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Estrutura da Justiça do Trabalho no Brasil

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ALBERTO CARLOS MARTINELLI IERVESE FILHO

Direito Processual do Trabalho I

Professor: Jonhson Meira

Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Direito

Semestre 2017.2
Alberto Iervese

Sumário
Organização da Justiça do Trabalho .................................................................................3

Fontes do Processo do Trabalho ......................................................................................7

Competência da Justiça do Trabalho ...............................................................................8

Partes e Procuradores.....................................................................................................21

Despesas Processuais......................................................................................................26

Procedimentos ................................................................................................................30

Petição Inicial ..................................................................................................................32

Audiência .........................................................................................................................36

Conciliação ......................................................................................................................41

Defesa do Reclamado .....................................................................................................43

Ônus da Prova .................................................................................................................49

Produção de Provas ........................................................................................................51

Razões Finais ...................................................................................................................60

Sentença ..........................................................................................................................61

Recursos – Teoria Geral ..................................................................................................63

Recursos em Espécie .......................................................................................................71

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 2


Alberto Iervese

Organização da Justiça do Trabalho


1. Órgãos da Justiça do Trabalho (Art. 111 da CF/88)

A Justiça do Trabalho, antes uma justiça administrativa, e atualmente uma justiça federal,
possui 3 órgãos, qual sejam:

a) Juízes do Trabalho, que exercem sua jurisdição em Varas do Trabalho – 1º


Grau
b) Tribunais Regionais do Trabalho (TRT’S) – 2º Grau
c) Tribunal Superior do Trabalho (TST) – 3 º Grau

OBS: A Vara do Trabalho não é órgão judicial, mas sim instância administrativa ocupada
IMPORTANTE !!
pelo Juiz do Trabalho.

Juntas de Conciliação e Julgamento – Existentes até 1999 como parte da instância da


JT de 1º grau. Até a mencionada reforma processual trabalhista introduzida pela E.C. nº
24, tinham como característica a justiça paritária (assim como toda a JT), o que significa
que além do juiz presidente, existiam dois juízes classistas indicados pelo sindicado
laboral e pelo sindicato patronal. Desde 1999, quando foram extintos os juízes classistas,
as Juntas de Conciliação e Julgamento são chamadas de Varas do Trabalho.

Historicamente, a organização da Justiça do Trabalho no Brasil foi


inspirada no sistema dito “paritário” da Itália fascista, que mantinha
um ramo especializado do Judiciário na solução de conflitos
trabalhistas, em cuja composição figuravam representantes do Estado
(juízes togados), da classe empresarial e da classe trabalhadora (juízes
classistas) ...... com o advento da Emenda Constitucional n. 24, de 9 de
dezembro de 1999, que extinguiu a representação classista, a
organização e a composição dos órgãos da Justiça do Trabalho passaram
por uma considerável transformação. - Carlos Henrique Bezerra
Leite

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 3


Alberto Iervese

Curiosidade - Deriva do fato de a Justiça do Trabalho no passado ter sido de natureza


administrativa a atual utilização das denominações “reclamado” e “reclamante” nas peças
processuais, e não autor e réu, como no processo civil.

2. Juízes do Trabalho

Os magistrados responsáveis pelas Varas do Trabalho são chamados de Juízes do Trabalho.


Em cada unidade judiciária de 1ª instância atuam um “Juiz Titular” e um “Juiz Substituto”,
ambos nomeados e empossados pelo Desembargador Presidente do TRT após aprovação
em concurso público. O juiz titular é fixo em uma Vara do Trabalho, diferentemente do juiz
substituto.

As Varas do Trabalho, que simbolizam a primeira instância da JT não possuem cartórios e


sim secretarias. A jurisdição dos juízes do trabalho que trabalham nas Varas do Trabalho é
local (o que não significa dizer municipal – pois pode abranger mais de um município). Cabe
à lei fixar a competência territorial das Varas do Trabalho.

Compete aos Juízes do Trabalho responsáveis pelas Varas do Trabalho e, portanto,


ao 1º grau da Justiça do Trabalho, processar e julgar as ações oriundas das relações
de trabalho e aquelas que, por exclusão, não sejam de competência originária dos
tribunais trabalhistas.

3. Tribunais Regionais do Trabalho (TRT’S)

• Desembargadores

Denominam-se Desembargadores do Trabalho os julgadores representantes dos Tribunais


Regionais do Trabalho. Tais ilustres devem ter mais de 35 anos e são nomeados pelo
Presidente da República. O número de desembargadores sofre alterações de acordo com a
demanda de cada TRT (O TRT da Bahia, 5ª região, possui 29 Desembargadores).

A legislação pátria (Art. 115 da CF) determina que 1/5 dos desembargadores do trabalho
deverão ser oriundos do mundo da advocacia, desde que possuam mais de dez anos de
carreira, e membros do MPT com mais de dez anos de efetivo exercício. Os demais
desembargadores do trabalho devem alcançar seu posto através de promoção dos seus cargos
de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternativamente.

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Alberto Iervese

• Quantidade e Identificação dos TRT’s.

Como bem elucida Carlos Henrique Bezerra Leite, nos termos do art.674 da CLT, o
território nacional é dividido em 24 Regiões. Atualmente, existem 24 TRT’s. Em São
Paulo, são dois, um na capital, outro em Campinas. Com a nova redação do art. 112 da CF,
deixou de ser obrigatória a criação de TRT’s nos estados de Tocantis, Acre, Roraima e Amapá
(Antes a CF exigia pelo menos um TRT em cada estado da federação e no Distrito Federal).

OBS: O Tribunal da 1ª Região fica no Rio De Janeiro, enquanto que


o Tribunal Regional da Bahia é o da 5ª Região.

• Quinto Constitucional

Nos TRT’s, 1/5 das vagas existentes para desembargadores devem ser
ocupados por membros da Ordem dos Advogados ou do Ministério Público,
que passam por um árduo e competido método de entrada, abaixo descrito.

Quinto constitucional é o mecanismo que confere vinte por cento dos assentos existentes
nos tribunais aos advogados e promotores; portanto, uma de cada cinco vagas nas Cortes de
Justiça é reservada para profissionais que não se submetem a concurso público de provas e
títulos; a Ordem dos Advogados ou o Ministério Público, livremente, formam uma lista
sêxtupla, remete para os tribunais e estes selecionam três, encaminhando para o Executivo
que nomeia um desses nomes. Essas indicações são suficientes para o advogado ou o
promotor deixar suas atividades e iniciar nova carreira, não na condição de juízes de primeiro
grau, início da carreira, mas já como desembargador ou ministro, degrau mais alto da
magistratura – Revista Online do IBRAJUS

No que respeita ao quinto constitucional reservado ao MPT, houve quem


sustentasse que, em virtude extinção da representação classista, o “quinto”
deveria passar, por questões matemáticas, a ser “um terço”. Não foi esse,
porém, o entendimento do STF (MS n. 23.769-BA, rel. Min. Ellen Gracie).

• Funções dos TRT’s

Compete ao TRT, originariamente, processar e julgar ações de sua competência originária,


tais como dissídios coletivos, mandados de segurança e ações rescisórias; em grau recursal, o
TRT julga os recursos das decisões das Varas do Trabalho.

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• EC n. 45/2004

A EC n. 45 de 2004 determinou que:

a) Os TRT’s devem instalar a Justiça Itinerante, com realização de audiências e demais


funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição,
servindo-se de equipamentos públicos. → Alargamento do acesso à justiça;

b) É permitido que os TRT’s funcionem de forma descentralizada, mediante criação de


Câmaras Regionais que assegurem o pleno acesso do jurisdicionado à justiça.

• Organização Interna dos TRT’s

Na Bahia, estabeleceu-se Tribunal Pleno, formado por todos os desembargadores, que é


dividido em diversas seções (Ex: Seções de dissídios coletivos) e em Cinco Turmas. O TRT
da Bahia é composto de 29 desembargadores, sendo que 1/5 deles são membros da
advocacia ou membros do MP (Quinto constitucional)

A organização interna dos Tribunais Regionais do Trabalho poderá


IMPORTANTE!!!! mudar de acordo com o TRT. A organização de cada um dos tribunais
dependerá dos seus respectivos regimentos internos.

4. Tribunal Superior do Trabalho (TST)

A organização do TST é similar à do TRT-Bahia, foi estabelecido um Tribunal Pleno que é


divido em seções e em 8 turmas. O Tribunal possui 27 ministros. As Turmas são constituídas,
cada uma, por três ministros. No 3º grau (TST), também existe o quinto constitucional.

5. Corregedoria Geral e Corregedoria Regional

O corregedor é aquele que exerce funções de inspeção, correição, resolução de reclamação


contra atos atentatórios da boa ordem processual praticado pelos TRT’s e seus presidentes,
quando inexistir recurso específico. A corregedoria do TST é intitulada Corregedor-Geral
(o desembargador que assumir o papel de corregedor geral sofrerá diversas limitações,
principalmente acerca da possibilidade ou não de voto). A Corregedoria Regional (TRT’s)
pode vir a ser exercida cumulativa e simultaneamente pelo Presidente do tribunal.

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Fontes do Processo do Trabalho


1. Fontes materiais

As fontes materiais são as fontes potenciais do direito processual do trabalho e emergem, em


regra, do próprio direito material do trabalho e este, por sua vez, encontra a sua fonte nos
fatos sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos e morais de determinado povo em dado
momento histórico.

2. Fontes formais

As fontes formais do direito processual do trabalho são as que lhe conferem o caráter de
direito positivo. São aquelas que estão positivadas no ordenamento jurídico.

Carlos Henrique Bezerra Leite as divide em:

a) Formais diretas: Que abrangem a lei em sentido genérico (atos normativos e


administrativos editados pelo Poder Público) e o costume;
b) Formais Indiretas: Extraídas da doutrina e da jurisprudência;
c) Formais de Explicitação/Integrativas: Analogia, Princípios gerais do direito e
equidade.

3. Aplicação do CPC

O CPC pode ser considerando como uma das principais fontes formais diretas básicas de
caráter infraconstitucional no direito processual do trabalho.

A referida legislação é aplicada subsidiariamente (omissão total da norma trabalhista e


aplicação do CPC) e supletivamente (CPC como um suplemento à lei trabalhista) e tem
como requisitos a ocorrência de lacuna/omissão da legislação processual trabalhista, e
compatibilidade com os valores, princípios e regras do direito processual do trabalho.

(CLT) Art. 769 - Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito
processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.

(CPC) Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.

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Competência da Justiça do Trabalho


Entende-se a
Competência em razão da matéria/da pessoa competência
em razão da
pessoa como
A competência da Justiça do Trabalho foi alterada pela Emenda Constitucional 45/2004. uma subdivisão
da competência
em razão da
• Antes da Emenda Constitucional 45/2004. matéria

Art. 114 – Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais


e coletivos (1) entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de
direito público externo e da administração pública direta e indireta (2) dos
Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras
controvérsias decorrentes da relação de trabalho (3), bem como os litígios que
tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas

(1) Não é a quantidade de pessoas que caracteriza se o dissídio é individual ou coletivo, o


processo pode envolver mil pessoas e ser individual. O dissídio individual caracteriza pela
defesa dos direitos positivados na legislação, enquanto que os dissídios coletivos tratam
de interesses difusos da coletividade (Exemplo: Situação de Greve) e podem ser de
natureza jurídica (interpretação de norma legal existente) ou econômica (criam normas).
(2) Empregados públicos regidos pela CLT.
(3) Se houvesse lei afirmando que era da Competência da Justiça do Trabalho julgar tal tipo
de controvérsia, a JT de fato teria competência para processar e julgar tais casos
(Exemplo: Pequeno empreiteiro – trabalho realizado pessoalmente, admitindo ajuda de
até 03 pessoas). Também podia a JT conciliar casos de trabalhadores avulsos.

• Após a Emenda Constitucional 45/2004.

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:


Principal
mudança
I. As ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de
da E.C. 45
direito público externo e da administração pública direta e indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

Houve ampliação das hipóteses de competência da JT. Foram incluídos, por exemplo, os
trabalhadores autônomos. Antes só abarcava as relações de empregado e empregador.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 8


Alberto Iervese

Nas palavras do professor Renato Saraiva, a relação de trabalho corresponde a qualquer


vínculo jurídico por meio do qual uma pessoa natural executa obra ou serviços para outrem,
mediante o pagamento de uma contraprestação.

Mauro Schiavi conclui que o termo relação de trabalho pressupõe trabalho prestado por
conta alheia, em que o trabalhador (pessoa física) coloca sua força de trabalho em prol de
outra pessoa (física ou jurídica), podendo o trabalhador correr ou não os riscos da atividade.
Desse modo, estão excluídas as modalidades de relação de trabalho em que o trabalho for
prestado por pessoa jurídica, porquanto, nessas modalidades, embora haja relação de
trabalho, o trabalho humano não é objeto dessas relações jurídicas, e sim um contrato de
natureza cível ou comercial.

Quando se fala em relação de trabalho incluem-se a relação de emprego, a relação


de trabalho autônomo, eventual, avulsos, voluntários e estagiários.

Desta forma, ao alterar a redação do art.114 e retirar a necessidade de relação entre


empregado e empregador (relação de emprego), o legislador ampliou consideravelmente o
leque de situações em que a Justiça do Trabalho será competente para julgar e processar
eventuais ações, visto que podemos considerar a Relação de Trabalho como gênero no qual
está inserida a Relação de Emprego.

Neste sentido, um pedreiro, um pintor, um marceneiro ou qualquer outro profissional


autônomo que não receber todas as verbas devidas pelo serviço prestado, embora não seja
empregado do tomador de serviços em função da ausência de subordinação, ajuizará eventual
demanda perante a JT.

Antes da E.C. 45/2004 Depois da E.C. 45/2004

Antes da EC 45/2004, a Justiça do Trabalho Após a EC 45/2004, a Justiça do Trabalho


era competente para processar e julgar passou a ter competência para processar e
apenas as ações envolvendo as relações de julgar qualquer relação de trabalho e não
emprego, as demandas resultantes dos só a relação de emprego, as resultantes de
contratos de empreitada, em que o pequena empreitada e as firmadas entre
empreiteiro fosse operário ou artífice (art. trabalhadores portuários e operadores
652, a, III, da CLT) e as ações entre portuários ou OGMO.
trabalhadores portuários e os operadores
portuários ou o Órgão Gestor de Mão de
Obra - OGMO (art. 652, a, V, da CLT).

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II. As ações que envolvam exercício do direito de greve;

“ [...] independente de ser um direito, é a greve um fato social, uma


liberdade pública consistente na suspensão do trabalho, quer
subordinado ou não, com o fim de se obter algum benefício de ordem
econômica, social ou humana. É em suma o direito de não trabalhar. ” –
Raimundo Simão de Melo

A JT já era competente para julgar processos envolvendo o direito de greve em si, a mudança
que trouxe a emenda foi ampliar essa competência para as ações que envolvam o exercício
do direito de greve (Exemplo: Julgar ação possessória por conta de uma invasão de
propriedade durante, motivada e por razão da greve).

“ A Justiça do Trabalho, tradicionalmente, apreciava os conflitos de greve envolvendo direitos das


classes trabalhadora e patronal, no chamado dissídio coletivo de greve, seja apreciando a abusividade
do movimento e garantia de funcionamento de atividades essenciais, seja apreciando as cláusulas
econômicas. Não apreciava a Justiça Especializada as controvérsias periféricas que envolviam a greve,
como as ações possessórias e as ações indenizatórias, em razão do movimento grevista envolvendo as
próprias partes que participam do movimento, bem como direitos de terceiros. ” – Mauro SCHIAVI

Diante da adição realizada pela E.C. nº45/2004, que estabeleceu a JT como competente para
processar e julgar as ações que envolvam exercício do direito de greve, constata-se que a
mesma agora é competente tanto para as ações prévias (inibitórias), para assegurar o exercício
do direito de greve para a classe trabalhadora, como as ações possessórias, para defesa do
patrimônio do empregador, como as ações para reparação de danos, tanto aos trabalhadores
como aos empregadores, e até danos causados aos terceiros.

Nesta linha, o STF editou a Súmula Vinculante 23:

Súmula Vinculante nº 23 do STF – A Justiça do Trabalho é competente para processar


e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos
trabalhadores da iniciativa privada.

• Competência da JT nas greves dos servidores públicos

Cercado de divergências. O STF entende que a JT não possui competência para processar e
julgar ações envolvendo greves dos servidores públicos, visto que não possui competência
para processar e julgar ações envolvendo o servidor público estatutário. Entretanto, tal
entendimento possui resistência na doutrina, através de interpretações dos incisos I e II.

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III. As ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre


sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

Para Mauro SCHIAVI, o Direito Sindical, indiscutivelmente, integra o Direito do Trabalho.


Por isso, toda a matéria que envolve os Sindicatos, bem como todas as ações em que se
discutam questões sindicais, deve ser apreciada pelo Judiciário Trabalhista.

Entretanto, antes da E.C. 45/2004, por tais ações não envolverem relações entre empregado
e empregador, não seriam da competência da JT. Tal informação só ressalta a extrema
importância da mudança realizada pela E.C. e positivada no já descrito inciso primeiro deste
artigo 114 acerca da ampliação da competência da JT para agora, processar e julgar ações
envolvendo relações de trabalho.

O mesmo SCHIAVI traz que, em relação ao inciso aqui discutido, atualmente há duas
vertentes diversas que tratam sobre sua interpretação:

a) Restritiva: Somente há competência da JT para as ações que versem sobre


representação sindical (disputa entre sindicatos pela representação da categoria e
fixação da base territorial), não abrangendo as controvérsias entre sindicatos e
terceiros e também entre empregados e empregadores envolvendo o exercício da
representação sindical;

b) Ampliativa: A competência da JT não restrita às ações sobre representação sindical,


mas sim às ações que envolvem matéria sindical, entre sindicatos e empregados e
sindicatos e empregadores. → No inciso aqui discutido, há uma vírgula após o termo
ações sobre representação sindical.

IV. Os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data,


quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua
jurisdição;

Antes mesmo da Emenda a JT já enquadrava tais ações dentro de sua competência, a E.C.
veio para positivar tal competência e colocar um fim nas divergências existentes. A hipótese
de habeas corpus mais comum (e ainda assim bem rara) é quando da ocorrência de prisão de
depositário infiel, só que tais ocorrências praticamente cessaram em obediência ao Pacto de
São José da Costa Rica. Há também a hipótese de prisão por falso testemunho na JT ou
quando há uma proibição ao seu direito de ir e vir. O habeas data pode ser utilizado quando
há uma recusa na entrega de informações necessárias.

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O depositário é um auxiliar da justiça e será nomeado no auto de constrição de bem. No caso de penhora,
o encargo pode ser recusado, como estabelece a Súmula 319 do STJ. O auxiliar tem como encargo
guardar e conservar o bem evitando extravio ou deteriorações enquanto aguarda ato judicial que
determine a sua entrega, normalmente ao que teve o direito sobre ele reconhecido em juízo, ao
adjudicante ou arrematante na execução pecuniária, ou mesmo ao executado, se o depositário for
terceiro.

O depositário judicial não se confunde com o depositário contratual que fica sujeito a ação de depósito
que visa exigir a restituição da coisa depositada, disciplinada pelos arts. 901 a 905 do Código de Processo
Civil que também prevê, sob o texto de 1973, a prisão civil, em preceito cuja recepção pela Constituição
Federal de 1988 tornou-se controvertida.

O depositário judicial quando chamado a entregar a coisa depositada não o fizer estará sujeito à prisão
civil determinada nos próprios autos como autoriza o § 3º do art. 666 do CPC inserido pela Lei 11.382/06.

A Súmula nº 619 do STF, anterior àquela lei, já admitia que “a prisão do depositário judicial pode ser
decretada no próprio processo em que se constitui o encargo, independentemente da propositura de ação de
depósito”[10]. A súmula eliminava resistência dos que entendiam não ser possível requerê-la nos
próprios autos em que fora feito o depósito, exigindo a ação autônoma.

Para ser decretada a prisão civil do depositário infiel era necessário que tivesse assumido expressamente
este encargo, por declaração de vontade, assinada pessoalmente ou por seu advogado. A prisão somente
não seria decretada no caso do depositário provar caso fortuito ou força maior.

O Plenário do STF, no entanto, no dia 03 de dezembro de 2008 negou provimento ao recurso


extraordinário nº 466343 que discutia prisão de alienante fiduciário infiel, interpretando a EC 45/04
aplicou o Pacto de San Jose, e revogou a Súmula nº 619 para somente admitir a prisão no caso de dívida
alimentar. (Fonte: Âmbito Jurídico)

V. Os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição


trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o

A análise deste inciso será realizada em momento posterior.

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VI. As ações de indenização por dano moral ou patrimonial,


decorrentes da relação de trabalho;

Assim como os mandados de segurança e habeas corpus, apesar da ausência de previsão


expressa, essa competência já era exercida pela JT. Incomodado com essa ausência que
causava discussões, o legislador optou por positivar tal competência para cessar quaisquer
dúvidas e divergências doutrinárias acerca da competência da JT para esses tipos de ação.

“ Importante assinalar que, antes da E.C. n.45/2004, já havia entendimento doutrinário e


jurisprudencial no sentido de que as ações que tivessem por objeto a indenização por danos morais
propostas pelo empregado em face do empregador, ou seja, decorrentes de uma relação de emprego,
estariam sob a competência da Justiça do Trabalho, ainda que o juiz tivesse de aplicar normas de
direito civil. ” – Carlos Henrique BEZERRA LEITE

Através da nova redação do art.114 da CF, promovida pela E.C. n.45/2004, foram
transferidas para a Justiça do Trabalho as ações de indenização por dano moral ou
patrimonial propostas por outros trabalhadores não empregados (eventuais, avulsos,
autônomos, subordinados atípicos ou parassubordinados) em face dos respectivos
tomadores de serviços, desde que não haja lei dispondo, expressamente, ser a Justiça
Comum a competência para processá-las e julgá-las.

VII. As ações relativas às penalidades administrativas impostas aos


empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de
trabalho;

Essas ações que envolvem o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) antes não eram
possíveis de serem da competência da JT, pois não decorriam de relação de emprego. Tais
ações, por força da regra geral fixada no art.109, I da CF/88, eram da Justiça Federal Comum
a competência para processá-las e julgá-las.

IMPORTANTE: Não confundir MPT com MTE.

VIII. A execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art.


195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que
proferir;

A análise deste inciso será realizada em momento posterior.

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IX. Outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na


forma da lei.

Inciso aparentemente desnecessário devido a não mais ser exigido que os litígios sejam
decorrentes de relação empregado-empregador. Entretanto, a inclusão deste inciso abre
espaço para demais ampliações de competências que por ventura venham a ser realizadas.

Nas palavras de Mauro Schiavi:

“ Com a E.C. n.45/04, houve uma alteração no eixo central da competência da Justiça do
Trabalho, pois o que antes era exceção, ou seja, apreciar as controvérsias que envolvem a
relação de trabalho, agora passou a ser a regra geral ”.

Determinados autores (Schiavi, por exemplo) entendem que qualquer situação


decorrente de relação de trabalho, seja ela qual for, mesmo que seja envolvendo
médicos, advogados e similares, são aptas a serem julgadas pela JT, entretanto não
IMPORTANTE
!! é esse o entendimento majoritário na jurisprudência, que entende que não será da
competência da JT quando envolver o chamado “consumidor final”, nesses casos
a competência será da Justiça Civil.

Sobre o tema, assim leciona o professor Roberto Saraiva:

“ O Código de Defesa do Consumidor possibilita que a relação de consumo também tenha


por objeto a prestação pessoal de serviços (art. 3.0, § 2.0, da Lei 8.078/1990). Pois bem, nessa
hipótese, a relação jurídica formada entre o prestador do serviço (fornecedor) e o destinatário
do mesmo serviço (consumidor) apresenta-se sob dois ângulos distintos. Caso o litígio entre
o fornecedor e o consumidor envolva relação de consumo, ou seja, a discussão gire em torno
da aplicação do Código de Defesa do Consumidor, entendemos que a Justiça do Trabalho
não terá competência para processar e julgar a demanda, uma vez que a pretensão deduzida
em juízo não está afeta à relação de trabalho. Todavia, se o litígio entre o prestador de
serviços e o consumidor abranger a relação de trabalho existente entre ambos, como no caso
de não recebimento pelo fornecedor pessoa física do numerário1 contratado para a prestação
dos respectivos serviços, não há dúvida que a Justiça do Trabalho será competente para
processar e julgar a demanda. ”

1 A palavra numerário refere-se à dinheiro.

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Alberto Iervese

No mesmo sentido, posicionam-se Rodolfo Pamplona Filho e Tercio Souza:

“ Agora todas as ações oriundas das relações de trabalho (para muitos, relações de emprego),
no que não temos como desprezar os contratos civis, consumeristas ou outros contratos de
atividade (quando se referirem à discussão sobre a valorização do trabalho humano), deverão
ser ajuizadas, ou ao menos deveriam, a partir da Reforma do Judiciário, na Justiça do
Trabalho. Dessa forma, sem o animus de taxatividade, afirmamos que tanto uma ação
envolvendo o descumprimento de regras de um contrato quanto uma ação de cobrança de
honorários advocatícios, prestados por profissional autônomo, deveriam, em nossa opinião,
ser apreciadas na Justiça Laboral. Contratado, porém, determinado escritório (e não um
profissional específico), o contratante deverá ajuizar sua ação na Justiça Comum. Já o próprio
advogado, que presta serviços a esse escritório, não como titular ou empregado, mas como
associado, pode ainda quando autônomo reclamar dele na Justiça do Trabalho os seus
honorários eventualmente inadimplidos, valendo o mesmo raciocínio, por exemplo, para
trabalhadores cooperativos para recebimento de seus créditos perante a cooperativa;
estagiários para percepção de bolsa-auxílio que lhe foi sonegada; representantes comerciais
autônomos pelas comissões e honorários não recebidos etc. Isso, obviamente, não quer dizer
que o direito material correspondente será o mesmo, mas sim, apenas, que o órgão
responsável pela sua jurisdição será único.

Entretanto, o posicionamento do STJ se direciona em sentido diverso:

Súmula 363 do STJ - Compete à Justiça estadual processar e julgar a ação de


cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente.

O STJ direciona seu entendimento em sentido contrário, sustentando a exclusão das relações
de consumo em que há um prestador, pessoa natural, da competência da Justiça do Trabalho.
Coerente com esse entendimento, assim afirma Otávio Amaral Calvet: “ Questões similares
à relação de emprego (em sentido estrito), pela hipossuficiência de uma das partes e pela
concessão de benefícios a ela em busca de uma igualdade substantiva, há de se ressaltar que,
na relação de consumo o protegido é o consumidor e, em hipótese alguma, o prestador dos
serviços, este aparecendo como o detentor do poder econômico que oferece publicamente
seus préstimos, auferindo ganhos junto aos consumidores. Transportando para as relações
de trabalho em sentido lato, seria no mínimo estranho imaginar-se o deferimento de uma
tutela especial ao consumidor que, no caso, apareceria também como tomador dos serviços,
reconhecendo-se-lhe, simultaneamente, duas posições que se afiguram incompatíveis

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 15


Alberto Iervese

ontologicamente: a fragilidade do consumidor com a de contratante beneficiado pela energia


de trabalho (tomador de serviços). Assim, resta caracterizada a segunda premissa para a
caracterização das relações de trabalho da competência da Justiça do Trabalho: o tomador
dos serviços não pode ser o usuário final, mas o mero utilizador da energia de trabalho para
a consecução de sua finalidade social (ainda que seja o tomador pessoa natural ou ente
despersonalizado). ”

Competência em razão do local

• Regra Geral – Varas do Trabalho

(CLT) Art. 651 - A competência das Juntas de Conciliação e


Julgamento é determinada pela localidade onde o empregado,
reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda
que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro.

A regra geral da competência da Justiça do Trabalho é a do local de prestação do serviço,


pois, visando proteger o empregado e facilitar seu acesso à justiça, o legislador entendeu que
esse é o local onde o mesmo pode mais facilmente pleitear a obediência aos seus direitos em
juízo ou exerceu seu contraditório em processos que por ventura venham a ser movidos pelo
empregador.

OBS: “Juntas de conciliação e julgamento” - leia-se varas do trabalho.

• Exceções – Varas do Trabalho

§ 1º - Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a


competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha
agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na
falta, será competente a Junta da localização em que o empregado
tenha domicílio ou a localidade mais próxima

Agente é o representante da empresa em determinado local, enquanto que o viajante é aquele


que representa a empresa em suas viagens. Essa regra foi implementada visando a facilitação
do acesso à justiça por parte do trabalhador.

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Alberto Iervese

IMPORTANTE Nos contratos de emprego é vedada a inserção de cláusula de eleição de foro


!!

Tal entendimento acima apresentado possui grande força na jurisprudência nacional,


que visualiza a incompatibilidade mesmo sem nada neste sentido estar disposto na
CLT. Essa corrente tem como base a incompatibilidade deste instituto com os
dissídios individuais ou coletivos de trabalho, na medida em que a orientação é
facilitar o acesso do trabalhador ao órgão jurisdicional, considerando sua
hipossuficiência econômica.

Entretanto, Carlos Henrique BEZERRA LEITE, à luz do mesmo princípio


constitucional do amplo acesso à justiça, pede licença para discordar do
supramencionado entendimento ao afirmar que, como todas as regras previstas no
art. 651 da CLT tem como objetivo central a facilitação do acesso à justiça para o
cidadão trabalhador, presumivelmente vulnerável e hipossuficiente, é preciso analisar
no caso concreto a validade do foro de eleição firmado no contrato de emprego (via
de regra, um contrato de adesão), e examinar se o mesmo é mais benéfico ao
empregado para assegurar-lhe o pleno acesso à justiça do trabalho. Pois, segundo o
autor, há apenas ganhos para o empregado no sentido de facilitar o acesso à justiça,
pois, ainda que o local do foro de eleição seja mais benéfico ao trabalhador, mesmo
assim poderá o empregado ingressar com sua ação no local competente diverso do
foro de eleição, situação em que estará abrindo mão de uma vantagem processual.

§ 2º - A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento,


estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em
agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja
brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em
contrário.

A legislação pátria nesse parágrafo em estudo protege apenas o nacional, que trabalha em
agência ou filial no estrangeiro, e somente em situações em que não haja convenção
internacional dispondo em contrário. O professor Jonhson entende que o foro competente
no Brasil será aquele que for mais benéfico ao trabalhador.

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§ 3º - Em se tratando de empregador que promova realização de


atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao
empregado apresentar reclamação no foro da celebração do
contrato ou no da prestação dos respectivos serviços.

Mais uma vez buscando proteger o acesso à justiça do trabalhador, em situações em que o
trabalhador exerce suas funções fora do local do contrato do trabalho, o mesmo pode
apresentar sua reclamação em ambos os locais, é uma faculdade do empregador.

Exemplo utilizado pelo professor Jonhson: O motorista de ônibus intermunicipal e um


funcionário de circo: Tais empregados podem apresentar suas reclamações em qualquer uma
das cidades que exerceram suas funções justificando tal escolha perante o julgador, que
observará a situação de acordo com o acesso à justiça.

• Competência Territorial dos TRT’s

Art. 677 - A competência dos Tribunais Regionais determina-se pela


forma indicada no art. 651 e seus parágrafos e, nos casos de dissídio
coletivo, pelo local onde este ocorrer

Competência funcional

A competência funcional (em razão da função) é fixada em virtude de certas atribuições


especiais conferidas aos órgãos judiciais em determinados processos.

• Competência Funcional dos Juízes do Trabalho


Antigamente exercida pelo Juiz Presidente (atualmente denominado juiz titular) em
conjuntos com os juízes classistas. Após a E.C. 45/2004, passa a ser exercida
monocraticamente pelo Juiz Titular, que pode ser auxiliado ou substituído pelo Juiz
Substituto.

A competência funcional das Varas do Trabalho está prevista no art.652 da CLT, in verbis:

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Art. 652 - Compete às Juntas de Conciliação e Julgamento

a) conciliar e julgar: de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da


relação de trabalho;
I - os dissídios em que se pretenda o
reconhecimento da estabilidade de b) processar e julgar os inquéritos para
empregado; apuração de falta grave;

II - os dissídios concernentes a c) julgar os embargos opostos às suas


remuneração, férias e indenizações por próprias decisões;
motivo de rescisão do contrato individual de
trabalho; d) impor multas e demais penalidades
relativas aos atos de sua competência;
III - os dissídios resultantes de contratos de
Parágrafo único - Terão preferência para
empreitadas em que o empreiteiro seja
julgamento os dissídios sobre pagamento de
operário ou artífice;
salário e aqueles que derivarem da falência
do empregador, podendo o Presidente da
IV - os demais dissídios concernentes ao
Junta, a pedido do interessado, constituir
contrato individual de trabalho;
processo em separado, sempre que a
V - as ações entre trabalhadores portuários e reclamação também versar sobre outros
os operadores portuários ou o Órgão Gestor assuntos.

• Competência Funcional dos TRT’s


A competência funcional dos TRT’s, quando divididos em Grupos de Turmas, deverá
observar o disposto no art.6º da Lei n.7.701/88 e o respectivo Regimento Interno, ou seja,
um Grupo de Turma, necessariamente, terá competência para apreciar e julgar os dissídios
coletivos. Ocorre que nem todos os TRT’s possuem Grupos de Turmas. Alguns deles
funcionam apenas com o Pleno; outros, com Pleno e Turmas.

O art.678 da CLT define a competência funcional dos TRT’s quando dividido em Turmas

Art. 678 - Aos Tribunais Regionais, quando divididos em Turmas, compete:

I - ao Tribunal Pleno, especialmente: 2) a extensão das decisões proferidas em


dissídios coletivos;
a) processar, conciliar e julgar originariamente os
dissídios coletivos; 3) os mandados de segurança;

b) processar e julgar originariamente: 4) as impugnações à investidura de vogais e


seus suplentes nas Juntas de Conciliação e
1) as revisões de sentenças normativas; Julgamento;

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 19


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c) processar e julgar em última instância: 2) as reclamações contra atos administrativos de


seu presidente ou de qualquer de seus membros,
1) os recursos das multas impostas pelas assim como dos juízes de primeira instância e de
Turmas; seus funcionários.

2) as ações rescisórias das decisões das Juntas II - às Turmas:


de Conciliação e Julgamento, dos juízes de
direito investidos na jurisdição trabalhista, das a) julgar os recursos ordinários previstos no art.
Turmas e de seus próprios acórdãos; 895, alínea a ;

3) os conflitos de jurisdição entre as suas b) julgar os agravos de petição e de instrumento,


Turmas, os juízes de direito investidos na êstes de decisões denegatórias de recursos de
jurisdição trabalhista, as Juntas de Conciliação e sua alçada;
Julgamento, ou entre aqueles e estas;
c) impor multas e demais penalidades relativas e
d) julgar em única ou última instâncias: atos de sua competência jurisdicional, e julgar os
recursos interpostos das decisões das Juntas
1) os processos e os recursos de natureza dos juízes de direito que as impuserem.
administrativa atinentes aos seus serviços Parágrafo único. Das decisões das Turmas não
auxiliares e respectivos servidores; caberá recurso para o Tribunal Pleno, exceto no
caso do item I, alínea "c", inciso 1, deste artigo

Já o art. 679 da CLT define a competência dos Tribunais não divididos em turmas, in verbis:

Art. 679 - Aos Tribunais Regionais não divididos em Turmas, compete o


julgamento das matérias a que se refere o artigo anterior, exceto a de
que trata o inciso I da alínea c do Item I, como os conflitos de jurisdição
entre Turmas.

• Competência Funcional do TST


Como bem ensina Carlos Henrique BEZERRA LEITE, O TST tem por principal função
uniformizar a jurisprudência trabalhista. A competência do TST está disciplinada pela Lei n.
7.701, de 21 de dezembro de 1988, e pela Resolução Administrativa n. 1.295/2008 (DJU 9-5-2008),
que instituiu o Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho – RITST.

Compete, pois, ao TST, nos termos do art.67 do seu Regimento Interno, processar, conciliar e
julgar, na forma da lei, em grau originário ou recursal ordinário ou extraordinário, as demandas
individuais e os dissídios coletivos eu excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais, os conflitos
de direito sindical, assim como outras controvérsias decorrentes de relação de trabalho, e os litígios
relativos ao cumprimento de suas próprias decisões, de laudos arbitrais e de convenções e acordos
coletivos.

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Partes e Procuradores
1. Jus Postulandi
Jus Postulandi é o direito de postular em juízo, que na Justiça do Trabalho, excepcionalmente,
de forma similar ao que acontece no Sistema dos Juizados Especiais Cíveis, pode ser exercido
pelas partes, seja ela empregado ou empregador, conforme art. 791 da CLT, ou por
procurador.

Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão reclamar


pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas
reclamações até o final.

§ 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão


fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador,
ou provisionado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência


por advogado

Sempre foi polêmica a questão do Just Postulandi da parte na JT. Há quem o defenda,
argumentando, que é uma forma de viabilizar o acesso do trabalhador à Justiça,
principalmente aquele que não tem condições de contratar o advogado. Entretanto, há
também quem o critique, como o doutrinador MAURO SCHIAVI, que entende que com
o advento da E.C. nº45/2004 e a vinda de outras ações para a Justiça do Trabalho que não
são oriundas da relação de emprego, não mais se justifica a existência do Jus Postulandi, até
mesmo pelo fato da complexidade das relações jurídicas que decorrem da relação de
emprego.

Para SCHIAVI, a parte assistida por advogado tem maiores possibilidades de êxito no
processo, assegurando o cumprimento do princípio constitucional do acesso real à Justiça do
Trabalho, e também uma ordem jurídica justa. Neste sentido, diante também da
complexidade das causas que tramitam na JT, a não assistência por advogado, ao invés de
facilitar, acaba dificultando o acesso à justiça.

Hoje, a parte não estar assistida por advogado na Justiça do Trabalho é exceção

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 21


Alberto Iervese

A Súmula 425 do TST estabelece limitações para o exercício do Jus Postulandi das partes
(pessoas leigas). Segundo o supramencionado entendimento sumular o Jus Postulandi destes
somente se estende até a atuação perante os Tribunais Regionais, não alcançando a atuação
perante o Tribunal Superior do Trabalho, o que o professor Jonhnson entende ser uma
interpretação contra legem e prejudicial ao acesso à justiça.

Súmula 425 do TST – O jus postulandi das partes, estabelecido no


art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais
Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação
cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do
Tribunal Superior do Trabalho.

Em relação aos trabalhadores não envolvidos em relação empregado/empregador, a


possibilidade de postularem em juízo sem advogado é um tema controvertido. Nos
inclinamos para o posicionamento minoritário, que entende que deve ser permitido tal
forma de atuação, com fundamento no acesso à justiça. Entretanto, como destacamos, nosso
entendimento possui caráter minoritário e encontra forte resistência na doutrina, como pode
ser constatado pelo trecho abaixo transcrito.

“ (...) o jus postulandi na Justiça do Trabalho somente é observado para as ações relativas à relação de
emprego e também para a pequena empreitada (art.652, III, da CLT). Para as demais ações relativas à
relação de trabalho, em nosso sentir, o trabalhador necessita de advogado. ” – MAURO SCHIAVI

Existe um dispositivo que trata dos honorários na situação acima mencionada, qual seja a
Instrução Normativa nº27 do TST, que trata de normas procedimentais aplicáveis ao
processo do trabalho em decorrência da ampliação da competência da JT pela E.C. nº
45/2004 (LEITURA RECOMENDADA).

TST, I.N. nº27, Art. 5º - Exceto nas lides decorrentes de relação de


emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera
sucumbência.

Interpretando tal instrução normativa, a doutrina, em sua maioria, bem como os Tribunais
Brasileiros, entende que a redação produzida pelo legislador, onde excetuou apenas as lides
oriundas de relação de emprego, faz com que a lei manifeste sua vontade de forma implícita
no sentido de não permitir a postulação em juízo sem advogado nos casos oriundos
de relação de trabalho.

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Alberto Iervese

Ocorre que entendemos em sentido diverso, visto que, em nossa visão, a mera existência do
supramencionado dispositivo, que apenas regula como ocorrerá a aplicação dos honorários
de sucumbência, não obriga a constituição de um procurador para a postulação em juízo,
apenas regula o funcionamento dos honorários sucumbenciais para os casos em que existe
procurador constituído nos autos.

Apesar de concordarmos com o posicionamento do professor SCHIAVI quanto à uma


maior probabilidade de êxito no processo nas situações em que a parte é assistida por
advogado, entendemos que deve ser reconhecida a possibilidade de os trabalhadores
ingressarem com suas reclamações sem advogado, visto que esta oportunidade é reconhecida
aos empregados e empregadores.

2. Mandato
No processo do trabalho o mandato é admitido em três modalidades: expresso, tácito
e apud acta.

a) Mandato expresso → Trata-se da Procuração prevista no art. 105 do CPC, que é a


procuração geral para o foro, a chamada ad judicia, que confere poderes gerais, ou, por
determinação expressa do outorgante, poderá caracterizar a procuração et extra, em que será
delimitado de forma quais poderes extras, ou seja, além dos gerais, o outorgado possuirá.

b) Mandato tácito → Aquele que, apesar de nos autos não constar instrumento de mandato,
decorre de um comportamento ou um conjunto de comportamentos, tal como sentar ao
lado do representado na audiência. É aceito na JT, entretanto, é vedado substabelecer e
apenas confere poderes gerais ad judicia.

c) Mandato apud acta → Aquele previsto no art.16 da Lei 1060/50 (Lei da Defensoria
Pública), nele o juiz determina a inserção dos termos do mandato na ata de audiência e,
exceto se houver previsão expressa de outorga de poderes especiais, os poderes do
advogado serão apenas os da cláusula ad judicia. Em 2011 foi adicionada à CLT o §3º do
seu art.791, que admite a possibilidade de constituição de procurador com inserção na ata
de audiência por requerimento verbal do advogado interessado, com anuência da parte
interessada. Apesar do professor Jonhnson entender tal situação como um novo tipo de
mandato (o mesmo reconhece a proximidade com o mandato apud acta), a doutrina entende
o mencionado dispositivo como uma forma de reconhecimento e consagração do mandato
apud acta.

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§ 3o. A constituição de procurador com poderes para o foro em


geral poderá ser efetivada, mediante simples registro em ata de
audiência, a requerimento verbal do advogado interessado, com
anuência da parte representada.

3. Honorários Advocatícios
Antes da reforma não existia condenação a honorários advocatícios como regra geral. A
condenação somente seria cabível se estivesse assistido pelo sindicato dos empregados e se
recebesse menos que dois salários mínimos ou comprovar que não pode demandar sem
prejuízo próprio ou de sua família (Súmula 219 do TST). Depois da reforma, foi criado o
art.791-A da CLT, que permite a cobrança de honorários como regra geral, com base
no princípio da sucumbência.

Os honorários serão fixados pelo juízo devendo observar o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação
do serviço, a natureza e a importância da causa, bem como o trabalho realizado pelo advogado e o tempo
exigido para o seu serviço. Esses critérios são os mesmos utilizados no artigo 50 parágrafo 2º do Código de
Processo Civil. Entretanto, o valor definido na seara trabalhista deve permanecer no limite entre 5% e 15%.
Nos casos de procedência parcial haverá honorários de sucumbência recíproca, porém não poderá ser
realizada a compensação entre os valores de honorários advocatícios. Serão devidos os honorários ainda na
reconvenção, nas ações contra a fazenda pública, e naquelas em que a parte está assistida ou substituída pelo
sindicato de sua categoria. – Fonte: JOTA

“O reclamante que perder uma ação, ainda que de forma parcial será responsabilizado pelo pagamento
dos honorários advocatícios da parte contrária. Mesmo que seja beneficiário da Justiça Gratuita não
ficará livre de responder por honorários de sucumbência.

Se tiver créditos a receber ainda que seja em outro processo os honorários advocatícios serão cobrados.
Se não tiver créditos a exigência do pagamento ficará suspensa, podendo ser retomada se demonstrada
que a situação do reclamante se modificou. Após dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou a impossibilidade da cobrança a exigência será extinta.

Essa alteração na legislação a nosso ver deve provocar uma redução no número de reclamações
trabalhistas. A avaliação para o ingresso da ação reclamatória terá que ser mais criteriosa pelos riscos d
o insucesso da ação, que pode importar em custos para o reclamante. Por outro lado, as
empresas, também passam a ter um risco maior, pois em caso de condenação agora também respondem
por honorários de sucumbência. ” – Fonte: A Tribuna.

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Art. 791 – A. Ao advogado, ainda que atue §3º. Na hipótese de procedência parcial, o
em causa própria, serão devidos juízo arbitrará honorários de sucumbência
honorários de sucumbência, fixados recíproca, vedada a compensação entre
entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e honorários.
o máximo de 15% (quinze por cento)
§4º. Vencido o beneficiário da justiça
sobre o valor que resultar da liquidação
gratuita, desde que não tenha obtido em
da sentença, do proveito econômico
juízo, ainda que em outro processo, créditos
obtido ou, não sendo possível mensurá-
capazes de suportar a despesa, as
lo, do valor atualizado da causa.
obrigações decorrentes de sua sucumbência
§1º. Os honorários são devidos também nas ficarão sob condição suspensiva de
ações contra a Fazenda Pública e nas ações exigibilidade e somente poderão ser
em que a parte estiver assistida ou executadas se, nos dois anos subsequentes
substituída pelo sindicato de sua categoria ao trânsito em julgado da decisão que as
certificou, o credor demonstrar que deixou de
§2º. Ao fixar os honorários, o juízo observará:
existir a situação de insuficiência de recursos
I. O grau de zelo do profissional; que justificou a concessão de gratuidade,
II. O lugar da prestação do serviço; extinguindo-se, passado esse prazo, tais
III. A natureza e a importância da obrigações do beneficiário.
causa;
IV. O trabalho realizado pelo advogado
e o tempo exigido para o seu serviço.

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Despesas Processuais
As custas processuais correspondem ao preço ou à despesa inerente ao uso ou à
prestação do serviço público de justiça e possuem natureza jurídica de taxa
(correspondem a uma “taxa judiciária”). A prestação da atividade jurisdicional, a cargo
do Poder Judiciário, é serviço público remunerado, daí que cabe às partes o ônus de arcar
com as despesas processuais. No processo são praticados uma série de atos, alguns a cargo
dos litigantes e outros a cargo dos juízes e auxiliares, que geram um custo financeiro, custo
esse que deve ser suportado pelas partes, exceto nos casos de pobreza reconhecida, em
que o Estado concede a gratuidade processual.

Os emolumentos são taxas remuneratórias de serviços públicos, tanto notarial, quanto de


registro, configurando uma obrigação pecuniária a ser paga pelo próprio requerente e, por
essa razão, não constituem requisito essencial ou complementar da sentença trabalhista, pois
a responsabilidade pelo seu pagamento não é do sucumbente e, sim, do requerente.

3.1 – Das custas e emolumentos na Justiça do Trabalho


Na Justiça do Trabalho e nas demandas propostas na Justiça Estadual, no exercício da
jurisdição trabalhista, as CUSTAS relativas ao processo de conhecimento, serão pagas
pelo vencido, incidirão à base de 2% (dois por cento), observado o mínimo de R$
10,64 e o máximo de quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social*.

* O limite máximo, em consulta realizada em 09/11/2017, é de R$ 5.531,31.

A reforma trabalhista causou impacto no tema, visto que antes de sua aprovação inexistia
teto máximo, apenas o teto mínimo, de R$ 10,64, o que ocasionava custas extremamente
altas e injustas em processos em que o valor de cálculo fosse elevado.

Em sentido diverso, os EMOLUMENTOS, por força do art. 789-B, serão pagos pelo
requerente do serviço e deverão obedecer a tabela apresentada no dispositivo legal
supramencionado.

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Art. 789. Nos dissídios individuais e nos IV – quando o valor for indeterminado, sobre o
dissídios coletivos do trabalho, nas ações e que o juiz fixar.
procedimentos de competência da Justiça do
Trabalho, bem como nas demandas propostas § 1o As custas serão pagas pelo vencido,
perante a Justiça Estadual, no exercício da após o trânsito em julgado da decisão. No
jurisdição trabalhista, as custas relativas ao caso de recurso, as custas serão pagas e
processo de conhecimento incidirão à base de comprovado o recolhimento dentro do prazo
2% (dois por cento), observado o mínimo de R$ recursal.
10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e
o máximo de quatro vezes o limite máximo dos § 2o Não sendo líquida a condenação, o juízo
benefícios do Regime Geral de Previdência arbitrar-lhe-á o valor e fixará o montante das
Social, e serão calculadas: custas processuais.

I – quando houver acordo ou condenação, sobre § 3o Sempre que houver acordo, se de outra
o respectivo valor; forma não for convencionado, o pagamento das
custas caberá em partes iguais aos litigantes.
II – quando houver extinção do processo, sem
julgamento do mérito, ou julgado totalmente § 4o Nos dissídios coletivos, as partes vencidas
improcedente o pedido, sobre o valor da responderão solidariamente pelo pagamento das
causa; custas, calculadas sobre o valor arbitrado na
decisão, ou pelo Presidente do Tribunal.
III – no caso de procedência do pedido formulado
em ação declaratória e em ação constitutiva,
sobre o valor da causa;

3.2 - Da Assistência Judiciária Gratuita


Em decorrência do princípio constitucional do Acesso à Justiça, o Estado assume para si a
obrigação de prestar assistência judiciária gratuita para aqueles que comprovarem a
insuficiência de recursos.

A assistência judiciária gratuita é o direito da parte de ter um advogado do Estado


gratuitamente, bem como estar isenta de todas as taxas e despesas processuais.

Os requisitos para concessão da assistência judiciária gratuita na Justiça do Trabalho estão


previstos na Lei nº 5584/1970, em seu art. 14 e seguintes. São eles:

a) A parte precisa estar representada por seu sindicato;


b) A parte precisa ganhar até dois salários mínimos, ou, ganhando mais que isso, provar
sua hipossuficiência.

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Na Justiça do Trabalho, cabe aos sindicatos e não aos defensores públicos a concretização
da Assistência Judiciária Gratuita, esta somente sendo assumida pelos defensores quando
inexistir sindicato da categoria profissional do trabalhador, conforme art.17 da Lei 5.584/70.

Art. 14. Na Justiça do Trabalho, a § 2º A situação econômica do trabalhador


assistência judiciária a que se refere a Lei será comprovada em atestado fornecido pela
nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, será autoridade local do Ministério do Trabalho e
prestada pelo Sindicato da categoria Previdência Social, mediante diligência
profissional a que pertencer o sumária, que não poderá exceder de 48
trabalhador. (quarenta e oito) horas.

§ 1º A assistência é devida a todo aquele que § 3º Não havendo no local a autoridade


perceber salário igual ou inferior ao dobro do referida no parágrafo anterior, o atestado
mínimo legal, ficando assegurado igual deverá ser expedido pelo Delegado de
benefício ao trabalhador de maior salário, Polícia da circunscrição onde resida o
uma vez provado que sua situação empregado.
econômica não lhe permite demandar, sem
prejuízo do sustento próprio ou da família.

Art 16. Os honorários do advogado pagos pelo vencido reverterão em favor do Sindicato
assistente.

Art 17. Quando, nas respectivas comarcas, não houver Juntas de Conciliação e Julgamento
ou não existir Sindicato da categoria profissional do trabalhador, é atribuído aos
Promotores Públicos ou Defensores Públicos o encargo de prestar assistência judiciária
prevista nesta lei.

Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, a importância proveniente da


condenação nas despesas processuais será recolhida ao Tesouro do respectivo Estado.

Art 18. A assistência judiciária, nos termos da presente lei, será prestada ao trabalhador
ainda que não seja associado do respectivo Sindicato

3.3 - Da Justiça Gratuita


Costuma-se entender a Justiça Gratuita como uma espécie dentro do gênero Assistência
Judiciária Gratuita. Como toda espécie, sua abrangência é menor que a do seu gênero.

Segundo SCHIAVI, consiste a Justiça Gratuita no direito à gratuidade de taxas judiciárias,


custas, emolumentos, honorários de perito, despesas com editais, etc. Não terá a parte
direito à advogado do Estado gratuitamente, mas não pagará as despesas do
processo.

A Reforma Trabalhista alterou a regulamentação referente à concessão do benefício da


Justiça Gratuita.

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Alberto Iervese

Atualmente, para a concessão do benefício da Justiça Gratuita exige-se que a parte receba
salário igual ou inferior à 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social ou que comprove a insuficiência de recursos para o pagamento das custas
do processo.

Art. 790, § 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais
do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício
da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que
perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

§ 4o O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar


insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.

Antes da reforma, exigia-se que a parte recebesse salário igual ou inferior ao dobro do
mínimo legal ou declarar, sob as penas da lei, a impossibilidade de pagamento das custas sem
prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

• Honorários Periciais e Justiça Gratuita

Por determinação do art. 790-B, o benefício da Justiça Gratuita não exime o beneficiário da
obrigação de pagar, mesmo que de forma parcelada, os honorários periciais, caso
sucumbente, exceto se não tiver obtido, ainda que em outro processo, créditos capazes de
suportar a despesa, hipótese em que a obrigação recairá sobre a União.

§ 2o O juízo poderá deferir parcelamento dos


Art. 790-B. A responsabilidade pelo
honorários periciais.
pagamento dos honorários periciais é da
parte sucumbente na pretensão objeto da
perícia, ainda que beneficiária da justiça § 3o O juízo não poderá exigir adiantamento
gratuita. de valores para realização de perícias.

§ 1o Ao fixar o valor dos honorários periciais, § 4o Somente no caso em que o beneficiário


o juízo deverá respeitar o limite máximo da justiça gratuita não tenha obtido em juízo
estabelecido pelo Conselho Superior da créditos capazes de suportar a despesa
Justiça do Trabalho. referida no caput, ainda que em outro
processo, a União responderá pelo encargo

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 29


Alberto Iervese

Procedimentos
1. Procedimentos Trabalhistas

1.1 – Procedimento Sumário

Procedimento rápido, criado objetivando as pequenas causas. Cabível nos processos que
possuam valor da causa até dois salários mínimos. Previsto no §3º do art.2º da Lei 5.584/70.
Da decisão proferida em processo regido sob o procedimento sumário não cabe recurso,
salvo se for matéria constitucional. Na ata de audiência constará apenas um resumo dos atos
importantes que ocorreram e não a narração de todos os fatos que aconteceram.

1.2 – Procedimento Sumaríssimo

Embarca as causas que possuam valor que oscilam entre 02 e 40 salários mínimos. Regido
pela Lei n. 9.957/00 e previsto na CLT do art. 852-A até o art. 852-I. Aqui não há uma
limitação tão grande para efeito de recurso quanto no procedimento sumário, entretanto, não
cabe a interposição de todos os recursos.

1.3 – Procedimento Ordinário

Também denominado procedimento trabalhista comum. Aplicado nas causas com valor
acima de 40 salários mínimos. Nesse procedimento não há limitação quanto à possibilidade
de interposição de recursos.

1.4 – Procedimentos Especiais

São procedimentos que têm características especiais, previstos no próprio texto da CLT. São
eles: Inquérito judicial para apuração de falta grave (Art. 853 e seguintes da CLT); Dissídio
Coletivo (Art. 856 e seguintes da CLT); e Ação de Cumprimento (Art. 872 da CLT).

2. Do procedimento para as ações decorrentes de relação de trabalho

Considerando que o grande objetivo da E.C. nº 45/2004 em aumentar a competência da JT


foi facilitar o acesso à justiça, seria incoerente exigir um procedimento burocrático nessas
situações. Desta forma, para estas ações utiliza-se os procedimentos acima previstos, que são
revestidos pelo princípio da celeridade processual.

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Alberto Iervese

3. Procedimento Sumaríssimo – Análise do procedimento

Trata-se de procedimento diferenciado previsto nos art. 852-A a 852-I das Consolidações
da Lei do Trabalho.

O procedimento sumaríssimo é aplicável às causas cujo valor seja de 2 (dois) até 40


(quarenta) salários mínimos. Não se aplica, no entanto, para os entes da Administração Pública
direta, autárquica e fundacional.

Neste procedimento se aplica as regras específicas previstas e, inexistindo previsão sobre


determinado tema, aplica-se as normas relativas ao procedimento ordinário.

O pedido deve ser certo e determinado.

No procedimento sumaríssimo não é aceita a citação por edital. Se o reclamado não


for encontrado, o processo será arquivado, com custas para o reclamante. Entretanto, se o
reclamante já na petição inicial indicar que o réu se encontra em local incerto ou não sabido, e, por
isso, deverá ser citado por edital, o processo tramitará pelo rito ordinário.

A audiência aqui é única e não comporta divisão (Art. 852 – C da CLT).

A conciliação aqui pode ser proposta a qualquer momento, assim como no ordinário, só
que neste aqui as tentativas são feitas em uma maior intensidade. Outra diferença é que neste
procedimento não existem momentos em que a tentativa é obrigatória, como ocorre no ordinário.

Os incidentes e exceções devem ser imediatamente decididos em audiência. Obviamente


em algumas situações isso não será possível, por exemplo: incidente de impedimento do juiz ou até
mesmo de incompetência do juízo.

Neste procedimento o número máximo de testemunhas é o de 02 (dois) para cada parte.

Na sentença, assim como nos juizados especiais cíveis, não há a necessidade de produção
de relatório. A mesma deve ser proferida em audiência, bastando o registro em ata, de maneira
resumida, dos atos, afirmações e informações úteis à solução da causa.

No procedimento sumaríssimo o recurso de revista só cabe em caso de contrariedade à


súmula ou violação da constituição.

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Alberto Iervese

Petição Inicial
1. Local de apresentação da reclamação
O local de apresentação é disciplinado na CLT nos artigos 837 e 838, que tratam, cada um,
das duas possibilidades de estrutura da JT na localidade.

O art. 837 trata da possibilidade de somente existir uma única Vara do Trabalho ou,
inexistindo Vara do Trabalho, somente existir uma única Vara Cível que, por motivos óbvios,
torna inútil a distribuição do processo e faz com que seja possível a apresentação diretamente
na secretaria ou cartório.

Art. 837 – Nas localidades em que houver apenas 1 (uma) Junta de


Conciliação e Julgamento, ou 1 (um) escrivão do Cível, a reclamação será
apresentada diretamente à secretaria da Junta, ou ao cartório do Juízo.

OBS: A existência do termo “ou cartório do juízo” faz referência à possibilidade de não
existir Vara do Trabalho na localidade, hipótese em que o julgador será da Vara Cível, que
possui o cartório como equivalente à secretaria nas Varas do Trabalho.

Já o art. 838 dispõe acerca da possibilidade de, na localidade, existirem mais de uma Vara do
Trabalho ou, inexistindo ao menos uma Vara do Trabalho, mais de uma Vara Cível.

Art. 838 - Nas localidades em que houver mais de 1 (uma) Junta ou mais de
1 (um) Juízo, ou escrivão do cível, a reclamação será, preliminarmente,
sujeita a distribuição, na forma do disposto no Capítulo II, Seção II, deste
Título.

Nessa situação, por existir mais de um juízo apto a ser competente para processar e julgar a
causa, é necessário que o processo passe por uma distribuição para assegurar uma divisão
dos processos entre as Varas e, mais importante, assegurar o cumprimento ao princípio do
Juiz Natural.

Se não houvesse distribuição o reclamante poderia apresentar a reclamação perante o Juízo


que entenda, por diversos motivos, ser mais predisposto a beneficiá-lo.

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2. Pessoas legitimadas para apresentar a reclamação


O legislador, no art. 839 da CLT traz um rol taxativo acerca de quais são as pessoas
legitimadas para apresentar a reclamação trabalhista.

Art. 839 - A reclamação poderá ser apresentada:

a) pelos empregados e empregadores, pessoalmente, ou por seus representantes,


e pelos sindicatos de classe;

b) por intermédio das Procuradorias Regionais da Justiça do Trabalho.

3. Requisitos da Petição Inicial – Alterados pela reforma


Os requisitos da petição inicial são estabelecidos no artigo 840 da CLT, que sofreu alterações
com a reforma, tendo sido alterados os parágrafos 1º e 2ºe adicionado o 3º.

Art. 840 - A reclamação poderá ser escrita ou verbal.

Conforme o dispositivo legal a reclamação poderá ser escrita ou verbal. A reclamação verbal
é uma consolidação do princípio da oralidade, entretanto, apesar da possibilidade prevista no
art. 840, as secretarias estão criando cada vez mais dificuldades para a apresentação de
reclamação de forma oral, a maior parte aceita apenas em situações de urgência, como nos
casos em que o reclamante está perto de perder o direito, nas demais situações é comum que
direcionem o reclamante ao sindicato responsável ou à Defensoria Pública.

§1º. Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação


das partes, a breve exposição dos fatos que resulte o dissídio, o pedido, que deverá
ser certo, determinado e com indicação de seu valor, a data e a assinatura do
reclamante ou de seu representante.

Antes da reforma, caso a parte não estabelecesse valor da causa, caberia ao juiz analisar o
processo e determinar o valor da causa, que poderia ser impugnado na contestação (caso
fosse estabelecido antes desta) ou nas razões finais (caso o valor fosse estabelecido após a
contestação) – Art.2º, §1º, §2º da Lei 5.584/1970.

§2º. Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em duas vias datadas e


assinadas pelo escrivão ou secretário, observado, no que couber, o disposto no §1º
deste artigo.

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Assim como acontece nos Juizados Especiais Cíveis, que também admitem a apresentação
de petição inicial verbalmente, a reclamação verbal será reduzida a termo, ou seja, será
transformada em texto pelo escrivão ou secretário que será, ao final da transcrição, assinado
pelo reclamante.

§3º. Os pedidos que não atendam ao disposto no §1º deste artigo serão julgados
extintos sem resolução de mérito.

Parágrafo adicionado pelo texto da Reforma Trabalhista (os outros dois foram modificados
pelo texto da reforma). É considerado muito radical e incondizente com o princípio do
aproveitamento dos atos processuais. Desta forma, sua aplicação vem sendo relativizada na
JT, visto que tem sido mais comum a intimação do autor para emendar a inicial, que somente
será extinta se o mesmo se quedar inerte, como acontece no Processo Civil.

4. Da Citação – Alterado pela Reforma

Art. 841 - Recebida e protocolada a reclamação, o escrivão ou secretário, dentro de


48 (quarenta e oito) horas, remeterá a segunda via da petição, ou do termo, ao
reclamado, notificando-o ao mesmo tempo, para comparecer à audiência do
julgamento, que será a primeira desimpedida, depois de 5 (cinco) dias.

Diferentemente do processo civil, em que o juiz ao receber a petição proferirá despacho


ordenando citação, no processo do trabalho o próprio escrivão ou secretário procederá com
a realização da citação que designará audiência pelo menos 5 dias após a citação.

OBS – Esse prazo de 05 dias é frequentemente desrespeitado, principalmente em situações


que não exigem uma defesa muito elaborada por parte do citado.

Importante – O termo “notificação” aqui utilizado como sinônimo de citação é um


resquício do período em que o processo do trabalho era um procedimento administrativo e
não judicial.

§ 1º - A notificação será feita em registro postal com franquia. Se o reclamado criar


embaraços ao seu recebimento ou não for encontrado, far-se-á a notificação por
edital, inserto no jornal oficial ou no que publicar o expediente forense, ou, na falta,
afixado na sede da Junta ou Juízo.

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A citação/notificação no processo do trabalho é realizada, predominantemente, de forma


postal. As outras hipóteses somente serão aplicadas em caso de impossibilidade de citação
pela forma postal pelos motivos previstos no artigo acima transcrito. A citação por oficial
de justiça se aplicará a partir da análise do caso concreto em que o magistrado
entenda necessário, como nos casos em que o Correios não entrega as correspondências
no local de destino.

Em relação à citação por hora certa, a maior parte da doutrina entende que a mesma não
pode ser determinada através da aplicação do CPC, visto que contraria o princípio da
celeridade que reveste o processo do trabalho.

Importante – A citação no processo do trabalho não se dá de forma pessoal, mas isso não
significa que pode ser entregue a qualquer um, mas sim que pode ser entregue a quem
presumidamente a entregará ao reclamado, a exemplo dos porteiros em condomínios.

§ 2º - O reclamante será notificado no ato da apresentação da reclamação ou na


forma do parágrafo anterior.

§ 3º - Oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante não poderá,


sem o consentimento do reclamado, desistir da ação.

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Audiência
A audiência consiste em um evento processual de natureza pública que se divide
costumeiramente nas seguintes fases: inaugural/inicial, de instrução e de julgamento. A
audiência, apesar de dividida em fases, é, via de regra, contínua/una, entretanto, é possível
que a mesma seja fracionada em mais de um evento processual.

Art. 849 - A audiência de julgamento será contínua; mas, se não for possível, por
motivo de força maior, concluí-la no mesmo dia, o juiz ou presidente marcará a sua
continuação para a primeira desimpedida, independentemente de nova notificação.

1. Designação e Local de Realização


Tais audiências serão realizadas, via de regra, na sede do Juízo ou Tribunal em dias úteis
previamente fixados, e seu horário será entre 08:00 horas e 18:00 horas, não podendo
ultrapassar cinco horas seguidas, salvo quando houver matéria urgente.

Art. 815 – As audiências dos órgãos da Justiça do Trabalho serão públicas e realizar-
se-ão na sede do Juízo ou Tribunal em dias úteis previamente fixados, entre 8 (oito)
e 18 (dezoito) horas, não podendo ultrapassar 5 (cinco) horas seguidas, salvo
quando houver matéria urgente.

Em situações excepcionais, admite-se que a audiência seja designada para local diverso,
desde que obedeça a antecedência mínima de 24 horas, conforme estabelece o parágrafo
primeiro do art. 813.

§1º - Em casos especiais, poderá ser designado outro local para a realização das
audiências, mediante edital afixado na sede do Juízo ou Tribunal, com a
antecedência mínima de 24 (vinte e quatro) horas.

Por força do parágrafo segundo do mesmo artigo, o prazo de 24 horas também deve ser
observado sempre que se constatar necessária a designação de audiência extraordinária.

§2º - Sempre que for necessário, poderão ser convocadas audiências


extraordinárias, observado o prazo do parágrafo anterior.

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2. Horário de início da audiência

Art. 815 – Á hora marcada, o juiz ou presidente declarará aberta a


audiência, sendo feita pelo secretário ou escrivão a chamada das
partes, testemunhas e demais pessoas que devam comparecer.

Conforme preleção do parágrafo único do art. 815, é permitido ao juiz um atraso de, no
máximo, 15 minutos após a hora marcada.

Parágrafo único. Se, até 15 (quinze) minutos após a hora marcada, o juiz
ou presidente não houver comparecido, os presentes poderão retirar-
se, devendo o ocorrido constar do livro de registro das audiências.

Quanto às partes, qualquer atraso será considerado intolerável, como dispõe a Orientação
Jurisprudencial nº 245.

O.J. nº 245 - Inexiste previsão legal tolerando atraso no horário de


comparecimento da parte na audiência.

3. Comparecimento das Partes


O comparecimento das partes é obrigatório, exceto nos casos previstos pelo art. 843. O
supramencionado dispositivo ao estabelecer a obrigatoriedade de comparecimento busca
revestir a conciliação com uma ainda maior importância.

Art. 843 - Na audiência de julgamento deverão estar presentes o


reclamante e o reclamado, independentemente do comparecimento de
seus representantes salvo, nos casos de Reclamatórias Plúrimas ou
Ações de Cumprimento, quando os empregados poderão fazer-se
representar pelo Sindicato de sua categoria.

* As ações plúrimas são aquelas em que existem mais de um réu ou autor. Nesses casos seria
inviável exigir a presença de todos, permitindo-se assim a representação através do Sindicato.

§ 1º. É facultado ao empregador fazer-se substituir pelo gerente, ou


qualquer outro preposto que tenha conhecimento do fato, e cujas
declarações obrigarão o proponente.

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Aqui falamos da figura do preposto, amplamente utilizada pelos empregadores na JT para


fazer-se representar nas audiências.

Antes da reforma existiam dois requisitos para atuação como preposto em juízo,
atualmente apenas o primeiro se mantém.

a) Conhecer os fatos – requisito legal


b) Ser empregado da reclamada – Requisito imposto pela Súmula 377 do TST, mas
contrariado pela Reforma Trabalhista, através da adição do §3º do art. 843, que
determinou que o preposto não precisa ser empregado da reclamada.

Apesar de inexistir previsão legal neste sentido, entende-se que o preposto deve portar
documento de identificação própria, bem como a carta de preposição em que a parte o
autorize a ser preposto em seu nome.

§ 2º. Se por doença ou qualquer outro motivo poderoso, devidamente


comprovado, não for possível ao empregado comparecer
pessoalmente, poderá fazer-se representar por outro empregado que
pertença à mesma profissão, ou pelo seu sindicato.

Quanto ao empregado, o mesmo pode ser substituído por um colega ou pelo seu respectivo
sindicato desde que exista um motivo poderoso que dê causa à substituição.

Destaca-se que a palavra “poderoso” exige, para sua correta aplicação, um juízo de
ponderação acerca do acontecido. É preciso uma avaliação se o evento alegado foi poderoso
o suficiente para que a parte ausente pudesse usufruir da previsão legal acima transcrita.

§ 3º. O preposto a que se refere o §1º deste artigo não precisa ser
empregado da parte reclamada.

Como mencionado anteriormente, a Reforma Trabalhista acrescentou o parágrafo acima


transcrito retirando o requisito estabelecido pelo TST de que o preposto precisa ser
empregado da parte reclamada. Desta forma, agora só se faz necessário que o preposto
possua conhecimento acerca dos fatos discutidos.

4. Suspensão da audiência

Art. 844, §1º - Ocorrendo motivo relevante, poderá o juiz suspender o


julgamento, designando nova audiência.

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5. Não comparecimento das partes – Alterado pela Reforma


Como dispõe o art. 844 da CLT, em caso de não comparecimento do reclamante ocorrerá o
arquivamento. Já na hipótese de não comparecimento do reclamado, será decretada a revelia
além de confissão quanto à matéria de fato.

OBS – O professor Jonhson separa a revelia da confissão. Para o mesmo a revelia se dá com
a não apresentação de defesa, enquanto que a confissão se opera com a ausência em juízo
(audiência). Na revelia, não se produz prova. Na confissão sim. Se você considera que
houve revelia, não há possibilidade de apresentar provas. NA CONFISSÃO, SIM, POIS HÁ
A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – Opinião de Jonhson. Didier, eu e o mundo
inteiro discordamos.

Importante – Grande parte da doutrina entende que, por força do art. 844 da CLT,
diferentemente do processo civil, no processo do trabalho a revelia se caracteriza pela
ausência do reclamado quando devidamente citado a comparecer em juízo em
audiência que deveria apresentar resposta.

Art. 844 – O não comparecimento do reclamante à audiência importa o


arquivamento da reclamação, e o não comparecimento do reclamado
importa revelia, além de confissão quanto à matéria de fato.

A Reforma Trabalhista definiu que se o ausente na audiência for o reclamante, o mesmo


será condenado ao pagamento das custas processuais, ainda que beneficiário da justiça
gratuita, salvo se comprovar, no prazo de quinze dias, que a ausência ocorreu por motivo
legalmente justificável, como dispõe o §2º.

§ 2º. Na hipótese de ausência do reclamante, este será condenado ao


pagamento das custas calculadas na forma do art. 789 desta
Consolidação, ainda que beneficiário da justiça gratuita, salvo se
comprovar, no prazo de quinze dias, que a ausência ocorreu por motivo
legalmente justificável.

Por força do parágrafo terceiro, o pagamento das custas mencionado no parágrafo segundo,
é requisito indispensável para a propositura de nova demanda.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 39


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§ 3º. O pagamento das custas a que se refere o §2º é condição para a


propositura da nova demanda.

A Reforma Trabalhista também modificou o tratamento aplicado na situação em que o


advogado da reclamada ausente comparece na audiência em que deveria ser apresentada a
defesa. Anteriormente, por força da Súmula 122 do TST seria decretada a revelia da
reclamada, mesmo presente o advogado munido de procuração, podendo essa ser ilidida por
atestado médico declarando a impossibilidade de locomoção do empregador ou de seu
preposto.

Através da adição do parágrafo quinto pela Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista), o


mandamento legal agora determina que deverão ser aceitos os documentos apresentados pelo
advogado da reclamada ausente, bem como a contestação apresentada.

§ 5º. Ainda que ausente o reclamado, presente o advogado na audiência,


serão aceitos a contestação e os documentos eventualmente
apresentados.

Súmula 122 do TST – A reclamada, ausente à audiência em que deveria apresentar defesa, é revel, ainda que presente seu
advogado munido de procuração, podendo ser ilidida a revelia mediante a apresentação de atestado médico, que deverá declarar,
expressamente, a impossibilidade de locomoção do empregador ou do seu preposto no dia da audiência.

6. Da não aplicação dos efeitos da Revelia – Adição da reforma


O art. 844 da CLT, através do seu parágrafo quarto (adicionado pela reforma) lista o rol de
situações em que os efeitos da revelia previstos no caput não serão aplicados

§ 4º. A revelia não produz o efeito mencionado no caput deste artigo se:
I – Havendo pluralidade de reclamados, algum deles contestar a ação;
II – O litígio versas sobre direitos indisponíveis;
III – A petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considere indispensável à pratica do ato;
IV – As alegações de fato formuladas pelo reclamante forem inverossímeis ou
estiverem em contradição com prova constante dos autos.

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Conciliação
Conforme as lições de CARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE, nos processos
submetidos aos procedimentos ordinário e sumário, há duas oportunidades em que o juiz
deverá (é um dever do magistrado) propor a conciliação.

A primeira oportunidade é na audiência e consiste no primeiro ato do juiz ao iniciar a


audiência, por força do art. 846 da CLT.

Através da transação, o assunto estará resolvido. É uma vantagem tanto para as empresas
quanto para o empregado.

Realizada a conciliação, ela é inserida na ata e considerada irrecorrível. O acordo realizado


transita em julgado.

Art. 846 - Aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação.

§ 1º - Se houver acordo lavrar-se-á termo, assinado pelo presidente e


pelos litigantes, consignando-se o prazo e demais condições para seu
cumprimento.

§ 2º - Entre as condições a que se refere o parágrafo anterior, poderá


ser estabelecida a de ficar a parte que não cumprir o acordo obrigada a
satisfazer integralmente o pedido ou pagar uma indenização
convencionada, sem prejuízo do cumprimento do acordo.
Impende destacar que a conciliação pode ser realizada em qualquer fase do processo,
entretanto, como mencionado anteriormente, há outro momento (além do início da
audiência) em que a tentativa de conciliação é obrigatória, é o momento posterior à
apresentação das razões finais, como dispõe o art. 850 da CLT.

Art. 850 - Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais,


em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em
seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de conciliação, e não
se realizando esta, será proferida a decisão.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 41


Alberto Iervese

O professor Jonhson afirma que as chances de êxito são maiores nas propostas de
conciliações ofertadas na primeira tentativa obrigatória, ou seja, na audiência.

• Da não realização da tentativa de conciliação

Por serem consideradas obrigatórias, qual seria a consequência da não realização da tentativa
de conciliação?

Sobre o tema, o professor BEZERRA LEITE afirma que “embora não haja previsão legal
expressa na hipótese de inobservância do preceptivo em causa, tem-se entendido que, se o
juiz não propõe a conciliação, haverá nulidade absoluta dos atos posteriores. Parece-nos
acertado esse entendimento, uma vez que a proposta de conciliação no processo trabalhista
é matéria de ordem pública”. É nesse sentido que vem decidindo o TST.

O professor Jonhson afirma que se o magistrado não realizar a primeira, mas realizar a
segunda tentativa, esta última supre a primeira. Contudo, se realizar a primeira e não realizar
a segunda, entende-se pela nulidade. Ou seja, a segunda tentativa é a mais importante.

OBS – A importância e valorização da conciliação no processo do trabalho é tamanha que a


CLT condiciona o proferimento da decisão do magistrado à rejeição da proposta de
conciliação ofertada e o termo lavrado (na hipótese de êxito da tentativa) valerá como
decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribuições que lhe forem
devidas, vide art. 831 da CLT.

Art. 831 - A decisão será proferida depois de rejeitada pelas partes a


proposta de conciliação

Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado valerá


como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às
contribuições que lhe forem devidas.

Logo, a União (sucessora do INSS) poderá interpor recursos ordinário relativamente às


contribuições previdenciárias que entender devidas.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 42


Alberto Iervese

Defesa do Reclamado
Por força dos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, é
garantido ao reclamado/réu a oportunidade de se defender de todos os fatos alegados pelo
reclamante/autor.

A defesa, direito do réu, segundo o professor Jonhson, pode ser exercitada através de
preliminares, exceções, contestação e reconvenção. *

*Para BEZERRA LEITE, defesa é gênero que tem como espécies a exceção e a
contestação. A reconvenção não constitui propriamente defesa. Ao revés, é ação do
réu em face do autor dentro do mesmo processo em que aquele é demandado por este.

A CLT só prevê expressamente a defesa, embora no sentido de contestação, e duas


modalidades de exceção: a de “foro” e a de suspeição. Não há regramento próprio da
reconvenção e das preliminares. Entretanto, como já é sabido, no caso de lacuna da legislação
trabalhista, é permitida a aplicação subsidiária do direito processual civil, desde que
respeitados os princípios e procedimentos que fundamental o processo do trabalho.

• Prazo e Momento de Apresentação da Contestação

Diferentemente do processo civil, que confere ao réu o prazo de 15 dias para apresentar
contestação, no processo do trabalho, aberta a audiência, o juiz proporá a conciliação e, não
havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir sua defesa, após a leitura da
reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes. Desta forma, o reclamado
tem vinte minutos para apresentar sua defesa em audiência, entretanto, o costume é a
apresentação de contestação em petição escrita.

Art. 847 - Não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para
aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for
dispensada por ambas as partes.

Como a defesa do réu é apresentada em audiência que, nos termos do art. 841 da
CLT, ocorrerá no mínimo no prazo de cinco dias depois do recebimento da
notificação citatória, tem-se que o réu terá o prazo legal mínimo de cinco dias para
preparar a sua resposta escrita (e vinte minutos para apresentá-la em audiência).

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 43


Alberto Iervese

Assim sendo, no processo do trabalho, de lege lata (de acordo com a lei), as exceções e a
contestação devem ser oferecidas no momento audiência.

Impende destacar que a reforma trabalhista adicionou um parágrafo único ao art. 847,
passando a legislação a prever a possibilidade de apresentação de defesa escrita pelo sistema
de processo judicial eletrônico até a audiência.

Parágrafo único. A parte poderá apresentar defesa escrita pelo sistema


de processo judicial eletrônico até a audiência.

OBS – Poderá o réu, na própria audiência para a qual fora notificado oferecer contestação
e/ou reconvenção.

1. Preliminares
As matérias alegadas em forma de preliminar no Processo do Trabalho são regidas pelo CPC,
mais especificamente pelo seu art. 337.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o XII - falta de caução ou de outra prestação que a
mérito, alegar: lei exige como preliminar;

I - inexistência ou nulidade da citação; XIII - indevida concessão do benefício de


gratuidade de justiça.
II - incompetência absoluta e relativa;
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada
III - incorreção do valor da causa; quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.

IV - inépcia da petição inicial; § 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui


as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o
V - perempção; mesmo pedido.

VI - litispendência; § 3o Há litispendência quando se repete ação


que está em curso.
VII - coisa julgada;
§ 4o Há coisa julgada quando se repete ação que
VIII - conexão; já foi decidida por decisão transitada em julgado.

IX - incapacidade da parte, defeito de § 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a


representação ou falta de autorização; incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício
das matérias enumeradas neste artigo.
X - convenção de arbitragem;
§ 6o A ausência de alegação da existência de
XI - ausência de legitimidade ou de interesse convenção de arbitragem, na forma prevista
processual; neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição
estatal e renúncia ao juízo arbitral.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 44


Alberto Iervese

2. Exceções
Art. 799 - Nas causas da jurisdição da Justiça do Trabalho, somente
podem ser opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição
ou incompetência.

§ 1º - As demais exceções serão alegadas como matéria de


defesa.

§ 2º - Das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência,


salvo, quanto a estas, se terminativas do feito, não caberá recurso,
podendo, no entanto, as partes alegá-las novamente no recurso que
couber da decisão final.
Entende-se que, no processo do trabalho, as exceções de suspeição (e impedimento segundo
alguns autores) e de incompetência (relativa), não obstante suspendam o processo,
deverão ser apresentadas juntamente com a contestação, isto é, na audiência para qual fora
notificado o reclamado. A questão não é pacífica, principalmente após a reforma, que
promove uma interpretação diversa, visto que determina que, recebida a notificação, o Réu
tem prazo de 5 dias para apresentar, em peça própria, a exceção de incompetência, sob
pena de preclusão

• Exceções de Suspeição e Impedimento

Tratam-se de exceções que incompatibilizam o juiz para o exercício da função jurisdicional


em determinado processo, a fim de evitar que ele aja com parcialidade, seja por motivos
intrínsecos (suspeição), seja por motivos extrínsecos (impedimento). São, portanto, matérias
de relevante interesse público.

As hipóteses de SUSPEIÇÃO estão previstas no art. 801 da CLT.

Art. 801 - O juiz, presidente ou vogal, é Parágrafo único - Se o recusante houver


obrigado a dar-se por suspeito, e pode ser praticado algum ato pelo qual haja
recusado, por algum dos seguintes motivos, consentido na pessoa do juiz, não mais
em relação à pessoa dos litigantes: poderá alegar exceção de suspeição, salvo
sobrevindo novo motivo. A suspeição não
a) inimizade pessoal; será também admitida, se do processo
constar que o recusante deixou de alegá-la
b) amizade íntima; anteriormente, quando já a conhecia, ou que,
depois de conhecida, aceitou o juiz recusado
c) parentesco por consangüinidade ou ou, finalmente, se procurou de propósito o
afinidade até o terceiro grau civil; motivo de que ela se originou.

d) interesse particular na causa.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 45


Alberto Iervese

O parágrafo único destaca que, mesmo havendo suspeição do juiz, a irregularidade será
considerada cumprida se o recusando houver praticado algum ato pelo qual haja consentido
na pessoa do juiz, não mais podendo alegar exceção de suspeição (salvo sobrevindo novo
motivo) ou se constar do processo que o recusante deixou de alegá-la anteriormente, quando
já a conhecia, ou que, depois de conhecida, aceitou o juiz recusado ou, finalmente, se
procurou de propósito o motivo de que ela se originou. Tais previsões buscam evitar que
os reclamantes se beneficiem de sua própria torpeza bem como destaca a força do
venire contra factum proprium, corolário do princípio da boa-fé.

No que tange ao IMPEDIMENTO, o CPC é aplicado supletivamente, sendo utilizado o seu


art. 144.

Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe ou decorrente de contrato de prestação de


vedado exercer suas funções no processo: serviços;

I - em que interveio como mandatário da VIII - em que figure como parte cliente do
parte, oficiou como perito, funcionou como escritório de advocacia de seu cônjuge,
membro do Ministério Público ou prestou companheiro ou parente, consanguíneo ou
depoimento como testemunha; afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive, mesmo que patrocinado por
II - de que conheceu em outro grau de advogado de outro escritório;
jurisdição, tendo proferido decisão;
IX - quando promover ação contra a parte ou
III - quando nele estiver postulando, como seu advogado.
defensor público, advogado ou membro do
Ministério Público, seu cônjuge ou § 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento
companheiro, ou qualquer parente, só se verifica quando o defensor público, o
consanguíneo ou afim, em linha reta ou advogado ou o membro do Ministério Público
colateral, até o terceiro grau, inclusive; já integrava o processo antes do início da
atividade judicante do juiz.
IV - quando for parte no processo ele próprio,
seu cônjuge ou companheiro, ou parente, § 2o É vedada a criação de fato
consanguíneo ou afim, em linha reta ou superveniente a fim de caracterizar
colateral, até o terceiro grau, inclusive; impedimento do juiz.

V - quando for sócio ou membro de direção § 3o O impedimento previsto no inciso III


ou de administração de pessoa jurídica parte também se verifica no caso de mandato
no processo; conferido a membro de escritório de
advocacia que tenha em seus quadros
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário advogado que individualmente ostente a
ou empregador de qualquer das partes; condição nele prevista, mesmo que não
intervenha diretamente no processo.
VII - em que figure como parte instituição de
ensino com a qual tenha relação de emprego

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Alberto Iervese

• Exceção de Incompetência

O tratamento conferido à exceção de incompetência foi profundamente alterado pela


reforma trabalhista. Anteriormente, após apresentada a exceção de incompetência, abria-se
vistas ao exceto por 24 horas improrrogáveis, devendo a decisão ser proferida na primeira
audiência ou sessão que seguir.

Atualmente, após a reforma, a lei assim dispõe:

Art. 800. Apresentada exceção de § 3o Se entender necessária a produção de


incompetência territorial no prazo de prova oral, o juízo designará audiência,
cinco dias a contar da notificação, antes garantindo o direito de o excipiente e de suas
da audiência e em peça que sinalize a testemunhas serem ouvidos, por carta
existência desta exceção, seguir-se-á o precatória, no juízo que este houver indicado
procedimento estabelecido neste artigo. como competente.

§ 1o Protocolada a petição, será suspenso o § 4o Decidida a exceção de incompetência


processo e não se realizará a audiência a
territorial, o processo retomará seu curso,
que se refere o art. 843 desta Consolidação
até que se decida a exceção. com a designação de audiência, a
apresentação de defesa e a instrução
§ 2o Os autos serão imediatamente
conclusos ao juiz, que intimará o reclamante processual perante o juízo competente.
e, se existentes, os litisconsortes, para
manifestação no prazo comum de cinco dias.

Como destacado anteriormente e comprovado através de leitura do caput do artigo


acima transcrito, agora a lei determina que, recebida a notificação, o Réu tem prazo
de 5 dias para apresentar, em peça própria, a exceção de incompetência, sob pena de
preclusão. Anteriormente o silêncio reverberava.

3. Contestação

A CLT não define a contestação, uma vez que emprega genericamente o vocábulo “defesa”.
Compatível, portanto, a aplicação subsidiária do art. 336 do NCPC, segundo o qual:

Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de


defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o
pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.
Tal artigo consagra o princípio da concentração da defesa (era através dele alguns
doutrinadores entendiam que a apresentação das exceções seria no mesmo momento de
apresentação da contestação) e o princípio da eventualidade.

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A parte final do art. 336 do CPC não se aplica ao processo do trabalho, pois aqui se faz
desnecessária a especificação dos meios de provas que as partes pretendem produzir, posto
que tal tema foi tratado pelo art. 845 da CLT.

Lege data:

Art. 845 - O reclamante e o reclamado comparecerão à audiência


acompanhados das suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião,
as demais provas.
Assim como no processo civil, a contestação pode ser dirigida contra o processo e/ou contra
o mérito. Outra semelhança é que em ambos a contestação por negação geral é ineficaz,
arcando o réu com o ônus de serem considerados verdadeiros os fatos articulados na petição
inicial.

4. Reconvenção

O CPC, aplicado subsidiariamente por inexistir previsão acerca da reconvenção, estabelece


os requisitos específicos da reconvenção em seu art. 343.

Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu § 3o A reconvenção pode ser proposta contra o
propor reconvenção para manifestar autor e terceiro.
pretensão própria, conexa com a ação
principal ou com o fundamento da defesa. § 4o A reconvenção pode ser proposta pelo réu
em litisconsórcio com terceiro.
§ 1o Proposta a reconvenção, o autor será
intimado, na pessoa de seu advogado, para § 5o Se o autor for substituto processual, o
apresentar resposta no prazo de 15 (quinze) dias. reconvinte deverá afirmar ser titular de direito em
face do substituído, e a reconvenção deverá ser
§ 2o A desistência da ação ou a ocorrência de proposta em face do autor, também na qualidade
causa extintiva que impeça o exame de seu de substituto processual.
mérito não obsta ao prosseguimento do processo
quanto à reconvenção. § 6o O réu pode propor reconvenção
independentemente de oferecer contestação.

A reconvenção é uma ação que o réu propõe, em face do autor, dentro do mesmo processo
em que o primeiro é demandado, buscando tutela jurisdicional em que se resguarde um
direito seu que alega ter sido lesado ou ameaçado de lesão pelo autor.

Há, portanto, uma cumulação objetiva de ações (principal e reconvencional) no mesmo


processo. O processamento simultâneo da ação e da reconvenção repousa nos princípios da
celeridade processual e da economia processual.

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Ônus da Prova
Para o professor RENATO SARAIVA, o ônus da prova é um encargo atribuído a um sujeito
para demonstrar determinadas alegações de fato, sob pena de arcar com a situação de
desvantagem advinda da não demonstração do fato.

“ Ônus é o encargo cuja inobservância pode colocar o sujeito numa posição de


desvantagem. Não é um dever e, por isso, não se pode exigir o seu cumprimento.
Normalmente, o sujeito a quem se impõe o ônus tem interesse em observá-lo,
justamente para evitar essa situação de desvantagem advinda da não demonstração
do fato. ” – FREDIE DIDIER JR.

Pelo princípio da aquisição processual, as provas pertencem ao processo


independentemente de quem as tenha produzido, de modo que, no momento do
julgamento, o juiz analisará as provas constantes dos autos em busca dos fatos que
restaram comprovados. Caso não esteja convencido quanto à ocorrência de
determinados fatos, julgará segundo as regras de distribuição do ônus da prova.

faça por decisão fundamentada, caso em


Art. 818. O ônus da prova incumbe:
que deverá dar à parte a oportunidade de se
desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo
de seu direito;
§ 2o A decisão referida no § 1o deste artigo
deverá ser proferida antes da abertura da
II - ao reclamado, quanto à existência de fato instrução e, a requerimento da parte,
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito implicará o adiamento da audiência e
do reclamante. possibilitará provar os fatos por qualquer
meio em direito admitido.
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de
peculiaridades da causa relacionadas à § 3o A decisão referida no § 1o deste artigo
impossibilidade ou à excessiva dificuldade
de cumprir o encargo nos termos deste artigo não pode gerar situação em que a
ou à maior facilidade de obtenção da prova desincumbência do encargo pela parte seja
do fato contrário, poderá o juízo atribuir o
ônus da prova de modo diverso, desde que o impossível ou excessivamente difícil.

No que tange este assunto, o legislador antes da Lei nº 13.467 (Lei da Reforma Trabalhista)
era simplório e insatisfatório ao afirmar que “A prova das alegações incumbe à parte que as
fizer ”. A situação mudou de figura com a reforma, com pode ser visto através de análise do
“novo” art. 818 da CLT.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 49


Alberto Iervese

A alteração promovida possui clara inspiração no CPC/2015 e traz mudanças importantes,


visto que tornou mais justa a distribuição do ônus da prova, posto que, com tais regras,
caberá à parte com maior facilidade de acesso à prova o dever de apresentá-la.

Exemplo: Cartão de Ponto – Se o empregado, reclamante, alega irregularidades no


cartão de ponto e a empresa, reclamada, alega que o mesmo se encontra em situação
regular, caberá à empresa, aquela que possui maior facilidade ao documento,
apresenta-lo em juízo para que a situação seja julgada.

Uma mudança de grande importância promovida pela reforma diz respeito à


implementação de um prazo limite para o juiz decidir acerca da distribuição do ônus
da prova: antes da abertura da instrução.

Quanto à diferenciação entre fatos constitutivos, impeditivos, modificativos e extintivos,


mencionados no art. 818, I, assim entende-se:

a) Fatos Constitutivos: Como fato constitutivo, entende-se os “que têm a eficácia jurídica de dar
vida, fazer nascer, de constituir a relação jurídica, e, geralmente, também a função de identificar seus
elementos”. No dizer de Chiovenda, são os “que dão vida a uma vontade concreta da lei e à
expectativa de um bem por parte de alguém”.

b) Fatos Impeditivos: Para Chiovenda, fato impeditivo é “um fato de natureza negativa, a saber, a
falta de uma das circunstâncias que devem concorrer com os fatos constitutivos a fim de que estes
produzam os efeitos que lhes são peculiares e normais”. São situações que, quando ocorrem, fazem
com que o efeito da constituição do próprio direito não se produza. São elementos faltantes para a
constituição do fato que geraria o direito. Não há, então, o fato constitutivo quando algo lhe impede
de se formar (nascer).

c) Fatos Modificativos: Fatos modificativos são os que, sem excluir ou impedir a relação jurídica, à
qual são posteriores, têm a eficácia de modificá-la. Assim, determinada parte no processo (autor)
traz certo fato e busca a tutela em face da outra parte (réu). Este, por sua vez, em sede de defesa,
alega e prova que o fato trazido não ocorreu nos moldes do referido pelo autor, mas com
características e efeitos diversos, o que reflete na tutela pretendida, assim reconhece parcialmente a
situação, requerendo que a decisão considere a modificação demonstrada. Atenta-se, entretanto,
para o fato de que a modificação deve ser relevante e ligada ao efeito pretendido pela tutela do autor.

d) Fatos Extintivos: São os que têm a eficácia de fazer cessar a relação jurídica, aqueles que extinguem
a relação jurídica material ou o Direito invocado pelo autor.

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Produção de Provas
1. Prova Testemunhal
Apesar da prova testemunhal ser considerada por grande parte da doutrina como o meio de prova
mais inseguro, é ela o método de produção de provas mais utilizados no processo no trabalho e,
não raramente, constitui o único meio de prova nas ações trabalhistas que tramitam pelo país.

Sobre a prova testemunha, assim afirma o nobre professor doutor Luiz Rodrigues Wambier:

“(...) é a mais sujeita a imprecisões, seja pela falibilidade da memória humana, seja porque, talvez até sem
malícia, pode a testemunha deturpar os fatos com o fito de favorecer a parte” (In "Curso Avançado de Processo
Civil", RT, 2007, pág. 449).

1.1 – Da capacidade para ser testemunha


Todos aqueles que não forem incapazes, impedidos ou suspeitos podem depor como
testemunhas.

Acerca da hipótese de suspeição e impedimento de testemunhas, a CLT lista, através do seu art.
829, as pessoas que se enquadram nessa definição, são elas: parentes até o terceiro grau civil,
amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes.

Art. 829 - A testemunha que for parente até o terceiro grau civil, amigo íntimo
ou inimigo de qualquer das partes, não prestará compromisso, e seu
depoimento valerá como simples informação

Como afirma o próprio dispositivo legal, apesar de o depoimento realizado pelo suspeito ou
impedido ser válido, o mesmo será considerado como simples informação.

MAURO SCHIAVI afirma que, em razão da omissão da CLT e compatibilidade com o processo
do trabalho, restam aplicáveis as hipóteses de incapacidade, impedimento e suspeição de
testemunhas, previstas no art. 447 do CPC, de forma supletiva.

Destaca-se que, nos termos do §4º do art. 447 do CPC, “sendo necessário, pode o juiz
admitir o depoimento de testemunhas menores, impedidas ou suspeitas.

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O mesmo SCHIAVI destaca que no cotidiano das audiências trabalhistas, são frequentes as
hipóteses de contraditas de testemunhas por amizade da testemunha com o reclamante, exercer
a testemunha cargo de confiança na empresa e por mover a testemunha reclamação trabalhista
em face da reclamada.

Amizade íntima – Inegavelmente, a relação de trabalho, por ser contínua, gera uma
proximidade maior entre trabalhadores que exercem a mesma função. Entretanto, essa
aproximação é inerente à relação de emprego e não se confunde com a amizade íntima. A
amizade íntima se revela por atos objetivos, como o contato do autor e da testemunha fora
do contrato de trabalho, como frequências recíprocas às residências, saídas para passeios
etc.

OBS – A mera “relação de amizade”, assim intitulada pelas redes sociais, tais como
Facebook, por si só não são suficientes para comprovar a amizade íntima.

Empregado que exerce cargo de confiança na empresa – Quanto ao empregado que


exerce cargo de confiança, por si só esse fato não gera suspeição para ser testemunha do
empregador, pois tal hipótese não está prevista em Lei. Entretanto, deve o Juiz do Trabalho
investigar outros elementos que revelem se o empregado exercente do cargo de confiança
tem interesse ou não na solução do litígio.

Testemunha que litiga contra o mesmo empregador em troca de favores – A CLT


nada dispõe sobre o assunto a divergência doutrinária é enorme.

• Do depoimento da testemunha menor de 18 anos no Processo do


Trabalho

Trata-se de um assunto que gera diversos debates na doutrina, sem que se chegue a um
consenso. O professor SCHIAVI entende que o menor de 18 anos e maior de 16 anos poderá
ser ouvido como informante, mas sem prestar compromisso legal, pois não tem
imputabilidade penal. De outro lado, o juiz do trabalho somente deve ouvir testemunhas
menores de 18 anos se for estritamente necessário. O entendimento das Varas Trabalhistas
tem acompanhado a doutrina e jurisprudências dominantes no sentido de não se
admitir que o menor de 18 seja ouvido na condição de testemunha. Em último caso,
admite-se a oitiva na condição de informante, caso a parte não tenha outra
testemunha.

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1.2 – Da quantidade de testemunhas

Art. 821 - Cada uma das partes não poderá indicar mais de 3 (três)
testemunhas, salvo quando se tratar de inquérito, caso em que esse número
poderá ser elevado a 6 (seis).

Importante – No procedimento sumaríssimo serão até 02 testemunhas, por força de lei (Lei nº
5.584/70). No sumário se mantém 03, baseado no entendimento que, fora mudanças previstas
em lei, mantém-se as regras do procedimento ordinário.

CRÍTICA: O procedimento sumário admitir mais testemunhas que o sumaríssimo é algo


incoerente.

Litisconsórcio ativo – Entende-se que no litisconsórcio ativo o número deverá ser de 03


testemunhas para AMBOS os autores, pois ao proporem suas pretensões em uma única
reclamação, renunciaram tacitamente ao direito de ouvir mais testemunhas no processo.

Litisconsórcio passivo – SCHIAVI entende que cada litisconsorte pode ouvir até três
testemunhas cada um, pois a circunstância de estar ao lado de outro litigante no polo passivo é
condição que não decorre de sua vontade.

Professor Jonhson – Em sentido diverso, mesmo no caso de litisconsórcio passivo, o


número permanecerá 03 testemunhas. Entretanto, na prática, quando comprovada a
intenção de produzir prova diversa, esse entendimento costuma ser relativizado pelos
Juízes.

1.3 – Da impossibilidade de prejuízo à testemunha


Por estarem colaborando com a Justiça e pelo fato de a presença em juízo ser obrigatória, não
poderão as testemunhas sofrerem prejuízos pelas faltas no serviço em decorrência da prestação
de depoimento, vide art. 822 da CLT.

Art. 822 - As testemunhas não poderão sofrer qualquer desconto pelas faltas
ao serviço, ocasionadas pelo seu comparecimento para depor, quando
devidamente arroladas ou convocadas

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1.4 – Do comparecimento das testemunhas

Art. 825 - As testemunhas comparecerão a audiência


independentemente de notificação ou intimação.

Parágrafo único - As que não comparecerem serão intimadas, ex officio ou a


requerimento da parte, ficando sujeitas a condução coercitiva, além das
penalidades do art. 730, caso, sem motivo justificado, não atendam à
intimação.

Observação ao 825 - No processo do trabalho não há rol de testemunhas, ou seja, não é


necessária uma prévia comunicação ao juízo acerca das testemunhas, o que faz com
que elas não sejam intimadas, via de regra. Devem ser levadas por quem as convoca. A
intimação só ocorre para as testemunhas que não compareceram. O juiz costuma exigir
comprovação do convite.

Se, mesmo após intimadas, não comparecerem, é admitido por lei que o juiz determine a
utilização de medidas de condução coercitiva.

1.5 – Da necessária qualificação das testemunhas

Art. 828 - Toda testemunha, antes de prestar o compromisso legal, será


qualificada, indicando o nome, nacionalidade, profissão, idade, residência, e,
quando empregada, o tempo de serviço prestado ao empregador, ficando
sujeita, em caso de falsidade, às leis penais.

Parágrafo único - Os depoimentos das testemunhas serão resumidos, por


ocasião da audiência, pelo secretário da Junta ou funcionário para esse fim
designado, devendo a súmula ser assinada pelo Presidente do Tribunal e
pelos depoentes.
Antes de ser qualificada, a testemunha não está apta a depor, pois sem a qualificação não há
como se imporem eventuais sanções penais se a testemunha se calar ou ocultar a verdade. Desta
forma, é necessário que a parte esteja portando documentos.

“A testemunha é, sempre, da Justiça, nunca da parte. Pesa sobre ela o dever de informar com
fidelidade o fato de que tem conhecimento, pois atua no processo como um instrumento de
averiguação da verdade sobre a existência e os efeitos do fato que informa para dar margem a
uma correta prestação jurisdicional” – José Augusto Rodrigues.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 54


Alberto Iervese

Somente será possível a oitiva de testemunha sem documento em casos extremos, se ela
não possuir qualquer documento, ou seja, não tenha tirado documentos, e for
reconhecida incidentalmente pelas partes e testemunhas presentes.

Por derradeiro, se a testemunha possui documento, mas não o trouxe a juízo, deve o Juiz do
Trabalho, a fim de não violar o direito de ampla defesa, permitir a substituição imediata da
testemunha ou adiar a audiência.

1.6 – Da conversa entre advogado e testemunha


O professor Jonhson entende que a simples conversa não pode ser considerado um
comportamento vedado e antiético (conversar com a testemunha sobre como é realizada a
oitiva, etc.). Entretanto, se a conversa consistir em uma indução do testemunho, poluindo o
testemunho e sua relação com a verdade dos fatos, a mesma deve ser denunciada, pois trata-se
de um comportamento veementemente combatido e antiético, cabendo ao juiz, quando
comprovada, oficiar a OAB para que a mesma tenha ciência dos fatos e aplique as sanções
cabíveis.

1.7 – Da aplicação e execução de Multa


A reforma trabalhista acrescentou à CLT o art. 793-D, que determina a aplicação da multa
prevista no art. 793-C (litigância de má-fé) – 1% a 10% do valor corrigido da causa – para as
testemunhas que intencionalmente alterarem a verdade dos fatos ou omitirem fatos essenciais
ao julgamento da causa.

Art. 793-D. Aplica-se a multa prevista no art. 793-C desta Consolidação à


testemunha que intencionalmente alterar a verdade dos fatos ou omitir fatos
essenciais ao julgamento da causa.

Parágrafo único. A execução da multa prevista neste artigo dar-se-á nos


mesmos autos.
O supramencionado artigo pode ser considerado vago e incompleto, posto que não responde
importantes questões, tais como:

a) Em qual momento ocorrerá a condenação ao pagamento de tal multa?


b) Haverá prévia intimação dando oportunidade ao contraditório?
c) Quem será o destinatário do valor pago a título de multa?

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2. Prova Documental

“Documento é meio idôneo utilizado como prova material da existência de um fato, abrangendo
não só os escritos, mas também os gráficos, as fotografias, os desenhos, reproduções
cinematográficas, etc.” – Renato Saraiva

O legislador pouco dispôs acerca do tema. A base legal referente à prova documental se resume
aos arts. 787, 830, e 845 da CLT, aplicando-se supletivamente o Código de Processo Civil.

• Do momento de apresentação da prova documental

O momento de apresentação das provas documentais é o momento da audiência, conforme


preleciona o art. 845 da CLT.

CLT/ Art. 845 - O reclamante e o reclamado comparecerão à audiência acompanhados das


suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas.

Ocorre que o CPC é aqui aplicado supletivamente e, conforme seu art. 435, é permitido à parte, a
qualquer tempo, anexar aos autos novas provas, desde que preenchidos alguns requisitos.

CPC/ Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos,
quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para
contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.

Destaca-se que, caso os documentos sejam a base da reclamação formulada pelo autor, os mesmos
deverão ser apresentados conjuntamente, como determina o art. 787 da CLT.

CLT/Art. 787 - A reclamação escrita deverá ser formulada em 2 (duas) vias e desde logo
acompanhada dos documentos em que se fundar.

Acerca da juntada de provas documentais em FASE RECURSAL, o TST editou a Súmula nº 08.

Súmula nº 08/TST - A juntada de documentos na fase recursal só se justifica quando


provado o justo impedimento para sua oportuna apresentação ou se referir a fato posterior
à sentença.

No que diz respeito ao PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO, vale destacar a lição do professor


Renato Saraiva:

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Alberto Iervese

No procedimento sumaríssimo, consoante o disposto no art. 852-H da CLT, todas as


provas serão produzidas em audiência, inclusive a documental, e sobre os documentos
apresentados por uma das partes manifestar-se-á imediatamente a parte contrária, sem
interrupção da audiência, salvo absoluta impossibilidade, a critério do juiz (§ 1º do art.
852-H da CLT). Nesse caso, a audiência será dividida, prosseguindo em nova data,
determinada pelo juiz após a manifestação por escrito.

Quanto à falsidade de documentos e sua alegação, a mesma segue os procedimentos determinados


no art. 430 do CPC.

CPC/Art. 430. A falsidade deve ser suscitada na contestação, na réplica ou no prazo de


15 (quinze) dias, contado a partir da intimação da juntada do documento aos autos.

No que tange a exibição dos documentos, a mesma pode se dar por requerimento das partes ou
pelo juiz, de ofício, obedecendo as regras do art. 396 e seguintes do CPC.

CPC/Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre
em seu poder.

3. Prova Pericial

“A prova pericial é a espécie de prova que objetiva fornecer esclarecimentos ao juiz a respeito de
questões técnicas, que extrapolam o conhecimento científico do julgador. ” – Renato Saraiva

Acerca da prova pericial, assim dispõe o CPC:

CPC/Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de
conhecimento técnico ou científico.

§ 1o Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos


técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual
o juiz está vinculado.

A CLT possui um artigo que trata da prova pericial, mais especificamente o seu art. 826, ocorre
que o mesmo é atualmente considerado revogado tacitamente.

CLT/Art. 826 - É facultado a cada uma das partes apresentar um perito ou tecnico.

O art. 826 da CLT era considerado falho e prejudicial ao processo, pois permitia a cada parte
apresentar um perito ou técnico. Assim sendo, cada um deles, obviamente, apresentaria seus

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 57


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relatórios em sentidos diversos, podendo causar uma ainda maior turvação na mente do julgador,
o que prejudicava a funcionalidade e efetividade do meio de produção de prova baseado em perícia.

O supramencionado artigo da CLT é considerado tacitamente revogado por conta da edição do


Art. 3º da Lei 5.584/1970, que modificou o entendimento anterior ao determinar que o perito será
designado pelo magistrado, não mais pelas partes, cabendo a essas, se quiserem, indicarem
assistentes.

Art 3º Os exames periciais serão realizados por perito único designado pelo Juiz, que
fixará o prazo para entrega do laudo.

Parágrafo único. Permitir-se-á a cada parte a indicação de um assistente, cuja laudo terá
que ser apresentado no mesmo prazo assinado para o perito, sob pena de ser
desentranhado dos autos.

4. Inspeção Judicial

“ Na inspeção direta, o juiz poderá ser assistido por um ou mais peritos. O juiz irá ao local onde se
encontre a pessoa ou a coisa quando: julgar necessário para a melhor verificação ou interpretação
dos fatos que deva observar; quando a coisa não puder ser apresentada em juízo sem consideráveis
despesas ou graves dificuldades; ou quando o magistrado determinar a reconstituição dos fatos” –
Renato Saraiva

Acerca da Inspeção Judicial, nada menciona a CLT, havendo assim a aplicação subsidiária do CPC
através do seu art. 481 e seguintes.

Art. 481. O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do processo,
inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato que interesse à decisão
da causa.

As partes poderão sempre assistir à inspeção, prestando esclarecimentos e fazendo observações


que reputem de interesse para a causa (Parágrafo Único do art.483 do CPC). Sobre o tema, o
professor Renato Saraiva adiciona que: Para isso, torna-se necessária a intimação prévia do dia,
hora e local da diligência, em observância ao princípio do contraditório e da ampla defesa.

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5. Prova Emprestada

Observação Inicial – O tema “Prova Emprestada” não foi tratado pelo Professor Jonhson, mas
as lições trazidas pelo professor Renato Saraiva, abaixo transcritas, auxiliam no entendimento da
sistemática da produção de provas no processo do trabalho.

“Consiste a prova emprestada na transferência de provas realizadas no bojo de um processo para


outro, mediante certidão. É o que ocorre quando se transfere de um processo para outro
determinado documento, depoimento pessoal, prova testemunhal, pericial etc.

A prova emprestada será inserida no processo como mera prova documental, devendo ser utilizada
apenas excepcionalmente, uma vez que, em regra, as provas devem ser produzidas no mesmo juízo
onde corre a demanda.

Um exemplo de utilização da prova emprestada nos domínios do processo do trabalho seria na


hipótese de a empresa ter fechado o estabelecimento onde trabalhava o reclamante,
descaracterizando o local de trabalho.

Nesse caso, não obstante o art. 195, § 2. º, da CLT determinar a realização de perícia para a aferição
de insalubridade no local de trabalho, considerando que a. empresa está desativada e o local não
oferece possibilidade de reprodução das condições ambientais imperantes quando em atividade,
poderá a prova pericial ser suprida pela juntada de laudos emprestados de outros processos, desde
que estabelecida perfeita correspondência entre a situação periciada e o caso sub judice. ”

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Razões Finais
As razões finais podem ser compreendidas através do conceito que as define como a possibilidade
(não é obrigatório que sejam apresentadas) dada às partes para se manifestarem oralmente
(princípio da oralidade) nos autos antes que a sentença seja proferida pelo julgador. Nesta peça
deverão ser destacados os fatos e alegações que revestem o pleito da parte de credibilidade o
suficiente para serem acatados pelo órgão jurisdicional, na pessoa do magistrado competente.

Possui papel importante tanto na arguição de nulidades como também para o fortalecimento do
convencimento do magistrado. O período concedido é de 10 (dez) minutos.

Art. 850 - Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não
excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará
a proposta de conciliação, e não se realizando esta, será proferida a decisão.

“ Todavia, muitos juízes têm permitido que o reclamante e o reclamado apresentem razões finais
por escrito, em forma de memoriais” – Renato Saraiva.

“ Quando a sentença não é proferida na própria audiência, os juízes têm permitido que as partes
ofereçam razões finais por escrito, isto é, em formas de memoriais. Nesse caso, há a conversão
das razões finais em memoriais. ” – Carlos Henrique Bezerra Leite

Sobre tais ocorrências o professor Jonhson também fez sua observação: De modo similar ao
determinado no art. 364, §2º do CPC, admite-se que o juiz permita que as razões finais sejam
apresentadas de modo escrito quando for constatada que a causa apresenta questões complexas de
fato ou de direito.

OBS - No procedimento sumaríssimo as partes não costumam apresentar razões finais,


pois inexiste previsão legal. Entretanto, também inexiste vedação, o que abre espaço para
entendimentos divergentes.

“ Impende notar que, nas causas de alçada, isto é, nas causas sujeitas ao procedimento sumário (Lei
nº. 5.584/70, art. 2º, §4º), as razões finais cumprem uma função específica, uma vez que por meio
delas "poderá qualquer das partes impugnar o valor da causa fixado" pelo juiz (Lei nº. 5.584/70,
art. 2º, § 1º). Vale dizer, a impugnação do valor da causa no procedimento sumário pode ser feita
até o momento da apresentação das razões finais. ” – Mauro Schiavi

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Sentença
“ A sentença é um ato de consciência que estabelece um elo
entre o jurídico e o justo” – José Augusto Rodrigues Pinto

A sentença pode ser considerada a mais importante peça processual presente nos autos enquanto
ainda em 1º grau, pois é através dela que o magistrado, representante do Estado exercente da função
jurisdicional, demonstra sua posição sobre o caso, acolhendo ou rejeitando os pedidos formulados
pelas partes.

A sentença ao ser proferida deve obedecer aos requisitos legais e formais de validade previstos no
art. 832 da CLT e no art. 489 do CPC, que se encontram em perfeita harmonia, apesar de alguns
termos serem melhores definidos na legislação processual cível.

CLT/Art. 832 - Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a
apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão.

CPC/ Art. 489. São elementos essenciais da sentença:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do
pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do
processo;

II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;

III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.

Os demais dispositivos do CPC são aplicados supletivamente, com destaque para a necessária
fundamentação do Juiz em todas as decisões que venham a ser proferidas (Art. 489, §1º do CPC).
É nula a sentença que não vem acompanhada de fundamentação.

Importante – É permitido que o juiz, com fulcro no art.851, §2º da CLT, divulgue os fundamentos
de sua decisão em até 48 horas após proferir a sentença.

Observação – Tendo o juiz ATÉ 48 horas para apresentar sua fundamentação, a partir de quando
tem início o prazo recursal? Apesar de existir uma pequena resistência doutrinária, o entendimento
majoritário é de que terá início no dia de sua publicação nos autos.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 61


Alberto Iervese
1. Da intimação que comunica publicação de sentença

Na hipótese em que o procedimento da vara seja o de adotar a regra geral, qual seja, a unidade dos
atos processuais em uma audiência singular (audiência una), a intimação não precisará ser expedida,
pois as partes, ao estarem presentes, obviamente possuem ciência acerca da decisão.

Em contrapartida, o professor Jonhson pondera que nos processos em que o magistrado optou
por fracionar as audiências, ou seja, estabelecê-las em momentos distintos, e a data não for
previamente designada na audiência que adiou o julgamento, deverá ser expedida intimação
acerca da sentença quando do momento da publicação (Caso a data tenha sido previamente
designada, entende-se a parte por intimada no momento da audiência que adiou o julgamento, e
caso não compareça, enquadra-se na hipótese de aplicação da súmula nº 197 ↓).

Reconhecendo a possibilidade de ausência de uma parte que, apesar de intimada, não compareceu
à audiência onde foi proferida sentença, o TST editou a Súmula nº 197.

Súmula nº 197/STJ – O prazo para recurso da parte que, intimada, não comparecer à
audiência em prosseguimento para a prolação da sentença conta-se de sua publicação.

Importante – Na hipótese acima estudada, em que o juiz anexará os fundamentos de sua decisão
até 48 horas após a mesma ser proferida, mesmo que a audiência seja una, será necessária a
expedição de intimação caso o julgador ultrapasse as 48 horas, posto que o ato processual só
estará completo através da apresentação das razões do magistrado e essa se dará após a audiência,
não havendo como os advogados adivinharem quando o julgador irá anexar aos autos suas razões.

* Se a juntada ocorrer dentro das 48 horas, não haverá necessidade de intimação.

Sobre o prazo recursal, O TST assim entendeu em sua súmula nº 30.

Sumula nº 30 TST - Quando não juntada a ata ao processo em 48 horas, contadas da


audiência de julgamento (art. 851, § 2º, da CLT), o prazo para recurso será contado da data
em que a parte receber a intimação da sentença.

Impende destacar que, na hipótese de REVELIA, a expedição da intimação é necessária, por força
do artigo 852 da CLT, parte final.

Art. 852 - Da decisão serão os litigantes notificados, pessoalmente, ou por seu


representante, na própria audiência. No caso de revelia, a notificação far-se-á pela forma
estabelecida no § 1º do art. 841.

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Recursos -Teoria Geral


“ Recurso é a provocação do reexame de determinada decisão pela autoridade hierarquicamente
superior, em regra, ou pela própria autoridade prolatora da decisão, objetivando a reforma ou
modificação do julgado. ” – Renato Saraiva

A possibilidade de interposição de Recurso é uma concretização do princípio do duplo grau de


jurisdição, fundamental para garantir uma menor probabilidade de erro por parte do Poder
Judiciário, uma melhor decisão através de órgão colegiado, ou seja, mais de um julgador se
debruçando sobre os fatos do processo, bem como por exercer uma “pressão” nos magistrados de
1º grau, que se sentem sempre fiscalizados em suas decisões.

Os Recursos são regidos por diversos princípios que justificam sua existência e seu adequado
momento de apresentação. São alguns desses princípios:

a) Duplo Grau de Jurisdição: É através deste princípio que os Recursos têm sua existência
justificada. É este princípio que garante a possibilidade de nova apreciação do feito perante um
órgão hierarquicamente superior ao que proferiu a decisão.

b) Princípio da Singularidade/Unirrecorribilidade/Unidade Recursal: Este princípio


estabelece que não podem ser utilizados vários recursos simultaneamente, mas, tão somente,
sucessivamente.

c) Princípio da Fungibilidade/Conversibilidade: O princípio da fungibilidade permite que o


juiz conheça de um recurso que foi erroneamente interposto como se fosse o recurso cabível,
ou seja, permite-se o aproveitamento de recurso erroneamente nominado.

d) Princípio da Voluntariedade: Por óbvio, os tribunais somente poderão, em linha de princípio,


apreciar matérias que foram levadas à sua cognição pelas partes. No entanto, o professor Renato
Saraiva destaca que constitui exceção à regra o reexame necessário/remessa de ofício nos casos
de sentença proferida em face de pessoas jurídicas de direito público, bem como de sentença de
procedência relativa à embargos à execução de dívida ativa da fazenda pública.

e) Princípio da Non Reformatio In Pejus: Por este princípio é vedado ao tribunal, no


julgamento de um recurso, proferir decisão mais desfavorável ao recorrente do que aquela
recorrida.

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1. Juízo de Admissibilidade e os Pressupostos Recursais

Interposto um Recurso, o mesmo deverá passar pela chamada “Análise prévia do recurso”, que
consiste em um juízo de admissibilidade realizada tanto pelo juízo a quo (juízo que proferiu a decisão
recorrida), quanto pelo juízo ad quem (juízo competente para apreciação do recurso), acerca do
preenchimento dos pressupostos de admissibilidade do recurso.

“ Vale dizer, a ausência de satisfação dos pressupostos de admissibilidade impede o exame de


mérito do recurso pelo órgão competente para sua apreciação. ” – Carlos Henrique Bezerra
Leite

“ O despacho exarado pelo juízo de admissibilidade a quo não vincula o juízo ad quem, não havendo
que falar em coisa julgada ou mesmo preclusão. Em outras palavras, o juízo ad quem pode conhecer
de um recurso que não foi conhecido pelo JUIZO a quo e vice-versa. ” – Renato Saraiva

Observação - Destacamos que os Embargos de Declaração, para aqueles que o entendem como
peça recursal, configura uma exceção à regra acima anunciada, em que há uma análise do
pressuposto por dois juízos, posto que os Embargos de Declaração são julgados pela própria
autoridade que proferiu a decisão recorrida.

Para Bezerra Leite, os pressupostos de admissibilidade do recurso podem ser divididos em


subjetivos/intrínsecos, que se referem aos atributos do recorrente, e em objetivos/extrínsecos,
que se referem aos aspectos extrínsecos do recurso.

• Pressupostos Subjetivos/Intrínsecos

a) Legitimidade: O CPC, em seu art. 996, outorga legitimidade recursal àquele que tenha
participado, como parte, do processo de primeiro grau de jurisdição, ainda que revel. A CLT,
artigos 10 e 448, também estabelece outras figuras legitimadas para interpor recurso.

b) Capacidade: Exige-se do recorrente a capacidade civil, ou seja, a capacidade para a prática dos
atos da vida civil. O incapaz, para interpor recurso, deverá estar devidamente revestido do
instituto cabível (assistência, representação, curatela).

c) Interesse: O recurso deve ser necessário ao recorrente, como meio de obter a anulação ou
reforma da decisão impugnada, ou seja, a necessidade justifica-se, pois, somente com a
interposição do recurso a remoção do gravame será alcançada.

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• Pressupostos Objetivos/Extrínsecos

a) Cabimento/Recorribilidade: É necessário que seja realizada uma verificação acerca da


recorribilidade do ato, ou seja, se o ato proferido comporta um ataque por via recursal. Vale
dizer que nem todas as decisões no Processo do Trabalho são recorríveis ou mesmo recorríveis
de imediato, como as Decisões Interlocutórias. Sendo o pronunciamento irrecorrível, deverá o
recurso ser inadmitido (juízo a quo) ou não conhecido (juízo ad quem).

b) Adequação: Além do ato ser recorrível, é preciso que o recurso interposto seja o adequado
para cada decisão no juízo em que se encontra. Para cada ato judicial existe um recurso
adequado e próprio. Esse pressuposto pode ser mitigado em razão do princípio da
fungibilidade, principalmente se considerarmos a possibilidade de as partes leigas exercerem
seu jus postulandi também em nível recursal.

c) Tempestividade: O direito de recorrer deve ser exercido no prazo assegurado por lei., não
podendo as partes, por convenção, prorrogar ou alterar os prazos (Art. 223 do CPC), embora
possa renunciar ao direito de recorrer (Art. 999 do CPC).

*É computado em dobro o prazo para recurso das pessoas jurídicas de direito público, isto é,
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como as suas respectivas autarquias e
fundações públicas.

d) Representação Processual Regular: Como já estudado, é admitido que as partes exerçam o


jus postulandi em ações decorrentes de relações de emprego, entretanto, por força da súmula 425
do TST, esse exercício é limitado aos Tribunais Regionais do Trabalho, não sendo possível seu
exercício a nível do TST. Nas lides decorrentes de relações de trabalho, é indispensável a
representação através de advogado.

e) Inexistência de fato extintivo ou impeditivo do direito de recorrer: Extraído do CPC


(Artigos 998,999 e 1.000), esse pressuposto se refere à necessidade de inexistência de fatos que
de algum modo extinguiram o direito de reconhecer ou que impeçam o seu exercício, tal como
a renúncia e a concordância tácita ou expressa com a decisão (hipóteses de fatos extintivos
do direito de recorrer) e a desistência do recurso (hipótese de fato impeditivo do direito
de recorrer).

f) Preparo do Recurso: Tema abordado no tópico abaixo.

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Alberto Iervese
2. Preparo do Recurso
No processo do trabalho o preparo do recurso consiste em dois procedimentos:

a) Pagamento das custas;

b) Depósito Recursal – Procedimento alterado pela reforma trabalhista.

Neste ponto, difere-se do processo civil, pois neste somente é exigido o pagamento das custas,
inexistindo a exigência acerca do pagamento do depósito recursal presente no processo do trabalho
em algumas situações.

a) Pagamento das Custas

Como a Justiça do Trabalho integra o Poder Judiciário Federal, as custas no processo trabalhista
devem ser fixadas por lei federal, que assim o fez ao editar o artigo 790 da CLT através de redação
dada pela Lei nº 10.537/2002.

Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal
Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às
instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho.

Cumpre destacar que no processo ou fase de execução as custas são pagas ao final, razão pela
qual não constituem pressuposto de admissibilidade de recursos interpostos contra decisões
proferidas nessa fase processual.

Art. 789-A. No processo de execução são devidas custas, sempre de responsabilidade do


executado e pagas ao final, de conformidade com a seguinte tabela (...)

No que tange aos recursos interpostos no processo de conhecimento, aplica-se o art. 789 da
CLT, que, como visto anteriormente, foi modificado pela Reforma Trabalhista, que acrescentou
um valor máximo para as custas a serem pagas.

Art. 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações e
procedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas
propostas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas
relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento), observado
o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e o máximo de quatro vezes
o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, e serão calculadas
(...)

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No que diz respeito ao momento de pagamento das custas, o §1º do art. 789 que as mesmas
deverão ser pagas dentro do prazo recursal, enquanto que o §2º que em caso de condenação
ilíquida, caberá ao juiz determinar o montante das custas processuais.

§ 1o As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão. No caso
de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo
recursal.

§ 2o Não sendo líquida a condenação, o juízo arbitrar-lhe-á o valor e fixará o montante das
custas processuais

Frisamos que, por força do art. 832, §2º da CLT, a sentença deve sempre mencionar as custas
que devem ser pagas pela parte vencida. Sendo a sentença omissa, deverá a parte interpor
embargos de declaração.

b) Depósito Recursal

O depósito recursal é espécie de despesa processual que tem como finalidade assegurar a
execução da decisão condenatória. Por ter uma natureza jurídica de garantia do Juízo Recursal,
pressupõe a existência de decisão (sentença ou acórdão).

A exigência da realização do depósito recursal é vista pelos doutrinadores como uma forma de
evitar interposições temerárias ou procrastinatórias de recursos.

No que tange ao momento da realização do depósito recursal, o mesmo é estabelecido pelo


art. 7º da Lei nº 5.584/70: O depósito deverá ser realizado dentro do prazo recursal.

Art 7º A comprovação do depósito da condenação (CLT, art. 899, §§ 1º a 5º) terá que ser
feita dentro do prazo para a interposição do recurso, sob pena de ser este considerado
deserto.

A não realização do depósito dentro do prazo recursal configura a deserção do recurso. Neste
sentido, o TST editou a sua Súmula nº 245, destacando que a interposição antecipada não prejudica
a dilação legal, ou seja, se o recurso for interposto antes do fim do prazo recursal, a parte
permanecerá com o prazo total para realizar o depósito recursal.

Súmula nº 245 do TST - O depósito recursal deve ser feito e comprovado no prazo alusivo
ao recurso. A interposição antecipada deste não prejudica a dilação legal.

O tema Depósito Recursal é regulado pelo artigo 899 da CLT, que passou por mudanças
significativas em razão da Lei nº 13.467/2017 (Lei da Reforma Trabalhista).

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Alberto Iervese

Art. 899 - Os recursos serão interpostos por simples salário-mínimo da região, o depósito para fins de
petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as recursos será limitado a este valor.
exceções previstas neste Título, permitida a execução
provisória até a penhora. § 7o No ato de interposição do agravo de instrumento, o
depósito recursal corresponderá a 50% (cinquenta por
§ 1º Sendo a condenação de valor até 10 (dez) vezes o cento) do valor do depósito do recurso ao qual se
salário-mínimo regional, nos dissídios individuais, só será pretende destrancar.
admitido o recurso inclusive o extraordinário, mediante
prévio depósito da respectiva importância. Transitada em § 8o Quando o agravo de instrumento tem a finalidade de
julgado a decisão recorrida, ordenar-se-á o levantamento destrancar recurso de revista que se insurge contra
imediato da importância de depósito, em favor da parte decisão que contraria a jurisprudência uniforme do
vencedora, por simples despacho do juiz. Tribunal Superior do Trabalho, consubstanciada nas
suas súmulas ou em orientação jurisprudencial, não
§ 2º Tratando-se de condenação de valor indeterminado, haverá obrigatoriedade de se efetuar o depósito referido
o depósito corresponderá ao que for arbitrado, para efeito no § 7o deste artigo.
de custas, pela Junta ou Juízo de Direito, até o limite de
10 (dez) vezes o salário-mínimo da região. § 9o O valor do depósito recursal será reduzido pela
metade para entidades sem fins lucrativos,
§3º REVOGADO empregadores domésticos, microempreendedores
individuais, microempresas e empresas de pequeno
§ 4o O depósito recursal será feito em conta porte.
vinculada ao juízo e corrigido com os mesmos
índices da poupança. § 10. São isentos do depósito recursal os
beneficiários da justiça gratuita, as entidades
§5º REVOGADO – Reforma Trabalhista filantrópicas e as empresas em recuperação
judicial.
§ 6º - Quando o valor da condenação, ou o arbitrado para
fins de custas, exceder o limite de 10 (dez) vezes o § 11. O depósito recursal poderá ser substituído por
fiança bancária ou seguro garantia judicial.

IMPORTANTE – Antes da aprovação da Reforma Trabalhista, o entendimento consolidado era


o de que somente o empregador era obrigado a realizar o pagamento do depósito recursal, em
respeito ao princípio da proteção processual ao trabalhador e ao princípio da isonomia real (que
considera a superioridade econômica do empregador). Tal interpretação decorria da antiga redação
do §4º, que determinava que o depósito deveria ser realizado em conta vinculada do empregado,
ocorre que após a aprovação da reforma, a legislação passou a prever que o depósito deverá ser
realizado em conta vinculada ao juízo.

Destacamos outras características importantes do depósito recursal previstas na legislação:

i. O valor do depósito recursal será diminuído pela metade para determinadas pessoas (§9º)
ii. Os beneficiários da justiça gratuita e empresas em recuperação são isentos (§10º)

A aplicabilidade dos incisos que vinculam ao salário mínimo foi mitigada pela CF/88

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 68


Alberto Iervese
Na hipótese de configuração de litisconsórcio, o depósito recursal feito por um litisconsorte
não aproveita aos demais, exceto se for litisconsórcio passivo unitário ou houver solidariedade
passiva e as defesas opostas ao autor forem comuns.

CPC/Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo
se distintos ou opostos os seus interesses.

Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor


aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes forem comuns.

Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito efetuado por uma delas
APROVEITA AS DEMAIS, quando a empresa que efetuou o depósito não pleiteie sua exclusão
da lide, vide Súmula 128, item III, do TST.

Súmula 128, III, TST - Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o
depósito recursal efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que
efetuou o depósito não pleiteia sua exclusão da lide. (ex-OJ nº 190 da SBDI-1 - inserida em
08.11.2000)

Através de interpretação do dispositivo contido na súmula do TST e acima transcrito, conclui-


se que: Se uma das empresas condenadas solidariamente ou subsidiariamente em obrigação de
pagar postular no recurso sua exclusão da lide, o depósito recursal efetuado por outra empresa não
a aproveita.

IMPORTANTE - Carlos Henrique Bezerra Leite adverte que o depósito recursal somente será
devido se a sentença condenatória houver imposto ao vencido uma obrigação de caráter
pecuniário. Tratando-se de sentença condenatória de obrigação de fazer, não fazer ou entregar
coisa, ou, ainda, sentença meramente declaratória ou constitutiva, bem como sentença
mandamental ou executiva lato sensu, não há que se falar em depósito recursal. Neste mesmo
sentido foi editada a Súmula nº 161 do TST.

Súmula nº 161/TST - Se não há condenação a pagamento em pecúnia, descabe o depósito


de que tratam os §§ 1º e 2º do art. 899 da CLT

• Os tetos relativos ao pagamento do recurso

O depósito recursal possui 2 (dois) tetos, são eles:

a) O valor da condenação;
b) Uma tabela estabelecida em lei, que estabelece um determinado valor para um
correspondente recurso.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 69


Alberto Iervese
Recurso Valor do Depósito Recursal

Recurso Ordinário R$ 9.189,00

Recurso de Revista R$ 18.378,00

Embargos ao Recurso de Revista R$ 18.378,00

Recurso Extraordinário R$ 18.378,00

O valor pago a título de depósito recursal nunca pode ser maior que o da condenação.
Assim, como regra geral, fica a de que: (a) se o valor da condenação for inferior a um dos valores
da tabela, será depositado aquele; (b) se o valor da condenação for superior a um dos valores da
tabela, é o valor da tabela que será depositado. Os recursos acima estão na ordem em que devem
ser interpostos.

Importante salientar que, uma vez feito o depósito, se se quiser interpor recursos
posteriormente, qualquer valor adicional apenas deverá ser depositado enquanto não
exceder o valor da condenação.

Exemplo 01: Processo com valor de condenação de R$ 5.000,00. A parte interpõe Recurso
Ordinário, devendo fazer preparo no valor da condenação. Se, posteriormente, interpuser Recurso
de Revista, nenhum valor precisará depositar, afinal já foi atingido o valor da condenação

Exemplo 02: Processo com valor de condenação de R$ 20.000,00. A parte interpõe Recurso
Ordinário, devendo fazer depósito no valor do teto deste recurso (R$ 9.189,00), afinal o valor da
condenação excede o teto legal. Se, posteriormente, interpuser Recurso de Revista, deverá depositar
o valor que falta para atingir o da condenação, qual seja, (R$ 20.000,00 – R$ 9.189,00) R$ 10.811,00

Importantíssimo destacar que o Relator não está autorizado a considerar o recurso deserto no
caso de pagamento insuficiente das custas ou do depósito recursal, exceto se a situação se manter
após a concessão de um prazo de 05 dias, conforme artigo 1.007 do Código de Processo Civil.

O.J. nº 140/SBDI-1/TST - Em caso de recolhimento insuficiente das custas processuais ou


do depósito recursal, somente haverá deserção do recurso se, concedido o prazo de 5
(cinco) dias previsto no § 2º do art. 1.007 do CPC de 2015, o recorrente não complementar
e comprovar o valor devido.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 70


Alberto Iervese

Recursos em Espécie
1. Recurso Ordinário
O recurso ordinário é utilizado no processo do trabalho como um ataque a nível recursal
contra sentenças proferidas pelos juízes de 1º grau, bem como contra acórdãos nos casos em que
a competência é originária dos TRT’s.

Art. 895 - Cabe recurso ordinário para a instância superior:

I - das decisões definitivas ou terminativas das Varas e Juízos, no prazo de 8 (oito) dias; e

II - das decisões definitivas ou terminativas dos Tribunais Regionais, em processos de


sua competência originária, no prazo de 8 (oito) dias, quer nos dissídios individuais, quer
nos dissídios coletivos

Por meio dele, torna-se possível submeter ao juízo ad quem o reexame das matérias de fato e de
direito apreciadas pelo juízo a quo.

Pode-se dizer que é o recurso correspondente ao Recurso de Apelação previsto no Código de


Processo Civil, já que possuem similaridades em diversos pontos.

Denomina-se ordinário pois é cabível para sanar qualquer injustiça presente na decisão,
não apenas algumas específicas, como ocorre nos recursos extraordinários e de revista. Pode o
recurso ordinário objetivar tanto a reforma da sentença quanto a sua anulação.

Deve o R.O. ser proposto em 8 dias, juntamente com suas razões, exceto se a parte estiver
desacompanhada de advogado, hipótese em que será suficiente o protocolo do pedido de recurso.

O recurso é interposto no juízo a quo, e é ele quem faz o exame de admissibilidade do mesmo
(dessa decisão cabe interposição de agravo de instrumento). Importante salientar que o juízo ad
quem também fará juízo de admissibilidade, e contra ele é cabível agravo regimental.

O Recurso Ordinário possui, em regra, efeito apenas devolutivo, em que pese a jurisprudência
já ter admito sua eficácia suspensiva também. Desta forma, permite, pois, a execução provisória
do julgado. O juiz não precisa declarar os efeitos em que recebe o recurso, pois, de lege lata, todos
os recursos trabalhistas possuem, em regra, apenas efeito devolutivo (CLT, art. 899).

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 71


Alberto Iervese
Impende trazer à tona o efeito expansivo subjetivo do Recurso Ordinário mencionado por
Carlos Henrique Bezerra Leite. Trata-se do enfrentamento do seguinte questionamento: pode o
tribunal anular sentença terminativa e ingressar, desde logo, no mérito da causa para julgar
procedente ou não o pedido?

Antes da entrada em vigor do novo CPC o entendimento dominante era que não seria possível
ao Tribunal realizar tal conduto, devendo os autos retornarem ao juízo a quo, mesmo o CPC/73
prevendo em seu art.515, §3º que pode o tribunal julgar desde logo a lide (mérito) se a causa versar
questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento, isto é, se não
houver, necessidade de produção de outras provas.

Ocorre que o NCPC tratou do tema de uma forma mais ampla em seu art. 1.013, §3º e §4º,
levando à interpretação de que a decisão do tribunal em sede de recurso ordinário poderá ser mais
ampla do que a proferida pelo juízo de primeiro grau.

“Em suma, se o tribunal verificar que a matéria recursal é apenas de direito ou, sendo a
matéria de fato, já tenha havido ampla produção de prova, poderá, constatando que o
processo reúne todos os elementos fáticos e jurídicos para prosseguir no julgamento da
causa, adentar desde logo no julgamento do mérito, acolhendo ou rejeitando os pedidos
formulados na petição inicial ou, ainda, nas demais hipóteses do art. 487 do NCPC. ” –
Carlos Henrique Bezerra Leite

2. Recurso de Revista

O recurso de revista pode ser conceituado como um recurso de natureza extraordinária, já


que sua utilização não se presta à observância do duplo grau de jurisdição, nem é utilizado, em
princípio, para corrigir justiça ou injustiça da interpretação da matéria fático-probatória contida nos
acórdãos proferidos pelos Tribunais Regionais do Trabalho.

Seu objeto é a impugnação de acórdão regional que contenha determinados vícios, ou seja, a
interposição deste recurso não exige o simples fato da sucumbência, tal como ocorre com os
recursos de natureza ordinária em geral.

Pode ser interposto contra acórdãos dos Tribunais Regionais do Trabalho em dissídios
individuais e tem como sua finalidade a uniformização da interpretação da lei (processual e
material) federal, estadual e constitucional, bem como a preservação da aplicabilidade
delas.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 72


Alberto Iervese
Em suma, o recurso de revista é uma modalidade recursal que objetiva corrigir a decisão
que violar a literalidade da lei ou da Constituição Federal e a uniformizar a jurisprudência
nacional concernente à aplicação dos princípios e regras de direito objetivo que guardem
alguma vinculação com a atividade jurisdicional do Estado

“O recurso de revista é o recurso último, na Justiça do Trabalho, para impugnação de decisões


proferidas em dissídios individuais, não obstante ainda haver a possibilidade de se questionar a
decisão no Supremo Tribunal Federal, na hipótese de violação da Constituição Federal” - Schiavi

Art. 896 - Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior do Trabalho das
decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio individual, pelos Tribunais
Regionais do Trabalho, quando

a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe houver dado
outro Tribunal Regional do Trabalho, no seu Pleno ou Turma, ou a Seção de Dissídios
Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou contrariarem súmula de jurisprudência
uniforme dessa Corte ou súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal;

b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva de Trabalho, Acordo


Coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial de observância obrigatória em
área territorial que exceda a jurisdição do Tribunal Regional prolator da decisão recorrida,
interpretação divergente, na forma da alínea a;

c) proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e literal à
Constituição Federal.

IMPORTANTE – Conforme leciona o professor Renato SARAIVA “o recurso de revista é


cabível apenas nos dissídios individuais, o que significa dizer que não é cabível em dissídios
coletivos, sendo possível nas ações coletivas, como é o caso da ação civil pública.

• Pressupostos de Cabimento
Para interposição deste recurso, deve o recorrente demonstrar os seguintes pressupostos
específicos de cabimento:
a) Prequestionamento: A matéria estará prequestionada quando houver sido tratada no
acórdão impugnado. É necessária a manifestação explícita do TRT no acórdão. Assim, a
admissibilidade da revista pressupõe que a decisão recorrida tenha se pronunciado
explicitamente sobre a matéria veiculada no recurso;

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 73


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Súmula nº 356/STF – O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos
embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar
o requisito do prequestionamento.

Súmula nº 184/TST – Ocorre preclusão se não forem opostos embargos


declaratórios para suprir omissão apontada em recurso de revista ou de embargos

Súmula nº 297, I, TST – Diz-se prequestionada a matéria ou questão quando na


decisão impugnada haja sido adotada, explicitamente, tese a respeito.

O.J. nº 118, SBDI-1/TST – Prequestionamento. Havendo tese explícita sobre a


Johnson destaca em matéria, na decisão recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa
sua exposição o
do dispositivo legal para ter-se como prequestionado esse. Inteligência da Súmula
pressuposto “Tratar de
matéria jurídica” 297.

b) Indicação da Contradição: Indicar a contrariedade com dispositivo de lei, súmula ou


Orientação Jurisprudencial;

c) Exposição das Razões: Expor as razões do pedido de reforma, impugnando todos os


fundamentos jurídicos da decisão recorrida. Esse pressuposto é utilizado como um dos
argumentos que sustentam a necessidade de advogado no TST, entendimento esse
estabelecido em súmula redigida pelo próprio tribunal.

• Hipóteses de Cabimento

Como visto através da leitura e análise do artigo 896 da CLT e seus incisos, existem três
hipóteses de cabimento para o recurso de revista, são elas:

a) Divergência Jurisprudencial na interpretação de lei federal

É cabível a interposição de recurso de revista dos acórdãos que derem ao mesmo dispositivo
de lei federal interpretação diversa e conflitante. Essa interpretação diversa pode ser entre:

i. TRT X TRT diverso – Seja em seu pleno ou em suas turmas;

ii. TRT X Seção de Dissídios Individuais do TST

iii. TRT X Súmula do TST

iv. TRT X Súmula Vinculante do STF

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 74


Alberto Iervese
Assim, através da interpretação acima disposta, entende-se que não se admitirá divergências que
sejam originárias: i) do mesmo tribunal, seja do pleno ou da turma; ii) de outros órgãos da Justiça
do Trabalho não indicados no dispositivo; iii) De outros órgãos de quaisquer ramos do Poder
Judiciário, nem mesmo do STF (salvo súmula vinculante).

A decisão que serve de parâmetro para ser comparada com a impugnada é denominada
paradigma, e deve ela cumprir os seguintes requisitos:

I. Deve ser válido, isto é, não pode ter sido expressamente cancelado por outro;

II. Que o paradigma seja divergente da decisão impugnada. A divergência deve ser
específica, isto é, os mesmos fundamentos de uma decisão devem estar presentes no
paradigma.
* Essa divergência deve ser igual ou superior ao da decisão impugnada, ou seja, se
a decisão impugnada versas sobre um atraso de 01 minuto, a decisão paradigma
deve versar sobre atraso de pelo menos 01 minuto;

III. Deve ser atual, isto é, não ter sido ultrapassada por súmula do TST ou do STF, ou
superada por iterativa e notória jurisprudência do TST.

IMPORTANTE – A súmula 337 do TST estabelece quais são os requisitos que devem ser
cumpridos para comprovação da divergência justificadora do recurso.

Súmula 337/TST: I - Para comprovação da divergência transcrição de trechos que integram a fundamentação do
justificadora do recurso, é necessário que o recorrente: acórdão divergente, uma vez que só se publicam o dispositivo e
a ementa dos acórdãos;
a) Junte certidão ou cópia autenticada do acórdão paradigma ou
cite a fonte oficial ou o repositório autorizado em que foi IV - É válida para a comprovação da divergência jurisprudencial
publicado; e justificadora do recurso a indicação de aresto extraído de
repositório oficial na internet, desde que o recorrente:
b) Transcreva, nas razões recursais, as ementas e/ou trechos
dos acórdãos trazidos à configuração do dissídio, demonstrando a) transcreva o trecho divergente;
o conflito de teses que justifique o conhecimento do recurso,
ainda que os acórdãos já se encontrem nos autos ou venham a b) aponte o sítio de onde foi extraído; e
ser juntados com o recurso.
c) decline o número do processo, o órgão prolator do acórdão e a
II - A concessão de registro de publicação como repositório data da respectiva publicação no Diário Eletrônico da Justiça do
autorizado de jurisprudência do TST torna válidas todas as suas Trabalho.
edições anteriores.
V – A existência do código de autenticidade na cópia, em
III – A mera indicação da data de publicação, em fonte oficial, de formato pdf, do inteiro teor do aresto paradigma, juntada aos autos,
aresto paradigma é inválida para comprovação de divergência torna-a equivalente ao documento original e também supre a
jurisprudencial, nos termos do item I, “a”, desta súmula, quando ausência de indicação da fonte oficial de publicação. .
a parte pretende demonstrar o conflito de teses mediante

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 75


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b) Divergência jurisprudencial na interpretação de lei estadual, convenção


coletiva, acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento de empresa

Caberá recurso de revista para turma do TST das decisões proferidas pelos TRTs em grau de
recurso ordinário, em dissídio individual, quando “derem ao mesmo dispositivo de lei estadual,
convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial
de observância obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do Tribunal Regional
prolator da decisão recorrida”.

Trata-se de uma hipótese rara. Enquanto que no caso do item “a” a divergência de interpretação
deve se dar sobre lei federal, necessariamente, no caso tratado aqui, o foco do dissenso deve ser:

. Lei estadual;

OBS: Carlos Henrique Bezerra Leite entende se tratar de lei em sentido amplo,
abrangendo decretos, portarias e outros atos normativos editados pelo Poder Público
Estadual;

* Na prática, a divergência de lei estadual que extrapole a jurisdição de um TRT só


ocorre no estado de São Paulo, na medida em que é o único estado da federação
que possui dois TRTs, quais sejam o da 2ª Região (São Paulo) e o da 15ª Região
(Campinas).

I. Convenção coletiva, que é assinada entre sindicatos;

II. Acordo coletivo, que é assinado entre sindicato e uma ou mais empresas;

III. Sentença normativa, que é a decisão proferida pelo TRT ou TST num dissídio
coletivo;

IV. Regulamento de empresa.

Há aqui o requisito extra destacado no primeiro parágrafo: estas normas devem ser de aplicação
em mais de uma jurisdição. Isto ocorre quando um estado possui mais de um tribunal, por
exemplo.

A decisão paradigma aqui também deve observar os requisitos especificados no tópico


anterior: validade, divergência e atualidade.

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c) Violação de literal dispositivo de lei federal ou da Constituição da


República

O recurso de revista também será cabível quando a decisão recorrida for proferida com:

a) Violação de literal dispositivo da lei federal; ou

b) Afronta direta e literal à Constituição Federal.

Aqui não se exige a comparação de julgados (isto é, fica de fora o paradigma), mas apenas que
tenha havido violação a uma interpretação literal da Constituição ou da lei federal. Duas
observações são cabíveis:

A violação deve ter sido de interpretação literal, não bastando, para suscitar o presente recurso,
que tenha havido uma razoável interpretação alternativa que não desafia a literalidade do dispositivo
legal. Literal é a violação que, por exemplo, diz que a lei permite onde ela claramente proíbe e vice-
versa.

A segunda observação é que, segundo Mauro Schiavi e Carlos Henrique Bezerra Leite, o termo
“lei federal” não deve ser compreendido em sua literalidade, devendo abarcar também dispositivos
normativos federais que não são leis.

Os requisitos específicos do recurso de revista são:

a) Tratar de matéria jurídica;


b) Prequestionamento. Isto é, a matéria já deve ter sido anteriormente discutida
c) Transcendência. Requisito criado em 2001.

→ “Tal princípio exterioriza a função que está na essência dos Tribunais


Superiores, ou seja, julgar apenas as questões cuja transcendência
política, social, econômica ou jurídica ultrapasse o exclusivo interesse das
partes, para preservação da ordem jurídica, da Federação e da segurança
do Direito, que deve ser aplicado uniformemente no país. ” – Ives Gandra
da Silva Martins

Antes da reforma, os parágrafos 3º/6º do artigo 896 disciplinavam um procedimento para


uniformizar divergências de teses do próprio tribunal. Após a reforma, isto foi suprimido.

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3. Embargos Infringentes
Trata-se de recurso cabível para impugnar decisão não unânime proferida em dissídio
coletivo de competência originária do TST, salvo se a decisão atacada estiver em consonância
com precedente jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou da Súmula de sua
jurisprudência dominante (CLT, Art. 894, §3º, I). Cabe à SDC (Seção Especializada em Dissídios
Coletivos) julgar os recursos denominados Embargos Infringentes.

Está disciplinado no artigo 894, I, a, da CLT:

Art. 894. No Tribunal Superior do Trabalho cabem embargos, no prazo de 8 (oito)


dias:

I - de decisão não unânime de julgamento que:

a) conciliar, julgar ou homologar conciliação em dissídios coletivos que excedam a


competência territorial dos Tribunais Regionais do Trabalho e estender ou rever as
sentenças normativas do Tribunal Superior do Trabalho, nos casos previstos em lei;

Impende destacar que o próprio TST, por força do artigo 262 do seu Regimento Interno,
afunilou ainda mais o cabimento deste recurso ao restringi-lo à cláusula em que há divergência, e,
se esta for parcial, ao objeto a divergência. O RITST também trata de outros temas procedimentais
referentes aos embargos infringentes.

Art. 262. Cabem embargos infringentes das decisões Art. 263. Registrado o protocolo na petição a ser
não unânimes proferidas pela Seção Especializada encaminhada à Secretaria do órgão julgador
em Dissídios Coletivos, no prazo de oito dias, competente, esta juntará o recurso aos autos
contados da publicação do acórdão no órgão oficial, respectivos e abrirá vista à parte contrária, para
nos processos de Dissídios Coletivos de competência impugnação, no prazo legal. Transcorrido o prazo, o
originária do Tribunal. processo será remetido à unidade competente, para
ser imediatamente distribuído.
Parágrafo único. Os embargos infringentes serão
restritos à cláusula em que há divergência, e, se esta Art. 264. Não atendidas as exigências legais relativas
for parcial, ao objeto da divergência. ao cabimento dos embargos infringentes, o Relator
denegará seguimento ao recurso, facultada à parte a
interposição de agravo regimental.

Importante – As denominações utilizadas nos Embargos e referentes às decisões conflituosas


comparados são as mesmas do recurso de revista: paradigma e recorrido.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 78


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4. Embargos de Divergência
Os embargos de divergência têm como finalidade uniformizar a divergência interna na
interpretação de lei federal ou da Constituição Federal no âmbito do próprio TST, o que pode
ocorrer entre acórdãos divergentes de Turmas ou entre acórdãos divergentes da SBDI-1 e SBDI-
2. O R.R busca uniformizar jurisprudência entre tribunais, já o E.D. entre as turmas do TST.

“Não se trata de recurso que tem por objeto reapreciação de matéria fática, uma vez
que seu objeto é a uniformização da Jurisprudência Interna do TST” – Mauro Schiavi

Está disciplinado no artigo 894, II da CLT, bem como os artigos 71 (I e II) e 231 do RITST.

Art. 894. No Tribunal Superior do Trabalho cabem embargos, no prazo de 8 (oito) dias:

II - das decisões das Turmas que divergirem entre si ou das decisões proferidas pela
Seção de Dissídios Individuais, ou contrárias a súmula ou orientação jurisprudencial do
Tribunal Superior do Trabalho ou súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal.

Carlos Henrique Bezerra Leite, a partir de análise do dispositivo acima transcrito, entende que os
embargos de divergências são cabíveis das decisões:

i. Divergentes entre a SBDI-1 e SBDI-2 a respeito da aplicação de norma prevista em lei


federal ou em constituição;
ii. Divergentes entre uma ou mais turmas;
iii. De uma ou mais Turmas que divergirem das decisões da SDI;
iv. De uma ou mais Turmas que divergirem da Orientação Jurisprudencial (da SDI ou SDC);
v. De uma ou mais Turmas que divergirem de Súmula do TST;
vi. De uma ou mais Turmas que divergirem de Súmula Vinculante do STF.

A competência funcional para julgar os embargos de divergência é da Seção


Especializada em Dissídios Individuais 1, exceto na primeira hipótese acima anunciada, que
será de competência da SDI em sua composição plena. Não caberá Embargos de Divergência
contra decisão monocrática do relator, por força da OJ nº 378 da SBDI-1: Comando legal restringiu
o cabimento às decisões colegiadas.

IMPORTANTE – No que tange ao recurso de revista e aos embargos que estão sendo
estudados (Divergência e Infringentes), há de se observar a súmula nº 23 do TST: “Não se
conhece de recurso de revista ou de embargos, se a decisão recorrida resolver determinado item do
pedido por diversos fundamentos e a jurisprudência transcrita não abranger a todos”.

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5. Incidente de Recursos de Revista Repetitivos

Segundo lição do professor Renato Saraiva, se o TST, ao receber um recurso de revista,


considerar que a matéria é repetitiva, quer dizer, se houver multiplicidade de recursos de revista
fundados em idênticas questões de direito, todos os recursos que estiverem nos TRTs sobre o
mesmo tema ficarão sobrestados aguardando a decisão do primeiro caso. Segundo o TST, uma vez
julgado o recurso paradigma – ou leading case -, todos os demais que estavam sobrestados deverão
ser julgados no mesmo sentido, salvo se a matéria fática for distinta ou questão jurídica não
examinada exigirem solução jurídica diversa.

Importante: A aplicação do entendimento adotado é obrigatória em todos os graus de jurisdição.

O incidente de recursos de revista repetitivos é disciplinado na CLT nos artigos 896-B e


896-C, com redação dada pela Lei 13.015/2014.

Art. 896-B. Aplicam-se ao recurso de revista, no que couber, as normas da Lei no 5.869, de
11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), relativas ao julgamento dos recursos
extraordinário e especial repetitivos.

Art. 896-C. Quando houver multiplicidade de recursos de revista fundados em idêntica


questão de direito, a questão poderá ser afetada à Seção Especializada em Dissídios
Individuais ou ao Tribunal Pleno, por decisão da maioria simples de seus membros,
mediante requerimento de um dos Ministros que compõem a Seção Especializada,
considerando a relevância da matéria ou a existência de entendimentos divergentes entre
os Ministros dessa Seção ou das Turmas do Tribunal.

Narra o professor Jonhson Meira que o pontapé inicial para a regulamentação na CLT acerca
deste incidente foi oriundo do TST, entretanto, no projeto original não havia disciplina do tema, e
sim apenas uma determinação de que fosse aplicado o CPC.

Ocorre que, no congresso, os legisladores optaram por disciplinar o tema praticamente


copiando o CPC, atitude essa que posteriormente acabou gerando muitas emendas no dispositivo,
em razão das características próprias do processo do trabalho, tornando o dispositivo um “retalho”.

Em decorrência dos fatos acima explicitados, raramente utiliza-se o CPC (a utilização do


CPC/2015 foi autorizada pelo art. 280 do RITST), pois, na maioria dos casos, toda a
regulamentação necessária encontra-se na CLT, artigo 896-C.

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 80


Alberto Iervese
Segue transcrito abaixo o art. 280 do RITST, oriundo do Ato Normativo nº 38, de 2015.
O TST reformou seu regimento
interno em novembro de 2017, o Art. 280. As normas do Código de Processo Civil relativas ao julgamento
adequando às novidades dos recursos extraordinário e especial repetitivos aplicam-se, no que
existentes (Atos Normativos, CPC
couber, aos recursos repetitivos (arts. 894, II, e 896 da CLT).
2015, Reforma Trabalhista, etc.).

O incidente de recursos de revista repetitivos poderá ser aplicado aos recursos interpostos antes
de 20 de setembro de 2014 (data em que entrou em vigor a lei), desde que não implique violação a
eventual direito processual adquirido pelas partes.

Destacamos que, por força do art. 281 do RITST, o incidente também poderá ser
aplicado quando houver multiplicidade de embargos, apesar de não conter expressa
determinação neste sentido no dispositivo legal que rege o tema (Art. 896 – C, CLT).

Art. 281. Havendo multiplicidade de recursos de revista OU DE EMBARGOS para a


Subseção I da Seção Especializada em Dissídios Individuais fundados em idêntica
questão de direito, a questão poderá ser afetada a essa Subseção ou ao Tribunal Pleno,
por decisão da maioria simples de seus membros, mediante requerimento de um dos
Ministros que a compõem, considerando a relevância da matéria ou a existência de
entendimentos divergentes entre os Ministros dessa Subseção ou das Turmas do
Tribunal.

O professor Jonhson manifesta sua opinião no sentido de que o legislador tinha a intenção de
abranger também os embargos, mas esqueceu de fazê-lo. Acredita o mesmo que esse fato se deu
pela confusão criada pelas diversas emendas realizadas no dispositivo legal, como mencionado
anteriormente.

• Requisitos para aplicação do incidente

São cinco os requisitos para aplicação do incidente de recursos de revista repetitivos, mas
apenas 03 precisam estar presentes. Os 02 primeiros são os obrigatórios:

a) Multiplicidade de recursos de revista: Não há número mínimo, bastando que sejam


múltiplos, a quantidade dependerá muito da situação. O professor Jonhson entende que deve
ser um número, pelo menos, superior a 02 (dois). Outra observação feita pelo professor
Jonhson: Muito mais importante que a quantidade de recursos existentes é a potencialidade
existente no caso para que o mesmo resolva questões que no futuro venham a ser discutidas

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 81


Alberto Iervese
b) Discussão sobre idêntica questão jurídica: Os recursos devem versas sobre idêntica questão
jurídica, não sendo suficiente que versem sobre a mesma questão fática.

Dica do professor Jonhson: Se puder julgar sem analisar a prova, trata-se de matéria jurídica,
se precisa observar a prova, trata-se de matéria fática

c) Relevância da matéria/questão de direito ou divergência de interpretação da questão


de direito entre os Ministros do SBDI-1 ou das Turmas do TST (apenas um dos três
precisa ocorrer). Casos envolvendo O.J. ou Súmula irão
necessariamente ao Pleno (Art. 281, §3º, I).
• Competência para julgamento
A competência para julgamento é da Subseção I da Seção Especializada em Dissídios Individuais
(SBDI-1), conforme artigo 281 do RITST. Também está prevista no art. 896-C o julgamento pelo
pleno do TST. Os parágrafos §1º, §2º e §3º e do art. 281 do RITST assim versam:

§ 1º O requerimento fundamentado de um dos no prazo máximo de 30 dias de seu recebimento, ou

Ministros da Subseção de Dissídios Individuais I de de imediato, se suscitada em questão preliminar,

afetação da questão a ser julgada em incidente de quando do julgamento de determinado processo pela

recursos repetitivos deverá indicar um ou mais SbDI-1, após o que:

recursos de revista ou de embargos


I – acolhida a proposta, por maioria simples, o
representativos da controvérsia e ser formulado
colegiado também decidirá se a questão será
por escrito diretamente ao Presidente da SbDI-1 ou,
analisada pela própria SbDI-1 ou pelo Tribunal
oralmente, em questão preliminar suscitada quando
Pleno;
do julgamento de processo incluído na pauta de
julgamentos da Subseção. II – acolhida a proposta, a desistência da ação ou do
recurso não impede a análise da questão objeto de
§ 2º De forma concorrente, quando a Turma do
julgamento de recursos repetitivos;
Tribunal Superior do Trabalho entender necessária a
adoção do procedimento de julgamento de recursos III – na hipótese do inciso I, o processo será
de revista repetitivos, seu Presidente deverá distribuído a um relator e a um revisor do órgão
submeter ao Presidente da Subseção de Dissídios jurisdicional correspondente, para sua tramitação
Individuais I a proposta de afetação do recurso de nos termos do artigo 896-C da CLT;
revista, para os efeitos dos artigos 896-B e 896-C da
IV – rejeitada a proposta, se for o caso, os autos serão
CLT.
devolvidos ao órgão julgador respectivo, para que o

§ 3º O Presidente da Subseção submeterá a proposta julgamento do recurso prossiga regularmente.

de afetação ao colegiado, se formulada por escrito,

Alberto Iervese – Faculdade de Direito da UFBA 82


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Pelo artigo acima, percebe-se que qualquer ministro da SBDI-1 possui legitimidade
para suscitar o incidente de recursos de revista/embargos repetitivos. Da mesma maneira,
os ministros das turmas possuem tal legitimidade, na forma do §2º.

Importante - Os casos analisados pelo incidente devem ter abrangente argumentação e discussão
a respeito da questão a ser decidida, pois, pela própria natureza do incidente, deverá ser suficiente
para servir como resolução para diversos outros processos.

Art. 283. Somente poderão ser afetadas recursos representativos da controvérsia que sejam
admissíveis e que, a critério do relator do incidente de julgamento dos recursos repetitivos,
contenham abrangente argumentação e discussão a respeito da questão a ser decidida.

• Ações do Relator

Art. 284. Selecionados os recursos, o relator, na (quinze) dias, e requisitar aos Presidentes ou
Subseção Especializada em Dissídios Vice-Presidentes dos Tribunais Regionais do
Individuais ou no Tribunal Pleno, constatada a Trabalho a remessa de até 2 (dois) recursos de
presença do pressuposto do caput do art. 896-C revista representativos da controvérsia;
da CLT, proferirá decisão de afetação, sempre
fundamentada, na qual: IV - concederá o prazo de 15 (quinze) dias para
a manifestação escrita das pessoas, órgãos ou
I - identificará com precisão a questão a ser entidades interessados na controvérsia, que
submetida a julgamento; poderão ser admitidos como amici curiae;

II - poderá determinar a suspensão dos recursos V - informará aos demais Ministros sobre a
de revista ou de embargos de que trata o § 5º do decisão de afetação;
art. 896-C da CLT;
VI - poderá conceder vista ao Ministério Público
III - poderá solicitar aos Tribunais Regionais do
e às partes, nos termos e para os efeitos do § 9º
Trabalho informações a respeito da
controvérsia, a serem prestadas no prazo de 15 do art. 896-C da CLT.

A respeito do inciso III, o professor Jonhson afirma não entender quais seriam as informações
acerca da controvérsia que viriam a ser solicitadas. Em discussão em sala foram levantados os
seguintes argumentos: i) informações acerca de eventuais peculiaridades regionais; ii)
questionamento acerca entendimento dominante e suas razões e fundamentos.

Noutro giro, outra observação feita pelo professor é referente ao inciso VI, o RITST modifica
o disposto no §9º do art. 896-C da CLT, conferindo facultatividade à vista ao Ministério Público,
que é tratada na CLT como um ato de caráter obrigatório. O professor entende que o MP deve
sempre ter vista acerca do incidente.

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• Suspensão dos recursos repetitivos

Admitido o incidente, prevê o §3º do art. 896-C da CLT que o “Presidente do Tribunal Superior
do Trabalho oficiará os Presidentes dos Tribunais Regionais do Trabalho para que suspendam os
recursos interpostos em casos idênticos aos afetados como recursos repetitivos, até o
pronunciamento definitivo do Tribunal Superior do Trabalho”. No mesmo sentido está o art.
281, §3º do RITST.

3o O Presidente do Tribunal Superior do Tribunal Superior do Trabalho, ficando


Trabalho oficiará os Presidentes dos Tribunais suspensos os demais recursos de revista até o
Regionais do Trabalho para que suspendam os pronunciamento definitivo do Tribunal Superior
recursos interpostos em casos idênticos aos do Trabalho. (Incluído pela Lei
afetados como recursos repetitivos, até o nº 13.015, de 2014)
pronunciamento definitivo do Tribunal Superior
do Trabalho. (Incluído pela § 5o O relator no Tribunal Superior do Trabalho
Lei nº 13.015, de 2014) poderá determinar a suspensão dos recursos de
revista ou de embargos que tenham como objeto
§ 4o Caberá ao Presidente do Tribunal de origem controvérsia idêntica à do recurso afetado como
admitir um ou mais recursos representativos da repetitivo.
controvérsia, os quais serão encaminhados ao

• Suspensão - Da comunicação acerca da decisão de afetação

A aplicação no que RITST/Art. 285. O Presidente do Tribunal Superior do Trabalho oficiará os Presidentes dos
tange aos processos Tribunais Regionais do Trabalho, com cópia da decisão de afetação, para que suspendam
que ainda estão na vara
é um tema que gera os recursos de revista interpostos em casos idênticos aos afetados como recursos
muito debate no meio
repetitivos e ainda não encaminhados a este Tribunal, bem como os recursos ordinários
acadêmico. Johnson
entende que sim, interpostos contra as sentenças proferidas em casos idênticos aos afetados como
posto que o art. 288,
recursos repetitivos, até o pronunciamento definitivo do Tribunal Superior do Trabalho.
§2º, I faz referência.

A suspensão dos processos se dará através da figura do presidente do TST, que está
incumbido da responsabilidade de oficiar os presidentes dos TRTs para que realizem as
suspensões necessárias. O mito, a lenda, Jonhson Meira, destaca aqui as seguintes observações:

OBS 01: A figura responsável pela comunicação não pode ser o relator pois o mesmo não tem
autoridade sobre os TRTs, daí decorre a necessidade de a comunicação ser feita pelo presidente.

OBS 02: O artigo não se refere aos embargos estudados anteriormente pois estes já estão no TST.

OBS 03: O dispositivo acima transcrito não fala de suspender os recursos interpostos na vara.

OBS 04: A suspensão traz o grande prejuízo da demora para se obter uma decisão definitiva.

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Alberto Iervese
Ainda sobre a suspensão do processo, trazemos aqui uma observação feita pelo professor
Mauro Schiavi acerca da hipotética situação em que o recurso afetado pelo incidente envolver mais
de um pedido mas nem todos eles forem afetados. O que ocorrerá?

“ Aqui reside uma importante questão e uma dificuldade mais acentuada no Processo do
Trabalho, pois, como regra, os processos envolvem mais de um pedido, e se um deles for
idêntico ao do processo afetado pelo do TST, todo o recurso ficará suspenso, o que poderá
acarretar prejuízo, principalmente ao trabalhador, que terá que aguardar toda a tramitação
do incidente, para somente depois ter o seu recurso apreciado. ” - Schiavi

A solução para a situação reside no §2º do artigo 291 do Regimento Interno do Tribunal
Superior do Trabalho.

RITST – § 2º Quando os recursos afetados em processos já distribuídos no âmbito deste


Tribunal contiverem outras questões além daquela que é objeto da afetação, caberá ao
órgão jurisdicional competente para julgamento do incidente decidir esta, após o que o
processo deverá retornar ao órgão de origem para apreciação das demais matérias.

• Da admissão de recursos representativos da controvérsia

RITST - Art. 286. Caberá ainda ao Presidente do Tribunal de origem, caso receba a
requisição de que trata o inciso III do art. 284 deste Regimento, admitir até 2 (dois)
recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Tribunal
Superior do Trabalho.

Recurso representativo da controvérsia é aquele que engloba a tese a ser discutida e envolve em
seu corpo uma ampla argumentação acerca do tema.

• Da necessária intimação das partes envolvidas no processo

RITST - Art. 288. As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu
processo, a ser proferida pelo respectivo relator.

As partes deverão receber intimações comunicando a suspensão do seu processo em razão da


afetação pelo incidente, podendo as mesmas requererem o prosseguimento do processo se
demonstrarem a intempestividade do recurso nele interposto ou a existência de distinção entres as
questões de direito a serem decididas (§1º). A outra parte deverá ser ouvida (§3º).

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Observação do Professor Jonhson: Mesmo a parte querendo desistir do processo, o incidente
continuará.

Mauro Schiavi: Segundo entendimento preponderante do STJ, uma vez afetado o recurso, o
recorrente não poderá dele desistir, uma vez que prevalecerá o interesse público sobre o
particular.

• Da possibilidade de audiência pública instrutória

RITST - Art. 289. Para instruir o procedimento, pode o relator fixar data para, em audiência
pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria,
sempre que entender necessário o esclarecimento de questões ou circunstâncias de fato
subjacentes à controvérsia objeto do incidente de recursos repetitivos.

Trata-se de figura diversa do amicus curiae, que é um terceiro interessado. Exige-se aqui
conhecimento acerca da matéria para que os julgadores tenham mais conhecimento acerca do tema,
facilitando assim um julgamento de acordo com o bom direito.

A intervenção por amicus curiae nesta situação está regulado no §1º do mesmo dispositivo:

§ 1º O relator poderá também admitir, tanto na audiência pública quanto no curso do


procedimento, a manifestação, como amici curiae, de pessoas, órgãos ou entidades com
interesse na controvérsia, considerando a relevância da matéria e assegurando o
contraditório e a isonomia de tratamento.

§ 2º A manifestação de que trata o § 1º somente será admitida até a inclusão do processo em pauta.

• Prazo para julgamento


Art. 290. Os recursos afetados deverão ser julgados no prazo de 1 (um) ano e terão preferência sobre os demais feitos.

§ 1º Na hipótese de não ocorrer o julgamento no prazo de 1 (um) ano a contar da publicação da decisão de que
trata o art. 284 deste Regimento, cessam automaticamente, em todo o território nacional, a afetação e a
suspensão dos processos, que retomarão seu curso normal.

§ 2º Ocorrendo a hipótese do § 1º, é permitida, nos termos e para os efeitos do art. 281 deste Regimento e do art. 896-
C da CLT, a formulação de outra proposta de afetação de processos representativos da controvérsia para instauração
e julgamento de recursos repetitivos, a ser apreciada e decidida pela Subseção I da Seção Especializada em Dissídios
Individuais deste Tribunal.

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Questão de Prova: Se os recursos de revista estão nas turmas, como é que o


incidente pode ser suscitado por ministros da SBDI-1? Os ministros da SBDI-1
são oriundos das turmas, e, mais do que isso, a maior parte deles são presidentes
das turmas.

• Da completa análise dos fundamentos da tese discutida

Art. 291. O conteúdo do acórdão paradigma abrangerá a análise de todos os fundamentos


da tese jurídica discutida, favoráveis ou contrários.

§ 1º É vedado ao órgão colegiado decidir, para os fins do art. 896-C da CLT, questão não
delimitada na decisão de afetação.

Considerando que cada decisão tem fundamentos diferentes, é fundamental que a análise
recaia sobre todos os argumentos da tese jurídica discutida, sejam eles favoráveis ou contrários,
visto que o precedente deverá ser aplicado a diversos casos.

Ademais, destacamos que essa discussão é fundamental pois, a partir dela, as partes poderão
identificar a ausência de identidade das questões jurídicas e impossibilidade de afetação pelo
incidente

• Da aplicação da decisão nos processos suspensos

Art. 292. Decidido o recurso representativo da controvérsia, os órgãos jurisdicionais


respectivos declararão prejudicados os demais recursos versando sobre idêntica
controvérsia ou os decidirão, aplicando a tese firmada.

Uma vez proferida a decisão do incidente, inicia-se a aplicação do julgamento em todos os


processos pendentes, independentemente de onde estejam (Varas, TRTs ou TST).

Para melhor entendimento, novamente destacamos que esses recursos não foram julgados através
do incidente, o que foi julgado foi a tese jurídica que influenciará eventual decisão sobre os mesmos.

Recurso prejudicado é aquele que está de acordo com a tese adotada pelo TST, pois há a perca do
interesse no recurso (O pleito foi que fosse adotado o entendimento contido no recurso e assim já
ocorreu através da decisão do incidente).

À primeira vista parece confuso, mas através da leitura do artigo seguinte ocorre uma elucidação.

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Art. 293. Publicado o acórdão proferido em incidente de recurso repetitivo:

I - o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal de origem negará seguimento aos recursos


de revista sobrestados na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação do
Tribunal Superior do Trabalho;

II - o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o processo de sua


competência originária ou o recurso anteriormente julgado, na hipótese de o acórdão
recorrido contrariar a orientação do Tribunal Superior do Trabalho;

III - os processos porventura suspensos em primeiro e segundo graus de jurisdição


retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo Tribunal Superior do
Trabalho.

• Da não aplicação da tese jurídica adotada em decisão


Como afirmado anteriormente, uma vez proferida a decisão do incidente, inicia-se a
aplicação do julgamento em todos os processos pendentes, independentemente de onde estejam.
Entretanto, é possível que não ocorra a aplicação da tese jurídica adotada em decisão do incidente.

Para concretização de tal possibilidade, é necessária que seja demonstrada a distinção entre
o caso in concretu e a tese jurídica discutida no incidente, na forma do art. 294 do RITST.

Art. 294. Para fundamentar a decisão de manutenção do entendimento, o órgão que


proferiu o acórdão recorrido deverá demonstrar a existência de distinção, por se tratar de
caso particularizado por hipótese fática distinta ou questão jurídica não examinada, a
impor solução diversa.

§ 1º Na hipótese de que trata o caput, o recurso de revista será submetido a novo exame
de sua admissibilidade pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal Regional,
retomando o processo o seu curso normal.

§ 2º Realizado o juízo de retratação, com alteração do acórdão divergente, o tribunal de


origem, se for o caso, decidirá as demais questões ainda não decididas, cujo exame se
tornou necessário em decorrência da alteração.

§ 3º Quando for alterado o acórdão divergente na forma do § 1º e o recurso anteriormente


interposto versar sobre outras questões, o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal
Regional, independentemente de ratificação do recurso, procederá a novo juízo de
admissibilidade, retomando o processo o seu curso normal.

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6. Agravo de Petição
O agravo de petição é o recurso próprio para impugnar decisões proferidas no curso do
processo (ou da fase) de EXECUÇÃO. Não cabe, pois, agravo de petição na fase (ou processo)
de conhecimento. Encontra-se previsto no art. 897 da CLT.

Art. 897 - Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:

a) de petição, das decisões do Juiz ou Presidente, nas execuções;

Seu cabimento é disciplinado através do parágrafo primeiro do mesmo artigo, que traz
expressamente a necessidade de delimitação da matéria

§ 1º - O agravo de petição só será recebido quando o agravante delimitar, justificadamente,


as matérias e os valores impugnados, permitida a execução imediata da parte
remanescente até o final, nos próprios autos ou por carta de sentença.

No que tange ao preparo do Agravo de Petição, o depósito recursal não é necessário, visto
que a lei nº 8.177/91 (Art.40) deixa claro que o depósito recursal é devido apenas no caso de
recurso ordinário, de revista ou de embargos, não mencionando o agravo de petição.

Ainda sobre o depósito, fazemos uma observação para destacar o que diz o item II da
súmula 128 do TST.

Súmula 128 do TST, Item II - Garantido o juízo, na fase executória, a exigência de depósito para
recorrer de qualquer decisão viola os incisos II e LV do art. 5º da CF/1988. Havendo, porém,
elevação do valor do débito, exige-se a complementação da garantia do juízo. (ex-OJ nº 189 da
SBDI-1 - inserida em 08.11.2000)

Sobre as custas, destaca Carlos Henrique Bezerra Leite que, com o advento da Lei nº
10.357/2002, que criou o art. 789-A da CLT, no processo de execução, as custas, sempre de
responsabilidade do executado, serão pagas ao final, isto é, depois de extinto o processo. Logo, não
há exigibilidade das custas como pressuposto objetivo para interposição do agravo de petição.

7. Agravo de Instrumento
Diferentemente do processo civil, no processo do trabalho o Agravo de Instrumento trata-
se de recurso cabível, no prazo de 08 (oito) dias, somente contra decisões que denegarem a
interposição de recursos.

Nesse recurso há a necessidade de formação de autos em apartado.

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Desse modo, o processo que ocasionou a existência do agravo segue seu fluxo normal
enquanto que os autos do agravo são remetidos ao juízo ad quem.

Art. 897 - Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:

b) de instrumento, dos despachos que denegarem a interposição de recursos.

Cabe agravo de instrumento contra decisões que denegarem seguimento a recursos


ordinário, de revista, extraordinário, de revista, de petição e, por óbvio, contra as decisões que
denegarem seguimento ao próprio agravo de instrumento.

Não cabe agravo de instrumento das decisões que denegarem seguimento ao recurso de
embargos no TST, pois, nesse caso, o recurso adequado é o agravo regimental.

O depósito recursal é exigido para a propositura do agravo de instrumento, vide §5º, I, do


art. 897 da CLT.

§ 5o Sob pena de não conhecimento, as partes promoverão a formação do instrumento do


agravo de modo a possibilitar, caso provido, o imediato julgamento do recurso denegado,
instruindo a petição de interposição:

I - Obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva


intimação, das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado, da
petição inicial, da contestação, da decisão originária, do depósito recursal referente ao
recurso que se pretende destrancar, da comprovação do recolhimento das custas e do
depósito recursal a que se refere o § 7o do art. 899 desta Consolidação;

8. Agravo Regimental
Seguindo a doutrina de Carlos Henrique Bezerra Leite: “em linhas gerais, o agravo regimental,
à semelhança do agravo de instrumento, é o recurso cabível contra as decisões que denegam
seguimento a recursos”. Decisões essas, entretanto, que sejam agraváveis regimentalmente.

Além disso, o agravo regimental também é utilizado para impugnar decisões proferidos por
órgãos judiciais de tribunais dos quais não haja um meio impugnativo específico legalmente
previsto.

Em termos exemplificativos, das decisões que denegarem seguimento ao recurso de


embargos no TST o recurso adequado é o agravo regimental

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9. Agravo Interno
Trata-se de um recurso que tem por objeto impugnar decisões monocráticas proferidas em
sede de recurso pelos relatores nos tribunais.

É previsto no art. 1021 do CPC e nos art. 894, §4º e 896, §12º da CLT. A lei nº 8.038
também o prevê em seu artigo 39.

O TST previu expressamente o agravo de instrumento em seu regimento interno (Art. 265).

Art. 265. Cabe agravo interno contra decisão dos Presidentes do Tribunal e das Turmas,
do Vice-Presidente, do Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho ou de relator, nos termos
da legislação processual, no prazo de 8 (oito) dias úteis, pela parte que se considerar
prejudicada.

Parágrafo único. Ressalvam-se os casos em que haja recurso próprio ou decisão de


caráter irrecorrível, nos termos do Regimento ou da lei.

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