2
CENTRO UNIVERSITÁRIO CAMBURY
CURSO DE PSICOLOGIA
ACOMPANHAMENTO
TRABALHO DE DISCIPLINA POR ACOMPANHAMENTO II:
DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
ALLINY SOUSA
ORIENTADORA: LILIAN
GOIÂNIA – GO
2024
3
ALLINY SOUSA
TRABALHO DE DISCIPLINA POR ACOMPANHAMENTO II:
DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
Trabalho por Acompanhamento II da
disciplina, Desdobramentos da Teoria
Psicanalítica. Aresentado a Coordenadora: Lilian
Guimarães para a composição da nota.
GOIÂNIA – GO
2024
4
Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 05
2. A TEORIA FREUDIANA DE SOCIEDADE E CULTURA E OS PÓS-FREUDIANOS...........................06
3. TENDÊNCIAS RECENTES NO PENSAMENTO PSICANALÍTICO.......................................................09
4. CONCLUSÃO ................................................................................................................................................11
5. REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................................13
5
DAS CONCEPÇÕES FREUDIANAS À ESCOLA DE VIENA, NGLESA E
FRANCESA: A EVOLUÇÃO DA PSICANÁLISE
1. INTRODUÇÃO
A Psicanálise surgiu no final do século XIX, com as contribuições pioneiras de
Sigmund Freud, um neurologista austríaco, que desenvolveu teorias revolucionárias sobre a
mente humana, o inconsciente e os processos psíquicos. Freud introduziu a ideia de que
nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos são influenciados por processos mentais
ocultos, muitos dos quais estão fora da nossa consciência. Suas teorias sobre a dinâmica entre
o consciente e o inconsciente, a estrutura da psique humana (id, ego e superego) e os
mecanismos de defesa, entre outros, criaram a base para a psicanálise como uma teoria e uma
prática terapêutica (Freud, 1996).
O objetivo deste trabalho é analisar o desenvolvimento da Psicanálise desde suas
origens até as contribuições pós-freudianas, com ênfase nas principais escolas psicanalíticas
que se formaram após Freud. A partir de suas ideias iniciais, surgiram diversas correntes
teóricas e clínicas, como a Escola de Viena, com a continuidade das ideias freudianas; a
Escola Inglesa, liderada por Melanie Klein, que se concentrou em aspectos infantis e objetais
da psique; e a Escola Francesa, influenciada por Jacques Lacan, que reformulou a teoria
psicanalítica a partir de uma perspectiva linguística e estruturada (Fink, 2017; Zimerman,
2004). Este estudo visa aprofundar o entendimento sobre a evolução da Psicanálise,
destacando as principais transformações teóricas e práticas que ocorreram ao longo do tempo
e como essas escolas contribuíram para a ampliação e diversificação do campo psicanalítico.
Freud, ao investigar os processos mentais inconscientes, introduziu a técnica da
associação livre, onde o paciente, ao falar livremente, poderia revelar pensamentos e
sentimentos reprimidos. A interpretação dos sonhos também foi um dos métodos cruciais
propostos por Freud para acessar o inconsciente. Para ele, os sonhos eram uma expressão
simbólica de desejos e conflitos reprimidos. Essa perspectiva trouxe uma revolução não só na
psicologia, mas também nas áreas de filosofia e cultura, pois desafiava a visão tradicional da
mente humana e seus processos (Zimerman, 2011).
Com a morte de Freud em 1939, a Psicanálise não apenas continuou a se desenvolver
como também se diversificou em várias abordagens, dando origem a diferentes escolas de
pensamento. A Escola de Viena, que se manteve fiel às ideias iniciais de Freud, desenvolveu e
expandiu sua teoria sobre o inconsciente, a sexualidade e a dinâmica psíquica. Já a Escola
6
Inglesa, sob a liderança de Melanie Klein, enfatizou o papel dos primeiros anos de vida e das
relações objetais, introduzindo novas formas de entender a angústia, a agressividade e o
desenvolvimento psíquico a partir das experiências infantis (Zimerman, 2004).
Por outro lado, a Escola Francesa, com a figura de Jacques Lacan, representou uma
ruptura significativa com a Psicanálise freudiana. Lacan revisitou a obra de Freud à luz da
linguística, trazendo à tona a importância do "Outro" e do "significante" na constituição do
sujeito. Sua famosa afirmação de que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem"
inaugurou uma nova forma de interpretar os processos psíquicos, com um enfoque na
linguagem, no simbolismo e na relação entre o sujeito e a sociedade (Fink, 2017). A partir
dessa perspectiva, a Psicanálise foi revista e aplicada de maneira diferenciada em contextos
clínicos e culturais, influenciando profundamente a prática psicanalítica em várias partes do
mundo.
A análise do desenvolvimento da Psicanálise também deve levar em consideração os
desafios enfrentados pela teoria ao longo do tempo. Ao longo do século XX e início do XXI, a
Psicanálise foi muitas vezes questionada e criticada por outras correntes da psicologia, como
o behaviorismo, o cognitivismo e a psicologia humanista. No entanto, ela conseguiu se manter
relevante, principalmente pela flexibilidade de suas abordagens teóricas e clínicas, que
continuaram a ser atualizadas e reinterpretadas por diversas gerações de psicanalistas.
O impacto da Psicanálise na cultura contemporânea também não pode ser
subestimado. Suas ideias influenciaram campos como a literatura, a arte, o cinema, a filosofia
e a sociologia, além de ter gerado um vasto campo de pesquisa acadêmica e prática clínica. A
Psicanálise não apenas forneceu novas ferramentas para a compreensão dos fenômenos
psíquicos, mas também ofereceu um novo modo de olhar a subjetividade humana, tornando-se
uma disciplina essencial no estudo do comportamento, das emoções e da psique (Freud, 1996;
Fink, 2017).
Este trabalho, portanto, tem como objetivo traçar a trajetória da Psicanálise desde suas
origens até as correntes pós-freudianas, analisando as contribuições de diferentes escolas e
como elas moldaram a teoria e a prática psicanalítica ao longo do tempo, refletindo as
transformações sociais, culturais e científicas que influenciaram e foram influenciadas por
esse campo do saber.
2. A TEORIA FREUDIANA DE SOCIEDADE E CULTURA E OS PÓS-FREUDIANOS
Sigmund Freud desenvolveu sua teoria psicanalítica considerando a interação entre os
aspectos individuais e coletivos da experiência humana. Em obras como "O futuro de uma
7
ilusão" e "Mal-estar na civilização", Freud explora a tensão entre os desejos instintivos do
indivíduo e as restrições impostas pela cultura e pela sociedade. Para ele, a civilização exige o
controle das pulsões, especialmente as sexuais e agressivas, o que gera inevitavelmente um
estado de mal-estar (Freud, 1996). Essa abordagem pioneira abriu caminho para reflexões
posteriores sobre os impactos da sociedade no psiquismo humano.
Com a evolução do pensamento psicanalítico, diversos autores pós-freudianos
contribuíram significativamente para expandir e aprofundar a teoria. A escola de Viena,
representada por Sandor Ferenczi, introduziu a noção de trauma como um fenômeno
relacional e enfatizou a importância da empatia no processo analítico (Zimerman, 2011). Já a
escola inglesa, com Melanie Klein, trouxe contribuições valiosas ao explorar as fantasias
inconscientes e o papel do mundo interno na formação do psiquismo, enquanto Donald
Winnicott desenvolveu conceitos como o "espaço transicional" e o "objeto transicional",
fundamentais para a compreensão do desenvolvimento emocional (Zimerman, 2004).
Por outro lado, a escola francesa, com Jacques Lacan, promoveu uma releitura do
pensamento freudiano à luz da linguística estruturalista. Lacan enfatizou a linguagem como
mediadora do inconsciente e apresentou conceitos como o "Estádio do Espelho" e os registros
do Real, Simbólico e Imaginário, marcando profundamente o campo da Psicanálise
contemporânea (Fink, 2017). Assim, as contribuições pós-freudianas, provenientes de
diferentes tradições, enriqueceram a Psicanálise, ampliando seu alcance teórico e clínico.
Sigmund Freud, em sua obra, buscou entender a relação entre a psicanálise e a
sociedade, propondo que os processos psíquicos individuais estão intimamente ligados à
cultura e à civilização. Freud via a cultura como uma extensão dos impulsos humanos
reprimidos e sublimados, resultantes do conflito entre os instintos primitivos e as exigências
da sociedade. Em textos como O Mal-Estar na Civilização (1930), ele argumenta que a
civilização exige dos indivíduos uma repressão constante de seus desejos e pulsões, o que, por
sua vez, gera o que ele chamava de "mal-estar", caracterizado pela insatisfação e angústia
generalizada da sociedade moderna. Para Freud, a cultura, ao tentar controlar as pulsões
humanas, cria tensões e neuroses, mas, ao mesmo tempo, é necessária para a manutenção da
ordem social.
Freud também abordou o papel da religião na cultura humana, tratando-a como uma
forma de ilusão e um sistema de repressão coletiva, no qual os indivíduos se submetem ao
controle simbólico de uma autoridade superior para lidar com os próprios conflitos psíquicos.
Em O Futuro de uma Ilusão (1927), Freud descreve a religião como uma tentativa da
humanidade de lidar com as ansiedades existenciais, especialmente diante da morte e do
8
sofrimento. Em sua visão, a religião seria uma forma de sublimação das pulsões e uma
maneira de a cultura lidar com os instintos, criando uma moralidade que impõe uma visão de
mundo idealizada, mas que, ao mesmo tempo, é incapaz de resolver os conflitos internos do
ser humano (Freud, 1996).
Após a morte de Freud, a Psicanálise não se limitou a seguir suas ideias, mas se
desenvolveu e se diversificou, dando origem a várias correntes psicanalíticas que
reinterpretaram e expandiram sua teoria. A Escola de Viena, por exemplo, com figuras como
Sandor Ferenczi, manteve uma relação estreita com as ideias de Freud, mas introduziu novas
abordagens. Ferenczi, em seus escritos, trouxe um olhar mais empático e humanista para a
prática psicanalítica, enfatizando a importância da relação terapêutica. Ele criticou a rigidez
da técnica freudiana, propondo uma abordagem mais flexível e menos distante. Ferenczi
também tratou das experiências traumáticas, sugerindo que a psicanálise poderia se expandir
para além da análise dos conteúdos inconscientes, incluindo o impacto de experiências
emocionais intensas (Ferenczi, 1988).
A Escola Inglesa, representada principalmente por Melanie Klein e Donald Winnicott,
também se afastou de alguns aspectos da teoria freudiana, mas continuou a explorar as
questões do inconsciente, das pulsões e da dinâmica relacional. Melanie Klein, por exemplo,
concentrou-se no desenvolvimento psicológico infantil, propondo que os primeiros
relacionamentos com os pais, especialmente com a mãe, eram fundamentais na formação da
psique. Ela introduziu a teoria das posições esquizoide-paranoide e depressiva, destacando
como as crianças lidam com a ambivalência entre amor e ódio em seus objetos internos, e
como isso influencia o desenvolvimento emocional. A teoria kleiniana também enfatizou o
papel da fantasia inconsciente e da internalização de objetos, o que ofereceu uma nova forma
de compreender os mecanismos de defesa e os processos psicopatológicos (Klein, 2002).
Por outro lado, Donald Winnicott, um dos principais teóricos da Escola Inglesa,
propôs a ideia do "objeto transicional" e a importância da mãe na formação do self. Para
Winnicott, a função materna era essencial para o desenvolvimento de um self coeso e
saudável. Ele descreveu o conceito de "falso self", que se desenvolve em crianças cujas
necessidades emocionais não são adequadamente atendidas. O conceito de "espaço potencial",
que envolve a capacidade de brincar e de viver experiências subjetivas de forma criativa, foi
uma contribuição importante para a compreensão do desenvolvimento emocional e das
distúrbios psíquicos, principalmente nas relações interpessoais e sociais (Winnicott, 1990).
Na França, a Psicanálise passou por uma grande transformação com a obra de Jacques
Lacan, que revisitou e reinterpretou Freud à luz da linguística e da filosofia estruturalista.
9
Lacan introduziu conceitos como o "Estádio do Espelho", que descreve a formação do ego a
partir da imagem do próprio corpo e da identificação com os outros, e a ideia de que o
inconsciente é estruturado como uma linguagem. A ênfase lacaniana no papel da linguagem e
do simbólico marcou uma ruptura com a visão mais intrapsíquica e emocional de Freud.
Lacan também desafiou as concepções tradicionais da psicanálise, questionando a técnica e
propondo uma abordagem que envolvia menos intervenção do terapeuta. Ele focou na
importância das relações do sujeito com o Outro, um conceito fundamental para a clínica
lacaniana, que continua a influenciar profundamente as práticas psicanalíticas
contemporâneas (Lacan, 1992).
Essas escolas pós-freudianas expandiram a Psicanálise para novos campos e
abordagens, refletindo as mudanças sociais e culturais do século XX e além. Elas
introduziram diferentes formas de compreender os processos psíquicos, com foco nas relações
interpessoais, na linguagem e no desenvolvimento infantil, sem perder de vista as questões
fundamentais que Freud abordou sobre a repressão, os instintos e a civilização. Assim, o
pensamento psicanalítico evoluiu para um campo mais complexo e diversificado, com cada
escola trazendo uma contribuição importante para a teoria e a prática psicanalítica, incluindo a
compreensão das relações entre o indivíduo, a sociedade e a cultura.
3 TENDÊNCIAS RECENTES NO PENSAMENTO PSICANALÍTICO
A Psicanálise, desde suas origens com Sigmund Freud, evoluiu e se diversificou ao
longo do tempo, adaptando-se às mudanças sociais, culturais e científicas. A teoria
psicanalítica moderna não se limita mais às ideias iniciais de Freud, mas incorporou novas
contribuições de psicanalistas pós-freudianos como Melanie Klein, Donald Winnicott e
Jacques Lacan. Esses pensadores modificaram aspectos fundamentais da Psicanálise,
ampliando seu alcance e dando origem a novas abordagens clínicas e teóricas que continuam
a influenciar o pensamento psicanalítico contemporâneo.
Freud, ao construir sua teoria, enfatizou a relação entre os instintos humanos e a
civilização, abordando a repressão das pulsões e os conflitos inconscientes que surgem no
processo de socialização. Suas ideias sobre a sexualidade infantil, os mecanismos de defesa e
a estrutura da psique (id, ego e superego) forneceram a base para a psicanálise. No entanto,
com o tempo, surgiram novas abordagens que ampliaram e até modificaram essas concepções
iniciais, levando em conta os desenvolvimentos científicos e as mudanças socioculturais do
século XX.
Uma das principais influências no desenvolvimento da Psicanálise moderna veio da
10
Escola Inglesa, particularmente com Melanie Klein e Donald Winnicott. Klein introduziu uma
visão mais profunda sobre os primeiros estágios do desenvolvimento infantil, propondo que a
vida psíquica começa com a relação com a mãe e que o bebê internaliza figuras objetais a
partir das primeiras experiências emocionais. Ela enfatizou o papel das fantasias
inconscientes, da angústia e da destrutividade no processo de desenvolvimento emocional,
oferecendo uma nova perspectiva sobre as relações interpessoais e a formação da
personalidade. A teoria kleiniana também trouxe uma ênfase nas posições psicodinâmicas
iniciais — a posição esquizo-paranoide e a posição depressiva — que caracterizam a forma
como as crianças lidam com os conflitos entre amor e ódio (Klein, 2002).
Winnicott, por sua vez, fez contribuições importantes para a Psicanálise com sua teoria
do "self" e do "objeto transicional". Ele sugeriu que o desenvolvimento saudável depende de
uma "mãe suficientemente boa", ou seja, uma mãe que proporciona um ambiente de cuidado
que permite ao bebê se sentir seguro o suficiente para desenvolver uma sensação de
identidade. Winnicott introduziu a ideia do "falso self", que surge quando as necessidades
emocionais da criança não são plenamente atendidas. Sua teoria do "espaço potencial", no
qual o indivíduo pode experimentar e criar de forma livre e sem pressões externas, influenciou
a psicologia do desenvolvimento e a prática clínica, especialmente no que diz respeito ao
trabalho com crianças e à compreensão dos processos criativos e terapêuticos (Winnicott,
1990).
Por outro lado, a contribuição de Jacques Lacan representou uma das transformações
mais significativas na Psicanálise pós-freudiana. Lacan revisitou Freud à luz da linguística e
da filosofia estruturalista, propondo que o inconsciente é estruturado como uma linguagem.
Para Lacan, a formação do sujeito está intimamente ligada ao processo de identificação com
os outros, especialmente no "Estádio do Espelho", onde a criança começa a se reconhecer no
espelho e forma uma imagem do "eu" que será central para o desenvolvimento do ego. Essa
ênfase na linguagem e no simbólico levou à introdução de conceitos como o "Outro" e a
"falta", fundamentais para a clínica lacaniana, onde o sujeito é visto como um ser dividido,
marcado pela ausência e pelo desejo. Lacan também desafiou as práticas psicanalíticas
tradicionais, propondo uma nova abordagem da técnica terapêutica que enfatiza a escuta
atenta do discurso do paciente, sem tentar uma interpretação direta ou "cura" do sofrimento
(Lacan, 1992).
As contribuições de Klein, Winnicott e Lacan tiveram um impacto profundo na
Psicanálise moderna, transformando a maneira como os psicanalistas abordam o tratamento
de pacientes, especialmente em relação ao desenvolvimento infantil, aos distúrbios
11
emocionais e à importância das relações interpessoais. Essas influências se refletem em novas
práticas clínicas e novas formas de compreender a psique humana. A Psicanálise se expandiu,
tornando-se mais dinâmica e plural, incorporando elementos de outras áreas do saber, como a
filosofia, a linguística e a psicologia do desenvolvimento, o que permite uma adaptação maior
às mudanças culturais e sociais contemporâneas.
No cenário atual, a Psicanálise continua a se adaptar às novas demandas sociais e
culturais, especialmente no que se refere às questões de gênero, identidade e as
transformações da subjetividade na era digital. A reflexão sobre as relações interpessoais no
contexto das redes sociais, a análise do impacto das novas tecnologias na psique humana e o
entendimento das novas formas de subjetivação são alguns dos desafios enfrentados pelos
psicanalistas contemporâneos. Além disso, as práticas psicanalíticas estão se tornando cada
vez mais integradas com outras abordagens terapêuticas, como as terapias cognitivo-
comportamentais, criando um campo mais aberto e interdisciplinar, embora as bases
psicanalíticas permaneçam fundamentais para a compreensão do inconsciente e dos processos
psíquicos.
O pensamento psicanalítico moderno, portanto, é resultado de um longo processo de
evolução, no qual as ideias de Freud e seus sucessores, como Klein, Winnicott e Lacan,
contribuíram para a construção de um campo dinâmico e em constante transformação. A
Psicanálise continua a oferecer uma valiosa perspectiva sobre a subjetividade humana,
adaptando-se às novas realidades sociais, culturais e tecnológicas, enquanto mantém seus
fundamentos teóricos sólidos, que continuam a influenciar tanto a prática clínica quanto o
estudo da psique humana.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, discutimos a evolução da Psicanálise desde suas origens com
Sigmund Freud até as principais contribuições pós-freudianas, que ampliaram e aprofundaram
o campo da teoria psicanalítica. Freud, com suas inovações sobre o inconsciente, a repressão e
a dinâmica entre os impulsos e a cultura, estabeleceu as bases para o que viria a ser a
Psicanálise moderna. No entanto, os psicanalistas pós-freudianos, como Melanie Klein,
Donald Winnicott e Jacques Lacan, trouxeram novas perspectivas que não apenas
reformularam as ideias freudianas, mas também enriqueceram a teoria e a prática
psicanalítica, adaptando-as às novas demandas sociais e culturais.
A contribuição de Klein, com seu foco no desenvolvimento emocional infantil e nas
12
relações objetais, trouxe uma compreensão mais profunda dos primeiros anos da vida e das
complexas dinâmicas inconscientes que marcam a psique desde a infância. Winnicott, ao
enfatizar a importância do "self" e da função materna, contribuiu para uma compreensão mais
humanista e relacional da Psicanálise, destacando o papel do ambiente emocional no
desenvolvimento saudável. Lacan, por sua vez, provocou uma verdadeira revolução na
Psicanálise ao revisar as ideias freudianas à luz da linguística e da filosofia estruturalista,
oferecendo uma nova perspectiva sobre o inconsciente e a subjetividade, que continua a
influenciar a Psicanálise contemporânea.
Essas contribuições pós-freudianas foram essenciais para a expansão da Psicanálise,
tanto na teoria quanto na prática clínica. Elas permitiram uma maior integração da Psicanálise
com outras áreas do saber, como a filosofia, a linguística e a psicologia do desenvolvimento,
tornando-a mais dinâmica e capaz de responder às transformações da sociedade moderna. As
novas abordagens psicanalíticas, influenciadas pelas escolas de Viena, Inglesa e Francesa,
expandiram a compreensão dos processos psíquicos, oferecendo novas ferramentas para o
tratamento de distúrbios emocionais e para a compreensão das relações interpessoais.
As diferentes escolas psicanalíticas, apesar de suas divergências teóricas e
metodológicas, têm em comum a busca por entender a psique humana em sua totalidade,
considerando tanto os processos internos do indivíduo quanto o impacto da cultura e das
relações sociais na formação do sujeito. A diversidade de abordagens, com suas ênfases
distintas na linguagem, no desenvolvimento infantil, nas relações objetais e na dinâmica
emocional, tem contribuído para a riqueza da Psicanálise moderna e para a sua continuidade
como uma das principais correntes de pensamento no campo das ciências humanas e sociais.
As influências dessas escolas continuam a ser sentidas nas tendências atuais da
Psicanálise, que, ao mesmo tempo em que preservam os princípios fundamentais
estabelecidos por Freud, se adaptam e se transformam para lidar com as questões
contemporâneas, como as novas formas de subjetividade, a questão de gênero, as
transformações sociais e culturais, e as mudanças provocadas pelo avanço tecnológico e
digital. A Psicanálise, portanto, segue sendo uma ferramenta valiosa para o entendimento da
complexidade humana, da subjetividade e das relações interpessoais, mantendo sua relevância
tanto no campo clínico quanto no acadêmico.
Em conclusão, a diversidade de escolas psicanalíticas e suas contribuições enriquecem o
campo da Psicanálise e garantem sua permanência como uma disciplina fundamental para o
entendimento da psique humana. As influências de Klein, Winnicott, Lacan e outros pós-
freudianos continuam a moldar as práticas psicanalíticas, assegurando que a Psicanálise se
13
mantenha atualizada e capaz de responder às complexidades do mundo contemporâneo.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERENCZI, S. Confusão de línguas entre os adultos e a criança. In: Psicanálise e Cultura.
São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol XI. Rio de Janeiro: Imago,
1996.
KLEIN, M. O desenvolvimento emocional da criança. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
LACAN, J. Écrits. Paris: Éditions du Seuil, 1992.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
FINK, B. Fundamentos da técnica psicanalítica: uma abordagem lacaniana para praticantes.
São Paulo: Blucher; Karnac, 2017.
ZIMERMAN, D. E. Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise. Porto Alegre: Grupo A,
2011.
ZIMERMAN, D. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica: uma abordagem
didática. Porto Alegre: Artmed, 2004.