Luisa D’Antola de Mello — no USP 10740001
A sequência de Fibonacci
Instituto de Fı́sica da USP
Cálculo Diferencial e Integral I
Prof. Oscar João Abdounur
Julho de 2020
1 Introdução
Este trabalho tem como objetivo apresentar a sequência de Fibonacci e explorar
sua história e algumas de suas propriedades matemáticas e também mostrar onde a
sequência e os números de Fibonacci aparecem. Com esse intuito, vamos começar
conhecendo a definição da sequência.
Figura 1: Espiral de Fibonacci, formada desenhando-se arcos circulares conectando
vértices opostos de quadrados em que os lados crescem como os números da sequência
Começando em 0 e 1, a sequência de Fibonacci tem cada um de seus próximos
elementos Fn definidos recursivamente como a soma de dois dos seus antecessores ime-
diados, como na equação 1 a seguir.
Fn = Fn−1 + Fn−2 (1)
Portanto, com F0 = 0 e F1 = 1, temos F2 = 0 + 1 = 1 e assim por diante:
Fib: 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, . . .
É importante ressaltar que algumas vezes a sequência é apresentada omitindo-se F0 ,
com a recursão da equação 1 válida para n > 2. [1] Nesse trabalho, vamos considerar
a sequência dessa maneira.
A sequência é relacionada à proporção áurea e aparece frequentemente em padrões
da natureza, sendo também muito usada na arte e até mesmo na área financeira, tendo
muitas propriedades matemáticas interessantes.
2 História
A chamada sequência de Fibonacci já era conhecida em meados de 300a.C, na
matemática indiana. Para a poesia sânscrita, era de interesse que se enumerassem
1
todos os padrões de sı́labas longas de 2 “unidades de duração”(L), justapostas com
sı́labas curtas, de 1 “unidade de duração”(C), que um poema pudesse comportar. Esse
problema é apresentado pelo matemático indiano Pingala, como explicado a seguir.
Considerando um número n de unidades de
duração, de quantas maneiras é possı́vel arranjar
silabas longas e curtas? Pensando recursivamente,
a última sı́laba só pode ser uma sı́laba longa ou
uma sı́laba curta. Caso seja L, o número de ma-
neiras possı́veis é o mesmo do caso com n − 2 uni-
dades. Caso seja C, o número de maneiras é o
mesmo de n − 1 unidades. Assim, o número total
de possibilidades é a soma dos dois casos, ou seja, o
termo Fn da sequência de Fibonacci, considerando
F0 = 1 e F1 = 1. Veja a figura 2. Figura 2: Esquema representativo
Entretanto, como é comum acontecer na ma- das maneiras de se preencher, um po-
temática, nem sempre a primeira pessoa a apre- ema de 6 unidades de duração, com
sentar uma coisa nova acaba sendo creditada e a sı́labas longas L, representadas por
sequência ficou com o nome de Leonardo Fibo- vermelho ou curtas C, representadas
nacci, também conhecido como Leonardo de Pisa, por cinza; são 13(F6 ) maneiras.
um matemático italiano que em 1202 publicou seu
livro Liber Abaci introduzindo e popularizando os numerais indo-arábicos ao ocidente.
No livro, Leonardo discute o crescimento de uma população idealizada de coelhos:
Um par de coelhos recém-nascidos é colocado em um campo; cada par reprodutor
acasala com um mês de idade e no final do segundo mês eles sempre dão a luz a outro
par reprodutor de coelhos; considerando que os coelhos nunca morrem e continuam se
reproduzindo para sempre, quantos pares de coelhos se terá ao final de um ano?
Figura 3: Esquema do crescimento da população de coelhos: coelhos de barriga azul e
vermelha representam um par adulto, que acasala.
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Veja a figura 3. Ao final do primeiro mês, o primeiro par acasala, mas ainda é só
um par. No segundo mês, dão a luz a mais um par e há dois pares. No terceiro mês, o
segundo par acasala e o primeiro dá luz a mais um par, sendo 3 pares no total e assim
por diante. O resultado é que no n-ésimo mês, o número de pares de coelhos é a soma
de pares maduros do mês n − 2 mais o número de pares vivos no mês n − 1, que darão
luz. Ou seja, no n-ésimo mês, o número de pares de coelhos é o n-ésimo número na
sequência.
Atualmente, os números de Fibonacci são amplamente conhecidos e utilizados, vistos
até mesmo em qualquer lugar por olhos esforçados o suficiente, o que acaba se tornando
prejudicial na face da divulgação matemática. Para evitar que isso aconteça, se deve
conhecer e entender suas propriedades e aplicações.
3 Propriedades matemáticas
A sequência de Fibonacci tem diversas identidades e propriedades matemáticas in-
teressantes, sendo aqui mostradas algumas das mais simples e conhecidas delas.
3.1 Proporção áurea
Dois números positivos x e y, com x > y, estão em proporção áurea se
x x+y
= =φ (2)
y x
e essa razão é comumente denotada por φ. Pela equação 2, temos a equação de segundo
grau
φ+1
φ= ←→ φ2 = φ + 1 (3)
φ
o que nos dá como raizes
√
1± 5
φ= φ+ ≈ 1, 61803398875 (4)
2
sendo φ+ , a raiz positiva da equação 3, conhecida como número de ouro.
Uma das propriedades da série de Fibonacci é que seu termo geral pode ser escrito
em função de φ, como na equação 5.
φn+ − φn−
F (n) = √ (5)
5
Além disso, outro fato notável é que a razão Fn /Fn−1 se aproxima do número de
ouro a medida que n cresce.
1 2 3 5 6765
=1 =2 = 1, 5 = 1, 6666... ... = 1, 6180339...
1 1 2 3 4181
3
3.2 Divisibilidade
A série tem algumas propriedades interessantes quanto a divisibilidade e máximo
divisor comum. Cada n-ésimo número da sequência é múltiplo de Fn , o que, num caso
especial, torna cada terceiro número par e também significa que
mdc(Fm , Fn ) = Fmdc(m,n) (6)
Algumas outras propriedades são:
• Se m é divisı́vel por n, então Fm é divisı́vel por Fn .
• Se mdc(m, n) = k, então mdc(Fm , Fn ) = Fk
• Quaisquer três números consecutivos da sequência têm pares primos entre si (o
único divisor comum entre eles é 1).
3.3 Teorema de Zeckendorf
O teorema, descoberto e provado pelo matemático Edouard Zeckendorf em 1972,
afirma que “todo número inteiro positivo pode ser unicamente representado como a
soma de números de Fibonacci de ı́ndices não consecutivos”.
4 = F1 +F4 = 1+4 12 = F1 +F4 +F6 = 1+3+8 100 = F4 +F6 +F11 = 3+8+89
3.4 Triângulo de Pascal
Figura 4: Fibonacci no Triângulo de Pascal
A sequência também aparece no triângulo de pascal. Ajustando o triângulo para a
esquerda para melhor visualização, os números na diagonal somados formam os números
de Fibonacci, como mostrado na figura 4.
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4 Fibonacci na natureza
Na natureza, podemos observar os números de Fibonacci na espiral do nautilus, na
folha de uma bromélia, no número crescente de galhos de uma árvore, na reprodução
de algumas espécies de abelhas
Figura 5: Espirais de Fibonacci na natureza
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5 Fibonacci na Arte
Figura 6: Homem vitruviano, de Leonardo da Vinci
Na arte, a sequência de Fibonacci e a proporção áurea foram amplamente usadas
por diversos artistas em esculturas, pinturas, músicas e até mesmo em construções.
Alguns exemplos são o homem vitruviano de Leonardo da Vinci, no cinema o filme Pi,
de Darren Aronofsky.
Referências
[1] Wikipedia, (2001). Fibonacci Number
Disponı́vel em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Fibonacci number>
Acesso em: 9 jul. 2020
[2] Wikipedia, (2001). Sequência de Fibonacci
Disponı́vel em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sequ%C3%AAncia de Fibonacci>
Acesso em: 9 jul. 2020
[3] Wikipedia, (2001). Fibonacci
Disponı́vel em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Fibonacci>
Acesso em: 9 jul. 2020
[4] Wikipedia, (2001). Proporção Áurea
Disponı́vel em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Propor%C3%A7%C3%A3o %C3%A1urea>
Acesso em: 9 jul. 2020