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Hobsbawm, Eric – A Era das Revoluções, 1789-1848. Presença, 2001. 1 O mundo na
década de 1780 8 A terra
O Mundo na Década de 1780
O autor começa descrevendo o cenário global na década de 1780, ressaltando que, de
várias maneiras, o mundo era menor em comparação com hoje, mas parecia maior
devido às limitações tecnológicas e sociais da época. As descrições de Hobsbawm giram
em torno de temas como geografia, população, comunicação, transporte, e o caráter
rural e agrário da sociedade.
Conhecimento Geográfico Limitado
Mesmo com os avanços da exploração no século XVIII, o mundo conhecido ainda era
relativamente pequeno. Embora figuras como o explorador Alexander von Humboldt
tivessem uma visão ampla, o conhecimento real sobre grandes partes do planeta era
fragmentado. Oceanos e massas continentais já haviam sido parcialmente mapeados,
mas áreas internas dos continentes, como o interior da Ásia, África e América do Sul,
permaneciam misteriosas.
• Muitos continentes tinham suas montanhas, rios e florestas ainda desconhecidos.
Por exemplo, as cadeias de montanhas da Ásia eram praticamente ignoradas, e a
África, além da região dos Montes Atlas, era em grande parte uma incógnita.
• Esse mundo menor em termos de conhecimento contrastava com a vasta
quantidade de áreas que, para a maioria da população, continuavam sendo
"espaços brancos" nos mapas.
População e Distribuição Humana
A população mundial também era muito menor do que hoje, estimada em
aproximadamente um terço da atual. Segundo Hobsbawm:
• A maior parte da população estava concentrada na Ásia, que abrigava cerca de
dois terços da população mundial. A Europa, com cerca de 187 milhões de
habitantes, tinha menos importância demográfica.
• As Américas e a Oceania tinham populações ainda menores, representando
apenas cerca de 3% da população mundial combinada.
Além de ser menor em número, a população era distribuída de maneira desigual, com
algumas áreas do mundo, como partes da China, Índia e Europa Central, possivelmente
tendo densidades populacionais comparáveis às de hoje. Entretanto, grande parte do
planeta era escassamente povoada ou inacessível devido a fatores como clima, doenças
(como a malária no sul da Itália), e a prevalência de terras inexploradas, como florestas e
pântanos.
Sociedade Agrária e Rural
A maior parte do mundo em 1780 era rural. Isso era especialmente verdadeiro para
regiões como a Rússia, os Bálcãs e a Escandinávia, onde cerca de 90% a 97% da
população vivia em áreas rurais. Mesmo em países com tradições urbanas mais fortes,
como Itália e França, a proporção de habitantes rurais era muito alta, variando de 70%
a 90%.
• Hobsbawm explica que o mundo de 1780 era essencialmente agrário, dominado
por grandes latifúndios e formas de cultivo tradicionais, e que até mesmo as
grandes cidades dependiam fortemente da produção agrícola.
• Na Inglaterra, a população urbana só ultrapassaria a rural pela primeira vez em
1851, refletindo que o mundo ainda estava longe de se tornar industrializado ou
urbanizado.
As cidades, embora importantes, eram poucas e concentravam pequenas populações.
Além de Londres (com cerca de um milhão de habitantes) e Paris (com meio milhão),
as grandes cidades eram raras na Europa. A maioria das pessoas que viviam em áreas
urbanas residia em pequenas cidades provinciais com menos de 20 mil habitantes,
frequentemente dependendo da economia rural circundante.
Comunicações e Transportes Lentos
O mundo também parecia maior por causa das dificuldades de comunicação e
transporte. Embora houvesse avanços em estradas e veículos puxados por cavalos, as
viagens terrestres eram extremamente lentas. Por exemplo:
• Viagens entre Londres e Glasgow eram reduzidas de 10 a 12 dias para cerca de
62 horas no final do século XVIII, mas ainda representavam um desafio em
termos de velocidade e eficiência.
• A viagem de navio entre Nápoles e a Sicília durava entre três e quatro dias, algo
que seria inviável por terra na época.
O transporte por água era mais fácil e rápido, mas dependia das incertezas dos ventos e
das marés. As cidades portuárias estavam melhor conectadas ao mundo do que as áreas
rurais. Por exemplo, Sevilha estava mais próxima de Veracruz (México) do que de
Valladolid (na Espanha). A notícia da queda da Bastilha em Paris levou 13 dias para
chegar a Madri, mas só chegou a Péronne, a 133 km de Paris, no final do mês.
Divisão Social e Econômica
Hobsbawm explora a grande divisão social e econômica entre cidade e campo. A cidade
era o centro da cultura e do conhecimento, e seus habitantes se diferenciavam dos
camponeses em vestimenta, aparência física (sendo geralmente mais altos e esbeltos),
e no nível de alfabetização. Mas mesmo esses cidadãos urbanos viviam em um
isolamento relativo, com pouca ideia do que acontecia fora de suas próprias cidades.
A relação entre os camponeses e os proprietários de terras variava enormemente, mas
em muitas partes da Europa Oriental (incluindo a Rússia e partes da Polônia), prevalecia
o sistema de servidão, onde os camponeses eram praticamente escravizados, trabalhando
nas terras dos nobres. Em contraste, na Europa Ocidental, a servidão havia desaparecido
ou estava em declínio, com os camponeses arrendatários pagando aluguel em dinheiro ou
uma parte de suas colheitas.
Economia Colonial e Comercial
As colônias europeias na América Latina, Caribe, Índias Ocidentais e Orientais eram
economicamente importantes. O sistema colonial era dominado por enormes
propriedades, muitas vezes exploradas por trabalho forçado ou escravo. No Caribe e nas
partes costeiras da América do Sul e dos EUA, as plantações de açúcar, algodão, e
outros produtos tropicais geravam lucros extraordinários.
• O comércio colonial estava no centro da economia europeia, particularmente com
a Inglaterra, cujas colônias produziam as matérias-primas necessárias para a
Revolução Industrial.
Hobsbawm descreve que o início da Revolução Industrial já estava moldando algumas
áreas da Europa, especialmente na Inglaterra, onde havia uma concentração de
proprietários de terras e uma classe crescente de empresários agrícolas e industriais.
Conclusão
O primeiro capítulo de "A Era das Revoluções" pinta um retrato detalhado de um mundo
que ainda estava profundamente rural, com vastas desigualdades sociais e econômicas,
onde a comunicação e o transporte eram lentos e o conhecimento geográfico era limitado.
O pano de fundo agrário e aristocrático das sociedades europeias contrastava
fortemente com os avanços iniciais da Revolução Industrial e da Revolução Francesa,
que estavam prestes a mudar profundamente o curso da história mundial.
Esses dois processos – o industrial e o revolucionário – alterariam para sempre as bases
sociais, políticas e econômicas que Hobsbawm descreve nesse capítulo introdutório,
colocando o mundo em um novo caminho de modernidade e transformação.
Introdução: A Importância da Terra
Hobsbawm começa o capítulo destacando que a questão agrária era central para as
sociedades do período, pois a maior parte da população mundial ainda dependia
diretamente da agricultura para sua subsistência. Assim, as transformações na terra e nas
suas estruturas de posse e uso tiveram consequências profundas para a vida da maioria
das pessoas. O autor ressalta que as grandes mudanças políticas e econômicas da época,
como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, não poderiam ser plenamente
compreendidas sem se analisar as revoluções no campo.
A Revolução Dupla e o Impacto no Campo
Hobsbawm argumenta que as mudanças no campo foram um componente vital da
chamada "revolução dupla", que é a combinação da Revolução Francesa (política) e da
Revolução Industrial (econômica). Essas duas revoluções não apenas alteraram as cidades
e indústrias, mas também foram cruciais para remodelar as relações sociais e econômicas
no mundo rural.
A sociedade agrária, que até então funcionava com base em estruturas feudais ou pré-
capitalistas, passou a ser transformada por novas dinâmicas impulsionadas pelo
capitalismo e pela burguesia emergente. Para que o sistema capitalista se consolidasse,
era essencial que a terra, um recurso fundamental, fosse tratada como uma mercadoria –
isto é, algo que pudesse ser comprada e vendida livremente no mercado, sujeita às leis da
oferta e demanda.
As Três Grandes Transformações da Terra
Hobsbawm identifica três mudanças principais que precisavam ocorrer para que a terra
se adaptasse às exigências do capitalismo moderno:
1. A Mercantilização da Terra: O primeiro passo foi transformar a terra em algo
que pudesse ser comercializado. Até então, em muitas regiões, a terra era de
propriedade de nobres ou do clero e raramente era tratada como uma mercadoria
vendável. A Revolução Francesa, em particular, acelerou esse processo, ao
expropriar terras da nobreza e da Igreja e colocá-las à disposição do mercado. Isso
levou a uma mudança nas leis de propriedade, permitindo que a terra fosse
comprada e vendida livremente, transformando-se em parte do mercado
capitalista.
2. Propriedade para Investimento e Lucro: A terra precisava ser gerida de maneira
mais eficiente, visando o aumento da produção e do lucro. Os proprietários de
terras passaram a ser incentivados a modernizar e explorar seus terrenos de forma
racional, utilizando técnicas agrícolas inovadoras e expandindo as áreas
cultiváveis. Hobsbawm argumenta que, para que isso acontecesse, os proprietários
precisavam estar motivados por razões econômicas, e não apenas por status ou
tradição.
3. Transformação da População Rural: Para atender às necessidades do mercado,
era necessário que parte da população rural fosse convertida em trabalhadores
assalariados, livres para se movimentarem entre diferentes empregos e regiões.
Isso se opunha à forma tradicional de trabalho no campo, que muitas vezes estava
vinculada a uma relação de servidão ou à posse comunal da terra. Assim, o sistema
feudal, onde o camponês trabalhava para o senhor feudal em troca de proteção e
o direito de usar a terra, foi substituído por um sistema mais flexível de
arrendatários ou trabalhadores agrícolas assalariados.
Resistências às Mudanças
Hobsbawm destaca que essas transformações não ocorreram sem resistência. Dois grupos
principais se opuseram à mercantilização da terra e à introdução de novas formas de
propriedade e trabalho:
• Os Proprietários Pré-capitalistas: Muitos dos antigos proprietários de terras,
incluindo a nobreza feudal e o clero, resistiram às mudanças, já que viam suas
terras mais como um símbolo de poder e status do que como uma fonte de lucro.
Estes grupos estavam frequentemente relutantes em vender suas propriedades ou
em adotar práticas de gestão mais modernas e voltadas para o mercado. Na
Europa Oriental, em particular, onde a servidão ainda era comum, os nobres se
opuseram firmemente às reformas que poderiam enfraquecer seu controle sobre a
terra e os camponeses.
• O Camponês Tradicional: O outro grupo que resistiu às mudanças foi o próprio
camponês, que preferia as antigas formas de posse comunal da terra ou os arranjos
de trabalho que garantiam sua sobrevivência, ainda que em condições precárias.
Para muitos camponeses, a transformação da terra em uma mercadoria e a
conversão para o trabalho assalariado representavam uma ameaça à sua segurança
e estilo de vida. Essas resistências foram especialmente fortes em regiões onde o
campesinato ainda gozava de certas liberdades, como na França antes da
Revolução, ou onde as reformas eram impostas sem levar em conta as condições
locais, como na Rússia.
Diferenças Regionais: Grã-Bretanha, Estados Unidos e Europa Continental
A transformação da terra e da agricultura ocorreu de maneiras diferentes nas várias
regiões do mundo, dependendo das condições políticas, econômicas e sociais de cada
lugar:
• Grã-Bretanha: Hobsbawm descreve a Grã-Bretanha como um dos países onde
as mudanças agrárias foram mais profundas. Lá, a terra foi concentrada nas mãos
de uma pequena elite de grandes proprietários, que gerenciavam suas
propriedades com base em princípios comerciais e empregavam agricultores
como trabalhadores assalariados. A Grã-Bretanha adotou um modelo de grandes
fazendas comerciais que serviriam de base para o capitalismo agrícola. Esse
processo levou à cercamento de terras comuns (enclosures), que retirou o acesso
dos camponeses a terras coletivas e os forçou a buscar trabalho assalariado.
• Estados Unidos: Nos EUA, a posse da terra foi marcada por um processo
diferente. O modelo dominante era de fazendas de propriedade familiar, com
os próprios agricultores operando suas terras. A mecanização precoce e a
abundância de terras férteis permitiram que o sistema agrícola dos EUA se
expandisse rapidamente, tornando-se uma potência exportadora de produtos
agrícolas. A sociedade rural nos EUA desenvolveu-se de forma relativamente
independente, sem a forte hierarquia de classes que ainda persistia na Europa.
• Europa Continental: Na Europa continental, o processo de transformação foi
mais lento e menos uniforme. Na França, por exemplo, a Revolução Francesa
aboliu o sistema feudal e redistribuiu a terra para camponeses, mas as
propriedades menores resultantes muitas vezes não eram eficientes do ponto de
vista econômico. Na Prússia, por outro lado, as reformas agrárias permitiram que
muitos antigos senhores feudais se convertessem em grandes proprietários
capitalistas, preservando grande parte da antiga hierarquia social, mesmo que
adaptada ao novo sistema econômico.
As Colônias e a Produção de Matérias-primas
Hobsbawm também aponta que as colônias europeias desempenharam um papel
importante no fornecimento de matérias-primas agrícolas, como açúcar, algodão e
tabaco, para a economia capitalista em ascensão. Nas colônias da América Latina e do
Caribe, grandes plantações continuaram a usar trabalho escravo ou formas de trabalho
forçado, como a servidão. Esse sistema de produção agrícola voltado para o mercado
global foi um componente essencial da economia europeia durante o período.
Consequências das Transformações Agrárias
As transformações agrárias contribuíram para a criação da sociedade burguesa e para o
avanço do capitalismo, mas também tiveram impactos profundos sobre os camponeses e
trabalhadores rurais. A destruição de formas tradicionais de posse comunal da terra e a
crescente mercantilização da terra levaram a uma crescente proletarização da população
rural, forçando muitos camponeses a abandonar suas terras e migrar para as cidades em
busca de trabalho, especialmente nas fábricas que surgiam com a Revolução Industrial.
Conclusão
O Capítulo 8: A Terra mostra como as mudanças nas relações agrárias e na posse da
terra foram fundamentais para o desenvolvimento do capitalismo no século XIX. A
mercantilização da terra, a criação de uma classe de proprietários comerciais e a
proletarização dos camponeses foram elementos centrais desse processo. Essas
transformações, embora fundamentais para o crescimento econômico, também geraram
grandes conflitos e tensões no campo, que se manifestaram de diversas maneiras, como
revoltas camponesas e resistências às reformas.
LUTA PELO PODER "Os paradoxos da liberdade" do livro A luta pelo poder:
Europa, 1815-1914 de Richard J. Evans.
1. Senhores e Servos
Durante o século XIX, a Europa ainda era dominada por uma estrutura social
profundamente agrária e aristocrática, onde grandes proprietários de terras controlavam
vastas regiões rurais e dependiam do trabalho servil. A maior parte da população rural
vivia como camponeses ou servos, especialmente na Europa Oriental, como a Rússia,
Polônia e partes do Império Austro-Húngaro. Nesses países, os servos não eram livres,
mas sim economicamente e socialmente vinculados às terras dos senhores.
• Os servos eram frequentemente obrigados a prestar serviços compulsórios aos
seus senhores, cultivando suas terras e fornecendo parte de sua produção como
tributo. Eles também não podiam deixar as terras sem permissão.
• No início do século XIX, esse sistema era visto como um empecilho ao
desenvolvimento econômico, já que a servidão limitava o crescimento de uma
economia de mercado mais dinâmica e industrializada.
• A classe dos senhores de terras (aristocracia) resistia a mudanças, pois sua
riqueza e poder eram baseados na exploração do trabalho servil e no controle
absoluto sobre suas propriedades.
Na Europa Ocidental, a servidão já havia desaparecido em grande parte, mas as condições
para os camponeses ainda eram difíceis. Havia desigualdades profundas, e os
arrendatários frequentemente enfrentavam pesadas taxas de aluguel e tributos aos
proprietários. Mesmo onde a servidão formal não existia mais, os camponeses
permaneciam economicamente vulneráveis e subjugados aos interesses das elites
agrárias.
2. A Grande Emancipação
A emancipação dos servos foi um marco importante na Europa durante o século XIX,
mas ela não foi um processo simples nem uniforme. Começou principalmente por
motivos econômicos e políticos. Governos e elites começaram a reconhecer que o sistema
feudal de servidão impedia o desenvolvimento econômico mais eficiente e a
modernização.
• Na Prússia, a emancipação dos servos começou em 1807, impulsionada pelo
desejo de modernizar o Estado e a agricultura. No entanto, essa libertação foi
gradual e muitas vezes envolvia uma compensação financeira ou a perda de terras
para os camponeses.
• Na Rússia, a Emancipação dos Servos de 1861, sob o czar Alexandre II, foi um
dos eventos mais importantes do período. Cerca de 23 milhões de servos foram
libertados, mas em condições que, na prática, ainda os mantinham atrelados
economicamente aos seus antigos senhores. Eles receberam pequenas parcelas de
terra, mas tinham que pagar pesados resgates por décadas, o que os mantinha
endividados e limitava sua capacidade de prosperar.
• Em muitas regiões, a libertação dos servos veio acompanhada de um processo de
desapropriação de terras. A aristocracia, embora perdesse o controle direto sobre
os servos, conseguia manter grande parte das terras, deixando os camponeses sem
recursos suficientes para viver de forma independente.
Embora a emancipação representasse uma vitória em termos legais e simbólicos, na
prática, ela trouxe desafios severos para os camponeses libertos. Em vez de serem
integrados em uma nova economia próspera, muitos foram empurrados para condições
de miséria e ficaram presos a um ciclo de pobreza e dívidas.
3. Vencedores e Vencidos
A emancipação dos servos teve impactos variados, criando uma divisão entre aqueles que
conseguiam se beneficiar das novas condições e aqueles que, de fato, acabaram em uma
situação pior do que antes.
• Vencedores: Uma pequena classe de camponeses mais abastados ou
empreendedores conseguiu tirar proveito da situação. Em algumas regiões, como
a Prússia, certos camponeses ricos compraram terras e se tornaram proprietários
independentes. Estes “novos proprietários” foram capazes de lucrar com o
aumento da demanda por produtos agrícolas e, em alguns casos, se tornaram
figuras de influência local.
• Vencidos: A grande maioria dos camponeses, no entanto, não conseguiu melhorar
suas condições de vida. O sistema de compensação para os senhores de terras, que
forçou os camponeses a pagar altos tributos ou dívidas, acabou criando uma massa
de trabalhadores rurais sem terra ou economicamente dependentes. Além disso,
as terras que receberam eram frequentemente insuficientes para sustentar suas
famílias, o que resultou em falta de segurança alimentar e migrantes forçados.
• Em algumas regiões, como a Rússia, os camponeses libertos enfrentaram uma
pobreza crônica. Suas terras eram pequenas, de baixa qualidade, e eles
continuavam dependentes das elites rurais para sobreviver, perpetuando um ciclo
de miséria.
4. Revoltas Camponesas
A emancipação, juntamente com as difíceis condições econômicas, levou a uma série de
revoltas camponesas por toda a Europa no século XIX. Essas revoltas foram motivadas
por questões como fome, exploração econômica e injustiças sociais. Camponeses se
rebelavam contra as condições desiguais de posse de terra e os encargos excessivos que
continuavam a enfrentar, mesmo após a emancipação formal.
• A Rússia viu diversas revoltas camponesas, especialmente após a emancipação
de 1861. Os camponeses se revoltavam contra a distribuição injusta de terras e os
altos pagamentos que tinham que fazer para obter terras dos antigos senhores.
• Em partes da Europa Oriental, como a Polônia e o Império Habsburgo, os
camponeses se revoltaram contra a opressão das elites aristocráticas e exigiram
reformas agrárias mais radicais.
• A fome e a miséria, combinadas com a falta de representação política,
alimentaram o descontentamento nas áreas rurais. Revoltas camponesas se
tornaram uma expressão do desespero dessas comunidades, que se viam à margem
dos benefícios do desenvolvimento econômico industrial.
Essas revoltas, no entanto, raramente resultavam em mudanças estruturais significativas.
A aristocracia e os governos reprimiam duramente essas manifestações, temendo a
propagação de movimentos revolucionários rurais.
5. Alimentar o Povo
Uma das maiores preocupações dos governos europeus no século XIX era alimentar suas
populações, especialmente à medida que a urbanização aumentava e a pressão sobre a
produção agrícola se intensificava. A fome e a falta de alimentos eram ameaças
constantes, exacerbadas por más colheitas, más condições climáticas e a falta de
infraestrutura adequada para o transporte de alimentos.
• Os governos enfrentavam desafios significativos para garantir um fornecimento
estável de grãos e outros alimentos básicos. Políticas agrícolas e reformas no
transporte eram vistas como necessárias para evitar crises de fome e revoltas
populares.
• A mudança das economias rurais para modelos mais comerciais e voltados para o
mercado significava que os camponeses, muitas vezes, não cultivavam alimentos
suficientes para consumo próprio, dependendo do mercado para suprir suas
necessidades básicas.
Os surtos de fome nas décadas de 1840 e 1850 evidenciaram as falhas dos sistemas
agrícolas e a vulnerabilidade das classes mais pobres, especialmente nas áreas rurais.
6. A Fome nos Anos 40 do Século XIX
A década de 1840 foi marcada por uma série de fomes devastadoras, particularmente na
Irlanda, Alemanha e outras regiões da Europa Ocidental e Central. Essas fomes foram
causadas por uma combinação de más colheitas (especialmente a crise da batata) e os
efeitos de políticas econômicas que favoreciam os grandes proprietários de terras e a
exportação de produtos agrícolas em detrimento do consumo local.
• A Grande Fome Irlandesa (1845-1849) foi o exemplo mais trágico. A praga da
batata destruiu colheitas sucessivas, resultando na morte de cerca de um milhão
de pessoas e na emigração de milhões para os Estados Unidos e outros lugares. A
resposta do governo britânico foi insuficiente e muitas vezes vista como
indiferente ou até negligente.
• Na Alemanha e em outras partes da Europa Central, a fome também foi
severa, levando a uma série de protestos e agitação social. Em muitos casos, os
camponeses não tinham terras suficientes ou recursos para se sustentar, agravando
a crise alimentar.
• A crise alimentar da década de 1840 foi um catalisador para movimentos
revolucionários. A fome e a miséria contribuíram para o descontentamento
político que culminaria nas revoluções de 1848 em toda a Europa.
Em resumo, a década de 1840 foi um período crítico em que as fragilidades econômicas
e sociais da Europa foram expostas. A fome, a miséria e a incapacidade dos governos de
lidar com essas crises mostraram as limitações das políticas agrárias e a necessidade
urgente de reformas.
A Terra", de A Era do Capital, de Eric Hobsbawm, desenvolvido em tópicos para
facilitar a compreensão:
1. Contexto Agrícola Mundial em 1848
• A maior parte da população mundial, incluindo a Europa, ainda vivia em áreas
rurais.
• O campo dominava a economia, mesmo em sociedades europeias, com exceção
de algumas regiões mais urbanizadas.
• A agricultura era a principal fonte de subsistência e, em muitos casos, também de
riqueza.
2. Impacto da Expansão Capitalista
• A agricultura começou a ser influenciada pela pressão do mercado capitalista,
especialmente com o desenvolvimento de transportes, como estradas de ferro e
navios a vapor.
• Áreas anteriormente remotas começaram a ser integradas ao mercado global,
aumentando a demanda por produtos agrícolas.
• A terra passou a ser tratada como uma mercadoria, sujeita a compra, venda e
exploração dentro da lógica capitalista.
3. Transformação da Agricultura
• Com a expansão do capitalismo, as propriedades rurais e a agricultura passaram a
adotar um caráter cada vez mais capitalista.
• A modernização da agricultura significou, em muitos casos, a substituição de
práticas tradicionais por métodos mais lucrativos e eficientes para atender à
demanda crescente.
• Esse processo levou à desapropriação de muitos camponeses, que perderam suas
terras e, com isso, sua fonte de subsistência.
4. Resistência e Tensões no Campo
• O avanço do capitalismo no campo gerou tensões entre camponeses e
proprietários. Muitos camponeses resistiram à mercantilização da terra e à
transformação de seu modo de vida.
• A luta pela preservação das terras familiares e do modelo tradicional de vida
agrícola gerou conflitos sociais em várias partes da Europa e do mundo.
• A resistência camponesa, no entanto, foi insuficiente para deter as forças
capitalistas, que continuaram a moldar o campo em termos econômicos.
5. Funções da Agricultura Capitalista
• Hobsbawm identifica três funções principais desempenhadas pela agricultura no
modelo capitalista:
1. Fornecimento de Alimentos e Matérias-Primas: A agricultura
continuava essencial para fornecer alimentos à crescente população urbana
e matérias-primas para a indústria.
2. Fornecimento de Mão de Obra: O êxodo rural causado pela
mecanização e modernização das fazendas disponibilizou mão de obra
para as cidades e indústrias.
3. Geração de Capital: Em alguns países, os lucros gerados pela agricultura
foram utilizados para financiar o desenvolvimento urbano e industrial,
contribuindo para a expansão do capitalismo.
6. Desigualdades e Desenvolvimento Desigual
• Nem todas as regiões ou países experimentaram esse desenvolvimento de maneira
harmoniosa. Algumas sociedades resistiram à modernização ou não conseguiram
se adaptar plenamente ao novo modelo capitalista.
• As sociedades agrárias tradicionais enfrentaram desafios ao serem forçadas a se
integrar ao mercado capitalista global. Em muitos casos, isso significou uma
crescente desigualdade entre os grandes proprietários de terra e os camponeses.
7. Impacto Global
• A transformação da agricultura não foi um fenômeno exclusivamente europeu. A
expansão capitalista impactou também regiões coloniais e áreas fora da Europa,
que foram forçadas a se adaptar às demandas de exportação para os mercados
globais.
• Muitas dessas regiões se tornaram exportadoras de produtos agrícolas e matérias-
primas para as economias industrializadas da Europa e América do Norte,
reforçando seu papel dependente dentro do sistema capitalista.
Em resumo, o capítulo "A Terra" de Hobsbawm discute como a agricultura,
tradicionalmente a base da sociedade, foi profundamente transformada pelo capitalismo,
o que gerou conflitos sociais, mudanças econômicas e desigualdades, tanto na Europa
quanto no resto do mundo
o capítulo intitulado "A Revolução Social: o Declínio da Aristocracia; a Nova Elite"
do livro A Luta pelo Poder: Europa, 1815-1914 de Richard J. Evans, o autor descreve as
mudanças profundas na estrutura social e política da Europa durante o século XIX,
particularmente o enfraquecimento da aristocracia e a ascensão de uma nova elite,
impulsionada pelas revoluções econômicas e sociais do período.
1. O Declínio da Aristocracia
A aristocracia europeia, que dominava a sociedade e a política desde a Idade Média,
começou a perder gradualmente seu poder e influência durante o século XIX. Vários
fatores contribuíram para esse declínio:
• Perda de poder econômico: A aristocracia tradicional era amplamente baseada
na posse de terras e nas rendas derivadas dessas propriedades. Com a
industrialização e o crescimento das economias urbanas, a riqueza passou a ser
acumulada nas mãos de industriais, banqueiros e empresários. Muitos aristocratas,
sem uma gestão adequada de suas terras ou sem a adaptação à nova economia,
viram suas rendas diminuírem significativamente.
• Enfraquecimento político: A Revolução Francesa (1789-1799) e as revoluções
subsequentes do século XIX (como as de 1830 e 1848) desafiaram diretamente o
poder da nobreza. O surgimento de movimentos liberais e republicanos
enfraqueceu as bases políticas da aristocracia, enquanto novas constituições e
parlamentos limitaram o seu controle sobre o Estado. A criação de exércitos
nacionais e burocracias centralizadas também reduziu o papel militar e
administrativo que a nobreza tradicionalmente desempenhava.
• Mudança de valores sociais: A cultura aristocrática, baseada em privilégios de
nascimento, hierarquia social e símbolos de status, começou a ser desafiada pelos
valores da burguesia ascendente. A mobilidade social e o sucesso econômico
tornaram-se as novas medidas de prestígio, e muitos membros da burguesia
procuraram imitar os modos de vida aristocráticos, mas sem as mesmas bases
tradicionais de poder.
2. A Nova Elite
Com o declínio da aristocracia, emergiu uma nova elite, composta por empresários
industriais, banqueiros e grandes comerciantes, que acumularam riqueza por meio das
novas formas de produção e comércio.
• Industrialização e Ascensão da Burguesia: A Revolução Industrial trouxe uma
nova classe de capitalistas industriais que controlavam as fábricas, minas e
ferrovias, dominando os setores mais lucrativos da economia. Em países como a
Grã-Bretanha e a Alemanha, esses industriais se tornaram a base da economia
moderna e conquistaram uma posição política significativa.
• Integração com a Aristocracia: Em muitos casos, essa nova elite buscou
legitimar seu status casando-se com membros da aristocracia ou comprando
títulos nobiliárquicos. Embora a aristocracia estivesse em declínio, seus valores e
estilos de vida ainda eram altamente valorizados, e muitos empresários bem-
sucedidos adotaram as práticas culturais da elite tradicional. Assim, criou-se uma
fusão entre os valores aristocráticos e burgueses.
• Influência Política: A nova elite, composta pela burguesia capitalista, começou a
influenciar diretamente as decisões políticas, muitas vezes controlando os
parlamentos ou financiando campanhas políticas. Em países como o Reino Unido,
a reforma eleitoral garantiu o direito de voto a uma parcela crescente da classe
média, fortalecendo seu poder sobre as políticas públicas e a economia.
Evans explora como essa transição no poder foi acompanhada por uma transformação
profunda na sociedade europeia, que passou de uma estrutura baseada em terras e nobreza
para uma centrada no capital, indústria e empreendedorismo
Mundo urbano do seculo XIX
O capítulo "A Grande Expansão" de A Era do Capital, de Eric Hobsbawm, trata da
intensa transformação econômica global entre 1848 e 1875, que foi caracterizada por um
boom econômico sem precedentes. Essa fase foi marcada pela expansão capitalista, com
a industrialização atingindo novos patamares e transformando o cenário mundial.
1. Crescimento da Economia Mundial: A expansão capitalista foi impulsionada
pela industrialização acelerada, especialmente nas economias europeias e dos
Estados Unidos. O comércio mundial, que havia crescido moderadamente até
1840, experimentou um aumento de 260% entre 1850 e 1870, com exportações
massivas de bens como o algodão e o ferro(era_capital).
2. A Inovação Industrial e Comercial: Um dos fatores chave dessa expansão foi o
desenvolvimento de novas tecnologias e a maior disponibilidade de capital. A
ferrovia desempenhou um papel crucial ao conectar mercados e regiões
anteriormente isoladas, enquanto as descobertas de ouro na Califórnia e na
Austrália aumentaram a liquidez global, facilitando a expansão do crédito
(era_capital)(era_capital).
3. Investimentos Internacionais: O fluxo de capitais foi outro marco dessa era. A
Inglaterra, o país mais industrializado, liderava os investimentos internacionais,
com cerca de um bilhão de libras esterlinas investidos no exterior até 1875. A
França também aumentou significativamente seus investimentos, ampliando sua
influência econômica(era_capital).
4. Boom e Crises Econômicas: Apesar do crescimento espetacular, a expansão
econômica não foi linear. O período foi marcado por crises cíclicas, como a queda
mundial em 1857, que interrompeu temporariamente o crescimento. Contudo, a
economia se recuperava rapidamente após cada crise, mantendo o ciclo de
expansão(era_capital)(era_capital).
5. A Política e os Negócios: A prosperidade econômica proporcionou estabilidade
política temporária, ajudando a consolidar a ordem social em países que haviam
enfrentado revoluções em 1848. No entanto, a partir do final da década de 1860,
começaram a emergir novas tensões, culminando na crise de 1873, que marcou o
fim dessa fase de expansão e o início de um período de depressão(era_capital)
(era_capital).
A "Grande Expansão", assim, não foi apenas um fenômeno econômico, mas teve efeitos
profundos sobre a política, as relações internacionais e a sociedade, consolidando o
capitalismo como sistema global e preparando o terreno para a próxima fase de
industrialização e imperialismo(era_capital)(era_capital).
três capítulos de A Era do Capital de Eric Hobsbawm.
1. Capítulo 3: O Mundo Unificado
Neste capítulo, Hobsbawm explica como o período entre 1848 e 1875 foi marcado pela
formação de uma economia global interconectada. O capitalismo industrial,
especialmente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, tornou-se o motor econômico
dominante, e suas forças transformaram não apenas as economias locais, mas também a
economia mundial.
Interconexão Econômica
A expansão do comércio mundial foi um dos principais fatores para essa unificação. O
comércio cresceu de forma maciça, especialmente devido ao desenvolvimento de novas
tecnologias de transporte e comunicação:
• Ferrovias e navios a vapor permitiram que mercadorias, matérias-primas e
pessoas fossem transportadas em um ritmo muito mais rápido e eficiente do que
antes. As ferrovias conectavam regiões industriais com mercados consumidores e
fontes de recursos, enquanto os navios a vapor tornaram o comércio transatlântico
e intercontinental mais rápido e previsível.
• Telégrafo: A introdução do telégrafo foi uma revolução nas comunicações,
permitindo que informações sobre preços de mercado, mudanças políticas e
oportunidades de investimento fossem transmitidas em tempo real. Isso facilitou
o crescimento do comércio internacional e a integração dos mercados.
Globalização Capitalista
O capital financeiro e a produção industrial foram exportados de países industrializados,
principalmente da Grã-Bretanha, para o resto do mundo, unificando economias
distantes. Países e regiões que anteriormente eram independentes ou autossuficientes
foram inseridos no sistema econômico global, muitas vezes como fornecedores de
matérias-primas para os países industrializados. Isso ocorreu com colônias na África,
Ásia e América Latina, que se tornaram importantes fontes de matérias-primas, como
algodão, açúcar e minérios, e também mercados para produtos manufaturados.
Essa unificação econômica também teve implicações políticas. O imperialismo foi, em
grande parte, uma consequência da expansão do capitalismo global, pois as potências
europeias competiam por colônias e mercados.
Efeitos Sociais
A integração econômica global também teve profundas consequências sociais.
Populações inteiras foram reorganizadas em torno das necessidades do mercado global.
A produção agrícola e a extração de recursos naturais nas colônias foram adaptadas para
atender às demandas dos mercados europeus e norte-americanos, muitas vezes às custas
das populações locais.
2. Capítulo 11: Os Homens se Põem a Caminho
Este capítulo trata da mobilidade humana durante o século XIX, que foi uma das maiores
consequências da industrialização e da transformação econômica global.
Migração Internacional em Massa
Entre 1846 e 1875, milhões de europeus emigraram para as Américas, especialmente para
os Estados Unidos. Essa migração foi incentivada por vários fatores:
• Crises econômicas e agrícolas na Europa: As más colheitas e as condições
econômicas difíceis levaram muitas pessoas a deixarem suas terras em busca de
melhores oportunidades.
• Atração das Américas: O Novo Mundo era visto como uma terra de
oportunidades, especialmente nos Estados Unidos, onde o rápido crescimento
econômico criava uma demanda contínua por mão de obra, tanto nas fábricas
quanto na expansão agrícola. A terra disponível, especialmente no oeste
americano, foi uma das maiores atrações para os emigrantes.
A migração em massa era uma resposta direta às mudanças econômicas. A deslocação
rural e o crescimento da agricultura capitalista na Europa reduziram as oportunidades
para os camponeses, enquanto as cidades industriais atraíam grandes populações. Ao
mesmo tempo, as novas tecnologias de transporte facilitavam a mobilidade de milhões
de pessoas.
Deslocamento Interno
Além das migrações internacionais, o êxodo rural também foi significativo dentro dos
países europeus. As áreas rurais, especialmente as que estavam sendo modernizadas ou
que enfrentavam crises agrícolas, perderam milhões de pessoas para as cidades
industriais, onde as fábricas ofereciam emprego. Esse movimento interno foi um fator
importante no crescimento das grandes cidades industriais.
Essa urbanização radical transformou a composição social das cidades e criou novas
tensões, com os recém-chegados enfrentando condições de vida difíceis, superlotação e
uma luta constante por emprego e moradia.
3. Capítulo 12: A Cidade, a Indústria, a Classe Trabalhadora
Neste capítulo, Hobsbawm detalha como a urbanização e a industrialização mudaram
fundamentalmente a sociedade europeia e global, com foco nas cidades industriais e nas
classes trabalhadoras.
O Crescimento das Cidades
As cidades cresceram de forma explosiva durante o século XIX, à medida que milhões de
pessoas deixaram o campo e se mudaram para áreas urbanas. Cidades como Londres,
Paris e Berlim tornaram-se grandes centros industriais e comerciais, atraindo
trabalhadores em busca de emprego nas novas fábricas.
• Fábricas e Indústria: A indústria era a principal empregadora nas cidades em
crescimento, com fábricas que produziam em larga escala e empregavam milhares
de trabalhadores. Hobsbawm destaca que essas cidades industriais estavam em
expansão constante, criando novas demandas por infraestrutura e habitação.
Condições de Vida e Trabalho
A classe trabalhadora enfrentava condições extremamente difíceis. A maioria dos
trabalhadores vivia em bairros pobres, com moradias superlotadas, sem infraestrutura
adequada, como água encanada ou saneamento básico. As condições nas fábricas também
eram precárias:
• Longas jornadas de trabalho (geralmente de 12 a 16 horas por dia) eram
comuns, com poucas regulamentações trabalhistas.
• Salários baixos mantinham os trabalhadores e suas famílias em situação de
pobreza.
• Condições de trabalho insalubres e perigosas, especialmente nas minas e
indústrias pesadas, levavam a acidentes frequentes e alta mortalidade.
Hobsbawm destaca que, apesar dessas condições, a urbanização e o desenvolvimento
industrial também trouxeram novas oportunidades de organização política. Os
trabalhadores começaram a formar sindicatos e movimentos trabalhistas para lutar por
melhores condições de trabalho, jornadas mais curtas e salários mais altos.
A Formação da Classe Trabalhadora
A urbanização e a industrialização criaram uma nova classe social: o proletariado
industrial. Essa classe trabalhadora urbana foi responsável por grande parte da produção
industrial da época, mas também sofreu com a exploração severa e a insegurança
econômica.
Hobsbawm descreve como a classe trabalhadora começou a se organizar politicamente
durante o século XIX. Os movimentos trabalhistas, influenciados por ideologias
socialistas e comunistas, começaram a ganhar força. A formação de sindicatos e a luta
por direitos trabalhistas foram passos cruciais para melhorar as condições de vida e de
trabalho nas cidades industriais.
Além disso, as cidades se tornaram o centro da vida cultural e política, com a imprensa,
os movimentos sociais e as associações cívicas desempenhando papéis importantes na
formação de uma consciência de classe entre os trabalhadores urbanos.
Conclusão
Esses três capítulos de A Era do Capital mostram como o capitalismo industrial não
apenas transformou a economia global, mas também redesenhou a vida das pessoas em
todas as partes do mundo. A globalização econômica, a migração em massa e o
crescimento das cidades criaram uma nova ordem social, centrada na indústria e nas
classes trabalhadoras urbanas, que se tornariam agentes importantes de mudanças sociais
e políticas.
os resumos dos capítulos "Uma economia mudando de marcha" e "Trabalhadores do
mundo" do livro A Era dos Impérios, 1875-1914 de Eric Hobsbawm:
Capítulo 2: Uma economia mudando de marcha
1. Depressão Econômica (1873-1896)
• A Longa Depressão teve início em 1873 e afetou as principais economias do
mundo. Apesar de não ter sido uma depressão contínua e severa em todos os
momentos, trouxe uma crise de superprodução.
• A queda dos preços e a saturação dos mercados levaram a uma reorganização
das economias capitalistas, marcando uma transição da era liberal de livre
concorrência para um novo modelo de capitalismo mais concentrado e
centralizado.
2. Ascensão do Capitalismo Monopolista
• Empresas menores foram absorvidas ou faliram, enquanto grandes corporações se
fortaleceram. Surgiram monopólios, cartéis e trustes, que eliminaram a
concorrência feroz e estabilizaram a economia em alguns setores.
• A formação de grandes conglomerados empresariais e o controle das cadeias
produtivas tornaram-se práticas comuns, criando mercados mais regulados pelas
grandes corporações do que pela livre concorrência.
3. Progresso Tecnológico
• Novas tecnologias foram introduzidas em várias áreas da economia. A descoberta
e exploração de novas fontes de energia, como a eletricidade e o petróleo,
revolucionaram a produção industrial.
• Hobsbawm destaca a importância de indústrias novas como a química,
engenharia elétrica e o automóvel, que redefiniram a estrutura econômica e
aumentaram a produção em massa.
4. Mudança para Produção em Massa
• Houve uma expansão da produção em massa e o crescimento do consumo de
bens domésticos. Produtos que antes eram luxuosos, como sabão, têxteis e
alimentos processados, passaram a ser produzidos em grande escala e acessíveis
a mais pessoas.
• O aumento da população e da demanda de consumo alimentou o crescimento
econômico, especialmente nos países mais industrializados como os Estados
Unidos, Alemanha e Grã-Bretanha.
5. Intervenção Estatal
• O modelo econômico liberal deu lugar a uma era de maior intervenção estatal.
Governos passaram a regulamentar e promover o crescimento econômico,
especialmente através de políticas protecionistas, favorecendo as indústrias
locais.
• A convergência entre política e economia tornou-se mais forte, com Estados
desempenhando papéis importantes na condução do crescimento econômico,
facilitando a concentração de capitais e o desenvolvimento de infraestruturas.
Capítulo 5: Trabalhadores do mundo
1. A Ascensão da Classe Trabalhadora
• A industrialização e a urbanização aceleradas levaram à formação de uma nova
classe trabalhadora, especialmente nas grandes cidades industriais da Europa e
dos Estados Unidos.
• Trabalhadores manuais, anteriormente dispersos em pequenas oficinas, passaram
a trabalhar em grandes fábricas e minas, em condições de trabalho difíceis,
longas jornadas e baixos salários.
2. Exploração e Desigualdade
• As condições de trabalho nas fábricas eram muitas vezes exploradoras: trabalho
infantil, longas horas de trabalho (de 12 a 16 horas diárias), e um ambiente de
trabalho inseguro e insalubre.
• Ao mesmo tempo, enquanto a burguesia industrial enriquecia, os trabalhadores
enfrentavam desigualdade social, com baixos salários e pouca proteção social.
3. Organização dos Trabalhadores
• Como resposta à exploração, os trabalhadores começaram a se organizar.
Surgiram sindicatos, cooperativas e movimentos trabalhistas, que exigiam
melhores condições de trabalho, salários justos e direitos trabalhistas.
• No final do século XIX, o movimento operário se espalhou pela Europa, com o
surgimento de partidos socialistas e comunistas, que canalizavam as demandas
da classe trabalhadora.
4. Sindicatos e Greves
• A luta dos trabalhadores se intensificou por meio de greves e protestos.
Hobsbawm menciona que esses movimentos ganharam força especialmente em
países como Inglaterra, Alemanha e França, onde os sindicatos lutavam por
legislações trabalhistas.
• As greves não se restringiam apenas às questões salariais, mas também à luta pela
redução das horas de trabalho e pelo direito de associação.
5. Solidariedade Internacional
• A frase “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”, do Manifesto Comunista,
simboliza a solidariedade internacional que começou a emergir entre a classe
trabalhadora. Os trabalhadores de diferentes países começaram a reconhecer que
suas lutas eram interligadas.
• A formação da Primeira Internacional (1864) e da Segunda Internacional
(1889) foram tentativas de unificar os movimentos operários de vários países e
coordenar a luta por direitos universais.
6. A Influência das Ideologias Socialistas
• A difusão de ideologias socialistas e marxistas influenciou fortemente a
organização da classe trabalhadora. Hobsbawm aponta que, enquanto muitos
trabalhadores aderiram a movimentos reformistas, que buscavam negociar
melhorias dentro do sistema capitalista, outros abraçaram o socialismo
revolucionário, que visava a derrubada do sistema capitalista e a construção de
uma nova ordem social.
7. Progresso Lento, Mas Contínuo
• Apesar da repressão frequente por parte dos governos e da resistência dos patrões,
os movimentos trabalhistas começaram a conquistar vitórias graduais. Foram
estabelecidas leis trabalhistas que limitavam as horas de trabalho,
regulamentavam condições de trabalho e garantiam direitos de associação.
• A classe trabalhadora também começou a ganhar representação política, com
partidos socialistas obtendo assentos em parlamentos e promovendo leis em
favor dos trabalhadores.
Conclusão
Esses dois capítulos exploram as mudanças fundamentais no sistema econômico e social
no final do século XIX. “Uma economia mudando de marcha” detalha a transformação
estrutural do capitalismo em uma economia mais concentrada e tecnologicamente
avançada, enquanto “Trabalhadores do mundo” se concentra no surgimento de uma
classe trabalhadora organizada, unificada pela luta contra a exploração capitalista e pela
busca de direitos e condições de vida melhores. A convergência dessas forças moldou o
final do século XIX e preparou o terreno para as grandes lutas sociais e políticas do século
XX.
The Pursuit of Power: Europe, 1815-1914 de Richard J. Evans:
Capítulo 2: Os paradoxos da liberdade
1. Revoluções Têxtil
• A indústria têxtil foi o setor pioneiro da Revolução Industrial, principalmente no
Reino Unido. As inovações, como o tear mecânico e as máquinas de fiação
movidas a vapor, possibilitaram a produção em massa de tecidos, principalmente
de algodão. Essa revolução impulsionou a exportação britânica, tornando o país o
maior produtor de têxteis do mundo.
• Com a produção mecanizada, a necessidade de mão de obra barata cresceu,
levando à urbanização. Trabalhadores migraram em massa das zonas rurais para
as cidades, onde enfrentavam condições de trabalho desumanas nas fábricas.
• A revolução têxtil não apenas gerou riqueza, mas também evidenciou as tensões
sociais entre os proprietários de fábricas e os trabalhadores, cujos direitos eram
mínimos e que enfrentavam jornadas extenuantes.
2. Carvão e Ferro
• A mineração de carvão foi essencial para alimentar as máquinas a vapor que
moviam a Revolução Industrial. O carvão também era utilizado na fundição do
ferro, que passou a ser usado em larga escala para a construção de ferrovias, navios
e máquinas.
• O ferro, por sua vez, foi crucial para a construção de infraestruturas industriais e
urbanas. As pontes, trilhos e prédios industriais dependiam desse material,
tornando-se um símbolo da nova era de progresso industrial.
• Essa expansão criou uma demanda crescente por recursos minerais, o que também
gerou um ciclo de exploração intensa e, muitas vezes, insegura nas minas de
carvão.
3. Caminhos de Ferro, Vapor e Velocidade
• A ferrovia foi uma das mais importantes inovações tecnológicas da época. Ela
revolucionou o transporte, encurtando distâncias e permitindo o deslocamento
rápido de pessoas e mercadorias. O crescimento da rede ferroviária foi essencial
para o desenvolvimento das economias nacionais e globais.
• A introdução dos navios a vapor aumentou a velocidade das viagens
transoceânicas, conectando continentes com maior rapidez. Isso facilitou o
comércio internacional, além de aumentar a migração e a expansão imperialista.
• As ferrovias e os navios a vapor também desempenharam um papel fundamental
na expansão do colonialismo, já que as potências europeias usavam essas novas
tecnologias para dominar territórios distantes e explorar seus recursos.
4. Formação da Classe Operária Europeia
• A industrialização criou uma nova classe social: a classe operária. Com a
migração em massa para as cidades, milhões de trabalhadores rurais foram
absorvidos pelo setor fabril, passando a trabalhar em condições de extrema
exploração.
• Essa classe passou a enfrentar jornadas de trabalho longas, em ambientes
insalubres, com poucos direitos e salários miseráveis. Esse contexto começou a
gerar uma consciência de classe, alimentando o surgimento de movimentos
trabalhistas que lutavam por direitos.
• Ao longo do século XIX, o proletariado emergiu como uma força política,
pressionando por reformas trabalhistas e sociais, levando ao fortalecimento de
sindicatos e à criação de partidos socialistas.
5. Mapeamento da Questão Social
• O crescimento industrial e urbano trouxe à tona uma série de problemas sociais,
como a pobreza urbana, as condições precárias de trabalho e a desigualdade. Essas
questões ficaram conhecidas como a “questão social”.
• Políticos, intelectuais e reformadores começaram a debater como lidar com os
problemas decorrentes da industrialização. Reformas sociais e trabalhistas, como
a regulamentação do trabalho infantil e a criação de leis para proteger os
trabalhadores, surgiram como respostas para essas preocupações.
• O mapeamento da questão social também levou a um movimento mais amplo de
reformas sociais no final do século XIX, que culminou no Estado de bem-estar
social nas décadas seguintes.
Capítulo 4: A Revolução Social
1. A Oficina do Mundo
• O Reino Unido era o epicentro da Revolução Industrial e foi chamado de "oficina
do mundo" devido à sua capacidade industrial inigualável. A produção têxtil, de
carvão, ferro e aço, junto com o avanço tecnológico, colocou a Grã-Bretanha no
centro do comércio mundial.
• O país produzia grande parte dos bens manufaturados do mundo e, como
resultado, seus produtos eram exportados globalmente. No entanto, essa
hegemonia industrial começou a ser desafiada por outras nações industrializantes,
como a Alemanha e os Estados Unidos.
2. A Segunda Revolução Industrial
• A segunda fase da Revolução Industrial (a partir da década de 1870) trouxe
inovações em novos setores, como eletricidade, química, petróleo e
automobilismo. Essas inovações tecnológicas revolucionaram ainda mais a
produção industrial e aumentaram a eficiência.
• O uso da eletricidade nas fábricas e a introdução de novos produtos químicos
impulsionaram o crescimento econômico. A criação de indústrias automobilísticas
e petrolíferas também transformou os padrões de produção e consumo.
• Esta nova revolução trouxe consigo uma competição internacional mais acirrada
e uma reorganização dos setores industriais em grandes conglomerados.
3. A Construção da Nova Jerusalém
• A expressão "Nova Jerusalém" refere-se à aspiração de criar uma sociedade mais
justa e igualitária, muitas vezes com base em ideais socialistas e reformistas. A
construção dessa sociedade envolvia o desafio de lidar com os problemas sociais
e econômicos criados pela industrialização.
• Reformadores sociais e políticos tentaram melhorar as condições dos
trabalhadores, por meio de iniciativas de educação, saúde pública e direitos
trabalhistas. Essa visão utópica inspirou movimentos políticos e sociais que
buscavam transformar a sociedade para além das estruturas capitalistas.
4. O Triunfo da Burguesia
• A burguesia, composta por industriais, comerciantes e banqueiros, consolidou
seu poder econômico e político durante a Revolução Industrial. A acumulação de
capital e o controle dos meios de produção colocaram essa classe no topo da
sociedade europeia.
• A burguesia impôs seus valores de trabalho árduo, frugalidade e iniciativa
individual como ideais sociais dominantes, o que legitimava seu domínio político
e econômico.
5. A Pequena Burguesia
• A pequena burguesia era composta por pequenos comerciantes, artesãos,
funcionários públicos e profissionais liberais. Eles ocupavam uma posição
intermediária na hierarquia social, aspirando ao estilo de vida da grande burguesia,
mas sem os mesmos recursos.
• Essa classe era conservadora, temendo tanto a ascensão da classe trabalhadora
quanto as incertezas econômicas que pudessem ameaçar sua posição. Apesar de
suas aspirações, muitas vezes se viam pressionados pelas forças do capitalismo
moderno.
6. "Nada a perder, a não ser suas correntes"
• Esta célebre frase do Manifesto Comunista de Karl Marx encapsula o sentimento
de exploração e revolta da classe trabalhadora. Ela reflete o aumento da
consciência de classe entre os trabalhadores, que reconheciam que, sem
propriedade ou capital, sua única opção era lutar contra o sistema opressor.
• O socialismo e o comunismo emergiram como ideologias revolucionárias,
propondo uma mudança radical no sistema econômico e social, visando derrubar
o capitalismo e instaurar um sistema igualitário.
7. As “Classes Perigosas”
• O termo "classes perigosas" era usado pelas elites para descrever os trabalhadores
urbanos e os pobres que viviam nas margens da sociedade industrial. Eles eram
vistos como uma ameaça à ordem pública, e havia um medo constante de que
pudessem se revoltar contra o sistema.
• Essa visão preconceituosa justificava a repressão policial e a marginalização
dessas classes, além de políticas de controle social para evitar o crescimento de
movimentos revolucionários.
Capítulo 7: O Desafio da Democracia
1. A Ascensão do Estado Social
• O final do século XIX e início do século XX viram o surgimento do Estado
Social, com a criação de políticas públicas que visavam melhorar as condições de
vida da população trabalhadora.
• Países como a Alemanha e o Reino Unido implementaram reformas sociais,
como seguros de saúde, previdência social e legislação trabalhista, em resposta
às pressões dos movimentos operários e à necessidade de evitar revoltas sociais.
• Essas políticas marcaram o início do Estado de bem-estar social, que visava
mitigar os impactos negativos do capitalismo e melhorar a qualidade de vida da
população.
2. A Segunda Internacional e Seus Rivais
• A Segunda Internacional, fundada em 1889, foi uma organização que unia os
partidos socialistas de vários países. Seu objetivo era coordenar as lutas
trabalhistas em nível internacional e promover a solidariedade entre os
trabalhadores do mundo.
• No entanto, a Segunda Internacional enfrentou desafios internos, com
divergências entre socialistas reformistas, que buscavam mudanças graduais
dentro do sistema, e socialistas revolucionários, que defendiam uma ruptura
completa com o capitalismo.
• Além disso, rivais como os anarquistas e sindicatos não alinhados também
competiam pela liderança dentro do movimento operário, resultando em uma
fragmentação das estratégias políticas de esquerda.
• Esses tópicos mostram o vasto impacto da industrialização na sociedade europeia
e a crescente tensão entre classes sociais. As elites econômicas e políticas
buscaram consolidar seu poder enquanto a classe trabalhadora se organizava para
lutar por seus direitos e melhores condições de vida.
The Birth of the Modern World 1780-1914 de Christopher Alan Bayly:
Parte I - O Fim dos Antigos Regimes
Capítulo 2: Passagens dos Antigos Regimes para a Modernidade: Revoluções de
Trabalho, Novos Padrões de Cultura Material Afro-Asiática, Produção e Comércio;
Limites Internos e Externos das "Revoluções de Trabalho" Afro-Asiáticas;
Comércio, Finanças e Inovação: Vantagens Competitivas Europeias
1. Revoluções de Trabalho (Industrious Revolutions)
• Definição: As revoluções de trabalho ou "industrious revolutions" não se referem
a uma industrialização completa, mas a mudanças em como o trabalho e a
produção eram organizados nas sociedades afro-asiáticas. Essas sociedades
começaram a aumentar a produtividade sem recorrer imediatamente às máquinas,
mas por meio da intensificação do trabalho humano e da reorganização de
recursos e tempo.
• Exemplo: Na China, antes da industrialização europeia, havia um aumento na
produção agrícola e manufatureira, onde camponeses e artesãos ampliaram a
produção para satisfazer as crescentes demandas do mercado, tanto interno quanto
externo.
2. Novos Padrões de Cultura Material Afro-Asiática
• Transformação na Produção de Bens: A produção de mercadorias de luxo,
como sedas, tecidos finos, porcelanas e especiarias, se expandiu para atender à
demanda global. Isso impulsionou as trocas internacionais e criou um mercado
interconectado, onde produtos asiáticos (chineses e indianos, por exemplo)
influenciavam padrões de consumo na Europa.
• Impacto Cultural: Além de responder à demanda externa, esses produtos
influenciaram as culturas materiais nas regiões afro-asiáticas, com novos métodos
de produção e intercâmbios culturais resultantes do contato com os mercados
europeus.
3. Produção e Comércio Afro-Asiáticos
• Integração ao Mercado Global: O comércio global foi amplamente influenciado
pelas regiões afro-asiáticas, que se especializaram em certos produtos (ex:
algodão da Índia, chá da China). A estrutura de produção local se ajustou ao
comércio global, com redes de comerciantes que atuavam tanto no comércio
marítimo quanto terrestre.
• Influência sobre a Europa: Produtos afro-asiáticos se tornaram altamente
valorizados na Europa, moldando as práticas de comércio e padrões de consumo
europeus. Isso criou uma interdependência entre as regiões, embora a balança
comercial tenha começado a favorecer os europeus após o século XVIII.
4. Limites das Revoluções de Trabalho Afro-Asiáticas
• Internos: As sociedades afro-asiáticas enfrentaram limites estruturais que
impediram uma industrialização mais rápida. Fatores como as tradições agrárias
e a organização social, que dependiam fortemente de um sistema hierárquico e
manual, restringiram a capacidade de inovação e mudança acelerada.
• Externos: As potências europeias usaram sua crescente força militar e comercial
para dominar as rotas de comércio e explorar mercados asiáticos. A interferência
europeia restringiu o poder das economias afro-asiáticas e limitou sua capacidade
de competir, especialmente na fase de industrialização.
5. Vantagens Competitivas Europeias em Comércio, Finanças e Inovação
• Comércio e Navegação: Os avanços europeus em navegação, com a construção
de frotas maiores e mais rápidas, deram à Europa uma vantagem crucial no
comércio internacional. As inovações, como o uso de vapor nos navios,
aceleraram o comércio global.
• Sistemas Financeiros: O desenvolvimento de sistemas bancários sofisticados,
com o advento de bancos centrais e mercados de capitais, facilitou a expansão
econômica da Europa. Isso permitiu o financiamento de expedições,
investimentos industriais e o crescimento das grandes companhias de comércio
(como a Companhia das Índias Orientais).
• Inovação: A Revolução Industrial europeia começou a partir de uma série de
inovações tecnológicas que não apenas aumentaram a produção, mas também
melhoraram a eficiência em transporte e logística. A Europa também investiu em
pesquisa e desenvolvimento científico, o que manteve sua liderança tecnológica
sobre as outras regiões.
Parte II - O Mundo Moderno em Gênese
Capítulo 5: Industrialização e a Nova Cidade
1. Transformação Urbana
• Expansão das Cidades: A industrialização transformou profundamente as
cidades, que se tornaram os centros de produção industrial e acumulavam grandes
populações. Cidades como Manchester, na Inglaterra, e Chicago, nos Estados
Unidos, exemplificam essa transformação. A chegada de migrantes em massa
aumentou a população urbana, tornando as cidades densamente povoadas e com
rápido crescimento.
• Mudança na Estrutura Urbana: A nova cidade industrial era caracterizada pela
divisão entre áreas residenciais e industriais. As fábricas e bairros operários
emergiram como novas formas de organização espacial, em contraste com os
bairros de classe média e alta.
2. Trabalho e Vida nas Cidades
• Condições de Trabalho: As fábricas exigiam trabalho de longa jornada, muitas
vezes em condições insalubres e perigosas. Crianças e mulheres eram empregadas
em massa, e a segurança no trabalho era uma preocupação secundária.
• Superlotação e Habitação: O rápido crescimento das cidades levou à criação de
guetos urbanos, com habitações densamente povoadas e insalubres, onde a
propagação de doenças era comum. A falta de infraestrutura adequada, como
sistemas de saneamento, aumentava os problemas de saúde pública.
3. Infraestrutura e Expansão
• Desenvolvimento de Infraestruturas: Para suportar a expansão das cidades,
houve um rápido crescimento na construção de ferrovias, portos e estradas,
ligando centros urbanos a mercados e fontes de matérias-primas. O transporte
público começou a emergir como uma necessidade, facilitando a movimentação
de trabalhadores entre suas casas e as fábricas.
• Sistemas Públicos: Para combater os problemas de saúde e a insalubridade, foram
introduzidos sistemas de abastecimento de água e esgoto. Além disso, algumas
cidades começaram a investir em eletricidade e iluminação pública, essenciais
para a expansão industrial.
4. Impacto da Industrialização na Sociedade
• Mudança na Estrutura Social: A industrialização criou uma nova classe
operária, distinta dos camponeses, enquanto a classe média também se expandiu
com comerciantes, empresários e profissionais liberais. A estratificação social
tornou-se mais evidente nas cidades, com clara separação entre os trabalhadores
e as elites.
• Desigualdade e Movimentos Sociais: O rápido aumento das desigualdades levou
à organização de movimentos operários e à criação de sindicatos, que exigiam
melhores condições de trabalho, salários mais altos e a limitação da jornada de
trabalho. As greves tornaram-se mais comuns, e os trabalhadores começaram a
ganhar voz política.
5. Política e Controle
• Controle Social: Com o crescimento das cidades industriais, surgiram novos
métodos de controle político e social. As elites urbanas e os governos locais
tentaram regular o comportamento dos trabalhadores, impondo normas de
trabalho, policiamento das áreas urbanas e, às vezes, suprimindo movimentos
sociais.
• Movimentos Intelectuais e Políticos: As cidades também se tornaram centros de
efervescência intelectual e política, onde novas ideias sobre direitos trabalhistas,
socialismo e organização política começaram a emergir. Isso foi essencial para
moldar a política urbana e os debates sobre o futuro das sociedades
industrializadas.
6. Ambiente Urbano e Sustentabilidade
• Problemas Ambientais: A poluição industrial foi uma característica marcante das
novas cidades, com fumaça e resíduos despejados nos rios, resultando em danos
ambientais e crises de saúde pública.
• Reformadores Sociais e Planejamento Urbano: No final do século XIX,
urbanistas e reformadores sociais começaram a pressionar por reformas no
ambiente urbano. Surgiram as primeiras tentativas de introduzir parques públicos
e criar espaços verdes, além da implementação de códigos de construção para
garantir habitações mais saudáveis e organizadas.
Esses dois capítulos explicam as transições que ocorreram durante o surgimento do
mundo moderno, desde a transformação das economias afro-asiáticas até a ascensão das
cidades industriais, ilustrando o impacto da industrialização nas relações sociais, políticas
e econômicas
Era das Revoluções
A Era das Revoluções de Eric Hobsbawm
Capítulo 3: A Revolução Francesa
Contexto e Crise do Antigo Regime
• Crise Financeira e Social: A Revolução Francesa foi precedida por uma crise
financeira grave na monarquia francesa, exacerbada pelas guerras constantes e a
manutenção de um sistema fiscal que favorecia a nobreza e o clero. O Estado
estava à beira da falência, e a alta carga tributária recaía sobre o Terceiro Estado
(camponeses, trabalhadores urbanos e burguesia), enquanto os dois primeiros
estados (nobreza e clero) eram amplamente isentos.
• Disparidades Sociais: A estrutura social da França refletia uma sociedade feudal
que, apesar de estar em declínio, mantinha enormes disparidades entre a nobreza
rica e os camponeses empobrecidos. A burguesia emergente, cada vez mais rica e
educada, buscava mais poder e prestígio, o que criou um confronto inevitável com
a aristocracia tradicional.
O Levante Revolucionário
• Convocação dos Estados Gerais (1789): Pressionado pela crise financeira, o rei
Luís XVI convocou os Estados Gerais, uma assembleia que não se reunia desde
1614, para discutir reformas. No entanto, o Terceiro Estado, que representava a
vasta maioria da população, exigiu maior representação e reformas políticas
profundas, o que levou à formação da Assembleia Nacional e, eventualmente, à
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
• Queda da Bastilha e Violência Popular: Em 14 de julho de 1789, a queda da
Bastilha, uma prisão que simbolizava a tirania da monarquia, marcou o início da
revolução popular. Esse evento estimulou a participação das massas e deu início
a um período de insurreição urbana e rural, com camponeses se revoltando contra
seus senhores.
Radicalização e Período do Terror
• Abolição dos Privilégios Feudais: Em agosto de 1789, a Assembleia Nacional
aboliu os privilégios feudais, o que significava o fim dos direitos tradicionais da
nobreza sobre os camponeses, incluindo a isenção de impostos e monopólios de
terra. Isso foi um dos passos mais importantes para desmantelar o Antigo Regime.
• A República e o Terror: A revolução radicalizou-se com a ascensão dos jacobinos
e, em 1793, a França tornou-se uma república, executando o rei Luís XVI. O
governo jacobino, liderado por Robespierre, implementou o Terror, um regime de
violência política que buscava eliminar os inimigos da revolução. Milhares foram
executados na guilhotina sob a acusação de traição.
Impacto Global
• Difusão dos Ideais Revolucionários: A Revolução Francesa teve um impacto
global, levando os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade a se espalharem
pela Europa e além. Ela inspirou revoluções e movimentos de independência na
América Latina e também influenciou mudanças políticas em outros países
europeus, como a criação de repúblicas e constituições.
Capítulo 4: A Guerra
As Guerras Revolucionárias e Napoleônicas
• Início das Guerras (1792): A França revolucionária entrou em guerra com as
monarquias europeias que viam a revolução como uma ameaça aos seus próprios
regimes. A guerra começou com a Áustria e a Prússia, mas logo se espalhou, com
a França enfrentando uma coalizão de potências europeias que tentavam restaurar
a monarquia.
• Guerra Total: A Revolução Francesa introduziu o conceito de guerra total, onde
o país inteiro estava mobilizado para o esforço de guerra. O governo
revolucionário instaurou o serviço militar obrigatório, envolvendo pela primeira
vez grandes contingentes da população civil no combate.
Ascensão de Napoleão Bonaparte
• Campanhas Militares: Napoleão Bonaparte emergiu como uma figura
dominante após sua liderança militar bem-sucedida nas campanhas italianas e
egípcias. Sua habilidade como estrategista e líder militar consolidou seu poder, e
em 1799 ele se tornou o líder de fato da França após um golpe de Estado.
• Expansão do Império Napoleônico: Napoleão, proclamado imperador em 1804,
expandiu o domínio francês pela Europa, conquistando grande parte do continente
e impondo suas reformas jurídicas e administrativas (Código Napoleônico). Seu
império atingiu seu ápice entre 1807 e 1812, quando dominava praticamente toda
a Europa Ocidental e Central.
Declínio e Fim das Guerras Napoleônicas
• Invasão da Rússia (1812): A invasão fracassada da Rússia em 1812 marcou o
início do declínio de Napoleão. O exército francês sofreu grandes perdas,
principalmente devido ao inverno rigoroso e à logística inadequada, e os inimigos
da França aproveitaram essa oportunidade para formar novas coalizões contra ele.
• Queda de Napoleão (1815): Após uma série de derrotas, Napoleão foi finalmente
derrotado na Batalha de Waterloo em 1815, o que pôs fim às guerras napoleônicas
e à sua tentativa de dominar a Europa. Ele foi exilado na ilha de Santa Helena,
onde passou o resto de sua vida.
Consequências das Guerras
• Mudança no Mapa Europeu: As guerras revolucionárias e napoleônicas
redesenharam o mapa político da Europa, com muitos territórios sendo anexados
pela França e depois reorganizados no Congresso de Viena (1815), que restaurou
várias monarquias e tentou estabelecer um equilíbrio de poder.
• Militarização e Nacionalismo: As guerras também provocaram a militarização
em larga escala das sociedades europeias e estimularam o surgimento do
nacionalismo, especialmente em países como a Alemanha e a Itália, que buscavam
unificação.
Capítulo 6: As Revoluções
Revoluções de 1820-1830
• Crise Pós-Napoleônica: Após a queda de Napoleão, a Europa passou por um
período de reação conservadora, com as monarquias restauradas tentando manter
a ordem pré-revolucionária. No entanto, as ideias de liberdade e nacionalismo
espalhadas pela Revolução Francesa e pelas guerras napoleônicas continuaram a
fermentar, levando a uma série de revoltas.
• Revoluções de 1820: Na Espanha, Nápoles e Grécia, houve movimentos
revolucionários que tentaram derrubar as monarquias absolutas e estabelecer
governos constitucionais. Embora muitos desses movimentos tenham sido
reprimidos, o sucesso da revolta grega contra o Império Otomano se destacou,
com a Grécia ganhando sua independência em 1830.
Revoluções de 1830
• França e Bélgica: As revoluções de 1830 foram desencadeadas por uma crise
econômica e social mais profunda. Na França, Carlos X foi deposto após uma
insurreição popular, e a monarquia foi substituída por uma monarquia
constitucional sob Luís Filipe, o "rei burguês". A Bélgica, por sua vez, declarou
sua independência da Holanda.
• Protagonismo Popular: Um aspecto marcante das revoluções de 1830 foi o papel
crescente das classes trabalhadoras urbanas e do novo proletariado industrial. A
barricada tornou-se um símbolo de resistência popular, especialmente em Paris,
onde as revoltas ganharam força nas ruas.
Revoluções de 1848
• A Primavera dos Povos: Em 1848, uma nova onda de revoluções varreu a
Europa, conhecida como a "Primavera dos Povos". Essas revoltas, que ocorreram
em praticamente todos os grandes países europeus, refletiram a insatisfação
generalizada com a repressão política, as condições econômicas e a falta de
direitos civis.
• Movimentos Nacionalistas e Liberais: Na Itália, Alemanha e Áustria, as
revoluções de 1848 foram fortemente impulsionadas por movimentos
nacionalistas que buscavam a unificação dos Estados fragmentados e a criação de
governos liberais. Na França, a revolução resultou na criação da Segunda
República.
• Fracasso e Repressão: Embora inicialmente promissoras, muitas dessas
revoluções foram sufocadas pelas forças conservadoras. A restauração da ordem
monárquica e a repressão das revoltas em lugares como a Áustria e a Prússia
frustraram os ideais revolucionários.
Consequências das Revoluções
• Ascensão do Nacionalismo: Embora a maioria das revoluções tenha falhado no
curto prazo, elas plantaram as sementes para a ascensão dos movimentos
nacionalistas e liberais que ganhariam força ao longo do século XIX. Na Itália e
Alemanha, os esforços de unificação continuaram e culminariam no sucesso nas
décadas seguintes.
• Reorganização Social e Política: As revoluções também aceleraram a politização
das massas e aprofundaram as divisões entre liberais moderados e radicais, além
de fortalecer a noção de que as classes trabalhadoras poderiam desempenhar um
papel importante nas transformações sociais e políticas.
Esses capítulos refletem as mudanças sociais, políticas e econômicas que moldaram a
Europa e o mundo no período pós-revolucionário, destacando a complexidade dos
movimentos e suas consequências globais.
Era do Capital, 1848-1875. Presença, 1979
Capítulo 1: "A Primavera dos Povos"
Contexto Revolucionário de 1848
• Explosão Revolucionária: Em 1848, a Europa foi tomada por uma onda
revolucionária sem precedentes. O descontentamento popular, fomentado por
crises econômicas e pela repressão política dos regimes monárquicos, gerou
insurreições que varreram o continente em questão de semanas. Revoltas
eclodiram em França, Alemanha, Itália, Áustria e outros países europeus, sendo
impulsionadas pelo desejo de reformas liberais e sociais.
• Alexis de Tocqueville e Karl Marx: O filósofo francês Tocqueville alertava para
a inevitabilidade de uma nova era revolucionária, enquanto Karl Marx e Friedrich
Engels lançavam o Manifesto Comunista em Londres, profetizando a iminência
de uma revolução proletária. Esses eventos mostravam o crescimento de
ideologias revolucionárias.
Desenrolar das Revoluções
• Rápida Propagação: A revolução começou na França, com a queda da monarquia
e a proclamação da república em fevereiro de 1848. Em poucas semanas, o
movimento revolucionário espalhou-se por outras partes da Europa, incluindo
Berlim, Viena, Budapeste, Milão e o sul da Itália. Revoltas ocorriam em diversas
áreas ao mesmo tempo, e em um curto período, todos os governos da Europa
central foram derrubados ou enfraquecidos.
• Participação Popular: A revolução foi caracterizada por uma forte participação
popular, incluindo camponeses e trabalhadores urbanos que levantaram barricadas
e desafiaram os regimes monárquicos e autocráticos. Foi uma expressão dos
anseios populares por mais direitos políticos e liberdades civis.
Fracasso das Revoluções
• Derrota Rápida: Apesar do sucesso inicial das revoluções, em poucos meses, elas
começaram a ser revertidas. Governos conservadores reagiram com força militar
e reconquistaram o controle. Na França, o movimento foi neutralizado pelas
eleições de abril de 1848, que elegeram uma maioria de conservadores. Em outras
partes da Europa, como a Áustria e a Prússia, a contra-revolução triunfou com a
retomada militar de Viena e a supressão das revoltas na Itália e na Alemanha.
• Isolamento e Derrota dos Trabalhadores: O movimento revolucionário foi
prejudicado pela divisão entre moderados e radicais. Em Paris, por exemplo, a
insurreição dos trabalhadores de junho foi derrotada com brutalidade, e milhares
foram mortos ou aprisionados. Na Hungria e na Itália, onde o movimento resistiu
por mais tempo, a intervenção militar estrangeira (como a ajuda russa à Áustria
contra os húngaros) acabou com as esperanças revolucionárias.
Consequências das Revoluções
• Mudanças Duradouras: Embora as revoluções de 1848 tenham fracassado em
seus objetivos imediatos, elas deixaram um legado duradouro. A questão da
unificação nacional na Itália e na Alemanha continuou a ganhar força, e a abolição
da servidão no Império Austríaco foi uma realização permanente. Além disso, a
luta por reformas democráticas e sociais, que foi reprimida naquele momento,
ressurgiria em outras formas nas décadas seguintes.
Essas revoluções mostraram que, apesar do fracasso imediato, o desejo de mudanças
políticas e sociais era irreversível, e isso moldou a política europeia no restante do século
XIX(era_capital)(era_capital).
Capítulo 9: "A Sociedade em Processo de Mudança"
Mudanças Estruturais na Sociedade
• Impacto da Revolução Industrial: O século XIX foi marcado por profundas
mudanças econômicas e sociais decorrentes da Revolução Industrial. O processo
de industrialização, que começou na Inglaterra e se espalhou por outras partes da
Europa, transformou a estrutura das sociedades, gerando novos padrões de
produção e consumo. As cidades cresceram rapidamente, tornando-se centros
industriais, enquanto o campo viu a migração em massa de camponeses em busca
de trabalho nas fábricas.
• Urbanização Acelerada: A industrialização foi acompanhada por um aumento
exponencial da população urbana. Grandes cidades como Londres, Paris e
Manchester passaram por um crescimento rápido e caótico. Com isso, surgiram
também problemas sociais como superlotação, habitação precária e condições de
trabalho desumanas. As cidades tornaram-se tanto o símbolo do progresso quanto
das desigualdades crescentes.
A Ascensão da Burguesia
• Poder Econômico da Burguesia: A classe burguesa, composta por industriais,
banqueiros e grandes comerciantes, consolidou seu poder econômico durante este
período. Eles controlavam os meios de produção e se beneficiavam diretamente
do crescimento industrial. A burguesia se tornou a classe dominante na economia
e na política, controlando o Estado e promovendo reformas que favoreciam o
capitalismo e o livre mercado.
• Conflito com a Classe Trabalhadora: Em contrapartida, a classe trabalhadora
(ou proletariado), que crescia rapidamente com a expansão industrial, vivia em
condições de extrema exploração. Jornadas longas, baixos salários e a ausência de
direitos trabalhistas eram a norma nas fábricas. Isso criou um crescente
antagonismo entre as classes, que começou a se manifestar em movimentos
sociais e reivindicações por melhores condições de trabalho.
Novas Formas de Movimentação Social
• Movimentos Operários e Sindicatos: À medida que a classe trabalhadora urbana
crescia, surgiram também novas formas de organização e resistência. Os
sindicatos começaram a se formar para lutar por direitos trabalhistas, melhores
condições de trabalho e salários mais justos. Esses movimentos sociais
começaram a desafiar o domínio da burguesia industrial, culminando em greves e
protestos que influenciaram reformas posteriores.
• O Papel das Mulheres e Crianças: Outro fator importante foi o aumento da
participação das mulheres e crianças na força de trabalho, particularmente em
indústrias têxteis e fábricas. Isso agravou os problemas sociais e gerou discussões
sobre a necessidade de regulamentar o trabalho infantil e feminino, temas que
seriam centrais nas legislações trabalhistas emergentes.
Mudanças Culturais e Ideológicas
• Educação e Mobilidade Social: Com a ascensão da burguesia, o valor da
educação e da qualificação profissional tornou-se ainda mais importante. O acesso
à educação era visto como um meio de mobilidade social, e as elites industriais
frequentemente buscavam educar seus filhos para garantir sua posição na
sociedade. Ao mesmo tempo, as escolas e universidades começaram a expandir-
se, refletindo as necessidades de uma sociedade cada vez mais industrializada.
• Ideologias de Progresso: Durante este período, as ideias de progresso e
racionalidade passaram a dominar o discurso político e econômico. O capitalismo
industrial foi visto por muitos como o caminho inevitável para o desenvolvimento
econômico e social, enquanto as revoluções anteriores, como a Revolução
Francesa, influenciaram as expectativas de mudança social.
Desigualdades Crescentes
• Segregação Social nas Cidades: O rápido crescimento das cidades industriais
também gerou uma clara divisão entre os ricos e os pobres. Enquanto a burguesia
vivia em bairros de luxo, as classes trabalhadoras se amontoavam em cortiços
insalubres e favelas. Essa segregação social urbana era visível nas grandes
metrópoles e gerou tensões que alimentariam os movimentos operários.
• Desafios à Ordem Social: As disparidades sociais e as péssimas condições de
vida e trabalho das classes mais baixas começaram a desafiar a ordem social
estabelecida. Isso deu origem a ideologias como o socialismo e o anarquismo, que
ganharam força nas décadas seguintes, à medida que os trabalhadores exigiam
uma redistribuição de riqueza e poder.
Conclusão
O capítulo "A Sociedade em Processo de Mudança" destaca como a sociedade do século
XIX foi marcada por uma rápida transformação estrutural e social. A industrialização e a
urbanização moldaram uma nova ordem social, com uma classe burguesa cada vez mais
dominante e um proletariado emergente em busca de direitos e melhores condições. As
tensões sociais geradas por essas mudanças seriam centrais para as lutas políticas e sociais
do final do século XIX e início do século XX(era_capital).
Esses capítulos detalham as revoluções de 1848 e as transformações sociais profundas
que marcaram o período, com ênfase nas mudanças econômicas, políticas e nas dinâmicas
de classe que moldaram a Europa moderna.
Evans, Richard J. - A luta pelo poder: Europa, 1815-1914. Lisboa: Edições 70, 2018
1. Legados da Revolução
• Ideias Revolucionárias: A Revolução Francesa introduziu conceitos como
liberdade, igualdade, e democracia, que continuaram a influenciar a política
europeia mesmo após a derrota de Napoleão.
• Reconfiguração da Europa: Mesmo com o retorno das monarquias, as antigas
estruturas políticas nunca foram completamente restauradas. Novas ideias
políticas, como o nacionalismo e o liberalismo, começaram a moldar a Europa.
• Soberania Popular: A Revolução reforçou o princípio de que a legitimidade do
governo provinha do povo, e não de direitos divinos ou linhagem aristocrática.
• Impacto Duradouro: Apesar de tentativas de repressão, as ideias revolucionárias
inspiraram futuros movimentos de reforma e revoluções em várias partes da
Europa.
• Concessões dos Monarcas: As monarquias restauradas, especialmente após
1815, tiveram que fazer concessões aos princípios revolucionários, como garantir
maior participação política e implementar algumas reformas liberais.
2. A Primavera Europeia:
a) Visões da Era da Máquina
• Transformações Industriais: A Revolução Industrial trouxe um crescimento sem
precedentes em fábricas e máquinas, alterando completamente as estruturas
econômicas e sociais.
• Condições de Trabalho: Os trabalhadores de fábricas eram submetidos a
condições de trabalho extenuantes, muitas vezes em situações que eram
comparadas à escravidão. Escritores como Flora Tristan criticaram severamente
essas condições.
• Impacto Social: As máquinas eram vistas como símbolo de progresso, mas
também de opressão, à medida que substituíam trabalhadores e intensificavam a
desigualdade social.
b) O Espectro de 1789
• Medo das Elites: As revoluções que ocorreram entre 1830 e 1848 relembravam a
Revolução Francesa. Governos conservadores temiam a repetição do caos de
1789, e esse medo influenciava suas políticas repressivas.
• Memória Revolucionária: A Revolução Francesa, com seu período de Terror,
servia tanto como inspiração para revolucionários quanto como advertência para
aqueles que defendiam a ordem e a estabilidade.
c) O Desmoronamento da Revolução
• Fracasso das Revoluções de 1848: Embora as revoluções de 1848 tivessem
começado com ímpeto, a falta de coesão entre as classes revolucionárias, como
operários e burguesia, levou à sua eventual derrota.
• Falta de Apoio Camponês: Os camponeses, que formavam a maioria da
população, raramente se uniam aos revolucionários urbanos, o que minava as
chances de sucesso.
• Repressão das Forças do Estado: Governos restaurados, como o da Áustria e da
Prússia, utilizaram suas forças militares para suprimir os movimentos
revolucionários e retomar o controle.
d) Radicais e Reacionários
• Conflito entre Ideologias: Havia um confronto entre os radicais, que defendiam
reformas profundas (como o socialismo e o republicanismo), e os reacionários,
que buscavam a restauração da ordem tradicional.
• Oposição de Liberais Moderados: Muitos liberais moderados temiam as
mudanças radicais, especialmente as que poderiam levar à anarquia, e acabaram
se aliando com forças conservadoras para manter a ordem.
• Papel da Aristocracia: A aristocracia desempenhou um papel crucial no
movimento reacionário, buscando restaurar o controle que tinham antes das
revoluções.
e) Os Limites da Mudança
• A Revolução Contida: Embora algumas mudanças tivessem ocorrido, como a
introdução de constituições e a abolição de certos privilégios aristocráticos,
muitas das esperanças revolucionárias foram frustradas.
• O Medo do Caos: O medo de uma repetição do Terror de 1793-1794 limitou as
ações dos revolucionários mais moderados, que preferiam compromissos com os
conservadores.
• Falta de Unidade: A falta de união entre as classes sociais (trabalhadores,
burguesia, camponeses) e a ausência de apoio de elites limitavam o alcance das
mudanças.
f) Ecos da Revolução
• Impacto Duradouro: Mesmo com o fracasso imediato das revoluções de 1848,
essas revoltas deixaram um legado de insatisfação e aspirações por democracia,
igualdade e justiça social.
• Inspiração Futuras Revoltas: As ideias de 1848 inspiraram futuras lutas e
revoluções, além de moldar o discurso político em várias nações europeias nas
décadas seguintes.
• O Susto de 1789: O "espectro" da Revolução Francesa continuou a assombrar as
elites, que permaneciam alertas para novos surtos revolucionários.
Esses capítulos abordam o impacto duradouro da Revolução Francesa e a luta entre
mudanças revolucionárias e as reações conservadoras durante o século XIX, destacando
o cenário complexo de transformações sociais, políticas e econômicas na Europa.
Bayly, Christopher Alan - The Birth of the modern world 1780-1914. Blackwell,
2004.
Parte I: O Fim dos Antigos Regimes
3. Revoluções Convergentes: Reflexões Contemporâneas sobre a Crise Mundial;
Uma Anatomia Resumida da Crise Mundial, 1720-1820
1. Contexto Global de Crise:
o Entre 1720 e 1820, o mundo enfrentou uma série de crises simultâneas que
marcaram o colapso das antigas estruturas de poder.
o Essas crises não foram apenas políticas, mas também econômicas e
sociais. Houve uma convergência de fatores, como o aumento
populacional, mudanças climáticas e as tensões decorrentes da crescente
desigualdade.
2. Revoluções e Crises Políticas:
o As revoluções americana, francesa e haitiana foram apenas as mais
notórias de uma série de convulsões políticas. Todas essas revoluções
estavam ligadas por temas comuns, como a luta pela soberania popular,
pela liberdade e pela igualdade.
o No entanto, cada uma tinha seus próprios contextos: a Revolução
Americana, por exemplo, foi contra o colonialismo britânico, enquanto a
Revolução Francesa tinha como alvo a monarquia absolutista.
3. Mudanças Socioeconômicas:
o A Revolução Industrial foi uma força transformadora durante esse período,
mudando a forma como as economias funcionavam. A produção em
massa, o uso de máquinas e a urbanização crescente alteraram
profundamente as sociedades europeias e americanas.
o As classes trabalhadoras emergentes, especialmente em fábricas,
enfrentavam condições terríveis de trabalho, o que criou um novo foco de
agitação social e uma base para o socialismo e o sindicalismo.
4. Reflexões Contemporâneas:
o Filósofos e líderes políticos do final do século XVIII refletiram sobre as
causas dessas crises. Muitos viam o aumento populacional e as pressões
econômicas como motores centrais da instabilidade.
o Havia um debate entre os que acreditavam no progresso através da
revolução e os que temiam que essas convulsões destruiriam a ordem
social estabelecida.
5. Impacto Global:
o O impacto dessas crises e revoluções não se limitou à Europa e às
Américas. A crise no comércio atlântico e o crescimento do imperialismo
europeu afetaram profundamente regiões como a Ásia, África e o Oriente
Médio.
o As pressões econômicas globais começaram a afetar impérios como o
Império Otomano, Qing na China e Mughal na Índia, que enfrentavam
desafios internos e externos.
Parte II: O Mundo Moderno em Gênese
4. Entre Revoluções Mundiais:
a) Problemas de Legitimidade Híbrida: De Quem Era o Estado?
• Conflito sobre a Soberania: As revoluções no final do século XVIII levantaram
a questão sobre quem realmente detinha o poder e a soberania. O surgimento de
governos baseados em constituições e representação popular desafiava o conceito
de soberania absoluta.
• Conflito entre Monarquias e Novas Formas de Governo: As monarquias
absolutas, como a dos Bourbons na França e os Habsburgos na Áustria,
enfrentaram a crescente demanda por direitos populares. No entanto, havia uma
falta de consenso sobre qual forma de governo deveria prevalecer.
b) O Estado Ganha Força, Mas Não o Suficiente
• Centralização do Poder: Após as revoluções iniciais, muitos estados europeus
começaram a centralizar seu poder, criando sistemas de controle mais burocráticos
para tentar conter futuras revoltas. A polícia, o exército e o aparato estatal foram
expandidos.
• Insegurança Política: Apesar dessas tentativas de consolidação, os governos não
conseguiam estabilizar totalmente suas populações. O crescimento dos
movimentos nacionalistas e liberais continuou a ameaçar a legitimidade do estado.
O descontentamento das classes trabalhadoras e o surgimento de novos grupos
sociais, como a burguesia, representavam novos desafios.
c) Guerras de Legitimidade na Ásia: Um Resumo
• Desafios aos Impérios Asiáticos: Na Ásia, os antigos impérios, como o Qing na
China e o Mughal na Índia, enfrentavam crises de legitimidade semelhantes às da
Europa. Esses impérios, que antes eram dominantes, começaram a enfraquecer
devido a revoltas internas, interferências externas e mudanças econômicas
globais.
• Pressão Imperial Europeia: A expansão imperial europeia também
desempenhou um papel fundamental nessas crises. A rivalidade entre as potências
ocidentais e suas conquistas coloniais aumentaram as tensões, especialmente no
subcontinente indiano e na China.
• Respostas Diversificadas: Algumas regiões responderam com modernização e
reformas, como o Japão durante a Restauração Meiji, enquanto outras foram
desestabilizadas por guerras civis e intervenções estrangeiras.
d) Raízes Econômicas e Ideológicas das Revoluções Asiáticas
• Impacto Econômico Global: As mudanças econômicas causadas pela expansão
do comércio global e a industrialização europeia começaram a afetar
profundamente as economias asiáticas. O comércio opressor e desigual com o
Ocidente minou as bases das economias locais.
• Novas Ideologias: Ideias liberais e nacionalistas, muitas vezes influenciadas pelos
acontecimentos na Europa, começaram a ganhar força na Ásia. Reformadores
locais, inspirados pelas revoluções ocidentais, buscaram derrubar as antigas
estruturas de poder e modernizar suas nações.
• Conflitos com a Tradição: As revoluções asiáticas enfrentaram a dificuldade de
conciliar novas ideologias com as tradições culturais e políticas locais. Isso levou
a formas "híbridas" de revolução, onde elementos tradicionais e modernos se
misturavam.
e) Os Anos de Fome e Rebelião na Europa (1848-1851)
• Crise Alimentar: A Europa, entre 1848 e 1851, foi atingida por uma crise de fome
generalizada, resultado de colheitas falhadas e do aumento dos preços dos
alimentos. Isso exacerbou as tensões sociais e alimentou revoltas.
• Revoluções de 1848: As revoluções de 1848, também conhecidas como a
"Primavera dos Povos", ocorreram em quase toda a Europa, sendo impulsionadas
pelo descontentamento social e pelo fracasso das autoridades em atender às
demandas por reformas políticas e sociais.
• Coalizões Revolucionárias: Trabalhadores, camponeses e intelectuais formaram
coalizões para pressionar por mudanças democráticas, mas as divisões internas e
a repressão violenta por parte dos estados restaurados (como a Áustria e a Prússia)
levaram ao fracasso dessas revoltas.
f) A Guerra Civil Americana como um Evento Global
• Impacto Mundial: A Guerra Civil Americana (1861-1865) foi vista não apenas
como um conflito interno, mas também como um evento que influenciou debates
sobre democracia, escravidão e soberania em todo o mundo.
• Observação Europeia: As potências europeias, especialmente a Grã-Bretanha e
a França, observaram o conflito de perto, considerando intervenções e tomando
decisões comerciais com base no resultado da guerra.
• Abolição da Escravidão: A abolição da escravidão nos EUA teve um impacto
global, influenciando o fim do tráfico de escravos em outras partes do mundo e
promovendo a ideia de direitos humanos universais.
g) Convergência ou Diferença? Revisão de um Argumento
• Semelhanças das Revoluções: O autor debate se os movimentos revolucionários
globais convergiam em ideais de liberdade, igualdade e democracia ou se seguiam
caminhos específicos de acordo com os contextos regionais.
• Trajetórias Únicas: Embora houvesse temas comuns nas revoluções ao redor do
mundo, cada uma delas seguiu uma trajetória única, influenciada por fatores
econômicos, sociais e culturais locais.
• Conclusão do Argumento: O argumento final sugere que as revoluções do século
XIX não podem ser vistas como um fenômeno homogêneo, mas sim como
expressões diversas de um desejo global por mudança em um mundo que se
tornava cada vez mais interconectado.
Esses capítulos demonstram as complexidades das transições políticas e econômicas que
caracterizaram o período de 1720 a 1850, com uma análise detalhada de como as crises
globais e as revoluções moldaram o mundo moderno.
Democracia e Sociedade Civil Nacionalismo Imperialismo
Hobsbawm, Eric – A Era das Revoluções, 1789-1848. Presença, 2001.
1. O Nacionalismo e a Revolução de 1830
• Após a Revolução de 1830, o movimento revolucionário se fragmentou,
resultando no surgimento de movimentos nacionalistas conscientes.
• Esses movimentos foram simbolizados pelos grupos "jovens", como a Jovem
Itália, Jovem Polónia, Jovem Suíça, Jovem Alemanha e Jovem França,
fundados ou inspirados por figuras como Giuseppe Mazzini.
• Esses movimentos, apesar de sua ineficiência prática em alguns casos, foram de
grande importância simbólica, pois marcaram a desintegração do movimento
revolucionário europeu em segmentos nacionais(erarevoluc o es).
2. Os Movimentos Jovens e a Fraternidade
• Os movimentos "jovens" compartilhavam uma visão revolucionária comum, com
estratégias, táticas e até bandeiras semelhantes.
• Eles viam suas próprias exigências como parte de uma luta global pela liberdade
e frequentemente se referiam a si mesmos como libertadores, com alguns
assumindo papéis de "Messias" para suas nações.
• Por exemplo, Mazzini acreditava que a Itália libertaria os povos do mundo, e
Mickiewicz via a Polônia desempenhando um papel semelhante(erarevoluc o es).
3. O Papel das Forças Sociais no Nacionalismo
• O descontentamento dos pequenos proprietários e da pequena nobreza,
juntamente com o surgimento de uma classe média educada, alimentou o
nacionalismo em diversos países.
• Na Polônia e na Hungria, os nobres menores desempenharam um papel
revolucionário ao se oporem ao absolutismo e ao domínio estrangeiro, enquanto
grandes proprietários de terras tendiam a se acomodar com os regimes absolutistas
(erarevoluc o es).
4. O Nacionalismo na Europa Oriental
• O capítulo também discute o nacionalismo na Europa Oriental, especialmente
entre os eslavos, que foram oprimidos por proprietários de terras alemães e
magiares. Esse nacionalismo inicialmente se alinhou mais ao conservadorismo do
que à revolta aberta.
• Em alguns casos, os movimentos nacionalistas buscaram apoio de potências
estrangeiras, como o ilirianismo na Croácia e o nacionalismo tcheco, que foram
apoiados pela Áustria(erarevoluc o es)(erarevoluc o es).
5. O Nacionalismo Fora da Europa
• Fora da Europa, o nacionalismo se manifestou de maneira diferente,
especialmente nas colônias. No Oriente Médio, o Egito foi pioneiro no movimento
nacionalista moderno, influenciado pela conquista de Napoleão e o governo de
Mohammed Ali. Ali adotou princípios ocidentais que, posteriormente, lançaram
as bases para o nacionalismo egípcio(erarevoluc o es).
Esses pontos destacam a evolução do nacionalismo como uma força política
transformadora, que começou a ganhar força após a Revolução de 1830, se espalhando
por várias regiões da Europa e, eventualmente, influenciando movimentos em outras
partes do mundo.
Hobsbawm, Eric - Era do Capital, 1848-1875. Presença, 1979
Capítulo 5: A Construção das Nações
1. O Surgimento do Nacionalismo
• O século XIX foi o período em que o nacionalismo emergiu como uma força
política central. O conceito de nação passou a ser visto como uma entidade que
deveria coincidir com o Estado, o que influenciou profundamente a reorganização
política da Europa e de outras partes do mundo.
• Hobsbawm destaca que a Revolução Francesa e o subsequente período
napoleônico plantaram as sementes do nacionalismo moderno. O liberalismo, com
sua defesa da autodeterminação e da igualdade jurídica, alimentou movimentos
nacionalistas em várias regiões, onde povos que compartilhavam cultura, língua e
história começaram a aspirar à independência política.
2. Unificações Nacionais
• A unificação da Itália e da Alemanha foram os exemplos mais notáveis do
processo de formação de nações-estado no século XIX. Ambos os países eram
fragmentados em pequenos reinos e ducados, e os movimentos nacionalistas
unificaram esses territórios.
• A unificação da Alemanha, liderada pela Prússia sob o comando de Otto von
Bismarck, foi particularmente significativa, pois não apenas uniu vários estados
germânicos, mas também transformou a Alemanha em uma potência industrial e
militar emergente.
3. Desafios à Construção de Nações
• Hobsbawm enfatiza que nem todas as aspirações nacionalistas foram bem-
sucedidas. Nações como a Polônia e Hungria enfrentaram grandes dificuldades.
A Polônia, por exemplo, tentou várias vezes se libertar do domínio russo,
prussiano e austríaco, mas foi constantemente derrotada.
• O nacionalismo também estava profundamente enraizado na ideia de
autodeterminação, mas nem todas as minorias e povos conseguiram formar seus
próprios estados. Muitos grupos étnicos foram deixados de fora do processo,
criando tensões que perdurariam por décadas.
4. Impacto Fora da Europa
• A construção das nações não foi um fenômeno exclusivamente europeu.
Hobsbawm também discute o nacionalismo nos Estados Unidos e Japão, que
seguiam caminhos próprios de formação nacional e desenvolvimento. Nos EUA,
a Guerra Civil de 1861-1865 consolidou a união nacional, enquanto o Japão, sob
a liderança Meiji, embarcou em um processo de modernização e industrialização
rápida que o transformou em uma potência global.
Capítulo 6: As Forças da Democracia
1. O Crescimento da Participação Política
• O século XIX viu uma gradual expansão da democracia, especialmente na
Europa Ocidental. Com o surgimento de novos movimentos sociais, mais pessoas,
particularmente da classe média e trabalhadora, começaram a exigir participação
política. As monarquias absolutistas começaram a ceder espaço a constituições
liberais, e o sufrágio universal foi lentamente se tornando uma demanda central.
• Em países como a Grã-Bretanha, o Ato de Reforma de 1832 foi um dos
primeiros passos na abertura política, embora o sufrágio ainda fosse limitado. A
luta pelo direito ao voto se intensificou ao longo do século, com reformas
gradualmente ampliando a base de eleitores.
2. O Papel da Classe Trabalhadora
• À medida que as cidades cresciam e a classe trabalhadora se organizava, os
movimentos sociais e políticos passaram a ser influenciados pelas demandas dos
trabalhadores. O sindicalismo e o socialismo ganharam força, e a luta por
melhores condições de trabalho, direitos sociais e representação política tornou-
se central.
• Os trabalhadores começaram a se identificar como uma classe distinta, com
interesses próprios, que muitas vezes entravam em conflito com os das classes
dominantes. A relação entre nacionalismo e democracia também se tornou mais
complexa, já que, para muitos operários, a luta por direitos de classe era mais
importante do que as questões nacionais.
3. A Democracia como Ameaça
• Para as elites dominantes, a crescente demanda por participação política e o poder
crescente das massas eram percebidos como uma ameaça. As elites temiam que
as massas, uma vez mobilizadas, pudessem desestabilizar o status quo e até
mesmo promover revoluções.
• Governos por toda a Europa adotaram medidas para controlar os movimentos
democráticos, ora concedendo concessões limitadas, ora reprimindo-os
violentamente. Essa tensão entre as forças democráticas e os interesses
conservadores foi uma característica dominante da política europeia ao longo do
século XIX.
Capítulo 7: Perdedores
1. Exploração das Regiões Não Industrializadas
• O processo de industrialização e o avanço do capitalismo global deixaram muitos
países e regiões para trás. Hobsbawm enfatiza que os países colonizados foram
os grandes perdedores do século XIX. Regiões como a Índia, sob domínio
britânico, e África, que estava sendo dividida pelas potências europeias, sofreram
exploração econômica intensa, que aprofundou a pobreza e a desigualdade.
• A exploração colonial gerava riquezas para as potências europeias, mas mantinha
os povos colonizados em condições de pobreza e subdesenvolvimento. A fome e
as crises econômicas tornaram-se frequentes em várias colônias.
2. Os Camponeses Europeus
• Mesmo na Europa, grandes massas de camponeses não se beneficiaram das
mudanças econômicas. Embora a industrialização tenha impulsionado a economia
em algumas áreas, muitas regiões rurais permaneceram empobrecidas. Os
camponeses foram muitas vezes explorados pelos grandes proprietários de terras
e enfrentavam condições de trabalho duras.
• O êxodo rural aumentou conforme os camponeses migravam para as cidades
industriais, onde se juntavam à crescente classe operária urbana. No entanto,
aqueles que ficaram nas zonas rurais muitas vezes viviam em condições precárias,
com pouca ou nenhuma melhoria nas suas condições de vida.
3. Desigualdade Crescente
• Hobsbawm aponta que, apesar dos avanços tecnológicos e industriais, a
desigualdade aumentou durante o século XIX. As novas indústrias e a
globalização capitalista criaram uma concentração de riqueza nas mãos de poucos,
enquanto a maioria da população, especialmente nos países em desenvolvimento
e coloniais, continuava em estado de pobreza.
• As classes trabalhadoras nas cidades europeias e americanas enfrentavam
condições de vida terríveis, com longas jornadas de trabalho, salários baixos e
habitações insalubres.
Capítulo 8: Vencedores
1. O Avanço do Capitalismo
• A burguesia industrial europeia foi a principal beneficiária do capitalismo e da
industrialização. Com o crescimento da produção industrial, as elites empresariais
e comerciais acumularam grande riqueza e poder político. Esse grupo dominou as
economias nacionais e expandiu suas influências por meio do imperialismo e do
comércio global.
• As potências industriais da Europa, como Grã-Bretanha, França e,
posteriormente, Alemanha, solidificaram seu domínio sobre o comércio global.
Elas controlavam vastas porções de territórios coloniais, o que lhes permitia
extrair riquezas e controlar mercados.
2. A Ascensão dos Estados Unidos
• Embora ainda não fosse a potência dominante globalmente, os Estados Unidos
estavam em rápida ascensão. O país experimentou um crescimento industrial
acelerado no final do século XIX, tornando-se uma força econômica cada vez mais
significativa.
• Os EUA estavam construindo uma base sólida de infraestrutura industrial e
expandindo suas próprias ambições imperiais, especialmente após a Guerra
Hispano-Americana de 1898, que resultou na aquisição de colônias, como Porto
Rico e as Filipinas.
3. O Imperialismo Europeu
• Hobsbawm ressalta que o imperialismo foi uma ferramenta essencial para a
expansão capitalista e a consolidação do poder europeu no mundo. A divisão da
África entre as potências europeias, conhecida como a Partilha da África, foi
uma expressão clara de como os países europeus usavam a força para expandir
seus mercados e garantir o acesso a matérias-primas.
• O império britânico, em particular, se destacou como o maior império da época,
abrangendo colônias em todos os continentes. Essa expansão trouxe grandes
benefícios econômicos para a burguesia e consolidou o domínio europeu sobre
grande parte do mundo.
4. Consolidação Política e Social da Burguesia
• A burguesia não só acumulou riquezas, mas também consolidou seu poder social
e político. Ela se tornou a classe dominante nas sociedades europeias, com seus
valores de trabalho árduo, propriedade e capitalismo definindo as normas da
sociedade.
• A ascensão da burguesia foi acompanhada pelo declínio da aristocracia
tradicional, especialmente em países como a Grã-Bretanha e a França, onde os
industriais e comerciantes começaram a substituir a nobreza nas esferas de poder.
Esses capítulos sublinham o contraste entre os vencedores e perdedores das
transformações do século XIX, evidenciando como o crescimento do capitalismo e do
imperialismo beneficiou algumas nações e classes sociais, enquanto outras foram
deixadas para trás ou exploradas. Hobsbawm oferece uma visão ampla sobre as dinâmicas
globais desse período crucial, destacando as desigualdades e tensões que surgiram com o
avanço do capitalismo.
Hobsbawm, Eric - Era do Império, 1875-1914. Presença, 1990
Capítulo 3: A Era dos Impérios
1. Expansão Imperial
• A era entre 1875 e 1914 foi o auge do imperialismo europeu, com as principais
potências europeias dominando grandes partes da África, Ásia e outras regiões do
mundo. Hobsbawm descreve como essa expansão imperial ocorreu em um ritmo
acelerado, especialmente na África, onde países como a Grã-Bretanha, França,
Bélgica e Alemanha competiam por territórios.
• Essa corrida imperial, também chamada de "Partilha da África", foi justificada
por uma mistura de interesses econômicos, estratégicos e ideológicos. As
potências europeias buscavam matérias-primas, mercados para seus produtos
manufaturados e territórios que servissem como pontos estratégicos para o
controle de rotas comerciais globais.
2. Rivalidade Entre Potências
• O imperialismo gerou uma competição acirrada entre as potências europeias,
particularmente entre a Grã-Bretanha e a Alemanha. Hobsbawm discute como
essa rivalidade imperial começou a criar uma tensão internacional que culminaria
na Primeira Guerra Mundial.
• A política de alianças também estava relacionada ao controle imperial. A Tríplice
Aliança e a Tríplice Entente foram formadas em parte para garantir que as
potências europeias mantivessem sua influência global, o que contribuía para um
aumento da militarização.
3. Motivações Econômicas e Estratégicas
• A expansão imperial não foi apenas um fenômeno militar e político, mas também
profundamente econômico. As potências europeias precisavam de novas fontes
de matérias-primas, como borracha, carvão, cobre e algodão, para alimentar suas
indústrias em crescimento.
• As colônias também se tornaram mercados consumidores dos produtos
manufaturados das potências industriais. Hobsbawm menciona como essa troca
desigual de matérias-primas por produtos manufaturados consolidou a
dependência das colônias.
4. Contradições Internas
• Apesar do aparente sucesso imperial, Hobsbawm destaca que o imperialismo
criou várias contradições. Nas colônias, movimentos nacionalistas começaram a
se formar, e o nacionalismo crescia tanto entre os povos colonizados quanto entre
os europeus. Muitos nas colônias passaram a questionar a dominação imperial e a
exigir autodeterminação.
• As potências coloniais também enfrentaram tensões internas, com setores da
sociedade europeia se opondo aos custos do imperialismo. Além disso, a pressão
por mais colônias e a militarização crescente levaram à instabilidade, o que ajudou
a preparar o terreno para a guerra.
Capítulo 4: A Política da Democracia
1. A Expansão da Democracia
• O final do século XIX viu a democratização das sociedades europeias, com a
ampliação do sufrágio e a criação de instituições parlamentares mais
representativas. Embora o voto fosse inicialmente restrito a homens de
propriedade, várias reformas expandiram a participação política para uma parte
maior da população.
• Hobsbawm enfatiza que o conceito de democracia representativa tornou-se mais
amplamente aceito, mas os regimes parlamentares ainda estavam longe de ser
plenamente democráticos, já que muitas vezes excluíam as classes mais baixas e
as mulheres.
2. Resistência das Elites
• As elites aristocráticas e a burguesia industrial se adaptaram ao novo ambiente
político democrático. Ao invés de resistir completamente, muitas dessas elites
tentaram controlar o processo democrático, influenciando o resultado das
eleições através de redes clientelistas, propaganda ou controle econômico.
• O surgimento de partidos de massas também pressionou as elites, já que partidos
como os socialistas e trabalhistas começaram a mobilizar as classes
trabalhadoras e a exigir mudanças estruturais no sistema político e econômico.
3. Desafios à Democracia
• Hobsbawm destaca os desafios enfrentados pelas democracias emergentes, como
o aumento da fragmentação partidária e as dificuldades de governabilidade. As
tensões entre partidos de direita, centro e esquerda frequentemente levavam à
instabilidade.
• A influência das grandes corporações e dos interesses econômicos no processo
eleitoral era outro obstáculo à plena realização da democracia. Embora o sufrágio
estivesse se expandindo, os interesses econômicos das elites ainda exerciam um
grande controle sobre os processos democráticos.
4. Movimentos Populares
• O surgimento de movimentos sindicais e organizações de trabalhadores
fortaleceu as demandas por reformas democráticas e sociais. Esses movimentos
foram responsáveis por colocar questões como direitos trabalhistas, educação
pública e seguridade social no centro dos debates políticos.
Capítulo 6: Bandeiras Desfraldadas: Nações e Nacionalismo
1. A Ascensão do Nacionalismo
• O nacionalismo foi uma das forças mais poderosas do século XIX. Inicialmente
associado a ideias liberais, o nacionalismo passou a ser usado também por
movimentos conservadores e até autoritários. Os Estados-nação em formação
buscaram unificar suas populações em torno de uma identidade nacional comum.
• Hobsbawm discute como o nacionalismo foi promovido por símbolos como
bandeiras, hinos e monumentos, que ajudaram a construir uma narrativa de
pertencimento e orgulho nacional. Esse sentimento unificador teve um papel
importante na criação de novas nações e na solidificação de identidades nacionais.
2. Formação de Novos Estados
• A unificação da Itália e da Alemanha foram exemplos clássicos de como o
nacionalismo foi usado para consolidar territórios fragmentados. Essas
unificações foram possíveis graças à liderança de figuras como Otto von
Bismarck na Alemanha e Giuseppe Garibaldi na Itália, que usaram o
nacionalismo como ferramenta de mobilização.
• No entanto, o nacionalismo também criou tensões dentro de impérios
multinacionais, como o Império Austro-Húngaro, onde várias minorias étnicas
começaram a demandar autonomia ou independência.
3. Nacionalismo Agressivo
• Com o tempo, o nacionalismo passou a ser usado de maneira expansionista e
agressiva, justificando guerras e conquistas territoriais. A ideia de superioridade
nacional levou a políticas imperialistas e ao racismo, alimentando a rivalidade
entre os Estados europeus.
• A disseminação de ideologias nacionalistas em outras regiões do mundo, como
o Japão, também contribuiu para a expansão imperial em países como a China e
a Coreia.
4. Nacionalismo Fora da Europa
• O nacionalismo não foi apenas um fenômeno europeu. Movimentos nacionalistas
em colônias como a Índia começaram a surgir no final do século XIX, desafiando
o domínio colonial e exigindo autodeterminação. Hobsbawm discute como o
conceito de nação se espalhou globalmente, alterando o equilíbrio de poder nas
colônias.
Capítulo 8: A Nova Mulher
1. O Conceito da "Nova Mulher"
• O final do século XIX e o início do século XX marcaram o surgimento de uma
nova identidade feminina: a "nova mulher". Ela era caracterizada por uma maior
independência social, econômica e sexual, desafiando os papéis tradicionais
atribuídos às mulheres na sociedade vitoriana.
• As mulheres da classe média começaram a ter mais acesso à educação e ao
mercado de trabalho, enquanto as mulheres da classe trabalhadora se envolviam
em movimentos sindicais e lutas por melhores condições de trabalho.
2. Feminismo e Direitos
• O feminismo ganhou força, com movimentos organizados exigindo direitos
iguais e, especialmente, o sufrágio feminino. Em vários países, como o Reino
Unido e os Estados Unidos, as mulheres começaram a se organizar em grupos
sufragistas que lutavam pelo direito ao voto.
• Líderes feministas como Emmeline Pankhurst desempenharam um papel central
na organização de protestos e campanhas pelos direitos das mulheres.
3. Mudanças Culturais
• A figura da "nova mulher" também apareceu na cultura popular. Escritores e
dramaturgos começaram a retratar mulheres que desafiavam as normas patriarcais
e buscavam a realização pessoal e profissional fora da esfera doméstica.
• Obras como as de Henrik Ibsen (autor de "Casa de Bonecas") trouxeram questões
sobre a autonomia feminina para o centro do debate social.
4. Limitações Sociais
• Apesar dos avanços, as mulheres das classes trabalhadoras ainda enfrentavam
grandes desafios. Elas continuavam a lidar com trabalhos mal pagos, jornadas
exaustivas e pouca proteção legal. O movimento pela emancipação feminina,
embora significativo, ainda não atingia a maioria das mulheres.
Capítulo 12: Rumo à Revolução
1. O Crescimento do Socialismo
• O século XIX viu o surgimento de movimentos socialistas, anarquistas e
comunistas, que se espalharam por toda a Europa. Esses movimentos
representavam a resposta das classes trabalhadoras à exploração capitalista e à
desigualdade social crescente.
• O socialismo tornou-se uma força política poderosa, especialmente na Alemanha,
onde o Partido Social-Democrata (SPD) se estabeleceu como o maior partido de
esquerda. Karl Marx e Friedrich Engels influenciaram fortemente esses
movimentos com suas análises sobre a luta de classes.
2. A Crise do Liberalismo
• O liberalismo burguês entrou em crise à medida que as classes trabalhadoras
exigiam reformas sociais e políticas mais profundas. As promessas de liberdade e
igualdade do liberalismo falhavam em responder às necessidades das massas
exploradas.
• Revoltas e greves tornaram-se comuns em toda a Europa, e o modelo liberal-
capitalista começou a ser desafiado de maneira mais direta.
3. Revoluções e Revoltas
• A Revolução Russa de 1905 foi um marco significativo, mostrando como o
descontentamento popular poderia abalar grandes impérios. Embora essa
revolução não tenha derrubado o czarismo, ela expôs a vulnerabilidade do regime
e preparou o terreno para a Revolução de 1917.
• Na França, Alemanha e Itália, também surgiram movimentos operários que
desafiaram as elites políticas e econômicas, preparando as bases para uma
eventual transformação revolucionária.
4. Organização de Massas
• Os sindicatos e partidos operários desempenharam um papel crucial na
mobilização das classes trabalhadoras. Hobsbawm discute como essas
organizações de massas tornaram-se fundamentais para a construção de uma
consciência de classe e para a organização de greves e protestos que desafiavam
o sistema capitalista.
Esses capítulos ampliam a compreensão de Hobsbawm sobre as transformações
econômicas, políticas e sociais que moldaram o final do século XIX e prepararam o
terreno para o início do século XX, incluindo a Primeira Guerra Mundial e as revoluções
sociais que se seguiriam.
The Pursuit of Power: Europe, 1815-1914 de Richard J. Evans.
Capítulo 7: O Desafio da Democracia
1. A Última Fronteira
• No final do século XIX e início do século XX, muitos países europeus estavam
passando por reformas democráticas, com a expansão dos direitos de voto e uma
maior participação política. O sufrágio universal, que antes era restrito a homens
de propriedade ou educação, começou a se expandir, atingindo progressivamente
mais homens e, eventualmente, mulheres.
• A democracia representava a última fronteira para muitos, pois prometia um
sistema político mais inclusivo e justo. No entanto, essa democratização
encontrou grande resistência por parte das elites aristocráticas e econômicas, que
temiam a perda de seu poder e influência.
• Havia também uma tensão constante entre o desejo de democracia e o medo de
que a governança das massas pudesse trazer instabilidade ou mesmo revoluções.
Países como a Alemanha e a Áustria-Hungria experimentaram pressões
significativas para reformar seus sistemas políticos, mas essas reformas vieram
lentamente e frequentemente acompanhadas de repressões.
2. A Era das Massas
• O final do século XIX também é conhecido como a era das massas, caracterizada
pelo crescimento das populações urbanas, a industrialização e a organização de
movimentos de massas. Esse período marcou a emergência de uma classe
trabalhadora urbana politicamente ativa, que começou a reivindicar seus direitos
em um contexto de crescente desigualdade social.
• A política de massas começou a desafiar o domínio das elites políticas
tradicionais. Partidos socialistas e sindicatos, como os de Karl Marx e Friedrich
Engels, começaram a se organizar, ganhando força entre os trabalhadores e
exigindo maior participação política, justiça social e melhores condições de
trabalho.
• A era das massas trouxe uma nova dimensão à política, com partidos de massas
emergindo, como o Partido Social-Democrata na Alemanha. No entanto, essa
mobilização popular também gerou medo entre as elites e os conservadores, que
viam nas massas uma ameaça à ordem estabelecida.
3. A Crise do Liberalismo
• O liberalismo foi a força política dominante na Europa durante grande parte do
século XIX, promovendo princípios como liberdade individual, direitos civis e
mercado livre. No entanto, no final do século, o liberalismo começou a enfrentar
uma crise, pois não conseguia mais lidar com as novas demandas das sociedades
industriais e urbanas.
• Os partidos liberais, que anteriormente defendiam o laissez-faire econômico e a
limitação do papel do Estado, começaram a ser vistos como incapazes de resolver
problemas sociais profundos, como a pobreza urbana e a desigualdade de renda.
Isso abriu espaço para ideologias mais radicais, como o socialismo e o
anarquismo, que prometiam soluções mais abrangentes e revolucionárias.
• Hobsbawm argumenta que essa crise do liberalismo foi causada pela incapacidade
dos governos liberais de responder adequadamente às demandas crescentes de
justiça social e participação política.
4. Nacionalismo e Democracia
• O nacionalismo, que inicialmente era associado ao liberalismo e às ideias de
autodeterminação e unidade nacional, começou a se transformar. No final do
século XIX, o nacionalismo tornou-se muitas vezes uma força reacionária e, em
alguns casos, antidemocrática.
• Movimentos nacionalistas começaram a focar menos na liberdade e mais na
identidade nacional e no desejo de expandir o poder do Estado-nação. Isso levou
ao surgimento de ideologias chauvinistas e à exclusão de minorias, tanto dentro
dos Estados-nação como em colônias.
• Em muitos casos, o nacionalismo acabou por ser uma força divisora, colocando
em tensão as ideias de igualdade democrática e a supremacia nacional.
Hobsbawm descreve como o nacionalismo foi um dos principais fatores que
contribuíram para a instabilidade na Europa, especialmente nos Bálcãs, onde
movimentos nacionalistas rivais lutavam por independência ou expansão
territorial.
8. O Preço do Império:
Os Exploradores: Os exploradores europeus desempenharam um papel central na
expansão imperial. Eles abriram novos territórios à colonização e ao comércio,
frequentemente em áreas consideradas "inexploradas" pelos europeus. A exploração
estava ligada à ideia de trazer civilização para povos considerados "atrasados".
A Reanimação do Império: O final do século XIX marcou uma renovação do impulso
imperial, impulsionado por interesses econômicos e rivalidades entre as potências
europeias. O império era visto como uma forma de alcançar prestígio nacional e poder
econômico.
A Era do Imperialismo: Entre 1870 e 1914, o imperialismo atingiu seu auge, com as
grandes potências europeias expandindo suas esferas de influência em África, Ásia e
outras regiões. Esta era foi caracterizada pela corrida para adquirir territórios e pela crença
de que o império era um sinal de modernidade e progresso.
Exploração e Resistência: A exploração dos recursos e da mão de obra coloniais trouxe
enormes benefícios econômicos às potências europeias, mas também gerou resistência
entre os povos colonizados. Revoltas, resistências e movimentos de independência
começaram a surgir, especialmente quando os colonizadores tentavam impor suas leis e
costumes.
“O Fardo do Homem Branco”: Esta expressão descreve a justificativa moral usada pelos
europeus para colonizar outras regiões. A ideia era de que os europeus tinham o dever de
"civilizar" os povos não europeus, uma narrativa que ocultava a realidade de exploração
e dominação brutal.
Racismo e Nacionalismo: O imperialismo fomentou o desenvolvimento de ideologias
racistas, que justificavam a superioridade europeia sobre os povos colonizados. O racismo
se tornou uma ferramenta para legitimar o domínio imperial e ao mesmo tempo reforçou
o nacionalismo nas metrópoles, onde a identidade nacional se entrelaçava com a ideia de
um império poderoso e expansivo.
Esses pontos ampliam os temas abordados em cada capítulo, destacando como o período
foi moldado por profundas tensões entre progresso, democracia e imperialismo.
The Birth of the Modern World 1780-1914 de Christopher Alan Bayly:
Parte 2: Passagens dos antigos regimes à modernidade
O Estado ativista e patriótico evolui
Neste capítulo, Bayly explora a transformação dos estados a partir de regimes
relativamente descentralizados e tradicionais para estruturas políticas mais centralizadas
e patrióticas, particularmente no século XIX. O conceito de nacionalismo começou a
crescer, e os estados assumiram um papel mais ativo na formação da identidade nacional.
O crescimento dos exércitos permanentes, a criação de sistemas de educação pública e a
promoção de valores patrióticos foram essenciais para consolidar essa nova forma de
governança. A intervenção do estado na economia aumentou, com a criação de ferrovias
e infraestrutura industrial, ajudando a moldar o poder centralizado e a coesão nacional.
Públicos críticos
Este capítulo foca na emergência de "públicos críticos", um conceito relacionado à
criação de novas esferas públicas onde as elites e as classes médias emergentes
começaram a questionar as estruturas de poder estabelecidas. O aumento da alfabetização
e o surgimento da imprensa livre permitiram que novas ideias políticas, sociais e
econômicas circulassem amplamente, e as universidades tornaram-se centros de debate
intelectual. Esses "públicos" incluíam jornalistas, intelectuais e ativistas que desafiavam
as autoridades, pedindo reformas liberais e democráticas. A circulação de ideias através
da imprensa e de discussões públicas deu forma a movimentos que pressionavam por
mudanças sociais e políticas.
O desenvolvimento dos públicos asiáticos e africanos
Aqui, Bayly analisa como os "públicos" começaram a se formar nas regiões colonizadas
da Ásia e da África, influenciados pelas ideias de liberdade e nacionalismo vindas da
Europa. Embora o colonialismo tenha restringido fortemente a liberdade de expressão e
organização nessas regiões, elites educadas e comerciantes locais começaram a questionar
a legitimidade do domínio colonial. O desenvolvimento de sistemas de educação, o
contato com ideias ocidentais e o aumento das comunicações globais ajudaram a formar
movimentos que gradualmente se tornaram mais organizados e capazes de articular suas
próprias visões de independência e reforma social.
Parte II: O Mundo Moderno em Gênese
Nação, Império e Etnicidade, c. 1860-1900
Este capítulo explora a complexa relação entre a formação de estados-nação, a expansão
dos impérios e as questões de etnicidade e identidade. Entre 1860 e 1900, as nações
europeias, em particular, passaram a consolidar seus territórios e a projetar poder para
além de suas fronteiras através da expansão imperial. A criação de uma identidade
nacional muitas vezes estava ligada à exclusão ou subordinação de minorias étnicas
dentro desses estados. Ao mesmo tempo, as potências imperiais usavam a etnicidade
como uma ferramenta de controle em suas colônias, estabelecendo hierarquias raciais e
incentivando divisões étnicas para manter o domínio. No entanto, as identidades étnicas
também foram reconstruídas como formas de resistência à colonização, com movimentos
nacionalistas que buscavam unir etnias diversas em prol da independência.
Parte III: Estado e Sociedade na Era do Imperialismo
Mitos e Tecnologias do Estado Moderno
Neste capítulo, Bayly discute como os avanços tecnológicos e a criação de mitos políticos
desempenharam um papel fundamental na construção dos estados modernos. Tecnologias
como o telégrafo, as ferrovias e o desenvolvimento da imprensa permitiram aos estados
expandir seu alcance e exercer maior controle sobre seus territórios e populações,
particularmente nas colônias. O telégrafo facilitou uma comunicação mais rápida entre as
capitais imperiais e as colônias, permitindo uma administração mais eficaz. Além disso,
mitos de superioridade racial, cultural e científica foram usados para justificar a
dominação imperial e para consolidar o apoio público à expansão colonial. Essas
narrativas ajudaram a criar uma visão do estado como uma entidade poderosa e inevitável,
essencial para a ordem e o progresso.
Parte IV: Mudança, Decadência e Crise
A Reconstituição das Hierarquias Sociais: Gênero e Subordinação na "Era Liberal"
Este capítulo explora como as hierarquias sociais, especialmente relacionadas ao gênero,
foram transformadas durante o que se chamou de "Era Liberal". Bayly argumenta que,
apesar do discurso liberal sobre igualdade e liberdade, a opressão de mulheres e grupos
marginalizados continuou de forma significativa. A era foi marcada por tentativas de
redefinir o papel das mulheres na sociedade, muitas vezes limitando-as ao espaço
doméstico, mesmo com o crescimento do movimento feminista que buscava direitos civis
e sociais. As mudanças na economia e na estrutura social criaram novas oportunidades
para alguns, mas também mantiveram, e em alguns casos reforçaram, as divisões de classe
e gênero.
A Destruição dos Povos Nativos e Depredação Ecológica
Neste capítulo, Bayly discute as consequências devastadoras da expansão imperial para
as populações indígenas e o meio ambiente. A colonização muitas vezes resultou no
extermínio ou deslocamento forçado de povos nativos, à medida que suas terras eram
apropriadas para a agricultura, mineração ou outras formas de exploração econômica. As
práticas coloniais de extração de recursos naturais levaram à degradação ambiental em
larga escala, causando crises ecológicas que afetaram profundamente tanto os povos
indígenas quanto os colonizadores. A destruição de ecossistemas inteiros e a redução das
populações de animais e plantas nativas são exemplos dos danos causados pela
exploração colonial.
Conclusão: A Grande Aceleração, c. 1890-1914
Na conclusão, Bayly descreve o período entre 1890 e 1914 como um tempo de "grande
aceleração", durante o qual o mundo experimentou uma rápida transformação em várias
frentes. Esse período foi caracterizado pelo aumento do comércio global, a intensificação
da competição imperial e o avanço das tecnologias industriais. A aceleração nas
comunicações e no transporte conectou o mundo de maneira sem precedentes, mas
também trouxe tensões que culminaram na Primeira Guerra Mundial. A guerra, segundo
Bayly, marcou o fim de uma era e o início de uma nova fase de conflitos e reorganizações
globais, com repercussões políticas, econômicas e sociais de longo alcance.