Samyrla Cavalcante Torres
Samyrla Cavalcante Torres
E ADULTOS – EJA
RESUMO
Este artigo apresenta uma proposta de ensino metodológico para o desenvolvimento das
práticas de leitura e escrita da Língua Portuguesa na modalidade de Educação Para Jovens e
Adultos - EJA a partir de oficinas ministradas. A pesquisa desenvolveu-se especificamente
com alunos do Centro de Educação de Jovens e Adultos - CEJA Donaninha Arruda,
localizado na cidade de Baturité, teve como objetivo ampliação das habilidades e capacidades
técnicas leitura e escrita dos educandos, além do desenvolvimento da leitura crítica, cujo
aprendizado foi constatado com as atividades feitas conforme afirma Paulo Freire e Irandé
Antunes. Além disso, contribuir para melhorar a educação dos estudantes em termos de
desenvolvimento da linguagem e postura crítica, diminuindo a desigualdade social no
contexto educacional e consequentemente fora dele. No final das oficinas, através da escrita
dos alunos e do pós-diagnóstico, constatamos que foi possível desenvolver a leitura crítica
partindo de uma sequência didática através de gêneros textuais que fazem parte do
cotidiano/realidade dos alunos.
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Graduanda do Curso de Letras - Língua Portuguesa pela Universidade da Integração da Lusofonia Afro-
brasileira - UNILAB. E-mail: [email protected]
2
Professora orientadora do Curso de Letras - Língua Portuguesa da Universidade da Integração da Lusofonia
Afro-brasileira - UNILAB. E-mail: [email protected]
ABSTRACT
This article presents a methodological teaching proposal for the development of reading and
writing practices in the Portuguese Language in the Education for Youth and Adults - EJA,
based on workshops given. The research was developed specifically with students from the
Center for Youth and Adult Education - CEJA Donaninha Arruda, located in the municipality
of Baturité, with the objective of increasing in students the skills and technical abilities of
reading and writing, in addition to the development of critical reading, whose learning was
verified with the activities carried out as stated by Paulo Freire and Irandé Antunes. In
addition, contribute to improving student education in terms of language development and
critical posture, reducing social inequality in the educational context and consequently outside
it. At the end of the workshops, through the students' writing and the post-diagnosis, we found
that it is possible to develop critical reading starting from a didactic sequence through textual
genres, genres that are part of the students' daily life/reality.
Keywords: Youth and adult education; Teaching and learning; Reading practice; Remote
teaching.
3
INTRODUÇÃO
O presente artigo teve como objetivo principal o trabalho com o ensino da leitura
e da produção de textos a partir das realidades dos alunos da EJA. O público com o qual
trabalhamos foram alunos com faixa etária entre 16 e 40 anos. A pesquisa aconteceu no
Centro de Educação Donaninha Arruda - CEJA, que está localizado na cidade de Baturité-
Ceará, visando alunos de faixas etárias diferentes, que não terminaram seus estudos na idade
apropriada. O CEJA atende todo o Maciço de Baturité: Baturité, Pacoti, Palmácia,
Guaramiranga, Mulungu, Aratuba, Capistrano, Itapiúna, Aracoiaba, Acarape, Redenção,
barreira e Ocara.
Por falta de políticas públicas, quando se fala no ensino da EJA, ainda perpassa a
ideia que o ensino não é tão bom como na escola regular. Desse modo, a falta de programas
governamentais para incentivar esses alunos ainda é precário. Um dos fatores que influencia
para a evasão escolar é o aluno ter que conciliar o trabalho com o estudo, além de outros
fatores como: gravidez precoce, ausência de apoio familiar. Somado a esses fatores,
destacamos as dificuldades que o ensino remoto provocou, por exemplo, a falta de um espaço
adequado de estudo em casa, acesso à internet, computadores, livros, dentre outros.
Esse fato fica evidente, pois todos os anos cerca de mais da metade dos alunos
matriculados na Educação de Jovens e Adultos evadem, sobretudo em seguida ao
período de recesso, podendo observar que a escola não visa buscar nenhuma
estratégia para que tenha como objetivo solucionar tal problema. O motivo do alto
índice de desistência ocorre, muitas vezes, pelo fato de a escola não atender às
expectativas do público da EJA (MARTINS, 2021, P.13).
Como uma forma de contribuir para diminuição dos impactos causados pelo
isolamento social, provocados pela pandemia da COVID-19, que atingiu, principalmente, uma
grande parcela dos estudantes da EJA que vive, em sua maioria, em contextos de grande
desigualdade social e vulnerabilidades, defendemos, de modo a garantir o desenvolvimento de
práticas curriculares que proporcionassem um processo de ensino e aprendizagem que
estivessem direcionadas às especificidades desses estudantes, uma proposta de combate aos
processos de invisibilização da EJA, a partir de oficinas de ensino e aprendizagem da língua
portuguesa, com destaque para a leitura crítica.
foram impostos ao sistema educacional e à fé cristã. A educação nesse período foi dividida
em fases, o poder político ainda não estava presente. Dito isso, a educação no Brasil veio
através dos jesuítas, depois, através de reformas de Marquês de Pombal e, por último, o
período em que a corte chegou no Brasil (GHIRALDELLI, 2008, p.24).
O Mobral no Brasil, no ano 1985, passou a ser conhecido como Fundação Educar,
visto que sua demanda de jovens e adultos passava de 30 milhões de analfabetos. Com o alto
índice de analfabetos e a implementação de um programa, o Mobral passou a ser chamado de
Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos – Educar, que era apropriado para
jovens e adultos que abandonaram a educação escolar por diversos motivos.
Com isso, a Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos – Educar, passou a ser
conhecida no mundo todo, fazendo com que a EJA fosse apoiada por toda a sociedade.
Diversas são as dificuldades enfrentadas nesse contexto, são pessoas que vieram
de escolarização distintos, que muitas vezes chegam no espaço da EJA com fome, cansados, e
que acabaram desistindo da escola por falta de incentivo e por condições sociais. Dessa
forma, na perspectiva freireana, o saber do aluno tem uma importante função, pois o seu
processo de aprendizagem está em constante construção. O estudante está simultaneamente
aprendendo, assim, ele é um ser político, libertador e conscientizador capaz de ter novas
ideias.
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DESAFIOS DA EJA
Lidar com esses desafios e questões, que emergem o trabalho com a EJA, é lidar
com a escassez de desenvolvimento de estratégias metodológicas, principalmente para o
ensino de Língua Portuguesa. De modo que o aluno seja, de fato, incluído no processo de
ensino-aprendizagem da sua própria língua. Devido à grande evasão escolar, seria possível
revisar as práticas pedagógicas de ensino de textos, para assim analisar o que está causando a
evasão, a fim de modificar esse cenário e ingressá-los aos espaços escolares, como afirmam
os autores abaixo:
“Contudo, a evasão escolar não deve ser vista exclusivamente como fracasso para o
aluno, mas também como fracasso da própria instituição de ensino, que reiteradas
vezes não alcança seus objetivos, especialmente no que se refere à produtividade do
estudante” (LAIBIDA; PRYJMA, 2006, p.5).
Conhecendo o perfil da EJA e seu público, podemos trabalhar para que os alunos
consigam terminar seus estudos através do incentivo e de intervenções condizentes com suas
realidades. Visto que, através de suas necessidades e seus contextos, é possível desenvolver
propostas pedagógicas, para assim garantir a permanência desses alunos na EJA. Diante disso,
percebemos que o aluno da EJA tem dificuldade diante da falta de ferramentas, e isso acarreta
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no seu atraso e no seu progresso. Desse modo, não conseguem acompanhar as aulas e, por
consequência, acabam desistindo de estudar.
A escola dispõe de uma biblioteca com um ótimo acervo, contendo muitos livros
de literatura. Um ambiente tranquilo e limpo influencia o aluno a entrar no local, no qual se
depara com uma diversidade de livros. O aluno da EJA, no entanto, precisa desse aconchego
do ambiente para se sentir seguro e, por consequência, terá o prazer pela leitura. Logo
percebemos que uma biblioteca em uma escola da EJA, principalmente, é de fundamental
importância para o aprendizado e incentivo a leitura dos educandos.
“Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para
a sua própria produção ou a sua construção”, essa citação apresentada por Paulo Freire
(1996), certamente expressa que em sala de aula devemos acolher e ouvir os alunos, para que
juntos aprendamos um pouco mais, fazendo com que desperte no aluno a sua curiosidade e
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suas indagações. Uma sala de aula onde o professor não escuta os estudantes, se torna
entediante e sem vínculo. O aluno não aprende e não desenvolve seu pensamento crítico.
“Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se
reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar. A boniteza de ser gente se
acha, entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de brigar. Saber que devo
respeito à autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em tudo
coerente com este saber (FREIRE, 1996, p.23).”
Dessa forma, são diversos problemas sociais que interferem no meio dos
educandos. Dito isso, percebemos o quanto é importante dar condições para os alunos
reconhecerem a existência desses fatores. Precisamos criar espaços para as alunas se
expressarem, de modo a romper com esses condicionamentos. São problemas que parecem ser
naturais, mas que na verdade não são.
O educando precisa ser empoderado, ter o seu momento de fala, ser encorajado a
ter um posicionamento. Freire (1996, p.28) afirma que “O meu papel, ao contrário, é o de
quem testemunha o direito de comparar, de escolher, de romper, de decidir e estimular a
assunção deste direito por parte dos educandos.” O aluno é agente da sua vida, e o professor
também, se o aluno tem uma opinião diferente do professor, cabe a ele trazer o que ele
defende e respeitar as mais diferentes respostas.
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Foi, com esse propósito, que buscamos desenvolver nos educandos da EJA, a
partir de oficinas que levassem aos alunos o desenvolvimento da leitura crítica, partindo de
suas realidades. Para entender esse ponto, é necessário compreender nosso percurso
metodológico.
METODOLOGIA DO TRABALHO
Essa pesquisa partiu das observações em uma sala de aula multisseriada e das
oficinas ministradas durante o curso de Língua Portuguesa para EJA. Foram matriculados 22
alunos, permanecendo 3, visando alunos da EJA do ensino fundamental II e médio, partindo
do ensino da leitura e da produção de texto baseado em suas realidades e diagnosticando os
resultados.
O curso foi ministrado pela plataforma google Meet e pela plataforma sala de
aula. Uma vez por semana, às quintas-feiras, às 19h, durante dois meses e meio, de julho a
outubro de 2020. O curso teve como objetivo o desenvolvimento de propostas de ensino-
aprendizagem de Língua Portuguesa e a elaboração de material didático direcionado para o
público da EJA, contemplando o ensino da leitura e escrita.
A partir disso, criamos um curso para alunos da EJA. Ao iniciar o curso, foi feito
um pré-diagnóstico, que identificou as dificuldades dos discentes, e um pós-diagnóstico, que
foi constando a sua evolução. Em seguida, foi feita a elaboração do material didático para esse
público, com metodologias que abrangeram a demanda dos alunos. Também foi realizado um
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questionário, de modo a conhecer melhor esses alunos, de onde vieram, em qual série pararam
de estudar, o motivo do abandono, com quem moram, o que fazem durante o dia, etc.
As oficinas que elaboramos para os alunos do CEJA nesse curso, foram previstas
para serem presenciais, mas devido ao contexto da Covid-19, aconteceu no contexto remoto.
Foram 10 encontros online, mas com o mesmo ensino da modalidade presencial. No curso,
utilizamos as ferramentas digitais google Meet e google sala de aula para nossos encontros.
Como também utilizamos a plataforma de mensagens instantâneas "WhatsApp", para os
alunos tirarem suas dúvidas e se comunicassem melhor.
1.1 Primeira etapa: O primeiro momento se constituiu em discussões teóricas acerca do ensino
de LP na Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
1.2 Segunda etapa: Durante a segunda etapa do projeto, foi realizada a divulgação do Curso
de Língua Portuguesa em redes sociais e no espaço do CEJA.
1.4 Quarta etapa: Foi realizada uma avaliação com os alunos. Um pré-diagnóstico no primeiro
dia da oficina, para assim sabermos o que os alunos trazem em sua bagagem de mundo. Em
seguida foi feita a apresentação dos conteúdos para os docentes da EJA.
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1.5 Quinta etapa: No último dia, foi realizado o pós-diagnóstico com os alunos a fim de obter
os resultados das oficinas, e a avaliação do seu desenvolvimento durante aquele período.
No primeiro dia, os alunos teriam que escrever um pouco sobre sua história de
vida em forma de um relato, a partir de um vídeo Poesia cabra da peste de Patativa do Assaré.
Dessa forma, colhemos o que os alunos sabiam a respeito do gênero e seu tipo textual e nos
apropriamos do contexto de vida dos estudantes. No último diagnóstico, pedimos a reescrita
da primeira atividade, nesse caso, os alunos já haviam passado por uma sequência didática
através dos gêneros textuais.
A escolha do gênero relato pessoal, foi para uma maior aproximação com os
educandos, e para que a mediadora pudesse acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem
através da escrita. Utilizamos os termos aluna A, aluna do 8° ano da EJA fundamental, aluna
B, aluna no ENCCEJA, e aluno C, aluno do 1°ano da modalidade regular. O pré-diagnóstico é
como os alunos da EJA entraram no curso e o pós-diagnóstico é como saíram do curso. No
tópico seguir, compreenderemos melhor como essa análise aconteceu.
“Sim, também venho de uma família de agricultor. meus Pais tambem sao agricutor. Ja
trabalhei na agricultura. tive uma infancia muito sofrida meus. comecei a trabalha cedo e
minha vó sempre falava pariu mateus balançe(qué significa pariu crie). Mesmo nacendo de
familia de pobre e filho de agricultor ele nunca desistiu da vida. ficou cego. mesmo assim se
tornou um poeta conhecido a nivel nacional.”
O texto inicia com a frase “Sim, também venho de uma família de agricultor",
podemos perceber que a aluna A fez uma produção em que sua escrita se aproximou da
oralidade. Dessa forma, houve várias marcas da oralidade presente em sua escrita, que é
própria dos contextos informais, podemos perceber também com ditados populares “pariu
mateus balançe” (que significa pariu crie).
Além disso, percebemos a falta de conectivos, logo, a aluna não tinha domínio da
coesão em modalidade escrita da Língua Portuguesa. Vamos colocar alguns conectivos para
justificar as suas faltas, por exemplo: “Assim como Patativa do Assaré, também venho de
uma família muito humilde de agricultores. Já trabalhei na agricultura e tive uma infância
muito sofrida. Quando criança, comecei a trabalhar cedo e minha avó sempre falava um
ditado: - pariu mateus balance, (que tinha como significado, quem tem filhos é que tem que
criar). Mesmo nascendo de uma família pobre e filho de agricultor, Patativa nunca desistiu da
vida. Ficou cego e mesmo assim se tornou um poeta conhecido a nível nacional.”
Ainda pode-se dizer que a educanda tinha pouco domínio do gênero textual
escolhido. O gênero tem começo, porém, falta o desenvolvimento e a conclusão. De certo
modo, ela utilizou de verbos em 1° pessoa “trabalhei”, “tive”, “comecei” e também utilizou os
personagens “meus pais”, “minha avo”. Em seu texto, faltou algumas características do relato,
esqueceu de marcar o tempo, o lugar e o título. Por conseguinte, o gênero relato acima,
através da descrição dos fatos se aproxima da oralidade. Visto que, a aluna não se atentou
para quem o texto é dirigido, com qual propósito, em qual contexto. A educanda A utilizou a
linguagem informal.
69)”. Por fim, verificamos a falta de concordância em número e faltas de alguns sinais de
pontuação.
“Boa tarde, meu nome é A. Tenho três filhos sou casada, assim como patativa do assaré, vim
de uma família muito humilde de agricultores, tive que trabalhar muito cedo para alcaçar
meus objetivos. Meu grande sonho é concluir meus estudos e me formar em gastronomia, pois
futuramente abre meu próprio negócio para poder dar um futuro ao meus filhos.”
Podemos diagnosticar, nessa segunda fase, que a aluna superou o gênero proposto.
Dessa forma, ela teve conhecimento do gênero textual e do tipo escolhido, partindo da
estrutura e da linguagem culta. Ela também utilizou da preposição de, “vim de uma família”,
para fazer conexão entre os elementos do texto. Utilizou o advérbio de modo “assim”: “Tenho
três filhos sou casada, assim como patativa do assaré, vim de uma família muito humilde de
agricultores”, para demonstrar como a ação ocorreu. Fez um texto curto e em 1° pessoa, mas
esqueceu de colocar o título do relato, o lugar e o tempo.
“Meu nome é B, os mais proximos me chamam de B. Tenho 24 anos e tenho uma filha de 3.
Moramos apenas nos duas. Ainda com dificuldades de trabalhar consigo fazer alguns serviços
que posso levar ela comigo. Estudo no Ceja pagando apenas uma materia para concluir o meu
ensino medio.
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Quando tudo começar a caminhar sem tanta dificuldade pretendo fazer meu curso de
pedagogia como ja tenho um pouco de afinidade com criança que seja um meio propício para
encarar essa jornada, sem contar no prazer que será.
Minha semelhança entre a historia do patativa do Assaré é que minha familia veio do muito
simples, poucos com recursos para o estudo, suas linguagem são semelhantes a dele. E o que
eu quero levar com lição é a garra e o talento que patativa teve ao crescer e ser conhecido com
o pouco e humildade que tinha. Hoje sua história é uma das mais contadas e conhecidas.”
O texto da aluna B de certo modo está coeso, porém utiliza elementos coesivos
próprios da oralidade. Logo, colocamos alguns conectivos para demonstrar: “Minha
semelhança entre a história da patativa do Assaré, é que minha família também veio de um
povo muito simples e com poucos recursos para o estudo. Todavia, sua linguagem é
semelhante a dele. Sobre a coesão, Antunes (1937), afirma que
A coesão é uma das propriedades que fazem com que um conjunto de palavras
funcione como um texto. Quer dizer, para que um grupo de palavras ou de frases
constitua um texto, é necessário que esses conjuntos apresentam um encadeamento,
uma articulação, elos de ligação, afinal. Dessa arrumação articulada resulta um fio
que confere ao conjunto sequência, continuidade, unidade (ANTUNES, 1937,
p.117).
Podemos perceber que a coesão é a base para um texto ser bem escrito, é através
dela que as frases se encaixam formando os parágrafos e, em seguida, o corpo do texto. Logo
percebemos as dificuldades encontradas no gênero produzido pela aluna.
“Me chamo B, tenho 24 anos, moro sozinha com minha filha Cecília. Minha realidade é bem
complicada, sou mãe solteira, sempre cuidei dela sozinha, e hoje levo a vida com muita
experiência e garra. Fui mãe aos 20 anos na qual tive muita dificuldade, mas sempre venho
levando a vida moderadamente e com muita dedicação. No momento estudo, trabalho, e o
tempo é bem curto para outras coisas, mas sempre estando ali presente em muitos momentos.
Meu sonho pro futuro é conseguir um emprego melhor que me faça progredir e assim pagar
meu curso pois pretendo me forma em pedagogia. também quero poder dá um futuro melhor a
minha filha com dedicação ao ensino para que ela também possa se formar um dia e ser uma
excelente profissional.”
Com relação ao gênero relato, a educanda fez um texto mais curto e não colocou
tema. Utilizou verbos como “tenho”, “moro”, “cuidei”, “estudo”, “trabalho”, marcando a
primeira pessoa da narrativa. O texto teve introdução, ela articulou as ideias e concluiu:
“também quero poder dá um futuro melhor a minha filha com dedicação ao ensino para que
ela também possa se formar um dia e ser uma excelente profissional.” No trecho em destaque,
a aluna faz um desfecho a partir de suas reflexões sobre suas experiências, uma das
características de conclusão do gênero trabalhado.
“Meu nome é C, tenho dezesseis anos de idade, estudo na E.E.E.P Clemente Olintho Távora
Arruda, cursando: Técnico de Informática.
Vivo em Baturité, junto com a minha família, na comunidade da Manga. Desde criança eu
sempre fui um pouco antissocial, e não mudei essa característica até o presente momento,
apesar disso, tenho conhecido várias pessoas, em que algumas são importantes para mim.
Eu fico muito fascinado com as áreas de: Ciências da Natureza, Português e Inglês, Filosofia e
Informática. Tornando-se um vínculo de admiração e aprendizado, por conta dos livros,
filmes e carreiras profissionais que conhecia.
Eu gosto muito de ler, por incentivos da minha professora (que leciona a matéria de Língua
Portuguesa no Ensino Fundamental), minha mãe e minha madrinha, por esses fatores, a leitura
passou a ser meio que um hobby para mim a partir da 4ª série.
Tive contato com cordéis a partir dos 14 anos, quando ganhei alguns de presentes pela minha
mãe. Apesar de não entendê-los de início, logo fui pegando o gosto, mas confesso que eu não
tenho a prática de fazer um cordel, mas impressiono-me com trabalho de quem os produz.
Eu sou o poeta da minha vida como Patativa do assaré, onde faço cada rima de minhas
atitudes e opiniões serem harmônicas, para construir as estrofes de conhecimentos e
experiências, em que depois, formamos a junção e obteremos a personalidade e o caráter de
uma pessoa, que se dedicou de corpo e alma, para construir a mais bela poesia de sua vida.”
Quanto à adequação ao gênero, ele escreveu seu texto com a estrutura do relato:
introdução, desenvolvimento e conclusão. Faltando o título. Desse modo, o aluno tem
conhecimento do gênero relato e de suas características. A sua descrição se aproxima do
contexto formal, logo o nível de aproximação da escrita do aluno é formal.
“Meu nome é C, tenho dezessete anos de idade, estudo na E.E.E.P Clemente Olintho Távora
Arruda, cursando: Técnico de Informática. Vivo em Baturité, junto com a minha família, na
comunidade da Manga.
Inspiro-me em Patativa do Assaré, pois ele veio de uma família humilde como a minha e
mesmo não tendo condições financeiras, desde criança ele sempre se esforçou para ajudar a
sua família, mesmo em meio a tantas dificuldades, sofrimentos, dores, ele se manteve
determinado. E eu me identifico com ele, pois sempre busco me empenhar ao máximo em
tudo que eu faço, desde uma coisa simples até a mais complexa atividade, além de sempre
possuir o senso de ajudar da maneira que posso a minha família, e aqueles que passam por
dificuldades. Em sintonia com esses fatores, também tenho meus sonhos, desejos,
metas/objetivos, que quero cumprir ao longo da minha vida.
Sempre foquei em me empenhar nos estudos durante toda a minha carreira acadêmica e após a
minha carreira acadêmica, desejo me formar nas áreas: Engenharia da computação, Ciências
da Computação e Inglês. Prestar vestibular para a UEC, UFC, ITA... Fazer intercâmbio.
Essas ideias e pensamentos são o que me motivam, pois algum dia eu terei formação e serei
um excelente profissional na área de engenharia, de TI (Tecnologia da Informação),
Trabalhando em outro país, ganhando uma remuneração ótima.
Dar uma vida sossegada para a minha família, ter um bom relacionamento interpessoal e
intrapessoal. Sonho em possuir uma casa grande, o carro do ano... Além de motivar e ajudar
as pessoas chegar ao sucesso, sem discriminar, humilhar ou derrubar ninguém.”
Em análise aos três textos expostos, podemos afirmar a necessidade dos alunos de
passarem por uma sequência didática através de atividades com gêneros textuais em um real
contexto de uso. É possível, que os alunos, consigam um melhor resultado através das etapas,
capacitando-os a desenvolver melhor o domínio da escrita e se apropriar do seu texto,
garantindo assim a capacidade de desenvolver o pensamento crítico. É notório dizer que
através desse percurso, partindo de textos da realidade dos educandos, a escrita e a leitura do
aluno através do gênero relato pessoal teve um grande avanço, o aluno tem uma noção que
está escrevendo para alguém, com algum objetivo, e que seu trabalho será divulgado para
outros leitores. Logo, o aluno desenvolve o seu papel de autonomia na sociedade e o leva ao
desenvolvimento crítico.
Dito isso, faz saber que o texto para o aluno e o interlocutor faz sentido, como
explica Antunes (1937), “a questão maior, no entanto, não é juntar as partes, dar-lhes uma
junção, é fazer com que dessa junção resulte um todo funcional, com sentido e propósitos
claros”, e complementa: “[...] de forma que se reconheça um propósito comunicativo, uma
proposta de interação, uma negociação de sentido, uma ação da linguagem, enfim
(ANTUNES, 1937, p. 115)”.
2° Oficina
programado. Utilizando o ato de inquirir, fazemos com que os alunos tenham um primeiro
contato com o texto antes de ser lido. Segundo Moreira (1984),
No segundo momento, exploramos, junto aos gêneros textuais vistos, bem como
onde eles circulavam. Também trouxemos o gênero carta, para que eles percebessem o corpo
do texto e o que cada gênero mostra, enquanto objetivos. Dessa maneira, entramos na
tipologia textual para os alunos assimilarem o conteúdo.
10º Oficina
Elaborar um texto escrito é uma tarefa cujo sucesso não se completa, simplesmente,
pela codificação das ideias ou das informações, através de sinais gráficos. Ou seja,
produzir um texto escrito não é uma tarefa que implica apenas o ato de escrever.
Não começa, portanto, quando tomamos nas mãos papel e lápis. Supõe, ao contrário,
várias etapas, interdependentes e intercomplementares, que vão desde o
planejamento, passando pela escrita propriamente, até o momento posterior da
revisão e da reescrita. Cada etapa cumpre, assim, uma função específica, e a
condição final do texto vai depender de como se respeitou cada uma dessas funções
(ANTUNES, 2003, p. 54).
Tentamos mostrar aos alunos, que toda produção de texto deve partir de objetivos.
Não escrevemos um relato por escrever. Suas produções de textos são importantes e não se
detém apenas as correções gramaticais para a professora ler e dar uma nota. Nessa
perspectiva, tivemos uma produção com objetivos, intencionalidades e interlocutores, ou seja,
uma visão interacionista da escrita. Como afirma Antunes (2003),
selecionou alguma coisa a ser dita a um outro alguém, com quem pretende interagir,
em vista de algum objetivo (ANTUNES, 2003, p.45).
Ou seja, escrever é uma atividade que existe interação, há uma troca. Dizemos que
toda escrita tem um objetivo, uma intencionalidade, uma motivação. Toda produção exige que
se tenha interlocutores, não existe escrita desvinculada dos contextos sociais de uso, dessa
maneira, é um processo interativo. Há uma relevância na minha produção, pois a leitura e a
escrita se complementam, finalizando assim uma escrita eficiente e social.
Partindo da realidade dos alunos, procuramos trabalhar com estes gêneros textuais
que fazem parte do contexto social, para eles aproveitarem o que já trazem consigo e
colocando no papel, em uma sequência bem proveitosa. Também escolhemos trabalhar com
Patativa do Assaré, já que o poeta se aproxima dessa realidade, da sua história, por ser um
homem simples e humilde, de classe social vulnerável, ou seja, se aproxima da realidade dos
estudantes da EJA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia planejada para as oficinas foi bem sucedida, no qual houve uma
evolução dos alunos. Concluíram o curso 3 alunos, nos quais estavam muito satisfeitos.
Quanto a esse número, foi bem mais dinâmico trabalhar com essa quantidade, assim sendo, a
mediadora pode observar mais os educandos e focar em cada um. Logo, contribuíram para
que as oficinas fossem realizadas. Ao final das aulas, receberam certificado juntamente com a
professora responsável.
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Vale ressaltar ainda, que o grande problema da evasão que perpassa por toda a
história da EJA, são jovens e adultos das mais variadas idades que tentam, de alguma forma,
voltar à realidade escolar. Em contexto de pandemia, isso se torna um fator ainda mais
atenuante, todos estavam lutando contra esse problema. Nesta pesquisa, o grande fator foi
manter os alunos da EJA até o final das oficinas, mas com as propostas metodológicas,
conseguimos alcançar nosso objetivo.
Para finalizar, com esse trabalho, sugerimos que novas pesquisas sejam feitas a
respeito da Educação de Jovens e Adultos – EJA, com o intuito de atender às necessidades
desse público, além de trabalhar de forma produtiva para a vida educacional desses alunos,
contribuindo para o processo de aprendizagem, para quê, de fato, consigam, através do
domínio das práticas de leitura e escrita, terem mais acessos e oportunidades na sociedade.
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REFERÊNCIAS
GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da educação brasileira. São Paulo: Cortez, 2008.
LAIBIDA, Vera Lúcia Bortoletto. PRYJMA, Marielda Ferreira. Evasão escolar na educação
de jovens e adultos (EJA): professores voltados na permanência do aluno na escola. Versão
On-line. ISBN 978-85-8015-076-6. Cadernos PDE – Paraná, 2013. 18f.
SILVA, Camilla Rocha da; FREIRAS, Ana Célia Sousa; ALMEIDA, Nadja Rinelle Oliveira
de. A EJA e o ensino remoto emergencial: um olhar discente. Ensino em Perspectivas,
Fortaleza, CE, v.2, n.4, p. 1-10,2021. Acesso em: 2 fev. 2022.
VAL, Maria da Graça Costa. Redação e textualidade. Quatro fatores da coerência. São
Paulo: Martins Fontes, 1994.