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A Teoria Dos Instintos

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Dani Fernanda
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[PREFÁCIO]

O objetivo deste pequeno trabalho é reunir os princípios da psicanálise, expondo-os,


por assim dizer, dogmaticamente — da forma mais concisa e nos termos mais
inequívocos. Sua intenção, naturalmente, não é impor a crença ou despertar
convicção.
Os ensinamentos da psicanálise se baseiam em grande número de observações e
experiências, e apenas quem tiver repetido essas observações em si mesmo e em
outros poderá chegar a um juízo próprio sobre ela.
PARTE I
[A NATUREZA DO PSÍQUICO]a
1. O APARELHO PSÍQUICO
A psicanálise estabelece uma premissa básica, cuja discussão fica reservada para o
pensamento filosófico e cuja justificação está em seus resultados. Daquilo que
chamamos nossa psique (vida anímica) conhecemos dois tipos de coisas: primeiro, seu
órgão físico e cenário, o cérebro (sistema nervoso); por outro lado, nossos atos da
consciência, que são dados sem intermediação e que nenhuma descrição pode nos
tornar mais próximos. Tudo o que há no meio nos é desconhecido, não é dada uma
relação direta entre os dois pontos-finais do nosso saber. Se ela existisse, forneceria
no máximo uma localização exata dos processos da consciência e em nada ajudaria
para a sua compreensão.
Nossas duas suposições se ligam a esses finais ou começos de nosso saber. A
primeira diz respeito à localização. Supomos que a vida psíquica é função de um
aparelho ao qual atribuímos [as características de] ser estendido no espaço e ser
composto de várias partes, que imaginamos, assim, como um telescópio, um
microscópio ou algo desse tipo. A elaboração coerente de uma concepção como essa
representa uma novidade científica, não obstante algumas tentativas já feitas nessa
direção.
Chegamos a tomar conhecimento desse aparelho psíquico mediante o estudo do
desenvolvimento individual do ser humano. A mais antiga dessas províncias ou
instâncias psíquicas denominamos Id;b seu conteúdo é tudo o que é herdado, trazido
com o nascimento, constitucionalmente determinado; sobretudo, portanto, os
instintos oriundos da organização do corpo, que aí encontram uma primeira
expressão psíquica, para nós desconhecida em suas formas.1
Sob a influência do mundo externo real que nos rodeia, uma parte do Id teve um
desenvolvimento especial. Originalmente uma camada cortical, dotada de órgãos
para a recepção de estímulos e de mecanismos para a proteção contra estímulos, a
partir dela se produziu uma organização especial que passou a mediar entre o Id e o
mundo exterior. A essa região de nossa psique demos o nome de Eu.
As principais características do Eu. Devido à relação preestabelecida entre percepção
sensorial e ação muscular, o Eu tem à disposição os movimentos voluntários. Sua
tarefa é a autopreservação, e a cumpre tomando conhecimento dos estímulos
externos, armazenando (na memória) experiências relativas a eles, evitando (através
da fuga) estímulos fortes demais, indo ao encontro (através da adaptação) dos
estímulos moderados e, por fim, aprendendo a modificar o mundo externo para sua
vantagem (a atividade); na direção interna, perante o Id, adquirindo controle sobre as
reivindicações dos instintos, decidindo se devem chegar a ter satisfação, adiando essa
satisfação para momentos e circunstâncias favoráveis no mundo externo ou
suprimindo simplesmente as excitações deles. Em sua atividade, o Eu é guiado pela
consideração das tensões produzidas pelos estímulos, tensões nele existentes ou nele
introduzidas. A elevação dessas tensões é sentida em geral como desprazer, e sua
diminuição, como prazer. Mas provavelmente não são as alturas absolutas dessa
tensão dos estímulos, e sim algo no ritmo de sua alteração, que é sentido como prazer
ou desprazer. O Eu busca o prazer e foge ao desprazer. Um aumento esperado e
previsto do desprazer é respondido com o sinal de angústia; a ocasião para esse
aumento, venha ela de fora ou de dentro, denomina-se perigo. De quando em quando
o Eu desfaz sua conexão com o mundo externo e se recolhe ao estado de sono,
modificando amplamente sua organização. Deve-se inferir, a partir do estado de
sono, que essa organização consiste numa distribuição especial da energia psíquica.
Como resultado do longo período de infância, em que o ser humano em
crescimento vive na dependência dos pais, forma-se no Eu uma instância específica,
na qual prossegue essa influência parental. Ela recebeu o nome de Super-eu. Na
medida em que o Super-eu se distingue do Eu ou se contrapõe a ele, constitui um
terceiro poder, que tem de ser levado em conta pelo Eu.
Portanto, uma ação do Eu é correta se satisfaz ao mesmo tempo as exigências do Id,
do Super-eu e da realidade, ou seja, quando concilia essas reivindicações entre si. Os
detalhes da ligação entre Eu e Super-eu se tornam inteiramente compreensíveis
quando referidos à relação da criança com os pais. Naturalmente, a influência parental
inclui não apenas a natureza pessoal dos pais, mas também a influência das tradições
familiar, racial e nacional por eles transmitidas, assim como as exigências do meio
social, por eles representadas. Da mesma forma, no curso do desenvolvimento
individual o Super-eu recebe contribuições de prosseguidores e substitutos dos pais,
como educadores, pessoas públicas exemplares, ideais venerados na sociedade. Vê-se
que, não obstante toda a diferença fundamental entre eles, Id e Super-eu mostram
uma coisa em comum, que é o fato de representarem as influências do passado — o
Id, a influência herdada, e o Super-eu, essencialmente a recebida dos outros —,
enquanto o Eu é determinado principalmente pelas vivências do indivíduo, ou seja,
pelo que é acidental e atual.
Esse esquema geral de um aparelho psíquico deve se aplicar também aos animais
superiores, psiquicamente similares ao ser humano. Devemos supor que existe um
Super-eu sempre que, como no caso do ser humano, há um longo período de
dependência infantil. É inevitável supor uma separação entre Eu e Id.
A psicologia dos animais ainda não abordou o problema que isso coloca.
2. TEORIA DOS INSTINTOS
O poder do Id expressa o verdadeiro propósito da vida do ser individual. Ele consiste
em satisfazer suas necessidades congênitas. Não podemos atribuir ao Id o propósito
de manter-se vivo e proteger-se de perigos mediante a angústia. Isso é tarefa do Eu,
que também precisa achar o modo mais favorável e menos perigoso de obter
satisfação, considerando o mundo exterior. O Super-eu pode colocar novas
necessidades, mas sua função principal continua a ser a restrição das satisfações.
As forças que supomos haver por trás das tensões geradas pelas necessidades
denominamos Triebe [instintos, impulsos, “pulsões” etc.]. Representam as exigências
somáticas à vida psíquica. Embora sejam a causa última de toda atividade, são de
natureza conservadora; de todo estado alcançado por um ser nasce o empenho de
restaurar esse estado assim que é abandonado. Pode-se, então, diferenciar um número
indeterminado de instintos, e assim se costuma fazer. Para nós é importante a
possibilidade de referir todos esses múltiplos instintos a alguns poucos instintos
básicos. Descobrimos que os instintos podem mudar sua meta (mediante o
deslocamento), e também que podem substituir uns aos outros, quando a energia de
um passa para o outro. Esse último processo ainda não é bem compreendido. Após
muito hesitar e oscilar, decidimos supor a existência de apenas dois instintos
fundamentais, Eros e instinto de destruição. (Ainda se inclui dentro de Eros a oposição
instinto de autoconservação-instinto de conservação da espécie, assim como a de
amor do Eu-amor objetal.) A meta daquele é estabelecer unidades cada vez maiores e
assim mantê-las, isto é, a ligação; a do segundo, ao contrário, é dissolver nexos e,
assim, destruir as coisas. No caso do instinto de destruição, podemos imaginar que
sua meta derradeira seria fazer o que é vivo passar ao estado inorgânico. Por isso
também o chamamos instinto de morte. Se admitimos que o que é vivo apareceu depois
do que é inanimado e dele se originou, então o instinto de morte se adéqua à fórmula
mencionada de que um instinto busca o retorno a um estado anterior. No caso de
Eros (ou instinto de amor) não podemos aplicar essa fórmula. Pressuporia que a
substância viva foi uma vez uma unidade, que então foi despedaçada e que agora
procura a reunificação.2
Nas funções biológicas os dois instintos fundamentais se combinam ou agem um
contra o outro. Assim, o ato de comer é uma destruição do objeto com a meta final de
incorporá-lo, e o ato sexual, uma agressão com o propósito da mais íntima união.
Dessa ação conjunta ou contraditória dos dois instintos fundamentais resulta toda a
variedade dos fenômenos vitais. Indo além do âmbito do que vive, a analogia de
nossos dois instintos básicos leva ao par de opostos atração-repulsão, vigente no que
é inorgânico.3
Mudanças na proporção da mistura dos instintos têm consequências bastante
tangíveis. Um forte incremento na agressividade sexual transforma o amante em
assassino sexual, uma grande diminuição do fator agressivo o torna acanhado ou
impotente.
Não se pode absolutamente restringir um ou outro dos instintos básicos a uma das
províncias da psique. Eles têm de ser encontrados em toda parte. Imaginamos um
estado inicial em que toda a energia disponível de Eros, que passamos a chamar libido,
está presente no Eu-Id ainda não diferenciado e serve para neutralizar as tendências
destrutivas também presentes. (Falta-nos, para a energia do instinto de destruição,
um termo análogo ao de libido.) Depois se torna relativamente fácil acompanharmos
as vicissitudes da libido, mas no caso do instinto de destruição é mais difícil.
Enquanto esse instinto age internamente como instinto de morte, ele permanece
silencioso; apresenta-se para nós apenas quando é voltado para fora, como instinto de
destruição. Parece ser uma necessidade para a conservação do indivíduo que isso
ocorra. O sistema muscular serve para isso. Quando o Super-eu é instituído,
consideráveis montantes do instinto de agressão são fixados no interior do Eu e lá
atuam de forma autodestrutiva. É um dos perigos higiênicos que o ser humano
encontra na via da evolução cultural. Reter a agressividade é malsão, leva à doença

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