INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DA HUILA
ISCED – HUÍLA
A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA AFRICANA PARA O
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Autor: Julião Felize Catengue
Lubango, 2024
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DA HUILA
ISCED – HUÍLA
A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA AFRICANA PARA O
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Trabalho Apresentado Para Obtenção de Grau de Licenciado
em Ensino da Filosofia
Autor: Julião Felize Catengue
Orientador: Manuel Bartolomeu, MsC.
Lubango, 2024
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DA HUILA
ISCED – HUÍLA
DECLARAÇÃO DE AUTORIA DO TRABALHO DE LICENCIATURA
Tendo consciência que a cópia ou plágio, além de poderem gerar
responsabilidades civil, criminal e disciplinar, bem como reprovação ou a
retirada do grau, constituem uma grave violação da ética académica.
Nesta base, eu: Julião Felize Catengue, estudante finalista do Instituto
Superior de Ciências da Educação da Huíla (ISCED – HUÍLA) do curso do
Ensino de Filosofia, do Departamento de letras e Ciências Humanas, declaro,
por minha honra ter elaborado este trabalho, só e somente com auxílio da
bibliografia que tive acesso e dos conhecimentos adquiridos durante a minha
carreira estudantil e profissional.
Lubango, 10 de Julho de 2024.
O Autor
---------------------------------
Julião Felize Catengue
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DA HUÍLA
ISCED-Huíla
Ao Exmo.
Senhor Vice Presidente para Área
Científica do ISCED-Huíla
DECLARAÇÃO DE ORIETAÇÃO DO TRABALHO DE LICENCIATURA
Eu: Manuel P. Domingos Bartolomeu, Docente efectivo afecto ao
Departamento de letras e Ciências Humanas, declaro ter orientado o Trabalho
de Licenciatura do estudante: António José Jamba, Município do Lubango, cujo
título é: A Importância Da Filosofia Africana para o Desenvolvimento
Humano.
O trabalho teve início em Julho de 2024 e terminou em Dezembro de 2024.
Declaro ter cumprido as normas e regulamentos da Instituição. Assim, o
trabalho cumpre requisitos científicos de elevada qualidade, nas vertentes
académicas, metodologia, ética e formal.
Lubango/2024
O orientador:
_____________________
Manuel Bartolomeu, MsC
DEDICATÓRIA
Dedico este magnífico trabalho à toda a minha família, em especial, os meus
progenitores Sérgio Katengue e Maria Lídia Capumo a minha querida esposa,
Helelina Nihova aos meus filhos Serafim Mutota, Teresa Chicombo e Gabriel
Hossi com muito amor e carinho. Deus ilumine para todo sempre o caminho da
felicidade.
AGRADECIMENTOS
Na portada desta investigação que, por ora assume relevo definitivo, reservo-
me no direito de, em primeiro lugar, lembrar e reconhecido, nomes, poucos não
são, com efusiva e homenagem, de familiares, amigos, colegas e formadores
(de todos os níveis e lugares) que directa ou indirectamente, efectiva ou
afectivamente, cruzaram a minha história coexistencial e marcantes vestígios
de amizade e irmandade bem conservo em momória e, acredito que
continuam,até hoje, tonificando, sobremaneira, o meu roteiro por esse mundo.
Em especial o Dr. Bartolomeu meu tutor, o professor Antonio Jamba que, na
globalidade da experiência da vida, fizeram coro unânime com os seus
incentivos de vária índle, constituindo efectivamente, para mim, uma presença
preciosíssima e simpática. De facto, acredito que as flores não nascem semo
calor do sol, e os seres humanos não podem sê-lo sem o calor da amizade,
pois a amizade provoca profundas incidências na vida feliz, na conduta
apreciada e apreciável, na convivência social aceitável e na liberdade criadora
e criativa.
.Grato por tudo.
RESUMO
Uma filosofia africana bem definida é um instrumento indispensável na
formação da cultura contemporânea. Esta investigação pretende oferecer
alguns princípios sobre os temas da filosofia africana, tal como eles foram
desenvolvidos no passado até as discussões filosóficas contemporâneas. Esta
investigação é relevante tanto para os estudantes de filosofia, como para
outros leitores que tenham um interesse profundo pelos temas africanos e pela
direcção que a sociedade africana está a tomar nos nossos tempos. Queremos
tornar claro que não se trata de uma investigação especificamente sobre a
história da filosofia africana, mas uma investigação à filosofia africana que se
propõe avaliar como poderia ser pensada a sua história no contexto da
investigação contemporânea africana. Reconhecer também a necessidade da
filosofia africana redescobrir a sua consciência histórica para permitir hoje uma
reflexão séria. Esta investigação foi realizada com a convicção de que uma
compreensão abrangente da filosofia africana deve incluir todas as fases do
seu desenvolvimento antiga, tradicional, medieval, moderna e contemporânea
para poder ter uma palavra a dizer na vida actual. O trabalho tem como tema: A
importância da filosofia africana para o desenvolvimento humano um estudo
realizado junto aos estudantes do 4º Ano de Filosofia do ISCED-HUÍLA. Tem
como pergunta científica: Qual é a importância da filosofia africana para o
desenvolvimento humano? Tem o seguinte objecto de estudo: A importância
da filosofia africana para o desenvolvimento humano. Tem o seguinte campo
de acção a filosofia africana. Tem o seguinte objectivo geral de estudo: Como
os princípios e conceitos fundamentais da filosofia africana pode influenciar
positivamente o desenvolvimento humano, promovendo valores analisar como
a comunidade, interconexão e ética em contextos sociais, educacionais e
políticos.
Termos – Chave: Importância. Filosofia Africana. Desenvolvimento humano.
ABSTRACT
A well-defined African philosophy is an indispensable instrument in the
formation of contemporary culture. This research aims to offer some principles
on the themes of African philosophy, as they have been developed in the past
up to contemporary philosophical discussions. This research is relevant both for
students of philosophy and for other readers who have a deep interest in
African themes and the direction that African society is taking in our times. We
want to make it clear that this is not a research specifically on the history of
African philosophy, but an investigation of African philosophy that aims to
evaluate how its history could be thought of in the context of contemporary
African research. It also recognizes the need for African philosophy to
rediscover its historical consciousness in order to allow for serious reflection
today. This research was carried out with the conviction that a comprehensive
understanding of African philosophy must include all the phases of its
development - ancient, traditional, medieval, modern and contemporary - in
order to have a say in today's life. The work has as its theme: The importance
of African philosophy for human development - a study carried out with 4th year
Philosophy students at ISCED-HUÍLA. Its scientific question is: What is the
importance of African philosophy for human development? It has the following
object of study: The importance of African philosophy for human development. It
has the following field of action: African philosophy. It has the following general
objective of study: How the fundamental principles and concepts of African
philosophy can positively influence human development, promoting values such
as community, interconnection and ethics in social, educational and political
contexts.
Key Terms: Importance. African Philosophy. Human development.
Lista de siglas e abreviações
ÍNDICE
DEDICATÓRIA.....................................................................................................i
AGRADECIMENTOS...........................................................................................ii
RESUMO............................................................................................................ iii
ABSTRACT.........................................................................................................iv
INTRODUÇÃO.................................................................................................... v
Classificação da Pesquisa.................................................................................. 3
Vantagens e desvantagens da pesquisa bibliografia..........................................4
Vantagens da pesquisa bibliográfica...................................................................5
Desvantagens da pesquisa bibliográfica.............................................................5
Identificação do tema..........................................................................................5
Justificação da Investigação............................................................................... 6
Situação Real Actual:..........................................................................................6
Formulação do Problema da Investigação:.........................................................7
Objectivos Específicos........................................................................................7
Campo de acção.................................................................................................7
Objecto da Pesquisa:..........................................................................................7
Importância do trabalho.......................................................................................8
Importância Prática............................................................................................. 8
Importância teórica..............................................................................................8
TERMOS – CHAVE:............................................................................................9
QUADRO METODOLÓGICO............................................................................10
MÉTODOS TEÓRICOS:................................................................................... 10
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA IMPORTÂNCIA DA
FILOSOFIA AFRICANA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO................11
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12
1.1- A ORIGEM DA FILOSOFIA AFRICANA..................................................14
1.2- DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA AFRICANA................................................15
1.3- LA PHILOSOPHIE BANTOUE DE PLACIDE TEMPELS: BREVE
APRESENTAÇÃO DO ARGUMENTO..............................................................17
1.4- A ONTOLOGIA BANTU DA FORÇA VITAL: A NOÇÃO DO SER...........19
1.4.1- A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA CRISTÃ AFRICANA NA ÁFRICA
ANTIGA/TRADICIONAL....................................................................................20
1.4.2- A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA CRISTÃ AFRICANA NA ÁFRICA
MEDIEVAL........................................................................................................ 22
1.4.3- A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA CRISTÂ AFRICANA NA ÁFRICA
CONTEMPORÂNEA.........................................................................................24
1.4.4- ALGUNS FACTORES QUE INFLUENCIAM O DEBATE ACERCA DA
FILOSOFIA AFRICANA NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO..........................24
1.5- A FILOSOFIA AFRICANA E A CONTROVÉSIA DA AUTOJUSTIFICAÇÃO
.......................................................................................................................... 26
1.6- A FILOSOFIA AFRICANA E AS EXIGÊNCIAS DA PRODUÇÃO
LITERÁRIA........................................................................................................28
1.7- A DEFINIÇÃO E A NATUREZA DA FILOSOFIA AFRICANA....................29
1.8- A ESSÊNCIA DE UMA FILOSOFIA CRISTÃ AFRICANA..........................29
CAPÍTULO II: CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO ACTUAL DA FILOSOFIA
AFRICANA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO....................................31
2.0- CONTEXTUALIZAÇÃO DE ÁFRICA..........................................................32
2.1- A HISTÓRIA MODERNA DA FILOSOFIA AFRICANA...............................33
2.2- O LEGADO DO ANTIGO EGIPTO PARA O PROGRESSO DO
PENSAMENTO HUMANO................................................................................33
2.3- AFRICANIDADE ENTENDIDA COMO VINDO DE ÁFRICA......................35
2.4- A AFRICANIDADE E A FILOFICIDADE DA FILOSOFIA AFRICANA........37
2.5- Confronto entre a situação real actual e a situação ideal desejada...........38
2.6- UM OLHAR SOBRE OS PRINCIPAIS CONCEITOS DA FILOSOFIA
AFRICANA E SUA INTEGRAÇÃO EM CURRÍCULOS ESDUCACIONAIS......40
2.7- NEGRITUDE E O SOCIALISMO AFRICANO............................................42
CONCLUSÕES.................................................................................................44
SUGESTÕES....................................................................................................45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................46
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
É necessário afirmar, desde o início desta investigação, que as questões
colocadas hoje acerca da filosofia africana registaram uma evolução
significativa, e que são agora elaboradas de uma forma radicalmente diferente.
Antes, ou seja, no período que precedeu as lutas pela independência e
imediatamente a seguir, atenção estava centrada na busca de uma justificação
para existência de uma tal filosofia e da sua identidade.
Actualmente, pode dizer-se que o debate contemporâneo sofreu uma
acentuada transformação, tanto em relação ao tipo de questões, como à forma
como elas são articuladas. Esta mudança parece focar-se em questões mais
orientadas para a essência e que sejam tematicamente formuladas,
relativamente à metodologia, conteúdos, tipos, autoria, etc. tal é, por exemplo,
a preocupação do (Paulin, J.Hountondji, 1983) ao escrever: Não me pergunto
se ela (a filosofia africana) existe, se ela é um mito ou uma realidade. Eu
observo que ela existe, pelo mesmo direito e do mesmo modo que todas as
filosofias do mundo; na formação de uma literatura. Na opinião de Hountondji, o
verdadeiro desafio colocado ao filósofo africano contemporâneo é o de, na
filosofia africana, apartar o mito da realidade, isto é, separar as suas casas das
sementes, a pseudofilosofia africana da autêntica filosofia africana. Bodunrin
testemunha em sentido idêntico, ao afirmar:
A filosofia em África tem sido dominada desde há mais de uma década pela
discussão de uma dupla questão: será que existe uma filosofia africana e, em
caso afirmativo, em que consiste? A primeira parte da questão tem sido
geralmente respondida, sem hesitações, de modo afirmativo. A discussão tem-
se centrado primariamente na segunda parte da questão, uma vez que os
diversos tipos de filosofia africana apresentados não têm sido considerados
como aceitáveis. (Peter O. Bodunrin, 1991).
Tendo em conta que, nos princípios do século XX, se tinham inicialmente
levantado dúvidas quanto a existência da filosofia africana, o centro da atenção
mudou agora para o tipo de filosofia que merece o epíteto de africana, e para
avaliar se aquilo que se domina a si mesmo por filosofia africana pode passar
por ser filosofia. Pode levantar-se a questão de saber qual é a filosofia que é
2
autenticamente africana, e qual é a filosofia africana que é automaticamente
filosofia, mas cada vez menos pensadores questionam hoje a existência da
filosofia africana geral. E isto deve-se, em parte, tal como sublinha Mattei, ao
facto de que as avaliações acentuadamente simplistas da mente africana,
feitas no passado da vida intelectual das sociedades pré-literárias (Luciano M.
A. 1999, p. 2).
A geração inicial dos académicos africanos do século XX esforçou-se
denodadamente por responder de modo adequado às objecções levantadas
anteriormente quanto à existência da filosofia africana e, consequentemente,
do filósofo africano. A investigação actual parece demostra-lo de modo ainda
mais nítido. As apologias da filosofia africana têm vindo a diminuir, em favor da
investigação dirigida ao seu conteúdo e tipologias. Ao mesmo tempo, esta
abordagem crítica assegura que a filosofia africana mantenha a sua relevância
e a sintonia com o desenvolvimento geral do pensamento humano.
Há também, no entanto, quem defenda que o debate contemporâneo sobre a
filosofia africana deveria ter começado com um tom mais vivo, discutindo
assuntos e temas. Mas esta crítica tem de prestar atenção ao contexto histórico
em que estes estudiosos se encontram. O debate poderia não se ter
desenrolado naqueles termos, caso estes académicos pioneiros conhecessem
aquilo que a investigação actual parece estar a trazer à luz e a confirmar,
relativamente às antigas tradições filosóficas africanas literárias e orais. E, no
entanto, a história já foi escrita.
Classificação da Pesquisa
Segundo Silva (2005) as pesquisas podem ser classificadas de diversas
formas. E as formas mais clássicas são:
De acordo a sua natureza, a pesquisa pode ser: básica e aplicada;
De acordo a forma de abordagem do problema, a pesquisa pode ser:
quantitativa e qualitativa;
De acordo aos objectivos, a pesquisa pode ser: exploratória, descritiva e
explicativa;
3
De acordo os seus procedimentos e técnicas, a pesquisa pode ser:
bibliográfica, documental, experimental, levantamento, estudo de caso,
pesquisa expost-facto, pesquisa-acção e pesquisa participante.
Baseando-se na classificação do autor referenciando anteriormente a presente
pesquisa classifica-se em:
De acordo a sua natureza, a pesquisa é aplicada, porque tem como objectivo
produzir conhecimentos para aplicação prática e dar soluções de problemas
específicos, abordando a importância da filosofia africana para o
desenvolvimento humano.
De acordo com a sua forma de abordagem, a pesquisa é qualitativa, por existir
uma ligação intrínseca entre o problema que se pretende analisar e a
realidade. Que no entanto, consiste em descrever a importância da filosofia
africana para o desenvolvimento humano e fazer um enquadramento para
propor soluções para o melhoramento da educação no contexto africano.
De acordo com os seus objectivos a pesquisa é exploratória porque visa
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torna-lo explícito
ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico, análise de
exemplos que estimulem a compreensão do problema.
De acordo com os seus procedimentos técnicos, a pesquisa é bibliográfica,
porque foi elaborado baseando-se nos livros, artigos e materiais
disponibilizados na internet.
Por ser uma pesquisa bibliográfica é descartado o uso de população e amostra.
Vantagens e desvantagens da pesquisa bibliografia
Qualquer que seja o método empregue na realização de uma pesquisa
científica, carrega consigo vantagens e desvantagens e, a pesquisa
bibliográfica não foge a regra.
4
Vantagens da pesquisa bibliográfica
Para fraseando (Gil, 2002), a principal vantagem da pesquisa bibliográfica
reside no facto de permitir ao Investigador a cobertura de uma gama de
fenómenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar
directamente, sobre tudo quando o problema de pesquisar requer dados muito
dispersos pelo espaço.
Por exemplo, seria difícil realizar um censo populacional para explicar a
importância da Filosofia africana para o desenvolvimento humano. Pois que
levaria muito tempo, gastariam muitos recursos financeiros.
Nesses casos ela é aconselhável, pois em muitas situações, não há outra
maneira de conhecer os factos passados se não com base em dados
bibliográficos (Gil, 2022. p. 45).
Desvantagens da pesquisa bibliográfica
Sobre o assunto Gil (2002), comenta:
Muitas vezes, as fontes secundárias apresentam dados colectados ou
processados de forma equivocada. Assim, um trabalho fundamentado
nessas fontes tenderá a reproduzir ou mesmo a ampliar esses erros. Para
reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das
condições em que os dados foram obtidos, analisarem profundidade cada
informação para descobrir possíveis incoerências ou contradições e utilizar
fontes diversas, cotejando-as cuidadosamente. (Gil, 2002, p. 46)
Diante do acima exposto pode-se concluir a bibliografia nas pesquisas
científicas, pode e deve ser usada como instrumentos de recolha de dados.
Devendo, no entanto o pesquisador ter muito cuidado com as fontes.
Identificação do tema
Esta investigação foi motivada partindo da concepção racional ligada a questão
humana, visto que aborda a relevância das tradições filosóficas africanas, seus
valores éticos, sociais e espirituais, e sua contribuição para a promoção de um
desenvolvimento humano mais holístico, ético e sustentável. Ele explora como
a filosofia africana pode ser usada para compreender e enfrentar desafios
contemporâneos, como desigualdade, racismo, desrespeito ambiental e
5
individualismo, oferecendo, alternativas baseadas em princípios comunitários,
interdependência e solidariedade.
Justificação da Investigação
A filosofia africana, muitas vezes marginalizadas nos estudos globais, oferece
contribuições únicas para o pensamento filosófico, destacando a importância
da comunidade, da espiritualidade e da harmonia com o meio ambiente.
Investigar sua relevância promove o reconhecimento desses saberes e desafia
a hegemonia eurocêntrica predominante nos estudos filosóficos, permitindo
uma visão mais inclusiva do conhecimento.
Situação Real Actual:
Nos últimos anos, há um aumento no interesse académico pela filosofia
africana, com um número crescente de publicações, conferências e programas
universitários dedicados a explorar o pensamento africano. Universidades
africanas e de outros continentes estão promovendo estudos sobre conceitos
como Ubuntu, Negritude, Filosofia Bantu e ouros sistemas filosóficos que
destacavam valores como interconexão, ética comunitária e espiritualidade.
Essa tendência reflecte um esforço de descolonização do pensamento
filosófico, buscando reconhecer o valor das epistemologias africanas no
desenvolvimento humano.
Situação Ideal Desejada:
A situação ideal desejada em relação à importância da filosofia africana para o
desenvolvimento humano envolve o reconhecimento pleno, valorização e
aplicação prática de seus conceitos e ensinamentos no âmbito global. Essa
situação ideal não é apenas uma revalorização intelectual, mas, uma
integração efectiva da filosofia africana em sistemas educacionais, políticas
públicas e práticas sociais que promovam o bem-estar colectivo, a justiça social
e o desenvolvimento sustentável.
6
Formulação do Problema da Investigação:
Na verdade toda investigação passa necessariamente pela formulação do
problema de investigação, envolvendo situações contextuais ao nível do campo
de investigação. Daí esta pesquisa tem como problema principal o seguinte:
Qual é Importância da Filosofia africana para o desenvolvimento
humano?.
Objectivo geral da investigação:
Como os princípios e conceitos fundamentais da filosofia africana pode
influenciar positivamente o desenvolvimento humano, promovendo
valores Analisar ccomo a comunidade, interconexão e ética em
contextos sociais, educacionais e políticos.
Objectivos Específicos
Investigar os principais conceitos da filosofia africana, como Ubuntu, e
analisar como esses conceitos promovem a coesão social e a empatia,
contribuindo para o desenvolvimento humano nas comunidades
africanas e além.
Avaliar como a filosofia africana pode ser integrada nos currículos
educacionais para fomentar habilidades de pensamento crítico, ética e
cidadania global, e como isso impacta o desenvolvimento pessoal e
profissional dos estudantes.
Examinar como os princípios da filosofia africana podem informar e
influenciar a criação de políticas públicas que promovem o
desenvolvimento sustentável, justiça social e inclusão, tanto em
contextos africanos quanto em uma perspectiva global.
Campo de acção
A investigação tem como campo de acção, a filosofia africana.
Objecto da Pesquisa:
A Importância da Filosofia africana para o desenvolvimento humano.
7
Importância do trabalho
Esta investigação terá grande importância do ponto de vista prático e teórico.
Importância Prática
A filosofia africana desempenha um papel crucial no desenvolvimento humano
ao oferecer perspectivas únicas e enriquecedoras que completam e desafiam
tradições filosóficas ocidentais. Aqui estão algumas maneiras pelas quais a
filosofia africana contribui para o desenvolvimento humano: perspectiva
comunitária, compreensão holística, diversidade epistemológica, resiliência e
identidade, ética e justiça sócia. Estes elementos mostram como a filosofia
africana não apenas enriquece o campo filosófico global, mas também oferece
directrizes práticas e éticas para o desenvolvimento humano em diversas
dimensões.
Segundo (Obinelo, 2010), A filosofia africana traduz-se no modo de pensar e
analisar as tradições dos povos africanos e da diáspora africana, que moldam
o carácter e a cultura do povo africano. É a base do modo de vida da
consciência africana. Influenciou profundamente muitos aspectos da vida do
povo africano*.
-------------------
*https://revistas.unilab.edu.br/índex.php/njingaesape/article.
Importância teórica
A filosofia africana na óptica de (Obinelo, 2010) traduz-se no modo de pensar e
analisar as tradições dos povos africanos e da diáspora africana, que moldam o
carácter e a cultura do povo africano. É a base do modo da vida da consciência
africana. Influenciou profundamente muitos aspectos da vida do povo africano.
- Auxiliar com sugestões e propostas na abordagem temática.
- Traçar um quadro metodológico sobre a Importância da Filosofia africana para
o desenvolvimento humano.
8
Relevância
Estudar a filosofia africana para o desenvolvimento humano não se limita ao
contexto africano. Suas lições têm aplicabilidade global, oferecendo novas
formas de pensar sobre questões como liderança ética, convivência em
sociedades multiculturais e a construção de uma ética global em tempos de
crise (como mudanças climáticas e desigualdades).
Esse estudo se torna relevante tanto no campo académica quanto social, pois
contribui para ampliar a compreensão de como os valores e ensinamentos da
filosofia africana podem influenciar positivamente o desenvolvimento individual
e colectivo.
TERMOS – CHAVE:
Importância – a palavra tem origem do latim importans, de importare, que
significa ser significante em. Alguns sinónimos de importância podem ser:
mérito, merecimento, interesse, dimensão, magnitude, poder, status,
autoridade, influência, entre outros. Podendo ser atribuído a alguém por quem
se tenha admiração, consideração, respeito.
Filosofia – na perspectiva de (Cortrim e Fernandes, 2016) é um ramo do saber
que procura entender os conceitos ou a essência de tudo o que existe no
mundo, assim, as definições conceituais. Os conceitos, que nascem daquelas
definições são, por sua vez, significados complexos que movimentam
problemas.
Desenvolvimento humano: é um processo de construção contínua que se
estende ao longo da vida dos indivíduos, sendo fruto de uma organização
complexa e hierarquização complexa e hierarquizada que envolve desde os
componentes intra-orgânicos até as relações sociais e a agência humana.
Até meados do século XX, embora diferentes áreas do saber estabelecessem
parâmetros e critérios para estudar o desenvolvimento humano, não havia
articulação entre estes saberes, resultando em pesquisas antagônicas e
contradiórias (Van Geert, 2003).
9
QUADRO METODOLÓGICO
Método de investigação é o processo racional que se emprega na investigação.
É a linha de raciocínio adoptado no processo de pesquisa. Quanto a
estruturação, os métodos podem ser: empíricos e teóricos (Ramos e Naranjo,
2014).
MÉTODOS TEÓRICOS:
Análise Bibliográfica: na perspectiva de (Misserino, 2018), a pesquisa
bibliográfica ocorre quando um investigador desenvolve sua investigação a
partir de estudos já efectuados por outros investigadores. Assim, nesta
investigação trabalhou-se com este método de modo a analisar toda literatura
ligada sobre a Importância da Filosofia africana para o desenvolvimento
humano.
Analítico/sintético: é aquele que se preocupa ou detalha de forma
pormenorizada cada parte de um todo, para conhecer melhor sua natureza,
suas funções, relações e causas. A síntese: estabelece mentalmente a união
entre as partes previamente analisadas e possibilita a descoberta das relações
essenciais e as características gerais entre elas (Ramos e Naranjo, 2014).
Utiliza-se este método para avaliar e resumir o que há de essencial para nossa
pesquisa nas diferentes bibliografias constatadas.
Método Hermenêutico: segundo (Ricoeur e Gadammer, 196, p.71), consiste
na compressão e interpretação de textos.
Histórico/lógico: na perspectiva de Ramos e Naranjo (2014, p. 109), método
histórico, está ligado ao conhecimento das diferentes fases dos objectos na sua
sucessão cronológica; para conhecer a evolução e desenvolvimento do objecto
ou fenómeno de investigação. Já o método lógico, é aquele que investiga as
leis gerais e essenciais do fundamento e desenvolvimento dos fenómenos,
factos e processos. Este produz no plano teórico ou mais importante do
fenómeno, facto ou processo do histórico, o que constitui à essência. Utiliza-se
este método para compreender de forma lógica da Importância da Filosofia
africana.
10
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA IMPORTÂNCIA
DA FILOSOFIA AFRICANA PARA O DESENVOLVIMENTO
HUMANO
INTRODUÇÃO
A filosofia africana, em sua origem, é uma contestação às opiniões formadas
sobre a humanidade do africano. O conteúdo da filosofia africana, a ontologia
da Força Vital, é a perspectiva e a chave de interpretação intelectual da
realidade do muntu, o homem africano.
Todo o pensamento, toda a opinião e a perspectiva africana sobre a realidade
e o mundo são tocados, permeados, formados, informados e elucidados pela
noção da existência do ser como força. Porque o africano vive e se relaciona
com os seres como se fossem forças. O debate propriamente africano sobre a
sua filosofia terá que refletir sobre a realidade adotando a perspectiva da força
vital. Mais precisamente, mostrar a relação lógica entre a Força Vital e a ética
Bantu pode ser um exercício importante e muito interessante. Ainda mais,
apresentar a epistemologia Bantu e a natureza do sábio com base na ontologia
Bantu pode abrir novas fronteiras em relação à teoria do conhecimento. A
importância interna do desenvolvimento do debate sobre a filosofia africana
poderá se encontrar na elucidação de temas tenebrosos como magia, feitiçaria,
respeito pelos antepassados, totemismo e outras práticas culturais
imperceptíveis e impenetráveis pelo logos ocidental.
Filosofia: filosofia é um ramo do saber que procura entender os conceitos ou
as essências de tudo o que existe no mundo, criando, assim, as definições
conceituais. Os conceitos, que nascem daquelas definições, são, por sua vez,
significados complexos que movimentam problemáticas. (Cotrim e Fernandes,
2016).
Desenvolvimento humano: é um processo de construção contínua que se
estende ao longo da vida dos indivíduos, sendo fruto de uma organização
complexa e hierarquização complexa e hierarquizada que envolve desde os
componentes intra-orgânicos até as relações sociais e a agência humana.
Até meados do século XX, embora diferentes áreas do saber estabelecessem
parâmetros e critérios para estudar o desenvolvimento humano, não havia
12
articulação entre estes saberes, resultando em pesquisas antagônicas e
contradiórias (Van Geert, 2003).
Se, por um lado, as abordagens do desenvolvimento, protagonizadas pela
filosofia, afirmavam ser o desenvolvimento uma ilusão; por outro lado, os
processos de mudança na linha do tempo eram objecto de estudo das ciências
naturais, que os viam como algo real e natural, decorrentes dos processos
evolutivos da espécie.
Devido à sua abragencia e complexidade, o desenvolvimento no curso de vida
tem sido abordado, actualmente, a partir de uma noção epigenética e
probabilística (Gotlieb, 1996).
Isto significa que cada indivíduo tem seu desenvolvimento delineado por
inúmeras possibilidades vinculadas ao tempo, ao contexto e ao processo
(Elder, 1996; Hinde, 1992), exercendo a função primordial de agente de
mudança e de transformação da sua própria história (Branco, 2003; Elder,
1996; Magnusson & Cairns, 1996).
A participação do indivíduo na construção do mundo social possibilita a
emergência de diferentes significações (e de novidade), que podem
transformar o curso de seu desenvolvimento, assim como afecta a dinâmica
dacomunidade em que se encontra inserido. Por outro lado, as práticas sociais
afectam as significações e construções simbólicas da pessoa, em uma relação
de bidirecionalidade (Gotlieb, 1996; Valsiner, 2003). De acordo com este
princípio, todos os membros de uma determinada cultura participam ativamente
da sua construção, influenciando e sendo influenciados, em uma dinâmica de
afecção mútua, o que possibilita a emergência do novo (Van Geert, 2003).
Dada a complexidade do desenvolvimento e a centralidade do indivíduo em
seu processo de transformação, esta investigação aborda os restantes avanços
da ciência do desenvolvimento, buscando refletir sobre a relação entre os
factores que actuam no processo de desenvolvimento humano.
13
1.1- A ORIGEM DA FILOSOFIA AFRICANA
A filosofia africana não surge das calmas águas do prazer e do lazer. O debate
sobre ela, especificamente sobre sua existência ou não, é acionado pela
reprovação da humanidade desenvolvida pelos africanos. Sob essa perspetiva,
a filosofia africana é antes de tudo, defensiva ou passiva. Foi com os
pronunciamentos (além dos outros) de David Hume, Immanuel Kant e George
W. F. Hegel sobre a humanidade do africano que surgiram reações também
filosóficas para apresentar a humanidade do mesmo.
Hume, em seu ensaio Dos Caráteres Nacionais, em nota de rodapé de sua
edição revisada afirma o seguinte Estou apto a suspeitar que os negros e todas
as outras espécies de homens em geral são naturalmente inferiores aos
brancos. Nunca houve uma nação civilizada de outra cor que não é branca,
nem mesmo qualquer indivíduo eminente, seja em ação ou especulação
(HUME, 2007, p. 213).
Por sua vez, Kant, em seu livro Observações sobre o sentimento do belo e do
sublime diz o seguinte: Os negros da África não têm, por natureza, nenhum
sentimento que se eleve acima do ridículo… Tão essencial é a diferença entre
esses dois tipos humanos, e parece ser tão grande em relação às capacidades
da mente quanto em relação à cor (KANT, 2011, p. 58-9).
Em seguida, Hegel, em suas investigações sobre a Filosofia da História afirma
o seguinte sobre o Espírito Africano: A África não tem história e não contribuiu
com nada que a humanidade se vangloria.
A África propriamente dita, isto é, a África subsaariana, está envolta no manto
escuro da noite, sem autoconsciência... É difícil compreender o peculiar
carácter africano, pois em referência a ele, todos os princípios filosóficos aqui
produzidos que acompanham as ideias ocidentais devem ser abandonados -
isto é a categoria de universalidade. Não há nada de harmonioso com a ideia
de humanidade a ser encontrado neste tipo de personagem... nenhum
movimento ou desenvolvimento para exposições, portanto, não é parte
histórica do Mundo. A África está no limiar da História do Mundo (HEGEL,
2007, p.91-99).
14
Essas opiniões de filósofos refletiam também o sentimento geral do Ocidente.
Seria o resultado lógico de princípios filosóficos da manifestação filosófica
ocidental? Admitindo que todos os princípios filosóficos que acompanham as
ideias ocidentais não se aplica na realidade africana, em que principio basear a
ideia da humanidade africana? Diante de afirmações como essas e similares,
alguns africanos e não africanos começaram a investigar e argumentar a favor
da humanidade do africano. E, uma vez que é a razão que define e eleva o
homem do animal, começou-se a fazer a filosofia africana. O interesse imediato
foi o de investigar e expor a ontologia africana, o chão sobre o qual se constrói
a dignidade e a identidade da humanidade africana. Haveria um conceito de
humanidade unicamente africano e universalmente válido? Estaria, esse
princípio, preservado nos provérbios tradicionalmente transmitidos de geração
em geração oralmente? Portanto, o debate sobre a filosofia africana surge e é
movido a defender e expor a humanidade e a racionalidade do africano, diante
da exclusão filosófica do conjunto dos seres humanos. Tendo este pano de
fundo, o que é a filosofia africana?
1.2- DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA AFRICANA
Quando se fala da filosofia africana, é imprescindível que se fale primeiro da
africanidade e como ela se manifesta filosoficamente. Qual é a ideia racional
africana sobre a realidade? A concepção do africano ou África está ligada à
cultura africana. Africano/a pode ser concebido como pessoa de África,
especialmente negra, nativo de África ou negro de raça africana. Neste sentido,
quando se fala de ideia africana significa, essencialmente a ideia do Negro. O
elemento racial é constitutivo na definição do africano consequentemente, da
filosofia africana. E geograficamente se limita à África subsaariana
(propriamente África). Como instrumento investigativo, o presente trabalho
adota o conceito que inclui negros originais de África (geograficamente e
racialmente) mas também aqueles que o são por factores históricos de várias
naturezas como característica principal na definição do africano (MAKUMBA,
2014, p. 39). Portanto, africano/a pode ser qualquer pessoa que encarne em si
a ideia africana ou a partir dela interpreta o mundo.
15
Quem pode contribuir para o desenvolvimento da cultura africana? Quem está
de facto vivendo em África? Ou quem provém de África e vive na diáspora? Ou
quem não provém de África, mas que se encontra em África, levando uma vida
africana? Um conceito de africanos que inclui não somente a raça, mas os três
factores acima mencionados, traz à luz, a humanidade, como horizonte. Diante
de tudo isso, o que é que define a filosofia africana? Três características
definem a filosofia africana: filosofia africana é definida como aquela que é
escrita, criada ou proposta por uma pessoa de origem africana; essa perspetiva
considera como investigação filosófica, e portanto africana, as ideias do antigo
Egipto, Etiópia e continua nos filósofos africanos profissionais. Aqui não
importa tanto os temas, podem ser especificamente africanos com alcance
universal e vice-versa. Apresenta o rigor filosófico ocidental.
Em segundo lugar, é filosofia africana aquilo que é escrito, criado e proposto no
continente africano; ao mesmo tempo também se procura a filosofia escondida
nos provérbios da tradição literária oral. Aqui, e na primeira definição de
filosofia africa, a escrita é apresentada como essencial no protagonismo
histórico. E, por fim, filosofia africana é definida como aquilo que lida ou
debruça-se sobre problemas africanos ou culturas africanas (MAKUMBA, 2014,
p. 40).
A escrita passa a ser um dos elementos característicos, ou como manifestação
histórica, ao lado da tradição oral. Contudo, uma definição não é suficiente para
estabelecer aquilo que pode ser considerado como filosofia africana. O factor
racial e originário é o menos importante. O objecto de estudo, isto é, o tema é
que torna tal investigação filosófica africana quando tem a pessoa africana e
sua realidade como ponto de partida. E essa é a definição da filosofia africana
que o presente trabalho emprega: segundo as condições peculiares do negro,
como é que as suas ideias sobre a realidade, incluindo a humana, foram
desenvolvidas?
Desde logo, se sublinha a necessidade de a filosofia africana evitar a defesa
extrema de sua identidade sob o risco de perder a filosoficidade da mesma. Ao
mesmo tempo, não pode se tornar tão filosófica sob o risco de perder a
perspetiva e sua relevância. O discurso filosófico africano não pode ser feito
16
em total isolamento. O surgimento do debate sobre a filosofia africana começa
com o contacto com a filosofia ocidental. O encontro entre duas realidades
distintas, sempre constituiu o momento de revelação. Contudo, a definição e o
desenvolvimento da filosofia africana não podem ser guiados somente por
razões identitárias. É preciso demonstrar a filosoficidade do pensar e agir
humano africano.
Influenciados pelo desdobramento da tradição filosófica ocidental, alguns
consideram filosofia todas as investigações similares e obedientes aos cânones
da filosofia ocidental; isto é, deve ser individual, escrita e argumentativa. Nesse
sentido, a filosofia africana é definida como sendo uma investigação sobre a
realidade, escrita e desenvolvida por uma pessoa africana.
O filosófico da cultura africana é avaliado através da perspectiva histórica do
espírito filosófico ocidental. E consequentemente, o filosófico da africanidade
reside no seu contacto com o Ocidente e como extensão do mesmo.
Por muito tempo, assim se pensou do africano e da África. E todo o processo
da colonização, escravatura e imperialismo era justificado com base na
civilização ou humanização do selvagem africano. Haveria uma ideia da
interpretação do mundo tipicamente africano? É possível investigar a
interpretação do enigma da vida, do mundo e da realidade segundo uma
perspetiva africana? Algumas pessoas, movidas pelo desejo de apresentar a
humanidade, o conceito para o qual aponta a ideia africana, publicaram suas
investigações. Uma dessas pessoas é Placide Tempels. Em seu livro La
Philosophie Bantoue, Tempels estabelece o princípio fundamental da ontologia
Bantu, isto é, o princípio através do qual interpretam o mundo e a realidade.
1.3- LA PHILOSOPHIE BANTOUE DE PLACIDE TEMPELS: BREVE
APRESENTAÇÃO DO ARGUMENTO
Um dos instrumentos empregados no processo da civilização do negro era a
religião, donde os missionários e missionárias eram os agentes de linha de
frente. Esta era auxiliada pelo braço armado político, os militares. Placides
Tempels foi um desses agentes. Sacerdote católico e missionário belga,
17
Tempels tenta humanizar os africanos através da catequese adaptada.
Contudo, uma observação recorrente o faz indagar sobre a eficácia dos
processos e os métodos utilizados até então. Tempels se indaga:
Por que é que o Negro não muda? Por que é que o pagão, o não-civilizado
fica estável, enquanto o evoluído, o cristão, não fica? Verificamos em muitos
dos nossos Bantu, evoluídos e civilizados, e mesmo cristãos: regressam à
sua antiga atitude sempre que se encontram sob a influência de
contrariedades, de perigos ou de sofrimento. É porque os seus
antepassados lhes deixaram a sua solução prática para o grande problema
humano: o problema da vida e da morte, da salvação e da condenação.
Numerosos Bantu3, superficialmente convertidos ou civilizados, possuídos
por uma força determinante, regressam aos comportamentos e concepções
herdadas de seus antepassados (TEMPELS, 2018, p. 37).
E logo conclui: observa-se, entre os Bantu, a impossibilidade da oposição aos
chefes por causa do medo em romper o elo místico que se estabelece entre os
chefes e os antepassados (TEMPELS, 2018, p. 40). É sobre este enigma que
as investigações filosóficas de Tempels tentam desvendar. Procura no elo
místico e na influência dos antepassados o instrumento intelectual, os
conceitos e princípios fundamentais filosóficos Bantu. Tempels acaba propondo
que segundo essas mesmas investigações, o africano, até hoje relegado e
considerado como o nyama (animal) é na verdade o muntu (homem),
chamados á realização humana no Ubuntu (ser humano).
A filosofia Bantu de Tempels investiga a originalidade do pensamento africano.
Isso se traduz na sistematização e exposição da ontologia Bantu. Este caminho
é importante para o tema principal de nossas investigações: qual é e deveria
ser a contribuição original do Negro no processo da humanização do homem?
Pretende-se, com isso a sistematização moral-filosófica do fim último do
homem, segundo a perspectiva da filosofia Bantu. Por onde começar?
A vida e a morte condicionam e determinam o comportamento do ser humano.
Isso implica dizer que a racionalidade humana, universal em sua tendência, se
manifesta de maneiras diversas: O comportamento humano é condicionado
pelo sistema de princípios. Por exemplo, a teologia cristã é o substrato do
comportamento ocidental. Da mesma forma, deve existir sistema de princípio
ou o Principio fundamental sobre o qual se funda o comportamento Bantu
(TEMPELS, 2018, p. 40). Este princípio Bantu pode ser investigado e
encontrado na sabedoria Bantu que se manifesta em todas as esferas da vida
18
humana. A partir desse princípio, traça-se, em seguida, o pensamento profundo
dos Bantu, para depois penetrá-lo e analisá-lo.
Da observação da sabedoria africana, presente nos costumes Bantu e em seus
provérbios, se destaca o seguinte: o comportamento Bantu é condicionado por
elementos do pensamento do elo místico e da influência das forças (TEMPELS,
2018, p. 40). E o que é que isso revela? O elo místico e a influência de forças
como elementos do pensamento Bantu apresentam- se como instrumentos
intelectuais, conceitos e princípios fundamentais da filosofia Bantu. Toda a
tradição e cultura Bantu se baseia num único princípio do “reconhecimento
íntimo dos seres (TEMPELS, 2018, p. 41). Este princípio filosófico explica,
interpreta e justifica a totalidade da realidade ao Bantu.
1.4- A ONTOLOGIA BANTU DA FORÇA VITAL: A NOÇÃO DO SER
O pensamento filosófico Bantu é diferente do pensamento filosófico ocidental.
A filosofia Bantu não é mágica, como outrora interpretada (TEMPELS, 2018,
p.54). Entre os Bantu, a concepção da vida, da existência e da realidade em
geral está centrada no único valor da Força Vital, o Ntu. O valor da força vital
como conceito penetra e permeia toda a realidade. Portanto, na filosofia Bantu,
o conceito ontológico de Ntu ou Força Vital é inseparavelmente ligado ao
conceito do ser e por assim dizer superior ao ser. Ora vejamos: onde se vê
seres concretos, os Bantu veem forças concretas. Onde os seres se distinguem
pela sua essência ou natureza, para os Bantu as forças se distinguem segundo
a sua essência e natureza (TEMPELS, 2018, p.64). Em última análise, para os
Bantu todo o ser é força e pura energia.
A noção do ser na filosofia Bantu encontra-se atrelada à noção de forças.
Força é o elemento sobre o qual o ser é pensado. Não existe ser sem forças. E
toda força é ser. E consequentemente a metafisica Bantu postula o seguinte:
ser é tudo aquilo que possui força. E realidade última só pode ser a origem e a
mãe de todas as forças, Ntu. Força é o elemento necessário em todo ser. Sem
o elemento força, o ser não é.
19
Alexis Kagame, filósofo Ruandês, expande e explicita o conceito da ontologia
Bantu em seu livro La philosophie Bantu comparée, classificando Ntu em
quatro categorias. Através das línguas Bantu, Kagame encontra marcadores de
compromissos ontológicos que são compartilhados entre todos os falantes
dessas línguas. Kagame resume o sistema categorial do pensamento Bantu
observando que a categoria mais geral é designada pela raiz Ntu, significando
ser ou existente ou algo. Segundo a ontologia Bantu, existe quatro categorias
mais básicas do ser, ou precisamente, das forças: Muntu (existente com
inteligência, ou pessoa);
Kintu (existente sem inteligência, ou coisa); Hantu (localização do existente, ou
espaço-tempo); Kuntu (existente modal, ou o modo de ser de um existente).
Tudo isso faz parte do que Kagame descreve como metafísica geral Bantu
(KAGAME, 1976, p.121-122).
1.4.1- A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA CRISTÃ AFRICANA NA ÁFRICA
ANTIGA/TRADICIONAL
Se a filosofia africana for considerada no sentido do pensamento africano tal
como se manifestou nas antigas sociedades do Norte de África, e nas
sociedades tradicionais africanas mais a sul, então o relevo deve ser colocado
no facto de a essência da filosofia cristã africana ser constituída pelo encontro
inicial entre a fé cristã e estas outras culturas, bem como no resultado da
influência mútua exercida. Consideram-se aqui os meios culturais, tanto dos
povos do Norte de África, como das sociedades tradicionais africanas. Foi esse
o material cultural ao dispor do Cristianismo, e com a qual a fé cristã tinha de
dialogar.
Mas não se pode ignorar o facto de que este encontro haveria de idealmente
redefinir o telos dos pensamentos africanos tradicionais e antigos, e alargar o
seu horizonte na realização do sujeito humano africano nesses ambientes.
Foi o que aconteceu, de facto, na vida da maioria dos protagonistas sessa
época. Foram completamente transformados, o mesmo acontecendo ao seu
entendimento da filosofia, que foi submetida a um crivo cristão, para que
20
adquirisse relevância em relação à vida nova que tinha iniciado. Foi este o caso
de individualidades como Clemente, Tertuliano, Minúcio e Orígenes; o mesmo
poderia ser dito de muitos africanos das sociedades tradicionais ao abraçarem
o Cristianismo. Dessa forma, o encontro inicial entre a fé cristã e essas culturas
conduziu a uma tal interpretação, que os sujeitos dessas culturas redefiniram o
telos das suas vidas.
O pensamento africano viu-se forçado a responder a esta nova direcção que a
vida das pessoas estava a assumir, sob pena de se tornar irrelevante. Tinha de
responder â realidade da salvação proposta pelo Cristianismo como solução
para os anseios religiosos das pessoas. É, assim, compreensível a inquietude
de Mbiti:
A filosofia tradicional africana não planeia antecipadamente…Devemos
reverter esta filosofia, pois, pela sua própria natureza, a acção missionária
é escatológica aponta sempre para o fim que se encontra no futuro, (J.
Mbiti, 1971, p. 1).
Se a filosofia tradicional africana quiser permanecer como uma filosofia, então
terá de responder às exigências da verdade, assim que essa verdade tiver sido
encontrada. Certamente que a filosofia cristã africana que se desenvolveu a
partir das cidades metropolitanas do Norte de África, entre os séculos II e V da
era cristã, não foi exactamente a mesma que emergiu a partir das sociedades
tradicionais, especialmente na África do sul do Sara, como é habitualmente
conhecida. Tanto os ambientes culturais, como o modo de implantação do
Cristianismo, contribuíram para a forma como a filosofia cristã haveria de se
modelar.
Isto ficou demonstrado através da maneira como abordamos a relação entre a
religião e a filosofia, nestas comunidades tradicionais. É possível que a aliança
íntima entre as práticas religiosas das pessoas e o seu modo de pensar
pudesse ser mais favorável â filosofia cristã do que o ambiente do Norte de
África, com a sua atitude sincretista para com a religião.
A filosofia cristã, com a ênfase na obrigação do pensamento humano ser
sujeito à realização religiosa do individuo e da comunidade, seria bem acolhida
numa sociedade tradicional africana, onde não havia uma contraposição nítida
entre o pensamento e a religião. Essa era a forma como eram entendidos
21
outros aspectos da vida humana, ou seja, enquanto conduzissem o indivíduo à
sua realização na comunidade, mas uma comunidade que tinha uma
experiência que era fundamentalmente religiosa. Isto implicava, contudo, que
as pessoas tivessem a mesma convicção em relação à sua fé cristã e à sua
eficácia, como a tinham quanto à sua religiosidade tradicional e à sua eficácia.
A filosofia cristã africana não haveria de construir apenas uma simples rejeição
do antigo modo de vida; significaria, na verdade, abranger os valores e as
verdades, incluindo do âmbito religioso, para dialogar com a verdade do
cristianismo e a sua nova visão para a vida do ser humano africano.
1.4.2- A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA CRISTÃ AFRICANA NA ÁFRICA
MEDIEVAL
A relação entre a filosofia e a fé cristã, que se tinha iniciado na antiguidade,
haveria de florescer no período medieval. Santo Agostinho é um bom exemplo
de florescimento no continente africano. Até ao Bispo de Hipona, os padres
latinos africanos mostraram-se, na sua maioria, muito cautelosos em relação à
filosofia e à sua possível influência negativa sobre a fé, e, como resultado,
aproximaram-se dela com relativa hesitação.
Com Santo Agostinho, poder-se-ia, porém, dizer que todas as cautelas foram
tiradas janela fora. Tal atitude deve, contudo, entendida no seu contexto
próprio, para significar que ele viu com clareza que a fé cristã tinha muito a
ganhar com a sua ligação à filosofia, desde que esta fosse devidamente
dominada. Com ele, o pensamento patrístico chegou ao seu cume, e a um
momento conclusivo quanto à tentativa de elaborar uma visão cristã do
universo sob um fundamento platónico.
Para Santo Agostinho, como para a maioria dos pensadores cristãos
medievais, a vocação da filosofia encontra-se espelhada na vocação do ser
humano. O modo como ele entendia a pessoa humana, implicava, com toda
a clareza, que a procura da realização pessoal não é atingível unicamente
pelas próprias capacidades naturais. Enquanto imagem divina, um tal
projecto só pode ser realizado tendo Deus como horizonte permanente, Ele
que é a origem e o destino da vida humana. Isto significa ter Deus dentro da
ama, isto é, desfrutar de Deus. (Santo A, ….pp, 4-34)
De facto, é porque a alma possui o selo de Deus que ela é um espelho para ver
a Deus; o autoconhecimento é uma via para deus. Aqui se encontra a
22
felicidade humana última, e a coroação da caminhada de uma vida: há uma
alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que
desinteressadamente te servem, cuja alegria és tu mesmo. E a vida feliz
consiste em sentir alegria junto de ti, em ti, por ti,: esta é a vida feliz e não há
outra. (Id, Confições, X, P. 22).
A busca da verdade está, deste modo, inextricavelmente ligada, em Agostinho,
à caminhada para Deus. Esta é, de facto, por definição, a própria vocação do
filósofo, pois, em latim, filósofo tem como significado aqueles que professam o
amor da sabedoria. Ora, se a sabedoria é Deus, que fez todas as coisas, tal
como é atestado pela autoridade e pela verdade divina, então o filósofo é um
amante de Deus1.
------------------------
1
Id., A cidade de Deus, 8, 1. Ver ainda o livro bíblico da Sabedoria 7, 24-27.
A questão epistemológica é de teor teológico, porque a busca da verdade
revela-se ser a busca da própria salvação. Por esta razão, uma certa
admoestação, que jorra da própria fonte da verdade, incita-nos a que nos
recordemos de Deus, a procura-lo, a ansiar por ele incansavelmente.
Para Agostinho, a verdade propriamente dita só poderia ser descoberta pela fé,
e é por isso que a filosofia que até então ele aprendeu foi incapaz dar resposta
às suas aspirações, até ele se abrir ao Cristianismo. Só isto é que conduz a um
encontro pessoal com Deus, que Agostinho descreve assim:
É a satisfação plena das almas, isto, é a vida feliz: reconhecer com piedade, de
modo pleno, Aquele pelo qual és conduzido à verdade, a natureza da verdade
de que desfrutas, e o elo te liga à suprema medida.
Deste modo, fazendo depender de um Deus criativo e salvador a filosofia que
concebeu sobre s ser humano, Santo Agostinho mostra por que razão a
Filosofia tem de ser suplantada e reconhecida com a fé cristã, na busca do fim
último da pessoa humana. Este ónus não pode recair apenas sobre a razão,
mas requer a iluminação de Deus e a fé. A filosofia cristã é, por conseguinte,
filosofia em sentido estrito, porque cumpre as suas aspirações mais íntimas.
23
No que respeita â Etiópia medieval, há que apreciar o facto de terem existindo
lideranças fortes, como a do imperador Zar a Yaqob, que zelou para que a
religião assegurasse um fundamento sólido para a fé.
1.4.3- A ESSÊNCIA DA FILOSOFIA CRISTÂ AFRICANA NA ÁFRICA
CONTEMPORÂNEA
1.4.4- ALGUNS FACTORES QUE INFLUENCIAM O DEBATE ACERCA DA
FILOSOFIA AFRICANA NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO
Há diversos factores que motivaram, quanto ao seu empreendimento filosófico
inicial, os primeiros pensadores activos no âmbito do debate contemporâneo
sobre a filosofia africana. Arthur nomeia alguns desses factores no seu artigo
African Philosophers and African Philosophy (Filósofos Africanos e Filosofia
Africana 1976). Sem serem exaustivos, os factores mencionados ilustram bem
o ambiente geral dos começos da especulação filosófica africana, no começo
do século XX, ou por essa época.
Em primeiro lugar, alguns desses pensadores manifestavam o grande desejo
de demostrar a autêntica contribuição africana para civilização humana e, por
conseguinte, pretendiam querer desvendar uma filosofia africana que percebe
qualquer contacto com o Ocidente… quer elaborar uma filosofia que, sendo
distintamente africana, pudesse revelar a contribuição filosófica de África para
o conhecimento humano e para a civilização humana.(J. K. M. Arthur, 1980, p.
15).
Em segundo lugar, eles estavam motivados pelo zelo de mostrar que,
contrariamente â crença da maioria dos etnógrafos e antropólogos sociais
europeus, os africanos não tinham uma mentalidade pré-lógica ou não lógica, e
que, por conseguinte, podiam elaborar uma filosofia propriamente dita.
Em terceiro, outros desejaram ainda mostrar que existia uma concepção do
universo singularmente africana, sobre a qual se fundava um determinado
modo de existência. (Cf. Ibidem, pp. 16-17).
24
Há quem questione se este foi um digno começo do empreendimento africano
contemporâneo na direcção da especulação filosófica. Embora haja indícios de
que algumas descobertas mais significativas da raça humana tenham ocorrido
durante alguns dos momentos mais turbulentos da história humana, tais
marcos miliários intelectuais são apenas esporádicos. A especulação
intelectual floresce numa atmosfera de calma e de tranquilidade. Os inícios
históricos do que pode ser considerado como especulação intelectual, na África
contemporânea, podem ser correctamente considerados como tudo, menos
seremos. No entanto, é admissível que circunstâncias diversas podem dar
lugar a diferenças na abordagem filosófica. Como resultado, as circunstâncias
em que o debate contemporâneo sobre a filosofia africana teve início exigiram
que este começasse da forma como começou; passou-se algo semelhante no
modo como as circunstâncias diversas subjacentes aos inícios da filosofia
grega lhe permitiram ter a sua abordagem específica.
Houve certamente factores extra filosóficas que contribuíram enormemente
para que o filósofo africano assumisse essa abordagem aparentemente
defensiva e, portanto, o conduzissem a um ponto de partida bastante insípido.
A tentativa inicial, protagonizada por alguns escritores europeus (tanto
historiadores, como etnógrafos), de distorcer a história e de destruir a autêntica
contribuição africana para a civilização humana, não foi certamente o menor
desses factores. Muitas causas convergiram para contribuir para o mundo
como emergiu a consciência da identidade da filosofia africana. A consideração
predominantemente defensiva assumida, no seu início, por certos sectores da
filosofia africana contemporânea, suscita dúvidas quanto a ter oferecido um
remédio exaustivo para o problema que pretendia resolver. É também de
duvidar que a posição desses pensadores possa ter sido a única adequada. Os
seus esforços devem, contudo, ser apreciados, pois abriram a porta ao debate
actual sobre a maioria dos temas da filosofia africana.
25
1.5- A FILOSOFIA AFRICANA E A CONTROVÉSIA DA
AUTOJUSTIFICAÇÃO
Pode dizer-se, logo desde o início, que o princípio do debate contemporâneo
sobre a filosofia africana está envolto na controvérsia da autojustificação.
Compara-se o que então aconteceu com o que é tradicionalmente considerado
como os começos da filosofia ocidental. Nesta última, encontramos os
primeiros cosmólogos jónicos: Tales, Anaxímenes e Anaximandro, cujo labor
filosófico se iniciou pela especulação quanto às origens e constituição do
universo e, por extensão, do ser. Vieram depois os sofistas, que, apesar de
serem acusados de terem como desejo primário ganhar a vida com a filosofia,
agiam motivados pela sua própria confiança nos poderes naturais do intelecto
humano: os poderes do conhecimento. Logo a seguir, veio Sócrates, que,
como ficou registado, simplesmente exortou o ser humano a conhecer-se a si
mesmo. (Cf. Xenofonte, s/d IV, 2, pp. 24-25).
Aristóteles foi ainda mais directo, ao afirmar que todos os homens têm, por
natureza, desejo de conhecer. (Aristóteles, s/d, livro 1, 1). Há muitos outros
exemplos, apontando todos para este carácter filosóficos na ofensiva (e não
defensivo), e para a confiança dos pensadores gregos primitivos.
Do que ficou dito, poder-se-ia talvez ser forçado a colocar uma questão
bastante óbvia: por que razão seria necessário, de todo, justificar este desejo
natural de conhecer de um qualquer povo, num qualquer momento? Uma tal
busca de justificação da filosofia africana teria sido desnecessária se a
contribuição de África, talvez mesmo para a própria existência do pensamento
grego, tivesse sido reconhecida. O processo rumo a um tal reconhecimento foi
especialmente desencadeado cerca dos finais do século XX, na sequência da
investigação levada a cabo por vários especialistas quanto à relação entre o
pensamento antigo africano e outras heranças antigas, como a grega e a
romana.
O observador atento não terá deixado de notar que os próprios inícios da
filosofia grega ficaram inscritos em ditas orais, que foram mais tarde postos por
escrito pelos filósofos e intérpretes que se seguiram. O pensamento de Tales,
Anaximandro, Anaxímenes e Sócrates, por exemplo, foi passado a escrito,
26
muito mais tarde, por outros, e não pelos próprios. Este não é o momento para
perguntar o que tinham os seus ditos orais de tão particular, que os fizeram
mais filosóficos do que alguma especulação africana de igual valor, até agora
não escrita. (Cf. Henry Oruka, 1991. p. 2).
Mas poder-se-iam ainda colocar algumas questões. Será que uma tradição
literária é pré-condição para se fazer filosofia? Será que a longevidade do
tratamento sistemático contribuirá para a filosoficidade de um dado
pensamento? As opiniões a este respeito dividem-se, mas, por agora, bastará
assinalar que há quem pense que a resposta a ambas as questões é negativa.
Parrinder faz uma observação importante acerca da religião africana, em
comparação com as outras grandes religiões do mundo, ao afirmar:
O facto de não existirem textos escritos não significa que as religiões
africanas não tenham tido uma longa história. A história de outras fés não foi
frequentemente escrita até ao advento da erudição moderna…foi por vezes
assumido que as religiões africanas, por não terem uma história ou texto
escrito, eram, por conseguinte, primitivas. Isto é fazer um julgamento
antecipado de uma muito difícil questão. Certamente que os africanos, tal
como os outros povos, têm uma história muito longa, embora não escrita.
(Geoffrey Parrinder, 1962, p. 18).
A filosofia africana não deveria era avaliada com base nisto. O mesmo
veredicto poderia ser estendido ao espírito filosófico africano. Embora Parrinder
esteja a referir-se especificamente à religião africana, o que ele diz aplica-se
também à filosofia africana, dado que está intimamente ligada à religião
africana. Esta é, na verdade, uma questão que dificilmente pode ser
antecipadamente dirimida. Uma interpretação fiel do pensamento humano
realça o facto de que ele não pode ser encerrado na palavra escrita. Mais
ainda, como afirma Omoregbe: O facto de as reflexões filosóficas dos
pensadores africanos do passado não terem sido preservadas ou transmitidas
por escrito, corresponde ao facto de estes filósofos nos permanecerem
desconhecidos. Mais isso não significa que não tinham existido, (Joseph I.
Omoregbe, 1998, p. 5). Coloca-se agora, obviamente, o desafio de investigar
este pensamento e de o passar à escrita. A filosofia africana não deve
contentar-se em afirmar a sua tradição oral. Chega o tempo de corroborar
decididamente tais afirmações com uma literatura escrita. Isso, felizmente, está
a acontecer.
27
1.6- A FILOSOFIA AFRICANA E AS EXIGÊNCIAS DA PRODUÇÃO
LITERÁRIA
Os comentários precedentes não implicam que se subestime a importância de
outros critérios, como a cientificidade e a produção literária, na elaboração da
filosofia, em especial da filosofia formal. E nem deveria dar a impressão de que
a filosofia africana se possa contentar em permanecer ao nível da tradição oral.
É necessário avançar na especulação filosófica com a autenticidade do
pensamento; uma autenticidade que acede aos humildes inícios da filosofia. Se
uma tal abertura mental significar ter de lidar com a contribuição histórica da
cultura africana para a civilização ocidental, e do pensamento africano para o
desenvolvimento do que, mais tarde, se haveria de tornar no profundamente
especulativo pensamento grego, então assim seja.
Neste mesmo espírito, é necessário estar também precavido contra a
arrogância filosófica, tal como aquela que tende a conferir a certas tradições
filosóficas um legado literário, desde a sua criação e até sempre. Estas ciladas
têm de ser evitadas por ambos os lados. O que tem vindo cada vez mais a ser
realçado é que deve ter existido uma influência mútua entre os pensadores e,
por conseguinte, entre tradições de pensamento, e que o tráfico não fluiu
apenas num sentido.
Houve, no passado, uma certa controvérsia a rodear figuras como Santo
Agostinho, Tertuliano, Orígenes, Cirilo, etc., especialmente quanto à sua
verdadeira identidade. Embora a sua contribuição para o pensamento filosófico
ou teológico seja instantaneamente reconhecível, o mesmo não se pode
exactamente dizer da sua origem. (Cf. Ibidem, pp. 305-306). Os casos em as
contribuições para o pensamento humano têm sido colocadas em dúvida, ou
simplesmente rejeitadas, por não estarem escritas, têm de ser reexaminados.
Isto conduzir-nos-á, obviamente, de volta à questão colocada anteriormente
referente à relação entre a filosofia e a sua forma escrita. Já muito foi escrito
acerca deste último tema, e não precisamos de repisar aqui. Para lá de mais
indícios relacionados, muitos biógrafos assinalam que, entre outros escritores,
o respeitado historiador Heródoto não deixa dúvidas quanto a origem africana
dos supramencionados ícones históricos.
28
1.7- A DEFINIÇÃO E A NATUREZA DA FILOSOFIA AFRICANA
É necessário hoje, mais que nunca, distinguir entre as tradições orais e
literárias no desenvolvimento do pensamento africano. Embora seja verdade
que a maior parte da literatura escrita acerca da filosofia africana é
relativamente recente, há indícios, nas culturas africanas, de opiniões acerca
de algumas das principais questões debatidas na filosofia ocidental. No
entanto, como sublinha Appiah, estas tradições orais não são tão antigas
quanto as restantes tradições literárias africanas. Ou seja, existem muito
antigas tradições escritas sobre a filosofia em África, nomeadamente as
egípcias e etíopes. (Kwame A. Appiah, vol. 1. P. 96). Parece haver
considerável evidência de que os primitivos pensamentos gregos e islâmicos
foram influenciados por estas tradições. Pode discutir-se a extensão da
influência que estas culturas exercem sobre o pensamento inicial ocidental e do
Médio Oriente, mas a investigação iniciada especialmente no último século, e
que promete não dar tréguas, não deixa lugar a nenhuma dúvida quanto à sua
existência. Para lá destas duas mencionadas tradições (oral e literária),
estamos hoje a lidar com uma diferente fornada de filósofos africanos. São
intelectuais africanos, a maioria dos quais passou pelos sistemas de educação
do Ocidente, que assumiram uma abordagem mais profissional de filosofia.
Quando falamos da filosofia africana, no sentido mais lato, incluem-se todos os
três estádios de desenvolvimento do pensamento africano, nomeadamente o
antigo pensamento literário, o pensamento tradicional oral, e o que veio a ser
apelidado de filosofia profissional na África contemporânea.
1.8- A ESSÊNCIA DE UMA FILOSOFIA CRISTÃ AFRICANA
O que é que podemos, por conseguinte, afirmar que constitui a essência da
filosofia cristã africana? Será o encontro da filosofia africana com o
cristianismo, ou o facto de que a actividade filosófica do filósofo africano, no
seu encontro com o cristianismo, foi ordenada para uma diferente finalidade?
Em que é que poderá residir o carácter único da filosofia cristã africana, será
uma característica que não se encontra na filosofia africana ainda não
influenciada pelo cristianismo? Será que uma filosofia cristã africana poderá
29
realizar as aspirações da filosofia africana de um modo tal que esta última não
o possa fazer por si mesma, ultrapassando as limitações que lhe são próprias?
Ou poder-se-ia situar a essência da filosofia cristã africana na unidade da
missão, partilhada tanto pela filosofia africana, como pela teologia cristã
africana?
A análise da essência da filosofia africana cristã africana deve ter em conta as
diversas fases pelas quais passou a história da filosofia africana, desde a
antiguidade até ao século actual. É, pois, necessário distinguir entre os
diversos níveis do encontro do cristianismo com os meios culturais africanos,
em diversos períodos históricos, nomeadamente: o encontro entre o
cristianismo e o pensamento dos africanos metropolitanos da antiguidade, no
Norte; o encontro entre o cristianismo e o pensamento tradicional africano, isto
é, o pensamento de um povo ainda não influenciado por factores externos; o
encontro entre o cristianismo e a África dos séculos, XVII-XVIII; e o encontro
entre o cristianismo e o desenvolvimento do pensamento africano enquanto
fenómeno específico do século XX e do período posterior.
30
CAPÍTULO II: CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO ACTUAL DA
FILOSOFIA AFRICANA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO
2.0- CONTEXTUALIZAÇÃO DE ÁFRICA
África é o terceiro maior continente do mundo, com extensão territorial de
30.221.532 km2 que corresponde cerca de 21% do planeta terra. É constituído
por 55 países, sendo maior Argélia, com 2.381.741 km 2, e o menor as Ilhas
Seychelles, com 455 km2. África possui 60% de terra arável do mundo e com
potencial para se tornar numa das maiores áreas de agricultura mundial.
O continente é o segundo mais populoso do mundo, com uma densidade
populacional de 1.308.034.176 habitantes no ano de 2019, 58% da população
vive em zonas rurais e 42% da população em zonas urbanas, sendo que deste
número, 40,3% é analfabeta. Estima-se que a população africana, em dois mil
cinquenta (2050), corresponderá 25% da população activa no mundo. A
densidade demográfica é de 36 habitantes por quilómetros. O país mais
populoso é a Nigéria, com 200 milhões de habitantes, a seguir a Etiópia, com
122 milhões de habitantes. Estima-se que o continente possui entre 1500 a três
mil línguas nacionais. As principais religiões são cristianismo, islamismo e
várias religiões africanas, como Tocoísmo (de Simão Toco), o kimbanguismo
(de Simão Kimbango) e o Antonismo (de Kimpa Vita).
A posição geográfica de África é privilegiada e constitui uma vantagem
assinalável nas relações comerciais do continente com o resto do mundo. A
Oeste é limitada pelo oceano Atlântico; a Leste pelo Índico, a Norte pela Mar
Mediterrâneo e a Nordeste pelo Mar Vermelho, o que lhe permite ter rotas com
bastantes fluxos comerciais. Grande parte do petróleo que vem do Médio
Oriente passa pelo Golfo de Áden, e quem controla o fluxo nesta rota é o
Djibuti, na ligação com o Mar Mediterrâneo, razão que fez com que os
americanos e os chineses instalassem bases militares no Djbuti. Grande parte
do fluxo comercial do Atlântico passa pelo Golfo da Guiné. A energia, que sai
da Ásia e do Mediterrâneo para ser distribuída na Europa, passa pelo Estreito
de Ormuz.
O continente é rico em biodiversidade, recursos naturais, minerais e hídricos.
Possui um mosaico sociocultural e étnico diversificado. O continente é banhado
32
a Leste pelo Oceano Atlântico e a Oeste pelo Oceano Índico, a Norte pelo Mar
Mediterrâneo e a Nordeste pelo Mar Vermelho e pelo Canal do Suez.
O fim da II Guerra Mundial alterou a geopolítica e a geoestratégia das
superpotências mundiais. Na altura, nos Estados Unidos da América e na
antiga União das repúblicas Socialistas Soviéticas, a corrida por ocupação de
zonas de influências e expansionismo das suas ideologias foram
denominadores de vários acontecimentos que dominam a política internacional.
Abriu caminho para o período conhecido na história como Guerra Fria, que
parecia «mais quente do que fria» devido aos contornos e impactos que teve
em vários países (Alemanha com as duas Repúblicas, as guerras no Vietname
e no Afeganistão, a divisão da Coreia, o conflito civil em Angola, entre outros
acontecimentos).
2.1- A HISTÓRIA MODERNA DA FILOSOFIA AFRICANA
A história moderna da filosofia africana estende-se do séc. XVI ao séc. XIX, e
teve lugar não só no continente africano, mas também nas diásporas europeia
e americana. Esta filosofia foi, por conseguinte, africana, cristã, europeia,
islâmica, árabe, judaica, magrebina e americana. Apesar da influência de
muitos factores externos, nomeadamente culturais, religiosos e intelectuais, a
filosofia deste período não perdeu a sua identidade africana. Continuou a fazer-
se sentir a contribuição de África nas áreas da autoria, audiência, projecto,
propósito, problemas, etc. Examinaremos aqui a contribuição etíope e a de
Wilhelm Anton Amo, como representantes deste desenvolvimento simultâneo a
dois níveis do pensamento africano nesta época, no continente e na diáspora.
2.2- O LEGADO DO ANTIGO EGIPTO PARA O PROGRESSO DO
PENSAMENTO HUMANO
A história antiga da filosofia africana pode ser geralmente considerada como
estendendo-se desde 3000 até 300 antes da era cristã, arco temporal que
também é conhecido como período antigo egípcio, por ter estado dominado
sobretudo pelo império faraónico egípcio. No estudo deste período clássico da
história e da filosofia do Norte de África recorre-se ainda a outras histórias do
33
passado, numa tentativa de reconstruir, e restaurar a filosofia antiga como um
elemento autêntico da história africana da filosofia.
O egpito foi, por exemplo, reconhecido por muitos primitivos prponentes da
filosofia grega, e outros escritores antigos, como o berço da filosofia. Tales,
Platão, Aristóteles, Proclo, Santo Agostinho, apenas para nomear alguns,
associaram o Antigo Egipto aos inícios da filosofia, ou, pelo menos, a essa luz,
fizeram-lhe referencias. Numa secção das Leis, no diálogo entre o Ateniense e
Chínias, ouvimos o primeiro reconhecer que os egípcios tinham, já há muito,
identificado o princípio que os gregos apenas então começavam a admitir, ou
seja, o princípio da importância da virtude na edcaçao das crianças. A
implicação a tirar seria a de que os gregos foram influenciados pelos egípcios
no desenvolvimento da sua própria filosofia da educação, ou, pelo menos, que
os egípcios estavam mais avançados do que eles nesse ponto (Cf. Platão, Leis
II, 656 d-e.). uma asserção semelhante pode ser encontrar no Timeu, no qual Crítias
narra como Sólon, um grego, estava maravilhado pelo imenso conhecimento dos
sacerdotes egípcios. E, mais ainda, continua Crítias, Sólon descobriu qu tanto ele
como qualquer outro grego não sabiam, por assim dizer, quase nada sobre aquele
assunto
O Egipto foi, por exemplo, reconhecido por muitos primitivos proponentes da
filosofia grega, e outros escritores antigos, como o berço da filosofia. Tales,
Platão, Aristóteles, Proclo, Santo Agostinho, apenas para nomear alguns,
associaram o Antigo Egipto aos inícios da filosofia, ou, pelo menos, a essa luz,
fizeram-lhe referencias. Numa secção das leis, no diálogo entre o ateniense e
Clínias, ouvimos o primeiro reconhecer, que os egípcios tinham, já a muito,
identificando o princípio que os gregos apenas então começavam a admitir, ou
seja, o princípio da importância da virtude na educação das crianças.
A implicação a tirar seria a de que os gregos foram influenciados pelos egípcios
no desenvolvimento da sua própria filosofia da educação, ou, pelo menos, que
os egípcios estavam mais avançados do que eles nesse ponto 3. Uma asserção
semelhante pode ser encontrada pode ser encontrada no Timeu, no qual
Crítias narra como Sólon «descobriu que tanto ele como qualquer outro grego
não sabiam, por assim dizer, quase nada sofre aquele assunto 4». É improvável
que Sólon e outros gregos não tenham sido influenciados por um tal
34
conhecimento sobretudo tendo em conta o seu apetite natural e insaciável pela
verdade.
Há em Platão muitos outros casos, por exemplo, na República, que apontam
para esta persuasão egípcia sobre o pensamento grego 5. O mesmo pode ser
encontrado em Aristóteles, que afirma: «As artes matemáticas foram fundadas
no Egipto; pois, ali, à classe sacerdotal era permitido dedicar-se ao lazer»6.
Clarão que Aristóteles considerava que, para alguém se poder dedicar a um
pensamento especulativo profundo e sério, as necessidades vitais básicas
tinham primeiro de estar asseguradas. Tal era possível no Egipto,
especialmente no caso dos sacerdotes, pois o Egipto contava-se entre aqueles
lugares onde os «homens» puderam pela primeira vez desfrutar do lazer, e, por
isso, dispunham de tempo para se dedicarem às ciências que não procuram
apenas responder às necessidades da vida ou a proporcionar prazer. O Egipto
é, mais uma vez, reconhecido como o berço do pensamento humano
sistemático, de onde os atenienses devem ter aprendido de bom grado, dada a
sua conhecida de saber.
Deixando as evidências gregas antigas, voltamos a África. Tão cedo quanto o
séc. III, Tertuliano nota como «Platão seguiu de perto os ensinamentos do
egípcio Mercúrio (Hermes) …»7. Orígenes, na sua defesa da autenticidade das
raízes judaicas do cristianismo, pergunta por que razão é que os egípcios,
quando se vangloriam do seu próprio relato da divindade dos animais, devem
ser considerados sábios…»8, enquanto os judeus, quando se referem a Deus,
são considerados inferiores. Orígenes não duvida da antiguidade do
conhecimento egípcio, nem questiona a habilidade filosófica dos egípcios, mas
quer refutar a implicação de Celso de que o conhecimento do Deus da fé é
inferior ao conhecimento filosófico.
2.3- AFRICANIDADE ENTENDIDA COMO VINDO DE ÁFRICA
Estritamente falando, para se poder definir a filosofia africana, as questões da
identidade africana e da cultura africana são inevitáveis. Não se pode negar
que a concepção que se possui de quem está habilitado ser chamado de
africano, e do que convém que pertença à cultura africana, irá determinar o
35
entendimento do que é a filosofia africana. O Oxford Advanced Learners
Dictionary define africano como uma pessoa de África, especialmente uma
pessoa negra. Há outras definições, como um nativo de África ou um Negro de
raça africana, etc., que parecem sublinhar a raça como elemento essencial na
definição do africano. Por razões práticas, talvez a primeira definição
corresponda melhor ao que propomos como significado para africano, por
incluir tanto aqueles que podem ser considerados de cepa africana, como
aqueles que, por factores históricos, têm todo o direito a clamar pela
Africanidade1, ou, pelo menos, pelo continente africano. Não deve existir
nenhuma des-continentalização na tentativa de definir o africano, isto é,
ninguém que pertença à barca africana deve ser deixado de fora. Além disso,
embora seja verdade que cada definição pode ser útil para identificar quem o
africano é, tem de se tomar em consideração o facto de que alguém possa ser
um filósofo africano sem estar encerrado na mencionada definição de africano.
Voltando à definição de uma pessoa de África vir de África pode ser entendido
de três formas: em primeiro lugar, quem provém de África e vive, de facto, em
África; está envolvido na vida africana, e pode autenticamente contribuir para o
desenvolvimento de África, até mesmo para o seu pensamento. É, talvez, por
esta razão, que o significado de africano foi inflacionado por alguns, para incluir
quem é africano por, digamos, …associação, lei empreendimento e relevância.
(Innocent M. O. 1999, p.46). como resultado, estabelece-se, por vezes, a
distinção entre filósofos africanos indígenas e expatriados. Isto também se
adequa às definições muito abrangentes de pensadores como Nyerere. Para
este, a palavra africanos pode incluir todos aqueles que fizeram do continente o
seu lar, negros, castanhos, ou brancos… o que significa esquecer a cor, ou
raça, e recordar a humanidade, (Julius, Nyerere, 1965, p. 117). Se isto for
assim, em que consiste então a africanidade, ou a filosofia africana?
A consideração anterior previne-nos da necessidade de sermos cautelosos
quanto ao caminho escorregadio de definir a filosofia africana e o filósofo
africano. Entre outros, Ruch delineou três características que definem a
filosofia africana, a saber: em primeiro lugar, é aquilo que é escrito, proposto ou
criado por uma pessoa de origem africana. Em segundo, uma filosofia escrita,
proposta ou criada no continente africano. Em terceiro, uma que lida com
36
problemas africanos ou com a cultura africana. Claro que uma das
características pode não ser suficiente por si mesma, e pode ser necessário
complementá-la com, pelo menos, uma das outras duas. Podemos talvez, por
exemplo, afirmar que não é suficiente ser feita por um africano para que uma
filosofia seja africana. Há hoje muitos africanos formados como filósofos, mas
eles não se tornam filósofos africanos apenas por essa razão. Para que o
sejam, será necessário, para lá de serem africanos, que tratem de um tema
conotado com a cultura africana. Esta caracterização da filosofia africana é
também partilhada por autores como Osuagwu, que estendem a espiritualidade
a espacialidade e temporalidade africanas para incluir não apenas quem vive
no continente africano, mas também os africanos empenhados no labor
filosófico, onde quer que se encontrem. Incluídos ainda na sua definição de
filósofo africano estão aqueles que são africanos por lei; seja a lei civil,
eclesiástica ou académica (I. Osuagwu, 1999, p. 30).
Depreende-se daqui que a geografia não é suficiente para a definição de um
africano, em geral, e da filosofia africana, em particular. Juntamente com ela,
temos ainda factores culturais, históricos e sociológicos.
2.4- A AFRICANIDADE E A FILOFICIDADE DA FILOSOFIA AFRICANA
Como assinalámos anteriormente, a filosofia africana não pode preocupar-se a
tal ponto com a defesa da sua identidade africana que acabe por menosprezar
o espírito universal constitutivo da filosofia. Uma qualquer filosofia tem de
manter o seu espírito cientifico, ao mesmo tempo que deve estar pronta a
deixar a academia e as prateleiras das bibliotecas para entrar na vida das
pessoas e responder às suas preocupações concretas. A filosofia é vida e,
embora essa vida possa ser vivida num contexto africano, um tal contexto não
pode ser concebido em total isolamento. Tal como Parrinder afirmar em relação
à religião africana:
Tanto é um erro olhar para a religião como se nada tivesse acontecido,
como o é trata-la como se tivesse desaparecido sem deixar vestígios. Nem
a atitude isolacionista, nem a arqueológica,são adequadas para os tempos
modernos, (G. Parrinder, 1969, p. 187).
37
No nosso contexto, estas palavras aplicam-se também à filosofia africana, e é
sempre necessário exercitar a prudência, tanto quanto à particularidade do
espírito filosófico.
Por conseguinte, ao definir-se a filosofia africana, quando já tudo tiver sido dito
e feito acerca do que é a filosofia africana, ela deve, no entanto, ser Filosofia.
Ela deve ser uma filosofia que não se isole a si mesma, encerrado-se
insensivelmente nalgum casulo africano. Como sublinha Osuagwu, se a
filosofia africana quiser ser genuína, então terá de mater tanto a sua
africanidade, como também a filosoficidade, como as suas caracterizações
essenciais, pois nelas recebe a sua particularidade, e ainda a sua
universalidade (Osuagwu,….p. 28). Quando se trata de definir a filosofia
africana, não se deve insistir na africanidade do pensamento em detrimento da
sua filosoficidade,, nem também a filosoficidade do pensamento deve ser
sublinhada de tal modo que se negligencie, de modo radical, a sua
particularidade africana. A peculiaridade da filosofia africana deve ser
procurada, mas certamente não às custas do espírito universal da Filosofia. Na
mesma linha, uma tal definição não deve ser ingenuamente baseada apenas
na localização geográfica e/ou na herança cultural. Na caracterização de um
filósofo africano ou de uma filosofia africana, têm também de ser considerados
autros factores, como a legalidade, a produtividade e a espaciotemporalidade.
Esta forma de entender a filiosofia africana tornar-se-á ainda mais patente
através do modo como concebemos o seu desenvolvimento histórico.
2.5- Confronto entre a situação real actual e a situação ideal desejada
A filosofia africana tornou-se uma característica necessária do discurso
filosófico contemporâneo, e é hoje um instrumento indispensável na formação
da cultura. A intenção desta investigação é a de oferecer ao leitor os principais
temas da filosofia africana, tal como eles se desenvolveram desde a
Antiguidade até â eclosão das discussões contemporâneas. O principal
objectivo é, por conseguinte, o de guiar o leitor pelo caminho tortuoso, mas
excitante, do discurso filosófico africano. Isto é, da filosofia africana gerada
tanto no solo africano, como na diáspora africana. Neste sentido, a
38
investigação é relevante tanto para estudantes de filosofia, como para outros
cuja dedicação à filosofia passa não ser uma prioridade, mas que sejam,
contudo, interessados nos assuntos africanos e no rumo que a sociedade
africana está tomar no nosso tempo.
É hoje necessário que se discuta a filosofia africana a partir de diversos pontos
de vistas: temático, histórico e comparativo. A essência da filosofia africana
deve ser considerada de modo abrangente, tendo em conta o seu
desenvolvimento histórico. Mais, tal desenvolvimento histórico deve conduzir à
consciência de não ser este o único movimento em busca da verdade, mas que
deve servir como seu núcleo.
A filosofia africana faz parte de uma civilização, a civilização africana; mas
mesmo esta civilização africana faz ainda parte do progresso para a realização
do ser humano. A filosofia africana, por isso, tem de reconhecer a sua
contribuição essencial, mas parcial, para se atingir a meta humana da própria
satisfação. Contribuição essencial, porque a pessoa africana é para integral da
família humana. Parcial, porque a filosofia africana não pode pretender conter
toda a verdade acerca do ser humano. Isto aplica-se a qualquer outra filosofia,
onde quer e sempre que ela desponte.
Torna-se imediatamente evidente que o debate filosófico africano alia-se,
necessariamente, ao progresso do pensamento filosófico noutras partes do
mundo; mas esse é, particularmente, o caso com a Europa, e, até certo ponto,
com a América, por óbvias razões históricas. Tem sido desde há muito
reconhecido que a presença africana em ambos os continentes não pode ser
ignorada. O discurso filosófico africano não pode evitar esta realidade, e fazê-lo
seria tentar reescrever a história, e, portanto, tentar reescrever o
desenvolvimento do pensamento humano.
O desenvolvimento histórico esboçado nesta investigação mostra com ainda
maior clareza que, em alguns casos, a África, já desde a antiguidade, quase
sempre desenvolveu a sua reflexão filosófica em pareceria com o ambiente
circundante.
39
O presente trabalho aborda a importância da filosofia africana para o
desenvolvimento humano. Para tal, o trabalho está estruturado em dois
capítulos. O primeiro, aborda a fundamentação teórica da importância da
filosofia africana para o desenvolvimento humano.
No segundo capítulo, parte fundamental deste trabalho, faz o diagnóstico do
Estado actual sobre a Importância da filosofia africana para o desenvolvimento
humano. Deste modo, o capítulo está estruturado em cinco partes, dando-se
destaque para os conceitos de Ubuntu, Negritude, Filosofia Bantu e outros. E
este é seguido pelas conclusões, sugestões, e bibliografia e anexos.
2.6- UM OLHAR SOBRE OS PRINCIPAIS CONCEITOS DA FILOSOFIA
AFRICANA E SUA INTEGRAÇÃO EM CURRÍCULOS ESDUCACIONAIS
A frase eu sou porque nós somos não tem um único autor específico, pois é
uma expressão que emerge das tradições orais e culturais africanas,
especialmente associada ao conceito de «Ubuntu». O Ubuntu é uma filosofia
comunitária profundamente enraizada nas culturas Bantu da África Subsariana.
A frase reflete a essência dessa filosofia, que valoriza a interconexão humana e
o papel da comunidade na construção da identidade individual.
No entanto, a frase foi amplamente divulgada e interpretada no pensamento
filosófico e político moderno por figuras como:
John Mbiti (1931-2019): O filósofo e teólogo queniano John Mbiti explorou
profundamente a ideia de colectividade na cultura africana.ele afirmou:
I am because we are, and since we are, therefore I am. Isso aparece em seu
livro African Religions and Philosophy (1969). Embora em inglês, a tradução
mantém o mesmo espírito da frase eu sou porque nós somos.
Desmond Tutu (1931-2021): O arcebispo Sul-africano Desmond Tutu
popularizou a ideia de Ubuntu no contexto da reconciliação e unidade na África
do Sul pós-apartheid. Em seu livro No future Without Forgiveness (1999), ele
descreve Ubuntu como:
40
My humanity is caught up, is inextricably bound up, in yours. We belong in a
bundle of life.
Nelson Mandela (1918-2013: Embora não tenha cunhado a frase, Nelson
Mandela utilizou frequentemente o conceito de Ubuntu em discursos e práticas,
promovendo a ideia de que a humanidade é interdependente.
A frase eu sou porque nós somos pode ser atribuída às tradições orais
africanas, que enfatizam a colectividade e a interconexão humana. Sua
formalização enquanto ideia filosófica pode ser encontrada nos escritos de
John Mbiti (1969), mas ela é essencialmente um reflexo de valores culturais
transmitidos por gerações.
I am because we are, and since we are, therefor I am. Isso aparece em seu
livro African Religions and Philosophy (1969). Embora em inglês, a tradução
mantém o mesmo espírito da frase «Eu sou porque nós somos».
Desmond Tutu (1931-2021): O arcebispo sul-africano Desmond Tutu
popularizou a ideia de Ubuntu no contexto da reconciliação e unidade na África
do Sul pós-apartheid. Em seu livro No Future Without Forgiveness (1999), ele
descreve Ubuntu como:
My humanity is caught up, is inextricably bound up, in yours. We belong in a
bundle of life.
Nelson Mandela (1918-2013): Embora não tenha cunhado a frase, Nelson
Mandela utilizou frequentemente o conceito de Ubuntu em discursos e
práticas, promovendo a ideia de que a humanidade é interdependente.
a) Incorporar os princípios do Ubuntu e sua aplicabilidade:
O conceito de Ubuntu (Eu sou porque nós somos) pode ser introduzido em
aulas de ética, sociologia em educação cívica. Por exemplo, os alunos podem
explorar como Ubuntu promove a empatia, a cooperação e a resolução de
conflitos.
Integrar a filosofia africana nos currículos educacionais pode trazer uma
abordagem mais inclusiva e diversificada ao ensino, promovendo a valorização
41
de diferentes paradigmas de pensamento e fomentando uma compreensão
mais profunda das culturas e tradições africanas. A filosofia africana oferece
lições universais sobre humanidade, comunidade, ética e interconexão, que
podem enriquecer os currículos em várias áreas.
2.7- NEGRITUDE E O SOCIALISMO AFRICANO
A íntima interação que existe entre a África francófona e a África anglófona
manisfestou-se, de modo particular, no diálogo entr a negritude e o socialismo
africano. Na nossa apresentação de Senghor, procuramos envidenciar como
este campeão da negritude se esforçou por dar voz à aspiração africana de
restaurar o orgulho do seu povo e da sua cultura, cujo toque de finados tinha
soado em consequência da colonização. A negritude não era, no entanto, para
Senghor, apenas um ponto de vista sociocultural, mas também uma
antropologia espistemológica. Embora seja verdade que a negritude designava
todo complexo de valores civilizacionais (culturais, sociais, económicas e
políticos), o carácter destes valores emergem na esfera social e, ainda mais
fundamentalmente, na espistemológica. Este tipo de formação social é mais
notório no carácter comunitário da sociedade africana, em que a família
(constituída tanto pelos vivos, como pelos mortos) é uma instituição essencial.
Embora os africanos a individualidade, Senghor insiste que esta é definida, nos
sistemas sociais africanos, no âmbito da comunidade 2. (Cf. Wiredu, 2004,
p.98). O indivíduo apenas tem sentido na comunidade, e, fora dela, não é nada
e nada tem. A comunidade faz das pessoas aquilo que elas são, a nível social,
psicológico e moral. Dá-lhes identidade e tudo o que importa na vida. Caso a
comunidade retirasse o seu patrocínio aos indivíduos, estes ficariam suspensos
em terra de ninguém. É por isso que o desterro era considerado como um dos
castigos mais severos que poderia ser imposto a uma pessoa e, para lá da
execução, era o preço último a ser pago pelos rebeldes.
É à luz desta forte relação entre o individuo e a comunidade que se deve
entender a atitude africana para com o conhecimento de si próprio. Ao contrário
do cogito ergo sum de Decartes, o africano é traído ao conhecimento de si
próprio através da sua presença na comunidade. Por isso, o axioma
42
comunalista do autoconhecimento de Senghor, Eu sinto, eu danço o Outro; eu
sou, (Mbiti, 1969), foi aprofundado por Mbiti deste modo: Eu sou porque nós
somos, e, uma vez que nós somos então eu sou (L. Senghor, 1964, p. 262). A
este propósito, Franken comenta: O ego africano foi estendido a cem ou mais
pessoas. Esta é a ideia fundamental da família alargada. Esta família pode ser
toda uma aldeia, ou mesmo toda uma tribo. Trata-se de um grupo maior, de
uma comunidade maior; é algo de produtivo; algo pode ser feito como grupo
para o benefício de cada indivíduo (J.Franken, E, por causa disto:
O povo africano tinha uma filosofia de vida… As pessoas viviam em
pequenas comunidades… Elas precisavam umas das outras. As mulheres
não podiam ir sozinhas apanhar lenha ou buscar água à floresta, ou capim
para os telhados. E nem o caçador podia ir sozinho buscar comida para a
sua família. Eles tinham de juntar forças e trabalhar juntos. A partir desta
necessidade natural, foi-se formulando uma certa filosofia de vida… Todos
aceitavam o dever de trabalhar, e os direitos eram concedidos segundo os
frutos do trabalho comunitário (Mbiti, 1969, p. 106)..
Como já foi assinalado, Senghor considera que estes elementos são próprios
do carácter emotivo e participativo da cognição africana, enquanto distinta do
pensamento lógico e objectivo ocidental. No processo do conhecimento, o
africano não mantém o objecto à distância, como se encontra no pensamento
europeu clássico, mas antes abandona-se ao objecto conhecido, seja este
Deus, uma outra pessoa ou qualquer fenómeno do mundo7. Senghor distingue
entre o pensamento europeu, que é analítico’discursivo, e o pensamento
africano, que é intuitivo por participação8.
Confrontado com crítica acesas devido à sua distinção racial, e por implicar que
o africano era incapaz de análise, Senghor foi forçado a transformar a sua
posição. Optou então então por uma distinção mais sensata, na qual, embora
mantendo que cada grupo étnico sublinha apenas um aspecto da razão,
admitiu que estes grupos, para lá desse aspecto, possuem ainda todas as
virtudes da pessoa humana9. E sustentou, ao mesmo tempoque os africanos,
no seu impulso epistemológico geral, se sentem, por assim dizer, inseridos na
realidade.
43
CONCLUSÕES
A breve e esquemática trajectória histórica apresentada permitiu concluir que:
A África tem hoje necessidade de uma filosofia ou filosofias que possam ajudar
a estabelecer a existência de valores supremos que devem formar a meta ideal
da vida humana e da educação, e oferecer uma voz de comando na forma
como lidar com os assuntos prementes do continente.
A filosofia desempenhou sempre um papel influente na vida dos povos do
continente, ainda que não na mesma medida e grau. Mostrou-se, assim, que o
encontro entre as culturas africanas e outras culturas do exterior acabou
sempre por beneficiar a África, mesmo quando ela foi algumas vezes
apresentada de modo negativo ou pejorativo, pois, em última análise, ajudou o
continente a promover uma atitude crítica para com a realidade.
É necessário sublinhar a herança filosófica da África antiga tradicional,
enquanto ela possa nutrir o presente para um encontro frutuoso, numa
sociedade que experimenta oportunidades alargadas para o desenvolvimento
de uma cultura universal e da verdade da unicidade da família humana.
O papel da filosofia africana é o de conduzir a humanidade africana ao limiar
das verdades profundas e apontar para mais além, cedendo o lugar para que
outros instrumentos possam participar no ímpeto de atingir aquele objectivo
que corresponde ao próprio desejo da filosofia africana.
44
SUGESTÕES
Que se aflore mais sobre o continente africano por este apresentar vários
desafios desde a instabilidade política, económica, social e a segurança.
Muitos destes problemas não foram solucionados mesmo com alcance das
independências dos estados no século XX.
Que às academias e, que os jovens estudantes encontrem um espaço sério e
inclusivo para a reflexão sobre a importância da filosofia africana no
desenvolvimento humano e suas características no contexto das nações.
Que se realize mesas redondas, debates e workshops porque, um povo que
esquece o seu passado, a sua história, os seus hábitos e costumes é um povo
sem direcção. O continente precisa forjar uma agenda continental realista e
renascer ou adequar os pilares do Pan-africanismo aos desafios no século XXI.
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Volume único 4ª Edição.
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Anexo 1: Síntese Biográfica do Candidato
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DA HUÍLA
ISCED – HUÍLA
SÍNTESE BIOGRÁFICA DO CANDIDATO
1. Dados pessoais:
Nome: Julião Filize Katengue
Data de Nascimento: 15/08/1981
Local de Nascimento: Município do Cuvango, província da Huíla.
Filiação: Bartolomeu Inácio e Donana Intumba.
Portadora do BI Nº 006004672HA042
Passado pelo arquivo de Lubango, 27 de Julho de 202024.
2- Dados Académicos
Fez os seus estudos Primários na Escola de Sete Casas, Cuvango, de
2004 a 2008.
Fez o II nível, na Escola Mwene Tywako, de 2009 a 2010.
Fez o I Ciclo na Escola secundária Nº 1484, Lar de estudante de 2011 a
2013.
Fez a sua Formação Média no liceu Nº 1483, Pe. António Gabriel
Lilunga em Ciências económicas jurídicas, no Cuvango, de 2014 a 2016.
3- Dados Profissionais
Em 2023, foi empregado no ministério da educação no colégio
Pitágoras de Menongue como Professor.
Actualmente é Professor de Língua Portuguesa, na Escola supra
citada – em Menongue.
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