Pré-Projeto de Pesquisa Da Geógrafa Thalita Paiva Costa
Pré-Projeto de Pesquisa Da Geógrafa Thalita Paiva Costa
SÃO LUÍS-MA
2019
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THALITA PAIVA COSTA
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SUMÁRIO
1 Introdução ............................................................................................................................. 4
2 Justificativa ........................................................................................................................... 7
3 Objetivos ............................................................................................................................... 7
3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 7
3.2 Objetivo específico .................................................................................................. 7
4 Procedimentos metodológicos ............................................................................................. 8
5 Cronograma de execução das atividades ......................................................................... 13
6 Referências .......................................................................................................................... 13
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1 INTRODUÇÃO
Sabemos que antes da chegada dos europeus à América haviam aproximadamente 100
milhões de habitantes no continente. No Brasil existiam aproximadamente 3 milhões de povos
originários (FUNAI, 2016; IBGE, 2010). Atualmente, são em torno de 817.962 indígenas,
aproximadamente 0,26% da população inicial, que ocupam o território brasileiro em reservas
protegidas pelo governo, sendo que desse total, 572.000 Indígenas moram em zonas rurais e
reservas e 315.180 vivem em zonas urbanas (FUNAI, 2016; IBGE, 2010). São cerca de 305
etnias indígenas diferentes e 274 línguas catalogadas e do total 17,5% não falam a língua
portuguesa. A maior população indígena está na região norte com 305.873 (IBGE, 2010) cerca
de 37% da população total.
Dentro deste quantitativo tem-se o Povo Karajá, extenso por sinal, que são
denominados pela sua localização no decorrer do rio Araguaia. A comunidade Karajá-Xambioá
se localiza no norte do Estado do Tocantins, contexto para onde voltam-se nossos interesses de
estudo e, a cima de tudo, aprendizagem a partir da tomada de consciência das vivências
cotidianas das mulheres indígenas Karajá-Xambioá. Povo também conhecido como Karajá do
Norte, que tem como eixo de referência o Rio Araguaia do qual, em sua história cosmológica,
eles/elas surgiram; são chamados de povo de baixo, por se localizarem no baixo curso do
Araguaia (TORAL, 1992).
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Figura 1 – Localização Multiescalar do Povo Karajá-Xambioá.
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Assim, a nível de apresentação da realidade cotidiana das nossas inspiradoras nesta
pesquisa pensamos que falar deste contexto local/global é falar de todo este aparato tecnológico
de origem exterior às mulheres Karajá-Xambioá mas que inserem-se em seus territórios e
reconfiguram seu ordenamento em uma múltipla territorialização em rede como novas
tecnologias. O que implicando na construção territorial representativa da identidade mulheres
Karajá-Xambioá no cotidiano das relações de gêneros (de poder). Sendo que “[...] alguns traços
da história deixou de existir dando espaço ao grande desenvolvimento tecnológico, esse povo
que tanto lutou para garantir sua permanência em seu território, hoje continua à lutar para
manter seus traços históricos [...]” (KARAJÁ, 2016).
2 JUSTIFICATIVA
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Com esta pesquisa pretende-se compreender a construção da identidade
mulheres indígenas Karajá-Xambioá a partir do respectivo cotidiano deste grupo no que
refere-se a construção de territórios mediante apropriação representativa do espaço
geográfico pelas relações de gêneros (de poder).
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Para a compreensão geral proposta opta-se por lista os elementos que compõem
a estrutura imbricada no processo de construção da identidade mulheres Karajá-
Xambioá.
Analisar, como suporte para se chegar ao objetivo geral, as inter-relações de
construção de território(s) pelas mulheres indígenas Karajá-Xambioá a partir de
representatividade nas relações de gêneros (de poder) à apropriação do espaço
geográfico de seus respectivos cotidianos.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
[...] una cuestión de poder, pero éste no se ubica exclusivamente en el Estado y en los
aparatos burocráticos. Sería un poder mútiple, localizado en muy diferentes espacios
sociales, que puede incluso no vestirse con los ropajes de la autoriadad, sino con los
más nobles sentimientos de afecto, ternura y amor. (BARBIERI, 1993, p. 146). 1
Por isso tratar a questão de gêneros não apenas como o poder atribuído ao homem, como
na maioria das vezes, em vista a subordinação das mulheres. É preciso nos atentarmos para
estes “micro-poderes” emergentes das diversas relações sociais e não única e exclusivamente
do Estado (FOUCAULT, 2003). Este poder se constrói nos fatos, ou seja, nas ações comuns
que se exerce sobre (e que) os corpos movimentam; na medida em que a “[...] descrição
espacializante dos fatos discursivos desemboca na análise dos efeitos de poder que lhe estão
ligados [...]” (FOUCAULT, 2003, p. 159).
Ressalta ainda Foucault que, buscando
[...] como efeito a constituição de uma identidade. Pois minha hipótese é de que o
indivíduo não é o dado sobre o qual se exerce e se abate o poder. O indivíduo, com
suas características, sua identidade, fixado a si mesmo, é produto de uma relação de
poder que se exerce sobre corpos, multiplicidade, movimentos, desejos, forças.
(FOUCAULT, 2003, p. 161-162).
1
Tradução livre da autora: [...]uma questão de poder, mas este não se limita exclusivamente ao Estado e nas
questões burocráticas. Seria um poder de várias facetas, localizados em muitos espaços sociais, que pode inclusive
não passar por atitudes autoritárias e sim com atitudes revestidas de afeto, ternura e amor. (BARBIERI, 1993, p.
146).
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Não podemos, logo, continuar em uma abordagem errônea tratando gênero como “[...]
sinônimo da variável sexo [...]” (TONELI, 2012, p. 148). “[...] O gênero é performático e
múltiplo, é ação [...]” (TONELI, 2012, p. 150). Pois, como mesmo ressalta Foucault, dizendo
que o poder se exerce, se constrói e não se ganha simplesmente mantendo-o dentro de uma
caixa. Esta construção é exercida em contextos relacionais. O que nos possibilita uma visão das
variáveis ser mulher (e ser homem) Karajá-Xambioá quando voltamo-nos a uma análise da
totalidade deste espaço relacional engendrado no contexto da aldeia Wari-Lyty.
Ideia defendida também na abordagem teórico-metodológica de Barbieri (1993),
ressaltando que
[...] hay que destacar que para comprender y explicar los sistemas género no basta con
conocer los ámbitos donde mayoritariamente varones y mujeres se expresan e
interactúan, ni los espacios de la “normalidad” por donde transcurre la vida de la
mayoría de la población. Se requiere también de conocer las colas de las
distribuiciones y essas zonas oscuras y límites de la sociabilidad, sobre las que da
miedo y produce dolor pensar [...]. (BARBIERI, 1993, p. 160). 2
O que nos leva a dar ênfase em discutir “las colas” (os meios) (BARBIERI, 1993, p.
160), ou melhor, os fluxos que tramitam valores simbólicos para construção da subordinação
das mulheres nas ações de degradação destas em comparação ao que ser homem em nossa
sociedade e para sociedade indígena traçamos o mesmo caminho de conhecer certos valores
atribuídos de forma majoritária a homens e mulheres, ao ponto que tais questões remetem-se
de imediato aos aspectos culturais da comunidade Karajá-Xambioá, aldeia Wari-Lyty.
É analisar toda simbologia instituída socialmente por atributos do que significa ser
mulher Karajá-Xambioá na sociedade, não mais dentro dos velhos rótulos, fenótipos até, sobre
estas mulheres indígenas. Mas, em perspectiva relacional a partir da concepção experimental
das vivências socioespaciais cotidianas que estas vivem, para entendermos a questão dos
gêneros, então,
2
Tradução livre da autora: [...] Tem que destacar que para compreender e explicar os sistemas gênero não basta
conhecer os locais de onde maioritariamente homens e mulheres se expressam e interagem, nem os espaços da
“normalidade” por onde transcorre a vida da maioria da população. Se refere também, de conhecer as conexões
das distribuições e as zonas escuras e limites da sociabilidade, sobre as que dá medo e produz dor ao imaginar[...].
(BARBIERI, 1993, p. 160).
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Ora devemos compreender as relações de gêneros como sendo dialéticas, capazes de
refletir certas contradições e de apontar concepções diferenciadas de gênero de distintos
atores(as) sociais de ambos os sexos. Sendo que, ao trabalharmos com tais relações de gêneros,
devemos ter consciência de que mulheres e homens vivenciam relações e experiências
diversificadas ao não existe igualdade de gênero em nossa sociedade contemporânea (COSTA;
SILVERA; MADEIRA, [S.l: S.N]).
Entretanto, por existir este poder relacional que emana empregado na resistência das
mulheres Karajá-Xambioá é que ressaltamos a intervenção dessas em função de seus papéis
quanto representantes de sua comunidade. Buscando ocupar cada vez mais espaços a elas
negados ao longo da historicidade de suas vivências. Ao modo que hoje, o
[...] lugar da mulher Karajá-Xambioá (Ixy-Biowá) não é só mais de casa para o rio,
agora elas estão em todos os lugares onde elas querem está, no campo, na roça
coletando, alimentando em casa, no rio pescando, na escola trabalhando como
professora, no posto de saúde como técnica de enfermagem, cuidando do seu povo,
no campo jogando um futebol, fazendo artesanatos e outros. [...] Não é porque elas
têm trabalhos iguais às mulheres não indígenas que elas deixaram de ser mulher
guerreira Karajá-Xambioá (Ixy-Biowá), é por isso que são mais fortes e também por
ter esse espaço conquistado dentro de seu território. (KARAJÁ, 2017, p. 19).
Todavia, os gêneros, ao nosso ver, podem ser compreendidos como conjunto de relações
socioespaciais territorialmente expressas simbolicamente, mas também materialmente, por
poderes (pré)estabelecidos socialmente de forma histórico-cultural entre ser homem e/ou
mulher em nossas sociedades contemporâneas gerais.
Em não limitarem-se a seus territórios tradicionais, mas formando novas
territorialidades na experimentação de múltiplos territórios, as mulheres Karajá-Xambioá nos
dão uma dimensão de contexto, em primeira aproximação, marcado:
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retrabalhadas, são necessariamente, portanto, momentos de luta cultural, de revisão e
de reapropriação. (HALL, 2003, p. 34).
[...] O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por
um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se
apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação),
o ator "territorializa" o espaço. [...] o espaço é a "prisão original", o território é a prisão
que os homens constroem para si. [...] o território se apoia no espaço, mas não é o
espaço. É uma produção, a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as
relações que envolve, se inscreve num campo de poder. (RAFFESTIN, 1993, p. 143-
144).
Contudo, acredita-se que estudar as relações de gêneros (de poder) numa perspectiva
contextual simbólico-cultural de apropriação de espaços a partir destes mecanismos exercidos
como forma de poder pelos corpos nos é possibilitada, de forma significativa, em mediação de
uma visão territorial acerca da representatividade exercida pelas mulheres Karajá-Xambioá da
aldeia Wari-Lyty. Exercício de apropriação/construção do espaço geográfico territorialmente
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em diferentes escalas relacionais imbricadas nos conflitos de ideias e interesses das mesmas em
relação as “verticalidades” – e “horizontalidades” por que não? Ações envolvidas no cotidiano.
Etapas/24 Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2
(março/2020 à 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4
fevereiro/2022)
Reflexão sobre o X X X
tema da pesquisa.
Seminários do X X X
Projeto (justificativa,
objetivos,
problemática,
metodologia,
estrutura do trabalho
e etc.).
Definição dos X X X
capítulos (sumário
preliminar).
Revisão de literatura X X X X X X X X X X X X
(enquadramento
teórico).
Pesquisa em campo X X X X
e Seminário de
desenvolvimento da
proposta.
Redação preliminar. X X X X X X X X X X X X
Ajustes X X X X X X X
metodológicos,
conceituais,
formatação.
Preparação para X X
defesa – Pré-defesa.
Apresentação do X
Trabalho final –
defesa.
6 REFERÊNCIAS
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FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 18º ed. Rio de Janeiro: Graal, 2003.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.
SANTOS, M. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2017.
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