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FOTOJORNALISMO

AULA 5

Profª Joseane Zanchi Daher


CONVERSA INICIAL

Os conteúdos disponíveis nesta etapa apresentam alguns dos nomes


mais significativas do fotojornalismo brasileiro e discorre sobre spot news,
general news e fotografia documental.
Então, confira o material, acesse os vídeos e não deixe de acompanhar o
material de leitura complementar e obrigatória.

CONTEXTUALIZANDO

No século XIX, a fotografia despontou no Brasil e, no final dos anos 1830,


era alvo de interesse de um grupo seleto de artistas-fotógrafos. Na década
seguinte, os cartões de visita fotográficos tornaram-se muito populares e, em
1880, o status da fotografia foi alçado de um padrão elitista para comercial.
Nesse início, a fotografia documentava os tipos humanos, espaços urbanos e
natureza.
No final do século XIX e início do século XX, muitos aspectos da vida
brasileira foram fotografados, como a vida política, social, cultural, econômica,
científica e artística. A fotografia passou a ter importância como documento da
história da nação brasileira.
Com os avanços tecnológicos, a fotografia ramificou-se e popularizou-se,
além de tornar a profissão de fotógrafo mais ágil. Especificamente, em relação
ao fotojornalismo, este pode alçar voos em inúmeros espaços de documentação.
A fotografia flagrante, denominada mundialmente de spot news, a fotografia de
informação, ou general news e a fotografia documental passaram a fazer parte
do repertório fotojornalístico com bastante intensidade e importância.
Pesquise
Os temas desta aula são os seguintes:

1. Fotojornalistas brasileiros I;
2. Fotojornalistas brasileiros II;
3. Fotografia flagrante (spot news);
4. Fotografia de informação geral (general news);
5. Fotografia documental.

2
TEMA 1 – FOTOJORNALISTAS BRASILEIROS (I)

De acordo com Kossoy e Schwarcz (2012),

As fotos não apenas reproduzem e refletem a realidade. Elas também


criam e produzem tudo que pretensamente apenas imprimem no papel.
Testemunham cenas e ambientes, mas, da mesma forma, idealizam
valores, costumes e concepções de mundo e sociabilidade. Quantas
não foram as fotografias que se impregnaram de tal modo a realidade
que se transformaram, elas mesmas, na própria realidade?
Basta lembrar a imagem de Sebastião Salgado que retrata os sem-
terra invadindo a fazenda. Como bem mostrou o sociólogo José de
Souza Martins, alguém entrou no terreno antes dos manifestantes, e
esse alguém foi o fotógrafo.

Saiba mais
Para conhecer um pouco mais do trabalho do fotógrafo Sebastão
Salgado, acesse:
AMAZONAS IMAGES. Disponível em: <https://www.amazonasimages.com/>.
Acesso em: 13 set. 2018.

MST realiza primeiro congresso nacional. Memorial da Democracia, 29 jan.


1985. Disponível em: <http://memorialdademocracia.com.br/card/mst-realiza-
primeiro-congresso-nacional>. Acesso em: 13 set. 2018.

O fotojornalismo no Brasil, no início do século XX, surgiu com as revistas


ilustradas. Vinte anos mais tarde, os jornais apresentavam as notícias do
cotidiano. Os assuntos abordados nas revistas eram sobre a vida social, cidade,
campo, esportes, geografia, comércio, imigração, saúde, educação, lazer, moda,
personagens da alta sociedade. Tanto as amenidades abordadas quanto os
temas políticos eram tratados de acordo com a ideologia dos editores-
proprietários dessas publicações.
Segundo Kossoy e Schwarcz (2012),

As imagens nucleares sintetizam simbolicamente fatos e processos de


momentos singulares da história do país. Essa iconografia especial
funciona como denúncia de sistemas, chamando a atenção sobre a
conjuntura, as deformações sociais, econômicas e políticas, mas
também realçando os grandes feitos intelectuais, artísticos e
científicos. Imagens que, enfim, enfatizam rupturas e emoções; por
vezes ultrapassam o factual pela sua força expressiva. Suas
mensagens causam impacto e emocionam espectadores de outras
latitudes: são imagens que permitem uma leitura universal.

Determinados grupos sociais e políticos se valeram das imagens-signo e


do seu poder de convencimento que povoaram o imaginário urbano, utilizando-
se de uma estratégia de educação do olhar para “naturalizar” as diferenças

3
sociais. A fotografia veiculada pela imprensa ilustrada definiu, assim, novos
comportamentos e representações da classe no poder e foi um meio eficiente de
controle dos comportamentos e representações dos grupos antagônicos à
dinâmica social, viabilizando a ideia de um “admirável mundo novo”, repleto de
certezas e possibilidades (Mauad, 2008).
Dentre as principais revistas ilustradas, destaca-se a revista O Cruzeiro,
que pertencia a Assis Chateaubriand e era publicada pelos Diários Associados,
que, em 1940, introduziu a fotorreportagem em suas páginas, tornando-se a
pioneira da implantação do fotojornalismo no Brasil.

Figura 1 – Capa da revista O Cruzeiro

Fonte: Biblioteca Nacional, 2018.

A revista seguia um fenômeno internacional, base do sucesso de revistas


como Life, Look, Paris Match, Picture Post e Der Spiegel.
Entre 1940 e 1950, os principais fotógrafos da revista O Cruzeiro foram:
Jean Manzon, José Medeiros, Peter Scheier, Henri Ballot, Pierre Verger, Marcel
Gautherot, Luciano Carneiro, Salomão Scliar, Indalécio Wanderley, Ed Keffel,
Roberto Maia, Mário de Moraes, Eugênio Silva, Carlos Moskovics, Flávio Damm
e Luiz Carlos Barreto.

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Os principais eixos temáticos, que eram as questões editoriais que
caracterizavam a revista O Cruzeiro, dividiam-se em: “Olhares itinerantes”, “O
povo brasileiro”, “Flagrantes da vida urbana”, “A política entre o público e o
privado”, “A imprensa e as artes” e “A temática indígena”.
Um dos principais fotógrafos da revista O Cruzeiro foi Jean Manzon, que
foi o grande responsável pela formação de uma equipe de fotógrafos que foram
os pioneiros do fotojornalismo moderno no Brasil. Fotógrafo francês com grande
experiência em revistas ilustradas, Manzon atuou nas revistas Vu e Paris Match
antes de emigrar para o Brasil em agosto de 1940. Responsável pela
organização do setor de fotografia do Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP) do governo de Getúlio Vargas, Manzon produzia material para a divulgação
da imagem do Brasil, no país e no exterior até 1943, quando se transferiu para
O Cruzeiro. Durante seu período trabalhando para O Cruzeiro (1943-1951),
Manzon produziu 346 fotorreportagens, impressas em 72% dos exemplares
publicados ao longo de sua permanência na revista. Outras revistas ainda podem
ser citadas: Revista da Semana (1900), O Malho (1902), Kosmos (1904), A Vida
Moderna (1905), Fon Fon (1906), Liga Marítima e Careta (1907), A Ilustração
Brasileira (1908), Selecta (1914) e Paratodos (1918).

Figura 2 – Jean Manzon

Fonte: EBC, 2018.

5
Figura 3 – Fotografia de Jean Manzon

Fonte: MASP, 2018.

Saiba mais

KOSSOY, B.; SCHWARCZ, L. M. Um olhar sobre o Brasil: a fotografia na


construção da imagem da nação, 1833-2003. São Paulo: Fundación Mapfre;
Objetiva, 2012.

MAUAD, A. M. Poses e flagrantes – Ensaios sobre história e fotografia. Rio de


Janeiro: EdUFF, 2008. Coleção Biblioteca.

BURGI, S.; COSTA, H. As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre


O Cruzeiro (1940-1960). Catálogo da exposição de mesmo nome. IMS. 2012.

HUGO Borghi. Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São


Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra25629/hugo-borghi>. Acesso em: 13
set. 2018.

DOCUMENTÁRIOS de Jean Manzon recuperados com o patrocínio da Dana já


podem ser vistos na internet. Dana, 9 jan. 2007. Disponível em:
<https://dana.com.br/releases/documentarios-de-jean-manzon-recuperados-
com-patrocinio-da-dana-ja-podem-ser-vistos-na-internet/>. Acesso em: 13 set.
2018. (Lista dos 23 filmes recuperados de Jean Manzon).

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TEMA 2 – FOTOJORNALISTAS BRASILEIROS (II)

No início da década de 50, o jornal Última Hora, de Samuel Wainer,


introduziu na imprensa brasileira a manchete fotográfica utilizando fotos que
ocupavam páginas inteiras.
Em 1952, Adolfo Bloch lançou a revista semanal ilustrada Manchete, com
espaço para cronistas e correspondentes internacionais e destaque para as fotos
e a apresentação gráfica. Em 1961, Bloch lançou a revista Fatos e Fotos, a qual,
como o próprio nome indica, tinha na fotografia a principal ferramenta de
comunicação.
No fim da década de 50, o Jornal do Brasil estimulava os fotógrafos a
proporem seu próprio assunto e pauta.
Em São Paulo, nos anos 60, apareceu a revista Realidade, que valorizava
a fotografia e incentivava a integração da palavra com a imagem. Vários
fotógrafos estrangeiros foram contratados, como Maureen Bisiliat, Claudia
Andujar, George Love, David Zwing. Ainda em São Paulo, em 1966, surgiu o
Jornal da Tarde, de Ruy Mesquita e Mino Carta que oferecia espaço importante
para as fotografias, com fotos grandes, legendas curtas e explicativas e texto
leve, como a revista O Cruzeiro da década anterior.
Em 1968, foi criada, também em São Paulo, a revista semanal Veja para
romper com o padrão de revistas como O Cruzeiro, Fatos e Fotos e Manchete,
ilustradas e de variedades. A revista Veja, da Editora Abril e de Mino Carta, fazia
a cobertura mais densa que algumas manchetes dos jornais diários. Na
sequência de seu lançamento apareceram as revistas Isto É, Afinal, Época,
Carta Capital.
Outros fotojornalistas contemporâneos têm contribuído imensamente
para a escrita, em imagens, da história do Brasil. Dentre eles, destacam-se
Rogério Reis, Evandro Teixeira, Roberto Stuckert, Wilton Júnior, Lalo de
Almeida, Marcia Foletto, Tadeu Vilani, Jonne Roriz, Gilberto Tadday, Daniel
Marenco, Sérgio Ranalli, Hélia Scheppa, Campanella Neto, Walter Firmo, Tiago
Brandão, Reginaldo Manente, Erno Schneider, Antônio Milena, Luiz Luppi,
Marcelo Carnaval, dentre tantos outros.
As mulheres sempre tiveram pouca representatividade no fotojornalismo
em comparação aos homens, mas têm marcado presença constante e

7
importante no cenário do fotojornalismo, como é o caso de Isa Nigri, Wania
Corredo e Nair Benedicto, por exemplo.

Figura 4 – Queda do motociclista da FAB na visita da Rainha Elizabeth ao-Rio,


em 1968. Foto de Evandro Teixeira.

Fonte: Viecelli, 2013.

Saiba mais

LEITE, E. O fotojornalismo nos momento de crise: a morte de Getúlio e


Tancredo. Dissertação (Mestrado) – Escola de Comunicações e Artes,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990. (Primeira tese brasileira sobre
fotografia e fotojornalismo).

ALVES, F. O fotojornalismo na construção do conhecimento histórico: a


cobertura de veja sobre o AI-5. III ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS DA
IMAGEM, Anais... 3 a 6 de maio de 2011 - Londrina - PR. Universidade Estadual
dejLondrina. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais2011/
trabalhos/pdf/Fabiana%20A.%20Alves.pdf>. Acesso em: 13 set. 2018.

8
TEMA 3 – FOTOGRAFIA FLAGRANTE (SPOT NEWS)

A fotografia flagrante, ou spot news, é um gênero fotojornalístico de


fotografias “únicas” de acontecimentos “duros” (hard news) e imprevistos. O
fotojornalista experiente, enquanto cumpre sua pauta, geralmente está atento
aos acontecimentos ao seu redor, e com agilidade e reação rápida, captura
imagens com clareza e tato ao lidar com acontecimentos traumáticos e
chocantes. Mais vale uma foto de um rosto desolado perante um acidente, por
exemplo, do que a foto do acidentado. (Sousa, 2002)

Figura 5 – Flagrante da Cidade do México, no México, depois de um terremoto

Fonte: Sara_Escobar/Shutterstock.

A polícia de incêndio geralmente controla o acesso a uma cena de notícias


no local. Para assegurar-se de que conseguirá capturar as fotos importantes do
flagrante, é preciso seguir certas regras:

• Mostre respeito;
• Evite conflitos ou discussões a todo custo. Você vai perder todas as vezes;
• Seja educado;
• Entenda que é provável que você lide com essa pessoa em cenas futuras;
• Use esses encontros para construir respeito mútuo;
• Seja humilde;
• Agradeça à polícia de incêndio por lhe dar acesso ao entrar e sair de uma
cena;

9
• Se eles não estão perto da ação e você tem tempo, pare e conte a eles o
que viu ou ouviu – às vezes, eles não estão cientes do que está
acontecendo, e eles apreciam receber as notícias também;
• Esteja disposto a se comprometer. Muitos fotojornalistas se saem bem
quando podem dialogar sobre o que estão tentando fazer e se
comprometer;
• Tente ver a situação do ponto de vista da polícia de incêndio. O trabalho
dos deles é direcionar o tráfego, bloquear a estrada para que o pessoal
de emergência possa trabalhar e lidar com a mídia chegando para cobrir
as notícias. Ao contrário de um policial ou bombeiro, a polícia de incêndio
raramente chega à cena real. Tenha isso em mente enquanto trabalha
para evitar ou aliviar conflitos sobre o acesso a uma cena;
• Construa uma rede de relacionamento com chefes de bombeiros, vice-
chefes e tenentes. Eles trabalham em estreita colaboração com a polícia
de incêndio e, se você construir bons relacionamentos, isso pode ajudá-
lo em uma cena.

Cuidados e respeito devem ser aplicados também com os policiais,


bombeiros, propriedades particulares, pessoas no entorno da cena.

Figura 6 – Fotojornalista cobrindo uma guerra

Fonte: Presslab/Shutterstock.

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Saiba mais
SOUSA, J. P. Fotojornalismo – uma introdução à história, às técnicas e à
linguagem da fotografia na imprensa. Bocc, 2002. Disponível em:
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-fotojornalismo.pdf>. Acesso em:
13 set. 2018.

TEMA 4 – FOTOGRAFIA DE INFORMAÇÃO GERAL (GENERAL NEWS)

Diferentemente da fotografia flagrante (spot news), na fotografia de


informação geral (ou general news), é possível seguir uma pauta e planejar tanto
os equipamentos que poderá utilizar quanto o sentido das imagens que irá
capturar.

De acordo com Sousa (2002),

as notícias em geral tipicamente relacionam-se com a cobertura de


ocorrências como entrevistas colectivas, reuniões políticas nacionais e
internacionais, actividades diplomáticas, congressos, cerimónias
protocolares, manifestações pacíficas, bolsa de valores, comícios,
campanhas eleitorais, ciência e tecnologia, artes e espectáculos,
desfiles de moda, festas de sociedade, desporto (quando não se
considera a fotografia de desporto um género específico), etc.

Figura 7 – Primeiro-ministro Mohd Najib Abdul Razak na Malaysia

Fonte: Shahreen/Shutterstock.

As photo opportunities (ou photo ops) de cerimonias e apertos de mão de


politicos, por exemplo, são típicos das general news e uma fórmula encontrada
pelos próprios políticos de evitar flagrantes desfavoráveis.

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Figura 8 – Presidente norte-americano Bill Clinton cumprimentando o presidente
Barack Obama depois de receber a Medalha Presidencial da Liberdade na Casa
Branca, em novembro de 2013, em Washington, DC.

Fonte: Rena Schild/Shutterstock.

Além de chegar com antecedência aos locais dos acontecimentos para


conseguir o melhor angulo de tomada, o fotojornalista deve estar preparado para
conseguir capturar o ‘momento decisivo’ a maneira de Cartier-Bresson, ou seja,
uma expressão facial, um movimento corporal, uma composição inusitada, que
outorgue um sentido impactante a fotografia de general news.
A fotografia de general news se traduz em uma única imagem que deve
representar o essencial do acontecimento em causa (Sousa, 2002).

TEMA 5 – FOTOGRAFIA DOCUMENTAL

De acordo com Rouillé (2009), “A fotografia não é um documento, mas


está provida de um valor documental variável segundo as circunstâncias”.
A fotografia documental carrega a marca do efeito-verdade e, ainda hoje,
credita-se a ela um atestado de autenticidade dos acontecimentos. Assim como
no cinema, ela fala sobre a vida de pessoas e lugares. (Lombardi, 2007)
A fotografia documental é aquela que se desenvolve com base em um
projeto, necessitando de estudo, conhecimento e envolvimento com um tema.
São projetos de longa duração, e não apenas o registro momentâneo e de
passagem sobre determinado assunto, como no fotojornalismo. Ela pode
discorrer sobre política, causas e problemas sociais (não apenas), cotidiano,
12
documentar algo em extinção, mas também descrever assuntos intimistas do
próprio fotógrafo.
De acordo com Lombardi (2007),

Assim, o trabalho dos fotógrafos documentaristas envolve originalidade


e criatividade, situando-se sempre no limite entre a razão e a emoção.
Muito mais do que apenas gerar notícias visuais, esses fotógrafos
tecem, sob forma de imagens, comentários sobre o mundo presente,
resultado de uma posição participativa e de uma postura ética. Eles se
propõem a descrever, comparar, conotar, persuadir, além de inferir
valores em objetos e fatos, assumindo a função de observar certas
convenções, codificar seus trabalhos e convertê-los em produto de
comunicação.

Alguns nomes expoentes da fotografia documental brasileira são


Sebastião Salgado, que opta por fazer uso de uma narrativa linear, e Miguel Rio
Branco, que utiliza uma narrativa menos linear. Outros expoentes são Cláudia
Andujar, Pedro Martinelli, Maureen Bisilliat, Rosa Gauditano, João Urban.
A diferença entre fotojornalismo e fotografia documental, que dialogam e
se cruzam, é sutil e complexa. O próprio Sebastião Salgado é considerado, por
muitos autores, um fotojornalista. Em autores como Jorge Pedro Sousa, Kátia
Lombardi e outros, há uma diferença de sentido e aplicação entre o
fotojornalismo e a fotografia documental bem definida:

O fotojornalismo, em sentido estrito, tem como meta transmitir


informação de maneira objetiva e instantânea, diferenciando-se da
fotografia documental, que tem como prioridade desenvolver um
trabalho mais interpretativo e elaborado. Não podemos comparar o
trabalho de um fotógrafo de um jornal diário, que deve cobrir uma
média de cinco pautas por dia, com o de um fotógrafo como Sebastião
Salgado (1944-), que pode dedicar-se a projetos documentais durante
vários anos. (Lombardi, 2007)

A fotografia documental pode abordar diversas áreas da fotografia e o


conhecimento sobre o assunto e tempo para realizar o trabalho são requisitos
indispensáveis.
Fotógrafos como o escocês John Thomson (1837-1921), o dinamarquês
Jacob Riis (1849-1914), a americana Margaret Sanger (1879-1966) e o alemão
Heinrich Zille (1858-1929) ficaram conhecidos como os pioneiros da fotografia
documental. Nos anos 30, surgiram grandes fotógrafos como Walker Evans
(1903-1975) e Dorothea Lange (1895-1965). (Lombardi, 2007)
Outros fotógrafos da mesma época de Robert Frank foram Lee
Friedlander (1934-), Garry Winogrand (1928-1984), Diane Arbus (1923-1971) e

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William Klein (1928-) e tão importantes quanto ele na desconstrução de formas
‘classicas’ do fotodocumentarismo.
Para Lombardi (2007),

Todavia, o fotodocumentarismo vem passando por expressivas


alterações, que se intensificaram ainda mais a partir da segunda
metade do século XX, quando trabalhos como Les Americains (1958),
de Robert Frank, e New York (1956), de William Klein, abriram as
portas para novos paradigmas. Daí a pergunta: que tipo de mudanças
vêm ocorrendo no processo de produção do documentarismo
fotográfico contemporâneo?… Enquanto no modelo clássico da
fotografia documental os fotógrafos procuram interferir o mínimo
possível na construção da imagem, no “Documentário Imaginário”, a
ficção é assumida e desejada.

No projeto documental Paisagem submersa (2005), de João Castilho


(1978-), Pedro David (1977-) e Pedro Motta (1977-), por exemplo, a ficção é
utilizada durante o processo de produção das imagens. A interferência nas
cenas, o direcionamento delas e seus elementos foram utilizados como recurso
estético (Lombardi, 2007).

Saiba mais
ROUILLÉ, A. A fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo:
Ed. SENAC, 2009.

LOMBARDI, K. H. Documentário imaginário: novas potencialidades na


fotografia documental contemporânea. Dissertação (Mestrado em Comunicação
Social) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/lombardi-katia-documentario-
imaginario.pdf>. Acesso em: 14 set. 2018.

SOUSA, J. P. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Florianópolis:


Letras Contemporâneas, 2000.

SALGADO, S. The silent drama of photography. TED, 2013. Disponível em:


<https://www.ted.com/talks/sebastiao_salgado_the_silent_drama_of_photograp
hy>. Acesso em: 14 set. 2018:

MIGUEL RIO BRANCO. Disponível em: <http://www.miguelriobranco.com.br>.


Acesso em: 14 set. 2018.

14
TROCANDO IDEIAS

Segundo Sousa (2000),

O fotojornalismo pode visar informar, contextualizar, oferecer


conhecimento, formar, esclarecer ou marcar pontos de vista (“opinar”)
através da fotografia de acontecimentos e da cobertura de assuntos de
interesse jornalístico. Este interesse pode variar de um para outro
órgão de comunicação social e não tem necessariamente a ver com os
critérios de noticiabilidade dominantes.

O fotojornalista, por meio de suas imagens, tornou-se um mediador entre


o processo histórico, as demandas sociais, recriando nos jornais e revistas uma
narrativa histórica de fatos e acontecimentos, além de contribuir com as
expectativas de um projeto social (Mauad, 2008).
Alguns nomes foram marcantes para a história do fotojornalismo no Brasil,
principalmente no século XX, quando aqui iniciou com as revistas ilustradas e,
posteriormente, nos jornais. Jean Manzon, José Medeiros, Flávio Dama, Luiz
Pinto, Eugenio Silva, Indalécio Wanderley, Erno Schneider, Alberto Jacob,
Evandro Teixeira, entre outros grandes, contribuíram para consolidar a memória
fotográfica contemporânea do Brasil (Mauad, 2008).
No exterior, da geração de fotógrafos que, a partir dos anos trinta,
conquistam relevância histórica fazem parte Carl Mydans, Capa e Cartier-
Bresson (1908-2004), Margaret Bourke-White (1904-1971) e Kartész, Brassaï, o
fotógrafo de Paris, Munkacsi (1896-1963), Doisneau (1912-1995), David Douglas
Duncan (1916-2018), George Rodger (1908-1995) e David “Chim” Seymour
(1911-1956), entre outros.
As grandes agências de fotojornalismo internacionais surgem como a
Magnum, Black Star, Associated Press, que são alguns nomes importantes,
além de tantos outros.

1. É importante pesquisar os trabalhos dos nomes citados e encontrar outros


nomes de igual relevância, tanto no Brasil quanto nos países estrangeiros!
2. Faça uma lista dos trabalhos daqueles que mais o atraem e estude o
contexto histórico e social no qual estavam inseridos para compreender
melhor suas imagens.

15
NA PRÁTICA

Para ajudar na fixação deste conteúdo, sugerimos a realização de uma


atividade que pode contribuir com seu aprendizado. Siga os seguintes passos:

1. Leia a história do livro Imagens do sagrado: entre Paris Match e O


Cruzeiro, de Fernando de Tacca, no artigo do próprio autor, disponível
em:
TACCA, F. Imagens do sagrado: entre Paris Match e O Cruzeiro. 26ª
REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, Porto Seguro, 1 e 4 de
jun. 2008. Disponível em: <http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_
Virtual_26_RBA/mesas_redondas/trabalhos/MR%2024/Fernando%20de
%20Tacca_pendente.pdf>. Acesso em: 14 set. 2018.

A história trata da documentação fotográfica do ritual de iniciação no


candomblé da Bahia, realizada em 1951, pela revista Paris Match
denominada Les possédées de Bahia e, posteriormente, no mesmo ano,
a revista O Cruzeiro, contra-atacando a revista francesa, publicou a
matéria “As noivas dos deuses sanguinários”.

2. Responda:
a. Como essas reportagens foram produzidas, e que interesses
representavam dentro e fora dos terreiros de culto?
b. Quem eram os protagonistas e por que colaboraram com essas
reportagens?

FINALIZANDO

O lema da revista Paris Match, criada em 1949, uma das primeiras e


grandes revistas ilustradas com fotografias, assim como a Life, era “o peso das
palavras, o choque das imagens”.
No Brasil, a revista que correspondeu a Life e Paris Match foi O Cruzeiro,
com belíssimas imagens de Jean Manzon, José Medeiros, dentre outros.
1. Pesquise as 3 revistas na internet e compare-as quanto aos seguintes
aspectos:

a. Qual era a linha editorial, como as imagens eram escolhidas e as


histórias contadas?
b. Qual a quantidade média de imagens por matéria?
16
c. Quantas matérias eram publicadas com imagens?
d. Quais os 3 fotógrafos mais importantes de cada uma delas?

2. Escolha 3 fotos de 2 fotógrafos do gênero spot news, compare suas


imagens e responda qual é a diferença entre seus trabalhos em termos
técnicos, de linguagem e de narrativa.
3. Faça o mesmo exercício do item “B” para o gênero general news.
4. Faça o mesmo de “B” e “C” para fotografia documental.

17
REFERÊNCIAS

ALVES, F. O fotojornalismo na construção do conhecimento histórico: a


cobertura de Veja sobre o AI-5. III ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS DA
IMAGEM, 3 a 6 maio 2011, Londrina – PR. Anais..., Universidade Estadual de
Londrina. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais2011/tra
balhos/pdf/Fabiana%20A.%20Alves.pdf>. Acesso em: 14 set. 2018.

BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em: <https://www.bn.gov.br/>. Acesso em:


13 set. 2018.

BURGI, S. e COSTA, H. As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre


o Cruzeiro (1940-1960). Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2012. Catálogo.

EBC – EMPRESA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO. Disponível em:


<http://www.ebc.com.br/>. Acesso em: 13 set. 2018.

KOSSOY, B. e SCHWARCZ, L.M. Um olhar sobre o Brasil: a fotografia na


construção da imagem da nação, 1833-2003. [S.l.]: Fundación Mapfre e Objetiva.
2012.

LEITE, E. O fotojornalismo nos momento de crise: a morte de Getúlio e


Tancredo. São Paulo, 1990. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) –
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.

LOMBARDI, K. H. Documentário imaginário: novas potencialidades na


fotografia documental contemporânea. Dissertação (Mestrado Comunicação
Social) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/lombardi-katia-documentario-
imaginario.pdf>. Acesso em: 14 set. 2018.

MASP – MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO. Disponível em:


<https://masp.org.br/>. Acesso em: 13 set. 2018.

MAUAD, A.M. Poses e flagrantes – Ensaios sobre história e fotografia. Rio de


Janeiro: EdUFF, 2008. Coleção Biblioteca.

ROUILLÉ, A. A fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo:


Ed. SENAC, 2009.

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