Cartola Henrique Landim
Cartola Henrique Landim
CANÇÕES ESCOLHIDAS
CARTOLA
@profhenriquelandim
“o mundo é um
moinho
Vai triturar teus
sonhos, tão
mesquinho
Vai reduzir as
ilusões a pó”
(Cartola)
CANÇÕES ESCOLHIDAS
AUTOR MOVIMENTO LITERÁRIO
Cartola (Angenor de Oliveira) Modernismo
@profhenriquelandim
UNICAMP
ALVORADA
O eu lírico se apresenta Nessa estrofe, o eu lírico
como um cantor do morro, Lá no morro, quanto mais eu canto descreve a alvorada no
que tem o reconhecimento e Mais o povo quer me ouvir morro como um momento
o carinho do seu público. Ele O sol que desponta no céu da cidade de beleza e alegria, sem
também associa o seu canto Vem abençoar o dia que vem surgir espaço para o sofrimento
ao sol que nasce, como se ou o ressentimento. Ele usa
fosse uma forma de saudar e repetições e rimas para
agradecer pelo novo dia. Ele
Alvorada lá no morro que beleza enfatizar a admiração pela
usa a palavra “abençoar” Ninguém chora, não há tristeza paisagem e pela harmonia
para mostrar a sua fé e a sua Ninguém sente dissabor entre o sol e a natureza. Ele
gratidão pela vida. Ele O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo também personifica a
também contrasta o morro E a natureza sorrindo tingindo a alvorada natureza, dizendo que ela
com a cidade, mostrando sorri e tinge a alvorada,
que há uma diferença entre Eu também vou madrugar como se fosse uma artista
os dois espaços, mas que Vou pra porta do terreiro ver o dia clarear que pinta o céu com cores.
ambos são iluminados pelo
Eu também vou madrugar
sol.
Vou pra porta do terreiro ver o dia clarear.
Nessa estrofe, o eu lírico revela a sua intenção de acordar cedo para ir ao terreiro, o lugar sagrado do candomblé. Ele
mostra a sua devoção pela religião e pelo seu espaço de pertencimento. Ele também usa repetições para expressar a sua
determinação e o seu entusiasmo. Ele quer ver o dia clarear, ou seja, ele quer testemunhar o nascer do sol e sentir a sua
energia. Ele também usa a palavra “porta” para indicar que ele está na entrada do terreiro, como se fosse um convite para
entrar ou um limite entre o sagrado e o profano.
AS ROSAS NÃO FALAM
O eu lírico expressa a Aqui o eu lírico volta ao
sensação de esperança jardim, que pode ser o
misturada com tristeza. O
Bate outra vez
lugar onde ele
verbo "bate" sugere a batida Com esperanças o meu coração costumava se encontrar
do coração, que é Pois já vai terminando o verão com o seu amor, ou
comparada às esperanças Enfim também um símbolo da
que o eu lírico ainda
natureza e da vida. Ele
mantém, apesar das
circunstâncias difíceis. A Volto ao jardim sabe que vai chorar, pois
menção ao término do verão Com a certeza que devo chorar tem a certeza de que o
pode simbolizar a Pois bem sei que não queres voltar seu amor não quer mais
possibilidade de um Para mim voltar para ele. Ele
recomeço feliz. O “enfim” reconhece a sua situação
pode indicar um suspiro, de abandono e
uma resignação ou uma Queixo-me às rosas, mas que bobagem
sofrimento.
expectativa. As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Nessa estrofe, o eu lírico se queixa às rosas, que são as únicas testemunhas do seu drama. Ele diz que isso é uma bobagem, pois as
rosas não podem falar nem consolá-lo. Ele também diz que as rosas exalam o perfume que roubam da pessoa amada, ou seja, elas
têm algo dela que ele não tem mais. O “ai” pode expressar um lamento, uma dor ou uma saudade.
Nessa estrofe, o eu lírico
faz um apelo para que o
seu amor volte para ele. Devias vir
Ele quer que ela veja os Para ver os meus olhos tristonhos
seus olhos tristes, que E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
mostram o quanto ele Por fim
sofre sem ela. Ele
também quer que ela Queixo-me às rosas, mas que bobagem
sonhe os seus sonhos, ou
As rosas não falam
seja, que ela compartilhe
dos seus desejos e Simplesmente as rosas exalam
projetos. O “por fim” O perfume que roubam de ti, ai
pode indicar um último
pedido, uma última Devias vir
chance ou uma última Para ver os meus olhos tristonhos
esperança. E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim...
12
CORDAS DE AÇO
O texto é uma declaração de amor ao violão, o instrumento que
acompanha o compositor em sua vida artística e pessoal. Ele
Ah, essas cordas de aço
descreve as cordas de aço, o braço, o bojo e os dedos que acariciam o
Este minúsculo braço
violão com uma linguagem poética e carinhosa. Ele também revela
Do violão que os dedos meus acariciam
que só o violão compreende a sua tristeza, sugerindo que ele passou
Ah, este bojo perfeito por algum sofrimento amoroso ou existencial. O texto é uma
Que trago junto ao meu peito conversa entre o compositor e o violão, como se fossem amigos
Só você violão íntimos.
Compreende porque perdi toda alegria
E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho Ele diz que o violão pode adivinhar que
Aquela mulher aquela mulher, provavelmente a causa
Até hoje está nos esperando da sua tristeza, ainda está esperando
Na madrugada iremos pra casa por eles. Ele então propõe que eles
Solte o teu som da madeira
Cantando soltem o som da madeira, ou seja, que
Eu você e a companheira
Ah, essas cordas de aço toquem juntos, e que depois voltem
Este minúsculo braço para casa com a companheira, que
Do violão que os dedos meus acariciam pode ser tanto a mulher quanto a
Ah, este bojo perfeito música. Ele mostra uma esperança de
Que trago junto ao meu peito superar a dor e de reencontrar a
Só você violão alegria.
13 Compreende porque perdi toda alegria.
A primeira estrofe tem oito
A segunda estrofe tem seis DISFARÇA E CHORA versos, e começa com o
versos, e continua com o
imperativo “Chora”, que é
imperativo “Chora”, que é Chora, disfarça e chora uma forma de expressar a
uma forma de reforçar a
Aproveita a voz do lamento dor da mulher. O eu diz para
dor da mulher. Ele diz para
ela disfarçar e chorar, ou Que já vem a aurora ela aproveitar a voz do
seja, para esconder os seus A pessoa que tanto queria lamento, que é o seu canto,
sentimentos e não Antes mesmo de raiar o dia antes que venha a aurora,
demonstrar fraqueza. Ele Deixou o ensaio por outra que é o símbolo do fim da
também diz que todo o Ó triste senhora noite e do início de um novo
pranto tem hora, ou seja, dia. Ele também revela que a
Disfarça e chora
que há um limite para o pessoa que ela tanto queria,
sofrimento e que ele não que é o seu amado, deixou o
pode durar para sempre. O Todo o pranto tem hora ensaio por outra, ou seja, ele
eu também diz que vê o E eu vejo seu pranto cair trocou a mulher pela sua
pranto da mulher cair no No momento mais certo rival. O ensaio pode ser
momento mais certo, ou Olhar, gostar só de longe tanto o ensaio da escola de
seja, que ele sabe que a Não faz ninguém chegar perto samba quanto o ensaio do
mulher está sofrendo na relacionamento.
E o seu pranto, ó triste senhora
hora certa.
Vai molhar o deserto
O eu ironiza a dor da mulher. Chora, disfarça e chora Os mesmos versos da
Ele volta a dizer para ela primeira estrofe estão aqui
disfarçar e chorar, e que todo
Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora dispostos, isso cria um efeito
o pranto tem hora. Ele
A pessoa que tanto queria de circularidade e de
também volta a dizer que vê
o seu pranto cair no insistência da dor feminina.
Antes mesmo de raiar o dia
momento mais certo, mas Ele volta a dizer para ela
Deixou a Escola por outra chorar, aproveitar a voz do
agora ele acrescenta uma
explicação para isso. Ele diz Ó triste senhora lamento, antes que venha a
que olhar, gostar só de longe Disfarça e chora aurora. Ela também volta a
não faz ninguém chegar dizer que a pessoa que ela
perto, ou seja, que a mulher Todo o pranto tem hora tanto queria deixou a escola
não soube conquistar o seu por outra, mas agora ela usa
amado e só ficou admirando-
E eu vejo seu pranto cair
No momento mais certo o termo “escola” em vez de
o à distância. O eu também
diz que o seu pranto vai Olhar, gostar só de longe “ensaio”, criando uma
molhar o deserto, ou seja, Não faz ninguém chegar perto ambiguidade entre a escola
que as suas lágrimas são de samba e a escola da vida.
E o seu pranto, ó triste senhora
inúteis e não vão mudar
nada. Vai molhar o deserto
Vai molhar o deserto.
15
O INVERNO DE MEU TEMPO
O eu fala sobre os sonhos do
passado, que estão O eu usa a metáfora das folhas a voar,
Surge a alvorada
presentes no seu presente. que podem representar tanto a beleza
Folhas a voar
Ela também fala sobre o da natureza quanto a fragilidade da
amor que não envelhece E o inverno do meu tempo começa vida. Ele então diz que o inverno do
jamais, ou seja, que ele A brotar, a minar seu tempo começa a brotar, a minar,
mantém vivo o sentimento ou seja, que ele sente os efeitos da
pela sua companheira, Zica, E os sonhos do passado idade e do tempo em seu corpo e em
que foi a sua segunda esposa No passado estão presentes sua alma.
e grande amor. Ele tem paz e No amor...
ela tem paz, ou seja, que eles E não envelhece jamais
vivem em harmonia e
Eu tenho paz
tranquilidade.
E ela tem paz O eu já não sente saudade de nada
que viu, ou seja, que ele não se
O eu lírico se refere às vidas Nossas vidas arrepende nem se lamenta pelo seu
muito sofridas, que tiveram Muito sofridas caminhos tortuosos passado. Essa estrofe termina com a
caminhos tortuosos entre flores Entre flores e espinhos demais afirmação de que no inverno do
e espinhos demais. Ele usa uma tempo da vida, ele se sente feliz. Ele
antítese para mostrar o Já não sinto saudade usa uma interjeição para expressar a
contraste entre as alegrias e as sua gratidão a Deus por ter chegado
Saudades de nada que vi
tristezas que eles enfrentaram. até aqui com saúde e amor.
O inverno do tempo da vida
Oh Deus e eu me sinto feliz
Surge a alvorada
Folhas a voar
E o inverno do meu tempo começa
A brotar, a minar
Nossas vidas
Muito sofridas caminhos tortuosos
Entre flores e espinhos demais
16
O inverno do tempo da vida
Oh Deus e eu me sinto feliz.
O MUNDO É UM MOINHO O eu lírico adverte à
pessoa amada de que
Ainda é cedo, amor ainda é cedo para
A segunda estrofe sugere
Mal começaste a conhecer a vida conhecer plenamente a
que o ser amado está
Já anuncias a hora de partida vida, mas que ela, a
resolvido a seguir em pessoa amada, já anuncia
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
frente, mas o eu lírico a hora de partir. Essa
observa que, em cada ideia de que a vida é
Preste atenção, querida,
esquina, um pouco de sua passageira e que o tempo
Embora eu saiba que estás resolvida
vida cai, indicando a avança rapidamente
Em cada esquina cai um pouco tua vida (efemeridade existencial)
inevitável transformação
Em pouco tempo não serás mais o que és é central na música e
que acontece ao longo da
vida. A ideia é que, em serve como um alerta
para aproveitar o
pouco tempo, a pessoa
presente e tomar
não será mais a mesma decisões com sabedoria.
devido às experiências e
desafios enfrentados.
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Ouça-me bem, amor Essa estrofe é um
Preste atenção, o mundo é um moinho refrão que enfatiza a
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos metáfora do mundo
Vai reduzir as ilusões a pó como um moinho, que
tritura os sonhos e
Te peço, por favor reduz as ilusões a pó.
Preste atenção, querida Essa metáfora
De cada amor tu herdarás só o cinismo transmite a ideia de
Quando notares estás à beira do abismo que a vida pode ser
Abismo que cavaste com teus pés. dura e implacável, e
que nossos sonhos e
ilusões nem sempre se
Aqui temos o cinismo como herança dos amores passados. A última estrofe concretizam da forma
reforça a ideia de que, de cada amor, herdarás apenas o cinismo, sugerindo como imaginamos.
que as experiências amorosas podem nos deixar mais descrentes e céticos
em relação ao amor. O eu lírico alerta que, ao perceber isso, a pessoa estará
à beira de um abismo que cavou com seus próprios pés, ou seja, as escolhas
e atitudes tomadas ao longo da vida podem levar a consequências negativas.
18
O eu lírico descreve a reação
das pessoas (a gurizada) ao QUE É FEITO DE VOCÊ? Nessa estrofe, o eu lírico
vê-lo passar. Ele se sente começa questionando o
como um fantasma, um O que é feito de você, ó minha mocidade? que aconteceu com sua
esqueleto humano Ó minha força, a minha vivacidade? juventude (mocidade) e
cambaleante, ou seja, uma sua vitalidade (força e
O que é feito dos meus versos e do meu violão?
figura que carrega a vivacidade). Ele reflete
fragilidade do corpo e da Troquei-os sem sentir por um simples bastão sobre as mudanças que
alma. A passagem do tempo e ocorreram ao longo do
as escolhas feitas trouxeram E hoje quando passo a gurizada pasma tempo e expressa saudade
um estado de declínio físico e Horrorizada como quem vê um fantasma de um passado em que se
emocional, o que contrasta E um esqueleto humano assim vai sentia mais vigoroso e
fortemente com a juventude cheio de vida. Além disso,
Cambaleando quase cai, não cai
e vitalidade da época lamenta a troca dos seus
anteriormente mencionada. A
versos e do seu violão, que
expressão "cambaleando
representam sua expressão
quase cai, não cai" pode ser
artística e sua paixão pela
uma metáfora para a luta do
eu lírico para se manter de música e pela poesia, por
pé, tanto literalmente quanto algo tão banal como um
simbolicamente, diante das simples bastão. Essa troca
adversidades e do peso das simboliza uma perda da
escolhas feitas. essência criativa e artística
do eu lírico.
20
Pés inchados, passos em falso A descrição do estado físico do eu
O olhar embaçado lírico se aprofunda, revelando pés
Nenhum amigo ao meu lado inchados e passos em falso,
Não há por mim compaixão indicando dificuldades na
A tudo vou assistindo locomoção e no enfrentamento dos
A ingratidão resistindo desafios da vida. O olhar embaçado
Só sinto falta dos meus versos pode representar a dificuldade em
enxergar com clareza ou pode
Da mocidade e do meu violão
simbolizar uma visão embaçada
O que é feito de você, ó minha mocidade?
sobre a própria trajetória e as
Ó minha força, a minha vivacidade?
escolhas feitas. A solidão do eu
O que é feito dos meus versos e do meu violão? lírico é ressaltada pela menção de
que não há amigos ao seu lado e
que não recebe compaixão de
Troquei-os sem sentir por um simples bastão ninguém. Ele se sente
E hoje quando passo a gurizada pasma desamparado diante das
Horrorizada como quem vê um fantasma adversidades e da ingratidão que
E um esqueleto humano assim vai enfrenta. O sentimento de saudade
Cambaleando quase cai, não cai dos versos, da mocidade e do
Essa passagem é um
Cambaleando quase cai, não cai violão é reforçado mais uma vez,
refrão da música. enfatizando a importância que
Cambaleando quase cai, não cai...
esses elementos tinham em sua
vida e a falta que eles fazem agora.
Aqui, o eu lírico expressa SALA DE RECEPÇÃO
com firmeza que a felicidade O eu lírico descreve a Mangueira como uma
(Cartola) comunidade habitada por pessoas simples e
mora na Mangueira,
pobres, que têm pouco em termos
contrastando com a
Habitada por gente simples e tão pobre materiais, mas são abençoadas pelo sol,
afirmação de que as outras que a todos cobre. O questionamento
escolas de samba até Que só tem o sol que a todos cobre
"Como podes, Mangueira, cantar?" sugere
choram de inveja de sua Como podes, mangueira, cantar? uma reflexão sobre como a comunidade
posição. Essa afirmação Pois então saiba que não desejamos mais nada pode encontrar força e alegria mesmo
ressalta a importância e o A noite, a lua prateada diante das dificuldades. A resposta vem
logo em seguida, enfatizando que eles não
prestígio da Mangueira, que Silenciosa, ouve as nossas canções desejam mais nada, pois têm a noite e a lua
é admirada e invejada por Tem lá no alto um cruzeiro prateada como testemunhas silenciosas de
outras escolas. A imagem da Onde fazemos nossas orações suas canções. Essa passagem revela que a
"sala de recepção" sugere música e a cultura são elementos
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
um espaço acolhedor e fundamentais para a comunidade se
festivo, onde a Mangueira expressar, encontrar felicidade e resistir às
recebe a todos de braços adversidades. A referência ao cruzeiro no
Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora alto pode representar um símbolo religioso
abertos, mesmo os inimigos,
ou espiritual para a comunidade da
tratando-os como se fossem E as outras escolas até choram Mangueira. Eles fazem suas orações nesse
irmãos. Essa mensagem de Invejando a tua posição espaço, demonstrando uma conexão com o
união, fraternidade e Minha mangueira essa sala de recepção sagrado e uma busca por força e esperança.
acolhimento reforça o valor Aqui se abraça inimigo A música destaca o orgulho da Mangueira
da cultura e da música como por ser considerada a primeira entre as
Como se fosse irmão escolas de samba, chamando-se de "os
elementos de
confraternização e harmonia. Habitada por gente simples e tão pobre primeiros campeões". Isso reforça a
Que só tem o sol que a todos cobre importância histórica e cultural da escola na
tradição do Carnaval carioca.
Como podes, mangueira, cantar?
Pois então saiba que não desejamos mais nada
Essa estrofe é uma repetição da
A noite, a lua prateada
primeira estrofe, o que é uma
Silenciosa, ouve as nossas canções
característica comum na estrutura de
Tem lá no alto um cruzeiro
muitas músicas populares brasileiras,
Onde fazemos nossas orações
em que a repetição reforça as ideias e
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
os sentimentos expressos
Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora
anteriormente. Dessa forma, a
E as outras escolas até choram
reiteração da descrição da Mangueira
Invejando a tua posição
como uma comunidade habitada por
gente simples e pobre, destacando a
Minha mangueira essa sala de recepção
importância do sol como símbolo de
Aqui se abraça inimigo
abrigo e calor humano, reforça a
Como se fosse irmão
identidade e a força dessa
Habitada por gente simples e tão pobre
comunidade. O questionamento
Que só tem o sol que a todos cobre
"Como podes, Mangueira, cantar?"
Como podes, mangueira, cantar?
também é repetido, enfatizando a
Pois então saiba que não desejamos mais nada
reflexão sobre como a comunidade
A noite, a lua prateada
encontra alegria e expressão por meio
Silenciosa, ouve as nossas canções
da música e da cultura, mesmo diante
Tem lá no alto um cruzeiro
das adversidades.
Onde fazemos nossas orações
22
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
SILÊNCIO DE UM CIPRESTE
O eu lírico utiliza metáforas
poéticas para descrever o Todo mundo tem o direito
pensamento. Ele o compara a
De viver cantando Nessa estrofe, o eu lírico reconhece
uma folha desprendida do galho
O meu único defeito que todos têm o direito de viver
de nossas vidas, simbolizando a
É viver pensando cantando, ou seja, de buscar a
natureza efêmera e volátil dos
Em que não realizei alegria e a plenitude na vida. No
pensamentos, que são levados e
entanto, o eu lírico aponta que seu
conduzidos pelo vento, ou seja, E é difícil realizar
único defeito é viver pensando
pelas incertezas e mudanças da Se eu pudesse dar um jeito
demais, refletindo sobre o que não
vida. O pensamento é descrito Mudaria o meu pensar realizou e sobre as dificuldades para
também como uma luz vacilante
alcançar seus desejos. Essa reflexão
e cega, representando sua O pensamento é uma folha revela a tendência à introspecção e
natureza frágil e limitada. A
[desprendida à busca por um sentido mais
referência ao silêncio do cipreste,
Do galho de nossas vidas profundo da existência. O desejo de
árvore associada à morte e ao
Que o vento leva e conduz mudar o pensamento sugere uma
luto, escoltado pela cruz, sugere
É uma luz vacilante e cega consciência do peso que o
que o pensamento muitas vezes
pensamento pode ter na realização
se relaciona com questões É o silêncio do cipreste
dos sonhos.
existenciais e espirituais, como a Escoltado pela cruz
busca por sentido e a aceitação
da finitude humana.
Em que não realizei
E é difícil realizar
Se eu pudesse dar um jeito
Mudaria o meu pensar
25
SIM
O eu lírico começa a música
Nessa estrofe, o eu lírico Sim reforçando a importância do perdão
fala sobre seus Deve haver o perdão em sua vida. Ele reconhece que
relacionamentos passados,
em especial com uma Para mim precisa do perdão para si mesmo,
Senão nem sei qual será caso contrário, não sabe o que será
companheira para quem fez
de seu destino. Essa reflexão inicial
promessas de amor. Apesar O meu fim já revela uma sensação de culpa ou
de ter conquistado um
arrependimento por suas ações
grande amor, ele não se
sentiu feliz e, em momentos
Para ter uma companheira passadas e a necessidade de
Até promessas fiz encontrar redenção e reconciliação.
de raiva e frustração,
chegou a blasfemar e Consegui um grande amor
questionar os céus. Essa Mas eu não fui feliz
passagem demonstra um E com raiva para os céus
conflito interno entre as
ações e as emoções do eu Os braços levantei
lírico, que agora se sente Blasfemei
isolado e enfrenta a rejeição Hoje todos são contra mim
das pessoas ao seu redor.
26
Sim
Deve haver o perdão
Para mim
Senão nem sei qual será
O meu fim
27
Todos erram neste mundo
Não há exceção
Quando voltam à realidade Nesta estrofe, o eu lírico reflete
sobre a natureza humana e o fato
Conseguem perdão de que todos cometem erros. Ele
Porque é que eu, Senhor, questiona por que, apesar de tantas
Que errei pela vez primeira pessoas serem perdoadas e
Passo tantos dissabores encontrarem redenção quando
voltam à realidade, ele enfrenta
E luto contra a
tantos dissabores e parece lutar
[humanidade inteira? contra a humanidade inteira. Essa
passagem revela um sentimento de
Sim incompreensão e isolamento, uma
Deve haver o perdão busca por entender sua própria
trajetória e a maneira como suas
Para mim ações afetaram sua vida e seus
Senão nem sei qual será relacionamentos.
O meu fim
28
Para ter uma companheira
Até promessas fiz
Consegui um grande amor
Mas eu não fui feliz
E com raiva para os céus
Os braços levantei
Blasfemei
Hoje todos são contra mim
Sim
Deve haver o perdão
29