção e controlo
das actividades que ocorrem dentro das organizações educativas.
Acreditamos que a influência da gestão escolar no processo docente-educativo
contribuirá para a organização e gestão da melhoria da qualidade educativa,
16
garantindo que todos os membros da escola desenvolvam acções ajustadas aos
princípios de organização e gestão escolar. Segundo Mintzheg (1989), a gestão contitui
um processo para a obtenção de resultados com a utilização de todos ou parte dos
recursos de uma organização.
Consideram-se funções de gestão: planificação, organização, direcção e
controlo, as quais devem estar presentes no desempenho de qualquer responsável,
independentemente do seu nível hierárquico na organização e área de actuação.
A Gestão escolar é um sistema de organização da escola que envolve todos os
sectores que se relacionam com as práticas escolares. Seu foco principal está no
desenvolvimento sócio-educacional eficaz da instituição, com orientação voltada para
o alcance de resultados, motivação de equipes e lideranças, e alcance de objectivos
com ênfase na qualidade do ensino.
A gestão escolar traz para o contexto educacional os elementos e conceitos
fundamentais para aumentar a eficiência dos processos institucionais. Ela busca
garantir que as instituições de ensino tenham as condições necessárias para cumprir
seu papel principal: o de ensinar com qualidade e formar cidadãos.
Padilha (2001) comenta que a gestão escolar é uma peça fundamental do
processo de transformação educativa. Constitui um espaço de interação com os alunos
e o local onde se constroem as condições objetivas e subjetivas do trabalho docente –
ainda que sob as múltiplas determinações do sistema educacional e da própria
17
sociedade. Portanto, com base nessas reflexões podemos afirmar que, ao pensar a
gestão escolar, estamos necessariamente erguendo uma ponte entre a gestão política,
a administrativa e a pedagógica. Ou seja, a gestão escolar não começa nem termina
nos estabelecimentos escolares, constituindo-se num processo coletivo, dialógico,
dinâmico, político que exige reflexão, busca de conhecimentos amplos, autonomia na
busca de promover uma educação de qualidade com equidade.
O objectivo da gestão escolar é aplicar princípios e estratégias essenciais para
ampliar a eficácia dos processos dentro da instituição e, assim, promover uma
consistente melhoria do ensino ofertado aos estudantes. Na gestão da escola, a
preocupação é lidar com todos os aspectos pertinentes às rotinas educacionais. Seu
foco primordial é a obtenção de resultados, de empenho na execução de uma liderança
exemplar, de relevância do currículo e da participação activa dos pais.
1.6. Principais pilares que constituem a gestão das escolas
Os pilares cujas actuações visam autonomia administrativa, financeira,
pedagógica e otimização de tempo e processos nas instituições de ensino. Esses pilares
são interdependentes e o bom funcionamento e a sintonia entre essas esferas é vital
para a instituição. Sendo assim, o gestor deve dedicar-se com empenho e ter
habilidades para coordenar diferentes áreas de atuação.
18
Entender a gestão escolar, suas áreas e principais objectivos é muito
importante. A gestão escolar é um conjunto de práticas envolvendo as questões básicas
do sistema de ensino para produzir um trabalho de qualidade.
A Gestão pedagógica:
Nada mais é que a organização, planeamento e administração da área
educativa. Uma vez que se relaciona directamente à actividade fim do sector
educacional, é o pilar mais importante da gestão de escolas.
O planeamento dos propósitos, conteúdos e métodos relacionados directamente
à educação. É por meio da gestão pedagógica que se define quais são os parâmetros
de ensino-aprendizagem que sua escola irá adoptar. Para tanto, é preciso analisar
também as etapas que se precedem e sucedem o momento do aprendizado em si.
Gestão administrativa:
Cuida da instituição como estrutura física, como o edifício, os equipamentos,
materiais necessários para o funcionamento das aulas e dos projectos propostos pela
gestão pedagógica. Esta parte tem também a missão de zelar pelos bens e garantir que
sejam bem utilizados em prol do ensino.
Tem como missão estabelecer o cuidado e manutenção da estrutura da escola
que garantam seu funcionamento. O que inclui recursos físicos, materiais e financeiros.
Dentro deste processo se encontram desde o cuidado e a manutenção patrimonial até
as rotinas da secretaria. Basicamente, se trata de manter o ambiente organizado por
meio de diretrizes que não atrapalhem, mas muito pelo contrário, permitam a fluidez
e otimização da Gestão Pedagógica.
Por isso a importância de manter o ambiente limpo, todos os materiais
disponíveis e até as tecnologias da informação adequadas que permitam melhorar o
trabalho de todos no dia a dia.
Gestão financeira:
Ela organiza o orçamento da instituição e se responsabiliza em distribuir de
forma ordenada a verba para os diferentes sectores da escola. Cuida da parte
financeira da instituição, como o cálculo de custos, o fluxo de caixa e a inadimplência
sob controle. Ela deve andar de mãos dadas com a gestão administrativa para que
todos os gastos sejam dimensionados de maneira correcta.
19
Enquanto a gestão administrativa aponta para as necessidades estruturais da
escola, a gestão financeira viabiliza esses recursos através das finanças que precisam
estar equilibradas e saudáveis. Em resumo, elas precisam andar de mãos dadas. Para
isto, é preciso ter controle de contas a pagar e a receber, visualização clara de gastos
fixos e variáveis, medidas para problemas como o da inadimplência tanto quanto um
trabalho voltado à captação de novas matrículas.
Além de visão, na prática também será preciso investir em softwares e ter
profissionais aliados de contabilidade e administração que permitam uma gestão
segura dos recursos financeiros da escola.
Gestão de recursos humanos:
É responsável pela organização e distribuição de tarefas de pessoal, e por
manter o bom relacionamento entre todas as partes. A principal missão da gestão de
recursos humanos é motivar as equipes e garantir que todos estejam satisfeitos.
Consequentemente, terão um bom rendimento de suas actividades.
Para que a escola funcione harmoniosamente diante de todos os pilares, como
um orquestra em sinfonia, é preciso considerar toda a comunidade escolar, ou seja,
todas as pessoas directa ou indirectamente envolvidas. Portanto, a gestão de recursos
humanos inclui especialmente alunos, professores, coordenadores, funcionários,
fornecedores e pais. Em geral, todos aqueles que podem afectar de alguma forma os
objectivos estabelecidos.
Um outro ponto é que, apesar de que os gestores precisam desenvolver a visão
do processo completo, será preciso dividir os papeis de actuação mais próximos de
cada função, entre gestores, coordenadores e professores. Diante das pessoas, é
preciso se lembrar do papel de liderança que engaja e estimula a todos dentro dos
mesmos ideais, mas estipulando os papeis e funções de cada um.
Os líderes são capazes de manter o respeito e o entrosamento que favorece o
trabalho em equipe, sempre incentivando e orientando para extrair o melhor das
pessoas.
Gestão da comunicação:
Está directamente relacionada com a gestão escolar de recursos humanos, mas
ela não se basta apenas em garantir que os colaboradores estejam satisfeitos e
20
motivados. Ela se projecta para além dos muros das instituições e envolve toda a
comunidade escolar, como os responsáveis dos alunos. É também competência desta
área mantê-los informados sobre as actividades da instituição.
Apesar dos vários meios, o mais importante é garantir que as informações foram
recebidas e compreendidas pela outra ponta. Da mesma forma, saber ouvir e
considerar as opiniões e possíveis respostas que surjam a partir daí. Na prática, as
escolas podem se comunicar com a comunidade escolar através de murais, aplicativos,
e-mails ou reuniões, por exemplo. Quanto mais objetiva e generalizada a informação,
maior é a chance de usar um método impessoal como um aplicativo.
Já um feedback comportamental sobre um aluno a seus pais ou mesmo ou uma
orientação voltada a um funcionário, devem ser feitas com maior cautela e de
preferência pessoalmente.
Gestão de tempo e eficiência dos processos:
Todos os sectores da escola funcionam como uma engrenagem de um relógio.
Se algo não funciona ou funciona mal, gera atrasos ou até a parada dos ponteiros.
Manter os olhos e ouvidos bem atentos, prestar atenção e planear todas as etapas dos
processos é importante para os gestores conseguirem identificar quais engrenagens
atrasam ou prejudicam cada sector. A gestão de tempo e eficiência dos processos está
directamente relacionada com a produtividade dos sectores.
O tempo é um dos grandes recursos que precisam ser considerados para
estabelecer prioridades e garantir o foco no cumprimento de tarefas. Dessa forma,
estabelecer listas de prioridades, funções bem delimitadas entre os colaboradores e
ainda desenhar processos assim como maneiras de automatizá-los no dia a dia, fazem
parte de uma gestão de tempo eficiente.
21
Ter essa divisão em mente e dar a devida atenção a cada um dos pilares, ajuda
os gestores a terem visibilidade de seu trabalho e atuar com maior foco em cada
necessidade de cada vez. Entretanto é essencial ter uma visão 360°.
Com a visão 360° todos os pilares têm igual importância e devem ser integrados
à gestão geral da escola. Apesar de alguns estarem mais relacionados entre si, como
gestão administrativa e financeira ou então gestão de recursos humanos e
comunicação, todos eles se afetam entre si, podendo gerar reações em cadeia tanto
positivas quanto negativas dependendo do direcionamento de cada trabalho.
Os bons gestores são aqueles capazes de desenvolver esta visão 360°,
aprendendo a desmembrar os pilares como um método para definir metas e medir
resultados separadamente, actuando em cada sector com mais clareza e
objectividade.
22
1.7. A organização e a gestão escolar
A Organização e Gestão Escolar adopta princípios de Gestão de Empresas em
função da sua similaridade de estrutura organizacional que se modifica em razão de
objectivos específicos. Para analisarmos o conceito de OGE temos que decompô-lo nos
dois elementos substantivos: Organização e gestão.
1. Organização: em sentido lato, significa ordem, colaboração, harmonia e
disposição. Na verdade, toda a matéria encontra-se organizada, isto é, os elementos
estão dispostos segundo uma ordem, garantindo harmonia necessária. Em sentido
restrito, significa formação de um grupo ou organismo e atribuição das condições
necessárias para que possa desempenhar a sua função2.
2. Gestão: É a acção para manter a actividade das estruturas e organizações; é
o acto de gerir, dirigir e controlar o trabalho realizado3.
Durante algum tempo, a organização e gestão escolar eram concebidas tendo
como referência as teorias utilizadas pela Ciência Administrativa. Assim, as
organizações produtivas em uma lógica capitalista visavam alcançar a eficiência e
eficácia na obtenção do aumento do consumo e, consequentemente, do lucro (Lakatos,
1997; Morgan, 1996).
Entretanto, as instituições educacionais diferem dos objectivos das
organizações empresariais que visam a obtenção de lucro quase a qualquer preço. A
organização escolar reúne pessoas interagindo entre si e age via estruturas e processos
organizativos próprios, com a finalidade de atingir seus objetivos de ensino e
aprendizagem. A escola para realizar esses objetivos necessita de uma gestão para a
tomada de decisões e a direção e controle dessas decisões.
2 Para E. Schein (1982, p.10), na voz de Bucha (2004, p. 23), “É surpreendentemente difícil dar uma definição
simples de uma organização. A ideia de organizar fundamenta-se no facto de que o indivíduo sozinho é incapaz de
satisfazer todas as necessidades e desejos. (…) A organização maior, a sociedade, torna possível, através da
coordenação das actividades de muitos indivíduos, o atendimento das necessidades de todos os seus membros. Uma
ideia básica que subjaz ao conceito de organização, portantanto, é a ideia de coordenação do esforço ao serviço da
ajuda mútua”. Com esta ideia fica claro que uma sociedade em pequenas dimensões que a maior, como é o caso de
uma instituição escolar, requer o concurso de todos para a realização de objectivos comuns, relacionados com a
formação do homem novo.
3 De acordo com J. Cassasus (1989.), citado por N. Valcárcel e A. Rodríguez (sd., p. 5), a gestão é concebida
como a "capacidade de gerar uma relação adequada entre a estrutura, a estratégia, os sistemas, o estilo, as
capacidades, a gente e os objectivos superiores da organização considerada"(1:5) e ainda defende, que é a
"capacidade de articular os recursos de que se dispõe de modo a atingir o que se deseja" (6). Todo isto no âmbito
educacional. Na mesma linha de ideias, para Ma A. Zainko & Ma L. Pinto (2008, p. 18) que, em Gestão da Instituição
de Ensino e Ação Docente citam Cury, o termo gestão vem de gestio, que por sua vez, vem de gerere, que significa
“trazer em si, produzir”. Assim gerir uma escola não seria apenas organizar algo já existente, pronto e acabado. É
tambem produzir novas relações em contextos sociais, políticos, culturais e pedagógicos.
23
Bucha (2004, p. 19) “a organização escolar, atendendo às teorias e respectivos
modelos organizacionais, procurando não esquecer que a missão da organização
escolar dá origem a culturas e climas organizacionais muito específicos”.
Assim, sem uma organização escolar de qualidade e, por compreensão, sem
educação de qualidade não há nem haverá crescimento social e humano, qualidade de
vida, nem democracia. Neste sentido, a educação escolar deve ser objecto de grandes
consensos nacionais que garantam o compromisso de todas as sociedades para a
formação das futuras gerações e a continuidade das políticas educativas4 e
programas postos em marcha para a realização destes objectivos.
Sendo assim, para Libâneo (2013, p. 88), a organização e gestão visam:
a. prover as condições, os meios e todos os recursos necessários ao ótimo
funcionamento das escolas e do trabalho e sala de aula;
b. promover o envolvimento das pessoas no trabalho por meio da
participação e fazer o acompanhamento e a avaliação dessa
participação, tendo como referência os objetivos de aprendizagem; e
c. garantir a realização da aprendizagem de todos os alunos.
Libâneo expõe que a organização e os processos de gestão assumem significados
distintos conforme a concepção que vigore como referência para os objetivos da
educação em relação à formação dos alunos em um dado contexto sociocultural. Ainda
para este autor, a organização da escola, e, consequentemente, as formas de conceber
a gestão e a administração escolar podem ser agrupadas em dois grandes enfoques: o
enfoque científico-racional e o enfoque crítico.
4 Nos termos de Bucha (2004, p. 65), as política(s) educativa(s) procuram equacionar e solucionar os
problemas, observando-se a existência das seguintes fases: 1. Emergência da questão e identificação do problema;
2. Formulação da política e sua autorização; 3.Implementação das medidas e 4. Conclusão ou mudança ou
substituição da medida antiga pela nova.
24
Organização e
gestão escolar
concepção
concepção
científico
-
sociocrítica
racional
técnico- democrático-
autogestionária intertretativa
científica participativa
Libâneo (2007) prefere a utilização do termo gestão escolar quando se associa
à escola, e trabalha com a concepção sociocrítica de gestão escolar. Nessa concepção,
a gestão escolar também é engendrada como um sistema que agrega pessoas,
“considerando o caráter intencional de suas ações e as interações sociais que
estabelecem entre si e com o contexto sócio-político, nas formas democráticas de
tomada de decisões” (LIBÂNEO, 2007, p. 324). Compreende-se que o processo de
tomada de decisões dá-se coletivamente, possibilitando aos membros do grupo
discussão e deliberação conjunta. Assim, o gestor escolar, na dimensão política, exerce
o princípio da autonomia, que requer vínculos mais estreitos com a comunidade
educativa, os pais, as entidades e organizações paralelas à escola. Gestão é então a
atividade pela qual se mobilizam meios e procedimentos para atingir os objetivos da
organização e envolve aspectos gerenciais e técnico-administrativos.
Não é difícil aos futuros professores fazerem distinção entre essas duas
concepções de organização e gestão da escola. No primeiro enfoque, a organização
escolar é tomada como uma realidade objetiva, neutra, técnica, que funciona
racionalmente; portanto, pode ser planejada, organizada e controlada, de modo a
alcançar maiores índices de eficácia e eficiência. As escolas que operam nesse modelo
dão muito peso à estrutura organizacional: organograma de cargos e funções,
hierarquia de funções, normas e regulamentos, centralização das decisões, baixo grau
de participação das pessoas que trabalham na organização, planos de ação feitos de
cima para baixo. Este é o modelo mais comum de funcionamento da organização
escolar.
25
O segundo enfoque vê a organização escolar basicamente como um sistema que
agrega pessoas, importando bastante a intencionalidade e as interações sociais que
acontecem entre elas, o contexto sócio-político etc. A organização escolar não seria
uma coisa totalmente objetiva e funcional, um elemento neutro a ser observado, mas
uma construção social levada a efeito pelos professores, alunos, pais e integrantes da
comunidade próxima. Além disso, não seria caracterizado pelo seu papel no mercado
mas pelo interesse público. A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de
viabilização da gestão democrática, conforme veremos em seguida.
A estrutura da Organização Educacional em Angola apresenta-se sob a forma
piramidal, pois, no topo, encontra-se o Ministro da Educação, que orienta toda a
actividade relacionada com a gestão escolar no seu todo. De acordo com a política
educativa do Estado, o poder de direcção de qualquer instituição escolar deve estar
ligado às leis da organização administrativa em geral.
1.8. Os paradigmas de gestão escolar
Para Libâneo (2005), os diferentes paradigmas de gestão escolar são
configurados com base nas finalidades sociais e políticas da educação em relação às
sociedades e à formação de alunos.
Paradigma da gestão tecnocientífica (cientifico-racional): prevalece uma
visão burocrática e tecnicista de escola. A direcção é centralizada numa pessoa, a
decisão vem de cima para baixo e basta cumprir um plano previamente elaborado, sem
a participação de professores, especialistas e tecnicistas de escola. A organização
escolar é tomada como uma realidade objectiva, neutra, técnica, que funciona
racionalmente e, por isso, pode ser planeada e organizada, a fim de alcançar maiores
índices de eficácia e eficiência. As escolas que operam com esse modelo dão muito
peso à estrutura organizacional: organograma de cargos e funções, hierarquia de
funções, normas e regulamentos, centralização das decisões, de baixo grau de
participação das pessoas, planos de acção feitos de cima para baixo.
Paradigma da gestão sócio-crítica: a organização escolar é concebida como um
sistema que agrega pessoas, considerando o carácter intencional das suas acções e as
26
interacções sociais que estabelecem entre si e com o contexto sociopolítico nas formas
democráticas de tomadas de decisões.
Paradigma da gestão autogestionária: baseia-se na responsabilidade colectiva,
na ausência de direcção centralizada, na acentuação da participação directa e por
igual de todos os membros da instituição. Tende a recusar o exercício de autoridade e
as formas mais sistematizadas de organização e gestão na organização escolar, em
contra posição aos elementos instituídos (normas, regulamentos, procedimentos já
definidos). Valoriza especialmente os elementos constituintes (capacidade de grupo
de criar e instituir suas próprias normas e procedimentos).
Paradigma de gestão interpretativa: centra-se na análise dos processos de
organização e gestão dos significados subjectivos nas intenções e na interacção das
pessoas. Opõe-se fortemente à concepção do paradigma tecnocientífico pela sua
rigidez normativa e por considerar as organizações como realidades objectivas. O
enfoque interpretativo considera as práticas organizativas como uma construção social
com base nas experiências subjectivas e nas interacções sociais.
Paradigma de gestão democrática participativa: baseia-se na relação orgânica
entre a direcção e a participação dos membros de equipa. Acentua a importância da
busca de objectivos comuns por todos. Defende uma forma colectiva de tomada de
decisões. Entretanto, uma vez tomadas as decisões colectivas, advoga que cada
membro da equipa assuma a sua parte no trabalho, admitindo a coordenação e
avaliação sistemática das deliberações estabelecidas. Essas concepções possibilitam a
análise da estrutura e da dinâmica organizativa de uma escola.
27
Dificilmente encontramos uma escola onde predomina um único paradigma. Na
escola, pode ocorrer um estilo mais dominante. Entretanto, a opção por uma
determinada concepção não garante na prática a sua implementação. A forma de
organização e de gestão adoptadas pela equipa de trabalho ou pela direcção pode ser
uma concepção progressista, mas, na prática, o modelo mais reproduzido é o tipo
burocrático. A escola como unidade social abrange uma rede compacta de relações e
desenvolve características próprias constituindo assim a sua identidade e cultura.
Sendo consideradas como organizações vivas, caracterizadas por uma rede de relações,
a sua gestão demanda um novo enfoque de organização.
Viana (2000) considera que
o planeamento democrático e participativo para a tomada de decisões
mais significativas e prioritárias da gestão escolar representantes de
todos os segmentos da escola. Destaca que a gestão democrática e
participativa não se identifica com decisões a respeito de aspectos e
acções secundárias fragmentadas e isoladas de uma unidade escolar.
Deve envolver o diagnóstico de suas dificuldades e sucessos, a busca de
soluções colectivas e organizadas para os aspectos prioritários. Como
ser social, o homem encontra a sua realização no convívio com os seus
semelhantes necessitando de aperfeiçoamento e satisfação pessoal. (p.
18)
28
Oliveira (1999, p. 37) descreve “quatro princípios gerais para o planeamento
tais como: Princípio da contribuição aos objectivos, de procedência do paneamento,
de maior penetração e abrangência, de eficácia fazer coisas de maneira adequada,
resolver problemas, salvaguardar os recursos aplicados, cumprir o seu dever e reduzir
o custo”.
1.9. Os elementos constitutivos do sistema de organização
e Gestão da escola
A organização e gestão refere-se aos meios de realização do trabalho escolar,
isto é, à racionalização do trabalho e à coordenação do esforço colectivo do pessoal
que actua na escola, envolvendo os aspectos, físicos e materiais, os conhecimentos e
qualificações práticas do educador, as relações humano-interacionais, o planeamento,
a administração, a formação continuada, a avaliação do trabalho escolar. Tudo em
função de atingir os objectivos. Ou seja, como toda instituição as escolas buscam
resultados, o que implica uma acção racional, estruturada e coordenada. Ao mesmo
tempo, sendo uma actividade colectiva, não depende apenas das capacidades e
responsabilidades individuais, mas de objectivos comuns e compartilhados e de acções
coordenadas e controladas dos agentes do processo.
O processo de organização educacional dispõe de elementos constitutivos5 que
são, na verdade, instrumentos de ação mobilizados para atingir os objetivos escolares.
Tais elementos ou instrumentos de acção são:
1) Planeamento - processo de explicitação de objetivos e antecipação de
decisões para orientar a instituição, prevendo-se o que se deve fazer
para atingi-los.
2) Organização - Atividade através da qual se dá a racionalização dos
recursos, criando e viabilizando as condições e modos para se realizar o
que foi planejado.
5
Esses elementos constitutivos da organização são designados, também, na bibliografia especializada, de
funções administrativas ou etapas do processo administrativo. Os autores geralmente mencionam as
quatro funções estabelecidas nas teorias clássicas da Administração Geral: planejamento, organização,
direção, controle.
29
3) Direcção/Coordenação - Atividade de coordenação do esforço coletivo
do pessoal da escola.
4) Formação continuada - Ações de capacitação e aperfeiçoamento dos
profissionais da escola para que realizem com competência suas tarefas
e se desenvolvam pessoal e profissionalmente. Avaliação - comprovação
e avaliação do funcionamento da escola.
Estes são alguns elementos básicos para o conhecimento da organização escolar
e para a atuação dos professores e do pessoal técnico-administrativo. Esta realidade
leva-nos a percepção de que toda a instituição escolar necessita de uma estrutura de
organização interna, geralmente prevista em algum regulamentoou em legislação
específica.
O termo estrutura tem aqui o sentido de ordenamento e disposição das funções
que asseguram o funcionamento de um todo, no caso a escola. Essa estrutura é
comumente representada graficamente num organograma – um tipo de gráfico que
mostra a inter-relações entre os vários setores e funções de uma organização ou
serviço. Evidentemente a forma do organograma reflete a concepção de organização
e gestão.
A estrutura organizacional de escolas se diferencia conforme a legislação e,
obviamente, conforme as concepções de organização e gestão adoptada.
Exercício: consultar a Lei 17/16 para perceber a estrtura do sistema de ensino
angolano.
1.10. Os princípios da organização e gestão escolar
Os princípios são as exigências básicas e o ponto de partida para podermos
organizar e gerir a educação e o ensino na escola, de acordo com os objectivos
preconizados. Eles compreendem os gerais e os particulares, tal como se segue:
a) Os princípios gerais estabelecem os critérios e as normas gerais pelos quais a
OGE se deve basear para determinar as suas tarefas fundamentais, cumprir os seus
objectivos e realizar a sua função e, basicamente, são:
- Ligação entre a educação e a sociedade;
- Igualdade de direitos de instrução para todos;
30
- Unidade entre a instrução e a educação;
- Educação no colectivo pelo colectivo e para o colectivo;
- Conjugação das influências educativas da escola, da família e da
comunidade;
- Ligação entre o ensino, o trabalho produtivo e a educação física.
b) Os princípios particulares asseguram uma correcta e eficaz Organização e
Ggestão Escolar, significando ao mesmo tempo as formas de aperfeiçoar o trabalho
de todas as estruturas afectas à direcção e gestão da escola. Os princípios
particulares são:
- Direcção colectiva, mas responsabilidade individual;
- Espírito democrático;
- Planificação e controlo das actividades e tarefas;
- Crítica e autocrítica.
A qualidade organizativa e de gestão da instituição escolar, pode, assim,
contribuir não só para o desenvolvimento qualitativo da educação e, esta, constituir-
se em base para o desenvolvimento do(s) país(es), que deve assentar na qualidade do
homem a formar, mas também pode contribuir para a frustração profissonal dos
professores e no abandono escolar dos alunos. Em relação a este problema, P. Dupont
e M. Ossadon (1998, p. 65), referem-se também à sua “dimensão institucional”. Por
isso, os autores antes referenciados, analisando os trabalhos, “incidindo sobre o clima
de eficácia das instituições ditas «excelentes» puseram em evidência um conjunto de
características comuns: empenhamento de todo pessoal na realização de objectivos
claramente definidos, um clima marcado pela abertura, pela confiança e pelo respeito,
uma liderança exercida com mestria e participação revelaram-se factores que
contribuem para uma maior eficácia dos docentes, mas, igualmente, dos estudantes”
(p.65).
Do dado anterior pode inferir-se que, em muitas instituções escolares existem
muitos problemas porque não se possuem os domínios da liderança, que deviam ser
compreendidos como “princípios sobre os quais podem apoiar-se os administradores
(directores, mas também, os presidentes de Departamentos e/ou Faculdades) para
influenciar os acontecimentos de uma instituição, para favorecer as mudanças e as
melhorias necessárias ao ensino e/ou à investigação”. (P. Dupont & M. Ossadon, 1998,
p. 65).
Em consequência do exposto, aqueles autores postulam, ao menos, cinco
princípios associados a uma OGE eficaz:
31
• Técnico: proveniente de um conhecimento teórico e prático de sólidas
técnicas de gestão;
• Humano: derivado do conhecimento e da valorização dos recursos
interpessoais;
• Pedagógico: decorrente de um conhecimento especializado em
organização prática do ensino;
• Simbólico: proveniente da capacidade de chamar a atenção da
comunidade educativa (professores, estudantes, pais, universo social)
para os objectivos importantes para a instituição;
• Cultural: derivado da capacidade para criar e desenvolver uma imagem
de marca, uma cultura única e original associada à instituição.
Uma tendência ignara destes princípios pode constituir num perigo institucional
que coloca em cheque toda a obra humana projectada para realizar-se por meio da
educação formal ou escolar. Por isso, não basta boa vontade, é necessário saber,
porque a gestão de uma instituição escolar não deve ser tarefa de meros curiosos, de
«homens da estrada».
1.11. Gestão escolar participativa e democrática
Se por um lado a gestão escolar participativa é aquela em que a comunidade
participa activamente do planeamento, execução e fiscalização dos gastos dos recursos
da escola. As decisões são tomadas pelo conselho escolar, formado por representantes
dos pais, alunos, professores, coordenadores, secretários e diretores escolares. Por
outro lado, a gestão escolar democrática tem como principio a participação de toda
a comunidade escolar na gestão da instituição de ensino. Isto requer o envolvimento
de pais, alunos, professores, diretores, coordenadores pedagógicos, secretários
escolares, secretários de educação e até prefeitos.
A gestão escolar participativa e democrática como estratégias de melhoria da
qualidade de ensino, é defendida por Lück (1996, p. 35) quando afirma que esta
“caracteriza-se por uma força de actuação consciente, pela qual os membros da
escola reconhecem e assumem o seu poder de influenciar na determinação da
dinâmica da unidade escolar, da sua cultura e seus resultados”.
Burak e Flack (2011) também associam gestão escolar a ações coletivas e
democráticas, com a divisão de responsabilidades individuais, que devem ser pautadas
32
num projeto maior, que congrega todos os membros da equipe escolar em torno de
objetivos, metas, decisões e compromissos comuns.
Entretanto, a gestão já pressupõe em si a ideia de participação, isto é, do
trabalho associado de pessoas analisando situações decidindo sobre o seu
encaminhamento e agindo sobre ela em conjunto. Isso porque o êxito de uma
organização depende da acção construtiva conjunta de seus componentes pelo
trabalho associado, mediante a reciprocidade que cria um “ todo” orientado por uma
vontade colectiva (Lück 1996, p. 37).
Para Costa,
A construção de uma gestão escolar participativa se coloca como
exigência e contingência de um processo de afirmação da cidadania, na
medida em que contribui para a conquista da autonomia política
superando relações verticalistas de gestão tecnocrática, engendrando
mecanismos de exercício de poder firmados com reais interesses da
maioria. (1995, p. 37)
Na perspectiva de Libâneo (2004, p. 28), as decisões e procedimentos precisam
de avaliação e acompanhamento, com base na chamada relação orgânica entre a
direcção e a participação dos membros de toda a equipa escolar. Segundo este autor
ainda, “as acções de trabalho na instituição escolar estão voltadas para as acções
pedagógicas – didácticas em razão dos objectivos da escola. Com isso, o controle
requer uma avaliação mútua entre comunidade, director e professor”. (p. 28)
Libâneo acrescenta que
a educação é palco de buscas para a transformação social, portanto é
possível não resistir às formas conservadoras de organização e gestão
escolar, bem como é possível adoptar formas alternativas, que
contribuam para uma escola democrática ao serviço da formação de
cidadãos críticos e participativos da transformação das relações sociais
presentes. (2005, p. 328)
Neste contexto, é óbvio que a figura do director ou gestor se torna
imprescindível para promover a gestão democrática, convocando toda a comunidade
para participar para a sua função social: a formação da personalidade dos educandos.
Desta forma, o director ou o gestor tem um responsabilidade única na
mobilização das pessoas para a rentabilização eficaz das actividades, pois implica
intencionalidade, definição de um rumo educativo, tomada de posição ante objectivos
escolares, sociais e políticos, em uma sociedade concreta.
33
Neste sentido, Libâneo (2005, p. 332) chama atenção para os seguintes
aspectos:
• é importante que a praxis do director tem papel significativo da
organização do trabalho de uma escola;
• é indiscutível a importância da discussão colectiva e autonomia para
gestão democrática;
• é preciso que a instituição escolar esteja sob boa coordenação e
administração”;
• finalmente, é preciso entender o papel do director como líder
cooperativo, que consegue aglutinar as aspirações, os desejos, as
expectativas da comunidade escolar e articula a adesão e a participação
de todos.
Focar a gestão escolar com ações democráticas significa a permanente absorção
de fins pedagógicos para que a escola possa almejar a sua função social. E, sendo
assim, é preciso considerar a educação como processo de apropriação da cultura
humana produzida historicamente, e a escola, como instituição que provê a educação
sistematizada. É importante ter claro que ao falarmos em objetivos de escola pública,
os mesmos tenham seu atendimento voltado às camadas trabalhadoras.
Vários autores − Santos Filho (1998), Bordignon e Gracindo (2000), Libâneo
(2007), Lück (2007), Paro (2008), Vasconcellos (2009), Burak e Flack (2011), e Cattani
e Hozlmann (2011) − defendem uma gestão escolar democrática em que a
colectividade possa se manifestar através da participação efectiva nas decisões e
acções da escola. Participação e autonomia são, segundo esses teóricos, fatores
fundamentais para que a escola construa um espaço de gestão escolar democrática. A
partir desse conceito, compreendem também que a figura do director muda do
administrador para o líder democrático, que busca ser um integrador da comunidade
escolar, almejando ser também um conciliador das diversas opiniões e anseios desse
grupo.
1.12. As funções do director da escola
O director da escola deve ser um quadro que faz cumprir os objectivos da educação
assinalados pelo governo. O director responde perante o governo sobre o cumprimento dos
34
objectivos e tarefas da educação e assegura a materialização das orientações dimanadas por
essas estruturas. Na sua qualidade de dirigente coordena a actividade das organizações de
comissão de pais como elementos da comunidade.
1. Função técnica: o director da escola é um organizador e controlador da
actividade docente-educativa, que assegura a materialização dos planos
e programas de trabalho e das demais orientações de carácter
metodológico. Por isso ele deve orientar tecnicamente os professores,
assistir às aulas, controlar o processo de avaliação, analisar os índices
dos rendimentos escolares e dirigir o trabalho das comissões técnicas e
de direcção da escola.
2. Função administrativa: o director da escola é o responsável pelo
controlo do trabalho de todo o pessoal docente e dos serviços, exigindo
o cumprimento do horário de trabalho. Ele deve velar pelo correcto uso
do material e equipamento, pelo embelezamento e limpeza da escola,
pelo respeito à propriedade social, e pelo controlo do património
escolar.
1.12.1. Princípios fundamentais de direcção da escola
Para dirigir bem a escola e gerir correctamente o processo docente-educativo,
o director deve observar os seguintes princípios:
• O princípio das decisões do colectivo e responsabilidade individual. Este é o
princípio da educação única com a tomada de decisões colectivas. Embora o
director seja o único responsável da escola, ele deve dirigir na base da
colaboração com outras estruturas técnicas e de direcção da escola. Por isso,
para a tomada de decisões o director deve consultar as estruturas, auscultar a
sua opinião para que essas decisões possam reflectir as experiências e critérios
de todo o colectivo escolar.
• O princípio da organização prática das tarefas. Assegura a organização e o
controlo do cumprimento das tarefas por todos os membros da escola. Como
dirigente, o director deve organizar o seu trabalho e ajudar a organizar o
trabalho das outras estruturas para que funcionem devidamente e cumpram as
tarefas. Na base desta organização, o director confia nas estruturas e dá-lhes
a autonomia para realizarem as tarefas planificadas.
35
• O princípio da comprovação das tarefas. O director deve assegurar o
cumprimento das tarefas planificadas por cada estrutura da escola e, para isso,
cria os mecanismos de controlo necessário para acompanhar o trabalho que se
realiza. O controlo deve obedecer aos seguintes requisitos:
- Ser sistemático para acompanhar de perto todo o desenrolar dos trabalhos.
- Fazer o controlo com maior profundidade para chegar à essência dos
problemas.
- Possibilitar ajuda necessária para se melhorar o cumprimento das tarefas.
- Incluir formas de controlo adequadas e eficazes.
Esses princípios asseguram uma correcta gestão da escola, a organização do
trabalho e o controlo do cumprimento das tarefas planificadas.
1.12.2. O plano de trabalho do director da escola
O trabalho do director da escola é muito complexo e realiza-se em várias
direcções. Por isso ele deve planificar e organizar minuciosamente as suas
actividades para que possa atender todas as estruturas e órgãos que dirige.
A planificação do director deve incluir as tarefas fundamentais, os objectivos
e as datas de realização para que ele se oriente na imensidão de problemas que deve
actuar. Através do plano o director pode prever todas as actividades, realizar,
coordenar o trabalho dos órgãos e estruturas e fazer o controlo do cumprimento das
tarefas a eles incumbidas.
a. A elaboração do plano anual da escola
O plano anual de actividade da escola é um documento fundamental de
trabalho. A base para sua elaboração é:
- Objectivos gerais e os princípios de educação.
- O conteúdo dos documentos governamentais.
- As exigências da sociedade e da formação.
- Análise dos resultados do período anterior.
b. Exigências do plano anual
- Ter uma estrutura clara e ser pouco volumoso.
36
- Deve ser real, concreto e conter as tarefas principais.
- Deve prever as responsabilidades e prazos.
- Deve indicar as formas de controlo.
c. Anexos ao plano anual de actividades da escola
1 – Plano das reuniões:
- Do conselho de direcção
- Do conselho científico-pedagógico
- Do director com os responsáveis da escola.
2 – Plano de actividades extra-escolares
3 – Plano de superação dos professores
4 – Calendário escolar
De acordo com o nível de ensino, a complexidade de trabalho e as condições
das escolas, podem constituir-se os seguintes órgãos técnicos e de direcção da escola.
a) Conselho de direcção
b) Conselho científico-pedagogico
c) Conselho disciplinar
d) Conselho de pais
Analisemos agora as funções e métodos de trabalho de cada uma dessas
comissões técnicas.
a) O conselho de direcção
É um órgão de consulta do director para as questões administrativas e
organizativas.
As suas funções dizem respeito à análise de problemas docentes e
administrativos que afectam o processo docente-educativo, tais como:
Cumprimento das orientações superiores, regime diário dos horários,
irregularidades do processo de ensino e de avaliação, situação de disciplina escolar e
da assistência às aulas.
Este órgão é presidido pelo director e integra os subdirectores e os
representantes das várias estruturas e os delegados de classe como representantes dos
alunos.
37
b) O conselho científico-pedagógico
É a assembleia-geral de todos os professores, sob a direcção do director, sendo
ao mesmo tempo o seu órgão consultivo mais importante. A composição deste conselho
é a seguinte:
- Director da escola seu presidente.
- Coordenadores de disciplina.
- Directores de turma e de classe.
- Presidente do conselho de pais.
As suas principais tarefas ligam-se ao aconselhamento do director, análise e
discussão dos resultados do trabalho pedagógico, a planificação do processo docente-
educativo, a explicação das tarefas pedagógicas, a superação dos professores, análise
da cooperação com o conselho de pais e a crítica colectiva dos erros para melhorar o
trabalho pedagógico.
A planificação do trabalho do conselho científico-pedagógico rege-se pelas
orientações gerais quanto aos seguintes aspectos:
- Actividade docente e cumprimento dos programas.
- Trabalho de superação dos professores nos grupos.
- Desenvolvimento do colectivo escolar.
- As actividades extra-escolares.
- Cooperação com a família e a comunidade.
O conselho científico-pedagógico reúne 2 a 4 vezes por ano e as suas reuniões
devem ser previamente preparadas, estabelecendo-se quais os membros que
apresentarão os informes, temas para debate e quais os que farão análise dos
problemas.
É muito importante estabelecer previamente a ordem de trabalhos para que
todos os membros se preparem e participem activa e conscientemente na reunião.
c) O conselho disciplinar
É o órgão de apoio ao director para as questões disciplinares e laborais.
As suas funções são as de analisar os problemas relacionados com a indisciplina
laboral docente ou discente, ou seja, os problemas quanto ao cumprimento das leis
38
laborais, das normas de trabalho e dos regulamentos da escola. Este conselho é
composto por:
- Director da escola que o preside
- Subdirectores.
- Secretário da comissão sindical
- Representante dos alunos
- Directores de disciplina e de classe
- Representante dos pais.
O conselho disciplinar reúne mensalmente para analisar os problemas
decorrentes do cumprimento das leis, normas e regulamentos e propor as medidas para
sancionar os actos registados: castigar os maus e louvar os bons. Os critérios de
trabalho e sancionamento devem estar de acordo com as orientações superiores e as
leis vigentes.
d) O conselho de pais
É a reunião de pais dos alunos de uma turma. Existe ainda o conselho de pais
da escola, formado pelos pais eleitos em cada turma e presidido pelo director ou seu
representante. As funções deste conselho são:
- Analisar os problemas da educação dos alunos.
- Prestar informações aos pais sobre o trabalho e o comportamento dos seus
filhos.
- Analisar formas de colaboração entre os pais e a escola.
- Realizar a instrução pedagógica dos pais pelos professores.
- Promover a troca de experiência na educação das crianças.
- Auxiliar os professores a organizar as actividades extra-escolares.
Este conselho deve reunir mensalmente para elaboração do seu plano de
actividades, controlo de tarefas programadas e análise dos problemas da educação e
do ensino das crianças.
39
1.12.3. Um novo papel do director na gestão da escola
Na gestão democrática, existem alguns mecanismos de participação que são
fundamentais para a sua efetivação. É fundamental que a escola possa, pela sua função
social, ser um espaço de sociabilidade e socialização do conhecimento e também de
inserção dos sujeitos nas relações sociais. Necessário se faz que se tenha claro que o
facto da Gestão Democrática pressupor participação não significa que a mesma irá
resolver os problemas da escola.
Neste sentido é colocado por Gadotti (2004), que não podemos pensar que a
gestão democrática resolverá todos os problemas de Ensino ou da Educação: mas a sua
implementação é, hoje, uma exigência da própria sociedade que a enxerga como um
dos possíveis caminhos para a democratização do poder na escola e na própria
sociedade. Ainda para este mesmo autor: Outro aspecto que merece destaque é o facto
de que a actual prática de gestão nas escolas acaba exigindo dos directores uma
dedicação maior, e às vezes plena, às questões administrativas, obrigando-os a tornar
secundário o aspecto mais importante de sua atuação, ou seja, a sua responsabilidade
em relação a questões pedagógicas e propriamente educativas, que se reportam à
sociedade como um todo, e, especificamente à sua comunidade escolar (Idem, p. 92).
É imprescindível que o Director aborde os espaços de acção colegiada no
Projecto Político Pedagógico (Conselho Escolar, Conselho de País, de alunos, etc.),
como um mecanismo que pode fazer a diferença. Assim, uma das tarefas do dirigente
escolar deve ser de implementação das propostas do PPP da qual ele e sua
comunidade escolar também faz parte. Segundo esta visão, para os que se propõem
assumir a direcção escolar devem desenvolver um conjunto de competências, tais
como apoiar as equipes de trabalhos, manter bom relacionamento com as pessoas
envolvidas directa e indirectamente no processo escolar, incentivar a formação
continuada e administrar os recursos físicos, materiais e patrimoniais. Ou seja, o
director deve dirigir, coordenar e assumir no grupo o compromisso para que a
escola funcione no trabalho conjunto, numa construção colectiva.
A gestão escolar não se reduz apenas a dimensão técnica, mas também como
acto político, pois implica em tomada de decisões dos envolvidos (pais, alunos,
professores, funcionários). A gestão democrática presume uma construção colectiva
que pressupõe discussão e participação nas tomadas de decisões, nas formas de
organização e gestão, mecanismos de distribuição de poder, etc. Cabe ao gestor
40
possibilitar abertura para participação assim como cabe aos envolvidos uma
participação mais efectiva.
É preciso que na organização do trabalho se busque pela autonomia, isto é, que
a escola construa o seu próprio PPP, que se tenha abertura, um canal de participação,
que exista a transparência administrativa, a democratização das informações e que
seja feita avaliação permanente do desempenho escolar. Necessário se faz novas
formas de organização e efectivação das acções. Que sejam cultivadas relações que
valorizem normas de convivência, que sejam respeitados limites individuais e
colectivos, que a escola seja uma construção dinâmica pautada num trabalho colectivo
primando pela função social, tendo o director como articulador, mediador e facilitador
neste processo, pois, em relação ao sistema hierárquico e a relação de poder.
Assim, o papel e a atuação do director no contexto educacional é contraditório
e difícil. Além das determinações do Estado, que deve cumprir como responsável pela
instituição deve ter competência técnica, o que nem sempre é garantido na sua
formação.
Mas uma coisa é certa, o director deve ser o mediador para que na soma dos
esforços, possa, com a comunidade, implantar e desenvolver práticas e acções
compartilhadas, que contribuam para as decisões colectivas que fortaleçam a
participação efectiva da comunidade. Somente assim, poderemos efectivar a sonhada
e utópica gestão escolar democrática.
Desse modo, considerando que o Gestor Escolar ocupa papel relevante no dia a
dia da escola, pois a ele cabe organizar o trabalho pedagógico que contribua para uma
aprendizagem efectiva por parte dos alunos bem como gerir as diversas demandas
impostas em relação aos aspectos administrativos, financeiros, humanos das escolas,
entendemos ser necessário conhecer e analisar a legislação (consultar decreto
presidencial) que trata da sua actuação, bem como os programas e projectos que têm
por finalidade promover a formação do gestor escolar.
Nesse sentido, consideramos que a formação do gestor escolar, ou a falta da
mesma, possui implicações positivas ou negativas na organização do trabalho
pedagógico e administrativo das escolas, sendo inclusive um dos factores que podem
influenciar no desempenho escolar dos alunos.
Inicialmente cabe esclarecer que gestão é “[...] actividade pela qual são
mobilizados os meios e procedimentos para atingir os objectivos da organização,
41
envolvendo, basicamente, os aspectos gerenciais, os aspectos gerenciais e técnico-
administrativos” (LIBÂNEO et al, 2008, p. 318). Com base nesse entendimento, a
direcção põe em acção as decisões tomadas colectivamente e coordena o trabalho
escolar, de modo que ele seja desenvolvido da melhor forma possível.
Sobre as atribuições do gestor escolar, Libâneo (2004) descreve que ele deve:
1. Supervisionar e responder por todas as actividades administrativas e
pedagógicas da escola bem como as actividades com os pais e a
comunidade e com outras instâncias da sociedade civil;
2. Assegurar as condições e meios de manutenção de um ambiente de
trabalho favorável e de condições materiais necessárias à consecução
dos objectivos da escola, incluindo a responsabilidade pelo patrimônio
e sua adequada utilização;
3. Promover a integração e a articulação entre a escola e a comunidade
próxima, com o apoio e iniciativa do Conselho de Escola, mediante
actividades de cunho pedagógico, científico, social, desportivo,
cultural;
4. Organizar e coordenar as actividades de planeamento, juntamente com
a coordenação pedagógica, bem como fazer o acompanhamento,
avaliação e controle de sua execução;
5. Conhecer a legislação educacional e do ensino, as normas emitidas
pelos órgãos competentes e o Regulamento Escolar, assegurando o seu
cumprimento;
6. Garantir a aplicação das directrizes de funcionamento da instituição e
das normas disciplinares, apurando ou fazendo apurar irregularidade de
qualquer natureza, de forma transparente e explícita, mantendo a
comunidade escolar sistematicamente informada das medidas;
7. Conferir e assinar documentos escolares, encaminhar processos ou
correspondências e expedientes da escola, de comum acordo com a
secretaria escolar;
8. Supervisionar a avaliação da produtividade da escola em seu conjunto,
incluindo a avaliação do projecto pedagógico, da organização escolar,
do currículo e dos professores;
9. Buscar todos os meios e condições que favoreçam a actividade
profissional dos pedagogos especialistas, dos professores, dos
funcionários, visando à boa qualidade do ensino;
42
10. Supervisionar e responsabilizar-se pela organização financeira e
controle das despesas da escola, em comum acordo com o Conselho de
Escola, pedagogos especialistas e professores (LIBÂNEO, 2004, p. 217).
No que diz respeito a essas atribuições, cabe destacar o papel significativo do
gestor na gestão da organização do trabalho e do espaço escolar para a melhoria da
qualidade do ensino, não devendo ater-se apenas aos aspectos administrativos,
financeiros, mas, sobretudo, pedagógicos.
O gestor tem papel fundamental para que a escola cumpra sua função social,
ou seja, de assegurar que os alunos se apropriem dos conhecimentos científicos e
culturais. Nesses termos sua atuação terá que se dar no sentido de planear e organizar
e dar direcção do trabalho escolar.
Nesses termos, o director possui um papel fundamental na organização
colectiva do trabalho pedagógico da escola a fim de promover a função social e a
especificidade da educação escolar, de modo a dar intencionalidade ao acto educativo.
1.12.4. O trabalho do director com os seus
colaboradores
a) O subdirector administrativo
Cabe ao subdirector administrativo assegurar o funcionamento do trabalho
administrativo da escola que consta do controlo laboral de todos os trabalhadores
(assiduidade, pontualidade, salários, cumprimento das leis) e o controlo de matrículas
(inscrição, anulações, livros de registos).
Assim o subdirector administrativo apoia-se no chefe da secretaria e ao
contabilista na elaboração do plano de actividades.
b) O subdirector pedagógico
Compete ao subdirector pedagógico:
- Organização das direcções de turmas.
- Organização da coordenação de disciplina.
- Assistência às aulas dos professores.
- Avaliação do trabalho dos professores.
43
- Controlo da estatística escolar.
- Elaboração de horários e calendários de provas.
- Elaboração do material didáctico.
- Organização das actividades extra-escolares.
O subdirector pedagógico trabalha com os directores de turma e os
coordenadores de disciplina.
c) O trabalho com os coordenadores de disciplina e de classe
Para conseguir um bom nível de trabalho pedagógico e criar atmosfera criadora
e responsável, o director da escola deve ter encontros com os coordenadores de
disciplinas para:
- Analisar o nível do rendimento escolar.
- Ter o ponto de situação de ensino das várias disciplinas.
- Conhecer os principais problemas de ensino.
- Orientar os coordenadores e capacitá-los para o seu trabalho.
Os coordenadores de disciplina elaboram os seus planos de trabalho onde
poderão constar fundamentalmente as seguintes actividades:
- Planificação do programa didáctico.
- Elaboração de planos de aulas.
- Visitas e assistências às aulas.
- Elaboração e correcção das provas de avaliação.
- Análise dos resultados do aproveitamento escolar.
- Análise de situações particulares do ensino.
-Discussão de temas de carácter científico e metodológico.
- Formas de superação permanente dos professores.
- Prestação de informações sobre os professores.
- Promoção de troca de conhecimentos e experiências.
Este colectivo é formado por todos os professores de uma mesma disciplina
e é dirigido por um coordenador, escolhido entre os professores pela sua antiguidade
e capacidade. Este grupo tem a função de assegurar a gestão do ensino de uma
determinada disciplina, garantir o cumprimento do programa, dos calendários de
avaliação e assegurar o bom nível das aulas dos professores.
44
Este grupo trabalha na base de um plano onde constatam as principais
actividades e os prazos de realização das aulas.
O trabalho em grupo garante a troca de experiência, a uniformização do
trabalho e o aperfeiçoamento do processo de ensino.
O coordenador deste grupo reúne periodicamente com o director da escola e
o subdirector pedagógico para receber orientações e prestar informações sobre o
desenvolvimento do processo docente-educativo.
O coordenador do grupo elabora o plano da assistência às aulas e assegura o
seu cumprimento pelos professores indicados.
d) O trabalho com os directores de turma
O director deve ter encontros regulares com os directores de turma e de
classe para acompanhar o trabalho docente-educativo que se realiza nas turmas,
conhecer os problemas existentes e orientar as medidas necessárias.
Aos directores de turma compete:
- Controlar a pontualidade e assiduidade dos alunos.
- Assegurar a organização das turmas.
- Resolver os problemas particulares dos alunos.
- Presidir o conselho de pais e o de notas.
- Acompanhamento do trabalho extra-escolar da turma.
- Realizar os conselhos de turma com os professores.
- Reunir com os pais para análise dos problemas dos filhos.
e) ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR EM ANGOLA
Em Angola a estrutura da Organização e Gestão Escolar assume a seguinte
forma:
- Nível central
- Nível provincial
- Nível municipal e comunal
Ao nível central: a esse nível está o ministério da educação que dinamiza as
políticas educativas do país. O mesmo possui um organigrama natural para funcionar
45
os subsistemas do ensino em Angola em face da reforma educativa como se pode
constatar a seguir.
• Subsistema do ensino Pré-escolar.
• Subsistema do ensino geral; direcção nacional para o ensino geral.
• Subsistema do Ensino de Adultos; Direcção Nacional para o Ensino e
formação de quadros.
• Subsistema do Ensino Técnico Profissional; Direcção Nacional para o
Ensino Técnico Profissional.
• Subsistema de formação de professores; Direcção Nacional de quadros.
• Subsistema do Ensino Superior; secretaria para o Ensino Superior.
Além disso, existem Direcções Nacionais e respectivos departamentos, como
por exemplo:
• Direcção Nacional para os recursos humanos.
• Departamento Nacional para o planeamento e gestão.
• Departamento Nacional do protocolo.
• Gabinete jurídico.
• Secretaria-geral.
• Gabinete do Ministro.
• Gabinete do Vice-Ministro pela área social e muitas outras áreas.
A nível provincial: a estrutura educacional a esse nível é a seguinte:
• Direcção Provincial da educação.
• Departamento da Educação.
• Departamento da Ciência e Tecnologia.
• Departamento dos Recursos Humanos.
• Área da Inspecção.
• Área dos Materiais.
• Secção Administrativa.
• Secretaria Geral.
• Área do Ensino Especial.
Ao nível Municipal e Provincial: A esse nível estão as repartições Municipais e
Provinciais da Educação cuja estrutura depende da realidade objectiva de cada área.
O facto estrutural estende-se às escolas que devem afigurar-se da seguinte forma:
46
- Escola Primária com 3 salas de aulas deve ter 1 Director e professores, não há
necessidade de um subdirector.
- Escola Primária com 6 salas de aulas deve ter 1 Director, Subdirector
Pedagógico, Subdirector Administrativo para além do pessoal administrativo.
Todos os Directores e Subdirectores Pedagógicos devem dar aulas embora com
tempos reduzidos para estarem actualizados, evitando-se assim a falta de
compromisso.
A escola é dirigida pelo Director segundo o princípio da responsabilidade
individual. Na realização das suas tarefas, ele coopera com os colaboradores no
processo de trabalho, ou seja, o processo de ensino na escola.
A base do trabalho do Director com os seus colaboradores é a planificação das
actividades para o ano escolar, a atribuição de tarefas específicas e o controlo
sistemático dessas actividades pelo Director.
Nos encontros entre o Director da escola e os Directores Adjuntos, ele
informa-se sobre as orientações recebidas e sobre as principais questões da direcção
da escola e recebe informações sobre os problemas do trabalho e sobre o
cumprimento das tarefas, ajudando-os a resolver os problemas do trabalho e as
tarefas programadas.
Por sua vez, os Subdirectores devem trabalhar com o pessoal a eles afectos
para o cumprimento das tarefas planificadas.
De acordo com as orientações, necessidades e complexidade do trabalho,
poderão existir dois Subdirectores.
No início de cada ano lectivo, o Director reúne em separado com cada um dos
Subdirectores para traçarem as direcções de trabalho e as tarefas fundamentais a
desenvolver por períodos determinados.
47
1.13. As estratégias de coordenação do trabalho e de
participação na gestão da escola
A coordenação do trabalho escolar e a participação de todos no processo de
gestão escolar implica ter presente um pomprometimento. Segundo Libâneo (2001) em
administração escolar, uma escola comprometida com a transformação social precisa
de lançar mão de princípios, métodos e técnicas adequados à especificidade dos seus
objectivos e à especificidade do processo pedagógico escolar.
Dessa forma, na natureza dos fins buscados pela escola são imprescindíveis os
conhecimentos, as técnicas e instrumentos que assegurem a utilização racional de
recursos materiais e conceituais, sempre avaliados pela prática reflexiva, assim como
a garantia da coordenação do esforço humano colectivo através da participação
colectiva.
Libâneo (2001) defende para coordenar o trabalho escolar e a participação na
gestão da escola é preciso ter em conta os seguintes aspectos:
a. para um razoável desempenho do pessoal escolar, em especial do corpo
docente, é necessária a posse de um conjunto de conhecimentos,
técnicas e habilidades em níveis e padrões que possibilitem o
oferecimento de um ensino de boa qualidade a um número maior de
alunos;
b. as pessoas envolvidas na administração da escola deverão exibir uma
competência, técnica que deve dizer respeito tanto ao conhecimento
da coisa administrada, ou seja, aos aspectos mais propriamente
pedagógicos, quanto aos processos, métodos e técnicas relacionados á
actividade administrativa;
c. a coordenação do esforço de funcionários, professores, pessoal técnico
pedagógico, alunos e pais, fundamenta-se na participação colectiva, é
de extrema relevância na instalação de uma administração democrática
no interior da escola;
d. o educador deve ter não apenas com os aspectos mais propriamente
pedagógicos da escola, mas também com os métodos e técnicas
administrativos mais adequados à promoção da racionalidade interna e
externa da mesma;
48
e. é importante que todos saibam os princípios e os métodos de uma nova
administração, que esta identificada com os interesses da classe
trabalhador.
Libâneo (2001, p. 225) apresenta alguns procedimentos e técnicas para a
viabilização do trabalho escolar:
1. Reuniões de professores;
2. Entrevistas;
3. Seminário;
4. Modelo clínico de formação contínua;
5. Etapas para a elaboração de projectos.
Por reunião de professores, entende-se o encontro formal entre a direcção, a
coordenação pedagógica e os professores para trocar ideias e tomar decisões sobre
questões pedagógicas, administrativas e financeiras da escola. A reunião é uma
necessidade da organização escolar, mas também é um espaço de formação contínua,
de comunicação e de construção colectiva da organização e gestão da escola, de
promoção da participação.
A entrevista na escola é um encontro de duas ou mais pessoas interessadas em
melhorar uma situação, um problema, para se chegar a uma conclusão. É importante
destacar que a entrevista deve centrar -se na análise da situação ou na solução do
problema e não em uma ideia das pessoas envolvidas.
Seminário é o estudo de um tema juntamente com outras pessoas, em reuniões
previamente planeadas. A ideia básica dessa técnica é promover a aprendizagem activa
entre os membros (professores, alunos, pais), num clima de colaboração recíproca.
Modelo clínico de formação contínua é assim chamado por se tratar de
trabalho preventivo de orientação do professor na sala de aula permitindo a prática
reflexiva sobre o trabalho em desenvolvimento para que as dificuldades encontradas
sejam superadas. O modelo clínico pode ser aplicado a um ou mais professores, sendo
melhor ser feito com o grupo todo.
O projecto é o resultado de um processo de planeamento e negociação entre
os membros da equipa escolar. Cabe aos dirigentes das instituições ter lucidez e
competência para formular as melhores estratégias de introduzir a prática do projecto.
Um bom diagnóstico da situação, levando junto com a equipe, pode ser um bom
49
começo de conversa, de forma a estabelecer uma ponte entre a situação actual e os
cenários desejáveis para o cumprimento dos objectivos do mesmo.
De acordo com Libâneo (2001, p. 237), “o projecto político - pedagógico da
escola é um instrumento importante e uma das estratégias fundamentais para os
gestores escolares porque permite o envolvimento dos professores, alunos, pessoal
administrativo e pais e encarregados de educação na resolução dos problemas da
escola”.
1.14. Estratégias para aplicar a gestão escolar
Aplicar a gestão escolar em uma instituição de ensino pode ser um desafio.
Muitas organizações já utilizam um determinado plano pedagógico há muito tempo e
mudar uma realidade pode trazer certa resistência. Elencamos abaixo 4 dicas de como
implantar uma gestão escolar de forma eficiente.
1.14.1. Planeamento
O primeiro passo é o planeamento. Para tudo que fazemos, é necessário planear
com antecedência para evitar surpresas desagradáveis e, com a gestão escolar, não é
diferente. É importante buscar listar todas as mudanças que serão realizadas e criar
um cronograma de adaptação, evitando que uma alteração brusca na rotina de alunos
e corpo decente possa ter influências negativas.
1.14.2. Atenção às mudanças
Vivemos em uma era de contínuas mudanças e essa realidade também se aplica
ao meio pedagógico. O gestor deve estar atento as novidades que venham a surgir e
aberto para abraçar algumas dessas alterações. Isso auxilia na evolução do ambiente
escolar e na melhora dos resultados dos alunos como um todo, que estarão preparados
para lidar com os novos desafios impostos pela sociedade.
1.14.3. Treinamento e capacitação
Uma das principais dificuldades de inserir uma mudança no modo de gestão de
uma instituição de ensino é a resistência do corpo docente e demais profissionais que
desenvolvem as atividades de apoio da organização. É preciso demonstrar aos
colaboradores o valor agregado por uma mudança tão grande e isso pode ser
50
conquistado por meio de treinamentos, capacitações, palestras e eventos voltados
para a gestão escolar.
1.14.4. Descentralização da gestão
Um erro cometido por muitos gestores de instituições de ensino é tomar par si
toda a responsabilidade acerca de qualquer assunto relacionado a instituição, desde o
conteúdo pedagógico até uma determinada reforma no ambiente escolar. No entanto,
manter sobre si o peso de todas as decisões pode sobrecarregar o administrador, além
do facto de que ninguém tem conhecimentos apropriados para tomar as melhores
decisões em todos os assuntos.
O ideal é dividir a responsabilidade e delegar decisões simples a outros
colaboradores, realizando a descentralização da gestão. Essa ação facilita o melhor
gerenciamento dos recursos e permite que o gestor demande um maior tempo para
atividades estratégicas.
A gestão escolar tem papel fundamental para melhorar os resultados de uma
instituição de ensino.
51
PARTE II – INSPECÇÃO ESCOLAR
A Inspeção escolar faz parte da administração da educação. Ela pertence aos
componentes do “staff”, conforme ditam todas as teorias de administração de
empresas e as decorrentes transposições para a educação. A inspeção escolar foi e,
ainda é hoje, uma forma de expressão política que se confunde com o conceito de
supervisão e, ambas, constitui-se em elementos da gestão da educação.
2.1. Definição
A inspeção é a acção de olhar. É o exame; fiscalização. Responsabilidade de
vigiar, superintender. É também o cargo, emprego de inspector. Para Augusto (2010),
inspector é aquele que inspecciona, examina, verifica, exerce vigilância, fiscaliza. As
acções do inspector compreendem basicamente na verificação das obrigações legais
prescritas, das instituições e pessoas que as integram, assim como, as restrições e
proibições de acções, tendo em vista o funcionamento correcto e legal dos serviços.
Segundo Lawn (2001), a inspecção é uma das ferramentas que regula e controla o
funcionamento das escolas.
Augusto (2010), apresenta a inspecção como uma maneira de prevenir e corrigir
desvios e disfunções no sistema. Ela pode também colaborar na revisão crítica das
normas e práticas institucionalizadas. A inspecção é uma prática educativa que se
reveste de forte cunho político e acentuado carácter pedagógico. A inspecção cuida
da organização e funcionamento das escolas em todos os seus aspectos. Assim, cabe à
inspecção vigiar e controlar, bem como, avaliar, orientar, corrigir, contribuindo
para a melhoria da qualidade do ensino.
O Inspector exerce as suas funções no estabelecimento de ensino sem estar
vinculado a ele, actualmente, é um profissional do órgão de tutela, seja a nível
ministerial, provincial ou municipal da educação. De acordo com Saviani (2002), o
inspetor era nomeado de diferentes modos ao longo da história de acordo com sua
situação hierárquica e função.
De acordo com Augusto (2010), a inspecção precisa ser vista como um processo
de mediação e suas acções devem estar fundamentadas em uma conduta ética,
deontológica, para evitar assim, as decisões arbitrárias dos inspectores. Esta conduta
contribuiria para uma nova definição das acções do inspector, que estaria orientado
52
para exercer a função de acompanhador e formador, diferente daquela de controlador
e vigilante.
2.2. O sentido e a tarefa da inspecção escolar
A inspecção escolar é uma das regras (leis), métodos de trabalho e regime do
gestor escolar a nível nacional. Permite aumentar a rendimento do trabalho do gestor
escolar na acção educativa e direcção científica do processo docente educativo.
A formação permanente do homem, fundamentalmente na escola, requer dos
seus dirigentes (responsáveis), um alto nível de desenvolvimento da gestão educativa,
que eleve a qualidade e capacidade profissional dos quadros da educação e as
condições da escola para a realização das suas tarefas. Isto compete
fundamentalmente ao controlo, uma das formas mais importantes da inspecção
escolar.
A inspecção escolar ajuda a educação a desenvolver correctamente os seus
programas, segundo a linha político-educativa do País (Governo). Ela permite sempre
uma comparação entre a exigência social e a realização alcançada.
O simpósio Europeu sobre inspecção escolar realizado em Junho de 1985, em
Madrid, definiu inspecção como: “aquela instituição mediante a qual, o Estado através
de um órgão técnico profissionaliza, comprova como se realiza o processo educativo
em cada uma das instituições escolares”.
2.3. A inspecção como forma fundamental de controlo
A inspecção escolar pode ser entendida como sinónimo de Observação, controlo
e verificação, podendo neste sentido, ser vista como um processo de investigação do
estado de trabalho, nas instituições docente-educativas, de valorização do trabalho do
colectivo pedagógico e da eficiência das actividades pedagógicas, que se desenvolvem
nas escolas. Inclui também a elaboração das recomendações com vista a melhorar o
processo docente-educativo e elevar os índices dos resultados do trabalho pedagógico.
A inspecção é uma das formas mais efectivas e directas de exercer o controlo
educativo escolar. Constitui a via principal para obter informações objectivas sobre o
53
cumprimento dos planos, medidas, orientações sobre os êxitos, dificuldades e
deficiências que existem no desenvolvimento da acção educativa e sobre as
experiências e melhorias das escolas e centros educativos. A inspecção permite saber
se as orientações superiores são cumpridas e se há problemas na sua aplicação prática.
A inspecção escolar é a principal forma de controlo que o Ministério da
Educação tem para fazer cumprir a política educativa do País, para saber se se
cumprem as leis, as orientações e para ajudar a aplicá-las.
A inspecção escolar constitui um elo entre a instrução, o apoio e o controlo.
Esta unidade caracteriza a essência da inspecção e o seu modo de trabalho na
sociedade moderna. A instrução materializada nas orientações é o pressuposto para o
controlo, é a base da comparação entre o que é e o que deveria ser.
O apoio acompanha e aprofunda o processo de controlo, ou seja, permite
realizar as medidas anteriormente orientadas e melhorar os métodos de trabalhos
posteriores.
Explicação: Ministério da Educação – decisão – instrução – apoio – resultado
– controlo.
Ciclo da gestão social:
1- Elaborar a orientação, a linha política.
2- Velar pelo cumprimento das orientações
3- Valorizar o resultado.
A característica fundamental da inspecção escolar é a unidade entre a
instrução, o apoio e o controlo.
2.4. Objectivos, tarefas e importância da inspecção escolar
A inspecção escolar tem como objectivos:
1. Investigar o estado do trabalho e da organização das instituições para relevar
os êxitos e fracassos, visando assegurar a obra educativa para que se desenvolva
correctamente a linha educativa do Governo e se faça cumprir correctamente
as tarefas do ano lectivo traçadas pelo Ministério da Educação.
54
2. Analisar o cumprimento das orientações superiores e formular recomendações
com vista a melhorar o processo docente-educativo na escola e elevar o êxito
de gestão e direcção dos diferentes níveis e elevar o espírito de
responsabilidade, disciplina, a qualidade da personalidade, em especial a dos
quadros da educação.
3. Ajudar a elevar os níveis de gestão superior, o que compreende exactamente a
verificar o estado do trabalho das escolas, para melhorar e corrigir as
orientações superiores.
Em resumo, o principal objectivo da inspecção escolar é o de salvaguardar a
política educacional estabelecida pelo Governo e materializar as orientações do
Ministério da Educação. Por isso, à inspecção compete a função de controlo da
actividade docente-educativa, em geral, segundo os objectivos políticos preconizados
pela realidade da sociedade.
2.5. As tarefas da inspecção escolar
- Impulsionar o cumprimento das decisões superiores, examinar a
qualidade e quantidade do produto obtido, em comparação com a finalidade do
nível de partida, da norma e critério.
- Descobrir os pontos fortes que se devem preservar, os pontos fracos
que são necessários corrigir a tempo. Colher, investigar e comunicar os métodos
e procedimentos progressistas, e as boas experiências avançadas no trabalho.
- Recolher as informações inversas para regular a actuação de gestão,
verificar o poder de decisão e descobrir os factos que ocorrem no processo do
cumprimento da decisão tomada.
- Controlar os quadros, avaliar os quadros e qualificá-los para
responderem às exigências da realidade.
A inspecção escolar realiza ainda as tarefas técnicas ligadas à instrução
do pessoal docente, quanto ao cumprimento das decisões e orientações
superiores. Por isso, deve estar presente para acompanhar e apoiar a realização
55
das medidas pelos funcionários da educação e capacitá-los quanto à realização
das suas tarefas na escola.
2.6. Importância da inspecção escolar
• A inspecção escolar é um instrumento do Estado que visa defender
os interesses da revolução social no processo de construção da
nova sociedade, por isso a inspecção escolar é o principal
instrumento do Ministério da Educação para velar pelos interesses
do povo e materializar os seus objectivos educativos.
• A inspecção escolar garante a realização plena e eficaz dos
objectivos da política educacional, combatendo as tendências
maléficas na educação.
• A inspecção escolar é um direito/dever e uma parte fundamental
da democracia social, através do qual o Estado apercebe-se do
cumprimento das decisões de diversos níveis e se convence da
realização dos seus planos.
• O controlo sistemático e preventivo que é realizando pela
inspecção, cria as condições necessárias para a educação do
colectivo pedagógico, garante do cumprimento cabal e criador das
orientações superiores.
• Através da inspecção, o sistema de órgãos de direcção do trabalho
escolar obtém constantemente uma informação objectiva sobre o
desenvolvimento do processo docente-educativo e analisa essa
informação, dá a possibilidade para corrigir no momento preciso
as deficiências e assegura correctamente a marcha do trabalho
escolar com objectivo de alcançar resultados cada vez melhores.
• A inspecção, é o elo importante e necessário no processo de
gestão e direcção educativa entre seus níveis para garantir o
desenvolvimento correcto da obra educativa, segundo a linha
política educativa do Estado.
56
A função nuclear da inspecção escolar consiste na análise e valorização técnica
do sistema escolar. Daqui decorre a função avaliadora que garante a qualidade do
ensino. Esta ideia de garantia social da supervisão sobre a educação funciona como
meio que permite cumprir o acordado, o consignado em convénios ou normas que em
sociedades modernas e desenvolvidas, configura-se em disposições legais de diferentes
formas.
2.7. O papel do inspector na sociedade actual
A história da educação mostra que no passado, o controle da qualidade do
ensino imposto pelo Estado, obedecia a padrões rígidos e o inspector escolar era
incumbido de exercer esse controle de forma rigorosa e pontual. Hoje, no entanto, o
que se busca é uma gestão democrática da educação, cujo controle é exercido com a
participação de toda a comunidade escolar.
Segundo Ferreira (s.n.), a concepção cultivada e defendida pelos educadores
da actualidade, é um controle colectivo da qualidade da educação, ou seja, por todos
os actores que integram o cenário educacional. Esse tipo de controle poderá assegurar
às escolas, a formação de cidadãos éticos e ricos de caráter.
Os novos paradigmas da educação exigem um novo perfil do inspector escolar,
que deve actuar em consonância com a nova realidade que a educação experimenta
actualmente. Ele terá que saber lidar com as mudanças culturais,
comportamentais, sociais e tecnológicas que vem surgindo.
Segundo Medina (2005) o inspector deve ser capaz de encontrar nos dispositivos
legais, os caminhos mais apropriados e as alternativas possíveis para alcançar seus
objectivos, garantindo assim a qualidade do ensino. Ele deve ter competência
suficiente para melhorar as condições de trabalho dos educadores, tornando mais
fértil e satisfatória a actuação desses profissionais.
O inspector escolar actualmente tem a função de proporcionar estreita ligação
entre órgãos do sistema educacional tais como Direcções Nacionais, Provinciais e as
Secções Municipais, visando garantir a aplicação da lei. Esse profissional tem
concentrado esforços para garantir o bom funcionamento das escolas nos aspectos
administrativos, financeiros e pedagógicos, trabalhando até mesmo como agente sócio-
político.
57
O papel do inspector é de articulação, integração e somente quando esse
profissional adquire uma postura de educador é que se torna capaz de ajudar a escola
na criação e desenvolvimento de projectos pedagógicos, que viabilizam o trabalho
integrador, no qual a instituição de ensino deverá estar empenhada com a participação
de todos que nela trabalham.
O papel do inspector escolar nos dias actuais é de representar os interesses do
Estado, garantindo que as políticas educacionais sejam efectivamente adoptadas pelas
instituições de ensino. Hoje o inspector é mais democrático, actuante e participativo
do quotidiano das escolas que estão sob a sua responsabilidade.
O inspector é um professor, com formação em pedagogia (agregação
pedagógica), assim, é um profissional preocupado com o processo de desenvolvimento
da educação. Esse profissional deve, portanto, preocupar-se com o processo de ensino-
aprendizagem e estar apto a compreender as funções da avaliação escolar, tanto no
que se refere ao sistema de ensino, quanto ao desenvolvimento do aprendizado do
aluno.
Dentre as várias funções do inspector escolar podemos destacar as seguinte:
• estabelecer a comunicação entre os órgãos da administração superior
do sistema e os estabelecimentos de ensino que o integram;
• verificar e avaliar as condições de funcionamento das escolas;
• orientar e dar assistência aos estabelecimentos de ensino na aplicação
das normas do sistema;
• promover medidas para a correção de falhas e irregularidades
verificadas nas escolas, visando a regularidade de seu funcionamento e
a melhoria da educação escolar;
• informar aos órgãos decisórios do sistema sobre as improbidades ou
inadequação de normas relativas ao ensino e sugestões de modificações
quando for o caso.
Segundo Santos (2008), o trabalho do inspector vem se reestruturando, o que
exige dos inspectores uma visão ampla dos assuntos educacionais e uma postura crítica,
questionadora e estudiosa das normas e das políticas públicas para que se possa
exercer a função com eficiência, ética e responsabilidade. Observa-se que hoje, o
inspector escolar busca actuar dentro de uma postura mais democrática, porém não
abandonou o carácter fiscalizador exigido pelo próprio sistema. Seu papel
58
actualmente, não se resume em detectar falhas e desvios e denunciá-los aos órgãos
competentes, mas também, encontra-se comprometido com aspectos preventivos,
correctivos e de assessoramento. Esse profissional deve sempre estar bem instruído
sobre a legislação educacional para reunir condições de prestar auxílio às instituições
escolares, professores e alunos.
2.8. A inspeção escolar e a democratização do ensino:
perspectivas
Como já vimos anteriormente a gestão escolar deve ser democrática, prática
que torna-se evidente nas unidades escolares da actualidade. Essa prática pode ser
vista por meio do repasse de recursos financeiros, pela participação dos educadores e
da comunidade escolar na construção do projecto político pedagógico e pela
participação da comunidade local nos conselhos escolares (pedagógico, de país, etc.).
A sociedade actual tem experimentado inúmeras transformações que
obviamente atingiram a educação. A ideia que tínhamos sobre o conhecimento, a
criança, a escola e os métodos de ensino, já não é mais a mesma. Na sociedade
moderna, o papel fundamental da educação é formar cidadãos actuantes, críticos e
participativos. Novos paradigmas estão surgindo com o objectivo de transformar a
educação num instrumento de democratização social, capaz de inserir toda a
sociedade em seu contexto. O processo democrático e participativo exige
envolvimento de todos e o estabelecimento de vínculos de liderança e tomada de
decisão compartilhada
Para Tavares e Escott (2005), o inspector deve ser criador de espaços que
favoreçam novas relações dentro das escolas para que os alunos, os pais, professores
e funcionários se transformem numa equipe capaz de construir uma escola voltada
para a aprendizagem do aluno e sua formação como cidadão comprometido com o
desenvolvimento da sociedade.
O inspector deve também estar preparado para se deparar com dificuldades,
ser capaz de trabalhar causas e não efeitos, estimular pensamentos transformadores,
mudar posturas, articular informações e acções, lutar contra as condições precárias de
trabalho e lidar com incertezas e imprevistos. Espera-se do inspector, tendo em vista
os novos paradigmas educacionais, que ele tenha compromisso, vontade política,
competência, dinamismo e sabedoria, para refutar o autoritarismo e a arrogância
59
do passado e adoptar posturas que contribuam para o crescimento profissional
do professor, efectiva aprendizagem dos alunos e melhoria da qualidade da
educação.
Neste sentido, o inspector deve acompanhar os resultados e saber o que está
acontecer nas escolas. Ele deve procurar saber se existem alunos com maus resultados
escolares e descobrir qual é a causa desse problema e junto com a direcção da escola,
ver o que deve ser feito, apoiar a direcção, orientá-la, auxiliá-la a sanar o problema.
O inspector deve ter uma visão da escola, como uma instituição saudável, uma visão
do todo e assim deve trabalhar para que a escola caminhe em direcção ao ideal. O
inspector escolar está sempre em contacto com as comunidades escolares, e é o
profissional que tem um papel relevante na comunicação com os órgãos da
administração superior do sistema educacional e as escolas.
2.9. Supervisão e inspeção
Do ponto de vista histórico, a inspeção é anterior à supervisão. A necessidade
de maior controle do poder público sobre uns e outros se foi acentuando. Para esta
tarefa criou-se a inspeção. Portanto, a inspeção está intimamente ligada à ideia de
controle.
Com a crescente complexidade do sistema de ensino, a função da inspeção se
foi revestindo de carácter cada vez mais acentuadamente formal, voltado para a
prevenção e correcção de abusos. A própria limitação desta função assim concebida
levou-a a seu progressivo desgaste e, pouco a pouco, emergia a necessidade de uma
acção que, sem descuidar dos aspectos legais, enfatizasse a dinamização do sistema
de ensino, buscando sua melhoria e maior produtividade da ação pedagógica, em
termos qualitativos e quantitativos.
Neste contexto, a supervisão aparece como o componente do sistema de ensino
e cultura que tem por finalidade "manter o desempenho desse sistema dentro dos
padrões estabelecidos e estimular desempenhos novos que abram horizontes para
futuros padrões".
Portanto, a supervisão, além de acrescentar novas funções, engloba aquelas já
tradicionalmente desempenhadas pela inspeção, situando-as num novo contexto.
Enfatiza a assistência técnica sem deixar de zelar pelo cumprimento das normas legais.
60
Está voltada para a ativação do sistema e, consequentemente, para sua melhoria
qualitativa e quantitativa.
Um subsistema de supervisão nos sistemas de ensino é tarefa complexa, que
deve ter por base alguns princípios, tais como:
1. Supervisão é trabalho de equipe, cooperativo;
2. Todos os envolvidos no processo do ensino têm direito à supervisão e
necessitam dela,
3. A supervisão deve ser bastante flexível para poder atender às
necessidades individuais variadas dos envolvidos no processo de ensino;
4. A supervisão precisa conhecer a qualificação do pessoal necessário ao
trabalho a ser desenvolvido;
5. A supervisão deve facilitar o trabalho de visualização e alcance de
objectivos e metas;
6. A supervisão deve contribuir tanto para melhorar as atitudes e
relacionamento dos membros das equipes nas escolas quanto para
melhoria do inter-relacionamento escola x comunidade;
7. A supervisão deve contar com adequada previsão no orçamento anual;
8. A supervisão deve envolver membros de associações profissionais, da
comunidade, da escola e pais de alunos no planeamento e execução de
suas actividades;
9. A supervisão deve ajudar a interpretar e pôr em prática técnicas,
estratégias e materiais verificados como eficazes para a melhoria do
rendimento do ensino pela pesquisa educacional;
10. A supervisão escolar deve exercer-se sobre número razoável de
professores, para que haja optimização de rentabilidade;
11. O exercício da supervisão pode efectivar-se em diferentes âmbitos,
como o da escola, o da região, o do sistema de ensino;
12. A supervisão deve ter como seu objectivo melhorar a actuação dos
professores sem criar dependência."
A supervisão enquanto um instrumento eficaz de inovação pedagógica, só
atingirá sua finalidade se todos os profissionais envolvidos no processo entenderem a
sua natureza e função e os supervisores forem profissionais adequadamente formados.
61
2.9.1. Modelos de supervisão e inspecção escolar
Resumidamente, podemos afirmar que a inspecção passou pelas seguintes
etapas de progresso até a supervisão:
a) Tarefa de inspecção ou vigilância.
b) Tarefa de orientação ou aconselhamento.
c) Trabalho de análise e melhoramento de sistemas.
Desde vigilante e fiscalizador – sancionador de professores (aspectos que
quando aplicados de forma empírica é muito negativo) passa-se à segunda etapa de
orientador-conselheiro e amigo do professor a que ajuda na auto-superação pessoal.
Por último, é necessário notar que as etapas sucedem-se, mas não se anulam.
Cada etapa acumula o que é da anterior e hoje chagamos a análise e superação de
sistemas, isto é, estudo com equipas de professores com ajuda de diversos especialistas
para conhecer e melhorar a situação total de uma escola, uma região ou mesmo no
plano Nacional, elaborando programas integrais para o desenvolvimento educativo com
a colaboração de todas as pessoas integradas no sistema educativo que é complexo,
probabilístico e dinâmico.
Concluindo, podemos fazer corresponder as três etapas anteriormente referidas
a três modelos diferentes de inspecção escolar.
a) Modelo autocrático.
b) Modelo “lessez-faire” ou participativo.
c) Modelo democrático – supervisão escolar.
Os modelos de inspecção escolar possibilitam entender que a inspecção escolar
pode distinguir-se e distintos tipos de supervisão tal como segue.
2.10. Princípios da supervisão escolar
A supervisão adapta-se às condições mutáveis do ambiente escolar em que
opera. Deve levar em conta a conjuntura de cada escola, as capacidades dos
professores, suas atitudes gerais, e a receptividade à orientação que se procura
oferecer-lhes, para que haja aperfeiçoamento profissional dos mestres. Poderá ser,
62
inclusive, informal. Muitas vezes, uma recomendação, feita sem maiores formalidades,
será bem mais valiosa.
Democratização
O espírito da supervisão, quando bem exercida, inspira-se em cooperação
democrática, isto é, no pressuposto de que cada indivíduo deverá contribuir para o
bem comum, e essa contribuição inividual deverá ter sentido criador positivo. Deste
modo, deverá inspirar-se em decisões de grupo, visando transformar cada
empreendimento escolar numa comunidade bem organizada. E assim deverá ser porque
a supervisão é conduzida em relação às influências de uma sociedade dinâmica, e
caracterizada por um acelerado coeficiente de alteração.
Enfim, a supervisão será democrática quando usar de cooperação, harmonia e
respeito à individualidade; quando as exigências das obrigações respeitarem os desejos
dos diferentes membros da comunidade supervisionada.
Participação e liderança
Traduz-se como o aspecto dinâmico que o supervisor deverá empregar. A
supervisão terá de ser levada a efeito mais por ações do que por palavras. Os
supervisores devem dar orientações práticas, ajudando em sua realização.
Os mais diversos métodos de que possam lançar mão serão aproveitados, pois
há maior probabilidade de êxito quando se utilizam vários métodos, em lugar de um
apenas, dinamizando, por conseguinte, a supervisão.
Reconhecimento de méritos e defeitos
A busca dos efeitos que merecem ser consertados não deve preocupar uma
supervisão consciente; para que sua obra seja justa, reconhecerá os esforços e as
qualidades de cada um dos membros da escola. Se tal não acontecer, os profissionais
acabam se desiludindo, ao verificarem que seus sacrifícios nem são notados.
Supervisão será contínua e progressiva
Uma ação supervisor a não deve ser acidental, eventual ou esporádica; não será
realizada apenas quando um caso extremo mereça atenção do supervisor; deve ser um
processo constante, contínuo e progressivo, como parte integrante da educação. Em
63
qualquer instituição existem sempre problemas de importância que exigirão a' atenção
do supervisor.
Supervisão será individual e coletiva
Existem certos aspectos que devem ser atendidos de forma individual, pela
natureza do problema que se relaciona àquela pessoa e não aos demais; em tais
circunstâncias faz-se uso de entrevistas individuais, ou de outros sistemas dedicados a
uma pessoa somente. Existem, porém, problemas que podem ser tratados e debatidos
coletivamente, poupando esforços, economizando tempo, e proporcionando a
cooperação de todos.
2.11. Funções da supervisão escolar
A supervisão ocorre a dois níveis. O nível geral quando o órgão técnico especial
do sistema escolar, imprime orientação e caráter ao mesmo. É extensa, actuando em
sentido pedagógicoadministrativo. E o nível específico ou particular quando o diretor
ou supervisor imprimem orientação e caráter à unidade escolar. É intensa, atuando em
sentido pedagógico.
Nesta função especial, observa-se total transformação dos meios de atuação:
INSPEÇÃO SUPERVISÃO
Fiscalização Crítica Orientação Colaboração
Censura Auxílio
A supervisão escolar é menos uma função de mando do que de aconselhamento,
englobando observação, orientação e ajuda aos supervisionados, orientação
pedagógica, portanto.
Para Robert Dottrens, é uma ação positiva no sentido de educar educadores; é
acção orientadora da actividade docente. Para Ellwood Cubberley, significa
diagnosticar dificuldades e necessidades, oferecendo sugestões e auxílio, com
propósito construtivo.
64
Fundamentalmente, a supervisão estimula o desenvolvimento, expansão e
aprimoramento das qualidades pessoais do educador; jamais pretenderá substituí-las
ou sufocá-las, por maior que seja a capacidade profissional do supervisor.
Nela estão envolvidos o estafe escolar, constituído pelo corpo docente, técnico,
administrativo, que contribui peculiarmente para a supervisão escolar.
A supervisão corresponde ao trabalho de integração de cada um dos elementos
atuantes no sistema escolar, abrangendo todas as categorias educacionais. Não lhe
cabe considerar elementos dispersos, nem actua de modo esporádico.
Com actuação sistemática sobre o conjunto de situações educativas, busca a
necessária interacção comunidade/escola. O aspecto mais importante da supervisão
escolar, segundo Cubberley, consiste na função unificadora do sistema escolar.
"O propósito da supervisão é, também, estabelecer uma unidade de esforços
por meio das escolas, a fim de que a educação se processe da melhor maneira possível,
em todas elas. Unidade que não é, entretanto, uniformidade, como às vezes se pensa."
É uma acção positiva para educar os educadores, conforme já dissemos.
Como função geral, portanto, a supervisão representa capitalização do
potencial de criatividade dos recursos humanos, representados pelos componentes dos
grupos de trabalho em interação.
Função corretiva: fiscalizadora, ávida pela detecção da presença de um erro,
resumindo-se em serviço autocrático, dirigindo, ordenando e corrigindo atividades e
professores. Quanto menos preparados encontravam-se estes, maior seria a pressão
exercida pela supervisão, buscando a falta de preparo docente pela fiscalização direta.
Função preventiva: evitar erros difíceis de serem corrigidos, restringindo-se a
apresentar ao professor tudo o que deveria fazer, facilitando-lhe enormemente o
trabalho.
Função orientadora: perante a qual a supervisão constitui-se em serviço
cooperativo, fornecendo ainda conselho, estímulo, orientação.
65
Todas as actividades de supervisão, esquematizadas no quadro anterior, podem
ser incluídas em uma ou mais dessas funções principais. Elas não se excluem
mutuamente, mas asseguram uma estrutura para analisar a supervisão como uma das
funções principais, tal como acontece com o comportamento supervisório, dada a
amplidão destas áreas. Estas funções distinguem-se pelo alto nível de conexão com o
ensino. Neste contexto são partes da função de supervisão.
2.12. Tipos de supervisão educativa
a) Supervisão correctiva
Identifica-se com a tradicional inspecção ou autocrática e só trata de localizar
certos defeitos ou erros para corrigi-los, geralmente trata dos sintomas em vez de
investigar as causas dos problemas. É a mais simples e superficial de todas, já que é
simples localizar as deficiências escolares e o difícil é relacionar o problema com a
complexidade da estrutura e a situação que o origina. Nem sempre os mesmos
problemas obedecem aos mesmos sintomas nem às mesmas causas primárias ou
secundárias.
Na supervisão correctiva os problemas são considerados isoladamente, e
quando se descobrem tendem a variar de importância segundo a opinião dos
66
supervisores. Este tipo de supervisão tem legitimidade num certo sentido, só que tem
como objectivo encontrar deméritos sem se preocupar com os méritos; é um tipo de
supervisão negativa, esquecendo os aspectos positivos da educação.
Actualmente, este tipo de supervisão tende a desaparecer, mas mesmo que
exista não se faz na sua forma pura, mas sim, como correctora de faltas de forma
indirecta, sem às vezes mencioná-la.
b) Supervisão preventiva
Este tipo de supervisão tenta prevenir em vez de curar os possíveis problemas
que aparecem no sistema educativo. O supervisor que possui uma experiência como
docente, obrigatoriamente está em condições de pressupor muitos dos problemas que
podem dar-se entre os professores e as escolas. Deverá orientar antes que se produzam
os problemas. Este tipo de supervisão é melhor que a correctiva, ainda que não se
possa aplicar em todos os casos.
Não se incute toda a responsabilidade no professor, mas sim a todos os que com
ele repartem o trabalho. Discute-se juntos os problemas de ensino e tenta-se encontrar
soluções. A supervisão preventiva evita a consumação de erros e estimula o progresso
profissional dos professores.
c) Supervisão construtiva
Este tipo de supervisão não menciona as faltas enquanto o supervisor não tiver
solução específica para solucioná-las. É mais construtiva do que destrutiva e tem como
objectivo desenvolver a técnica da personalidade dos professores, em vez de
contentar-se com o remédio das faltas encontradas. Localizado o problema, estuda-o
e analisa as complexas relações que existem, estuda as condições ambientais, os
objectivos da educação, os princípios e conceitos do pessoal sobre a educação, a
aprendizagem, métodos, programas, etc., isto é, estuda o currículo e o sistema na sua
complexidade, unifica-os e tenta harmonizá-los no trabalho da escola, corrigindo os
defeitos existentes numa tentativa gradual de melhoria da educação como sistema.
A supervisão construtiva trata de desenvolver a personalidade e a capacidade
técnica do educador para que possa abordar outros problemas, em vez de capacitá-lo
só para a solução de um problema especial.
d) Supervisão criadora
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Neste tipo de supervisão tenta-se motivar os professores para um trabalho
criador; cada professor é um artista da educação. A arte é a qualidade duma acção
elaborada com precisão e harmonia, neste caso da educação, o artista-professor faz
uso da sua inspiração, amor, sabedoria e aptidões. Para levar o professor a este
comportamento, terá que sê-lo antes o supervisor. Na supervisão criadora se estimula
cada professor a desenvolver-se profissionalmente e assim cada professor sentir-se-á
estimulado e motivado e com liberdade para aplicar a sua criatividade na melhoria do
ensino.
A parte criadora do professor consiste em aplicar novos métodos, novos
procedimentos, e um emprego cada vez maior e mais selectivo dos recursos didácticos.
e) A supervisão científica
Se a definição clássica de ciência é “cogntio certa per causas” (conhecimento
certo ou verdadeiro através das causas), a nossa ciência, a da educação, não pode cair
fora deste enfoque (princípio científico e empírico). Este tipo de supervisão não se
limita à observação sistemática dos comportamentos docentes e dos sistemas
educativos, mas quantifica-os e submete-os ao rigor das correlações dos métodos
estatísticos.
A investigação mostra-nos a importância de uma administração eficiente e uma
firme organização. Mostra grande importância de hierarquia da organização e da
avaliação, valores fundamentais em qualquer instituição que se proponha atingir
eficiência e produtividade. A tarefa essencial do supervisor científico era descobrir as
“leis” educacionais e aplicá-las através do trabalho docente.
f) Supervisão democrática
Baseia as suas raízes na tradição progressista da educação e valoriza a dignidade
do professor. Contrapõe e reage perante a predominância de uma inspecção autoritária
e de função avaliativa na administração e a supervisão autocrática.
Entende a inspecção no sentido do assessoramento vocacional e educacional,
que tenta melhorar a elaboração das tarefas e maior realização individual, criando um
sistema mais eficiente e mais humano. Kyte define–a como: o máximo desenvolvimento
do professor para atingir a maior eficiência profissional possível.
68
Outros autores defendem que a supervisão democrática se associa aos preceitos
preferidos pela personalidade humana apoiando a política a seguir. Alguns princípios
básicos segundo estes autores são:
- Protecção da integridade do docente em todo o momento.
- Preocupa-se em primeiro lugar por libertar e apoiar o talento do professor
como indivíduo.
- As técnicas supervisoras deverão acentuar as boas relações, a amizade, a
direcção do grupo, a solidariedade entre docentes, evitando as discórdias, insegurança
e comodismo.
No entanto devemos realçar a diferença entre supervisão democrática e a
científica quanto ao ponto vista funcional: enquanto uma põe relevo na supervisão, na
avaliação e na inspecção, a outra põe relevo no desenvolvimento do professor e do
currículo.
69
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