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A Bossa Nova

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A bossa nova é um movimento da música popular brasileira surgido no final da década de 1950 na capital fluminense.

De início, o
termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba naquela época. Anos depois, Bossa Nova se tornaria um dos gêneros
musicais brasileiros mais conhecidos em todo o mundo, especialmente associado a João Gilberto, Vinicius de Moraes, Antonio Carlos
Jobim e Luiz Bonfá.

A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a
prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa nova passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles
sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.

Alguns críticos musicais destacam a grande influência que a cultura americana do Pós-Guerra, de músicos como Stan Kenton,
combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do cool jazz e bebop. Embora tenha
influência de música estrangeira, possui elementos de samba sincopado. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o
formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave
e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que
fizeram a Bossa Nova.

Um embrião do movimento, já na década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe
média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez
mais freqüentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores
da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando,
abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre outros.

Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário,
pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.

No final de 1957, numa destas apresentações, no Colégio Israelita-Brasileiro, teria havido a idéia de chamar o novo gênero - então
apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz - , através de um recado escrito num quadro-negro,
provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para uma apresentação de samba-sessions por uma turma
“bossa-nova”. No evento participaram Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça, onde foram
anunciados como “(...) grupo bossa nova apresentando sambas modernos”.

Início oficial
Vinicius de Moraes, principal letrista de canções da bossa nova a partir de “Chega de Saudade”, composição feita com Tom Jobim em
1958 e que consagrou o estilo.

Movimento que ficou associado ao crescimento urbano brasileiro - impulsionado pela fase desenvolvimentista da presidência de
Juscelino Kubitschek (1955-1960) -, a bossa nova iniciou-se para muitos críticos quando foi lançado, em agosto de 1958, um compacto
simples do violonista baiano João Gilberto (considerado o papa do movimento), contendo as canções Chega de Saudade (Tom Jobim e
Vinicius de Moraes) e Bim Bom (do próprio cantor).

Meses antes, João participara de Canção do Amor Demais, um álbum lançado em maio daquele mesmo ano e exclusivamente dedicado
às canções da iniciante dupla Tom/Vinicius, interpretado pela cantora fluminense Elizeth Cardoso. De acordo com o escritor Ruy Castro
(em seu livro Chega de saudade, de 1990), este LP não foi um sucesso imediato ao ser lançado, mas o disco pode ser considerado um
dos marcos da bossa nova, não só por ter trazido algumas das mais clássicas composições do gênero - entre as quais, Luciana, Estrada
Branca, Outra Vez e Chega de Saudade-, como também pela célebre batida do violão de João Gilberto, com seus acordes dissonantes e
inspirados no jazz norte-americano - influência esta que daria argumentos aos críticos da bossa nova.

Outras das características do movimento eram suas letras que, contrastando com os sucessos de até então, abordavam temáticas leves e
descompromissadas - exemplo disto, Meditação, de Tom Jobim e Newton Mendonça. A forma de cantar também se diferenciava da que
se tinha na época. Segundo o maestro Júlio Medaglia, “desenvolver-se-ia a prática do canto-falado ou do cantar baixinho, do texto bem
pronunciado, do tom coloquial da narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização
da ‘grande voz’”.

Em 1959, era lançado o primeiro LP de João Gilberto, Chega de saudade, contendo a faixa-título - canção com cerca de 100 regravações
feitas por artistas brasileiros e estrangeiros. A partir dali, a bossa nova era uma realidade. Além de João, parte do repertório clássico do
movimento deve-se as parcerias de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Consta-se, segundo muitos afirmam, que o espírito bossa-novista
já se encontrava na música que Jobim e Moraes fizeram, em 1956, para a peça Orfeu da Conceição, primeira parceria da dupla, que
esteve perto de não acontecer, uma vez que Vinícius primeiro entrou em contato com Vadico, o famoso parceiro de Noel Rosa e ex-
membro do Bando da Lua, para fazer a trilha sonora. É dessa peça, baseada na tragédia Grega Orfeu, uma das belas composições de
Tom e Vinícius, “Se todos fossem iguais a você”, já prenunciando os elementos melódicos da Bossa Nova.

Além de Chega de saudade, os dois compuseram Garota de Ipanema, outra representativa canção da bossa nova, que se tornou a canção
brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de Aquarela do Brasil (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, entre as quais de
Sarah Vaughan, Stan Getz, Frank Sinatra (com Tom Jobim), Ella Fitzgerald entre outros. É de Tom Jobim também, junto com Newton
Mendonça, as canções Desafinado e Samba de uma Nota Só, dois dos primeiros clássicos do novo gênero musical brasileiro a serem
gravados no mercado norte-americano a partir de 1960.
Reconhecimento

Com o passar dos anos, a bossa nova que no Brasil era inicialmente considerada música de “elite” (cultural), tornou-se cada vez mais
popular com o público brasileiro, em geral. Em 1962, foi realizado um histórico concerto no Carnegie Hall de Nova Iorque, consagrando
mundialmente o estilo musical. Deste espetáculo, participaram, entre outros, Tom Jobim, João Gilberto, Oscar Castro Neves, Agostinho
dos Santos, Luiz Bonfá, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Chico Feitosa, Normando Santos, Milton Banana, Sérgio
Ricardo, além de artistas que pouco tinham a ver com a bossa nova, como o pianista argentino Lalo Schifrin.

Mudanças

Em meados da década de 1960, o movimento apresentaria uma espécie de cisão ideológica, formada por Marcos Valle, Dori Caymmi,
Edu Lobo e Francis Hime e estimulada pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Inspirada em uma visão popular e nacionalista, este
grupo fez uma crítica das influências do jazz norte-americano na bossa nova e propôs sua reaproximação com compositores de morro,
como o sambista Zé Ketti. Um dos pilares da bossa, Carlos Lyra, aderiu a esta corrente, assim como Nara Leão, que promoveu parcerias
com artistas do samba como Cartola e Nelson Cavaquinho e baião e xote nordestinos como João do Vale. Nesta fase de releituras da
bossa nova, foi lançado em 1966 o antológico LP “Os Afro-sambas”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell.

Entre os artistas que se destacaram nesta segunda geração (1962-1966) da bossa nova estão Paulo Sérgio Valle, Edu Lobo, Ruy Guerra,
Pingarilho, Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi, Nelson Motta, Francis Hime, Wilson Simonal, entre outros.

Fim do movimento, da bossa à MPB

Um dos maiores expoentes da bossa nova comporia um dos marcos do fim do movimento. Em 1965, Vinícius de Moraes compôs, com
Edu Lobo, Arrastão. A canção seria defendida por Elis Regina no I Festival de Música Popular Brasileira (da extinta TV Excelsior),
realizado no Guarujá naquele mesmo ano. Era o fim da bossa nova e o início do que se rotularia MPB, gênero difuso que abarcaria
diversas tendências da música brasileira até o início da década de 1980 - época em que surgiu um pop rock nacional renovado.

A MPB nascia com artistas novatos, da segunda geração da bossa nova, como Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda,
que apareciam com freqüência em festivais de música popular. Bem-sucedidos como artistas, eles tinham pouco ou quase nada de bossa
nova. Vencedoras do II Festival de Música Popular Brasileira, realizado em São Paulo em 1966, Disparada, de Geraldo, e A Banda, de
Chico, podem ser consideradas marcos desta ruptura e mutação da bossa em MPB.

Legado

Hoje em dia, inúmeros concertos dedicados à bossa nova são realizados, entre os quais, entre 2000 e 2001, os intitulados 40 anos de
Bossa Nova, com Roberto Menescal e Wanda Sá.

O fim cronológico da bossa não significou a extinção estética do estilo. O movimento foi uma grande referência para gerações
posteriores de artistas, do jazz (a partir do sucesso estrondoso da versão instrumental de Desafinado pela dupla Stan Getz e Charlie
Byrd) a uma corrente pós punk britânica (de artistas como Style Council, Matt Bianco e Everything but the Girl).

No rock brasileiro, há de se destacar tanto a regravação da composição de Lobão, Me chama, pelo músico bossa-novista João Gilberto,
em 1986, além da famosa música do cantor Cazuza composta por ele e outros músicos, Faz parte do meu show, gravada em 1988, com
arranjos fortemente inspirados na Bossa Nova.

Seu legado é valioso, deixando várias jóias da música nacional, dentre as quais Chega de Saudade, Garota de Ipanema, Desafinado, O
barquinho, Eu Sei Que Vou Te Amar, Se Todos Fossem Iguais A Você, Águas de março, Outra Vez, Coisa mais linda, Corcovado,
Insensatez, Maria Ninguém, Samba de uma nota só, O pato, Lobo Bobo, Saudade fez um Samba

Artistas do movimento:

Alaíde Costa, Antônio Carlos Jobim, Astrud Gilberto, Baden Powell, Carlos Lyra, Claudette Soares, Danilo Caymmi,
Elizeth Cardoso, Johnny Alf, João Donato, João Gilberto, Luís Bonfá, Luiz Eça, Marcos Valle, Maysa, Miúcha,
Nara Leão, Newton Mendonça, Os Cariocas, Oscar Castro Neves, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Sergio Mendes,
Sylvia Telles, Stan Getz, Vinicius de Moraes, Zimbo trio.
O Samba na teoria [http://www.palmares.gov.br/?p=2374&lang=en]

O samba é a principal forma de música de raízes africanas surgida no Brasil. O nome “samba” é, provavelmente, originário do nome
angolano semba, um ritmo religioso, cujo nome significa umbigada, devido à forma como era dançado.

O samba comum é caracterizado por uma seção de ritmo contendo a marcação, geralmente surdo ou tantan, o `coração do samba`; e seu
núcleo mais importante é geralmente reconhecido como cavaco e pandeiro. O cavaquinho é a conexão entre a seção de harmonia e a
seção de ritmo, e costuma ser reconhecido como um dos instrumentos harmônicos mais percussivos existentes; sua presença, via de
regra, diferencia o verdadeiro samba de variações mais suaves como a Bossa Nova (embora haja algumas gravações de samba que não
usem o cavaco, e.g. de Chico Buarque).

O pandeiro é o instrumento percussivo mais presente, aquele cuja batida é a mais completa. Um violão está sempre presente, e a maneira
de tocar violão no samba popularizou o violão de 7 cordas, por causa das sofisticadas linhas de contraponto utilizadas no gênero nas
cordas mais graves. As letras falam basicamente de qualquer coisa, já que o samba é o ritmo nacional brasileiro. Esse subgênero engloba
todos os outros.

O samba de partido alto é utilizado para denominar um tipo de samba que é caracterizado por uma batida de pandeiro altamente
percussiva, com uso da palma da mão no centro do instrumento para estalos. A harmonia do partido alto é sempre em tom maior.
Geralmente tocado por um conjunto de instrumentos de percussão (normalmente surdo, pandeiro e tamborim) e acompanhado por um
cavaquinho e/ou por um violão, o partido alto costuma ser dividido em duas partes, o refrão e os versos. Partideiros costumam improvisar
nos versos, com disputas comuns, e improvisadores talentosos fizeram sua fama e carreira no samba, como Zeca Pagodinho, que é não
só um grande sambista de propósito geral como um dos melhores improvisadores.

O pagode é a forma de samba que se difunde entre as periferias dos centros urbanos do Brasil, surgida nos anos 80 com a introdução de
três novos instrumentos, o banjo, o tantan e o repique de mão. Usualmente é cantado por uma pessoa acompanhada por cavaquinho,
violão e pelo menos por um pandeiro. As letras são descontraídas, falam normalmente de amor ou qualquer situação engraçada. Quase
sempre as letras não tem grande expressão, sendo maior preocupação a aliteração do que o conteúdo.

O neo-pagode é uma nova modalidade de Pagode surgida nos anos 1990 que se mistura com Axé Music. Este derivado do samba
portanto, apresenta elementos do Axé como tamborins baianos, agogô e às vezes berimbau metalizado, apesar de manter os instrumentos
do Pagode. Alguns grupos, como Gera Samba, continuaram a tocar Pagode tradicional, já outros apresentam o neo-pagode tipificado
como Olodum & Samba.

O samba de breque hoje é um gênero morto, as músicas do samba de breque eram intercaladas com partes faladas, ou diálogos. Os
cantores, necessariamente, tinham um excelente dom vocal e habilidade de fazer vozes diferentes. As letras contavam histórias e eram
jocosas. O samba-canção foi muito executado nas rádios, com grande influências do estilo e da melodia do bolero e ballad americano.
As canções deste gênero são românticas e de ritmo mais lento. Os temas variam do puramente lírico ao trágico.

O samba-exaltação é caracterizado por composições “meta-regionais”, o ufanismo observado nas composições exalta por assim dizer a
cultura do país e não um folclore específico, constituindo o primeiro momento de exportação da música popular sem precedentes na
história, apresentando as cores, a aquarela do país ao resto do mundo. Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, é a composição que inaugura
esse estilo de samba. Carmen Miranda destaca-se como uma das grandes expoentes.

O samba enredo é o estilo cantado pelas escolas de samba durante os desfiles de carnaval. A letra do samba-enredo, normalmente, conta
uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da apresentação da escola de samba. Em geral, a música é cantada por um
homem, acompanhado sempre por um cavaquinho e pela bateria da escola de samba, produzindo uma textura sonora complexa e densa,
conhecida como batucada.

A bossa nova é um estilo originalíssimo de samba brasileiro que surgiu na década de 1960. Este estilo é uma fusão dos estilos do jazz
com o samba. Durante muitos anos foi o samba das praias e bares do Rio de Janeiro. A Bossa Nova foi bem original no seu estilo
criativo, pois introduziu o repique de mão e a viola eletrônica, imitando a guitarra nos tons mais finos, fazendo uma melodia com forte
influência das melodias americanas mescladas com batidas abrasileiradas. As interpretações são marcadas por um tom suave, intimista
ou sussurrado. Gravado em 1958 o LP Canção do Amor Demais, é considerado axial para a inauguração deste movimento, surgido em
1957. O antológico LP trazia ainda, também da autoria de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, Chega de saudade, Luciana, Estrada branca,
Outra vez. A melodia ao fundo foi composta com a participação de um jovem baiano que tocava seu violão de maneira original, inédita:
o jovem João Gilberto.
Bossa nova (Dicionário Cravo Albin da MPB)

Inicialmente este termo referia-se a um jeito de cantar e tocar, até tornar-se sinônimo de um dos gêneros musicais brasileiros mais
conhecidos em todo o mundo. No final do ano de 1957, um show realizado por Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto
Menescal e Luiz Eça no Clube Hebraica (RJ) já era anunciado como “... grupo bossa nova apresentando sambas modernos”. Considerada
uma nova forma de tocar samba, a bossa nova foi criticada pela forte influência norte-americana, traduzida nos acordes dissonantes
comuns ao jazz. A letra das canções contrastava com as das canções de sucesso até então, abordando temas leves e descompromissados,
definidos através da expressão “o amor, o sorriso e a flor”, que faz parte da letra de “Meditação”, de Tom Jobim e Newton Mendonça,
e que foi utilizada para caracterizar a poesia bossa-novista. Outra característica foi a forma de cantar, também contrastante com a que
se tinha na época: “desenvolver-se-ia a prática do 'canto-falado' ou do 'cantar baixinho', do texto bem pronunciado, do tom coloquial da
narrativa musical, do acompanhamento e canto integrando-se mutuamente, em lugar da valorização da 'grande voz'“ (MEDAGLIA,
Júlio. in CAMPOS, Augusto de. “Balanço da bossa e outras bossas”. São Paulo: Perspectiva, 1993, p. 72).

A bossa nova nasceu casualmente, fruto de encontros da classe média carioca em apartamentos ou casas residenciais da zona sul, onde
as pessoas se reuniam para fazer e ouvir música, e que se tornaram muito freqüentes a partir de 1957. O apartamento da família Leão,
situado na Avenida Atlântica, em Copacabana, sediou muitos desses encontros. Na época, Nara, que se tornou a musa da bossa nova,
então com pouco mais que 15 anos de idade, costumava receber Carlos Lyra e Roberto Menescal, entre outros amigos. O grupo foi
aumentando, passando também a ser integrado por Ronaldo Bôscoli, Chico Feitosa, Luiz Carlos Vinhas, os irmão Mário, Oscar, Iko e
Léo Castro Neves e João Gilberto, entre outros. João Gilberto tornou-se a grande referência da bossa nova por ter “inventado” a batida
do violão. A nova batida podia ser ouvida nas faixas “Chega de saudade” (Tom Jobim e Vinícius de Morais) e “Outra vez” (Tom Jobim),
no LP de Elizeth Cardoso “Canção do amor demais”, lançado em 1958, no qual João Gilberto gravou o acompanhamento de violão que
caracterizaria a batida da bossa nova e que o tornaria conhecido no mundo inteiro. O LP, gravado pelo selo Festa, foi inteiramente
dedicado à nova dupla de compositores Tom e Vinícius, mas na verdade a estrela do disco era Vinícius, visto que o interesse era o de
gravar suas poesias. Segundo Ruy Castro (CASTRO, Ruy. “Chega de saudade”. São Paulo: Companhia das Letras, 1990) este disco
“ao contrário do que se pensa hoje, não foi um sucesso quando saiu em maio de 1958” (p.175). No mesmo ano, João Gilberto gravou
um 78 rpm contendo “Chega de saudade” e sua composição “Bim-Bom” e, no ano seguinte, lançou o LP “Chega de saudade”. Essa
música conta com cerca de 100 regravações, realizadas por artistas nacionais e estrangeiros. Segundo Tom Jobim: “A bossa nova de
'Chega de saudade' está quase toda na harmonia, nos acordes alterados, pouco utilizados por nossos músicos da época, e na nova batida
de violão executada por João Gilberto” (SEVERIANO, Jairo, HOMEM DE MELLO, Zuza. “A canção no tempo” vol. 2. São Paulo:
34, 1998, pp. 20-22). João Gilberto foi e ainda é referência para músicos de diversas gerações, incluindo Caetano Veloso, que assegura
ter-se decidido a seguir carreira musical após ouvi-lo pela primeira vez.

Por essa época, Tom Jobim já era músico conhecido na noite carioca. Sua obra contém músicas que fazem parte do repertório clássico
da bossa nova, como “Desafinado” e “Samba de uma nota só”, compostas em parceria com Newton Mendonça, e que seriam os dois
primeiros temas da bossa nova a entrarem e serem gravados no mercado norte-americano a partir de 1960. Ao lado de Vinicius de
Moraes compôs, além de “Chega de saudade”, outra das mais representativas deste gênero, “Garota de Ipanema”, que se tornou a canção
brasileira mais conhecida em todo o mundo, depois de “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso), com mais de 169 gravações, incluindo a
primeira, realizada em 1963 por Tom Jobim (Verve), a de Sarah Vaughan em 1964 (Mercury), a de Stan Getz em 1966 (RCA Victor),
a de Frank Sinatra e Tom Jobim em 1967 (Reprise), e a de Ella Fitzgerald em 1971 (Pablo), entre as de outros artistas nacionais e
estrangeiros. Em 1962, foi realizado o histórico concerto no Carnegie Hall de Nova York, com a presença de Tom Jobim e João Gilberto,
entre outros, inclusive o violonista Bola Sete, a cantora Carmen Costa, o percussionista José Paulo e o pianista argentino Lalo Schifrin,
que pouco tinham a ver com a bossa nova. Por outro lado, apresentaram-se também Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, Luiz
Bonfá, Carlos Lyra, Sexteto Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Chico Feitosa, Normando Santos, Milton Banana e Sérgio Ricardo. O
espetáculo abriu as portas do mundo para este gênero. No cartaz, o evento intitulava-se “Bossa Nova - New Brazilian Jazz”. O show foi
transmitido ao vivo para o Brasil pela Rádio Bandeirantes. Ressaltam-se como precurssores da bossa nova, entre outros, Garoto, Bola
Sete, Laurindo de Almeida, Luís Bonfá, João Donato, Janet de Almeida, Djalma Ferreira, Johnny Alf, Dolores Duran, Dick Farney,
Lúcio Alves, Agostinho dos Santos, Dóris Monteiro, Elizeth Cardoso, Maysa, Silvinha Telles e Tito Madi. Numa primeira fase (1958-
1962) destacam-se, além de Tom e Vinícius, compositores como Newton Mendonça, Aloysio de Oliveira, Billy Blanco, Carlos Lyra,
Baden Powell, Oscar Castro Neves, Roberto Mesnescal, Ronaldo Bôscoli, Durval Ferreira, Maurício Einhorn, Geraldo Vandré, Sérgio
Ricardo, Sérgio Mendes, Luiz Eça e Chico Feitosa. Os conjuntos vocais foram muito freqüentes nessa época, ressaltando-se Os Cariocas,
que inicialmente era formado por Ismael Neto, Severino Filho, Badeco, Waldir Viviani e Quartera, e posteriormente como quarteto,
sem Ismael Neto, que morreu logo no início da bossa nova, e em seguida com a substituição de Waldir Viviani por Luiz Roberto. Numa
segunda fase (1962-1966), destacam-se aqueles que podem ser considerados os filhos da bossa nova, como os irmãos Marcos e Paulo
Sérgio Valle, Edu Lobo e Ruy Guerra, Pingarilho e Marcos Vasconcelos, Dori Caymmi e Nélson Motta, Francis Hime e Lula Freire,
Wanda Sá, Wilson Simonal, Orlandivo e Sílvio César.

Mais tarde, diversos compositores utilizaram e vêm utilizando o gênero em suas composições, como Chico Buarque, Toquinho, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, e mais recentemente Cazuza, só para citar alguns. Dentre os instrumentistas mais atuantes na época estão os
integrantes dos grupos João Donato Trio (João Donato, Tião Neto e Milton Banana), Bossa Três (Luís Carlos Vinhas, Tião Neto e
Edson Machado), Tamba Trio (Luizinho Eça, Bebeto Castilho e Hélcio Milito), Bossa Rio (Sérgio Mendes, Tião Neto, Edson Machado,
Raulzinho, Edson Maciel e Hector Costita), Copa 5 (Meirelles, Tenório Júnior, Pedro Paulo, Manoel Gusmão e Dom Um Romão),
Roberto Menescal Sexteto (Roberto Menescal, Eumir Deodato, Ugo Marotta, Henry, Sérgio Barroso e João Palma), Sambalanço Trio
(César Camargo Mariano, Humberto Kléber e Airto Moreira), Sambrasa (Hermeto Pascoal, Humberto Claiber e Airto Moreira),
Manfredo Fest (Manfredo, Mathias e Heitor), Milton Banana Trio (Milton Banana, Wanderley e Guará), Rio 65 (Salvador, Sérgio
Barroso e Edson Machado), Salvador Trio (Salvador, Edson Lobo e Victor Manga), 3D (Antônio Adolfo, Carlos Monjardim e Nelsinho),
Eumir Deodato e Os Catedráticos, além do grupo dos irmãos Castro Neves. O Bossa Três, numa segunda fase, contou com a participação
de Ronnie Mesquita e Otávio Bailey, assim como no Tamba Trio entraram os músico Dório e Ohana. Outros instrumentistas foram de
igual importância, como Vitor Assis Brasil, Jorginho da Flauta, Paulo Moura, Franklin da Flauta, Formiga, Norato, Aurino e Juarez
Araújo. Uma das figuras mais significativas da bossa nova foi o saxofonista, compositor, arranjador e professor de boa parte dos
instrumentistas e compositores desta época, Moacir Santos, que foi o arranjador do célebre disco “Sérgio Mendes e Bossa Rio”, e depois
“Vinícius por Elizeth”. Na atualidade, realizam-se inúmeros eventos dedicados à bossa nova, especialmente no Brasil e no Japão. Entre
2000 e 2001, foram realizados vários shows intitulados “40 anos de bossa nova”, com Roberto Menescal e Wanda Sá, apresentado no
Centro de Convivência Cultural de Campinas, São Paulo, entre outros lugares, além inúmeros palcos cariocas.

Em 2009 foi aprovado pelo Senado brasileiro o dia 27 de janeiro (data em que nasceu Tom Jobim, em 1927) como “Dia Nacional da
Bossa Nova”.
Garota de Ipanema (1962)
Antônio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes

Olha que coisa mais linda


Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço, a caminho do mar

Moça do corpo dourado


Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, porque estou tão sozinho


Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
E também passa sozinha

Ah, se ela soubesse


Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor

Tall and tan and young and lovely


The girl from Ipanema goes walking
And when she passes, each one she passes goes “Ah!”
When she walks, it’s like a Samba
That swings so cool and sways so gently
That when she passes, each one she passes goes “Ah!”

Ooh, but I watch her so sadly


How can I tell her I love her?
Yes, I would give my heart gladly
But each day, when she walks to the sea
She looks straight ahead, not at me
Tall and tan and young and lovely
The girl from Ipanema goes walking and
When she passes, I smile, but she doesn't see, doesn't see

Garota de Ipanema foi composta por Antônio Carlos Jobim e letrada por Vinicius de Moraes em 1962. A primeira gravação comercial
ocorreu no mesmo ano, por Pery Ribeiro, e uma versão em língua inglesa foi escrita no ano seguinte por Norman Gimbel. Uma versão
de 1964, gravada por Astrud Gilberto e Stan Getz nos Estados Unidos, tornou-se um sucesso internacional.
A canção foi inspirada em Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto (Helô Pinheiro), uma garota de dezessete anos que vivia na Rua
Montenegro em Ipanema. Diariamente, ela passava pelo bar-café Veloso a caminho da praia. Às vezes, ela entrava no bar para comprar
cigarros para a mãe. No inverno de 1962, os compositores viram a garota passar pelo bar e inspirados nela compuseram a canção.

Veja mais detalhes em https://pt.wikipedia.org/wiki/Garota_de_Ipanema


Desafinado (1958)
Tom Jobim e Newton Mendonça

Quando eu vou cantar, você não deixa


E sempre vêm a mesma queixa
Diz que eu desafino, que eu não sei cantar
Você é tão bonita, mas tua beleza também pode se enganar

Se você disser que eu desafino amor


Saiba que isto em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu

Se você insiste em classificar


Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural

O que você não sabe nem sequer pressente


É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Rolley-Flex
Revelou-se a sua enorme ingratidão

Só não poderá falar assim do meu amor


Este é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados também bate um coração

Desafinado é uma canção do gênero bossa nova composta por Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça e gravada por João Gilberto
em 10 de novembro de 1958, nos Estúdios Odeon, no Rio de Janeiro. A canção seria lançada em fevereiro de 1959 como um single pela
gravadora EMI-Odeon e incluída em seu álbum de estreia, Chega de Saudade, lançado na segunda semana de março daquele ano. É
considerada uma das canções seminais do estilo musical e uma das que melhor definem o gênero.

A canção é uma resposta à crítica da época, que considerava a bossa nova como “música para cantores desafinados”. A canção foi
posteriormente gravada por diversos artistas, incluindo Antônio Carlos Jobim, Herb Alpert, Nara Leão, Ella Fitzgerald e Stan Getz que,
em 1963, ganhou o Grammy de Melhor Performance de Jazz por um Solista ou Grupo Pequeno pela canção. Duas adaptações da canção
para a língua inglesa foram realizadas: “Slightly Out of Tune”, por Jon Hendricks e “Off Key”, por Gene Lees.
Bananeira
João Donato

bananeira, não sei


bananeira, sei lá
a bananeira, sei não
a maneira de ver

bananeira, não sei


bananeira, sei lá
a bananeira, sei não
isso é lá com você

será
no fundo do quintal
quintal do seu olhar
olhar do coração

João Donato de Oliveira Neto (Rio Branco, 17 de agosto de 1934 - Rio de Janeiro, 17 de julho de 2023), mais conhecido apenas como
João Donato, foi um pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor brasileiro.
Donato foi amigo de todos os expoentes do movimento bossanovista, como João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Johnny
Alf, entre outros, mas nunca foi caracterizado unicamente como tal, e sim um músico muito criativo e que promove fusões musicais, de
jazz e música latina, entre tantos outros. Na década de 1950, João Donato se mudou para os Estados Unidos onde permaneceu durante
treze anos e realizou o que nunca tinha conseguido no Brasil: reincorporar a musicalidade afro-cubana ao jazz. Grava o disco A Bad
Donato e compõe músicas como “Amazonas”, “A Rã” e “Cadê Jodel”. Retorna ao Brasil, reencontra a música brasileira que estava
sendo feita no país, mas não abandona sua paixão pela fusão entre o jazz e ritmos caribenhos. Como arranjador participou de discos de
grandes nomes da MPB como Gal Costa e Gilberto Gil.
Entre as composições mais conhecidas do músico, estão: “Amazonas”, “Lugar Comum”, “Simples Carinho”, “Até Quem Sabe” e “Nasci
Para Bailar”. Segundo o crítico musical Tárik de Souza: “Durante muito tempo, João Donato foi um mito das internas da MPB. Gênio,
desligado, louco, de tudo um pouco.
João Donato relembra produção do disco Quem É Quem: “desembarquei no Rio de Janeiro em dezembro de 1972, com 40°C à sombra,
vindo de uma Nova York a -5°C. Por sugestão de Agostinho dos Santos, ele gravou seu primeiro disco com letras e foi um corre-corre
para distribuir as músicas para diversos compositores colocarem a letra. Apareceram letras diferentes para Até quem sabe, inclusive
uma do Caymmi, que achou a do Lysias melhor. Foi um dos meus maiores sucessos.”
[https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/01/1402325-joao-donato-relembra- producao-do-disco-quem-e-quem.shtml]
Amazonas
João Donato

Vou embora,
Tá na hora de voltar pro Amazonas
Mocidade na saudade choro tanto
Que o meu pranto feito o rio se fez mar.

Vou embora
Com a viola companheira do meu canto
Vou sozinho o meu caminho caminhando
Vou cantando pra tristeza se afastar.

Vou armar a minha rede


Com a morena me embalar, sonhar

Sonho livre
Como a garça voa livre pelo espaço
Vou descendo o rio abaixo de canoa,
Vida boa de ter tempo pra sonhar.

Vou fazer uma palhoça,


Com a morena vou morar e amar.

Vou ser livre


Como livre vai correndo o Amazonas
Na canoa deslizando em suas ondas
Vou seguir seu caminho para o mar.

Eu vou voltar...
Samba de uma nota só (1960)
Tom Jobim / Newton Mendonça

Eis aqui este sambinha feito numa nota só.


Outras notas vão entrar, mas a base é uma só.
Esta outra é consequência do que acabo de dizer.
Como eu sou a consequência inevitável de você.

Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada.
Já me utilizei de toda a escala e no final não deu em nada,
Não sobrou nada.

E voltei pra minha nota como eu volto pra você.


Vou contar com uma nota como eu gosto de você.
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.
Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só.

Samba de uma nota só é uma canção com música de Tom Jobim e letra de Newton Mendonça. A letra em inglês, One Note Samba, foi
escrita por Jobim. Seu título refere-se à linha principal da melodia, no qual primeiro consiste em uma longa série de notas tocadas em
um mesmo tom, no ritmo da bossa nova (geralmente D, tocado na chave de G). Os primeiros oito compassos consistem em D, seguidos
por quatro compassos de G, e por fim quatro compassos de D. Aí depois seguem-se quatro compassos de melodia mais variada. A
canção ficou bem conhecida depois de atingir uma vasta audiência através do LP de bossa nova Jazz Samba (Getz/Byrd/Jobim) de 1962,
ganhador do Grammy, e que alcançou o primeiro lugar no Billboard 200 em 1963.

Newton Mendonça foi um parceiro fundamental de Jobim, com quem compôs no segundo semestre de 1958 o dissonante samba que é
carta de intenções da Bossa Nova – Desafinado (gravado ainda em 1958, mas lançado em disco em fevereiro de 1959) – e também o
igualmente antológico Samba de uma nota só, lançado em 1960, ano da morte de Newton, mas esboçado desde 1954.
Samba do avião
Antônio Carlos Jobim

Minha alma canta


Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praias sem fim
Rio, você foi feito prá mim

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Aterrar...

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto, vamos chegar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão
Copacabana, Copacabana

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Rio de Janeiro, 1927 – Nova York, Estados Unidos, 1994). Compositor, pianista,
arranjador, cantor e violonista. Tom nasceu pelas mãos do mesmo obstetra que dez anos antes trouxe ao mundo Noel Rosa. Órfão de
pai aos oito anos, teve no padrasto, Celso Frota Pessoa, seu maior incentivador musical, embora já vivesse em uma família recheada de
músicos. Seu interesse pela música surge por influência de dois tios, um violonista erudito, outro popular, universos que se fundem em
sua obra. Já toca violão e gaita quando, com cerca de 14 anos, tem suas primeiras aulas de piano com o compositor alemão Hans Joachim
Koellreutter (1915-2005), que leciona no Colégio Brasileiro de Almeida, propriedade de sua mãe, dona Nilza Jobim. Em 1946, alternava
o primeiro ano da faculdade de arquitetura com o trabalho de pianista em boates de Copacabana e Ipanema, mas logo abandona os
estudos em prol da música. Aperfeiçoa-se no piano com Lúcia Branco e Tomás Terán, além de estudar orquestração, harmonia e
composição. Admirador e influenciado por Villa-Lobos e Ary Barroso, Jobim também estudou de modo aprofundado as obras de
eruditos como Frederic Chopin, Claude Debussy e Maurice Ravel, além dos brasileiros Radamés Gnatalli e Guerra Peixe.

Trabalhou em boates até 1952, quando foi contratado como pianista e arranjador na gravadora Continental, acompanhando artistas como
Dalva de Oliveira (1917-1972), Orlando Silva (1915-1978) e Dick Farney (1921-1987). Em 1953, teve suas primeiras composições
gravadas: “Pensando em Você” e “Faz Uma Semana”, por Ernâni Filho (1920), e Incerteza, parceria com Newton Mendonça, por
Mauricy Moura (1926-1977). Em 1955, rege na Rádio Nacional sua primeira composição sinfônica, “Lenda”. No ano seguinte, iniciou
duradoura parceria com o poeta Vinicius de Moraes (1913-1980), orquestrando, regendo e compondo parte da trilha da peça Orfeu da
Conceição. Em 1958, diretor artístico da gravadora Odeon, Tom produziu o LP Canção do Amor Demais, de Eliseth Cardoso (1920-
1990). Além da faixa-título, parceria com Vinicius de Moraes, o disco traz entre outras duas composições de Jobim: “Chega de
Saudade”, também com letra de Vinicius, e “Outra Vez”, que registraram pela primeira vez a batida característica do violão de João
Gilberto (1931). João, no mesmo ano, regravou “Chega de Saudade” em voz e violão, num 78 RPM que contém “Bim Bom” na face e
é considerado o marco inicial da bossa nova. A canção Desafinado, parceria de Jobim com Newton Mendonça, foi incluída no primeiro
LP do cantor baiano, “Chega de Saudade” (1959).

O álbum seguinte, O Amor, o Sorriso e a Flor (1960) trouxe diversas canções suas, entre elas o “Samba de Uma Nota Só”. Em 1960,
por ocasião dos festejos de inauguração da capital, compôs “Brasília, Sinfonia da Alvorada”. No mesmo ano, “Orphée Noir” (Marcel
Camus, 1959), versão cinematográfica de Orfeu da Conceição, ganhou a palma de ouro em Cannes e vence o Oscar de filme estrangeiro.
Em 1962, escreveu com Vinicius de Moraes “Garota de Ipanema”, que logo alcançou grande sucesso nos Estados Unidos. No mesmo
ano, a versão instrumental de Stan Getz (1927-1991) e Charlie Byrd (1925-1999) para “Desafinado” levou a gravadora Audio Fidelity,
com apoio do Itamaraty, a promover um concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, onde Jobim passou alguns meses.

Ali lançou seu primeiro álbum solo, The Composer of Desafinado Plays, em 1963. A partir de então, dividiu-se entre o Brasil e os
Estados Unidos, num trânsito que lhe rendeu a gravação de oito LPs, incluindo Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim (1967),
contratos para atuar no cinema e na TV, além de diversos Grammys. Muitas de suas composições, traduzidas para o inglês, integram o
repertório de importantes artistas do universo pop e do jazz. Fixou-se no Brasil em 1968, ano em que sua canção “Sabiá”, parceria com
Chico Buarque (1944), venceu o 3º Festival Internacional da Canção.
Lançou os álbuns Matita Perê (1973), Urubu (1975) e Terra Brasilis (1980). Em 1984, fundou a Banda Nova, formada por amigos e
parentes, com a qual excursionou por diversos países até o fim da vida. Com ela gravou seus últimos discos: Passarim (1987) e Antonio
Brasileiro (1994). A partir do ano de 2009, o dia 27 de janeiro (data em que nasceu Tom Jobim, em 1927) foi escolhido para representar
o “Dia Nacional da Bossa Nova”. Em antecipação às comemorações dos 60 anos do movimento a gravadora Universal Music lançou,
em 2017, o disco “A bossa nova é nossa”, uma coletânea com 14 faixas: “Só tinha de ser com você”, “Carta ao Tom”, “Canto de
Ossanha”, “Este seu olhar”, “Mas que nada”, “A rã”, “Onde anda você?”, “Brigas nunca mais”, “Corcovado”, “Choro de nada”,
“Passarim”, “Tudo na mais santa paz”, “Samba da benção”, “Águas de março”
Se todos fossem iguais a você
Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Vai tua vida,


Teu caminho é de paz e amor
A tua vida é uma linda canção de amor
Abre os teus braços
E canta a última esperança
A esperança divina de amar em paz

Se todos fossem iguais a você


Que maravilha viver
Uma canção pelo ar,
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar,
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol,
Como a flor,
Como a luz
Amar sem mentir,
Nem sofrer

Existiria a verdade,
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você.

Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes. Poeta. Compositor. Teatrólogo. Jornalista. Diplomata.
Nasceu em 19/10/1913, Rio de Janeiro, RJ e faleceu em 9/7/1980, Rio de Janeiro, RJ. Em 1929, concluiu o curso ginasial e ingressou
na Faculdade de Direito do Catete, onde conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria que o incentivou na vocação
literária. Concluiu o curso de Direito em 1933. Em 1936, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da
Educação e Saúde. Em 1938, ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas em Oxford. Em 1941,
retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal “A Manhã”. Tornou-se também colaborador da revista “Clima” e
empregou-se no Instituto dos Bancários. Em 1942, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Itamarati. Em 1943, tornou a
concorrer e foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático em Los Angeles como vice-cônsul. Em 1950, com a morte
do pai, retornou ao Brasil. Nos anos 1950, atuou diplomaticamente em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros
na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.
Tem 296 composições gravadas, a maioria, grandes sucessos.
Em 1975, lançou o LP “O poeta e o violão”, gravado em Milão, com a participação especial dos maestros Bacalov e Bardotti. No
mesmo ano, a Philips lançou o LP “Toquinho e Vinícius”, com destaque para “Onde anda você”, parceria com Hermano Silva e que
alcançou enorme sucesso, sendo regravada por Maria Creuza e outros intérpretes. Ainda nesse ano, lançou pela José Olympio o livro
de poemas infantis “A Arca de Noé”.
Meditação
Tom Jobim e Newton Mendonça

Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou...
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais

Quem, no coração
Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder
E, na solidão
Procurou um caminho e seguiu,
Já descrente de um dia feliz

Quem chorou, chorou


E tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou
A felicidade
Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes

Tristeza não tem fim


Felicidade sim

A felicidade é como a gota


De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece


A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
e tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim


Felicidade sim

A felicidade é como a pluma


Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando


Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor

Tristeza não tem fim


Felicidade sim
Mocinho bonito
Dóris Monteiro / Leo Jaime
Billy Blanco

Mocinho bonito
Perfeito improviso do falso grã-fino
No corpo é atleta
No crânio é menino
Que além do ABC
Nada mais aprendeu
Queimado de sol
Cabelo assanhado
Com muito cuidado
Na pinta de conde
Se esconde um coitado
Um pobre farsante que a sorte esqueceu

Contando vantagem
Que vive de renda
E mora em palácio
Procura esquecer um barraco no Estácio
Lugar de origem que há pouco deixou

Mocinho bonito
Que é falso malandro de Copacabana
O mais que consegue é vintão por semana
Que a mana do peito jamais lhe negou

[O mais que consegue é um milhão por semana


Que a mana do peito morou na inflação]

A banca do distinto
Billy Blanco

Não fala com pobre


Não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor?
Pra que este orgulho?

A bruxa que é cega


Esbarra na gente
E a vida estanca
Um infarte lhe pega, doutor
E acaba esta banca

A vaidade é assim, põe o bobo no alto


E retira a escada, mas fica por perto
Esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco
Afinal todo mundo é igual quando o tombo termina
Com terra por cima e na horizontal
Águas de março
Tom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminho


É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira


Caingá, candeia, é o MatitaPereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira


É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira


Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho


No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando


É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama


É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão


É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José


É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho


É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão


É a promessa de vida no teu coração
pau, pedra, fim, caminho
resto, toco, pouco, sozinho
caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol

São as águas de março fechando o verão


É a promessa de vida no teu coração.

Tom Jobim começou a compor Águas de março, apenas no violão, em março de 1972. Ele estava compondo “Matita Perê”, que deu-
lhe um trabalho enorme, pois não conseguia terminá-la. Ao tempo de sua composição, num dia chuvoso em seu sítio em Poço Fundo,
Tom dedilhou as primeiras notas de “Águas de Março”, cuja letra foi feita em um papel de embrulho. Num mundo de mudança
constante, poucas músicas conseguem permanecer no topo e Águas de março conseguiu. Transcendeu tempos e gerações graças à
qualidade de arranjos, melodia e letra. Ela trouxe novas possibilidades, mais reconhecimento ao artista como letrista e representou
uma vitória pra Tom em um momento de derrota… “são as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração”.
Fotografia
Tom Jobim

Eu, você, nós dois


Aqui neste terraço à beira-mar
O sol já vai caindo
E o seu olhar
Parece acompanhar a cor do mar

Você tem de ir embora


A tarde cai
Em cores se desfaz
Escureceu
O sol caiu no mar
E aquela luz lá embaixo se acendeu
Você e eu

Eu, você, nós dois


Sozinhos neste bar à meia-luz
E uma grande lua saiu do mar
Parece que este bar
Já vai fechar

E há sempre uma canção para contar


Aquela velha história de um desejo
Que todas as canções têm pra contar
E veio aquele beijo
Aquele beijo
Aquele beijo
Teresa da praia
Tom Jobim / Billy Blanco
Gravação original: Lúcio Alves e Dick Farney
Versão de Sérgio Ricardo e João Nogueira

- Lúcio!
Arranjei novo amor no Leblon
Que corpo bonito, que pele morena
Que amor de pequena, amar é tão bom!

- O Dick!
Ela tem um nariz levantado?
Os olhos verdinhos bastante puxados,
Cabelo castanho e uma pinta do lado?

- É a minha Teresa da praia!


- Se ela é tua é minha também
- O verão passou todo comigo
- O inverno pergunta com quem

- Então vamos a Teresa na praia deixar


Aos beijos do sol e abraços do mar
Teresa é da praia, não é de ninguém
- Não pode ser tua,
- Nem tua também

- Teresa é da praia,
Não é de ninguém
Chega de saudade
Tom Jobim e Vinícius

Vai minha tristeza,


e diz a ela que sem ela não pode ser,
diz-lhe, numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer.
Chega, de saudade
a realidade, é que sem ela não há paz,
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai.

Mas se ela voltar, se ela voltar


Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca.

Dentro dos meus braços


Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você longe de mim...
Dindi
Antonio Carlos Jobim, Aloysio de Oliveira
com Claudia Telles & Sylvinha Telles

Céu, tão grande é o céu


E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão, ah, eu não sei, não sei
E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém
Mas que são minhas e de você também

Ai, Dindí
Se soubesses o bem que eu te quero
O mundo seria, Dindí, tudo, Dindí, lindo, Dindí
Ai, Dindí
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindí
Olha, Dindí, fica, Dindí

E as águas desse rio


Onde vão, eu não sei
A minha vida inteira, esperei, esperei por você, Dindí
Que é a coisa mais linda que existe
Ah, você não existe, Dindí
Olha Dindi, adivinha Dindi.
Você e Eu
Carlos Lyra/Vinícius de Moraes
Leny Andrade e B3

Podem me chamar
E me pedir e me rogar
E podem mesmo falar mal
Ficar de mal que não faz mal

Podem preparar
Milhões de festas ao luar
Que eu não vou ir
Melhor nem pedir
Eu não vou ir, não quero ir

E também podem me intrigar


Até sorrir, até chorar
e podem mesmo imaginar
O que melhor lhes parecer

Podem espalhar
Que eu estou cansado de viver
E que é uma pena
Para quem me conheceu
Eu sou mais você
E... eu
Lobo bobo
Carlos Lyra / Ronaldo Bôscoli
com Wilson Simonal e Sandra de Sá

Era uma vez um lobo mau


que resolveu jantar alguém
estava sem vintém
mas arriscou
e logo se estrepou.

Um chapeuzinho de maiô
ouviu buzina e não parou
mas lobo mau insiste
faz cara de triste.

Mas chapeuzinho ouviu


os conselhos da vovó
dizer que não pra lobo
que com lobo não sai só.

Lobo canta, pede promete tudo,


até amor
e diz que fraco de lobo
é ver um chapeuzinho de maiô.

Mas chapeuzinho percebeu


que o lobo mau se derreteu
pra ver vocês que lobo
também faz papel de bobo.

Só posso lhe dizer


chapeuzinho agora traz
um lobo na coleira que
não janta nunca mais.

lobo bobo.......
O pato
Vinicius de Moraes / Toquinho / Paulo Soledade

O Pato
Vinha cantando alegremente
Quém! Quém!
Quando um Marreco
Sorridente pediu
Prá entrar também no samba
No samba, no samba...

O Ganso, gostou da dupla


E fez também
Quém! Quém! Quém!
Olhou pro Cisne
E disse assim:
"Vem! Vem!"
Que um quarteto ficará bem
Muito bom, muito bem...

Na beira da lagoa
Foram ensaiar
Para começar
O tico-tico no fubá...

A voz do Pato
Era mesmo um desacato
Jogo de cena com o Ganso
Era mato
Mas eu gostei do final
Quando caíram n'água
E ensaiando o vocal...

Quém! Quém! Quém! Quém!


Quém! Quém! Quém! Quém!
Quém! Quém! Quém! Quém!
Quém! Quém! Quém! Quém!...
Wave
Tom Jobim

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade


Da segunda o cais e a eternidade...

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...

Vou te contar...

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Corcovado (Tom Jobim) (1960)
Stan Getz (sax), Tommy Williams (baixo), Milton Banana (Bateria), João Gilberto (violão e voz), Astrud Gilberto (voz),
Tom Jobim (piano)

https://www.youtube.com/watch?v=s3nfZ_aRRV0

Um cantinho e um violão
Este amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar


E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor que lindo

Quero a vida sempre assim com você perto de mim


Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor
O que é felicidade, o que é felicidade

Getz/Gilberto é um álbum de jazz e bossa nova lançado em 1964 pelo violonista brasileiro João Gilberto e pelo saxofonista
estadunidense Stan Getz, com participação especial de Tom Jobim no piano e Astrud Gilberto nos vocais de algumas faixas. As
gravações foram realizadas em dois dias de 1963 como resultado de um jazz em período comercial crítico buscando se reinventar e uma
bossa nova em declínio no Brasil, mas a ser descoberta no exterior como música popular brasileira efervescente.

É considerado o disco que popularizou a bossa nova em todo o mundo. Em contrapartida, tornou-se um dos álbuns de jazz mais vendidos
de todos os tempos e o primeiro a receber o Grammy de Melhor Disco do Ano em 1965. Todas as gravações tornaram-se clássicas,
incluindo “Desafinado” (Jobim/Newton Mendonça), “Corcovado” (Jobim), e sobretudo “Garota de Ipanema” (Jobim/Vinicius de
Moraes), que, além de receber o Grammy de Melhor Gravação do Ano, revelou a voz desconhecida de Astrud Gilberto, lançando-a no
estrelato e popularizando para sempre a canção no mundo todo. “Doralice” (Dorival Caymmi/Antônio Almeida) e “Para Machucar Meu
Coração” (Ary Barroso) reforçavam o respeito de Gilberto e Jobim à tradição sambista pré-bossa nova.
Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius, é um disco resultante da parceria do violonista Baden Powell (1937-2000) e do poeta Vinícius
de Moraes (1913-1980), lançado em 1966 pelo selo Forma e conta com arranjos e regência do maestro César Guerra-Peixe (1914-1993).
Nos vocais, além de Vinicius, o disco tem a participação de Quarteto em Cy e Dulce Nunes (1936). Há, ainda, vocais gravados por um
grupo de amigos da dupla, creditados como “coro misto” e apelidados no texto de contracapa do disco por Vinícius como “coro da
amizade”. Vinicius justifica a escolha por estas vozes: “Não nos interessava fazer um disco ‘bem feito’ do ponto de vista artesanal, mas
sim espontâneo, buscando a transmissão simples do que queriam nossos sambas dizer (...) E embora não sejamos cantores, no sentido
profissional da palavra, preferimos gravar as músicas nós mesmos a entregá-las a cantores e cantoras que realmente distorcem a melodia
e o ritmo das canções em benefício de seu modo comercial de cantar, ou de suas deformações profissionais, adquiridas no sucesso
efêmero junto a um público menos exigente.”
A inspiração do trabalho é o ritmo e a harmonia do candomblé, religião brasileira de matriz africana. Desde o começo da parceria entre
o violonista e o letrista, em 1962, os dois dedicam tempo para escutar um disco presenteado pelo compositor Carlos Coqueijo (1924-
1988) a Vinicius, com gravações ao vivo de samba de roda e cantos de candomblé da Bahia. Baden Powell fica impressionado com o
som do berimbau nestas gravações e com os rituais religiosos que presencia em viagem a Salvador. Esse impacto é registrado na
composição “Berimbau” (1964). Nela, Baden imita, no violão, o som percussivo do instrumento que dá nome à canção que, embora
não conste em Os Afro- Sambas, pertence à série composta para o disco. Outra influência para Baden Powell são os estudos de canto
gregoriano em aulas com o compositor e maestro Moacir Santos (1926-2006). O violonista nota semelhanças entre os cantos gregorianos
e os africanos e compõe alguns sambas sob o sincretismo desta descoberta.
A expressão “afro-samba” traz uma contradição, pois o samba é um gênero de raiz africana. Apesar disso, serve para identificar o
conjunto de composições que Baden e Vinicius criam com a fusão de cantos africanos e gregorianos com os elementos rítmicos do
candomblé.
Os arranjos do disco contrapõem os instrumentos de percussão comuns nos terreiros (agogô, afoxé, atabaque, bongô) com sax, flauta,
violão, baixo e bateria. A combinação é considerada inovadora na chamada música popular brasileira da época, ainda pouco acostumada
a incorporar sons percussivos das manifestações tradicionais. A primeira e mais famosa faixa do disco é “O Canto de Ossanha”, que
deve muito de sua popularidade às várias interpretações que a cantora Elis Regina (1945-1982) fez no programa O Fino da Bossa.
Segundo ela, a música foi cantada pela primeira vez no programa e a letra foi concluída nos ensaios para a gravação. Em Os Afro-
Sambas, a música traz Vinícius na voz principal e Betty Faria em um sensual contracanto. Há, porém, controvérsia em relação ao
tratamento que Vinícius dá, na letra, à divindade Ossanha (que também pode ser chamada de Ossaim, Ossonhe ou Ossamim), orixá das
folhas litúrgicas e medicinais, quando ele o chama de “traidor”, característica que não corresponde à personalidade de tal santo, segundo
as premissas do candomblé.

Canto de Ossanha
Baden Powell e Vinicius de Moraes (1966)
https://www.youtube.com/watch?v=3ueru3eELi4

O homem que diz “dou” não dá, porque quem dá mesmo não diz
O homem que diz “vou” não vai, porque quando foi já não quis
O homem que diz “sou” não é, porque quem é mesmo é “não sou”
O homem que diz “tô” não tá, porque ninguém tá quando quer

Coitado do homem que cai no canto de Ossanha, traidor


Coitado do homem que vai atrás de mandinga de amor
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Que eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou

Não, eu só vou se for pra ver uma estrela aparecer


Na manhã de um novo amor
Amigo senhor, saravá, Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha, não vá, que muito vai se arrepender

Pergunte ao seu Orixá, o amor só é bom pra valer


Pergunte ao seu Orixá, o amor só é bom se doer
Vai, vai, vai, vai, amar
Vai, vai, vai, sofrer
Vai, vai, vai, vai, chorar
Vai, vai, vai, dizer
Que eu não sou ninguém de ir em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor
Foi em um apartamento no Parque Guinle, com vista para o Palácio Laranjeiras e o Cristo Redentor, que nasceu uma das maiores obras
da música popular brasileira — e universal. Lembrada de forma surpreendente pelo Papa Francisco na sua última encíclica — um dos
documentos mais importantes da Igreja Católica — ,“Samba da Bênção” foi composta por Vinicius de Moraes e Baden Powell no início
dos anos de 1960, “com muito uísque na cuca” (como contava o poeta), enquanto os dois passavam dias a fio enfurnados no 503 do
edifício projetado por Lúcio Costa no número 106.
O endereço pertencia à Lucinha Proença, mulher de Vinicius na época. Foi lá, numa sala onde a luz penetra pelos cobogós, que a dupla
começou a lançar ao mundo os versos escritos por um poeta de formação católica, que nessa época se dizia ateu e que depois se
envolveria com a cultura dos orixás. No capítulo dedicado ao diálogo na encíclica “Todos Irmãos” (“Fratelli Tutti”, em italiano), o Papa
cita um trecho falado da composição: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Ele aparece na letra de
“Samba da Bênção” logo após Vinicius expor seu ceticismo: “Cuidado, companheiro! /A vida é pra valer/ E não se engane não, tem
uma só/ Duas mesmo que é bom/ Ninguém vai me dizer que tem/ Sem provar muito bem provado/ Com certidão passada em cartório
do céu/E assinado embaixo: Deus/ E com firma reconhecida!”.

— Após o Papa declarar ser fã de Vinicius, só vai faltar Deus! — brinca uma das filhas do poeta, a cantora Georgiana de Moraes, uma
das diretoras da empresa que administra os direitos autorais do pai.
https://oglobo.globo.com/rio/as-historias-da-cancao-de-vinicius-e-baden-powell-que-foi-parar-na-enciclica-catolica-24687703

Samba da benção (Vinícius de Moraes e Baden Powell) 1967


https://www.youtube.com/watch?v=dUHEp8NiwM4

É melhor ser alegre que ser triste


Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não

“Senão é como amar uma mulher só linda


E daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão”

Fazer samba não é contar piada


E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

“Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida


Cuidado, companheiro
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo
Deus, e com firma reconhecida
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba”

Ponha um pouco de amor numa cadência


E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

“Eu, por exemplo, o capitão do mato Vinícius de Moraes


Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha, tu que choraste na flauta, todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Sinhô, a benção, Cartola
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira
A bênção, meu bom Cyro Monteiro você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes sambistas do meu Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antônio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido, que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra, parceirinho cem por cento
Você que une a ação ao sentimento e ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo, que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos, que não és um só, és tantos como
Tantos como o meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá, a bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus”

Ponha um pouco de amor numa cadência


E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Porque o samba nasceu lá na Bahia


E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração
Ele é negro demais no coração
São demais os perigos desta vida (1971)
Vinicius de Moraes e Toquinho
https://www.youtube.com/watch?v=46_qd5Sr1xg

São demais os perigos desta vida


Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua

Pela luz dos olhos teus (Tom e Vinícius) (1977)


Tom Jobim e Miúcha https://www.youtube.com/watch?v=5pyk-DmkBsA

Quando a luz dos olhos meus


E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é, meu Deus


Que frio que me dá
O encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus


Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar

Meu amor, juro por Deus


Me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus


Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus


Na luz dos olhos teus
Sem mais la ra ra ra

Pela luz dos olhos teus


Eu acho, meu amor, que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar

(La ra ri ra ra ra)
(La ra ri ra ra ra)
Na tonga da mironga do kabuletê
Vinicius de Moraes

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que ouve e não fala


Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender

A tonga da mironga do kabuletê (5x)

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que lê e não sabe


Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver

Na tonga da mironga do kabuletê (5x)

Lá, lá, lá, iá...

Você que fuma e não traga


E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você

Pra tonga da mironga do kabuletê...

Ilusão à toa
Johnny Alf

Eu acho engraçado quando um certo alguém


Se aproxima de mim
Trazendo exuberância que me extasia
Meus olhos sentem, minhas mãos transpiram
É um amor que guardo há muito dentro em mim, dentro em mim
E é a voz do coração que canta assim, assim
Olha, somente um dia longe dos teus olhos
Trouxe a saudade de um amor tão perto

E o mundo inteiro fez-se tão tristonho


Mas embora agora eu te tenha perto
Eu acho graça do meu pensamento
A conduzir o nosso amor discreto
Sim, amor discreto pra uma só pessoa
Pois nem de leve sabes que eu te quero
E me apraz essa ilusão à toa

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