ATIVIDADE
Texto: Os limites morais do mercado de Michael J. Sandel
Aluno(s): Amanda Ribeiro Silva e Ana Flavia Nery Rodrigues Curso:
Relações Internacionais
QUESTÕES
1) Por que, segundo o texto, “a convicção de que os mercados constituem o
principal meio para a consecução do bem público” está em dúvida?
O autor argumenta que a convicção de que os mercados são o principal
meio para alcançar o bem público está em dúvida por várias razões. Sander
destaca que, embora os mercados possam ser eficientes em muitas áreas, eles
também podem falhar em promover justiça e equidade. A crítica se baseia no
fato de que a lógica do mercado, que visa a maximização do lucro e a
eficiência, muitas vezes ignora questões éticas e sociais importantes, como a
desigualdade e a exploração. Além disso, Sander menciona que a
mercantilização de certos bens e serviços pode comprometer valores
fundamentais, como a dignidade humana e a solidariedade, que não são
adequadamente considerados pelos mercados. Assim, a ideia de que os
mercados sozinhos são suficientes para promover o bem público é questionada
devido a essas limitações e falhas.
2) Por que a variável “ganância” não é argumento suficiente para explicar a
crise do triunfalismo de mercado?
A variável "ganância" não é argumento suficiente para explicar a crise do
triunfalismo de mercado porque a crise vai além de um mero comportamento
individual ou de um vício moral. Sander diz que a falência do triunfalismo de
mercado é causada por problemas estruturais e sistêmicos na forma como os
mercados são organizados e como suas lógicas operam. A ganância, embora
desempenhe um papel, não explica completamente as falhas sistêmicas que
afetam a justiça e a eficiência dos mercados. A crise envolve questões mais
profundas, como a inadequação dos mercados para lidar com bens públicos, a
desigualdade crescente e a mercantilização de aspectos essenciais da vida
humana que não podem ser reduzidos a simples comportamentos egoístas.
3) Cite exemplos de ausência de moralidade em, pelo menos, três setores
antes protegidos da busca ilimitada pelo lucro.
Três exemplos importantes incluem a educação, saúde e meio
ambiente. Pensando na introdução de lógicas de mercado na educação, isso
pode refletir na priorização do lucro sobre a qualidade do ensino e o acesso
equitativo. Instituições educacionais podem se concentrar em maximizar
receitas por meio de matrículas e taxas, em vez de garantir a excelência
acadêmica e a inclusão social. Na questão da saúde, a privatização e a
mercantilização desses serviços podem levar a práticas que priorizam o lucro
sobre o bem-estar dos pacientes. O setor pode experimentar a exploração de
vulnerabilidades, onde tratamentos e cuidados são oferecidos com base em
sua rentabilidade, em vez de necessidade médica. Por fim, pensando no meio
ambiente, a exploração de recursos naturais para fins lucrativos ignora
frequentemente a sustentabilidade e o impacto ambienta, essa busca
desenfreada por lucro pode resultar em práticas prejudiciais ao meio ambiente
que comprometem a saúde do planeta e da população. Esses exemplos
ilustram como a introdução de lógicas de mercado em áreas que
tradicionalmente valorizavam a ética e o bem-estar social pode levar a uma
erosão dos princípios morais e a consequências negativas significativas.
4) Dentre as questões que preocupam o autor, dois motivos particularmente lhe
parecem mais preocupantes “quando tudo está à venda”. Quais?
Desenvolva-os.
Duas questões nos chamaram a atenção. A primeira se trata da
destruição de valores não-mercantis. Sander preocupa-se com a
mercantilização de bens e serviços que tradicionalmente não eram sujeitos a
lógica de mercado. Quando qualquer aspecto da vida é comercializado, valores
importantes como solidariedade, dignidade e justiça podem ser comprometidos.
O autor argumenta que a introdução de uma lógica de mercado em áreas como
a saúde, a educação e a justiça pode transformar relações e instituições que
deveriam ser guiadas por princípios éticos em meros mecanismos de lucro.
Isso pode levar à perda de valores fundamentais e ao enfraquecimento de
normas sociais que promovem o bem-estar coletivo. A segunda diz respeito à
inequidade e exclusão social. Outro ponto crítico para Sander é o aumento da
desigualdade e da exclusão social resultante da mercantilização. Quando tudo
é colocado à venda, o acesso a bens e serviços essenciais torna-se
dependente da capacidade financeira das pessoas. Isso pode criar uma
sociedade onde apenas aqueles com mais recursos conseguem obter o que
necessitam, enquanto os menos favorecidos são excluídos. A mercantilização
exacerba as desigualdades existentes e pode agravar a exclusão de grupos
sociais vulneráveis, comprometendo a justiça social e a equidade. Essas
preocupações refletem o temor de que a expansão da lógica de mercado para
todas as esferas da vida possa levar a uma erosão de valores essenciais e ao
aumento das desigualdades sociais.
5) Quais as diferenças entre uma “economia de mercado” e uma “sociedade de
mercado”?
A economia de mercado se refere a um sistema econômico onde a
produção e a troca de bens e serviços são reguladas por leis de oferta e
demanda. As atividades econômicas são predominantemente orientadas pela
busca de eficiência e pela maximização do lucro. O mercado aqui é uma
ferramenta para a alocação de recursos e a coordenação de atividades
econômicas, mas não necessariamente influencia todas as dimensões da vida
social e pessoal. Já o sistema de mercado vai além da economia e diz respeito
à uma situação em que a lógica de mercado e os princípios econômicos são
aplicados não apenas à esfera econômica, mas também a todos os aspectos
da vida social e pessoal. Em uma sociedade de mercado, a mercantilização se
estende a áreas como a saúde, a educação, e até mesmo a relações
interpessoais e valores culturais. Isso implica que a busca por lucro e a
eficiência de mercado começam a moldar normas sociais e a definir o valor de
bens e relações que tradicionalmente não eram comercializados.
6) Quais limites morais ao mercado podem e devem ser impostos?
Michael J. Sandel traz em seu texto que o mercado não deve reger
todas as esferas da vida e que certos limites morais devem ser impostos.
Primeiramente, valores morais e sociais devem ser protegidos da lógica de
mercado; por exemplo, atividades altruístas como a doação de sangue não
devem ser mercantilizadas, pois isso corrompe seu valor intrínseco. Além
disso, bens essenciais como saúde e educação devem ser acessíveis a todos,
independentemente da capacidade financeira, para evitar a ampliação da
desigualdade social. A dignidade humana também deve ser preservada,
evitando a mercantilização do corpo, como na venda de órgãos ou na
maternidade de substituição. Por fim, a mercantilização de serviços
fundamentais pode enfraquecer o senso de cidadania e a solidariedade social,
portanto, certos direitos e serviços devem ser mantidos fora do alcance do
mercado. Esses limites precisam ser debatidos e decididos coletivamente para
garantir a justiça, a dignidade e o bem comum.
7) O autor menciona um primeiro obstáculo que dificulta a elaboração de um
parâmetro moral para o mercado, estabelecendo limites. Que primeiro
obstáculo é este? Explique.
No texto, o autor menciona que o primeiro obstáculo para a elaboração
de um parâmetro moral que estabeleça limites ao mercado é a neutralidade
moral que domina o pensamento econômico contemporâneo. Essa
neutralidade se baseia na ideia de que o mercado é apenas um mecanismo de
alocação de recursos, que não impõe juízos de valor sobre as preferências das
pessoas, isto é, ele trata todas as preferências como igualmente válidas, sem
considerar se são moralmente corretas ou questionáveis. Esse obstáculo surge
porque, ao adotar essa perspectiva, os economistas e defensores do mercado
evitam fazer julgamentos sobre a qualidade moral das transações. Para eles,
desde que as trocas sejam voluntárias e as partes envolvidas estejam de
acordo, o mercado não deve ser limitado por considerações morais externas, o
que dificulta a imposição de limites, já que sugere que a função do mercado
não é julgar o valor das preferências humanas, mas apenas satisfazê-las.
Sandel critica essa neutralidade, argumentando que algumas
preferências e transações não podem ser consideradas moralmente neutras.
Ele defende que certos bens e atividades são corrompidos quando sujeitos à
lógica mercadológica, e que precisamos debater e deliberar sobre os limites
éticos das trocas econômicas. Visto isso, a moralidade não pode ser separada
das decisões sobre o que deve ou não estar à venda, e ignorar isso é o grande
obstáculo inicial na criação de limites morais ao mercado.
8) Outro obstáculo que dificulta a elaboração deste parâmetro moral para o
mercado é aquilo que o autor denomina de “vazio do discurso público”? O
que o autor quer dizer com esta expressão?
Quando Sandel fala do "vazio do discurso público", ele está se referindo
à falta de discussões mais aprofundadas sobre questões morais e éticas no
espaço público, especialmente no que diz respeito ao papel do mercado e seus
limites. Nas últimas décadas, o debate político e social tem se distanciado das
considerações morais, focando mais em questões tecnocráticas, econômicas
ou pragmáticas, sem questionar de forma aberta e pública os valores que
deveríamos promover como sociedade. Esse "vazio" surge quando evitamos
discutir temas difíceis, como justiça, bem comum e virtude, porque temos
receio de entrar em desacordos morais. Ao invés disso, o discurso público é
muitas vezes limitado a debates sobre eficiência ou desenvolvimento
econômico, sem considerar os impactos morais mais amplos das políticas ou
do mercado. Então, o "vazio do discurso público" seria a ausência de uma
discussão coletiva e robusta sobre os valores e princípios que deveriam guiar
nossas políticas econômicas e sociais.
9) O que “um debate sobre o limite moral do mercado nos permitiria decidir
como sociedade”?
Segundo o que está abordado no texto, um debate moral nos daria a
oportunidade de decidir que alguns bens têm um valor intrínseco que não deve
ser reduzido a uma simples mercadoria, como a saúde, educação, justiça e
cidadania podem ser considerados esferas que não devem ser submetidas às
forças de oferta e demanda. Também é possível definir práticas que respeitam
a dignidade das pessoas, protegendo indivíduos de serem tratados como
meros instrumentos de lucro, como no caso da comercialização de órgãos ou
da exploração do trabalho. Além de auxiliar a abordar questões de justiça
distributiva, decidindo coletivamente que certos bens e serviços, como
educação e saúde, devem estar disponíveis de forma equitativa, e não apenas
para aqueles que podem pagar mais, e promover o bem comum, enfatizando
que nem tudo na vida social deve ser visto com base no interesse individual.
Isso fortaleceria a solidariedade e o compromisso com os outros membros da
sociedade, estimulando o senso de dever cívico. Com isso, seria possível uma
sociedade decidir de maneira consciente e deliberada o que valorizamos além
do lucro, preservando os valores que consideramos essenciais para o bem-
estar coletivo e a justiça social, e limitando principalmente os efeitos do
mercado na sociedade.
10) Normalmente quando se fala em corrupção, se pensa na política e nos
políticos. No entanto, o que este texto mostra é que no mundo privado da
economia, ocorrem muitas práticas abusivas também. Desenvolva a
questão.
No texto "Os Limites Morais do Mercado", Sandel amplia a noção de
corrupção para além da política e mostra que no mundo privado da economia
também ocorrem muitas práticas abusivas que corrompem valores sociais,
éticos e morais. Enquanto a corrupção política é frequentemente associada ao
abuso de poder público para ganho privado, a lógica de mercado, quando não
regulamentada, pode corromper práticas e bens que deveriam ser regidos por
normas diferentes das do mercado. Um exemplo claro disso é a
comercialização de bens essenciais, então, quando serviços como saúde,
educação ou habitação são tratados como mercadorias, surgem práticas que
podem ser vistas como abusivas, sempre voltadas para o lucro, em ganhar
mais e mais. Essa lógica de mercado corrompe o valor moral desses serviços,
que deveriam ser acessíveis a todos com base na necessidade, e não na
capacidade de pagamento.
No mercado de trabalho, a exploração de trabalhadores também
representa uma forma de corrupção econômica, já que pela busca maximizar o
lucro, as empresas frequentemente reduzem salários, cortam benefícios ou
impõem condições de trabalho inadequadas. Além de ser recorrente encontrar
práticas como o uso de mão de obra infantil, formas de trabalho análogo à
escravidão e a terceirização excessiva transformam os seres humanos em
meros recursos econômicos, desumanizando-os e ignorando sua dignidade.
Outro aspecto discutido por Sandel é a comercialização de valores
morais e sociais. Práticas como pagar por amizade, por doações de sangue ou
por maternidade de substituição são exemplos de como a lógica mercadológica
pode invadir esferas da vida que deveriam ser guiadas por princípios éticos e
não pelo lucro. Essas transações comerciais abusam de relações humanas que
deveriam se basear em confiança, altruísmo ou solidariedade. Similarmente a
isso há a crítica à instrumentalização das relações humanas, onde há a
corrupção de esferas da vida que deveriam ser regidas por valores mais
elevados, como o afeto, o comprometimento e o senso de dever. Essa
mercantilização reduz a experiência humana a transações comerciais,
desvalorizando as relações sociais e familiares.
Além disso, a mercantilização de bens e serviços essenciais contribui
para a perpetuação da desigualdade social. Quando o acesso à educação, à
saúde e a outros direitos básicos é restrito a quem pode pagar, cria-se uma
sociedade dividida, onde os mais ricos têm acesso a privilégios que os mais
pobres não conseguem alcançar. A elitização desses serviços contribui para
um ciclo de exclusão, ampliando as disparidades sociais e minando o princípio
de equidade. Isso também desperta a reflexão sobre as práticas abusivas no
mundo privado, a falta de regulação e a atuação de monopólios ou oligopólios.
Quando o mercado opera sem intervenção estatal para proteger o bem comum,
empresas poderosas podem manipular preços, excluir concorrentes menores e
explorar os consumidores. Essas práticas monopolistas geram um tipo de
corrupção estrutural, que beneficia poucos e prejudica muitos.
Isso nos faz refletir que a corrupção não se limita ao governo ou à
política, mas também está presente no mundo privado da economia, quando os
valores de mercado são aplicados indiscriminadamente. Por isso, é
fundamental impor limites éticos ao mercado para garantir que ele sirva ao bem
comum e respeite a dignidade humana, em vez de corromper os valores
fundamentais da vida em sociedade.