Pensamento Internacional Latino Americano
Resenha do Capítulo I - Padrões de Dominação Externa na América Latina -
Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina , de Florestan Fernandes.
Discente: Bianca Maria Lourenço da Silveira
Turno: Diurno
O livro Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina , de Florestan
Fernandes, é um clássico da sociologia brasileira e latino-americana, sendo publicado pela
primeira vez em 1965, ele apresenta uma análise profunda sobre os desdobramentos da
dependência econômica e o impacto do capitalismo sobre as classes sociais na América
Latina. Nessa conjuntura, o objetivo principal da obra é fornecer uma perspectiva teórica e
histórica para interpretar as desigualdades estruturais da América Latina no sistema
capitalista global. A partir dessa análise, Theotonio dos Santos visa explicar como a relação
de dependência condicionada ao subdesenvolvimento da região, evidenciando a centralidade
de fatores externos e as consequências dessas dinâmicas para a soberania regional. O
primeiro capítulo de Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina, de
Florestan Fernandes, investiga os padrões de dominação externa que moldaram a história da
região, analisando suas fases e a evolução dessas estruturas de poder. Dessa forma, o autor
adota uma perspectiva histórica e sociopolítica para destacar os mecanismos utilizados por
potências externas para controlar os recursos, economias e sistemas políticos dos países
latino-americanos, explorando também o impacto disso nas classes sociais. O capítulo
estrutura a dominação externa em três períodos históricos principais: colonial, neocolonial e
contemporâneo. Sendo assim, o período colonial, iniciado com a chegada dos europeus no
século XV, a exploração direta de recursos e a submissão das populações indígenas foram
centrais, nesse cenrio a América Latina foi colocada no sistema internacional como
fornecedora de matérias-primas e metais preciosos, através de sistemas como a encomienda e
a mita, que exploraram a força de trabalho indígena de forma brutal. Esse período também foi
marcado pela destruição das culturas indígenas e a imposição de dogmas europeus, o que
resultou na formação de uma sociedade hierarquizada e racializada.
Após as independências formais no século XIX, iniciou-se o período neocolonial, no
qual a dominação externa atingiu novos níveis. Nesse contexto, as elites locais atuaram como
mediadoras dos interesses de potências estrangeiras devido ao fato de que grande parte dessa
classe vinha dos países dominadores, principalmente da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos,
perpetuando o modelo primário-exportador. A partir disso, vale ressaltar que grandes
empresas estrangeiras passaram a controlar setores estratégicos, como as ferrovias e as
plantações de monoculturas. Além disso, as intervenções políticas tornaram-se frequentes,
exemplificadas pelo financiamento de golpes de Estado e pela imposição de tratados
desiguais, consolidando a dependência econômica e política. No período contemporâneo, a
dominação externa tornou-se mais sutil e multifacetada, influenciada pela globalização e pela
financeirização das economias. Nessa conjuntura, instituições como o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial desempenham papéis centrais, impondo políticas que
aprofundam a dependência financeira dos países latino-americanos por meio de políticas que
privilegiam as pontências. Além disso, essa fase é marcada pela subordinação cultural, com a
difusão de valores eupopeus que frequentemente alienam as identidades nacionais. Florestan
Fernandes também explora as formas de dominação externa, que vão além da esfera
econômica. No âmbito econômico, a América Latina continua integrada ao sistema
internacional como fornecedora de commodities e mão de obra barata. Historicamente isso
pode ser observado na mineração de prata em Potosí durante o período colonial e a
monocultura de banana na América Central no século XX. No Brasil, um caso que se destaca
é a mineração em Minas Gerais, no auge do ciclo de ouro as grandes potências,
especialmente Portugal, exploração extensamente as riquezas do solo brasileiro para
benefício próprio sem levar em consideração as necessidades internas. Essa dependência
estrutural, fruto da falta de diversificação econômica e industrialização, é apontada como um
legado da exploração colonial e neocolonial. No âmbito político, o autor ressalta que as elites
latino-americanas, frequentemente educadas nas potências dominantes, agiram como
mediadoras dos interesses estrangeiros, prejudicando os interesses internos. Ademais, o autor
cita casos emblemáticos como a Doutrina Monroe e o Corolário Roosevelt, que justificaram
intervenções na região, incluindo ocupações militares e apoio a regimes autoritários visando a
desestabilização regional para a promoção de seus interesses. Já no âmbito cultural, a
imposição de valores estrangeiros, desde a evangelização cristã no período colonial até a
hegemonia cultural norte-americana contemporânea, contribuiu para marginalizar identidades
regionais, consequentemente a forte difusão desses ideais são propagados até mesmo por
latino-americano. Outro ponto levantado pelo capítulo conclui com uma análise das respostas
latino-americanas à dominação externa, destacando movimentos de resistência e tentativas de
autonomia. Nesse contexto, momentos como os processos de independência, revoluções
sociais, como a Revolução Cubana, e iniciativas de integração regional são apresentados
como contranarrativas que desafiam o status quo. Assim, o primeiro capítulo estabelece uma
base teórica e histórica para compreender as dinâmicas de dependência e as lutas pela
soberania na América Latina, preparando o leitor para os debates mais aprofundados nos
capítulos subsequentes.
No tópico "O Novo Imperialismo e a Hegemonia dos Estados Unidos", do livro
Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina de Florestan Fernandes, o
autor aprofunda a análise da dominação externa, destacando o papel central dos Estados
Unidos no contexto do novo imperialismo. Além disso, Fernandes argumenta que, com a
transição do colonialismo direto para formas mais de controle, a hegemonia norte-americana
consolidou-se como a principal força moldando as economias e políticas latino-americanas.
Diferente das formas clássicas de dominação colonial, esse imperialismo baseia-se na
influência econômica, financeira e cultural, além da intervenção política indireta, essa ideia
de "novo imperialismo" é tema central na obra do autor. Sob esse viés, destaca que os Estados
Unidos, ao emergirem como potência global após o século XIX, adotaram estratégias que
priorizavam o controle sobre os mercados latino-americanos sem a necessidade de anexação
territorial. Essa forma de dominação foi favorecida pelo enfraquecimento das potências
coloniais europeias e pela dependência econômica estrutural dos países latino-americanos.
Um dos pilares do novo imperialismo foi a imposição de uma estrutura econômica
internacional que perpetuava a dependência da América Latina. As economias da região
permaneceram organizadas em torno da exportação de matérias-primas e importação de
produtos manufaturados, configurando uma relação desigual com os Estados Unidos.
Fernandes analisa como instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial, serviram para fortalecer essa dependência ao
condicionar empréstimos e auxílios à implementação de políticas favoráveis aos interesses
norte-americanos e ao capital global. Além do controle econômico, a hegemonia dos Estados
Unidos manifestou-se por meio de intervenções políticas diretas e indiretas. Fernandes
menciona casos emblemáticos, como o apoio a golpes de Estado e a regimes autoritários que
garantiam a proteção dos interesses norte-americanos. Na história, podem ser encontrados
exemplos como: a intervenção na Guatemala em 1954, que derrubou o governo
democraticamente eleito de Jacobo Árbenz em prol da United Fruit Company, ilustram como
os Estados Unidos utilizaram seu poder para manter a região alinhada aos seus objetivos
estratégicos e econômicos.
A dimensão cultural do novo imperialismo também recebe atenção do autor. Fernandes
argumenta que a difusão dos valores e do estilo de vida norte-americano foi fundamental para
consolidar a hegemonia ideológica na região. O consumo cultural, representado pela
popularização de produtos e hábitos dos Estados Unidos, reforçou a dependência simbólica e
contribuiu para a alienação das identidades nacionais latino-americanas. Esse processo de
dominação cultural serviu para legitimar o modelo econômico e político imposto, ao mesmo
tempo em que desarticulava resistências locais. Florestan Fernandes conclui que o novo
imperialismo norte-americano não apenas perpetuou as desigualdades estruturais da América
Latina, mas também redefiniu a forma como as elites locais se relacionavam com as
potências estrangeiras. As elites latino-americanas tornaram-se, em muitos casos, agentes do
imperialismo, promovendo políticas que aprofundavam a dependência em troca de benefícios
econômicos e políticos. Por fim, o autor ressalta que a hegemonia dos Estados Unidos,
embora sólida, encontrou resistências importantes. Movimentos de libertação nacional,
revoluções sociais e iniciativas de integração regional, como o movimento bolivariano e os
esforços de países como Cuba, demonstraram que o novo imperialismo não estava imune a
desafios. Essa resistência, segundo Fernandes, reflete a luta contínua dos povos
latino-americanos por soberania e justiça social em um contexto de dominação global. Assim,
o tópico oferece uma análise detalhada das estratégias e impactos do imperialismo
norte-americano na América Latina, articulando dimensões econômicas, políticas e culturais.
No tópico "Dilema Latino-americano", do livro Capitalismo Dependente e Classes Sociais na
América Latina, Florestan Fernandes aprofunda a análise sobre as contradições enfrentadas
pela América Latina em sua inserção no sistema capitalista global. Esse dilema, segundo o
autor, está centrado na tensão entre os esforços pela modernização e desenvolvimento e as
estruturas de dependência que perpetuam o subdesenvolvimento e a desigualdade social.
Fernandes argumenta que o dilema latino-americano emerge da tentativa de adaptação ao
capitalismo em uma posição de subordinação. Enquanto os países da região buscam alcançar
o desenvolvimento econômico, suas economias permanecem integradas ao sistema
internacional como fornecedoras de matérias-primas e dependentes de tecnologia e capital
estrangeiros. Essa integração desigual limita a capacidade de transformação estrutural das
economias e reforça o ciclo de dependência. Um dos aspectos centrais do dilema é o papel
das elites nacionais. Fernandes critica as classes dominantes da América Latina, apontando
que elas frequentemente priorizam seus próprios interesses em detrimento do
desenvolvimento autônomo. Essas elites, alinhadas aos interesses das potências estrangeiras,
resistem às mudanças estruturais necessárias para superar a dependência. Em muitos casos,
elas reproduzem modelos econômicos que perpetuam a exploração da classe trabalhadora e
mantêm a região como fornecedora de bens primários. O autor também discute as
contradições sociais e políticas que esse dilema gera. A modernização econômica,
frequentemente promovida por meio de políticas voltadas para atrair investimento
estrangeiro, agrava as desigualdades internas. A concentração de riqueza e poder nas mãos de
poucos e a marginalização de grande parte da população criam um cenário de tensões sociais
que dificultam a consolidação de democracias robustas. Fernandes observa que, nesse
contexto, as reformas estruturais são muitas vezes bloqueadas, e os movimentos sociais
enfrentam repressão por desafiar o status quo. Outro ponto destacado é a dependência
tecnológica e cultural. Fernandes argumenta que a América Latina não apenas importa bens e
capitais, mas também ideias e modelos que nem sempre são compatíveis com as realidades
locais. Essa importação de paradigmas externos contribui para a alienação cultural e dificulta
a construção de identidades e soluções próprias. No entanto, o autor também vê no dilema
latino-americano uma possibilidade de transformação. Ele ressalta que a própria contradição
entre modernização e dependência cria condições para o surgimento de movimentos de
resistência e propostas de emancipação. Movimentos sociais, intelectuais progressistas e
governos reformistas desempenham um papel crucial ao questionar a ordem estabelecida e
propor alternativas. Florestan Fernandes conclui que a superação do dilema latino-americano
exige a construção de uma estratégia de desenvolvimento autônomo, capaz de romper com a
dependência estrutural e promover a justiça social. Isso envolve a transformação das
estruturas econômicas e políticas, o fortalecimento da soberania nacional e o engajamento das
classes populares como protagonistas do processo de mudança. O autor reconhece que essa
tarefa é complexa, mas essencial para que a América Latina possa superar seu papel
periférico no capitalismo global e construir sociedades mais equitativas e democráticas.
Assim, o tópico "Dilema Latino-americano" sintetiza os desafios e contradições centrais
enfrentados pela região, ao mesmo tempo em que aponta para as possibilidades de
emancipação e transformação social. Fernandes oferece uma análise crítica que ilumina as
raízes históricas do problema e destaca a importância de soluções que envolvam a
participação ativa das classes populares e o rompimento com as estruturas de dominação
externa.