AO JUÍZO DO 1º UPJ JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DA COMARCA DE APARECIDA
GOIÂNIA GO
Processo: 5898081-61.2024.8.09.0012
SELECT OPERADORA DE PLANOS DE SAÚDE LTDA, devidamente qualificada, vem
respeitosamente, por meio de seu procurador infra-assinado, apresentar
CONTESTAÇÃO à Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais movida
por KEYLLA ALVES DA SILVA, igualmente qualificada nos autos, pelas razões de fato e
de direito a seguir expostas:
I. SÍNTESE DA DEMANDA
A autora alega que o cancelamento do plano de saúde foi realizado
unilateralmente e sem a devida notificação, em descumprimento às disposições legais. Em sede
de tutela de urgência, pleiteou exclusivamente o restabelecimento imediato do plano,
sustentando que a interrupção dos serviços compromete seriamente a continuidade de
tratamentos essenciais para seu bem-estar e qualidade de vida.
A autora argumenta que o direito à saúde, à dignidade e à qualidade de vida são
inalienáveis e que o cancelamento a privou de tais direitos fundamentais.
Além disso, a autora requer, no mérito, a condenação da ré em indenização por danos
morais, sustentando que o cancelamento teria causado transtornos psicológicos e
emocionais.
A autora invoca, ainda, o dever de boa-fé da ré, alegando que sua conduta
não teria observado os interesses e necessidades críticas do beneficiário do plano.
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Todavia, os fatos narrados não merecem prosperar, por fazer jus o autor
em absolutamente nenhum dos seus requerimentos, conforme será demonstrado a
seguir.
Importante observar que o pedido de tutela antecipada foi devidamente
analisado e indeferido por Vossa Excelência, em decisão que reconheceu a ausência dos
requisitos necessários para a concessão da medida, em razão da falta de demonstração
de "fumus boni iuris" e "periculum in mora".
II. DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL – ART. 330, III
C/C 337, IV DO CPC
Preliminarmente, a petição inicial apresenta-se inepta, pois os fatos narrados não
conduzem logicamente às conclusões pretendidas pela autora. Nos termos do artigo 330, III, do
Código de Processo Civil, cabe ao julgador indeferir a petição inicial quando não há nexo lógico
entre os fatos alegados e os pedidos formulados.
A autora pleiteia a reintegração ao plano de saúde e uma indenização por
danos morais, sustentando que o cancelamento foi indevido. No entanto, ao analisar os
fatos apresentados, percebe-se que o cancelamento decorreu de inadimplência, situação
claramente prevista no contrato entre as partes e respaldada pela legislação aplicável,
especialmente o art. 13, parágrafo único, inciso II, da Lei 9.656/98. Esse dispositivo
permite o cancelamento do plano após 60 dias de inadimplência, condição que foi
cumprida pela ré, caracterizando, portanto, o exercício regular de um direito.
A incoerência entre os fatos narrados e os pedidos formulados resulta da
ausência de menção pela autora à inadimplência como motivo legítimo para o
cancelamento. Essa omissão compromete a fundamentação de seu pedido, uma vez que
desconsidera o cumprimento das exigências legais por parte da ré e a inexistência de ato
ilícito que justifique a indenização pleiteada.
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Diante do exposto, a defesa argui a preliminar de mérito, conforme
estabelecido pelo art. 330, III, do CPC, requerendo a Vossa Excelência o indeferimento da
petição inicial, porquanto se verifica, de plano, a ausência de nexo lógico entre a
narração dos fatos realizada pela autora e a conclusão almejada na demanda.
Tal medida se impõe não apenas em atenção aos princípios processuais,
mas também como garantia da celeridade e economia processuais, evitando-se o
desgaste judicial em face de uma demanda cuja conclusão não encontra amparo na
lógica dos fatos apresentados.
III. DA VERDADE DOS FATOS – DEFESA DE MÉRITO
Inicialmente, destaca-se que a atividade econômica exercida pela ré tem
amparo na Lei 9.656/1998 e demais Resoluções da Agência Nacional de Saúde, uma vez
que está subordinada às normas e à fiscalização da Agência Nacional de Saúde
Suplementar - ANS qualquer modalidade de produto, serviço e contrato que apresente,
além da garantia de cobertura financeira de riscos de assistência médica, hospitalar e
odontológica.
Ressalta a ré que a relação jurídica havida entre as partes se funda em
contrato de Assistência à Saúde. Tal contrato, foi estabelecido de acordo com as normas
legais e regulamentares pertinentes, sem qualquer vício de consentimento que pudesse
comprometer a validade ou a eficácia do pactuado, assegurando a plena informação e
transparência para com o consumidor.
Ocorre que, in casu, houve rescisão contratual motivado por inadimplência
da ré, que, inclusive, confessa no bojo da petição inicial que não pagou as mensalidades
do plano de saúde por dois meses consecutivos. In verbis, print da confissão:
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Ao contrário do que sustenta a autora, o cancelamento não foi indevido,
imotivado e/ou injustificado. Na verdade, foi devido, motivado e justificado em razão da
inadimplência. Aliás, trata-se de ato legal previsto em Lei, precisamente no artigo 13, II
da Lei 9.656/1998, que assim dispõe:
Art. 13. Os contratos de produtos de que tratam o inciso I e o §
1o do art. 1o desta Lei têm renovação automática a partir do
vencimento do prazo inicial de vigência, não cabendo a cobrança de
taxas ou qualquer outro valor no ato da renovação.
(...)
II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por
fraude ou não-pagamento da mensalidade por período superior a
sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de
vigência do contrato, desde que o consumidor seja
comprovadamente notificado até o qüinquagésimo dia de
inadimplência; e
Data máxima vênia, toda narrativa dos fatos autorais tem a vã intencional
de anular a rescisão contratual legalmente efetuada. Em resumo, a autora não honrou
com o contrato pactuado, ficando inadimplente por período superior a 60 (sessenta)
dias, sendo que, após notificado, operou-se o fim do contrato.
Repita-se, o que motivou a rescisão contratual foi tão somente o status de
inadimplente. Conforme vasta documentação anexa, a requerente foi devidamente
notificado em razão de ser devedora do montante total de R$ 278,10 (duzentos e
setenta e oito reais), equivalente a 60 (sessenta) dias de atraso, resultante do total de
02 (três) mensalidades.
Importante ainda observar a boa-fé e completa observância da ré ao
ordenamento legal.
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No dia 27/08/2024 foi recebida a notificação no endereço cadastrado do
autor comunicando sobre os débitos e a possibilidade de rescisão. Tal fato, por si só, é
suficiente para rescisão, nos termos do item 3 da Súmula Normativa 28 da ANS. In verbis:
SÚMULA 28/ANS.
(...)
3. No caso de notificação por via postal com aviso de recebimento,
entregue no endereço do consumidor contratante, presume-se, até
prova em contrário, que o consumidor contratante foi notificado,
não sendo necessária sua assinatura no aviso de recebimento.
Todavia, apesar de notificado, a autora permaneceu inadimplente, razão
pela qual, outra alternativa não houve, senão o cancelamento do contrato.
A defesa enfatiza, novamente, que o cancelamento do contrato de plano de
saúde ocorreu estritamente em conformidade com a legislação aplicável e as cláusulas
contratuais acordadas.
A ré comprovadamente notificou a autora, sobre sua inadimplência e lhe
proporcionou a oportunidade para a regularização dos débitos, conforme preconiza o
art. 13, parágrafo único, II, da mencionada lei. Entretanto, não houve por parte da autora
a regularização da pendência, o que culminou, conforme previsto contratualmente e
legalmente, no cancelamento do plano.
Outrossim, não há o que se falar em nulidade da notificação, uma vez que,
como se vê, foi efetivada após o quinquagésimo dia de inadimplência e concedido o
prazo de 10 (dez) dias para o pagamento do débito.
Por essa razão, diante da inadimplência por parte da autora e da
observância da ré quanto aos atos de notificação, regular o ato de cancelamento do
contrato, por isso, improcedente o pedido que se funda a presente ação.
IV. DOS DANOS MORAIS – INDEVIDO
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Requer o autor indenização por danos morais. Sem razão.
Em atenção ao mérito da presente demanda, impende destacar a alegação
infundada de danos morais por parte da autora. Segundo os dispositivos legais,
especificamente os artigos 186 e 927 do Código Civil, a responsabilidade civil decorre da
prática de um ato ilícito, o qual, por sua vez, demanda a comprovação de conduta
comissiva ou omissiva, dano experimentado pela vítima e nexo causal entre a conduta e
o dano.
No caso em tela, a ré, ao exercer o direito de cancelamento do plano de
saúde em virtude de inadimplência por parte da autora, agiu em estrita conformidade
com as disposições contratuais previamente acordadas e com a legislação pertinente.
Destarte, tal procedimento administrativo, amparado por legítima previsão contratual e
legal, não configura ato ilícito, mas sim exercício regular de um direito.
É essencial sublinhar que a mera insatisfação com a aplicação das
consequências contratuais, ainda que possa causar desconforto ou transtornos, não se
equipara a um dano moral indenizável, conforme preceituado pela jurisprudência pátria.
O dano moral, para sua caracterização, exige a demonstração de ofensa a atributos da
personalidade, tais como honra, imagem ou integridade psíquica, que não se verificam
pelo simples fato do cancelamento do serviço por inadimplência.
Dessa forma, a ação da ré, pautada na legalidade e na boa-fé contratual,
está distante de configurar a prática de ato ilícito, afastando-se, portanto, a obrigação de
reparar supostos danos morais inexistentes no caso concreto.
Na remota e hipotética possibilidade de condenação, o que se admite
apenas por argumentar, urge a necessidade de observância ao princípio da
proporcionalidade. É imprescindível que qualquer eventual montante indenizatório seja
fixado de maneira a refletir a realidade dos fatos, considerando-se especialmente a
ausência de prova cabal de danos morais efetivamente sofridos pela autora.
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Neste contexto, a fixação de valores a título de danos morais deve ser
cautelosa, de modo a evitar o enriquecimento sem causa e a assegurar que a indenização
cumpra sua função compensatória sem desvirtuar-se em fonte de lucro indevido. Este
Juízo, como guardião da justiça e da equidade, possui o dever de mitigar a aplicação de
penalidades desproporcionais que não encontrem respaldo na extensão do dano
alegado, sobretudo quando este não se mostra evidenciado de forma concreta.
Por todo o exposto, requer-se o reconhecimento da inexistência de ato
ilícito por parte da ré, a improcedência do pedido de danos morais e, subsidiariamente,
na improvável concessão de indenização, que o montante seja fixado com moderação,
observando-se os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, em consonância com
a ausência de prova de danos.
V. DA IMPUGNAÇÃO DE DOCUMENTOS
No mais, restam impugnados os documentos juntados aos autos em sede
de inicial, uma vez que não coadunam com as alegações verossímeis, em especial
comprovantes de pagamentos datados após a notificação de cancelamento.
VI. DOS PEDIDOS
Isso posto, requer:
a) O acolhimento das preliminares apresentadas, especialmente a preliminar
de mérito com base no art. 330, III, do Código de Processo Civil, que argumenta a ausência de
lógica na conexão entre os fatos narrados e a conclusão almejada pela parte autora, o que
justifica o indeferimento da petição inicial;
b) A produção de todas as provas admitidas em direito, expressamente
a documental, testemunhal, pericial, e qualquer outra que se faça necessária para o
esclarecimento da verdade dos fatos, conforme assegura o ordenamento jurídico,
demonstrando assim a legalidade e legitimidade das ações da ré, bem como a
inexistência de ato ilícito e de danos morais alegados pela parte autora;
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c) A total improcedência dos pedidos que se fundam a presente ação;
d)
Nestes termos, pede deferimento.
Goiânia, 25 de novembro de 2024.
Davi Domingos dos Passos
OAB/GO 43.925
Yoana Pereira Pacheco
OAB/GO 55.533
Izadora Rodrigues Novais
OAB/GO 73.930
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