Contexto histórico
Em inícios do século XX, em Portugal, a produção literária e plástica era ainda profundamente
marcada pelo classicismo racionalista e naturalista, em manifestações apáticas e decadentes, que
evidenciavam forte resistência à inovação. Ao monótono e decadente rotativismo político correspondia
uma não menos monótona e decadente produção intelectual. Os interesses materiais dos burgueses
sobrepunham-se aos interesses culturais, condicionando a liberdade de expressão.
A partir de certo momento, grupos de intelectuais portugueses organizaram-se em círculos de
contestação da velha ordem e iniciam-se no recurso a estratégias provocatórias e na resposta, por vezes
desabrida, às formas políticas e culturais conservadoras e reacionárias à modernidade. É o modernismo,
enquanto movimento estético e literário de rutura com o marasmo intelectual, que irrompe em Portugal em
uníssono com a arte e a literatura mais avançadas da Europa, sem prejuízo, todavia, da originalidade
nacional.
Modernismo não foi apenas produto de uma evolução estética: ele decorreu de todo um estado de
espírito formado pela cultura da época e que repercutiria em todas as artes, integrando literatura, pintura,
música arquitetura, cinema, etc. A primeira Guerra Mundial foi o grande divisor das águas.
Nesse contexto surgiram as vanguardas europeias, que antecederam e originaram o Modernismo
literário. Vanguarda vem do francês e significa extremidade dianteira dos exércitos em luta. E a literatura
de vanguarda foi realmente combativa, polémica, desbravadora e irreverente (Cubismo, Futurismo,
Dadaísmo, Surrealismo). Todas essas vanguardas tiveram um caráter agressivo, experimental, demolidor e
inovador. Combatiam o racionalismo e o objetivismo das teorias científicas do Realismo / Naturalismo /
Parnasianismo e pregavam o irracionalismo. Com isso, buscavam uma compreensão mais subjetiva do
homem, voltada mais para seu interior que para seu exterior.
Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço
de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram
demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o
conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais têm maior presença, não
proporcionaram abundância de público interessado nos novos eventos culturais.
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Literatura
Primeiro número de
ORPHEU - Revista Trimestral de Literatura,
Janeiro–Fevereiro–Março de 1915.
O modernismo na literatura foi praticado por duas gerações de intelectuais ligados a duas
publicações literárias: um primeiro modernismo surgido em 1915, em torno da revista Orpheu; um segundo
modernismo organizado em 1927, em torno da revista Presença.
Ainda antes destas, surgiram em Portugal revistas que propunham diferentes soluções estéticas e
políticas para recuperar o atraso português a este nível, como a Nação Portuguesa, de feição conservadora,
e a Seara Nova, de tendências mais progressistas e democráticas. Nesta revista colaboraram investigadores
como o historiador Jaime Cortesão, António Sérgio e os escritores Aquilino Ribeiro e Raul Brandão.
Revista Orpheu (Orphismo)
Os únicos dois números de Orpheu - Revista Trimestral de Literatura, lançados em Março e Junho
de 1915, marcaram a introdução do modernismo em Portugal. Tratava-se de uma revista onde Mário de Sá-
Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa, entre outros intelectuais de menor vulto, subordinados às
novas formas e aos novos temas, publicaram os seus primeiros poemas de intervenção na contestação da
velha ordem literária; o primeiro número provocou o escândalo e a troça dos críticos, conforme era desejo
dos autores; o segundo número, que já incluiu também pinturas futuristas de Santa-Rita Pintor, suscitou as
mesmas reações. Perante o insucesso financeiro, a revista teve de fechar portas, pois quem custeava as
publicações era o pai de Mário de Sá Carneiro e este cometeu suicídio em 1916. No entanto, não se desfez
o movimento organizado em torno da publicação. Pelo contrário, reforçou-se com a adesão de novos
criadores e passou a desenvolver intensa atividade na denúncia inconformista da crise de consciência
intelectual disfarçada pela mediocridade académica e provinciana da produção literária instalada na cultura
portuguesa desde o fim da geração de 70, de queJúlio Dantas (alvo do Manifesto Anti-Dantas, de Almada)
constituía um bom exemplo.
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Revista Presença (Presencismo)
Primeiro número da revista
Presença - Folha de Arte e Crítca,
Coimbra, 10 de Março de 1927.
A revista Presença - Folha de Arte e Crítica, foi fundada em 1927, em Coimbra, por Branquinho da
Fonseca, João Gaspar Simões e José Régio. Não obstante ter passado tempos difíceis, não só financeira
como intelectualmente, foi publicada até 1940 demonstrando grande longevidade. O movimento que surgiu
em torno desta publicação inseriu-se intelectualmente na linha de pensamento e intervenção iniciada com o
movimento Orpheu, que acabou por integrar. Continuou a luta pela crítica livre contra o academismo
literário e, inspirados na psicanálise de Freud, os seus intelectuais bateram-se pelo primado do individual
sobre o coletivo, do psicológico sobre o social, da intuição sobre a razão. Além da produção nacional, a
presença divulgou também textos de escritores europeus, sobretudo franceses. Alguns dos escritores deste
Segundo Modernismo foram: Miguel Torga, Adolfo Casais Monteiro, Aquilino Ribeiro, Ferreira de
Castro,Vitorino Nemésio, Pedro Homem de Mello, Tomás de Figueiredo e Eça Leal.
Neorrealismo
Jovens estudantes de Coimbra adotam o combativismo da Geração de 70, cujo socialismo utópico
denunciam e iniciam-se no combate à opressão, inspirados pelo socialismo marxista. É nesta conjuntura
que surgem em Portugal os primeiros cultores do neorrealismo ou realismo social, claramente em rutura
com o individualismo e intelectualismo psicológico do movimento Presença. Ferreira de Castro, nos seus
romances Emigrantes e A Selva, introduz a análise de problemas de natureza social, trata as populações que
emigram, que se empregam e desempregam. Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Manuel da
Fonseca, Álvaro Cunhal, Mário Dionísio, José Gomes Ferreira, entre outros, continuam a tratar os
problemas, as tristezas e as misérias do povo laborioso esmagado pela ganância de uma minoria de
representantes do capital, adaptando à realidade nacional o rigor formal e temático dos
escritores neorrealistas europeus.
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