UniAraguaia – Centro Universitário
Especialização: Educação Infantil: teoria e práticas pedagógicas
Disciplina: Ciências da natureza e conhecimento matemático na Educação Infantil
Profa. Ma. Joana D’Arc dos Santos Gomes
ACADÊMICO/A: Isabella Gomes Assis
Desde os primeiros anos de vida, as crianças são naturalmente curiosas e exploradoras. Elas
têm uma afinidade inata com a natureza, manifestando interesse por plantas, animais, e os diversos
fenômenos que ocorrem ao seu redor. Essa conexão não é apenas um aspecto do desenvolvimento
infantil, mas também uma oportunidade rica para a educação, pois a natureza oferece um espaço
dinâmico para ser explorado durante a aprendizagem. As experiências ao ar livre permitem que as
crianças aprendam de forma prática e significativa. Quando brincam em ambientes naturais, elas
desenvolvem habilidades motoras, sociais e cognitivas. Uma simples ação de correr, observar
insetos, coletar folhas, flores e gravetos estimula a criatividade e a imaginação.
Autores do campo da Psicologia ambiental (PROFICE, 2010) afirmam que as
crianças apresentam uma tendência à aproximação e familiaridade com seus
elementos, uma afeição pelas coisas vivas, denominada biofilia; à medida que são
afastadas dos ambientes naturais, essa afeição pode não se desenvolver, gerando,
ao contrário, sentimento de desapego e indiferença em relação ao mundo natural.
Assim, cuidar das crianças significa mantê-las em contato com o universo natural
de que são parte. Se o nosso compromisso é com a sua integridade e com a
preservação da vida no planeta, Sol, ar puro, água, terra, barro, areia são
elementos/condições que devem estar presentes no dia a dia de creches e pré-
escolas. Os bebês vão gostar muito de estar ao ar livre, sobre colchonetes,
desfrutando do espaço aberto, atentos ao que está ao redor. […] (TIRIBA, 2010, p.
07)
Contudo, para que isso aconteça, é preciso oferecer às nossas crianças o acesso a esses
recursos e espaços. Nesse sentido, nos dias de hoje, temos alguns obstáculos, como a tecnologia,
aparelhos eletrônicos e até mesmos ambientes educacionais sem muito acesso à natureza. Algumas
crianças, por exemplo, podem acabar não tendo nenhum tipo de acesso à elementos da natureza fora
do ambiente escolar. Assim, é preciso que nós, enquanto professores, realizemos ações que
propiciem a exploração dessa afinidade com a natureza e tudo que ela oferece.
Pensando nesse sentido, precisamos romper com a visão de escola enquanto somente a sala
de aula. Para que essa aproximação com a natureza aconteça precisamos que o nosso olhar,
enquanto educadores, ultrapasse os limites do muro das escolas, como nos aponta Horn e Barbosa
(2022):
A perspectiva de uma educação que rompa com os muros da escola, que faça
circular o dentro e o fora, que interligue a sala com o quintal, o pátio e a praça, a
natureza com a ciência, a ciência com a tecnologia, a tecnologia e as humanidades
é um traço importante do nosso tempo, um compromisso geracional, antes que seja
tarde. […] (HORN E BARBOSA, 2022, p 47)
Na Educação Infantil é preciso integrar a natureza como um componente central da prática
pedagógica. Enquanto pedagogos, o nosso papel é criar ambientes que incentivem a exploração e a
descoberta do que a natureza tem pra oferecer de acordo com o ambiente no qual estamos inseridos.
Incluir atividades ao ar livre, como jardinagem, caminhadas, observação de pássaros, céu, paisagens
e integrar a natureza nas atividades cotidianas da sala de aula, de modo intencional e planejado. Ao
fazer isso, não só enriquecemos o processo de aprendizagem, como também cultivamos uma
relação saudável entre as crianças e o meio ambiente, onde elas se reconheçam enquanto parte da
natureza. Esse movimento é imprescindível para que não aconteça um afastamento entre o ser
humano e a natureza, onde essas crianças acabem crescendo e se tornando adultos que vejam a
natureza apenas como algo a serviço do homem e do capitalismo e como algo com a função de
oferecer recursos materiais. Portanto, para que esse afastamento não ocorra, nossas ações e
intervenções pedagógicas precisam ser constantes.
Mas essas experiências não podem ser eventuais, devem estar no coração do
projeto pedagógico, como rotina, de tal forma que as crianças tenham acesso direto
e frequente, reguem, participem da limpeza da horta, da colheita, integrando-se,
vivenciando e conhecendo, na prática, os processos de nascimento e crescimento
dos frutos da terra. Isso nada tem a ver com as experiências em que as crianças
“plantam” feijão sobre o algodão molhado no copinho e depois que ele brota jogam
tudo no lixo. Se abandonarmos o minhocário depois que as crianças entendem a
importância da minhoca no trato agrícola; se deixamos sem água as mudas recém-
brotadas, se mantivermos em cativeiro os animais tão comuns nos pátios das
escolas, como porquinho-da-índia e jabuti, ensinaremos a meninos e meninas uma
visão utilitarista da natureza, atitudes de desrespeito a seres vivos. (TIRIBA, 2010,
p. 08)
Para além dos pontos já mencionados anteriormente, o contato com a natureza e a
exploração dela no ambiente escolar também proporciona benefícios de caráter emocional,
diretamente ligados ao bem estar de nossas crianças. A natureza proporciona um espaço para que
elas possam expressar suas emoções e aprendam a resolver desafios de forma saudável. Com esse
contato sensível é que elas desenvolvem empatia e respeito pelo meio ambiente, valores que são de
extrema importância em um mundo onde a sustentabilidade e a proteção do meio ambiente se
tornam assuntos cada vez mais urgentes.
Por fim, ao refletirmos sobre a criança, a natureza e a Educação Infantil, somos chamados a
reconsiderar nosso papel como educadores. Precisamos garantir que as futuras gerações não apenas
aprendam sobre a natureza, mas também desenvolvam um amor por ela e a consciência pela
preservação do nosso meio ambiente. Assim, podemos contribuir para a formação de cidadãos
conscientes, sustentáveis e responsáveis. A conexão com a natureza não é apenas uma experiência
de aprendizagem, mas também é um passo muito importante para o desenvolvimento integral da
criança e, consequentemente, a construção de um futuro sustentável.
Referências Bibliográficas
HORN, Maria da Graça Souza; BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Para além dos muros da
escola: a natureza e a cidade como ambientes de vida e aprendizagem. In: Abrindo as portas da
escola infantil: viver e aprender nos espaços externos. Porto Alegre: Penso, 2022.
TIRIBA, Léa. Criança da Natureza. In: Anais do I Seminário Currículo em Movimento:
Perspectivas atuais. Belo Horizonte, Faculdade de Educação/UFMG, 2010.