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Modulo de Africa Central e Oriental Até Sec XV

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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE

HISTÓRIA

2º Ano

Disciplina:História da África Central e Oriental até o Século XV

Código:
Total Horas/2o Semestre:
Créditos (SNATCA):
Número de Temas: 02
INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED


ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade doInstituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
Telefone: +258 23 323501
Cel: +258 82 3055839

Fax: 23323501
E-mail:[email protected]

Website:www.isced.ac.mz

i
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor Paulo James Fernando Gabinete


Direcção Académica do ISCED
Coordenação
Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)
Design
Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia
Financiamento e Logística
(IAPED)
Revisão Científica e
Linguística Matias Félix Chapungo
Ano de Publicação 2019

Local de Publicação ISCED – BEIRA

ii
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

ÍNDICE

Visão geral 1
Benvindo à Disciplina: História da África Central e Oriental até o Século XV ............... 1
Objectivos do Módulo ...................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 1
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 1
Ícones de actividade .......................................................................................................... 3
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 3
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................. 6
Avaliação .......................................................................................................................... 7
Introdução ......................................................................................................................... 9
O presente tema “História da África Central até o Século XV” visa analisar os
estados, reinos de Africa Central ate seculo XV. .................................................... 9
UNIDADE Temática 1.1. Pré-História da África Central .............................................. 10
UNIDADE Temática 1.2. O Reino do Congo ................................................................ 18
UNIDADE Temática 1.3. Império Axum ....................................................................... 19
UNIDADE Temática 1.4. Império Cush ........................................................................ 19
UNIDADE Temática 1.5. O Reino Punt......................................................................... 21
UNIDADE Temática 1.6. Cidades Iorubás .................................................................... 22
UNIDADE Temática 1.7. O Reino Merina .................................................................... 23
UNIDADE Temática 1.8. O Reino Ngoyo ..................................................................... 26
Sumário ........................................................................................................................... 26
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 27
Exercícios para AVALIAÇÃO ....................................................................................... 27
Introdução ....................................................................................................................... 28
UNIDADE Temática 2.1. A Pré-história da Africa Oriental .......................................... 29
UNIDADE Temática 2.2. Império de Gana ................................................................... 46
UNIDADE Temática 2.3. Reino Baguirmi ..................................................................... 54
UNIDADE Temática 2.4. Civilização Swahili ............................................................... 55
UNIDADE Temática 2.5. Reino Congo ......................................................................... 70
UNIDADE Temática 2.6. Império de Monomotapa....................................................... 72
UNIDADE Temática 2.7. Império Wolof ...................................................................... 74
UNIDADE Temática 2.8. Império Zulu ......................................................................... 79
UNIDADE Temática 2.9. Reinado de Tchaka ............................................................... 84
UNIDADE Temática 2.10. Reino da Numídia ............................................................... 87
Sumário ........................................................................................................................... 89
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 89
Exercícios para AVALIAÇÃO ....................................................................................... 89

iii
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Visão geral

Benvindo à Disciplina: História da África Central e


Oriental até o Século XV

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Historia África Central e


Oriental até o Século XV deverá ser capaz de: dominar os conteúdos
referentes Historia África Central e Oriental até o Século XV, sendo
os aspectos económicos, políticos e sócios culturais.

 Contextualizar a Pré-história de África Central e Oriental;

 Interpretar os factos históricos ocorridos na História África


Central e Oriental até o Século XV;
Objectivos
Específicos  Analisar criticamente os aspectos económicos, políticos e
sócios culturais deÁfrica Central e Oriental até o Século XV;

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


Licenciatura em Ensino de História do ISCED, etc. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar
seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de História da África Central e Oriental até o Século XV,


para estudantes do 2º ano do curso de licenciatura em História, à

1
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se


segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina/módulo

Este módulo está estruturado em temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos e conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros
exercícios teóricos/práticos, problemas não resolvidos e
actividades práticas, incluindo estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal, o ISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a plataforma digital
moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus
estudos.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Auto-avaliação e tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação: para este módulo encontram-se no


final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir as
outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos
de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões

Use este espaço para deixar sugestões valiosas, sobre


determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de
natureza didáctico-pedagógico, e sobre como deveriam ser
apresentadas. Pode, graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender, aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes
eeficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos

3
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos


estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, que foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; deve
estudar cada tópico da matéria com profundidade e passar ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, do que saber tudo superficialmente! Mas a melhor
opção é juntar o útil ao agradável: saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, do módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que
durante o intervalo, não se aconselha continuar a tratar dos
mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Porque o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde-se a sequência lógica,
por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende nada, cai
numa insegurança, depressão e desespero, por se achar
injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trata de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobretudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e para outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: a colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, e nomes. Pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza de que por uma ou por outra


razão, o material de estudo impresso, lhe pode suscitar algumas
dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância,
prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade,
páginas trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os
serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de
Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva
mesmo uma carta participando a preocupação.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso.Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), ondeo recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigitada para acompanhar as suas sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é de muita importância, na
medida em que lhe permite situar-se, em termos do grau de
aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira
ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas.
Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os
conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e
unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo, nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo, os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1é uma violação do direito intelectual do (s) autor (s). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um
autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a


realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor? Nós dissemos: sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para admitir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 1 (1)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

TEMA –I:.HISTÓRIA DA ÁFRICA CENTRAL ATÉ O SÉCULO XV

UNIDADE Temática 1.1.Pré-História da África Central


UNIDADE Temática 1.2.O Reino do Congo
UNIDADE Temática 1.3. Império Axum
UNIDADE Temática 1.5.Império Cush
UNIDADE Temática 1.5. Reino Punt
UNIDADE Temática 1.6.Cidades Iorubás
UNIDADE Temática 1.7. O Reino Merina
UNIDADE Temática 1.8 O Reino Ngoyo

Introdução

O presente tema “História da África Central até o Século XV” visa analisar os estados, reinos de
Africa Central ate seculo XV.
Deste modo, o tema compreenderá as seguintes unidades:
 ...............................................................................................................
Pé-História da África Central
 ...............................................................................................................
Reino do Congo
 Império Axum
 Império Cush
 Reino Punt
 Cidades Iorubás
 O Reino Merina
 O Reino Ngoyo

Ao completar este tema, você deverá ser capaz de:

 Contextualizar a Pré-história da Africa Central;

 Identificar os reinos, impérios e estados da Africa Central


Objetivos
 Analisar criticamente os aspectos políticos, económicos e sócios culturais de
Específicos
Africa Central até seculo XV

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

UNIDADE Temática 1.1.Pré-História da África Central

A bacia do Zaire estende-se geograficamente do golfo da Guiné, a oeste, até


a zona dos Grandes Lagos, a leste, e entre o décimo paralelo ao sul do
equador, em Angola e no Shaba, e o divisor de águas das bacias hidrográficas
do Chade e do Zaire, ao norte. Representa hoje a zona essencialmente
equatorial, e sua cobertura vegetal, constituída pela grande floresta, é a mais
densa de toda a África. Ela foi um factor primordial no desenvolvimento e na
evolução das civilizações pré-históricas da região. Não é possível afirmar que
tenha havido contáctos com as populações que viviam no Saara; é do leste e
do sul da África de onde partiram as migrações dos grupos humanos que
povoaram a grande floresta equatorial a oeste.

É reconhecido que o povoamento pré-histórico da "grande floresta" é tão


significativo quanto ao de outros sectores da África. Na zona equatorial
húmida os vestígios orgânicos não se conservaram devido à acidez dos
terrenos e, portanto, com raríssimas excepções relativas a períodos muito
recentes e mesmo históricos, os fósseis humanos, os restos de fauna e o
instrumental ósseo estão totalmente ausentes.

A partir de décadas de 1920 e 30 desenvolvem-se as pesquisas, estudos e


publicações na maior parte da região. Elas continuam até hoje e de forma
desigual. Segundo os trabalhos de G. Mortelmans (1955-1957) sobre a
cronologia do Quaternário da bacia do Zaire, as bases cronológicas do
período seriam o pluvial Kangueriano e o pluvial Kamasiano.

No fim do período maximal do Kamasiano, o Acheulense Inferior sucede às


indústrias de seixos lascados que ainda se apresentam em grande número,
porém os bífaces e os machadinhos, em particular começam a aparecer. Esse
período é seguido por uma fase moderadamente seca e está relacionado um
Acheulense Médio.

No segundo máximo do Kamasiano novos cascalhos são depositados e o ciclo

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

termina com o início de um novo período seco e o período Acheulense


prossegue.

O período árido Pós-Kamasiano é o mais importante até então conhecido


nessa região. O Sahara estende-se em direcção ao sul, e o deserto do
Calahari, em direcção ao norte. O Acheulense desaparece ou, antes, parece
transformar-se, naquele mesmo local, na indústria Sangoense, em particular
na África equatorial e nas zonas florestais.

O pluvial Gambliano assiste à reconstituição da floresta equatorial. No Zaire


ocidental e no Kasai, o Sangoense evolui para o Lupembiense, também
considerado uma cultura florestal. As regiões do sudeste desenvolvem
indústrias semelhantes às do Middle Stone Age da África do Sul e do Quênia.

Os períodos Makaliano e Nakuriano, fases húmidas, são menos acentuados


que os pluviais precedentes. O Lupembiense evolui no mesmo local,
enquanto os trinchetes e pontas de flecha aparecem em muito maior
número no Tshitoliense, civilização de caçadores. No Zaire oriental, no Shaba
e em Angola, desenvolvem-se fácies incluídas na Late Stone Age. Durante e
após o período húmido Nakuriano, as indústrias neolíticas invadem toda a
África equatorial.

O Tshitoliense pode ser considerado um Pré-Neolítico que não inclui


cerâmica nem machados polidos. Aparece como uma expressão tardia das
culturas florestais africanas antes do desenvolvimento do Neolítico do Zaire
ocidental.

A fácies neolítica desenvolvem-se no decorrer do Nakuriano. É no interior da


floresta tropical que, vindos do norte, os criadores de uma cultura neolítica
conhecida como "do Congo ocidental" vão se instalando. São portadores de
novas técnicas, que irão fundir-se com as já existentes no local. Esse
Neolítico distingue-se pelo emprego quase exclusivo de rochas difíceis de
trabalhar (xistos, quartzos, jadeíta). Os conjuntos de utensílios variam
conforme os sítios e em alguns deles, apresentam-se utensílios de osso. Ao
lado desse instrumental lítico e ósseo, figura em algumas jazidas uma
cerâmica abundante bem decorada e ornamentada.

11
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

As jazidas neolíticas são conhecidas no Cuango ocidental, em associação com


o Tshitoliense; em ambas as margens do rio Zaire, entre o Pool e Congo Dia
Vanga; e em vários pontos da então República Popular do Congo. O Neolítico
é conhecido em Camarões, no Gabão e na República Centro-Africana. Na
zona da grande floresta parece ter durado muito mais tempo que nas outras
regiões, prolongando-se até um período histórico. A introdução dos metais
no local teria ocorrido muito mais tarde.

As culturas megalíticas desenvolveram-se sob diversas formas na África. A


bacia do Zaire, com excepção do noroeste da República Centro-Africana, não
conheceu tais culturas. Nos Camarões, somente foram encontradas algumas
pedras colocadas em sentido vertical. Em contrapartida, a República Centro-
Africana, na região de Buar, possui megalitos notáveis. Os resultados obtidos
pelo método do C 14 fornecem datas importantes: as primeiras, relativas às
camadas profundas dos monumentos (a idade da edificação): 7.440 +170
B.P., ou seja, 5.490 antes da Era Cristã, e 6.700 + 140 B.P., ou 4.750 antes da
Era Cristã; as segundas (a idade de uma nova utilização): 1.920 ± 100 B.P.,
isto é, 30 da Era Cristã, e 2.400 +110 B.P., ou 450 da Era Cristã. Não é possível
atribuir com certeza os megalitos de Buar ao Neolítico, mas a civilização que
os edificou é ao menos contemporânea.

Situada entre as duas grandes regiões de arte rupestre - Sahara e África do


Sul -, a bacia do Zaire também possui uma. No Chade, no Ennedi e no Borku,
desenvolveu-se uma arte rupestre que faz parte dos grandes complexos
saharianos. Nos Camarões conhece-se um sítio de gravuras sobre lajes
horizontais no norte do país, em Bidzar. Em Angola existem gravuras na
região de Calola, sobre lajes horizontais cujos motivos são geométricos,
como nos Camarões. No Zaire conhecem-se vários sítios de diferentes
épocas. O Shaba parece ser a província mais rica em arte rupestre e
pertencer ao mesmo grupo que a Zâmbia e Angola do leste. Esse grupo é
caracterizado por uma arte esquemática, e não naturalista como a da África
do Sul. Foram descobertas lajes gravadas no Baixo Zaire. Na República
Centro-Africana, atualmente as pinturas conhecidas estão situadas no norte
e no leste do país (as jazidas de Lengo e do Mpatou).

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Esta arte da bacia do Zaire não tem nenhuma semelhança com a do Sahara.
Seu eixo de penetração deve ser buscado em direção à África do Sul e do
Leste. Ela é bastante similar à que se conhece na região bantu; é, pois,
recente e até mesmo histórica. Entretanto, tem grande importância para o
estudo das migrações e movimentos de populações de um período muito
mal conhecido da proto-história ou mesmo da história da África tropical.

Em várias partes da área considerada, nossos conhecimentos baseiam-se


unicamente nas coletas de superfície já que a arqueologia na África Central
se depara com muitas dificuldades, em razão das espessas crostas lateríticas
do norte e da floresta onde as prospecções são difíceis. Durante muito
tempo, a pré-história na África Central permaneceu como um estudo de
tipologia e de cronologia, sendo mínimo o espaço dedicado ao homem.

Nessa segunda parte, iremos concentrar-nos nas raras escavações


sistemáticas que forneceram elementos para datações: Ishango, Gombe,
Bitorri, Kamoa, Matupi e Kalambo.

Estamos convencidos da impossibilidade de estabelecer grandes áreas


culturais bem definidas. Devemos nos limitar à constatação da presença do
homem num momento determinado, sem poder afirmar ainda se ele evoluiu
localmente ou se veio de fora. Certamente ele, cedo se adaptou a meios bem
definidos, com clima, flora e fauna próprios. Resultou, daí, a existência de
áreas distintas que por vezes mostram traços comuns, mas ao mesmo
tempo, adaptações regionais, e mesmo locais, que não se explicam
simplesmente pela influência de condições ecológicas diferentes. Entretanto,
seria prematuro falar em áreas culturais.

A reconstituição do meio ambiente do homem pré-histórico tornou-se um


elemento importante das pesquisas arqueológicas. Vários pesquisadores
haviam observado no Quaternário, alternâncias de períodos húmidos
(pluviais) e períodos secos (interpluviais).

A África Central conheceu entre 50.000 B.P. e 10.000 B.P. uma longa fase
seca contemporânea da glaciação de Würm, enquanto a fase húmida que se
iniciou por volta de 12.000 B.P. corresponderia às oscilações climáticas que

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

marcaram o início do Holoceno.

Durante esse longo período seco foram intensos os processos


morfodinâmicos e a floresta aberta ganhou a maior extensão. No período
húmido do início do Holoceno, a floresta densa estendeu-se sobre a maior
parte da África Central e seu recuo actual é atribuído à acção do homem.

Na ausência de ossadas humanas, admite-se que a primeira manifestação da


presença do homem sejam os "seixos lascados". Estes se comparam aos
artefactos do olduvaiense que existem em quase toda a África Central. Mas
nem sempre é fácil saber se esses seixos foram lascados pelo homem ou por
agentes naturais.

Foi com o instrumental do Acheulense que obtivemos a primeira prova


indiscutível da presença do homem na África Central. Na parte oriental, que
abrange a região interlacustre e a região do Shaba no Lago Tanganica. Pode-
se reconhecer uma série de indústrias, usualmente descritas como uma
sucessão tipológico-cronológica: o Sangoense, seguido do Lupembiense, por
sua vez seguido do Tshitoliense.

As indústrias da região ocidental agrupam toda a gama de elementos


encontrados nas regiões orientais, o que lhes confere uma maior variedade
tipológica, correspondendo melhor a ideia que em geral se faz do Sangoense
e do Lupembiense. Encontram-se picões grosseiros que já presentes no
Acheulense, persistem até o Tshitoliense e está associado a um instrumental
muito elaborado. Em seguida, aparecem pontas de flechas.

O Homo Sapiens parece ter sido o responsável por tais adaptações, apesar
de não se ter encontrado até agora restos fósseis pertencentes a essa
espécie. São raros os sítios onde se podem encontrar vários níveis em
estratigrafia. Foi na ponta de Gombe onde foi descoberta a primeira
sequência dessas indústrias da África Central, fornecendo evidências de
quatro: o Kaliniense, o Djokociense, o Ndoliense e o Leopoldiense, seguido
de traços da Idade do Ferro.

Em um dado momento, provavelmente entre 50.000 B.P. e 40.000 B.P.,


surgem os micrólitos geométricos. Os mais característicos parecem ser os

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

segmentos, ainda que na África do Sul tenham sido encontrados no final da


Middle Stone Age. Por outro lado, na Late Stone Age, esses micrólitos,
isolados, serviam como armaduras de flechas, de lanças, de arpões, de facas
ou de buris.

Tal como para o período anterior, a região pode ser dividida em duas zonas
distintas. Na parte ocidental, observa-se a persistência da tradição
lupembiense, como se o Lupembiense, evoluindo no próprio local, tivesse
originado o Tshitoliense. Os micrólitos geométricos tornam-se numerosos,
mas não dominam da mesma forma que na parte oriental, onde
representam o elemento essencial do conjunto de utensílios. Na parte
oriental, distingue-se uma fácies de vale com abundância de pequenos
trinchetes, como em Dinga, e uma fácies de planalto onde a armadura era
constituída principalmente de pontas pedunculadas.

Na parte oriental, na periferia da floresta equatorial da República Centro-


Africana ao Shaba, encontram-se as indústrias da Late Stone Age. As
indústrias mais antigas não são tipologicamente diversificadas, pois só mais
tarde surgiu um instrumental mais especializado. É o que se observou na
gruta de Matupi, onde escavações sucessivas (1973 e 1974) revelaram
vestígios de uma longa ocupação humana, iniciada antes de 40.000 B.P., e
continuando sem interrupção perceptível até 3.000 B.P. A indústria é
tipicamente microlítica. Os restos ósseos da fauna estão bem conservados e
o instrumental deve ter sido em grande parte de madeira.

As escavações feitas em 1950 em Ishango, revelaram três indústrias


microlíticas que lembram incontestavelmente a evolução observada em
Matupi. Os restos humanos, descobertos entre os resíduos de cozinha,
mostram que o sítio era habitado por uma população cujas características
biométricas atípicas e rudes não apresentam nenhum vínculo directo com
qualquer outra população moderna.

Ao lado dessas indústrias puramente microlíticas, surgem na região


interlacustre no Shaba e nas margens do lago Tanganica, indústrias
tipologicamente intermediárias entre um microlítico puro e as indústrias
típicas da parte ocidental da África Central. Parece que diferentes tradições

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

puderam subsistir durante muito tempo, lado a lado e junto à indústrias de


carácter misto, encontram-se outras microlíticas, como em Mukinanira e nos
lagos Mokoto.

Na África Central ainda não foi encontrado um sítio de riqueza excepcional


que permitisse a reconstituição detalhada do modo de vida desses caçadores
cuja existência devia ser comparável à que ainda hoje levam os San no
Calahari. O sítio de Gwisho, na Zâmbia, dá uma ideia bastante completa de
como era a vida na Late Stone Age no V milênio B.P. Ao lado de utensílios
polidos, foi encontrada uma grande quantidade de objectos de madeira e de
osso, que provam a importância do trabalho da madeira mesmo em savana
aberta.

A abundância de utensílios polidos em certas regiões fez com que fossem


considerados como indício de um neolítico, mas tais instrumentos foram
encontrados desde a Late Stone Age e eram fabricados e utilizados até no
século XIX na região do Vele. Esses objectos foram assinalados apenas na
bacia central e representam o essencial das descobertas arqueológicas
realizadas ao norte da grande floresta. Até agora, ao menos parcialmente, o
"Neolítico Velense" não remontaria além do século XVII a.C, pertencendo,
portanto, à idade do ferro.

Em Batalimo, na República Centro-Africana encontrou-se pela primeira vez


(1975) um machado com gume polido associado a uma indústria não-
microlítica e a cerâmica, que não seria anterior ao século IV da Era Cristã, o
que parece bem recente para uma tal indústria.

A última zona estende-se paralelamente a costa atlântica do Gabão até o


noroeste de Angola. Os utensílios "neolíticos" encontrados nessa imensa
área são geralmente lascados, sendo apenas o gume polido. Em Dimba e
Ngovo, único sítio onde as ossadas se conservaram, a análise da fauna
associada não revelou até agora a presença de animais domésticos. Na
ausência de outros dados socioeconómicos, é prematuro admitir um
verdadeiro neolítico cujos responsáveis houvessem empregado utensílios
polidos e cerâmica e criado gado ou praticada a agricultura. O mesmo
acontece com todas as outras indústrias de aspecto neolítico colectadas até

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

ao momento na África Central, não lhes conhecemos nem seus utilizadores,


nem a época e muito menos o sistema económico.

Retraçando o histórico das diferentes nomenclaturas utilizadas para designar


as indústrias pós-acheulenses da África Central, mostrou-se claramente que
se trata de um extraordinário imbróglio. As recentes escavações feitas em
Gombe permitiram restabelecer e datar a sequência arqueológica definida
por J. Colette. Entretanto, parece-nos possível após o Acheulense, distinguir
variantes regionais nas indústrias líticas e seguir sua evolução. Por mais
esquemáticas e discutíveis que sejam, essas distinções refletem uma certa
realidade, a qual, sem dúvida, parece agora muito mais complexa do que
inicialmente se supunha. A nomenclatura existente pode, em nossa opinião,
ser mantida como um instrumento de trabalho provisório até o
aperfeiçoamento da taxonomia existente.

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UNIDADE Temática 1.2.O Reino do Congo

O chamado Reino do Congo ou Império do Congo foi uma


região africana localizada no sudoeste da África no território que hoje
corresponde ao noroeste de Angola incluindo Cabinda, República do
Congo, a parte ocidental da República Democrática do Congo e a parte
centro-sul do Gabão.

Na sua máxima dimensão, estendia-se desde o oceano Atlântico a


oeste, até ao rio Cuango a leste e do Rio Ogooué, no actual Gabão a
norte, até ao rio Kwanza, a sul. O reino do Congo foi fundado por
NtinuWene no século XIII. A região era governada por um líder
chamado rei pelos europeus, o Manicongo. Era constituída por
nove províncias e três regiões (Ngoyo, Kakongo e Loango), mas a sua
área de influência estendia-se também aos estados limítrofes, tais
como Ndongo, Matamba, Kassanje e Kissama.

A capital era M'Banza Kongo (literalmente, cidade do Kongo),


rebatizada São Salvador do Congo após os primeiros contactos com
os portugueses e a conversão do Manicongo ao catolicismo no século
XVI, e renomeada de volta para M'Banza Kongo em 1975.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

UNIDADE Temática 1.3.Império Axum

1.3.Império Axum

Enquanto uma revolução cristã estava ocorrendo na Europa, um


poderoso reino surgiu no continente africano. Na actual Etiópia, o
Império de Axum se tornou um dos maiores mercados do nordeste da
África, com grande força naval.

Axum dominou a costa do Mar Vermelho até o século VII. Além de


influenciar outras superpotências na África, Europa e Ásia, este
império criou o Ge’ez, única língua escrita com um conjunto de sinais
utilizados para representar fonemas originais da África.

O império tinha uma multidão de visitantes estrangeiros. Um escritor


persa saudou Axum como “uma das quatro maiores potências do
mundo”. Ainda assim, pouco se sabe sobre esta impressionante
civilização africana.

UNIDADE Temática 1.4.Império Cush

Relativamente desconhecido fora da África, o Reino de Cush ficava


localizado no atual Sudão. Esta civilização era muito semelhante ao
Egito e governava como os faraós. Eles também mumificavam seus
mortos, construíram pirâmides como cemitérios e adoravam vários
deuses.

No entanto, havia várias diferenças importantes entre as duas


culturas. Ferro havia-se tornado um grande recurso para os cushes,
enquanto os egípcios ainda estavam descobrindo as maravilhas deste
metal. As mulheres também desempenhavam um papel muito maior

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

na sociedade Cush – rainhas muitas vezes sucediam os reis. Na


verdade, uma das maiores pirâmides do reino foi construído para
honrar uma governante mulher.

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UNIDADE Temática 1.5.O Reino Punt

Provavelmente localizado na atual Somália, o Reino de Punt foi


considerado a “Atlantis” da África. Ao contrário da maioria das
civilizações africanas, as pessoas desta “terra dos deuses” eram
descritas como tendo tez vermelha escura e cabelos longos, e seus
cidadãos viviam em cabanas de junco suspensas sobre palafitas acima
da água.

O comércio entre Egito e Punt era comum, incluindo a primeira troca


documentada de flora, quando a rainha Hatshepsut negociou árvores
durante sua famosa expedição a Punt.

Vários tipos de produtos eram trocados com Punt, de incenso a


marfim e anãos.

Embora a localização exacta de Punt ainda seja debatida, o reino foi


descrito como sendo exuberante e verde. Marinheiros supostamente
podiam alcançá-lo viajando através do Mar Vermelho ou navegando o
Nilo em pequenos barcos à vela.

Muitas pessoas acreditam que Punt tinha uma enorme influência


sobre a cultura egípcia, da literatura à religião. Apesar disso, alguns
historiadores questionam se Punt sequer existiu.

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UNIDADE Temática 1.6.Cidades Iorubás

A partir do século IX formaram-se as cidades da civilização ioruba, na


região da actual Nigéria, já habitada por esse povo desde o século IV.

Os Iorubas nunca unificaram suas cidades, mas mantiveram a mesma


cultura (língua, religião etc.). A cidade ioruba mais importante era Ife,
considerada sagrada, por ser o berço dos iorubas, segundo a crença
local. Outra cidade importante foi Oyo, um centro militar que, no final
do século XVII, tinha-se expandido até Daomé (actual Benin).

Ife foi um grande centro artesanal e artístico, e era governada por um


rei sacerdote que tinha o título de Oni, enquanto nas outras cidades os
governantes recebiam o título de Oba.

Apesar do cristianismo e do islamismo terem chegado até os iorubas, a


maioria desse povo sempre se manteve fiel às antigas tradições
politeístas locais, sendo os Orixás os seus deuses.

Ao contrário do que se acredita, a crença nos Orixás não se expandiu


pela África, mantendo-se exclusivamente fechada para os iorubas.
Mas como muitos, os iorubas chamados de (nagôs ou anagôs) pelos
portugueses, foram transformados em escravos e trazidos à força para
a América, o culto aos Orixás se misturou ao cristianismo imposto
pelos portugueses e espanhóis, criando vários sincretismos religiosos
que fazem parte da cultura americana, como, por exemplo, o
Candomblé e a Umbanda, no Brasil, e o Vodu no Haiti (apesar de o
Vodu também receber influências de outras culturas africanas).

A partir do século XV, as cidades Iorubas iniciaram seu processo de


declínio, apesar de Oyo ter-se mantido até o século XIX. Muitos
pesquisadores acreditam que a falta de unidade política foi uma das
causas desse declínio, já que os

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iorubas não tiveram condições de se fortalecer para enfrentar o


processo de escravização que lhes foi imposto.

UNIDADE Temática 1.7.O Reino Merina

No século XVIII, o Reino Merina tornou-se dominante na parte central


da ilha de Madagáscar e, com a ajuda do império britânico, controlou
boa parte de Madagáscar.

1.7.1 História

A ilha de Madagáscar serviu de refúgio de piratas que chegaram a


fundar uma república independente conhecida como Libertália, na
baía de Diego Suaréz.

Paralelamente são formados vários reinos como o dos merinos,


betsileus, sakalaves, malgaxes etc.

A república de Libertália liderada pelo comissário François Missou, no


entanto, teve curta duração e prosperidade porque foi destruída pelos
malgaxes. O comércio de armas e escravos favoreceu a constituição de
vastos reinos malgaxes.

1.7.2 Rei Andrianampoinimerina

O Reino de Merina unificou a parte central da ilha de Madagáscar, e


no ano de 1625 funda sua capital em Antananarivo. O rei
Andrianampoinimerina segue a política de unificação dos reinos
vizinhos e após sua morte assume seu filho Radama I.

O Reino de Merina transformou-se no reino dominante. O filho


daquele soberano, Radama I (1810-1828), conseguiu ajuda dos
britânicos das ilhas Maurícias e tomou sob seu controlo grande parte
de Madagáscar.

Radama I, estabeleceu relações comerciais com os britânicos e

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

permitiu que missionários ingleses entrassem no país e espalhassem o


cristianismo pela ilha. No reinado de Radama, Madagáscar viveu uma
espécie de mini revolução industrial.

1.7.3 Rainha Ranavalona I.

Com a morte do rei, sua esposa, Ranavalona I, assumiu poder e


aterrorizou a ilha de Madagáscar durante 33 anos perseguindo
cristãos, expulsando estrangeiros, executando rivais políticos e
revivendo a tradição de sacrificar crianças nascidas em dias
considerados como de má sorte. As relações com a Europa só foram
reabertas depois da morte da rainha 1861, assumindo seu filho
Radama II.

Radama II, abriu o reino aos europeus e especialmente a uma


companhia comercial francesa, a que deu tratamento privilegiado.
Radama II decretou liberdade de culto na ilha e foi assassinado dois
anos depois. As rainhas Rasoaherina, Ranavalona II e Ranavalona III
seguem a política de abertura ao assédio das potências europeias. Em
1868, o reino de Merina cedeu aos franceses o controlo do litoral
noroeste.

Em 1883 a França invadiu Madagáscar e, em 1896 o seu controlo


sobre a ilha era total e Madagáscar se tornou uma colónia francesa.
Em 1890, o Reino Unido reconheceu o protectorado francês de
Madagáscar. Contudo, o domínio colonial não foi efectivo antes de
1895, ano em que a França conseguiu derrotar o exército do reino de
Merina.

O ministro Rainilaiarivony, que esteve no cargo durante o governo das


três rainhas, foi em 1895 deportado para a Argélia. Durante seu
governo foi assinado um tratado com a França, onde os merinos
aceitaram o privilégio do comércio e garantiram a posse de

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

FortDauphin, Ilhas Reunião e Ilha Saint Maire a favor dos franceses.

O primeiro governador francês, o general Joseph-Simon Gallieni,


aboliu a escravatura e em 1897 deportou a rainha Ranavalona III para
a ilha de Reunião. A França usava Madagáscar como fonte de madeira
e de produtos exóticos como é o caso da baunilha.

Depois da Segunda Guerra Mundial, Madagáscar tornou-se território


ultramarino da França, com representação parlamentar na metrópole.
Em 1958 adquiriu a autonomia dentro da comunidade francesa e dois
anos depois proclamou-se independente com o nome de República
Malgaxe.

Durante a década de 1970, as relações com a França se deterioraram e


houve distúrbios contra os imigrantes das ilhas Comores, que
terminaram com um banho de sangue e com a expulsão dos
sobreviventes.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

UNIDADE Temática 1.8.O Reino Ngoyo

Ngoyo foi um reino africano governado pela tribo Woyo, localizado no


sul de Cabinda (atual República Democrática do Congo e Angola).

Localizado na costa atlântica da África Central, a norte do rio Congo e


foi fundado pelos Bantu por volta do século XV.

A tradição Ngoyo declarou que seus antepassados estavam entre os


primeiros colonos da área, tendo os seus chefes o título de INE nfumu
("senhores da terra").

A sua capital era Mbanza-Ngoyo. Em 1783, Ngoyo uniu forças com o


vizinho estado do Kakongo para destruir um forte portuguesa. No
entanto, o reino foi logo desfeito pelo crescente fardo financeiro que
implicou a realeza. O reino se desintegrou em 1830, após os nobres
não conseguirem eleger um novo rei. Em seguida, assinaram o Tratado
de Simulambuco com Portugal, através do qual eles se tornaram um
protectorado Português.

Sumário

O tema em análise, aborda sobre a História África Central, desde a pré-


história e os reinos instalados na região.

A região da África Central é dominada pela imensa bacia do rio Congo


(ou Zaire). O processo migratório durou até séc. VI. O comércio e
metalurgia foram as actividades dominantes nos reinos da região. Os
Estados da África Central tinham uma longa história e dispunha de um
grande conjunto heterogêneo de técnicas, símbolos e instituições que
podiam ser recombinadas para criar novas formas de exercício do
poder político.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

I. Faça uma análise reflexiva sobre a pré-história da Africa


central.
II. Caracterize os diferentes reinos, estados e império da Africa
Central.
III. Apresente as causas da derrota dos merinos perante os
franceses

Exercíciospara AVALIAÇÃO

1. Refira segundo G. Mortelmans (1955-1957) sobre a cronologia do


Quaternário da bacia do Zaire e as bases cronológicas.
2. Refira-se das regiões em que desenvolveram as culturas megalíticas
na África.
3. Na ausência de ossadas humanas, admite-se que a primeira
manifestação da presença do homem sejam os "seixos lascados".
Argumente a afirmação.
4. Caracterize a organização polítco-administrativ e económico do reino
do Congo.
5. Apresente as diferenças entre as duas culturas importantes do
império Cush.
6. Refira-se da cidade mais importante dos iorubas.
7. Refira a religião professada pela maioria dos povos iorubas.
8. Apresente as unificações as unificações estabelecidas pelo Reino de
Merina.
9. Discuta as razões que levaram a desintegração do reino Ngoyo.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

TEMA –II:. HISTÓRIA DA ÁFRICA ORIENTAL ATÉ O SÉCULO XV

UNIDADE Temática 2.1. A Pré-história da Africa Oriental


UNIDADE Temática 2.2. Império de Gana
UNIDADE Temática 2.3. Reino Baguirmi
UNIDADE Temática 2.4. Civilização Swahili
UNIDADE Temática 2.5. Reino Congo
UNIDADE Temática 2.6. Império de Monomotapa
UNIDADE Temática 2.7. Império Wolof
UNIDADE Temática 2.8. Império Zulu
UNIDADE Temática 2.9. Reinado Tchaka
UNIDADE Temática 2.10. Reino da Numídia

Introdução

O presente tema aborda temas, referente a Africa Oriental desde a


pré-história até seculo XV. Destaca-se os temas:

Pré-história da África Oriental


 ...............................................................................................................
Império de Gana
 ...............................................................................................................
Reino Baguirmi
 Civilização Swahili
 Reino Congo
 Império de Monomotapa
 Império Wolof
 Império Zulu
 Reinado Tchaka
 Reino da Numídia

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Contextualizar a Pré-história da Africa Oriental;

 Identificar os reinos, impérios e estados da Africa Oriental;


Objectivos
 Analisar criticamente os aspectos políticos, económicos e sócios culturais de
específicos
Africa Oriental até seculo XV

28
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

UNIDADE Temática 2.1.A Pré-história da Africa Oriental

Acredita-se que foi na parte oriental da África, onde o homem surgiu


pela primeira vez, há aproximadamente 3 milhões de anos, como um
animal de postura erecta e fabricante de utensílios domésticos. Por
esse motivo, a história dessa parte do mundo é mais longa do que a de
qualquer outro lugar, a Idade da Pedra, em particular, foi mais extensa
que em outros continentes e em outras regiões da África, facto que
levou aos historiadores a considerarem a “África como o berço da
humanidade”. Teve início quando os primeiros hominídeos
começaram a fabricar de maneira regular, utensílios de pedra
reconhecíveis enquanto tal, com formas e padrões pré-determinados.

Essa associação de capacidades físicas e mentais para fazer utensílios,


em outras palavras, a superação de sua condição biológica e a
crescente dependência dessas habilidades e actividades extra-
biológicas, ou seja, culturais, distinguem o homem dos outros animais
e definem a humanidade.

A evolução do homem para um estágio de animal terrestre, capaz de


sentar-se, de manter-se na postura erecta e de locomover-se sobre os
pés diferentemente dos macacos e outros mamíferos quadrúpedes e
quadrímanos, facilitou o uso e a fabricação de utensílios por liberar os
braços e as mãos para segurar, carregar, agarrar e manipular. Além
disso, essa evolução foi necessária para a sobrevivência e o progresso
do homem no mundo, especialmente na obtenção e preparação dos
alimentos.

29
ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Cada nova geração tinha de aprender as habilidades culturais e


técnicas e os conhecimentos acumulados por seus pais. É possível que
os primeiros utensílios feitos pelo homem continuem desconhecidos,
pois, por serem tão rudimentares e tão pouco distinguíveis de
objectos naturais, não podem ser reconhecidos. É também provável
que outros materiais, se tenham decomposto sem deixar vestígios,
como a madeira, o couro e o osso, fossem usados e trabalhados pelo
menos na mesma época que a pedra. Entretanto, os progressos no
emprego desses e outros materiais devem ter sido limitados, até o
momento em que o homem tivesse dominado a técnica básica de
produzir com regularidade um utensílio cortante, de gume afiado,
batendo e quebrando com precisão uma determinada pedra com
outra pedra ou com um objecto duro apropriado.

A fabricação de utensílios e a humanidade, podem ter começado antes


da data sugerida pelos testemunhos de que dispomos sobre aqueles
importantes desenvolvimentos. Esses testemunhos consistem nos
primeiros utensílios líticos identificáveis, marco inicial da Idade da
Pedra, assim chamada por convenção.

A Idade da Pedra iniciou-se há aproximadamente 3 milhões de anos e


durou até uma fase bem mais recente da história humana, quando a
pedra foi substituída pelo metal enquanto material básico para o
desenvolvimento de uma tecnologia para a fabricação de utensílios e
para a produção de gumes afiados. A transição de uma indústria da
pedra (ou lítica) para uma outra, do metal, deu-se em épocas
ligeiramente diferentes nas diversas partes do mundo.

Na África oriental, o ferro, primeiro e único metal usado com


regularidade, começou a ser trabalhado há aproximadamente 2 mil
anos. Podemos questionar, do ponto de vista histórico, a validade da
expressão “Idade da Pedra”, por designar um período que cobre os

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

999 milénios do tempo de permanência do homem na África oriental,


e por enfatizar, ademais o aspecto tecnológico do desenvolvimento
humano, em detrimento dos aspectos económicos e culturais de
carácter mais geral.

Pode-se argumentar que uma tal expressão é ampla demais do ponto


de vista cronológico e, por ser demais restrito do ponto de vista
cultural. Mas é possível responder a essas objecções e “Idade da
Pedra”, continua sendo uma expressão e um conceito válidos, tendo
em conta certos factores. Assim, como esse longo período só é
conhecido através de testemunhos arqueológicos, ainda assim parciais
porque nada restou senão pedras e não através da tradição oral ou de
documentos escritos, precisaram os historiadores criar um nome, ou
nomes, para designá-lo, estudá-lo e descrevê-lo.

Por outro lado, a Idade da Pedra não foi um período estático da


história. A evolução tecnológica durante o Paleolítico e o Neolítico é
facilmente demonstrada pela transformação e diversificação dos
utensílios de pedra, pela maior eficácia do instrumental lítico, bem
como de seus métodos de fabricação. É possível, portanto e, mesmo
necessário, dividir a Idade da Pedra em períodos e introduzir-lhes
subdivisões complementares cronológicas e geográficas.

Pode ser fascinante olhar colecções de utensílios de pedra,


especialmente se bem selecionados e apresentados com habilidade;
porém, se não forem organizadas e compreendidas em função de uma
cronologia e de um estágio de desenvolvimento, essas colecções terão
pouco ou nada mesmo a dizer. Expressões populares como “vivendo
na idade da pedra” e “homem da idade da pedra” tornam-se
igualmente vazias de sentido, quando baseadas na falsa ideia de que o
homem e seu modo de vida permaneceram estáticos naquela época
histórica. Com efeito, o instrumental das populações da Idade da

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Pedra diferia conforme o período e a região, e as próprias populações


evoluíam cultural e fisicamente.

A Idade da Pedra foi testemunha de mutações e diferenciações no


corpo e no cérebro humanos, na economia, na organização social e na
cultura, a par do desenvolvimento técnico revelado por testemunhos
arqueológicos. Convém observar que, se as mudanças em todos os
períodos da Idade da Pedra foram lentas em relação aos padrões
modernos, nos primeiros tempos, o foram ainda mais. Essas mudanças
são tanto mais rápidas quanto mais nos aproximamos da época actual.
Assim, o período mais recente da Idade da Pedra foi o momento de
uma maior especialização e diversificações regionais.

Algumas vezes, características lentamente desenvolvidas em um


determinado local aparecem sob formas acabadas em outra região,
como consequência directa de migrações ou contactos culturais,
dando a ideia de que nesta última tivesse ocorrido uma “revolução”.
Desse modo, em termos de desenvolvimento, duas ou três gerações
do fim da Idade da Pedra poderiam equivaler a meio milhão de anos
em relação ao período inicial.

Constata-se que o estudo histórico da Idade da Pedra não se limita às


pedras e aos utensílios. Ocasionalmente, o arqueólogo tem a sorte de
fazer outras descobertas, sobretudo em sítios de habitação do fim da
Idade da Pedra onde se preservaram testemunhos directos de cozinha
e de alimentos, sob a forma de pedaços de carvão, vestígios de
fogueiras e fragmentos de ossos de animais.

Restos orgânicos primitivos são extremamente raros na África,


excepto em alguns sítios onde as condições minerais favoráveis
provocaram a fossilização de ossos antes que estes se
decompusessem.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Mas mesmo dispondo apenas de pedras, o arqueólogo deve tentar


estender suas deduções e interpretações a domínios mais amplos.
O que importa, não é o utensílio descoberto e examinado
isoladamente, mas sim, o conjunto dos utensílios encontrados em um
sítio de que constam diferentes variedades de objetos, quer tenha
sido este o local de habitação de um grupo, um acampamento
temporário de caçadores, ou uma oficina” onde se fabricavam
utensílios.
Muito mais comuns que os utensílios acabados são as lascas da
debitagem e os núcleos de pedra constituídos por fragmentos lascados
da massa primitiva durante a fabricação e restos de lascamentos. O
estudo desses restos deve ser feito juntamente com o dos utensílios
acabados, pois eles indicam as técnicas de fabricação e o nível de
habilidade alcançado. Além do mais, nem sempre eram jogados fora;
muitas vezes, sobretudo nos primeiros estágios da Idade da Pedra,
várias dessas lascas, como tivessem bordos cortantes, tamanho e
forma adequados ao manejo fácil, poderiam vir a complementar os
utensílios acabados mais maciços, constituindo, assim, parte
integrante do instrumental.

A colecta e o estudo que se restringem aos produtos mais elaborados,


como os bífaces e machadinos, trazem uma visão limitada e bastante
distorcida da tecnologia e das actividades das populações pré-
históricas. Nos períodos mais recentes da Idade da Pedra, os
instrumentos pesados do tipo bíface foram substituídos por outros
menores, mais delicados e precisos, produzidos frequentemente de
modo a se fixarem em cabos de madeira ou punhos de osso, após uma
hábil preparação do núcleo seguida de complicados retoques na
lâmina ou lasca extraída. Também nesse caso, para análises e
deduções proveitosas, é essencial dispor de um conjunto tão completo
quanto possível de peças acabadas e de resíduos de debitagem.

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A variedade de utensílios de pedra com seus diversos tipos de gumes e


pontas para cortar, aparar, esfolar, raspar, furar, entalhar, bater,
fender e cavar, permitirá, mesmo levando em conta certas dúvidas
inevitáveis quanto às suas verdadeiras finalidades e usos, determinar a
existência de outros utensílios feitos com materiais perecíveis de
origem animal e vegetal, utilizados por uma comunidade. Por
exemplo, as peles de animais, depois de limpas de toda a gordura,
secas e curtidas, poderiam ser cortadas para fabricar cordas e correias.

Vários instrumentos, armas de madeira e de pedra deveriam também


ser necessários para capturar, matar e retalhar animais. As correias
podiam ser combinadas com instrumentos de pedra, servindo para
atar projéteis usados na caça, ou para fixar com o auxílio de uma
resina vegetal, uma lâmina de pedra ou uma ponta na extremidade de
uma haste de madeira, a modo de lança ou flecha. Além dessas armas,
é possível reconstituir, a partir do estudo dos vestígios líticos do fim da
Idade da Pedra, utensílios compósitos comuns, que consistiam de
pequenas lascas e lamelas de pedra, minuciosamente trabalhadas,
cuidadosamente fixadas e coladas em punhos e cabos de madeira ou
de osso, embora não existam testemunhos directos dos elementos de
osso e madeira.

Antes de serem combinados, os utensílios de pedra e de madeira mais


rudimentares já eram interdependentes. Por exemplo, uma lança de
madeira poderia ser cortada no comprimento exacto com uma faca de
pedra, mas certamente teria de ser desbastada e aplainada com um
raspador de pedra ou qualquer outro instrumento utilizado para
desbastar, talvez mesmo com uma correia de couro ou de fibra
vegetal, antes de estar pronta para o manejo e arremesso.

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Além disso, a preparação da ponta de uma lança devia requerer


instrumentos de pedra afiados, em seguida, ela seria enrijecida ao
fogo como indicam alguns espécimes encontrados. No período mais
recente da Idade da Pedra, o encaixe bem feito de uma ponta de
pedra em uma lança de madeira dependia de um delicado trabalho de
desbaste e de entalhe executado com instrumentos de precisão.

Esses são alguns exemplos do que é possível se obter de um estudo


inteligente e imaginativo do instrumental lítico, para desfazer sua
imagem petrificada e torná-la mais vivo, seria possível estabelecer o
mesmo tipo de relações no que diz respeito aos usos da madeira e das
peles na fabricação de tendas e abrigos, assim como no caso dos
utensílios e armas que acabamos de citar, extrapolamos o ponto de
vista tecnológico restrito para propor uma interpretação econômica e
cultural mais ampla dos espécimes descobertos e reconstituir a vida
das diferentes comunidades de caçadores e recolectores dos vários
períodos da Idade da Pedra.

Um ponto importante a ser notado é que durante a Idade da Pedra a maioria


dos utensílios, mesmo os de pedra, não eram armas. Embora a caça tivesse
sido sempre de grande valor no fornecimento de proteínas, excepto nos
locais onde havia peixe em abundância e se conheciam meios para a sua
captura, a colecta de alimentos vegetais, em particular raízes feculentas e
tubérculos, era igualmente importante e assegurava o essencial do regime
alimentar. A maior parte dos utensílios era fabricado para essas actividades e
para uso doméstico no geral e para trabalhar a madeira.
As dificuldades de transporte e conservação de água, deviam restringir
consideravelmente a escolha de locais de acampamentos. Um
acampamento temporário de um grupo familiar tinha de estar situado
perto de um curso de água (rio ou lago). Em um sítio desse tipo
haveria naturalmente, vegetação mais abundante e maior variedade
de alimentos, atraindo assim a caça.

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Numa abordagem que combine bom senso e imaginação, o estudo das


técnicas da Idade da Pedra pode contribuir para a reconstituição das
condições económicas e culturais do homem da pré-história. Contudo,
não se pode negar que as evidências são escassas, mesmo para o
período mais recente da Idade da Pedra na África oriental, as
tentativas de uma interpretação mais ampla são inevitavelmente
especulativas. É preciso, certamente resistir a conjecturas teóricas
audaciosas. Todavia, nada adianta lamentar a escassez dos restos
fósseis, aconselhando-se o estudo aprofundado dos poucos existentes
para a produção de novos conhecimentos a partir deles. Tal
procedimento pode criar estímulos para novas abordagens e para a
busca de outros documentos e informações.

A seguir, examinaremos algumas das maneiras possíveis de obter


informações adicionais e chegar a conclusões mais interessantes.
Como já mencionamos, encontram-se ocasionalmente ossadas de
animais fossilizadas em certos sítios albergam rochas antigas e restos
ósseos não fossilizados em sítios recentes, principalmente em abrigos
sob rochas.

São testemunhos directos das variedades de animais que eram


caçados e consumidos. Por vezes o exame minucioso dos ossos no
sentido de se encontrar marcas de instrumentos e de fracturas, e
mesmo da forma como estão distribuídos no local onde foram
encontrados pode indicar como o animal foi abatido e consumido. No
entanto, mesmo essas evidências directas podem representar apenas
uma parte da história.

Por exemplo, é possível que pequenos mamíferos, répteis, pássaros e


insectos tenham sido capturados, mas não existe nenhum traço deles,

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seja porque seus ossos ou partes duras eram frágeis demais para
resistir, seja porque o caçador devorou essas presas tão pequenas no
local da captura em vez de levá-las para o acampamento. O mesmo
pode ter ocorrido com o mel, frutas, bagas, nozes e mesmo ovos de
pássaros, consumidos no próprio local, dispensavam o uso de
utensílios de pedra para sua colecta e preparo. Na verdade, restos de
alimentos vegetais pré – históricos são raramente descobertos.

O regime alimentar das populações primitivas de caçadores e


recolectores deve ter sido relativamente equilibrado, uma
reconstituição plausível deste regime deve ser igualmente equilibrada,
fazendo-se uma avaliação inteligente tanto das evidências
arqueológicas quanto dos recursos alimentares que o meio ambiente
local pôde oferecer.

Em certas regiões, por exemplo, na região central da Tanzânia, os


testemunhos arqueológicos do modo de vida dos grupos de caçadores
e recolectores do fim da Idade da Pedra são notavelmente
complementados por pinturas rupestres. Sem contar a habilidade
técnica, senso artístico e maturidade demonstrados em muitas dessas
pinturas, encontramos dados valiosos sobre os tipos de animais
caçados assim como sobre os métodos de caça com lança, arco e
flecha e sobre os diversos tipos de armadilhas. Já outras técnicas para
a obtenção de alimentos, como a de arrancar raízes e a de recolher o
mel, são mais raramente ou quase não representadas.

A pintura rupestre concorre para dar maior clareza e ampliar a nossa


visão da vida pré-histórica, especialmente porque algumas das
actividades representadas podem ser comparadas com as práticas
recentes ou actuais de povos da África oriental.

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As informações que essa arte nos fornece têm de ser confrontadas


com o material técnico de finalidade económica ou cultural. Uma vez
esboçado um quadro referencial, podem-se levantar questões sobre
os métodos de caça, de colecta, de preparação de armadilhas, sobre o
tamanho do grupo de caçadores e até sobre a comunidade como um
todo, sua área territorial e o tipo de organização social que criou para
se manter.

A comprovação dessas conjecturas encontra-se ainda em estágio


experimental, de modo que as respostas as questões levantadas
raramente se exprimem com total segurança. No entanto, foram
alcançados indiscutíveis progressos, cuja continuidade depende
fundamentalmente de testemunhos arqueológicos provenientes de
diversos sítios. É, portanto, necessário que a colecta desses
testemunhos se opere segundo os métodos mais sistemáticos, mais
cuidadosos e, se possível, mais sofisticados.

Não são raros, na África oriental, jazidas em que aparecem indústrias


líticas. Foram descobertas a partir do início do século XX. Após o
trabalho pioneiro de levantamento realizado pelo Dr. Louis Leakey no
Quênia na década de 20, um número cada vez maior de sítios de todos
os períodos da pré-história foram descobertos na África oriental;
muitos ainda serão certamente revelados.

Em geral, expostos pela erosão ou por outras perturbações do terreno.


Utensílios e resíduos de preparação, são carregados pela água para
ravinas, leitos de rios ou abrigos sob rocha, ou então, trazidos à
superfície pelo cultivo da terra, pela passagem de rebanhos ou por
trabalhos de construção. Esses sítios e objectos são descobertos não
apenas por arqueólogos profissionais, mas na maior parte dos casos
por amadores, fazendeiros, estudantes, etc. A descoberta de um sítio,

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qualquer que seja, é muito importante e deve ser comunicada às


autoridades competentes.

Todos os utensílios e outros materiais arqueológicos encontrados


devem ser guardados em museus, onde estarão disponíveis para
estudo e comparação com outras colecções locais. O hábito dos
arqueólogos estrangeiros de levar suas descobertas para os museus de
seus países de origem nunca prevaleceu no caso particular da África
oriental e, felizmente, já cessou.

Apesar de algumas coleções de material recolhido no início deste


século na África oriental se encontrarem em museus europeus, a
maior parte e, sem dúvida, os mais valiosos restos arqueológicos estão
nos museus nacionais dos países onde foram descobertos.

Uma colecção de superfície, por si só, nos revela muito pouco, uma
vez que os utensílios e os resíduos de preparação foram removidos de
seu sítio original e que a própria colecta é geralmente selectiva.
Porém, mesmo uma pequena colecção de superfície poderá fornecer-
nos alguns indícios. O tipo ou o modo de fabricação dos utensílios
informarão sobre o período ao qual pertencem e sobre sua relação
com outros sítios conhecidos. Isso ajudará a determinar o interesse de
investigações e escavações mais detalhadas e completas.

As escavações devem ser planificadas e realizadas por arqueólogos


com experiência no tipo de sítio em questão. Todavia, como já
dissemos, arqueólogos especializados dependem das informações
locais fornecidas por amadores ou estudantes. Estes últimos, podem
ainda auxiliar nas escavações, iniciando-se assim, nesse tipo de
trabalho. Somente através do emprego de métodos correctos e
técnicas modernas de escavação e de exame dos vestígios, tanto no

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seu lugar de origem, assim como após seu registo e remoção, o


arqueólogo terá condições de colectar num sítio, um máximo de
informações e de elaborar um quadro exaustivo e mais completo
possível das actividades de que o local foi palco.

Deve-se ressaltar que alguns dos trabalhos de escavação em sítios da


Early Stone Age na África oriental realizados nos últimos anos
contribuíram para estabelecer um modelo de pesquisa para outras
partes do mundo em termos de método, análise e interpretação.
Nas escavações, o interesse do arqueólogo não se limita à descoberta
de espécimes isolados, para ele, importa mais a busca do maior
número possível de dados sobre o modo de vida de uma comunidade
antiga através da identificação e do estudo exaustivo da maior parte
do “conjunto cultural” e da colecta de toda informação disponível
sobre o meio ambiente.

Esse trabalho pode exigir métodos de escavação meticulosos e muito


lentos, uma vez que todos os objectos devem ser colectados e todas
as características do solo de um sítio de habitação, mesmo as
pequenas irregularidades da superfície ou mudanças de cor do solo
que poderiam ser indícios do uso do fogo ou de alguma outra
actividade, devem ser registadas. Em geral, é necessário peneirar o
solo dos locais onde há possibilidade ou certeza de existirem
pequenos objectos, como lascas de pedra, fragmentos de ossos e até
mesmo sementes vegetais.

Essa prática é muito frequente em abrigos sob rocha recentes, onde os


depósitos tendem a ser móveis e semelhantes a cinzas. Habitualmente
em abrigos sob rocha, e com frequência em sítios ao ar livre, os
materiais não representam apenas uma ocupação, mas várias
ocupações sucessivas. Cada uma delas deixou seus restos sobre a

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camada de restos da anterior, requerendo, assim, um estudo à parte.


Portanto, o escavador deve dar uma atenção especial à estratigrafia,
pois a interpretação resultaria lamentavelmente distorcida no caso de
um objecto de determinado período de ocupação misturar-se aos de
outro período.

Embora a responsabilidade de identificar, registar e estudar todas as


descobertas cabe ao próprio arqueólogo, ele necessita de assistência
de outros cientistas. Este pode intervir ulteriormente em laboratório,
por exemplo, para a identificação de ossadas animais. Do mesmo
modo, se o arqueólogo encontrar restos vegetais que se preservaram,
como sementes, nozes ou pedaços de madeira carbonizados, precisará
enviá-los a um especialista em botânica, após submete-los a
tratamento especial no próprio local.

A identificação e o estudo de amostras desse tipo contribuirão para


aumentar as informações sobre o regime alimentar e a economia da
comunidade, bem como sobre o meio ambiente daquela época. Se por
sorte, forem encontrados pólen-fósseis, um exame palinológico pode
dar uma ideia da vegetação até então existente e das mudanças que
ela sofreu. Podem também ser reveladoras as amostras de solos que
contêm microrganismos ou conchas de moluscos, pois estes seres
ajudam a identificar o tipo de vegetação dominante e, e
consequentemente, o clima da época.

O estudo da geologia, da geomorfologia e da estrutura dos solos


também é útil para a tentativa de reconstituição do meio ambiente
antigo e dos recursos que uma comunidade pré-histórica poderia
explorar. É óbvio que grande parte dessa investigação, para ser
profunda e confiável, deve aproveitar a presença de diferentes
especialistas no sítio de escavação, ao menos durante uma parte do

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tempo, pois não são apenas as amostras colhidas e levadas para os


laboratórios que contêm indícios.

As amostras devem ser cuidadosamente selecionadas e controladas no


próprio sítio. Grandes modificações podem ter ocorrido na paisagem
entre o período estudado e a época actual, como consequência de
alterações climáticas, movimentos geológicos ou com mais frequência,
devido à actividade humana, sobretudo a agricultura e o
desmatamento em épocas recentes. A abordagem do passado deve
ser feita sempre através de um estudo inteligente do sítio no estado
em que foi encontrado e de todos os vestígios, arqueológicos ou não,
que ele contém.

Há diversos estudos relacionados à pesquisa arqueológica que, não


apresentam evidências directas do período pré-histórico, podem
indirectamente, fornecer preciosos esclarecimentos. Em primeiro
lugar, temos a pesquisa antropológica realizada nas poucas
comunidades de caçadores e recolectores ainda existentes no mundo,
especialmente as da África. De facto, muitas das considerações tecidas
acima foram sugeridas explícita ou implicitamente pelo modo de vida
dos actuais caçadores e recolectores, como os Hadza da Tanzânia
setentrional e os San do Calahari, que vêm sendo objecto de interesse
dos pesquisadores nos últimos anos.

Os hábitos dos Hadza e do San fornecem muitas indicações úteis sobre


a viabilidade, organização e limitações de um modo de vida baseado
na caça e na colecta, além disso, sugerem inúmeros pontos que teriam
de outra forma escapado à atenção dos arqueólogos. Todavia,
estaríamos cometendo grave erro se considerássemos essas
comunidades como réplicas exactas das sociedades da Idade da Pedra,
ou como simples remanescentes dessa época.

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É bem verdade que o modo de vida de certos grupos modernos de


caçadores e recolectores, principalmente dos San do sul da África,
ainda reflete as condições das populações da Late Stone Age e pode,
portanto, esclarecer alguns problemas daquele período. No contexto
da Late Stone Age, por exemplo, é comum descobrirem-se pedras nas
quais foi praticado um orifício circular. Actualmente, os San por vezes
utilizam pedras perfuradas como lastro para bastões de madeira
apontados que servem para desenterrar raízes comestíveis e existem
pinturas rupestres na África do Sul que aparentemente representam
essa prática.

Entretanto, correlações específicas como essas são raras. A sociedade


San sofreu algumas modificações por diversos motivos, inclusive pelo
contacto próximo ou remoto com povos que utilizavam o ferro e
viviam em uma economia de produção de alimentos. Poucos San
continuam a trabalhar a pedra com regularidade, pois é possível obter
o ferro através de troca ou em sucatas, facto que leva a inevitáveis
mudanças nos níveis tecnológico e cultural. Outros grupos
sobreviventes de caçadores e recolectores misturaram-se mais
intimamente com populações produtoras de alimentos, outros ainda
não são verdadeiramente aborígenes, tendo retornado nos últimos
tempos a esse modo de vida, subsistem graças à troca de produtos da
floresta com seus vizinhos agricultores e pastores.

Essa dependência recíproca é característica de muitos grupos,


conhecidos sob a denominação de Dorobo, que ainda habitam as
terras altas do Quênia e da Tanzânia. Esses exemplos mostram os
riscos de se estabelecer paralelos entre as populações actuais de
caçadores e recolectores e as da pré-história recente, riscos que se
multiplicam quando estudamos épocas ainda mais remotas.

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Apesar disso, podemos obter informações valiosas sobre os recursos


alimentares do território e a organização necessária a sua exploração.
Outra inestimável fonte de informações é o estudo da vida e das
sociedades de primatas, particularmente dos actuais parentes mais
próximos do homem, como são os casos do chimpanzé e do gorila,
assim como dos babuínos. Estes últimos não são biologicamente tão
próximos do homem, mas do ponto de vista do comportamento, são
de especial interesse para o estudo da sociedade humana.

Mais que os outros primatas, os babuínos vivem a maior parte do


tempo em grupos no solo, sendo relativamente fácil observá-los, como
já foi dito anteriormente, o homem não descende desses macacos e
não estamos sugerindo aqui que quaisquer comunidades pré-
históricas, nem mesmo as mais antigas, estivessem significativamente
mais próximas deles do que o homem moderno.

Ao estudar o comportamento básico dos primatas e os hábitos que o


homem herdou de seus ancestrais pré-humanos e ao tentar
compreender como esses ancestrais imediatos do homem que não
tinham a capacidade ou o costume de fabricar utensílios, asseguravam
sua subsistência essencialmente vegetariana, constatamos que há
muito a se aproveitar desses estudos de campo realizados em sua
maioria na África oriental.

Como se referiu, a pré-história foi extremamente longa e ao fim desse


período, as populações humanas já haviam alcançado grandes
progressos, diferenciando-se bastante de seus ancestrais dos
primeiros tempos. Além disso, os habitantes da África oriental na Late
Stone Age, alguns dos quais subsistiram até épocas bem recentes,
eram nitidamente africanos.

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Uns aparentavam-se aos San, outros foram assimilados às populações


negroides da Idade do Ferro. Por outro lado, as populações da Early
Stone Age, em especial as do seu estágio mais antigo, embora bem
representadas na África oriental e por longo tempo, apenas
conhecidas nessa região, foram também os ancestrais de toda a
humanidade.

Esses primitivos fabricantes de utensílios de pedra, cuja ossadas foram


descobertas nas camadas mais profundas da garganta de Olduvai
(norte da Tanzânia) e na região do lago Turkana (norte do Quênia e sul
da Etiópia), são geralmente classificados como Homo, embora
diferentes do homem moderno (Homo Sapiens Sapiens), tanto no
corpo quanto no cérebro. A antiga história da África oriental
confunde-se, portanto, com a história da humanidade, facto que lhe
confere uma importância universal. Por encerrar informações
inestimáveis sobre o homem primitivo, sua cultura e a ecologia dos
primatas, a África oriental tornou-se merecidamente o centro mundial
das pesquisas sobre a vida, o meio ambiente e a origem do homem.

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UNIDADE Temática 2.2.Império de Gana

O Império de Gana localizou-se na região Sahelo-sudanesa. O Sahel é


uma área entre o deserto do Sahara e as florestas tropicais. No século
IV, o período em que se formaram os Estados Nacionais, era uma área
maior. Os soninquês, por exemplo, habitavam uma área saheliana que
hoje já foi tomada pelo deserto.

Isso porque, há 10 mil anos, uma parte relativamente pequena de


deserto começou a se expandir e tomar as proporções gigantescas que
o Sahara tem hoje.

Fig.1:Localização do Império de Gana

Fonte:

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A adopção do dromedário permitiu que os berberes se tornassem


senhores do deserto no século III. Com este meio de locomoção, o
deserto deixou de ser um "mar" que separava, para unir o
Mediterrâneo à África. A partir de então, as comunidades ditas
“cameleiras” reduziram a obediência ou a servidão, habitantes do
oásis e passaram a ter no saque, na proteção das caravanas e no
comércio novos meios de aquisição de riquezas.

Os povos agrícolas do Sahel e da savana receberam os rebanhos dos


pastores do deserto e do Sahel e, provavelmente pode ser o resultado
desse encontro de culturas que surgiu pela primeira vez a escravidão
nesta região da África. Porque os povos agrícolas estavam
acostumados a receberem os berberes com seus rebanhos que
necessitavam de pastos nos meses de estio. Então se praticava o
comércio, os pastores berberes entregavam cavalos, leite, sal e
recebiam cereais e outros produtos da terra. Só que quando os
pastores ficavam tempos demais, raptavam mulheres, profanavam
locais sagrados e o resultado desses conflitos era muitas das vezes,
pessoas feitas de cativas pelos nómadas.

O comércio transahariano foi um factor que impulsionou o


desenvolvimento dos estados nacionais e da escravidão, visto que
passaram a incorporar o saque as suas actividades económicas, ou
seja, o respeito entre nómadas e sedentários já não existiam mais, e é
possível que um desses grupos tenha-se imposto como nobreza
armada aos sedentários, acelerando o processo de escravidão política
e criação de Estados. Sobre este facto, Alberto Costa e Silva, afirmam
que: “é provável que pela pressão dos nómadas sobre as terras dos
agricultores, estes tenham reforçado suas estruturas de poder local
para melhor resistir”.

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O Império de Gana surgiu por volta do século IV como Estado


centralizado. As fronteiras ocidentais seguem a linha do rio Senegal, as
orientais perto de Tombuctu no Mali, em baixo são delimitadas pelo
rio Níger e acima pela linha de Tebferilla. Costuma se dizer que a
origem do Império do Gana remonta aos soninquês. O soninquê é um
povo que habitou o Sahara Ocidental antes dessas áreas se
desertificarem, no período antes de Cristo. Relativamente ao
surgimento do Império do Gana, Ki-Zerbo citando Tarik al Fettach,
afirma: “Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes
brancos e que os soninquês teriam tomado o controlo do Império
aquando de tanto se "cruzarem" uma dinastia puramente negra
surgiu”. Mas esta hipótese é frágil porque fora escrita 12 séculos
depois do acontecimento e serve mais do que outra coisa para dar
prestígio para as famílias nobres depois da dominação islâmica. A
teses que defende a origem com base dos povos soninquês é a que
parece mais aceitável, pois eles teriam se fortalecido e se fechado para
se defender de ataques.

Para tratar da organização política do Gana, é preciso emprestar nas


ciências políticos os conceitos de Estado, Império, Reino e monarquia,
que segundo o Dicionário Aurélio são definidos como:
 Estado é um povo que ocupa determinado território, dirigido
por um governo próprio, com poderes distribuídos em
executivo, legislativo e judicial ou seja, uma nação soberana;
 Império é um governo com influência dominadora. Império,
visto sob a perspectiva romana, estaria associado à expansão
territorial;
 Monarquia é uma forma de governo no qual o poder supremo
é exercido por apenas um monarca que detêm sobre a sua
pessoa os poderes executivo, legislativo e judicial.

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Por não ter se expandido territorialmente, não ter tentado unificar


todos os povos dentro de seus domínios, de acordo com a visão
romana não pode-se considerar Gana como um Império. Como afirma
Alberto Costa e Silva: “Gana era um reino por ter um soberano, um
sistema monárquico, mas também um Estado, por possuir governo
próprio”. Havia uma esfera de influências, vários povos próximos à
Gana não respondiam directamente ao rei, mas lhe pagavam tributo.
A soberania não era exercida sobre a terra, mas sobre os homens. O
monarca não estava interessado em ampliar seu poder pela adição de
novos territórios, mas em submeter números crescentes de grupos
humanos que lhe pagassem tributo e pudessem fornecer soldados.

Quanto a sucessão ao trono, este era matrilinear: o filho da irmã do rei


era o herdeiro do trono, em caso da morte ou incapacidade do rei,
sucedia-o na condução dos destinos do seu povo. Segundo Al Bakri
citado por Ki-Zerbo, afirma que “neste sistema, opta-se por filho da
irmã do soberano para assegurar que o sucessor seja sempre de
sangue real, já que seu filho pode não ser realmente seu”. O sistema
matrilinear foi uma prática comum dos povos africanos e estava ligado
ao seu carácter agrícola e sedentário, onde a mulher sempre foi a
guardiã do celeiro.

Estima-se que na segunda metade do século IX os azenegues tenham


conquistado Audagoste, facto de extrema importância para
compreender os motivos que levaram Gana ao seu apogeu. Os
azenegues figuravam entre os berberes. Dividiam-se em grandes
grupos e controlavam rotas comerciais. Audagoste era uma pequena
cidade, fundada por volta do século VII. Apesar de recente, era um
centro agrícola, artesanal e mercantil.

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Os azenegues conquistaram Audagoste na segunda metade do século


IX. O grande chefe azenegue vivia no deserto e ia de vezes em quando
a Audagoste. Esta e Gana se completavam. Audagoste controlava o
comércio de sal e a saída para o deserto e Gana o ouro e as trilhas
para a savana e o cerrado. De acordo com Costa e Silva, no início do
século XI os soniquês subiram até Audagoste e lá puseram seu rei. O
poderio de Gana atingiu seu apogeu, com seu soberano dispondo de
grandes forças militares.

Os arqueiros militares chegaram a atingir 40 mil durante o apogeu.


Usavam arcos pequenos e flechas com bico de ferro. O alcance da
arma era curto, mas os arqueiros eram temidos e decisivos nas
batalhas. Os equinos do Gana eram pequenos. O desconhecimento da
sela, do estribo e do freio reduzia o impacto do cavalo como animal de
guerra. Mas não os excluía das batalhas, já que a montaria fornecia
certa mobilidade.

O cavalo aparecia como sinal de prestígio. É também provável a


existência de tropas camaleiras, inclusive o uso do dromedário para a
captura de escravos. A infantaria era a força básica do exército do
Gana, sendo constituído por mais de 100 mil soldados, a qual
demonstrava a força militar alcançada pelo Império.

O cavalo, ligado a pompa do estado, era o transporte do soberano. O


soberano do Gana, somente montava o cavalo e percorria a cidade
duas vezes entre cada levantar e pôr-do-sol, acompanhado pelos
grandes do reino. A comitiva era precedida por tambores e pífaros,
sendo os tambores utilizados em rituais ligados à religião e a corte,
como mais tarde seria comum em quase todos os desfiles reais por
África. Parece certo que havia tambores especiais para cultos
religiosos e cerimônias da corte.

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No Gana, o soberano vestia-se de túnica, assim como o herdeiro


presuntivo. O soberano e seus escravos, cavalos cerimoniais e
cachorros andavam ornamentados com muito ouro. Aos súbditos era
vedado o uso túnicas ou roupas que sofressem costura, apenas
podiam usar longos cortes de tecido, quando as posses o permitissem.
Ao verem o soberano, estes jogavam areia sobre suas cabeças. Os
muçulmanos aplaudiam ao rei quando morria e, erguia-se uma grande
cabana de madeira para acolher seu corpo. Ali se colocavam suas
vestes, suas armas, os objectos que usara para comer e beber,
comidas e bebidas. Conduziam-se para dentro do que seria o túmulo
os criados que tinham servido ao rei.

Para Ki-Zerbo, este modo de tratamento, servia para prevenir os


envenenamentos dos líderes. Vedava-se a porta e o povo jogava terra
sobre a cabana até que houvesse uma espécie de colina. Ao redor,
cavava-se um fosso e ao morto, eram oferecidos sacrifícios humanos e
bebidas fermentadas.

O ouro era taxado em forma de tributos para manter sua numerosa


corte. O minério refinado era para o rei, já o ouro em pó era de quem
o encontrasse. A obtenção de ouro era um processo curioso. Passadas
as cheias, cavavam-se poços quadrados, de uns 75m de lado, que
raramente iam abaixo dos 20m.

A medida que os poços desciam, suas paredes iam sendo reforçadas


por vigas de madeira e nos lados uma grade de vara que servia
também de escada por onde baixavam os mineiros. Cavavam-se túneis
horizontais e mandavam em cabaças o minério para a superfície e este
era catado pelas mulheres ao entardecer. São hipóteses levantadas de
como se extrai actualmente.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

O ouro viria ali a ser não só de Bambuk e Buré, mas também de Lobi.
E. Jenné poderia ser então seu importante entreposto. Há uma
hipótese mais simples: situando-se Bambuk dentro da forquilha
formada pela confluência do Falemé com o Senegal, teria sido
confundido com uma ilha. O sal, artigo raro, era trocado muitas vezes
por igual peso de ouro, ou mesmo ao dobro. As principais rotas
utilizadas para o entreposto de sal e outras mercadorias do Magreb
pelos lingotes de ouro eram: Gana a Sijilmessa, Tafaza, Audagoste e
Tagante (azenegues).

De Gana a Sijilmessa se atravessava durante dois meses desertos


absolutos, pelos quais se podia marchar 14 dias sem encontrar água. A
de maior fortuna teria sido a que passava por Tagaza, um centro onde
se trocavam as mercadorias do Magreb pelo sal que se ia vender no
Sudão. Já no Audagoste e no Tagante, as rotas eram controladas pelos
azenegues, que se haviam convertido a um maometismo exigente e
militante.

Os zanatas controlavam o comércio na cidade de Sijilmessa e também


alguns entrepostos em Audagoste. Com o desejo de também ter por
seu domínio estes entrepostos, os Almorávidas se lançaram cada vez
mais ao sul do Marrocos e passaram a ter um controlo mais eficiente
nos comerciantes zanatas de Audagoste.

Com o impasse que se seguia entre os azenegues do deserto,


Abubacar se retira do Marrocos e deixa no seu lugar Yusufe Ibne
Tashfin, que era seu primo e também sua mulher Zoinabe, de quem se
divorciara. Passada a ruptura que afluía no deserto, Abubacar volta ao
Marrocos, porém seu primo não lhe devolve o poder em partes.

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Paralelo ao desmembramento em duas “facções”, a do norte e a do


sul, ambas cada vez mais buscavam expandir seus domínios, o que
acarretará mais adiante na morte de Abubacar em 1070, em uma
homogênea ocupação Almorávida do Ebro ao Shael, sob o comando
de Yusufe.

As “tribos” azenegues estavam cada vez mais inerentes ao domínio


almorávida que se concentrava no Marrocos. Desta maneira, o
declínio começava a se assentar nas várias tribos azenegues que
passaram a oferecer ataques repentinos aos “grandes senhores
Almorávidas”.

Os almorávidas deixaram grande contribuição para a islamização de


grande parte das populações do norte do Sudão Ocidental, sobretudo
os soninquês que iriam se transformar em fervorosos catequistas,
além de um rompimento com o equilíbrio entre a agricultura e a
pecuária existentes no Shael, substituindo terras que eram
cuidadosamente lavradas por campos de pastoreio e a conversão
pelos azenegues a seu modo de vida de alguns núcleos que
abandonaram a lavoura pela criação de gado e aderiram ao
nomadismo. Com os rebanhos numerosos, cedo desertificaram o que
então era o Shael e shaelizaram o que até então era savana. Certos
reis e nobres sudaneses começaram a usar até mesmo o véu sobre o
rosto, o litham.

Entre 1203-1204, os Sossos tomaram militarmente o Gana e muitos


mercadores soninquês emigraram para outras terras, especialmente
para um lugarejo que crescerá com o nome de Ualata e se
transformará no mais importante porto caravaneiro do Sudão
Ocidental.

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UNIDADE Temática 2.3.Reino Baguirmi

O Reino de Baguirmi, também conhecido como o Sultanato Baguirmi


(1522-1897), foi um reino islâmico ou sultanato que já existia como
um Estado independente por volta dos séculos XVI e XVII no sudeste
do Lago Chade, no que é actualmente o Chade.

Baguirmi surgiu ao sudeste do Império Kanem-Bornu. O primeiro


governante reino foi o Mbang (rei) BirniBesse. No final do seu reinado,
o Império Bornu conquistou seu reino e o fez tributário do Império.
Sob o reinado de Abdullah IV (1568-1608), o Islã tornou-se a religião
oficial e o reino tornou-se um sultanato, usando os procedimentos
administrativos e judiciais. O título do Mbang ainda era usado junto
com o de sultão. Mais tarde, um palácio e corte foram construídos na
cidade capital de Massenya.

A história política Baguirmi foi em função de sua força e unidade em


relação aos seus vizinhos maiores. Foram absorvidos por Kanem-Bornu
durante o reinado de Alooma, Baguirmi libertou-se mais tarde, em
1600, apenas para ser devolvido ao status de tributário em meados de
1700. Durante os períodos de força, o sultanato se tornou imperialista.
Estabeleceu o controlo sobre pequenos reinos feudais, e entrou em
alianças com os povos nômadas.

No início do século XIX, Baguirmi caiu em decadência e foi ameaçada


militarmente pelos Ouaddai. Embora Baguirmi tenha resistido, admitiu
o status de tributário a fim de obter a ajuda dos Ouaddai.

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UNIDADE Temática 2.4.Civilização Swahili

As costas africanas do oceano índico são povoadas por uma civilização


extremamente rica e complexa, os swahili, conjunto de grupos étnicos
articulados por uma língua e uma série de elementos culturais que
fundem as tradições africanas, o islã, a cultura indiana, entre outras.

2.4.1Língua Swahili

No século IX, fundaram cidades pela costa oeste da África, que deram
lugar a uma civilização arábe-bantu, a qual desenvolveu um novo
idioma: o Ki-Swahili, também chamado de Swahili.

Tal língua nasceu da mistura entre a gramática bantu, pertencente aos


bantu ou povos bantu, povo de raça negra sul-africana e o vocabulário
árabe. Inicialmente, escrevia-se com carácteres arábicos.

A língua bantu tem sua origem na Nigéria e nos Camarões, na África


Ocidental. Segundo explicação de um selo alusivo ao Início da História
Sul-africana, a palavra “Swahili” é uma derivação do plural “Sahel” –
palavra árabe que significa costa. Bem mais tarde, adaptada ao
alfabeto latino, converteria-se na língua mais falada no Leste da África.

Vários povos e tribos, sobretudo do Quênia, Tanzânia e Uganda,


chamam a girafa na língua swahili de twiga. A língua swahili, o ki-
Swahili, está entre as mais conhecidas e estudadas línguas do grupo
bantu, sendo utilizada como língua franca ou veicular na maior parte
da África do leste e região central do continente.

É falada como primeira língua na faixa litorânea que se estende desde


o sul da Somália, abrangendo todo o litoral do Quênia e da Tanzânia,
até parte da região norte de Moçambique, incluindo-se as diversas
ilhas que se situam no extremo oeste do Oceano Índico (Zanzibar,

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Pemba, Máfia, Lamu e Comores) e ainda áreas do extremo norte de


Madagáscar.

É utilizada como segunda língua por outros povos que não são os
swahili. Praticamente toda população do interior da Tanzânia fala o ki-
swahili, graças a uma forte política linguística e grande parte da
população do interior do Quénia.

Nestes dois países o ki-swahili possui o status de língua nacional,


sendo que no primeiro é também a língua oficial, assim como na
Uganda. É falada ainda, na parte leste da República Democrática do
Congo, Ruanda e Burundi, na porção norte da Zâmbia, na região
fronteiriça à Tanzânia e R.D. Congo, porção norte do Malawi e a região
dos Lagos, áreas do extremo sul da Somália e extremo norte de
Moçambique, como também áreas do extremo norte de Madagáscar.

2.4.2História

O período compreendido entre os séculos XII e XV da era cristã, é


particularmente interessante na história das ilhas e da costa oriental
da África. Foi a época em que se formou na região uma comunidade
étnica cuja melhor denominação seria população "swahili". Foi
também a época em que atestou-se plenamente a existência de alguns
Estados, cujos primeiros registos datam do século X da era cristã.
Outro facto importante é, foi neste período que o desenvolvimento
histórico e cultural da África oriental não sofreu qualquer influência
externa perturbadora, com o surgimento de conquistadores
portugueses no começo do século XVI, interrompeu o processo de
desenvolvimento, modificando sensivelmente suas condições e
características.

Como o período também se caracterizou por grande desenvolvimento


cultural, é razoável considerar-se que a civilização swahili estava então
em seu apogeu. No século XII, os Swahili não constituíam uma

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comunidade homogênea no plano étnico ou social.

No plano étnico, sobre um fundo formado por uma população de


língua bantu, acrescentavam-se elementos do interior do continente e
do exterior, tais como árabes, persas e indianos, provenientes da costa
setentrional do mar da Arábia e do oceano Indico. No plano social,
havia disparidades, na medida em que existia uma classe dirigente
isolada e distinta da massa de homens livres.

A estrutura formal da sociedade continuava fundamentada em clãs ou


grupos étnicos, mas continha elementos de diferenciação por classes.
Pese embora considerados iguais aos outros, os membros da classe
dirigente sobressaíam por serem ricos e porque suas funções
tradicionais lhes conferiam influência especial. Ao lado da classe
dirigente, encontravam-se outros indivíduos que eram ricos, mas não
tinham acesso ao poder e a influência atribuída pela tradição, pois sua
riqueza se originava do comércio. Gente comum formava a massa da
população swahili.

Além disso, a sociedade swahili no início do século XII, também incluía


escravos, cuja existência é possível supor-se pela leitura dos autores
árabes que descrevem sua exportação. Mas seu papel dentro da
sociedade não era claro, pode ser que fossem exclusivamente objecto
de um comércio inter-regional. No fim do século XV, os escravos
parecem ter tido função econômica, segundo o relato de um anônimo
português que os descreve em actividades agrícolas em Kilwa.

A civilização swahili reflecte esse processo de diferenciação social,


uma cultura tradicional, a do povo, distinguia-se de outra, a da classe
dirigente.

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2.4.3A economia e os intercâmbios comerciais

A civilização swahili baseava-se em três actividades económicas


principais: a agricultura, a pesca marítima e o comércio.

A agricultura e a pesca

A agricultura, actividade da maior parte do povo, ao lado da pesca e da


colecta de frutos, constituíam as fontes essenciais de subsistência da
população. AI-Mas'üdi, autor do século X, enumera as seguintes
culturas produzidas por estas comunidades: banana, durra (variedade
de sorgo), inhame (al-kalari), cóleo (da família da hortelã) e coco.
Outras fontes falam da cana-de-açúcar e do tamarindo.

No século XV, um autor português anónimo conta que em


KilwaKisiwani havia coco, laranjas, limões, várias leguminosas,
cebolinha, ervas aromáticas, nozes de areca e várias espécies de
ervilhas, milho (provavelmente durra ou sorgo). Também fala da
pecuária (gado grande de chifres, ovelhas, cabras) e da cultura do
algodão. Essas informações e a descoberta de fusos de terracota
atestam a prática da fiação e da tecelagem. No plano agrícola, o
coqueiro tinha papel especial para os habitantes da costa oriental da
África e das ilhas.

A pesca e a colecta de frutos eram tão importantes quanto a


agricultura, são mencionadas pelos autores árabes que aludem
frequentemente ao consumo de peixes, frutos e moluscos pela
população local. Mas o oceano não fornecia recursos apenas para a
alimentação. Fontes árabes referem sobre a colecta e a venda de
pérolas, conchas, carapaças de tartarugas marinhas e âmbar. O peixe
não só era consumido no local onde era pescado como também era
vendido, o que leva a supor uma actividade pesqueira em grande
escala. Sabe-se que as conchas eram utilizadas para a manufatura de
pratos, colheres e colares. De modo geral, os relatos árabes falam

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dessas actividades em todo o litoral, sem maiores detalhes


geográficos.

Em sua descrição de algumas cidades, al-Idrisi faz da pesca a principal


actividade de Malindi. A pesca e a colecta de frutos, estarão
estreitamente ligadas ao desenvolvimento da navegação em suas duas
formas: por um lado, na arte da construção de navios e, por outro, no
desenvolvimento das técnicas de navegação, em particular da
astronomia. Um estudo dos conhecimentos astronômicos da época
mostra, com efeito, que eles só puderam ser desenvolvidos por meio
da navegação no oceano Indico, logo, há motivos para se acreditar que
os navegadores africanos tenham dado sua contribuição nesse
processo. Pode-se supor que a construção de navios não se limitava à
fabricação de mtumbwi (barcos talhados a machado) e de mitepe
(almadias costuradas).

Um autor anônimo português viu no porto de Kilwa muitos navios


grandes, cujas dimensões eram aproximadamente as de uma caravela
de 50 toneladas, mas infelizmente não indicou a quem pertenciam.

A existência de diversas categorias de navios pode ser indirectamente


deduzida do facto de haver na língua kiswahili, grande variedade de
termos para designar "navio", o que indica provavelmente, uma
diferenciação específica, segundo a utilização que deles se fazia, além
do facto de existir grande número de tipos de embarcação até o início
do século XX. Caso essa hipótese seja verdadeira, ela invalida a tese de
que os habitantes da África oriental não praticavam o comércio
marítimo no oceano Indico.

2.4.4 O comércio e o desenvolvimento da vida urbana

Os Swahili viviam em cabanas de troncos e barro, cobertas de folhas


de palmeiras ou gramíneas. Essas cabanas se agrupavam em aldeias
ou cidades. É provável que as fontes árabes se refiram a esse sector da

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população swahili, quando descrevem a caça ao leopardo ou ao lobo,


a exploração de minério de ferro para a venda, a arte de enfeitiçar
animais ferozes para torná-los inofensivos (por exemplo, para que não
atacassem o homem), os cães ruivos utilizados na caça aos lobos e aos
leões e um tambor enorme, semelhante a um barril, ao qual os Swahili
devotavam um culto e cujo som era assustador. Mas a cultura da costa
da África oriental não se resume a isso apenas.

Os árabes, também falam a respeito de outro tipo de civilização


existente no litoral, a civilização urbana, mais refinada e ligada ao
desenvolvimento do comércio marítimo. As diferenças de nível
cultural foram notadas por autores árabes, e Abu'l-Kãsin al-Andalusi
indica que, nas populações como as da África oriental, só os
habitantes das cidades "extasiam sua alma com o estudo da filosofia".
Parece que as cidades constituíam-se essencialmente de cabanas, mas
também devia haver construções em pedra, onde moravam os
membros ricos e influentes da sociedade swahili.

As cidades eram principalmente centros comerciais para onde afluíam


mercadorias indígenas e onde aportavam navios estrangeiros. Eram
também centros de propagação do Islã. Como as estimativas do valor
das mercadorias eram variáveis, o comércio era extremamente
lucrativo, não sendo produzidos na região, os bens importados eram
objectos de luxo e aos olhos do comprador adquiriam mais valor do
que realmente tinham. Por outro lado, a abundância de produtos
preciosos, como o ouro e o marfim e a certeza de sempre se poder
obtê-los faziam com que seu valor diminuísse.

Além disso, a posição geográfica vantajosa praticamente todo o litoral


da África oriental faz parte da zona das monções, favorecia a
navegação no oceano Indico e possibilitava a existência do comércio
naquela parte do mundo.

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No século XII, supõe-se que as correntes comerciais da África oriental


passassem pelo arquipélago Lamu e por Zanzibar. Escavações
arqueológicas em Zanzibar mostram que o principal centro de
comércio da área era a cidade de Manda, na ilha de mesmo nome, que
floresceu nos séculos IX e X da era cristã e continuou activa até o
século XII ou mesmo XIII. Após esse período, a maior parte do
comércio começou a passar por Kilwa. A riqueza e o brilho da cidade
de Manda podem ser atestados pela grande quantidade de bens
importados que lá foram descobertos: cerâmicas islamos-sassânidas,
celadons de Hue e esgrafitos. Muitas delas, esmaltadas ou não,
lembram as que foram descobertas nas escavações de Siraf.

A descoberta de escórias de minério de ferro atesta a existência de


fundições. No entanto, é difícil avaliar a importância dessas fundições
apenas pelo testemunho arqueológico. Pode ser que as indicações de
al-Idrisi a respeito da cidade de Malindi, o ferro era o seu principal
recurso e principal objecto de comércio e dissessem respeito a toda a
região e que de Malindi se transportasse o ferro até Manda, cujo bem
de exportação e mais importante fonte de riqueza da cidade, era o
marfim.

AI-Idrisi também descreve outras cidades do litoral e das ilhas,


mencionando as seguintes: Marka (Merca), Brava, Malindi, Mombaça,
Pangani (EI-Banas) e Ungudja (antigo nome de Zanzibar). Segundo uma
nova identificação que parece convincente, a cidade situada após
Pangani, com o nome de Butakhna, seria Kilwa. Isso permite supor que
Kilwa já existia há algum tempo, mas que ainda não se tinha tornado
um dos grandes centros comerciais da costa. Fontes árabes mais
antigas também citam Sofala, de onde era exportado o ouro.
Comparando-se as informações, é possível localizar esses sítios na
região de Kilwa.

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As pesquisas arqueológicas efectuadas em KilwaKisiwani mostram o


quadro de uma vida comercial bastante activa. Foi encontrado um
grande número de cauris, usados como dinheiro, cerâmicas de
importação, do tipo esgrafito com decorações incisas em amarelo com
reflexos acobreados ou recobertas de esmalte verde-escuro, de
objectos de vidro e, em quantidade menor, conchas de vidro, de
cornalina e de quartzo, louça de esteatita de Madagáscar.

Começou-se a importar da China porcelana song e o principal produto


de exportação era o ouro. Em meados do século XII, em menor
quantidade, celadons.

Os produtos de importação mais característicos de Gedi eram


cerâmicas islamíticas "pretas e amarelas", esgrafitos com decorações
incisas amarelas e verdes e vários tipos de celadons. Gedi e
Mogadíscio que já deviam existir até então, não são mencionadas nas
fontes árabes. Malindi e Mombaça eram centros comerciais menos
importantes de onde se exportava ferro e peles de leopardo, de
Malindi também se exportava peixe. No começo do século XIII, Yãkut
escreveu que Mogadíscio era uma das cidades mais importantes da
África oriental e que seus habitantes eram árabes muçulmanos que
viviam em comunidades. Na época, Mogadíscio exportava ébano e
sândalo, âmbar cinzento e marfim. O autor também notou a
miscigenação de sua população e mencionou igualmente a existência
das cidades de Mtambi e Mkumbulu, na ilha de Pemba."Cada uma
dessas cidades tem seu sultão, independente do vizinho.

Na ilha há muitas aldeias e cidadezinhas. Seu sultão afirma que é


árabe e que seus ancestrais são originários de Kufa, de onde partiram
para vir a esta ilha". Kilwa foi mencionada pela primeira vez com este
nome na obra de Yãkut, foi também o primeiro a falar da cidade de
Mafia que ele situa não numa ilha, mas no litoral e da ilha de Tumbatu,
em seu relato sobre Zanzibar (Landjuia-Ungudja). Segundo ele,

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Zanzibar teria sido um Estado independente e a cidade de Ungudja,


centro comercial frequentado por navios, os habitantes de Tumbatu
seriam muçulmanos.

Nessa época, Kilwa e provavelmente a ilha de Mafia eram governadas


pela Dinastia Shirazi. Em meados do século XIII, assistiu-se luta entre
Kilwa e o povo Shanga que possivelmente era a população da ilha
Sanjo ya-Kati. A causa provável do conflito era a rivalidade pelo
domínio das correntes comerciais que passavam pela região.

Como atesta a Crónica de Kilwa, esta cidade teria finalmente


conseguido a victória, o que aparentemente teve por consequência o
desenvolvimento do comércio e da civilização Ki-Swahili que remonta
ao início do século XIV e coincide com a ascensão ao poder, em Kilwa,
de uma dinastia associada ao nome de Abü al-Mawãhib.

Naquela época, Gedi continuava a negociar os mesmos produtos


alimentícios como no período precedente, os principais clientes tanto
de Gedi como Manda, eram as cidades persas, principalmente a de
Siraf. O volume de mercadorias importadas por Kilwa aumentou
sensivelmente.

Entre elas encontrava-se grande quantidade de esgrafitos, geralmente


verde-escuros, mas raramente amarelos com reflexos verdes,
porcelanas chinesas da época song, entre as quais alguns celadons,
objectos de vidro, principalmente garrafas e frascos, às vezes ornados
com motivos em relevo e que serviam provavelmente para conservar
perfumes e quermes (khõl). Os objectos de vidro encontrados em Gedi
se parecem na forma e na decoração com os encontrados nas
escavações de Kilwa. São em sua maioria, garrafas e frascos,
provavelmente originários do Iraque ou do Irão. Importavam-se cada
vez mais louça de esteatita e conchas de vidro de Madagáscar,
sobretudo três variedades de conchas ornadas com pequenas incisões,

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e, mais raramente, conchas em forma de bastonetes.

O comércio parece ter alcançado o apogeu no século XIV. A fonte mais


importante em língua árabe sobre esse período é a obra de IbnBattuta
que visitou a África oriental em 1332. Ele descreveu Mogadíscio como
grande centro comercial explicou que era costume que o comerciante
estrangeiro ao chegar, procurasse entre os habitantes da cidade um
agente de confiança para tomar conta de seus negócios.

Essa prática também é mencionada por Yãkut, mas ele não entra em
muitos detalhes. Além dos produtos descritos por Yãkut, Mogadíscio
também comerciava seus makdashi, ou seja, "tecidos de Mogadíscio".

A rede comercial de Mogadíscio não era a mesma que a das cidades


mais meridionais. Assim, os makdashi eram vendidos até no Egito,
enquanto do Egito e de Jerusalém vinham outros tipos de tecido. As
outras cidades da África orientais não mantinham relações com o
Egipto nem com a Síria.

No século XIV, Manda já havia perdido sua importância, Malindi,


Mombaça e outras cidades continuavam insignificantes. De acordo
com as pesquisas efetuadas por H. N. Chittick, foi somente nessa
época que a cidade de Patta surgiu, na ilha de mesmo nome.

2.4.5 Os intercâmbios: centros, produtos, quantidade

No século XIV, Gedi começou a importar novos produtos e manteve


até meados do século XIV a importação de esgrafitos, pouco a pouco
substituídos por cerâmicas verde e azul de esmalte muito fino e
brilhante, que aparentemente provinham do Irão. Também
encontravam-se entre as mercadorias vários tipos de celadons, de
porcelanas brancas e todos os tipos de conchas de barro vermelho,
redondas ou alongadas, de cerâmica, de vidro ornadas com pequenas
incisões ou com forma de bastonete etc.

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O centro comercial mais importante era Kilwa, onde o volume de


cerâmica importada tinha aumentado muito. Havia pouca cerâmica
islamítica, as mais típicas eram vasos de má qualidade com desenhos
negros e esmalte amarelo-fosco, provavelmente fabricados em Aden,
de onde eram importados. Durante a segunda metade do século XIV,
apareceram cerâmicas islamíticas monocrômicas de forma semi-
esférica, borda arredondada com o corpo esmaltado de verde-claro.

Importavam-se cada vez mais porcelanas da China, principalmente


celadons azulados. Encontrou-se grande número de celadons em
forma de lótus. A porcelana de barro branco-azulado de estilo antigo,
era mais rara. No entanto, havia muitas cerâmicas chinesas verde-
pálidas, com desenhos negros incisos sob o esmalte. Também era
maior a quantidade de conchas em forma de bastonete, comparada ao
número daquelas com incisões, ao mesmo tempo, começaram a surgir
conchas alongadas azul-cobalto.

Os vasos de esteatita deixaram de ser importados, embora


aparentemente, os objectos de vidro continuassem os mesmos. No
século XV, encontravam-se em Gedi os mesmos objectos de
importação do século precedente, ou seja, cerâmicas islamíticas
verdes e brancas, recobertas de fino esmalte brilhante. Pela primeira
vez apareceram porcelanas de barro branco-azuladas, cujos motivos
são de um estilo característico da época ming, no século XV.

A importação de conchas de vidro apresentava praticamente as


mesmas características do século precedente, mas não se importavam
mais tantos objectos de vidro. Geralmente, considera-se o século XV
em Kilwa como época de relativa decadência devido às lutas internas
pelo poder entre as várias facções da camada superior da sociedade.
As importações, porém, continuavam a aumentar, principalmente as
de cerâmicas islamíticas monocrômicas, cuja qualidade havia
melhorado um pouco. Sua cor ia do verde-azulado ao verde. Havia o

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dobro de porcelana chinesa que de cerâmica islamítica, os objectos de


porcelana mais difundidos eram celadons e objectos de barro branco-
-azulado. Também encontrava-se um grande número de recipientes
de vidro, principalmente garrafas. Quanto às conchas de vidro, eram
quase todas vermelhas, em forma de bastonetes.

Os produtos de exportação, como já dissemos, eram sobretudo o


marfim e o ouro, além de escravos. (IbnBattuta descreve razias cujo
objectivo era capturar escravos), presas de rinocerontes, âmbar
cinzento, pérolas, conchas e nas regiões setentrionais, peles de
leopardo. Outra mercadoria importante que era em parte importada
e, em parte, fabricada na região, eram os tecidos de algodão, que
representavam, aparentemente, grande volume na massa de
intercâmbios. Sabe-se que no século XV quantidades consideráveis de
tecidos de algodão chegavam a Mombaça e a Kilwa, de onde eram
reexpedidas para Sofala. Pode-se imaginar a importância dessa
mercadoria pelo registo encontrado na Crônica de Kilwa de que a ilha
de Kilwa fora comprada e o preço havia sido uma quantidade de
tecido correspondente ao seu perímetro.

O comércio marítimo que ligava a costa da África oriental e as ilhas aos


países da costa setentrional do oceano Indico favoreceu os contactos
entre os habitantes dessas regiões e enriquecendo-os. Essas relações
comerciais eram parte de um processo mundial. E constituíam um
ramo da grande via comercial que ligava o Ocidente ao Oriente, onde
os portos da África oriental não eram terminais, pois outra ramificação
conduzia a Madagáscar. Sem dúvida, existia contacto entre o litoral e
os territórios auríferos do interior, próximos do lago Niassa, dali vinha
o ouro que chegava a Kilwa.

A partir do século XIV, algumas regiões auríferas de Sofala passaram


para o domínio dos sultões de Kilwa, que começaram a nomear
governadores para a região. A Antiguidade dos contactos é atestada

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por descobertas arqueológicas de objectos provenientes do litoral ou


até de países não-africanos. G. Caton-Thompson já notara que as
conchas amarelo-limão descobertas nas escavações do Zimbábue
eram parecidas com as conchas de vidro encontradas em várias
regiões da Índia no século VIII da era cristã. O vidro azul-claro e verde
encontrado também no Zimbábue pode ter a mesma origem, parece
muito com o vidro da Índia ou da Malásia.Da mesma forma, um exame
atento das cerâmicas locais de Gedi (classes 1 e 2) e sua semelhança
com uma das variedades de cerâmica encontradas no Zimbábue
permitiram a J. S. Kirkman concluir que existiam relações entre o
litoral e os proprietários das minas de ouro no interior do continente.

As regiões auríferas próximas do rio Zambeze, no interior do


continente e no território da actual República de Zâmbia, foram sem
dúvida as primeiras com as quais se estabeleceram relações
comerciais, o que pode ser comprovado pela descoberta de cauris que
eram trocados por ouro e marfim, em Gokomera e Kolomo. No actual
território da República Unida da Tanzânia, na região de Engaruka, as
escavações numa aldeia ligada ao comércio permitiram que se
descobrisse o mesmo tipo de cauris e de conchas de vidro (dos séculos
XV e XVI) que as encontradas em Kilwa e outras cidades do litoral.
Finalmente, al-Idrisi, no século XII, observou a existência do comércio
de caravanas com as regiões do interior. "Como não tinham animais
de carga, eles próprios transportavam as mercadorias. Carregavam-
nas sobre a cabeça ou nas costas até duas cidades, Mombaça e
Malindi, onde vendiam e compravam".

Os primeiros meios de troca utilizados nas relações comerciais foram


principalmente os cauris, encontrados em todas as escavações, no
litoral e no interior. Primeiramente as conchas de vidro e mais tarde, a
porcelana da China também desempenharam esse papel. Nas regiões
de comércio mais intenso apareceu um novo meio de troca, na forma
de moeda metálica, cujos centros de

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fabricação parecem ter sido Kilwa e Mogadíscio. De acordo com as


pesquisas de G. N. Chittick, as moedas de bronze e prata surgiram em
Kilwa com o advento da Dinastia Shirazi, no final do século XII.

Ao contrário das moedas de Kilwa, o único exemplar encontrado em


Mogadíscio traz a data de 1332. As moedas encontradas no litoral não
se distribuíam de forma equitativa ao longo da costa. G. S. P. Freeman-
Grenville observa que nenhuma foi encontrada entre Mnarani e
KilwaMasoko, e atribui essa ausência a falta de pesquisas
arqueológicas na área.

Seja por esse motivo, seja porque não se cunhavam moedas e, assim,
elas não eram utilizadas na região, o facto é que só foram encontradas
nos grandes centros comerciais, em KilwaKisiwani e Kisimani Mafia,
em Kwa na ilha Djwani, nas ilhas de Zanzibar e de Pemba, além de
alguns exemplares no Quênia. A presença de moedas permite supor
que o comércio local tenha se desenvolvido sensivelmente na costa e
nas ilhas circunvizinhas, tomando a necessária a adopção dessa forma
de pagamento.

As moedas deviam ter um valor de troca maior que o dos cauris e sua
introdução parece demonstrar a importância das operações
comerciais. Essa hipótese é confirmada pelo facto de a mercadoria
principal de Kilwa ser o ouro, cujo valor intrínseco era muito alto. Por
outro lado, a abundância de ouro, considerado como mercadoria,
devia ser obstáculo a sua transformação em meio de troca.

As regiões onde foram encontradas moedas podem servir como


indicação da extensão geográfica do comércio local. Além disso, é
provável que a explicação para a ausência de informações sobre o
local, a data de cunhagem e o valor nas moedas de Kilwa seja dada
pelo facto de que, anteriormente, quando os pagamentos eram feitos
em cauris, o que importava era o número de unidades. Grande fonte
de lucros, o comércio foi a base da

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riqueza das cidades do litoral e do desenvolvimento social e cultural da


sociedade swahili. Por sua própria natureza, permitiu contactos com
várias civilizações, como a árabe, a persa e a indiana.

Apesar da enorme quantidade de objectos provenientes da China


encontrados nas escavações, este país não participou directamente do
comércio com a África antes do século XV. De acordo com as pesquisas
recentes de V. A. Velgus, um dos especialistas mais competentes em
fontes escritas chinesas, os navios chineses além de não alcançarem o
golfo Pérsico, não ultrapassavam a oeste e ao sul das ilhas de Sumatra
e Java e não chegavam portanto, a costa da África oriental. As
primeiras indicações da chegada de esquadras chinesas a costa da
África oriental datam de 1417-1419 e de 1421-1422; eram
comandadas por Cheng-Ho.

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UNIDADE Temática 2.5.Reino Congo

O Reino do Congo ou Império do Congo foi um reino africano


localizado no sudoeste da África no território que hoje corresponde ao
noroeste de Angola, Cabinda, República do Congo, parte ocidental da
República Democrática do Congo e parte centro-sul do Gabão. O Reino
do Congo teve importante participação no desenvolvimento do tráfico
de escravos.

Durante seu processo de expansão marítimo-comercial, os


portugueses abriram contacto com as várias culturas que já se
mostravam consolidadas pelo litoral e outras partes do interior do
continente africano. Em 1483, momento em que o navegador lusitano
Diogo Cão alcançou a foz do rio Zaire, foi encontrado um governo
monárquico fortemente estruturado conhecido como Congo.

Reino do Congo foi Fundado por NtinuWene, no século XIII, esse


Estado centralizado dominava a parcela centro-ocidental da África. Na
sua máxima dimensão, estendia-se desde o oceano Atlântico a oeste,
até ao rio Congo a leste e do rio Oguwé no actual Gabão, a norte, até
ao rio Cuanza, a sul.

O império era governado por um monarca, o manicongo, constituido


por nove províncias e três reinos (Ngoy, Kakongo e Loango), mas a sua
área de influência estendia-se também aos estados limítrofes, tais
como Ndongo, Matamba, Kassanje e Kissama.

Nessa região se encontravam vários grupos da etnia bantu,


principalmente os bakongo, ocupavam os territórios. Apesar da feição
centralizada, o reino do Congo contava com a presença de
administradores locais provenientes de antigas famílias ou escolhidos
pela própria autoridade monárquica.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Apesar da existência destas subdivisões na configuração política do


Congo, o rei, conhecido como manicongo, tinha o direito de receber o
tributo proveniente de cada uma das províncias dominadas. A capital
era M'Banza Kongo (cidade do Congo), rebatizada São Salvador do
Congo após os primeiros contactos com os portugueses e a conversão
do manicongo ao catolicismo no século XVI, onde aconteciam as mais
importantes decisões políticas de todo o reinado. Foi nesse mesmo
local onde os portugueses entraram em contacto com essa
diversificada civilização africana.

A principal actividade económica dos congoleses envolvia a prática de


um desenvolvido comércio onde predominava a compra e venda de
sal, metais, tecidos e produtos de origem animal. A prática comercial
poderia ser feita através do escambo (trocas) ou com a adopção do
nzimbu, uma espécie de concha somente encontrada na região de
Luanda.

2.5.1 Contacto entre Bakongos e Portugueses.

O contacto dos portugueses com as autoridades políticas deste reino


teve grande importância na articulação do tráfico de escravos. Uma
expressiva parte dos escravos que trabalharam na exploração aurífera
do século XVII, principalmente em Minas Gerais, era proveniente da
região do Congo e de Angola. O intercâmbio cultural com os europeus
acabou trazendo novas práticas que fortaleceram a autoridade
monárquica no Congo.

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UNIDADE Temática 2.6.Império de Monomotapa

O Império Monomotapa também chamado por Mwenemutapa, que


era o título do seu chefe, foi um império que floresceu entre os
séculos XV e XVIII na região sul do rio Zambeze entre o planalto do
Zimbabwe e o Oceano Índico, com extensões provavelmente até ao rio
Limpopo.

Este estado africano era extremamente poderoso, uma vez que


controlava uma grande cadeia de minas e de metalurgia de ferro e
ouro, cujos produtos eram muito procurados por mercadores doutras
regiões do mundo.

É importante notar que, ao contrário dos soberanos de muitos reinos


actuais ou recentes, os Mwenemutapas não formavam uma cadeia de
descendentes, o sucessor de um Mwenemutapa falecido (ou deposto)
era escolhido pelo conjunto dos seus conselheiros e dos chefes seus
aliados, guiados por um ou mais "chefes espirituais" que
interpretavam os "sinais" enviados pelos espíritos ancestrais da tribo.

2.6.1 Domínio português

Aquando da exploração da costa oriental africana, desde a chegada de


Vasco da Gama, colheram os portugueses, informes de que havia ouro
em quantidade, vindo dum reino não-muçulmano. Tais informações
foram confirmadas pelo espião Sancho de Tovar.

Numa primeira tentativa, os lusitanos procuraram cooptar a


aristocracia, sem sucesso. Em 1567 travou-se a guerra que veio, enfim,
a destruir tal organização. Contou, para tanto, com a ajuda do Rei de
Malawi.

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Esta conquista possibilitou a consolidação dos portugueses no


território de Moçambique. O império Monomopata ficava em Mbiri,
ao norte da atual cidade de Harare, no actual Zimbabwe.

2.6.2 História

O primeiro europeu a tomar contacto com a cidade de Grande


Zimbabwe, ca apital de Monomotapa, teria sido o navegador e
explorador Português Sancho de Tovar.

Este Estado africano possuía ricas minas de ouro. O ouro teria sido a
razão pela qual os portugueses engendraram a conquista do território,
empenhado pelos moradores em troca das mercadorias que estes
ofereciam e, num primeiro momento, justificou a manutenção lusa no
actual território moçambicano a partir de Sofala.

As origens da dinastia governante remontam à primeira metade do


século XV. De acordo com a tradição oral, o primeiro "mwene" foi
príncipe guerreiro de um reino Shona ao sul, chamado Nyatsimba
Mutota, enviado para encontrar novas fontes de sal, ao norte. O
Príncipe Mutota encontrou o sal entre os Tavara, uma subdivisão dos
Shona, que eram notórios caçadores de elefantes. Foram então
conquistados e sua capital estabelecida a 358 km ao norte do Grande
Zimbábue no Monte Fura pelo Zambeze.

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UNIDADE Temática 2.7.Império Wolof

O Império Wolof ou Império Jolof (do francês: Diolof ou djolof) foi um


estado no Oeste Africano que governaram partes de Senegal e Gâmbia
no período de 1360-1890.

2.7.1 Origens

Conta-se tradicionalmente que o fundador do Estado e


posteriormente império foi NdyadyaneNdyaye que viveu no século
XIII. Os alicerces do império foram estabelecidos pela associação
voluntária de vários pequenos estados que começam com Waalo no
norte. Antes da formação do império, Waalo foi dividido em aldeias
governadas por reis com o título SererLaman.

Uma disputa sobre a madeira perto de um lago proeminente quase


levou ao derramamento de sangue entre os governantes, mas foi
interrompido pelo misterioso aparecimento de um estranho do lago. O
estranho dividiu a madeira de forma justa e desapareceu, deixando o
povo em assombro. Os Wolofs, então, fingiram uma disputa e
sequestraram o desconhecido quando ele voltou. Ofereceram-lhe o
reinado de suas terras e convenceu-o a tornar-se mortal, oferecendo-
lhe uma bela mulher para casar. Quando esses eventos foram
relatados ao governante do Sine, também um grande mágico, é
relatado que ele exclamou "NdyadyaneNdyaye" na perplexidade. O
governador do Sine sugeriu, então, todos os governantes entre o rio
Senegal e o rio Gâmbia reconhecer voluntariamente a este homem
como rei, o que fizeram.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

2.7.2 História

O novo estado de djolof, tornou-se vassalo do Império do Mali por


muito tempo. Djolof manteve-se dentro dessa esfera de influência do
império até a última metade do século XIV. Durante a disputa da
sucessão em 1360 entre dois clãs rivais dentro linhagem real do
Império do Mali, os wolof tornara-se definitivamente independente.
Uma análise mais cuidadosa das estruturas políticas e sociais dos
Wolofs revelam que pelo menos algumas das suas instituições, podem
ter sido emprestadas directamente ou desenvolvidas ao lado dos seus
maiores antecessores, o Império Mali.

2.7.3 Sociedade

Os Portugueses tiveram contacto com o Império Jolof entre 1444 e


1510, relatando detalhadamente o sistema política muito avançado
dos Wolofs. Os wolof estavam comandados por um sistema de castas,
sistemas tradicionais, hereditários ou sociais de estratificação, que
ainda subsiste nos nossos dias, embora com menos rigor.

Nobres, camponeses e burgueses, artesãos e escravos formavam a


pirâmide social deste grupo. Portanto, é o homem que trabalha nos
campos enquanto que a mulher domina os trabalhos domésticos. A
nobreza Wolof era nominalmente muçulmana. Mas o Islã não
conseguiu penetrar completamente sociedade wolof, até por volta do
século XIX.

2.7.4 Mulheres

As mulheres eram influentes no governo. O Linger ou Rainha Mãe era


a cabeça de todas as mulheres wolof e muito influente na política
estadual. Ela possuía um número de aldeias e fazendas de cultivo que
pagavam tributos directamente a ela. Havia também outros chefes do
sexo feminino, cuja principal tarefa era julgar os casos envolvendo
mulheres. No estado Walo mais ao

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norte do império, as mulheres podiam aspirar ao cargo de Bur e


governar o Estado.

2.7.5 Organização política

O Império djolof foi organizado em cinco reinos costeiros de norte a


sul, que incluía Waalo, Kayor, baol, Sine e Saloum. Todos estes estados
foram afluentes do litoral do estado de djolof. O governador de djolof
era conhecido como o burbaJolof, um título diferente de todos os
outros e governou a capital de Linguère. Cada estado Wolof era
governado por sua própria soberana, nomeada de entre os
descendentes do fundador do Estado. Governadores de Estado eram
escolhidos por seus nobres respectivos, enquanto o burbaJolof foi
escolhido por um colégio de eleitores que incluía também os
governadores dos cinco reinos. Não foi o de Bur Waalo, a Damel de
Kayor, o Teny de baol, bem como as duas LamansSerer dos estados e
do Sine Saloum. Cada governante tinha autonomia prática, mas
esperava-se a cooperar com a burbaJolof em matéria de defesa,
comércio e prestação de receitas imperiais. Uma vez nomeados, os
titulares de cargos passavam por rituais elaborados tanto para se
familiarizarem com as suas novas funções e elevá-los a um status
divino.

A partir de então, eles eram esperados para elevar a grandeza de seus


estados ou o risco de ser declarada desfavorecidas pelos deuses e de
ser deposto. As tensões desta estrutura política resultaram em um
governo autocrático, onde os exércitos muito pessoais e riquezas,
muitas das vezes substituíam valores constitucionais.

2.7.6 Contacto com a Europa

Depois de um início hostil, as relações comerciais pacíficas foram


estabelecidas entre o Império djolof e os Portugueses. Neste
momento a Wolof estavam no auge de seu poder e os burbaJolof

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

havia estendido seu poder sobre os estados Malinka, na margem norte


da Gâmbia, incluindo Nyumi, Badibu, Nyani e Wuli.

Em 1480, o príncipe Bemoi estava governando o império em nome de


seu irmão BurbaBirao. Tentados pelo comércio Português, mudaram a
sede do governo para o litoral para aproveitar as novas oportunidades
econômicas. Outros príncipes, em oposição a esta política, depuseram
e assassinaram burbaJolof em 1489. Prince Bemoi escapou e refugiou-
se em Lisboa. Lá trocou presentes com o Rei João II, e foi batizado.

Confrontado com a possibilidade de colocar um aliado cristão sobre o


trono, João II enviou uma força expedicionária sob um comando
Português e o príncipe de volta ao djolof. O objetivo era colocar Bemoi
no trono em um forte na foz do rio Senegal, mas para a surpresa de
Portugal, este objectivo não foi alcançado.

2.7.7 Período tardio

Apesar das brigas internas, o Império djolof permaneceu uma força a


ser enfrentada na região. No início do século XVI, era capaz de
mobilizar 100.000 homens na infantaria e 10.000 na cavalaria. Mas as
sementes da destruição do império já haviam sido semeadas pelas
perspectivas do comércio atlântico. Praticamente tudo o que tinha
dado origem à grande Império djolof tinha acabado. Problemas com os
governantes dos estados vassalos e forças externas, como a dissolução
da Império Mali. Em 1513, DengellaKoli levou uma forte força de fulas
e mandingas em Fuuta Toro exigindo dos Wolofs a criação de sua
própria dinastia.

Koli era filho de um rebelde sem êxito contra o Império Songhai e


pode ter decidido agir contra os wolof como uma alternativa para
combater os Songhai ou mandingas. Em 1549, o estado Kayor rompeu
com êxito o Império djolof. Ele derrotou seu suserano na Batalha de
Dinka.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

A batalha causou um efeito cascata, resultando em outros estados


deixando o império. Em 1600, o Império djolof era apenas um estado
entre os vários estados independentes Wolof.

2.7.8 Língua wolof

Uólofe, em inglês Wolof, é uma língua falada na África Ocidental, no


Senegal, em Gâmbia e na Mauritânia.

O termo Wolof pode se referir também a etnia e a coisas referentes


cultura e as tradições dessa etnia. Como apoio a uma pronúncia, no
passado, os franceses escreviam “Ouolof" e os ingleses "Wollof",
havendo também os termos "Volof" e "Olof".

A língua ulofe ou wolof, também chamado jalofo, é falada por 80% da


população do Senegal. Em Casamança e no oeste de Senegal, utiliza-se
o wolof junto com o mandinga e o diola.

Os wolof dedicam-se basicamente à agricultura. Emigraram para o


centro do Senegal durante os séculos XII e XV, enquanto se constituía
o Império Diola.

Os Wolof são a maioria na zona norte do Senegal, representam a etnia


maioritária e 45% da população do Senegal considera-se integrante da
mesma. Na Gâmbia são uma minoria, representando apenas 15% do
total da população, apesar de serem a maioria na capital do país e de
terem uma considerável influência. Na Mauritânia representam só 7%
da população.

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UNIDADE Temática 2.8.Império Zulu

Os zulus são um povo do sul da África, vivendo em territórios


actualmente correspondentes à África do Sul, Lesoto, Suazilândia,
Zimbábue e Moçambique. Embora hoje tenham expansão e poder
político restritos, os zulus foram no passado, uma nação guerreira que
resistiu a invasão imperialista britânica e bóer no século XIX.

2.8.1 História

Os zulus eram originalmente um grande clã onde hoje é o norte do


kwaZulu-Natal. Foi fundada por Zulu kaNtombhela. Em 1816, os zulus
formaram um poderoso estado sob liderança de Tchaka.

2.8.2 Tchaka, fundador do reino Zulu

Foi em 1740 que Dingiswayo tomou conta do poder da tribo


Mthethwa. Iniciou uma política de expansão, começando a submeter
várias tribos vizinhas a sua autoridade. Foi então que começou a
organizar o exército sob o regime de grupos por idades. A medida que
ia submetendo as tribos vizinhas, permitia que os chefes dessas tribos
continuassem no seu posto, sendo apenas obrigados a pagar-lhe um
tributo em gado. Começou assim a criar as funções dum grande reino
Ngoni.

Dingiswayo começou a expandir-se para o norte, o que obrigou Zwide,


o chefe dos Ndwandwe, a fugir para o norte. Ao atravessar o rio
Pongola empurrou os Ngwane que tiveram que ir para a região onde
hoje é a Swazilândia. Ficaram desta forma duas grandes tribos frente a
frente, a dos Mthethwa e a dos Ndwandwe.

Por volta de 1790 nasceu na tribo Zulu um rapaz a quem deram o


nome de Tchaka. A história do nome Tchaka está relacionada com as

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circunstâncias do seu nascimento e por isso a vamos desenvolver. O


pai de Tchaka era herdeiro do trono Zulu. Entre os Zulus era proibido
aos homens terem relações sexuais antes de terem sido circuncidados.
O pai de Tchaka, porém, engravidou Nandi, a mãe de Tchaka, antes de
ter sido circuncidado. Começou-se então a dizer-se que Nandi não
estava grávida e que a razão para o crescimento da barriga era devida
a uma doença dos intestinos a que chamavam «i-tshaka».

Quando o rapaz nasceu passaram a chamar-lhe Tchaka. Mais tarde o


pai reconheceu o filho como sendo seu e tomou Nandi como uma das
suas mulheres. Tchaka cresceu no entanto afastado do seu pai,
vivendo muito ligado à sua mãe.

Durante a sua adolescência Tchaka foi incorporado num dos grupos


por idades do exército de Dingiswayo onde logo demonstrou a sua
grande bravura e a sua força atlética. Em breve se tornou um herói
favorito de Dingiswayo e passou a comandar um regimento do
exército.

Em 1816 o pai de Tchaka morreu e Tchaka decidiu tomar à força o


trono Zulu. Embora a sua mãe nunca tivesse sido considerada uma das
grandes mulheres do pai de Tchaka, e este não tivesse possibilidades
de subir ao trono, a sua posição no exército de Dingiswayo e a sua
qualidade de favorito fizeram com que Dingiswayo ajudasse Tchaka a
tomar o trono pela força.

Em 1818 houve uma grande batalha entre Dingiswayo e Zwide na qual


o chefe Mthethwa foi morto. Tchaka imediatamente tomou conta do
poder e iniciou uma série de reformas militares que o tornaram quase
invencível.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

2.8.3 A organização do exército de Tchaka

Dingiswayo não tinha conseguido submeter as tribos Ndwandwe a sua


autoridade. Os Ndwandwe eram comandados por Zwide. Na luta pelo
espaço Tchaka precisava expandir para o norte. Para isso reformou
todos os métodos de táctica e organização do seu exército. Tchaka
formou um estado tribal militar.

Tchaka tinha verificado durante a sua estadia no exército de


Dingiswayo que as armas empregadas já não correspondiam às novas
tácticas de guerra. Dantes eram pequenos grupos que combatiam mas
com a formação do exército por idade novas armas eram necessárias.
Quando eram pequenos grupos de homens que lutavam usavam
lanças que atiravam de longe. À medida que mais homens entravam
na luta, continuando a usar lanças, a maior parte dos homens ficava
desarmada.

Assim, a primeira modificação que Tchaka introduziu foi a de substituir


a lança que se atirava por uma lança mais curta de que o guerreiro se
servia como uma espada e que nunca a abandonava. Era punido de
morte o guerreiro que perdesse a sua lança-espada. Ao mesmo tempo
Tchaka introduziu o uso do escudo que protegia o corpo inteiro.

Tchaka transformou a organização tribal numa organização militar


unida, fazendo participar todos os membros da sociedade na guerra,
dividindo com precisão as funções e introduzindo uma disciplina
severa e cruel. Todos os homens de 16 a 60 anos serviam no exército.
Era proibido aos jovens guerreiros casar-se e o casamento só era
autorizado como pagamento de serviços militares. Os guerreiros só
comiam carne. As mulheres e as crianças serviam também no exército,
seguindo o exército com gado, cozinhando e carregando comida. Os
homens de outras tribos que eram feitos prisioneiros tornavam-se
escravos e se eram novos e fortes faziam parte do exército.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

As mulheres, as crianças e o gado das tribos derrotadas eram


incorporadas na tribo. No período entre guerras toda a tribo vivia em
grandes conjuntos militares (ekanda).

O chefe supremo era o chefe militar. Era ditador e proprietário de


todas as terras da tribo e tinha o direito de vida e de morte sobre os
membros da tribo. Era também o juiz supremo em casos de assassínio
e traição, crimes que eram punidos com a pena da morte. Todavia, o
poder ditador de Tchaka tinha os seus limites. Era controlado por
conselheiros (indunas) com os quais se devia reunir para tomar
decisões importantes.

Foi graças a esta organização militar perfeita que os zulus conseguiram


conquistar e derrotar numerosas outras tribos.

2.8.4 A batalha de Gokoli

Tchaka tornara-se senhor absoluto nas terras entre o rio Pongola e o


rio Tugela. Começou a desafiar o poder de Zwide, conseguindo fazer
com que várias tribos Ndwandwe começassem a prestar-lhe
vassalagem. Zwide não podia ficar parado perante um inimigo que se
preparava para conquistar-lhe as suas terras e por isso resolveu tomar
a iniciativa de atacar Tchaka.

Os dois exércitos encontraram-se perto da colina Gokoli. Nesta batalha


os novos métodos de guerra instituidos por Tchaka foram postos à
prova pela primeira vez. Os Ndwandwe eram numericamente
superiores mas a disciplina do exército zulu conferiuiu-lhe outra
superioridade. Os Ndwandwe não conseguiram penetrar nas linhas
cerradas dos zulus, apesar de terem atacado inúmeras vezes. Tiveram
de recuar deixando no campo de batalha cinco dos filhos de Zwide,
entre os quais o herdeiro.

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Zwide não desistiu de atacar. Sabia que travava com Tchaka um


combate decisivo. Ou ele vencia e podia continuar a reinar ou era
vencido por Tchaka e o seu povo ficaria sob o domínio zulu.

Assim em 1819 enviou contra Tchaka um exército poderosíssimo. Face


a um exército tão numeroso Tchaka teve que adaptar novas tácticas.

Tchaka enviou o seu povo e o seu gado para fechar a passagem ao


inimigo ao mesmo tempo que ia atacando o exército Ndwandwe com
pequenos destacamentos de guerreiros, numa táctica de guerrilhas.
Uma noite uma grande quantidade de guerreiros zulus conseguiu
penetrar no acampamento dos Ndwandwe, enquanto estes dormiam,
e mataram centenas de guerreiros. Antes dos Ndwandwe poderem
reagir os guerreiros zulus fugiram.

Ao mesmo tempo, Tchaka ia deixando o exército inimigo penetrar no


seu território quase até ao rio Tugela, continuando a fazer pequenos
ataques de guerrilhas, indo assim desmoralizando o exército inimigo. A
fome começou a lavrar no exército de Zwide e todos os homens
estavam muito cansados. Zwide então decidiu recuar e voltar para o
seu país.

Quando iam atravessar o rio Mhlatuze o exército de Tchaka caiu sobre


eles. Foram completamente derrotados. Tchaka enviou os seus
exércitos que entraram no país Ndwandwe e massacraram a maior
parte da população civil. O que restou do exército de Zwide dividiu-se
em três grupos. Zwide conseguiu chegar com alguns dos seus dos seus
homens até ao Alto Incomati onde se instalou. Dois outros grupos
dirigidos por Soshangane e Zwangedaba foram instalar-se em
Moçambique ao sul do Limpopo.

A batalha de Gokoli marca uma etapa decisiva na carreira de Tchaka e


foi o ponto de partida do que se chamou o Mfecane, ou sejam as

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migrações para o norte de muitas tribos Ngoni.

Tchaka passou desta forma a dominar em todo o território que ia


desde a DelagoaBay (Lourenço Marques) até ao rio Tugela.

UNIDADE Temática 2.9.Reinado de Tchaka

Depois da sua vitoriosa campanha contra os seus vizinhos do norte,


Tchaka resolveu atacar o sul. Várias expedições foram enviadas para
combater os Pondos. Conseguiu assim chegar até ao rio Fish.

Tendo conseguido formar um Império tão vasto, Tchaka começou a


reforçar a sua organização de Estado. Era difícil manter a lealdade sob
um conjunto de povos diferentes. Assim, os chefes das tribos
conquistadas se declarassem fiéis a Tchaka, continuavam nos seus
postos. Muitas vezes, porém, era-lhes tirado o poder e Tchaka
nomeava para o seu lugar pessoas da sua confiança.

A base do poder residia no exército. Tchaka criou uma série de


guarnições militares à frente das quais se encontrava sempre um
induna. Essas guarnições estendiam-se por todo o território e dessa
maneira Tchaka estava pronto contra qualquer rebelião dos povos
conquistados. Essas guarnições eram verdadeiros quartéis onde se
encontravam todos os militares que viviam na sanzala e que passavam
todo o tempo em exercícios militares.

Tchaka tornou-se um chefe cruel. Muitos dos seus generais (indunas)


não estavam satisfeitos com a disciplina de ferro que Tchaka impunha
no exército, sobretudo no que diz respeito ao casamento.

Vários indunas se revoltaram contra Tchaka. Um dos mais importantes


foi Mzilikazi que com os homens que formavam a sua sanzala desertou
da organização do estado de Tchaka e foi instalar-se para o noroeste

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onde é hoje a Rodésia, perto de Bulawayo.

Tchaka continuou a fazer campanhas militares sucessivas. Lembremo-


nos de que Zwide tinha sido derrotado em Gokoli e se refugiara no
Alto Incomati. Os Ndwandwe tinham conseguido reconstruir a sua
tribo e esta começava a ser muito forte sob o comando de Sikuniana,
filho de Zwide. Em 1826 Zwide morreu e um outro seu filho
Somapunga disputa o trono a Sikuniana.

Não tendo conseguido vai ter com os zulus e anuncia-lhes que


Sikuniana faz planos de atacar Tchaka. Este imediatamente manda um
grande exército que apanha os Ndwandwe quase desprevenidos. Um
grande massacre tem lugar e cerca de 40.000 Ndwandwe são mortos.
A tribo Ndwandwe ficou quase totalmente dizimada e deixou de existir
como tribo independente. Os poucos que restaram foram acolher-se
junto de Mzilikazi e Soshangane.

Tchaka continua a fazer ataques sucessivos contra os povos vizinhos.


Todos são obrigados a pagar-lhe anualmente tributos sob a forma de
cabeças de gado. As exigências de Tchaka são cada vez maiores e
muitas tribos não conseguem as vezes reunir o número de cabeças de
gado para satisfazer Tchaka.

As expedições punitivas aumentam e todo o Império zulu vive


mergulhado no terror. Várias tentativas de assassinato são feitas
contra Tchaka.

2.9.1 A morte de Tchaka

Em 1827 Tchaka decide ir atacar Soshangane que nessa altura se


encontrava perto de DelagoaBay (Lourenço Marques). Quando ia
quase a chegar a Lourenço Marques chegou-lhe a notícia de que sua
mãe Nandi morrera e Tchaka imediatamente mandou parar a
expedição e voltou.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Tchaka sentiu profundamente a morte de sua mãe, com quem vivera e


a quem tinha uma afeição sem medida. Em sinal de luto pela morte de
NandiTchaka ordenou uma série de sacrifícios. Durante um ano não se
faria agricultura, não se beberia leite nem comeria carne e todos se
deviam abster de relações sexuais. Toda a mulher que engravidasse
nesse período era morta, juntamente com o marido.

Tchaka nunca casara, porque um herdeiro fazia-lhe pensar na sua


própria morte. Toda a mulher que se engravidasse dele era morta.

O luto pela morte de Nandi provocou um grande descontentamento


em todo o povo. Toda a gente achava aqueles sacrifícios arbitrários e
desumanos.

Em 1828, aproveitando-se do descontentamento geral em todo o


Império, dois irmãos de Tchaka de nome Dingane e Mhlangane
ajudados por um induna Mbhope resolveram assassinar Tchaka. No
momento em que Tchaka tinha enviado uma parte dos seus exércitos
para atacar os Pondos numa expedição punitiva, Dingane e Mhlangane
assassinaram Tchaka. Foi Dingane quem sucedeu a Tchaka.

2.9.2 Guerra Anglo-Zulu

A Guerra Anglo-Zulu foi um conflito que aconteceu em 1879 entre o


Reino Unido da Grã-Bretanha, Irlanda e os Zulus.

Em 11 de dezembro de 1878, os britânicos entregaram um ultimato


aos onze chefes representados por Setshwayo.

Os termos incluíam a rendição de seu exército e aceitar a autoridade


britânica. Cetshwayo recusou e a guerra começou em 1879.

2.9.3 Batalha de Isandlwana.

Os zulus ganharam em 22 de janeiro a batalha de Isandlwana. A virada


dos britânicos veio com a batalha em Rorke'sDrift e sua vitória veio

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

com a batalha de Ulundy em 4 de Julho. Os britânicos venceram a


guerra e conquistaram o Império Zulu.

2.9.4 População

A população de zulus na África do Sul foi estimada em 8.778.000 1995,


correspondendo a 22.4% da população total do país ("TheEconomist").
Nos restantes países, o número de zulus é estimado em cerca de 400
mil.

A província sul-africana do KwaZulu-Natal é considerada a sua pátria


original. A língua dos zulus é denominada isiZulu

UNIDADE Temática 2.10.Reino da Numídia

A Numídia foi um antigo reino bérbere (202 aC - 46 aC) na atual


Argélia, e parte da Tunísia, que mais tarde alternou como estado-
cliente e província romana.

2.10.1 História

O nome da Numídia foi aplicado pela primeira vez por Políbio e outros
historiadores, no século III aC, para indicar o território a oeste de
Cartago, incluindo todo o norte da Argélia, na medida em que o rio
Mulucha( Muluya ), cerca de 100 quilômetros a oeste de Orã. Os
númidas foram divididos em dois grandes grupos tribais: os Massylii na
Numídia oriental, e os Masaesyli no oeste.

Durante a primeira parte da Segunda Guerra Púnica, o Massylii


orientais sob o seu rei Gala foram aliados de Cartago, enquanto o
Masaesyli ocidentais sob o rei Syphax foram aliados de Roma. No
entanto, em 206 aC, o novo rei dos Massylii orientais, Masinissa, aliou-
se a Roma.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Após a morte de Masinissa ele foi sucedido por seu filho Micipsa.
Quando Micipsa morreu em 118, ele foi sucedido pelos seus dois filhos
Hiempsal I, Adherbal e Jugurta, neto ilegítimo de Masinissa de origem
Líbia, que era muito popular entre os númidas. Hiempsal e Jugurtha
brigaram logo após a morte de Micipsa. A morte de Hiempsal levou
Jugurta à uma guerra aberta com Adherbal.

Após Jugurtha o derrotar em batalha, Adherbal fugiu para Roma para


obter ajuda. Os funcionários romanos, alegadamente devido a
subornos, mas talvez mais provável por causa de um desejo de acabar
rapidamente com o conflito em um reino cliente rentável, estabeleceu
a luta pela divisão Numidia em duas partes. Foi dada a Jugurtha a
metade ocidental.

2.10.2 Guerra com Roma

Por de 112 Jugurtha retomou sua guerra com Adherbal. Ele provocou
a ira de Roma, no processo, matando alguns homens de negócios
romanos que estavam ajudando Adherbal. Depois de uma breve
guerra com Roma, Jugurtha fez um tratado de paz altamente
favorável, o que levantou suspeitas de corrupção, mais uma vez.

O comandante romano local foi chamado a Roma para enfrentar


acusações de corrupção trazida pelo seu rival político GaiusMemmius.
Jugurtha também foi forçado a vir a Roma para testemunhar contra o
comandante romano, onde foi completamente desacreditado devido a
seu passado violento e cruel se tornar amplamente conhecido, e
depois de ter sido suspeito de assassinar um rival númida.

Irrompeu a guerra entre Numídia e República Romana e várias legiões


foram enviados para o Norte de África sob o comando do cônsul
Quinto Cecílio Metelo numidicus.

A guerra se arrastou por muito tempo e aparentemente interminável.


O tenente Metelo GaiusMarius a

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Roma para buscar a eleição como cônsul. Marius foi eleito, e depois
voltou para Numídia para assumir o controle da guerra. Ele enviou seu
questor LuciusCorneliusSulla a vizinha Mauritânia, a fim de eliminar o
seu apoio Jugurtha. Com a ajuda de Bocchus I da Mauritânia, Sulla
concluiu a guerra capturando Jugurtha. Jugurtha foi trazido para Roma
e preso em Tullianum.

Sumário

Neste segundo tema, sobre a Africa Oriental até seculo XV. Abordamos
desde a pré - história até seculo XV. Os reinos da África Oriental
estavam envolvidos no comércio do ouro produzido nos actuais
Zimbábue e
Moçambique, pela costa do oceano Índico.A riqueza e o poder
resultantes do comércio de ouro favoreceram a fundação, por volta do
século XIII, do Grande Zimbábue, que deixou imponentes vestígios
arqueológicos da sua antiga prosperidade.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

I. Do ponto de vista histórico, a validade da expressão “Idade da


Pedra”, Faça uma análise crítica.
II. Faça uma análise em torno da organização socio-política dos
impérios de Gana e Congo.

Exercícios para AVALIAÇÃO

1. Foi na parte oriental da África que o homem surgiu, há


aproximadamente 3 milhões de anos. Faça uma análise em
torno do surgimento do homem na região.
2. Refira o primeiro metal usado na Africa Oriental.
3. Refira as modificações que as sociedades San sofreram.
4. Caracterize os habitantes da África oriental na Late Stone Age.
5. Caracterize o império de Gana quanto a economia.
6. “Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes
brancos e que os soninquês teriam tomado o controlo do
Império”.Justifique a frase
7. Apresente a organização política de Gana.
8. Refira à via de sucessão do império de Gana.
9. Apresente a organização política dos Baguirmi.
10. Apresente a estrutura formal da sociedade Swahili.

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

11. Apresente as culturas desenvolvidas na civilização swahili.


12. Refira o principal produto de exportação Swahili.
13. Explique a formação do império do Congo.
14. Refira a relação que tinha os bakongos e portugueses.
15. Explique a formação do estado de Monomotapa.
16. Apresente a organização política dos Wolof.
17. Refira a base do poder do Tchaka.

Exercícios finais

1) Refira segundo G. Mortelmans (1955-1957) sobre a cronologia


do Quaternário da bacia do Zaire as bases cronológicas.
2) Refira as regiões que desenvolveram as culturas megalíticas na
África.
3) Na ausência de ossadas humanas, admite-se que a primeira
manifestação da presença do homem sejam os "seixos
lascados". Argumente a afirmação.
4) Caracterize a administração do reino de Congo.
5) Apresente as diferenças importantes entre as duas culturas do
império Cush.
6) Refira a cidade iorubá mais importante.
7) Refira a religião da maioria dos povos iorubás.
8) Apresente as unificações que o Reino de Merina estabeleceu.
9) Como o reino Ngoyo se desintegrou?
10) Foi na parte oriental da África que o homem surgiu, há
aproximadamente 3 milhões de anos. Faça uma análise em
torno do surgimento do homem na região.
11) Refira o primeiro metal usado na Africa Oriental.
12) Refira as modificações que as sociedades San sofreram.
13) Caracterize os habitantes da África oriental na Late Stone Age.
14) Caracterize o império de Gana quanto a economia.
15) “Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes
brancos e que os soninquês teriam tomado o controle do

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ISCED CURSO: História; 2º Ano Disciplina/Módulo: História da África Central e Oriental até o Século XV

Império”. Justifique a frase


16) Apresente a organização política de Gana.
17) Refira à via de sucessão do império de Gana.
18) Apresente a organização política dos Baguirmi.
19) Apresente a estrutura formal da sociedade Swahili.
20) Apresente as culturas desenvolvidas na civilização swahili.
21) Refira o principal produto de exportação Swahili.
22) Explique a formação do império do Congo.
23) Refira a relação que tinha os bakongos e portugueses.
24) Explique a formação do estado de Monomotapa.
25) Apresente a organização política dos Wolof.

26) Refira a base do poder do Tchaka

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Referências Bibliografia

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