Estudar Filosofia
• Epistemologia
A epistemologia é uma das disciplinas centrais da Filosofia: estuda problemas como o da
natureza e da possibilidade do conhecimento. A palavra epistemologia tem a sua raiz no termo
grego episteme, que significa conhecimento.
• Tipos de conhecimento
saber-fazer (domínio de uma competência, domínio prático)
Ex.: Saber nadar;
Saber apertar os atacadores;
Saber cozinhar…
saber-que conhecer é proposicional (um saber técnico, um conhecimento através de
preposições)
Ex.: Saber que a capital de Portugal é Lisboa
Saber que 2+2=4
Saber que triangulo equilátero tem três lados iguais
saber por contacto (é um conhecimento direto, é um conhecimento que aplica uma vivência)
Ex.: Conhecer o professor de filosofia
Conhecer Paris
Conhecer o livro
• A definição tradicional de conhecimento
Segundo a definição tradicional do conhecimento proposicional, apresentada por Platão, há
três condições necessárias para o conhecimento: crença, verdade e justificação.
Separadamente, não são condições suficientes para o conhecimento, mas, conjuntamente,
de acordo com esta teoria, são condições suficientes para o conhecimento.
• Teoria da CVJ (Platão)
Crença – acreditar em algo
(A crença é, desta forma, uma condição necessária para haver conhecimento: quando eu sei
algo, acredito nesse algo. Mas a crença não é uma condição suficiente para o conhecimento:
saber e acreditar são coisas distintas).
Verdade – factual, real…
(A verdade é uma condição necessária para haver conhecimento. O conhecimento é factivo, o
que significa que não podemos saber algo que é falso: saber algo implica a verdade daquilo
que sabemos. Mas a crença verdadeira não é uma condição suficiente para o conhecimento)
Justificação – comprovação
(A justificação é uma condição necessária para o conhecimento. No entanto, a justificação não
é uma condição suficiente para o conhecimento, porque ter boas razões para acreditar em
algo não garante que essa crença seja verdadeira.
Nota: Segundo Platão só há conhecimento se existir a crença, a verdade e a
justificação. Assim sendo, nenhuma destas condições pode justificar por si só o conhecimento.
• Contraexemplo de Gettier à definição tradicional de conhecimento
Edmund Gettier refuta a definição tradicional de conhecimento de Platão, propondo
situações hipotéticas em que as pessoas têm crenças verdadeiras justificadas e, no entanto,
não têm conhecimento. Os contraexemplos de Edmund Gettier mostram que, apesar de a
crença em causa ser verdadeira e estar justificada, a justificação que o sujeito tem para essa
crença não se baseia nos aspetos relevantes da realidade que tornam a sua crença
verdadeira.
• As fontes de justificação do conhecimento
Como justificamos as nossas crenças?
» Razão (faculdade, pensamento)
» Experiência (órgãos senso riais)
• Conhecimento a priori
Um conhecimento é a priori se o podemos adquirir recorrendo apenas ao pensamento e
independentemente da experiência.
(Conhecimento- universal, certo, garantia da verdade, objetivo)
Nota: Neste tipo de conhecimento, a fonte de justificação das nossas crenças é o
pensamento ou a razão, na medida em que é um conhecimento que se pode obter
independentemente dos sentidos. Para sabermos que “A metade de quatro é dois.”, não
precisamos de recorrer aos sentidos, é possível usarmos apenas o raciocínio.
• Conhecimento a posteriori
Um conhecimento é a posteriori se só o podemos adquirir pela experiência.
(Conhecimento- subjetivo, não é certo, na dá garantia da ver dade)
Nota: Neste tipo de conhecimento, a fonte de justificação das nossas crenças é a
experiência – a informação que obtemos a partir dos sentidos. É também chamado de
conhecimento empírico (decorrendo da experiência). Não é possível sabermos, por exemplo,
que “A neve é branca.” através apenas do pensamento ou do raciocínio. Precisamos de recorrer
aos sentidos para obter e justificar a crença.
• Racionalismo e empirismo
O racionalismo atribui ao conhecimento a priori um papel fundamental, desvalorizando o
papel dos sentidos. O primado está na razão, que, por si só, garante a aquisição e justificação
do conhecimento.
O empirismo, por sua vez, atribui o papel fundamental à experiência e aos sentidos. Os
empiristas enfatizam o conhecimento a posteriori e desvalorizam o conhecimento a priori, o
qual consideram que nada nos diz acerca do mundo.
• Fundacionalismo
Tanto o racionalismo como o empirismo se enquadram naquilo a que se pode chamar de
fundacionalismo.
O fundacionalismo é a perspetiva segundo a qual o conhecimento está alicerçado em
fundamentos certos, seguros e indubitáveis - as crenças básicas. Tais fundamentos podem
encontrar-se na razão (racionalismo) ou na experiência (empirismo).
Para um fundacionalista, renunciar a esta base significa inviabilizar a possibilidade de
justificar qualquer crença ou conhecimento.
• É possível conhecer?
• A resposta cética
O ceticismo é a ideia de que nenhuma fonte de justificação do conhecimento é
satisfatória, quer seja ela a razão, quer seja ela a experiência.
Nota: Ceticismo é uma doutrina filosófica que defende que não há conhecimento. O
conhecimento não é possível. Estes utilizam a dúvida como processo.
• Razões para a suspensão do juízo
Uma das principais fontes de informação sobre o ceticismo são os escritos de Sexto Empírico,
nas obras Hipóteses Pirrónicas e Contra os Professores, as quais exerceram uma enorme
influência na emergência da filosofia moderna, nomeadamente em Descartes e Hume.
Sexto Empírico expôs os principais argumentos céticos para duvidar: divergência de
opiniões, ilusão e regressão infinita da justificação.
Cinco razões para a suspensão do juízo:
Incerteza das Proposições: Muitas questões filosóficas e científicas são debatidas sem
consenso claro, tornando difícil alcançar a verdade.
Equilíbrio entre Argumentos Opostos: Há frequentemente argumentos válidos tanto a favor
quanto contra uma proposição, o que justifica a suspensão de juízos.
Evitar Ansiedade: A procura pela verdade pode causar angústia; suspender o juízo permite
uma vida mais tranquila e menos estressante.
Foco na Experiência: A prática enfatiza a importância da observação e experiência, evitando
compromissos com teorias não fundamentadas.
Caminho para a Tranquilidade: A suspensão do juízo é vista como uma forma de alcançar a
ataraxia, um estado de imperturbabilidade e paz mental, livre de inquietações.
• Argumentos
Divergência de opinião:
» Não há consensos e por isso cada um julga o que quiser;
» Não há conhecimento absolutamente certo nem universal.
Ilusão:
» Os sentidos levam o erro;
» Os sentidos não são fiáveis;
» Os sentidos enganam-nos.
Então os sentidos não são uma fonte segura de justificação de conhecimento.
Regressão infinita:
» A crença é justificada noutra crença, e assim sucessivamente.
Então, estaremos numa regressão infinita de justificação
• Descartes e a resposta racionalista
O fundacionalismo cartesiano
Descartes é um fundacionalista racionalista. Considera que o conhecimento tem um
fundamento racional e que a razão é a fonte de justificação última das nossas crenças.
Para Descartes, todas as nossas crenças terão de der submetidas à dúvida. O objetivo é
encontrar crenças indubitáveis.
• Dúvida
O que é a dúvida? A dúvida é questionarmos e pôr mos em causa.
Função da dúvida: Alcançar a verdade
Características da dúvida: A dúvida é um estado de incerteza ou hesitação em relação à
verdade. As suas principais características são:
1. Incerteza ou hesitação sobre uma questão.
2. Questionamento crítico das crenças estabelecidas.
3. Falta de evidência ou de justificações suficientes.
4. Suspensão do juízo, evitando decisões definitivas.
5. Estímulo à investigação, incentivando a procura por mais conhecimento.
6. Temporalidade, podendo ser temporária ou persistente.
A dúvida é essencial tanto para a reflexão crítica como para o progresso do conhecimento.
• A dúvida metódica
A dúvida é, pois, um instrumento colocado ao serviço da verdade:
1. É metódica, porque é um meio para alcançar um conhecimento certo e indubitável. É um
instrumento da razão que permite evitar o erro.
2. É provisória, porque o objetivo não é concluir que tudo é duvidoso, mas que há crenças
indubitáveis. Como tal, é abandonada, uma vez alcançado o objetivo de encontrar crenças
fundacionais.
3. É universal, porque todas as crenças são submetidas à dúvida (a posteriori e a priori).
4. É hiperbólica, porque é exagerada: leva a supor que é falso tudo o que possa levantar a mais
pequena dúvida.
• Submissão das crenças ao teste da dúvida metódica
Descartes decide analisar os princípios fundamentais de cada um dos domínios do
conhecimento, dado que a tarefa de analisar todas as nossas crenças seria interminável. Se
esses princípios se revelarem falsos, também as crenças que neles se baseiam são rejeitadas.
• Crenças a posteriori
As crenças a posteriori são as primeiras a serem submetidas ao teste da dúvida. Assim,
Descartes começa por aceitar o argumento cético da ilusão: os sentidos já nos enganaram
algumas vezes e já nos fizeram assumir como verdadeiro algo que depois verificamos ser falso.
Assim, não passam o teste da dúvida, pois, embora não nos enganem sempre, não sabemos
com rigor quando nos estão a enganar. Temos, portanto, de ser cautelosos ao confiar na
experiência sensorial como fonte de verdade ou de justificação das nossas crenças.
• Crenças a priori
A hipótese do génio maligno é uma experiência mental através da qual Descartes imagina
que existe uma espécie de deus enganador, que se diverte em manipular sistematicamente os
nossos pensamentos sem que nos apercebamos disso. É um génio, porque o seu poder é
idêntico ao de um deus, mas não é um deus, porque é enganador.
Através desta experiência mental, as crenças a priori não passam o teste da dúvida
metódica, já que este génio maligno conseguiria fazer-nos acreditar que são verdadeiras
proposições que podem ser falsas, como uma proposição matemática. Descartes não afirma
que o génio maligno existe mesmo, mas basta a hipótese da sua existência para duvidarmos
também destas crenças.
Descartes derrubou, desta a forma, todo o edifício do conhecimento do seu tempo.