Fonética, Fonologia e
Morfologia do Português
2024/2025
Prof.ª Dr.ª Jo n D’ rc Pinheiro
a
a
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Aula 4
Sumário:
Sons orais e nasais.
Bibliografia:
Mateus, M. H. M. (1990). Fonética, fonologia e morfologia do
português. 1. Ed. Lisboa: Universidade Aberta.
Sons orais e nasais
Vamos seguir o fluxo de ar depois de passar pela glote, que é onde ficam as cordas
vocais, definidoras da sonoridade ou não dos sons. Quando sai da laringe, o ar vai
para a faringe. Aí o fluxo de ar, pode tomar duas direções: o trato vocal ou o nasal.
Entre esses dois canais fica a úvula, órgão dotado de mobilidade capaz de obstruir,
ou não, a passagem do ar na cavidade nasal e, consequentemente, determinar a
natureza oral ou nasal de um som.
Quando levantada, a úvula impede que o fluxo de ar saia pelas fossas nasais,
resultando, assim, na produção de sons orais, a exemplo de [p] “pato”, [t] “teto”, [∫]
“lixo”.
Quando a úvula está abaixada, temos as realizações de sons nasais, isso porque o
ar passa agora apenas pelas fossas nasais. É o que acontece com a realização de
sons consonantais como [m]“mato”, [n]“neto”, [ɲ]“linho”.
No português, além das consoantes anteriormente mencionadas, há os sons que
são produzidos com a úvula apenas parcialmente levantada, o que permite que o ar
saia pela boca e pelo nariz ao mesmo tempo, a exemplo das vogais nasalizadas,
como nas palavras “lindo”[ ], “lenda”[e], “manta”[ã], “onda”[õ], “mundo”[ ].
ĩ
ũ
Classificação das consoantes
Os sons da fala podem ainda ser classi cados quanto ao modo de articulação e quanto ao
ponto de articulação. Tomando como base apenas sons produzidos na Língua Portuguesa,
vejamos como isso ocorre.
Modo de articulação:
O modo de articulação se refere à forma como os sons são produzidos, observando-se o uxo
do ar ao longo do aparelho fonador.
• oclusivos: para a produção de sons oclusivos, o uxo de ar que vem dos pulmões é
interrompido totalmente em algum ponto do trato oral, seja pelo fechamento dos lábios, seja
pela pressão da língua na arcada dentária, nos alvéolos ou no palato mole, para ser
imediatamente liberado, emitindo um som semelhante a uma explosão. São oclusivos sons
como [p]“pato”; [b]“bato”; [t]“tatu”; [d]“dado”; [k]“cachorro”, “queijo”; [g]“gato”, “guerra”
Quando a corrente expiatória encontra um obstáculo parcial, que a comprime sem, contudo,
interceptá-la, temos as consoantes constritivas. Entre essas, distinguem-se os sons:
• fricativos: para a produção de sons fricativos, o ar é pressionado pelos órgãos fonadores
durante sua passagem, o que resulta em uma espécie de chiado ou fricção. São fricativos os
sons: [f]“faca”; [v]“vaca”; [s]“sapo”, “cebola”, “caça”, “osso”, “exceto”, “nascer”; [z]“zebra”,
“exame”; [ʃ]“chave”, “xícara”; [ʒ]“jaca”, “gente”
fi
fl
fl
• laterais: para a produção dos sons laterais, a parte anterior da língua obstrui a
passagem do ar, forçando-o a sair pelas paredes laterais da boca. São laterais: [l]
“lata” e [ʎ]“lhama”
• vibrante: os sons vibrantes caracterizam-se pelo movimento vibratório rápido da
língua, provocando, assim, interrupções intermitentes na corrente de ar. Palavras
como “caro”, “barato”, “arame”, “fera”, “touro”, “perigo” e “coruja” apresentam o
som vibrante[r] ou [R], como em “carro”.
Classi cação das vogais:
Do ponto de vista articulatório, as vogais são produzidas sem nenhuma obstrução
na saída do ar pelo trato vocal, de modo que uma vogal se diferencia da outra,
conforme a con guração dos lábios, a altura e o avanço/recuo da língua no ato da
produção dos sons. Ademais,enquanto uma classe de consoantes se distingue, em
relação à vibração das pregas vocais, em surdas e sonoras, essa distinção não se
aplica aos sons vocálicos, uma vez que as vogais são sempre sonoras. Já do ponto
de vista de sua função no sistema da Língua Portuguesa, somente as vogais podem
ocupar o pico silábico, enquanto as consoantes ocupam sempre as margens das
sílabas, conforme se constata a partir dos seguintes exemplos: “mar.ca”, “ár.vo.re”,
“cra.vo”, “pos.te”, “po.e.ta”.
Seguindo, pois, os parâmetros articulatórios anteriormente mencionados, e
retomados a seguir, é que as vogais serão classi cadas.
Posição vertical da língua: vogais altas, médias e baixas:
Vogais altas: são aquelas produzidas com a elevação da língua, seja para a parte
anterior, seja para região posterior do trato vocal. Vejamos alguns exemplos de
vogais altas em que a línguas e eleva pra a região frontal:
[i] “ilha”, “apito”, “caqui”
fi
fi
fi
Vejamos, agora, alguns exemplos de vogais altas em que a elevação da língua vai em direção à parte
posterior da boca:
[u] “uva”, “maduro”, “urubu”
[ʊ] “gelo”, “caro”, “pulo”
A vogal alta[ʊ] ocorre em posições mais fracas, como na sílaba átona em nal de palavras.
Vogais médias: para a produção das vogais médias, como o nome já indica, a língua mantem-se em
uma posição intermediária, ou seja, nem tão alta nem em repouso. Para a classi cação das vogais
médias, é importante observar também que, em alguns casos, a posição intermediária da língua está
mais próxima das posições mais altas, quando as chamamos de vogais médias altas. Em outros casos,
a posição intermediária da língua está mais próxima da posição de repouso, vogais médias baixas.
Vejamos os exemplos:
Vogais médias altas: [e] e [o]
[e]“medo”, “cebola”, “corredor”
[o]“porco”, “caroço”, “amor”
Vogais médias baixas: [ɛ] e [ɔ]
[ɛ]“vela”; “neve”; “capela”
[ɔ]“mole”, “farofa”, “choque” fi
fi
Vogais baixas: são produzidas com a língua em posição de repouso. Na Língua Portuguesa, a vogal
baixa[a] possui alguma variação, quando em posição mais fraca, como, por exemplo, em sílaba átona
nal, quando costuma ser realizada como[ɐ].
[a]“nave”, “pastel”; “colar”
[ɐ]“cola”, “bola”, “mulata”
Avanço/recuo do corpo da língua
No que concerne à sua movimentação horizontal, a língua pode avançar rumo à região frontal da boca
para a produção das vogais frontais, recuar para a parte posterior do trato vocal, produzindo vogais
posteriores, ou ainda permanecer em repouso para produzir vogais centrais. Vejamos alguns exemplos:
Vogais frontais:
[i]“igreja”, “pipoca”, “ ta”
[ɪ]“vale”, “leque”, “dente”
[e]“medo”, “gelo”, “azedo”
[ɛ]“colega”,“café”,“certo”
Vogais posteriores:
[u]“urbano”, “luva”, “pudor”
[ʊ]“pato”, “mulato”, “luto”
[o]“motor”, “molusco”, “lobo”
[ɔ]“malote”, “cipó”, “farofa”
fi
fi
Vogais posteriores:
[u]“urbano”, “luva”, “pudor”
[ʊ]“pato”, “mulato”, “luto”
[o]“motor”, “molusco”, “lobo”
[ɔ]“malote”, “cipó”, “farofa”
Vogais centrais:
[a]“calote”, “altar”, “carro”
[ɐ]“beleza”, “vírgula”, “bígamo”
Con guração dos lábios:
Quanto à con guração dos lábios, as vogais são classi cadas em arredondadas, caso os
lábios estejam con gurados de forma arredondada, ou não-arredondadas, se os lábios se
encontrarem distendidos. Portanto, é muito fácil identi cá-las. Vejamos os exemplos:
Vogais arredondadas:
[u]“urubu”, “brucutu”, “mandacaru
[ʊ]“pato”, “cano”, “cálculo”
[o]“moça”, “vovô”, “colosso”
[ɔ]“lote”, “bola”, “pacote”
fi
fi
fi
fi
fi
Vogais não-arredondadas:
[i]“bisturi”, “vida”, “espírito”
[ɪ]“pele”, “pote”, “silicone”
[e]“pêssego”, “selo”, “molejo”
[ɛ]“vela”; “boteco”, “sapé”
Deve-se observar, ainda, que quanto mais altas as vogais, mais fechadas serão; e quanto
mais baixas, mais abertas. Isso permite as esses sons também a classi cação a seguir:
Vogais fechadas = vogais altas
Vogais meio fechadas = vogais médias altas
Vogais meio abertas = vogais médias baixas
Vogais baixas = vogais abertas
Finalmente, é possível que as vogais recebam interferência de algum som nasal vizinho,
tornando-se nasalizadas em oposição às vogais orais, como nos exemplos a seguir:
Vogais orais: pato, lata, gelo, ta, pote
Vogais nasalizadas: pano, lama, gema, na, ponte
fi
fi
fi
Atividade
1. Transcreva foneticamente a palavra “dicionário”. Dessa
palavra, releve:
1.1. uma vogal baixa;
1.2. uma consoante sonora;
1.3. uma consoante surda.
2. Atente nos seguintes provérbios portugueses e faça a sua
transcrição fonética.
Grão a grão, enche a galinha o papo.
Quem não tem cão caça com gato.
À noite, todos os gatos são pardos.
Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.
Para conhecer e praticar
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