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Pré-Projeto de Pesquisa Da Geógrafa Thalita Paiva Costa

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, NATUREZA E DINÂMICA


DO ESPAÇO – PPGEO

THALITA PAIVA COSTA

GÊNERO, PODER, TERRITÓRIO: CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE MULHER(S)


KARAJÁ-XAMBIOÁ
(Linha de pesquisa: Dinâmica e uso do território, modernização, desigualdades sociais e
questão ambiental)

SÃO LUÍS-MA
2019

1
THALITA PAIVA COSTA

GÊNERO, PODER, TERRITÓRIO: CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE MULHER(S)


KARAJÁ-XAMBIOÁ
(Linha de pesquisa: Dinâmica e uso do território, modernização, desigualdades sociais e
questão ambiental)

2
SUMÁRIO

1 Introdução ............................................................................................................................. 4
2 Justificativa ........................................................................................................................... 7
3 Objetivos ............................................................................................................................... 7
3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 7
3.2 Objetivo específico .................................................................................................. 7
4 Procedimentos metodológicos ............................................................................................. 8
5 Cronograma de execução das atividades ......................................................................... 13
6 Referências .......................................................................................................................... 13

3
1 INTRODUÇÃO

Sabemos que antes da chegada dos europeus à América haviam aproximadamente 100
milhões de habitantes no continente. No Brasil existiam aproximadamente 3 milhões de povos
originários (FUNAI, 2016; IBGE, 2010). Atualmente, são em torno de 817.962 indígenas,
aproximadamente 0,26% da população inicial, que ocupam o território brasileiro em reservas
protegidas pelo governo, sendo que desse total, 572.000 Indígenas moram em zonas rurais e
reservas e 315.180 vivem em zonas urbanas (FUNAI, 2016; IBGE, 2010). São cerca de 305
etnias indígenas diferentes e 274 línguas catalogadas e do total 17,5% não falam a língua
portuguesa. A maior população indígena está na região norte com 305.873 (IBGE, 2010) cerca
de 37% da população total.
Dentro deste quantitativo tem-se o Povo Karajá, extenso por sinal, que são
denominados pela sua localização no decorrer do rio Araguaia. A comunidade Karajá-Xambioá
se localiza no norte do Estado do Tocantins, contexto para onde voltam-se nossos interesses de
estudo e, a cima de tudo, aprendizagem a partir da tomada de consciência das vivências
cotidianas das mulheres indígenas Karajá-Xambioá. Povo também conhecido como Karajá do
Norte, que tem como eixo de referência o Rio Araguaia do qual, em sua história cosmológica,
eles/elas surgiram; são chamados de povo de baixo, por se localizarem no baixo curso do
Araguaia (TORAL, 1992).

A localização desses grupos é a seguinte: os Karajá do Norte, também conhecidos


como Xambioá, são tradicionais habitantes do baixo curso do Araguaia, próximo à
sua foz no Tocantins. Os Javaé, atualmente, concentram-se ao longo do rio que leva
o nome do grupo, o braço menor do Araguaia, formador da Ilha do Bananal. Os Karajá
propriamente ditos se localizam ao longo do médio e alto curso do Araguaia.
(TORAL, 1992, p.15).

O Povo Iny (Karajá, Javaé e Karajá-Xambioá), como os próprios se denominam, se


espacializam ao longo do Rio Araguaia, da seguinte forma os que ficam no meio curso do rio,
utilizam também o braço do Rio Javaé e assim são denominados, pelo nome do Rio Javaé e
também como o povo do meio. A comunidade que se localiza no alto curso do rio são os Karajá,
o povo de cima. Nesse estudo pretende-se ater às relações indígenas da comunidade Karajá-
Xambioá, no estado do Tocantins, que tem como eixo de referência baixo curso do Rio
Araguaia do qual, em sua cosmologia, eles/elas surgiram do fundo dessas águas. Ficando
localizada a 70 km do município de Santa Fé do Araguaia e a 150 km de Araguaína, distante
533 km de Palmas capital do Tocantins (ver mapa de localização-figura 1).

4
Figura 1 – Localização Multiescalar do Povo Karajá-Xambioá.

Fonte: REZENDE, 2017.

Na parte denominada o “povo de baixo”, existem quatro aldeias: a aldeia Xambioá,


Kurehe, Hawa-tymara e Wari-lyty, duas ficam na beira do rio e duas mais distantes. A aldeia
onde se localizam as mulheres indígenas afins de estudo dessa pesquisa têm residência na Wari-
lyty e em comparação com o “povo de cima”, que é a comunidade onde o acesso é mais
dificultoso, tem a sua localização mais perto da cidade de Araguaína facilitando o acesso à
educação básica e superior na cidade por parte de integrantes do grupo.
Na cosmologia propagada pelo povo Karajá, em geral, há relatos que eles viviam nas
profundezas do Rio Araguaia sem nenhum problema, havia alimentos abundantes e eles não
conheciam doenças e nem a morte. Porém um homem Karajá achou uma passagem e saiu para
à superfície, conhecendo o que mais as terras de fora do rio tinham disponíveis, e logo após
conhecer o que tinha de “bom”, esse homem Karajá retornou às profundezas para chamar os
demais moradores, e assim foi feito. Depois de algum tempo que a comunidade saiu debaixo
do rio para a superfície, além das coisas “boas”, conheceram também as mazelas como doenças,
5
morte, desavenças, e portanto, tentaram retornar mas sem sucesso, pois não acharam a abertura
que os levariam de volta a sua antiga casa. Tiveram que se instalar na beira do rio, para que a
comunidade tivesse de onde tirar o seu sustento e também porque facilitaria a sua locomoção
(TORAL 1992).
No entanto para compreendermos o contexto da história do presente não podemos fugir
da realidade contemporânea de ordem universal (globalizada) sobre a local na qual essas
mulheres estão inseridas. Tal como recorro à monografia defendida em 2017, intitulada “A
globalização no contexto da escola de ensino médio da T.I Karajá-Xambioá – Santa Fé do
Araguaia- TO”, por Rezende (2017), que, em síntese, – mesmo ao voltar-se às questões da
globalização no contexto da escola de ensino médio da T.I Karajá-Xambioá – nos proporciona
uma compreensão à cerca da dinâmica de imposição da racionalidade universal (global) à
“estruturação da realidade” (F. TINLAND, 1994, p. 27 apud SANTOS, 2017, p. 339) (ordem)
local.
Pois segundo Santos (2017):

No meio local, a rede praticamente se integra e dissolve através do trabalho coletivo,


implicando um esforço solidário dos diversos atores. Esse trabalho solidário e
conflitivo é, também, copresença num espaço continuo, criando o cotidiano da
contiguidade. A esse recorte territorial, chamamos de horizontalidade, para distingui-
lo daquele outro recorte, formado por pontos, a que chamamos verticalidades. Nesses
espaços da horizontalidade, alvo de frequentes transformações, uma ordem espacial é
permanentemente recriada, onde os objetos se adaptam aos reclamos externos e, ao
mesmo tempo, encontram, a cada momento, uma lógica interna própria, um sentido
que é o seu próprio, localmente constituído. É assim que se defrontam a Lei do Mundo
e a Lei do Lugar. (SANTOS, 2017, p. 334).

Estas “horizontalidades” e “verticalidades” são fatores importantíssimos nesta


discussão, tendo em vista que o meio técnico-científico-informacional adentra a aldeia, entre as
décadas de 1990 e 2000 junto à dinâmica neoliberal de escala internacional, com seus aparatos
tecnológicos modernos, conectando e inserindo este povo à rede informacional não indígena, e
agora “também” indígena ao menos ao nível do discurso estatal ou/e de ações excludentes desta
superestrutura econômica mundial; fragmentando o que antes seria identidade pura
(REZENDE, 2017). Celulares, wi-fi na escola indígena, antenas parabólicas nas casas, carros e
motos para locomoção, etc. são fatores que trazem uma outra realidade técnica ao cotidiano
desta comunidade em geral, sim. Mas esta realidade de “tradução”, lembrando Hall, transforma
e impacta diretamente o ser mulher indígena Karajá-Xambioá ao ponto que em um click e/ou
apertar de botão torna-se possível o universal no particular, bem como transporta o particular
para o consumo global.

6
Assim, a nível de apresentação da realidade cotidiana das nossas inspiradoras nesta
pesquisa pensamos que falar deste contexto local/global é falar de todo este aparato tecnológico
de origem exterior às mulheres Karajá-Xambioá mas que inserem-se em seus territórios e
reconfiguram seu ordenamento em uma múltipla territorialização em rede como novas
tecnologias. O que implicando na construção territorial representativa da identidade mulheres
Karajá-Xambioá no cotidiano das relações de gêneros (de poder). Sendo que “[...] alguns traços
da história deixou de existir dando espaço ao grande desenvolvimento tecnológico, esse povo
que tanto lutou para garantir sua permanência em seu território, hoje continua à lutar para
manter seus traços históricos [...]” (KARAJÁ, 2016).

2 JUSTIFICATIVA

A razão da escolha do tema se prende a necessidade de (re)conhecer o cotidiano das


mulheres indígenas do grupo Karajá-Xambioá e suas problemáticas socioterritoriais, pois
acredita-se que o fator excludente invisibilidade da mulher se amplifica com maior vigor
quando referimo-nos à mulher indígena. A pesquisa atribui-se a questão gêneros e quer
identificar como essa eventualidade (a invisibilidade) afeta na construção da sua identidade à
apropriação do espaço geográfico pelas mulheres. Pois tal estudo a respeito dos povos indígenas
apresenta-se como possibilidade de interesse desmistificador de paradigmas preconceituosos a
respeito destes povos. Destarte observando as diferenças na sociedade no que se diz respeito à
mulher indígena Karajá-Xambioá no seu cotidiano, entendido a partir de um olhar de fora de
seus costumes – o da pesquisadora passiva, também, de desconstrução. Sabendo que a
problemática se agrava quando discutida a concepção de gênero na construção (socioterritorial)
da identidade.

3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
 Com esta pesquisa pretende-se compreender a construção da identidade
mulheres indígenas Karajá-Xambioá a partir do respectivo cotidiano deste grupo no que
refere-se a construção de territórios mediante apropriação representativa do espaço
geográfico pelas relações de gêneros (de poder).

3.2 Objetivos específico

7
 Para a compreensão geral proposta opta-se por lista os elementos que compõem
a estrutura imbricada no processo de construção da identidade mulheres Karajá-
Xambioá.
 Analisar, como suporte para se chegar ao objetivo geral, as inter-relações de
construção de território(s) pelas mulheres indígenas Karajá-Xambioá a partir de
representatividade nas relações de gêneros (de poder) à apropriação do espaço
geográfico de seus respectivos cotidianos.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Começamos a descrição dos procedimentos metodológicos à construção da pesquisa


indicando que está trata-se de uma proposta, como define Gil (2002, p. 41), de pesquisa
exploratória: tendo “como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito”. Afins de ser elaborada com base em – não fugindo a regra
geral – procedimentos técnicos como de revisão bibliográfica, estudo de caso com trabalho em
campo e pesquisa-ação com entrevistas e dinâmicas de pesquisa participativa.
Na abordagem teórico-conceitual tomou-se como base de método científico a
fenomenologia da percepção desenvolvida nas experiências obtidas pela percepção do
fenômeno vivido (MERLEAU-PONTY, 1999); em diálogo com literaturas de abordagens
idealistas voltadas às temáticas socioterritoriais (HAESBAERT, 2007) de (re)construção
constante de identidades dinâmicas deslocadas/fragmentadas e multiculturais representativas
(HALL, 2003) das mulheres indígenas, onde buscaremos apreender e tomar consciência das
escalas relacionais de poder eminentes na construção dos territórios (RAFFESTIN, 1993)
expressos pela identidade de gênero construída no contexto cotidiano (SAFFIOTI, 2001) aqui
a ser estudado.
Pretende-se pautar aqui uma ideia de identidade de gênero emergente na infinita re-a-
firmação do “poder e tradição” transmitidos pelas “guardiãs da cultura” de seu povo
(GRUBITS; DARRAULT-HARRIS; PEDROSO, 2005), pois percebe-se as mulheres indígenas
aqui apresentadas lutam e resistem dia-a-dia para manter, material e simbolicamente, seu elo
cultural ancestral, não apresentando uma identidade cultural una e inflexível, mas fluída e
adaptativa aos empasses de sua organização social, nos ensinando que ser “pura” ou “não-pura”
é uma questão de contexto e que está presente no (re)ordenamento territorial identitário, não se
apagando com a violência e criminalização.
8
Outrora entende-se que se fará necessário partir dos desafios que as mulheres Karajá-
Xambioá da aldeia Wari-Lyty superam rotineiramente para então, a partir dos estudos sobre
gêneros, ou melhor, sistemas de gêneros como bem discuti Barbieri (1993, p. 149-155);
gêneros, no plural, logo, por se tratar de um estudo relacional dos poderes atrelados ao que ser
mulher e que ser homem? nas diversas sociedades existentes no mundo patriarcal em que
vivemos hoje. Pois não se faz cabível um estudo unilateral e baseado apenas em apontar a
subordinação feminina frente à superioridade masculina até então existentes. Uma vez que as
mulheres, logo as mulheres indígenas como aqui discutido, também exerce poder ao ponto de
apresentar significante representatividade.
Os estudos sobre os sistemas gêneros – por ser uma abordagem dual das ações
relacionais entre homens e mulheres (indígenas), ou não, em formação de contextos diversos
segundo Barbieri (1993) apontam para

[...] una cuestión de poder, pero éste no se ubica exclusivamente en el Estado y en los
aparatos burocráticos. Sería un poder mútiple, localizado en muy diferentes espacios
sociales, que puede incluso no vestirse con los ropajes de la autoriadad, sino con los
más nobles sentimientos de afecto, ternura y amor. (BARBIERI, 1993, p. 146). 1

Por isso tratar a questão de gêneros não apenas como o poder atribuído ao homem, como
na maioria das vezes, em vista a subordinação das mulheres. É preciso nos atentarmos para
estes “micro-poderes” emergentes das diversas relações sociais e não única e exclusivamente
do Estado (FOUCAULT, 2003). Este poder se constrói nos fatos, ou seja, nas ações comuns
que se exerce sobre (e que) os corpos movimentam; na medida em que a “[...] descrição
espacializante dos fatos discursivos desemboca na análise dos efeitos de poder que lhe estão
ligados [...]” (FOUCAULT, 2003, p. 159).
Ressalta ainda Foucault que, buscando

[...] como efeito a constituição de uma identidade. Pois minha hipótese é de que o
indivíduo não é o dado sobre o qual se exerce e se abate o poder. O indivíduo, com
suas características, sua identidade, fixado a si mesmo, é produto de uma relação de
poder que se exerce sobre corpos, multiplicidade, movimentos, desejos, forças.
(FOUCAULT, 2003, p. 161-162).

1
Tradução livre da autora: [...]uma questão de poder, mas este não se limita exclusivamente ao Estado e nas
questões burocráticas. Seria um poder de várias facetas, localizados em muitos espaços sociais, que pode inclusive
não passar por atitudes autoritárias e sim com atitudes revestidas de afeto, ternura e amor. (BARBIERI, 1993, p.
146).

9
Não podemos, logo, continuar em uma abordagem errônea tratando gênero como “[...]
sinônimo da variável sexo [...]” (TONELI, 2012, p. 148). “[...] O gênero é performático e
múltiplo, é ação [...]” (TONELI, 2012, p. 150). Pois, como mesmo ressalta Foucault, dizendo
que o poder se exerce, se constrói e não se ganha simplesmente mantendo-o dentro de uma
caixa. Esta construção é exercida em contextos relacionais. O que nos possibilita uma visão das
variáveis ser mulher (e ser homem) Karajá-Xambioá quando voltamo-nos a uma análise da
totalidade deste espaço relacional engendrado no contexto da aldeia Wari-Lyty.
Ideia defendida também na abordagem teórico-metodológica de Barbieri (1993),
ressaltando que

[...] hay que destacar que para comprender y explicar los sistemas género no basta con
conocer los ámbitos donde mayoritariamente varones y mujeres se expresan e
interactúan, ni los espacios de la “normalidad” por donde transcurre la vida de la
mayoría de la población. Se requiere también de conocer las colas de las
distribuiciones y essas zonas oscuras y límites de la sociabilidad, sobre las que da
miedo y produce dolor pensar [...]. (BARBIERI, 1993, p. 160). 2

O que nos leva a dar ênfase em discutir “las colas” (os meios) (BARBIERI, 1993, p.
160), ou melhor, os fluxos que tramitam valores simbólicos para construção da subordinação
das mulheres nas ações de degradação destas em comparação ao que ser homem em nossa
sociedade e para sociedade indígena traçamos o mesmo caminho de conhecer certos valores
atribuídos de forma majoritária a homens e mulheres, ao ponto que tais questões remetem-se
de imediato aos aspectos culturais da comunidade Karajá-Xambioá, aldeia Wari-Lyty.
É analisar toda simbologia instituída socialmente por atributos do que significa ser
mulher Karajá-Xambioá na sociedade, não mais dentro dos velhos rótulos, fenótipos até, sobre
estas mulheres indígenas. Mas, em perspectiva relacional a partir da concepção experimental
das vivências socioespaciais cotidianas que estas vivem, para entendermos a questão dos
gêneros, então,

[...] o importante é procurar explorar as complexidades tanto das construções de


masculinidade quanto as de feminilidade, percebendo como essas construções são
utilizadas como operadores metafóricos para o poder e a diferenciação em diversos
aspectos sociais. (PISCITELLI, 1998, p. 150).

2
Tradução livre da autora: [...] Tem que destacar que para compreender e explicar os sistemas gênero não basta
conhecer os locais de onde maioritariamente homens e mulheres se expressam e interagem, nem os espaços da
“normalidade” por onde transcorre a vida da maioria da população. Se refere também, de conhecer as conexões
das distribuições e as zonas escuras e limites da sociabilidade, sobre as que dá medo e produz dor ao imaginar[...].
(BARBIERI, 1993, p. 160).

10
Ora devemos compreender as relações de gêneros como sendo dialéticas, capazes de
refletir certas contradições e de apontar concepções diferenciadas de gênero de distintos
atores(as) sociais de ambos os sexos. Sendo que, ao trabalharmos com tais relações de gêneros,
devemos ter consciência de que mulheres e homens vivenciam relações e experiências
diversificadas ao não existe igualdade de gênero em nossa sociedade contemporânea (COSTA;
SILVERA; MADEIRA, [S.l: S.N]).
Entretanto, por existir este poder relacional que emana empregado na resistência das
mulheres Karajá-Xambioá é que ressaltamos a intervenção dessas em função de seus papéis
quanto representantes de sua comunidade. Buscando ocupar cada vez mais espaços a elas
negados ao longo da historicidade de suas vivências. Ao modo que hoje, o

[...] lugar da mulher Karajá-Xambioá (Ixy-Biowá) não é só mais de casa para o rio,
agora elas estão em todos os lugares onde elas querem está, no campo, na roça
coletando, alimentando em casa, no rio pescando, na escola trabalhando como
professora, no posto de saúde como técnica de enfermagem, cuidando do seu povo,
no campo jogando um futebol, fazendo artesanatos e outros. [...] Não é porque elas
têm trabalhos iguais às mulheres não indígenas que elas deixaram de ser mulher
guerreira Karajá-Xambioá (Ixy-Biowá), é por isso que são mais fortes e também por
ter esse espaço conquistado dentro de seu território. (KARAJÁ, 2017, p. 19).

É justamente na ocupação destes espaços diversos, assim como na formação de


múltiplos territórios às territorialidades, que estas mulheres representativamente

[...] podem oferecer resistência ao processo de exploração-dominação que sobre elas


se abate e milhões delas têm procedido desta forma. Não apenas no que concerne às
relações de gênero, mas também atingindo as interétnicas e as de classes, pode-se
afirmar que mecanismos de resistência estão sempre presentes, alcançando maior ou
menor êxito. (SAFFIOTI, 2001, p. 120).

Todavia, os gêneros, ao nosso ver, podem ser compreendidos como conjunto de relações
socioespaciais territorialmente expressas simbolicamente, mas também materialmente, por
poderes (pré)estabelecidos socialmente de forma histórico-cultural entre ser homem e/ou
mulher em nossas sociedades contemporâneas gerais.
Em não limitarem-se a seus territórios tradicionais, mas formando novas
territorialidades na experimentação de múltiplos territórios, as mulheres Karajá-Xambioá nos
dão uma dimensão de contexto, em primeira aproximação, marcado:

[...] diferentemente pelas relações de poder – sobretudo as relações de dependência e


subordinação sustentadas pelo próprio colonialismo. Os momentos de independência
e pós-colonial, nos quais essas histórias imperiais continuam a ser vivamente

11
retrabalhadas, são necessariamente, portanto, momentos de luta cultural, de revisão e
de reapropriação. (HALL, 2003, p. 34).

As mulheres Karajá-Xambioá não fogem dessa realidade contextual (em rede) de


dinâmica técnica e informacional moderna de reconfiguração das pessoas logo dos espaços
relacionais. Entretanto, não podemos cair nos velhos paradigmas de perca cultural quando o
que presenciamos – ao nosso ver e com o pouco tempo de experiência e de vivência com outras
temporalidades que essas mulheres nos mostraram com seus diferentes saberes, isto capitado
durante a realização da pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso que discutiu assunto
relacionado ao desta pesquisa aqui proposta tida como certa, digamos, continuidade – é uma
identidade

[...] construída também, de forma crescente, no e com o movimento. Assim, os


próprios referentes espaciais de identidade podem estar vinculados ao movimento, a
“espaços em movimento”. Em parte como originalmente ocorria com grupos
nômades, vivenciamos hoje a possibilidade de construir identificações territoriais na
mobilidade, ou, se preferirmos, com a mobilidade. (HAESBAERT, 2007a, p. 46-47).

Consoante o território neste trabalho apresentar-se-á como símbolo da vida significado


na experiência vivida em lugar pela apropriação representativa do espaço geográfico; dados
conflitos de ideias ocasionados por interesses divergentes. Relacional por natureza e fruto da
relação entre sociedade e natureza também carregada de cosmologia, de significados. Não
podendo ser apreendido apenas como chão, palco ou área mas também, e sobre tudo, enquanto
materialização de relações de poder através da apropriação do espaço geográfico. Consoante
salienta Raffestin (1993):

[...] O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por
um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se
apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação),
o ator "territorializa" o espaço. [...] o espaço é a "prisão original", o território é a prisão
que os homens constroem para si. [...] o território se apoia no espaço, mas não é o
espaço. É uma produção, a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as
relações que envolve, se inscreve num campo de poder. (RAFFESTIN, 1993, p. 143-
144).

Contudo, acredita-se que estudar as relações de gêneros (de poder) numa perspectiva
contextual simbólico-cultural de apropriação de espaços a partir destes mecanismos exercidos
como forma de poder pelos corpos nos é possibilitada, de forma significativa, em mediação de
uma visão territorial acerca da representatividade exercida pelas mulheres Karajá-Xambioá da
aldeia Wari-Lyty. Exercício de apropriação/construção do espaço geográfico territorialmente

12
em diferentes escalas relacionais imbricadas nos conflitos de ideias e interesses das mesmas em
relação as “verticalidades” – e “horizontalidades” por que não? Ações envolvidas no cotidiano.

5 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES

Etapas/24 Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2
(março/2020 à 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4
fevereiro/2022)
Reflexão sobre o X X X
tema da pesquisa.
Seminários do X X X
Projeto (justificativa,
objetivos,
problemática,
metodologia,
estrutura do trabalho
e etc.).
Definição dos X X X
capítulos (sumário
preliminar).
Revisão de literatura X X X X X X X X X X X X
(enquadramento
teórico).
Pesquisa em campo X X X X
e Seminário de
desenvolvimento da
proposta.
Redação preliminar. X X X X X X X X X X X X
Ajustes X X X X X X X
metodológicos,
conceituais,
formatação.
Preparação para X X
defesa – Pré-defesa.
Apresentação do X
Trabalho final –
defesa.

6 REFERÊNCIAS

BARBIERI, T. D. Sobre la categoria genero. Una introduccion teorico-metodologica. Debates


en Sociología, n. 18, p. 145-169. 1993.

COSTA, R. G.; SILVERA, C. M. H.; MADEIRA, M. Z. A. Relações de gênero e poder:


tecendo caminhos para a desconstrução da subordinação feminina. [S.l: s.n].

13
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 18º ed. Rio de Janeiro: Graal, 2003.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GRUBITS, S.; DARRAULT-HARRIS, I.; PEDROSO, M. Mulheres indígenas: poder e


tradição. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 3, p. 363-372, set./dez. 2005.

HAESBAERT, R. Identidades territoriais: entre a multiterritorialidade e a reclusão


territorial (ou: do hibridismo cultural à essencialização das identidades). In: ARAÚJO, F.
G. B.; HAESBAERT, R. Identidades e territórios: questões e olhares contemporâneos. Rio
de Janeiro: Access, 2007, p. 33-56.

HALL, S. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora da UFMG;


Brasília: representação da UNESCO no Brasil, 2003.

KARAJÁ, L. M. As mulheres karajá-xambioá: o mundo no seu território. Araguaína, TO:


Monografias/UFT, 2017.

KARAJÁ, A. D. G. Aspectos territoriais e culturais do povo karajá-xambioá. In: XVIII


ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, JULHO, 2016.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

PISCITELLI, A. Gênero em perspectiva. Cadernos Pagu, v. 11, s. n, p. 141-155, outubro.


1998.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.

REZENDE, T. P. C. A globalização no contexto da escola de ensino médio da TI Karajá-


Xambioá-Santa Fé do Araguia-TO. Araguaína, TO, 2017. (Monografia).

SAFFIOTI, H. I. B. Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero. Cadernos


Pagu, v. 16, s. n, p. 115-136, agosto. 2001.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2017.

TONELI, M. J. F. Sexualidade, gênero e gerações: continuando o debate. In: JACÓ-VILELA,


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TORAL, A. A. Cosmologia e sociedade karajá. Rio de Janeiro: UFRJ-Museu Nacional, 1992.


(Dissertação de Mestrado).

14

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